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NOTA RESEARCH NOTE 623

Controle de qualidade em atenção primária


à saúde. I – A satisfação do usuário

Quality control in primary health care.


I – Consumer satisfaction

Kurt Kloetzel 1
Anete Machado Bertoni 1
Maristela Costa Irazoqui 2
Valdaci Padão Garcia Campos 2

Rosane Nunes dos Santos 2

1 Departamento de Medicina Abstract In this paper, the first of a series dealing with the development of a methodology for
Social, Faculdade de
assessing quality of ambulatory care, a sample of 270 outpatients from the same health center
Medicina da Universidade
Federal de Pelotas. were presented with a list of 12 questions. Although different versions of the questionnaire were
C. P. 464, Pelotas, RS tested, we found a high degree of agreement between the results. The findings indicate that the
96100-000, Brasil.
2 Escola de Serviços Sociais,
parameter “satisfaction” lends itself readily to measurement, thus becoming a useful instrument
Universidade Católica for guiding active intervention.
de Pelotas. Key words Consumer Satisfaction; Quality Control; Primary Health Care
Rua Félix da Cunha 412,
Pelotas, RS, 96050-050, Brasil.
Resumo Neste trabalho, o primeiro de uma série visando desenvolver uma metodologia para a
avaliação da qualidade dos serviços ambulatoriais, uma amostra de 270 freqüentadores de uma
unidade de saúde de Pelotas (RS), submetida a quatro versões de um mesmo questionário, foi so-
licitada a expressar sua satisfação com respeito a diferentes aspectos do atendimento. A compa-
ração dos resultados demonstrou excelente concordância, embora a sensibilidade dos métodos
variasse. Conclui-se que a satisfação expressa pelo usuário é um parâmetro facilmente mensurá-
vel, podendo tornar-se um instrumento útil na orientação das medidas corretivas.
Palavras-chave Satisfação dos Consumidores dos Serviços de Saúde; Controle de Qualidade;
Cuidados Primários de Saúde

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Introdução a mera apresentação daquilo que foi observa-


do em Pelotas, mas desenvolver uma metodo-
Desde o início de 1976, data de sua fundação, a logia simples, prática e replicável, capaz de ser-
prestação de serviços em nível ambulatorial vir, em âmbito maior, como instrumento de
tornou-se uma das áreas de concentração do avaliação das unidades ambulatoriais.
Departamento de Medicina Social da UFPel. Ao contrário do que acontece na mídia e
Mais recentemente, ao refletir a crescente preo- nas agências de publicidade, que têm a opinião
cupação com a efetividade e resolutividade dos do público em alta conta, em nosso meio, na
sistemas de saúde, as atenções têm-se voltado área da saúde, a satisfação expressa pelo usuá-
também à avaliação dos custos e dos benefí- rio geralmente é vista com indiferença ou mes-
cios dos serviços prestados à comunidade (Pic- mo desconfiança. No entanto, segundo pala-
cini, 1990; Halal et al., 1994). vras de um especialista em controle de quali-
Este campo – aqui denominado controle de dade: “É fútil discutir a validade do parâmetro
qualidade – é bastante complexo e diversifica- satisfação, enquanto indicador de qualidade”
do, permitindo um substancial número de al- (Donabedian, 1988). De fato, segundo o con-
ternativas no tocante aos indicadores de saú- senso atual, a avaliação da qualidade deve ba-
de. Entre eles, o mais decisivo seria sem dúvida sear-se tanto em critérios objetivos, como sub-
o desfecho, o resultado final do processo, em- jetivos, os primeiros reservados aos profissio-
bora este indicador seja mais apropriado aos nais da saúde, os últimos dizendo respeito ao
níveis secundário e terciário. Em razão de sua usuário. Para completar, são numerosos os tra-
própria natureza, isto é, a heterogeneidade da balhos demonstrando a confiabilidade dos in-
demanda e o prognóstico extremamente varia- quéritos de satisfação (Fitzpatrick, 1991; Carr-
do, com elevada proporção de afecções autoli- Hill, 1992; Rubin et al., 1993; Cohen et al.,
mitadas, no setor primário a avaliação dos be- 1996), bem como sua correlação com a adesão
nefícios para o paciente, a médio e longo pra- demonstrada pelo usuário.
zo, sempre constituirá um problema. De resto, Na ausência de um padrão-ouro, por en-
é notório que os resultados da medicina pre- quanto os autores não consideram oportuno
ventiva, uma especialidade praticamente pri- definir o que vem a ser qualidade no campo da
vativa do nível primário, dificilmente podem atenção primária à saúde. Preferimos deixá-lo
ser computados. para a última etapa deste inquérito, quando es-
Sendo assim, é preciso recorrer a outra sor- peramos ter alcançado uma compreensão mais
te de indicadores. O presente trabalho se ocu- profunda dos diferentes fatores e de sua in-
pa da satisfação do paciente; terá prossegui- fluência sobre as variáveis, assim permitindo a
mento, na Parte II, com o estudo da adesão ao escolha dos indicadores mais adequados.
agendamento (compliance), um parâmetro de
extrema importância prática, não só por per-
mitir a aferição das informações anteriores, Material e métodos
mas por oferecer uma previsão, em termos da
assiduidade do usuário, do êxito de eventuais O Posto Médico do Areal, uma de duas unida-
ações programáticas. des administradas pelo Departamento de Me-
Tais estudos, tendo como alvo a população dicina Social, serve a uma população de classe
de usuários, ainda não dão solução a todas as média e baixa estimada em oito mil pessoas.
questões. Resta, pois, indagar: qual será a efeti- Oferece em torno de 1.300 consultas mensais,
vidade, a resolutividade apresentada pelo ser- e no presente momento (março de 1997) 18%
viço dentro do universo mais amplo da comu- são pessoas residentes fora da área de abran-
nidade? Para responder – e para ter uma idéia gência do posto. Tirante os programas de Pue-
precisa da cobertura conseguida –, será preciso ricultura e Pré-Natal, a unidade oferece atendi-
empreender um inquérito numa amostra re- mento em enfermagem, nutrição, assistência
presentativa da população tributária ao servi- social, clínica médica, pediatria e ginecologia,
ço, assim incluindo tanto o usuário habitual, contando também com a retaguarda dos servi-
como aquele que, por repúdio ou por dispor de ços especializados da Faculdade de Medicina
outras opções, não é atendido naquela unida- da UFPel. Na área médica, é responsável pelo
de de saúde. Os resultados do inquérito domi- treinamento em serviço de terceiranistas, dou-
ciliar serão apresentados na Parte III desta sé- torandos e residentes em Medicina Geral Co-
rie; a Parte IV, enfim, ocupar-se-á da resolutivi- munitária.
dade, em seus diferentes aspectos. A amostra entrevistada mostrou-se bastan-
Ao longo destes artigos o leitor terá que te homogênea: em pelo menos três quartos dos
manter em vista que o objetivo principal não é casos, era composta por mulheres entre trinta

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e cinqüenta anos de idade, com o primário Figura 1


completo e pertencente à classe média baixa
(um critério baseado na inspeção da moradia e Ícones empregados na série 1.
de suas condições e não em meras informa-
ções sobre a renda familiar, que, segundo nos-
sa experiência, são menos seguras). As entre-
vistadoras eram alunas do último ano de uma
escola de serviços sociais, sem vínculo, prévio
A B C D E
ou atual, com qualquer entidade de saúde.

Série 1:

Uma amostra de 135 pacientes foi convidada a Série 2: (36 pacientes, uma subamostra
opinar a respeito da última consulta na unida- da série 1)
de. As entrevistas foram distribuídas a fim de
compreender diferentes horas do dia, bem co- Como nos interessasse saber se o paciente, ao
mo o expediente dos diferentes médicos, vi- optar por um determinado ícone, tinha em
sando oferecer uma amostra representativa do mente uma grandeza que pudesse ser traduzi-
serviço. Ao iniciar, temendo que o ambiente de da numericamente, completado o questioná-
trabalho pudesse inibir a espontaneidade das rio, um pequeno número de pessoas foi solici-
reações, os pacientes foram interrogados no tado a repetir o procedimento, dessa vez atri-
domicílio, no máximo dez dias após a consulta. buindo uma nota a cada item, numa escala de
(Podemos adiantar que tal cuidado foi desne- zero a dez.
cessário: terminado o trabalho, uma pequena
amostra foi interrogada na própria unidade, lo- Série 3: (74 pacientes)
go após a consulta, com resultados inteiramen-
te concordantes.) Inspirados por uma publicação estrangeira
O paciente era solicitado a opinar a respei- (Cohen et al., 1996), resolvemos explorar tam-
to dos seguintes parâmetros: bém uma outra modalidade de inquérito. Nes-
1) Facilidade de acesso à consulta. ta, o paciente era convidado a julgar se concor-
2) Tempo dispendido na sala de espera. dava ou não concordava com as seguintes de-
3) Cordialidade por parte da recepção. clarações:
4) Cordialidade do profissional. 1) Encontrei dificuldade em marcar uma
5) Atenção dada às queixas. consulta.
6) Impressão do exame clínico. 2) Gastei muito tempo na sala de espera.
7) Confiança despertada pelo médico. 3) Não fui bem atendido pela recepcionista.
8) Confiança na receita. 4) Não fui bem recebido pelo médico.
9) Explicações do médico com respeito à 5) Este não deu qualquer atenção às minhas
doença. queixas (ou pedidos).
10) Explicações quanto ao prognóstico. 6) Não fui bem examinado.
11) Satisfação com o agendamento. 7) O médico não me inspirou confiança.
12) Avaliação geral da consulta 8) Não confio na receita.
Numa tentativa de quantificar estas atitu- 9) Não fiquei satisfeito com as explicações
des, os paciente eram confrontados com uma que me foram dadas.
série de ícones (Figura 1), acompanhada da 10) O médico não me disse o que fazer se não
pergunta: Qual destas imagens expressa me- melhorasse.
lhor sua opinião? Inicialmente os ícones eram 11) Em resumo: não tive uma boa impressão
sete, logo reduzidos para cinco ao observar que, do atendimento.
diante da amplitude da escala, muitos pacien-
tes encontravam dificuldade em decidir. Série 4: (61 pacientes)
Ao fim do interrogatório era apresentada
uma pergunta aberta: Sugira como melhorar o Se o anterior pode ser chamado de questioná-
atendimento. rio pessimista, na Série 4 os dizeres são altera-
dos, para dar-lhe um cunho otimista. Por exem-
plo, a formulação para a primeira pergunta tor-
na-se: Não encontrei dificuldade em marcar
uma consulta. (Havendo consistência nas ati-
tudes, é de se esperar que o paciente, ao dizer

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que concorda com determinada colocação na com a avaliação registrada no Areal, à qual ain-
Série 3, na Série 4 traduza sua insatisfação por da se deve somar um apreciável contingente
um ‘não concordo’.) (32%) de avaliações boas (Tabela 1).
Mas comparações deste gênero são redun-
dantes, pois o postinho do Areal nada tem de
Resultados típico: sendo gerenciado e em boa parte finan-
ciado pela Universidade Federal de Pelotas, e
Série 1: (Tabela 1) refletindo as condições vigentes numa cidade
de porte médio do extremo sul do RS, trata-se
Não obstante o alto índice de aprovação dos de uma unidade-ensino, cuja experiência de
demais itens, terá a insatisfação com respeito modo algum pode ser transferida para outras
às duas primeiras questões – a dificuldade de situações. Nosso intuito principal, isso sim, é
acesso, a demora na sala de espera – algum configurar uma metodologia que se preste pa-
efeito sobre a impressão geral deixada pela ra a avaliação qualitativa de outras unidades da
consulta? região, bem como, tendo em vista um subse-
Sim, perfeitamente, segundo se verificou ao qüente processo de intervenção, apontar as
cruzarem-se as respostas a essas questões. questões tidas como críticas.
O exame da Tabela 1 mostra uma opinião
Série 2: (Tabela 2) quase unanimemente favorável, salvo nos três
primeiros itens. Uma espera por demais pro-
Séries 3 e 4: (Tabela 3) longada foi o motivo número um das reclama-
ções, o que é um fato igualmente constatado
As sugestões em outras avaliações (Koos, 1955; Rubin et
al., 1993). No caso do Posto do Areal, a demo-
A Tabela 4 classifica a reação do usuário no to- ra é compreensível, visto que o docente, sendo
cante às medidas julgadas necessárias para constantemente solicitado pelo estudante ou
melhorar o atendimento. médico-residente, dificilmente consegue acom-
panhar o ritmo de chegada dos pacientes. No
entanto, consideramos o fator demora o pri-
Discussão meiro dos objetivos a serem visados por um
processo de intervenção ativa.
Num estudo envolvendo mais de 17 mil pes- A insatisfação demonstrada com esta ques-
soas, visando comparar quatro distintos siste- tão, bem como com a dificuldade de acesso, is-
mas de saúde dos EUA, verificou-se que não to é, o agendamento de novas consultas (“De-
mais de 55% consideraram o desempenho co- viam distribuir mais fichas” é uma reclamação
mo excelente (Koos, 1955). Esta cifra coincide corriqueira.) não podia deixar de afetar a rea-

Tabela 1

Nota atribuída aos diferentes itens (em %).

Pergunta A B C D E Média ponderada*

Acesso 36 29 20 6 9 7,6
Sala de espera 13 30 26 16 15 6,2
Recepção 52 30 10 2 6 8,4
Cordialidade do médico 82 17 <1 <1 – 9,6
Atenção às queixas 83 13 3 <1 <1 9,6
Exame 90 6 3 1 – 9,6
Confiança no médico 78 16 3 2 <1 9,4
Confiança na receita 74 14 7 3 2 9,2
Explicações 73 14 8 2 3 9,2
Se não melhorar... 79 14 4 – 3 9,4
Agendamento 80 14 3 2 <1 9,6
Impressão geral 57 32 8 2 <1 8,2

* Considerando A = 10, B = 8, C = 6, D = 4, E = 2.

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ção à última pergunta, a impressão geral da Tabela 2


qualidade do atendimento, não obstante a rea-
ção positiva quanto aos aspectos técnicos e o Correspondência entre o ícone e a nota que lhe foi atribuída.
relacionamento com os profissionais de saúde.
Dir-se-ia, à primeira vista, que um inquéri- Ícone Freqüência Valor numérico médio
to tendo como tema a satisfação do usuário é
A 289 10,0
demais impreciso para servir de indicador de
B 87 8,0
qualidade, visto traduzir, nada mais, que a rea-
C 35 4,8
ção subjetiva a um episódio único e isolado.
D 10 3,9
Esta seria, porém, uma interpretação equivo-
E 3 2,0
cada de nossos objetivos: não se trata propria-
mente de estabelecer rígidos critérios de quali-
dade do atendimento (pois mesmo os inicia-
dos dificilmente chegarão a um consenso a res-
peito do vem a ser o padrão-ouro), mas de tirar Tabela 3
conclusões que permitam prever o comporta-
mento futuro do paciente, suas atitudes em fa- Pacientes que concordam com a formulação pessimista e não concordam
ce do seu serviço de saúde. com a versão otimista (em %).
Assim, corrigir as deficiências apontadas
não é somente questão de prestígio do serviço, Pergunta Concorda (Série 3) Não concorda (Série 4)
ou uma forma de evitar atritos com a comuni- (n = 74) (n = 61)
dade: tais providências, embora norteadas por
Acesso 49 52
necessidades que poderiam ser julgadas se-
Sala de espera 72 65
cundárias, na verdade poderão resultar num
Recepção 16 2
impacto não desprezível sobre os aspectos
Cordialidade do médico 4 –
“técnicos”, sobre a morbidade e, quem sabe, a
Atenção às queixas 3 –
mortalidade.
Exame 5 –
Nossos próprios estudos ainda não permi-
Confiança no médico 4 –
tem conclusões, porém a literatura revela uma
Confiança na receita 4 –
estreita correlação entre satisfação e adesão
Explicações 5 2
(Hulka et al., 1971; Kincey et al., 1975 apud
Se não melhorar... 3 –
Fitzpatrick et al., 1991; Carr-Hill, 1992). E uma
Impressão geral 5 –
boa adesão do paciente, seja quanto à assidui-
dade ao serviço, seja no rigoroso cumprimento P < 0.001 (Teste do Qui-Quadrado.)
da terapêutica, é fundamental; sem isso é im-
possível consolidar um vínculo médico-pa-
ciente continuado, tão precioso, tão raramente
preservado em nosso meio, particularmente Tabela 4
nos serviços mantidos pelo poder público.
Quanto à metodologia, é importante ressal- Sugestões para melhorias.

tar que o inquérito domiciliar mostrou-se dis-


pensável, já que os pacientes reagiram de ma- Categorias Freqüência*
neira semelhante ao serem interrogados no
Menos demora na ante-sala 50
próprio serviço logo após a consulta, achado
Mudar a recepcionista 5
que coincide com as conclusões de Ehnsfors &
Distribuir mais fichas 10
Smedby (1993).
Pronto-Atendimento ou plantão de 24 horas 38
No geral, os quatro métodos ensaiados
Medicamentos gratuitos 35
guardam entre si uma correspondência bas-
Dentista 10
tante satisfatória. A série 1, é óbvio, traz a van-
Oftalmologista 11
tagem de uma maior sensibilidade.
Laboratório próprio 5
Uma alternativa que merece ser mais pro-
Ambulância 5
fundamente estudada é a de pedir ao paciente
Outras sugestões 4
para expressar sua opinião segundo uma esca-
“Tudo bem” 13
la numérica. Não obstante o pequeno número
“Tudo ruim” 1
de observações, tal procedimento parece levar
Não souberam informar 3
a resultados compatíveis aos ícones, exceto na
categoria C e D, onde a noção de intervalo se * Permitidas respostas múltiplas.
mostrou pouco precisa (Tabela 2).

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Embora exista na literatura evidência de se busca auscultar as necessidades da popula-


que a mesma pergunta, formulada diferente- ção: a dificuldade em obter o remédio é, para
mente (isto é, em forma de uma negativa ou nossos pacientes, uma pequena tragédia.
uma afirmação), provoca reações diferentes por Em outras partes do mundo este tipo de in-
parte do paciente (Hulka et al., 1971; Cohen et quérito é muito empregado na avaliação dos
al., 1996), não podemos endossar essa hipóte- hospitais – a internação, o pré-operatório e o
se: as diferenças entre as Séries 3 e 4 são pe- pós-operatório (Ehnfors & Smedby, 1993) –,
quenas e não nos impressionam – ainda que a bem como na dos serviços auxiliares (Smith et
análise estatística tenha concluído pela exis- al., 1995). Em nosso meio, porém, o alvo de pri-
tência de um resultado altamente significativo. meira escolha ainda deverá ser a atenção pri-
São raros os pacientes que, quando indaga- mária, o ambulatório. Se conseguirmos ultra-
dos, deixam de dar sugestões visando a uma passar a esfera acadêmica e formos nos enga-
melhoria do serviço, e mais uma vez verifica- jar num trabalho objetivo de reformulação dos
mos que a demora para serem atendidos, bem serviços médicos, veremos que o indicador sa-
como os obstáculos ao fácil acesso, são as gran- tisfação se mostrará suficientemente “robusto”
des preocupações do usuário. Um terceiro item (para usar o termo empregado por Fitzpatrick,
vem a ocupar lugar de destaque toda vez que 1991) para servir de orientação.

Agradecimentos

Este trabalho contou com o apoio da Fapergs – Fun-


dação de Apoio à Pesquisa do Rio Grande do Sul.

Referências

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