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E durante todo esse tempo em que pessoas de todas as regiões do país têm entrado
em contato comigo, não foram poucas as que pediram para que eu preparasse um
estudo mais direcionado, mais profundo e que contivesse um conteúdo mais detalhado
do que aquele apresentado nas videoaulas.
Pois bem! Foi justamente para atender a esses pedidos que surgiu a minha antiga série
de e-books em .pdf que eu chamei de “Começando com o pé direito”. Eu não
pretendia, com eles, esgotar o tema. Longe disso! Meu objetivo era tão somente o de
comentar, com base no meu entendimento das NR’s e na prática do dia-a-dia da
Fiscalização do Trabalho, cada um dos itens contidos nessas aparentemente
complicadas Normas Regulamentadoras.
Entretanto, com o fim do antigo Ministério do Trabalho – MTb (vide lei 13.844 de 18 de
junho de 2019) e com o discurso de modernização das NR’s, aqui estou eu novamente:
dessa vez, para compartilhar algumas reflexões pessoais sobre a Nova NR-3, que trata
dos embargos e da interdições, isto é, sobre a possibilidade de a Auditoria-Fiscal do
Trabalho utilizar de seu poder de polícia para paralisar as atividades laborais
desempenhadas em algum estabelecimento em função da existência de grave e
iminente risco à saúde ou à integridade física dos trabalhadores.
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Levemente recuados, com uma fonte menor e precedidos de uma seta, estão
os meus comentários sobre o item da Norma.
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Quando alguma transcrição for necessária (no caso de Lei, Portaria, etc),
ela virá ainda mais recuada, em itálico e numa fonte ainda mais reduzida.
Com relação às transcrições, toda vez que elas estiverem em negrito e/ou sublinhadas
fui eu que quis chamar a atenção para algum detalhe específico, tudo bem?
Att,
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NOVA NR-3 COMENTADA
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NR 3 – EMBARGO E INTERDIÇÃO
(com base na redação da Portaria SEPRT n.º 1.068, de 23 de setembro de 2019)
Sumário
3.1 Objetivo;
3.2 Definições;
3.1 Objetivo
Risco é a exposição ao perigo. Uma analogia que gosto de fazer é comparar um tubarão
livre na natureza com um tubarão sendo estudado por um biólogo a menos de 2 metros de
distância.
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Agora reflita comigo: você está aí, estudando a Nova NR-3 e, enquanto isso, um enorme
tubarão branco nada tranquilamente em algum ponto do Atlântico na costa da África do Sul.
Há alguém exposto a ele? Nesse nosso exemplo, não. Consequentemente, não há risco.
Mas... Você está aí, estudando a nova redação da NR-3, e aquele seu amigo biólogo bate à
sua porta e lhe chama para acompanha-lo até o aquário da cidade. Inocentemente, você
aceita o convite. Chegando lá, os responsáveis pelo local lhe convidam para entrar na
“gaiola” – equipamento que será submergido para que as pesquisas no tubarão que acabou
de chegar sejam iniciadas.
A não ser que você tenha uma simpatia pela adrenalina, você não entraria, correto?
Ficou claro? Esse entendimento sobre o que vem a ser “risco” é de fundamental importância
para uma boa compreensão da NR-3.
Reescrevendo, então, a expressão que fundamenta a NR-3, podemos entender que “grave
e iminente risco” é toda aquela exposição ao perigo que está na iminência de causar ou de
dar início a um dano categórico à saúde ou à integridade física do trabalhador.
Algumas doenças ocupacionais, como por exemplo a silicose, só apresentam sintomas com
o passar do tempo. Sendo assim, utilizamos o conceito da iminência mesmo quando o
ambiente de trabalho favorece o surgimento de moléstias que levam anos para se
manifestar.
Outro ponto importante do primeiro item da Nova NR-3 ao qual devemos nos ater é quando
ele faz referência aos “requisitos técnico objetivos” de embargo e interdição.
Ao longo da leitura da Norma iremos perceber que um de seus objetivos foi reduzir a
importância dos critérios subjetivos para a definição do que é “grave” e do que é “iminente”.
Ao estabelecer um parâmetro quantitativo para a constatação do GIR, ela proporciona maior
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➔ Caso a decisão sobre o que viria a ser grave e iminente risco num ambiente de trabalho
dependesse única e exclusivamente de critérios subjetivos, o processo de criação desse
entendimento poderia ser de difícil compreensão, uma vez que dependeria de conceitos
individuais que variam de AFT para AFT. A adoção de requisitos técnicos objetivos vem
trazer muito mais transparência e consistência nas decisões.
3.2 Definições
➔ Ao lermos o item 3.2.1, chama a nossa atenção a expressão “possa causar”. É a NR-3
olhando para o futuro – e não para o passado! Argumentos do tipo “Interditada? Mas por
quê? Ninguém nunca se feriu nessa máquina!” não cabem aqui...
Diferentemente do Código Penal, que pune uma pessoa por algo que ele fez no passado, a
Norma Regulamentadora nº. 3 vem estabelecer critérios técnicos para que nada de grave
ocorra no futuro – por isso o argumento de que ela é preventiva, não punitiva.
Analisando esse item da Norma, percebemos que ele esclarece que toda condição ou
situação de trabalho na qual o trabalhador possa sofrer danos sérios à sua saúde (doença)
ou à sua integridade física (acidente) é uma situação ou condição de risco grave e iminente.
Vamos insistir na ideia de que a Norma não se refere a “já sofreu”, “já aconteceu”, “quase
aconteceu” ou “certamente vai sofrer”. Lembre-se! A NR-3 trabalha com as consequências e
as probabilidades – atributos fundamentais para termos em mente quando estudamos os
embargos e as interdições.
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Agora, iremos trazer alguns exemplos para, juntos, refletirmos sobre prováveis situações de
grave e iminente risco na prática. Vamos lá?
Imagem da Internet
trabalhadoras se queixam? Da má postura ao dormir?
Será que um posto de trabalho no qual a cliente pudesse ficar numa posição mais elevada
permitiria que a trabalhadora não fosse obrigada a curvar tanto a coluna? Qual deles será
mais oneroso, mais caro ao empresário: um posto de trabalho ergonomicamente correto ou
a cadeira que vemos na imagem?
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prensado contra a máquina? Conseguirá respirar com facilidade até que seja retirado de
baixo do material desmoronado? Mas nada disso nunca aconteceu! E agora?
Situação 3: Açougues
Arquivo pessoal Mas ninguém nunca se acidentou com essa serra-fita, oras!!!
E aí?
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Quais as consequências para um paciente que acaba de ser internado num hospital caso a
proteção de vidro do visor que permite que ambos os lados se vejam estivesse quebrada,
como aconteceu no caso registrado pela imagem? Essa barreira anti-contaminação estaria
prejudicada, correto? Há algum risco grave para os trabalhadores que desempenham suas
atividades na área limpa, que não utilizam nem a metade dos equipamentos de proteção
daqueles que atuam na parte “suja”? Quais seriam as consequências para esses
trabalhadores da área limpa? É provável que alguma contaminação ocorra?
Não é raro encontrarmos trabalhadores sem nenhuma parte do corpo exposta nesses
ambientes contaminados de hospitais. Por sua vez, os trabalhadores da área limpa utilizam,
normalmente, touca, luvas e jaleco ou avental. A quais tipos de material biológico esses
trabalhadores da área limpa estarão expostos caso as duas partes se comuniquem sem
qualquer tipo de barreira?
Detalhe: não estamos, aqui, levando em consideração a saúde dos pacientes que irão
utilizar esse material “lavado”. Imagine, por um breve momento, seu pai, gripado, deitando
num lençol que anteriormente foi utilizado por um paciente tuberculoso mas que, em função
do contato entre a área limpa com a área suja, continua contaminado. Caso o estado de
saúde de seu pai piore e ele também contraia tuberculose, quem será o culpado?
Note que, muitas vezes, a Segurança e Saúde do Trabalho extrapola o ambiente de trabalho
e recai sobre toda a sociedade – se transformando, como neste exemplo, num caso de
saúde pública!
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Existe uma infinidade de casos que poderiam ser trazidos a este estudo, mas para não
torna-lo demasiadamente longo e de difícil leitura, vamos nos ater a estes 5 exemplos de
aparentes situações de grave e iminente risco na tentativa de esclarecermos que nem
sempre o risco está aonde acreditamos que ele esteja, que nenhuma atividade está isenta
de condições de trabalho passíveis de causar danos à saúde e à integridade física dos
trabalhadores e que, mais uma vez, a reflexão sobre as consequências e a probabilidade da
ocorrência de um evento danoso é tão fundamental quando nos propomos a atuar na área
de SST.
➔ O item 3.2.2 da Nova NR-3 tem praticamente a mesma redação do 1º item da redação
antiga. Foi inserido apenas a “condição” de trabalho, que antes não existia. Ou seja, não
mudou quase nada. Antigamente era assim:
3.1 Embargo e interdição são medidas de urgência, adotadas a partir da constatação de situação
de trabalho que caracterize risco grave e iminente ao trabalhador.
Os bons dicionários definem urgente como “aquilo que se deve fazer com rapidez; o que é
imprescindível; que apresenta necessidade imediata”. Logo, por “medidas de urgência”
podemos entender aquelas medidas onde não há que se falar em prazos para saneamento
de irregularidades: as situações ou condições de GIR são paralisadas imediatamente até
que as devidas correções sejam feitas.
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➔ Por favor, se todo o conteúdo deste e-book for esquecido, lembre-se apenas disso: o
EMBARGO é para OBRAS. Embargo. Obra. Os dois possuem a letra B. #ficaadica rs...
Pode parecer um deslize pequeno (e, na verdade, é!), mas dá aquela sensação de mal-estar
e passa a impressão de que é um profissional que não sabe nada! (eu sei, eu sei... Não era
para ser assim. Mas quem disse que a vida é fácil?) Nesses casos, por se tratarem de
máquinas, teríamos a interdição do guincho, a interdição da serra, a interdição da betoneira.
O item 3.2.2.1 nos diz que o embargo de uma obra não precisa ocorrer em toda a
construção. E não pense que seja algo raro de acontecer. Pelo contrário!
Suponhamos um prédio vertical de 30 pavimentos que ainda está em construção. Caso não
haja proteção contra queda de trabalhadores apenas da 12ª laje em diante, qual o motivo de
embargarmos os 11 primeiros pavimentos? Dessa forma, teríamos um embargo parcial da
obra. Ficou claro?
Este nosso exemplo é um caso real. A seguir, mostramos a transcrição parcial do Termo de
Embargo e do Relatório Técnico (que serão detalhados ao final deste material), além das
imagens da obra tal qual a encontramos:
TERMO DE EMBARGO
Fica determinado o EMBARGO do 12º pavimento em diante do canteiro de obras
endereçado acima nos termos do artigo 161 da CLT em razão da constatação da situação de
grave e iminente risco descrita no Relatório Técnico anexo a este Termo.
RELATÓRIO TÉCNICO
Em 01 / 07 / 20161 foi constatado grave e iminente risco de queda de trabalhadores e de
projeção de materiais na obra em função da ausência de itens obrigatórios relacionados à
segurança e saúde do trabalho. Para que o presente EMBARGO seja suspenso, a empresa
deverá:
1. Instalar, em todo o perímetro dos pavimentos 13, 16, 19 e 22, plataforma secundária de
proteção (itens 18.13.7 e 18.13.7.1 da NR 18); 2. Manter o canteiro de obras organizado, livre e
com as vias de circulação desimpedidas (item 18.29.1 da NR 18); 3. Assegurar que as aberturas
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Data fictícia.
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no piso tenham fechamento provisório resistente (tens 18.13.2 e 18.13.2.1 da NR 18); 4. Instalar
proteção onde houver risco de queda de trabalhadores (itens 18.13.1, 18.13.4 e 18.13.5 da NR-
18); e 5. Proteger as pontas verticais de vergalhões de aço (item 18.8.5 da NR 18).
Sem proteção contra queda na periferia Abertura de piso fechada de forma precária
Arquivo pessoal
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➔ O destaque aqui vai para a inclusão do termo “atividade”, que não constava na redação
anterior da Norma. Antigamente a redação era a seguinte:
Assim como acontece no embargo, a interdição também não precisa ser total. Uma vez que
ela se destina a situações de grave e iminente risco encontradas em atividades,
estabelecimentos, setores de serviço, máquinas ou equipamentos, ela pode abranger
apenas uma parte do todo.
Para melhor esclarecermos o item 3.2.2.2, vamos dar um exemplo de cada um dos itens
elencados pela Nova NR-3:
Atividade: num frigorífico, por exemplo, existem diversas atividades a serem executadas.
Caso o Auditor-Fiscal do Trabalho encontre grave e iminente risco apenas na desossa, o
que ele vai interditar? A faca? A linha de produção? Toda a unidade? Claro que não! Ele
interdita tão somente a desossa – daí a importância da inclusão do termo “atividade” no item
que trata da interdição.
Setor de serviço: num hospital, percebemos que o lay out da oficina não favorece a
segurança dos trabalhadores que lá desempenham suas atividades e, como se não
bastasse, há muito material cortante sem qualquer tipo de proteção espalhado
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aleatoriamente sobre as bancadas e pelo chão, além de fios energizados desencapados por
todo o ambiente de trabalho. Nesse caso, interdita-se a oficina, permitindo que todos os
demais setores do estabelecimento continuem com seu funcionamento normal.
Como exemplo, deixo aqui um embargo parcial e uma interdição total que fiz no final do ano
de 2019, ambos no mesmo canteiro de obras:
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possível – nas palavras da Nova NR-3, “na menor unidade onde for constatada situação de
grave e iminente risco”.
➔ Essa talvez seja a maior alteração da NR-3: a partir desta nova redação, a caracterização
do GIR se dá através da análise da consequência de um evento danoso e a probabilidade
desse evento danoso acontecer.
Em breve nos debruçaremos mais detalhadamente sobre esses aspectos, mas eu gravei
uma videoaula no YouTube resumindo a leitura dessas tabelas 3.1 e 3.2. Para assisti-la,
basta clicar AQUI.
3.3.2 Para fins de aplicação desta norma, o risco é expresso em termos de uma
combinação das consequências de um evento e a probabilidade de sua
ocorrência.
➔ Como vimos anteriormente, o risco pode ser entendido como a exposição ao perigo.
Contudo, para a aplicação da NR-3, ele não será considerado puramente como ‘exposição
ao perigo’, uma definição que traz muita subjetividade para o nosso cotidiano. A partir de
agora, para que o entendimento da existência de grave e iminente risco seja amparado pela
Norma, deverão ocorrer combinações específicas de consequências de um evento danoso e
de probabilidades desse evento danoso ocorrer. Tudo isso será melhor explicado quando da
análise das Tabelas 3.1, 3,2, 3.3 e 3.4.
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➔ Para que o entendimento da existência de GIR seja embasado pela Nova NR-3, primeiro
o AFT deverá considerar as consequências de um evento danoso e só depois ele irá
analisar as probabilidades desse evento danoso acontecer. Pela antiga redação, bastava
uma constatação pessoal por parte do AFT:
3.1.1 Considera-se grave e iminente risco toda condição ou situação de trabalho que possa
causar acidente ou doença relacionada ao trabalho com lesão grave à integridade física do
trabalhador.
Não é à toa que o item 3.1.1 da atual redação fala em “requisitos técnicos objetivos”:
3.1.1 Esta norma estabelece as diretrizes para caracterização do grave e iminente risco e os
requisitos técnicos objetivos de embargo e interdição.
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Na tabela 3.2 temos a classificação das probabilidades, que irá levar em conta a existência
ou não de medidas efetivas de prevenção, a manutenção dessas medidas a longo prazo e
as chances de um evento danoso acontecer:
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Provável: caso não exista nenhuma medida preventiva ou as medidas existentes sejam
reconhecidamente inadequadas, a classificação da probabilidade deve ser “Provável”.
Exemplo: trabalhador exercendo suas atividades na periferia do 20º andar de um edifício
em construção sem qualquer proteção contra queda de altura ou tão somente uma fita
zebrada com uma placa escrito “afasta-se”. Uma vez que a fita zebrada não impede a
queda de ninguém, é uma medida reconhecidamente inadequada para a prevenção de
queda de altura.
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Remota: caso as medidas preventivas adotadas sejam adequadas mas ainda possuam
alguns poucos desvios ou não ofereçam garantias de que sejam mantidas a longo prazo,
a classificação da probabilidade deve ser “Remota”. Utilizaremos essa classificação
quando seja quase improvável que ocorra um evento danoso. Exemplo: toda medida de
prevenção que seja suscetível de burla.
Ainda com relação às tabelas 3.1 e 3.2, é importante destacar que, em geral (não é uma
regra!), enquanto as medidas de proteção coletiva (popularmente chamadas de ‘barreiras’)
reduzem as probabilidades, as medidas de proteção individual reduzem as consequências.
➔ “o excesso de risco”.
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Nada mais é do que a diferença entre o que está sendo visualizado (risco atual) e como a
situação deveria estar (risco de referência). Justamente por isso que argumentos do tipo
“Mas doutor!! Sempre fiz assim e nunca aconteceu acidente antes” não cabem na
constatação do GIR: enquanto a frase “isso nunca aconteceu antes” olha pro passado, a
constatação do GIR olha pro presente e pro futuro quando compara a situação encontrada
com a situação objetivo.
Dessa forma, ao encontrar uma situação de risco, o AFT deverá se questionar “Quão
distante essa situação está das NR’s?” Para responder a essa pergunta, ele irá utilizar as
tabelas 3.3 e 3.4, que estudaremos em breve.
Também abordei a redação do item 3.3.6 na minha videoaula sobre as tabelas da Nova NR-
3 que disponibilizei gratuitamente no YouTube. Começa aos 18:53. Basta clicar AQUI.
3.3.8 A Tabela 3.3 deve ser utilizada pelo Auditor-Fiscal do Trabalho em caso de
exposição individual ou de reduzido número de potenciais vítimas expostas ao
risco avaliado.
3.3.9 A Tabela 3.4 deve ser utilizada para a avaliação de situação onde a
exposição ao risco pode resultar em lesão ou adoecimento de diversas vítimas
simultaneamente.
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➔ As tabelas 3.3 e 3.4 serão utilizadas para encontrarmos o excesso de risco da situação
atual, que é o fator determinante para justificar o embargo e a interdição.
A tabela 3.4 traz resultados mais rigorosos porque trata do direito coletivo. “Sabino, isso
significa que dez vidas valem menos que uma?” Claro que não é isso! Acontece que o
direito brasileiro privilegia questões coletivas, no sentido de que uma coletividade, quando
sofre algum tipo de ameaça, precisa ser muito mais protegida do que seria necessário caso
a referida ameaça ocorresse de forma individual – não é à toa que questões de segurança
pública são muito mais discutidas do que as de segurança individual.
Na minha videoaula sobre as tabelas da NR-3 eu abordo o assunto a partir dos 02:45
minutos. Clique AQUI.
Sendo assim, quando a exposição ao risco for individual, utilizaremos a tabela 3.3. Caso a
exposição seja coletiva, a tabela utilizada será a 3.4.
Para esclarecer a situação, pensemos num canteiro de obras que tem grandes e profundas
escavações e um prédio em construção de 20 andares.
Por termos 10 trabalhadores que seriam alcançados por um mesmo evento danoso, temos
uma exposição coletiva. Consequentemente, iremos utilizar a tabela 3.4.
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Num primeiro momento, poderíamos pensar “Como são 10 trabalhadores, temos que usar a
tabela 3.4”. Mas não é bem assim...
Uma vez que a queda não envolveria os 10 trabalhadores simultaneamente, não temos uma
exposição coletiva.
Para termos uma exposição coletiva, precisaríamos ter um único evento envolvendo todos
esses 10 trabalhadores.
O andaime não tem projeto, nunca foi vistoriado, nunca passou por qualquer tipo de
manutenção em seus mais de 5 anos de uso e foi montado por profissionais não
qualificados para tal. A sua estrutura de sustentação na cobertura não possui anotação de
responsabilidade técnica e é feita com sacos de areia. Ele foi construído com madeira e os
trabalhadores não possuem cintos de segurança. Elevado risco de queda do equipamento.
Percebeu que este caso é totalmente diferente do anterior? Aqui, a queda do equipamento
resultaria na queda simultânea dos 5 trabalhadores.
Dessa forma, por termos uma exposição coletiva, utilizaremos a tabela 3.4.
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➔ Como veremos em breve, as tabelas 3.3 e 3.4 apresentam diversas letras contidas em
células coloridas. São elas E, S, M, P e N.
➔ O item 3.3.11 traz o passo-a-passo que o AFT deverá seguir para estabelecer o excesso
de risco da situação encontrada. São 3 passos ao todo.
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A NR-3 só apresenta as tabelas 3.3 e 3.4 após o item 3.4.4. Contudo, para um melhor
entendimento, vamos adiantar a apresentação da tabela 3.3 para que possamos
exemplificar o passo-a-passo trazido apresentado pelo item 3.3.11:
Tabela 3.3
Para a construção de uma didática minimamente aceitável, vamos partir de uma situação
real para sabermos se caberia o embargo ou a interdição segundo as regras do item 3.3.11:
Pensemos na construção de um edifício vertical sem qualquer tipo de proteção contra queda
na periferia das lajes. Os trabalhadores executam suas atividades sem cinto de segurança e
sem calçados de segurança. As vias de circulação estão obstruídas, forçando os
trabalhadores a simular uma corrida de obstáculos para se deslocar ao longo dos
pavimentos. Os andaimes, montados na arte externa e sem escada de acesso aos postos
de trabalho, contam com tábuas soltas e improvisadas como piso de trabalho.
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- Andaimes com proteção contra queda de trabalhadores e com rodapés para evitar a
queda de material.
Voltando ao raciocínio...
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Ficou claro?
Na minha videoaula do YouTube sobre as tabelas da Nova NR-3 eu apresento esse mesmo
passo-a-passo. O raciocínio começa aos 21:26. Clique AQUI.
➔ Praticamente repetindo o que havia sido dito no item 3.3.3, a Nova NR-3 volta a
determinar que em primeiro lugar devemos considerar as consequências para só então
avaliarmos as probabilidades da ocorrência de um evento danoso para a caracterização do
grave e iminente risco.
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➔ Aqui, a NR-3 nos chama a atenção para o fato de que os “riscos de referência” são
aqueles existentes nos ambientes de trabalho caso todas as determinações contidas nas
diversas Normas Regulamentadoras fossem cumpridas.
➔ Caso alguma situação de trabalho possa gerar uma pluralidade de consequências, o AFT
deverá avaliar a existência de grave e iminente risco considerando sempre o evento danoso
com maior probabilidade de acontecer (e não o de maior gravidade).
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Sempre que o resultado da análise do GIR através do passo-a-passo trazido pelo item
3.3.11 resultar em excesso de risco extremo (simbolizado pela letra E nas tabelas 3.3 e 3.4),
o AFT deverá embargar a obra ou interditar a atividade, a máquina, equipamento, o setor de
serviço ou o estabelecimento.
Sempre!
➔ Enquanto o item 3.4.1 determina que o AFT deve embargar ou interditar sempre que o
resultado da avaliação do GIR chegar a um resultado de excesso de risco extremo (E), os
itens 3.4.2 e 3.4.3 estabelecem que, quando a avaliação encontrar um excesso de risco
substancial (S), o AFT deve considerar se a situação é passível de adequação imediata.
Contudo, caso não seja possível implementar medidas imediatas de prevenção (como, por
exemplo, quando da necessidade de um Projeto de Execução prévio dos dispositivos
coletivos de segurança), o AFT deverá concluir pelo embargo ou pela interdição.
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➔ Lembrando que essa hipótese só recai sobre a avaliação do AFT quando o resultado do
excesso de risco for substancial (S). Nos excessos de risco extremos (E), o AFT sempre
deverá interditar ou embargar (vide item 3.4.1).
Mas atenção! Isso não significa que eles não possam ser autuados. A verificação do
excesso de risco é para avaliar a necessidade da paralização dos serviços em função do
grave e iminente risco. Para a lavratura do Auto de Infração basta o descumprimento de um
dispositivo normativo ou dispositivo legal – mesmo que tal descumprimento não cause GIR.
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➔ Como dito anteriormente, a tabela 3.4 é mais rigorosa por se tratar da exposição coletiva
ao grave e iminente risco.
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➔ Quando uma NR específica já definir o que é grave e iminente risco, essa metodologia de
mensuração quantitativa do excesso de risco estabelecida pela Nova NR-3 é dispensável.
Como exemplo, podemos citar a NR-13, que trata das caldeiras, vasos de pressão,
tubulações e tanques metálicos de armazenamento. Em seu item 13.3.1 a própria NR-13
traz uma série de situações que, se verificados, já caracterizam a existência do grave e
iminente risco – independentemente da mensuração do excesso de risco aqui revista:
13.3.1 Constitui condição de Risco Grave e Iminente o não cumprimento de qualquer item
previsto nesta NR que possa causar acidente ou doença relacionada ao trabalho, com lesão
grave à integridade física do trabalhador, especialmente:
f) operação de caldeira por trabalhador que não atenda aos requisitos estabelecidos no Anexo I
desta NR, ou que não esteja sob supervisão, acompanhamento ou assistência específica de
operador qualificado.
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➔ Voltando a frisar o que dissemos nos comentários acerca do item 3.2.2, embargo e
interdição são medidas de cautela – não punitivas! Essas (as punitivas) nós encontramos
principalmente no Código Penal e na Lei as Contravenções Penais.
Não são raras as vezes em que, após informarmos o empregador ou preposto sobre o
embargo ou a interdição, nos perguntam sobre o prazo para adequação das irregularidades
que motivaram a paralisação das atividades.
Uma vez que há pessoas expostas a grave e iminente risco de acidente, qualquer prazo
dado chancelaria a manutenção dessa situação de risco por todo o período concedido para
as devidas regularizações.
Aqui, vou apresentar um exemplo de roteiro que poderia ser utilizado para a correção das
irregularidades que motivaram o embargo ou a interdição e a consequente retomada dos
trabalhos (apenas em caráter exemplificativo, visto que cada situação tem as suas
peculiaridades – motivo pelo qual fica impossível estabelecer um passo-a-passo
padronizado):
3. O empregador, de posse do Relatório Técnico, terá acesso a todas as medidas que deve
adotar para a retomada dos serviços. Ele deve garantir que as medidas individuais de
proteção sejam obedecidas (como por exemplo a capacitação para trabalho em altura ou
o treinamento para a correta utilização dos EPI’s) de forma a possibilitar que os
trabalhadores selecionados para a implementação das medidas de proteção coletivas
possam desempenhar seus afazeres com segurança.
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7. Após o retorno do AFT ao local, será emitido o Termo de Suspensão do Embargo (ou de
Interdição), momento em que as atividades normais podem ser retomadas. Caso o AFT
entenda que as irregularidades geradoras do GIR permaneçam, será emitido o Termo de
Manutenção do Embargo (ou da Interdição). Nesse caso, a paralisação permanece.
Homicídio simples
§ 3º Se o homicídio é culposo:
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Aumento de pena
Lesão corporal
§ 1º Se resulta:
II - perigo de vida;
IV - aceleração de parto:
§ 2° Se resulta:
II - enfermidade incurável;
IV - deformidade permanente;
V - aborto:
Pena - detenção, de três meses a um ano, se o fato não constitui crime mais grave.
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Art. 205 - Exercer atividade de que está impedido por decisão administrativa: [*uma
vez que embargos e interdições são decisões administrativas, exercer uma atividade que foi
paralisada pela Auditoria-Fiscal do Trabalho caracteriza-se como a conduta tipificada no art.
205 do CP]
Perceba que o Código Penal olha para o passado: ele sempre se refere a algo que já
aconteceu. A NR-3, por sua vez, olha para o presente (quando analisa a situação atual) e
para o futuro (quando vislumbra a situação de referência). Mais um argumento que sustenta
a nossa afirmação de que embargos e interdições são medidas de cautela e não punitivas
(já que é impossível punirmos algo que ainda não aconteceu).
O item 3.5.2.1 se refere àquelas situações de risco encontradas para as quais não há
nenhum item de NR.
Por exemplo, suponhamos que uma organização criou uma nova metodologia de trabalho e
que essa nova metodologia expõe seus trabalhadores a grave e iminente risco de acidentes.
Contudo, não há nenhuma previsão normativa que proíba aquela prática.
Já vimos que expor alguém a risco grave e iminente é crime (art. 132 do Código Penal).
Sendo assim, não é porque não existe item de NR abordando aquela nova metodologia de
trabalho que ele passou a ser permitida, concorda? Ela deve ser combatida do mesmo jeito!
É sobre isso que trata o item 3.5.2.1: quando o AFT constatar uma situação de risco atual
para a qual não exista um “risco de referência” (uma vez que não existe item de NR para
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ela), ele deve fundamentar o embargo ou a interdição justificando os motivos que o levaram
a concluir pela paralisação dos trabalhos.
Vamos pensar, por exemplo, numa fazenda de gado que teve o seu setor de manutenção de
máquinas interditado em função de irregularidades relacionadas à NR-11 e à NR-23. Caso o
refeitório também apresente irregularidades (por exemplo, as contidas na NR-24), tanto as
irregularidades que motivaram a interdição (NR’s 11 e 23) quanto aquelas não relacionadas
à paralisação das atividades (NR-24) serão autuadas.
A autuação, por sua vez, pode ser comparada ao Boletim de Ocorrência utilizado pela
polícia: é o registro de uma irregularidade que pode virar multa. Caso a autuada não
concorde com a autuação, ela pode se defender por escrito junto à unidade da Inspeção do
Trabalho mais próxima. A defesa sendo acatada, o Auto de Infração é arquivado; mas, caso
a defesa não seja acatada, só então o Auto de Infração é convertido em multa.
Ficou clara a diferença entre notificação (“prazo”) e autuação (“multa”)? Sendo assim,
vamos ao penúltimo item da Nova NR-3.
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Fica claro o objetivo da comissão responsável pela elaboração da Nova NR-3 em reforçar o
fato de que os trabalhadores não podem ser prejudicados em seus vencimentos em função
de uma situação de risco causada pelo empregador. Dessa forma, mesmo que a obra seja
embargada total ou parcialmente ou que algum estabelecimento, setor de serviço, atividade,
máquina ou equipamento seja interditado, os salários continuam sendo pagos como se as
atividades continuassem normalmente.
Beleza?
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Eis que finalmente chegamos ao final dos nossos estudos sobre a Nova NR-3.
Espero que você esteja se sentindo mais preparad@ para entender o conteúdo desta
Nova NR do que se sentia antes da leitura.
Que este material se torne um guia de consulta, sempre que você precisar!
Um abraço!
Do seu amigo,
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