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Auditoria
Este curso é protegido por direitos autorais (copyright), nos termos da Lei n.º 9.610/1998,
que altera, atualiza e consolida a legislação sobre direitos autorais e dá outras providências.
AULA INAUGURAL
Para quem não me conhece ainda, meu nome é Fernando e trabalho no TCU já há 5
anos. Antes havia trabalhado com Fiscal de Tributos de Mato Grosso e como Analista
do TCDF. Fui também Gestor Governamental e bancário. Aprovado em 1 o lugar no
concurso da Receita em 2005, acabei não assumindo o cargo em razão de ter sido
convocado para o TCU. Desde então, adquiri muita experiência em auditoria e por
isso resolvi levar adiante esse curso de auditoria interna para o concurso de AFT.
AUDITORIA:
Aula 1 e 2: 1 Normas brasileiras para o exercício da auditoria interna: independência,
competência profissional, âmbito do trabalho, execução do trabalho e administração do órgão
de auditoria interna.
Nada disso. O que eu estou dizendo é que o capitalismo pressupõe que alguém vai
ter que trabalhar para consumir o que os capitalistas produzem sem trabalhar,
apenas investindo o seu capital. E esse é o sonho que move o nosso sistema. Todo
mundo gostaria de ter uma fonte de renda fixa que lhe pudesse fazer o que quiser
sem trabalhar. Mas e o que isso tem a ver com auditoria, my god?
Muita coisa. Assim como nós pensamos em obter uma fonte de renda ou lucro eterna
sem trabalhar, os capitalistas não só pensam como assim o fazem. Mas
convenhamos, para que isso funcione bem (para eles), eles precisam de uns fiéis
escudeiros de sua confiança para agir conforme eles agiriam se estivessem
trabalhando, certo?
Se o capitalista não puder confiar em um terceiro que ele coloca para trabalhar em
seu lugar, certamente ele não ficará tranquilo para gozar suas férias nas praias do
Côte D”Azur.
ATENÇÃO
Se vocês estão bem lembrados das aulas de história, foi nessa época que a Inglaterra
dominava os mares e botava para correr todo mundo que ousasse se intrometer em
seu caminho (lembram de um tal rei português fugido para o Brasil?).
Estávamos na era das grandes navegações que, pela sua própria natureza, possuía
um grande risco de insucesso. Navegar naquela época era extremamente arriscado:
você podia se perder em terras nunca dantes conhecidas, você poderia naufragar,
você poderia pegar doenças incuráveis, você poderia morrer de fome em alto mar,
enfim, a melhor coisa que podia acontecer era ser jogado aos tubarões, pois sua
chances de sobrevivência eram um pouco melhores.
Vocês devem imaginar que com tantos riscos e perigos, não ia ser os almofadinhas,
a grande elite inglesa que ia colocar seus filhos e parentes para navegar, certo? Quem
eram os navegantes? Pessoas pobres, que viam a navegação como uma forma de
progredir de vida (não falo da navegação militar, ok?).
Um excelente negócio para os ricos londrinos da época, mas dá para imaginar que,
com tantas benesses, eles deviam ficar com as barbas de molho e preocupados. Será
que esses marinheiros não vai dar a volta na gente? Será que não vão pegar uma
meia dúzia de gramas de ouro, tecidos e especiarias para si ao invés de entregar
para o patrão?
para que o patrão possa desfrutar da Côte D’Azur é necessário que os funcionários
sejam muito bem vigiados.
A teoria do agente diz que o patrão entrega recursos para o agente, que gere o
patrimônio, mas que, em troca deve lhe prestar contas da sua regular utilização,
para que o principal possa ter a certeza de que o dinheiro foi bem utilizado, segundo
o esquema abaixo:
PRINCIPAL
AGENTE
Muitos de nós já devem ter ouvido falar em prestação de contas no serviço público.
Órgãos prestam contas para os Tribunais de Contas e outros órgãos de controle. Isso
ocorre porque existe um interesse contrário entre o principal (povo) e o agente
(servidor público) e é por esse motivo que existe a prestação de contas.
Se você transfere um certo recurso para alguém e não exige a prestação de contas,
isso equivale a uma doação, já que a pessoa pode fazer o que quiser com o dinheiro
recebido, sem se justificar.
ATENÇÃO
Mais adiante, ainda nesse curso, nós vamos estudar a figura dos stake-holders e dos
stock-holders, muito importantes nesse conceito de auditoria. Por ora, é importante
saber que ambos, stock-holders e stake-holders são usuários da informação contábil
e do seu sub-produto, a auditoria. O auditor, portanto, produz informação para os
stake & stock-holders. Stock-holders são aqueles usuários da auditoria que as
utilizam em razão de um interesse direto na informação produzida, como os donos,
os sócios e os acionistas (a palavra inglesa stock quer dizer ação, quota).
1
Historiadores afirmam que há na Índia no período antes de Cristo (Séc. XVI a VI a.C) indícios de normas
administrativas de auditoria pública. Houve também a criação de órgãos de controle governamental na França e
Inglaterra no século XIV. No entanto, é inegável que o grande impulso para a auditoria se deu com as grandes
navegações e a explosão do capitalismo inglês.
Então, apenas para retomar de forma definitiva o nosso raciocínio sobre o surgimento
da auditoria e conflito de agência, temos a definição de Peters:
A relação entre o agente e o principal, conflituosa como vimos, cria o que chamamos
de uma relação de accountability, ou seja, mais do que a obrigação do agente em
informar ao principal que agiu corretamente, mais do que eu simples dever de fazer
isso, mas sim, uma vontade do agente em agir de acordo com o que foi combinado.
Nos tempos atuais, a auditoria passou a ter uma relação muito forte com o
conceito de governança.
Nesse novo mundo, o auditor deve deixar de se preocupar apenas com a busca de
irregularidades e fraudes para buscar, junto com a entidade auditada, um melhor
gerenciamento dos riscos para o alcance dos objetivos da instituição.
Nesse sentido, em que é possível até mesmo conflitos entre os agentes (não entre o
principal e o agente, como vimos na teoria do agente) o auditor tem papel
fundamental em, monitorar a relação de accountability, considerando, principal, a
sua posição dentro da estrutura organizacional e os princípios básicos de sua atuação,
destacadamente, o da imparcialidade, da independência, da ética e o da objetividade.
É duro dizer isso, ainda mais sendo auditor, mas o auditor faz apenas um único
trabalho durante toda a sua vida. Não existe mais nenhum outro trabalho que o
auditor faça. Acreditem! O Auditor, seja público ou privado, externo ou interno, só
tem uma única atribuição: a) identificar uma situação fática ou real; b) comparar
essa situação fática com uma norma ou um padrão; c) emitir um relatório sobre a
adequação da situação fática com a norma ou padrão.
A gente faz uma pompa, coloca terno, gravata, falamos nomes difíceis, mas, sejamos
auditores-fiscais, do trabalho ou do TCU, tudo o que fazemos é isso: verificar uma
situação fática (o que é), comparar com um padrão ou norma (como deveria ser) e
elaborar uma peça ou relatório informando se o encontrado está ou não de acordo
com as normas. E pronto! O resto é perfumaria.
ATENÇÃO
Já o termo “objetivo” quer dizer que o trabalho do auditor é calcado em fatos, em
provas, em documentos (papéis de trabalho) e não em suposições ou ilações. A
“situação ou condição padrão ou pré-estabelecida” diz respeito ao como deveria ser,
o ideal.
No entanto, embora o auditor só faça uma coisa na vida (vide o roteirinho acima), o
tipo e o enfoque do trabalho do auditor pode ser diferente em razão dos diferentes
objetivos e dos resultados que se pretendem alcançar.
A classificação mais comum, nesse sentido, entre os auditores é aquela que divide
os auditores em internos e externos.
Auditoria externa é aquela que é realizada por entidade ou pessoa que não
pertence ao quadro interno da entidade auditada. Embora isso possa parecer meio
óbvio, a questão não diz respeito exatamente à posição física ou até mesmo jurídica
do auditor em relação a entidade auditada, mas tem muito mais a ver com o grau
de independência que o auditor tem em relação ao objeto auditado.
No setor público, temos o caso dos Tribunais de Contas que, não são integrantes da
estrutura de nenhum poder específico (há que diga que os TCs pertencem ao poder
legislativo, mas vamos deixar essa discussão para outro momento), fiscalizam todos
os órgão da administração pública sobre a égide do controle externo. É, portanto,
um exemplo de auditoria externa.
O auditor interno no mundo corporativo tem por finalidade zelar pelo controle interno
das entidades, é dizer, deve trabalhar para que o controle interno (normas,
manuais, regras) criado pela empresa seja seguido à risca pelos empregados. É nítida
a relação entre o controle interno e auditoria interna, mas estes não se confundem.
Além dos conceitos de auditoria interna e externa, há ainda aqueles que diferenciam
auditoria de fiscalização e, estes dois, de controle. Para nós, leigos no assunto,
auditoria e fiscalização parecem soar como sinônimos, certo? Mas em um estudo
mais rigoroso, há três conceitos bem diferentes entre auditoria, fiscalização e
controle.
LEGAL.
ATENDE ÀS NECESSIDADES PARA AS QUAIS FOI DEFINIDO E GUARDA COERÊNCIA COM AS
Percebam, mais uma vez, que o conceito de auditoria é mais amplo do que o de
fiscalização.
Quando ele fala sobre a legalidade e legitimidade, o art. 70 da Constituição está nos
remetendo ao conteúdo clássico de auditoria que vimos no início dessa aula, ou seja,
a verificação do cumprimento de aspectos de certo ou errado, de correto ou incorreto,
ou seja, se as normas estão sendo ou se foram cumpridas como acordados. É o
típico tradicional de auditoria, que no setor público chamamos de auditoria de
regularidade ou legalidade.
É nesse sentido que surge, com previsão constitucional, um novo tipo de auditoria,
alinhado com o novo papel do auditor, que agora se preocupa não só com o certo ou
errado, com o script, mas também com os resultados atuais e futuros da gestão. Foi
o embrião do que se acostumou chamar de auditoria operacional ou de desempenho.
Perceba que nestes casos, o auditor não está preocupado somente se a despesa foi
legal ou preencheu os requisitos exigidos. Está mais preocupado com os resultados
do gasto público, com o desempenho da administração, com o benefício causado pela
atividade estatal e, por isso, chamamos esse tipo de auditoria de auditoria de
desempenho.
a) legalidade;
b) legitimidade;
c) desvio de recursos;
d) fraude;
e) eficácia;
f) economicidade.
a) efetividade;
b) eficácia;
c) eficiência;
d) economicidade;
e) equidade.
Nesse sentido, podemos entender que o objetivo do Tribunal foi o de classificar uma
auditoria em operacional e de conformidade de acordo com o objetivo dela. Se o
escopo for o de procurar fraudes ou irregularidades, teremos que elaborar uma
auditoria de conformidade ou de regularidade. Mas se o objetivo for buscar
oportunidades de melhoria para a administração pública, então teremos uma
auditoria operacional.
ATENÇÃO
•As normas editadas por estas instituições, de forma geral, seguem o seguinte
parâmetro: normas relativas à pessoa do auditor (profissionais), normas
relativas à execução do trabalho do auditor (técnicas) e normas relativas
ao parecer do auditor (comunicação de resultados).
Para quem nunca ouviu falar em INTOSAI, vou ter que fazer uma pequena
apresentação sobre ela antes de continuarmos. A INTOSAI é uma organização não
Cada um com sua peculiaridade e estrutura, as EFS são entidades independentes que
têm por objetivo fiscalizar a administração pública em seus respectivos países.
A Intosai congrega diversas EFS e tem como finalidade harmonizar normas mínimas
e estáveis (princípios) a serem adotadas em todos os países participantes.
É claro que cada EFS tem sua autonomia para deliberar sobre como realizar suas
auditorias e fiscalizações, mas devem seguir os princípios que são emanados pela
Intosai.
Por exemplo, as normas da Intosai dizem que o auditor deve manter conduta
profissional impecável, independente e tem vários comandos sobre a ética no
trabalho. Vamos da uma olhada no capítulo 2 de suas normas que fala sobre isso:
Percebam, que a norma da Intosai não é dirigida ao Auditor em si, mas sobre como
as EFS devem orientar o trabalho de seus auditores. As normas da Intosai geralmente
são genéricas e devem ser confirmadas por cada uma de suas EFS participantes no
seu respectivo plano jurídico.
São quatro as principais normas elaboradas pela Intosai, de aplicabilidade pelas EFS,
inclusive, pelo TCU:
ATENÇÃO
É importante que o aluno decore a estrutura das normas exatamente como no quadro
acima. As bancas costumam perguntar, por exemplo, quais são os tipos de normas
que a Intosai elaborou e é preciso saber quais foram, neste formato.
A Intosai também traz alguns princípios que devem ser seguidos pelas EFS, tais
como:
Por ora, esses conceitos são suficientes. Mais adiante, vamos detalhar as normas da
Intosai a fundo.
Outro órgão internacional assim como a Intosai de relevo é o IIA, o Instituto dos
Auditores Internos. O IIA é para auditoria interna o que a Intosai é para as EFS, um
órgão que gera normas e princípios de caráter geral que devem ser seguidos pelos
auditores internos em seus respectivos países.
O IIA se preocupou em definir claramente o que entende como auditoria interna, com
a finalidade de estabelecer limites, objetivos e os atributos dessa atividade. Segundo
o IIA,
ATENÇÃO
a) atividade independente e objetiva (note que mesmo o auditor interno deve ser
independente);
b) serviços de avaliação e consultoria (o auditor interno pode trabalhar como
consultor para sugerir melhorias na governança da entidade);
c) abordagem sistemática e disciplina (o auditor deve ter seu trabalho calcado em
provas e documentos);
d) gerenciamento de riscos e governança corporativa (lembram quando falamos
da relação entre o nova auditoria que se preocupa muito mais com os
resultados da empresa, gerenciando riscos, do que propriamente buscando
fraudes e erros?);
e) auxiliar a organização a atingir seus objetivos (é o novo papel do auditor).
Fernando Gama
fgamajr@gmail.com