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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SOCIEDADE DE MACAÉ


CURSO DE DIREITO

GUILHERME LIMA MARINS

LAMA E PROGRESSO: A responsabilização do empreendedor


minerário pelo desastre de Mariana/MG

MACAÉ
2019
ii

GUILHERME LIMA MARINS

LAMA E PROGRESSO: A responsabilização do empreendedor


minerário pelo desastre de Mariana/MG

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao Curso de Graduação em
Direito, do Instituto de Ciências da
Sociedade de Macaé, da Universidade
Federal Fluminense, como requisito
parcial para obtenção do grau de
Bacharel em Direito.

Orientadora: Profª. Drª. Andreza


Aparecida Franco Câmara

MACAÉ
2019
iii
iv

GUILHERME LIMA MARINS

LAMA E PROGRESSO: A responsabilização do empreendedor


minerário pelo desastre de Mariana/MG

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao


Curso de Graduação em Direito, do Instituto de
Ciências da Sociedade de Macaé, da
Universidade Federal Fluminense, como requisito
parcial para obtenção do grau de Bacharel em
Direito.

BANCA EXAMINADORA

______________________________________________________________
Prof.ª Dr.ª Andreza Aparecida Franco Câmara – UFF

_______________________________________________________________
Prof. Dr. Heron Abdon Souza– UFF

_______________________________________________________________

Prof. Dr. Camilo Plaisant Carneiro – UFF

MACAÉ
2019
v

AGRADECIMENTOS

Finda essa etapa, de grande aprendizado pessoal e profissional, o sentimento


de gratidão é inevitável e se traduz em pessoas que tornaram o caminho possível de
ser trilhado durante esses cinco anos, paradoxalmente, longos, porém curtos.
Primeiramente, agradeço a minha família, em especial meus pais e irmãos.
Sem o alicerce diário de vocês, companheirismo, fraternidade, carinho e
compreensão nada disso seria possível, não só durante esses cinco anos mas
também, e igualmente importantes, durante aqueles que os antecederam.
Agradeço, também, aos amigos que a vida e a Universidade me
proporcionaram, por terem tornado essa caminhada mais leve e segura em meio a
algumas incertezas inerentes à transição vestibular/faculdade/mercado de trabalho.
Deixo consignado meus agradecimentos aos servidores e juízes que se
fizeram presentes durante o meu estágio na Vara Federal de Macaé, nos anos de
2017 e 2018. E também aos servidores e promotores do Ministério Público do
Estado do Rio de Janeiro, em especial à 2ª Promotoria de Justiça criminal de Rio
das Ostras, local aonde estagio desde 2018. A bagagem de ensinamentos teóricos,
práticos e o de sempre buscar um olhar humano, para além do processo, com
certeza levarei comigo.
Agradeço a minha orientadora pelos ensinamentos, durante a graduação e a
realização deste trabalho, e também pela paciência e dedicação notável à docência.
Aproveito e estendo este agradecimento para a professora Alessandra Terra, em
virtude dos materiais que me forneceu sobre o tema deste trabalho, que foram
imprescindíveis para a realização do mesmo, além da disponibilidade em sanar
qualquer tipo de dúvida sobre assunto, assim como a minha orientadora. E, também,
a todos aqueles professores do ICM que se dedicam com afinco à docência, fazendo
a diferença na vida de diversos estudantes.
E a todos aqueles que, embora não foram citados acima, participaram direta
ou indiretamente desta caminhada, o meu mais sincero obrigado.
vi

RESUMO

O presente trabalho abordará as três esferas de responsabilidade que podem ser


desencadeadas pela ocorrência de danos ambientais, quais sejam, civil,
administrativa e penal, com enfoque no caso do desastre tecnológico da Samarco no
município mineiro de Mariana. A temática será disposta metodologicamente através
de revisão bibliográfica, abordando os principais aspectos doutrinários acerca da
teoria geral da responsabilidade ambiental, além de aspectos legislativos e
posicionamentos da jurisprudência pátria. A metodologia também se alicerçará em
dados divulgados pela imprensa, pelas instituições judiciais envolvidas no processo
de responsabilização ambiental e pela própria mineradora, quando da análise do
caso Samarco. Objetiva-se expor um panorama geral das responsabilizações
advindas de danos ambientais, tanto no plano teórico quanto no plano prático
principalmente, adotando-se como hipótese central a responsabilização do
empreendedor devido ao desastre tecnológico ocorrido em Mariana como uma
forma de maximizar os setores chaves de produção minerária, apontando as
consequências que incidiram e aquelas que estão em fase de incidência em face da
Samarco.

Palavras - chave: Danos ambientais; Desastre tecnológico; Samarco;


Responsabilidade ambiental.
vii

ABSTRACT

The present work will address the three spheres of responsibility that can be
triggered by the occurrence of environmental damages, namely civil, administrative
and criminal, focusing on the case of Samarco's technological disaster in the Mariana
mining municipality. The theme will be methodologically arranged through literature
review, addressing the main doctrinal aspects about the general theory of
environmental responsibility, as well as legislative aspects and positions of the case
law. The methodology will also be based on data released by the press, the judicial
institutions involved in the process of environmental liability and the mining company
itself, when analyzing the Samarco case. The objective is to present an overview of
the liability arising from environmental damage, both theoretically and practical,
mainly, taking as a central hypothesis the liability of the entrepreneur due to the
technological disaster in Mariana as a way to maximize the key sectors of
development. mining production, pointing out the consequences that have occurred
and those that are in the incidence phase in face of Samarco.

Key-words: Environmental damage; Technological disaster; Samarco;


Environmental responbility.
viii

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ACP Ação Civil Pública


AGERH-ES Agência Estadual de Recursos Hídricos do Espírito Santo
ANA Agência Nacional de Águas
ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária
BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
CRFB Constituição da República Federativa do Brasil
CC Código Civil
CIF Comitê Interfederativo
CNUMA Conferência das Nações Unidas sobre o meio ambiente
CONAMA Conselho Nacional de Meio Ambiente
DNMP Departamento Nacional da Produção Mineral
DPE/ES Defensoria Pública do Estado do Espírito Santo
DPE/MG Defensoria Pública do Estado de Minas Gerais
DPU Defensoria Pública da União
EIA Estudo de Impacto Ambiental
ES Espírito Santo
FEAM-MG Fundação Estadual do Meio Ambiente de Minas Gerais
FGV Fundação Getúlio Vargas
FIOCRUZ Fundação Oswaldo Cruz
FUNAI Fundação Nacional do Índio
IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos naturais
renováveis
ICMbio Instituto Chico Mendes da Conservação da Biodiversidade
IDAF/ES Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito Santo
IEF-MG Instituto Estadual de Florestas de Minas Gerais
IEPHA/MG Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais
IEMA-ES Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Espírito
Santo
IFES Instituto Federal do Espírito Santo
IGAM Instituto Mineiro de Gestão das Águas
IPHAN Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
LI Licença de Instalação
ix

LO Licença de Operação
LP Licença Prévia
MG Minas Gerais
MPES Ministério Público do Estado do Espírito Santo
MPF Ministério Público Federal
MPMG Ministério Público do Estado de Minas Gerais
OGMs Organismos Geneticamente Modificados
ONU Organização das Nações Unidas
PAE Plano de Aproveitamento Econômico
PCA Plano de Controle Ambiental
RIMA Relatório de Impacto Ambiental
SANEAR Serviço Colatinense de Meio Ambiente e Saneamento Ambiental
SISNAMA Sistema Nacional do Meio Ambiente
STF Supremo Tribunal Federal
STJ Superior Tribunal de Justiça
TAC Termo de Ajustamento de Conduta
TACF Termo de Ajustamento de Conduta Final
TAC-GOV Termo de Ajustamento de Conduta - Governança
TAP Termo de Acordo Preliminar
TRF Tribunal Regional Federal
TTAC Termo de Transação e Ajustamento de Conduta
UERJ Universidade do Estado do Rio de Janeiro
x

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...........................................................................................................12
1. A CONSTITUIÇÃO CIDADÃ E O MEIO AMBIENTE: UM NOVO MARCO
REGULATÓRIO NA RESPONSABILIZAÇÃO AMBIENTAL MINERÁRIA..............14
1.1 O licenciamento ambiental minerário...............................................................16
1.1.1 Etapas do licenciamento ambiental minerário...................................................20
1.2 Os princípios da precaução e da prevenção...................................................21
2. AS ESFERAS DE RESPONSABILIDADE POR DANOS AMBIENTAIS
DESENCADEADOS POR EMPREENDIMENTOS MINERÁRIOS............................24
2.1 Responsabilidade civil ambiental.....................................................................25
2.1.1 Elementos fundantes da responsabilidade civil ambiental................................27
2.1.1.1 Dano ambiental..............................................................................................28
2.1.1.2 Nexo de causalidade......................................................................................29
2.2 Responsabilidade administrativa ambiental....................................................30
2.2.1 O poder de policia ambiental.............................................................................30
2.2.1.1 O Sistema Nacional do Meio Ambiente..........................................................33
2.2.2 As infrações administrativas ambientais...........................................................36
2.2.2.1 Sanções administrativas brandas: Advertência e multa.................;...............37
2.2.2.2 Sanções administrativas severas: Apreensão, destruição, suspensão,
embargo, demolição e suspensão..................................................;...........................38
2.3 Responsabilidade penal ambiental.....................................;............................41
2.3.1 Repressão às infrações penais ambientais...........................;...........................44
3. UMA ANÁLISE DO CASO SAMARCO.................................................................46
3.1 Do ouro ao minério de ferro...................................................................;..........47
3.2 Do minério de ferro à lama................................................................................51
3.2.1 Os impactos da lama.........................................................................................51
4. AS RESPONSABILIZAÇÕES APLICADAS À SAMARCO..................................55
4.1 A materialização da responsabilidade civil ambiental....................................55
4.1.1 Ação Civil Pública..............................................................................................56
4.1.1.1 Ações civis públicas em Minas Gerais...........................................................58
4.1.1.2 Ações civis públicas no Espírito Santo...........................................................61
4.1.2 Termo de Ajustamento de Conduta..................................................................63
4.1.2.1 Termo de transação e ajustamento de conduta.............................................63
xi

4.1.2.2 Termo de acordo preliminar...........................................................................69


4.1.2.3 Termo de ajustamento de conduta – Governança.........................................72
4.2 A materialização da responsabilidade administrativa ambiental..................76
4.3 A materialização da responsabilidade penal ambiental.................................79
CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................................81
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.........................................................................84
INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como escopo analisar as esferas de


responsabilidade que foram e estão sendo aplicadas à mineradora Samarco e às
suas acionistas, a saber Vale e BHP Billiton Brasil, pelo rompimento da Barragem de
Fundão, localizada na cidade de Mariana/MG, em 05 de novembro de 2015.
É possível separar em dois grandes grupos os danos advindos do referido
rompimento, que representa o maior desastre tecnológico ambiental do Brasil, a
saber, danos individuais e danos coletivos. O presente trabalho versará sobre as
responsabilizações advindas dos danos coletivos, em sentido amplo, principalmente
aquelas advindas dos danos diretos ao meio ambiente.
Dessa forma, o estudo em tela busca fornecer um panorama geral das três
esferas de responsabilidade que podem incidir sobre o causador da degradação
ambiental, a saber, civil, administrativa e penal. Mas, principalmente, busca
transmutar esse aspecto teórico para o caso Samarco, o maior desastre tecnológico
ambiental do Brasil, afim de que possa ser dimensionada a extensão dos danos
ocasionados nesse caso e, consequentemente, ser vislumbrada a incidência das
responsabilidades civil, administrativa e penal à Samarco.
Para isso, foi utilizada como metodologia revisão bibliográfica, abarcando os
principais debates doutrinários acerca das responsabilizações por danos ambientais,
além de previsões legislativas sobre o referido assunto e posicionamentos da
jurisprudência nacional. A metodologia também se alicerçou em dados fornecidos
pela imprensa, pela própria mineradora, como também por órgãos oficiais, a
exemplo do Ministério Público de Minas Gerais e pelo Tribunal de Justiça de Minas
Gerais.
A hipótese central do trabalho é a responsabilização do empreendedor
devido ao desastre tecnológico ocorrido em Mariana/MG, enquanto um desastre
advindo de uma ação antrópica que, por sua vez, ocasionou danos diretos ao meio
ambiente e indiretos na população de diversas localidades mineiras e capixabas,
como uma forma de maximizar os setores chaves de produção minerária, apontando
as consequências que incidiram e aquelas que estão em fase de incidência em face
da Samarco.
O primeiro capítulo abarcará os aspectos antecedentes ao
desencadeamento das esferas de responsabilidade. Será realizada uma análise
13

sobre o papel da Constituição Federal, enquanto um marco de proteção ao meio


ambiente, na ordem jurídica pátria e, em seguida, perpassará pelo licenciamento
ambiental minerário e pelos princípios da prevenção e precaução. Esses três
últimos, são imprescindíveis para que o empreendedor minerário não incorra, ou
diminua ao máximo a possibilidade de incorrer, em responsabilizações por danos
ambientais.
O segundo capítulo irá versar sobre as próprias responsabilidades, ou seja,
quando já houve o cometimento de danos ambientais. Dessa forma, serão
analisados os principais aspectos da teoria geral concernente à responsabilidade,
civil, administrativa e penal ambiental, através da análise doutrinária, legislativa e
jurisprudencial sobre a referida tríade.
O terceiro capítulo abrangerá um panorama geral do quadro fático não só
daquele que foi posterior ao desastre, mas também daquele que o antecedeu. Por
isso o capítulo em tela será divido em dois recortes temporais. O primeiro, que vai
desde o surgimento de Mariana/MG, perpassa por uma análise geral da mineração
na região, e desemboca no fatídico dia do rompimento da barragem. E o segundo
recorte, terá como termo inicial o rompimento da barragem, abarcando os principais
danos coletivos advindos do impacto da lama, até a data de fechamento deste
trabalho.
Por fim, o quarto capítulo analisará as responsabilizações nas três esferas,
em face da Samarco, e como elas estão se materializando na prática. Incluindo,
nesse sentido, uma abordagem das Ações Civis Públicas propostas e os Termos de
Ajustamento de Condutas firmados, no caso, em relação a responsabilidade civil
ambiental. A imposição de multas por órgãos públicos em relação à
responsabilidade administrativa ambiental bem como a deflagração de uma ação
penal, em face, também, da Samarco, acerca da responsabilidade penal ambiental.
Diante disso, poderá ser exposto um panorama geral das responsabilizações
advindas de danos ambientais, tanto no plano teórico quanto no plano prático,
quando da análise do caso Samarco, o mais desastre tecnológico ambiental do
Brasil.
14

1. A constituição cidadã e o meio ambiente: um novo marco regulatório na


responsabilização ambiental minerária

É indiscutível que a questão ambiental está em voga, devido aos conflitos


envolvendo o uso e o aproveitamento dos recursos naturais no processo de
desenvolvimento vivenciado no Brasil nos últimos cinquenta anos.
No entanto, o cenário dicotômico homem versus meio ambiente, caminha
para uma complementariedade, ainda que a passos tímidos, pautada na noção de
sustentabilidade1.
No Brasil, a Constituição Federal de 1988 desempenhou um papel primordial
nesse cenário, eis que, inovou ao positivar, pela primeira vez na ordem
constitucional pátria normas protetivas ao meio ambiente, estabelecendo-o como um
direito fundamental, notadamente pelo disposto no art. 225, caput, da CRFB/882 e
com status difuso e intergeracional.
Essa mudança de paradigma representou uma ruptura da visão utilitarista
dos recursos naturais, adotadas pelas constituições anteriores, em face da adoção
de uma visão protecionista. Nesse âmbito, Thomé3 esclarece que pela visão
utilitarista “os recursos naturais eram tidos como recursos econômicos a serem
explorados e a sua abundância tornava inimaginável a necessidade de algum tipo de
proteção’’.
Em sentido diametralmente oposto é a teoria protecionista que, como o
próprio nome sugere, aloca os recursos naturais dentro de uma seara de proteção,
deixando de lado a crise ambiental4 dando espaço para o chamado Estado de direito
ambiental.
A Constituição cidadã, desenvolveu-se no seio desse Estado de direito
ambiental e sofreu, em relação a essa temática, grande influencia do direito
estrangeiro, influencia esta que se intensificou, sobretudo, após a Conferência das

1
A sustentabilidade representa o atendimento às necessidades atuais da sociedade, sem
comprometer aquelas que as futuras gerações terão, caracterizando uma melhora na qualidade de
vida humana, dentro dos limites da capacidade de suporte dos ecossistemas. Nesse sentido, ver:
MILARÉ, Edis. Direito do ambiente. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013, p. 62-63.
2
Art. 225, caput, da CRFB/88 – ‘’Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,
bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações’’.
3
THOMÉ, Romeu. Manual de direito ambiental. Salvador: Juspodivm. 2016, p. 111.
4
Expressão utilizada por Milaré, que serve de rubrica para caracterizar o contexto global de
apropriação de recursos naturais limitados (bens finitos) em face das necessidades humanas
ilimitadas (necessidades infinitas) Nesse âmbito: Milaré, Edis. op..cit, p. 228.
15

Nações Unidas sobre o meio ambiente (CNUMA), realizada pela ONU em


Estocolmo, no ano de 1972, que por sua vez, irradiou a necessidade de valorização
de preceitos normativos e protecionistas ambientais pelo mundo todo. Após a
realização da CNUMA, Frederico Amado5 salienta que:
Começaram a nascer as constituições ‘‘verdes’’ (Estado Democrático Social
de Direito Ambiental), a exemplo da portuguesa (1976) e da espanhola
(1978), que tiveram influência direta na elaboração da Constituição da
República Federativa do Brasil de 1988, notadamente na redação do artigo
225, principal fonte legal do patrimônio ambiental natural do nosso país.

Todas essas mudanças e influências culminaram para a materialização do


direito ambiental no Brasil enquanto um direito adulto6 e concretizador da proteção
ambiental. Dessa forma, o direito ambiental brasileiro está intimamente relacionado
com os diplomas normativos ambientais pátrios pós 1972 e com a Constituição
Federal de 1988, eis que, trataram de forma sistêmica o direito ambiental, ante a
ausência de um códex único sobre esse ramo do direito. Nesse viés, Frederico
Amado7 entende que a certidão de nascimento do Direito Ambiental no Brasil foi a
edição da lei 6.938/19818,
Pois se trata do primeiro diploma normativo nacional que regula o meio
ambiente como um todo, e não em partes, ao aprovar a politica nacional do
meio ambiente, seus objetivos e instrumentos, assim como o Sistema
Nacional do Meio Ambiente- SINAMA, composto por órgãos e entidades
que tem a missão de implementá-la.

Indo além, mas também se utilizando de analogia, é possível dizer que o


registro civil de nascimento do direito ambiental no Brasil corresponde a Conferência
das Nações Unidas sobre o meio ambiente (CNUMA), a certidão de nascimento
equivale à lei nº 6.938/1981 e a Constituição Federal de 1988 corresponde ao
diploma chancelador da referida certidão.
Apesar do direito ambiental brasileiro ter iniciado a sua estruturação antes
de 1988, é com a constituição cidadã em que há a implementação de um novo
marco regulatório na responsabilização ambiental como um todo, incluindo, nesse
sentido, a responsabilização ambiental minerária, notadamente pelo disposto no art.
225, §3º da Carta Magna.

5
AMADO, Frederico. Direito ambiental. Salvador: Juspodivm. 2019, p. 25.
6
MILARÉ, Edis. op. cit. 251.
7
AMADO, Frederico. op. cit, p. 23.
8
A lei 6938/1981 dispõe sobre a Politica Nacional do meio ambiente, seus fins e mecanismos de
formulação e aplicação e dá outras providências.
16

O art. 225, §3º da CRFB/889 prevê que as condutas e atividades


consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, a sanções penais e
administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados. O
referido dispositivo trouxe ao ordenamento jurídico brasileiro a responsabilidade
tríplice em virtude de danos ambientais, abarcando as esferas cível, penal e
administrativa.
Em relação ao dano ambiental decorrente da atividade minerária não será
diferente. Os responsáveis se sujeitarão à tríplice responsabilidade, podendo sofrer
sanções tanto na esfera cível quanto na administrativa e na penal, conforme será
explicitado no capítulo 2.
No entanto, o parágrafo supracitado do art. 225 da Constituição Federal
pode ser vislumbrado sob duas óticas: uma reparadora e outra preventiva. De fato, a
tríplice responsabilidade relaciona-se com a visão reparadora, que corresponde a
uma reação jurídica à danosidade ambiental, conforme preleciona Milaré 10.
Porém, a visão preventiva também pode ser extraída desse dispositivo tendo
em vista que a própria existência da reparação, por meio das esferas de
responsabilidade, desencadeia a coibição de atitudes lesivas ao meio ambiente,
através de um mandamento pedagógico.
Nessa seara preventiva, a observância do licenciamento ambiental e do
principio da precaução e prevenção torna-se imprescindível, a fim de que se evite ou
diminua, ao máximo, a possibilidade do desencadeamento da tríplice
responsabilidade, em face do empreendedor, em virtude de danos ambientais, como
será verificado nos itens abaixo.

1.1 O licenciamento ambiental minerário

Para a compreensão do licenciamento ambiental minerário se faz necessário


perpassar, anteriormente, pelos aspectos principais do licenciamento ambiental em
geral. Nesse viés, salienta-se que o licenciamento ambiental, conforme explicitado, é

9
Art. 225, §3º da CRFB/88 - ‘’As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente
sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas,
independentemente da obrigação de reparar os danos causados’’.
10
MILARÉ, Edis. op. cit., p. 316.
17

de suma importância na prevenção do meio ambiente que por sua vez é


considerado um bem de uso comum do povo11.
Carvalho Filho12 conceitua esses bens como sendo aqueles que se destinam
à utilização geral pelos indivíduos. E justamente por possuírem essa destinação não
individualizada, inexiste direito subjetivo à sua utilização que só pode materializar-se
por meio de um consentimento estatal, obtido através do licenciamento ambiental,
conforme estabelece Milaré13.
Ressalta-se que esse licenciamento é um dos instrumentos da política
nacional do meio ambiente, conforme dispõe o art. 9º, IV da lei 6.938/1981. Thomé14
vai além do dispositivo legal e preleciona que o licenciamento ambiental trata-se, na
verdade, de um instrumento multifuncional da política nacional do meio ambiente, eis
que, ‘’busca não apenas prevenir impactos ambientais negativos, mas também
mitigá-los através da imposição de condicionantes aos agentes impactantes’’.
Em se tratando de licenciamento ambiental, é imprescindível vislumbrar,
ainda, o art. 2º, I, da lei complementar nº 140/201115, uma vez que, apresenta a
definição desse instituto. Nesse viés, o licenciamento ambiental pode ser definido
como sendo o procedimento administrativo destinado a licenciar atividades ou
empreendimentos utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente
poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental.
Milaré16 acrescenta à definição legal, o fato de o licenciamento ambiental ser
uma ação típica e indelegável do Poder Executivo que visa a compatibilizar o
desenvolvimento econômico com a preservação do equilíbrio ecológico e, por isso,
não deve ser considerado como um óbice ao desenvolvimento.
Conforme se extrai da referida definição legal, o licenciamento ambiental
trata-se de um procedimento administrativo, sendo essa, a sua natureza jurídica, de
acordo os ensinamentos de Thomé17. O autor preconiza que essa natureza jurídica

11
Art. 225 da CRFB/88 – “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de
uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações”.
12
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrativo. São Paulo: Atlas, 2013.
p. 1145.
13
MILARÉ, Edis. op. cit, p. 776
14
THOMÉ, Romeu. Manual de direito ambiental. Salvador: Juspodivm. 2016, p. 241.
15
Art. 2º, I lei completar nº 140/2011 –‘’Licenciamento ambiental: o procedimento administrativo
destinado a licenciar atividades ou empreendimentos utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou
potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental’’.
16
MILARÉ, Edis. op. cit. 777.
17
THOMÉ, Romeu. op. cit, p. 239.
18

do licenciamento ambiental caracteriza o dever de responsabilidade do uso dos


recursos naturais e
Denota a inequívoca existência de um conjunto de formalidades e etapas
definidas pelas normas ambientais que devem ser observadas pelo
interessado para que obtenha um resultado final e conclusivo da
Administração Pública sobre o consentimento da utilização de recursos
naturais.

Esse procedimento administrativo irá perpassar por 8 (oito) etapas que


encontram-se estabelecidas no art. 10 da resolução CONAMA 237/199718. As
etapas são as seguintes: Definição pelo órgão licenciador, com a participação do
empreendedor, dos documentos projetos e estudos ambientais necessários ao inicio
do processo de licenciamento (inciso I); requerimento da licença e seu anuncio
público (inciso II); análise pelo órgão licenciador dos documentos, projetos e estudos
apresentados e a realização de vistoria técnica, se necessária (inciso III); solicitação
de esclarecimentos e complementações pelo órgão licenciador (inciso IV); realização
ou dispensa de audiência pública (inciso V); solicitação de esclarecimentos e
complementações decorrentes da audiência pública (inciso VI); emissão de parecer
técnico conclusivo e, quando couber, parecer jurídico (inciso VII); deferimento ou
indeferimento do pedido de licença, com a devida publicidade (inciso VIII).
Após o empreendedor lograr êxito em todas as supracitadas etapas, haverá a
expedição, pela Administração Pública, de uma licença ambiental19, que por sua vez
desdobra-se em 3 (três) espécies: licença prévia, licença de instalação e licença de
operação.
A licença prévia é aquela que se relaciona com a fase preliminar do
planejamento do empreendimento ou atividade aprovando sua localização e
concepção, atestando a viabilidade ambiental e estabelecendo os requisitos básicos
e condicionantes a serem atendidos nas próximas fases de sua implementação 20.

18
Essas etapas deverão ser precedidas de estudos técnicos que subsidiem a análise do
licenciamento, inclusive de EIA/RIMA, sempre que constatada a significância do impacto ambiental.
Nesse sentido, ver: MILARÉ, Edis. op cit, p. 779.
19
O art. 1º, I da Resolução CONAMA 237/1997 define a licença ambiental como o ‘’ato administrativo
pelo qual o órgão ambiental competente estabelece as condições, restrições e medidas de controle
ambiental que deverão ser obedecidas pelo empreendedor, pessoa física ou jurídica, para localizar,
instalar, ampliar e operar empreendimentos ou atividades utilizadoras dos recursos ambientais
consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou aquelas que, sob qualquer forma, possam
causar degradação ambiental’’.
20
Art. 8º, I da Resolução CONAMA 237/1997 – ‘’Licença Prévia (LP) - concedida na fase preliminar
do planejamento do empreendimento ou atividade aprovando sua localização e concepção, atestando
a viabilidade ambiental e estabelecendo os requisitos básicos e condicionantes a serem atendidos
nas próximas fases de sua implementação’’.
19

A licença de instalação, por sua vez, é aquela que autorizará a instalação do


empreendimento ou atividade de acordo com as especificações constantes dos
planos, programas e projetos aprovados, incluindo as medidas de controle ambiental
e demais condicionantes, da qual constituem motivo determinante21.
Ao passo que a licença de operação é aquela incumbida de autorizar a
operação da atividade ou empreendimento, após a verificação do efetivo
cumprimento do que consta das licenças anteriores, com as medidas de controle
ambiental e condicionantes determinados para a operação22.
Não será diferente em relação ao licenciamento ambiental minerário, tendo
em vista que o empreendimento minerário também deverá se valer das supracitadas
etapas e licenças, no entanto, pautadas em algumas peculiaridades tendo em vista a
sua própria natureza.
O entendimento dessas nuances do licenciamento ambiental minerário
perpassa sobre a observância de que os recursos minerais são bens da União,
conforme estabelece o art. 20, IX da CFRB/8823, cuja extração ocorre por meio de
concessão, cabendo ao Departamento Nacional da Produção Mineral (DNPM) não
apenas essa concessão como também a fiscalização dos empreendimentos de
mineração24.
No entanto, a atuação do DNPM deve ser cotejada com a do órgão
licenciador que, em regra, será um órgão estadual.25
Ademais, para que haja a compreensão correta da atuação do DNPM e dos
referidos órgãos licenciadores é de suma importância o destaque ao fato de que um
empreendimento minerário possui quatro etapas, a saber: pesquisa mineral,

21
Art. 8º, II da Resolução CONAMA 237/1997- ‘’Licença de Instalação (LI) - autoriza a instalação do
empreendimento ou atividade de acordo com as especificações constantes dos planos, programas e
projetos aprovados, incluindo as medidas de controle ambiental e demais condicionantes, da qual
constituem motivo determinante’’.
22
Art. 8º, III da Resolução CONAMA 237/1997 – ‘’Licença de Operação (LO) - autoriza a operação da
atividade ou empreendimento, após a verificação do efetivo cumprimento do que consta das licenças
anteriores, com as medidas de controle ambiental e condicionantes determinados para a operação’’.
23
Art. 20, IX da CRFB/88- ‘’Elaborar e executar planos nacionais e regionais de ordenação do
território e de desenvolvimento econômico e social’’
24
MPMG jurídico. Revista Jurídica do Ministério Público do Estado de Minas Gerais. Edição
especial: guia técnico de mineração, Belo Horizonte: Fundação Alexander Brandt. 2012, p. 30.
Disponível em: <https://www.mpmg.mp.br/conheca-o-mpmg/escola-institucional/publicacoes-
tecnicas/revista-mpmg-juridico/ > Acesso em: 24 de Set. 2019.
25
Acerca das exceções do órgão estadual ver: MPMG jurídico. op.cit, p. 28. Disponível em:
<https://www.mpmg.mp.br/conheca-o-mpmg/escola-institucional/publicacoes-tecnicas/revista-mpmg-
juridico/ > Acesso em: 24 de Set. 2019.
20

implantação da mina, operação da mina e desativação da mina.26 Contudo,a análise


a seguir perpassará somente pelas duas primeiras fases tendo em vista que estão
relacionadas com o licenciamento ambiental minerário propriamente dito e,
consequentemente, com a expedição das licenças prévia, de instalação e de
operação, em que pese na fase de operação da mina haja a necessidade de realizar
a renovação da licença de operação.

1.1.1 Etapas do licenciamento ambiental minerário

A fase de pesquisa mineral é aquela em haverá a concessão de licença


prévia, elaboração de EIA/RIMA e expedição da licença de instalação. As principais
etapas dessa fase podem ser elencadas da seguinte forma, considerando cada uma
delas como um consectário logico e necessário para a ocorrência da posterior27: (i)
O empreendedor faz prospecção, elabora e protocola requerimento de pesquisa
ambiental; (ii) O DNPM analisa o requerimento de pesquisa mineral e concede
alvará de pesquisa; (iii) O empreendedor realiza a pesquisa mineral e apresenta ao
DNPM um relatório final comprovando a existência do jazimento mineral na área; (iv)
O DNPM analisa e aprova o relatório final de pesquisa mineral; (v) O empreendedor
elabora o plano de aproveitamento econômico (PAE); (vi) O DNPM analisa e aprova
o PAE e, também, solicita apresentação da licença de instalação; (vii) O
empreendedor elabora o EIA/RIMA e requer a expedição da licença Prévia LP) ao
órgão ambiental competente; (viii) O órgão ambiental competente (em regra
estadual) analisa o EIA/RIMA e concede a licença prévia (LP); (ix) O empreendedor
elabora o Plano de Controle Ambiental (PCA) e requer a licença de instalação (LI) ao
órgão competente; (x) O órgão ambiental competente analisa o PCA e concede a
licença de instalação (LI); (xi) O empreendedor requer ao DNPM a concessão da
lavra com a apresentação da Licença de instalação (LI); (xii) O DNPM promove a
concessão da lavra ao empreendedor.
Conforme se vislumbra, a concessão da lavra é a última etapa da primeira
fase. A segunda fase, por sua vez, corresponde àquela em que o projeto de
mineração será implantado. É na fase da implantação em que ocorrerá a expedição

26
MPMG jurídico. op.cit. p. 30. Disponível em: <https://www.mpmg.mp.br/conheca-o-mpmg/escola-
institucional/publicacoes-tecnicas/revista-mpmg-juridico/ > Acesso em: 24 de Set. 2019.
27
MPMG jurídico. op. cit p. 7-8. Disponível em: <https://www.mpmg.mp.br/conheca-o-mpmg/escola-
institucional/publicacoes-tecnicas/revista-mpmg-juridico/ > Acesso em: 24 de Set. 2019.
21

da licença de operação28, podendo ser elencadas como principais etapas dessa


fase, as seguintes: (i)Implantação do empreendimento cumprindo programas de
PCA (plano de controle ambiental) e condicionantes da Licença de instalação;
(ii)Fiscalização da implantação pelo DNPM e pelo órgão ambiental competente; (iii)
Requerimento, pelo empreendedor, da licença de operação (LO) ao órgão ambiental
competente; (iv) Avaliação, pelo órgão ambiental competente acerca do
cumprimento do PCA (plano de controle ambiental) e condicionantes, além de
posterior concessão da licença de operação (LO).

1.2 Os princípios da precaução e da prevenção

Os princípios da precaução e da prevenção, como os próprios nomes já


sugerem, desempenham papéis importantes na atuação contra o desencadeamento
da responsabilização por danos ambientais.
Entretanto, apesar de apresentarem o mesmo cerne, eles não se
confundem29. O princípio da prevenção, de acordo com Thomé30, é aquele que
orientará o direito ambiental, e que realça a necessidade da adoção de medidas
preventivas ante uma eventual degradação ambiental. Dessa forma, possui como
finalidade evitar que o dano produza-se no meio ambiente.
Milaré31, por sua vez, acrescenta a essa finalidade a importância desse
princípio face a irreparabilidade de certos danos ambientais, trazendo a baila
diversos questionamentos, vejamos: ‘’ Como reparar o desaparecimento de uma
espécie? Como trazer de volta uma floresta de séculos que sucumbiu sob a
violência do corte raso? Como purificar um lençol freático contaminado por
agrotóxicos?’’.
E conclui que apesar de muitos danos ambientais serem compensáveis, sob
a ótica da ciência e da técnica são irreparáveis. Como exemplos da aplicação do
princípio da prevenção, Oliveira32, por sua vez, cita os seguintes institutos: Estudo
prévio de impacto ambiental, licenciamento ambiental, poder de policia ambiental e
28
MPMG jurídico. op. cit..p. 06.
29
Na doutrina há divergência acerca da autonomia desses princípios, no sentido de serem sinônimos
ou não. O entendimento prevalecente é que eles guardam distinções entre si. Nesse sentido, ver:
MILARÉ, Edis. op. cit, p. 262.
30
THOMÉ, Romeu. op. cit. 64.
31
MILARÉ, Edis. ibdem, p.264.
32
OLIVEIRA, Fabiano Melo Gonçalves de. Direito Ambiental. Rio de Janeiro: Forense, 2017.p.147-
148.
22

auditorias ambientais. Soma-se a esses exemplos elencados pelo referido autor, a


chamada avaliação de impacto ambiental.
Em relação ao princípio da precaução, Thomé33 o definirá como sendo
aquele responsável por estabelecer uma garantia contra os riscos potenciais, que
não podem ser identificados, levando-se em consideração o estado atual de
desenvolvimento. E é tomando por base essa noção de risco que Milaré34
promoverá a distinção entre os dois supracitados princípios, tendo em vista que o
principio da prevenção relaciona-se com o chamado risco certo, ao passo que o da
precaução está interligado com o risco incerto.
Ademais, ressalta-se que Oliveira35 também irá exemplificar o princípio da
precaução. E nesse sentido, preleciona que o referido princípio aplica-se no plantio
de organismos geneticamente modificados (OGMs) e na gestão de riscos
decorrentes das intervenções antrópicas que contribuem para a majoração da
intensidade dos efeitos do aquecimento global. E justifica essa aplicação pelo fato
de não haver estudos conclusivos sobre as consequências de OGMs para a saúde
humana e o meio ambiente. ambiental e condicionantes e concede a licença de
operação (LO).
É importante salientar, também, que ambos os princípios não possuem
previsão expressa na Constituição federal de 1998. Porém, conforme esclarece
Frederico Amado36, eles decorrem implicitamente do art. 225 da Carta Magna37.

33
THOMÉ, Romeu. op. cit 2016, p.66.
34
MILARÉ, Edis. op. cit, p. 262-263.
35
OLIVEIRA, Fabiano Melo Gonçalves de. op. cit. p. 149.
36
AMADO, Frederico. op. cit, p. 54.
37
O art. 225, caput, e seus respetivos parágrafos preveem o seguinte: Art. 225. Todos têm direito ao
meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo
para as presentes e futuras gerações.
§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: I - preservar e restaurar
os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; II -
preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades
dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético; III - definir, em todas as unidades da
Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a
alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que
comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção; IV - exigir, na forma da lei, para
instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio
ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade; V - controlar a
produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco
para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente; VI - promover a educação ambiental em todos os
níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente; VII - proteger a
fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica,
provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade.
23

Em que pese decorrerem apenas Carta Magna, destaca-se, de forma


exemplificativa que o principio da prevenção encontra-se presente na resolução
CONAMA 306/2002, que estabelece os requisitos e o tempo para a realização das
auditorias ambientais, notadamente pelos dispostos no Anexo I, inciso XV 38; Anexo
2, Item 1, subitem 1.2, inciso II39 e inciso IV40.
Ao passo que o princípio encontra-se presente na declaração do Rio
(ECO/1992), no tópico intitulado de principio 1541. Frederico Amado42, em relação a
essa declaração informa que ‘’ não tem natureza jurídica de tratado internacional
para o Brasil, sendo uma espécie de compromisso mundial ético, tal qual a
declaração da ONU de 1948’’.
As considerações acima se referem a institutos e diplomas legais e
constitucionais que, uma vez observados evitam, ou pelo menos diminuem, a
ocorrência de danos ambientais. O capítulo a seguir, por sua vez, abarca a situação
diametralmente oposta, quando já se materializou a ocorrência dos danos

§ 2º Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de
acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei.§ 3º As condutas
e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores,pessoas físicas ou
jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos
causados.§ 4º A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-
Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei,
dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos
recursos naturais. § 5º São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados, por
ações discriminatórias, necessárias à proteção dos ecossistemas naturais. § 6º As usinas que
operem com reator nuclear deverão ter sua localização definida em lei federal, sem o que não
poderão ser instaladas. § 7º Para fins do disposto na parte final do inciso VII do § 1º deste artigo, não
se consideram cruéis as práticas desportivas que utilizem animais, desde que sejam manifestações
culturais, conforme o § 1º do art. 215 desta Constituição Federal, registradas como bem de natureza
imaterial integrante do patrimônio cultural brasileiro, devendo ser regulamentadas por lei específica
que assegure o bem-estar dos animais envolvidos.
38
Anexo I, inciso XV da Resolução CONAMA 306/2002: Definições: Plano de emergência: conjunto de
medidas que determinam e estabelecem as responsabilidades setoriais e as ações a serem
desencadeadas imediatamente após um incidente, bem como definem os recursos humanos,
materiais e equipamentos adequados à prevenção, controle e combate à poluição ambiental.
39
Anexo 2, Item 1, subitem 1.2, inciso II da Resolução CONAMA 306/2002: Quanto à avaliação do
desempenho da gestão ambiental, a auditoria envolverá, entre outros: a verificação da
adequabilidade da política ambiental com relação à natureza, escala e impactos ambientais da
instalação auditada, e quanto ao comprometimento da mesma com a prevenção da poluição, com a
melhoria contínua e com o atendimento da legislação ambiental aplicável.
40
Anexo 2, Item 1, subitem 1.2, inciso IV da Resolução CONAMA 306/2002: Quanto à avaliação do
desempenho da gestão ambiental, a auditoria envolverá, entre outros: a identificação e atendimento
dos objetivos e metas ambientais das instalações e a verificação se os mesmos levam em conta a
legislação ambiental e o princípio da prevenção da poluição, quando aplicável.
41
Princípio 15 da Declaração do Rio sobre o Meio Ambiente e desenvolvimento: ‘’Com o fim de
proteger o meio ambiente, o princípio da precaução deverá ser amplamente observado pelos
Estados, de acordo com suas capacidades. Quando houver ameaça de danos graves ou
irreversíveis, a ausência de certeza científica absoluta não será utilizada como razão para o
adiamento de medidas economicamente viáveis para prevenir a degradação ambiental’’.
42
AMADO, Frederico. op. cit, p. 54.
24

ambientais e abrangerá, consequentemente, a teoria geral da responsabilidade


ambiental.

2. As esferas de responsabilidade por danos ambientais desencadeados por


empreendimentos minerários

Conforme mencionado no Capítulo 1, os danos ambientais são capazes de


desencadear responsabilizações nas esferas cível, administrativa e penal, em face
dos responsáveis pelo seu cometimento.
Nesse viés, Frederico Amado43 preleciona que inexiste bis in idem, na
aplicação das sanções penais e administrativas juntamente com a reparação dos
danos, uma vez que a regra é a independência entre as instâncias, salvo disposição
legal em sentido contrário. Fiorillo44 complementa, ao esclarecer que as sanções
penais, civis e administrativas além de protegerem objetos distintos, estão sujeitas a
regimes jurídicos diferentes.
Essa tríplice responsabilidade, que se assenta constitucionalmente no art.
225, §3º da CRFB/8845, também poderá recair sobre o empreendedor minerário caso
danos no ambiente sejam materializados em virtude dessa atividade.
Uma das hipóteses de lesividade ambiental, apta a ensejar a
responsabilização do empreendedor minerário, é aquela que será abarcada nos
capítulos 3 e 4, quando barragens de rejeitos de minério, construída com a
tecnologia de alteamento a montante46, rompem-se causando danos ambientais.
No entanto, a compreensão dos referidos capítulos, que abrangerão uma
situação concreta, perpassa sobre o entendimento teórico de cada uma das
supracitadas responsabilidades, que por sua vez, serão explicitadas a seguir.

43
AMADO, Frederico. op. cit, p. 242.
44
FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de direito ambiental brasileiro. São Paulo: Saraiva,
2013.p.79.
45
Art. 225, §3º da CRFB/88 – ‘’As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente
sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas,
independentemente da obrigação de reparar os danos causados’’.
46
O alteamento a montante é o método mais barato de construção de uma barragem de rejeitos de
minério, sendo aquela que cresce por meio de degraus feitos com o próprio rejeito sobre o dique
inicial: ALVARENGA, Darlan; CAVALINI, Marta. Entenda como funciona a barragem da vale que se
rompeu em brumadinho. G1 – Economia, 28 de jan. 2019. Disponível em: <
https://g1.globo.com/economia/noticia/2019/01/28/entenda-como-funciona-a-barragem-da-vale-que-
se-rompeu-em-brumadinho.ghtml > Acesso em: 13 de set. 2019.
25

2.1 Responsabilidade civil ambiental

A responsabilidade civil genérica pode ser definida, conforme esclarece


Melo47, como “a obrigação patrimonial de reparar o dano material ou compensar o
dano moral causado ao ofendido pela inobservância por parte do ofensor de um
dever jurídico ou convencional’’. Na responsabilidade civil ambiental essa obrigação
patrimonial se traduz em recuperar os danos causados ao meio ambiente e/ou
indenizá-los, conforme dispõem o art. 4°, VII da lei 6.938/8148. Thomé49, ao comentar
esse dispositivo legal preconiza que ao responsável pela atividade causadora do
dano ambiental

Será imposta a obrigação de recuperar os danos causados, na maior


medida possível, restaurando o bem lesado ao status quo ante. Caso o
dano seja irrecuperável, caberá ao poluidor indenizar os danos causados
por meio do pagamento de um montante em dinheiro, que deverá ser
50
revertido à preservação do meio ambiente . O intuito do legislador é
possibilitar a integral reparação do meio ambiente degradado.

O referido autor51, ainda traduzindo o significado do supracitado dispositivo,


esclarece que

Tendo em vista o respeito ao princípio da reparação in integrum do dano


ambiental, a obrigação de recuperar o meio ambiente degradado é
plenamente compatível com a indenização pecuniária pelos danos
causados. Caso haja, portanto, restauração completa e imediata do meio
ambiente lesado ao seu estado anterior, não há que se falar em
indenização. Vale ressaltar que no caso de direito transindividual, sendo
faticamente viável a reparação in natura, a tutela ressarcitória deve ser
prestada de forma específica. Não sendo possível, e com o intuito de buscar
a completa reparação do dano, caberá também indenização. Não há
qualquer impedimento, portanto, de que o ressarcimento na forma
52
específica (in natura) seja cumulado com o ressarcimento em dinheiro.

47
MELO, Marco Aurélio Bezerra de Melo. Responsabilidade civil. São Paulo: Atlas, 2015. p.2.
48
Art. 4°, VII da lei 6.938/81 – ‘’A Política Nacional do Meio Ambiente visará: à imposição, ao poluidor
e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados e, ao usuário, da
contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos’’.
49
THOMÉ, Romeu. op cit, p. 571.
50
Essa reversão observa os ditames do art. 13 da lei nº 7347/1985, que por sua vez, estabelece que:
‘’Havendo condenação em dinheiro, a indenização pelo dano causado reverterá a um fundo gerido
por um Conselho Federal ou por Conselhos Estaduais de que participarão necessariamente o
Ministério Público e representantes da comunidade, sendo seus recursos destinados à reconstituição
dos bens lesados’’.
51
THOMÉ, Romeu. op cit, p. 571-572
52
A possibilidade de cumulação entre o ressarcimento na forma específica e o ressarcimento em
dinheiro foi sumulada recentemente pelo Superior Tribunal de Justiça através da súmula de nº 629.
Vejamos: ‘’Quanto ao dano ambiental, é admitida a condenação do réu à obrigação de fazer ou à de
não fazer cumulada com a de indenizar’’.
26

Milaré53 elucida que o quantum indenizatório deve ser conjugado com o


principio da reparação integral, enquanto fundamento primário da responsabilidade
civil ambiental, no sentido de que a lesão causada ao meio ambiente seja
recuperada em sua integridade. Corrobora esse entendimento a jurisprudência do
Superior Tribunal de Justiça54:

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL.


CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015. APLICABILIDADE. AÇÃO CIVIL
PÚBLICA. DANO AMBIENTAL. OBRIGAÇÕES DE FAZER, NÃO FAZER E
INDENIZAR. CUMULAÇÃO. POSSIBILIDADE. ANÁLISE DA
NECESSIDADE DE INDENIZAÇÃO. AFERIÇAO CASO A CASO PELO
TRIBUNAL A QUO.ELEMENTOS FÁTICOS. SUMULA N. 7/STJ.
INCIÊNCIA. ARGUMENTOS INSUFICIENTES PARA DESCONSTITUIR A
DECISÃO ATACADA. APLICAÇÃO DE MULTA. ART. 1021, §4º DO
CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015. DESCABIMENTO. (...) II – O
Superior Tribunal de Justiça tem entendimento consolidado segundo o
qual é possível a cumulação de obrigações de fazer, não fazer e de
indenizar nos casos de lesão ao meio ambiente, contudo, a
necessidade do cumprimento de obrigação de pagar quantia deve ser
aferida em cada situação analisada.(...) (STJ – AgInt no REsp: 1542772
SC 2015/0166341-0, Relator: Ministra REGINA HELENA COSTA, Data de
Julgamento: 26/06/2018, T1- PRIMEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe
02/08/2018) (grifo nosso)

Ressalta-se que a responsabilidade civil ambiental também irá se assentar


em um outro dispositivo da lei nº. 6.938/81,qual seja, o artigo 14, §1º55, eis que,
consolida a natureza objetiva dessa espécie de responsabilidade.
A noção de responsabilidade objetiva está intimamente relacionada com a
não necessidade de comprovação da culpa do agente. Nesse contexto, Cavalieri 56
menciona que a responsabilidade objetiva é aquela que independe da demonstração
de culpa do agente para que haja a reparação do dano, fundamentando-se na
chamada teoria do risco57. Ao passo que a responsabilidade subjetiva seria o inverso
daquela, tendo em vista que atribui preponderância à culpa do agente para que haja

53
MILARÉ, Edis. op. cit, p. 426.
54
STJ. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. AgInt no REsp 1542772 SC 2015/0166341-0.
Relator: Ministra Regina Helena Costa. DJ: 26 de junho de 2018. JusBrasil. Disponível em:
<https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/608620705/agravo-interno-no-recurso-especial-agint-no-
resp-1542772-sc-2015-0166341-0?ref=serp> Acesso em: 13 set. 2019.
55
Art. 14, §1º da lei 6.938/81: ‘’Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o
poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos
causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e
dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos
causados ao meio ambiente’’.
56
FILHO, Sergio Cavalieri. Programa de responsabilidade civil. São Paulo: Atlas, 2012. p. 17-18.
57
A teoria do risco prega que aquele que desenvolve uma atividade potencialmente perigosa impõe à
sociedade um nível maior risco, trazendo para si a responsabilidade de danos causados,
independentemente de culpa. MELO, Marco Aurélio Bezerra de Melo. op. cit p. 255.
27

a reparação do dano.
A reparação do dano ambiental independe da demonstração de culpa pelo
agente. Mas não é apenas o referido dispositivo infraconstitucional que consagra a
natureza objetiva da responsabilidade civil ambiental. Isso porque a própria
Constituição Federal de 1988, no art. 21, XXIII, d 58, art. 225,§2º59 e art. 37, §6º60,
traz à baila essa natureza. Nesse viés, Milaré61 ao se referir aos supracitados artigos
pondera que

Com a carta de 1988, no que se refere às atividades nucleares e minerárias,


a responsabilidade civil objetiva do poluidor foi constitucionalidade, o
mesmo ocorrendo com a responsabilidade (inclusive ambiental) do Estado,
em verdadeira reverência ao principio do poluidor-pagador, que faz recair
sobre o autor do dano todo ônus decorrente dos custos sociais de sua
atividade.

Porém, para que haja a caracterização da responsabilidade civil ambiental é


necessária a existência de alguns pressupostos, conforme será abordado a seguir.

2.1.1 Elementos fundantes da responsabilidade civil ambiental

A responsabilidade civil objetiva, genérica, conforme se depreende do art.


927, parágrafo único, do Código Civil62, possui dois pressupostos: dano e nexo
causal. Na responsabilidade civil ambiental não será diferente, eis que, alicerça-se
no dano ambiental e no nexo de causalidade existente entre a atividade e o dano,

58
Art. 21, XXII, d da CRFB/88: ‘’Compete à União: explorar os serviços e instalações nucleares de
qualquer natureza e exercer monopólio estatal sobre a pesquisa, a lavra, o enriquecimento e
reprocessamento, a industrialização e o comércio de minérios nucleares e seus derivados, atendidos
os seguintes princípios e condições: a responsabilidade civil por danos nucleares independe da
existência de culpa’’.
59
Art. 225, § 2º da CRFB/88: ‘’Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o
meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na
forma da lei’’.
60
Art. 37, § 6º da CRFB/88: ‘’As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado
prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade,
causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou
culpa’’.
61
MILARÉ, Edis. Reação jurídica à danosidade ambiental: Contribuição para o delineamento de
um microssistema de responsabilidade. Dissertação (dissertação em direito) - USP. São Paulo, 2016,
p. 184.
62
Art. 927, parágrafo único, do CC: ‘’Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de
culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor
do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem’’.
28

para que haja a sua ocorrência63. Pressupostos esses, que serão esmiuçados
abaixo.

2.1.1.1 Dano ambiental

O dano ambiental, de acordo com Milaré64, pode ser conceituado como ‘’a
lesão grave e anormal de ordem patrimonial e/ou extrapatrimonial ao direito
fundamental de todos ao meio ambiente ecologicamente equilibrado e/ou ao bem
ambiental em si considerado’’.
O referido dano pressupõe uma atividade lesiva, que por sua vez, será
realizada pelo chamado poluidor. O poluidor é aquele responsável, direta ou
indiretamente, pela degradação ambiental, podendo ser tanto pessoa física, quanto
jurídica, de direito público ou privado, conforme dispõe o art. 3º, IV da lei
6.938/198165.
Frederico Amado66, ao realizar uma leitura do artigo mencionado, informa que
‘’pela dicção legal, não apenas o causador direto pelos danos ambientais será
responsabilizado, mas também o indireto, existindo dois responsáveis: o poluidor
direto e o poluidor indireto’’.
Inclusive, a jurisprudência pátria consolidou o entendimento de que a
responsabilidade desses poluidores, diretos ou indiretos será solidária, no sentido de
que a obrigação desencadeada pelo dano ambiental pode ser cobrada de qualquer
um deles. Nesse sentido, o seguinte julgado do Superior Tribunal de Justiça67:

PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DANOS AO MEIO


AMBIENTE. REPARAÇÃO. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DENUNCIA
DA LIDE. PRECEDENTES. 1. Mostra-se induvidosa a responsabilidade
solidária e objetiva da recorrente, consoante entenderam as instâncias
ordinárias, pelo que seria meramente facultativa a denunciação da lide, pois
nada impede que a contratante se volte, posteriormente, contra a
contratada, ou outra pessoa jurídica ou física para o ressarcimento da
reparação a que vier a ser condenada. 2. Precedentes desta corte. 3.
Recurso Especial improvido. (STJ – Resp: 67285 SP 1995/0027385-3,

63
MILARÉ, Edis. op. cit, p. 427.
64
MILARÉ, Edis. op. cit, p. 317.
65
Art. 3º, IV da lei 6.938/1981: ‘’Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por: poluidor, a pessoa
física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade
causadora de degradação ambiental.
66
AMADO, Frederico. op cit. p. 244.
67
STJ. RECURSO ESPECIAL. REsp 67285 SP 1995/0027385-3. Relator: Ministro Castro Meira. DJ: -
03 de junho de 2004. Jusbrasil. Disponível em: <
https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/8897547/recurso-especial-resp-67285-sp-1995-0027385-
3?ref=serp > Acesso em: 15 set. 2019.
29

Relator: Ministro Castro Meira, Data de Julgamento: 03/06/2004, T2 –


Segunda Turma, Data de Publicação: DJ 03/09/2007 p. 154).

Impende ressaltar que o principal efeito advindo da obrigação solidária


passiva, em âmbito civil, é que o credor pode cobrar o cumprimento da obrigação de
qualquer um dos devedores como se fossem um só devedor68.
Contudo, não há dúvidas de que esse efeito também se aplica na seara
ambiental, tendo em vista a não obrigatoriedade da formação de litisconsórcio
passivo na hipótese de múltiplos agentes responsáveis pelo dano ambiental69.
É importante salientar, ainda, que apesar do evento danoso caracterizar um
fenômeno único, o dano ambiental pode ser classificado70 em coletivo e individual,
levando-se em consideração a sua dimensão, e em patrimonial e extrapatrimonial,
tendo em vista a natureza do interesse lesado.
Milaré71 adverte que o dano ambiental coletivo é aquele que atinge o meio
ambiente globalmente considerado, em sua concepção difusa, como patrimônio
coletivo. Ao passo que o dano ambiental individual é o que atinge pessoas certas,
através de sua integridade moral e/ou de seu patrimônio particular.
O dano ambiental patrimonial, por sua vez, considerando também a
concepção de Milaré72, é aquele que repercute sobre o meio ambiente
ecologicamente equilibrado, relacionando-se à sua possível restituição ao status quo
ante, compensação ou indenização. Enquanto que o dano ambiental
extrapatrimonial caracteriza-se pela ofensa, devidamente evidenciada, ao
sentimento difuso ou coletivo resultante da lesão ambiental patrimonial. O dano
ambiental extrapatrimonial, então, não decorre da impossibilidade de retorno ao
status quo ante, mas sim da evidência do sentimento coletivo de dor.

2.1.1.2 Nexo de causalidade

O nexo de causalidade, em sede de responsabilidade civil objetiva genérica,


pode ser entendido como sendo o elemento imaterial ou virtual da responsabilidade

68
TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único. São Paulo: Método, 2016. p,384.
69
THOMÉ, Romeu. op cit, p. 574
70
A classificação aqui adotada é aquela utilizada por Edis Milaré em seu livro intitulado Direito do
Ambiente, editora revista dos tribunais, ano 2013.
71
MILARÉ, Edis. op. cit, p. 320.
72
MILARÉ, Edis, op. cit, p.323.
30

civil constituindo a relação da causa e efeito entre o risco criado e o dano


suportado73.
Em se tratando de responsabilidade civil ambiental, o nexo de causalidade
manterá esse cerne de causa e efeito, mas entre o dano ambiental e a atividade que
o desencadeou. Milaré74 conceitua o nexo causal da responsabilidade civil ambiental
como sendo ‘’a relação de causa e efeito entre a atividade (= fonte poluidora) e o
dano dela advindo’’.
Vislumbra-se que a responsabilidade civil ambiental, enquanto aquela
responsável por recuperar os danos causados ao meio ambiente e/ou indenizá-los,
possui natureza objetiva à medida que não precisa demonstrar a culpa do ofensor e
caracteriza-se por apresentar dois pressupostos: dano e nexo de causalidade.

2.2 Responsabilidade administrativa ambiental

A responsabilidade administrativa ambiental é aquela que será


desencadeada pela ocorrência de uma infração administrativa ambiental e que se
materializa através do poder de policial ambiental. Isso porque a apuração de
infrações administrativas e a imposição de sanções, que decorre desse poder75.
Dessa forma, antes de abordar as infrações administrativas ambientais, e as
respectivas sanções, se faz necessário esclarecer o poder de policia ambiental.

2.2.1 O poder de policia ambiental

O poder de policial ambiental, pode ser definido, de acordo com os


ensinamentos de Machado76, como sendo

A atividade da Administração Pública que limita ou disciplina direito,


interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou a abstenção de fato em
razão de interesse público concernente à saúde da população, à
conservação dos ecossistemas, à disciplina da produção e do mercado, ao
exercício de atividades econômicas ou de outras atividades dependentes de
concessão, autorização/permissão ou licença do Poder Público de cujas
atividades possam decorrer poluição ou agressão à natureza.

73
TARTUCE, Flavio. op cit, p. 513.
74
MILARÉ, Edis. op. cit, p. 429.
75
THOMÉ, Romeu. op cit, p. 579.
76
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental brasileiro. São Paulo: Malheiros, 2013. p.
385.
31

Esse poder de polícia ambiental não se confunde com os demais poderes de


polícia. Milaré77, nesse contexto, esclarece que o poder de polícia ambiental
distingue-se de outras formas de poder de polícia, tanto em sua natureza quanto em
seus métodos. E complementa, ao prelecionar, que o referido poder ambiental

(...) não é exercido por policiais profissionais, voltados preferencialmente


para a manutenção da ordem pública, mas por profissionais técnicos adrede
capacitados que se ocupam de aspectos específicos do bem comum. No
caso, estão em jogo a defesa e a preservação do meio ambiente, assim
como a manutenção da qualidade ambiental e do equilíbrio ecológico
essencial – tudo em função do patrimônio ambiental (que é público) e do
desenvolvimento sustentável (que é do interesse da sociedade). Entretanto,
há circunstâncias em que o poder de policia administrativa ambiental pode e
deve ser reforçado por outras modalidades de polícia. Aqui se enquadram
as policias militares ambientais, que agem por delegação expressa do poder
executivo competente e, ademais, segundo os objetivos e métodos de
polícia administrativa.

O poder de polícia ambiental será exercido, em regra, pelo órgão ambiental


licenciador, por meio da lavratura de auto de infração e instauração de processo
administrativo, conforme se depreende do art. 17, caput, da lei complementar nº
140/201178.
É possível que os órgãos ambientais das esferas que não licenciaram o
empreendimento causador do ilícito administrativo-ambiental, exerçam o seu poder
de policia ambiental, de acordo com os termos do art. 17, §3º da Lei complementar
nº 140/201179. O Superior Tribunal de Justiça80 já se manifestou no sentido de que
o IBAMA possui interesse jurídico para exercer o seu poder de polícia administrativa,
ainda que o bem esteja situado em área cuja competência para o licenciamento seja
do município ou do estado. E justifica esse entendimento em virtude da proteção ao
meio ambiente não ser competência exclusiva de um só ente da federação:
77
EDIS, Milaré. op. cit, p. 336.
78
Art. 17 da lei complementar nº 140/2011: ‘’Compete ao órgão responsável pelo licenciamento ou
autorização, conforme o caso, de um empreendimento ou atividade, lavrar auto de infração ambiental
e instaurar processo administrativo para a apuração de infrações à legislação ambiental cometidas
pelo empreendimento ou atividade licenciada ou autorizada’’.
79
Art. 17, §3º da lei complementar nº 140/2011: ‘’O disposto no caput deste artigo não impede o
exercício pelos entes federativos da atribuição comum de fiscalização da conformidade de
empreendimentos e atividades efetiva ou potencialmente poluidores ou utilizadores de recursos
naturais com a legislação ambiental em vigor, prevalecendo o auto de infração ambiental lavrado por
órgão que detenha a atribuição de licenciamento ou autorização a que se refere o caput’’.
80
STJ. AGRAVO REGIMENTO NO RECURSO ESPECIAL. AgRg no REsp 1373302 CE
2013/0068076-0. Relator: Ministro Humberto Martins. DJ: 11 de junho de 2013. JusBrasil.
Disponível em: <https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/23534847/agravo-regimental-no-recurso-
especial-agrg-no-resp-1373302-ce-2013-0068076-0-stj?ref=feed> Acesso em: 29 set. 2019.
32

AMBIENTAL. PROCESSUAL CIVIL. MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL.


AÇÃO CIVIL PÚBLICA. LICENCIAMENTO AMBIENTAL. ZONA DE
AMORTECIMENTO DO PARQUE NACIONAL DE JERICOACOARA.
LEGITIMIDADE ATIVA AD CAUSAM. RECURSO ESPECIAL PROVIDO. 1.
Em se tratando de proteção ao meio ambiente, não há falar em
competência exclusiva de um ente da federação para promover
medidas protetivas. Impõe-se amplo aparato de fiscalização a ser
exercido pelos quatros entes federados, independentemente do local
onde a ameaça ou dano estejam ocorrendo, bem como da competência
para o licenciamento. 2. O domínio da área em que o dano ou o risco de
dano se manifesta é apenas um dos critérios definidores da legitimidade
para agir do parquet federal. Ademais, o poder- dever de fiscalização dos
outros entes deve ser exercido quando a atividade esteja, sem o devido
acompanhamento do órgão competente, causando danos ao meio
ambiente. 3. A atividade fiscalizatória das atividades nocivas ao meio
ambiente concede ao IBAMA interesse jurídico suficiente para exercer
seu poder de polícia administrativa, ainda que o bem esteja situado em
área cuja competência para o licenciamento seja do município ou do
estado. 4. Definida a controvérsia em sentido contrário à posição adotada
no aresto estadual, deve ser provido o agravo regimental para dar
provimento ao recurso especial, reconhecer a legitimidade do Ministério
Público Federal e determinar o regular prosseguimento da ação. Agravo
regimental provido. (STJ – AgRg no REsp: 1373302 CE 2013/0068076-0,
Relator: Ministro Humberto Martins, Data de Julgamento: 11/06/2013, T2 –
SEGUNDA TURMA, Data de Publicação: DJE 19/06/2013). (grifo nosso)

Ao fazer uma leitura do arts. 7º, XIII81, 8º, XIII82 e 9º, XIII83, todos da lei
complementar nº 140/2011, Amado84 corrobora o entendimento de que o exercício
da fiscalização pode ocorrer por todas as esferas federativas, tendo em vista que o
controle da poluição é uma competência comum, nos termos do art. 23, VI da
CRFB/8885. Mas pontua que, a regra geral é de que, ordinariamente, quem licenciou
é que irá fiscalizar.
A materialização dessa competência fiscalizatória e sancionatória fica a cargo
do Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA), conforme preleciona Thomé86,
que por sua vez, será explicitado abaixo.

81
Art. 7º, XIII da Lei Complementar nº 140/2011: ‘’ São ações administrativas da União: XIII - exercer
o controle e fiscalizar as atividades e empreendimentos cuja atribuição para licenciar ou autorizar,
ambientalmente, for cometida à União’’
82
Art. 8º, XIII da Lei complementar nº 140/2011: ‘’São ações administrativas dos Estados: ‘’exercer o
controle e fiscalizar as atividades e empreendimentos cuja atribuição para licenciar ou autorizar,
ambientalmente, for cometida aos Estados’’.
83
Art. 9º, XIII da Lei Complementar nº 140/2011: ‘’São ações administrativas dos Municípios: exercer
o controle e fiscalizar as atividades e empreendimentos cuja atribuição para licenciar ou autorizar,
ambientalmente, for cometida ao Município’’.
84
AMADO, Frederico. op. cit, p. 264.
85
Art. 23, VI da CRFB/88: ‘’É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios: proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas’’
86
THOMÉ, Romeu. op. cit, p. 579.
33

2.2.1.1 O Sistema Nacional do Meio Ambiente

O Sistema Nacional do Meio Ambiente pode ser conceituado, como ‘’o


conjunto de entes e órgãos da União, Estados, Distrito Federal, Municípios e suas
respectivas administrações indiretas responsáveis pela proteção, controle,
monitoramento e melhoria da qualidade e da politica ambiental do país’’, de acordo
com Oliveira87.
Milaré88 esclarece que o SISNAMA ‘’existe e atua na medida em que existem
e atuam os órgãos que o constituem. Sua alma é a comunicação que transmite e
recebe estímulos, de alto a baixo de um lado ao outro’’. E conclui que esse sistema

Tem como principal fluxo a informação, considerado o termo em seu sentido


genérico. Nele estão compreendidos as comunicações, as deliberações, as
orientações, as avaliações, os licenciamentos e outras formas congêneres
de ações e produtos. É fundamental que tudo se verifique num processo
contínuo, de modo que o próprio sistema se retroalimente. Se isso não
acontecer, corre-se o risco da estagnação e do esvaziamento da Política
Nacional de Meio Ambiente. É fundamental que a informação, alma do
SISNAMA, tenha fluxo nos dois sentidos: de alto a baixo, isto é da cúpula às
bases, e de baixo para o alto. A cúpula permite uma visão mais ampla e
facilita um descortino, ao passo que as bases propiciam uma percepção
mais concreta e realista dos problemas ambientais. Assim, da Federação
aos Estados, do Estado aos Municípios, dos Municípios ao Estado e à
Federação, o circuito completo do Sistema garante organicidade e
objetividade à Política Nacional do meio ambiente. É uma rede institucional
que amarra todos os entes federativos.

O SISNAMA trata-se de uma criação da Política Nacional do Meio Ambiente89,


conforme o art. 1º da lei nº 6.938/198190. E possui a seguinte estrutura, também de

87
OLIVEIRA, Fabiano Melo Gonçalves de. op. cit. p. 209.
88
MILARÉ, Edis. op. cit, p. 642-643.
89
A politica nacional do meio ambiente possui como objetivo a preservação, melhoria e recuperação
da qualidade ambiental propicia à vida, visando assegurar, no país, condições ao desenvolvimento
socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana e
rege-se pelos princípios previstos nos incisos do art. 2º da lei nº 6.938/1981: ‘’Art 2º - A Política
Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria e recuperação da qualidade
ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento
socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana,
atendidos os seguintes princípios: I - ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico,
considerando o meio ambiente como um patrimônio público a ser necessariamente assegurado e
protegido, tendo em vista o uso coletivo; II - racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e do
ar; Ill - planejamento e fiscalização do uso dos recursos ambientais; IV - proteção dos ecossistemas,
com a preservação de áreas representativas; V - controle e zoneamento das atividades potencial ou
efetivamente poluidoras; VI - incentivos ao estudo e à pesquisa de tecnologias orientadas para o uso
racional e a proteção dos recursos ambientais; VII - acompanhamento do estado da qualidade
ambiental; VIII - recuperação de áreas degradadas; IX - proteção de áreas ameaçadas de
degradação; X - educação ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a educação da
comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do meio ambiente’’.
90
Art. 1º da lei nº 6.938/1981: ’’Esta lei, com fundamento nos incisos VI e VII do art. 23 e no art. 235
da Constituição, estabelece a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de
34

acordo com o referido dispositivo: órgão superior, órgão consultivo e deliberativo,


órgão central, órgãos executores, órgãos seccionais e órgãos locais. O órgão
superior do SISNAMA é o Conselho de Governo cuja função é assessorar o
Presidente da República na formulação da política nacional e nas diretrizes
governamentais para o meio ambiente e os recursos ambientais, conforme
estabelece o art. 6º, I da lei nº 6.938/198191.
O Conselho Nacional do Meio ambiente (CONAMA) é o órgão consultivo e
deliberativo do SISNAMA, conforme dispõe o art. 6º, II da lei nº 6.938/1981 92, e
possui como finalidade assessorar, estudar e propor ao Conselho de Governo,
diretrizes de politicas governamentais para o meio ambiente e os recursos naturais e
deliberar, no âmbito de sua competência, sobre normas e padrões compatíveis com
o meio ambiente ecologicamente equilibrado e essencial à sadia qualidade de vida.
Milaré93 esclarece, ainda, que se trata do maior órgão do Sistema.
O órgão central do SISNAMA é a Secretaria do Meio Ambiente da Presidência
da República cuja função é a de planejar, coordenar, supervisionar e controlar a
Política Nacional e as diretrizes governamentais fixadas para o meio ambiente, nos
termos do art. 6º, III da lei nº 6.938/198194.
O instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(IBAMA) e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (Instituto
Chico Mendes) exercem o papel de órgãos executores e possuem como função, de

formulação e aplicação, constitui o Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama) e institui o


Cadastro de Defesa Ambiental’’.
91
Art. 6º, I da lei nº 6.938/1981: ‘’ Os órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal,
dos Territórios e dos Municípios, bem como as fundações instituídas pelo Poder Público,
responsáveis pela proteção e melhoria da qualidade ambiental, constituirão o Sistema Nacional do
Meio Ambiente - SISNAMA, assim estruturado: órgão superior: o Conselho de Governo, com a função
de assessorar o Presidente da República na formulação da política nacional e nas diretrizes
governamentais para o meio ambiente e os recursos ambientais’’.
92
Art. 6º, II da lei nº 6.938/1981:’’ Os órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal,
dos Territórios e dos Municípios, bem como as fundações instituídas pelo Poder Público,
responsáveis pela proteção e melhoria da qualidade ambiental, constituirão o Sistema Nacional do
Meio Ambiente - SISNAMA, assim estruturado: órgão consultivo e deliberativo: o Conselho Nacional
do Meio Ambiente (CONAMA), com a finalidade de assessorar, estudar e propor ao Conselho de
Governo, diretrizes de políticas governamentais para o meio ambiente e os recursos naturais e
deliberar, no âmbito de sua competência, sobre normas e padrões compatíveis com o meio ambiente
ecologicamente equilibrado e essencial à sadia qualidade de vida’’.
93
MILARÉ, Edis. op. cit, p. 639.
94
Art. 6º, III da lei nº 6.938/1981:’’ Os órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal,
dos Territórios e dos Municípios, bem como as fundações instituídas pelo Poder Público,
responsáveis pela proteção e melhoria da qualidade ambiental, constituirão o Sistema Nacional do
Meio Ambiente - SISNAMA, assim estruturado: órgão central: a Secretaria do Meio Ambiente da
Presidência da República, com a finalidade de planejar, coordenar, supervisionar e controlar, como
órgão federal, a política nacional e as diretrizes governamentais fixadas para o meio ambiente’’.
35

acordo com o art. 6º, IV da lei nº 6.938/198195, executar e fazer executar a política e
as diretrizes governamentais fixadas para o meio ambiente, de acordo com as
respectivas competências.
Os órgãos seccionais são os órgãos ou entidades estaduais responsáveis
pela execução de programas, projetos e pelo controle e fiscalização de atividades
capazes de provocar a degradação ambiental, de acordo com o art. 6º, V96 da lei nº
6.938/1981. E também compreende os órgãos ou entidades da Administração
pública federal direta e indireta e as fundações instituídas pelo poder público cujas
atividades estejam associadas às de proteção da qualidade ambiental ou àquelas de
disciplinamento do uso de recursos ambientais nos termos do art. 3º, V, do decreto
nº 99.274/199097.
Ao passo que os órgãos locais compreendem os órgãos ou entidades
municipais responsáveis pelo controle e fiscalização das atividades capazes de
promover a degradação ambiental, nos termos do art. 6º, VI, da lei nº 6.938/198198.
Feitas as considerações, acima, acerca do poder de polícia ambiental, torna-
se possível adentrar nas infrações administrativas ambientais, conforme explicita o
item abaixo.

95
Art. 6º, IV da lei nº 6.938/1981:’’ Os órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal,
dos Territórios e dos Municípios, bem como as fundações instituídas pelo Poder Público,
responsáveis pela proteção e melhoria da qualidade ambiental, constituirão o Sistema Nacional do
Meio Ambiente - SISNAMA, assim estruturado: órgãos executores: o Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA e o Instituto Chico Mendes de Conservação
da Biodiversidade - Instituto Chico Mendes, com a finalidade de executar e fazer executar a política e
as diretrizes governamentais fixadas para o meio ambiente, de acordo com as respectivas
competências’’.
96
Art. 6º, V da lei nº 6.938/1981:’’ Os órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal,
dos Territórios e dos Municípios, bem como as fundações instituídas pelo Poder Público,
responsáveis pela proteção e melhoria da qualidade ambiental, constituirão o Sistema Nacional do
Meio Ambiente - SISNAMA, assim estruturado: Órgãos Seccionais: os órgãos ou entidades estaduais
responsáveis pela execução de programas, projetos e pelo controle e fiscalização de atividades
capazes de provocar a degradação ambiental’’.
97
Art. 3º, V do Decreto nº 99.274/1990: ‘’O Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama),
constituído pelos órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e
pelas fundações instituídas pelo Poder Público, responsáveis pela proteção e melhoria da qualidade
ambiental, tem a seguinte estrutura: Órgãos Seccionais: os órgãos ou entidades da Administração
Pública Federal direta e indireta, as fundações instituídas pelo Poder Público cujas atividades estejam
associadas às de proteção da qualidade ambiental ou àquelas de disciplinamento do uso de recursos
ambientais, bem assim os órgãos e entidades estaduais responsáveis pela execução de programas e
projetos e pelo controle e fiscalização de atividades capazes de provocar a degradação ambiental’’.
98
Art. 6º VI da lei nº 938/1981: ’’ Os órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal,
dos Territórios e dos Municípios, bem como as fundações instituídas pelo Poder Público,
responsáveis pela proteção e melhoria da qualidade ambiental, constituirão o Sistema Nacional do
Meio Ambiente - SISNAMA, assim estruturado: Órgãos Locais: os órgãos ou entidades municipais,
responsáveis pelo controle e fiscalização dessas atividades, nas suas respectivas jurisdições’’.
36

2.2.2 As infrações administrativas ambientais

A infração administrativa ambiental corresponde a toda ação ou omissão que


viole as regras jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e recuperação do meio
ambiente, de acordo com o art. 70 da lei nº 9.605/199899. Amado100, pontua que

Cada entidade política terá a atribuição de instituir as suas próprias


infrações administrativo-ambientais por lei, que uma vez consumadas
culminarão a aplicação de penalidades administrativas com base no poder
de policia ambiental, observado o devido processo legal, especialmente
com a ampla possibilidade de defesa, mediante a oportunização de
instrução probatória, representação por advogado e recurso a autoridade
superior, entre outras garantias.

Em âmbito federal, as infrações administrativas encontram-se previstas no


decreto nº 6.514/2008, especificamente na seção III, do capítulo I. E tais são:
infrações contra a fauna (art. 24 a 42); infrações contra a flora (art. 43 a 60-A);
infrações relativas à poluição e outras infrações ambientais (art. 61 a 71-A);
infrações contra o ordenamento urbano e o patrimônio cultural (arts. 72 a 75);
infrações administrativas contra a administração ambiental (arts. 76 a 83); infrações
cometidas exclusivamente em unidades de conservação (arts. 84 a 93).
No entanto, trata-se de um rol não exauriente de infrações administrativas
ambientais, em âmbito federal, conforme dispõe Milaré101. Inclusive, o próprio
decreto nº 6.514/2008, em seu art. 2º, parágrafo único102, evidencia esse caráter
numerus, apertus, eis que, preconiza que o elenco das infrações administrativas
ambientais previstas na seção III do capítulo I, não exclui a previsão de outras
infrações previstas na legislação.
As infrações administrativas ambientais, em âmbito federal, poderão ser
punidas com as seguintes sanções, de acordo com o art. 72 da lei nº 9.605/1998 103:

99
Art. 70 da lei nº 9605/1998: ‘’Considera-se infração administrativa ambiental toda ação ou omissão
que viole as regras jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e recuperação do meio ambiente’’.
100
AMADO, Frederico. op. cit, p. 263.
101
MILARÉ, Edis. op. cit, p. 362.
102
Art. 2º, parágrafo único, do Decreto nº 6.514/2008: ‘’O elenco constante da Seção III deste
Capítulo não exclui a previsão de outras infrações previstas na legislação’’.
103
Art. 72 da lei nº 9.605/1998: As infrações administrativas são punidas com as seguintes sanções,
observado o disposto no art. 6º: I - advertência; II - multa simples; III - multa diária; IV - apreensão dos
animais, produtos e subprodutos da fauna e flora, instrumentos, petrechos, equipamentos ou veículos
de qualquer natureza utilizados na infração; V - destruição ou inutilização do produto; VI - suspensão
de venda e fabricação do produto; VII - embargo de obra ou atividade; VIII - demolição de obra; IX -
suspensão parcial ou total de atividades; X – (VETADO) XI - restritiva de direitos.
37

advertência; multa simples; multa diária; apreensão dos animais, produtos e


subprodutos da fauna e flora, instrumentos, petrechos, equipamentos ou veículos de
qualquer natureza utilizados na infração; destruição ou inutilização do produto;
suspensão de venda e fabricação do produto; embargo de obra ou atividade;
demolição de obra; suspensão parcial ou total de atividades e restritiva de direitos.
Sanções essas que serão abordadas nos dois itens abaixo, de acordo com o
nível de gravidade das mesmas, considerando que o legislador dispôs nos incisos
do supracitado artigo, da mais branda até a mais severa sanção administrativa
ambiental.

2.2.2.1 Sanções administrativas brandas: Advertência e multa

A advertência e a multa podem ser consideradas como sanções


administrativas brandas na temática ambiental.
A sanção de advertência aplica-se para as infrações administrativas de
menor lesividade ao meio ambiente, de acordo com o art. 5º, caput, do decreto nº
6.514/2008104, entendendo-se por menor lesividade aquelas infrações cuja pena
máxima cominada não ultrapasse o valor de R$ 1.000 (mil reais), nos termos do art.
5º, §1º do decreto nº 6.514/2008105.
Milaré106 assevera que a advertência possui índole pedagógica e preventiva e
trata-se de uma pena em sentido lato, não devendo ser confundida com uma
simples recomendação.
Acerca das multas, destaca-se que elas podem ser de dois tipos: a multa
diária e a multa simples. A multa simples é aquela que pode variar de R$ 50,00
(cinquenta reais) a R$ 50.000.000,00 (cinquenta milhões de reais) nos termos do art.
75 da lei nº 9.605/1998107. Essa espécie de multa incidirá em duas situações

104
Art. 5º, caput, do decreto nº 6.514/2008: ‘’ A sanção de advertência poderá ser aplicada, mediante
a lavratura de auto de infração, para as infrações administrativas de menor lesividade ao meio
ambiente, garantidos a ampla defesa e o contraditório’’.
105
Art. 5º, §1º do decreto nº 6.514/2008:’’ Consideram-se infrações administrativas de menor
lesividade ao meio ambiente aquelas em que a multa máxima cominada não ultrapasse o valor de R$
1.000,00 (mil reais), ou que, no caso de multa por unidade de medida, a multa aplicável não exceda o
valor referido’’.
106
MILARÉ, Edis. op cit, p. 365.
107
Art. 75 da lei nº 9.605/1998: ‘’O valor da multa de que trata este Capítulo será fixado no
regulamento desta Lei e corrigido periodicamente, com base nos índices estabelecidos na legislação
pertinente, sendo o mínimo de R$ 50,00 (cinquenta reais) e o máximo de R$ 50.000.000,00
(cinquenta milhões de reais)’’.
38

previstas no art. 72, §3º da lei nº 9.605/1998108: Quando o agente, por negligência
ou dolo, advertido por irregularidades que tenham sido praticadas, deixar de saná-
las no prazo assinalado ou quando opuser embaraço a fiscalização dos órgãos
competentes.
A multa diária, por sua vez, é aquela que possui como valor mínimo R$ 50,00
(cinquenta reais) e máximo de até 10% do maior valor da multa simples cominada
para a infração, conforme estabelece o art. 10, §2º do decreto nº 6.514/2008 109,
sendo cabível sempre que o cometimento da infração se prologar no tempo, nos
termos do art. 10, caput, do decreto nº 6.514/2008110.
Acerca da multa diária, Milaré111 esclarece que sua finalidade é compulsiva,
de modo a obrigar que o infrator cumpra a obrigação devida, devendo, por isso, seu
valor ser fixado em montante suficiente para causar o efeito desejado.

2.2.2.2 Sanções administrativas severas: Apreensão, destruição, suspensão,


embargo, demolição e suspensão.

São consideradas sanções administrativas severas na seara ambiental: A


apreensão dos animais, produtos e subprodutos da fauna e flora, instrumentos,
petrechos, equipamentos ou veículos de qualquer natureza utilizados na infração;
destruição ou inutilização do produto; embargo de obra ou atividade; demolição de
obra; suspensão parcial ou total de atividades; restritiva de direitos.
A apreensão, enquanto sanção administrativa ambiental, terá como objeto
animais, produtos, subprodutos da fauna e flora, instrumentos, petrechos,
equipamentos ou veículos de qualquer natureza utilizados na infração, salvo
impossibilidade justificada, de acordo com o art. 102 do decreto nº 6.514/2008 112.

108
Art. 72 da lei nº 9.605/1998: ‘’multa simples será aplicada sempre que o agente, por negligência ou
dolo: I - advertido por irregularidades que tenham sido praticadas, deixar de saná-las, no prazo
assinalado por órgão competente do SISNAMA ou pela Capitania dos Portos, do Ministério da
Marinha; II - opuser embaraço à fiscalização dos órgãos do SISNAMA ou da Capitania dos Portos, do
Ministério da Marinha.
109
Art. 10, §2º do decreto nº 6.514/2008: ‘’O valor da multa-dia deverá ser fixado de acordo com os
o
critérios estabelecidos neste Decreto, não podendo ser inferior ao mínimo estabelecido no art. 9 nem
superior a dez por cento do valor da multa simples máxima cominada para a infração’’.
110
Art. 10, caput, do decreto nº 6.514/2008: ‘’A multa diária será aplicada sempre que o cometimento
da infração se prolongar no tempo’’.
111
MILARÉ, Edis. op. cit, p. 369.
112
Art. 102 do decreto nº 6.514/2008: ‘’ Os animais, produtos, subprodutos, instrumentos, petrechos,
o
veículos de qualquer natureza referidos no inciso IV do art. 72 da Lei n 9.605, de 1998, serão objeto
da apreensão de que trata o inciso I do art. 101, salvo impossibilidade justificada’’.
39

Nesse contexto, Thomé113 assevera que as infrações ambientais ensejam o confisco


de qualquer instrumento utilizado, usualmente, na prática da infração ambiental, seja
lícito ou ilícito.
Os produtos da infração administrativa ambiental podem ser destruídos ou
inutilizados quando a medida for necessária para evitar os seus usos e
aproveitamento indevidos nas situações em que o transporte e a guarda forem
inviáveis em face das circunstâncias ou quando possam expor o meio ambiente a
riscos significativos ou comprometer a segurança da população e dos agentes
públicos envolvidos na fiscalização, nos termos do art. 111, I, II do decreto nº
6.514/2008114
A suspensão de venda ou fabricação do produto, de acordo com o art. 109 do
decreto nº 6.514/2008115, visa a evitar a colocação no mercado de produtos e
subprodutos oriundos de infração administrativa ao meio ambiente ou que tenha
como objetivo interromper o uso contínuo de matéria-prima e subprodutos de origem
ilegal. A suspensão total ou parcial de atividades possui a finalidade impedir a
continuidade de processos produtivos em desacordo com a legislação ambiental,
segundo o art. 110 do decreto nº 6.514/2008116. Milaré117 esclarece que essa
penalidade ‘’não implica necessariamente no fechamento do estabelecimento como
um todo, mas pode ser aplicada apenas em relação às maquinas ou aos
equipamentos poluidores, por exemplo. O restante da atividade pode prosseguir’’.
Porém, a cessação das penalidades de suspensão dependerá de decisão da
autoridade ambiental após a apresentação, por parte do autuado, de documentação
que regularize a obra ou atividade de acordo com o art. 15-B do decreto nº

113
THOMÉ, Romeu. op. cit, p. 589.
114
Art. 111, I e II, do decreto nº 6.514/2008:’’ Os produtos, inclusive madeiras, subprodutos e
instrumentos utilizados na prática da infração poderão ser destruídos ou inutilizados quando:
I - a medida for necessária para evitar o seu uso e aproveitamento indevidos nas situações em que o
transporte e a guarda forem inviáveis em face das circunstâncias; ou
II - possam expor o meio ambiente a riscos significativos ou comprometer a segurança da população
e dos agentes públicos envolvidos na fiscalização.
115
Art. 109 do decreto nº 6.514/2008: A suspensão de venda ou fabricação de produto constitui
medida que visa a evitar a colocação no mercado de produtos e subprodutos oriundos de infração
administrativa ao meio ambiente ou que tenha como objetivo interromper o uso contínuo de matéria-
prima e subprodutos de origem ilegal.
116
Art. 110 do decreto nº 6.514/2008: ‘’A suspensão parcial ou total de atividades constitui medida
que visa a impedir a continuidade de processos produtivos em desacordo com a legislação
ambiental’’.
117
MILARÉ, Edis. op. cit, p. 390.
40

6.514/2008118.
O embargo, segundo Milaré119, é o impedimento temporário ou definitivo,
determinado pela Administração no início ou continuação de obra ou atividade que
não disponha das devidas licenças ou autorizações, extrapole os limites dos atos
administrativos, ou de algum modo represente efetivo ou potencial risco de dano à
saúde ou ao meio ambiente. De acordo com o art. 15- A do decreto nº 6.514/2008120
o embargo da obra ou atividade restringe-se aos locais onde efetivamente
caracterizou-se a infração ambiental, não alcançando as demais atividades
realizadas em áreas não embargadas da propriedade ou posse ou não
correlacionadas com a infração. Ressalta-se que a cessação desse embargo, assim
como na suspensão, dependerá de decisão da autoridade ambiental após a
apresentação, por parte do autuado, de documentação que regularize a obra ou
atividade, também nos termos do referido art. 15- B, mencionado no item acima.
A sanção de demolição de obra poderá ser aplicada, em duas situações, pela
autoridade ambiental, após o contraditório e a ampla defesa, conforme estabelece o
art. 19, I, II do decreto nº 6.514/2008121: quando verificada a construção de obra em
área ambientalmente protegida, em desacordo com a legislação ambiental ou
quando a obra ou construção realizada não atende às condicionantes da legislação
ambiental e não seja passível de regularização.
Há, também, a sanção de restrição de direitos. De acordo com o art. 72, §8º, I
a V, da lei nº 9.605/1998122 são consideradas sanções restritivas de direito:
suspensão de registro, licença ou autorização; cancelamento de registro licença ou
autorização; cancelamento de registro, licença ou autorização; perda ou restrição de
incentivos e benefícios fiscais; perda ou suspensão da participação em linhas de

118
Art. 15-B do Decreto nº 6.514/2008: ‘’A cessação das penalidades de suspensão e embargo
dependerá de decisão da autoridade ambiental após a apresentação, por parte do autuado, de
documentação que regularize a obra ou atividade’’.
119
MILARÉ, Edis. op. cit, p. 386.
120
Art. 15- A do decreto nº 6.514/2008: ‘’O embargo de obra ou atividade restringe-se aos locais onde
efetivamente caracterizou-se a infração ambiental, não alcançando as demais atividades realizadas
em áreas não embargadas da propriedade ou posse ou não correlacionadas com a infração’’.
121
A sanção de demolição de obra poderá ser aplicada pela autoridade ambiental, após o
contraditório e ampla defesa, quando: I - verificada a construção de obra em área ambientalmente
protegida em desacordo com a legislação ambiental; ou II - quando a obra ou construção realizada
não atenda às condicionantes da legislação ambiental e não seja passível de regularização.
122
Art. 72, §8º da lei nº 9.605/1998: ‘’As sanções restritivas de direito são: I - suspensão de registro,
licença ou autorização; II - cancelamento de registro, licença ou autorização; III - perda ou restrição
de incentivos e benefícios fiscais; IV - perda ou suspensão da participação em linhas de
financiamento em estabelecimentos oficiais de crédito; V - proibição de contratar com a
Administração Pública, pelo período de até três anos’’.
41

financiamento em estabelecimentos oficiais de crédito; proibição de contratar com a


Administração Pública. Ressalta-se que essas restrições de direito podem ser
aplicadas tanto às pessoas físicas quanto às jurídicas, conforme estabelece o art. 20
do decreto nº 6.514/2008123.
Em suma, verifica-se, então, que responsabilidade administrativa ambiental
é aquela que está relacionada com a ocorrência de uma infração administrativa
ambiental e que se materializa através do poder de policial ambiental que, por sua
vez, opera através de diversos órgãos fiscalizatórios e sancionatórios.

2.3 Responsabilidade penal ambiental

A responsabilidade penal ambiental é aquela que será desencadeada por


uma conduta lesiva ao meio ambiente que se traduz em algum crime ou
contravenção ambiental. Ressalta-se que a base do ordenamento ambiental penal
assenta-se na lei nº 9.605/1998124.
Pode figurar como sujeito passivo dessa responsabilidade penal ambiental e,
consequentemente, como sujeito ativo do crime ambiental, tanto a pessoa jurídica
quanto a física, de acordo com o artigo 3º, caput125, e parágrafo único126 da lei nº
9.605/1998, que por sua vez está em consonância com o mandamento
constitucional do art. 225, §3º da CRFB/88127. Salienta-se que a responsabilidade
penal ambiental é subjetiva, sendo imprescindível a comprovação do elemento
subjetivo da conduta do agente, a saber, dolo ou culpa, para que haja a sua
configuração.128

123
Art. 20 do decreto nº 6.514/2008: ‘’As sanções restritivas de direito aplicáveis às pessoas físicas
ou jurídicas são: I - suspensão de registro, licença ou autorização; II - cancelamento de registro,
licença ou autorização; III - perda ou restrição de incentivos e benefícios fiscais; IV - perda ou
suspensão da participação em linhas de financiamento em estabelecimentos oficiais de crédito; e V -
proibição de contratar com a administração pública’’.
124
MILARÉ, Edis. op. cit, p. 461.
125
Art. 3º, caput, da lei nº 9.605/1998: ‘’As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa,
civil e penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida por
decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou
benefício da sua entidade’’.
126
Art. 3º, parágrafo único, da lei nº 9.605/1998: ‘’A responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui
a das pessoas físicas, autoras, co-autoras ou partícipes do mesmo fato’’.
127
Art. 225, §3º da CRFB/88: As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente
sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas,
independentemente da obrigação de reparar os danos causados.
128
THOMÉ, Romeu. op. cit, p. 622.
42

O referido caput do art. 3º denota, ainda, que dois são os requisitos129 para
que a pessoa jurídica possa ser responsabilizada penalmente na seara ambiental:
que a infração penal tenha sido cometida por decisão de seu representante legal ou
contratual ou de seu órgão colegiado e que a sua prática tenha sido no interesse ou
em beneficio da entidade.
Em relação à responsabilidade penal ambiental da pessoa jurídica, o
entendimento prevalecente, no Supremo Tribunal Federal130 é de que não há a
obrigatoriedade de dupla imputação obrigatória nos crimes ambientais no sentido de
que a responsabilização da pessoa física e jurídica pode ocorrer em separado:

RECURSO EXTRAORDINÁRIO. DIREITO PENAL. CRIME AMBIENTAL.


RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA.
CONDICIONAMENTO DA AÇÃO PENAL À IDENTIFICAÇÃO E À
PERSECUÇÃO CONCOMITANTE DA PESSOA FÍSICA QUE NÃO
ENCONTRA AMPARO NA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. 1. O art. 225,
§3º da Constituição Federal não condiciona a responsabilização penal da
pessoa jurídica por crimes ambientais à simultânea persecução penal da
pessoa física em tese responsável no âmbito da empresa. A norma
constitucional não impõe a necessária dupla imputação. 2. As organizações
corporativas complexas da atualidade se caracterizam pela
descentralização e distribuição de atribuições e responsabilidades, sendo
inerentes, a esta realidade, as dificuldades para imputar o fato ilícito a uma
pessoa concreta. 3. Condicionar a aplicação do art. 225, §3º da Carta
Política a uma concreta imputação também à pessoa física implica indevida
restrição da norma constitucional, expressa a intenção do constituinte
originário não apenas de ampliar o alcance das sanções penais, mas
também de evitar a impunidade pelos crimes ambientais frente às imensas
dificuldades de individualização dos responsáveis internamente às
corporações, além de reforçar a tutela do bem jurídico ambiental (...) (STF –
RE: 548181PR, Relator: Min. Rosa Weber, Data de Julgamento:
06/08/2013, Primeira Turma, Data de Publicação: Acórdão Eletrônico DJe-
213 Divulg- 29-10-2014 Public 30-10-2014)

O Superior Tribunal de Justiça131 também compreende que não é obrigatório


que a pessoa física seja punida com a pessoa jurídica, podendo esta ser
responsabilizada independente daquela:

PENAL E PROCESSUAL PENAL. RECURSO EM MANDADO DE


SEGURANÇA. RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA POR

129
Trata-se de requisitos cumulativos.
130
STF. RECURSO EXTRAORDINÁRIO. RE 548181 PR. Relator: Ministra Rosa Weber. DJ: 06 de
agosto de 2013. JusBrasil Disponível em:
<https://stf.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/25342675/recurso-extraordinario-re-548181-pr-stf>Acesso
em: 04 de out. 2019.
131
STJ. RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA. RMS 39.173/BA. Relator: Ministro Reynaldo
Soares da Fonseca. JusBrasil, DJ: 06 de agosto de 2015. Disponível em: <
https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/253f7b5d921338af34da817c00f427
53 > Acesso em: 04 de out. 2019.
43

CRIME AMBIENTAL: DESNECESSIDADE DE DUPLA IMPUTAÇÃO


CONCOMITANTE À PESSOA FÍSICA E À PESSOA JURÍDICA. 1.
Conforme orientação da 1ª Turma do STF, “O art. 225, § 3º, da Constituição
Federal não condiciona a responsabilização penal da pessoa jurídica por
crimes ambientais à simultânea persecução penal da pessoa física em tese
responsável no âmbito da empresa. A norma constitucional não impõe a
necessária dupla imputação.” (RE 548181, Relatora Min. ROSA WEBER,
Primeira Turma, julgado em 6/8/2013, acórdão eletrônico DJe-213, divulg.
29/10/2014, public. 30/10/2014). 2. Tem-se, assim, que é possível a
responsabilização penal da pessoa jurídica por delitos ambientais
independentemente da responsabilização concomitante da pessoa
física que agia em seu nome. Precedentes desta Corte. 3. A
personalidade fictícia atribuída à pessoa jurídica não pode servir de
artifício para a prática de condutas espúrias por parte das pessoas
naturais responsáveis pela sua condução. 4. Recurso ordinário a que se
nega provimento. (RMS 39.173/BA, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA
FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 06/08/2015, DJe 13/08/2015).
(grifo nosso)

Apesar de o entendimento majoritário ser no sentido de que a pessoa


jurídica pode ser responsabilidade penalmente, há autores que sustentam a
impossibilidade, a exemplo de Rogério Greco que, inclusive, referencia Zaffaroni132:

A pessoa jurídica não comete crime. Quem os pratica são os seus sócios,
diretores etc. Nunca ela própria, pois societas delinquere non potest. Esse
também é o entendimento de Zaffaroni, quando diz: Não se pode falar de
uma vontade, em sentido psicológico no ato de uma pessoa jurídica, o que
exclui qualquer possibilidade de admitir a existência de uma conduta
humana. A pessoa jurídica não pode ser autora de delito, porque não tem
capacidade de conduta humana no sentido ôntico-ontológico da mesma.

Como explicitado acima, a responsabilização penal ambiental será


desencadeada pela ocorrência de crimes ou contravenções ambientais. Os
principais tipos penais ambientais estão previstos no capítulo V da lei nº 9.605/1998:
Crimes contra a Fauna (seção I – Art. 39 até 37), Crimes contra a flora (Seção II –
Art. 38 até 53), Poluição e outros crimes ambientais (Seção III – Art. 54 até 61),
Crimes contra o ordenamento urbano e o patrimônio cultural (Seção IV – art. 62 até
65), Crimes contra a administração ambiental (Seção V – art. 66 até 69-A).
A ocorrência desses tipos penais darão ensejo às penalidades na seara penal
ambiental, que serão abordadas no item a seguir.

132
GRECO, Rogério. Curso de direito penal – parte geral. Rio de Janeiro: Impetus, 2016. p. 276
44

2.3.1 Repressões às infrações penais ambientais

As repressões às infrações penais ambientais serão diferentes na hipótese


de incidência sobre a pessoa física ou jurídica. As penas aplicáveis às pessoas
físicas são: pena privativa de liberdade, pena restritiva de direitos e multa133.
As penas privativas de liberdade podem ser de reclusão e detenção para os
crimes ambientais e prisão simples para as contravenções ambientais. Apesar dessa
previsibilidade de pena privativa de liberdade, a maioria das infrações penais
ambientais, pela quantidade de pena cominada no preceito secundário do tipo,
admite a aplicação de institutos despenalizadores, tal como a transação penal134, a
suspensão do processo135 e suspensão condicional da pena136137.
As penas restritivas de direito, por sua vez, são consideradas autônomas e
substituirão as privativas de liberdade nas três situações abarcadas pelo art. 7º,
incisos I e II da lei nº 9.605/98: quando o crime for culposo ou; for aplicada pena
privativa de liberdade inferior a quatro anos ou; a culpabilidade, os antecedentes, a
conduta social e a personalidade do condenado, bem como os motivos e as
circunstâncias do crime indicarem que a substituição seja suficiente para efeitos de
reprovação. Milaré138 esclarece que na responsabilização penal ambiental

133
MILARÉ, Edis. op. cit, p. 477.
134
A transação penal é possível na seara ambiental, conforme estabelece o art. 27 da lei nº 9.605/98:
‘’Nos crimes ambientais de menor potencial ofensivo, a proposta de aplicação imediata de pena
restritiva de direitos ou multa, prevista no art. 76 da Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995,
somente poderá ser formulada desde que tenha havido a prévia composição do dano ambiental, de
que trata o art. 74 da mesma lei, salvo em caso de comprovada impossibilidade’'.
135
A suspensão condicional do processo que verse sobre matéria ambiental está prevista no art. 28
da lei nº 9.605/98 e em seus respectivos incisos: ‘’(...) As disposições do art. 89 da Lei nº 9.099, de 26
de setembro de 1995, aplicam-se aos crimes de menor potencial ofensivo definidos nesta Lei, com as
seguintes modificações: I - a declaração de extinção de punibilidade, de que trata o § 5° do artigo
referido no caput, dependerá de laudo de constatação de reparação do dano ambiental, ressalvada a
impossibilidade prevista no inciso I do § 1° do mesmo artigo; II - na hipótese de o laudo de
constatação comprovar não ter sido completa a reparação, o prazo de suspensão do processo será
prorrogado, até o período máximo previsto no artigo referido no caput, acrescido de mais um ano,
com suspensão do prazo da prescrição; III - no período de prorrogação, não se aplicarão as
condições dos incisos II, III e IV do § 1° do artigo mencionado no caput; IV - findo o prazo de
prorrogação, proceder-se-á à lavratura de novo laudo de constatação de reparação do dano
ambiental, podendo, conforme seu resultado, ser novamente prorrogado o período de suspensão, até
o máximo previsto no inciso II deste artigo, observado o disposto no inciso III; V - esgotado o prazo
máximo de prorrogação, a declaração de extinção de punibilidade dependerá de laudo de
constatação que comprove ter o acusado tomado as providências necessárias à reparação integral
do dano’’.
136
A suspensão condicional da pena ambiental está materializada no art. 16 da lei nº 9.605/98: “(...)
Nos crimes previstos nesta Lei, a suspensão condicional da pena pode ser aplicada nos casos de
condenação a pena privativa de liberdade não superior a três anos.
137
MILARÉ, Edis. op. cit, p. 477.
138
MILARÉ, Edis.. op. cit, p. 478.
45

as penas alternativas passaram a constituir a regra, ficando reservadas as


penas privativas de liberdade para casos excepcionais. Com efeito, aplicada
que seja a pena máxima estabelecida para o crime, apenas os tipos
descritos nos arts. 35, 40, 54, §§2º e 3º, e 56, §2º, da lei nº 9.605/1998, não
admitem a substituição da pena de prisão pela restritiva de direitos.

São consideradas penas restritivas de direitos, conforme denota o art. 8º da


lei nº 9.605/1998139 as seguintes: prestação de serviços à comunidade, interdição
temporária de direitos, suspensão parcial ou total de atividades, prestação
pecuniária e recolhimento domiciliar.
A pena de multa, enquanto terceira espécie de pena aplicada às pessoas
físicas será calculada segundo os critérios do Código Penal e caso se revele
ineficaz, ainda que aplicada em seu valor máximo, poderá ser aumentada até três
vezes, tendo em vista o valor da vantagem econômica auferida, nos termos do art.
18 da lei nº 9.605/1998140.
Em relação às pessoas jurídicas, incidirão as seguintes penas: multa,
restritiva de direitos e prestação de serviços à comunidade, nos termos do art. 21 da
lei nº 9.605/1998141. A pena de multa cominada à pessoa jurídica não possui
regramento próprio da legislação ambiental, aplicando-se, portanto, o regramento
previsto para as multas das pessoas físicas142. As penas restritivas de direito,
conforme dispõe o art. 22 da lei nº 9.605/1998 são as seguintes143: Suspensão
parcial ou total de atividades; interdição temporária de estabelecimento, obra ou
atividade; proibição de contratar com o poder público; e prestação de serviços à
comunidade.
Em que pese a lei nº 9.605/1998 tenha estabelecido a prestação de serviços
à comunidade como uma pena aplicável às pessoas jurídicas, de forma autônoma, o
entendimento prevalecente é que se trata de uma espécie do gênero restritiva de

139
Art. 8º da lei nº 9.605/1998: ‘’As penas restritivas de direito são: I - prestação de serviços à
comunidade; II - interdição temporária de direitos; III - suspensão parcial ou total de atividades; IV -
prestação pecuniária; V - recolhimento domiciliar’’.
140
Art. 18 da lei nº 9.605/1998: ‘’A multa será calculada segundo os critérios do Código Penal; se
revelar-se ineficaz, ainda que aplicada no valor máximo, poderá ser aumentada até três vezes, tendo
em vista o valor da vantagem econômica auferida’’.
141
Art. 21, I, II, III e IV da lei nº 9.605/1998: ‘’As penas aplicáveis isolada, cumulativa ou
alternativamente às pessoas jurídicas, de acordo com o disposto no art. 3º, são: I - multa; II -
restritivas de direitos; III - prestação de serviços à comunidade’’.
142
MILARÉ, Edis. op. cit. p. 480.
143
Art. 22, I, II e III da lei nº 9.605/1998:’’ As penas restritivas de direitos da pessoa jurídica são: I -
suspensão parcial ou total de atividades; II - interdição temporária de estabelecimento, obra ou
atividade; III - proibição de contratar com o Poder Público, bem como dele obter subsídios,
subvenções ou doações’’.
46

direitos144. A prestação de serviços à comunidade, conforme estabelece o art. 23 da


lei nº 9.605/1998145, consistirá em: custeio de programas e de projetos ambientais;
execução de obras de recuperação de áreas degradadas; manutenção de espaços
públicos; e contribuições a entidades ambientais ou culturais públicas.
As considerações, acima, acerca dos aspectos principais da teoria geral das
responsabilizações por danos ambientais são importantes, principalmente, quando
da análise de casos concretos, a exemplo do que será abordado no capítulo a
seguir.

3. Uma análise do caso Samarco

Em 2015, o Estado de Minas gerais foi palco do maior desastre ambiental do


país. A barragem de Fundão, de propriedade da mineradora Samarco, localizada na
cidade de Mariana/MG, se rompeu causando danos ambientais que não se
restringiram apenas ao estado mineiro.
A análise desse desastre perpassa por dois recortes temporais que serão
abordados nos itens a seguir. O primeiro refere-se ao período que antecedeu ao
rompimento, indo desde o desenvolvimento inicial da referida cidade até o dia 05 de
novembro de 2015146. Essa digressão história é imprescindível não só para
compreender o papel da mineração em Mariana/MG e o período em que a Samarco
começou a desenvolver as suas atividades na localidade, até o dia do desastre, mas
também, para o entendimento do caso em si.
O segundo recorte temporal, abarcará o período de 05 de novembro de 2015
até o fechamento deste trabalho, para que haja a análise do caso propriamente dito,
e das consequências socioambientais e culturais decorrentes do rompimento,
havendo uma contextualização do mesmo. Essa ambientação é importante para a o
entendimento das responsabilizações aplicadas à Samarco que, por sua vez, serão
tratadas no capítulo 4.

144
MILARÉ, Édis. op. cit, p. 480.
145
Art. 23 da lei nº 9.605/1998: A prestação de serviços à comunidade pela pessoa jurídica consistirá
em: I - custeio de programas e de projetos ambientais; II - execução de obras de recuperação de
áreas degradadas;
III - manutenção de espaços públicos; IV - contribuições a entidades ambientais ou culturais públicas.
146
Data correspondente ao rompimento da barragem de fundão.
47

3.1 Do ouro ao minério de ferro

Não há pretensão de se realizar nesse item um estudo histórico sobre os


ciclos da mineração, mas tão somente introduzir a temática para se evidenciar a
importância desse segmento no processo econômico mineiro.
A formação da cidade de Mariana/MG se confunde com o desenvolvimento da
atividade minerária do período colonial brasileiro147. A mineração iniciou-se no Brasil
por volta de 1696, quando foram feitas as primeiras descobertas de ouro e diamante
no centro do que hoje constitui o Estado de Minas gerais, por intermédio das
expedições intituladas de bandeiras148.
A cidade de Mariana, que inicialmente recebeu o nome de vila de Ribeirão do
Carmo, foi a primeira das cidades surgidas em virtude dessas expedições de
bandeirantes paulistas, no final do século XVII149. Sendo que somente em 1745 a
vila foi alçada ao status de cidade, recebendo o nome de Mariana em homenagem a
rainha de Portugal, Dona Maria Ana d’austria150.
Nesse período, a metrópole possuía uma politica econômica restritiva na
medida em que impedia a produção de qualquer gênero que não interessasse
diretamente à coroa portuguesa ou que fizesse concorrência a sua produção no
Brasil. A exploração de jazidas de ferro, nessa época, era inimaginável justamente
por não convir a Portugal, tendo em vista que o ferro era uma das mercadorias mais
rentáveis que o país luso negociava na colônia.151
As primeiras descobertas de minério de ferro no Brasil relacionam-se,
justamente, com o período após a decadência aurífera152, em virtude dessa restrição
portuguesa. As explorações dessa espécie minerária, só se iniciarão no período do
império153 quando a política econômica do então Brasil independente começa a se

147
Período que vai de 1500 até 1822. Nesse sentido, ver: FAUSTO, Boris. História Concisa do
Brasil. São Paulo: Edusp, 2009. p. 09.
148
JÚNIOR, Caio Prado. História Econômica do Brasil. Capítulo III. São Paulo: Brasiliense, 1993. p.
57.
149
IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Enciclopédia dos municípios brasileiros.v.36.
Rio de Janeiro: IBGE, 1958, p. 46. Disponível em: <
https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv27295_26.pdf > Acesso em: 21 de out. 2019.
150
RESENDE, Marcelo. O Estado Mineiro. Mariana.org.br, 2015. Disponível em: <
https://mariana.org.br/Historia/viagem/fatos-historicos > Acesso em: 21 de out. 2019.
151
JÚNIOR, Caio Prado. História econômica do Brasil. Capítulo III. São Paulo: Brasiliense, 1993. p.
54.
152
O período do apogeu do ouro situou-se entre 1733 e 1748, começando a partir daí o declínio:
FAUSTO, Boris. op. cit, p. 56.
153
Também chamado de período do brasil monárquico, compreende o interregno de 1822 até 1889:
FAUSTO, Boris. op. cit, p. 77.
48

modificar154.
A independência do Brasil não trouxe em seu bojo um corte abrupto e
imediato com a metrópole e com as práticas econômicas constantes naquele
período. Com a transferência da família real portuguesa para o Brasil e a abertura
dos portos brasileiros ao comércio exterior foram importantes para consolidar não só
a independência brasileira, mas também, a mudança da diretriz econômica
escravocrata que vigorava155. Araújo e Fernandes156 esclarecem que nesse período

(...) as minas foram abertas à iniciativa privada, atraindo, sobretudo, os


ingleses, mas também belgas e franceses, para extração de ferro e de ouro,
reativando minas anteriormente exploradas e abandonadas por falta de
tecnologia. Foram utilizadas inovações, novas tecnologias avançadas para
a época, como perfuratrizes pneumáticas, dinamite, escavações
subterrâneas, trilhos, pilões para moer o minério e liberar o ouro,
iluminação, máquina a vapor. Porém, tanto as minas de ouro como as de
ferro entraram em declínio e quase todas fecharam, devido a problemas
como drenagem de túneis, infiltração de água, dureza das rochas em
profundidade e graves acidentes de trabalho.

Mesmo com a modificação econômica imperial foi somente na República157


em que foram identificadas abundantes reservas de minério de ferro no quadrilátero
ferrífero. Essa identificação, que ocorreu precisamente na primeira República158, deu
ensejo para que 15 (quinze) companhias se instalassem nos primeiros anos de 1900
na localidade159.
A primeira metade do século XX, por sua vez, é marcada pelo início da
consolidação da base legal da mineração brasileira, que se deu pela ocorrência de
três marcos: a definição do bem mineral como propriedade da nação, em 1930, a
criação do departamento nacional de produção mineral, em 1934 160 e o código de

154
FERNANDES, F.R.C., ARAUJO, E.R., Mineração no Brasil: Crescimento econômico e conflitos
ambientais. In: Conflitos ambientais na indústria minerária e metalúrgica. Rio de Janeiro:
CETEM/ CICP, 2016. p. 69-70. Disponível em: <
http://mineralis.cetem.gov.br/bitstream/cetem/1909/1/conflitos_ambientais_cap.2%20p65.pdf >
Acesso em: 21 de out. 2019.
155
FAUSTO, Boris. op. cit. p. 66.
156
FERNANDES, F.R.C., ARAUJO, E.R.. op. cit. p. 71. Disponível em:
<http://mineralis.cetem.gov.br/bitstream/cetem/1909/1/conflitos_ambientais_cap.2%20p65.pdf>
Acesso em: 21 de out.2019.
157
Período que compreende os anos de 1889 até 1964: FAUSTO, Boris. op. cit, p. 138.
158
Abarca os anos de 1889 até 1930: FAUSTO, Boris. op. cit, p. 139.
159
FERNANDES, F.R.C., ARAUJO, loc.cit. Disponível em:
<http://mineralis.cetem.gov.br/bitstream/cetem/1909/1/conflitos_ambientais_cap.2%20p65.pdf>
Acesso em: 21 de out.2019.
160
PASSOS, Flora Lopes; COELHO, Polyana; DIAS, Adelaide. (Des) territórios da mineração:
planejamento territorial a partir do rompimento em Mariana,MG. Cad. Metrop. [online]. 2017,
vol.19, n.38, p. 272. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/cm/v19n38/2236-9996-cm-19-38-
0269.pdf > Acesso em: 21 de out. 2019.
49

minas assinado 4 (quatro) meses depois da criação do referido departamento161.


De 1934 até 1945, período que compreende a segunda guerra mundial, a
produção de minério de ferro brasileiro assumiu proporções de escala mundial à
medida que supriu a necessidade de matéria prima de alguns dos países que
estavam em guerra. Em troca de abastecer as aciarias162 dos países aliados, o
Brasil obteve apoio financeiro para abrir uma mina na bacia do Rio doce e construir
uma indústria siderurgia integrada163. Dessa troca de interesses nasciam em 1942 a
Companhia Siderúrgica Nacional e a Companhia do Vale do Rio Doce, durante o
término do chamado estado getulista, aliadas a uma politica mais agressiva na área
da exploração mineral164.
Os próximos anos às supracitadas criações foram marcados por
investimentos de recursos por parte do Estado brasileiro no setor minerário,
destacando- se, nesse período, a criação do Ministério de Minas e energia em 1960
e a publicação do Código de Mineração em 1967165. Dez anos após a publicação do
supracitado código, a mineradora Samarco Mineração S.A foi fundada166 e passou a
operar na cidade que foi fruto das atividades exploratórias dos bandeirantes e berço
da mineração no Brasil167, mais precisamente no subdistrito de Bento Rodrigues168.
Essa mineradora, que atua no mercado sob a forma de Joint Venture169,
possuía em um primeiro momento, além da unidade industrial em Bento Rodrigues,

161
SILVA, Olintho Pereira da. A mineração em Minas Gerais: Passado, presente e futuro. Belo
horizonte: Geonomos, 1995. v.3, n.1, p. 79. Disponível em: <
https://periodicos.ufmg.br/index.php/revistageonomos/article/view/11523 > Acesso em: 21 de out.
2019.
162
Aciarias é uma unidade de uma usina siderúrgica onde existem máquinas e equipamentos
voltados para o processo de transformar o ferro gusa em diferentes tipos de aço.
163
PASSOS, Flora Lopes; COELHO, Polyana; DIAS, Adelaide. op. cit. p. 272. Disponível em: <
http://www.scielo.br/pdf/cm/v19n38/2236-9996-cm-19-38-0269.pdf > Acesso em: 21 de out. 2019.
164
BREU, Alzira Alves de. Itabira Iron Company. Rio de Janeiro: FGV – Centro de pesquisa e
Documentação de História Contemporânea do Brasil, 2009. Disponível em: <
http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-tematico/itabira-iron-ore-company > Acesso em:
21. Out. 2019.
165
PASSOS, Flora Lopes; COELHO, Polyana; DIAS, Adelaide. op.cit. p. 272. Disponível em: <
http://www.scielo.br/pdf/cm/v19n38/2236-9996-cm-19-38-0269.pdf > Acesso em: 21 de out. 2019.
166
SOBRE a Samarco, Samarco. Disponível em: < https://www.samarco.com/a-samarco/ > Acesso
em: 21de out. 2019.
167
PASSOS, Flora Lopes; COELHO, Polyana; DIAS, Adelaide. op. cit. p. 278. Disponível em: <
http://www.scielo.br/pdf/cm/v19n38/2236-9996-cm-19-38-0269.pdf > Acesso em: 21 de out. 2019.
168
Subdistrito de Santa Rita Durão que, por sua vez, é um distrito da cidade de Mariana/MG.
169
Joint venture trata-se de uma modalidade de cooperação entre sociedades empresárias com a
finalidade de exercício de uma atividade econômica independente e com intuito lucrativo: RAMOS,
André Luiz Santa Cruz. Direito empresarial. São Paulo: Método, 2015. p. 390. A Samarco
representa uma cooperação entre a Vale e BHP billiton Brasil.
50

a unidade de Ubu, no município de Anchieta, no Espírito Santo170. O complexo


industrial de Bento Rodrigues, destaca-se que, inicialmente, era composto por

Duas minas (Germano e Alegria), duas barragens de rejeito (Fundão e


Germano), uma barragem de Contenção (Santarém) e a usina de
concentração de minério (...).E o produto do complexo industrial (polpa de
minério de ferro) era enviado através de três minerodutos para a unidade
171
Ponta de Ubu, Anchieta-ES.

Dentre essas duas barragens que serviam para estocar os rejeitos resultantes
do processo de extração e beneficiamento do minério de ferro da unidade de
Germano, a mais nova era a de Fundão, inaugurada em 2008, e com estocagem de
55 milhões de m3172. A figura 1, a seguir, demonstra as referidas barragens.

Figura 1 - Disposição topográfica do antigo complexo minerário de Bento Rodrigues

173
Fonte: Google Earth (2013)

A barragem do fundão, cuja criação em 2008 foi motivada pelo acelerado


processo de expansão da mineradora em detrimento da quase saturação do
reservatório de Germano174, apresentou ao longo desses sete anos sinais de que o

170
PASSOS, Flora Lopes; COELHO, Polyana; DIAS, Adelaide. op. cit. p. 278-279. Disponível em: <
http://www.scielo.br/pdf/cm/v19n38/2236-9996-cm-19-38-0269.pdf > Acesso em: 21 de out. 2019.
171
PASSOS, Flora Lopes; COELHO, Polyana; DIAS, Adelaide. op. cit. p. 279. Disponível em: <
http://www.scielo.br/pdf/cm/v19n38/2236-9996-cm-19-38-0269.pdf > Acesso em: 21 de out. 2019.
172
ROMPIMENTO de Fundão, Samarco. Disponível em: < https://www.samarco.com/barragens/ >
Acesso em: 21 de out. 2019.
173
PASSOS, Flora Lopes; COELHO, Polyana; DIAS, Adelaide. op. cit. p. 278. Disponível em: <
http://www.scielo.br/pdf/cm/v19n38/2236-9996-cm-19-38-0269.pdf > Acesso em: 21 de out. 2019.
174
MPF, Ministério Público Federal. Documentos – Caso Samarco. Brasília: MPF. 2019, p. 65.
Disponível em: < http://www.mpf.mp.br/mg/sala-de-imprensa/docs/denuncia-samarco > Acesso em:
21 de out. 2019.
51

desastre era uma tragédia anunciada175, até que no ano de 2015, entrou em
colapso, rompendo-se.

3.2 Do minério de ferro à lama

Em 05 de novembro de 2015, por volta das 15h30min, a barragem do fundão


se rompeu, ocasionando o extravasamento imediato de cerca de 40 milhões de
metros cúbicos de rejeitos de minério de ferro e silícia, enquanto que outros 16
milhões de metros cúbicos de rejeitos continuaram escoando lentamente176,
trazendo consigo um rastro de destruição que não se restringiu às áreas ambientais
periféricas da barragem e à população jusante, mas também às diversas cidades do
Estado capixaba, conforme será explicitado no item abaixo.

3.2.1 Os impactos da lama

A lama da Samarco, cerca de 15 (quinze) minutos depois de permear pela


barragem do fundão, atingiu o subdistrito de Bento Rodrigues, tendo grande parte de
sua estrutura urbana destruída assim como ocorreu em Paracatu de baixo e
Gesteira 177. Os rejeitos vitimaram 19 pessoas, levando-as a óbito178, além de mudar
de forma abrupta o modo de vida dessas localidades e de outras adjacentes, que
não tiveram a estrutura da comunidade destruída por completo, mas sentiram o
impacto direto da lama, como Pedras e Bicas, Paracatu de Cima e Borbas 179. A
figura 2 exemplifica a destruição de Bento Rodrigues.

175
Acerca do iminente rompimento, ver os dados técnicos apresentados pelo Ministério Público
Federal na Ação Penal proposta em face, também, da Samarco, item 3.1 : MPF, Ministério Público
Federal. Op. cit. p. 60-190. Disponível em: < http://www.mpf.mp.br/mg/sala-de-
imprensa/docs/denuncia-samarco > Acesso em: 21 de out. 2019.
176
MPF, Ministério Público Federal. O desastre. Brasília, 2015. Disponível em: <
http://www.mpf.mp.br/grandes-casos/caso-samarco/o-desastre > Acesso em: 21 de out. 2019.
177
FELIPPE, Miguel Fernando; COSTA, Alfredo; FRANCO, Roberto; MATOS, Ralfo. A tragédia do
Rio Doce: A lama, O povo e a Água. Belo Horizonte. 2016, p.5.
178
MILANEZ, Bruno; LOSEKANN, Cristiana (org.). Desastre no Vale do Rio Doce: antecedentes,
impactos e ações sobre a destruição. Capítulo 03. Rio de Janeiro: Folio digital. Letra e Imagem,
2016, p. 154. Disponível em: < http://www.global.org.br/wp-content/uploads/2017/02/Milanez-2016-
Desastre-no-Vale-do-Rio-Doce-Web.pdf > Acesso em: 24 de out. 2019.
179
ROMPÍMENTO de barragem da Samarco, em Mariana, completa um mês. G1 – Minas Gerais, 15
de dez. 2015. Disponível em: < http://especiais.g1.globo.com/minas-gerais/2015/desastre-ambiental-
em-mariana/1-mes-em-numeros/ > Acesso em: 24 de out. 2019.
52

Figura 2 - A força da lama no subdistrito de Bento Rodrigues

180
Fonte: SIMON (2015)

Os rejeitos minerários também alcançaram patrimônios históricos de Minas


Gerais ao atingirem as capelas de São Bento, em Bento Rodrigues, as de são
Vicente e Santo Antônio, em Paracatu de Baixo, e a de nossa senhora da Conceição
no distrito de Gesteira, em Barra longa, todas do século XVIII, além de cinco
cavernas, uma mina de ouro tricentenária e ruínas de uma fazenda do período
colonial. Foram destruídos, também, 2,2 quilômetros do eixo do Caminho dos
diamantes da Estrada Real181.
Acerca dos impactos ambientais, destaca-se a infertilidade dos locais por
onde os minérios se assentaram, tendo em vista a ausência de matéria orgânica
desse material e a potencialidade de desestruturar quimicamente o PH do solo 182.A
avalanche também ocasionou a devastação de matas ciliares, pelo soterramento ou

180
Imagem disponível em: < http://g1.globo.com/minas-gerais/desastre-ambiental-em-
mariana/noticia/2016/02/policia-consegue-mais-prazo-para-entrega-de-inquerito-sobre-mariana.html >
Acesso em: 24 de out. 2019.
181
MP diz que estragos ao patrimônio de Mariana e região superaram estimado. G1- Minas Gerais,
21 de jan. 2016. Disponível em: < http://g1.globo.com/minas-gerais/desastre-ambiental-em-
mariana/noticia/2016/01/dados-do-mp-mostram-que-mar-de-lama-causou-muito-mais-estrago.html >
Acesso em: 24 de out. 2019.
182
O solo de alguns locais atingidos pela lama estão contaminados com metais pesados, sendo
considerados como locais de Perigo categoria A. Ou seja, locais em que há perigo para a saúde da
população exposta aos contaminantes por meio da ingestão, inalação ou absorção dérmica das
partículas contaminadas: SOLO e poeira atingidas pela lama da Samarco estão contaminados com
metais pesados, diz estudo. G1 Minas Gerais. Belo horizonte: 07 de nov. 2019. Disponível em: <
https://g1.globo.com/mg/minas-gerais/noticia/2019/11/07/estudo-feito-em-mariana-e-barra-longa-
atingidas-pela-lama-da-samarco-aponta-perigo-urgente-para-a-saude-publica.ghtml > Acesso em: 15
de nov. 2019.
53

arrancamento de indivíduos arbóreos183, principalmente em áreas da mata


atlântica184.
Até a Usina Hidrelétrica Risoleta Neves, conhecida como Candonga, que
se localiza a cerca de 114 quilômetros de distância de Bento Rodrigues, a lama, por
onde passou, ocasionou a remoção de vegetais. Mas a absorção do impacto da
avalanche de lama pela usina, fez com que, a partir de então, os rejeitos se
restringissem aos leitos dos rios. Neste trecho, foram poluídos 12 km do rio Doce,
28km do rio Carmo e 69km do Rio Gualaxo do Norte, além de 3km do Córrego de
Santarém e 2km do afluente do Córrego Santarém 185. Os rejeitos minerários
asfixiaram a vida marinha desses corpos d’agua, ao contaminá-los e ocasionar a
mortandade de espécimes em toda a cadeia trófica186.
A lama seguiu o curso do rio doce, perpassando, consequentemente, por
diversos municípios capixabas e ocasionando o rompimento do abastecimento de
água de alguns deles que utilizavam o rio Doce para esse fim, como por exemplo,
Colatina. Até que, em 21 de novembro de 2015, os rejeitos, após passarem pelo
trecho do rio Doce no distrito de Regência, em Linhares/ES, desembocaram no
oceano Atlântico187, atingindo, inclusive, os corais do Parque Nacional de Abrolhos,
na Bahia188.
Ao todo 4(quatro) cidades do Espírito Santo foram atingidas: Aracruz, São
Mateus, Linhares e Serra. Totalizando 19 (dezenove) áreas impactadas dessas

183
IBAMA, Instituo Brasileiro do meio ambiente e dos Recursos naturais renováveis. Laudo técnico
preliminar, 2015, p. 10-11. Disponível em: <
http://www.ibama.gov.br/phocadownload/barragemdefundao/laudos/laudo_tecnico_preliminar_Ibama.
pdf > Acesso em: 24 de out. 2019.
184
VALE, João Henrique do. Lama de rejeitos da barragem de Fundão destruiu 324 hectares de Mata
Atlântica. Jornal do Estado de Minas Gerais. 11 de dez. 2015. Disponível em: <
https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2015/12/11/interna_gerais,716424/lama-de-rejeitos-da-
barragem-de-fundao-destruiu-324-hectares-de-mata-atlantica.shtml > Acesso em: 24 de out. 2019.
185
VALE, João Henrique do. Lama de rejeitos da barragem de Fundão destruiu 324 hectares de Mata
Atlântica. Jornal do Estado de Minas Gerais. 11 de dez. 2015. Disponível em: <
https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2015/12/11/interna_gerais,716424/lama-de-rejeitos-da-
barragem-de-fundao-destruiu-324-hectares-de-mata-atlantica.shtml > Acesso em: 24 de out. 2019.
186
Sobre as demais consequências ambientais relacionadas aos corpos d’agua, ver: IBAMA, Instituo
Brasileiro do meio ambiente e dos Recursos naturais renováveis. op. cit, p. 14. Disponível em: <
http://www.ibama.gov.br/phocadownload/barragemdefundao/laudos/laudo_tecnico_preliminar_Ibama.
pdf > Acesso em: 24 de out. 2019.
187
BORGES, Juliana. Lama de barragem da Samarco chega ao mar no ES. G1 – Espírito Santo. 21
de nov. 2015. Disponível em: < http://g1.globo.com/espirito-santo/noticia/2015/11/lama-de-barragem-
da-samarco-chega-ao-mar-no-es.html > Acesso em: 24 de out. 2019.
188
UERJ, Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Pesquisa realizada na UERJ comprova que
resíduos da Samarco afetaram Abrolhos. Rio de Janeiro: 19 de fev. 2019. Disponível em: <
https://www.uerj.br/noticia/pesquisa-da-uerj-comprova-contaminacao-de-abrolhos-por-residuos-da-
samarco/ > Acesso em : 24 de out. 2019.
54

cidades: Urussuquara, Campo Grande, Barra Nova Sil, Barra Nova Norte, Nativo
fazenda Ponta, São Miguel, Gameleira (áreas atingidas da cidade de São Mateus),
ferrugem, pontal do Ipiranga e barra seca (áreas atingidas da cidade de Linhares),
Portal de Santa Cruz, Itaparica, Santa Cruz, Mar Azul, Vila do Riacho, Barra do
Sahy, Barra do Riacho (áreas atingidas da cidade de Aracruz), Nova Almeida (área
atingida da cidade de Serra).
Ressaltando-se, ainda, que foram impactadas a reserva biológica de
Comboios (Municípios de Linhares e Aracruz), a Reserva da Vida Silvestre de Santa
Cruz (Município de Aracruz) e a Área de proteção ambiental Costa das Algas
(Municípios de Aracruz e Serra)189. A figura 3, abaixo, demonstra o caminho que a
lama da Samarco percorreu até o oceano atlântico.

Figura 3 – O caminho da lama: de Bento Rodrigues ao Oceano Atlântico

190
Fonte: SOARES (2015) .

Os referidos danos ambientais deram azo ao desencadeamento das


responsabilizações da Samarco, que serão abordadas no capítulo 4, a seguir.

189
ALVES, Brunela. 19 áreas do ES entram na lista de atingidas pela Samarco. G1- Espírito Santo.
01 de abr. 2017. Disponível em: < https://g1.globo.com/espirito-santo/desastre-ambiental-no-rio-
doce/noticia/19-areas-do-es-entram-na-lista-das-atingidas-pela-samarco.ghtml > Acesso em: 24 de
out. 2019.
190
Disponível em: <https://www.todamateria.com.br/desastre-de-mariana/ > Acesso em: 24 de out.
2019.
55

4. As responsabilizações aplicadas à Samarco

O presente capítulo não possui como escopo o exaurimento da temática das


responsabilizações da Samarco, até porque não se trata de um tema que já se
exauriu, pelo contrario, está em desenvolvimento, na seara judicial e administrativa.
Mas visa elucidar os pontos principais das responsabilizações que foram aplicadas à
referida mineradora, ou que estão em processo de aplicação, até o momento, tendo
como substrato a teoria geral da responsabilidade por danos ambientais, tratada no
capitulo 2.
Antes de adentrar em cada uma das esferas de responsabilidade é importante
pontuar que elas foram desencadeadas por um desastre tecnológico, eis que, o caso
Samarco resultou de uma ação antrópica do homem e não da natureza 191, podendo
ser conceituado como ‘’um desastre atribuído em parte ou no todo a uma intenção
humana, erro, negligência ou envolvendo uma falha de um sistema humano,
resultando em danos (ou ferimentos) significativos ou morte’’192.

4.1 A materialização da responsabilidade civil ambiental

A responsabilidade civil ambiental no caso Samarco se manifestou tanto no


âmbito individual quanto no coletivo, tendo em vista que os danos ambientais não se
restringiram à esfera pessoal de particulares.
As ponderações a seguir remetem-se à responsabilidade civil ambiental, no
âmbito coletivo, tendo em vista que as especificidades e as particularidades da
responsabilidade civil ambiental, de caráter individual, que se traduz em mais de
cinquenta mil ações individuais em face da Samarco193, tornaria o trabalho
demasiadamente extenso.

191
CÂMARA, Andreza Aparecida Franco Câmara; TERRA, Alessandra Dale Giacomin; MIRANDA,
Napoleão. A insegurança hídrica no município de Governador Valadares (MG) decorrente do
desastre tecnológico de Mariana (MG). Disponível em: <
http://www.evento.abant.org.br/rba/31RBA/files/1541464568_ARQUIVO_ABA.InsegurancaHidrica.fina
l.pdf > Acesso em: 24 de nov. 2019.
192
ZHOURI, Andréa, apud CÂMARA, Andreza Aparecida Franco Câmara; TERRA, Alessandra Dale
Giacomin; MIRANDA, Napoleão. op cit. Disponível em: <
http://www.evento.abant.org.br/rba/31RBA/files/1541464568_ARQUIVO_ABA.InsegurancaHidrica.fina
l.pdf > Acesso em: 03 de nov. 2019.
193
PARREIRAS, Matheus. Destino de 50 mil ações contra a Samarco pode sair na segunda-feira (6).
Jornal Estado de Minas Gerais. 03 de mai. 2019. Disponível em: <
https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2019/05/03/interna_gerais,1050913/destino-de-50-mil-
acoes- contra-samarco-pode-sair-na-segunda-feira-6.shtml > Acesso em: 03 de nov. 2019.
56

Salienta-se que a responsabilidade civil ambiental se materializou, no caso


em tela, basicamente por dois instrumentos de tutela coletiva ambiental, que serão
objetos dos itens abaixo: a ACP (ação civil pública) e o TAC (termo de ajustamento
de conduta).

4.1.1 Ação Civil Pública

A ação civil pública trata-se de uma ação coletiva que tutela interesses
transindividuais194. Os direitos transindividuais são aqueles que não pertencem a
determinado individuo de forma isolada, podendo ser classificados em direito difuso,
coletivo ou individual homogêneo195. Esses direitos, não se confundem, conforme
explicita Milaré196:

É difuso o direito transindividual, de natureza indivisível, de que sejam


titulares pessoas indeterminadas, ligadas entre si por circunstâncias de fato:
como habilitar na mesma região, consumir iguais produtos, expor-se aos
efeitos de um determinado serviço perigoso ou de uma publicidade
enganosa. São Coletivos os direitos transindividuais, de natureza indivisível,
de que sejam titulares grupo, categoria ou classe de pessoas, ligadas entre
si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base: o condomínio, o
sindicato, os entes profissionais. Os individuais homogêneos compreendem
aqueles direitos que têm origem comum: os relacionados, por exemplo, com
danos ambientais individuais sofridos por proprietários vizinhos de uma
mesma área contaminada – a origem comum.

A referida ação coletiva foi introduzida no ordenamento jurídico brasileiro pela


lei complementar nº 40/1981197, mais especificamente pelo art. 3º, III198, ao elencar a
promoção da ação civil pública como uma das funções institucionais do Ministério
Público199. Mas foi somente com a lei nº 6.938/1981200, no art. 14, §1º201, que essa

194
MILARÉ, Edis. op. cit. p. 1429-1430.
195
OLIVEIRA, Marcelo Henrique Matos. Considerações sobre os direitos transindividuais. Cognitio
Juris, João Pessoa, Ano I, Número 2, agosto 2011. Disponível em
<http://www.cognitiojuris.com/artigos/02/06.html>. Acesso em: 03 de Nov.2019.
196
MILARÉ, Edis. op. cit, p. 1429-1430.
197
A lei complementar nº 40/1981 estabelece normas gerais a serem adotadas na organização do
ministério público estadual.
198
Art. 3º da lei complementar nº 40/1981: ‘’(...) São funções institucionais do Ministério Público: I -
velar pela observância da Constituição e das leis, e promover-lhes a execução; II - promover a ação
penal pública; III - promover a ação civil pública, nos termos da lei’’.
199
MILARÉ Edis. op. cit. p.1421.
200
A lei nº 6.938/1981 dispõe sobre a política nacional do meio ambiente, seus fins e mecanismos de
formulação e aplicação, e dá outras providências.
201
Art. 14, §1º da lei nº 6.938/1981: ‘’(...) Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste
artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os
danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da
57

ação passou a tutelar de forma específica o meio ambiente.


A regulamentação dessa ação ficou a cargo da lei nº 7.347/1985, cuja edição
ensejou duas mudanças significativas no ordenamento jurídico brasileiro, acerca da
tutela coletiva: ‘’A primeira foi a desvinculação da ação civil pública como
instrumento processual de titularidade exclusiva do Ministério Público; a segunda foi
a concepção da ação civil pública como ação coletiva’’202.
Três anos depois, a promulgação da Constituição Cidadã, em 1988,
consolidou a Ação Civil pública na ordem jurídica pátria ao prelecionar que o direito
de ação não se restringe apenas ao âmbito individual, conforme se depreende do
art. 5º, XXXV203. Esse dispositivo, ao estabelecer que a lei não excluirá da
apreciação do poder judiciário, lesão ou ameaça de lesão a um direito, se referiu ao
direito na sua acepção mais ampla204, englobando, consequentemente, a seara
coletiva.
Também possui papel importante nessa consolidação o art. 129, III da Carta
Magna205, eis que, atribuiu a Ação Civil Pública como uma função institucional do
Ministério Público206, nos mesmos moldes da lei complementar nº 40/1981.
Mas a potencialização da Ação Civil Pública foi exercida pelo Código de
Defesa do Consumidor, ao incluir o art. 21 na lei nº 7.347/1985 207 e prever que se
aplicam à defesa dos direitos e interesses difusos, coletivos e individuais, no que for
cabível, as previsões no título III do Código Consumerista.
A ação Civil Pública, que possui como objeto a condenação em dinheiro ou o
cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, conforme estabelece o art. 3º da
lei nº 7.347/1985208, e cujos legitimados ativos e passivos, encontram-se elencados

União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por
danos causados ao meio ambiente’’.
202
MILARÉ, Edis. op. cit, p. 1425.
203
Art. 129, III da CRFB/88: ‘’ São funções institucionais do Ministério Público: (...) promover o
inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente
e de outros interesses difusos e coletivos’’.
204
MILARÉ, Edis. op. cit. p. 1428.
205
Art. 5º, XXXV da CFRB/88: ‘’ Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida,
à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...)a lei não excluirá da
apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito’’
206
THOMÉ, Romeu. op. cit, p. 636.
207
Art. 21 da lei nº 7.347/1985: ‘’(...) Aplicam-se à defesa dos direitos e interesses difusos, coletivos e
individuais, no que for cabível, os dispositivos do Título III da lei que instituiu o Código de Defesa do
Consumidor’’.
208
Art. 3º da lei nº 7.347/1985: ‘’(...) A ação civil poderá ter por objeto a condenação em dinheiro ou o
cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer’’.
58

no art. 5º da lei nº 7.347/1985209 e art. 3º, IV da lei nº 6.938/1981210,


respectivamente, foi proposta em face da mineradora Samarco pelos danos
advindos do rompimento da barragem do Fundão. Mas não se limitou a apenas uma,
tendo em vista que a legitimidade ativa não se restringe somente a um órgão e os
danos ocasionados pelo rompimento não se limitaram a apenas uma circunscrição
territorial, conforme se demonstra nos itens abaixo.
Antes de adentrar nas Ações Civis Públicas propriamente ditas é importante
fazer duas ponderações. A primeira refere-se ao fato de que a análise a seguir
versará somente sobre as Ações Civis Públicas principais, sem prejuízo do
conhecimento de que também foram propostas ações cautelares em face da
Samarco.
A segunda ponderação está relacionada com o conflito de competência nº
144.922/MG. Por meio dele, o STJ, em 22 de junho de 2016, decidiu que a
competência das ações pelo desastre em Mariana/MG seria federal justificando-se,
em síntese, pelo fato de que a atividade minerária deve ser outorgada pela União e
os danos, em tela, além de terem atingido bens da União não se limitaram a apenas
um Estado, o que atrairia, também, a competência federal211.
Por isso, a análise a seguir versará somente sobre as Ações Civis Públicas
ajuizadas inicialmente na Justiça Federal, não compreendendo, consequentemente,
diversas Ações Civis Públicas que foram propostas na justiça estadual e,
posteriormente, baixadas e remetidas ao juízo federal.

4.1.1.1 Ações civis públicas em Minas Gerais

No Estado de Minas Gerais, em âmbito federal, foram propostas quatro Ações


Civis Públicas: 00069758-61.2015.4.01.3400, 60017-58.2015.4.01.3800, 0023863-

209
Art. 5º da lei nº 7.347/1985: Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar: I - o
Ministério Público; II - a Defensoria Pública; III - a União, os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios; IV - a autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de economia mista; V - a
associação que, concomitantemente: a) esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da
lei civil; b) inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao patrimônio público e social, ao
meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência, aos direitos de grupos
raciais, étnicos ou religiosos ou ao patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.
210
Art. 3º, IV da lei nº 6.938/1981: ‘’(...) IV - poluidor, a pessoa física ou jurídica, de direito público ou
privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental’’.
211
MPF, Ministério Público Federal. STJ: Justiça federal é competente para analisar e julgar o
rompimento da barragem de Mariana. Brasília, 22 de jun. 2015. Disponível em: <
http://www.mpf.mp.br/pgr/noticias-pgr/stj-justica-federal-e-competente-para-analisar-e-julgar-
rompimento-da-barragem-de-mariana> Acesso em: 03 de nov. 2019.
59

07.2016.4.01.3800, 9362-43.2015.4.01.3813.
A Ação civil Pública nº 00069758-61.2015.4.01.3400, em trâmite na 12ª vara
federal da seção judiciaria de Minas Gerais, foi proposta pela União, IBAMA212,
ANA213, DNMP214, IEF215, IGAM216, FEAM217, Estado do Espírito Santo, IEMA-ES218
e AGERH-ES219 em face da mineradora Samarco e de suas controladoras, a saber,
Vale e BHP Billiton. Por meio dessa ACP, os autores pleiteiam, cautelarmente,
diversas medidas de urgência além de pedidos finais voltados à reparação e
recuperação dos danos socioambientais decorrentes do rompimento da barragem do
fundão.
Atualmente, as partes estão discutindo alguns pontos práticos de
cumprimento do Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), intitulado de governança,
e que foi assinado em junho de 2018, conforme se depreende do último
pronunciamento judicial, datado de 07 de novembro de 2019, da referida ACP220.
Ressalta-se que o TAC governança será explicitado no próximo item, em
conjunto com a explicação do Termo de Transação e Ajustamento de Conduta
(TTAC) e o termo de acordo preliminar (TAP), assinados no bojo da presente ACP,
em março de 2016 e em janeiro de 2017, respectivamente.
A ACP nº 60017-58.2015.4.01.3800, que tramita na 12ª Vara federal da
Seção Judiciaria de Minas Gerais, foi proposta pelo Ministério Público Federal e pela
Associação de Defesa de interesses Coletivos em face da Samarco e de suas
controladoras, além da União, Estado de Minas Gerais, Estado do Espírito Santo,
ANA, IBAMA, ICMBIO221, FUNAI222, ANVISA223, IPHAN224, BNDES225, IEF, IGAM,
FEAM, IEPHA-MG226, IEMA, AGERH e IDAF227. Essa Ação Civil Pública visa, em
linhas gerais, a reparação e a compensação integral dos danos socioambientais
212
IBAMA: Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis.
213
ANA: Agência Nacional de Águas.
214
DNMP: Departamento Nacional de Produção Mineral.
215
IEF: Instituto Estadual de Florestas.
216
IGAM: Instituto Mineiro de Gestão das Águas.
217
FEAM: Fundação Estadual do Meio Ambiente.
218
IEMA-ES: Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Espírito Santo
219
AGERH-ES: Agência Estadual de Recursos Hídricos do Espírito Santo
220
Decisão disponível em: <https://processual.trf1.jus.br/consultaProcessual/processo.php .> Acesso
em: 03 de nov. 2019.
221
ICMBIO: Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade.
222
FUNAI: Fundação Nacional do Índio.
223
ANVISA: Agência Nacional de Vigilância Sanitária.
224
IPHAN: Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
225
BNDES: Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social.
226
IEPHA –MG: Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais.
227
IDAF: Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito Santo.
60

provocados pelo rompimento da barragem do Fundão.


Atualmente a ACP nº 60017-58.2015.4.01.3800 encontra-se suspensa tendo
em vista a sentença, de agosto de 2018, proferida, em conjunto, nos autos da ACP
nº 00069758-61.2015.4.01.3400 e da ACP nº 0023863-07.2016.4.01.3800, que
homologou o supracitado TAC governança, e confirmou a suspensão estabelecida
na decisão, de março de 2017, concernente ao o Termo de Acordo Preliminar (TAP).
Essa suspensão se deu pelo fato de que a ACP em tela possui pleitos que
são abrangidos pelas Ações civis Públicas que tiveram, em seus bojos, a assinatura
do TAC governança. Provavelmente essa suspensão perdurará até o final do
processo de repactuação. Ressalta-se que esse processo de repactuação será
abordado, posteriormente, no item concernente ao TAC governança.
A ACP nº 0023863-07.2016.4.01.3800, por sua vez, possui no polo ativo o
Ministério Público Federal e no polo passivo a Samarco e suas controladoras, além
da União e do Estado de Minas Gerais. Os pleitos dessa ação coletiva resumem-se
na obrigação, desses entes, de repararem integralmente os danos sociais,
econômicos e ambientais causados pelo rompimento da barragem de Fundão.
Conforme antecipado no parágrafo acima, a homologação da decisão do TAC
governança também ocorreu em seu bojo, destacando-se que o seu trâmite está
suspenso pelos mesmos fundamentos da ACP nº 60017-58.2015.4.01.3800.
A ACP nº 9362-43.2015.4.01.3813, por sua vez, possui como autora a
Defensoria Pública da União e figura no polo passivo a Samarco e a União Federal.
O objetivo dessa ACP, em linhas gerais, era obrigar que fosse abastecida a cidade
de Governador Valadares/MG, com água potável até o restabelecimento do
fornecimento, que foi interrompido em virtude da contaminação do Rio Doce.
Essa obrigação de fazer foi cumprida, por meio de liminar mas suspensa após
o restabelecimento da água na localidade, no inicio de 2016228. Atualmente, essa
ação coletiva está com o trâmite suspenso em virtude do mesmo motivo abarcado
nas ACP’s anteriores.

228
SAMARCO para de distribuir água em Governador Valadares nesta sexta. O tempo. 22 de jan.
2016. Disponível em: < https://www.otempo.com.br/cidades/samarco-para-de-distribuir-agua-em-
governador-valadares-nesta-sexta-1.1217415 > Acesso em: 03 de nov. 2019
61

4.1.1.2 Ações civis públicas no Espírito Santo

No Estado do Espírito Santo, em âmbito federal, é possível destacar as


seguintes Ações Civis Públicas: 0135334-09.2015.4.02.5005, 0133761-
45.2015.4.02.5001 e 0002571-13.2016.4.02.5004.
A ACP nº 0135334-09.2015.4.02.5005229, foi proposta em 27 de novembro de
2015, pelo Ministério Público Estadual, Federal e do Trabalho em face da Samarco,
União Federal, município de Colatina, SANEAR230, ANA231 e do Estado do Espírito
Santo.
Essa ACP pugnava, inicialmente, algumas medidas emergenciais como a
interrupção da distribuição de água oriunda do Rio Doce e de qualquer outro corpo
d’agua contaminado pelos rejeitos da barragem do Fundão, além da realização de
abastecimento seguro de água, não oriunda do Rio Doce, para a população
Colatinense, de forma temporária.
A referida Ação Coletiva também possui como objetos uma serie de
obrigações de fazer aos sujeitos passivos, como por exemplo a apresentação de
projeto técnico que preveja a adoção de fontes alternativas de captação de água
para a população Colatinense e a descontaminação das estações de tratamento e
tubulações que levam água até a população232.
O último pronunciamento judicial do processo da ACP em tela refere-se a um
despacho, datado em 07 de agosto de 2019233, determinando a intimação da
SANEAR e Samarco para que forneçam alguns documentos, ali elencados, afim de
que se viabilize a continuidade dos trabalhos dos peritos da FIOCRUZ 234 e IFES235
acerca da qualidade da agua do Rio Doce, bem como ações de tratamento da
mesma.
Outra ACP proposta foi a de nº 0133761-45.2015.4.02.5001, na 3ª vara

229
ACP Disponível em: < http://www.mpf.mp.br/grandes-casos/caso-samarco/documentos/0135334-
09-2015-4-02-5005.pdf/view > Acesso em: 03 de nov. 2019.
230
SANEAR: Serviço colatinense de Meio Ambiente e Saneamento Ambiental
231
ANA: agência nacional de aguas
232
Sobre todos os pedidos realizados no bojo da ACP nº 0135334-09.2015.4.02.5005, consultar: <
http://www2.jfes.jus.br/jfes/portal/consulta/mostraarquivo.asp?MsgID=0B3E9381322D46A2B4551D96
5346DC82&timeIni=68275,97&P1=16802452&P2=133&P3=&NPI=2285&NPT=2285&TI=1&NV=4672
88&MAR=S > Acesso em: 03 de nov. 2019.
233
Decisão disponível em: < http://www2.jfes.jus.br/jfes/portal/consulta/resconsproc.asp > Acesso em:
03 de nov. 2019.
234
FIOCRUZ: Fundação Oswaldo Cruz.
235
IFES: Instituto Federal do Espírito Santo.
62

federal de Vitória/ES, em 18 de novembro de 2015, pelo Ministério Público Federal


em face da Samarco.
A referida Ação Coletiva objetivava prevenir os danos ambientais decorrentes
do rompimento da barragem do fundão e a sua extensão ao litoral do Estado
Capixaba, além de ações concretas da parte ré visando a mitigação desse desastre
na localidade.
A última decisão do processo, datada em 21 de março de 2016236, determina
a remessa imediata dos autos ao juízo da 12ª Vara Federal de Belo Horizonte/MG,
independente do decurso do prazo recursal, cujo declínio de competência fora
determinado na decisão de 12 de fevereiro de 2016237 do mesmo processo. Estando
suspensa no juízo prevento pelos mesmos fundamentos já destacados quando da
análise acima de algumas das Ações Civis Públicas de Minas Gerais.
A ACP nº 0002571-13.2016.4.02.5004 começou a tramitar na 1ª Vara Federal
de Linhares/ES, em 03 de fevereiro de 2016, sendo proposta pelo Ministério Público
Federal em face da Samarco e da União federal, almejando a adoção de medidas
preventivas e mitigatórias dos efeitos do rompimento da barragem na localidade de
Linhares/ES, tanto nos corpos hídricos como na saúde da população. Incluindo,
dessa forma, obrigações de fazer consistentes em estudos posteriores sobre a
segurança alimentar dos pescados.
O ultimo pronunciamento judicial do processo em tela refere-se a uma
decisão de 11 de setembro de 2019238, redesignando audiência de conciliação para
o dia 26 de novembro de 2019, em virtude da impossibilidade de comparecimento da
Samarco para a designada anteriormente, que irá discutir a revogação ou
suspensão da tutela provisória deferida nos autos, além da tentativa de uma solução
consensual para o litigio.
Analisadas as supracitadas Ações Civis Públicas, passa-se, agora, para os
Termos de Ajustamento de Condutas que se mostraram no caso Samarco um

236
Decisão disponível em: <
http://www2.jfes.jus.br/jfes/portal/consulta/mostraarquivo.asp?MsgID=193CC03155234E05B26FD2AD
597F69A2&timeIni=35826,06&P1=16785776&P2=319&P3=&NPI=1954&NPT=1954&TI=1&NV=13028
8&MAR=S > Acesso em: 03 de nov. 2019.
237
Decisão disponível em: <
http://www2.jfes.jus.br/jfes/portal/consulta/mostraarquivo.asp?MsgID=1D329C425EC346328B3CAFA
E16EFEE0F&timeIni=36138,27&P1=16785776&P2=299&P3=&NPI=1931&NPT=1931&TI=1&NV=644
873&MAR=S > Acesso em: 03 de nov. 2019.
238
Para consultar a decisão, ver: < https://www.jusbrasil.com.br/processos/94446655/processo-n-
0002571-1320164025004-do-trf-2 > Acesso em: 05 de Nov. 2019;
63

importante instrumento de materialização da responsabilidade civil ambiental ao lado


dessas ações coletivas.

4.1.2 Termo de Ajustamento de Conduta

O termo de ajustamento de conduta na seara ambiental encontra-se


insculpido no art. 5º, §6º da lei nº 7.347/1985239, ao prever que os legitimados da
ACP poderão propor aos poluidores, compromisso de ajustamento de suas condutas
que valerá como título executivo extrajudicial.
Em que pese o referido dispositivo, em uma primeira leitura despretensiosa
passe a impressão de que esse acordo trata de um ajuste extrajudicial, Milaré240
esclarece que nada impede que ele seja realizado no bojo de um processo ou
realizado em procedimento avulso e levado à homologação judicial:

Como se vê, apesar de a norma referir-se a ajuste extrajudicial (realizado no


inquérito civil ou em procedimento avulso, sem homologação judicial), nada
obsta seja efetivado também em juízo (realizado no processo ou levado em
procedimento avulso à homologação judicial). Na primeira hipótese, o
compromisso implica o arquivamento implícito do inquérito com sua
homologação pelo Conselho Superior do Ministério Público, nos casos de
atribuição do Ministério Público dos Estados, ou da câmara de coordenação
e revisão, quando a matéria estiver afeta a um dos ramos do Ministério
Público da União, qualificando-se como título executivo extrajudicial. Na
segunda hipótese, a homologação da transação é feita pelo juiz e obtém-se
titulo executivo judicial.

No caso Samarco, os principais Termos de Ajustamento de Condutas, que se


manifestaram no bojo de algumas ACP’s, foram: Termo de Transação e Ajustamento
de Conduta (TTAC), Termo de Ajustamento Preliminar (TAP) e o Termo de
Ajustamento de Conduta- Governança (TAC – Governança), que serão objetos dos
itens a seguir.

4.1.2.1 Termo de transação e ajustamento de conduta

O Termo de Transação e Ajustamento de Conduta (TTAC) foi assinado em 02


de março de 2016 no âmbito da ACP nº 0069758-61.2015.4.01.3400. Os
239
Art. 5º, §6º da lei nº 7.347/1985: ‘’(...) Os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos
interessados compromisso de ajustamento de sua conduta às exigências legais, mediante
cominações, que terá eficácia de título executivo extrajudicial’’.
240
MILARÉ, Edis. op. cit, p. 1399.
64

compromitentes desse acordo foram a União, Estado de Minas Gerais, Estado do


Espírito Santo, além de diversas autarquias federais e estaduais241. Enquanto que
os compromissários foram a Samarco, e as suas controladoras, quais sejam, Vale e
BHP Billiton Brasil.
Esse acordo possuía como escopo a recuperação, mitigação, remediação,
compensação e reparação, inclusive indenização, dos impactos socioambientais e
socioeconômicos causados pelo rompimento da barragem da Samarco242, através
da implementação de programas socioeconômicos e socioambientais. Os referidos
programas podem ser definidos, como o conjunto de medidas e de ações,
executadas de acordo com um plano técnico e fundamentado, fiscalizadas e
supervisionadas pelo poder público, conforme estabelecem os itens IX e X da
cláusula 01243.
Os programas socioeconômicos foram agrupados em sete eixos temáticos,
conforme estabelece a cláusula 18 do acordo: organização social; infraestrutura;
educação, cultura e lazer; saúde; inovação; economia e gerenciamento do plano de
ações.
A organização social engloba os seguintes programas: (i) programa de
levantamento e de cadastro dos impactados; (ii) programa de ressarcimento e de
indenização dos impactados; (iii) programa de proteção e recuperação da qualidade
de vida dos povos indígenas; (iv)programa de proteção e recuperação da qualidade
de vida de outros povos e comunidades tradicionais; (v) programa de proteção
social; (vi) programa de comunicação, participação, diálogo e controle social,
(vii)programa de assistência dos animais.
O eixo intitulado de Infraestrutura abarca os programas a seguir: (i) programa

241
Os demais compromitentes estão elencados no TTAC., que por sua vez encontra-se disponível
em: < https://www.samarco.com/wp-content/uploads/2016/07/TTAC-FINAL.pdf > Acesso em: 05 de
nov. 2019.
242
Conforme o quarto CONSIDERANDO da fl. 06 do acordo: ‘’ CONSIDERANDO o ajuizamento da
Ação Civil Pública em face da SAMARCO e dos ACIONISTAS, registrado sob o nº 0069758-
61.2015.4.01.3400, em trâmite na 12ª Vara Federal da Seção Judiciária de Minas Gerais, por meio do
qual se pretende a recuperação, mitigação, remediação, compensação e reparação, inclusive
indenização, dos impactos socioambientais e socioeconômicos causados pelo EVENTO’’.
243
Cláusula 01, IX e X do TTAC: ‘’(...) IX. PROGRAMAS SOCIOECONÔMICOS: Conjunto de
medidas e de ações a serem executadas de acordo com um plano tecnicamente fundamentado,
necessárias À reparação, mitigação, compensação e indenização pelos danos socioeconômicos
decorrentes do EVENTO, fiscalizadas e supervisionadas pelo poder público, nos termos do
ACORDO; X. PROGRAMAS SOCIOAMBIENTAIS: Conjunto de medidas e de ações a serem
executadas de acordo com um plano tecnicamente fundamentado, necessárias à reparação e
compensação pelos danos socioambientais, decorrentes do EVENTO, fiscalizadas e supervisionados
pelo PODER PÚBLICO, nos termos do ACORDO’’.
65

de reconstrução, recuperação e a realocação de Bento Rodrigues, Paracatu de


Baixo e Gesteira; (ii) Programa de recuperação do Reservatório da UHE Risoleta
Neves; (iii) programa de recuperação das demais comunidades e infraestruturas
impactadas entre Fundão e Candonga, inclusive Barra Longa.
A Educação, Cultura e Lazer, assim como a infraestrutura envolve três
programas, a saber: (i) programa de recuperação das escolas e reintegração da
comunidade escolar; (ii) programa de preservação da memória histórica, cultural e
artística; (iii) programa de apoio ao turismo, cultura, esporte e lazer.
Os eixos temáticos da Saúde, Inovação e Gerenciamento do plano de ações
versam, cada um, sobre apenas um programa, quais sejam, respectivamente:
programa de apoio à saúde física e mental; programa de apoio à pesquisa para
desenvolvimento e utilização de tecnologias socioeconômicas aplicadas à
remediação dos impactos; programa de gerenciamento dos programas
socioeconômicos.
O eixo Economia, por sua vez, refere-se ao segundo eixo temático com o
maior número de programas: (i) programa de retomada das atividades aquícolas e
pesqueiras; (ii) programa de retomada das atividades agropecuárias; (iii) programa
de recuperação e diversificação da economia regional com incentivo à indústria; (iv)
programa de recuperação de micro e pequenos negócios no setor de comércio,
serviços e produtivo; (v) programa de estímulo à contratação local; (vi) programa de
auxílio financeiro emergencial aos impactados; (vii) programa de ressarcimento dos
gastos públicos extraordinários dos compromitentes.
Em relação aos programas socioambientais destaca-se que eles também
foram agrupados de acordo com eixos temáticos, conforme estabelece a cláusula 15
do acordo, quais sejam: Gestão dos Rejeitos e recuperação da qualidade da água;
Restauração florestal e produção de água; Conservação da biodiversidade;
Segurança hídrica e qualidade da água; Educação, comunicação e informação;
Preservação e segurança ambiental; Gestão e uso sustentável da terra;
Gerenciamento do plano de ações.
Três desses eixos versam sobre três programas cada, ao passo que quatro
deles abarcam dois programas. Esses eixos e seus respectivos programas serão
explicitados nos parágrafos a seguir.
Restauração florestal e produção de água: (i) Programa de recuperação da
área ambiental 1, nos municípios de Mariana, Barra longa, Rio Doce e Santa Cruz
66

do Escalvado, incluindo biorremediação.; (ii) Programa de recuperação de Áreas de


Preservação Permanente (APPs) e áreas de recarga da Bacia do Rio Doce controle
de processos erosivos; (iii) Programa de recuperação de nascentes.
Conservação da biodiversidade: (i) programa de conservação da
biodiversidade aquática, incluindo água doce, zona costeira e estuarina e área
marinha impactada; (ii) programa de fortalecimento das estruturas de triagem e
reintrodução da fauna e flora terrestre; (iii) Programa de conservação da fauna e
flora terrestre.
Educação, comunicação e informação: (i) Programa de educação ambiental e
preparação para as emergências ambientais; (ii) Programa de informação para a
população da área ambiental 1; (iii) Programa de comunicação nacional e
internacional.
Gestão dos rejeitos e recuperação da qualidade da água: (i) Programa de
manejo dos rejeitos decorrentes do rompimento da barragem de Fundão,
considerando conformação e estabilização in situ, escavação dragagem, transporte,
tratamento e disposição; (ii) Programa de implantação de sistemas de contenção
dos rejeitos e de tratamento in situ dos rios impactos.
Segurança hídrica e qualidade da água: (i) Programa de coleta e tratamento
de esgoto e da destinação de resíduos sólidos; (ii) Programa de melhoria dos
sistemas de abastecimento de água.
Preservação e segurança ambiental: (i) Programa de gestão de riscos
ambientais na área ambiental 1 da bacia do Rio Doce; (ii) Programa de investigação
e monitoramento da Bacia do Rio Doce, áreas estuarinas, costeira e marinha
impactadas.
Gestão e uso sustentável da terra: (i) Programa de consolidação de unidade
de conservação; (ii) Programa de fomento à implantação do CAR e dos PRAs na
área ambiental 1 da Bacia do Rio Doce.
Por fim, destaca-se que o eixo temático de Gerenciamento do plano de ações
abrange apenas um programa, qual seja: Programa de gerenciamento do plano de
recuperação ambiental dos corpos hídricos diretamente atingidos pelo evento.
A implementação dos supracitados programas socioambientais e
socioeconômicos ficariam a cargo de uma fundação de direito privado instituída pela
Samarco e suas controladoras, mas com autonomia em relação aos referidos,
67

conforme se extrai da cláusula 5, IV do acordo244.


A fundação, em tela, seria regida por um estatuto próprio245, fiscalizada pelo
Ministério Público246 e o aporte financeiro para manutenção da fundação e execução
dos programas iria advir da Samarco e de suas controladoras247, sempre
resguardando a autonomia prevista na referida cláusula 5, IV do TTAC.
Acerca do aporte financeiro da Fundação, destaca-se que a Samarco deveria
fazer um depósito de R$ 200.000.000,00 (duzentos milhões de reais) para o início
de suas atividades, de acordo com a cláusula 229 do TTAC248, além da injeção de
quantias anuais pré-estabelecidas para que a Fundação pudesse desempenhar as
suas atividades, conforme cláusula 226249.
A fundação de direito privado, prevista no TTAC foi instituída em agosto de
2016, sendo intitulada de Fundação Renova. Acerca da composição da Renova
destaca-se que ela reúne técnicos e especialistas de diversas áreas do
conhecimento, além de entidades de atuação socioambiental e de conhecimento
científico, totalizando cerca de 7.000 (sete mil) pessoas (entre colaboradores e
parceiros) que laboram na reparação ambiental. Conta, ainda, com o envolvimento
de mais de 25 (vinte e cinco) universidades e 40 (quarenta) organizações não
governamentais e instituições parceiras250.
Além da Fundação Renova, foi instituto por meio do TTAC o Comitê
Interfederativo (CIF), enquanto uma instância externa e independente da fundação

244
Cláusula 5º, IV do TTAC: ‘’ A Samarco, a Vale e a BHP instituirão uma Fundação de direito
privado, com autonomia em relação às instituidoras, com o objetivo de gerir e executar todas as
medidas previstas nos programas socioeconômicos e socioambientais.
245
Cláusula 209, parágrafo segundo do TTAC: ‘’ A Fundação será sediada em Belo Horizonte/MG e
será regida pelo seu estatuto social’’.
246
Cláusula 224 do TTAC: ‘’A fundação será fiscalizada, na forma da lei, pelo Ministério Público’’.
247
Clausula 225 do TTAC: ‘’ A Samarco, a Vale e a BHP serão instituidoras e mantenedoras da
Fundação nos termos estabelecidos na cláusula 209, de forma a implementar projetos aprovados no
âmbito dos programas previstos neste acordo’’.
248
Cláusula 229 do TTAC: ‘’No prazo de 30 (trinta) dias contados da emissão do CNPJ da Fundação,
a Samarco fará um depósito inicial de R$ 200.000.000,00 (duzentos milhões de reais), que
corresponde ao início do aporte de 2016’’.
249
Cláusula 226 do TTAC: ‘’ A Samarco deverá realizar aportes anuais no curso dos exercícios de
2016, 2017 e 2018, nos montantes definidos abaixo, sempre em observância aos termos
estabelecidos nos parágrafos desta cláusula e cláusula seguintes: I. Exercício de 2016: aporte de R$
2.000.000.000,00 (dois bilhões de reais); II Exercicio de 2017: aporte de R$ 1.200.000.000,00 (um
bilhão e duzentos milhões de reais); III. Exercício de 2018: aporte de R$ 1.200.000.000,00 (um bilhão
e duzentos milhões de reais). Para o ano de 2019 o aporte previsto foi de R$ 2.800.000.000,00 (dois
bilhões e oitocentos milhões de reais) de acordo com o sitio eletrônico da própria fundação. Nesse
sentido, consultar: DADOS da reparação. Fundação Renova. Disponível em: <
https://www.fundacaorenova.org/dadosdareparacao/ > Acesso em: 05 de nov. 2019.
250
Esses dados foram extraídos do próprio sitio eletrônico da Fundação renova, que foi inclusive uma
obrigação imposta pelo TTAC de acordo com a Cláusula 222.
68

formada exclusivamente por representantes do poder público251. Além de promover


uma interlocução permanente com a Fundação, o Comitê Interfederativo é
responsável por definir as prioridades na implementação e execução dos projetos a
cargo da fundação, além de acompanhar, monitorar e fiscalizar os resultados 252.
Também caberá ao CIF validar os programas e projetos apresentados pela
Fundação253 e indicar a necessidade de eventuais correções e readequações. E em
caso de divergência entre a Renova e o CIF, qualquer uma das partes poderá
submeter a questão ao painel de especialistas254 e, posteriormente, caso seja
necessário, ao juízo competente255.
O CIF também poderá impor, não só à Samarco e suas controladoras, mas
também à Fundação Renova, multa por obrigação descumprida e multa diária
enquanto persistir o descumprimento, sempre que após o prazo dado pelo Comitê
para cumprimento espontâneo, a obrigação não é adimplida por culpa exclusiva da
referida mineradora ou da Renova256.
Destaca-se que o TTAC foi homologado em 05 de maio de 2016 pelo núcleo

251
Cláusula 242. Parágrafo primeiro: ‘’ O comitê interfederativo será uma instancia externa e
independente da fundação, formado exclusivamente por representantes do poder público’’.
252
Cláusula 06, XX do TTAC: ‘’(...) O poder público constituirá um comitê interfederativo, como
instância externa e independente da fundação, para interlocução permanente com a fundação e para
definir prioridades na implementação e execução dos projetos, acompanhando, monitoramento e
fiscalizando os resultados’’.
253
Cláusula 06, XXI do TTAC: ‘’(...) Caberá ao comitê interfederativo validar os programas e projetos
apresentados pela fundação, levando em consideração os princípios e os demais termos do Acordo,
sem prejuízo da necessidade de obtenção das licenças ambientais junto ao órgão ambiental
competente, bem como de outros órgãos públicos, conforme os procedimentos previstos neste
acordo’’.
254
O painel de especialistas refere-se a a uma instancia permanente e externa à fundação, formada
por três membros, para fornecer opiniões técnicas não vinculantes para as partes, com o objetivo de
resolver conflitos entre a fundação e o comitê interfederativo, conforme se depreende da Cláusula
246 do TTAC e de seu parágrafo primeiro.
255
Cláusula 06, XXIII do TTAC: ‘’(...) O comitê interfederativo examinará os programas e projetos
submetidos e indicará a necessidade de correções, readequações ou fará questionamentos nas
ações a serem desempenhadas. Permanecendo divergência entre a fundação e o comitê
interfederativo, qualquer das partes poderá submeter a questão ao painel de especialistas, bem
como, posteriormente, se for o caso, ao juízo competente’’.
256
Cláusula 247, caput, e parágrafos primeiro e seguindo do TTAC: ‘’ Em caso de descumprimento
por culpa exclusiva da Fundação, da Samarco ou de qualquer das acionistas de suas respectivas
obrigações assumidas em qualquer das cláusulas constantes deste acordo, ressalvadas as hipóteses
de caso fortuito ou força maior, o comitê interfederativo comunicará formalmente À parte inadimplente
o descumprimento, com cópia para as demais empresas, para que estas tenham ciência e a
inadimplente adote as medidas necessárias para cumprimento das obrigações ou justifique o seu não
cumprimento, estabelecendo prazo compatível para devida adequação. Parágrafo primeiro: No prazo
estabelecido nos termos do caput, a inadimplente poderá cumprir integralmente a obrigação indicada
ou, desde que devidamente justificado ao Comitê Interfederativo, solicitar a dilação do prazo
conferido. Parágrafo segundo: Decorrido o prazo definido e permanecendo o descumprimento por
parte da inadimplente, esta sujeitar-se-á à fixação de multa punitiva por obrigação descumprida e
multa diária enquanto persistir o descumprimento total da obrigação’’.
69

de conciliação do TRF da 1ª região. Mas a sua homologação foi suspensa por


liminar pelo STJ em junho de 2016 e anulada pela 5ª Turma do TRF da 1ª região em
17 de agosto de 2016, isso porque foi decidido que o núcleo de conciliação do TRF
da 1ª região não seria competente para esse ato, mas sim o juízo natural da
causa257.
Com a anulação da homologação, a ACP nº 0069758-61.2015.4.01.3400 não
teve a sua fase de conhecimento extinta, tal como previa a cláusula 253, caput e
parágrafo único do TTAC258. Também não foram extintas as ações conexas com a
referida ACP, conforme prelecionava a cláusula 254 do acordo259.
Mas na prática, tanto a fundação renova quanto o Comitê Interfederativo
continuaram vigorando, mesmo após a referida anulação, no que tange a
implementação dos programas socioambientais e socioeconômicos, tendo em vista
que o Termo de Acordo Preliminar (TAP) chancelou essa continuidade, mas em
conformidade com alguns parâmetros nele estabelecidos.
Em que pese o TAP, como o próprio nome sugere ser apenas preliminar, em
virtude de ser anterior a um possível termo de ajustamento de conduta definitivo,
que resolva o mérito processual, isso não desvirtua o fato de que condutas das
partes foram ajustadas pelo mesmo, o que torna necessário ele ser objeto de um
item autônomo, conforme explicitado a seguir.

4.1.2.2 Termo de Acordo Preliminar

O Termo de Acordo Preliminar (TAP) foi assinado em 18 de janeiro de 2017


entre o Ministério Público Federal e a Samarco e suas controladoras, no âmbito das
Ações Civis Públicas nº 0069758-61.2015.4.01.3400 e 0023863-07.2016.4.01.3800,
257
JUSTIÇA anula homologação de acordo para recuperar Rio Doce. G1 Minas Gerais. 08 de ago.
2016. Disponível: <http://g1.globo.com/minas-gerais/desastre-ambiental-em-
mariana/noticia/2016/08/justica-declara-nula-homologacao-de-acordo-para-recuperar-rio-doce.html >
Acesso em: 05 de nov. 2019.
258
Cláusula 253, caput e parágrafo único do TTAC: ‘’ O presente acordo será submetido à
homologação judicial, implicando na extinção com resolução do mérito da fase de conhecimento do
processo nº 0069758-61.2015.4.01.3400, em trâmite na 12ª Vara da Seção Judiciária de minas
Gerais, restando o juízo competente para a fase de execução do acordo. Parágrafo único: A
homologação do presente acordo resolverá e porá fim Às disputas, presentes ou futuras, entre as
partes, atinentes ao objeto do processo nº 0069758-61.2015.4.01.3400, em trâmite na 12ª Vara da
Seção Judiciária de Minas Gerais’’.
259
Cláusula 254 do TTAC: ‘’ O presente acordo poderá ser utilizado para os devidos fins de direito e
ser apresentado nos autos das ações judiciais que tenham por objeto qualquer obrigação decorrente
do evento e previstas neste acordo, com a finalidade de buscar a resolução ou reunião de ações
ajuizadas’’;
70

objetivado, unidade processual para a realização de um Termo de Ajustamento de


Conduta Final (TACF)260.
O referido acordo foi homologado parcialmente pelo juízo da 12ª Vara Federal
de Minas Gerais em 16 de março de 2017. A homologação parcial foi, inclusive, um
pedido do próprio Ministério Público Federal tendo em vista que movimentos sociais
não estavam satisfeitos com a escolha da empresa que atuaria no eixo
socioeconômico, que por sua vez, abrange, também, instrumentos de participação
popular261.
Destaca-se que por meio desse acordo foram escolhidas empresas para
realizarem o diagnóstico socioambiental e socioeconômico do desastre, além de
possuírem, também, a incumbência de avaliarem e monitorarem os programas de
reparação socioeconômicos e socioambientais262.
A Samarco comprometeu-se por meio do TAP a prestar garantia, em juízo,
correspondente ao importe de R$ 2,2 bilhões (dois bilhões e duzentos milhões de
reais) para o cumprimento das obrigações de custeio e financiamento desses
programas de reparação socioambiental e socioeconômica, decorrente do
rompimento da barragem do Fundão, conforme estabelece a cláusula 3.1 do TAP263.
Em 16 de novembro de 2017 o Ministério Público Federal e o Ministério
Público do Estado de Minas Gerais264 firmaram com a Samarco e suas controladoras

260
Esses dados foram extraídos do TAP, disponível em: < http://www.mpf.mp.br/mg/sala-de-
imprensa/docs/termo-de-acordo-preliminar-caso-samarco > Acesso em: 06 de nov. 2019.
261
PMINETAL, Thais; FREITAS. Raquel. Justiça homologa parte do acordo preliminar entre MPF,
Vale, Samarco, e BHP sobre desastre em MG. G1 Minas Gerais. Belo horizonte: 16 de mar. 2019.
Disponível em: < https://g1.globo.com/minas-gerais/desastre-ambiental-em-mariana/noticia/justica-
homologa-parte-do-acordo-preliminar-entre-mpf-vale-samarco-e-bhp-sobre-desastre-em-mg.ghtml >
Acesso em: 06 de nov. 2019.
262
Cláusula 1.1 do TAP: ‘’O MPF concorda com a contratação das seguintes organizações que
atuação como peritos, assessoria e/ou assistentes técnicos seus: LACTEC, para o diagnóstico
socioambiental; INTEGRATIO, para o diagnóstico socioeconômico e assistência dos atingidos;
RAMBOLL, para a avaliação e monitoramento dos programas de reparação socioambiental e
socioeconômica; Banco Mundial, ou outra entidade definida pelas partes, para coordenação dos
trabalhos e consultoria ao MPF’’.
263
Cláusula 3.1 do TAP: ‘’As empresas se comprometem a dar ao Juízo da 12ª Vara Federal de Belo
horizonte garantias para o cumprimento das obrigações de custeio e financiamento dos Programas
de Reparação socioambiental e socioeconômica dos danos decorrentes do rompimento da barragem
de Fundão, até a celebração do TACF, no valor de R$ 2,2 bilhões ( dois bilhões e duzentos milhões
de reais), compostas da seguinte forma: a) R$ 100 milhões (cem milhões de reais) em aplicações
financeiras de liquidez corrente a serem dadas em caução ao Juízo; b) R$ 1,3 bilhão (um bilhão e
trezentos milhões de reais) em seguro garantia e c) R$ 800 milhões (oitocentos milhões de reais) em
bens da Samarco desembaraçados e livres de quaisquer ônus’’.
264
Cláusula 2.1 do termo aditivo ao TAP: ‘’ As partes acordam a inclusão do MPMG, ao lado do MPF,
como parte do TAP, acolhendo as disposições já pactuadas e participando, a partir deste momento,
de todas as providências relativas ao seu cumprimento, no âmbito de sua atribuição, bem como deste
Aditivo, inclusive quanto às tratativas e aos procedimentos para a celebração do TACF’’.
71

um termo aditivo ao TAP265.


Esse aditivo, atendendo aos anseios dos movimentos sociais, substituiu a
empresa Integratio pelo Fundo Brasil e pela FGV, em todas as disposições do TAP
que versavam sobre a Integratio. Em linhas gerais, destaca-se que o Fundo Brasil
passou a ser responsável pela contratação de assessorias técnicas às pessoas
atingidas e pelo fornecimento de apoio aos órgãos públicos competentes para a
realização de audiências públicas e consultas prévias, ao passo que a FGV recebeu
a incumbência de realizar o diagnóstico socioeconômico266.
O aditivo ao TAP também instituiu o chamado fórum de observadores. Trata-
se de uma instância de participação e controle social, de natureza consultiva, que
possui como objetivo acompanhar os trabalhos e analisar os resultados do
diagnóstico e avaliações realizadas pelo Fundo Brasil e FGV267, sendo composto por
representantes da sociedade civil, das pessoas atingidas, grupos acadêmicos e
povos tradicionais atingidos268.
O aditivo também suprimiu as cláusulas do TAP que versavam sobre as
audiências públicas e dentre as principais mudanças, nessa seara, destaca-se: (i)
aumento de, no mínimo, 11(onze) audiências públicas a serem realizadas, para 15
(quinze) audiências269 (ii) inclusão do Ministério Público do Estado de Minas Gerais
na realização das mesmas e substituição da empresa Integratio pelo Fundo Brasil270.

265
Termo aditivio ao TAP disponível em: < http://www.mpf.mp.br/grandes-casos/caso-
samarco/documentos/aditivo-tap/view > Acesso em: 06 de nov. 2019.
266
Cláusula 3.2 do aditivo ao TAP: ‘’Todas as referências feitas no TAP à INTEGRATIO são
substituídas, no que se refere à contratação de assessorias técnicas Às pessoas atingidas e ao apoio
aos órgãos públicos competentes, com vistas à realização de audiências públicas e consultas
prévias, pela expressão FUNDO BRASIL e, no que se refere ao diagnóstico socioeconômico, pela
expressão FGV, aplicando-se a estes, no âmbito das respectivas atribuições, de forma irrestrita e
incondicionada, todas as disposições aplicáveis àquela, respeitando-se as alterações constantes do
presente Aditivo e desde que não sejam contrárias ao aqui expressamente disciplinado’’.
267
Cláusula 4.1 do termo aditivo ao TAP: ‘’As partes acordam em criar o fórum de observadores, de
natureza consultiva, como uma das instâncias de participação e controle sociais, cujo objetivo será
acompanhar os trabalhos e analisar os resultados do diagnóstico e das avaliações realizadas pelo
Fundo Brasil e pela FGV’’.
268
Cláusula 4.2 do termo aditivo ao TAP: ‘’O fórum será composto por representantes da sociedade
civil, das pessoas atingidas, de grupos acadêmicos e dos povos e comunidades tradicionais
atingidas.
269
Cláusula 6.4 do termo aditivo ao TAP: ‘’ As audiências públicas serão realizadas em número de
15(quinze), entre elas nas regiões de Mariana/MG, Barra Longa/MG, Rio Doce-Santa Cruz do
Escalvado/MG, São José do Goiaba/MG, Belo Oriente/MG, Governador Valadares/MG,
Resplendor/MG, Aimorés/MG, Baixo Guandu/ES, Colatina/ES, Linhares/ES, distrito de regência/ES,
distrito de povoação/ES, distrito de barra seca/ES e Aracruz/ES, podendo ser feitos ajustes nas
localidades a partir de uma avaliação técnica conjunta entre o FUNDO BRASIL e o Ministério Público.
270
Ver a nota de rodapé nº 264 para compreender a substituição da INTEGRATIO pelo Fundo Brasil,
em conjunto com a de nº 259, no tocante a inclusão do Ministério Público do Estado de Minas Gerais
72

Em 08 de agosto de 2018 foi homologado, por meio de sentença, na 12ª Vara


Federal de Belo Horizonte/MG, no âmbito das ACP’s nº 0069758-61.2015.4.01.3400
e 0023863-07.2016.4.01.3800 o aditivo do TAP, bem como o TAC governança.
O aditivo do TAP foi homologado parcialmente, tendo em vista que, de acordo
com o convencimento do magistrado, as cláusulas que versavam sobre a
contratação das assessorias técnicas às pessoas atingidas careciam de ressalvas
interpretativas que, inclusive foram propostas pelo próprio magistrado.
A homologação parcial se deu, também, pelo fato de que, de acordo com o
juiz, as cláusulas que versavam sobre o convite que o MPF e o MPMG fariam ao
MPES, DPU, DPE/ES e DPE/MG para participarem na execução do eixo
socioeconômico, não poderia advir de um convite extrajudicial, devendo a
participação dos mesmos no processo ocorrer por adesão institucional e,
consequentemente, homologação judicial271.
O TAC governança, por sua vez, foi homologado integralmente e será objeto
do item a seguir.

4.1.2.3 Termo de ajustamento de conduta - Governança

O Termo de Ajustamento de Conduta - Governança (TAC Governança) foi


assinado em 25 de junho de 2018, pelo Ministério Público Federal, Ministério Público
do Estado de Minas Gerais, Ministério Público do Estado do Espírito Santo,
Defensoria Pública da União, Defensoria Pública do Estado de Minas Gerais,
Defensoria Pública do Estado do Espírito Santo, União Federal e diversas autarquias
federais e estudais, tendo como compromissários a Samarco, e as suas acionistas,
a saber, Vale e BHP Billiton Brasil.
Conforme destacado anteriormente, o TAC Governança foi homologado
integralmente no âmbito das ACP’s nº 0069758-61.2015.4.01.3400 e 0023863-
07.2016.4.01.3800 pelo juízo da 12ª Vara Federal de Belo Horizonte/MG.
O TAC Governança possui, em linhas gerais, três objetos, conforme

no âmbito das audiências públicas, notadamente pela expressão ‘’Ministério Público’’ tratada na
primeira nota.
271
Para ver as cláusulas que receberam ressalvas interpretativas/aditivas e aquelas que não foram
homologadas consultar o pronunciamento homologatório disponível em: < https://apublica.org/wp-
content/uploads/2018/09/SENTENC%CC%A7A-CONJUNTA-HOMOLOGACAO-JUDICIAL-08-DE-
AGOSTO-DE-2018-10.pdf > Acesso em: 06 de nov. 2019.
73

determinado pela cláusula primeira272: (i) alteração do processo de governança


previsto no TTAC para definição e execução dos programas, projetos e ações que
se destinam à reparação integral dos danos decorrentes do rompimento da
barragem do fundão; (ii) o aprimoramento de mecanismos de efetiva participação
das pessoas atingidas pelo rompimento da barragem de fundão em todas as etapas
e fases do TTAC; (iii) o estabelecimento de um processo de negociação visando à
eventual repactuação dos programas.
O TAC governança como o próprio nome sugere altera a estrutura de
governança que havia até então para a execução dos programas socioeconômicos e
socioambientais273. O MPF274 esclarece que com o referido TAC o
(...) centro de referência para a reparação dos danos deixa de ser da
Fundação Renova, que passa a se submeter ao controle (i) dos atingidos
por meio de comissões locais e das câmaras regionais; (ii) da sociedade
civil, por meio do fórum de observadores; (iii) do Poder Público, que passa a
contar com orçamento específico para realizar maior controle das atividades
executadas pela Fundação; (iv) do Ministério Público e da Defensoria
Pública, que têm poderes de vetar nomes que não tenham perfil adequado
para compor o quadro da fundação.

Vislumbra-se, portanto, que o TAC governança preocupou-se com a


participação dos atingidos, os maiores interessados, na execução dos programas e
ações, através das comissões locais e regionais, além da presença da sociedade
civil, por meio do fórum de observadores.
As comissões locais são formadas por pessoas, residentes nos municípios
atingidos pela lama da Samarco e, excepcionalmente, por aquelas que tenham
sofrido danos em atividades realizadas na área de abrangência das respectivas
comissões locais. Essas comissões locais funcionarão como interlocutoras no
âmbito das questões referentes à participação e governança do processo de

272
Cláusula primeira do TAC- governança: ‘’ O presente acordo tem como objeto: I- a alteração do
processo de governança previsto no TTAC para definição e execução dos programas, projetos e
ações que se destinam À reparação integral dos danos decorrentes do rompimento da barragem de
fundão. II- o aprimoramento de mecanismos de efetiva participação das pessoas atingidas pelo
rompimento da barragem
273
Cláusula terceira do TAC – governança: ‘’ As partes acordam em modificar os termos do TTAC,
conforme as cláusulas neste acordo, com o objetivo de incrementar efetividade, rapidez, eficiência e
participação social no processo de reparação integral dos danos decorrentes do rompimento da
barragem de fundão, implementando-se mudanças na gestão e governança do TTAC, com vistas a
aprimorar os mecanismos que possibilitem a efetiva participação das pessoas atingidas’’.
274
MPF, Ministério Público Federal. Dúvidas sobre o TAC governança? Brasília, Disponível em: <
http://www.mpf.mp.br/grandes-casos/caso-samarco/duvidas-sobre-o-tac-governanca > Acesso em: 06
de nov. 2019.
74

reparação integral dos danos decorrentes do rompimento da barragem da Samarco,


de acordo com a cláusula oitava do TAC- governança275.
As Câmaras Regionais, que não podem ultrapassar o número de 6(seis),
serão compostas por pessoas atingidas pelo desastre, em quantitativo disposto
pelas câmaras locais, para participação no processo de reparação integral dos
danos decorrentes do rompimento da barragem do Fundão, nos termos da cláusula
vigésima nona, caput e parágrafo primeiro, do TAC Governança276.
O fórum de observadores implementado pelo TAC Governança segue os
mesmos parâmetros daquele instituído pelo aditivo ao TAP, que por sua vez, foi
explicitado anteriormente277.
O acordo em tela prevê, ainda, o processo único de repactuação dos
programas socioambientais e socioeconômicos para reparação integral dos danos
decorrentes do rompimento da barragem de fundão278.
Em linhas gerais, esse processo prevê um aprimoramento dos programas que
já estão em andamento, sem prejuízo da inclusão de novos programas ou medidas
de reparação, com o escopo de reparar integralmente os danos causados 279. Dessa
forma, o TAC Governança confirma o que foi disposto no TTAC, no TAP e em seu
aditivo, naquilo que seja compatível.
Por fim destaca-se que o TAC governança pugnou, ainda, pela extinção da

275
Cláusula oitava do TAC- governança: ‘’As partes acordam o reconhecimento das comissões locais
formadas voluntariamente por pessoas atingidas (‘’Comissões Locais’’), residentes nos municípios
atingidos pelo rompimento da barragem de fundão e/ou, excepcionalmente que tenham sofrido danos
em atividades realizadas na área de abrangência das respectivas comissões locais, como
interlocutoras legítimas no âmbito das questões atinentes à participação e governança do processo
de reparação integral dos danos decorrentes do rompimento da barragem de fundão, nos termos e
limites previstos neste acordo’’.
276
Cláusula vigésima nona, caput, e parágrafo primeiro do TAC- governança: ‘’ As partes concordam
com a criação de até 06 (seis) câmaras regionais para participação das pessoas atingidas no
processo de reparação integral dos danos decorrentes do rompimento da barragem de fundão
(‘’Câmaras Regionais’’). Parágrafo primeiro: As câmaras regionais, compostas por pessoas atingidas,
conforme dispuserem as respectivas comissões locais no âmbito de sua abrangência, constituirão
fóruns de discussão , de organização participativa das pessoas atingidas e de interlocução e
composição com a fundação’’.
277
Nesse sentido, ver nota de rodapé nº 262.
278
Cláusula nonagésima quarta do TAC – Governança:’’ As partes acordam em estabelecer um
processo único de eventual repactuação dos programas, visando À reparação integral dos danos
decorrentes do rompimento da barragem de fundão, sendo observadas a legislação aplicável, a
situação anterior ao referido rompimento e as disposições a seguir (‘Processo de repactuação’)’’.
279
Cláusula nonagésima quarta, parágrafo segundo e terceiro do TAC- Governança: ‘’ (...) Parágrafo
segundo. O processo de repactuação visará ao aprimoramento prospectivo dos programas, não
prejudicando no seu decorrer a manutenção, continuidade e eficácia das ações, medidas e projetos já
em curso. Parágrafo terceiro. O processo de repactuação, não impede que as partes, de comum
acordo e com a participação dos atingidos, conforme os princípios e cláusulas deste acordo, alterem
ou incluam programas ou medidas específicas de reparação’’
75

fase de conhecimento da ACP nº 0069758-61.2015.3400 e a suspensão da ACP nº


0023863-07.2016.4.01.3800 em relação aos pedidos não contemplados no referido
termo, tendo sido esses pleitos acolhidos pelo juízo da 12ª Vara Federal de Belo
Horizonte/MG280.
Em suma, fazendo um panorama geral dos Termos de Condutas
mencionados, vislumbra-se que primeiro houve a assinatura do TTAC
estabelecendo diversos programas socioeconômicos e socioambientais para a
reparação civil dos danos ocasionados pelo desastre, prevendo inclusive o
estabelecimento de uma Fundação para a execução dos mesmos. Em seguida, foi
assinado o TAP e o aditivo ao TAP que ratificou o TTAC e trouxe novos parâmetros
para a execução dos programas em tela. E por fim, as partes assinaram o TAC
governança, que, em síntese, mudou a governança do TTAC, principalmente pela
introdução dos atingidos nesse ‘’governo’’ e ratificou a continuidade dos programas
já implementados, com as mudanças trazidas pelo mesmo.
Feitas as supracitadas considerações, verifica-se que tanto as Ações Civis
Públicas quanto os Termos de Ajustamento de Conduta expostos anteriormente
foram e estão sendo instrumentos importantes de materialização da
responsabilidade civil ambiental em face da Samarco.
Essa materialização, de forma exemplificativa, pode ser traduzida nos
seguintes números divulgados pela Fundação Renova, enquanto consequências das
Ações Civis Públicas e Termos de Condutas mencionados281: (i) R$ 1,9 bilhão já foi
pago a titulo de indenização e auxílios financeiros para cerca de 319 mil pessoas,
seja porque moravam nas cidades e distritos que tiveram o abastecimento de água
interrompido por mais de 24 horas ou seja porque perderam ou sofreram impacto
direto na sua atividade econômica, renda ou bens materiais; (ii) R$ 360 milhões já
foram desembolsados para o reassentamento das famílias que perderam casas e o
modo de vida com a passagem da lama; (iii) mais de mil nascentes protegidas e em
processo de restauração.

280
Nesse sentido, ver fl.24 da sentença homologatória, disponível em: < https://apublica.org/wp-
content/uploads/2018/09/SENTENC%CC%A7A-CONJUNTA-HOMOLOGACAO-JUDICIAL-08-DE-
AGOSTO-DE-2018-10.pdf >. Acesso em: 10 de nov. 2019.
281
DADOS da reparação. Fundação Renova. Disponível em: <
https://www.fundacaorenova.org/dadosdareparacao/ > Acesso em: 10 de nov. 2019.
76

Além da responsabilidade civil ambiental, se manifestou no caso em tela a


responsabilidade administrativa ambiental e a responsabilidade penal ambiental em
face da Samarco, que serão objetos dos itens a seguir.

4.2 A materialização da responsabilidade administrativa ambiental

A responsabilidade administrativa ambiental se concretizou em face da


mineradora Samarco, basicamente, por intermédio de multas.
A análise a seguir versará sobre as multas de âmbito federal, sem prejuízo do
conhecimento que órgãos estaduais, a exemplo da Secretaria de Estado de Meio
Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Minas Gerais (Semad), também
aplicaram multas, em sede administrativa, à Samarco282.
Na esfera federal, destaca-se que o IBAMA aplicou multas à mineradora nos
anos de 2015, 2016, 2017 e 2018.
Em 2015, o IBAMA aplicou as seguintes multas à Mineradora: (i) R$
50.000.000, 00 (cinquenta milhões de reais), correspondente ao auto de infração nº
9082395,283. (ii) R$ 50.000.000,00 (cinquenta milhões de reais), correspondente
também ao auto de infração nº 9082395284; (iii) R$ 50.000.000,00 (cinquenta milhões
de reais), correspondente ao auto de infração nº 19285; (iv) R$ 50.000.000,00
(cinquenta milhões de reais), correspondente ao auto de infração nº 21286; (v) R$
50.000.000,00 (cinquenta milhões de reais), correspondente ao auto de infração nº
24287.

282
Nesse sentido, ver: BEDINELLI, Talita. Samarco pagou só 1% do valor de multas ambientais por
tragédia de Mariana. El país. São Paulo, 09 de ago. 2019. Disponível em:
<https://brasil.elpais.com/brasil/2017/08/08/politica/1502229456_738687.html > Acesso em: 10 de
nov. 2019.
283
Auto de infração disponível em: <
http://www.ibama.gov.br/phocadownload/barragemdefundao/autos-
infracao/auto_infracao_samarco_9082392.pdf > Acesso em: 10 de nov. 2019.
284
Auto de infração disponível em:<
http://www.ibama.gov.br/phocadownload/barragemdefundao/autos-
infracao/auto_infracao_samarco_9082395.pdf > Acesso em: 10 de nov. 2019
285
Auto de infração disponível em: <
http://www.ibama.gov.br/phocadownload/barragemdefundao/autos-
infracao/auto_infracao_samarco_19.pdf > Acesso em: 10 de nov. 2019.
286
Auto de infração disponível em: <
http://www.ibama.gov.br/phocadownload/barragemdefundao/autos-
infracao/auto_infracao_samarco_21.pdf > Acesso em: 10 de nov. 2019.
287
Auto de infração disponível em: <
http://www.ibama.gov.br/phocadownload/barragemdefundao/autos-
infracao/auto_infracao_samarco_24.pdf > Acesso em: 10 de nov. 2019.
77

Em 2016, o IBAMA aplicou as seguintes multas em face da mineradora: (i) R$


41.800.000,00 (quarenta e um milhões e oitocentos mil reais), correspondente ao
auto de infração nº 9091685288; (ii) R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais),
correspondente ao auto de infração nº 8819289; (iii) R$ 101.000,00 (cento e um mil
reais), correspondente ao auto de infração nº 8855290; (iv) R$ 51.000,00 (cinquenta e
um mil reais), correspondente ao auto de infração nº 8856291; (v) R$ 51.000,00
(cinquenta e um mil reais), correspondente ao auto de infração nº 8857292; (vi) R$
311.500,00 (trezentos e onze mil e quinhentos reais), correspondente ao auto de
293
infração nº 9111638 ; (vii) R$ 51.000,00 (cinquenta e um mil reais),
correspondente ao auto de infração nº 9091609294; (viii) R$ 31.150,00 (trinta e um
mil, cento e cinquenta reais), correspondente ao auto de infração nº 9111641295; (ix)
R$ 151.000,00 (cento e cinquenta e um mil reais), correspondente ao auto de
infração nº 9091610; (x) R$ 201.000,00 (duzentos e um mil reais), correspondente
ao auto de infração nº 9091611; (xi) R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais),
correspondente ao auto de infração nº 8874296; (xii) R$ 50.000.000,00 (cinquenta
milhões de reais), correspondente ao auto de infração nº 9118721297; (xiii) R$

288
Auto de infração disponível em: <
http://www.ibama.gov.br/phocadownload/barragemdefundao/autos-
infracao/auto_infracao_samarco_9091685.pdf > Acesso em: 10 de nov.2019.
289
Auto de infração disponível em: <
http://www.ibama.gov.br/phocadownload/barragemdefundao/autos-
infracao/auto_infracao_samarco_8819.pdf > Acesso em: 10 de nov. 2019.
290
Auto de infração disponível em: <
http://www.ibama.gov.br/phocadownload/barragemdefundao/autos-
infracao/auto_infracao_samarco_8855.pdf > Acesso em: 10 de nov. 2019.
291
Auto de infração disponível em: <
http://www.ibama.gov.br/phocadownload/barragemdefundao/autos-
infracao/auto_infracao_samarco_8856.pdf > Acesso em: 10 de nov. 2019.
292
Auto de infração disponível em: <
http://www.ibama.gov.br/phocadownload/barragemdefundao/autos-
infracao/auto_infracao_samarco_8857.pdf > Acesso em: 10 de nov. 2019.
293
Auto de infração disponível em: <
http://www.ibama.gov.br/phocadownload/barragemdefundao/autos-
infracao/auto_infracao_samarco_9111638.pdf > Acesso em: 10 de nov. 2019.
294
Auto de infração disponível em: <
http://www.ibama.gov.br/phocadownload/barragemdefundao/autos-
infracao/auto_infracao_samarco_9091609.pdf > Acesso em: 10 de nov. 2019.
295
Auto de infração disponível em: <
http://www.ibama.gov.br/phocadownload/barragemdefundao/autos-
infracao/auto_infracao_samarco_9111641.pdf > Acesso em: 10 de nov. 2019.
296
Auto de infração disponível em: <
http://www.ibama.gov.br/phocadownload/barragemdefundao/autos-
infracao/auto_infracao_samarco_8874.pdf > Acesso em: 10 de nov. 2019.
297
Auto de infração disponível em: <
http://www.ibama.gov.br/phocadownload/barragemdefundao/autos-
infracao/auto_infracao_samarco_9118721.pdf > Acesso em: 10 de nov. 2019.
78

311.000,00 (trezentos e onze mil reais), correspondente ao de infração nº


9060972298; (xiv) R$ 311.000,00 (trezentos e onze mil reais), correspondente ao auto
de infração nº 9060936299; (xv) R$ 400.500,00 (quatrocentos mil e quinhentos reais),
correspondente ao auto de infração nº 9118722300.
No ano de 2017 a referida autarquia federal aplicou à Samarco 4(quatro)
multas, a saber: (i) R$ 51.000 (cinquenta e um mil reais), correspondente ao auto de
infração nº 9092911301; (ii) R$ 201.000,00 (duzentos e um mil reais),
correspondente ao auto de infração nº 9092912302; (iii) R$ 21.000,00 (vinte e um mil
reais). Correspondente ao auto de infração nº 9092913303; (iv) R$ 11.000,00 (onze
mil reais), correspondente ao auto de infração nº 9092914304.
Em 2018 houve a imposição de somente uma multa, correspondente ao
importe de R$ 201.000,00 (duzentos e um mil reais), correspondente ao auto de
infração n º 9122382305.
Do supracitado montante pecuniário, até janeiro de 2019 a Samarco ainda
não havia pago nenhuma das multas306, tendo em vista que está se valendo dos

298
Auto de infração disponível em: <
http://www.ibama.gov.br/phocadownload/barragemdefundao/autos-
infracao/auto_infracao_samarco_9060972.pdf > Acesso em: 10 de nov. 2019.
299
Auto de infração disponível em: <
http://www.ibama.gov.br/phocadownload/barragemdefundao/autos-
infracao/auto_infracao_samarco_9060936.pdf > Acesso em: 10 de nov. 2019.
300
Auto de infração disponível em: <
http://www.ibama.gov.br/phocadownload/barragemdefundao/autos-
infracao/auto_infracao_samarco_9118722.pdf > Acesso em: 10 de nov. 2019.
301
Auto de infração disponível em: <
http://www.ibama.gov.br/phocadownload/barragemdefundao/autos-
infracao/2017/auto_infracao_samarco_9092911.pdf > Acesso em: 10 de nov. 2019.
302
Auto de infração disponível em: <
http://www.ibama.gov.br/phocadownload/barragemdefundao/autos-
infracao/2017/auto_infracao_samarco_9092912.pdf > Acesso em: 10 de nov. 2019.
303
Auto de infração disponível em: <
http://www.ibama.gov.br/phocadownload/barragemdefundao/autos-
infracao/2017/auto_infracao_samarco_9092913.pdf > Acesso em: 10 de nov. 2019.
304
Auto de infração disponível em: <
http://www.ibama.gov.br/phocadownload/barragemdefundao/autos-
infracao/auto_infracao_samarco_9092914.pdf > Acesso em: 10 de nov. 2019.
305
Auto de infração disponível em: <
http://www.ibama.gov.br/phocadownload/barragemdefundao/autos-infracao/2018/2018-02-05-
auto_infracao_samarco_9122382.pdf > Acesso em: 10 de nov. 2019.
306
COUTINHO, Matheus. Samarco não pagou nenhuma multa ao Ibama referente à tragédia em
Mariana. O globo. 29 de jan. 2019. Disponível em: < https://oglobo.globo.com/brasil/samarco-nao-
pagou-nenhuma-multa-ao-ibama-referente-tragedia-em-mariana-23410255 > Acesso em: 10 de nov.
2019.
79

recursos administrativos e judiciais para protelar o adimplemento das mesmas,


conforme informações do próprio IBAMA307.

4.3 A materialização da responsabilidade penal ambiental

A responsabilidade penal ambiental se materializou, no caso em tela, pelo


oferecimento de uma denúncia308, proposta pelo Ministério Público Federal em face
da Samarco e de suas controladoras, além de uma outra pessoa jurídica, a saber,
VOGBr Recursos Hídricos e Gotecnia Ltda e de mais vinte e duas pessoas físicas.
O Ministério Público Federal imputou à Samarco, Vale e BHP Billiton Brasil,
doze crimes ambientais. No que tange à VOGBr e seu engenheiro foi imputado, a
ambos, o crime de elaboração de laudo ambiental falso. Enquanto que em face das
outras vinte e uma pessoas físicas, além dos crimes em que incorreu a Samarco, o
parquet lhe imputou os seguintes delitos previstos no Código Penal: homicídio
doloso qualificado por motivo torpe, por meio indicioso ou cruel e por meio que
impossibilitou a defesa das vítimas e lesões corporais; crime de inundação e por
crime de desabamento ou desmoronamento309.
A denúncia foi recebida em 16 de novembro de 2016, pelo Juízo da Vara
Única de Ponte Nova/MG, dando ensejo à ação penal nº 0002725-
15.2016.4.01.3822. Em relação a tramitação da referida ação penal destaca-se que
em abril de 2019, o TRF da 1ª Região ao julgar o HC nº 1033377-
47.2018.4.01.0000, trancou a ação penal originária, no que tange aos crimes de
homicídio e lesão corporal imputados aos executivos das mineradoras 310.
Salienta-se que a ação penal em questão não resultou em nenhuma prisão,
até o momento, e somente nove pessoas físicas, das vinte e duas denunciadas,

307
IBAMA diz que Samarco não pagou nenhuma multa aplicada pelo órgão após desastre em
Mariana. G1–Política. Brasília, 29 de jan. 2019. Disponível: <
https://g1.globo.com/politica/noticia/2019/01/29/ibama-diz-que-samarco-nao-pagou-nenhuma-multa-
aplicada-pelo-orgao-apos-desastre-em-mariana.ghtml > Acesso em: 14 de nov. 2019.
308
Denúncia disponível em: < http://www.mpf.mp.br/mg/sala-de-imprensa/docs/denuncia-samarco >
Acesso em: 14 de nov. 2019.
309
MPF, Ministério Público Federal. Tragédia em Mariana: Justiça recebe denúncia do MPF e
instaura ação penal contra os 26 acusados. Brasília, 18 de nov. 2016. Disponível em: <
http://www.mpf.mp.br/mg/sala-de-imprensa/noticias-mg/tragedia-em-mariana-mg-justica-federal-
recebe-denuncia-do-mpf-e-instaura-acao-penal-contra-os-26-acusados > Acesso em: 14 de nov.
2019.
310
MPF, Ministério Público Federal. Caso Samarco: Nota sobre o trancamento da acusação de
homicídio na ação penal. Disponível em: < http://www.mpf.mp.br/mg/sala-de-imprensa/noticias-
mg/caso-samarco-nota-sobre-o-trancamento-da-acusacao-de-homicidio-na-acao-penal> Acesso em:
14 de nov. 2019.
80

figuram no polo passivo311. A última decisão do processo analisada até o


fechamento deste trabalho, datada de 20 de setembro de 2019312, além de resolver
algumas questões processuais, foi responsável por excluir do polo passivo oito réus,
totalizando apenas os nove supracitados.

311
RODRIGUES, Leo. MPF recorre da exclusão de 8 réus de ação penal da tragédia de Mariana.
Agência Brasil. Rio de Janeiro: 30 de set. 2019. Disponível em: <
http://agenciabrasil.ebc.com.br/justica/noticia/2019-09/mpf-recorre-da-exclusao-de-8-reus-de-acao-
penal-da-tragedia-de-mariana > Acesso em: 15 de nov. 2019.
312
Decisão disponível em:
<https://processual.trf1.jus.br/consultaProcessual/processo.php?proc=27251520164013822&secao=P
NV&pg=1&trf1_captcha_id=560c5a9742d2ed06abec75f4454bcf99&trf1_captcha=vc7r&enviar=Pesqui
sar > Acesso em: 15 de nov. 2019.
81

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho buscou analisar as esferas de responsabilidade que são


desencadeadas pela ocorrência de danos ambientais, com o enfoque no caso
Samarco, em virtude do rompimento da barragem do Fundão, em 05 de novembro
de 2015.
Inicialmente, vislumbrou-se que a Constituição Federal de 1988 representou,
na seara ambiental, um papel inovador na ordem jurídica pátria ao positivar normas
com um viés mais protecionista em detrimento dos diplomas constitucionais
anteriores. Esse papel inovador se traduziu, também, conforme demonstrado no
capítulo 1, na expressa previsão da tríplice responsabilidade, na medida em que o
causador do dano ambiental pode sofrer sanções, concomitantes, na esfera civil,
administrativa e penal.
Verificou-se, ainda, que o licenciamento ambiental e os princípios da
precaução e prevenção são três institutos importantes dentro da seara ambiental
que, uma vez observados, impossibilitam ou, pelo menos diminuem ao máximo, o
desencadeamento da tríplice responsabilidade.
Ao analisar o caso Samarco, pôde-se verificar que os referidos institutos não
foram suficientes para impedir a incidência da tríplice responsabilidade em face
daquele empreendedor minerário, eis que, o rompimento da barragem do Fundão,
foi tão danoso que recebeu a titulação de maior desastre tecnológico ambiental da
história do Brasil.
Esse desastre, que pode ser classificado como tecnológico, pelo fato de não
ter decorrido da natureza, mas de uma ação antrópica, que no caso em tela, se
transmuta para a figura dos empreendedores minerários, ocasionou, também, danos
diretos ao meio ambiente. Os supracitados danos, deram azo ao desencadeamento
das três esferas de responsabilidade ambiental: civil, administrativa e penal.
Em que pese o processo responsabilizatório ainda estar em fase de
execução, o arcabouço utilizado como fonte metodológica, incluindo principalmente
dados oficiais do judiciário, pesquisas e notícias divulgadas pela mídia, indicou que a
responsabilização civil ambiental se materializou, basicamente, por meio de Ações
Civis Públicas e Termos de Ajustamento de Condutas. A responsabilização
administrativa, por sua vez, através de multas. Enquanto que a responsabilização
penal ambiental se materializou através de uma ação penal, ainda em trâmite.
82

Apesar de a responsabilidade civil ter sido desencadeada pelos danos


ambientais, as Ações Civis Públicas e os Termos de Ajustamento de Condutas,
firmados nos bojos daquelas também abarcaram responsabilizações advindas de
outros danos coletivos, em virtude de seus objetos envolverem não apenas o meio
ambiente e pelo fato de o desastre, em questão, ter sido tecnológico e de grande
magnitude. Acerca dos danos ambientais destacaram-se a destruição de áreas de
mata atlântica e de vegetação nativa, além de áreas de proteção permanente e
contaminação do Rio Doce e outros corpos hídricos.
Também foi objeto de análise, os danos causados à população de forma
reflexa, em virtude dos danos ambientais, e os danos coletivos à referida população
pelo impacto direto da lama na estrutura socioeconômica de suas comunidades.
Como exemplo dos danos em comento, destacaram-se a destruição, por completo,
da estrutura urbanística dos subdistritos de Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo,
além da impossibilidade de abastecimento de cidades que se valiam do Rio Doce e
de outros corpos hídricos que foram contaminados pelos rejeitos.
Dessa forma, vislumbrou-se que a responsabilidade civil ambiental além de
ter provido sanções à Samarco de cunho exclusivamente ambiental, promoveu, de
forma indireta, também, sanções coletivas não ambientais, mas igualmente
importantes para a reparação integral do evento danoso. Dentre as ambientais foi
destacado, por exemplo, o desembolso, por parte da Samarco, de quantia para a
preservação de nascentes e em relação aos outros danos coletivos, a obrigação de
promover o reassentamento de famílias diretamente atingidas pela lama.
A responsabilidade administrativa ambiental, em âmbito federal, se
materializou através da imposição de multas, mas ainda não obteve concretude em
virtude do empreendedor minerário, em questão, ter se socorrido da seara recursal,
impedindo, até o encerramento deste trabalho, o pagamento das referidas sanções.
Verificou-se que a responsabilidade penal ambiental apesar de também ter
sido desencadeada após a ocorrência dos danos ambientais, assim como a
administrativa, não possui concretude até a data de encerramento deste trabalho,
Isso porque a ação penal que materializou a referida responsabilidade, e que abarca
diversos crimes ambientais, ainda está em trâmite.
Conclui-se, que as três esferas de responsabilidade são cabíveis em face dos
empreendedores minerários caso danos ambientais advenham dessa atividade e
que a Samarco, enquanto empreendedor minerário, está sofrendo a referida tríplice
83

responsabilidade em virtude dos danos ambientais causados pelo rompimento da


barragem de Fundão, enquanto maior desastre tecnológico ambiental do Brasil.
84

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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vale que se rompeu em brumadinho. G1 – Economia, 28 de jan. 2019. Disponível
em: < https://g1.globo.com/economia/noticia/2019/01/28/entenda-como-funciona-a-
barragem-da-vale-que-se-rompeu-em-brumadinho.ghtml > Acesso em: 13 de set.
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ALVES, Brunela. 19 áreas do ES entram na lista de atingidas pela Samarco. G1-


Espírito Santo. 01 de abr. 2017. Disponível em: < https://g1.globo.com/espirito-
santo/desastre-ambiental-no-rio-doce/noticia/19-areas-do-es-entram-na-lista-das-
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AMADO, Frederico. Direito ambiental. Capítulos II, IX e X. Salvador: Juspodivm.


2019.

BEDINELLI, Talita. Samarco pagou só 1% do valor de multas ambientais por


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BORGES, Juliana. Lama de barragem da Samarco chega ao mar no ES. G1 –


Espírito Santo. 21 de nov. 2015. Disponível em: < http://g1.globo.com/espirito-
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BRASIL. Constituição (1988). Constituição: República Federativa do Brasil. Brasília:


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sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao
meio ambiente, e dá outras providências. Disponível em
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9605.htm>. Acesso em: 22. set. 2011.

______ Lei Federal nº 6.938 de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política


Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e
dá outras providências. Disponível em
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de responsabilidade por danos causados ao meio-ambiente, ao consumidor, a bens
e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico (VETADO) e dá
outras providências. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7347orig.htm > Acesso em: 22 set. 2019.
85

______ Lei Federal nº 10.406 de 10 de janeiro de 2012. Institui o Código Civil.


Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm > Acesso
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Estabelece normas gerais a serem adotadas na organização do Ministério Público
estadual. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/Lcp40.htm >
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_______. Lei complementar nº 140 de 08 de dezembro de 2011.
Fixa normas, nos termos dos incisos III, VI e VII do caput e do parágrafo único do
art. 23 da Constituição Federal, para a cooperação entre a União, os Estados, o
Distrito Federal e os Municípios nas ações administrativas decorrentes do exercício
da competência comum relativas à proteção das paisagens naturais notáveis, à
proteção do meio ambiente, ao combate à poluição em qualquer de suas formas e à
preservação das florestas, da fauna e da flora; e altera a Lei n o 6.938, de 31 de
agosto de 1981. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/LCP/Lcp140.htm > Acesso em: 22 set.
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_______. Decreto nº 6.514 de 22 de julho de 2008.


Dispõe sobre as infrações e sanções administrativas ao meio ambiente, estabelece o
processo administrativo federal para apuração destas infrações, e dá outras
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