Você está na página 1de 14

1029

Longitudinalidade/continuidade do cuidado: identificando

ARTIGO ARTICLE
dimensões e variáveis para a avaliação da Atenção Primária
no contexto do sistema público de saúde brasileiro

Longitudinality/continuity of care: identifying dimensions


and variables to the evaluation of Primary Health Care
in the context of the Brazilian public health system

Elenice Machado da Cunha 1


Ligia Giovanella 2

Abstract Longitudinality, which is concerned Resumo A longitudinalidade, que trata do acom-


with Primary Health Care (APS) professionals panhamento do paciente ao longo do tempo por
accompanying patients over time, is considered a profissionais da equipe de atenção primária em
central feature of this level of health care. The ful- saúde (APS), é considerada característica central
filment of this attribute is related to positive health deste nível assistencial. O atendimento a este atri-
results, which justify its use for assessing Primary buto está relacionado com resultados positivos, o
Health Care. On the other hand, the term is not que justifica sua utilização para fins de avaliação
commonly used by Brazilian authors, and in in- da APS. Por outro lado, o termo não é usual entre
ternational literature the term “continuity of care” os autores brasileiros, e na literatura internacio-
is used with a similar meaning. Therefore, this nal o termo continuidade do cuidado é utilizado
study is composed of a conceptual revision of lon- com sentido semelhante. O presente estudo con-
gitudinality/continuity of care, as well as the iden- siste em revisão conceitual sobre a longitudinali-
tification of its dimensions so as to enable the ac- dade/continuidade do cuidado, bem como a iden-
tual performance of this attribute to be assessed. tificação de suas dimensões, de forma a favorecer
As a result, the similarity between the two terms is a avaliação do atendimento ao referido atributo.
highlighted, although the identified dimensions of Como resultado, destaca-se a semelhança entre os
each attribute do not entirely coincide. The revi- termos, embora as dimensões identificadas para o
sion allowed three dimensions to be adopted in atributo não sejam totalmente coincidentes. A
accordance with the context of the Brazilian pub- revisão permitiu a adoção de três dimensões em
lic health care system: identification of the basic acordo com o contexto do sistema de saúde públi-
unit as a regular source of care, a long-lasting treat- co brasileiro: identificação da unidade básica como
ment bond and continuous information. The pro- fonte regular de cuidado, vínculo terapêutico du-
1
Fundação Oswaldo Cruz.
posal of an APS evaluation variables presented radouro e continuidade informacional. A proposta
Av. Brasil 4.365/318, herein is line with these dimensions. de variáveis para a avaliação da APS aqui apre-
Manguinhos. 21040-360 Key words Primary health care, Longitudinali- sentada vai ao encontro dessas dimensões.
Rio de Janeiro RJ.
elenice@ensp.fiocruz.br
ty/continuity of care, Assessment in primary care Palavras-chave Atenção primária em saúde,
2
Departamento de Longitudinalidade/continuidade do cuidado, Ava-
Administração e liação na atenção primária
Planejamento em Saúde,
Escola Nacional de Saúde
Pública Sergio Arouca,
Fundação Oswaldo Cruz.
1030
Cunha EM, Giovanella L

Introdução dade como o acompanhamento dos distintos


problemas de saúde por um mesmo médico, e a
A atenção primária em saúde (APS) tem sido continuidade do cuidado como o acompanha-
considerada imprescindível para a efetividade dos mento por um mesmo médico ou não, de um
sistemas de saúde e para a garantia de melhorias problema específico do paciente. Ressaltam ain-
nas condições de saúde da população. Vários da que a continuidade não é um elemento carac-
estudos comprovam que países que possuem sis- terístico da atenção primária, nem exige uma re-
temas organizados a partir da APS apresentam lação pessoal entre o profissional e o paciente,
menores taxas de incidência de doenças e de in- uma vez que bons registros podem suprir a ne-
ternação, redução de taxas de mortalidade pre- cessidade de informação para o devido acompa-
matura por causas evitáveis, menores custos e nhamento da patologia.
maior equidade na oferta de serviços1-3. No Brasil, as reformas que culminaram com a
Embora haja consenso com relação à impor- implantação do SUS buscaram fortalecer a APS e
tância da APS, o mesmo não ocorre no que diz ampliar a sua cobertura. Todavia, embora dados
respeito à sua definição. Além do mais, formas de comprovem o aumento progressivo da oferta de
organização e operacionalização deste nível assis- ações e serviços nesse nível de atenção, os resulta-
tencial são bastante diferenciadas nos diversos dos encontrados nem sempre são satisfatórios15,16.
países4. Nesse sentido, Starfield5 tem influenciado Cumprida a etapa de aumento considerável
outros autores ao afirmar que a atenção primá- da cobertura da APS, concentram-se os esforços
ria se diferencia dos outros níveis assistenciais por para melhoria da sua qualidade. Neste sentido,
apresentar quatro atributos: atenção ao primeiro algumas iniciativas de caráter governamental
contato, longitudinalidade, integralidade e coorde- constituem-se em incentivos para a realização de
nação. Tais atributos tem sido utilizados para es- avaliações internas e externas17. Mas, instrumen-
truturar instrumentos que buscam avaliar a qua- tos que avaliem os processos utilizados para al-
lidade da APS nos Estados Unidos e no Brasil6-10. cançar efetividade neste nível assistencial ainda
Dos atributos identificados por Starfield5, a são raros e pouco sensíveis.
longitudinalidade tem sido considerada caracte- Neste aspecto, métodos que avaliem o aten-
rística central e exclusiva da APS. Para esta auto- dimento da “longitudinalidade” podem ser opor-
ra, trata-se do acompanhamento do paciente ao tunos, posto que tal atributo está relacionado à
longo do tempo por médico generalista ou equi- efetividade na APS. Por outro lado, a palavra lon-
pe de APS, para os múltiplos episódios de doen- gitudinalidade não é usual na literatura nacional,
ça e cuidados preventivos. Neste acompanhamen- tampouco há consenso quanto a sua definição e
to, está implícita uma relação terapêutica carac- forma de medição. Sendo assim, este estudo con-
terizada por responsabilidade por parte do pro- siste em revisão conceitual sobre a longitudinali-
fissional de saúde e confiança por parte do paci- dade na APS. Tem por objetivo a definição do
ente11,12. O atendimento a tal atributo tende a termo, bem como a identificação das dimensões
produzir diagnósticos e tratamentos mais preci- do atributo, de forma a favorecer a eleição de
sos, além da redução dos encaminhamentos des- variáveis que sejam passíveis de medição. A ex-
necessários para especialistas e para a realização pectativa é acrescentar elementos na discussão
de procedimentos de maior complexidade11,13. sobre monitoramento e avaliação da atenção
Em artigos relativos à APS, muitas vezes o ter- primária no contexto brasileiro.
mo “continuidade do cuidado” é utilizado com
significado semelhante ao de longitudinalidade.
Mas para Starfield5, esses dois termos possuem Método
significados diferentes, uma vez que a continui-
dade do cuidado estaria relacionada a um pro- Para melhor definir o termo longitudinalidade e
blema de saúde específico e a sucessão de eventos identificar suas dimensões, a opção foi por desen-
entre uma consulta e outra, bem como aos meca- volver revisão bibliográfica sobre a temática. A
nismos de transferência de informação para sub- revisão teve início a partir de artigos e textos indica-
sidiar decisões com relação ao tratamento do pa- dos por especialistas da área. Em seguida, deu-se
ciente, sem a preocupação com o estabelecimento a busca por outros artigos, tanto a partir das refe-
de uma relação terapêutica ao longo do tempo. rências citadas pelos autores inicialmente consul-
Assim como Starfield5, Pastor-Sánchez et al.14 tados, quanto nos bancos de dados do MEDLI-
também diferenciam longitudinalidade de conti- NE, SciELO e LILACS. Para esta busca, realizada
nuidade do cuidado. Entendem a longitudinali- durante os meses de dezembro de 2006 e janeiro
1031

Ciência & Saúde Coletiva, 16(Supl. 1):1029-1042, 2011


de 2007, utilizou-se como descritores os termos revisão, os autores definem continuidade na APS
“longitudinalidade” e “continuidade do cuidado”, como relação entre um médico e um paciente que se
vinculados ao termo “atenção primária”. estende além de episódios específicos de doença. Esta
Para a seleção dos artigos, foram considera- relação é considerada reflexo de um senso de afilia-
dos os seguintes critérios: estudos ou análises ção, frequentemente expresso em termos de contrato
críticas relativas à longitudinalidade e ou conti- implícito de lealdade por parte do paciente e respon-
nuidade do cuidado na APS e a disponibilidade sabilidade clínica por parte do médico. Ressaltam
do artigo completo de forma gratuita. Foram ainda que a afiliação a uma fonte regular de cuida-
excluídos trabalhos relacionados ao tratamento do é por vezes referida como continuidade inter-
de patologias específicas e acompanhamento do pessoal e que esta favorece a melhora da comuni-
paciente por outros profissionais não médicos. cação, confiança e senso de responsabilidade.
Enfim, para a presente revisão, foram consi- Outra contribuição do estudo de Haggerty et
derados dezessete artigos: quatro indicados e dis- al.20 é a identificação de três tipos de continuida-
ponibilizados por especialistas previamente con- de: informacional, gerencial e relacional. Conti-
sultados; doze a partir de busca em banco de nuidade informacional é o elemento que permite
dados e um fornecido pelo autor (Quadro 1). a conexão de informação entre diferentes prove-
Além destes textos, três obras dos autores cita- dores para a condução do cuidado. Tanto a in-
dos como referência conceitual nos artigos revi- formação relativa à condição clínica, quanto o
sados foram consultadas (Starfield5, McWin- conhecimento sobre as preferências, valores e
ney18 e Institute of Medicine19). contexto do paciente seriam importantes para
Os textos revisados foram organizados em assegurar o atendimento às necessidades do in-
três grupos. O primeiro contemplou os autores divíduo. Continuidade gerencial é especialmente
cujo foco é a definição dos termos e identificação importante na doença clinicamente complexa ou
das suas dimensões. Os pressupostos conceitu- crônica que necessita do envolvimento de vários
ais de Starfield servem de base para a discussão, provedores para a condução do cuidado. Quan-
dado que a obra desta autora encontra-se mais do existente, os serviços são ofertados de forma
difundida entre os especialistas brasileiros que complementar e em tempo oportuno. Já a conti-
discutem a temática. nuidade relacional diz respeito a uma progressi-
No segundo grupo, estão os autores que de- va relação terapêutica entre paciente e um ou mais
senvolvem análise crítica com relação à temática provedores ao longo do tempo, que oferece a
no contexto das reformas setoriais, sem que ne- percepção de garantia do cuidado futuro.
cessariamente explicitem uma referência concei- A definição de Haggerty et al.20, por referir
tual. No terceiro, estão os autores que utilizam que a relação se estende por mais de um episódio
metodologia específica a fim de mensurar a lon- de doença e afirmar o reconhecimento de uma
gitudinalidade e ou continuidade do cuidado e, fonte regular de cuidado, vai ao encontro do con-
consequentemente, explicitar seus benefícios ceito de longitudinalidade para Starfield5. Cor-
(Quadro 2). A proposta de variáveis para a ava- robora a hipótese de que estes dois termos são
liação da atenção primária no contexto brasilei- utilizados por muitos autores com sentido se-
ro é contemplada na discussão dos resultados. melhante. Por outro lado, essa revisão sistemáti-
ca acrescenta elementos à discussão ao afirmar
que o acesso aos serviços de saúde é um pré-
Qual a definição de longitudinalidade? requisito para a continuidade do cuidado e que a
coordenação do cuidado é um agente facilitador.
Do conjunto da literatura investigada, podemos A preocupação com a definição de continui-
considerar que seis autores buscam definir a lon- dade do cuidado no âmbito da APS, e em especi-
gitudinalidade e/ou continuidade do cuidado. al pela continuidade interpessoal como uma de
Destes, Starfield5, McWinney18 e Institute of Me- suas dimensões, levou Saultz12 a investigar o tema
dicine19 são publicações conceituais relativas à utilizando como método a revisão sistemática.
APS. Os outros são duas revisões sistemáticas Esse autor, que cita como referência conceitual
(Saultz12 e Haggerty et al.20) e uma análise crítica os postulados de McWinney18, encontrou como
(Freeman e Hjortdahl21) (Quadro 1). resultado a falta de consenso na definição do ter-
Desse primeiro grupo de autores, a revisão sis- mo, mas identificou múltiplas dimensões do
temática elaborada por Haggerty et al.20 constitui- mesmo, a saber: informativa, cronológica ou lon-
se em esforço de construção de consenso com rela- gitudinal, interpessoal, geográfica, interdiscipli-
ção ao termo “continuidade do cuidado”. Nesta nar e continuidade familiar.
1032
Cunha EM, Giovanella L

Embora tenha destacado essas seis dimen- tinuidade informacional, descrita como “coleção
sões, Saultz12 conclui que continuidade do cuida- organizada de informação médica e social sobre
do engloba uma hierarquia de apenas três: in- cada paciente, disponibilizada para todos os pro-
formacional, longitudinal e interpessoal. A base fissionais de saúde que cuidam do mesmo”. Mas,
hierárquica para a definição do termo seria a con- como o conhecimento sobre o paciente não seria

Quadro 1. Artigos revisados segundo termo utilizado, interpretação do termo e referência conceitual.

Autor Termo Interpretação Referência conceitual


Haggerty et al. Continuity of care Relação médico-paciente que se estende para além de
(2003) episódios específicos.
Dimensões: informacional, gerencial e relacional.
Saultz (2003) Continuity of care Relação longitudinal entre pacientes e aqueles que McWinney (1997)
(Interpersonal cuidam deles. Transcende múltiplos episódios de
continuity) doença e inclui responsabilidade por prevenção e
coordenação do cuidado. Envolve confiança e
responsabilidade.
Dimensões: informacional, longitudinal, interpessoal.
Freeman e Continuity of care Cuidado com o mesmo provedor ao longo do tempo Freeman (1985)
Hjortdahl (1997) para mais do que um episódio de doença.
Duas interfaces: continuidade longitudinal (médico)
e continuidade pessoal (médico e equipe).
Guthrie e Wyke Continuity of care, Relação médico-paciente assegurando cuidados que General Practitioners
(2000) personal continuity levam em conta o contexto pessoal e social do Committee (2000)
paciente (personal continuity). Freeman e Hjortdahl
(1997)
WHO (1992) Continuity of care Relação contínua entre um usuário e um provedor
individual, uma equipe ou ainda uma rede de serviços.
Ortún e Gervas Longitudinalidad Prestação de cuidado ao longo do tempo, por médico
(1995) de APS, para distintos problemas de saúde.
Gérvas (2005) Longitudinalidad Prestação de cuidado ao longo do tempo, por médico
de APS, para distintos problemas de saúde.
Christakis (2003) Continuity of care Relação médico-paciente. Médico regular necessário Institute of Medicine –
para o estabelecimento de confiança. (1994)
Roberge et al. Longitudinality Relação consistente entre paciente e médico ao longo Freeman e Hjortdahl
(2001) do tempo – reconhecimento da fonte regular de (1997)
cuidado para necessidades de saúde.
Maeseneer et al. Continuity in family Relação pessoal entre médico e paciente ao longo do Starfield (1998)
(2003) medicine - tempo.
longitudinality
Nutting et al. Continuity of care Relação médico-paciente ao longo do tempo. Institute of Medicine
(2003) (1994) - McWinney
(1981)
Fan et al. (2005) Continuity of care Relação entre médico e paciente, caracterizado por Saultz (2003)
confiança e senso de responsabilidade.
Sánchez et al. Longitudinalidad Acompanhamento dos distintos problemas de saúde Starfield (1992 e 1994)
(1997) de um paciente por um mesmo médico.
Gill e Mainous Continuity of care Acompanhamento pelo mesmo provedor ao longo do Starfield (1992)
(1998) tempo.
Saultz e Interpersonal Relação duradoura entre médico e paciente Saultz (2003)
Albedaiwi (2004) continuity of care caracterizada por confiança e responsabilidade.
Cabana e Jee Sustained continuity Cuidado ao longo do tempo por um único médico ou Starfield (1980)
(2004) of care equipe de saúde e uma comunicação adequada e
efetiva da informação em saúde.
Mainous et al. Continuity of care Relação ao longo do tempo entre médico e paciente. Starfield (1992)
(2001)
1033

Ciência & Saúde Coletiva, 16(Supl. 1):1029-1042, 2011


suficiente para assegurar a continuidade do cui- atenção à saúde. O médico, por sua vez, se res-
dado com um provedor, no segundo nível da ponsabiliza pela continuidade dos cuidados ao
hierarquia estaria a continuidade longitudinal - longo do tempo. Para Saultz12, o elemento essen-
que diz respeito ao estabelecimento de uma uni- cial da atenção primária é a continuidade inter-
dade de saúde onde o paciente deve receber a pessoal, cuja ocorrência depende da presença da
maioria dos cuidados de saúde, de forma que o continuidade informacional e da continuidade
mesmo sinta-se familiarizado com o ambiente e longitudinal.
o identifique como referência ao longo do tem- Duas das três dimensões da continuidade ci-
po. A equipe de saúde, por sua vez, assumiria a tadas por Haggerty et al.20, a saber, continuidade
responsabilidade de coordenação do cuidado, informacional e continuidade relacional, se apro-
incluindo serviços preventivos. ximam das dimensões identificadas por Saultz12,
Em escala progressiva, viria à continuidade denominadas respectivamente continuidade in-
interpessoal, descrita como uma relação médi- formacional e continuidade interpessoal. Quan-
co-paciente, na qual o paciente conhece e confia to à “continuidade gerencial” citada por Hagger-
no médico e o tem como referência básica para a ty et al.20, cujo significado encontra-se mais pró-

Quadro 2. Artigos revisados segundo autores, tipo de estudo e principais resultados.

Autor Tipo de estudo Resultados


Guthrie e Wyke Análise crítica A suposta contradição entre a premência da modernização da clínica e a
(2000) continuidade pessoal seria falsa.
WHO (1992) Grupo de trabalho Relevância da equipe, necessidade de articulação dos provedores, redução do
sobreuso.
Gérvas (2005) Análise crítica Longitudinalidade permite corrigir falsos negativos.
Ortún e Gérvas Análise crítica Longitudinalidade confere eficiência à APS.
(1995)
Christakis (2003) Análise crítica Interpretação dos autores quanto à natureza da continuidade do cuidado, se é
processo ou resultado, interfere nos achados dos estudos.
Roberge et Técnica de grupos Congruência de percepções. Disponibilidade de tempo e divisão de
al.(2001) focais (médicos e responsabilidades faz com que médicos defendam a relação terapêutica com a
pacientes) equipe de APS.
Maeseneer et al. Estudo de coorte (2 A utilização de uma fonte regular de cuidados de APS leva a menores gastos
(2003) anos) em saúde.
Nutting et al. Estudo transversal Pacientes vulneráveis valorizam mais a continuidade do cuidado. Tal fato pode
(2003) interferir nos achados dos estudos.
Pasto-Sánchez et Estudo descritivo O grau de longitudinalidade e de continuidade averiguado a partir da presença
al. (1997) (questionário com de listas de paciente e do grau de conhecimento sobre o histórico do paciente
médicos) nos países investigados são diferenciados.
Mainous et al. Estudo tranversal A continuidade com o mesmo médico, ao longo do tempo, está relacionada
(2001) (inquérito com com o aumento da confiança no médico.
pacientes)
Fan et al.(2005) Estudo transversal Continuidade do cuidado está relacionada com maior satisfação do paciente.
(inquérito com
pacientes e base de
dados)
Gill e Mainous Estudo longitudinal A continuidade do cuidado está relacionada com menores taxas de internação
(1998) com beneficiários do por condições crônicas sensíveis ao tratamento ambulatorial.
Medicaid (2 anos)
Saultz e Revisão sistemática Falta consenso na definição e nas formas de medição da continuidade
Albedaiwi (2004) interpessoal. Mas pode-se afirmar que a Continuidade interpessoal está
relacionada com maior satisfação do paciente.
Cabana e Jee Revisão sistemática A longitudinalidade está relacionada com redução da taxa de internação e de
(2004) atendimentos de emergência, maior adesão aos cuidados preventivos e melhor
comunicação.
1034
Cunha EM, Giovanella L

ximo do atributo da “coordenação” referido por A partir dos artigos já discutidos, verifica-se
Starfield5, não é contemplada por Saultz. Já o que o termo continuidade do cuidado é utilizado
termo continuidade longitudinal utilizado por com sentido semelhante ao de longitudinalidade
Saultz, cujo significado diz respeito à identifica- definido por Starfield. A concordância diz respei-
ção de uma unidade de saúde como fonte regu- to, principalmente, ao estabelecimento de relação
lar de cuidados, é considerado por Haggerty et terapêutica duradoura entre paciente e profissio-
al. como pré-requisito para a continuidade do nais de saúde da equipe APS. Por outro lado, ob-
cuidado, mas não como dimensão do atributo. serva-se diversidade de nomenclatura e discordân-
Vale ressaltar que, embora Starfield não ex- cia na identificação das dimensões do atributo.
plicite dimensões para o atributo em questão,
esta autora cita a identificação da fonte regular
de cuidados e o vínculo longitudinal como fato- A longitudinalidade
res inerentes à longitudinalidade. Já a continui- no contexto das reformas do setor saúde
dade informacional é tratada por esta autora no
âmbito do atributo da coordenação do cuidado. Como dito anteriormente, a longitudinalidade
MacWinney utiliza o termo “continuidade do tem sido identificada enquanto questão polêmi-
cuidado” e identifica cinco dimensões para o ca no âmbito das reformas que implicam reor-
mesmo: informacional, cronológica, geográfica ganização da oferta de serviços. Neste aspecto,
interdisciplinar e interpessoal; e o Institute of Guthrie e Wyke22, assim como Freeman e Hjort-
Medicine, que também utiliza o termo “continui- dahl21, também discutiram a temática no pro-
dade do cuidado”, não cita dimensões. cesso de reforma da atenção primária, mas no
Freeman e Hjortdahl18 são citados por ou- contexto do Reino Unido.
tros autores como referência conceitual, mas dis- A princípio, Guthrie e Wyke22, que compre-
cutem a temática no âmbito das reformas orga- endem a continuidade como o estabelecimento
nizacionais e gerenciais da APS. Esses autores de contato com o mesmo médico ao longo do
confrontam os termos continuidade longitudi- tempo, distinguem continuidade pessoal - des-
nal e continuidade pessoal como duas interfaces crita como uma progressiva relação médico-pa-
da continuidade do cuidado. Uma relação tera- ciente que assegura cuidados que levam em con-
pêutica mais duradoura com um único médico ta o contexto pessoal e social do paciente -, de
generalista caracterizaria a continuidade longi- continuidade do cuidado, que estaria relaciona-
tudinal. Já na continuidade pessoal haveria a re- da com a prática moderna da atenção primária,
lação duradoura com um generalista, mas tam- em que haveria a renúncia de uma atenção mais
bém poderia haver uma equipe de atenção pri- personalizada e duradoura em prol do atendi-
mária que dividisse responsabilidades. mento por equipes maiores, que assegurassem a
Ao confrontar essas duas interfaces da conti- continuidade a partir da utilização de guidelines e
nuidade do cuidado, os autores explicitam van- registros eletrônicos.
tagens e desvantagens da continuidade longitu- Mas a suposta polêmica entre esses dois ti-
dinal. Dentre as desvantagens, destacam o fato pos de continuidade em nome da eficiência seria
desse tipo de continuidade exigir mais disponibi- falsa, dada as evidências de que a continuidade
lidade e compromisso por parte do profissional pessoal traria vantagens, como a diminuição das
médico. Além do mais, alegam que a existência internações e da utilização de serviços de emer-
de uma relação duradoura não significa necessa- gência, e maior satisfação do paciente. Logo, não
riamente que ela seja boa. haveria necessidade de escolher entre a suposta
Outra afirmativa é que a relação duradoura “medicina moderna” e a continuidade pessoal;
com um único médico poderia interferir no senso ambas seriam compatíveis. No entanto, os mé-
de observação dos pacientes e torná-los menos dicos precisariam ter mais clareza deste fato de
críticos com relação à avaliação dos cuidados re- modo a reivindicar a continuidade pessoal no
cebidos. Por outro lado, esta relação favoreceria o âmbito das reformas do setor saúde. Estes auto-
retorno, para o profissional, da eficácia do diag- res não utilizam os termos longitudinalidade ou
nóstico e do tratamento. Frente a essas questões, continuidade longitudinal.
a alegação é que a continuidade longitudinal não O texto da Organização Mundial de Saúde
seria imprescindível, mas a continuidade pessoal, sobre continuidade do cuidado, publicado em
sim. Mas, em todo caso, para o estabelecimento 199223, também tem como fonte motivadora as
da continuidade pessoal, seria necessário um cer- mudanças nos sistemas de atenção primária e o
to grau de continuidade longitudinal. risco de tais reformas interferirem negativamen-
1035

Ciência & Saúde Coletiva, 16(Supl. 1):1029-1042, 2011


te nos resultados da atenção. Este texto não refe- fatores que influenciam a utilização de um deter-
re o termo longitudinalidade e a interpretação minado estabelecimento de saúde como fonte
para continuidade do cuidado é mais operacio- regular de cuidados ao longo do tempo. Para
nal do que conceitual, pois define o termo sim- alcançar tal objetivo, os autores utilizaram a téc-
plesmente como a relação contínua entre o usu- nica de grupos focais com médicos e pacientes,
ário e o provedor de atenção primária. Os bene- explicitando e comparando suas percepções com
fícios apontados como relacionados à continui- relação à temática.
dade do cuidado são maior possibilidade de in- Ao tratarem da fidelidade com a fonte de cui-
tegração das dimensões físicas, psicológicas, so- dados, Roberge et al.25 utilizaram o termo longi-
ciais e econômicas; melhora na relação entre usu- tudinalidade e o definiram como “relação con-
ários e provedores de serviços; promoção de um sistente entre paciente e médico que se traduz em
papel mais efetivo na manutenção de saúde por reconhecimento e utilização de uma fonte regu-
parte do usuário; redução do sobreuso dos ser- lar de cuidado ao longo do tempo”. O recurso
viços de saúde e ainda provável redução dos cus- metodológico permitiu identificar quais fatores
tos do cuidado, por prevenir a duplicação dos estão relacionados com essa fidelidade e, conse-
serviços e tratamentos desnecessários. quentemente, com a longitudinalidade.
A continuidade do cuidado também aumen- Os achados desses autores demonstram cer-
taria a satisfação do usuário com o serviço e do ta congruência das percepções de médicos e de
profissional de saúde com o seu trabalho. A única pacientes com relação aos papéis a serem desem-
desvantagem apontada no texto diz respeito à di- penhados pelos mesmos na manutenção da fi-
ficuldade em identificar serviços de qualidade du- delidade do paciente com a fonte regular de cui-
vidosa, particularmente nos sistemas que não dado. Ambos apontaram os seguintes fatores
permitem a livre escolha de provedor por parte como determinantes: confiança do paciente no
do usuário23. Neste aspecto, vale lembrar que o médico, disponibilidade e lealdade do médico, e
modelo de atenção primária que vem sendo imple- boa comunicação – na qual o paciente busca re-
mentado no Brasil, com adscrição da população latar corretamente seus sintomas e seu tratamen-
à uma equipe de Saúde da Família, de certa for- to e estar aberto às recomendações. Outra visão
ma, restringe o direito de escolha do usuário com congruente é que o médico deve ser eficaz, coor-
relação à eleição da fonte regular de cuidados. denar o cuidado e assegurar o tratamento.
As análises críticas de Ortún e Gérvas13 e de Os grupos de pacientes também apontaram
Gérvas11, já contempladas no início do texto, dis- a necessidade do médico estar atualizado com
cutem as vantagens da utilização de um médico relação às novas descobertas e respeitar a opi-
generalista como fonte regular de cuidados e de nião do paciente. Com relação ao estabelecimen-
sua função de “filtro” para o acesso à atenção to de vínculo longitudinal, questões como neces-
especializada, o que estaria relacionado à eficiên- sidade de maior disponibilidade e excessiva res-
cia na APS. Já Christakis24 discute que a interpre- ponsabilidade apareceram como justificativa
tação da continuidade do cuidado nos estudos, para a defesa, por parte dos médicos, da relação
ora como processo, ora como resultado da aten- terapêutica com a equipe, enquanto que a prefe-
ção, pode influenciar métodos e achados. Defen- rência dos pacientes é a relação pessoal com o
de que este atributo deve ser considerado como médico.
um resultado. Logo, os estudos deveriam estar
direcionados para a melhor forma de alcançar o
referido atributo na APS. Por outro lado, reco- Como mensurar a longitudinalidade
nhece que há questões ainda não respondidas, e seus benefícios
como a legitimidade de impor a continuidade com
uma fonte usual de cuidado para aqueles que O problema da falta de uniformidade na defini-
não a valorizam. Esse autor, que tem como refe- ção de continuidade do cuidado implica a difi-
rência teórica o Institute of Medicine19, reconhe- culdade em generalizar resultados. Além do mais,
ce a importância da relação médico-paciente para a forma de percepção da temática interfere no
que haja continuidade do cuidado. tipo de pesquisa, nas formas de coleta de dados e
O estudo de Roberge et al.25 não se constitui ainda nos resultados do estudo24. Nos artigos
em referência conceitual de longitudinalidade e revisados que buscaram mensurar a continuida-
nem almeja identificar suas dimensões; logo, não de do cuidado (Quadro 2), também foi verifica-
se encontra entre o primeiro grupo de autores, da diversidade na interpretação do termo e, con-
mas se destaca por buscar a compreensão dos sequentemente, das unidades de análise. No en-
1036
Cunha EM, Giovanella L

tanto, a maioria dos estudos indicou associação ser assegurada principalmente para grupos de
entre continuidade do cuidado e resultados po- pacientes crônicos, portadores de patologias
sitivos, como diminuição da taxa de internações complexas, idosos e população de baixa renda e
e maior satisfação do paciente, constatados nos que talvez pessoas jovens e saudáveis não tenham
estudos analisados a seguir. tanto interesse em manter um vínculo com uma
Para investigar a relação entre custos e conti- fonte regular de cuidados.
nuidade do cuidado, De Maeseneer et al.26 utili- Objetivando medir a longitudinalidade e a
zaram como recurso metodológico um estudo continuidade em quatro países europeus, a sa-
de coorte por um período de dois anos. Compa- ber, Espanha, Portugal, Finlândia e Suécia, Pas-
raram dois grupos de beneficiários de duas com- tor-Sánchez et al.14 realizaram estudo descritivo
panhias de seguro. Um grupo tinha um genera- comparativo, tendo por base questionários en-
lista como fonte regular de cuidado na atenção viados a médicos generalistas que atuavam há
primária e o outro, não. mais de cinco anos na mesma unidade nos paí-
Tendo Starfield como referência conceitual, ses escolhidos para o estudo. Como dito anteri-
esses autores interpretaram o termo como rela- ormente, longitudinalidade para estes autores,
ção pessoal entre médico e paciente ao longo do cuja referência conceitual é Starfield, significa
tempo. Como resultado, após ajustes por fato- “acompanhamento dos distintos problemas de
res sociodemográficos, econômicos e presença de saúde de um paciente por um mesmo médico ao
comorbidade, esses autores encontraram forte longo do tempo”. A observação é que só registra-
associação entre continuidade do cuidado com ram o ponto de vista do médico, desconsideran-
médico de família e menores gastos em saúde. do a opinião do usuário.
Ou seja, os resultados do estudo indicaram que Com relação aos resultados, os autores cons-
a longitudinalidade estava associada com a efi- tataram que os países investigados apresenta-
ciência na APS. vam diferentes graus de longitudinalidade e de
Partindo do pressuposto que a valorização continuidade; Portugal obteve o melhor desem-
da continuidade do cuidado pode influenciar na penho e Finlândia, o pior, por não dispor de lista
satisfação do paciente com relação à atenção re- de pacientes e pelo menor nível de conhecimento
cebida, Nutting et al.27 investigaram tal associa- por parte do profissional a respeito dos proble-
ção em um estudo transversal. Os autores defi- mas do paciente.
niram a continuidade do cuidado como um as- Mainous et al.28, tendo Starfield como refe-
pecto fundamental da atenção primária e a rela- rência teórica, investigaram a relação entre con-
cionaram com a identificação de um médico ge- fiança no profissional médico quando a fonte
neralista como fonte regular de cuidados. As re- regular de cuidados era um único médico e quan-
ferências conceituais foram o Institute of Medi- do essa fonte era um serviço de APS. Para tal,
cine19 e McWhinney18. conduziram inquérito com amostra aleatória de
No esforço para medir o alcance desse atri- pacientes no Reino Unido e nos Estados Unidos.
buto, os autores privilegiaram tópicos relativos Como resultado, destacaram que o acompanha-
ao conhecimento médico sobre o paciente, a co- mento por um mesmo médico ao longo do tem-
ordenação do cuidado e a comunicação inter- po está associado com aumento da confiança
pessoal, além do grau de valorização da conti- neste médico, mas não necessariamente em uma
nuidade do cuidado pelos pacientes, pressupon- relação de causa e efeito. Em todo caso, a conti-
do que tal valorização exerce influência na avali- nuidade seria um nutriente para a confiança.
ação desse atributo por parte do paciente. Os Logo, deveria ser encorajada, inclusive com in-
dados foram coletados a partir de observação centivos financeiros.
direta e inquérito com pacientes. Dados sociode- Para investigar a relação entre a continuida-
mográficos e do estado de saúde percebido pelo de do cuidado e a satisfação do paciente, Fan et
paciente serviram de base para a análise. al.29 realizaram estudo transversal, utilizando
Os resultados do estudo de Nutting et al.27 como fontes de informação inquérito com paci-
indicaram que mulheres, idosos, grupos com entes atendidos em clínicas de atenção primária e
menor nível de escolaridade, portadores de con- registros administrativos desses serviços. As ques-
dições crônicas, segurados do Medicare e Medi- tões versavam sobre a satisfação com o atendi-
caid e a percepção de pior estado de saúde esta- mento e com outros aspectos do serviço ofereci-
vam associados com a valorização da continui- do. Tendo por referência os postulados de
dade do cuidado. A conclusão desse estudo é su- Saultz12, estes autores definiram continuidade do
gestiva de que a continuidade do cuidado deve cuidado como “relação entre médico e paciente
1037

Ciência & Saúde Coletiva, 16(Supl. 1):1029-1042, 2011


caracterizada por confiança e senso de responsa- conduziram revisão sistemática contemplando
bilidade”. Os resultados, após ajustes por carac- dezoito artigos, dos quais doze eram estudos
terísticas dos pacientes (sociodemográficas e de transversais, cinco estudos de coorte e um ensaio
estado de saúde) e dos provedores, também randomizado. Ressalta-se que o estudo de Gill e
apontaram relação positiva. Mainous30 é um dos estudos de coorte contem-
Apesar da falta de uniformidade conceitual, plados nesta revisão.
todos os estudos já mencionados apresentam re- O termo utilizado foi “continuidade susten-
sultados que demonstram a relevância da longi- tada do cuidado”, tendo por referência os postu-
tudinalidade e/ou da continuidade do cuidado, lados de Starfield. Quanto aos critérios de sele-
independente das dimensões e variáveis utilizadas ção dos artigos, foram excluídos estudos que
nas análises. A fim de corroborar os resultados envolviam hospitalização anterior ou posterior,
positivos deste atributo, vale citar o estudo de Gill que não tinham um período padronizado para a
e Mainous30 e também duas revisões sistemáti- medição e que a medida para o estudo era obtida
cas, uma de autoria de Saultz e Albredaiwi31, que por questões que não estivessem de acordo com
focaliza a relação da oferta de longitudinalidade o conceito de longitudinalidade assumido pelos
com a satisfação do paciente, e a outra, de Caba- autores da revisão. Cabana e Jee32 encontraram
na e Jee32, que destaca a relação do referido atri- forte associação entre a longitudinalidade e be-
buto com a qualidade do cuidado (Quadro 2). nefícios relacionados à situação de saúde dos
Gill e Mainous30 investigaram a associação pacientes. Dentre os resultados, destacaram a
entre continuidade do cuidado e episódios de in- diminuição da taxa de internação e do atendi-
ternação a partir de um estudo longitudinal que mento de emergência, melhor receptividade dos
considerou um período de dois anos. Este estu- cuidados preventivos e melhor comunicação.
do envolveu cerca de 13.000 beneficiários do
Medicaid. Embora esses autores não tenham uti-
lizado o termo longitudinalidade, interpretaram Discussão
“continuidade” como acompanhamento por um
mesmo provedor ao longo do tempo, tendo Star- Considerações teóricas
field como referência conceitual. para o estudo da longitudinalidade
Gill e Mainous30 encontraram associação
positiva entre continuidade com o mesmo pro- No presente estudo, a partir da bibliografia
vedor e menores taxas de internação para condi- revisada, constata-se que três autores são cita-
ções crônicas sensíveis ao tratamento ambulato- dos como referência conceitual para o atributo
rial. Mas para as condições agudas passíveis de em questão, a saber, Institute of Medicine da Aca-
tratamento ambulatorial, estes autores não en- demia Nacional de Ciências de Washington19 (au-
contraram associação positiva significativa. tor de natureza institucional, definido a partir de
A revisão sistemática realizada por Saultz e painel de especialistas); Ian R. McWhinney17 e B.
Albredaiwi31 contemplou trinta artigos originais Starfield 5. Estes autores apresentam duas per-
que investigaram a relação entre satisfação do cepções nucleares, que dizem respeito à semelhan-
paciente e continuidade interpessoal. A base con- ça entre os termos longitudinalidade e continui-
ceitual para o termo foi a revisão sistemática de dade do cuidado.
Saultz12, realizada em 2003 e já mencionada ante- Para os dois primeiros autores, Institute of
riormente (Quadro 1). O propósito da análise foi Medicine19 e McWhinney18, os termos longitudi-
determinar a qualidade da evidência da satisfação nalidade e continuidade do cuidado seriam simi-
do paciente, tendo por base os métodos utiliza- lares; já para Starfield5, haveria diferenças con-
dos nos estudos. Como conclusão, estes autores ceituais. Um outro grupo de autores (Saultz12,
apontam que a pesquisa sobre continuidade per- Haggerty et al.20 e Freeman e Hjortdahl21) acres-
manece limitada por diferentes definições e técni- centa elementos à definição dos termos utiliza-
cas de medida, mas com evidências de que a con- dos pelos autores do primeiro conjunto.
tinuidade interpessoal é importante para pacien- Em termos operacionais, todavia, na literatu-
tes e médicos. Na opinião dos autores, tais evi- ra especializada internacional, o termo continui-
dências seriam suficientes para que a longitudi- dade do cuidado tem sido utilizado com sentido
nalidade na atenção primária fosse levada em con- semelhante, mas não idêntico, ao de longitudina-
sideração nas reformas de sistemas de saúde. lidade. Ou seja, a maioria dos autores, ao condu-
Com objetivo de investigar o efeito da conti- zir seus estudos utilizando o termo continuidade
nuidade na qualidade do cuidado, Cabana e Jee32 do cuidado, considera o significado do atributo
1038
Cunha EM, Giovanella L

da longitudinalidade empregado por Starfield5, Fonte regular


principalmente no que diz respeito à identificação de cuidados de atenção primária
e utilização de uma fonte regular de cuidado de A identificação de uma fonte regular de cuida-
atenção primária, o que pressupõe a existência de dos pressupõe que a população deve reconhecer
vínculo longitudinal. No entanto, outros aspectos a unidade básica como referência habitual para o
do atributo, como as características da relação atendimento da maioria das necessidades de saú-
entre profissional e paciente, não são consenso. de5. Tal identificação por parte da população de-
Na literatura especializada brasileira, a pala- pende em primeiro plano da oferta e disponibili-
vra “longitudinalidade” não é usual. Em traba- dade dessa fonte, que deve estar em consonância,
lhos avaliativos que fazem referência à Starfield, em termos qualitativos e quantitativos, com as
as palavras vínculo e continuidade têm sido uti- necessidades de saúde da população local.
lizadas em vez de longitudinalidade. Mas tais op- Nesse sentido, pode-se afirmar que os incen-
ções podem restringir o significado do atributo à tivos governamentais para a implantação de equi-
existência de uma relação entre usuário e profis- pes do Programa de Saúde da Família (PSF), sem
sionais de atenção primária, sem a preocupação dúvida, promoveram ampliação da oferta de
com as outras possíveis dimensões do atributo. atenção primária na maioria dos municípios bra-
Nesse sentido, a proposta aqui apresentada é que, sileiros. Torna-se pertinente, no entanto, investi-
na literatura referente à APS no Brasil, façamos a gar se existe por parte da população adscrita o
opção pela utilização do termo vínculo longitu- real reconhecimento das unidades de PSF como
dinal, definindo-o como “relação terapêutica es- fonte regular de cuidados ou se a utilização da
tabelecida entre paciente e profissionais da equi- unidade é simplesmente pela restrição de opções,
pe de APS, que se traduz no reconhecimento e o que poderia implicar a não adesão às reco-
utilização da unidade básica de saúde como fon- mendações terapêuticas, e ainda a busca de ser-
te regular de cuidado ao longo do tempo”. Para viços de emergência para tratamento de agravos
compor tal definição, seria necessário assumir passíveis de intervenção pela equipe de APS.
algumas das dimensões identificadas pelos au-
tores aqui revisados. Tais dimensões são apre- Estabelecimento de vínculo duradouro
sentadas e discutidas a seguir. (relação interpessoal)
Ressalta-se que a opção pela utilização do re- O vínculo duradouro, segundo a literatura
ferido termo e sua respectiva definição está em revisada, é sinônimo de uma relação terapêutica
acordo com o contexto da APS no Brasil, cuja ao longo do tempo20, ou ainda, de relação inter-
tradição é de divisão de responsabilidades com pessoal contínua entre paciente e cuidador, ca-
uma equipe, embora o profissional médico seja racterizada por confiança e responsabilidade12.
imprescindível. O vínculo com profissionais da No contexto brasileiro, a Política Nacional de
equipe em vez do vínculo com um único médico Atenção Básica33 explicita o vínculo entre as equi-
traz como uma das vantagens maior possibili- pes de atenção primária e a população adscrita
dade de atender ao atributo da integralidade5. como um dos princípios deste nível de atenção.
Em todo caso, vínculo pressupõe em primei-
As dimensões do atributo ro plano uma boa relação médico-paciente (no
da longitudinalidade/vínculo longitudinal caso do PSF, profissionais de saúde-paciente). Esta
relação, por sua vez, remete ao campo da bioéti-
A partir dos estudos aqui revisados, pode- ca, pois envolve questões como poder e dependên-
mos concluir que três elementos são imprescin- cia entre sujeitos com diferentes níveis de informa-
díveis na composição do referido atributo: a exis- ção, além de práticas que podem levar a danos.
tência e o reconhecimento de uma fonte regular Nesse aspecto, vale lembrar que, para Caprara e
de cuidados de atenção primária, o estabeleci- Rodrigues34, uma boa relação médico-paciente
mento de vínculo terapêutico duradouro entre envolve confiança, padrão de comunicação, con-
os pacientes e os profissionais de saúde da equi- sideração dos problemas relatados pelo paciente
pe local e, ainda, a continuidade informacional. e dos aspectos biopsicossociais do mesmo.
Logo, tais elementos podem ser identificados Segundo esses autores, o modelo biomédico,
como dimensões do atributo em questão. A dis- por ser centrado na doença e privilegiar a tecno-
cussão a seguir busca contextualizar, de forma logia, diminuiu o interesse pela experiência do
sucinta, cada um desses elementos no âmbito da paciente e por sua subjetividade. Sendo assim,
atenção primária na atual configuração do siste- neste modelo, o paciente não é percebido em sua
ma público de saúde brasileiro. integralidade. Suas queixas psicossociais, quan-
1039

Ciência & Saúde Coletiva, 16(Supl. 1):1029-1042, 2011


do ouvidas, não são levadas em consideração. Eleição de variáveis e de fonte de dados
Além do mais, não se promove a autonomia do para o estudo da longitudinalidade
paciente, uma vez que não há preocupação em
esclarecer ao sujeito do cuidado o diagnóstico e Os estudos sistematizados pela presente revi-
as possibilidades terapêuticas. A princípio, a são que buscaram mensurar os resultados do
mudança de modelo assistencial estabelecida nos atributo em questão utilizaram como fonte de
marcos legais que regulam o SUS deveria levar à informação dados administrativos, observação
superação de tais características no âmbito da direta, inquéritos com pacientes e inquéritos com
atenção básica35. profissionais, dentre outros (Quadro 2). As ques-
Em se tratando das estratégias de avaliação tões de estudo, em sua maioria, diziam respeito à
do vínculo entre os usuários e a equipe de APS, identificação da fonte regular de cuidados em sua
dadas as características envolvidas, há de se con- relação com a satisfação do paciente ou com su-
siderar a opinião do paciente. Por outro lado, postos benefícios. Nesse aspecto, a observação
como afirmam Nutting et al.27, o vínculo com de Saultz12 é que alguns indicadores utilizados,
uma equipe de APS parece não ser interessante que se referem à quantidade e continuidade do
para determinados grupos, como os jovens, pes- atendimento com o mesmo provedor, medem a
soas saudáveis e/ou pessoas de melhor poder continuidade longitudinal, mas não a continui-
aquisitivo. Ou seja, estes grupos podem não va- dade interpessoal. Ou seja, não seriam sensíveis
lorizar o vínculo como critério de qualidade na para avaliar as características da relação profissi-
APS tanto quanto grupos populacionais consi- onal de saúde-paciente.
derados mais vulneráveis, como idosos, porta- O atendimento aos atributos descritos por
dores de condições crônicas e grupos populacio- Starfield5 tem servido como base para medir o
nais de baixo poder aquisitivo. alcance e qualidade da APS. Nesse aspecto, o ins-
trumento elaborado por uma equipe da Univer-
Continuidade informacional sidade Johns Hopkins (Primary Care Assessment
A continuidade informacional, considerada Tools – PCAT) foi testado por vários autores7,8,
a base da longitudinalidade12,20, diz respeito à inclusive no Brasil9,10. Nas duas experiências nor-
qualidade dos registros em saúde, seu manuseio te-americanas revisadas de testagem do instru-
e disponibilização, de forma a favorecer o acú- mento, a longitudinalidade foi considerada como
mulo de conhecimento sobre o paciente por par- atributo-chave, uma vez que a identificação da
te da equipe de saúde. Este acúmulo de conheci- fonte regular de cuidados foi o ponto de partida
mento, que é dinâmico, deve orientar a conduta da investigação, seguida de questões relativas à
terapêutica e favorecer a avaliação da mesma. natureza do relacionamento do usuário com a
Na atenção primária, os registros em saúde referida fonte de cuidados7,8.
devem contemplar não só aspectos clínicos, mas Harzheim et al.9 adaptaram e buscaram vali-
também características sociodemográficas, valo- dar esse instrumento em um município do Sul
res e situação familiar do paciente20. Estas carac- do Brasil, tendo como fonte de dados entrevistas
terísticas interferem na condição de saúde do com responsáveis por crianças cadastradas em
paciente e também podem constituir-se em em- uma unidade básica de saúde. Nessa experiência,
pecilho na adesão deste às recomendações dos a opção foi pela utilização do termo “continuida-
profissionais de saúde. de”, embora a adaptação das questões do referi-
No que refere à continuidade informacional, do tópico tenha privilegiado a investigação da
o desenvolvimento e/ou implantação de novas relação equipe-paciente.
tecnologias de informação por parte da gestão Almeida e Macinko10 também testaram esse
municipal e da coordenação da unidade pode ser instrumento em um município brasileiro locali-
um aliado. Tais instrumentos agilizam as etapas zado no Estado do Rio de Janeiro. Os entrevista-
de registro, processamento e disponibilização das dos foram gestores e coordenadores da atenção
informações em saúde. Mas critérios como sufi- primária, além de profissionais de saúde – consi-
ciência e confiabilidade são de responsabilidade derados como informantes-chaves –, e ainda
dos profissionais que realizam os atendimentos, amostra de usuários.
posto que a fonte do dado é quase sempre o pa- As questões que compõe o PCAT foram vali-
ciente em seu contato com a equipe de saúde. No dadas pelos autores que testaram o instrumen-
Brasil, no âmbito da atenção primária, estudos to, o que legitima sua utilização para avaliar a
que avaliem a continuidade informacional ainda APS, considerando os quatro atributos identifi-
são raros ou pouco difundidos. cados por Starfield. Mas, ao afirmar a longitudi-
1040
Cunha EM, Giovanella L

nalidade/vínculo longitudinal como característi- tenciais. Mas, melhorar a qualidade dos serviços
ca central da APS, dada a sua relação com a efe- prestados neste nível de atenção ainda é um desa-
tividade neste nível assistencial, a sugestão é que fio. Nesse aspecto, posto que estudos relacionam
utilizemos apenas este atributo para avaliar a a longitudinalidade/vínculo longitudinal com re-
qualidade da APS. Sendo assim, a proposta aqui sultados positivos, o reconhecimento deste atri-
apresentada é de construção de roteiro a partir buto como característica central da APS em nos-
de aproveitamento e adaptação de algumas ques- so país é oportuno e deve ser almejado e avaliado.
tões que compõe o PCAT, previamente testadas Por outro lado, o fato do termo longitudina-
por Almeida e Macinko, acrescentando-se novas lidade ainda não ser usual na literatura brasileira
variáveis e questões, em consonância com as di- e a existência de discordâncias com relação aos
mensões identificadas para o atributo. quesitos que compõem o referido atributo na li-
O referido roteiro (Quadro 3) é composto de teratura internacional permitem a adoção de di-
quinze questões, sendo nove adaptadas da ver- mensões em acordo com os princípios organiza-
são brasileira do PCAT e seis criadas a partir da tivos do sistema público de saúde do nosso país,
presente revisão, que são as de número 2, 4, 7, 12, desde que esteja em consonância com os pressu-
13 e 14. postos dos autores que discutem a temática.
A proposta aqui apresentada constitui-se em
um roteiro de questões, as quais poderão ser
Considerações finais adaptadas e direcionadas para realização de in-
quéritos com diferentes atores (diretores de uni-
O SUS avançou no processo de reorganização da dades, profissionais ou grupo de pacientes). Nes-
atenção básica, inclusive com a ampliação da co- sa proposta, as opções de resposta não foram
bertura e implementação de novos modelos assis- contempladas, mas a utilização de questionário

Quadro 3. Proposta de questões para investigação do vínculo longitudinal a partir das dimensões do
atributo.

. Identificação ou reconhecimento da fonte regular de cuidados:


1. A unidade possui adscrição de clientela?
2. A unidade é reconhecida pela população adscrita como local de atenção para antigos e novos problemas
de saúde?
. Relação interpessoal
3. O paciente é atendido regularmente pelo mesmo médico e/ou enfermeiro nas consultas de rotina?
4. Os profissionais que atendem o paciente conhecem o histórico familiar e social do paciente?
5. No caso de dúvida sobre tratamento, o paciente consegue falar com o profissional que o atende
regularmente?
6. Durante o atendimento, há tempo suficiente para que os pacientes explicitem suas dúvidas, queixas e
preocupações?
7. As dúvidas, preocupações e queixas do paciente são valorizadas? São registradas no prontuário?
8. O profissional se expressa com clareza, de forma que o paciente entenda?
9. Há espaço para que o paciente discuta seu tratamento e tome decisões junto com o profissional?
. Continuidade informacional
10. Os profissionais de saúde utilizam o prontuário nos atendimentos?
11. Os profissionais de saúde estão informados sobre todos os medicamentos utilizados pelo paciente?
12. Os profissionais de saúde estão informados sobre os exames realizados pelo paciente?
13. Em caso de encaminhamento para especialista, este profissional recebe informações registradas da
unidade que atende o paciente regularmente?
14. No caso de referência para consulta com especialistas ou exames externos, há retorno dos resultados
para o clínico que atende o paciente regularmente?
15. Os profissionais de saúde são informados quando um paciente não consegue obter o medicamento
prescrito?

Fonte: adaptado da versão brasileira do PCA-tools testado por Almeida e Macinko.


1041

Ciência & Saúde Coletiva, 16(Supl. 1):1029-1042, 2011


fechado facilitaria o tratamento dos dados e per-
mitiria a utilização de estratégias de avaliação
rápida com participação de grupos de pacientes.
É importante considerar que, embora o es-
tabelecimento de vínculo longitudinal esteja no
âmbito da prática do profissional, o atendimen-
to a tal atributo só será possível se for uma pri-
oridade da gestão, na medida em que envolve
questões como a oferta adequada de serviços de
APS e mecanismos de fixação do profissional na
unidade de saúde. Neste sentido, a implementa-
ção de práticas avaliativas e de monitoramento
do referido atributo surtirá melhores efeitos se
estiver no escopo de interesse da gestão.

Colaboradores Referências

EM Cunha trabalhou na concepção teórica, ela- 1. Macinko J, Starfied B, Shi L. The Contribution of
boração e redação final do texto; L Giovanella Primary Care Systems to Health Outcomes within
Organization for Economic Cooperation and Devel-
participou da concepção teórica e revisão final
opment (OCDE) Countries. HSR 2003; 38(3):831-865.
do texto. 2. Starfield B, Shi L, Macinko J. Contribution of Pri-
mary Care to Health Systems and Health. The Mil-
bank Q 2005; 83 (3):457-502.
3. World Health Organization. What are the advantag-
es and disadvantages of restructuring a health care
system to be more focused on primary care services?
Geneva: WHO; 2004.
4. Giovanella L. A atenção primária à saúde nos paí-
ses da União Européia: configurações e reformas
organizacionais na década de 1990. Cad Saude Pu-
blica 2006; 22(5):951-963.
5. Starfield B. Atenção primária: equilíbrio entre neces-
sidades de saúde, serviços e tecnologia. Brasília: Unes-
co/Ministério da Saúde; 2002.
6. Shi L. Type of Health Insurance and the Quality of
Primary Care Experience. Am J Public Health 2000;
90(12):1848-1855
7. Cassady CE, Starfield B, Hurt ado MP, Bark RA,
Nunda JP, Freedenberg LA. Measuring consumer
experiences with primary care. Pediatrics [periódi-
co na Internet] 2000 [acessado 2006 jul 25];105:[cerca
de 6 p.]. Disponível em: http://www.jhsph.edu/bin/
w/u/Measuring_consumer_experiences.pdf
8. Leiyushi DRPH, Starfield B, Xu J. Validating the
Adult Primary Care Assessment Tool. J. Fam. Pract.
2001; 50:161-175.
9. Harzhein E, Starfield B, Rajmil L, Stein AT. Consis-
tência e interna e confiabilidade da versão em por-
tuguês do instrumento de avaliação primária (PCA-
Tool-Brasil) para serviços de saúde infantil. Cad
Saude Publica 2006; 22(8):1647-1659.
1042
Cunha EM, Giovanella L

10. Almeida C, Macinko J. Validação de uma metodolo- 26. De Maeseneer JM, De Prins L, Gosset C, Heyerick
gia de avaliação rápida das características organizacio- J. Provider continuity in family medicine: does it
nais e do desempenho dos serviços de atenção básica do make a difference for total health care costs? Ann
sistema único de saúde (SUS) em nível local. Brasília: Fam Med 2003; 1(3):144-148.
OPAS/Ministério da Saúde; 2006. 27. Nutting PA, Goodwin MA, Flocke SA, Zyzandki SJ,
11. Gérvas J, Fernández MP. El fundamento científico Stage KC. Continuity of primary care: to whom does
de la función de filtro del médico general. Rev. et matter and when? Ann Fam Med [periódico na
bras. epidemiol. 2005; 8(2):205-218. Internet] 2003 [acessado 2007 jan 17];1:[cerca de 8
12. Saultz JW. Defining and Measuring Interpersonal p.]. Disponível em: http://www.periodicos.capes.
Continuity of Care. Ann Fam Med 2003; 1(3):134- gov.br
145. 28. Mainous AG, Baker R, Love MM, Gray DP, Gill JM.
13. Ortún V, Gérvas J. Fundamentos y eficiencia de la Continuity of care and trust in one’s physician: evi-
atención médica primaria. Med Clin (Barc) 1996; dence from Primary Care in the United States and
106:97-102. United Kingdom. Family Medicine [periódico na
14. Pastor-Sánchez R, Miras AL, Fernández MP, Ca- Internet] 2001 [acessado 2007 jan 17];33(1):[cerca de
macho RG. Continuidad Y Longitudinalidad en 6 p.]. Disponível em: http://www.periodicos.capes.
Medicina General en cuatro países Europeos. Rev gov.br
Esp Salud Pública 1997; 71:479-485. 29. Fan VS, Burman M, McDonell MB, Fihn SD. Conti-
15. Giovanella L, Escorel S, Mendonça MHM. Porta nuity of care and other determinants of patient satis-
de entrada pela atenção básica? Integração à rede faction with primary care. JGIM [periódico na In-
de serviços de saúde. Saúde em Debate 2003; ternet] 2005 [acessado 2007 jan];20(3):[cerca de 8
27(65):278-289. p.]. Disponível em: http://www.periodicos.capes.
16. Mendes EV. Reflexões sobre a NOAS SUS 01/2002. gov.br
[Mimeo]. 30. Gill JM, Mainous AG. The role of provider continu-
17. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção ity in preventing hospitalizations. Arch Fam Med
à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Avalia- [periódico na Internet] 1998 [acessado 2007 jan
ção da Atenção Básica em Saúde: caminhos da institu- 17];7:[cerca de 6 p.]. Disponível em: http://
cionalização. Brasília: Ministério da Saúde; 2005. archfami.ama-assn.org/cgi/reprint/7/4/352.pdf
18. McWhinney IR. The principles of family medicine. 31. Saultz JW, Albedaiwi W. Interpersonal continuity
In: McWhinney IR, editor. A Textbook of Family of care and patient satisfaction. Annals of Medicine
Medicine. 2nd ed. New York: Oxford University Press; [periódico na Internet] 2004 [acessado 2007
1997. jan];2(5):[cerca de 7 p.]. Disponível em: http://
19. Committee on the future of primary care. Primary www.periodicos.capes.gov.br
care: America’s health in a new era. 1st ed. Washington, 32. Cabana MD, Jee SH. Does continuity of care im-
D.C.: Institute of Medicine/National Academy of proves patient outcomes? J Fam Pract. [periódico
Sciences; 1996. na Internet] 2004 [acessado 2007 jan 17]; 53(12):[cer-
20. Haggerty JL, Reid RJ, Freeman GK, Starfield BH, ca de 7 p.]. Disponível em: http://www.periodicos.
Adair CE, McKendry R. Continuity of care: a mul- capes.gov.br
tidisciplinary review. BMJ [periódico na Internet] 33. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção
2003 [acessado 2007 jan 18]; 327:[cerca de 3 p.]. à saúde. Departamento de Atenção Básica. Política
Disponível em: http://www.bmj.com/content/327/ Nacional de Atenção Básica. Brasília: Ministério da
7425/1219.full Saúde; 2006.
21. Freeman G, Hojordahl P. What future for continuity 34. Caprara A, Rodrigues J. A relação assimétrica mé-
of care in general practice? BMJ [periódico na Inter- dico-paciente: repensando o vínculo terapêutico.
net] 1997 [acessado 2007 jan 18]; 314: [cerca de 1 p.]. Cien Saude Cole 2004; 9(1):139-146.
Disponível em: http://www.bmj.com/content/314/ 35. Mendes EV. A Atenção Primária no SUS. Fortaleza:
7098/1870.full Escola de Saúde Pública do Ceará; 2002.
22. Guthrie B, Whike S. Does continuity in General
Practice really matter? BMJ [periódico na Internet]
2000 [acessado 2007 jan 18];321:[cerca de 3 p.].
Disponível em: http://www.bmj.com/content/321/
7263/734.full
23. World Health Organization. Continuity of care in
changing health care systems. Geneva: WHO; 1992.
24. Christakis DA. Continuity of care: Process or out-
come. Ann Fam Med 2003; 1(3):131-133.
25. Roberge D, Beaulieu MD, Haddad S, Lebeau R,
Pineault R. Loyalty to the regular care provider:
patients‘ and physicians‘ views. Family Practice
[periódico na Internet] 2001 [acessado 2007 jan Artigo apresentado em 29/09/2008
17];18(1):[cerca de 6 p.]. Disponível em: http:// Aprovado em 09/02/2009
www.periodicos.capes.gov.br Versão final apresentada em 09/03/2009

Você também pode gostar