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FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DO PORTO

EXAME DE DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA

21/01/2019 14.30 H – 16.30 H

Comente a seguinte afirmação:

“o défice democrático (…) foi sucessivamente trabalhado, num processo que se inicia em
Maastricht e culmina em Lisboa (…) reforçando os poderes do PE e os aspetos mais ‘modernos’
de participação e de transparência (…) e sem anular em absoluto o relevo democrático dos
parlamentos nacionais, antes envolvendo-os na estrutura decisória da União…”.

Graça Enes, Unidade e Diferenciação no Direito da União Europeia

(5 val.)

II

Analise a seguinte situação hipotética:

Em 2013, foi adotada a diretiva 2013/40/EU, que impõe aos EM a adoção de medidas para
combate à cibercriminalidade. O artigo 7.º criminaliza uma série de atos relativos aos
instrumentos, como programas informáticos ou códigos de acesso, destinados à prática de
uma das infrações previstas nos artigos 3.º a 6.º: a produção de tais instrumentos, a sua venda,
aquisição para utilização, importação, distribuição ou qualquer outra forma de
disponibilização.

a) Caracterize o ato jurídico referido. (2 val .)

No Relatório de avaliação apresentado pela Comissão, em 13/9/2017, a instituição


compromete-se “a apoiar os Estados-Membros na respetiva aplicação da diretiva”

b) Que princípio está subjacente a este compromisso e onde se encontra previsto? (2 val.)

c) Portugal comunicou à Comissão em 11/9/2015 a desnecessidade de medidas específicas de


implementação da diretiva, estando em vigor a Lei nº 109/2009, “Lei do cibercrime” (que tinha
transposto a Decisão-quadro nº 2005/222/JAI e que foi substituída pela referida Diretiva).

O Relatório referido deteta discrepâncias entre o referido artigo 7.º e as medidas nacionais de
vários EM devido à não transposição de todos os possíveis atos enumerados, nomeadamente
Portugal. A Lei portuguesa não contempla entre os atos a “aquisição para utilização”, prevista
no artigo 7º da Diretiva, mas antes “importar, distribuir, vender ou detiver para fins
comerciais” (crime de falsidade informática), “ilegitimamente produzir, vender, distribuir ou
por qualquer outra forma disseminar ou introduzir” (crimes de dano relativo a programas ou
outros dados informáticos, de sabotagem informática, de acesso ilegítimo, de interceção
ilegítima e de reprodução ilegítima).

“X”, nacional de outro EM, mas residente no Porto, numas férias ao seu país adquire aí um
dispositivo com a intenção de danificar o sistema informático do Ministério Publico (MP), pois
está ressentido por o MP ter acusado familiares seus de vários crimes.

Sendo detetado numa investigação criminal quando comentava num chat na “Dark web” que
possuía um sistema fantástico para causar imensos estragos, comprova-se que nunca teve
intenção de vender ou distribuir tal dispositivo e que nunca chegou a praticar qualquer ato
com vista a tal danificação.

O MP, considerando a importância do combate a este tipo de criminalidade, pretende


promover a acusação com os fundamentos seguintes: a obrigação de “interpretação
conforme” da legislação portuguesa com o Direito da União, nomeadamente do conceito de
“disseminação” consagrado na legislação portuguesa; a jurisprudência “Taricco”. “X” discorda
dessa possibilidade e entende que ela contraria princípios fundamentais e invoca a
jurisprudência M.A.S.

Quid iuris? (5 val.)

d) A Comissão conclui que o Estado português não implementou corretamente a Diretiva e


que devia ter adotado medidas específicas para essa implementação. Por isso, declara que vai
agir, de acordo com as suas competências. Explicite e fundamente o que pode a Comissão
fazer? (4 val.)

e) Este ano realizam-se eleições para o Parlamento Europeu e eleições legislativas em Portugal.
“X” pretende votar em ambas, ao abrigo do estatuto de cidadão da União. Poderá fazê-lo?
Fundamente. (2 val.)

Bom trabalho!

Graça Enes

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