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Rio de Janeiro
2019
Aline Cristine Vieira, Alison Marie Ferreira Negron
e Julianne Carvalho Dias Gaudio
Rio de Janeiro
2019
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RESUMO
VIEIRA, Aline Cristine; NEGRON, Alison Marie Ferreira; GAUDIO, Julianne Carvalho Dias.
Estratégia de melhoria na gestão de agenda após implementação do prontuário
ESUS-AB: relato de experiência. Monografia de título de especialista em Medicina de
Família e Comunidade, Programa de Residência em Medicina de Família e Comunidade da
Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro.
Abstract
Objective: to describe the strategies for managing the demands, both spontaneous and
scheduled, used in a basic health unit (UBS) in the municipality of Rio de Janeiro, after the
implementation of E-SUS AB, with the purpose of improving quality access to their teams.
Method: implementation of a Google Drive spreadsheet as a tool to organize the attendance
shifts of said UBS. Result: After the introduction of the spreadsheet, it was noticed an
improvement in the quality of the user's reception / access to the teams, due to the
improvement of the management of the services. These were marked by reduction of the
waiting time by consultation and, consequently, strengthening of the bond of the users with
the unit. In addition, by estimating service hours, the spreadsheet allowed users to better
manage their time while waiting, thereby reducing waiting anxiety. The tool also promoted an
increase in nurses' ability to resolve acute demands, since less severe complaints could be
evaluated by these professionals without the need for medical consultation. On the other
hand, the implementation of the spreadsheet was not able to increase the access in
quantitative terms, even with the increase of fluidity of the consultations. Conclusion: The
strategy of creating the spreadsheet with the purpose of improving the management of the
unit's service shifts proved to be correct. In addition, it was also possible to verify the
employees' impressions regarding immediate and medium-term changes after the
implementation of e-SUS AB.
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Resumen
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INTRODUÇÃO
4
Segundo o Ministério da Saúde (MS), órgão responsável pela criação do
E-SUS Atenção Básica (E-SUS AB), a plataforma “é uma estratégia do
Departamento de Atenção Básica para reestruturar as informações da Atenção
Básica em nível nacional.” O objetivo de sua criação é o de qualificar a gestão da
informação, para que isto se traduza em melhoria de qualidade de atendimento da
população. (7)
O objetivo deste relato de experiência é descrever as estratégias de gestão
do atendimento de demandas, tanto espontâneas, quanto agendadas, utilizadas em
uma UBS do município do Rio de Janeiro, após a implantação do E-SUS AB, com a
finalidade de melhoria da qualidade do acesso dos usuários às suas equipes.
RELATO DE EXPERIÊNCIA
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O prontuário eletrônico anterior, com o qual trabalhamos por mais de um ano,
contava com uma aba/tela em que dados de todos os pacientes que aguardavam
por atendimento naquele dia eram claramente visualizados, com pormenorização de
idade, motivo e natureza da consulta - se agendada ou de demanda espontânea -
que ficavam detalhados em campos específicos. A facilidade de visualização dessas
informações permitia que os profissionais escalados para o atendimento
permanecessem cientes do cenário que se desenhava na sala de espera, para,
desta maneira, adaptarem-se a ele e conseguirem tornar os atendimentos mais
eficientes. Além disso o prontuário possuía aba para que os profissionais em
atendimento pudessem se comunicar com os Agentes Comunitários de Saúde (ACS)
do acolhimento via on-line, sem precisar sair do consultório, facilitando ainda mais o
manejo da agenda e otimizando tempo.
Apesar dessas vantagens, tal prontuário, desenvolvido por uma empresa
privada e, portanto, dependente de contratação, gerava custos de manutenção para
a prefeitura. Em contrapartida, acredita-se que o E-SUS AB, por ter sido
desenvolvido pelo Ministério da Saúde (MS), tenda a ser menos oneroso, uma vez
que não se trata de produto cuja comercialização gere lucro.
O E-SUS AB, em sua tela que contém a relação dos pacientes que se
encontram na sala de espera, permite apenas a visualização de seus nomes e da
ordem de chegada, prescindindo, assim, de detalhamento que julgamos, em nossa
prática cotidiana, ser de crucial importância para a gestão da agenda do dia. Essa
deficiência de informação tornava o atendimento desorganizado e aumentava a
insatisfação dos pacientes. Além disso, o ESUS-AB, não disponibiliza ferramenta de
comunicação entre os profissionais do acolhimento e do atendimento, tão útil no dia
à dia.
A UBS na qual nosso trabalho é inspirado, tem como estratégia de
acolhimento o acesso misto, em que há um manejo diário de demandas agudas,
assim como de consultas agendadas. Neste contexto, optou-se por criar uma
planilha do Google Drive que permitisse a comunicação em tempo real entre os
profissional médico ou enfermeiro que estava no atendimento e o ACS que realizava
o acolhimento. Cada atendimento do dia passou a ser colocado nesta planilha,
indicando nome, idade e motivo de consulta. A planilha, ainda, organizava os
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pacientes segundo horário de chegada, em se tratando de demandas agudas, e
horário de agendamento, para as consultas previamente marcadas. Com isso, os
profissionais, conseguiam realizar o manejo da agenda, priorizando os atendimentos
que fossem necessários.
O processo de implantação da planilha iniciou-se por meio da sua
apresentação, durante reunião de equipe, aos profissionais que seriam diretamente
envolvidos no processo de seu preenchimento e manejo: ACS, Médicos e
Enfermeiros, com a finalidade de que houvesse boa aceitação da ferramenta por
parte destes profissionais.
Neste primeiro contato dos profissionais com a planilha, muitas dúvidas e
inquietações surgiram, principalmente com relação à dinâmica de preenchimento
dos campos da planilha concomitantemente ao manejo do E-SUS AB, que se
tornaria dependente das informações da planilha. Durante esta etapa pudemos
perceber que, em alguns momentos, houve certa resistência ao uso da planilha por
parte dos ACSs, muito em decorrência, em nossa percepção, do acúmulo de
funções que este profissional poderia experimentar durante o processo de
acolhimento.
Na etapa seguinte, este e outros dilemas que surgiram ao longo do processo
de apresentação foram dissolvidos pelo pragmatismo inerente ao uso da planilha,
que, na prática, requer apenas a digitação de dados simples, que são fornecidos, em
tempo real, pelo paciente que procura por atendimento.
Durante implementação da planilha e os oito meses subsequentes de
seu uso, pudemos perceber que a melhoria no manejo da agenda impactou não
somente no aumento da satisfação dos profissionais, como também dos pacientes,
que com isso obtiveram uma estimativa mais aproximada do horário do seu
atendimento, reduziram a ansiedade pela espera e tiveram suas consultas
priorizadas em casos emergenciais. Além disso, observamos, ainda, uma otimização
dos atendimentos da equipe de enfermagem, que pôde gerir sua agenda, e
contribuir com o atendimento de pacientes que não necessitavam de interconsulta
médica.
O presente trabalho não tem o objetivo de realizar uma revisão bibliográfica
acerca do tema, contudo, procuramos relacionar nossa experiência aos dados
7
publicados na literatura. A busca de artigos se deu no período de 2 meses através
das plataformas virtuais Scielo, Pubmed, Biblioteca Virtual de Saúde (BVS) e dos
Cadernos de Atenção Básica do Ministério da Saúde.
DISCUSSÃO
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2014, uma pesquisa avaliativa sobre arranjos e estratégias inovadoras na
organização da APS foi realizada em uma grande cidade do estado de São Paulo e
concluiu que a população considera o atendimento das UBSs melhor que o de
outras unidades de saúde, porém declara que o tempo de espera é o grande entrave
constatou o mesmo em sua análise, ao deparar-se
ao atendimento.(11) Souza at al.(12)
com falas de usuários que apontavam a demora por consulta como um grande
obstáculo a resolução de suas queixas de saúde. Não apenas a população, mas
também o Ministério da Saúde, por meio da Política Nacional de Humanização
(PNH), considera que a redução nas filas e no tempo de espera é um fator
preponderante para ampliação do acesso. (6,13)
Apesar de a finalidade inicial da criação da planilha não ter sido fazer um
diagnóstico de demanda da unidade, percebemos que isto será possível de ser feito
no futuro, a partir dos registros de idade e motivos de consulta. Knight e Lembke(6)
compartilham algumas sugestões de como moldar a demanda à capacidade,
seguindo as seguintes etapas: 1) criação de uma planilha onde serão computados
todos os pedidos diários de consulta não agendada por profissional (médicos e
enfermeiros) por, ao menos, quatro semanas. 2) construção de um gráfico de barras
para comparar o número de consultas solicitadas (demanda) com o número de
consultas ofertadas. 3) por fim, adaptação da oferta de consultas de acordo com a
demanda.(6)
A planilha permitiu, ainda, um aumento da capacidade resolutiva de
demandas agudas por parte da enfermagem, por meio da visualização prévia da
queixa do usuário, uma vez que queixas de menor gravidade puderam ser avaliadas
por estes profissionais, sem necessidade de interconsulta médica. Resultado
semelhante foi encontrado por Fabrellas(14) em 2011, que demonstrou que os
enfermeiros resolveram aproximadamente 62% das consultas de adultos e 75% das
pediátricas das demandas agudas (same day) na Catalunha. Segundo o estudo, os
enfermeiros apresentaram taxa de resolutividade acima de 90% em consultas de
pacientes adultos cujas queixas relacionavam-se com queimaduras, lesões de pele e
contracepção de emergência, porém essa taxa caía para cerca de 46% em se
tratando de sintomas urinários inferiores, infecção de garganta e conjuntivite. Com
relação ao público pediátrico, houve altas taxas de resolução para cólicas e
9
queimaduras e baixas para tosse. A taxa de retorno para se consultar num intervalo
de sete dias pelo mesmo problema foi baixa, sendo 4% nos adultos e 2,4% nas
crianças.
A implementação da planilha não foi capaz de ampliar o acesso em termos
quantitativos, mesmo com a melhora de fluidez dos atendimentos. Uma possível
explicação seria a limitação das equipes em ultrapassar a capacidade de
atendimentos diante da pressão assistencial sempre crescente. Sabe-se que esse
volume tem importantes implicações para a prática no que se refere ao acesso e à
carga de trabalho da equipe da ESF, influenciando a satisfação dos usuários e dos
profissionais de saúde.
Estudos realizados na APS britânica, em 1961 e em 2001, serviram como
base para orientar a estruturação dos serviços de saúde / cobertura populacional
daquele país. A partir desses estudos, preconizou-se que uma equipe da APS
inglesa responsabiliza-se por 1.500 a 2.000 pessoas(15, 16). Outros países apresentam
proporções semelhantes usuários/médicos na APS: Dinamarca, 1.600; Espanha,
2.500; Itália, 1.030; Portugal, 1.500; e Holanda, 2.350(17). No Brasil, a Política
Nacional de Atenção Básica (PNAB) disserta que cada equipe de ESF deve ser
responsável por, no máximo, 4000 pessoas, sendo a média recomendada de 3000,
respeitando-se critérios de equidade para esta definição. Contudo, o cálculo para o
teto das equipes de APS não é explicitado, não apresenta critérios bem definidos e,
portanto, abre margem a questionamentos sobre a adequabilidade desta proporção,
que contrasta, inclusive, com a realidade da APS de outros países(18).
19) fez um paralelo interessante sobre a APS na Inglaterra e
Em 2004, Harris (6,
Austrália, ao dizer que populações de regiões pobres têm piores índices de saúde
comparadas com as de lugares mais ricos, ainda que não haja evidências de que
elas busquem menos por atendimento. O autor associa este fato ao maior número
de atendimentos que as equipes de ESF fazem em regiões mais pobres, diminuindo,
portanto, o tempo médio gasto com cada paciente em consultório. Além disso, o
estudo afirma que regiões mais pobres têm menor relação de médico/população, o
que também determina menor tempo de consulta, levando a piores desfechos com
relação aos índices de saúde dessa população.
10
Nesse contexto, na tentativa de se realizar um acolhimento que viabilize um
acesso mais efetivo, a pressão assistencial excessiva gera angústia, carga
extenuante de trabalho e estresse emocional nos profissionais.
Infelizmente, apesar de evidenciar que há uma superutilização do serviço por
parte de uma parcela de pacientes, ao passo que outra parcela da população não
consegue atendimento na unidade, a planilha não teve influência sobre a
manutenção da iniquidade ao acesso, uma vez que não pôde modificar este cenário.
Como na conhecida Lei dos Cuidados Inversos, descrita por Tudor em 1971,
“aqueles com maior necessidade de cuidados serão menos propensos a recebê-lo a
. Essa lei
menos que uma ação positiva seja tomada pelos sistemas de saúde” (6)
demonstra a dificuldade em manter-se uma força de trabalho que atenda às
necessidades de populações mais vulneráveis. Um sistema de saúde menos iníquo
provê acesso oportuno e continuidade do cuidado. (6)
CONCLUSÃO
11
Esperamos que este estudo possa contribuir para tornar mais efetivo e ágil o
processo de trabalho dos profissionais de saúde, concatenados às ferramentas
tecnológicas, bem como gerar idéias para melhoria da plataforma E-SUS AB.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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