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HISTÓRIA DA MÍDIA

O CINEMA: ECOS DA REALIDADE NO


BRASIL E NO MUNDO

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Olá!
Ao final desta aula, você será capaz de:

1. Identificar o nascimento do cinema como parte de um processo de afirmação de uma nova percepção do

mundo advinda dos valores da modernidade, verificando o papel da “sétima arte” em suas relações com os

valores estabelecidos pela reestruturação da sociedade e do sistema de poder dentro dos ideais burgueses.

2. Compreender os desafios do cinema, nas fronteiras da comunicação de massa e das formas de expressão

artística, desde seus primórdios à contemporaneidade.

3. Registrar os primórdios do cinema no mundo e no Brasil, pensando também as condições de funcionamento

do trinômio produção/exibição/distribuição ao longo de sua história.

4. Entender a trajetória do cinema brasileiro em meio à organização de uma indústria da informação e do

entretenimento mundial.

Fonte: Filme da década de 1960, inspirado no conto "Viagem aos Seios de Duília," de Aníbal Machado. Divulgação

original: //www.cinebrasiltv.com.br/

1 Introdução
Investigando o porquê do poder atribuído ao cinema nos dias de hoje – de construir um mundo dissociado do

mundo real e, ao mesmo tempo, tão fiel a ele a ponto de causar a impressão de realidade – precisamos

retroceder um pouco para localizar, já na fotografia, a exaltação de um certo coeficiente de “realismo”, como

pudemos observar em nossa aula anterior sobre a história da fotografia.

De certo precisaríamos também avançar e pensar como TV e cinema se encontraram.

TV

CINEMA

“O cinema é realidade 24 quadros por segundo”

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Tal exaltação parece muito mais intensa no caso do cinema, graças ao desenvolvimento temporal de sua imagem,

capaz de reproduzir, não só mais uma propriedade do mundo visível, mas justamente uma propriedade essencial

a sua natureza – o movimento.

Os anos da chamada Belle Époque do cinema (1895-1912) foram a época máxima do desenvolvimento do

Capitalismo Imperialista Colonial.

Esse primeiro cinema era um cinema de atrações conforme elaborou Tom Gunning. O cenário internacional era

dominado pela busca de um equilíbrio, que se revelava cada vez mais precário, entre as várias potências que

levavam a cabo uma política de exacerbado nacionalismo e de rígido controle sobre as colônias de exploração. A

busca da igualdade entre o projeto de preponderância política da classe industrial burguesa e as urgências de um

proletariado em ascensão que iniciavam uma certa expressão política e sindical. Mas foi também um período de

grandes avanços científicos, tecnológicos e sociais. A ideologia de um progresso que pudesse alcançar todas as

camadas sociais foi um marco dessa época, pelo menos até a Primeira Guerra Mundial.

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O surgimento do cinema na Europa (e, ao mesmo tempo, na América do Norte) – fruto da aceleração do

progresso técnico e científico – a partir de meados dos anos 90 do século XIX era o indício de que o setor do

entretenimento estava prestes a ser contemplado com os avanços tecnológicos vindos da Revolução Industrial.

2 Primórdios do cinema
A descoberta de Isaac Newton sobre a persistência da imagem na retina, que precisa de um intervalo de tempo

mínimo para poder fixar cada nova imagem vista por nossos olhos, e os esforços de um grupo de pesquisadores

técnicos e cientistas lançam as bases para o cinema.

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Em 1893 é apresentado, na Feira Internacional de Chicago, o cinetoscópio de Thomas Edison. Para o cineasta e

historiador, Roberto Moura, o aparelho de Edison “é a grande novidade: uma caixa com uma abertura atrás da

qual um espectador via as imagens ampliadas por uma lupa. O invento é logo comercializado em diversos

países.” (MOURA, Roberto. A bela época (Primórdios-1912). In: RAMOS, Fernão (Org.). História do cinema

brasileiro. São Paulo: Art Editora, 1990. [p. 12])

Mas são Louis e Auguste Lumière – conhecidos como os irmãos Lumière –, que através da conjugação dos

avanços realizados no material sensível e no projetor conseguem chegar ao momento histórico da primeira

sessão pública de cinema, realizada em Paris, no subsolo do Grand Café, em 28 de dezembro de 1895.

O cinematógrafo dos irmãos Lumière constituiu o coroamento de vários anos de pesquisas.

Paralelamente ao invento dos irmãos Lumière, aconteceram semelhantes descobertas em outros países mais

desenvolvidos, tais como:

Herdeiros das lanternas mágicas*:


• Cinetógrafo
• Cronofotografoscópio

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• Cronofotografoscópio
• Bioscópio
• Vitascópio
* lanternas mágicas:

Nenhuma delas, no entanto, alcançou a qualidade do cinematógrafo. Em 8 de julho de 1896, o Jornal do

Comércio, relata a experiência* da primeira exibição cinematográfica no Brasil.

* relata a experiência: (...) inaugurou-se ontem às duas horas da tarde, em uma sala à Rua do Ouvidor, um

aparelho que projeta sobre uma tela colocada ao funda da sala diversos espetáculos e cenas animadas, por meio

de uma série enorme de fotografias(...) cremos ser este o mesmo aparelho a que se dá o nome de

cinematographo MOURA, Roberto. A bela época (Primórdios-1912). In: RAMOS, Fernão (Org.). História do

cinema brasileiro. São Paulo: Art Editora, 1990. [p. 15)).

O processo de elaboração de uma linguagem para o cinema estende-se ao longo da década de 1920 e dá um

verdadeiro salto com o advento do som.

Em 1927, estréia “O cantor de jazz”, primeiro filme oficialmente falado da história do cinema mundial. A partir

daí, as trilhas de diálogos, efeitos sonoros, ruídos e sons ambientes tornam cada vez mais imperceptíveis as

passagens de um plano a outro dentro do filme.

O som tornou-se um grande aliado na tarefa de escamoteamento da descontinuidade visual e contribuiu

diretamente dar mais realismo ao cinema.

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3 O cinema dominante hollywoodiano
Os primórdios do cinema teve que lidar com a dicotomia entre:
• Uma autoconsciência do caráter de autenticidade de reprodução do real que a nova tecnologia das
“imagens em movimento” assegurava.
• A facilidade com que se podiam produzir simulações perfeitamente aceitáveis, sobretudo por parte do
público ingênuo, crédulo e assustado que lotava as primeiras salas de projeções cinematográficas.
Tanto no documentário quanto na ficção, desde suas origens o cinema começou a desfrutar, muito mais do que a

literatura e a pintura, de um entusiasmo vindo do fato realmente acontecido

As primeiras legendas de abertura dos filmes alertavam para o fato de que o que seria mostrado nas imagens

eram fatos “verídicos”, quer eles fossem inspirados em acontecimentos, em crônica, na vida real ou em passados

históricos.

O caráter que o cinema assumiu foi tomado como uma nova fonte de documentação histórica, que propunha o

estabelecimento de novos arquivos para conservação e consulta.

No ínicio de século XX, a instalação de grandes produtoras na Europa e nos Estados Unidos foi viabilizada pelo

desenvolvimento da pesquisa tecnológica no campo das “imagens em movimento”.

A partir daí, a mesma política imperialista e expansionista impetrada no setor econômico pelos países mais

desenvolvidos (ou ricos) – especialmente os EUA – é aplicada também ao cinema. As produções norte-

americanas passam a necessitar de novos mercados para escoar suas mercadorias – neste caso, os filmes.

O modelo hollywoodiano domina toda a história do cinema mundial. É quase um sinônimo do próprio cinema. A

primazia desse cinema hoje ainda é grande, Dê uma olhada nos filmes em cartaz e verifique.

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Na França, a Pathé, com a colaboração de Ferdinand Zecca, produz vários filmes com o apoio de estúdios, fábrica

de película, laboratórios industriais e agências de distribuição. Pathé exige do congresso francês leis de proteção

para a produção, distribuição e exibição cinematográficas; argumentando que o cinema contribuía para a nação

quase como a indústria mais lucrativa – a indústria de armamentos.

4 A trajetória do cinema pelo mundo


Da invenção das “imagens em movimento” até a mais recente fase de englobamento do cinema no universo da

comunicação eletrônica-digital, são diversas as etapas que a arte cinematográfica passou.

Dependendo do caminho a ser seguido na investigação dos diversos pontos de vista*, cada um deles oferecerá

uma série de bifurcações a serem analisadas em seu conteúdo de mais de cem anos de história.

* pontos de vista: Técnica, estética, produção e consumo, teoria e poéticas.

Um detalhamento específico de todo o caminho percorrido nesses cem anos de história do cinema mundial se

tornaria longo demais e se afastaria do objetivo principal dessa aula, portanto vamos, além de oferecer um

panorama geral do nascimento, dos primeiros passos do cinema e do contexto histórico em que ela esta inserida,

fazer um estudo abrangente da história de seus movimentos e vanguardas mais relevantes.

Para mais informações, leia agora os textos O Cinema pelo mundo.

A primeira sala inaugurada em 1897, por Paschoal Segreto e José Roberto Cunha Salles:

Salão de Novidades Paris no Rio,

A casa oferecia uma variedade de atrações.

A projeção de cenas numa tela suspensa ao fundo do estabelecimento era apenas uma dessas atrações.

Só em 1907 é inaugurado o “Cinematographo Parisiense”, precursor das construções realmente erguidas para

abrigar salas de cinema.

5 O caso específico do cinema brasileiro


Afonso Segreto vai realizar a primeira filmagem no Brasil. A bordo do navio Brésil, Segreto roda uma vista da

Baía de Guanabara. Para logo em seguida registrar o então presidente Benjamin Constant visitando a mesma

embarcação.

A partir daí, a família Segreto começa a registrar sistematicamente diversos eventos. Em São Paulo, José Roberto

Cunha Salles promove, no Teatro Apolo, uma das primeiras exibições do cinematógrafo em 13 de fevereiro de

1898.

Não podemos deixar de ressaltar a importante ação dos exibidores itinerantes independentes.

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Através deles os filmes chegavam aos mais remotos lugares*.

* Através deles os filmes chegavam aos mais remotos lugares: Os exibidores adentravam lugarejos distantes dos

grandes centros urbanos e armavam o seu circo. A principal atração era o espetáculo das imagens em

movimento. Alugavam salões ou estruturas similares e projetavam os filmes. Nessa situação o exibidor era

também o bilheteiro, o operador do projetor e, muitas vezes, até o narrador da história. Os "filmetes" eram

exibidos segundo a ordem por ele escolhida. Podia mudar planos de lugar. Acelerar, retardar ou suprimir uma

ação. Pode ter tido inicio assim o grande poder do exibidor no cinema brasileiro.

O Centro da cidade se expandia e o cenário para os cinemas de rua se desenhava.

Crescia a admiração pela arte cinematográfica.

O Cinema Novo foi o movimento cinematográfico brasileiro de maior repercussão internacional. Nele a

linguagem dos filmes parecia dialogar diretamente com a linguagem da cultura brasileira.

Cinema Novo: Uma estética genuinamente brasileira, que entraria para a história do cinema mundial*.

*história do cinema mundial: Entre os vários cinemas novos que se desenvolveram pelos anos 60, o brasileiro foi

um dos mais destacados (...). O Cinema Novo criou uma nova situação cultural (...) o cinema brasileiro era

totalmente desconsiderado pelas elites culturais; só o público popular relacionava-se bem com uma parte da

produção, geralmente conhecida como 'Chanchada. (: BERNARDET, Jean-Claude. O que é cinema. Rio de Janeiro:

Brasiliense, 2000. (p. 100-101)).

Algumas das principais produções resultantes da vertente nacional dos cinemas novos mundiais, todos

datados de 1964 – ano do Golpe Militar no Brasil –, são:

“Vidas secas” , de Nelson Pereira dos Santos

“Deus e o diabo na terra do sol”, de Glauber Rocha

Destaca-se também, a partir do final dos anos 60, o chamado cinema marginal, que não acreditava na estética

cinemanovista, e mesmo que sofrendo influências desta fazia filmes que acabariam por desaguar nas

pornochanchadas (marca do cinema brasileiro dos anos 70).

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“O Bandido da luz vermelha”, de Rogério Sganzerla, 1969 marco do cinema marginal.

O encerramento das atividades da Embrafilme - Empresa Brasileira de Filmes - Órgão do governo federal

brasileiro de fomento à produção, distribuição e exibição cinematográfica nacional extinta durante o governo de

Fernando Collor de Melo (início da década de 1990), pelo presidente Collor, tira o filme brasileiro de cartaz e

reduzem ainda mais as idas ao cinema.O Plano Real possibilitou, a partir de 1995, o aumento do preço do

ingresso no Brasil* e uma consequente elitização do espectador de cinema.

* o aumento do preço do ingresso no Brasil: No começo da década de 90, o mercado de cinema no Brasil

enfrentava uma das mais brutais crises de sua história. Cidades pequenas que tinham apenas uma ou duas telas

ficaram sem nenhuma, a ponto de apenas 7% dos municipios brasileiros possuirem salas, segundo o IBGE:

ALMEIDA, Paulo Sérgio; BUTCHER, Pedro. Cinema, desenvolvimento e mercado, 2003. [p. 55]).

A partir da década de 1980 a grande maioria dos cinemas vai fechar suas portas. Um fenômeno vivido em escala

brasileira e mundial. O público vai para o shopping center. O cinema vai também.

O cinema nos anos 90 entra então no que vem sido chamado de Retomada.

O filme marco é “Carlota Joaquina” de Carla Camurati, de lá para cá novo fôlego na cinematografia nacional.

Destacam-se nomes como Walter Salles e Fernando Meirelles com produções transnacionais no filme de ficção e

Eduardo Coutinho no documentário (este já com uma vasta experiência em televisão e cinema).

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Saiba mais
Faça uma visita ao site www.cinemabrasileiro.net. Lá você pode encontrar cartazes de filmes,
variedades, perfis de artistas, cenas de filmes, guia de produções etc.
Aproveite e prestigie o cinema nacional.

O que vem na próxima aula


Chegamos ao fim da “cinematográfica” aula 6. Foi muito prazeroso recordar com vocês um pouco da história do

cinema, especialmente a do cinema brasileiro. Agora é o momento de nos prepararmos para uma visita à era do

rádio – ou às “eras” do rádio, já que ele participa de nossa vida comunicacional até atualidade.

Na próxima aula, estudaremos o rádio em muitas de suas facetas. Da parte técnica do invento às histórias no

Brasil e no mundo. O rádio nos priva das imagens reproduzidas para nos colocar no campo das imagens mentais.

Até lá!

CONCLUSÃO
Nesta aula, você:

• Aprendeu a localizar o cinema em um cenário mais amplo que engloba as artes, a sociedade da

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• Aprendeu a localizar o cinema em um cenário mais amplo que engloba as artes, a sociedade da
informação e a mass culture;
• Registrou datas e nomes importantes para a história do cinema no mundo e no Brasil;
• Compreendeu as nuances que envolvem a produção e disseminação de uma linguagem cinematográfica
tida como dominante no cinema mundial;
• Analisou a importância das cinematografias locais, em especial o cinema brasileiro, para a resistência
das identidade nacionais;
• Entendeu o valor do cinema brasileiro em toda a sua dimensão e trajetória.

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