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A Verdade está na Bíblia.

Dons espirituais são para


nosso tempo?
Refletindo sobre Cessacionismo e Continuísmo.
Por Manoel Coelho Junior

2012
Refletindo sobre Cessacionismo e
Continuísmo.
Por Manoel Coelho Jr.

Caros amigos do Blog, semana passada postei no “Livros Reformados” links


para um texto do blog Cristão Reformado do Pr. Alan Rennê com o título: O
que o Cessacionismo não é, de autoria de Nathan Busenitz. Tal texto gerou
um interessante diálogo no grupo do Facebook “Justificação pela Fé” sobre o
Cessacionismo e Continuísmo. Um querido irmão apresentou-me algumas
questões interessantes sobre o tema o que me deu a oportunidade de escrever
um pouco sobre o assunto. Fiz uma adaptação do material e o apresento a
seguir. Espero que contribua para a reflexão de todos, sejam estes
cessacionistas ou continuístas. Vamos lá...

1 – É verdade que a Bíblia não nos diz nada que possa fundamentar o
Cessacionismo, mas apenas que os dons cessarão quando vier o que é
“perfeito” (I Co 13)?

Bem, o argumento cessacionista não depende de I Co 13, pois existem


cessacionistas que concordam com os continuístas sobre esta passagem e
ainda assim permanecem cessacionistas. Quanto ao que já percebi na
questão, entendo que a base principal e plenamente bíblica do cessacionismo
é a que expressa Samuel Waldron na seguinte citação: “Não estou negando os
milagres no mundo de hoje no sentido mais amplo de ocorrências
sobrenaturais e providências extraordinárias. Estou apenas dizendo que não
existem milagres no sentido mais estrito dos operadores de milagres, que se
utilizam de sinais miraculosos para atestar a revelação redentora de Deus.
Embora Deus nunca tenha se colocado para fora do Seu mundo, e ainda tenha
liberdade para fazer o que Lhe apraz, quando Lhe apraz, como Lhe apraz, e
onde Lhe apraz, Ele deixou claro que o progresso da revelação redentora,
atestada por sinais miraculosos feitos por operadores de milagres, terminou na
revelação apresentada no Novo Testamento.”. Assim, se a revelação está
completa com o Novo Testamento, e os dons foram dados para confirmar a
revelação, qual seria o sentido dos dons permanecerem hoje? Se existem dons
hoje, também devem existir revelações de Deus hoje que precisem ser
atestadas pelos mesmos dons. Mas evidentemente, pelo fato de a Bíblia está
completa, não há novas revelações e nem dons. Dessa forma o argumento
cessacionista é bíblico, pois se baseia na própria natureza da revelação bíblica.
De fato são os continuístas quem têm que resolver este dilema: Revelação
completa coexistindo com a contemporaneidade de dons e ainda assim
permanecerem bíblicos. Penso que os continuístas nunca conseguem resolver
o dilema sem cair em algum tipo de “Nova Revelação”, pois se existem dons
hoje, também deve existir algum tipo de “nova revelação”. Consequentemente
tornam-se não bíblicos, visto que atentam contra a natureza da Bíblia. Os
cessacionistas, ao contrário, são bíblicos, pois sua fé na cessação de dons
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está atrelada a fé em uma Revelação Completa, em uma Escritura Inspirada e
Suficiente.

2 – A falta de fé é a razão da diferente manifestação de dons em nosso


tempo?

Hoje sou cessacionista e batista reformado. Mas, já fui um continuísta


pentecostal. Em meus tempos de crença continuísta e pentecostal observava a
“fé” das pessoas ao orarem pedindo manifestação de dons. E eu mesmo cria.
Todavia, o fato é que o que ocorre nestes ambientes não tem nada a ver com
os dons do Novo Testamento em natureza, em grau, e em propósito. Alguém
pode crer sinceramente que dons ainda existem, mas não consegue observar
tais dons bíblicos hoje. Assim a “fé” não é relevante na questão, mas sim o
“tempo dos dons” que é determinado exclusivamente por Deus e que o
cessacionista, em concordância com a natureza da Bíblia, afirma que pertence
a era apostólica.

3 – Mas no final das contas o Cessacionismo ao crer que os dons não têm
sentido hoje, visto que não há Revelação para ser confirmada, não está
apenas baseando-se em pressupostos e não realmente na Bíblia?

Quanto a isso posso dizer que Inevitavelmente todos temos pressupostos. O


problema não é ter pressupostos, mas se os mesmos estão coerentes com as
Escrituras. Acredito que o pressuposto cessacionista é o “Sola Scriptura” que
está alinhado com a Bíblia conforme vemos em II Tm 3:16, 17. Penso que
exatamente aqui os continuístas ficam em dificuldade, pois acabam por negar o
importante pressuposto do “Sola Scriptura”.

4 – Mas nem todos os que creem em dons atuais aceitam revelações


atuais. Portanto, é possível conciliar a crença em dons contemporâneos
com o “Sola Scriptura”, não é mesmo?

Quanto a isso posso concordar que de fato vemos continuístas defenderem o


“Sola Scriptura”. Acredito que estes irmãos estão sendo sinceros. Não duvido
disso. No entanto objetivamente eles acabam por negá-lo. Permita que eu me
explique. O Pr. Moisés Bezerril em seu texto sobre os dons espirituais assim
nos diz: “Dons apostólicos são dons dados por Deus a um grupo de indivíduos
que foram chamados para a atividade profética de receber a revelação da Nova
Aliança, transmití-la e inscriturá-la infalivelmente, sendo assistidos com
credenciais miraculosas para atestar como verdade os oráculos divinos para
judeus e gentios agora dentro de uma única Igreja. Na Nova Aliança Deus
escolheu os ofícios de apóstolo e profeta para lançar o fundamento canônico
dessa aliança, (Ef 2:20; 3:5), e escolheu os espirituais (pessoas que tinham
dons apostólicos sem ofício) para revelar e ensinar os oráculos divinos
infalivelmente,(I Co 12: 37). Para isso Deus deu dons de palavra para a
comunicação da verdade revelada, e dons de milagres para a atestação da
verdade revelada. Esses dons de milagres foram chamados também de
credenciais apostólicas, (II Co 12:12). Com exceção dos dons de “socorros” e
“governos”, o restante da lista dos dons de I Coríntios são dons apostólicos.
Dessa forma os dons espirituais apostólicos obedecem ao seguinte ordem:

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DONS DE PALAVRA DE COMUNICAÇÃO INDIRETA: dom inspirado para
revelar idéias e produzir Escritura. Esses são: sabedoria e conhecimento.

DONS DE PALAVRA DE COMUNICAÇÃO DIRETA: dom inspirado de


comunicão verbal para revelar palavras e produzir Escritura. Esses dons são:
profecia, linguas, interpretação de linguas, discernimento de espírito.

DONS DE CREDENCIAIS: dom inspirado, que revela a certeza do milagre, faz


do crente um canal do poder miraculoso para realizar a vontade de Deus e
atestar como verdade infalível a mensagem apostólica entre judeus e gentios;
não produz Escritura porque é credencial da Escritura. Nessa classe estão:
dons de curar e operações de milagres”. Creio que a afirmação de Bezerril é
facilmente constatada no Novo Testamento. Podemos então afirmar que os
dons estão intimamente ligados as Revelações de Deus. Como não há hoje
“novas revelações” os continuístas ficam em dificuldade em sustentar o “Sola
Scriptura” e a contemporaneidade dos dons ao mesmo tempo. Subjetivamente
eles podem crer no “Sola Scriptura”, mas objetivamente não conseguem uni-lo
a sua fé nos dons atuais. Penso que isso é um fato inegável.

5 – Nem todos pentecostal ou continuístas chega a aberrações, não é


verdade?

É verdade que não são todos os continuístas e pentecostais que se enquadram


em aberrações. Conheço continuístas históricos e pentecostais serenos Mas
ainda assim vejo o continuísmo e o pentecostalismo como uma semente
perigosa que pode ocasionalmente brotar em todo o tipo de aberração.
Acredito que a história nos prova o fato. Hoje vamos “apóstolos” e “milagreiros”
modernos no Neopentecostalismo. Tais homens estão causando grande dano.
Meu ponto é o seguinte: Acredito que o Neopentecostalismo com todas as a
suas loucuras é um exemplo atual deste brotar da semente continuísta e
pentecostal. Assim afirmo: Pode ser que a semente nunca brote, mas ainda
assim oferece perigo constante e sempre em algum grau produz prejuízos. Por
isso acredito que devemos avaliar com cuidado o continuísmo e suas
implicações.

6 – Mas se cremos no “Sola Scriptura” não deveríamos crer que os dons


não cessaram, visto que apenas cessarão quando vier o que é “perfeito”
(I Co 13:8,10), o que claramente ainda não ocorreu?

Bem, eu acredito exatamente no contrário, ou seja, é porque cremos no “Sola


Scriptura” que afirmamos que os dons já passaram. Sobre isso já tentei
explicar anteriormente. Em resumo: Objetivamente ou você crê no “Sola
Scriptura” ou crê na contemporaneidade dos dons. Quanto ao termo “cessarão”
de I Co 13: 8 devemos interpretá-lo a luz do “perfeito” de I Co 13:10 e do
próprio “Sola Scriptura” de II Tm 3:16, 17. Dividamos a resposta em duas
partes:

A - À luz do “Sola Scriptura”de II Tm 3:16, 17 não podemos entender que


“cessarão” indica que os dons permanecem após o fechamento do Canon

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deixando de existir apenas na volta de Cristo. O “Sola Scriptura” nos leva a crer
que os dons existiram por ocasião da Revelação para que a mesma fosse
atestada. Findando a revelação, findam-se os dons.

B – Em relação ao “perfeito” de I Co 13: 10 dizemos: Se o interpretamos como


significando “o cânon completo da Escritura” a questão do termo “cessarão”
naturalmente fica resolvida a favor do cessacionismo sem mais necessidade de
discussão. Isto é, “cessarão” indica que os dons iriam cessar com o
fechamento do Canon. Se interpretarmos “perfeito” como a “morte do crente” o
termo “cessarão” simplesmente quererá dizer que os coríntios ao morrerem
não precisarão mais dos dons, visto que estarão na presença do Senhor.
Lembremos que Paulo escrevia na época da manifestação dos dons, pois a
revelação ainda estava sendo dada. Naquela época um crente ao morrer não
viria nem precisaria mais dos dons, pois chegaria ao “perfeito”. Agora se
interpretarmos o “perfeito” como o “o retorno de Cristo”, o termo “cessarão”,
naquele contexto histórico, simplesmente significaria que se Cristo voltasse no
mesmo momento os dons cessariam, pois no estado eterno não haveria
necessidade de dons. Lembremos que em todos os tempos, como também
entre aqueles antigos irmãos de Corinto, a volta de Cristo era sempre esperada
pelos cristãos, pois ninguém sabe o Dia em que Ele virá. Voltando Cristo os
dons cessariam. Assim não devemos interpretar o “cessarão” como se Paulo
quisesse passar a idéia de que haveria um tempo de continuidade de dons
após o fechamento do Canon. A forma correta de interpretar leva em conta o
contexto histórico.

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