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HISTÓRIA DO CINEMA

1ª aula

O nascimento do cinema – a imagem em movimento.


A projecção de imagens - da pintura rupestre aos irmãos Lumière (o
cinematógrafo). De Griffith (The Birth of a Nation ) a John Ford (Young Mr.
Lincoln).

A Liberdade guiando o povo


Abertura simbólica em torno do tópico da Liberdade, tópico que guiará as nossas aulas; a
liberdade do homem, do indivíduo e o seu itinerário, através de múltiplas invenções que
culminaram com o cinematógrafo (irmãos Lumière), e que continuaram até hoje.
Os filmes, os realizadores, os actores/actrizes e os contextos sócio-políticos e culturais
fundamentais da História do Cinema.

A Liberdade guiando o povo (1830) é uma pintura de Eugène Delacroix e refere-se à


Revolução de 1830. Expressa a revolta do povo contra o rei Carlos X e a violação das liberdades
conquistadas em 1789.
A mulher, representada como uma deusa clássica, sinónimo de virtude e eternidade, representa a
Liberdade, guiando o povo por cima dos corpos dos derrotados e empunhando a bandeira
tricolor da Revolução. https://www.wikiart.org/pt/eugene-delacroix/a-liberdade-guiando-o-povo-1830

Fig. 1 - Delacroix (A Liberdade guiando o povo (1830)

O que é o cinema?
A palavra cinematografia deriva do grego e resulta da combinação da palavra kinema, movimento,
com a palavra graphein, escrita.

A Lanterna Mágica
A Lanterna Mágica é a antecessora dos aparelhos de projeção modernos. É composta por uma
fonte luminosa, que nas primeiras lanternas era uma simples vela ou um candeeiro a petróleo, um
reflector, um condensador e uma objectiva. Podemos definir a lanterna mágica como “uma caixa
óptica que projeta sobre uma tela branca (tecido, parede caiada, ou mesmo couro branco) numa
sala escurecida, imagens pintadas sobre uma placa de vidro. O padre jesuíta alemão Athanasius
Kircher aproveitará as suas potencialidades, transformando-a num eficaz instrumento
pedagógico, descrito na sua obra Ars Magna Lucis et Umbrae, impressa em Amesterdão em 1671.
A popularidade e interesse pela Lanterna Mágica levaram ao aparecimento, em muitos países da
Europa, de um novo ofício, o de Lanternista ambulante. Os espectáculos da Lanterna Mágica,
muitas vezes com acompanhamento musical (um realejo ou uma caixa de música), estavam na
moda e multiplicaram-se um pouco por toda a Europa
Eadweard Muybridge (1830/1904) – O zoopraxiscópio
Em 1876, Eadweard Muybridge (1830/1904), um fotógrafo inglês conhecido por fazer
experiências com o uso de múltiplas câmaras para captar o movimento, inventou o
zoopraxiscópio. Este dispositivo não capturava imagens, apenas os exibia de forma animada.
Assim, girando uma manivela, onde um pequeno disco gira, e intercalando fotografias do mesmo
objeto mas em diferentes posições, criava, desse modo, a ilusão de movimento.

Thomas Edison (1847/1931)


Thomas Edison é um dos precursores da revolução tecnológica do séc. XX. O criador da
Lâmpada incandescente, ficou conhecido como O Feiticeiro de Menlo Park (The Wizard of Menlo
Park). Em 1877, o empresário norte-americano, responsável pelo registo de mais de 2000
patentes/invenções, inventou o fonógrafo. Em 1883 William Dickson, é contratado como chefe
engenheiro da Edison Laboratories e cria a 1ª película de celulóde. Cortou um filme em rolo
convencional, que na época era de 70 mm de largura, e perfurou as bandas laterais das tiras
de 35 mm resultantes, criando assim o padrão do filme de 35 mm como o conhecemos hoje em
cinema e fotografia.
Em 1891, Thomas Edison patenteia o cinetoscópio, um instrumento de projecção interna de filmes.
Possuía um visor individual através do qual se podia assistir, mediante a inserção de uma moeda,
à exibição de uma pequena tira de filme em looping, na qual apareciam imagens em movimento de
cariz essencialmente cómico. O cinetoscópio não consiste tecnicamente num projector, mas sim
numa máquina de peep show que mostrava em loop contínuo o filme que Dickson criara e que era
iluminado por uma lâmpada inventada por Edison. O filme era visto individualmente por cada
espectador, através de uma janela que funcionava como visor, instalada no equipamento. O
cinetoscópio introduziu, assim, o que viria a ser o padrão para as projeções cinematográficas.
William Dickson desenvolverá também o cinetógrafo, um antepassado da máquina de filmar que se
destinava a registar as imagens animadas com as quais Edison posteriormente viria a invadir os
Nickelodeons, para o entretenimento de milhões de pessoas.
O processo filmográfico consistia essencialmente em duas etapas: após o registo das imagens
feito pelo cinetógrafo, a sequência de imagens era então visualizada através de um óculo dentro de
um caixote de madeira (cinetoscópio).
Apesar destas invenções permanecerem no nome de Edison, elas, na verdade, foram produzidas
por William Dickson e uma equipa de técnicos de Edison, cujo objectivo era a criação de
máquinas que produzissem e mostrassem fotografias em movimento (motion picture).
O casamento/sincronização entre o fonógrafo e o cinetoscópio, ou seja, unir os 2 mundos, o áudio
e a imagem, levaria ainda algum tempo, a ser conseguido.

O Peep Show (Peep_espreitar_Caixas de Surpresas)


O Peep Show é uma forma de entretenimento que consiste na exibição de fotografias
visualizadas através de um pequeno furo/buraco ou lupa numa caixa. A estrutura do dispositivo
consiste numa caixa que contém uma pintura ou uma fotografia no seu interior (iluminada por
meio de velas, lâmpadas ou luz natural) e na abertura através da qual o espectador vê/espreita a
obra. A origem das caixas de Peepshow remonta às experimentações renascentistas com
perspectiva feitas no séc. XVII e ganha notoriedade em meados do séc. XVIII, devido à
curiosidade gerada no público. Inicialmente, os espetáculos eram realizados dentro de caixas
ópticas que apresentavam imagens, objetos ou marionetas em movimento, narrados pelo artista
ou, como era conhecido, pelo contador, uma espécie de storyteller, que fazia uma recitação
dramatizada do que acontecia no seu interior, estimulando dessa forma a imaginação dos
espectadores.

Os irmãos Lumière – A invenção do Cinematógrafo


Baseado na invenção de Thomas Edison, em França, os irmãos Auguste e Louis Lumière
inventaram o cinematógrafo, um aparelho portátil que congregava, finalmente, as 3 funções:
máquina de filmar, revelar e projectar. Louis e Auguste eram filhos e colaboradores do industrial
Antoine Lumière, fotógrafo e fabricante de películas fotográficas, proprietário da fábrica
Lumière na cidade francesa de Lyon. A invenção do cinematógrafo constitui um marco
fundamental na História do Cinema.
O cinematógrafo era uma máquina a manivela que permitia captar as imagens, revelar o filme e,
depois, também projetá-lo numa tela. Era portátil (pesava menos de 5 kg). Essa versatilidade foi
uma das características que ajudaram a defini-lo como o marco zero do cinema.

1. O cinematógrafo era apoiado num tripé para garantir a estabilidade durante a filmagem. Ele
não possuía um visor. O enquadramento era feito pouco antes do instante da gravação, com o
aparelho aberto e o cinegrafista olhando diretamente através da janelinha (a objetiva)
2. Na caixinha menor superior era alocado o rolo de filme virgem, com 35 mm de largura e 17 m
de comprimento (medidas que, depois, se tornariam o padrão da indústria). Os furos nas laterais
demarcavam os frames e engatavam o filme em pinos acionados pela manivela
3. Além de “puxar” o filme para dentro do sistema, expondo-o à sensibilização diante da entrada
de luz, a manivela também acionava um “leque” giratório que cobria temporariamente essa
abertura, servindo como uma espécie de obturador
4. O ritmo era essencial: a cada segundo, o cinegrafista devia completar duas voltas na manivela.
Isso garantia que, por exatos 16 frames, o filme tinha o tempo de exposição necessário para
registrar a imagem. Aí, o mecanismo recolhia a película em outro compartimento, escuro e
protegido. (Também dava para copiar um filme, correndo o negativo em paralelo com um filme
virgem)
5. A película usada pelos Lumière era bastante sensível à luz, o que tornava tanto o processo de
captura quanto o de revelação bastante rápidos. Assim, era possível gravar e exibir um filme no
mesmo dia! Para a projeção, o cinematógrafo era aberto e passava por uma readaptação bastante
simples
6. O filme revelado era devolvido à caixa superior. A lente de pouca abertura usada para a
gravação era trocada por uma maior, que ampliava as imagens. Uma fonte de luz, posicionada
atrás da máquina aberta, enviava as imagens para a tela branca. Aí, bastava rodar a mesma
manivela no mesmo ritmo do registo.

A primeira demonstração pública do aparelho foi feita numa sala chamada Eden em La Ciotat, no
sudeste da França, a 28 de Setembro de 1895. Mais tarde, a 28 de Dezembro do mesmo ano, os
Lumière organizaram em Paris, no salão do Grand Café, a primeira exibição comercial do
cinematógrafo. A exibição foi um sucesso e a data de 28 Dezembro de 1895, data da primeira
projecção pública paga, é comummente associada ao nascimento do cinema.

Fig. 2 - Programa/Cartaz (1895)

FILMES:
La Sortie de l'Usine Lumière - 1895, Louis & Auguste Lumière (França _ 45’’)
https://www.youtube.com/watch?v=NwRAUniWJPY
L'arrivée d'un train à gare de La Ciotat -1895, Louis & Auguste Lumière ((França _ 45’’)
https://www.youtube.com/watch?v=zaO_H2cUh60

L’arroseur arrosé (O Regador Regado) - 1895, Louis & Auguste Lumière (França)
https://www.youtube.com/watch?v=UlbiNuT7EDI

Georges Méliès (1861/1938)


Georges Méliès foi um ilusionista e cineasta francês famoso por liderar muitos desenvolvimentos
técnicos e narrativos no alvorecer do cinema. Méliès, um inovador prolífico no uso de efeitos
especiais, popularizou técnicas como o stop-motion e foi um dos primeiros cineastas a usar
exposições múltiplas, a câmara rápida, as dissoluções de imagem e o filme colorido. Ele também
foi um pioneiro no uso de storyboards. Graças à sua capacidade de manipular e transformar a
realidade através da cinematografia, Méliès é conhecido como um "mágico de cinema".
Ele foi responsável pelo reparo e aprimoramento tecnológico desta indústria, mostrando as
habilidades mecânicas que mais tarde seriam tão úteis. Quando seu pai se aposenta e deixou o
negócio, Méliès recusou-se a continuar, usando sua parte sua parte do dinheiro que herdara da
fábrica de sapatos e comprou o teatro Robert-Houdin em Paris, que havia pertencido ao famoso
mágico Houdin, do qual ele era um visitante frequente. Foi ali que Méliès deu asas a sua
imaginação vívida pela primeira vez, realizando práticas ilusionistas e truques fantásticos e
impressionantes.
No fim de 1895, Georges Méliès presenciou uma das primeiras aparições públicas do
cinematógrafo dos irmãos Lumière e ficou maravilhado. Ele contou como ele e o público
permaneceram “sentados e boquiabertos, sem palavras com tanta admiração”. Méliès logo
percebeu o espetacular e mágico potencial do “Cinématographe Lumière”.
Méliès, como todos nos primórdios do cinema, filmava a preto e branco, mas também foi ele o
primeiro cineasta a dar cor aos seus filmes, colorindo à mão, quadradinho por quadradinho, frame
por frame (técnica conhecida como frame-by-frame), as películas para exibição.

A versão colorida da clássica Viagem à Lua ficou perdida por décadas, até que uma lata foi
encontrada em Barcelona (Filmoteca da Catalunha) em 1993, com o filme bastante deteriorado.
Passou-se então ao meticuloso processo de restauração, usando tecnologia digital, para recuperar
o tesouro perdido. O resultado foi apresentado em Cannes, 2010, causando vertigens nos
cinéfilos mundo afora.

FILMES:
Le Voyage dans la Lune – 1902, Georges Méliès (França _ 14')
(C/ banda sonora de Billi Brass Quintet (Perugia/Itália)
https://www.youtube.com/watch?v=ZNAHcMMOHE8

Le Voyage dans la Lune – 1902, Georges Méliès (França _ 14') (versão restaurada e colorida)
https://vimeo.com/202765496

Voyage dans la Lune (1902) narra uma jornada surrealista inspirada em Júlio Verne (“Da Terra
à Lua”) e em H. G. Wells (“The First Men in the Moon”) e são considerados filmes precursores do
cinema de ficção científica.

Voyage à travers l'impossible – 1904, Georges Méliès (França _ 20')


https://www.youtube.com/watch?v=FS_cl3qzEJA

Narram jornadas estranhas, surrealistas e fantásticas inspiradas em Júlio Verne (Voyages a travers
I'impossible, peça em 3 actos co-escrita com d'Ennery, 1882) e são considerados um dos filmes
mais importantes e influentes do cinema de ficção científica.

Le Manoir Du Diable (A Mansão do Diabo) - 1896, Georges Méliès (França)


https://www.youtube.com/watch?v=9-r4-CYNmxQ
Méliès foi também um pioneiro dos filmes de terror com o seu primeiro filme Le Manoir du
Diable (1896).

Edwin S. Porter (1870/1941)


Edwin S. Porter, cineasta e produtor norte-americano, projectista e engenheiro da Edison
Company é outro nome fundamental e um dos pioneiros do cinema. Ficou famoso por realizar
vários filmes para o Edison Studios, de Thomas Edison.

Fundindo o estilo documentalista dos irmãos Lumière e as fantasias teatrais de Georges Méliès,
Edwin Porter desenvolve os princípios da narrativa e da montagem com o filme Life of an
American Fireman (1903) e consolidados com o filme The Great Train Robber (1903).

The Great Train Robbery rompeu com as composições de filmes ao estilo Méliès, através do
uso de edição/montagem e de tomadas de planos/imagens inovadoras, criando a ideia de
continuidade da acção. The Great Train Robbery estabeleceu a narrativa realista como padrão
no cinema, inaugurando ao mesmo tempo o género western, e foi também o primeiro grande
sucesso de bilheteria. O seu sucesso abriu o caminho para o crescimento da indústria
cinematográfica, já que os investidores, reconhecendo o grande potencial lucrativo do cinema,
começaram a abrir os primeiros cinemas permanentes em todo o país. Uma curiosidade
importante (e que viria a ser uma marca na definição conceptual e moral da indústria de cinema
norte-americana), tem a ver com a necessidade que Porter teve de alterar o final, porque os
bandidos saíam-se bem no desfecho narrativo, o que passava uma ideia de impunidade ao povo.

FILMES:

Life of an American Fireman (1903) - Edwin S. Porter (7’)


https://www.youtube.com/watch?v=6ym7-QW_GWo

The Great Train Robber (1903) - Edwin S. Porter (14’)


https://www.youtube.com/watch?v=7XVOisZVB_I

David W. Griffith (1875/1948)


D. W. Griffith, foi um realizador norte-americano, considerado por muitos como um dos mais
influentes realizadores da história do cinema, sendo considerado o criador da linguagem
cinematográfica por ter introduzido e desenvolvido inovações profundas na forma de fazer
cinema. Birth of a Nation (Nascimento de uma Nação) é disso um bom exemplo. A montagem
paralela, isto é, a alternância de duas ou mais linhas de acção, e o “last minute rescue” (salvamento
no último minuto) são duas formas de construir o suspense, e foram exploradas exaustivamente
por David Griffith. O travelling e a utilização dramática do close-up são também inovações
introduzidas por Griffith, que concorreram para a sistematização da linguagem cinematográfica.
O filme relata as vidas de duas famílias durante a Guerra da Secessão (1861-1865) e a
subsequente reconstrução dos EUA (1865-1877). O assassinato de Abraham Lincoln é também
dramatizado no filme.
Apesar de ser considerado um dos grandes marcos do cinema moderno, este filme continua a
gerar polémica sempre que é exibido. A controvérsia assenta sobretudo no racismo que o
realizador deixa transparecer através do filme e na apologia que nele é feito do Ku Klux Klan.

Intolerance, o outro grande filme de Griffith, foi feito parcialmente em resposta às críticas ao
The Birth of a Nation, filme pelo qual foi acusado de perpetuar estereótipos raciais e de
glorificar o Ku Klux Klan.
Em Intolerance, Griffith narra quatro histórias que se desenrolam em diferentes épocas – no
mundo moderno, na época de Cristo, na França do século 16 e na antiga Babilónia. Não existe
outra conexão entre esses segmentos senão o facto de abordarem a intolerância (religiosa,
política, social) ao longo da História. Griffith investiu uma fortuna pessoal na realização mas o
filme foi um fracasso e levou-o à ruína.

FILMES:

The Birth of a Nation – 1915 de David Wark Griffith c/ Lillian Gish, Robert Harron, Mae
Marsh, Miriam Cooper (190’)
https://www.youtube.com/watch?v=nGQaAddwjxg

Intolerance – 1916 de David Wark Griffith c/ Lillian Gish, Mae Marsh, Robert Harron (190’)
https://www.youtube.com/watch?v=SyqDQnoXa70&spfreload=5

Dos traços racistas em The Birth of a Nation (1915) de David Wark Griffith, à celebração
de Abraham Lincoln por John Ford.

Young Mr. Lincoln (1939), realizado por John Ford, com Henry Fonda (Abraham Lincoln) e
Alice Brady (Abigail Clay), é um filme americano que retrata a vida de Abraham Lincoln.
Abraham Lincoln (1809/1865,) foi o 16º presidente dos EUA, posto que ocupou de 4 de março
de 1861 até ao seu assassinato em 15 de abril de 1865. Lincoln liderou o país de forma bem-
sucedida durante sua maior crise interna, a Guerra Civil Americana, preservando a União e
abolindo a escravidão.

Young Mr. Lincoln, de John Ford (1939) c/ Henry Fonda (Abraham Lincoln) (100’)
https://www.youtube.com/watch?v=j9oxjPPEscU

zzepires@gmail.com

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