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TEOLOGIA DECOLONIAL E EPISTEMOLOGIAS DO SUL.

Alunos: Benício Euclides, Edney José, Luiz Ronaldo, Mateus Lima.

CONCEITOS E PROPOSIÇÕES

O que se entende por colonização?


Entende-se por colonização o “processo histórico de implantação do dito modelo”. O
colonialismo refere-se ao “discurso legitimador do modelo imperial” (ARNOLD, 2014,
p. 30 apud VASCONCELOS e HURTADO, 2016, p. 476).
Proposições da Teologia Decolonial
• “Proposto no campo teológico, reinterroga os conteúdos fundamentais da fé em
novos contextos sócio pluriculturais. Constata-se, em tal mudança, entre outros
pontos, o esforço para purificar as linguagens da tradição apresentando-as com
a novidade do Espírito. Esta tarefa se dirige a um mundo plural com seres
humanos marginalizados da cultura hegemônica e da sociedade dominante”
(VASCONCELOS e HURTADO, 2016, p. 464);
• “Por sua vez, a decolonialidade configura um processo que busca transcender
historicamente a colonialidade, com o intento de subverter o poder colonial
atual que domina no mundo, mesmo o colonialismo ter sido extinto como
evento histórico” (RASCHIETTI, [s.d.] p. 13).
• “Descolonização supõe desconstrução ato do nível de esquemas teológicos
monoculturais herdados que têm encerrado o cristianismo impedindo sua
criatividade”.

Metodologia
a) Um estudo crítico das fontes literárias, históricas e doutrinárias;
b) Uma confrontação com os diferentes saberes e apelos socioculturais;
c) Uma construção de um saber voltado ao serviço ministerial das comunidades
de fé e da sociedade” (SUSIN, 2006, p.558 apud VASCONCELOS e
HURTADO, 2016 p. 465).
Estrutura
A dinâmica da razão prática no trabalho teológico o conduza “aprender a desaprender”
para ser e construir através de novos processos históricos e novos sujeitos.
Valor teológico
“O supremo valor do cristianismo é a vida humana digna, a libertação das diferentes
opressões, a boa notícia aos pobres, oriundas da práxis jesuânica do reino. Uma fé
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primaria ente nocional jamais pode manifestar a fecundidade do amor do Deus
encarnado e os imperativos morais daí advindos. (VASCONCELOS e HURTADO,
2016, p. 481)
Desafios
Enfrenta questões espinhosas que dizem respeito ao dogmatismo institucionalizado,
na tentativa de repensar a identidade do cristianismo e de Jesus Cristo com nova
linguagem.
No continente americano
América Latina conheceu uma “guinada descolonizadora epistemológica” comum
grupo de; Filósofos, sociólogos, historiadores, cientistas sociais latino-americanos e
latinos (estes últimos nos Estados Unidos).
Caráter teológico
o processo da descolonização abarca questões históricas, políticas, econômicas,
culturais, religiosas, abrindo caminho para a interculturalidade.
O esquema colonial da religião é marcado pela imposição do seu discurso sobre as
religiões originárias sob o pretexto da “missão e seus efeitos benéficos de civilização
para os povos conquistados, sempre considera dos como menos civilizados”

A IMPORTÂNCIA DE UMA TEOLOGIA DECOLONIAL

Embora a teologia decolonial tenha sua importância no que diz respeito ao alcance de
pessoas que não estão dentro dos “parâmetros cristãos”, ela não surge com muito
entusiasmo, ela se restringe a ambientes acadêmicos, ou seja ela surge de maneira
tímida.
A teologia decolonial surge num contexto de desconstrução de colonialidade com a
chegada da modernidade. Diante de todo esse movimento questiona-se sobre a real
natureza da modernidade e seu processo de globalização, onde: “a narrativas sobre
a modernidade são resultados de enfoques autorreferenciais e euro-centrados que
afirmam, substancialmente, que a modernidade pode ser explicada por referência a
fatores históricos (Revolução Francesa e revolução industrial), sociológicos
(surgimento dos Estados-nação), culturais (racionalização) e filosóficos (emancipação
do indivíduo), intrínsecos à Europa”. (Raschietti, s.d p. 13)
“Nessa associação ele foi moldado com formas coloniais, imperialistas e ocidentais
de pensamento e de saber que, no passado legitimaram e reforçaram a dominação
dos países centrais do império romano e bizantino e, do sacro império romano
germânico, e, mais posteriormente, dos impérios britânico, espanhol, português e
norte-americano.” (DIETRICH, 2016, p. 63)

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Neste contexto de um mundo colonizado a Teologia Decolonial é vista como uma
forma de denúncia de uma cultura eurocêntrica. Essa cultura vem sendo denunciada
desde 1990 por um grupo composto por intelectuais latino-americanos e
americanistas denominado Grupo Modernidade/Colonialidade/Decolonialidade
(Grupo M/C/D).
Sendo assim, a teologia decolonial se posiciona em defesa do oprimido, ela é
importante para a elaboração de um outro mundo possível em que poder que mantêm
a desigualdade, a opressão e racionalização de seres e saberes são superados por
um projeto de libertação político, social e epistêmico, reconhecendo e legitimando
outras culturas.

ELEMENTOS TEÓRICOS

O processo decolonial resume “sua crítica às dinâmicas sociopolíticas coloniais


ainda presentes no mundo globalizado colocando em evidência a existência da
seguinte tríade: colonialidade do ser, colonialidade do poder e colonialidade do saber”
(QUIJANO, 2011 apud PANOTTO, 2019, E-book).
“Aníbal Quijano, sociólogo peruano é uma das grandes influências do Grupo de
estudos Modernidade/Colonialidade/Decolonialidade (Grupo M/C/D) e é ele, que em
1989, desenvolve a categoria de colonialidade do poder, que critica o fundamento
do ‘paradigma europeu’ de conhecimento racional e a sua aplicação nas relações de
colonização” (QUIJANO, 2016, p. 64 apud CUNHA, 2021) Ou seja, associa a
dominação colonial política e econômica com a colonização do conhecimento e do
imaginário: o controle da economia e da autoridade está relacionado às bases nas
quais se assenta não apenas o conhecimento, mas a própria maneira de produzir
conhecimento.
A colonialidade do ser. Diz respeito à dimensão ontológica da colonialidade
do poder, ou seja, às consequências sobre a experiência vivida pelos seres humanos
na relação colonial, seu impacto na existência tanto do dominado como do dominador.
A subjetividade moderna fundamenta sua epistemologia no ceticismo metodológico
cartesiano, que tem como pressuposto o dualismo da res cogitans (o pensante) e res
extensa (o objeto), por sua vez derivado da autoconsciência do cogito ergo sum (...).
Encontramos também que a ideia da colonialidade do ser encontra um precioso aliado
em Emmanuel Levinas, para o qual o problema da filosofia ocidental não está no
discurso sobre o ser, mas no esquecimento do Outro: na ontologia não há espaço
para se pensar o Outro enquanto Outro, não há espaço para pensar o diferente.
(RASCHIETTI, [s. d.]).
A colonialidade do saber: Apesar de não ter sido objeto de uma elaboração
cuidadosa, esse conceito apresenta uma série de elementos que remetem à
subalternização de uma multiplicidade de conhecimentos que não respondem às
modalidades de produção do conhecimento ocidental. A objetividade e a neutralidade
pressupõem um conhecimento sem sujeito, ou melhor, um conhecimento onde o
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sujeito toma distância de si para não contaminar o objeto com sua subjetividade. Esse
distanciamento é necessário na racionalidade moderna para gerar um conhecimento
válido e universal. Como Deus, o observador observa o mundo a partir de uma
plataforma de observação inobservada (RASCHIETTI, [s. d.]).
Tendo conhecimento do processo de colonização, o próximo passo assinalado
por Quijano é a decolonização epistemológica, quer dizer, a busca por uma nova
racionalidade livre da pretensão de uma cosmovisão específica de uma etnia
particular que almeja se impor como única racionalidade universal” (CUNHA, 2021).

Diante do exposto, podemos inferir, como disse CUNHA (2021) que “A teologia
não é um saber autônomo. Na busca por contextualização e pertinência, a teologia
cristã se lança ao diálogo fecundo com outras áreas do conhecimento” (CUNHA,
2021).
O pensamento decolonial nos oferece algumas coordenadas para tecer um
discurso, como o processo de desprendimento e abertura. No “Pensamento
Decolonial e a Missão Cristã”, Estêvão Raschietti aponta que esse processo, consiste,
primeiramente em despir-se das arrogâncias ocidentais que colonizaram o
conhecimento, ou seja, deixar a linguagem retórica de superioridade do ocidente,
“desapegar das ficções de verdade e de estética naturalizadas pela matriz colonial do
poder”. O segundo passo é dispor-se a uma nova maneira de pensar a partir de uma
pluralidade de pontos de enunciação geo-historicamente situados, é a abertura a um
pensamento-outro, ‘sentar-se em círculo para aprender’, a partir de outras
racionalidades, de outras cosmovisões e de outras maneiras de ser, de saber e de
fazer. Desta forma, teremos uma descolonização epistemológica como reação ao
pensamento ocidental e sua reivindicação universal, através de uma valorização de
conhecimentos rechaçados pela hegemonia eurocêntrica.
Os teóricos decoloniais, segundo Estêvão Raschietti, acusam o cristianismo de
mudar o conteúdo, mas não os termos do discurso: assim a “cristianização” no século
XVI se tornava “civilização” no século XIX, “desenvolvimento”, “libertação”,
“evangelização” no século XX. Sempre despontava de alguma maneira uma direção
hegemônica: dos missionários para os pagãos, bárbaros, atrasados, pobres,
afastados.
Enveredar por este caminho decolonial implica para a prática e a teologia da
missão uma radical mudança de orientação e motivação: de uma concepção de
missão como “expansão”, para uma compreensão de missão como um genuíno e
profundo “encontro” com os outros (BEVANS; SCHROEDER, 2016, p. 41 apud
RASCHIETTI, [s. d.]). Ao contrário de visualizar as pessoas a serem catequizadas
como “objetos” ou “alvos” de conversão, agora o desafio é de reconhecê-las
simetricamente e dignamente como interlocutoras, portadoras também de uma
mensagem de salvação.
Os projetos decoloniais interessam enormemente à missão como iniciativas anti-
sistêmicas que refletem a sabedoria e a vocação divina de cada povo, contra toda

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forma de violência e toda pretensão de domínio. Não se trata de querer negociar, ou
confundir, verdades de fé com circunstâncias históricas, e sim se dispor a testemunhar
o próprio âmago do Evangelho na proximidade a todas as realidades humanas, no
diálogo político, intercultural e inter-religioso, na reciprocidade e na reconciliação, na
promoção de sociedades mais justas e fraternas, na tensão esperançosa para uma
comunhão pluriversal plena.

REFERENCIAS
CUNHA, C. A. M. TEOLOGIA E PENSAMENTO DECOLONIAL. INTERAÇÕES, v. 16,
n. 1, p. 132-148, 30 mar. 2021. disponível em:
<http://periodicos.pucminas.br/index.php/interacoes/article/view/18518/14230>.
Acesso em 17/06/2022.
DIETRICH, Luiz José. A descolonização da “Palavra de Deus”: o desafio primeiro
e urgente para uma teologia decolonial.
Disponível em:
https://www.metodista.br/revistas/revistasmetodista/index.php/Ribla/article/viewFile/1
0764/7384. Acesso: 18 de jun. 2022.
GONÇALVES, Alonso. Revelação e Decolonialidade: subversão teológica e
epistemologia decolonial. São Paulo: Recriar, 2021.
RASCOHIETTI, Estêvão. O Pensamento Decolonial e a Missão Cristã.
Disponível em: http://www.missiologia.org.br/wp-
content/uploads/2021/05/Estevao7.pdf. Acesso em: 19: de
jun. 2022.
VASCONCELOS, A. M.; HURTADO, M. Descolonizar a Cristologia.
Disponível em:
https://www.faje.edu.br/periodicos/index.php/perspectiva/article/view/3633/3713.
Acesso em: 19 de jun. 2022.
PANOTTO, Nícolas. Descolonizar o saber teológico na América Latina: Religião,
educação e teologia em chaves pós-coloniais . Editora Recriar. Edição do Kindle.

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