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Luis Vinícius dos Reis Mendonça

POTENCIAL PRODUTIVO DO ETANOL DE SEGUNDA GERAÇÃO:


UMA REVISÃO

Centro Universitário Toledo


Araçatuba
2020
Luis Vinícius dos Reis Mendonça

POTENCIAL PRODUTIVO DO ETANOL DE SEGUNDA GERAÇÃO:


UMA REVISÃO

Trabalho de conclusão de Curso apresentado ao


Centro Universitário Toledo, sob orientação do
Professor Dr. José Carlos Pansonato Alves, como
requisito básico para a obtenção de título de
graduação em Engenharia Agronômica.

Centro Universitário Toledo


Araçatuba
2020
DEDICATÓRIA

À Deus, por me dar força. A minha amada esposa


Giovanna, pelo amor e companheirismo. Aos meus
pais, Marinaldo e Rita e avós Manoel e Madalena,
pelos ensinamentos. As minhas irmãs Thainara,
Giovanna e Beatriz pelo carinho e amor.
A todos, dedico!
AGRADECIMENTOS

Agradeço em primeiro lugar а Deus, pela força е coragem durante toda esta longa
caminhada e por me possibilitar crescer dia a dia, aprendendo com meus erros e acertos.
Agradeço a minha esposa Giovanna por estar sempre ao meu lado me apoiando na
minha jornada.
Agradeço aos meus pais Marinaldo e Rita, avós Manoel e Madalena, por todo o
carinho, amor, ensinamentos, respeito, companheirismo, e por apoiarem meus sonhos.
Agradeço os meus sogros Elizabeth e Geraldo, pelo acolhimento, respeito e amor
que me dão.
Agradeço as minhas irmãs Thainara, Giovanna e Beatriz por todo carinho e amor.
Agradeço a todos os nossos professores que estiveram ao meu lado nessa
caminhada, em especial ao Prof. José Carlos Pansonato Alves pela orientação, paciência e
incentivo e ao nosso coordenador Daniel Carvalho Leite pelo apoio e incentivo.
Agradeço a Tracan e todos os meus colegas de trabalho que sempre me apoiaram,
incentivando meus sonhos, me auxiliando direta ou indiretamente para a conclusão de mais
essa etapa na minha vida: a graduação.
Agradeço também aos amigos que fiz durante esses anos de curso, Diego Rosa,
Lucas Silva, Nilson Jr, Guilherme Pereira, Nathanael Bittencourt, Christopher Gonçalves,
Pedro Henrique e Lucas Boiago, por estarem comigo nos momentos de estudos e diversão,
formando uma amizade para a vida.
Agradeço ainda a todos que contribuíram de maneira direta ou indireta para a
conclusão desse sonho, dessa etapa da minha vida.
A todos, meus sinceros agradecimentos, que Deus lhes abençoe grandemente.
LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Queda do custo de produção do etanol no Brasil em 40 anos. Fonte: UNCTAD


(2016). ................................................................................................................................... 4

Figura 2. Cenário da cana-de-açúcar convencional, matéria-prima e saídas de energia.


Fonte: CGEE (2017). ............................................................................................................. 6

Figura 3. Croqui da produção de etanol de segunda geração a partir de biomassa de cana-


de-açúcar. Fonte: Santos et al. (2012). .................................................................................. 7

Figura 4. Tendência da produção de cana-de-açúcar e etanol no estado de São Paulo.


Fonte: Khatiwada et al. (2016). ............................................................................................. 8

Figura 5. Emissões dos gases do efeito estufa evitados devido a produção de etanol no
Brasil desde 1980. Fonte: CGEE (2017). .............................................................................. 9

Figura 6. Produção do etanol de segunda geração a partir de Anonas comosus ao longo da


fermentação. Fonte: Silva et al. (2018)................................................................................ 11
LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Potencial produtivo de outras fontes de biomassa lignocelósica para produzir


etanol de segunda geração. Fonte: Santos et al. (2012). ...................................................... 10
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 2

2. OBJETIVO ..................................................................................................................... 3

3. METODOLOGIA .......................................................................................................... 3

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................................... 4

5. CONCLUSÃO ............................................................................................................. 12

6. REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 12
POTENCIAL PRODUTIVO DO ETANOL DE SEGUNDA GERAÇÃO: UMA
REVISÃO

PRODUCTIVE POTENTIAL OF SECOND GENERATION ETHANOL: A


REVIEW

Luis Vinícius dos Reis Mendonça1


José Carlos Pansonato Alves2

RESUMO: O etanol de segunda geração (2G) é uma fonte sustentável de biocombustível,


que minimiza os impactos ambientais da biomassa residual, tem grande potencial
produtivo e está entre as tecnologias promissoras do futuro. O objetivo desse estudo foi
caracterizar a produção de etanol 2G, bem como sua viabilidade econômica e produtiva no
Brasil. A metodologia usada foi uma pesquisa de revisão bibliográfica. Os resultados
mostraram que o etanol 2G traz muitos benefícios ao setor ambiental, econômico e social
do país, desde diminuir a emissão de gases do efeito estufa até aumentar o rendimento
econômico produtivo. Contudo, conclui-se que o Brasil tem grande potencial para se tornar
também uma potência em produção de biocombustível.

Palavras-Chave: Biocombustível; Matéria Residual; Combustível Sustentável; Produção


2G.

ABSTRACT: Second generation ethanol (2G) is a sustainable source of biofuel, which


minimizes the environmental impacts of residual biomass, has great productive potential,
and is among the promising technologies of the future. The objective of this study was to
characterize the production of 2G ethanol, as well as, its economic and productive viability
in Brazil. The methodology used was a literature review survey. The results showed that
2G ethanol brings many benefits to the country's environmental, economic and social
sector, from reducing the emission of greenhouse gases to increasing the productive
economic yield. However, it is concluded that Brazil has great potential to also become a
power in biofuel production.

Key-Words: Biofuel; Residual Matter; Sustainable Fuel; 2G Production.

1
Graduando em Agronomia, Centro Universitário Toledo – UNITOLEDO, Araçatuba.
2
Prof. Dr. do curso de Agronomia, Centro Universitário Toledo – UNITOLEDO, Araçatuba.
1. INTRODUÇÃO

A palavra do momento é sustentabilidade. Essa é a tendência mundial econômica,


que incita a ideia de desenvolver estratégias que minimizem o impacto humano sobre o
ambiente natural e que forneçam fontes renováveis de matéria prima (MARTINS et al.,
2014; ADITIYA et al., 2016; ROBAK & BALCEREK, 2018). E é nessa temática que os
biocombustíveis se enquadram, favorecendo a diminuição do uso de combustíveis fósseis e
carvão mineral, que estão cada vez mais escassos e emitem gases que poluem a atmosfera
terrestre e, ainda, disponibilizam uma fonte energética inesgotável, ou seja, uma fonte de
energia infinita que pode ser constantemente utilizada (MURAKAMI et al., 2016;
LORENZI & ANDRADE, 2019).
No âmbito da produção de biocombustíveis a partir da cana-de-açúcar, o Brasil
lidera a produção no mundo, sendo que na safra 2018/2019 sua produção registrou 622,3
milhões de toneladas, com média produtiva de 74,27 t/ha-1, enquanto que a previsão para a
safra 2019/2020 é de 615,98 milhões de toneladas, com média produtiva de 73,49 t /ha-1,
apontando redução de 0,7%. A região sudeste recebe destaque na produção da cultura na
safra 2019/2020, com estimativa média de produção de 75,99 t/ha-1, seguido pela região
centro-oeste com 75,75 t/ha-1, região norte com 74,07 t/ha-1, região sul com 65,52 t/ha-1, e
por fim, região nordeste com 57,40 t/ha-1 (CONAB, 2019).
Assim, a partir da matéria prima que a cana-de-açúcar fornece, é produzido o
etanol, um combustível formado por compostos orgânicos obtidos a partir do
processamento de outras substâncias naturais. O processo mais fácil de obtenção do etanol
é através da fermentação do açúcar das plantas, como cana-de-açúcar, milho, beterraba,
batata, trigo e mandioca (ARAUJO et al., 2013; MARTINS et al., 2014; SILVA &
SERRA, 2017). Dentre elas, a cana-de-açúcar fornece a forma mais rentável e produtiva
para obter o etanol, o que oferece ao Brasil uma vantagem, por ser o maior produtor
mundial da cultura. Em nosso país a produtividade média do etanol alcança 7500 litros por
hectare, registrando para a safra de 2019/20 um total de 27,9 bilhões de litros, sendo 8,4
bilhões de litros de etanol anidro e 19,5 bilhões de litros de etanol hidratado e, ainda, na
mesma safra, o etanol proveniente do milho registrou produção total de 2,7 bilhões de
litros e, juntos, a cana-de-açúcar e o milho chegam a 30,6 bilhões de litros de etanol
produzidos no país (CONAB, 2020).

2
O etanol de primeira geração é produzido a partir de matérias primas do caldo de
cana-de-açúcar (sacarinas) e do milho (amiláceas), sendo atualmente o único combustível
renovável e de baixo custo com capacidade de atender a demanda do mercado (SANTOS
et al., 2012; MARTINS et al., 2014; ROBAK & BALCEREK, 2018), emitindo pelo menos
60% menos gases na atmosfera terrestre quando comparado aos combustíveis fósseis
(FELIPE, 2010). No entanto, os problemas que permeiam a produção agrícola de cana-de-
açúcar e do etanol são os danos causados ao ambiente natural. A palha da cana nos
canaviais emitem CO2 para a atmosfera e a produção de etanol de primeira geração libera a
vinhaça, uma substância residual altamente prejudicial ao solo e a hidrografia do país
(SANTOS et al., 2012; ROCHA-MENESES et al., 2017). Assim, a tecnologia e a ciência
buscam novas metodologias de produzir biocombustíveis que minimizem os impactos
causados no ambiente natural. Neste cenário, destaca-se o etanol de segunda geração, que é
um biocombustível, ou seja, um material que gera energia a partir de biomassa orgânica,
produzido dos resíduos que são descartados no processo de produção do etanol de primeira
geração, como a vinhaça, e também a palha, entre outros (ROBAK & BALCEREK, 2018).

2. OBJETIVO

O desenvolvimento deste projeto teve como objetivo caracterizar o processo de


produção do etanol de segunda geração (etanol 2G), evidenciando a viabilidade econômica
e produtiva do emprego da técnica para o âmbito social e ambiental no Brasil.

3. METODOLOGIA

Este artigo é uma pesquisa de revisão bibliográfica que analisa criticamente o


processo de produção do etanol de segunda geração, destacando as metodologias de
produção, as etapas de tratamento do material para a produção do etanol, bem como a
rentabilidade econômica do processo e os benefícios econômicos e ambientais decorrentes
da aplicação da produção de etanol de segunda geração.
Este trabalho foi desenvolvido como uma pesquisa quali-quantitativa através de
revisão bibliográfica de artigos científicos selecionados nas plataformas Springer Link,
Google Scholar, Science Direct, Scopus e Scielo, usando os descritores biocombustível,
matéria residual, combustíveis sustentáveis, produção de etanol 2G. Foram selecionados e

3
consultados livros, artigos e boletins agronômicos com relevância acadêmica publicados a
partir de 2010, nos idiomas português e inglês. Os documentos em inglês foram traduzidos
usando o Google Tradutor.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A produção de etanol no Brasil tem aumentado devido principalmente a queda do


custo da matéria-prima e a necessidade de produzir combustíveis mais sustentáveis. Isso
reflete na queda do custo de produção de etanol no Brasil nos últimos 40 anos, sendo que o
coeficiente de determinação R2 foi 0.9656, justificando a competitividade nos postos de
combustíveis do país entre a gasolina e o etanol (Figura 1).

Figura 1. Queda do custo de produção do etanol no Brasil em 40 anos. Fonte: UNCTAD (2016).

No Brasil, a cana-de-açúcar foi colhida na safra 2019/2020 em aproximadamente


8,38 milhões de hectares, com destaque para a região sudeste, que registrou 5.163,4 mil
hectares colhidos com cana-de-açúcar apenas nessa safra, seguido pela região centro-oeste
com 1.835,2 mil hectares, região nordeste com 797,3 mil hectares, região sul com 539,3
mil hectares, e por fim, a região norte com 47 mil hectares (CONAB, 2019).
O etanol pode ser obtido a partir da fermentação de vários vegetais, como do milho,
beterraba, cana-de-açúcar, entre outros (SANTOS et al., 2012; WETTERLUND et al.,
2013; ROCHA-MENESES et al., 2017; SILVA et al., 2018). No Brasil, a principal matéria

4
para produção do etanol é a cana-de-açúcar, devido especialmente ao seu baixo custo e ao
país ser o maior produtor de cana-de-açúcar do mundo (STEPHEN et al., 2012; CONAB,
2019). A cana-de-açúcar pode ser usada tanto para a produção de açúcar como de etanol.
Na produção de etanol, a cana-de-açúcar pode ser processada de três maneiras diferentes,
sendo elas: fermentação, hidratação etileno e redução acetaldeído (WETTERLUND et al.,
2013; ROCHA-MENESES et al., 2017; LORENZI & ANDRADE, 2019).
No processo de fermentação é adicionado ao caldo extraído da cana-de-açúcar
microrganismos responsáveis por quebrar as moléculas de açúcar (C6H12O6),
transformando em duas moléculas de gás carbônico (2CO2) e duas moléculas de etanol (2
C2H5OH). Os processos de hidratação etileno e redução acetaldeído são controlados em
laboratório. O primeiro consiste em uma síntese química entre as moléculas de água (H2O)
e etileno (C2H4), que resulta no etanol (C2H6O), já o segundo consiste no uso de um gás
incolor, o acetileno (C2H2), que com a ação do agente redutor, o acetaldeído ganha um íon
de hidrogênio (H+), e esse íon forma a hidroxila quando se liga ao oxigênio, resultando
assim no etanol (STEPHEN et al., 2012; BASSO et al., 2013; ARAUJO et al., 2013;
ADITIYA et al., 2016).
O etanol ou álcool etílico, como também é conhecido, pode ser produzido a partir
da 1ª geração e 2ª geração (WETTERLUND et al., 2013; BASSO et al., 2013; ROCHA-
MENESES et al., 2017). A produção de etanol de 1ª geração (1G) é obtida a partir da
fermentação do suco extraído do caldo de cana-de-açúcar. Nesse processo muitos resíduos
são perdidos, gerando desperdícios e poluentes ao ambiente natural (WETTERLUND et
al., 2013; SILVA et al., 2018; LORENZI & ANDRADE, 2019). A fim de minimizar esses
danos, diversas pesquisas desenvolveram uma nova técnica, a produção de etanol de 2ª
geração (2G). Essa nova tecnologia é uma alternativa para o uso dos resíduos deixados na
produção do etanol de 1G ou qualquer resíduo de origem vegetal e usa como base o etanol
produzido a partir de lignocelulose, se tornando uma fonte de biocombustível, que além de
favorecer o ambiente natural minimizando os resíduos, também incrementa a renda
econômica dos países (PACHECO, 2011; STEPHEN et al., 2012; SILVA et al., 2018).
Diferentes opções de uso de cana-de-açúcar podem ser consideradas, destacando
que no cenário 1G, que consiste na produção de etanol de 1ª geração, não emprega
nenhuma técnica de recuperação de resíduos, gera 85,1 litros de etanol e 174,3 KWh de
energia, pois a matéria também pode ser usada para produzir eletricidade de 2ª geração,
enquanto que a integração de 1G e 2G gera 819,4 litros de etanol e 68,3 KWh de energia,

5
já o etanol de 2ª geração (2G) gera 233,2 litros e 315,6 KWh de energia (Figura 2) (CGEE,
2017).

Figura 2. Cenário da cana-de-açúcar convencional, matéria-prima e saídas de energia. Fonte: CGEE (2017).

Dentre as diversas fontes de resíduos que geram energia e podem ser


transformados, a biomassa lignocelulósica está entre as fontes biológicas mais abundantes,
de baixo custo e grande potencial energético para produção de etanol 2G (SANTOS et al.,
2012; WETTERLUND et al., 2013; MURAKAMI et al., 2016). Da biomassa advinda da
cana-de-açúcar, estima-se que 250 kg são de bagaço e outros 204 kg de pontas e palhas
(ROCHA-MENESES et al., 2017; COGEN, 2020). Como o Brasil é o maior produtor de
cana-de-açúcar do mundo, seus resíduos são abundantes e de grande potencial com pouco
uso ainda no país (STEPHEN et al., 2012; MARTINS et al., 2014; KHATIWADA et al.,
2016). O potencial produtivo de biomassa seca é estimado em 1 bilhão de tonelada para
cerca de 80-130 galões de etanol (ZHANG, 2008).
De forma geral, a biomassa lignocelulósica é aquela que possui em sua composição
química a lignina e celulose (e hemicelulose) (STEPHEN et al., 2012; ROCHA-
MENESES et al., 2017; LORENZI & ANDRADE, 2019). Dentre as fontes energéticas
lignocelulósicas mais abundantes está a palha da cana, que estima a produção em 1,2 e 1,3
EBP (barris de petróleo) a cada tonelada de palha (SANTOS et al., 2012; MURAKAMI et

6
al., 2016). Nesse processo, os açúcares que estão em forma de polímeros na palha da cana,
que são macromoléculas recobertas por lignina, precisam ser quebradas em moléculas
menores, passando por um processo de hidrólise, seguido de fermentação para então
resultar no produto: o etanol (BASSO et al., 2013; ADITIYA et al., 2016; LORENZI &
ANDRADE, 2019) (Figura 3).

Figura 3. Croqui da produção de etanol de segunda geração a partir de biomassa de cana-de-açúcar. Fonte:
Santos et al. (2012).

Apesar do avanço da tecnologia e o apelo por fontes mais sustentáveis de matéria-


prima, no Brasil o uso do potencial produtivo de etanol 2G ainda é baixo, registrando
pouco mais de 100 milhões de litros produzidos por ano (LORENZI & ANDRADE, 2019).
No pais, cerca de 40% da produção nas safras de 2008 a 2010 foram utilizadas para
produzir etanol 1G, sendo que para a safra de 2010/2011 a produção de etanol de 1G no
estado de São Paulo representou 50% da produção nacional de etanol (Figura 4), isso

7
representa um baixo potencial de uso da matéria-prima residual da cana-de-açúcar
(KHATIWADA et al., 2016).

Figura 4. Tendência da produção de cana-de-açúcar e etanol no estado de São Paulo. Fonte: Khatiwada et al.
(2016).

Dos resíduos oriundos da cana-de-açúcar, o bagaço também tem alto potencial


energético e, na maioria das propriedades agrícolas ele é queimado e perdido, gerando
resíduos contaminantes para o ambiente natural (SANTOS et al., 2012; BASSO et al.,
2013; MARTINS et al., 2014; LORENZI & ANDRADE, 2019). Estima-se que na
produção normal de cana-de-açúcar, dos resíduos desperdiçados, 28% representa o bagaço
e 50% de resíduo de cana, além de outros materiais que não foram contabilizados, como
copas, folhas, colmo (KHATIWADA et al., 2016). A produção de etanol de 2G não só
favorece a diminuição de resíduos “lançados” no ambiente, como também a emissão de
gases do efeito estufa. Um estudo compilou os dados de emissão de gases no Brasil desde
1980 até 2015 e determinou que 709,7 milhões de toneladas de CO2 não foram lançadas na
atmosfera terrestre graças a produção de etanol no país (Figura 5) (CGEE, 2017).

8
Figura 5. Emissões dos gases do efeito estufa evitados devido a produção de etanol no Brasil desde 1980.
Fonte: CGEE (2017).

E ainda, o Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE - 2017) determinou que


cerca de 10g CO2 eq/MJ de gases do efeito estufa deverão ser emitidos no período de
2021-2025 no Brasil, e cerca de 7,4 g CO2 eq/MJ emitidos no período de 2026-2030,
produzindo aproximadamente 10 milhões de m3 / ano, evitando o lançamento de 16,7
milhões de toneladas de CO2 por ano na atmosfera através do uso do etanol de 2G. Outro
ponto importante que deve ser ressaltado é que a cana-de-açúcar não é a única matéria-
prima que gera resíduos, sendo que outras fontes podem também ser utilizadas para
produção de etanol de 2G, tais como biomassa residual consideradas como “lixo” do
milho, madeira, arroz, trigo, bananeira, entre outros (SANTOS et al., 2012; ADITIYA et
al., 2016; 2017; ROBAK & BALCEREK, 2018).
Sobre este tema, SANTOS et al. (2012) mostraram que com a produção de etanol
2G, será realizado o aproveitamento total da cana-de-açúcar, gerando mais valor à cultura,
devido ao lucro da produção do etanol 2G, diminuição dos resíduos no ambiente e
obtenção de selos de sustentabilidade, fator este que é visto com “bons olhos” no mercado
internacional. Ainda, permite aumentar a produção do etanol sem expandir as áreas
agrícolas no território brasileiro. Dos resíduos com potencial produtivo de etanol, o
algodão merece destaque, com potencial de 95% de celulose, seguido pelo sisal com
73,1% de celulose, fibra de bananeira entre 60-65%, madeira dura entre 43-47%, palha da
cana-de-açúcar e madeira mole, ambas entre 40-44% de celulose. A composição química

9
dos resíduos que tem potencial para produção de etanol de 2G variam conforme a matéria
disponível da biomassa (Tabela 1).

Tabela 1. Potencial produtivo de outras fontes de biomassa lignocelósica para produzir etanol de segunda
geração. Fonte: Santos et al. (2012).

As biomassas residuais como fonte lignocelulósica podem se transformar em um


setor de grande potencial econômico no mundo nos próximos anos, pois geram etanol e
energia limpas, ou seja, que não poluem o ambiente natural e, ainda, utilizam como
matéria-prima resíduos que são, até então descartados (MARTINS et al., 2014;
MURAKAMI et al., 2016; KHATIWADA et al., 2016; LORENZI & ANDRADE, 2019).
SILVA et al. (2018) mostraram que a coroa de Ananas comosus, de nome popular abacaxi
(ou ananás), tem grande potencial para produção de etanol, gerando 18,80 g /L-1 em 24
horas de fermentação, atingindo o potencial mais alto de produção após as primeiras 4
horas de fermentação, registrando 31,10 g /L-1 de etanol, e poder calórico de 18,41 KJ /Kg
-1
(Figura 6). Além disso, é possível constatar que o custo da produção de etanol é
inversamente proporcional ao consumo de açúcar (glicose e xilose) durante o processo de
fermentação, indicando não apenas o potencial produtivo de etanol, como também o

10
aproveitamento dessa biomassa residual celulósica, tendo uma opção econômica, viável e
sustentável ainda pouco usada no Brasil.

Figura 6. Produção do etanol de segunda geração a partir de Anonas comosus ao longo da fermentação.
Fonte: Silva et al. (2018).

Apesar de todo os apelos positivos e sustentáveis na produção do etanol 2G, usando


como fonte de matéria prima a cana-de-açúcar, como também outras fontes vegetais, que
são frequentemente descartadas, o Brasil enfrenta dificuldades para realizar o processo, tais
como o fato de poucas empresas realizarem a produção em escala industrial, devido ao
elevado custo de capital industrial para habilitar uma empresa a essa função (CGEE, 2017;
ROBAK & BALCEREK, 2018; LORENZI & ANDRADE, 2019). Associado a isso, o
setor também enfrenta problemas relacionados as tecnológicas do processo, pois o tempo
de quebra da lignina e da hemicelulose ainda é longo. Assim, o custo de investimento para
produção do etanol 2G acaba sendo desaconselhável economicamente, tendo a produção
de 1G ou até mesmo a integradas (1G-2G) economicamente mais viável e interessante aos
investidores considerando o retorno econômico e a consolidação da tecnologia usada no
processo (SANTOS et al., 2012; MARTINS et al., 2014; ADITIYA et al., 2016; SILVA e
SERRA, 2017).
Nesse cenário, muitos especialistas no mundo sugerem um bom retorno econômico
dos investimentos em indústrias de geração de etanol 2G, e ressaltam que essa lacuna de

11
mercado terá um potencial econômico competitivo nos mercados mundiais, considerando
especialmente a geração de combustível sustentável, fator que está se tornando uma
“moeda valiosa” para investimentos internacionais (MURAKAMI et al., 2016;
KHATIWADA et al., 2016; ROBAK & BALCEREK, 2018; SILVA et al., 2018). Assim,
esses investimentos em aperfeiçoar a tecnologia e indústrias de geração de etanol 2G no
Brasil podem ser o impulso econômico para recolocar o país no mercado internacional.

5. CONCLUSÃO

Conclui-se que que a produção de etanol 2G no Brasil é viável e esse setor pode ser
uma lacuna produtiva importante para a economia nacional nos próximos anos, podendo
também colocar o país como potência na produção de biocombustível. O etanol 2G
produzido a partir da cana-de-açúcar no Brasil é uma fonte que permitirá o
desenvolvimento tanto no âmbito ambiental, por ser uma fonte sustentável de
biocombustível, quanto no social e econômico, considerando que o país é o maior produtor
de cana-de-açúcar, e assim também, o maior gerador de matéria-prima residual de cana-de-
açúcar, a qual é usada na produção de etanol 2G.
Ainda, apesar da necessidade de maior conhecimento da tecnologia para geração de
etanol 2G, bem como de investimentos em indústrias com essa finalidade produtiva, esse é
um setor com grande potencial econômico no Brasil para o futuro, mas é claro que esse
processo demanda tempo, conhecimento e investimentos, para colocar o Brasil no mercado
de produtores sustentáveis de combustível, e também bioenergia, afinal a fonte residual
tem potencial para produzir ambos.

6. REFERÊNCIAS

ADITIYA, H.B.; MAHLIA, T.M.I.; CHONG, W.T.; NUR, H.; SEBAYANG, A.H. Second generation
bioethanol production: A critical review. Renewable and Sustainable Energy Reviews, v. 66, p. 631-653,
2016.

ARAUJO, Geraldo Jose Ferraresi; NAVARRO, Luiz Felipe Scaranti; SANTOS, Bruno Antonio Santana. O
etanol de segunda geração e sua importância estratégica ante o cenário energético internacional
contemporâneo. Fórum Ambiental da Alta Paulista, v. 9, n. 5, p. 1-11, 2013.

12
BASSO, T. P.; BASSO, T. O.; GALLO, C. R.; BASSO, L. C. Towards the production of second generation
ethanol from sugarcane bagasse in Brazil. In: MATOVIC, M. D. (Org.). Biomass now – cultivation and
utilization. IntechOpen, 2013. p. 347-354.

CGEE. Second-generation sugarcane bioenergy & biochemicals: Advanced low-carbon fuels for transport
and industry. 1. ed. Brasília: Centro de Gestão e Estudos Estratégicos, 2017. 124p.

COGEN. Associação da Indústria de Cogeração de Energia. Disponível em: <https://www.cogen.com.br/>.


Acesso em: 03 nov. 2020.

CONAB – Companhia Nacional de Abastecimento. Acompanhamento da safra brasileira - cana-de-


açúcar (safra 2019/20), Brasília, v. 6, n. 2, 2019. 58p.

CONAB – Companhia Nacional de Abastecimento. Acompanhamento da safra brasileira - cana-de-


açúcar (safra 2020/21), Brasília, v. 7, n. 2, 2020. 64p.

FELIPE, M. G. A. A qualidade da matéria-prima na produção de etanol de cana-de-açúcar. Bietanol de cana-


de-açúcar. In: CORTEZ, L. A. B. (Org.). Bioetanol de cana-de-açúcar: P&D para produtividade e
sustentabilidade. São Paulo: Edgard Blucher, 2010.

KHATIWADA, Dilip; LEDUC, Sylvain; SILVEIRA, Semida; McCALLUM, Ian. Optimizing ethanol and
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