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APRESENTAÇÃO

Olá, pessoal, tudo certo?!


Em 10/03/2024, foi aplicada a prova objetiva do concurso público para o Ministério Público do estado do
Rio de Janeiro. Assim que divulgados o caderno de provas e o gabarito preliminar oficial, nosso time de
professores analisou cada uma das questões que agora serão apresentadas em nossa PROVA COMENTADA.
Este material visa a auxiliá-los na aferição das notas, elaboração de eventuais recursos, verificação das
chances de avanço para fase discursiva, bem como na revisão do conteúdo cobrado no certame.
Desde já, destacamos que nosso time de professores identificou 1 questão passível de recurso e/ou que deve
ser anulada, por apresentarem duas ou nenhuma alternativa correta, como veremos adiante. No tipo de
prova comentado, trata-se da questão 9.
De modo complementar, elaboramos também o RANKING do MP-RJ, em que nossos alunos e seguidores
poderão inserir suas respostas à prova, e, ao final, aferir sua nota, de acordo com o gabarito elaborado por
nossos professores. Através do ranking, também poderemos estimar a nota de corte da 1º fase. Essa
ferramenta é gratuita e, para participar, basta clicar no link abaixo:
https://cj.estrategia.com/cadernos-e-simulados/simulados/0c9022e1-2c46-41ef-aee6-1dff1e63b5dc

Além disso, montamos um caderno para nossos seguidores, alunos ou não, verem os comentários e
comentar as questões da prova:
https://cj.estrategia.com/cadernos-e-simulados/cadernos/495fdce4-e269-4330-8b4a-8d5459489226

Por fim, comentaremos a prova, as questões mais polêmicas, as possibilidades de recurso, bem como a
estimativa da nota de corte no TERMÔMETRO PÓS-PROVA, no nosso canal do Youtube. Inscreva-se e ative
as notificações!

Estratégia Carreira Jurídica - YouTube

Esperamos que gostem do material e de todos os novos projetos que preparamos para que avancem rumo
à aprovação.
Contem sempre conosco.
Yasmin Ushara,
Coordenação de Rodadas do Estratégia Carreiras Jurídicas.
PROVA COMENTADA –
MINISTÉRIO PÚBLICO DO RIO DE JANEIRO
QUESTÃO 01. Mévio praticou contra Tícia conjunção carnal e coito anal, além de a ter forçado a praticar
nele sexo oral. As condutas foram praticadas no mesmo contexto, em um período de pouco mais de uma
hora. De acordo com a jurisprudência atual do Superior Tribunal de Justiça, é correto afirmar que
a) Mévio praticou três crimes de estupro contra Tícia, haja vista que foram três condutas ofensivas à sua
dignidade sexual, em concurso material, dado que o tipo penal do estupro é misto cumulativo.
b) Mévio praticou dois crimes de estupro contra a Tícia, haja vista que, além da conjunção camal, foram
praticados atos libidinosos diversos, em concurso material, dado que o tipo penal do estupro é misto
cumulativo.
c) Mévio praticou um único crime de estupro contra Tícia, haja vista que o tipo penal do estupro é misto
alternativo.
d) Mévio praticou três crimes de estupro contra Tícia, haja vista que foram três condutas ofensivas à sua
dignidade sexual, em concurso formal, dado que o tipo penal do estupro é misto cumulativo.
e) Mévio praticou dois crimes de estupro contra Tícia, haja vista que, além da conjunção camal, foram
praticados atos libidinosos diversos em concurso formal, dado que o tipo penal é misto cumulativo.
Comentários
A alternativa correta é a letra C. A questão trata sobre Classificação dos Crimes quanto ao núcleo do tipo.
A alternativa A está incorreta. Conforme comentários da alternativa C.
A alternativa B está incorreta. Conforme comentários da alternativa C.
A alternativa C está correta. C. Inicialmente, cumpre esclarecer que os tipos mistos se caracterizam pela
previsão típica de mais de uma conduta. Sendo assim, a doutrina classifica os tipos mistos em 1)alternativo,
quando a prática de uma ou várias das condutas previstas no tipo levam à punição por um só delito e 2)
cumulativo, quando a prática de mais de uma conduta, prevista no tipo, indica a realização de mais de um
crime, punidos em concurso material.
O estupro é exemplo de tipo misto alternativo, de modo que o agente que realiza, em um mesmo contexto
fático, conjunção carnal e atos libidinosos, praticará um só crime, conforme decidido pelo STJ no HC
212.305/DF: “A nova redação do artigo 213 do CP descreve delito misto alternativo, em que a realização de
mais de uma das condutas previstas não implica concurso de delitos.”
A alternativa D está incorreta. Conforme comentários da alternativa C.
A alternativa E está incorreta. Conforme comentários da alternativa C.

QUESTÃO 02. Considerando os crimes tributários, é correto afirmar que

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a) nos crimes tributários funcionais, previstos no artigo 3º da Lei nº 8.137/90, tal qual ocorre nos crimes
previstos nos artigos 1º e 2º, do mesmo Diploma Legal, o pagamento do tributo, feito a qualquer tempo,
extingue a punibilidade.
b) a despeito da Súmula Vinculante 24, é possível dar início à persecução penal antes de encerrado o
procedimento administrativo, nos casos de embaraço à fiscalização tributária ou diante de indícios da
prática de outros delitos, de natureza não fiscal.
c) nos termos da Súmula Vinculante 24, o crime descrito no inciso V, do artigo 1º, da Lei nº 8.127/90 (negar
ou deixar de fornecer nota fiscal) é material, consumando-se somente quando da constituição definitiva
do débito tributário e inscrição em dívida ativa.
d) com exceção do crime previsto no inciso IV, do art. 1º, da Lei nº 8.137/90 (elaborar, distribuir, fornecer,
emitir ou utilizar documento que saiba ou deva saber falso ou inexato), todos os demais delitos previstos
em referida legislação são praticados mediante dolo.
e) nos crimes tributários, dada a natureza do bem jurídico protegido, inaplicável o princípio da
insignificância.
Comentários
A alternativa correta é a letra B.
A questão trata dos crimes tributários positivados na Lei 8.137/90.
A alternativa A está incorreta. A extinção da punibilidade pelo pagamento do tributo, a qualquer tempo,
somente pode ocorrer para os delitos dos arts. 1º e 2º da Lei 8.137/90, como está previsto no seguinte
dispositivo da Lei 10.684/03:
“Art. 9º: É suspensa a pretensão punitiva do Estado, referente aos crimes previstos nos arts. 1º e 2º da Lei
nº 8.137/90, e nos arts. 168-A e 337-A do Código Penal, durante o período em que a pessoa jurídica
relacionada com o agente dos aludidos crimes estiver incluída no regime de parcelamento.
[...] §2º Extingue-se a punibilidade dos crimes referidos neste artigo quando a pessoa jurídica relacionada
com o agente efetuar o pagamento integral dos débitos oriundos de tributos e contribuições sociais, inclusive
acessórios.”
Portanto, essa possibilidade não abrange os delitos do art. 3º da Lei 8.137/90, tendo em vista que eles não
objetivam proteger somente a ordem tributária, mas, sim, a própria moralidade administrativa, o que
justifica um tratamento diferenciado e mais gravoso nesse caso.
A alternativa B está correta. Apesar de, em regra, a Súmula Vinculante 24 condicionar a tipificação dos delitos
previstos no art. 1º, incisos I a IV, da Lei 8.137/90, ao prévio lançamento definitivo do tributo, a própria
jurisprudência do STF mitiga essa necessidade nas hipóteses em que, no caso concreto, seja possível
constatar a existência de um embaraço à fiscalização tributária ou, ainda, de indícios da prática de outros
delitos de natureza extrafiscal.
Por exemplo, veja a seguinte decisão do STF: "Não obstante a jurisprudência pacífica quanto ao termo inicial
dos crimes contra a ordem tributária, o Supremo Tribunal Federal tem decidido que a regra contida na
Súmula Vinculante 24 pode ser mitigada de acordo com as peculiaridades do caso concreto, sendo possível
dar início à persecução penal antes de encerrado o procedimento administrativo, nos casos de embaraço à
fiscalização tributária ou diante de indícios da prática de outros delitos, de natureza não fiscal" (AgRg no ARE
936.653, 2016).

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A alternativa C está incorreta. O crime tipificado no inciso V do art. 1º da Lei 8.137/90, ao contrário daqueles
previstos nos incisos I a IV do mesmo artigo, é classificado como formal, logo, basta que o agente pratique a
conduta criminosa para que o delito se considere consumado, independentemente da ocorrência de
qualquer resultado naturalístico e, também, independentemente da constituição definitiva do crédito
tributário.
Essa conclusão pode ser extraída da própria Súmula Vinculante 24, que estabelece: "Não se tipifica crime
material contra a ordem tributária, previsto no art. 1º, incisos I a IV, da Lei 8.137/1990, antes do lançamento
definitivo do tributo". Perceba que a Súmula limita a sua incidência aos crimes definidos nos incisos I a IV,
não abrangendo, portanto, o inciso V.
A alternativa D está incorreta. O delito do inciso IV do art. 1º da Lei 8.137/90, na verdade, também é
praticado somente na forma dolosa, pois o dispositivo é claro ao mencionar as expressões "que saiba ou
deva saber falso ou inexato", o que denota a necessidade de presença de dolo, seja ele direto ou eventual.
A alternativa E está incorreta. A jurisprudência possui o entendimento consolidado de que o princípio da
insignificância também é aplicável aos crimes tributários. Como exemplo, podemos citar o Tema 157 do STJ:
"Incide o princípio da insignificância aos crimes tributários federais e de descaminho quando o débito
tributário verificado não ultrapassar o limite de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), a teor do disposto no art. 20
da Lei n. 10.522/2002, com as atualizações efetivadas pelas Portarias 75 e 130, ambas do Ministério da
Fazenda".

QUESTÃO 03. A respeito da extinção da punibilidade, nos crimes ambientais, nos termos da jurisprudência
atual do Superior Tribunal de Justiça, assinale a alternativa correta.
a) A assinatura de termo de ajustamento de conduta pela pessoa jurídica acusada de crime ambiental
implica extinção da punibilidade.
b) Tratando-se de crime ambiental ocorrido no âmbito da empresa, a ausência de imputação à pessoa
física implica extinção da punibilidade da pessoa jurídica.
c) Em vista do princípio da intranscendência da pena, a incorporação da pessoa jurídica acusada por crime
ambiental por outra empresa implica extinção da punibilidade, por aplicação análoga do art. 107, inciso I,
do CP.
d) Tratando-se de crime ambiental ocorrido no âmbito da empresa, a ausência de imputação à pessoa
jurídica implica extinção da punibilidade da pessoa física responsável pelo ato lesivo ao meio ambiente.
e) Tratando-se de imputação à pessoa jurídica, antes de transitar em julgado a condenação, o prazo
prescricional é de 02 (dois) anos, por aplicação subsidiária do art. 114, do CP.
Comentários
A alternativa correta é a letra C.
A questão trata da extinção da punibilidade no âmbito dos crimes ambientais.
A alternativa A está incorreta. A mera assinatura de um termo de ajustamento de conduta (TAC) por parte
da pessoa jurídica acusada de crime ambiental não é suficiente para gerar a sua extinção da punibilidade. Na
verdade, trata-se apenas de uma circunstância que, em caso de condenação, deve ser considerada na
dosimetria da pena.

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Esse, inclusive, é o entendimento do STJ: "A assinatura do termo de ajustamento de conduta com o órgão
ambiental estadual não impede a instauração da ação penal, pois não elide a tipicidade formal das condutas
imputadas ao acusado, repercutindo, na hipótese de condenação, na dosimetria da pena" (APn 888, 2018).
A alternativa B está incorreta. Na verdade, já está consolidado o entendimento de que, para que a pessoa
jurídica possa ser responsabilizada pela prática de um crime ambiental, não é necessária a simultânea
persecução penal de nenhuma pessoa física. Em outras palavras, a pessoa jurídica pode ser responsabilizada
de modo isolado em âmbito penal, sem necessidade de dupla imputação.
Para ilustrar, veja a seguinte decisão do STF: "O art. 225, § 3º, da Constituição Federal não condiciona a
responsabilização penal da pessoa jurídica por crimes ambientais à simultânea persecução penal da pessoa
física em tese responsável no âmbito da empresa. A norma constitucional não impõe a necessária dupla
imputação. [...] Condicionar a aplicação do art. 225, §3º, da Carta Política a uma concreta imputação também
a pessoa física implica indevida restrição da norma constitucional, expressa a intenção do constituinte
originário não apenas de ampliar o alcance das sanções penais, mas também de evitar a impunidade pelos
crimes ambientais frente às imensas dificuldades de individualização dos responsáveis internamente às
corporações, além de reforçar a tutela do bem jurídico ambiental" (RE 548.181, 2013).
A alternativa C está correta. Se a pessoa jurídica acusada da prática de um crime ambiental for incorporada
por outra, a responsabilidade penal pelo delito em questão ficará extinta, pois, em razão do princípio da
intranscendência da pena, não haverá possibilidade de imputar a responsabilidade a essa nova pessoa
jurídica.
O STJ entende da mesma maneira: "A pretensão punitiva estatal não se enquadra no conceito jurídico-
dogmático de obrigação patrimonial transmissível, tampouco se confunde com o direito à reparação civil dos
danos causados ao meio ambiente. Logo, não há norma que autorize a transferência da responsabilidade
penal à incorporadora. [...] Extinta legalmente a pessoa jurídica ré – sem nenhum indício de fraude, como
expressamente afirmou o acórdão recorrido –, aplica-se analogicamente o art. 107, I, do CP, com a
consequente extinção de sua punibilidade" (REsp 1.977.172, 2022).
Vale destacar, todavia, que esse entendimento se aplica exclusivamente à responsabilização penal (ou seja,
não abrange a responsabilização civil, pois ela pode ser transmitida à incorporadora), e desde que não haja
qualquer indício de fraude na incorporação. Havendo indício de fraude, a responsabilidade penal não será
extinta.
A alternativa D está incorreta. Como já comentado na alternativa B, a jurisprudência pátria afirma que é
desnecessária a dupla imputação para a responsabilização da pessoa jurídica e da pessoa física nos crimes
ambientais. Portanto, o mero fato de a pessoa jurídica não estar sofrendo persecução penal por um
determinado crime ambiental não é suficiente para que seja considerada extinta a punibilidade da pessoa
física envolvida.
A alternativa E está incorreta. O art. 114 do CP prevê o prazo prescricional de 2 anos para as hipóteses em
que a pena de multa seja a única cominada ou aplicada. Então, de fato, se o crime praticado pela pessoa
jurídica estiver sujeito somente à aplicação da pena de multa, a prescrição da pretensão punitiva ocorrerá
no prazo de 2 anos.
Todavia, o art. 21 da Lei 9.605/98 é claríssimo ao estabelecer que a pessoa jurídica pode receber também
alguma pena restritiva de direito, e, nessas situações, o prazo prescricional a ser aplicado será o mesmo
previsto para as penas privativas de liberdade, como se vê a partir do parágrafo único do art. 109 do CP.
Portanto, em tais casos, ficará afastado o prazo prescricional de 2 anos, o que torna a alternativa incorreta.

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Veja o entendimento do STJ: "Nos crimes ambientais, aplicada a pena restritiva de direito às pessoas
jurídicas, os parâmetros de aferição de prazos prescricionais a serem considerados devem ser os
disciplinados pelo Código Penal. Com fulcro no art. 109, do Código Penal, antes de transitar em julgado a
sentença final, aplica-se, às penas restritivas de direito, o mesmo prazo previsto para as privativas de
liberdade" (AgRg no REsp 1.589.299, 2017).

QUESTÃO 04. Mévio, técnico de futebol do X Sport Clube, recebeu de Tício, presidente do Y Sport Clube, a
quantia de 10.000,00 (dez mil reais), para deixar de convocar o jogador Zeca, considerado o craque do time
X, para o jogo realizado entre os dois times, com o objetivo de aumentar a chance de vitória do time Y.
Mévio efetivamente deixou de convocar o jogador Zeca, entretanto, ainda assim, o time X logrou-se
vencedor. Diante da situação hipotética, assinale a alternativa correta.
a) Mévio e Tício praticaram crimes contra a incerteza do resultado esportivo, previstos, respectivamente,
nos artigos 198 e 199, da Lei nº 14.597/2023.
b) Mévio e Tício praticaram o crime de corrupção privada no esporte (art. 165, da Lei nº 14.597/2023).
c) Mévio e Tício não praticaram qualquer crime, pois os crimes de corrupção privada no esporte e contra
a incerteza do resultado esportivo são materiais e exigem que o resultado almejado se realize.
d) Mévio praticou o crime contra a incerteza do resultado esportivo (art. 198, da Lei nº 14.597/2023), e
Tício praticou o crime de corrupção privada no esporte (art. 165, da Lei nº 14.597/2023).
e) Mévio praticou o crime de corrupção privada no esporte (art. 165, da Lei nº 14.597/2023), e Tício
praticou o crime contra a incerteza do resultado esportivo (art. 199, da Lei nº 14.597/2023).
Comentários
A alternativa correta é a letra A.
A questão trata dos crimes previstos na Lei Geral do Esporte (Lei 14.597/2023).
A alternativa A está correta. Tício, presidente do Y Sport Clube, incorreu no crime do art. 199 da Lei
14.597/2023 ao oferecer uma vantagem patrimonial (quantia de R$ 10.000,00) para que o treinador do time
adversário deixasse seu melhor jogador fora de uma partida, por se tratar de uma conduta objetivamente
capaz de alterar o resultado da competição esportiva em questão.
Por sua vez, Mévio, presidente do X Sport Clube, ao aceitar a vantagem patrimonial oferecida por Tício,
incorreu no crime do art. 198 da Lei 14.597/2023, sendo totalmente irrelevante o fato de que o seu time
ainda tenha se sagrado vencedor.
Destacamos que ambos os crimes são classificados como formais, de modo que a não obtenção do resultado
pretendido não tem o condão de afastar a consumação.
A alternativa B está incorreta. O delito do art. 165 da Lei 14.597/2023 pune a seguinte conduta criminosa:
“Exigir, solicitar, aceitar ou receber vantagem indevida, como representante de organização esportiva
privada, para favorecer a si ou a terceiros, direta ou indiretamente, ou aceitar promessa de vantagem
indevida, a fim de realizar ou de omitir ato inerente às suas atribuições”. Esse delito é próprio quanto ao
sujeito ativo, logo, somente pode ser praticado pelos representantes de alguma organização esportiva
privada, como, por exemplo, os representantes da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Portanto, pelo
fato de os dois envolvidos não ostentarem essa condição, eles não podem ser tidos como sujeitos ativos do
delito em questão.

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A alternativa C está incorreta. Como afirmado nos comentários da alternativa A, os crimes dos arts. 198 e
199 da Lei 14.597/2023, nos quais Tício e Mévio incorreram, são considerados como formais, logo, a sua
consumação independe da ocorrência de qualquer resultado naturalístico.
As alternativas D e E estão incorretas, pois, como afirmado nos comentários da alternativa B, o crime de
corrupção privada no esporte somente pode ser praticado por representantes de organizações esportivas
privadas, logo, considerando que Tício e Mévio não ostentam essa condição, não podem figurar como
sujeitos ativos desse delito.

QUESTÃO 05. Caio, de 25 anos, e Mévio, de 16 anos, compartilham entre si, fotografias e vídeos contendo
cenas de pornografia envolvendo criança e adolescente. Também armazenavam fotografias e vídeos
contendo cenas de pornografia envolvendo crianças, muitas delas não compartilhadas entre si. O
compartilhamento de fotos não envolvia qualquer contraprestação financeira, não se sabendo, outrossim,
de quem partiu a iniciativa de compartilhar e armazenar material pornográfico entre si e com terceiros.
Diante da situação hipotética e tendo em conta a jurisprudência dominante atual do Superior Tribunal de
Justiça, assinale a alternativa correta.
a) Caio praticou o crime previsto no art. 241-A, do ECA (oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir). O crime
previsto no art. 241-B, do ECA (possuir ou armazenar), pelo princípio da consunção, restou absorvido pelo
crime previsto no art. 241-A do ECA. Praticou também, em concurso material, o crime de corrupção de
menores (art. 244-B, do ECA).
b) Caio praticou o crime previsto no art. 241-A, do ECA (oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir). O crime
previsto no art. 241-B do ECA (possuir ou armazenar), pelo princípio da consunção, restou absorvido pelo
crime previsto no art. 241-A, do ECA. Não praticou o crime de corrupção de menor (art. 244-B, do ECA), se
restar demonstrado que Mévio já se dedicava à prática delitiva anteriormente.
c) Caio praticou o crime previsto no art. 241-A, do ECA (oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir), e o
crime previsto no art. 242-B, do ECA (possuir ou armazenar), em concurso material. Não praticou o crime
de corrupção de menores (art. 244-B, do ECA), se restar demonstrado que Mévio já se dedicava à prática
delitiva anteriormente.
d) Caio praticou o crime previsto no art. 241-B, do ECA (possuir ou armazenar). Não praticou o crime
previsto no art. 241-A, do ECA (oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir), que exige contraprestação
financeira. Praticou, outrossim, o crime de corrupção de menor (art. 244-B, do ECA).
e) Caio praticou o crime previsto no art. 241-A, do ECA (oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir), e o
crime previsto no art. 242-B, do ECA (possuir ou armazenar), em concurso material. Praticou também, em
concurso material, o crime de corrupção de menores (art. 244-B, do ECA).
Comentários
A alternativa correta é a letra E.
A questão trata dos delitos do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), de acordo com a jurisprudência
do STJ.
A alternativa A está incorreta. Conforme comentários da alternativa E.
A alternativa B está incorreta. Conforme comentários da alternativa E.
A alternativa C está incorreta. Conforme comentários da alternativa E.

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A alternativa D está incorreta. Conforme comentários da alternativa E.
A alternativa E está correta. Em primeiro lugar, vamos relembrar a redação dos três tipos penais relacionados
com a questão:
Art. 241-A. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, distribuir, publicar ou divulgar por qualquer meio,
inclusive por meio de sistema de informática ou telemático, fotografia, vídeo ou outro registro que contenha
cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente.
Art. 241-B. Adquirir, possuir ou armazenar, por qualquer meio, fotografia, vídeo ou outra forma de registro
que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente.
Art. 244-B. Corromper ou facilitar a corrupção de menor de 18 (dezoito) anos, com ele praticando infração
penal ou induzindo-o a praticá-la.
Ao realizar o compartilhamento de fotografias e vídeos com cenas de pornografia envolvendo crianças e
adolescentes, Caio incorreu na prática do art. 241-A, pois praticou o verbo "trocar", junto com o adolescente
Mévio. Vale destacar que o recebimento de contraprestação financeira não é uma elementar do tipo penal
em questão, logo, ela não precisa estar presente para a consumação do delito.
Ainda, ao armazenar outros vídeos e fotografias que continham conteúdo da mesma natureza, Caio também
praticou uma conduta nuclear do delito do art. 241-B. Inclusive, o enunciado foi claro ao destacar que os
vídeos armazenados nem sempre eram compartilhados entre os dois sujeitos envolvidos, o que significa dizer
que os objetos materiais dos dois crimes eram distintos, logo, fica afastada qualquer alegação de absorção
de um delito pelo outro.
Nesse mesmo sentido, o próprio STJ também afirma que o delito do art. 241-A e o delito do art. 241-B são
totalmente autônomos, o que impede a aplicação do princípio da consunção entre eles. Para ilustrar, veja o
Tema 1.168: "Os tipos penais trazidos nos arts. 241-A e 241-B do Estatuto da Criança e do Adolescente são
autônomos, com verbos e condutas distintas, sendo que o crime do art. 241-B não configura fase normal,
tampouco meio de execução para o crime do art. 241-A, o que possibilita o reconhecimento de concurso
material de crimes".
Por isso, a alternativa está totalmente correta ao afirmar que Caio deverá responder pelos dois delitos em
concurso material, tendo em vista que, ao praticar duas condutas autônomas, ele efetivamente incorreu em
mais de uma ação ou omissão.
Por fim, considerando que a conduta do art. 241-A foi praticada em conjunto com Mévio, que é adolescente,
Caio também incorreu na prática do delito do art. 244-B (corrupção de menores). Nesse caso, é
absolutamente irrelevante averiguar se Mévio já se dedicava a atividades criminosas em momento anterior,
tendo em vista que o delito em questão é de natureza formal e, portanto, não exige qualquer prova de efetiva
corrupção do menor de idade envolvido.
Esse entendimento já foi pacificado na Súmula 500 do STJ: "a configuração do crime do artigo 244-B do ECA
independe de prova da efetiva corrupção do menor, por se tratar de delito formal".
Sendo assim, é possível concluir que Caio irá responder pelos três delitos (arts. 241-A, 241-B e 244-B), em
concurso material.

QUESTÃO 06. Mévia, inconformada com o fim do relacionamento, no período de julho a outubro de 2020,
todos os dias, por diversas vezes, contatou Tício seu ex-namorado, homem de 65 anos, expressando o
sentimento de mágoa, raiva e desejo de vingança. Inicialmente, os contatos foram através de ligação

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telefônica, passando a mensagens por aplicativo WhatsApp. Bloqueados tais meios, o contato passou a se
dar por mensagens de texto, Instagram e e-mail que, igualmente bloqueados, fez com que Mévia passasse
a criar perfis falsos, para o envio de mensagens. Diante desses atos, Tício procura a autoridade
competente, em novembro de 2021, manifestando inequívoco desejo de ver os fatos processados. Mévia
é denunciada pela contravenção penal de perturbação da tranquilidade (art. 65, do Decreto-lei no
3.688/41), vindo a se tomar ré, em fevereiro de 2021, sendo que, em 15 de março, iniciada a instrução, a
vítima é ouvida, ratificando a sua versão e o desejo de ver a ré punida pelos fatos Finalizada a instrução,
os autos seguem à conclusão para sentença, em janeiro de 2022. Diante da situação hipotética e
considerando que a Lei no 14.132/2021, que tipificou o crime de perseguição, revogando, expressamente,
a contravenção penal de perturbação da tranquilidade (art. 65, do Decreto-lei no 3.688/41), entrou em
vigor em 31 de março de 2021, assinale a alternativa correta.
a) A punibilidade de Mévia não está extinta, por força do princípio da continuidade normativo-típica, vez
que as condutas previstas na contravenção penal revogada permanecem tipificadas no crime de
perseguição. Se condenada, Mévia ficará sujeita às penas do novo crime, não sendo caso de intimação de
Tício para fins de representação, vez que a ação penal pública incondicionada, em razão de ele ser idoso.
b) A punibilidade de Mévia não está extinta, por força do princípio da continuidade normativo-típica, vez
que as condutas previstas na contravenção penal revogada permanecem tipificadas no crime de
perseguição. Se condenada, Mévia ficará sujeita às penas do novo crime, sendo, no entanto, necessária a
intimação de Tício, para fins de representação, vez que a ação penal é pública condicionada.
c) Extinta a punibilidade de Mévia, por abolitio criminis dada a revogação expressa da contravenção penal
de perturbação da tranquilidade, não se podendo falar em princípio da continuidade normativo-típica,
visto que o crime de perseguição exige vítima mulher.
d) A punibilidade de Mévia não está extinta, por força do princípio da continuidade normativo-típica, vez
que as condutas previstas na contravenção penal revogada permanecem tipificadas no crime de
perseguição. Se condenada, Mévia ficará sujeita às penas da contravenção penal, restando, ainda,
inequívoco o desejo de Tício de vê-la processada e condenada pelo depoimento prestado em Juízo.
e) Extinta a punibilidade de Mévia, por abolitio criminis, dada a revogação expressa da contravenção penal
de perturbação da tranquilidade.
Comentários
A alternativa correta é a letra D. A questão trata sobre o crime de perseguição.
A alternativa A está incorreta. Conforme comentários da alternativa D.
A alternativa B está incorreta. Conforme comentários da alternativa D.
A alternativa C está incorreta. Conforme comentários da alternativa D.
A alternativa D está correta. A lei n. 14.132/2021 acrescentou o crime de perseguição ao CP, que consiste no
ato de perseguir alguém, reiteradamente e por qualquer meio, ameaçando-lhe a integridade física ou
psicológica, restringindo-lhe a capacidade de locomoção ou, de qualquer forma, invadindo ou perturbando
sua esfera de liberdade ou privacidade. A lei 14.132/2021 também revogou expressamente o art. 65 da Lei
de Contravenções Penais, que previa a infração penal de perturbação da tranquilidade.
A despeito da revogação do art. 65 do Decreto-Lei nº 3.688/1941, não houve a automática abolitio criminis
para todas as condutas que estavam contidas na referida contravenção penal. A possibilidade de
continuidade típico-normativa do art. 65 da Lei de Contravenções Penais e do art. 147-A do CP deve ser

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analisada segundo o caso concreto, tendo em vista que, embora os bens jurídicos protegidos pelos referidos
artigos sejam coincidentes (liberdade ou privacidade), a conduta descrita no art. 147-A do CP exige uma
prática reiterada, não comportando casos isolados. Assim, dá-se ensejo a duas possíveis situações: 1) O
indivíduo está respondendo ou foi condenado por molestamento e, ao se analisar a sua conduta no caso
concreto, percebe-se que ela se adequa à descrição do crime de perseguição; nessa situação, podemos
afirmar que não houve abolitio criminis, mas sim continuidade normativo-típica e o indivíduo continuará
respondendo pela contravenção de molestamento; ou 2) O indivíduo está respondendo ou foi condenado
por molestamento e, ao se analisar sua conduta, percebe-se que ela não se adequa ao crime de perseguição,
concluindo-se que houve abolitio criminis e a consequente extinção da punibilidade.
No caso em análise, a conduta praticada por Mévia subsume-se ao novo tipo penal do crime de perseguição,
permitindo a persecução penal. Contudo, tendo em vista que a nova lei prevê sanção penal mais grave que
a anterior, deve-se aplicar às penas da contravenção penal, já que os fatos foram praticados em sua vigência,
em obediência ao princípio da anterioridade do direito penal e da ultratividade da lei penal mais benéfica.
Por fim, o art. 147-A, §3º do CP estabelece que o crime de perseguição somente se procede mediante
representação. Tal requisito encontra-se atendido, tendo em vista que a vítima já havia manifestado seu
desejo em ver os fatos processados perante o juízo. Os tribunais superiores entendem que a representação
se despe de rigores formais. Assim, basta que a vítima ou seu representante deixem claro seu interesse em
ver o delito apurado, sendo suficiente, por exemplo, que façam constar do boletim de ocorrência que
desejam ver responsabilizados os autores do crime.
A alternativa E está incorreta. Conforme comentários da alternativa D.

QUESTÃO 07. Tendo em conta os preceitos relacionados à pena (espécies, aplicação, reabilitação)
constantes do Código Penal e a sua execução, constantes da Lei de Execução Penal, com base na
jurisprudência atual do Superior Tribunal de Justiça, assinale a alternativa correta.
a) Tício, decorrido 2 (dois) anos do dia em que terminou de cumprir a pena a que foi condenado, tendo
firmado acordo de não persecução penal por crime diverso, praticado neste interregno, poderá ter o
pedido de reabilitação indeferido, por mau comportamento público e privado.
b) Tício, condenado por crime de roubo qualificado, embora reincidente, não teve a condição reconhecida
na sentença, circunstância que obsta que o Juízo da Execução a utilize para fins de análise da concessão de
benefícios.
c) Tício, condenado por crime de roubo, com simulacro de arma de fogo, a 4 anos de reclusão, conforme o
art. 44, inciso I, do CP, poderá ter a pena privativa de liberdade substituída por restritiva de direito.
d) Mévio, condenado em continuidade delitiva, pela prática de crime de apropriação indébita
previdenciária, por cinco vezes, terá a incidência da fração de aumento da metade.
e) Caio, condenado pelo crime de tortura (art. 1o, inciso II, da Lei no 9.455/97), pela submissão do filho
com deficiência mental, cuja guarda detém, a atos de violência como forma de castigo, não terá a pena
agravada, pela circunstância de o crime ter sido praticado em detrimento de descendente (art. 61, II, e),
do CP).
Comentários
A alternativa correta é a letra A. A questão trata sobre efeitos da condenação.

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A alternativa A está correta. O pedido de reabilitação será dirigido ao juiz criminal que proferiu a condenação
que se pretende os efeitos da reabilitação. Na apreciação do pedido, serão observados os requisitos previstos
no artigo 94, do Código Penal, sendo eles: 1) que se tenha decorrido 02 anos do dia em que for extinta a
pena; 2) ressarcimento do dano, salvo absoluta impossibilidade de fazê-lo, até o dia do pedido; 3) domicílio
no país; e 4) bom comportamento público e privado durante os dois anos.
A Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ), no julgamento do REsp 2.059.742/RS, decidiu que o
fato de o acordo de não persecução penal (ANPP) não gerar reincidência ou maus antecedentes não
necessariamente implica o reconhecimento de bom comportamento público e privado para fins de
reabilitação criminal, conforme estabelecido no artigo 94, inciso II, do Código Penal (CP).
Segundo o colegiado, a avaliação do bom comportamento deve ser feita com base nas condutas cotidianas
do indivíduo, englobando ações éticas, respeitosas e socialmente aceitáveis em todas as áreas da vida,
independentemente de estar em um ambiente público ou privado.
A alternativa B está incorreta. A 3ª Seção do STJ concluiu (Tema 1.208) que a reincidência pode ser admitida
pelo juiz das execuções penais para análise da concessão de benefícios, ainda que não tenha sido
reconhecida pelo juízo que prolatou a sentença condenatória.
A alternativa C está incorreta. Conforme o art. 44, I, do CP, a pena privativa de liberdade não poderá ser
substituída por restritiva de direitos quando aplicada pena privativa de liberdade superior a 4 anos e o crime
for cometido com violência ou grave ameaça à pessoa. A utilização de simulacro de arma de fogo configura
a elementar “grave ameaça” do tipo penal do roubo, devendo ser incluída na hipótese legal que veda a
substituição da pena privativa de liberdade pela pena restritiva de direitos, conforme entendeu a 3ª Seção
do STJ, no julgamento do REsp 1.994.182.
A alternativa D está incorreta. Conforme a súmula n. 659 do STJ, a fração de aumento de pena no crime
continuado deve levar em consideração o número de infrações cometidas, aplicando-se 1/6 pela prática de
duas infrações, 1/5 para três, 1/4 para quatro, 1/3 para cinco, 1/2 para seis e 2/3 para sete ou mais.
A alternativa E está incorreta. A Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu que é possível
aplicar, no crime de tortura previsto pelo artigo 1º, inciso II, da Lei 9.455/1997, a agravante definida pelo
Código Penal para os casos de delito cometido contra descendente (artigo 61, inciso II, alínea "e", do CP),
sem que a incidência da agravante configure bis in idem.

QUESTÃO 08. Tendo em conta os Crimes contra a Administração Pública, é correto afirmar que
a) não se aplica o princípio da insignificância, para afastar a tipicidade material da conduta, ao crime de
contrabando, por menor que seja a ofensividade da conduta.
b) no crime de peculato-furto, a condição de funcionário público não se comunica ao particular que subtrai
o bem, com a concorrência do agente público, respondendo o particular por crime de furto.
c) a importação clandestina de medicamentos configura o crime de contrabando, aplicando-se,
excepcionalmente, o princípio da insignificância aos casos de importação não autorizada de pequena
quantidade para uso próprio.
d) o crime de usurpação de função pública não se caracteriza se o agente é funcionário público, sem
prejuízo de caracterizar, em tese, o crime de exercício funcional ilegalmente antecipado ou prolongado.
e) a cobrança, pelo médico do SUS, de valores correspondentes a ressarcimento de despesas por técnica
cirúrgica não coberta pelo SUS, tipifica o crime de corrupção passiva.

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Comentários
A alternativa correta é a letra C. A questão trata sobre Crimes contra a Administração Pública.
A alternativa A está incorreta. De acordo com a compreensão exarada pelos tribunais superiores, o
contrabando é incompatível com a incidência do princípio da insignificância, uma vez que o dano causado
com esse delito suplanta a esfera patrimonial, uma vez que a importação de produtos absoluta ou
relativamente proibidos tem o condão de causar potencialmente danos de maior gravidade, o que impediria
a aplicação do princípio da insignificância a tais crimes.
A alternativa B está incorreta. O particular pode figurar como coautor do crime descrito no § 1º do art. 312
do Código Penal (Peculato-furto). Isto porque, nos termos do artigo 30 do CP, 'não se comunicam as
circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime'. Se a condição de
funcionário público é elementar do tipo descrito no artigo 312 do Código Penal, esta é de se comunicar ao
co-autor (particular), desde que ciente este da condição funcional do autor.
A alternativa C está correta. Em hipóteses excepcionais, o STJ permite o reconhecimento da infração
bagatelar do crime de contrabando, se a quantidade de produtos apreendidos é pequena e destinada ao
consumo próprio. Isso ocorre tendo em vista a falta de lesão ou perigo de lesão ao bem juridicamente
tutelado pela norma penal incriminadora, sob o ponto de vista da tipicidade material (AgRg no REsp
1724405/RS).
A alternativa D está incorreta. O particular que desempenha uma função pública de forma indevida e um
funcionário público que exerce função estranha a sua praticam o crime do art. 328 do Código Penal. Logo, é
crime comum, que permite até mesmo um funcionário público como sujeito ativo.
A alternativa E está incorreta. Entendeu o STJ, no julgamento do HC 541.447/SP, que para tipificação do art.
317 do Código Penal - corrupção passiva -, deve ser demonstrada a solicitação ou recebimento de vantagem
indevida pelo agente público, não configurada quando há mero ressarcimento ou reembolso de despesa.
Portanto, a cobrança, pelo médico do SUS, de valores correspondentes a ressarcimento de despesas por
técnica cirúrgica não coberta pelo SUS, configura conduta penalmente atípica.

QUESTÃO 09. Caio foi condenado pelo crime de lavagem de dinheiro pelo Juízo da X Vara Criminal, por ter
ocultado e dissimulado a natureza de dinheiro proveniente de crimes de roubo qualificado. Houve a
incidência da causa de aumento prevista na Lei de Lavagem de Dinheiro, em razão de o crime ter sido
praticado por intermédio de organização criminosa e de forma reiterada. Também se reconheceu a
continuidade delitiva, ensejando o aumento da pena, dada a multiplicidade de atos de lavagem. Em sede
de Apelação, o Tribunal entendeu pela impossibilidade de incidir a causa de aumento ao crime de lavagem
de dinheiro, em decorrência de ter sido praticado por intermédio de organização criminosa, ao argumento
de que os fatos foram praticados antes da Lei nº 12.850/2013, que tipificou o crime de organização
criminosa. No entanto, em vista da reiteração, o Tribunal manteve a incidência da causa de aumento,
sendo mantido, ainda, o reconhecimento da continuidade delitiva, dada a multiplicidade de atos de
lavagem. Diante da situação hipotética e tendo em conta a jurisprudência atual do Superior Tribunal de
Justiça, assinale a alternativa correta.
a) A incidência da causa de aumento, prevista na Lei de Lavagem de Dinheiro, em decorrência de o crime
ter sido praticado por intermédio de organização criminosa, a fatos praticados anteriormente à vigência
da Lei nº 12.850/2013, não implica violação ao princípio da anterioridade, dado que, à época, havia a
tipificação do crime de quadrilha ou bando, no Código Penal, equiparável.

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b) A incidência de causa de aumento, prevista na Lei de Lavagem de Dinheiro, em decorrência da
reiteração, cumulada com o aumento da pena, pelo reconhecimento da continuidade delitiva, implica bis
in idem, prevalecendo a primeira, pelo princípio da especialidade.
c) A incidência da causa de aumento, prevista na Lei de Lavagem de Dinheiro, em decorrência de o crime
ter sido praticado por intermédio de organização criminosa, a fatos praticados anteriormente à vigência
da Lei nº 12.850/2013, não implica violação ao princípio da anterioridade, dado que o delito em tela já
contava com previsão em tratados internacionais.
d) A incidência de causa de aumento, prevista na Lei de Lavagem de Dinheiro, pela reiteração, cumulada
com o aumento da pena, pelo reconhecimento da continuidade delitiva, não implica bis in idem, pois a
primeira diz respeito à habitualidade, e a segunda visa punir a multiplicidade de crimes.
e) A incidência de causa de aumento prevista na Lei de Lavagem de Dinheiro, em decorrência da reiteração,
cumulada com o aumento da pena pelo reconhecimento da continuidade delitiva, implica bis in idem,
prevalecendo a segunda, por se tratar de norma de caráter geral, constante do Código Penal.
Comentários
A alternativa correta é a letra B, de acordo com a banca. Todavia, entendemos que está correta a letra E.
A questão trata dos delitos de lavagem de dinheiro (Lei 9.613/98) e de organização criminosa (Lei 12.850/13).
A alternativa A está incorreta. Os fatos praticados antes do surgimento do conceito legal de organização
criminosa (que foi primeiramente dado pela Lei 12.694/12 e, na sequência, pela Lei 12.850/13) não podem
justificar a incidência da causa de aumento de pena do crime de lavagem de dinheiro, justamente pelo fato
de que, à época em que foram praticados, ainda não existia qualquer conceituação acerca do que poderia
vir a ser considerado como uma organização criminosa.
Uma vez definido esse conceito por meio da legislação, a causa de aumento de pena passa a poder ser
aplicada, mas, em razão do princípio da anterioridade, somente os fatos posteriores à criação da lei poderão
receber punição. Ainda, não há espaço para a aplicação do antigo crime de quadrilha ou bando (atualmente
chamado de "associação criminosa"), tendo em vista que seus requisitos são distintos daqueles estabelecidos
para a organização criminosa.
Nesse mesmo sentido, inclusive, já decidiu o STF: "O crime de quadrilha não se confunde com o de
organização criminosa, até hoje sem definição na legislação pátria" (HC 96.007, 2012).
A alternativa B está correta, de acordo com a banca. Para solucionar a questão, precisamos analisar o
conteúdo do art. 71 do CP e, também, do art. 1º, §4º, da Lei 9.613/98.
Art. 71, CP: Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes da mesma
espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes, devem os
subsequentes ser havidos como continuação do primeiro, aplica-se-lhe a pena de um só dos crimes, se
idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois terços.
Art. 1º, §4º, Lei 9.613/98: A pena será aumentada de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços) se os crimes definidos
nesta Lei forem cometidos de forma reiterada, por intermédio de organização criminosa ou por meio da
utilização de ativo virtual.
Como se pode perceber a partir da leitura dos dois dispositivos, ambos têm o condão de punir o agente pela
reiteração da conduta criminosa. Portanto, em tese, se o agente praticar vários crimes de lavagem de
dinheiro de forma reiterada e em condições nas quais se possa constatar a existência da continuidade

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delitiva, ele estará inserido dentro do campo de abrangência de duas causas de aumento de pena que
contam com objetivos muito semelhantes.
Todavia, a incidência simultânea dessas causas de aumento implica, de fato, em uma violação ao princípio
da vedação do bis in idem, tendo em vista que, nessa situação, o agente terá a sua pena agravada duas vezes
em decorrência do mesmo fato, qual seja, a reiteração da conduta criminosa.
Portanto, para evitar esse resultado indesejado, a jurisprudência afirma (como se verá abaixo) que somente
uma das duas causas de aumento deverá incidir no caso concreto. Até aqui, a alternativa B está
perfeitamente correta.
Todavia, acreditamos que o erro está em afirmar que deverá prevalecer a causa de aumento de pena do art.
1º, §4º, da Lei 9.613/98. Isso porque, de acordo com o entendimento do STJ, deve prevalecer o aumento de
pena decorrente da continuidade delitiva. Para ilustrar, veja os julgados abaixo:
STJ, AgRg no REsp 1.985.757, 2023: Esta Corte Superior possui entendimento no sentido de que é incabível
a aplicação da majorante do § 4º, do artigo 1º, da Lei nº 9.613/98, com base na prática reiterada dos crimes,
quando tal fundamento já foi considerado no reconhecimento da continuidade delitiva, sob pena de
ocorrência de bis in idem.
STJ, AgRg nos EDcl no REsp 1.667.301, 2019: Considerando que os agravantes foram condenados, em
continuidade delitiva, pelo delito de lavagem de dinheiro, mostra-se inadmissível a incidência da majorante
decorrente da habitualidade, prevista no art. 1º, § 4º, da Lei 9.613/98, na sua redação original, porquanto
acarretaria ofensa ao princípio do non bis in idem.
Portanto, aplicando-se o entendimento da Corte Superior, o correto seria afastar a causa de aumento de
pena da Lei 9.613/98 e aplicar o aumento decorrente da continuidade delitiva, nos termos do art. 71 do CP,
o que tornaria a alternativa B incorreta.
A alternativa C está incorreta. Aqui, aplicam-se os mesmos comentários já feitos na alternativa A, acerca da
impossibilidade de aplicação da majorante para os fatos anteriores à publicação da lei responsável por definir
o conceito de organização criminosa.
Ainda, o mero fato de esse conceito já ter sido previsto anteriormente em uma convenção internacional não
é suficiente para a aplicação de uma sanção penal, pois isso configuraria uma violação ao princípio da reserva
legal, tendo em vista que somente a lei em sentido estrito pode criar crimes e cominar penas. Veja, por
exemplo, essa decisão do STF: "As convenções internacionais, como a Convenção de Palermo, não se
qualificam, constitucionalmente, como fonte formal direta legitimadora da regulação normativa
concernente à tipificação de crimes e à cominação de sanções penais" (RHC 121.835, 2015).
A alternativa D está incorreta. Conforme comentários da alternativa B.
A alternativa E está correta, na nossa visão. Como já foi exposto nos comentários da alternativa B, a
incidência simultânea da causa de aumento prevista na Lei 9.613/98 (em decorrência da reiteração), e do
aumento de pena pelo reconhecimento da continuidade delitiva resulta em inequívoco bis in idem.
Nessa hipótese, de acordo com o entendimento firmado pelo STJ no AgRg no REsp 1.985.757 e no AgRg nos
EDcl no REsp 1.667.301 (transcritos acima), deve prevalecer o aumento de pena decorrente da continuidade
delitiva, ficando afastada a causa de aumento da Lei 9.613/98. Por essa razão, entendemos que a alternativa
está correta.

QUESTÃO 10. Considerando os crimes em licitação e contratos administrativos, é correto afirmar.

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a) o crime de omissão grave de dado ou de informação por projetista é omissivo puro, caracterizando-se
pelo não fazer, sendo, ainda, material, exigindo, para a configuração, o prejuízo ao erário.
b) o crime de fraude à licitação ou contrato tem por objeto material tanto licitações e contratos para
aquisição de bens e mercadorias, quanto para a contratação de serviços.
c) o crime de frustração do caráter competitivo de licitação é material, exigindo, para se configurar, o
prejuízo ao erário.
d) o crime de contratação inidônea pune de forma diferenciada o agente público que contrata empresa ou
profissional inidôneo e aquele que, declarado inidôneo, venha a contratar com a Administração Pública.
e) o crime de patrocínio de contratação indevida é comum, não sendo próprio de funcionário público.
Comentários
A alternativa correta é a letra B. A questão trata sobre Crimes em licitações e contratos administrativos.
A alternativa A está incorreta. A alternativa está correta ao afirmar que o referido tipo penal é omissivo puro,
pois, para sua consumação, basta a abstenção ou a desobediência ao dever de agir, de modo que o resultado
desta omissão é irrelevante, se caracterizando como delitos de mera conduta. Todavia, não é correto afirmar
que tal delito é material, exigindo o prejuízo ao erário.
A alternativa B está correta. A Fraude em licitação ou contrato está prevista no artigo 337-L do CP,
estabelecendo tanto condutas que fraudam a contratação de serviços como de entrega de mercadoria, como
fica claro da leitura dos incisos do referido dispositivo legal: “Art. 337-L. Fraudar, em prejuízo da
Administração Pública, licitação ou contrato dela decorrente, mediante: I - entrega de mercadoria ou
prestação de serviços com qualidade ou em quantidade diversas das previstas no edital ou nos instrumentos
contratuais; II - fornecimento, como verdadeira ou perfeita, de mercadoria falsificada, deteriorada, inservível
para consumo ou com prazo de validade vencido; III - entrega de uma mercadoria por outra; IV - alteração
da substância, qualidade ou quantidade da mercadoria ou do serviço fornecido; V - qualquer meio
fraudulento que torne injustamente mais onerosa para a Administração Pública a proposta ou a execução
do contrato.
A alternativa C está incorreta. A Súmula 645 do STJ estabelece que tal delito é formal, prescindindo o prejuízo
ao erário: “O crime de fraude à licitação é formal, e sua consumação prescinde da comprovação do prejuízo
ou da obtenção de vantagem.”.
A alternativa D está incorreta. A Contratação inidônea está tipificada no artigo 337-M do CP, o qual
estabelece: “Admitir à licitação empresa ou profissional declarado inidôneo”. Conforme o § 2º do CP: “Incide
na mesma pena do caput deste artigo aquele que, declarado inidôneo, venha a participar de licitação e, na
mesma pena do § 1º deste artigo, aquele que, declarado inidôneo, venha a contratar com a Administração
Pública.”, portanto a alternativa está incorreta.
A alternativa E está incorreta. Conforme destaca Fernando Capez, o artigo 337-G tipifica a conduta daquele
que patrocina, direta ou indiretamente, interesse privado perante a Administração Pública, dando causa à
instauração de licitação ou à celebração de contrato cuja invalidade vier a ser decretada pelo Poder
Judiciário. Sendo este um crime próprio, que somente poderá ser cometido por funcionário público.

QUESTÃO 11. Tendo em conta a Lei de Drogas, assinale a alternativa correta.

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a) Se o agente, além de traficar substância entorpecente, também financiar a prática do tráfico, será
punido pelos crimes de tráfico de entorpecentes (art. 33, da Lei nº 11.343/2006) e financiar ou custear a
prática de tráfico (art. 36, da Lei nº 11.343/2006), em concurso material.
b) O crime de conduzir embarcação ou aeronave após o consumo de droga (art. 39, da Lei nº 11.343/2006)
é de perigo abstrato.
c) A colaboração eventual, como informante, com associação criminosa destinada à prática de crime,
caracteriza o crime de associação para o tráfico (art. 35, da Lei nº 11.343/2006).
d) O médico que prescreve substância especificada como droga, capaz de causar dependência, pelo órgão
competente, propositadamente, em paciente que dela não precisa, pratica o crime de prescrever ou
ministrar droga (art. 38, da Lei nº 11.343/2006).
e) Ao tráfico de entorpecentes praticado no âmbito de Igreja, pelo princípio da reserva legal, não incide a
causa de aumento prevista no art. 40, inciso III, da Lei nº 11.343/2006 (que estabelece a majorante em
razão do local em que praticado o crime).
Comentários
A alternativa correta é a letra E.
A questão trata dos crimes previstos na Lei de Drogas (Lei 11.343/2006).
A alternativa A está incorreta. Apesar de existir uma certa controvérsia doutrinária a respeito da tipificação
da conduta do agente que realiza o autofinanciamento para o tráfico de drogas (ou seja, que pratica as
condutas do art. 33 da Lei 11.343/2006 e que, ao mesmo tempo, financia a prática do tráfico), o STJ possui
o entendimento de que, nesse caso, ele responderá apenas pelo crime do art. 33, majorado pela causa de
aumento de pena do art. 40, VII, da Lei 11.343/06.
STJ, HC 306.136, 2015: “Em relação aos casos de tráfico de drogas cumulado com o financiamento ou custeio
da prática do crime, o legislador previu, de maneira expressa, a causa especial de aumento de pena prevista
no inciso VII do art. 40 da Lei n. 11.343/2006. O agente que atua diretamente na traficância - executando,
pessoalmente, as condutas tipificadas no art. 33 da legislação de regência - e que também financia ou custeia
a aquisição das drogas, deve responder pelo crime previsto no art. 33 com a incidência da causa de aumento
prevista no art. 40, VII, da Lei n. 11.343/2006 (por financiar ou custear a prática do crime), afastando-se, por
conseguinte, a conduta autônoma prevista no art. 36 da referida legislação”.
Portanto, o delito do art. 36 da Lei 11.343/2006 deve ser aplicado somente nas hipóteses em que o
financiador não estiver envolvido nas condutas inerentes ao tráfico de drogas em si.
A alternativa B está incorreta. O crime do art. 39 da Lei 11.343/2006 se constitui como um crime de perigo
concreto, pois o seu preceito primário contém a expressão “expondo a dano potencial a incolumidade de
outrem”. Logo, percebe-se que o dano não foi presumido de maneira abstrata e antecipada pelo próprio
legislador, de modo que, para a configuração do crime, é necessária a sua efetiva verificação no caso
concreto, sob pena de atipicidade da conduta.
A alternativa C está incorreta. Na verdade, a colaboração eventual, na condição de informante, configura o
delito do art. 37 da Lei 11.343/2006: “Colaborar, como informante, com grupo, organização ou associação
destinados à prática de qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1º, e 34 desta Lei”. Trata-se de
uma conduta criminosa dissociada do delito de associação para o tráfico (art. 35, Lei 11.343/2006).
Entendeu o legislador que a conduta do informante eventual é menos grave e, portanto, não justifica a
aplicação da punição prevista para o delito de associação para o tráfico. Todavia, para a sua incidência, é

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imprescindível que a colaboração seja realmente eventual, pois, se for demonstrado que o agente colaborava
com o grupo criminoso de maneira constante e rotineira, ele passará a ser enquadrado na associação para o
tráfico, pois terá deixado de ser um mero informante eventual.
A alternativa D está incorreta. Na verdade, a conduta do médico que prescreve ou ministra drogas para seu
paciente de maneira proposital (ou seja, de maneira dolosa) incorre no delito de tráfico de drogas, previsto
no caput do art. 33 da Lei 11.343/2006, que também conta com os verbos “prescrever” e “ministrar”. O
delito do art. 38 da Lei 11.343/2006, por outro lado, é destinado exclusivamente às condutas culposas.
A alternativa E está correta. De fato, o local em que o crime de tráfico de drogas é realizado pode resultar na
incidência de uma causa de aumento de pena, de acordo com a redação da própria Lei 11.343/2006: “Art.
40. As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei são aumentadas de um sexto a dois terços, se: [...] III - a
infração tiver sido cometida nas dependências ou imediações de estabelecimentos prisionais, de ensino ou
hospitalares, de sedes de entidades estudantis, sociais, culturais, recreativas, esportivas, ou beneficentes, de
locais de trabalho coletivo, de recintos onde se realizem espetáculos ou diversões de qualquer natureza, de
serviços de tratamento de dependentes de drogas ou de reinserção social, de unidades militares ou policiais
ou em transportes públicos”.
Perceba que as igrejas não estão expressamente inseridas no inciso transcrito acima. Diante disso, o STJ
consolidou o entendimento de que o delito de tráfico de drogas cometido nas imediações das igrejas não
recebe essa causa de aumento: “Uma vez que, no Direito Penal incriminador, não se admite a analogia in
malam partem e porque a hipótese dos autos (tráfico de drogas cometido em local próximo a igrejas) não
foi contemplada pelo legislador no rol das majorantes previstas no inciso III do art. 40 da Lei n. 11.343/2006,
deve ser afastada a causa especial de aumento de pena em questão” (HC 528.851, 2020).

QUESTÃO 12. Tendo em conta as situações hipotéticas elencadas e a Lei de Abuso de Autoridade, assinale
a alternativa correta.
a) O agente penitenciário que impede o advogado de comunicar-se com o seu cliente preso, pratica o crime
de violação de prerrogativa do advogado, excepcionada a situação em que o preso se encontrar
incomunicável, por falta grave.
b) O auditor fiscal que, em depoimento judicial, presta informações inverídicas a respeito de autuação
fiscal, com a finalidade de prejudicar o acusado, em tese, pratica o crime de prestar informação falsa sobre
procedimento judicial, policial, fiscal ou administrativo (art. 29, da Lei nº 13.869/2019).
c) O particular que prende pessoa em flagrante delito e não impede que a ação seja filmada por populares,
implicando exposição vexatória, em tese, pratica crime de constrangimento ao preso (art. 13, inciso II, da
Lei nº 13.869/2019).
d) O particular que, em conjunto com o agente policial, introduz em local de ocorrência de crime, objetos
com DNA e digitais de pessoa diversa, com o fim de incriminá-la, em tese, comete o crime de fraude
processual (art. 23, da Lei nº 13.869/2019).
e) O serventuário cartorário que, por excesso de trabalho, deixa de submeter à apreciação do Juiz, pedido
de liberdade provisória, em tese, comete o crime de impedimento ou retardamento de pleito de preso à
autoridade competente (art. 19, da Lei nº 13.869/2019).
Comentários
A alternativa correta é a letra D.

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A questão trata de diversos delitos previstos na Lei 13.869/19 (Lei de Abuso de Autoridade).
A alternativa A está incorreta. Na verdade, mesmo que o preso se encontre incomunicável, ainda configura
crime o ato de impedir o advogado de comunicar-se com ele, como se vê a partir da leitura do art. 7º, III, c/c
art. 7º-B, ambos da Lei 8.906/94.
A alternativa B está incorreta. O erro da alternativa está na expressão "em depoimento judicial", pois, na
verdade, o auditor fiscal que presta informações falsas no âmbito de um depoimento judicial pratica o delito
de falso testemunho, previsto no art. 342 do CP: "Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como
testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete em processo judicial, ou administrativo, inquérito
policial, ou em juízo arbitral". Nessa hipótese, portanto, fica afastada a tipificação do delito do art. 29 da Lei
13.869/19.
A alternativa C está incorreta. As condutas típicas da Lei 13.869/19 são consideradas como próprias, pois
todas têm o agente público como sujeito ativo, sendo certo que os particulares não podem figurar sozinhos
como autores dos delitos previstos na legislação em questão. Portanto, mesmo que um particular
eventualmente realize uma prisão em flagrante delito (conduta autorizada pelo art. 301 do CPP), não impeça
a filmagem da ação por populares e, consequentemente, acabe dando causa a uma exposição vexatória do
preso, não estará configurado o delito do art. 13, inciso II, da Lei 13.869/19, pois esse particular não pode,
sozinho, ser considerado como sujeito ativo do referido delito.
A alternativa D está correta. O art. 23 da Lei 13.869/19 estabelece a seguinte conduta criminosa: "Inovar
artificiosamente, no curso de diligência, de investigação ou de processo, o estado de lugar, de coisa ou de
pessoa, com o fim de eximir-se de responsabilidade ou de responsabilizar criminalmente alguém ou agravar-
lhe a responsabilidade".
Portanto, se um particular e um policial, atuando em conjunto, realizarem a inserção fraudulenta de DNA e
digitais de uma pessoa em um local de crime com a finalidade específica de incriminá-la, terão praticado a
conduta típica acima descrita.
Vale ressaltar que os delitos da Lei 13.869/19 são próprios, pois exigem que o sujeito ativo detenha a
qualidade de agente público. Portanto, é certo que o particular, por si só, não pode responder por nenhum
dos seus tipos penais, mas, nas hipóteses em que ele estiver atuando em conjunto com o agente público,
essa circunstância se comunicará para ele, como prevê o art. 30 do CP: "Não se comunicam as circunstâncias
e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime". Logo, o particular, quando
acompanhado na empreitada criminosa por um agente público, poderá ser tido como autor dos tipos penais
da Lei 13.869/19.
A alternativa E está incorreta. A alternativa foi clara ao afirmar que a conduta do agente público em questão
foi uma decorrência do excesso de trabalho a que ele estava submetido, de modo que não é possível verificar
a presença de dolo específico em suas ações, o que afasta a possibilidade de condenação pelos delitos da Lei
13.869/19.
Essa afirmação é fundamentada no art. 1, §1º, da referida legislação: "As condutas descritas nesta Lei
constituem crime de abuso de autoridade quando praticadas pelo agente com a finalidade específica de
prejudicar outrem ou beneficiar a si mesmo ou a terceiro, ou, ainda, por mero capricho ou satisfação
pessoal". Portanto, ausente as finalidades específicas referidas nesse dispositivo (por exemplo, a finalidade
de beneficiar a si mesmo), a conduta do agente público não irá se subsumir a qualquer tipo penal lá exposto.

QUESTÃO 13. Sobre o foro por prerrogativa de função, é correto afirmar que:

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108
a) o foro por prerrogativa de função se estende a magistrado aposentado.
b) a competência constitucional do Tribunal do Júri prevalece sobre o foro por prerrogativa de função
estabelecido exclusivamente por Constituição Estadual.
c) compete ao Supremo Tribunal Federal o processamento e julgamento de parlamentar federal por crime
comum, praticado quando já diplomado, ainda que não relacionado à função.
d) a instauração de inquérito policial e demais atos investigativos, inclusive os promovidos pelo Ministério
Público, em face de agentes detentores de foro por prerrogativa da função, necessita de prévia autorização
do órgão judiciário competente para processar e julgar a ação originária.
e) compete ao Superior Tribunal de Justiça o processamento e julgamento de desembargador, por crime
comum, desde que relacionado à função judicante.
Comentários
A alternativa correta é a letra B. A questão trata sobre competência processual penal.
A alternativa A está incorreta. O STJ entende que a superveniente aposentadoria da autoridade detentora
do foro por prerrogativa de função cessa a competência do Superior Tribunal de Justiça para o
processamento e julgamento do feito, mesmo que o fato delituoso tenha ocorrido quando o agente ainda
era detentor de prerrogativa de foro.
A alternativa B está correta. A súmula vinculante nº 45 preconiza que a competência constitucional do
Tribunal do Júri prevalece sobre o foro por prerrogativa de função estabelecido exclusivamente por
Constituição Estadual.
A alternativa C está incorreta. O foro por prerrogativa de função aplica-se apenas aos crimes cometidos
durante o exercício do cargo e relacionados às funções desempenhadas, conforme entendimento pacificado
do STF (AP 937).
A alternativa D está incorreta. Sobre a necessidade de prévia autorização para instauração de atos de
investigação, como regra geral, a jurisprudência não exige a atuação da Corte responsável pelo julgamento:
“3. Diferentemente das autoridades sujeitas ao regime de prerrogativa de foro nesta Suprema Corte, onde
há norma regimental expressa a condicionar a instauração do inquérito à determinação/autorização do
Ministro Relator (artigo 21, XV, do RISTF), não existe disciplina normativa equivalente com relação aos
Prefeitos Municipais (artigo 29, X, da CF), que se sujeitam, quanto à instauração do inquérito, às normas
comuns do CPP. Por outro lado, os inquéritos instaurados contra Prefeitos submetem-se à supervisão
judicial, sob a consequência de invalidade dos atos investigativos colhidos contra o detentor da prerrogativa.
(…) Já quanto aos Prefeitos, a norma do artigo 29, X, da CF, garante apenas o “julgamento do Prefeito perante
o Tribunal de Justiça”, e nada dispõe a respeito de autorização/determinação judicial para o início das
investigações. Submetem-se os Prefeitos Municipais, desse modo, quanto à instauração do inquérito, às
normas ordinárias do CPP, aplicável à generalidade dos cidadãos, as quais não exigem autorização
jurisdicional para a mera abertura de investigações preliminares. (...) 26.1. Em outros termos, é
desnecessária autorização judicial para o início das investigações, porém, é imprescindível que o inquérito
tramite sob supervisão judicial – registrado e distribuído no Tribunal competente para o julgamento do titular
da prerrogativa de foro -, sob a consequência de invalidade dos elementos probatórios colhidos contra o
detentor da prerrogativa. (STF, AP 912/PB, 1ª T, J. 07/03/2017)”;
“2. A jurisprudência tanto do Pretório Excelso quanto deste Sodalício é assente no sentido da desnecessidade
de prévia autorização do Judiciário para a instauração de inquérito ou procedimento investigatório criminal
contra agente com foro por prerrogativa de função, dada a inexistência de norma constitucional ou

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infraconstitucional nesse sentido, conclusão que revela a observância ao sistema acusatório adotado pelo
Brasil, que prima pela distribuição das funções de acusar, defender e julgar a órgãos distintos. 3. O Superior
Tribunal de Justiça assentou o entendimento de que o mero indiciamento em inquérito policial, desde que
não seja abusivo e ocorra antes do recebimento da exordial acusatória, não constitui manifesto
constrangimento ilegal a ser sanável na via estreita do writ. (STJ, AgRg no HC 404228 / RJ, 5ª T, 01/03/2018)”.
Destaca-se que, quando a prerrogativa de foro é do próprio STF há necessidade desta autorização: “5. A
Polícia Federal não está autorizada a abrir de ofício inquérito policial para apurar a conduta de parlamentares
federais ou do próprio Presidente da República (no caso do STF). No exercício de competência penal
originária do STF (CF, art. 102, I, “b” c/c Lei nº 8.038/1990, art. 2º e RI/STF, arts. 230 a 234), a atividade de
supervisão judicial deve ser constitucionalmente desempenhada durante toda a tramitação das
investigações desde a abertura dos procedimentos investigatórios até o eventual oferecimento, ou não, de
denúncia pelo dominus litis. 6. Questão de ordem resolvida no sentido de anular o ato formal de
indiciamento promovido pela autoridade policial em face do parlamentar investigado. (STF, Inq.
2.411QO/MT, Pleno, J. 10/10/2007)”
A alternativa E está incorreta. O STJ entende que o crime cometido por desembargador, mesmo que não
esteja relacionado com suas funções, deverá ser julgado pelo STJ se a remessa para a 1ª instância significar
que o réu seria julgado por um juiz de 1º grau vinculado ao mesmo tribunal que o desembargador (APn 878-
DF).

QUESTÃO 14. No corrente ano, aproveitando as férias, Tício, maior, viajou de ônibus para a sua cidade
natal. Durante o trajeto (dentro do mesmo estado da federação), próximo ao seu destino, o ônibus é
parado pela Polícia Rodoviária Federal, para inspeção de praxe. Diante do nervosismo de Tício, o agente
decide vistoriar suas bagagens, nas quais foram encontrados 400 gramas de haxixe. Tício foi preso em
flagrante delito, optando por ficar em silêncio. Uma vez lavrado o auto de prisão pela autoridade policial
competente, o feito é remetido à Justiça Estadual, sendo realizada audiência de custódia, no dia seguinte,
pelo juiz de garantias, em vara criada, recentemente, na região, em conformidade com o julgamento da
matéria, no STF. Embora o Ministério Público tenha se oposto à concessão da liberdade provisória,
apontando a presença de antecedentes criminais, o juiz a concede, mediante a fixação de fiança. A
substância apreendida foi submetida a uma perícia preliminar, que atestou o princípio ativo do
entorpecente. O laudo definitivo, embora tenha chegado à mesma conclusão, foi juntado sem a assinatura
do técnico, o que se deu por um lapso, haja vista a identificação, na peça, do nome do perito oficial
responsável para exará-lo. Observados os prazos legais, foi ofertada denúncia, imputando tráfico de
entorpecentes (art. 33, caput, da Lei nº 11.343/2006). Diante disso, o juiz de garantias intima o acusado
para apresentação da defesa preliminar, a qual é ofertada, tendo recebido a acusação. A partir de então,
o caso é distribuído a uma das Varas Criminais, para prosseguimento do feito, sendo que, ao fim da
instrução, o réu é absolvido, por falta de materialidade, dada a nulidade do laudo definitivo, exarado sem
assinatura do perito.
Acerca do caso listado, assinale a alternativa correta.
a) Não poderia ter sido concedida liberdade ao preso, pois, sendo o tráfico equiparado a crime hediondo,
tanto a liberdade provisória quanto a sua concessão, mediante fiança, estão vedadas.
b) A ausência de assinatura do perito, no laudo definitivo, é causa de nulidade irremediável, ainda que, no
caso analisado, houvesse outro exame preliminar, atestando a natureza ilícita da droga.

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c) Uma vez ofertada a acusação formal, deveria cessar, de imediato, a competência do juiz de garantias,
tendo invadido a competência funcional do juiz do processo ao realizar juízo positivo de admissibilidade
da acusação.
d) Considerando que a apreensão das drogas foi realizada pela Polícia Rodoviária Federal, a competência
para apuração do crime de tráfico deveria ser da Justiça Federal e não da competência estadual.
e) A revista empreendida pela Polícia Rodoviária Federal na bagagem de Tício, redundando na apreensão
da droga e em sua prisão em flagrante, configura prova ilícita, eis que necessária a demonstração de
fundada suspeita para a diligência.
Comentários
A alternativa correta é a letra C.
A questão trata do crime de tráfico de drogas, previsto na Lei 11.343/2006.
A alternativa A está incorreta. A CF (art. 5º, XLIII), a Lei 8.072/1990 (art. 2º, II) e a Lei 11.343/2006 (art. 44)
estabelecem, de maneira taxativa, a vedação à concessão de fiança para os crimes hediondos e equiparados,
dentre os quais se inclui o delito de tráfico de drogas. Portanto, a alternativa está correta ao mencionar a
impossibilidade de fiança nesse caso.
Todavia, o seu erro está em afirmar que não é possível a concessão da liberdade provisória. Há muito tempo,
o STF já consagrou o entendimento de que a vedação à concessão de fiança não é, por si só, argumento
suficiente para negar o direito à liberdade provisória nas hipóteses em que não estiverem presentes os
requisitos para a segregação cautelar do agente (arts. 312 e 313, CPP). Em razão do princípio da presunção
de inocência e, também, da natureza cautelar das prisões processuais, deve ser reconhecido ao acusado o
direito de receber a liberdade provisória quando a sua segregação não se justificar, sendo possível, inclusive,
a imposição de alguma medida cautelar diversa da prisão (desde que não seja a fiança, pois, em crimes
hediondos ou equiparados, ela é vedada).
Recentemente, reafirmando a sua jurisprudência, o STF fixou a seguinte tese no Tema 959: É inconstitucional
a expressão "e liberdade provisória", constante do caput do artigo 44 da Lei nº 11.343/2006.
Com isso, apesar de o art. 44 da Lei 11.343/2006 vedar a liberdade provisória, essa vedação é
inconstitucional, logo, a alternativa está incorreta.
A alternativa B está incorreta. Na verdade, o STJ possui entendimento consolidado afirmando que a mera
ausência de assinatura do laudo toxicológico por parte do perito não gera a sua nulidade, desde que seja
possível comprovar a identidade do perito em questão e, também, a natureza da droga.
Isso foi recentemente definido no Tema 1.206: “A simples falta de assinatura do perito encarregado pela
lavratura do laudo toxicológico definitivo constitui mera irregularidade e não tem o condão de anular a prova
pericial na hipótese de existirem outros elementos que comprovem a sua autenticidade, notadamente
quando o expert estiver devidamente identificado e for constatada a existência de substância ilícita”.
A alternativa C está correta. Apesar de o art. 3º-C do CPP estabelecer que a competência do juiz das garantias
cessa com o recebimento da denúncia ou da queixa, o STF recentemente afirmou que, na verdade, a atuação
do juiz das garantias se encerra com o oferecimento da denúncia ou queixa, de modo que o seu recebimento
é uma atribuição do juiz da instrução da ação penal (ADIs 6.298, 6.299, 6.300 e 6.305). Portanto, no caso
concreto narrado pelo enunciado, de fato, o juiz das garantias, ao realizar o juízo positivo de admissibilidade
da peça acusatória, invadiu a competência funcional do juiz da instrução.

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A alternativa D está incorreta. O fato de uma instituição federal ter sido responsável por realizar a prisão em
flagrante do agente não é suficiente para que se possa considerar a Justiça Federal como competente para
seu processo e julgamento. Isso porque as regras de competência devem estar sempre expostas de maneira
taxativa na legislação, e, no caso da Justiça Federal, essas regras se encontram no art. 109 da CF, o qual não
faz menção a nenhuma situação semelhante a essa.
A alternativa E está incorreta. Na verdade, o STJ possui entendimento de que a inspeção realizada pela Polícia
Rodoviária Federal nas bagagens pertencentes aos passageiros de ônibus, durante uma inspeção de rotina,
tem natureza meramente administrativa e, portanto, não necessita de qualquer indicação prévia de fundada
suspeita (HC 625.274, 2023). Logo, não houve qualquer ilicitude na conduta dos policiais envolvidos na
apreensão.

QUESTÃO 15. Sônia sempre manteve uma vida correta. Contudo, em virtude da perda do emprego, no
período da crise sanitária de covid-19, se viu em uma situação econômica bastante delicada, razão pela
qual decidiu se aventurar e adquirir, para revenda, milhares de cigarros estrangeiros, sem registro na
ANVISA, para seu azar, quando estava voltando do Paraguai, já no Brasil, é instada a parar em uma Blitz
da Polícia Militar do Estado do Paraná. Desesperada, com medo de ser presa, não atende à ordem,
arrancando para cima da polícia, atropelando e matando um deles. Embora presa em flagrante delito, é
solta, na audiência de custódia, sendo-lhe concedida liberdade provisória, com condições. Pelos fatos
acima, é acusada da prática de homicídio duplamente qualificado (art. 121, § 2o, incisos V e VII, CP), além
de contrabando (334-a, II, CP) e resistência, perante o Tribunal do Júri, na esfera federal. Ao final da
primeira fase do procedimento, é pronunciada pelos três crimes. Perante o Plenário, é absolvida pelo Júri,
com base na negativa ao quesito da autoria (2º quesito), sendo os demais delitos, contudo, diante da
absolvição do crime doloso contra a- vida, analisados e julgados pelo Juiz Presidente, que condenou a ré à
pena de 2 meses, pela resistência, além de 2 anos, pelo contrabando. A acusação recorre apenas sob a
alegação de que a absolvição foi manifestamente contrária à prova dos autos. A defesa, por seu turno,
apela das condenações, alegando que o Júri popular deveria apreciar também os demais crimes, e não o
Juiz Presidente. O tribunal deu provimento a ambos os apelos, anulando tudo. Em novo julgamento, a
acusada é condenada pelos três crimes, no Júri popular, sendo aplicadas as penas de 13 anos e 10 meses,
pelo homicídio duplamente qualificado, além de 3 anos, pelo contrabando, e de 4 meses, pela resistência,
tendo a sua prisão sido decretada, no ato, por força da condenação final à pena igual ou superior a 15
anos.
Acerca do caso, assinale a alternativa correta.
a) Ainda que tenha havido novo julgamento, as penas anteriormente fixadas para os crimes de resistência
e contrabando, considerando a inexistência de recurso ministerial para majorá-las, não poderiam ter sido
exasperadas, sob pena de reformatio in pejus indireta.
b) Ainda que a absolvição, pela negativa da autoria, fosse manifestamente contrária à prova dos autos,
incabível o recurso para anular o julgamento, dada a soberania dos veredictos e a decisão mais favorável
ao réu, conforme julgados do Supremo Tribunal Federal, que, inclusive, reconheceu a repercussão geral
da matéria.
c) Dada a inexistência de interesse da União, sendo o homicídio praticado contra um policial militar da
esfera estadual, bem como a falta de conexão entre os crimes, a competência para apurar o crime doloso
contra a vida, além da resistência, deveria tramitar no Tribunal do Júri, na esfera estadual, havendo
desmembramento quanto ao contrabando, cuja apuração deve tramitar perante a Justiça Federal.

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d) Havendo absolvição do crime doloso contra a vida, a competência dos jurados cessa para julgar os
demais crimes, sendo a anulação do julgamento equivocada.
e) A decretação da prisão imediata não observou a lei infraconstitucional, pois a condenação, para fins de
execução, apenas leva em consideração a condenação pelo crime doloso contra a vida, que foi inferior.
Comentários
A alternativa correta é a letra A. A questão trata sobre competência do tribunal do júri.
A alternativa A está correta. O artigo 617 traz a proibição da reforma da decisão em prejuízo do réu
recorrente, quando ausente recurso da acusação, tal dispositivo enuncia o princípio basilar recursal da “non
reformatio in pejus”, o qual traz garantias mínimas para o acusado recorrente.
Proíbe-se, também e como consectário lógico, a reformatio in pejus indireta, impedindo que, nos casos em
que a decisão impugnada pelo acusado seja anulada pelo tribunal, a nova decisão venha a ser mais gravosa
aos interesses da defesa. Nestes casos, a primeira sentença gera um efeito prodrômico em relação à
segunda, visto que, no segundo julgamento, o órgão julgador tem como patamar máximo a pena imposta na
primeira sentença. Sendo assim, a alternativa está correta.
A alternativa B está incorreta. A garantia constitucional da soberania dos veredictos do júri (art. 5º, XXXVIII,
c, da CF) tem como reflexo a imutabilidade relativa da decisão tomada pelos jurados, pois somente aos juízes
leigos é dado deliberar sobre a procedência ou improcedência da pretensão punitiva estatal. O postulado
constitucional é temperado, todavia, pela possibilidade de interposição de apelação contra a decisão do júri,
na hipótese de o veredicto revelar-se manifestamente contrário à prova dos autos (art. 593, III, d, do CPP).
A alternativa C está incorreta. O CPP dispõe, no seu art. 78, I, que o júri exerce força atrativa para julgar os
crimes conexos e continentes, salvo se militares ou eleitorais. Dessa forma, os crimes federais conexos com
crimes dolosos contra a vida de competência estadual serão julgados pelo Tribunal do Júri.
A alternativa D está incorreta. Se os jurados absolveram o acusado do crime principal doloso contra vida,
afere-se que reconheceram sua competência para julgamento, logo sobre eles também recairá a
competência de julgar o crime conexo.
A alternativa E está incorreta. A Lei nº 13.964/19 (Pacote Anticrime) promoveu alterações ao artigo 492 e
seus parágrafos, tratando da sentença no Tribunal do Júri. Destarte, conferiu nova redação à alínea “e”, do
inciso I, do artigo 492 do CPP, prevendo que, em caso de condenação pelo Tribunal do Júri, quando for
aplicada pena igual ou superior a 15 (quinze) anos de reclusão, a regra será a execução provisória das penas,
com expedição do mandado de prisão, se for o caso, sem prejuízo do conhecimento de recursos que vierem
a ser interpostos. O dispositivo legal em análise menciona “execução provisória das penas” no plural e não
no singular. Isso porque pode haver concurso de crimes dolosos contra a vida e delitos conexos que também
serão julgados pelo Tribunal do Júri. Desse modo, se a soma das penas do crime comum com aquele da
competência do Tribunal do Júri ou a pena aplicada ao crime doloso contra a vida for igual ou superior a 15
anos de reclusão, a regra será a execução provisória da pena.

QUESTÃO 16. Semprônia mulher trans, mantém um relacionamento amoroso com Caio, homem cis, há
alguns anos. Recentemente, em virtude da perda do emprego, Caio, devido a quadro depressivo, passou
a se dar ao hábito de beber além do razoável, tomando-se uma pessoa mais agressiva e violenta. Diante
disso, Semprônia resolve encerrar o relacionamento, sendo que, desde então, Caio passa a ameaçá-la,
dizendo que, se eles não reatassem, iria dar cabo de sua vida e depois da sua própria. Diante disso,
temerosa de que a situação pudesse se concretizar, comparece perante o Juizado da Vara de violência

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doméstica e familiar contra a mulher, na sua região, e subscreve, de próprio punho, uma breve exposição
dos fatos, fazendo pedido para que a Justiça a proteja, sendo que, diante disso, o juiz, com base nas suas
declarações, concede as medidas protetivas de urgência, consistentes na proibição de aproximação da
ofendida, bem como de contato com ela, fixando o prazo de 180 dias para reavaliação da situação. Após a
concessão das medidas protetivas, Semprônia registra boletim de ocorrência e representa pelos fatos,
sendo então instaurado o inquérito policial, levando ao oferecimento de denúncia pelo crime de ameaça
(art. 147, caput, CP). Antes de proceder à análise do juízo de admissibilidade da inicial, o juiz, a pedido do
acusado, designa audiência virtual, para que a vítima confirme, ou não, a sua representação. Em referida
audiência, a vítima manifesta o desejo de desistir da apuração, mediante renúncia, requerendo, contudo,
a manutenção das medidas protetivas, sendo ambos os pedidos acatados pelo juiz. No que concerne ao
exemplo hipotético trazido, assinale a alternativa correta.
a) Embora a Lei no 11.340/2006 não imponha um limite temporal máximo para vigência das medidas
protetivas, deve-se observar o prazo mínimo de 90 dias, para reavaliação, conforme sistemática das
medidas cautelares penais, sob pena de revogação imediata.
b) Embora possível a designação de audiência com a finalidade específica quanto à verificação da renúncia
da representação, tal ato só pode ocorrer mediante pedido da ofendida e não da outra parte.
c) Uma vez encerrada a investigação criminal, por arquivamento, sem oferecimento de acusação, ou
extinta a punibilidade do ofensor, as eventuais medidas protetivas concedidas deverão ser extintas, por
falta de cautelaridade, independentemente da oitiva da vítima.
d) As medidas protetivas de urgência podem ser concedidas independentemente da tipificação do fato, do
ajuizamento de ação penal ou cível, da existência de inquérito policial, embora fosse necessário o registro
anterior de boletim de ocorrência.
e) A ofendida, por se tratar de pessoa trans, não faria jus às medidas protetivas de urgência previstas na
lei de violência doméstica e familiar contra a mulher, dado que a legislação leva em consideração apenas
o sexo biológico, e não o gênero, da vítima.
Comentários
A alternativa correta é a letra B. A questão trata sobre a lei 11.340/2006.
A alternativa A está incorreta. A redação originária da Lei Maria da Penha não previu prazo de duração para
as medidas protetivas de urgência deferidas em favor da vítima de violência doméstica. Nada obstante, a Lei
14.550/2023, que acrescentou o § 6º ao art. 19 daquela norma especial, preconizou a vigência “enquanto
persistir risco à integridade física, psicológica, sexual, patrimonial ou moral da ofendida e de seus
dependentes”. Desse modo, cabe ao juiz analisar as particularidades de cada caso a fim de manter tais
medidas por um período adequado e suficiente a garantir a proteção da mulher.
A alternativa B está correta. O STF realizou interpretação conforme a CF desse dispositivo e concluiu que
apenas a vítima pode requerer a audiência prevista no art. 16 para a renúncia de sua representação, sendo
vedado ao poder judiciário designá-la de ofício ou a requerimento de outra parte (ADI 7267).
A alternativa C está incorreta. A Terceira Seção do STJ decidiu que, independentemente da extinção da
punibilidade do autor, a mulher em situação de violência deve ser ouvida acerca da necessidade da
manutenção de medidas protetivas de urgência, antes de sua cessação (REsp 1.775.341).
A alternativa D está incorreta. Conforme o art. 18, §5º, do CP, as medidas protetivas de urgência serão
concedidas independentemente da tipificação penal da violência, do ajuizamento de ação penal ou cível, da
existência de inquérito policial ou do registro de boletim de ocorrência.

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A alternativa E está incorreta. A Sexta Turma do STJ estabeleceu que a Lei 11.340/2006 também deve ser
aplicada aos casos de violência doméstica ou familiar contra mulheres transgênero.

QUESTÃO 17. Quanto à conduta que o magistrado deve adotar, em prol do devido processo legal e da
regularidade formal do procedimento, assinale a alternativa correta.
a) Uma vez ofertada denúncia, havendo alegação defensiva de recusa injustificada de proposta de acordo
de não persecução penal, por parte do promotor de justiça, o magistrado, verificando sua plausibilidade,
deverá ofertar o benefício, garantindo a fruição deste direito pelo imputado.
b) Tratando-se de ação penal por de crime de estelionato, por fatos ocorridos antes da Lei no 13.964/2019,
quando não se exigia representação, por denúncia formulada após a entrada em vigor, o juiz, verificando
a ausência de manifestação inequívoca da vítima quanto ao interesse na persecução, deve intimá-la, para
que, no prazo de 30 dias, represente, para prosseguimento.
c) Uma vez ofertada denúncia, havendo alegação defensiva de recusa injustificada de proposta de acordo
de não persecução penal, por parte do promotor de justiça, o magistrado, verificando sua plausibilidade,
deverá rejeitar a acusação, com base na falta de interesse processual.
d) Constatada ofensa de correlação entre acusação e sentença, o tribunal, de ofício, em recurso exclusivo
da defesa, deverá anular a condenação, a fim de que a acusação possa emendar a inicial, para que outra
sentença seja proferida.
e) Uma vez constatada a inépcia da inicial, em vez de rejeitar, de plano, a acusação, o juiz deve encaminhar
o feito, para emenda do órgão acusador.
Comentários
A alternativa correta é a letra B. A questão trata sobre o devido processo legal.
A alternativa A está incorreta. O STF entende que “não cabe ao Poder Judiciário, que não detém atribuição
para participar de negociações na seara investigatória, impor ao MP a celebração de acordos.” (HC
194677/SP, veiculado no informativo 1017). Neste sentido, quando o magistrado não concorda com o não
oferecimento do ANPP, este deve utilizar o artigo 28-A,§14, o qual estabelece a remessa dos autos ao órgão
superior, nos termos do artigo 28 do CPP.
A alternativa B está correta. O STF entende que há retroatividade da lei penal no que tange a necessidade
de representação no delito de estelionato, visto que tal norma tem natureza híbrida, pois trata de tema
processual penal, mas também afeta o poder de punir estatal. Sendo assim, “a aplicação da nova norma deve
ocorrer nos processos em andamento ,mesmo após o oferecimento da denúncia, mas desde que antes do
trânsito em julgado” HC 208.817/RJ.
O prazo de 30 dias para oferecer a representação foi extraído do artigo 91 da lei 9.099/95: “quando não
houver inequívoca manifestação de vontade da vítima no sentido do interesse na persecução criminal,
cumpre intimar a pessoa ofendida para oferecer representação, nos moldes do previsto no art. 91 da Lei
9.099/95, aplicado por analogia”. (HC 180.421AgR/SP).
A alternativa C está incorreta. Conforme comentários da alternativa A.
A alternativa D está incorreta. Conforme entendimento do STJ, quando o Tribunal, em recurso exclusivo da
defesa, reconhece ofensa ao princípio da correlação, deverá anular a sentença e absolver o réu e não
determinar o retorno dos autos para o juízo a quo: “Reconhecido, em recurso exclusivo da defesa, que a

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sentença condenou o réu por fatos que não estavam descritos na denúncia, cabe ao Tribunal somente anular
a sentença e absolver o réu, mas não determinar o retorno dos autos ao primeiro grau. (AgRg no HC
559.214/SP)
A alternativa E está incorreta. Diferentemente do que é afirmado pela alternativa, o juízo não deve
determinar o retorno dos autos ao MP, mas sim rejeitar a acusação: “Resulta forçoso concluir que a
necessária consequência do reconhecimento da inépcia de denúncia, ante a ausência de individualização da
conduta do paciente, deve ser a rejeição da peça acusatória, impondo-se o trancamento da ação penal, ainda
que possibilitando ao órgão acusatório, a proposição de nova inicial. Ordem concedida, em consonância com
o parecer ministerial, para, reconhecida a inépcia da denúncia, determinar o trancamento da Ação Penal n.
0009215-17.2015.8.03.0001, em trâmite perante o Tribunal de Justiça do Estado do Amapá, sem prejuízo de
que o Ministério Público ofereça nova denúncia contra o paciente, se preenchidos os requisitos mínimos do
art. 41 do CPP e observados os prazos prescricionais aplicáveis.” (HC 347.748/AP).

QUESTÃO 18. Acerca do julgamento quanto à constitucionalidade do juiz de garantias, implementado pela
Lei no 13.964/2019, no Supremo Tribunal Federal, e da interpretação conferida pela Suprema Corte à lei e
de sua repercussão no processo, assinale a alternativa correta.
a) O juiz que conhecer do conteúdo da prova declarada inadmissível não poderá proferir a sentença ou
acórdão.
b) O juiz de garantias não se aplica aos processos de competência originária dos tribunais, processos de
competência do tribunal do júri, aos casos de violência doméstica e familiar e aos casos de menor potencial
ofensivo.
c) Após o recebimento da denúncia ou queixa, o juiz da instrução e julgamento deverá reexaminar a
necessidade das medidas cautelares em curso, no prazo máximo de quinze dias.
d) Ordenado o arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer elementos informativos da mesma
natureza, o órgão do Ministério Público comunicará a vítima, o investigado e a autoridade policial, não
podendo o magistrado submeter o arquivamento à revisão da instância competente do órgão ministerial.
e) O juiz que, na fase de investigação, praticar qualquer ato incluído nas competências do juiz de garantias
ficará impedido de funcionar no processo.
Comentários
A alternativa correta é a letra B. A questão trata sobre juiz de garantias.
A alternativa A está incorreta. A alternativa traz a literalidade do artigo 157, §5º, do CPP, que dispõe: “O juiz
que conhecer do conteúdo da prova declarada inadmissível não poderá proferir a sentença ou acórdão.”. Tal
dispositivo foi declarado inconstitucional no julgamento das ADIs 6.298/DF, 6.299/DF, 6.300/DF e 6.305/DF
pelo STF.
A alternativa B está correta. No julgamento das ADIs 6.298/DF, 6.299/DF, 6.300/DF e 6.305/DF, pelo STF,
tópico X restou determinado que: "por unanimidade, atribuir interpretação conforme à primeira parte do
caput do art. 3º-C do CPP, para esclarecer que as normas relativas ao juiz das garantias não se aplicam às
seguintes situações: (a) processos de competência originária dos tribunais, os quais são regidos pela Lei
8.038/1990; (b) processos de competência do tribunal do júri; (c) casos de violência doméstica e familiar; e
(d) infrações penais de menor potencial ofensivo;".

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A alternativa C está incorreta. O STF, no julgamento das ADIs 6.298/DF, 6.299/DF, 6.300/DF e 6.305/DF,
declarou a inconstitucionalidade do termo “recebimento” contido no § 2º do art. 3º-C do CPP, e atribuiu
interpretação conforme ao dispositivo para assentar que, após o oferecimento da denúncia ou queixa, o juiz
da instrução e julgamento deverá reexaminar a necessidade das medidas cautelares em curso, no prazo
máximo de dez dias.
A alternativa D está incorreta. O STF, no julgamento das ADIs 6.298/DF, 6.299/DF, 6.300/DF e 6.305/DF, por
maioria, atribuiu interpretação conforme ao caput do art. 28 do CPP, para assentar que, ao se manifestar
pelo arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer elementos informativos da mesma natureza, o
órgão do Ministério Público submeterá sua manifestação ao juiz competente e comunicará à vítima, ao
investigado e à autoridade policial, podendo encaminhar os autos para o Procurador-Geral ou para a
instância de revisão ministerial, quando houver, para fins de homologação, na forma da lei.
A alternativa E está incorreta. O STF, no julgamento das ADIs 6.298/DF, 6.299/DF, 6.300/DF e 6.305/DF,
declarou a inconstitucionalidade do caput do artigo 3º-D do CPP, que estabelecia: “O juiz que, na fase de
investigação, praticar qualquer ato incluído nas competências dos arts. 4º e 5º deste Código ficará impedido
de funcionar no processo.”.

QUESTÃO 19. Tício, denunciado pelo crime de tráfico de drogas (art. 33, caput, da Lei no 11.343/2006),
encerrada a instrução penal, teve a conduta desclassificada para o tráfico privilegiado (art. 33, parágrafo
4, da Lei no 11.343/2006). Por força da desclassificação, o Juiz determinou que o Ministério Público se
manifestasse a respeito da proposta de acordo de não persecução penal, embora Tício, ao longo de toda
a instrução, tenha negado a prática delitiva. O Ministério Público apresentou a proposta de não
persecução penal, que foi aceita por Tício, que se comprometeu a uma série de obrigações, dentre as quais,
manter atualizado o endereço residencial. Homologado judicialmente o acordo, Tício não foi localizado no
endereço então fornecido, para dar início ao cumprimento do acordo. Intimado o defensor, para fins de
atualização do endereço, este informou ter perdido contato com o cliente, pleiteando a intimação, por
edital. Dada a não localização de Tício, o Ministério Público manifestou-se pela rescisão do acordo de não
persecução penal, pleito acatado pelo Juiz.
Diante da situação hipotética e, considerando a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, assinale a
alternativa correta.
a) Uma vez que não se oportunizou a Tício justificar o inadimplemento das obrigações a que se
comprometeu, através de intimação válida é equivocada a rescisão do acordo de não persecução penal.
b) Uma vez que o acordo de não persecução penal é inaplicável a qualquer modalidade de tráfico é
equivocada a proposta de acordo de não persecução a Tício.
c) Não tendo confessado a prática delitiva ao longo de toda a instrução é equivocada a proposta de acordo
de não persecução penal a Tício.
d) A confissão, embora requisito ao acordo de não persecução penal, pode ser colhida na oportunidade da
celebração do acordo, razão pela qual a negativa de autoria de Tício, ao longo da instrução, não implicou
obstáculo à propositura e homologação do ato negocial.
e) Uma vez que o acordo de não persecução penal é ato negocial preliminar à ação penal é equivocada a
proposta de acordo de não persecução penal a Tício, visto que a desclassificação se deu apenas após
encerrada a instrução.
Comentários

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A alternativa correta é a letra D. A questão trata sobre o acordo de não persecução penal (ANPP).
A alternativa A está incorreta. Conforme entendimento do STJ, o artigo 28-A do CPP, que estabelece regras
acerca do ANPP, não exige intimação do investigado, para justificar as razões do descumprimento do acordo:
“Prevê o §10 do art. 28-A do Código de Processo Penal que o descumprimento das condições impostas no
acordo de não persecução penal implica a revogação do benefício, devendo o Ministério Público comunicar
o fato ao juízo, para fins de sua rescisão e posterior oferecimento de denúncia, não havendo previsão legal
para que o investigado seja intimado, mesmo que por edital, para justificar o descumprimento das condições
pactuadas, tampouco sendo o caso de aplicação analógica do art. 118, §2º, da Lei de Execuções Penais, visto
que o paciente não se encontra em situação de execução de pena privativa de liberdade.” HC nº 809.639/GO.
A alternativa B está incorreta. O STJ entende cabível a aplicação do ANPP ao tráfico privilegiado: “Uma vez
reconhecida a aplicação da minorante do tráfico privilegiado, os patamares abstratos de pena estabelecidos
na lei situam-se dentro do limite de 4 anos para a pena mínima, previsto no art. 28-A do CPP. Além disso,
com a aplicação da minorante neste STJ, o acusado tem direito ao ANPP, mesmo se o Parquet tiver descrito
os fatos na denúncia de maneira imperfeita, pois o excesso de acusação (overcharging) não deve prejudicar
o acusado. No caso dos autos estão presentes os requisitos para proposta do ANPP, quais sejam: 1) confissão
formal e circunstanciada; 2) infração penal sem violência ou grave ameaça e com pena mínima inferior a 4
(quatro) anos; e 3) necessidade e suficiente para reprovação e prevenção do crime.” (HC 822.947/GO)
A alternativa C está incorreta. A jurisprudência do STF e do STJ entendem que a confissão, em sede do ANPP,
é formal e circunstanciada, sendo exigida apenas quando do oferecimento deste, e não como requisito
prévio. Neste sentido, o STJ asseverou que: “Deve-se, por conseguinte, diferenciar a postura legítima do réu
que nega envolvimento com crime apurado em ação penal com a posição de parte do ANPP, certamente
muito mais favorável do que aquela que lhe valeria o cumprimento de pena privativa de liberdade nos
estabelecimentos penais à disposição nesse país, devendo lhe ser permitida a confissão, tal qual àquele que
nega a conduta no interrogatório policial e, em juízo, a confessa, contradição que não impossibilita o
reconhecimento da atenuante em seu favor. A dúvida remanescente residiria sobre o momento a
formalização da confissão para fins do ANPP diferido, ao que se responde prontamente: no ato da assinatura
do acordo. O Código de Processo Penal, em seu art. 28-A, não determinou quando a confissão deve ser
colhida, apenas que ela deve ser formal e circunstanciada. Isso pode ser providenciado pelo próprio órgão
ministerial, se decidir propor o acordo, devendo o beneficiário, no momento de firmá-lo, se assim o quiser,
confessar formal e circunstanciadamente, perante o Parquet, o cometimento do crime.” HC 837.239/RJ.
A alternativa D está correta. Conforme já destacado no comentário anterior, o STJ entende que é possível
colher a confissão apenas no momento em que o ANPP torna-se viável: “O Código de Processo Penal, em seu
art. 28-A, não determinou quando a confissão deve ser colhida, apenas que ela deve ser formal e
circunstanciada. Isso pode ser providenciado pelo próprio órgão ministerial, se decidir propor o acordo,
devendo o beneficiário, no momento de firmá-lo, se assim o quiser, confessar formal e
circunstanciadamente, perante o Parquet, o cometimento do crime.” HC 837.239/RJ.
A alternativa E está incorreta. No precedente do AgRg no REsp 2.016.905/SP, a Quinta Turma do STJ
estabeleceu que, em casos de alteração do enquadramento jurídico ou desclassificação do delito, é possível
aplicar o ANPP, desde que preenchidos os requisitos legais. Esse precedente reconheceu a aplicação
adaptada da Súmula 337/STJ, que prevê ser cabível a suspensão condicional do processo na desclassificação
do crime e procedência parcial da pretensão punitiva.

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QUESTÃO 20. A respeito do instituto da colaboração premiada, prevista no art. 4º, caput, da Lei nº
12.850/2013, é correto afirmar que:
a) é admitida a fixação de sanções premiadas atípicas no acordo, vedada, entretanto, a privação da
liberdade do colaborador, ainda que em regime domiciliar, a partir da homologação, por implicar
imposição de pena sem processo.
b) não se admite a fixação de sanções premiadas atípicas, estando as partes limitadas aos benefícios
elencados na Lei nº 12.850/2013.
c) somente tem aplicabilidade para o crime de organização criminosa, vedada à celebração para crimes
outros que, eventualmente, contam com institutos negociais próprios.
d) a homologação de acordo de colaboração premiada fixa a competência para o processamento e
julgamento dos fatos nele relatados.
e) a decisão que recusa a homologação do acordo de colaboração premiada é impugnável por recurso de
apelação, sendo, incabível, outrossim, excetuadas situações especialíssimas, a impugnação da celebração
do acordo, pelo terceiro delatado.
Comentários
A alternativa correta é a letra E.
A questão trata do tema da colaboração premiada, instituto positivado na Lei 12.850/2013.
A alternativa A está incorreta. A primeira parte da alternativa está correta, tendo em vista que, de fato, as
sanções premiadas atípicas podem ser estipuladas no âmbito do acordo de colaboração premiada (conforme
comentários da alternativa B). Todavia, o erro está na afirmação de que a privação da liberdade do
colaborador é vedada, pois, em verdade, a legislação admite expressamente a concessão da sanção premiada
de redução de pena privativa de liberdade em até 2/3 (art. 4º, caput, Lei 12.850/2013), logo, por consectário
lógico, percebe-se que é perfeitamente possível a privação da liberdade do colaborador.
A alternativa B está incorreta. Apesar de existir uma certa discussão doutrinária a respeito da legalidade de
fixação de sanções premiadas que não estejam inseridas expressamente no rol do art. 4º da Lei 12.850/2013,
tanto o STF quanto o STJ já proferiram decisões nas quais admitiram a utilização de sanções premiadas
atípicas.
Portanto, de acordo com o entendimento dos dois Tribunais, é possível a formalização de um acordo de
colaboração premiada no qual as partes estipulem alguma sanção premiada não prevista na legislação,
como, por exemplo, um regime de cumprimento de pena mais benéfico ao colaborador. Não há qualquer
violação ao princípio da legalidade nessa situação, tendo em vista que o intuito desse princípio é resguardar
os particulares frente ao poder punitivo estatal, logo, ele não pode ser tido como violado na hipótese em
que o colaborador esteja sendo beneficiado por uma sanção premiada não expressamente prevista na
legislação (se ele estivesse sendo prejudicado, então, sim, seria possível arguir a violação ao princípio da
legalidade).
STF, 1ª Turma, AgRg no Inq 4.405, 2018: “A fixação de sanções premiais não expressamente previstas na Lei
nº 12.850/2013, mas aceitas de modo livre e consciente pelo investigado não geram invalidade do acordo.
O princípio da legalidade veda a imposição de penas mais graves do que as previstas em lei, por ser garantia
instituída em favor do jurisdicionado em face do Estado. Deste modo, não viola o princípio da legalidade a
fixação de pena mais favorável, não havendo falar-se em observância da garantia contra o garantido”.

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STJ, Corte Especial, AgRg nos EDcl na Pet 13.974, 2022: “Não há invalidade, em abstrato, na fixação de
sanções penais atípicas, desde que não haja violação da Constituição da República ou do ordenamento
jurídico, bem como da moral e da ordem pública. Da mesma forma, em respeito às garantias fundamentais
individuais, a sanção premial não pode agravar a situação jurídica do colaborador, com a fixação de penas
mais severas do que aquelas previstas abstratamente pelo legislador”.
A alternativa C está incorreta. Na verdade, a jurisprudência possui o entendimento de que a utilização da
colaboração premiada não está restrita ao delito de organização criminosa. Portanto, apesar de esse meio
de obtenção de prova estar previsto principalmente na Lei 12.850/2013, entende-se que ele pode ser
perfeitamente aplicável a outros crimes cometidos em concurso de agentes.
Veja, por exemplo, a seguinte decisão do STJ: “Em quaisquer condutas praticadas em concurso de agentes é
possível celebrar acordo de colaboração premiada” (6ª Turma, HC 582.678, 2022).
A alternativa D está incorreta. O STF possui entendimento consolidado em sentido contrário, afirmando que
o fato de um determinado magistrado ter sido o responsável pela homologação do acordo de colaboração
premiada não é suficiente para que seja fixada em seu favor a competência para processo e julgamento dos
fatos relatados no acordo em questão. Mesmo nesses casos, devem ser observadas as regras de competência
estabelecidas de maneira taxativa e abstrata na legislação, sendo certo que a colaboração premiada não é
um critério de determinação da competência, tampouco de prevenção do juízo.
Para ilustrar, veja a seguinte decisão: “O juízo que homologa o acordo de colaboração premiada não é,
necessariamente, competente para o processamento de todos os fatos relatados no âmbito das declarações
dos colaboradores” (STF, Pet 7.074, 2017).
A alternativa E está correta. De fato, o STJ possui o entendimento de que, sendo recusada a homologação
do acordo de colaboração premiada, será cabível a interposição do recurso de apelação. Isso pode ser visto
na seguinte decisão: "Analisadas as espécies de recursos elencados no Código de Processo Penal, tem-se que
a apelação criminal é apropriada para confrontar a decisão que recusar a homologação da proposta de
acordo de colaboração premiada" (REsp 1.834.215, 2020).
Além disso, o terceiro delatado, em regra, não é parte legítima para questionar os termos da celebração do
acordo de colaboração premiada: "O acordo de colaboração premiada, negócio jurídico personalíssimo
celebrado entre o Ministério Público e o réu colaborador, gera direitos e obrigações apenas para as partes,
em nada interferindo na esfera jurídica de terceiros, ainda que referidos no relato da colaboração. Assim
sendo, supostos coautores ou partícipes do réu colaborador nas infrações desveladas, ainda que venham a
ser expressamente nominados no respectivo instrumento no “relato da colaboração e seus possíveis
resultados” (art. 6º, I, da Lei nº 12.850/13), não possuem legitimidade para contestar a validade do acordo."
(STJ, RHC 68.542, 2016).

QUESTÃO 21. José Lins, vereador de determinada cidade do Estado do Rio de Janeiro, perdeu seu mandato
em tumultuada sessão na Câmara Municipal, decidindo aquela Casa Legislativa, por maioria simples, ter
havido por parte do vereador quebra de decoro parlamentar em razão de determinado comportamento a
ele atribuído.
A partir de tal informação, assinale a alternativa correta.
a) José Lins não poderá concorrer cargo de vereador para as eleições que se realizarem durante o período
remanescente do mandato para o qual foi eleito e nos oito anos subsequentes ao término da legislatura.

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b) José Lins poderá concorrer novamente ao cargo de vereador, sem qualquer restrição, por n ã o ter sido
observada a regra da maioria absoluta na sessão legislativa em que se decidiu pela perda de seu mandato.
c) José Lins poderá concorrer ao cargo de vereador apenas na próxima legislatura.
d) José Lins não poderá concorrer ao cargo de vereador apenas para as eleições que se realizarem durante
o período remanescente do mandato para o qual foi eleito.
e) José Lins poderá concorrera qualquer cargo e a qualquer tempo, por não se aplicarem as regras de
inelegibilidade a vereadores.
Comentários
A alternativa correta é a letra A.
A questão abordou sobre a Lei de Inexigibilidade (LC nº 64/1990).
A alternativa A está correta. José Lins infringiu dispositivo constitucional no tocante ao decoro parlamentar
(art. 55, II, da CRFB/88), estando impossibilitado de concorrer cargo de vereador para as eleições que se
realizarem durante o período remanescente do mandato para o qual foi eleito e nos oito anos subsequentes
ao término da legislatura nos termos do art. 1º, I, K da LC nº 64/1990.
As demais alternativas estão incorretas, conforme o comentário da alternativa A.

QUESTÃO 22. No que se refere à filiação partidária, assinale a alternativa correta.


a) Não perde o mandato o detentor de cargo eletivo que se desfiliar do partido pelo qual foi eleito sem
justa causa.
b) Não perde o mandato o detentor de cargo eletivo que muda de partido durante o período de trinta dias
que antecede o prazo de filiação exigido em lei para concorrer à eleição, majoritária ou proporcional, ao
término do mandato vigente.
c) Havendo coexistência de filiações partidárias, prevalecerá a mais antiga.
d) Perde o mandato o detentor de cargo eletivo que se desvia de forma reiterada do programa partidário.
e) A discriminação política pessoal não pode ser considerada como motivo à perda de mandato.
Comentários
A alternativa correta é a letra D.
A alternativa D está correta. A alternativa encontra fundamento no Art. 22-A, Parágrafo único, I, a saber:
"Art. 22-A. Perderá o mandato o detentor de cargo eletivo que se desfiliar, sem justa causa, do partido pelo
qual foi eleito. Parágrafo único. Consideram-se justa causa para a desfiliação partidária somente as seguintes
hipóteses: I – mudança substancial ou desvio reiterado do programa partidário;”
As demais alternativas estão incorretas, consoante o comentário da alternativa D.

QUESTÃO 23. A respeito do regramento da propaganda político-eleitoral pela Lei n° 9.504/1997, é correto
afirmar que
a) A veiculação de propaganda eleitoral em bens particulares pode ser feita mediante paga ao contrário
do que ocorre em bens públicos.

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108
b) Nos programas de rádio e televisão destinados à propaganda eleitoral gratuita não é permitida a
veiculação de cenas externas nas quais o candidato exponha falhas administrativas e deficiências
verificadas em obras e serviços públicos em geral.
c) Nas dependências do Poder Legislativo, a veiculação de propaganda eleitoral fica a critério da Mesa
Diretora.
d) A realização de showmício e de evento assemelhado para promoção de candidatos, bem como a
apresentação, remunerada ou não, de artistas com a finalidade de animar comício e reunião eleitoral
devem ser comunicadas à Justiça Eleitoral com antecedência de 48 horas.
e) A propaganda eleitoral paga a ser veiculada no rádio e na televisão restringe-se a determinado horário.
Comentários
A alternativa correta é a letra C.
A alternativa A está incorreta. Não é permitido que a veiculação de propaganda eleitoral em bens
particulares seja feita mediante pagamento, conforme prevê o art. 37, §8º da Lei n° 9.504/1997.
A alternativa B está incorreta. Ao contrário do que afirma a alternativa, conforme o art. 54, §2º, é permitida
a veiculação de entrevistas com o candidato e de cenas externas.
A alternativa C está correta. Nos exatos termos do art. 37, §3º da c, nas dependências do Poder Legislativo,
a veiculação de propaganda eleitoral fica a critério da Mesa Diretora.
A alternativa D está incorreta. Tal prática possui vedação legal, nos termos do art. 39, §7º da Lei n°
9.504/1997.
A alternativa E está incorreta. A Lei n° 9.504/1997 veda a propaganda eleitoral paga em rádio ou televisão,
nos termos do art. 44, caput.

QUESTÃO 24. Em relação a ações que tramitam na Justiça Eleitoral, assinale a alternativa correta
a) A ação de impugnação de mandato eletivo é uma ação eleitoral prevista na Constituição Federal e
possibilita que o mandato do candidato eleito possa ser questionado perante a Justiça Eleitoral até o dia
da sua diplomação.
b) O representante do Ministério Público Eleitoral ter legitimidade para subscrever impugnação a pedido
de registro de candidatura, salvo se tiver exercido atividade político-partidária nos quatro anos anteriores.
c) A legitimidade do Ministério Público para ingresso de ação por captação ou gasto ilícito de recurso pare
fins eleitorais decorrer de expressa previsão legal.
d) A ação de investigação judicial eleitoral tem previsão constitucional e pode ser apresentada até a data
da diplomação do candidato.
e) O recurso contra a expedição do diploma tem natureza jurídica de ação eleitoral autônoma e visa à
cassação de diploma expedido em favor de candidato cuja candidatura foi impugnada judicialmente.
Comentários
A alternativa correta é a letra B.
A alternativa B está correta, possuindo entendimento jurisprudencial nesse sentido. O Ministério Público
Eleitoral possui legitimidade para recorrer de decisão que julga o pedido de registro de candidatura (ARE

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728188, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Tribunal Pleno, julgado em 18/12/2013, ACÓRDÃO
ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-154 DIVULG 08-08-2014 PUBLIC 12-08-2014). Contudo, não
poderá impugnar o registro de candidato o representante do Ministério Público que, nos 4 (quatro) anos
anteriores, tenha disputado cargo eletivo, integrado diretório de partido ou exercido atividade político-
partidária, nos termos do art. 3º, §2º, da LC 64-90.
Ad demais alternativas estão incorretas.

QUESTÃO 25. José do Zinco, candidato a vereador na cidade de Angra dos Reis-RJ, instado a prestar contas
de sua candidatura, declarou não ter condições de prestá-las, dizendo ser a prestação de contas de
responsabilidade de seu partido político.
Com base nessas informações referidas, elevando-se em conta o procedimento de prestação de contas
previsto na legislação eleitoral, assinale a alternativa correta
a) A Justiça Eleitoral no caso em questão poderá decidir pela aprovação das contas condicionada, espécie
de aprovação em que o candidato se compromete a regularizar sua situação no prazo de 48 horas
b) Eventuais débitos de campanha não quitados até a data de apresentação da prestação de contas não
poderão ser assumidos pelo partido político.
c) Erros formais e materiais corrigidos não autorizam e rejeição das contas.
d) A apresentação de contas será feita no caso dos candidatos às eleições majoritárias pela coligação e não
pelo partido a que pertence o candidato, mas no caso de candidatos às eleições proporcionais será feita
pelo partido político a que pertencer o candidato.
e) A inobservância do prazo para encaminhamento das prestações de contas não impede sua diplomação,
caso seja eleito.
Comentários
A alternativa correta é a letra C.
A questão exigiu conhecimentos acerca da Resolução 23.607/2019, que dispõe sobre a arrecadação e os
gastos de recursos por partidos políticos e candidatas ou candidatos e sobre a prestação de contas nas
eleições.
As alternativas A e D estão incorretas, por não possuírem previsão legal nesse sentido.
A alternativa B está incorreta. Os débitos poderão ser assumidos pelo partido político (art. 33, §2º)
A alternativa C está correta. A alternativa encontra fundamento no art. 76, estabelecendo o seguinte: "Erros
formais e/ou materiais corrigidos ou tidos como irrelevantes no conjunto da prestação de contas não
ensejam sua desaprovação e aplicação de sanção (Lei nº 9.504/1997, art. 30, §§ 2º e 2º-A)".
A alternativa E está incorreta. A inobservância do prazo para encaminhamento das prestações de contas
impede a diplomação (art. 83).

QUESTÃO 26. Ulisses e Márcio, vizinhos, decidiram apostar R$ 5.000,00 (cinco mil reais) em um jogo de
azar no qual Ulisses restou como vencedor. Diante da obrigação resultante da aposta realizada, assinale a
alternativa correta.
a) Márcio poderá exercer a condictio indebiti, mas Ulisses não possui a soluti retentio.

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b) Trata-se de uma obrigação moral, uma vez que se Márcio não cumprir voluntariamente, Ulisses não
dispõe de ação creditória.
c) Márcio poderá compensar a dívida de jogo com uma eventual dívida oriunda da prestação de um serviço
não pago por Ulisses.
d) a execução parcial de obrigação autoriza Ulisses a exigir o pagamento restante.
e) A obrigação tem como característica produzir a irretratabilidade do pagamento feito em seu
cumprimento.
Comentários
A alternativa correta é a letra E.
A alternativa A está incorreta. A conditio indebiti é o direito de exigir o que se pagou indevidamente. Por sua
vez, a soluti retentio é o direito à retenção do pagamento. No entanto, nas dívidas de jogo, não se pode exigir
o pagamento, nem se pode recobrar o que se pagou. não são elas passíveis de ação processual. Trata-se de
dívidas nas quais há dever (Schuld ou debitum) sem consequente responsabilidade (Haftung ou obligatio).
Nos termos do artigo 814 do Código Civil: Art. 814. As dívidas de jogo ou de aposta não obrigam a pagamento;
mas não se pode recobrar a quantia, que voluntariamente se pagou, salvo se foi ganha por dolo, ou se o
perdente é menor ou interdito.
A alternativa B está incorreta. Conforme dispõe o artigo 814 do Código Civil: Art. 814. As dívidas de jogo ou
de aposta não obrigam a pagamento; mas não se pode recobrar a quantia, que voluntariamente se pagou,
salvo se foi ganha por dolo, ou se o perdente é menor ou interdito.
A alternativa C está incorreta. Considerando que a dívida de jogo não obriga o pagamento, razão pela qual,
tratando-se de forma de pagamento, não autoriza a compensação.
A alternativa D está incorreta. Consoante lição de Pontes de Miranda, as dívidas decorrentes de jogo são
classificadas como obrigações mutiladas, uma vez que possuem todos os elementos e características de
quaisquer obrigações, exceto a pretensão (“exigibilidade processual”), ou seja, não são elas passíveis de ação
processual. Trata-se de dívidas nas quais há dever (Schuld ou debitum) sem consequente responsabilidade
(Haftung ou obligatio).
A alternativa E está correta. Nos termos do artigo 814 do Código Civil: Art. 814. As dívidas de jogo ou de
aposta não obrigam a pagamento; mas não se pode recobrar a quantia, que voluntariamente se pagou, salvo
se foi ganha por dolo, ou se o perdente é menor ou interdito.
Fonte: Ebook. Estratégia Carreira Jurídica. Magistratura Estadual. Direito Civil – LDI.

QUESTÃO 27. Marcela, com fortes dores no abdome, dirigiu-se ao pronto-socorro do Hospital X,
conveniado do seu plano de saúde. Chegando lá, Marcela foi atendida por Alexandre, médico plantonista
contratado pelo Hospital X, que constatou que se tratava de apendicite e realizou a cirurgia de remoção
do apêndice. Marcela teve alta e voltou para casa, no entanto, a dor abdominal permaneceu, o que fez
com que ela retomasse ao hospital. Após a realização de exames, restou constatado que a dor abdominal
de Marcela estava sendo causada por um bisturi que foi esquecido no interior do seu corpo. Marcela
decide então processar, por danos materiais e morais, o Hospital X e o médico Alexandre. De acordo com
o atual entendimento do Superior Tribunal de Justiça, Marcela

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108
a) deverá processar apenas Alexandre, uma vez que houve erro médico, e as obrigações do Hospital X
limitam-se ao fornecimento de recursos materiais adequados à prestação dos serviços médicos.
b) poderá processar tanto Alexandre quanto o Hospital X, sendo que a responsabilidade de ambos é
objetiva.
c) poderá processar Alexandre, que responde de forma subjetiva, sendo certo que o Hospital X é
responsável solidariamente.
d) poderá processar tanto Alexandre quanto o Hospital X, sendo que a responsabilidade deste é subjetiva
e daquele objetiva.
e) não poderá processar Alexandre, uma vez que a relação de consumo se deu entre ela e o Hospital X.
Comentários
A alternativa correta é a letra C, pois se trata de entendimento pacificado pelo Superior Tribunal de Justiça,
segundo o qual a responsabilidade do hospital por erro médico é objetiva e solidária.
Por sua vez, aplica-se aos médicos o art. 14, § 4º do CDC, que prevê a responsabilidade subjetiva dos
profissionais liberais: Art. 14. (...) § 4º A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada
mediante a verificação de culpa.
Veja o que diz a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça:
“(i) as obrigações assumidas diretamente pelo complexo hospitalar limitam-se ao fornecimento de recursos
materiais e humanos auxiliares adequados à prestação dos serviços médicos e à supervisão do paciente,
hipótese em que a responsabilidade objetiva da instituição (por ato próprio) exsurge somente em
decorrência de defeito no serviço prestado (artigo 14, caput, do CDC)"; [...] e
(iii) quanto aos atos técnicos praticados de forma defeituosa pelos profissionais da saúde vinculados de
alguma forma ao hospital, respondem solidariamente a instituição hospitalar e o profissional responsável,
apurada a sua culpa profissional. Nesse caso, o hospital é responsabilizado indiretamente por ato de terceiro,
cuja culpa deve ser comprovada pela vítima de modo a fazer emergir o dever de indenizar da instituição, de
natureza absoluta (artigos 932 e 933 do Código Civil), sendo cabível ao juiz, demonstrada a hipossuficiência
do paciente, determinar a inversão do ônus da prova (artigo 6º, inciso VIII, do CDC).
STJ. 4ª Turma. REsp 1.145.728/MG, Rel. Min. João Otávio de Noronha, Rel. p/acórdão Min. Luis Felipe
Salomão, julgado em 28/06/2011.
Ainda, em recente julgado, reafirmou o STJ que O hospital responde, objetivamente, pelos danos
decorrentes da prestação defeituosa dos serviços relacionados ao exercício da sua própria atividade”. STJ.
4ª Turma. AgInt no AgInt no REsp 1.718.427-RS, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 6/3/2023 (Info
768).

QUESTÃO 28. Juliano, dependente de drogas há mais de cinco anos, com diversas interações hospitalares
em decorrência do uso de entorpecentes, foi internado mais uma vez no hospital municipal de Cabo Frio.
Os familiares foram visitar, mas não convenceram Juliano a realizar uma internação voluntária para
realizar um tratamento a fim de se abster do consumo de drogas, restando somente a opção de uma
internação involuntária. Diante da situação hipotética, é correto afirmar que a internação involuntária
a) poderá ser realizada em comunidades terapêuticas acolhedoras.

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b) poderá ser interrompida, a qualquer tempo, por meio de requerimento da família ou do representante
legal ao médico.
c) deverá ser informada em no máximo 24 (vinte e quatro) horas, ao Ministério Público, por meio de
sistema informatizado único.
d) poderá ser requerida a pedido de familiar ou do responsável legal ou, na absoluta falta deste, de
servidor público da área de saúde ou de membro do Ministério Público.
e) perdurará apenas pelo tempo necessário à desintoxicação, no prazo mínimo de 90 (noventa) dias, tendo
seu término determinado pelo médico responsável.
Comentários
A alternativa correta é a letra B.
A alternativa A está incorreta. Nos termos do artigo 3º da Lei n. 10.216/2001: Art. 3o É responsabilidade do
Estado o desenvolvimento da política de saúde mental, a assistência e a promoção de ações de saúde aos
portadores de transtornos mentais, com a devida participação da sociedade e da família, a qual será prestada
em estabelecimento de saúde mental, assim entendidas as instituições ou unidades que ofereçam
assistência em saúde aos portadores de transtornos mentais.
A alternativa B está correta. Trata-se da literalidade do artigo 8º, §2º, da Lei n. 10.216/2001: § 2o O término
da internação involuntária dar-se-á por solicitação escrita do familiar, ou responsável legal, ou quando
estabelecido pelo especialista responsável pelo tratamento.
A alternativa C está incorreta. Conforme dispõe o artigo 8º, §1º, da Lei n. 10.216/2001: § 1o A internação
psiquiátrica involuntária deverá, no prazo de setenta e duas horas, ser comunicada ao Ministério Público
Estadual pelo responsável técnico do estabelecimento no qual tenha ocorrido, devendo esse mesmo
procedimento ser adotado quando da respectiva alta.
A alternativa D está incorreta. De acordo com o artigo 6º, parágrafo único, da Lei n. 10.216/2001: II -
internação involuntária: aquela que se dá sem o consentimento do usuário e a pedido de terceiro;
A alternativa E está incorreta. A Lei n. 10.216/2001 não prevê prazo mínimo. De acordo com o artigo 8º, §2º:
§ 2o O término da internação involuntária dar-se-á por solicitação escrita do familiar, ou responsável legal,
ou quando estabelecido pelo especialista responsável pelo tratamento.

QUESTÃO 29. Thais e Isabel, irmãs, compraram terrenos vizinhos, de cem metros quadrados cada, na
cidade de Teresópolis. Thais iniciou a construção de um chalé em seu terreno. Durante a construção, sem
perceber, invadiu o terreno de Isabel, ocupando quatro metros quadrados com o seu chalé, sendo que o
valor da construção, por ser de alto padrão, excede o valor da área invadida.
Diante da situação hipotética, é correto afirmar que Thais
a) adquire a propriedade da parte do solo invadido e responde por indenização que represente, também,
o valor da área perdida e a desvalorização da área remanescente.
b) não tem a possibilidade de adquirir a propriedade do solo, ainda que a construção exceda
consideravelmente o valor do terreno.
c) é obrigada a demolir o que construiu no solo invadido, pagando as perdas e danos apurados, que serão
devidos em dobro.

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d) adquire a propriedade do solo invadido e responde por perdas e danos abrangendo o dobro do valor
que a invasão acrescer à construção, mais o da área perdida e o da desvalorização da área remanescente.
e) adquire a propriedade da parte do solo que invadiu, pagando em dobro as perdas e danos.
Comentários
A alternativa correta é a letra A, pois, de acordo com o artigo 1.258 do Código Civil: Art. 1.258. Se a
construção, feita parcialmente em solo próprio, invade solo alheio em proporção não superior à vigésima
parte deste, adquire o construtor de boa-fé a propriedade da parte do solo invadido, se o valor da construção
exceder o dessa parte, e responde por indenização que represente, também, o valor da área perdida e a
desvalorização da área remanescente. Parágrafo único. Pagando em décuplo as perdas e danos previstos
neste artigo, o construtor de má-fé adquire a propriedade da parte do solo que invadiu, se em proporção à
vigésima parte deste e o valor da construção exceder consideravelmente o dessa parte e não se puder
demolir a porção invasora sem grave prejuízo para a construção.

QUESTÃO 30. De acordo com o atual entendimento do Superior Tribunal de Justiça, assinale a alternativa
correta.
a) cancelamento de pensão alimentícia de filho que atingiu a maioridade é automático, sendo necessária
decisão judicial, mediante contraditório, nos próprios autos, para a sua manutenção.
b) O Ministério Público não tem legitimidade ativa para ajuizar ação/execução de alimentos em favor de
criança ou adolescente.
c) Cabe prisão civil do inventariante em virtude do descumprimento pelo espólio do dever de prestar
alimentos.
d) É possível a modificação da forma da prestação alimentar (em espécie ou in natura), desde que haja
alteração na condição financeira das partes.
e) Os valores pagos a título de alimentos são insuscetíveis de compensação, salvo quando configurado o
enriquecimento sem causa do alimentando.
Comentários
A alternativa correta é a letra E.
A alternativa A está incorreta. Nos termos da Súmula 358 do Superior Tribunal de Justiça: O cancelamento
de pensão alimentícia de filho que atingiu a maioridade está sujeito à decisão judicial, mediante
contraditório, ainda que nos próprios autos.
A alternativa B está incorreta. De acordo com a Súmula 594 do Superior Tribunal de Justiça, “O Ministério
Público tem legitimidade ativa para ajuizar ação de alimentos em proveito de criança ou adolescente
independentemente do exercício do poder familiar dos pais, ou do fato de o menor se encontrar nas
situações de risco descritas no art. 98 do Estatuto da Criança e do Adolescente, ou de quaisquer outros
questionamentos acerca da existência ou eficiência da Defensoria Pública na comarca”.
A alternativa C está incorreta. De acordo com o entendimento do Superior Tribunal de Justiça, não cabe a
prisão civil do inventariante em razão do inadimplemento do espólio. Nesse sentido:
HABEAS CORPUS. DIREITO DE FAMÍLIA. ALIMENTOS. EXECUÇÃO. ESPÓLIO. RITO DO ART. 733 DO CPC.
DESCUMPRIMENTO. PRISÃO CIVIL DO INVENTARIANTE. IMPOSSIBILIDADE. 1. Malgrado a divergência
doutrinária e jurisprudencial sobre o alcance da alteração sobre o tema no âmbito do Código Civil de 2002,

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e apesar de sua natureza personalíssima, o fato é que previu o novo Código que "a obrigação de prestar
alimentos transmite-se aos herdeiros do devedor" (art. 1.700), não podendo a massa inventariada nem os
herdeiros, contudo, responder por valores superiores à força da herança, haja vista ser a dívida oriunda de
obrigação pretérita do morto e não originária daqueles (arts. 1.792 e 1.997 e En. 343 do CJF). 2. Nessa ordem
de ideias, e seja qual for a conclusão quanto a transmissibilidade ou não da obrigação alimentar, não parece
possível a decretação de prisão civil do inventariante do Espólio, haja vista que a restrição da liberdade
constitui sanção também de natureza personalíssima e que não pode recair sobre terceiro, estranho ao dever
de alimentar, como sói acontecer com o inventariante, representante legal e administrador da massa
hereditária. 3. De fato, "a prisão administrativa atinge, apenas, ao devedor de alimentos, segundo o art. 733,
§1°, do CPC, e não a terceiros" e em sendo o inventariante um terceiro na relação entre exequente e
executado - ao espólio é que foi transmitida a obrigação de prestar alimentos (haja vista o seu caráter
personalíssimo) - "configura constrangimento ilegal a coação, sob pena de prisão, a adimplir obrigação do
referido espólio, quando este não dispõe de rendimento suficiente para tal fim" (CAHALI, Yussef Said. Dos
alimentos. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2006, p. 750-751). 4. Na hipótese, a verba alimentar foi
estabelecida com base nas necessidades do alimentando e nas extintas possibilidades do alimentante,
falecido, e não em virtude das forças da herança, não se sabendo, ao certo, se o monte-mor tem quantias
em dinheiro ou rendimentos pecuniários para a mantença dos mesmos patamares. Além disso, há uma nova
situação pessoal do alimentado, que pode ter sofrido grande alteração em decorrência de sua participação
na própria herança, ficando alterados o binômio necessidade/possibilidade - que deve nortear o pagamento
de alimentos. 5. Há considerar, ainda, que o próprio herdeiro pode requerer pessoalmente ao juízo, durante
o processamento do inventário, a antecipação de recursos para a sua subsistência, podendo o magistrado
conferir eventual adiantamento de quinhão necessário à sua mantença, dando assim efetividade ao direito
material da parte pelos meios processuais cabíveis, sem que se ofenda, para tanto, um dos direitos
fundamentais do ser humano, a sua liberdade; ademais, caso necessário, pode o juízo destituir o
inventariante pelo descumprimento de seu munus. 6. Não se pode deixar de levar em conta - o que é
incontroverso nos autos - que o alimentado goza de pensão previdenciária, além de ter recebido, no curso
do inventário, crédito de R$ 48.000,00 (quarenta e oito mil reais) decorrente de reclamação trabalhista
proposta pelo espólio e que não foi devidamente habilitado na massa hereditária (motivo que ensejou a
destituição da herdeira Emmanuela da inventariança); o que, por si só, poderia ensejar a exoneração ou
redução da obrigação alimentar. 7. Ordem de habeas corpus concedida. (HC 256.793/RN, Rel. Ministro LUIS
FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 01/10/2013, DJe 15/10/2013)
A alternativa D está incorreta. De acordo com o entendimento do Superior Tribunal de Justiça, “É possível a
modificação da forma da prestação alimentar (em espécie ou in natura), desde que demonstrada a razão
pela qual a modalidade anterior não mais atende à finalidade da obrigação, ainda que não haja alteração na
condição financeira das partes nem pretensão de modificação do valor da pensão” (REsp 1505030 / MG7).
A alternativa E está correta. Trata-se de entendimento pacificado pelo Superior Tribunal de Justiça,
consubstanciado na Tese de n. 13 da Jurisprudência em Teses: 13) Os valores pagos a título de alimentos são
insuscetíveis de compensação, salvo quando configurado o enriquecimento sem causa do alimentando (REsp
1332808/SC, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, Julgado em 18/12/2014,DJE
24/02/2015)

QUESTÃO 31. João, usuário de um provedor de conexão à internet e de um provedor de aplicações de


internet, publica, sem autorização, um vídeo contendo cenas de nudez protagonizadas por Maria. O vídeo
é rapidamente denunciado por Maria e por outros usuários. Ambos os provedores são notificados da

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existência do conteúdo, mas, com o intuito de assegurar a liberdade de expressão e impedir a censura,
não removem o conteúdo do site. Maria, então, envia uma notificação extrajudicial, contendo elementos
que permitam a identificação específica do material apontado como violador da sua intimidade e a
verificação da legitimidade para apresentação do pedido, solicitando a remoção do conteúdo. Diante da
situação hipotética, é correto afirmar que
a) ambos os provedores serão responsabilizados civilmente independentemente de solicitação, por se
tratar de conteúdo que viola a intimidade de terceiros.
b) o provedor de aplicações de internet será responsabilizado subsidiariamente pela violação da
intimidade decorrente da divulgação se não indisponibilizar o conteúdo.
c) o provedor de aplicações de internet não será responsabilizado civilmente por danos de conteúdo
gerado por terceiros.
d) o provedor de conexão à internet será responsabilizado civilmente por danos decorrentes de conteúdo
gerado por terceiros.
e) o provedor de conexão à internet será responsabilizado civilmente apenas se a solicitação de remoção
do conteúdo for feita judicialmente.
Comentários
A alternativa correta é a letra B.
Segundo o art. 21 da Lei nº 12.965/2014 - Marco Civil da Internet: Art. 21. O provedor de aplicações de
internet que disponibilize conteúdo gerado por terceiros será responsabilizado subsidiariamente pela
violação da intimidade decorrente da divulgação, sem autorização de seus participantes, de imagens, de
vídeos ou de outros materiais contendo cenas de nudez ou de atos sexuais de caráter privado quando, após
o recebimento de notificação pelo participante ou seu representante legal, deixar de promover, de forma
diligente, no âmbito e nos limites técnicos do seu serviço, a indisponibilização desse conteúdo. Parágrafo
único. A notificação prevista no caput deverá conter, sob pena de nulidade, elementos que permitam a
identificação específica do material apontado como violador da intimidade do participante e a verificação da
legitimidade para apresentação do pedido.
Decidiu o Superior Tribunal de Justiça: “7. Nesse sentido, a jurisprudência deste E. STJ, em consonância com
os princípios do art. 19, da Lei 12.965/2014, é assente ao indicar que a responsabilidade dos provedores de
conteúdo de internet depende da existência do controle editorial do material disponibilizado na rede. Não
havendo este controle, somente será responsabilizado o provedor de internet se, mesmo após notificação
judicial para a retirada do material, ele se mantiver inerte”. (REsp 1568935/RJ, TERCEIRA TURMA, DJe
13/04/2016; REsp 1501187/RJ, QUARTA TURMA, DJe 03/03/2015; REsp 1694405/RJ, TERCEIRA TURMA, DJe
29/06/2018; REsp 1783269/MG, QUARTA TURMA, DJe 18/02/2022)
Ademais, de acordo com o Superior Tribunal de Justiça, a responsabilidade do provedor, nessas hipóteses, é
subsidiaria: “18. Por oportuno, destaca-se que a própria Lei nº 12.965/14 consagra exceção à reserva de
jurisdição para a retirada de conteúdo infringente da internet na hipótese “de imagens, de vídeos ou de
outros materiais contendo cenas de nudez ou de atos sexuais de caráter privado” (art. 21). Nessas
circunstâncias, o provedor passa a ser subsidiariamente responsável a partir da notificação extrajudicial
formulada pelo particular interessado na remoção desse conteúdo, e não a partir da ordem judicial com esse
comando” (REsp 1593249/RJ, TERCEIRA TURMA, DJe 09/12/2021; REsp 1930256/SP, TERCEIRA TURMA, DJe
17/12/2021).

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QUESTÃO 32. Rogério é casado com Cláudio e ambos são pais de João. Em razão de uma oportunidade de
trabalho, Rogério passa a semana em Cabo Frio e volta para o Rio de Janeiro aos finais de semana para
ficar com o marido e filho. Dois anos após o início das viagens de Rogério, ele passou a se relacionar,
durante as semanas com Vitor, sendo publicamente reconhecido como seu companheiro em Cabo Frio e
continuou casado com Cláudio, com o qual passava os finais de semana. A situação perdurou por oito anos,
até que, em um acidente de carro, Rogério veio a falecer. Diante da situação hipotética e de acordo com o
atua entendimento do Supremo Tribunal Federal, é correte afirmar que
a) seria possível o reconhecimento da união estável apenas se se tratasse de relacionamento
heteroafetivo.
b) não seria possível a configuração da união estável entre Rogério e Vitor, mas a este caberia metade da
pensão por morte do INSS por ser daquele dependente.
c) seria possível a configuração da união estável entre Rogério e Vitor, caso Rogério estivesse separado de
fato de Cláudio.
d) seria possível a configuração da união estável entre Rogério e Vitor, caso Rogério convivesse em união
estável com Cláudio.
e) é possível a configuração da união estável entre Rogério e Vitor considerando que a relação entre eles
era pública, duradoura e contínua.
Comentários
A alternativa correta é a letra C.
De acordo com o entendimento do Supremo Tribunal Federal, no julgamento do tema 526 de repercussão
geral, “É incompatível com a Constituição Federal o reconhecimento de direitos previdenciários (pensão por
morte) à pessoa que manteve, durante longo período e com aparência familiar, união com outra casada,
porquanto o concubinato não se equipara, para fins de proteção estatal, às uniões afetivas resultantes do
casamento e da união estável” (RE 883168).
Por sua vez, no julgamento do Tema de Repercussão Geral 529, o Supremo Tribunal Federal ressaltou a
vedação ao reconhecimento concomitante de relação conjugal e de união estável, ressalvado o disposto no
artigo 1.723, §1º, do Código Civil, segundo qual “§ 1 o A união estável não se constituirá se ocorrerem os
impedimentos do art. 1.521; não se aplicando a incidência do inciso VI no caso de a pessoa casada se achar
separada de fato ou judicialmente”.
De acordo com o STF “A preexistência de casamento ou de união estável de um dos conviventes, ressalvada
a exceção do artigo 1.723, § 1º, do Código Civil, impede o reconhecimento de novo vínculo referente ao
mesmo período, inclusive para fins previdenciários, em virtude da consagração do dever de fidelidade e da
monogamia pelo ordenamento jurídico-constitucional brasileiro” (Tema 529, Repercussão Geral, STF).

QUESTÃO 33. Joaquim nasceu no dia 8 de janeiro de 2024 na cidade de Petrópolis e foi registrado no 1º
Cartório de Registro Civil de Pessoas Naturais. Ocorre que, na certidão de nascimento, apesar de haver a
descrição precisa do local de nascimento, não há indicação do Município relativo ao nascimento de
Joaquim ou de sua naturalidade. Acerca da possibilidade de retificação do registro de nascimento de
Joaquim, assinale a alternativa correta.
a) É possível a retificação do registro de nascimento mediante simples pedido verbal e pagamento de selos
e taxas.

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b) O Ministério Público poderá impugnar o pedido de retificação do registro, caso em que o juiz
determinará a produção da prova no prazo de cinco dias e, após oitiva dos interessados, decidirá em dez
dias.
c) O representante legal de Joaquim requererá, em petição fundamentada e instruída com documentos ou
com indicação de testemunhas, que o Juiz ordene a retificação, ouvido o órgão do Ministério Público e os
interessados, no prazo de cinco dias.
d) O oficial retificará o registro mediante petição assinada pelo representante legal de Joaquim,
independentemente de prévia autorização judicial ou manifestação do Ministério Público.
e) Considerando se tratar de um mero erro material, não é possível a retificação do registro de nascimento.
Comentários
A alternativa correta é a letra D.
A alternativa A está incorreta. Nos termos do artigo 110, § 5º, da Lei n. 6.015/1973: §5º Nos casos em que
a retificação decorra de erro imputável ao oficial, por si ou por seus prepostos, não será devido pelos
interessados o pagamento de selos e taxas.
A alternativa B está incorreta. De acordo com o artigo 109, §1º, da Lei n. 6.015/1973: § 1° Se qualquer
interessado ou o órgão do Ministério Público impugnar o pedido, o Juiz determinará a produção da prova,
dentro do prazo de dez dias e ouvidos, sucessivamente, em três dias, os interessados e o órgão do Ministério
Público, decidirá em cinco dias.
A alternativa C está incorreta. Trata-se de hipótese em que não é necessária ordem judicial. Aplica-se ao caso
o disposto no artigo 110 da Lei n. 6.015/1973, por se tratar de omissão passível de retificação que não exige
qualquer indagação: Art. 110. O oficial retificará o registro, a averbação ou a anotação, de ofício ou a
requerimento do interessado, mediante petição assinada pelo interessado, representante legal ou
procurador, independentemente de prévia autorização judicial ou manifestação do Ministério Público, nos
casos de: I - erros que não exijam qualquer indagação para a constatação imediata de necessidade de sua
correção;
A alternativa D está correta. Trata-se da literalidade do artigo 110, caput, da Lei n. 6.015/1973: Art. 110. O
oficial retificará o registro, a averbação ou a anotação, de ofício ou a requerimento do interessado, mediante
petição assinada pelo interessado, representante legal ou procurador, independentemente de prévia
autorização judicial ou manifestação do Ministério Público, nos casos de: [...]
A alternativa E está incorreta. É permitida a retificação, nos termos do artigo 110 da Lei n. 6.015/1973: Art.
110. O oficial retificará o registro, a averbação ou a anotação, de ofício ou a requerimento do interessado,
mediante petição assinada pelo interessado, representante legal ou procurador, independentemente de
prévia autorização judicial ou manifestação do Ministério Público, nos casos de:
I - erros que não exijam qualquer indagação para a constatação imediata de necessidade de sua correção;
II - erro na transposição dos elementos constantes em ordens e mandados judiciais, termos ou
requerimentos, bem como outros títulos a serem registrados, averbados ou anotados, e o documento
utilizado para a referida averbação e/ou retificação ficará arquivado no registro no cartório;
III - inexatidão da ordem cronológica e sucessiva referente à numeração do livro, da folha, da página, do
termo, bem como da data do registro;

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IV - ausência de indicação do Município relativo ao nascimento ou naturalidade do registrado, nas hipóteses
em que existir descrição precisa do endereço do local do nascimento;
V - elevação de Distrito a Município ou alteração de suas nomenclaturas por força de lei.

QUESTÃO 34. Marjorie e Vinicius eram casados e tiveram uma filha, Beatriz. Dois anos após o nascimento
da filha, em razão de diversas brigas e desentendimentos, Marjorie e Vinicius decidiram se divorciar de
forma amigável. Na ação de divórcio, estabeleceram a guarda compartilhada e o valor dos alimentos
devidos. Um ano após o divórcio, Marjorie começou um relacionamento com Matheus. Vinicius,
enciumado, decidiu mudar o domicílio para local distante, sem justificativa, visando a dificultar a
convivência de Beatriz com Marjorie. Diante da situação hipotética, assinale a alternativa correta.
a) Considerando o indício da prática de ato de alienação parental, o juiz obrigatoriamente determinará
perícia psicológica ou biopsicossocial.
b) Marjorie deverá propor, em até 30 (trinta) dias, ação que poderá ser autônoma ou incidental, para que
o juiz utilize instrumentos processuais aptos a inibir ou atenuar os efeitos da alienação parental.
c) Em caso de mudança abusiva de endereço, o juiz poderá declarar a suspensão da autoridade parental
de Vinícius.
d) O juiz poderá, sem prejuízo da decorrente responsabilidade civil ou criminal, estipular multa a Vinícius
e determinar a fixação cautelar do domicílio de Beatriz.
e) Os instrumentos processuais para inibir ou atenuar os efeitos da alienação parental não podem ser
simultaneamente cumulados.
Comentários
A alternativa correta é a letra D.
A alternativa A está incorreta. Nos termos do artigo 5º da Lei n. 12.318/2010: Art. 5 o Havendo indício da
prática de ato de alienação parental, em ação autônoma ou incidental, o juiz, se necessário, determinará
perícia psicológica ou biopsicossocial.
A alternativa B está incorreta. Nos termos do artigo 4 da Lei n. 12.318/2010: Art. 4o Declarado indício de ato
de alienação parental, a requerimento ou de ofício, em qualquer momento processual, em ação autônoma
ou incidentalmente, o processo terá tramitação prioritária, e o juiz determinará, com urgência, ouvido o
Ministério Público, as medidas provisórias necessárias para preservação da integridade psicológica da criança
ou do adolescente, inclusive para assegurar sua convivência com genitor ou viabilizar a efetiva
reaproximação entre ambos, se for o caso.
A alternativa C está incorreta. Conforme previsto no artigo 6º, § 1º, da Lei n. 12.318/2010: §1º Caracterizado
mudança abusiva de endereço, inviabilização ou obstrução à convivência familiar, o juiz também poderá
inverter a obrigação de levar para ou retirar a criança ou adolescente da residência do genitor, por ocasião
das alternâncias dos períodos de convivência familiar.
A alternativa D está correta. Trata-se da previsão contida no artigo 6º, inciso III, da Lei n. 12.318/2010: Art.
6o Caracterizados atos típicos de alienação parental ou qualquer conduta que dificulte a convivência de
criança ou adolescente com genitor, em ação autônoma ou incidental, o juiz poderá, cumulativamente ou
não, sem prejuízo da decorrente responsabilidade civil ou criminal e da ampla utilização de instrumentos

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processuais aptos a inibir ou atenuar seus efeitos, segundo a gravidade do caso: III - estipular multa ao
alienador.
A alternativa E está incorreta. Consoante ao artigo 6º, caput, da Lei n. 12.318/2010: Art. 6 o Caracterizados
atos típicos de alienação parental ou qualquer conduta que dificulte a convivência de criança ou adolescente
com genitor, em ação autônoma ou incidental, o juiz poderá, cumulativamente ou não, sem prejuízo da
decorrente responsabilidade civil ou criminal e da ampla utilização de instrumentos processuais aptos a inibir
ou atenuar seus efeitos, segundo a gravidade do caso:

QUESTÃO 35. Ricardo emprestou R$ 20.000,00 (vinte mil reais) a Carlos que se comprometeu a pagar de
volta em sessenta dias. Após o prazo estipulado, Carlos pagou apenas R$ 15.000,00 (quinze mil reais), se
comprometendo a pagar o restante em uma semana. Um mês após a data de pagamento da quantia de
R$ 15.000,00 (quinze mil reais), Carlos ainda não havia pagado Ricardo. Inconformado, Ricardo postula
ação requerendo a condenação de Carlos ao pagamento de R$ 20.000,00 (vinte mil reais). Carlos,
devidamente citado, apresenta contestação reconhecendo ser devedor de Ricardo, mas apenas do valor
de R$ 5.000,00 (cinco mil reais). Diante da situação hipotética narrada, de acordo com o atual
entendimento do Superior Tribunal de Justiça, o juiz deverá proferir julgamento
a) antecipado parcial do mérito que não dependerá de ulterior confirmação, uma vez que ela já é definitiva
e pode resultar em coisa julgada material antes mesmo de o processo ser extinto.
b) antecipado parcial do mérito, impugnável por agravo de instrumento, sendo certo ser possível a
aplicação do princípio da fungibilidade no caso de interposição de apelação.
c) imediato total do mérito, impugnável por apelação.
d) antecipado parcial do mérito que, ainda que não seja objeto de recurso entre as partes, não faz coisa
julgada, sendo possível que uma sentença proferida posteriormente indefira todo pleito inicial.
e) parcial do mérito para reconhecer a existência de obrigação liquida, sendo vedado o reconhecimento
da existência de obrigação ilíquida.
Comentários
A alternativa correta é a letra A.
A alternativa A está correta. Trata-se de hipótese de julgamento antecipado parcial de mérito prevista no
artigo 356 do CPC, que, segundo o §3º, e definitiva: Art. 356. O juiz decidirá parcialmente o mérito quando
um ou mais dos pedidos formulados ou parcela deles: I - mostrar-se incontroverso; II - estiver em condições
de imediato julgamento, nos termos do art. 355 . [...]§ 3º Na hipótese do § 2º, se houver trânsito em julgado
da decisão, a execução será definitiva.
A alternativa B está incorreta. Embora seja aplicável o recurso de agravo de instrumento, nos termos do
artigo 356, §5º, do CPC, não é possível a fungibilidade pela apelação, uma vez que os autos devem
permanecer em juízo para prosseguimento do feito quanto a parcela controvertida.
A alternativa C está incorreta. Trata-se de hipótese de julgamento antecipado parcial de mérito prevista no
artigo 356 do CPC, que, segundo o §3º, e definitiva: Art. 356. O juiz decidirá parcialmente o mérito quando
um ou mais dos pedidos formulados ou parcela deles: I - mostrar-se incontroverso; II - estiver em condições
de imediato julgamento, nos termos do art. 355 . É impugnável por agravo de instrumento: § 5º A decisão
proferida com base neste artigo é impugnável por agravo de instrumento.

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A alternativa D está incorreta. Consoante do artigo 356, § 3º, do CPC: Na hipótese do § 2º, se houver trânsito
em julgado da decisão, a execução será definitiva.
A alternativa E está incorreta. Nos termos do artigo 356, §1º, do CPC: § 1º A decisão que julgar parcialmente
o mérito poderá reconhecer a existência de obrigação líquida ou ilíquida.

QUESTÃO 36. Bruno e Renata, pais de dois filhos menores, estão se divorciando e não conseguem chegar
a um acordo sobre a guarda dos filhos e o valor dos alimentos. Bruno quer a guarda compartilhada,
enquanto Renata quer a guarda unilateral. Com a ajuda de um mediador, o casal chega ao seguinte acordo:
Bruno terá a guarda unilateral dos filhos, e Renata terá direito a visitas regulares. No que diz respeito aos
alimentos não houve acordo. Diante da situação hipotética, assinale a alternativa correta.
a) Uma vez estabelecido que o conflito será decidido por meio da mediação, ambas as partes serão
obrigadas a permanecer no procedimento.
b) No caso hipotético, ainda que o conflito tenha sido resolvido por mediação, é exigida a oitiva do
Ministério Público.
c) Por se tratar a guarda dos filhos de um direito indisponível, não é possível a solução do conflito por
mediação.
d) Considerando que na situação hipotética houve consenso entre as partes, basta a assinatura de um
termo perante o mediador, não sendo necessária a homologação em juízo.
e) Não é possível a mediação apenas sobre parte do conflito, sendo necessário, no caso, a resolução de
ambos os conflitos em juízo.
Comentários
A alternativa correta é a letra B.
A alternativa A está incorreta. Nos termos do artigo 2º, §2º, da Lei n. 13.140/2015: § 2º Ninguém será
obrigado a permanecer em procedimento de mediação.
A alternativa B está correta. Trata-se da literalidade do artigo 3º, §2º, da Lei n. 13.140/2015: § 2º O consenso
das partes envolvendo direitos indisponíveis, mas transigíveis, deve ser homologado em juízo, exigida a oitiva
do Ministério Público.
A alternativa C está incorreta. Nos termos do artigo 3º da Lei n. 13.140/2015: Art. 3º Pode ser objeto de
mediação o conflito que verse sobre direitos disponíveis ou sobre direitos indisponíveis que admitam
transação.
A alternativa D está incorreta. Nos termos do artigo 3º, §2º, da Lei n. 13.140/2015: §2º O consenso das partes
envolvendo direitos indisponíveis, mas transigíveis, deve ser homologado em juízo, exigida a oitiva do
Ministério Público.
A alternativa E está incorreta. Conforme dispõe o artigo 3º da Lei n. 13.140/2015: Art. 3º Pode ser objeto de
mediação o conflito que verse sobre direitos disponíveis ou sobre direitos indisponíveis que admitam
transação.

QUESTÃO 37. O pronunciamento judicial que condicionar a análise de pedido de tutela provisória a
qualquer exigência é

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a) irrecorrível.
b) passível de apelação.
c) nulo.
d) agravável.
e) passível de reclamação.
Comentários
A alternativa correta é a letra D, pois conforme previsto no artigo 1.015, I, do Código de Processo Civil, Art.
1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que versarem sobre: I - tutelas
provisórias.

QUESTÃO 38. João, com 17 anos de idade, deseja se emancipar para poder trabalhar e estudar fora de
casa. Ele é filho de pais separados e mora com a mãe, que é contra a sua emancipação. Acerca do
procedimento para emancipação, é correto afirmar que
a) da sentença proferida caberá apelação sem efeito suspensivo.
b) por se tratar de um procedimento de jurisdição voluntária, a presença do advogado é facultativa.
c) o juiz deverá decidir acerca do pedido de emancipação no prazo de 5 dias, podendo adotar a solução
que considerar mais conveniente ou oportuna.
d) a emancipação continuará correndo mesmo durante as férias forenses desde que reste comprovado
que o adiamento irá prejudicar o procedimento.
e) considerando haver interesse de menor, o Ministério Público será intimado para que se manifeste,
querendo, no prazo de 15 dias.
Comentários
A alternativa correta é a letra E.
A alternativa A está incorreta. As hipóteses de apelação sem efeito suspensivo estão previstas no artigo
1.012, entre as quais não se encontra aquela que decide sobre a emancipação: Art. 1.012. A apelação terá
efeito suspensivo. § 1º Além de outras hipóteses previstas em lei, começa a produzir efeitos imediatamente
após a sua publicação a sentença que: I - homologa divisão ou demarcação de terras; II - condena a pagar
alimentos; III - extingue sem resolução do mérito ou julga improcedentes os embargos do executado; IV -
julga procedente o pedido de instituição de arbitragem; V - confirma, concede ou revoga tutela provisória;
VI - decreta a interdição.
A alternativa B está incorreta. Em razão da necessidade da capacidade postulatória para estar em Juízo, não
há exceção à representação por advogado nos procedimentos de jurisdição voluntária.
A alternativa C está incorreta. Consoante ao artigo 723 do CPC: art. 723. O juiz decidirá o pedido no prazo de
10 (dez) dias. Parágrafo único. O juiz não é obrigado a observar critério de legalidade estrita, podendo adotar
em cada caso a solução que considerar mais conveniente ou oportuna.
A alternativa D está incorreta. Nos termos do artigo 215 do CPC: Art. 215. Processam-se durante as férias
forenses, onde as houver, e não se suspendem pela superveniência delas: I - os procedimentos de jurisdição
voluntária e os necessários à conservação de direitos, quando puderem ser prejudicados pelo adiamento;

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A alternativa E está correta. Trata-se da literalidade do artigo 721 do CPC: Art. 721. Serão citados todos os
interessados, bem como intimado o Ministério Público, nos casos do art. 178 , para que se manifestem,
querendo, no prazo de 15 (quinze) dias.

QUESTÃO 39. Em um dia chuvoso, Juliana, dirigindo um carro, e Leandro, dirigindo uma moto, envolvem-
se em um acidente. O carro de Juliana bate na traseira da moto de Leandro, que cai no chão e sofre apenas
ferimentos leves. Juliana informa Leandro que possui seguro contra terceiros pela seguradora Viva Bem.
Diante da situação hipotética, considerando o entendimento do Superior Tribunal de Justiça, é correto
afirmar que
a) se Leandro ajuizar ação de indenização em face de Juliana e ela denunciar à lide a seguradora Viva Bem,
esta não poderá ser condenada a pagar diretamente a Leandro sem que Juliana pague antes e, depois, o
seguro faça apenas o ressarcimento.
b) se Leandro ajuizar ação de indenização apenas em face de Juliana, cobrando as despesas do conserto,
ela poderá chamar ao processo a seguradora Viva Bem.
c) Leandro pode ajuizar, direta e exclusivamente, ação judicial em face da seguradora Viva Bem.
d) se Leandro ajuizar ação em face de Juliana, ela poderá denunciar à lide a seguradora Viva Bem, que
poderá ser condenada, de forma direta e solidária, a indenizar Leandro.
e) Leandro não poderá ajuizar ação de indenização contra Juliana e a seguradora Viva Bem em
litisconsórcio passivo.
Comentários
A alternativa correta é a letra D.
Trata-se de hipótese objeto de entendimento sumulado do Superior Tribunal de Justiça, consubstanciado na
Súmula 537, segundo a qual “Em ação de reparação de danos, a seguradora denunciada, se aceitar a
denunciação ou contestar o pedido do autor, pode ser condenada, direta e solidariamente junto com o
segurado, ao pagamento da indenização devida à vítima, nos limites contratados na apólice”.

QUESTÃO 40. Assinale a alternativa que representa o atual entendimento jurisprudencial do Superior
Tribunal de Justiça acerca da interdição.
a) O laudo médico não pode ser dispensado na propositura da ação de interdição.
b) A sentença de interdição possui natureza constitutiva, pois, além de declarar uma incapacidade
preexistente, ela constitui uma nova situação jurídica, de sujeição do interditado à curatela, com efeitos
ex tunc.
c) Os atos do interditado anteriores à interdição devem ser reconhecidos como nulos, decorrendo
automaticamente da sentença de interdição.
d) Nas causas em que a intervenção do Ministério Público é obrigatória, por envolver interesse de incapaz,
é necessária a demonstração de prejuízo para que haja o reconhecimento da nulidade processual.
e) A ordem dos legitimados para ajuizamento da ação de interdição prevista no Código de Processo Civil é
preferencial e deve ser seguida sob pena de nulidade.
Comentários

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A alternativa correta é a letra D.
A alternativa A está incorreta. O Superior Tribunal de Justiça definiu que o laudo médico previsto no artigo
750 do CPC como necessário à propositura da ação de interdição pode ser dispensado se o interditando não
quiser se submeter ao exame. A ministra Nancy Andrighi, relatora do recurso no STJ, que segue em segredo
de Justiça, observou que, embora o artigo 750 do CPC mencione o laudo médico como necessário à
propositura da ação de interdição, esse mesmo dispositivo legal ressalva, expressamente, a possibilidade de
tal documento ser dispensado na hipótese em que for impossível juntá-lo à petição inicial.
A relatora também ressaltou que o laudo precisa apenas fornecer elementos indiciários, que tornem
juridicamente plausível a tese de que estariam presentes os requisitos para a interdição, de modo a viabilizar
o prosseguimento da ação. Ela ponderou que o laudo não substitui a prova pericial a ser produzida em juízo,
de forma que o julgador não deve ser demasiadamente rigoroso diante da alegação de impossibilidade de
apresentá-lo.
A alternativa B está incorreta. Ao julgar o AgInt nos EDcl no REsp 1.834.877, de relatoria do ministro Raul
Araújo, a Quarta Turma reafirmou o entendimento de que a sentença de interdição possui natureza
constitutiva, pois, além de declarar uma incapacidade preexistente, ela constitui uma nova situação jurídica,
de sujeição do interditado à curatela, com efeitos ex nunc.
A alternativa C está incorreta. Ao julgar o AgInt nos EDcl no REsp 1.834.877, a Quarta Turma reafirmou o
entendimento de que os atos do interditado anteriores à interdição até podem ser reconhecidos como nulos,
mas esse não é um efeito automático da sentença de interdição, devendo ser proposta ação específica de
anulação do ato jurídico, na qual precisará ser demonstrado que já havia incapacidade na época de sua
realização.
A alternativa D está correta. Quanto à falta de intimação do MP, o ministro Salomão, relator, no julgamento
do REsp 1.694.984, afirmou que a intervenção do órgão nos processos que envolvem interesse de incapaz
"se justifica na possibilidade de desequilíbrio da relação jurídica e no eventual comprometimento do
contraditório em função da existência da parte vulnerável".
A alternativa E está incorreta. Para a Terceira Turma, a ordem dos legitimados para o ajuizamento da ação
de interdição não é preferencial, e qualquer pessoa que se enquadre no conceito de parente do Código Civil
(CC) é parte legítima para propor esse tipo de ação.

QUESTÃO 41. Em um processo de indenização por danos morais, Maria alega que foi vítima de um acidente
de trânsito causado por Pedro. Na petição inicial, Maria apresenta ao juiz um laudo pericial que comprova
que ela sofreu danos físicos e psicológicos em decorrência do acidente. O laudo pericial apresentado foi
elaborado por um perito judicial nomeado pelo juiz em outro processo, movido por Raquel contra Pedro
também relativo ao engavetamento. Pedro devidamente citado apresenta contestação alegando que a
prova apresentada é inválida, pois foi produzida em outro processo. Diante da situação hipotética, o juiz
deverá decidir que
a) não é possível a utilização da prova emprestada, pois não há identidade de partes.
b) é possível a utilização da prova emprestada, pois basta a identidade do objeto da prova.
c) é possível a utilização de prova produzida em outro processo, mesmo que sem identidade de partes e
de objeto, cabendo ao juiz atribuir à prova o valor que considerar adequado, observado o contraditório.

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108
d) seria possível a utilização da prova emprestada casa os dois processos fossem de competência do
mesmo juiz.
e) para que seja possível a utilização da prova emprestada é necessária a cumulação de três requisitos,
quais sejam: a identidade de partes e de objeto e que a prova emprestada tenha sido produzida na
presença de um juiz natural.
Comentários
A alternativa correta é a letra C, pois, conforme previsão literal do artigo 372 do Código de Processo Civil, “O
juiz poderá admitir a utilização de prova produzida em outro processo, atribuindo-lhe o valor que considerar
adequado, observado o contraditório”.
De acordo com o Enunciado 30, I JDPC do CJF – É admissível a prova emprestada, ainda que não haja
identidade de partes, nos termos do art. 372 do CPC.
Não há exigência de que as provas sejam produzidas no mesmo juízo competente.

QUESTÃO 42. De acordo com a Resolução GPGJ nº 2.227, de 12 de julho de 2018, assinale a alternativa
correta acerca do inquérito civil.
a) Para a instrução do inquérito civil e do procedimento preparatório, o órgão de execução, observados os
permissivos constitucionais e legais, poderá promover inspeções e diligências investigatórias junto às
autoridades, órgãos e entidades relativos ao seu Estado; se relativos a outros Estados, deve ser
providenciada prévia autorização judicial.
b) O inquérito civil é condição de procedibilidade para o ajuizamento das ações a cargo do Ministério
Pública e para a adoção das demais medidas inseridas em sua esfera de atribuição.
c) Para a realização da instrução do inquérito civil, o Presidente poderá, mediante termo de compromisso,
designar servidores, desde que estatutários, efetivos e estáveis, para secretariá-lo.
d) O procedimento preparatório do inquérito civil deverá ser concluído no prazo de 90 (noventa) dias,
prorrogável por igual período, uma única vez, por meio de promoção fundamentada.
e) O inquérito civil deverá ser concluído no prazo de 1 (um) ano, podendo ser prorrogado por uma única
vez desde que demonstrada a necessidade de realização de novas diligências imprescindíveis para a
Comentários
A alternativa correta é a letra D.
A alternativa A está incorreta. Nos termos do artigo 19, II, da Resolução GPGJ n. 2.227/2018: Art. 19 - Para a
instrução do inquérito civil e do procedimento preparatório, o órgão de execução, observados os permissivos
constitucionais e legais, poderá, especialmente: [...] II – requisitar informações, exames periciais e
documentos de autoridades federais, estaduais e municipais, bem como dos órgãos e entidades da
administração direta, indireta ou fundacional, de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios;
A alternativa B está incorreta. Consoante ao artigo 11 da Resolução GPGJ n. 2.227/2018: Art. 11 - O inquérito
civil, de natureza inquisitiva, unilateral e facultativa, destina-se à colheita das provas necessárias à atuação
do Ministério Público, nos termos da legislação de regência. Parágrafo único - O inquérito civil não é condição
de procedibilidade para o ajuizamento das ações a cargo do Ministério Público nem para a adoção das demais
medidas inseridas em sua esfera de atribuição.

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108
A alternativa C está incorreta. Conforme dispõe o artigo 17 da Resolução GPGJ n. 2.227/2018: Art. 17 - O
inquérito civil e o procedimento preparatório serão presididos pelo membro do Ministério Público a quem
for conferida atribuição, nos termos da normatização de regência. § 1º - O Presidente poderá designar
servidor do Ministério Público para secretariá-lo ou, na sua falta, pessoa idônea, que firmará termo de
compromisso.
A alternativa D está correta. Trata-se da literalidade do artigo 16, §2º, da Resolução GPGJ n. 2.227/2018: §
2º - O procedimento preparatório deverá ser concluído no prazo de 90 (noventa) dias, prorrogável por igual
período, uma única vez, por meio de promoção fundamentada.
A alternativa E está incorreta. Nos termos do artigo 25 da Resolução GPGJ n. 2.227/2018: Art. 25 - O inquérito
civil deverá ser concluído no prazo de 1 (um) ano, que poderá ser prorrogado quantas vezes forem
necessárias, a cada decisão que determinar a realização ou conclusão de diligências imprescindíveis para a
investigação

QUESTÃO 43. Acerca da intervenção do Ministério Público na recuperação judicial, é correto afirmar que
a) a intervenção do Ministério Público é obrigatória em ações relevantes, levando-se em consideração o
interesse público.
b) o Ministério Público pode intervir nos processos de recuperação judicial quando a lei expressamente o
autorizar, especificamente, a praticar o ato pretendido
c) a Lei de Falência e Recuperação de Empresas exige a atuação obrigatória do Ministério Público em todas
as ações em que empresas em recuperação judicial
figurem como parte.
d) ao Ministério Público é obrigatório atuar em todas as fases do processo de recuperação judicial,
ressalvada a legitimidade recursal, por se tratar de direitos patrimoniais das partes envolvidas.
e) na recuperação judicial, ao Ministério Público é franqueada a possibilidade de requerer o que entender
de direito.
Comentários
A alternativa correta é a letra E.
A alternativa E está correta. A atuação do Ministério Público é obrigatória em todas as fases do processo de
recuperação judicial, sendo que o texto normativo que resultou na atual Lei de Falência e Recuperação de
Empresas saiu do Congresso Nacional com uma roupagem que exigia do Ministério Público atuação em todas
as fases dos processos de recuperação judicial e de falência. Essas amplas e genéricas hipóteses de
intervenção originalmente previstas foram restringidas pela Presidência da República, mas nem por isso
reduziu-se a importância do papel da instituição na tramitação dessas ações, haja vista ter-se franqueado ao
MP a possibilidade de "requerer o que entender de direito (REsp 1884860/RJ, Rel. Ministra NANCY
ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 20/10/2020, DJe 29/10/2020).
As demais alternativas estão incorretas, conforme o comentário da alternativa E.

QUESTÃO 44. Acerca da alienação fiduciária de coisa imóvel, o regime jurídico especial é formado por um
conjunto de normas extravagantes, dentre as quais a Lei n° 9.514/97, que "Dispõe sobre o Sistema de

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Financiamento Imobiliário, institui a alienação fiduciária de coisa imóvel e dá outras providências". Diante
disso, é correto afirmar
a) a alienação fiduciária de coisa imóvel é negócio juri-dico que poderá ser contratada por pessoa física ou
jurídica, sendo privativa das entidades que operam no Sistema de Financiamento Imobiliário (SFI).
b) o registro, no competente Registro de Imóveis, do contrato que lhe serve de título, tem natureza
constitutiva, sem o qual a propriedade fiduciária e a garantia dela decorrente não se perfazem.
c) com a constituição da propriedade fiduciária a partir do registro, no competente Registro de Imóveis, a
obrigação de arcar com o custo do pagamento do Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana
(IPTU) caberá ao fiduciário.
d) é necessário o registro, no competente Registro de Imóveis, para a constituição da propriedade
fiduciária de coisa imóvel, tomando-se o fiduciante possuidor indireto, e o fiduciário, possuidor direto da
coisa imóvel.
e) o registro se impõe como requisito para fins de publicidade, sendo, portanto, desnecessário o registro
do contrato de alienação fiduciária de coisa imóvel para que sejam constituídas a propriedade fiduciária e
a respectiva garantia.
Comentários
A alternativa correta é a letra B.
A alternativa B está correta, nos termos do art. 23 da Lei 9.514/97, a saber: Constitui-se a propriedade
fiduciária de coisa imóvel mediante registro, no competente Registro de Imóveis, do contrato que lhe serve
de título.
Ainda, cumpre esclarecer que alienação fiduciária poderá ser contratada por pessoa física ou jurídica, não
sendo privativa das entidades que operam no SFI, podendo ter como objeto, além da propriedade plena,
conforme o art. 22, §1º.
As demais alternativas estão incorretas, de acordo com o cometário da alternativa B.

QUESTÃO 45. Uma vez decretada a falência da sociedade empresária


limitada, é correto afirmar que
a) na classificação dos créditos na falência, os créditos e multas tributárias têm à sua frente os créditos
derivados da legislação trabalhista, limitados a 150 (cento e cinquenta) salários-mínimos por credor, e
aqueles decorrentes de acidente do trabalho e os créditos gravados com direito real de garantia, até o
limite do bem gravado.
b) implica a extinção da personalidade jurídica da sociedade empresária falida, operando a extensão da
falência ou de seus efeitos, no todo ou em parte, aos sócios de responsabilidade limitada, aos
controladores e aos administradores da sociedade falida.
c) a massa falida, que detém personalidade jurídica e judiciária, sucede a empresa em todos os seus
direitos e obrigações.
d) a mera decretação da quebra não implica a extinção da personalidade jurídica da sociedade empresária,
sendo admitida a desconsideração da personalidade jurídica da sociedade falida, com a observância do
art. 50 do Código Civil.

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e) implica a desconsideração da personalidade jurídica da sociedade falida, que será decretada pelo juízo
falimentar, acarretando a falência dos sócios, que ficam sujeitos aos mesmos efeitos jurídicos produzidos
em relação à sociedade falida.
Comentários
A alternativa correta é a letra D.
A alternativa D está correta, encontrando seu fundamento no art. 82-A da Lei 11.101/2005, em que prevê o
seguinte: " É vedada a extensão da falência ou de seus efeitos, no todo ou em parte, aos sócios de
responsabilidade limitada, aos controladores e aos administradores da sociedade falida, admitida, contudo,
a desconsideração da personalidade jurídica. (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)”.
Ainda, cumpre esclarecer que, na forma dos precedentes deste Superior Tribunal de Justiça, "a mera
decretação da quebra não implica extinção da personalidade jurídica do estabelecimento empresarial.
Ademais, a massa falida tem exclusivamente personalidade judiciária, sucedendo a empresa em todos os
seus direitos e obrigações. Em consequência, o ajuizamento contra a pessoa jurídica, nessas condições,
constitui mera irregularidade, sanável nos termos do art. 284 do CPC e do art. 2º, § 8º, da Lei 6.830/1980"
(REsp 1.192.210/RJ, Rel. Min. Herman Benjamin, Segunda Turma, DJe 4/2/2011).

QUESTÃO 46. Emitida a duplicata sem a correlata causa debendi e desprovida de aceite, com transmissão
por endosso translativo à instituição Financeira que, diante da falta de paga-mento, efetua o protesto e
inscreve o nome do sacado nos órgãos de proteção ao crédito, mesmo inexistindo contrato de venda
mercantil ou de prestação de serviços. Ocorrendo essa situação fática, é correto afirmar que
a) o endosso translativo tem o condão de desvincular a relação jurídica subjacente, e a duplicata deixa de
ser um título de crédito causal, via de consequência, a Instituição Financeira não pode ser
responsabilizada.
b) o endossatário que recebe, por endosso translativo, título de crédito contendo vício formal, sendo
inexistente a causa para conferir lastro à emissão de duplicata, não responde pelos danos causados diante
do protesto indevido, pois a responsabilidade é exclusiva do emitente da cártula.
c) a duplicata sem aceite, desde que devidamente protestada, afasta a subordinação da duplicata à relação
jurídica, sob pena de infringir os principios dos títulos de crédito (cartularidade, literalidade, autonomia,
abstração e independência).
d) não se admite a desvinculação dos títulos de crédito causais da relação jurídica subjacente, ante a
mitigação da teoria da abstração, sendo reconhecida a responsabilização civil da endossatária, que
apresenta a protesto duplicatas mercantis desprovidas de aceite e de causa debendi.
e) a inexistência de lastro à emissão da duplicata constitui vício de natureza formal para a emissão do
título, convolando-se com os endossos sucessivos, o que toma legítimo o protesto da duplicata.
Comentários
A alternativa correta é a letra D.
A questão aborda sobre a responsabilidade decorrentes de protesto indevido. A questão exigia do
examinando, além dos conhecimentos teóricos da matéria, o conhecimento da Súmula 475 do STJ.
A alternativa D está correta. A questão encontra seu fundamento Súmula 475 do STJ, em que fixa a seguinte
tese: "Responde pelos danos decorrentes de protesto indevido o endossatário que recebe por endosso

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translativo título de crédito contendo vício formal extrínseco ou intrínseco, ficando ressalvado seu direito de
regresso contra os endossantes e avalistas."
As demais alternativas estão incorretas, conforme comentário da alternativa D.

QUESTÃO 47. Acerca da controvérsia existente em relação ao cheque pagável a vista e o cheque pós-
datado (ou pré-datado), é correto afirmar o seguinte entendimento consolidado pelo Superior Tribunal de
Justiça:
a) O cheque admite aceite, e o emitente (devedor principal) garante o pagamento, considerando-se não
escrita qualquer disposição em contrário.
b) O cheque é ordem de pagamento à vista a terceiro, em razão da existência de fundos do emitente na
instituição financeira sacada, vedado à Instituição Financeira sacada promover o pagamento antes do dia
indicado como data de emissão.
c) O prazo prescricional de 6 (seis) meses para o exercício da pretensão à execução do cheque pelo
respectivo portador é contado do encerramento do prazo de apresentação, respeitando-se, no caso de
cheque pós-datado, a data pactuada com o emitente, independentemente da sua apresentação à
Instituição Financeira sacada.
d) Não se desconhece a existência do costume relativo à emissão de cheque pós-datado, assim, é eficaz a
pactuação extracartular, operando os efeitos almejados pelo emitente, no tocante à dilação do prazo de
apresentação da cártula.
e) A pactuação da pós-datação de cheque, para que seja hábil a ampliar o prazo de apresentação à
Instituição Financeira sacada, deve espelhar a data de emissão estampada no campo específico da cártula,
sendo possível, no prazo para a execução cambial, o protesto cambiário com a indicação do emitente do
cheque como devedor.
Comentários
A alternativa correta é a letra E.
A alternativa E está correta, encontrando seu fundamento no tema 945 de Recursos Repetitivos do STJ. A
tese firmada prevê o seguinte: "A pactuação da pós-datação de cheque, para que seja hábil a ampliar o prazo
de apresentação à instituição financeira sacada, deve espelhar a data de emissão estampada no campo
específico da cártula, em que sempre será possível, no prazo para a execução cambial, o protesto cambiário
de cheque, com a indicação do emitente como devedor.
As demais alternativas estão incorretas, consoante o comentário da alternativa E.

QUESTÃO 48. A respeito do poder constituinte, assinale a alternativa correta.


a) A teoria política norte-americana também adotou a distinção entre o poder constituinte e o poder
constituído, embora com outra terminologia, bem como se valeu dessa distinção para desenvolver um
arranjo institucional capaz de afirmar a supremacia da constituição não apenas no plano político, mas
também jurídico.
b) De acordo com as concepções positivistas da Ciência do Direito, as normas constitucionais podem ter o
seu conteúdo justificado materialmente e tem como foco principal a organização dos poderes políticos e
a positivação das liberdades fundamentais.

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108
c) A ideia de poder constituinte decorre da teoria constitucional francesa, norte-americana e inglesa,
estando atrelada à noção de Estado Liberal e da necessidade de instituição de uma constituição como
instrumento institucional de garantia da liberdade.
d) O conceito de poder constituinte é tratado tradicionalmente na obra de Emmanuel Sieyès, para quem
o primeiro Estado deveria indicar representantes responsáveis por elaborar a Constituição e atuar para
abolir os privilégios, que feririam a igualdade e a liberdade dos direitos.
e) O estudo da teoria do poder constituinte deve ser realizado com base na dogmática jurídica, sendo essa
suficiente para esclarecer suas características, possíveis limites e condicionamentos
Comentários
A alternativa correta é a letra A. A questão tratou sobre poder constituinte.
No julgamento do caso Marbury vs Madinson (doutrina Marshall) se forma a ideia no constitucionalismo
norte-americano no que tange a supremacia da Constituição e possibilidade de controle pelo Poder Judiciário
eventuais atos em desacordo com a Constituição. Neste contexto, a ideia de poder constituído (instituído),
isto é, os poderes criados pela Constituição e poder constituinte (força criadora e soberana, titularizada pelo
povo) possibilita a garantia da estabilidade política e jurídica ao possibilitar a invalidação de normas pelo
Poder Judiciário – no caso, pelas via difusa (concreta) -, contrárias ao texto constitucional.
A alternativa B está incorreta, pois na concepção positivista não fazer sentido um conteúdo sendo justificado
em uma norma. A própria norma estaria justificada simplesmente por ser norma jurídica, dispensando
justificação material.
A alternativa C está incorreta, pois não necessariamente a ideia de poder constituinte decorre da teoria
constitucional francesa, norte-americana e inglesa, tendo em vista que existem outras manifestações do
constitucionalismo na antiguidade, a exemplo do constitucionalismo hebreu.
A alternativa D está incorreta, pois embora o abade Emmanuel-Joseph Sieyès tenha sido o primeiro a
idealizar uma teoria de poder constituinte, em sua obra “O que é o Terceiro Estado?” (e não o primeiro
Estado), e em sua concepção, poder constituinte é o responsável pela formação do Estado e poder
constituído é aquele que criado pelo constituinte busca a atualização da Carta Constitucional.
A alternativa E está incorreta, pois é na zetética (e não da dogmática) jurídica que o estudo do poder
constituinte se funda.

QUESTÃO 49. A respeito dos direitos fundamentais, com base na jurisprudência do Supremo Tribunal
Federal, assinale a alternativa correta.
a) A criação de cadastro estadual de usuários de drogas e dependentes químicos é constitucional, pois a
seletividade social do cadastro está fundada na proteção do usuário, sendo compatível o princípio da
igualdade material e da dignidade da pessoa humana.
b) A invocação da legítima defesa da honra não pode ser suscitada em processos sujeitos ao rito do
Tribunal do Juri, pois a plenitude da defesa (CF/1988, art. 5°, XXXVII) não autoriza a invocação de
argumentos extrajurídicos.
c) Dada a proteção constitucional conferida ao direito à vida, à saúde e à boa-fé, o segurado de plano de
saúde está isento de devolver produtos e serviços prestados em virtude de provimento jurisdicional para

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108
custear direitos fundamentais de natureza essencial, salvo se, à época do provimento, o medicamento ou
serviço não possuíssem o respectivo registro nos órgãos competentes.
d) A segregação de presos provisórios com apoio no grau de instrução acadêmica contribui para a
perpetuação de uma inaceitável seletividade socioeconômica do sistema de justiça criminal, sendo
incompatível com o princípio da igualdade e com o Estado democrático de Direito.
e) A instituição de plano nacional de segurança pública sem indicadores de acompanhamento de mortes
causadas por agentes de segurança pública não ofende, prima facie, o art. 5º, da CF.
Comentários
A alternativa correta é a letra D, sendo que a questão tratou sobre direitos fundamentais, conforme a
jurisprudência do STF.
Conforme decisão do STF na ADPF n.º 334: “[...] 4. Não há amparo constitucional, contudo, para a segregação
de presos provisórios com apoio no grau de instrução acadêmica, tratando-se de mera qualificação de ordem
estritamente pessoal que contribui para a perpetuação de uma inaceitável seletividade socioeconômica do
sistema de justiça criminal, incompatível com o princípio da igualdade e com o Estado democrático de
Direito. 5. Ausente qualquer justificativa que empregue sentido válido ao fator de discrímen indicado na
norma impugnada, a conclusão é a de que a prisão especial, em relação aos portadores de diploma de nível
superior, é inconciliável com o preceito fundamental da isonomia (art. 3º, IV, e art. 5º, caput, CF). [...]” (ADPF
n.º 334/DF, Rel. Min. Alexandre de Moares, julgado em 3/4/2023).
A alternativa A está incorreta, pois conforme o STF decidiu na ADI n.º 6.561, a instituição de tal cadastro é
inconstitucional: “[...] 1. A norma é formalmente inconstitucional, uma vez que, ao criar o Cadastro Estadual
de Usuários e Dependentes de Drogas (art. 1º) no âmbito da Secretaria Estadual de Segurança Pública com
informações concernentes ao registro de ocorrência policial (§1º), inclusive sobre reincidência (§4º), invade
competência privativa da União para legislar sobre matéria penal e processual penal (CRFB, art. 22, I). 2.
Ademais, o exercício da competência concorrente em matéria de direito sanitário (CRFB, art. 24, XII), no
federalismo cooperativo, deve maximizar direitos fundamentais e não pode ir de encontro à norma federal.
No caso, nos termos da Lei federal n. 11.343/2006, a sistematização de informações é competência da União
(art. 8º-A, XII). 3. Materialmente, também há inconstitucionalidade. A seletividade social do cadastro é
incompatível com o Estado de Direito e os direitos fundamentais que a Constituição de 1988 protege,
especialmente, a igualdade (CRFB, art. 5º, caput ), a dignidade da pessoa humana (CRFB, art. 1º, III), o direito
à intimidade e à vida privada (CRFB, art. 5º, X) e o devido processo legal (CRFB, art. 5º, LIV). Inexistência
tampouco de protocolo claro de proteção e tratamento desses dados [...]”. (ADI n.º 6.561, Rel. Min. Edson
Fachin, julgado em 4/9/2023).
A alternativa B está incorreta, pois os argumentos extrajurídicos (ex: clemência) são sim admitidos no júri.
No caso da legítima defesa da honra no júri, seu uso é rechaçado por, nos termos do que o STF entendeu na
ADPF n.º 779: “[...] contrariar os princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana (art. 1º, inciso III,
da CF), da proteção da vida e da igualdade de gênero (art. 5º, caput, da CF); (ii) conferir interpretação
conforme à Constituição ao art. 23, inciso II, ao art. 25, caput e parágrafo único, do Código Penal e ao art. 65
do Código de Processo Penal, de modo a excluir a legítima defesa da honra do âmbito do instituto da legítima
defesa [...]”.(ADPF n.º 779, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 1/8/2023).
A alternativa C está incorreta, pois a alternativa está em desacordo com o entendimento da 2ª Turma do
STF: “Dada a proteção constitucional conferida ao direito à vida, à saúde e à boa-fé, o segurado de plano de
saúde está isento de devolver produtos e serviços prestados em virtude de provimento jurisdicional para
custear direitos fundamentais de natureza essencial, ainda que, à época do provimento, o medicamento ou

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108
serviço não possuíssem o respectivo registro nos órgãos competentes”. (RE n.º 1.319.935 AgR ED/SP, 2ª
Turma, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 19/9/2023, Informativo n.º 1.109)
A alternativa E está incorreta, pois nos termos do que o STF decidiu na ADI n.º 7.013/DF: “A ausência de
disciplina objetiva e expressa dos objetivos, metas, programas e indicadores para acompanhamento de
feminicídios e mortes decorrentes da intervenção de agentes de segurança pública no Plano Nacional de
Segurança Pública e Defesa Social II (PNSP II - Decreto 10.822/2021) configura retrocesso social em matéria
de direitos fundamentais e proteção deficiente dos direitos à vida e à segurança pública (arts. 5º, caput; e
144, CF/88)”. (ADI n.º 7.013/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 1/7/2023, Informativo n.º 1.102).

QUESTÃO 50. Considere que o Poder Legislativo do Estado X aprovou lei que veda a inscrição de usuário
dos serviços de abastecimento de água e de esgotamento sanitário em cadastro de proteção ao crédito
quando inadimplente, sob a justificativa de que os serviços, ainda quando concedidos a inciativa privada,
permanecem sendo serviços públicos e, nessa condição, devem ter os seus termos regulados pelo ente
político dotado da competência constitucional para prestá-los. A mesma lei também obriga empresas
prestadoras do serviço de televisão por assinatura – e que já possuam Serviço de Atendimento ao
Consumidor – a fornecerem atendimento telefônico gratuito a seus clientes. A proposição legislativa foi
sancionada pelo Governador do Estado. Inconformadas, entidades representativas dos respectivos
segmentos econômicos pediram a realização de uma reunião com representantes do Ministério Público,
por entenderem que as duas normas teriam impacto no custo do serviço e consequentemente seriam
prejudiciais ao consumidor. O membro do Ministério Público presente na reunião poderá informar, com
base na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, que
a) as duas normas são constitucionais, pois compete ao Estado-Membro legislar sobre relações de
consumo nas partes em que prevalecem interesses locais e sem impacto para além de suas fronteiras.
b) a norma que institui o dever de empresas fornecerem atendimento telefônico gratuito a clientes é
inconstitucional, por ofender o princípio da livre iniciativa, bem como por competir à União legislar sobre
o direito civil.
c) a norma que institui o dever de empresas fornecerem atendimento telefônico gratuito a clientes é
constitucional, pois, sob o viés do fortalecimento do federalismo centrífugo, não fere o modelo de
repartição constitucional de competências a legislação estadual supletiva que amplie a esfera protetiva do
consumidor.
d) a norma que proíbe a inscrição dos consumidores em cadastros restritivos de crédito é constitucional,
pois o fato de o Código de Defesa do Consumidor só impedir que sejam inscritas em cadastros restritivos
dívidas prescritas ou informações referentes a período de cinco anos não obsta o Estado de ampliar a
esfera de proteção dos consumidores.
e) a norma que proíbe a inscrição dos consumidores no cadastro restritivo de consumidores é
constitucional, pois compete a cada ente federativo regular o serviço público de sua titularidade, não se
aplicando a esse tipo de relação jurídica as normas previstas na legislação consumerista.
Comentários
A alternativa correta é a letra C, de modo que a questão tratou sobre competências legislativas previstas na
CF conforme a jurisprudência do STF.
A letra C está correta, pois a segunda lei é constitucional, conforme o entendimento do STF adotado na ADI
n.º 4.118/RJ: “É válida lei estadual que obrigue empresas prestadoras de serviços de televisão por assinatura

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108
e estabelecimentos comerciais de vendas no varejo e no atacado — que já possuam Serviço de Atendimento
ao Consumidor (SAC) — a fornecerem atendimento telefônico gratuito a seus clientes”. (ADI n.º 4.118/RJ,
Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 25/2/2022, Informativo n.º 1.045).
A alternativa A está incorreta, pois embora a segunda lei seja constitucional (ver o comentário da alternativa
anterior), a primeira lei é inconstitucional, conforme entendimento do STF na ADI n.º 6.668/MG: “É
inconstitucional lei estadual que vede a inscrição em cadastro de proteção ao crédito de usuário
inadimplente dos serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário”. (ADI n.º 6.668/MG, Rel. Min.
Gilmar Mendes, julgado em 11/2/2022, Informativo n.º 1043).
A alternativa B está incorreta, pois a segunda norma é constitucional, conforme comentários à alternativa C.
As alternativas D e E estão incorretas, pois a primeira norma é inconstitucional, conforme comentários à
alternativa A.

QUESTÃO. 51. A respeito dos papeis das supremas cortes e dos tribunais constitucionais nas democracias
contemporâneas, é correto afirmar que
a) a legitimidade democrática da jurisdição constitucional está assentada também na proteção dos direitos
fundamentais, que correspondem à reserva de justiça de uma comunidade política e que somente pode
ser suprimida por decisão política da maioria.
b) em países dotados de constituições analíticas, o papel da jurisdição constitucional não se resume à
declaração de inconstitucionalidade de uma lei, como acontece normalmente no judicial review, pois
envolve também a criação de norma temporária para suprir inconstitucionalidades por omissão.
c) o papel contramajoritário exercido pelas supremas cortes e tribunais constitucionais é incompatível com
o princípio democrático, pois este pressupõe que o exercício do poder seja precedido de legitimação
popular.
d) o papel iluminista deve ser exercido de maneira corrente pelas supremas cortes, pois cabe a elas
promover avanços imprescindíveis para a sociedade em nome da razão e da vontade majoritária da
sociedade.
e) as supremas cortes não são providas de um papel representativo, pois a democracia contemporânea é
formada a partir de votos, direitos e razões.
Comentários
A alternativa correta é a letra B. A questão tratou sobre o papel da jurisdição constitucional nas democracias
contemporâneas.
O exemplo claro da afirmação contida na letra B é a tradição constitucional brasileira, em que além realizar
o filtro de constitucionalidade das normas, seja pela via difusa ou concentrada, cria soluções temporárias a
fim de suprir omissões do Poder Legislativo, como, por exemplo, na solução dada para viabilizar o direito de
greve dos servidores públicos (uso da norma destinada aos trabalhadores da iniciativa privada até a edição
de norma pelo Congresso Nacional) e na criminalização da homofobia e da transfobia (aplicação da Lei n.º
7.716/1989 até a edição de norma pelo Congresso Nacional para a proteção dos grupos vulneráveis).
A alternativa A está incorreta, pois nem mesmo a decisão política da maioria poderá suprimir a proteção aos
direitos fundamentais das minorias, aliás, é neste contexto que o papel contramajoritário da jurisdição
constitucional se faz necessário.

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108
A alternativa C está incorreta, pois o exercício do papel contramajoritário é justamente o que garante a
higidez do sistema democrático, “protegendo-o de si mesmo”. Em outras palavras, o professor Lênio Streck
compara o papel contramajoritário exercido pelo Judiciário como “as correntes que amarram Ulisses ao
barco, evitando que ele se atire ao mar ao ouvir os cantos das sereias e por elas seja devorado”. As sereias
seriam as “vozes das maiorias”. Já as correntes seriam o texto constitucional, que evitaria que o “timoneiro
colocasse tudo a perder”.
A alternativa D está incorreta, pois é justamente o papel de contenção do ímpeto das maiorias que o Poder
Judiciário deve desempenhar nas democracias contemporâneas.
A alternativa E está incorreta, pois a exemplo do Brasil, embora não sejam eleitos, os membros da Suprema
Corte são escolhidos pelo executivo e aprovados (ou não) pelo Poder Legislativo, portanto, dois poderes com
membros eleitos, daí porque há sim um papel representativo.

QUESTÃO 52. A respeito dos princípios constitucionais sensíveis, é correto afirmar que
a) correspondem a regras de organização da União, que se estendem obrigatoriamente aos Estados-
membros.
b) são normas constitucionais que não se estendem aos Estados-membro, podendo ser apontadas como
exemplo as regras que conferem ao Presidente da República a iniciativa privativa para propor
determinados projetos de lei.
c) são normas que possuem geralmente natureza institucional e definem antecipadamente a organização
dos Poderes e das instituições dos Estados-membros.
d) estão previstos de forma exemplificativa na Constituição Federal.
e) caso violados, autorizam a realização de intervenção federal.
Comentários
A alternativa correta é a letra E, de modo que a questão tratou sobre os princípios constitucionais sensíveis,
previstos no art. 34, VI, da CF: “Art. 34. A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exceto
para: [...] VII - assegurar a observância dos seguintes princípios constitucionais: a) forma republicana, sistema
representativo e regime democrático; b) direitos da pessoa humana; c) autonomia municipal; d) prestação
de contas da administração pública, direta e indireta. e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante
de impostos estaduais, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento
do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde.(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 29, de
2000)”.
Conforme se depreende do dispositivo, a violação dos princípios constitucionais sensíveis autoriza a
intervenção federal.
Assim, as alternativas A, B, C e D estão incorretas.

QUESTÃO 53. A respeito do Poder Judiciária, com base na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal,
assinale a alternativa correta.
a) Compete à Justiça Federal julgar causas entre consumidor e concessionária de serviço público de
telefonia, ainda que a Anatel [Agência Nacional de Telecomunicação] não seja litisconsorte passiva
necessária, assistente nem opoente.

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b) Compete à Justiça do Trabalho o julgamento de processos envolvendo relação jurídica entre
representante e representada comerciais, uma vez que a sua competência também abarca as relações de
trabalho e não apenas as de emprego.
c) Compete à Justiça comum processar e julgar causas sobre complementação de aposentadoria instituída
por lei cujo pagamento seja, originariamente ou por sucessão, da responsabilidade da Administração
Pública direta ou indireta, por derivar essa responsabilidade de relação jurídico-administrativa.
d) A competência constitucional do tribunal do júri não prevalece sobre o foro por prerrogativa de função
estabelecido exclusivamente pela Constituição estadual.
e) É da Justiça Federal a competência para processar e julgar o crime de incitação à discriminação racial
por meio da internet cometido contra pessoas determinadas, pois se presume que o resultado ultrapassa
as fronteiras territoriais brasileiras.
Comentários
A alternativa correta é a letra C. A questão tratou sobre competência processual, conforme a jurisprudência
do STF.
A alternativa correta está de acordo com o tema de repercussão geral n.º 1.092 do STF: “Competência para
processar e julgar demandas sobre complementação de aposentadoria instituída por lei, cuja
responsabilidade pelo pagamento recaia diretamente sobre a Administração Pública direta ou indireta”.
A alternativa A está incorreta, pois nos termos da Súmula Vinculante n.º 27, a competência é da Justiça
Estadual (e não Federal): “Súmula Vinculante n.º 27: Compete à Justiça Estadual julgar causas entre
consumidor e concessionária de serviço público de telefonia, quando a ANATEL não seja litisconsorte passiva
necessária, assistente, nem opoente”.
A alternativa B está incorreta, pois a competência é da Justiça Estadual, conforme o tema de repercussão
geral n.º 500 do STF: “Preenchidos os requisitos dispostos na Lei 4.886/65, compete à Justiça Comum o
julgamento de processos envolvendo relação jurídica entre representante e representada comerciais, uma
vez que não há relação de trabalho entre as partes”.
A alternativa D está incorreta, pois a competência constitucional do Tribunal do Júri prevalece, nos termos
da Súmula Vinculante n.º 45: “Súmula Vinculante: 45 A competência constitucional do Tribunal do Júri
prevalece sobre o foro por prerrogativa de função estabelecido exclusivamente pela Constituição Estadual”.
A alternativa E está incorreta, pois a 1ª Turma do STF, no HC n.º 121.283/DF, decidiu que a competência é
da Justiça Estadual: “Compete à justiça Estadual processar e julgar crime de incitação à discriminação
cometido via internet, quando praticado contra pessoas determinadas e que não tenha ultrapassado as
fronteiras territoriais brasileiras”. (HC n.º 121.283/DF, 1ª Turma, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em
29/4/2014, Informativo n.º 744).

QUESTÃO 54. A respeito da Ordem Social, com base na Constituição Federal, assinale a alternativa correta.
a) A Ordem Social tem como base o primado do trabalho, e como objetivo o bem-estar e a justiça sociais.
b) Os Estados e o Distrito Federal devem vincular parcela de sua receita orçamentária a entidades públicas
de fomento ao ensino e à pesquisa científica e tecnológica, cabendo ao Ministério Público fiscalizar o
cumprimento da norma.
c) O Poder Judiciário não admitirá ações relativas à disciplina e às competições desportivas.

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d) Os recursos públicos serão destinados às escolas públicas, ficando proibido que sejam dirigidos a
entidades privadas, ainda que confessionais ou filantrópicas.
e) Compete ao Poder Público recensear os educandos no ensino fundamental e médio, fazer-lhes a
chamada e zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela frequência à escola.
Comentários
A alternativa correta é a letra A. A questão tratou sobre a ordem social.
A alternativa correta está de acordo com a literalidade do art. 193 da CF: “Art. 193. A ordem social tem como
base o primado do trabalho, e como objetivo o bem-estar e a justiça sociais”.
A alternativa B está incorreta, pois se trata de uma faculdade dos entes (e não uma obrigação), conforme
dispõe o art. 218, § 5º, da CF: “Art. 218 [...] § 5º É facultado aos Estados e ao Distrito Federal vincular parcela
de sua receita orçamentária a entidades públicas de fomento ao ensino e à pesquisa científica e tecnológica”.
A alternativa C está incorreta, pois o Poder Judiciário poderá sim intervir, conforme art. 217, § 1º, da CF:
“Art. 217 [...] § 1º O Poder Judiciário só admitirá ações relativas à disciplina e às competições desportivas
após esgotarem-se as instâncias da justiça desportiva, regulada em lei”.
A alternativa D está incorreta, pois os recursos podem ser destinados a instituições privadas, confessionais
ou filantrópicas, nos termos do art. 213 da CF: “Art. 213. Os recursos públicos serão destinados às escolas
públicas, podendo ser dirigidos a escolas comunitárias, confessionais ou filantrópicas, definidas em lei, que:
I - comprovem finalidade não-lucrativa e apliquem seus excedentes financeiros em educação; II - assegurem
a destinação de seu patrimônio a outra escola comunitária, filantrópica ou confessional, ou ao Poder Público,
no caso de encerramento de suas atividades”.
A alternativa E está incorreta, pois a CF (art. 208, § 3º) não dispõe sobre o ensino médio (apenas o
fundamental): “Art. 208 [...] § 3º Compete ao Poder Público recensear os educandos no ensino fundamental,
fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela frequência à escola”.

QUESTÃO 55. Considere que o Contribuinte X, propôs, no ano de 2002 ação declaratória de inexistência
de relação jurídico-tributária da cobrança de ISSQN, por entender que a atividade por ele desempenhada
não representava uma obrigação de fazer e, portanto, não se sujeitava à exigência do tributo, ainda que
prevista em item de lei complementar nacional. O processo transitou em julgado em 2008 com decisão
favorável ao contribuinte.
A decisão conflitava ao tempo com decisões proferidas pelo Plenário do STF, que em sede de controle
incidental de constitucionalidade, já havia se pronunciado pela validade da cobrança.
Em 2011, o Supremo Tribunal Federal, em sede de controle concentrado de constitucionalidade,
reconheceu a validade da cobrança, dado que a competência municipal não precisa ser precedida de uma
obrigação de fazer, mas sim do fornecimento de uma utilidade remunerada em favor do tomador de
serviço e que esteja prevista em lei complementar nacional.
O Município X autuou a empresa em 2010, exigindo o pagamento dos créditos tributários não atingidos
pela decadência – 2005/2009 –, pois a coisa julgada não deveria prevalecer nessa situação, bem como por
ter as decisões, proferidas em controle abstrato de constitucionalidade, eficácia retroativa.
Com base na situação hipotética e na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, é correto afirmar que

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108
a) a decisão proferida em controle abstrato pelo STF tem eficácia normativa e a capacidade de autorizar a
sustação imediata dos efeitos da decisão proferida na ação individual, sendo necessários, no caso, a
garantia da irretroatividade da cobrança e o respeito aos princípios constitucionais tributários.
b) a decisão com trânsito em julgado somente poderia ser desconstituída por meio da propositura de ação
rescisória, pois a coisa julgada é um direito fundamental que densifica o princípio da segurança jurídica.
c) as decisões plenárias do STF, por si só, eram suficientes para desconstituir os efeitos da coisa julgada
material, por ser a Corte dotada da atribuição institucional de garantir a unidade da Constituição.
d) as decisões proferidas em sede de controle difuso somente teriam efeitos sobre a coisa julgada se
proferidas já no regime da repercussão geral, hipótese em que poderia ter eficácia retroativa apta a
autorizar a cobrança, dos créditos não atingidos pela decadência e a impedir a própria formação da coisa
julgada em favor da empresa.
e) a decisão proferida pelo STF em sede de controle abstrato constitucionalidade suspende imediatamente
os efeitos da sentença que transitou em julgado sendo desnecessário, nesse caso, o respeito aos princípios
da anterioridade anual e nonagesimal, por ser desprovida a decisão de eficácia normativa.
Comentários
A alternativa correta é a letra A.
A questão tratou sobre o controle de constitucionalidade e coisa julgada, conforme decisão casuística do STF
no tema n.º 885 de repercussão geral: “1. As decisões do STF em controle incidental de constitucionalidade,
anteriores à instituição do regime de repercussão geral, não impactam automaticamente a coisa julgada que
se tenha formado, mesmo nas relações jurídicas tributárias de trato sucessivo. 2. Já as decisões proferidas
em ação direta ou em sede de repercussão geral interrompem automaticamente os efeitos temporais das
decisões transitadas em julgado nas referidas relações, respeitadas a irretroatividade, a anterioridade anual
e a noventena ou a anterioridade nonagesimal, conforme a natureza do tributo”.
Assim, as alternativas B, C, D e E estão incorretas.

QUESTÃO 56. A respeito da interpretação constitucional, assinale a alternativa correta.


a) Os conceitos jurídicos constitucionais indeterminados não se confundem com os princípios jurídicos
constitucionais e não cabe ao Supremo Tribunal Federal interpretar os seus temos para definir o seu campo
de incidência, por se tratar de tarefa reservada aos Poderes Executivo e Legislativo.
b) A concepção de princípios próprios para a interpretação constitucional não toma irrelevante elementos
tradicionais da hermenêutica – gramatical, sistemático, teleológico ou histórico –, mas visa superar as
limitações da interpretação jurídica tradicional, concebida sobretudo em função da legislação
infraconstitucional.
c) A cultura jurídica pós-positivista, embora produza impacto na teoria da interpretação constitucional,
não autoriza o intérprete a conceber que a solução dos problemas jurídicos não se encontram
integralmente na norma jurídica e que ao intérprete cabe se valer de outros domínios de conhecimento,
como a economia, a moral e a filosofia.
d) A interpretação constitucional contemporânea dá ênfase à norma jurídica, que deve ser interpretada e
aplicada ao caso concreto, pois nela está contida a prescrição que regerá o caso. O intérprete, por sua vez,
desempenha a função de descrever o campo de aplicação da norma, de forma objetiva e neutra.

60
108
e) A teoria da interpretação constitucional moderna não nega a crença de que as normas jurídicas
constitucionais possuem um sentido único, objetivo e válido para todos os cenários em que possam incidir.
Comentários
A alternativa correta é a letra B. A questão tratou sobre interpretação constitucional.
A alternativa correta traduz exatamente a ideia por trás dos princípios da hermenêutica constitucional
(unidade da constituição, concordância prática ou harmonização, máxima efetividade, eficiência ou
interpretação efetiva, justeza ou correção funcional, ou conformidade funcional, ou exatidão funcional e
efeito integrador), que visam justamente superar as limitações dos vetores tradicionais de interpretação das
normas jurídicas, frente à complexidade que as questões constitucionais tendem a tomar nas democracias
contemporâneas.
A alternativa A está incorreta, pois interpretar os princípios jurídicos constitucionais é justamente uma das
funções precípuas do STF.
A alternativa C está incorreta, pois o paradigma pós-positivista reconhece a impossibilidade de a norma
jurídica prever abstratamente todas as situações possíveis no mundo fático, assim, com o uso de cláusulas
legais e conceitos jurídicos indeterminados, propõe a distinção entre texto e norma, em superação à
literalidade dos textos, atribuindo ao intérprete da norma o poder de criar soluções concretas para situações
não previstos em norma jurídica.
A alternativa D está incorreta, pois adotando a concepção de Alexy, que distingue regras e princípios
enquanto espécies de norma, não é correto afirmar que na norma está contida a prescrição que regerá o
caso, pois nem sempre a norma-regra conterá a solução para o caso, devendo o intérprete recorrer às
normas-princípio.
A alternativa E está incorreta, pois, pelo contrário, as normas constitucionais podem ter mais de um sentido,
o que deve ser resolvido através do uso dos princípios hermenêuticos constitucionais (unidade da
constituição e concordância prática ou harmonização).

QUESTÃO 57. Considere que o Poder Executivo lançou edital para a constituição de um fundo de
investimento imobiliário, que tem como objetivo dinamizar a gestão do patrimônio imobiliário público de
determinada região da cidade, fomentando o seu desenvolvimento. Para viabilizar esse projeto, o edital
prevê a contratação de duas empresas, que serão responsáveis pela gestão e pela administração do fundo.
Dentre as atribuições dessas empresas estão a curadoria do patrimônio incorporado ao fundo e a
elaboração de relatórios, que devem ser submetidos a um comité de investimento, integrado por agentes
públicos e responsável por validar as decisões da gestora e da administradora.
Após o recebimento de representação formulada por Deputado Estadual impugnando o Edital, um dos
Conselheiros do Tribunal de Contas, por decisão monocrática, suspendeu a licitação. Interposto agravo
regimental pela Procuradoria do Estado, o Órgão Pleno do Tribunal de Contas deliberou pala continuidade
da licitação.
Ao fim do processo, a Corte entendeu que o edital e a minuta de contrato continham vícios, que
consistiriam basicamente na impossibilidade de a Administração Pública não adotar modelo de
contratação taxativamente previsto em lei, bem como na impossibilidade de o fundo de investimento se
valer de instrumentos de gestão apenas aplicados por empresas privadas, razão pela qual decidiu pela
imediata anulação do contrato administrativo.

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Com base na situação hipotética, a respeito das atribuições dos Tribunais de Contas, é correto afirmar que
a) a representação foi recebida de maneira correta, pois o Tribunal de Contas também é considerado um
importante instrumento do controle social da Administração pela sociedade. Em função da relação da ação
da instituição com a democracia participativa, o Supremo Tribunal Federal por decisões de seu Plenário
tem reconhecido o poder do Tribunal de Contas de suspender licitações e contratos administrativos, sem
prévia intervenção de outros poderes constituídos, com base nos princípios da legitimidade e da
economicidade.
b) as decisões do Tribunal de Contas estão incorretas, pois a Corte não possui atribuição constitucional
para suspender licitações e contratos administrativos. Caso constatada irregularidade dessa natureza,
deve cientificar o Ministério Público, para a adoção das medidas judiciais cabíveis.
c) as decisões do Tribunal de Contas estão corretas, pois o princípio da legalidade impõe à Administração
o poder de somente realizar ações previamente previstas em lei, o que a impede de adotar medidas de
gestão inovadoras sem prévia chancela do Poder Legislativo. Além disso, dispõe o Tribunal de Contas de
competência para anular de imediato contrato administrativo, quando a medida se mostrar necessária
para garantir a supremacia do interesse público.
d) o Tribunal de Contas pode exercer o juízo de conformidade de uma política pública sob a perspectiva
da legitimidade, que corresponde a um juízo de adequação entre a medida e a sua capacidade de atender
ao interesse público, mas não pode anular um contrato administrativo sem prévia manifestação do Poder
Legislativo e do próprio Poder Executivo, o que toma a última decisão incorreta.
e) a Constituição Federal foi alterada para somente autorizar a suspensão de licitações por decisões
colegiadas dos Tribunais de Contas, motivo pelo qual a primeira decisão é inválida. Além disso, o controle
de legitimidade da ação administrativa corresponde ao juízo de conformidade da ação com o
procedimento previsto em lei, o que não se confunde com o mérito da própria política pública.
Comentários
A alternativa correta é a letra D. A questão tratou das atribuições dos Tribunais de Contas.
A alternativa correta pois os Tribunais de Contas são dotados do poder de cautela, isto é, podem, com o uso
da expertise técnica, antever riscos e avaliar a própria utilidade da deliberação final, sendo certo que, nos
termos do art. 71, §§ 1º e 2º e art. 75 da CF, somente após ser facultada a manifestação do Poder Legislativo:
“Art. 71 [...] § 1º No caso de contrato, o ato de sustação será adotado diretamente pelo Congresso Nacional,
que solicitará, de imediato, ao Poder Executivo as medidas cabíveis. § 2º Se o Congresso Nacional ou o Poder
Executivo, no prazo de noventa dias, não efetivar as medidas previstas no parágrafo anterior, o Tribunal
decidirá a respeito. [...] Art. 75. As normas estabelecidas nesta seção aplicam-se, no que couber, à
organização, composição e fiscalização dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, bem como
dos Tribunais e Conselhos de Contas dos Municípios”.
A alternativa A está incorreta, pois contraria o que o STF decidiu no AgReg, no ED, na Suspensão de Segurança
n.º 5.306/PI, em que a Corte admitiu a suspensão do pagamento, mas fez a clara distinção e asseverou a
necessidade de comunicação ao Poder Legislativo em caso de suspensão do contrato: “[...] suspensão do
pagamento [...] não se confunde com a suspensão do contrato como um todo. Caso assim o fosse, ensejaria
a necessidade de se notificar a correspondente assembleia legislativa para a anulação da avença considerada
lesiva ao patrimônio público”. (AgRg, no ED, na Suspensão de Segurança n.º 5.306/PI, Rel. Min. Dias Toffoli,
julgado em 18/3/2023)

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A alternativa B está incorreta, pois os Tribunais de Contas podem anular ou suspender licitações e contratos,
conforme comentário à alternativa D.
A alternativa C está incorreta, pois os Tribunais de Conta, embora possam anular ou suspender licitações e
contratos, não podem o fazer de forma direta e imediata, isto é, sem a prévia participação do Poder
Legislativo.
A alternativa E está incorreta, conforme comentário à alternativa D.

QUESTÃO 58. Considere que o Presidente da República, por melo de medida provisória estendeu de cinco
para dez anos o prazo de prescrição para a cobrança de créditos tributários decorrentes de taxas de polícia.
A justificativa é a de que a mudança de posicionamento dos Tribunais Superiores com relação ao modo de
contagem da prescrição intercorrente estaria gerando graves prejuízos ao património público, pois uma
quantia expressiva de créditos tributários dessa natureza estaria sendo extinta dessa forma. Inconformado
com o ato legislativo, um partido político com representação no Congresso Nacional propôs ação direta
de inconstitucionalidade em face da medida provisória.
Com base na situação hipotética e na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, é correto afirmar que
a) a medida provisória revogou a lei anterior que disciplinava o assunto. Caso o congresso nacional reprove
a inovação legislativa, a lei anterior passará a ter eficácia após a rejeição tática ou expressa.
B) a medida provisória pode ser objeto de questionamento em controle abstrato de constitucionalidade,
e a sua conversão em lei não torna prejudicado, de acordo com todos os precedentes do STF, o debate
sobre o atendimento dos pressupostos de admissibilidade do seu uso (relevância e urgência).
c) em julgado recente, o Supremo Tribunal Federal entendeu que os requisitos da relevância e urgência
não estão sujeitos a controle jurisdicional, bem como que a rejeição tácita ou expressa da medida
provisória faz com que a ação direta de inconstitucionalidade perca o seu objeto.
d) o Supremo Tribunal Federal não dispõe de competência para suspender, em caráter liminar, medida
provisória em sede de ADI, pois não essa espécie normativa não tem a capacidade de inovar de maneira
definitiva no ordenamento jurídico, motivo pelo qual não se sujeita ao controle abstrato
constitucionalidade.
e) embora o Supremo Tribunal Federal tenha reconhecido a desnecessidade de lei complementar tratar
dos marcos temporais da prescrição intercorrente, a definição do prazo de prescrição em si é reservada à
lei complementar, motivo pelo qual a medida provisória em questão é inconstitucional.
Comentários
A alternativa correta é a letra E, sendo que a questão tratou sobre prescrição do crédito tributário e suas
repercussões.
A alternativa correta, está de acordo com o que decidiu no STF no RE n.º 636.562/SC, em 17/2/2023: “[...]
6. Desnecessidade de lei complementar para dispor sobre prescrição intercorrente tributária. A prescrição
intercorrente tributária foi introduzida pela Lei nº 6.830/1980, que tem natureza de lei ordinária. O art. 40
desse diploma não afronta o art. 146, III, b, da CF/1988, pois o legislador ordinário se limitou a transpor o
modelo estabelecido pelo art. 174 do CTN, adaptando-o às particularidades da prescrição intercorrente.
Observa ainda o art. 22, I, da CF/1988, porquanto compete à União legislar sobre direito processual”. (RE
n.º 636.562/SC, Rel. Min. Luís Roberto Barroso, julgado em 17/2/2023).

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O STF decidiu que prescrição intercorrente tributária não é matéria privativa de lei complementar.
Por outro lado, a definição do prazo de prescrição em si é matéria de lei complementar, nos termos do art.
146, III, “b”, da CF: “Art. 146. Cabe à lei complementar: [...] III - estabelecer normas gerais em matéria de
legislação tributária, especialmente sobre: [...] b) obrigação, lançamento, crédito, prescrição e decadência
tributários”. A prescrição está disciplinada no art. 174 do CTN, recepcionado pela CF de 1988 com status de
lei complementar federal: “Art. 174. A ação para a cobrança do crédito tributário prescreve em cinco anos,
contados da data da sua constituição definitiva”. Por fim, o art. 62, § 1º, III, da CF veda o uso das medidas
provisórias em matérias reservadas à lei complementar: “Art. 62 [...] § 1º É vedada a edição de medidas
provisórias sobre matéria: [...] III - reservada a lei complementar”. Logo, a alteração do prazo é matéria
reservada a lei complementar.
A alternativa A está incorreta, pois a medida provisória perderá sua eficácia desde a edição, logo, a lei
anterior produzirá efeitos como se nunca tivesse sido modificada, podendo haver modulação de efeitos pode
decreto legislativo, nos termos do art. 61, § 3º, da CF: “Art. 62 [...] § 3º As medidas provisórias, ressalvado o
disposto nos §§ 11 e 12 perderão eficácia, desde a edição, se não forem convertidas em lei no prazo de
sessenta dias, prorrogável, nos termos do § 7º, uma vez por igual período, devendo o Congresso Nacional
disciplinar, por decreto legislativo, as relações jurídicas delas decorrentes”.
A alternativa B está incorreta, pois a jurisprudência do STF oscila sobre a prejudicialidade ou não da
conversão da medida provisória em lei:
“A conversão de medida provisória em lei, com absorção de conteúdo, torna prejudicado o debate sobre o
atendimento dos pressupostos de sua admissibilidade”. (ADI n.º 4.980, Rel. Min. Nunes Marques, julgado
em 10/3/2022).
“A conversão de medida provisória em lei não prejudica o debate jurisdicional sobre o atendimento dos
pressupostos de admissibilidade desse espécime de ato da ordem legislativa”. (ADI 3.330, Rel. Min. Ayres
Britto, julgado em 3/5/2012).
“Conversão da medida provisória na Lei 11.658/2008, sem alteração substancial. Aditamento ao pedido
inicial. Inexistência de obstáculo processual ao prosseguimento do julgamento. A lei de conversão não
convalida os vícios existentes na medida provisória”. (ADI n.º 4.048 MC, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado
em 14/5/2008).
A alternativa C está incorreta, pois embora excepcional, é possível que a análise da relevância e urgência
sejam objeto de controle pelo Poder Judiciário: “Inexistindo comprovação da ausência de urgência, não há
espaço para atuação do Poder Judiciário no controle dos requisitos de edição de medida provisória pelo
chefe do Poder Executivo”. (ADI n.º 5.599/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 23/10/2020, Informativo
n.º 996).
A alternativa D está incorreta, pois contraria entendimento antigo e consolidado do STF: “O STF dispõe de
competência para exercer, em sede de ação declaratória de constitucionalidade, o poder geral de cautela de
que se acham investidos todos os órgãos judiciários, independentemente de expressa previsão
constitucional. A prática da jurisdição cautelar, nesse contexto, acha-se essencialmente vocacionada a
conferir tutela efetiva e garantia plena ao resultado que deverá emanar da decisão final a ser proferida no
processo objetivo de controle abstrato. (...) O provimento cautelar deferido, pelo STF, em sede de ação
declaratória de constitucionalidade, além de produzir eficácia erga omnes, reveste-se de efeito vinculante,
relativamente ao Poder Executivo e aos demais órgãos do Poder Judiciário”. (ADC n.º 8-MC, rel. min. Celso
de Mello, julgado em 13/10/1999).

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QUESTÃO 59. A respeito das imunidades de Deputados e Senadores, com base na Constituição Federal, é
correto afirmar que
a) as imunidades de Deputados e Senadores não subsistirão durante o estado de sítio.
b) os Deputados e Senadores podem ser obrigados a testemunhar sobre informações recebidas em razão
do exercício do Mandato.
c) os Deputados e Senadores militares, em tempo de guerra, serão incorporados as Forças Armadas,
independentemente de deliberação da respectiva Casa.
d) a sustação do processo suspende a prescrição, enquanto durar o mandato.
e) os Deputados e Senadores, a partir da posse, serão submetidos cível e penalmente a julgamento perante
o Supremo Tribunal Federal.
Comentários
A alternativa correta é a letra D, de modo que a questão tratou sobre imunidades parlamentares.
A alternativa correta está de acordo com a literalidade do art. 53, § 5º, da CF: “Art. 53 [...] § 5º A sustação do
processo suspende a prescrição, enquanto durar o mandato”.
A alternativa A está incorreta, pois está em desacordo com o art. 53, § 8º, da CF: “Art. 53 [...] § 8º As
imunidades de Deputados ou Senadores subsistirão durante o estado de sítio, só podendo ser suspensas
mediante o voto de dois terços dos membros da Casa respectiva, nos casos de atos praticados fora do recinto
do Congresso Nacional, que sejam incompatíveis com a execução da medida”.
A alternativa B está incorreta, pois os parlamentares não podem ser obrigados a testemunhar sobre
informações recebidas em razão do mandato, nos termos do art. 53, § 6º, da CF: “Art. 53 [...] § 6º Os
Deputados e Senadores não serão obrigados a testemunhar sobre informações recebidas ou prestadas em
razão do exercício do mandato, nem sobre as pessoas que lhes confiaram ou deles receberam informações”.
A alternativa C está incorreta, pois é necessária a deliberação da respectiva casa na hipótese, conforme art.
53, § 7º, da CF: “Art. 53 [...] § 7º A incorporação às Forças Armadas de Deputados e Senadores, embora
militares e ainda que em tempo de guerra, dependerá de prévia licença da Casa respectiva”.
A alternativa E está incorreta, pois é desde a expedição do diploma (e não da posse), conforme art. 53, § 1º,
da CF: “Art. 53 [...] § 1º Os Deputados e Senadores, desde a expedição do diploma, serão submetidos a
julgamento perante o Supremo Tribunal Federal”.

QUESTÃO 60. A respeito da mutação constitucional, assinale a alternativa correta.


a) A mutação constitucional deve ser encarada como um poder constituinte difuso e utilizada sempre que
houver mudança no contexto social, dada a necessidade de que o Poder Judiciário seja protagonista no
processo de atualização da norma constitucional às circunstâncias sociais.
b) Não são fatores relevantes para o processo de mutação constitucional a plasticidade das normas
constitucionais, o dinamismo social, a rigidez constitucional e a cultura jurídica prevalente.
c) A sua adoção é incompatível com sistemas constitucionais que adotam o modelo rígido de Constituição,
pois a modificação da norma constitucional, nesses sistemas, pressupõe a atuação qualificada do poder
constituinte reformador.

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d) A mutação constitucional permite que os fatores reais de poderes subvertam a força normativa da
Constituição, pois as condicionantes sociais que afetam a compreensão da norma passam a prevalecer
sobre a literalidade do texto constitucional.
e) A mutação constitucional decorre do reconhecimento de que a norma jurídica não se confunde com o
texto, motivo pelo qual mudanças na sociedade possuem impacto na forma como se interpreta o texto
constitucional.
Comentários
A alternativa correta é a letra E, sendo que a questão tratou sobre a mutação constitucional (poder
constituinte difuso).
A alternativa E reflete exatamente à compreensão da doutrina majoritária sobre a mutação constitucional.
A mutação constitucional consiste na mudança informal no sentido, nos preceitos e no conteúdo da
Constituição. Dessa forma, para uma constante readequação à parcela da realidade que a constituição deve
ordenar é preciso uma perene atualização de sentidos, porquanto o texto da constituição é diferente da
norma construída decorrente do processo interpretativo. Essa atualização informal de sentidos é dada pela
mutação constitucional, processo que altera a constituição sem modificação pela via de emenda ou revisão.
A alternativa A está incorreta, pois não há, necessariamente, um protagonismo do Poder Judiciário no
processo de atualização da norma constitucional às circunstâncias sociais.
A alternativa B está incorreta, pois todos os fatores indicados na alternativa são relevantes para o processo
de mutação constitucional.
A alternativa C está incorreta, pois não há necessária incompatibilidade, já que a mutação constitucional, por
essência, dispensa a edição de emenda ou revisão, dada a sua natureza informal,
A alternativa D está incorreta, pois existem limites no poder constituinte difuso, de modo que os mecanismos
de proteção e contenção da democracia constitucional se encarregam, ao menos em tese, de frear os
ímpetos autoritários que eclodem eventualmente no seio social.

QUESTÃO 61. Considere que o Congresso Nacional aprovou projeto de lei que visa assegurar, a agricultores
familiares políticas de fomento emergencial, mediante a recuperação da capacidade produtiva dos
estabelecimentos rurais familiares, bem como a instituição de garantia-safra, concedida a todos os
agricultores que tenham obtido laudo junto a órgãos municipais. O Chefe do Poder Executivo vetou a
proposição, por entender que seria inconstitucional, ao não prever a fonte de custeio das medidas, veto
esse que veio a ser derrubado pelo Congresso Nacional.
Passados dois anos, o Chefe do Poder Executivo continua não dando aplicação da lei, o que motivou a
proposição de Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF). Com base na situação
hipotética e na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, é correto afirmar que
a) a ADPF não se mostra cabível no caso, pois não é cabível o controle jurisdicional sobre o veto, ainda que
desborde da margem de discricionaridade titularizada pelo Chefe do Poder Executivo.
e) é cabível a arguição de descumprimento de preceito fundamental, pois as demais medidas de controle
abstrato de constitucionalidade não podem ser utilizadas para suprir omissão do Poder Executivo no
cumprimento da legislação.

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c) a ação não é cabível, pois a implementação das medidas demanda a prévia realização de atos
instrutórios, que são incompatíveis com o rito do processo objetivo de constitucionalidade.
d) não é cabível intervenção judicial nesse tipo de conduta, pois o Chefe do Poder Executivo possui a
prerrogativa de deixar de aplicar norma que considere inconstitucional, ainda que não haja proposto
medida judicial para sanar o problema.
e) a questão não envolve diretamente a violação a preceito fundamental, pois a ofensa à dignidade da
pessoa humana e à primazia do trabalho demandam a análise da legislação infraconstitucional.
Comentários
A alternativa correta é a letra B, de modo que a questão tratou sobre o controle concentrado de
constitucionalidade. A ADPF, dada a sua natureza residual, é cabível quando nenhuma outra ação de controle
for cabível.
A ADI é um instrumento utilizado para solicitar ao STF que alguma lei federal ou estadual seja declarada
incompatível com a Constituição Federal, ou seja, que ela seja declarada inconstitucional, logo, não se aplica
ao caso do enunciado.
A ADC é uma ação que visa a declaração da constitucionalidade de lei federal, sendo similar à ADI, quanto
ao rol de legitimados, no entanto, uma importante diferença é que apenas leis federais podem ser objetos
de ADC perante o STF, não cabendo, em nenhuma hipótese, o ajuizamento de leis estaduais ou municipais
via ADC, assim, não se aplica ao caso no enunciado.
A ADO é um mecanismo utilizado quando há a inércia do Poder Legislativo ou da Administração em elaborar
determinada norma para regulamentar algum dispositivo constitucional, o qual não é autoaplicável. Ela é
muito similar ao mandado de injunção, porém, enquanto este é utilizado apenas em determinado caso
concreto, a ADO é utilizada para o controle abstrato de constitucionalidade. Perceba que a ADO é um tipo
de ADI, porém, a ADO pode ser considerada uma Ação Direta de Constitucionalidade por ação, enquanto a
ADO é uma Ação Direta de Constitucionalidade por omissão. Desse modo, os seus procedimentos são
extremamente similares. No caso, já existe norma, razão pela qual não cabe ADO, já que o que está
ocorrendo é o descumprimento da norma já elaborada.
Por fim, a ADPF é um mecanismo utilizado para suprir lacunas não contempladas pelas ADI e ADC. Desse
modo, ela é considerada como uma ação subsidiária, de caráter residual, ou seja, apenas será utilizada
quando não for possível a utilização de qualquer outro mecanismo de controle concentrado, como ocorre
na hipótese do enunciado.
Assim, as alternativas A, C, D e E estão incorretas.

QUESTÃO 62. A empresa Beta Ltda. resulta de uma fusão da empresa Alfa Ltda. com outra sociedade em
2023, ambas pessoas jurídicas de Direito Privado. A Alfa Ltda. está sendo investigada por denúncia de
facilitar a aquisição de bens por preço superior ao de mercado pela administração direta, com prejuízo ao
erário público, o que teria ocorrido anteriormente à transformação societária. No caso em análise, à luz
da Lei nº 8.429/92, se demonstrada a efetiva prática do ato de improbidade:
a) empresa Alfa Ltda. poderá ser responsabilizada se comprovado que induziu ou concorreu dolosamente
para a prática do ato de improbidade. Seus sócios e a Beta Ltda., no entanto, não podem ser
responsabilizados, salvo se detectada fraude ou simulação da transformação societária.

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b) tanto a empresa Alfa Ltda. como a empresa Beta Ltda. poderão ser responsabilizadas se comprovado
que a Alfa Ltda. induziu ou concorreu dolosamente para a prática do ato de improbidade. Os sócios da
empresa Alfa Ltda., no entanto, não poderão ser responsabilizados, se não detectada fraude ou simulação
da transformação societária.
c) a empresa Alfa Ltda. poderá ser responsabilizada se comprovado que induziu ou concorreu dolosamente
para a prática do ato de improbidade. No caso da empresa Beta Ltda., no entanto, a responsabilidade
como sucessora será restrita à obrigação de reparação integral do dano causado, até o limite do
patrimônio transferido, se não detectada fraude ou simulação da transformação societária.
d) nem as empresas, nem seus sócios podem ser responsabilizados, pois a Lei nº 8.429/92 aplica-se apenas
aos atos de agentes públicos.
e) a empresa Alfa Ltda. e seus sócios poderão ser responsabilizados se comprovado que induziram ou
concorreram dolosamente para a prática do ato de improbidade. A empresa Beta Ltda., no entanto, não
poderá ser responsabilizada, se não detectada fraude ou simulação da transformação societária.
Comentários
A alternativa correta é a letra C.
A questão exigiu domínio no que tange à responsabilidade de pessoas jurídicas por atos de improbidade
administrativa.
A alternativa A está incorreta, pois a empresa Beta poderia, sim, ser responsabilizada, em relação à obrigação
de reparação integral do dano causado, até o limite do patrimônio transferido, conforme base normativa
indicada na alternativa C.
A alternativa B está incorreta, porquanto a responsabilidade da empresa Beta deve se restringir à obrigação
de reparação integral do dano causado, até o limite do patrimônio transferido, não lhe sendo aplicáveis as
demais sanções previstas na LIA, decorrentes de atos e de fatos ocorridos antes da data da fusão ou da
incorporação, exceto no caso de simulação ou de evidente intuito de fraude, devidamente comprovados,
conforme base normativa indicada na alternativa C.
A alternativa C está correta, eis que em conformidade à regra do art. 8º-A, caput e parágrafo único, da LIA,
que assim estabelecem: “A responsabilidade sucessória de que trata o art. 8º desta Lei aplica-se também na
hipótese de alteração contratual, de transformação, de incorporação, de fusão ou de cisão societária. (...)
Nas hipóteses de fusão e de incorporação, a responsabilidade da sucessora será restrita à obrigação de
reparação integral do dano causado, até o limite do patrimônio transferido, não lhe sendo aplicáveis as
demais sanções previstas nesta Lei decorrentes de atos e de fatos ocorridos antes da data da fusão ou da
incorporação, exceto no caso de simulação ou de evidente intuito de fraude, devidamente comprovados.”
A alternativa D está incorreta, uma vez que a LIA não é aplicável apenas a agentes públicos, mas sim,
igualmente, a particulares, sejam pessoas físicas ou jurídicas não integrantes da administração pública, desde
que tenham induzido ou concorrido dolosamente para a prática do ato ímprobo.
A alternativa E está incorreta, tendo em vista que: i) Os sócios, os cotistas, os diretores e os colaboradores
de pessoa jurídica de direito privado não respondem pelo ato de improbidade que venha a ser imputado à
pessoa jurídica, salvo se, comprovadamente, houver participação e benefícios diretos, caso em que
responderão nos limites da sua participação; e ii) a empresa Beta pode vir a ser responsabilizada, no que
tange à obrigação de reparação integral do dano causado, até o limite do patrimônio transferido, mesmo
que não tenha sido detectada fraude ou simulação da transformação societária.

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QUESTÃO 63. Em 2023, a Prefeitura de Rio Pardo do Norte contrata diretamente o cantor estreante Ari
Carlos para a comemoração dos 50 anos do Município. Ocorre que em 2015, Ari Carlos foi condenado
judicialmente, com trânsito em julgado, ao pagamento de indenização pecuniária pela contratação de
menor aprendiz com 13 anos de idade. Diante do exposto, a contratação realizada pela Municipalidade
a) poderia prescindir de licitação, pois o intuito legal é incentivar novos talentos; contudo, a condenação
pela contratação de menor aprendiz com 13 anos de idade em 2015 impede Ari Carlos de disputar licitação.
b) não poderia prescindir de licitação, pois a contratação de profissional do setor artístico não a dispensa.
Ademais, a condenação pela contratação de menor aprendiz com 13 anos de idade em 2015 impede Ari
Carlos de disputar licitação.
c) não poderia prescindir de licitação, pois a contratação foi realizada diretamente com o cantor, quando
o contrato deveria ter sido firmado com pessoa jurídica com direitos de representá-lo.
d) não poderia prescindir de licitação, pois a contratação de profissional do setor artístico, com as
caraterísticas apresentadas no caso em análise, não a dispensa. A Municipalidade deveria iniciar processo
licitatório, do qual Ari Carlos poderia participar.
e) poderia prescindir de licitação, pois o intuito legal é incentivar novos talentos; contudo, devido à
condenação pela contratação de menor aprendiz com 13 anos de idade em 2015, o contrato deveria ter
sido firmado com pessoa jurídica com direitos de representar Ari Carlos.
Comentários
A alternativa correta é a letra D.
A questão abordou o tema da possibilidade, ou não, de contratação direta por parte da Administração,
relativamente a profissionais do setor artístico.
A alternativa A está incorreta, uma vez que o caso descrito no enunciado não autoriza contratação direta.
Ademais, a condenação pela contratação de menor aprendiz não impediria Ari Carlos de disputar a licitação.
A alternativa B está incorreta, pois a contratação de profissional do setor artístico pode, em tese, autorizar
contratação direta, desde que preenchidos os requisitos atinentes à inexigibilidade de licitação. Além disso,
a condenação pela contratação de menor aprendiz não impediria Ari Carlos de disputar a licitação.
A alternativa C está incorreta, uma vez que a lei faculta a contratação de profissional do setor artístico,
diretamente ou por meio de empresário exclusivo, a teor do art. 74, II, da Lei 14.133/2021, que assim
estabelece: “É inexigível a licitação quando inviável a competição, em especial nos casos de: (...) contratação
de profissional do setor artístico, diretamente ou por meio de empresário exclusivo, desde que consagrado
pela crítica especializada ou pela opinião pública;”. Assim sendo, a justificativa da impossibilidade de
contratação direta, via inexigibilidade, não estaria no fato de a contratação ter sido efetivada diretamente
com o profissional, e sim pelo não preenchimento do requisito atinente à consagração pela crítica
especializada ou pela opinião pública, já que o caso seria de cantor “estreante”.
A alternativa D está correta, pois, ausente o preenchimento do requisito legal consistente na consagração
pela crítica especializada ou pela opinião pública, é verdadeiro dizer que a contratação realizada pela
Municipalidade não poderia prescindir de licitação. Afinal, a contratação de profissional do setor artístico,
com as caraterísticas apresentadas, não dispensaria a abertura de disputa. Ademais, uma vez aberto o
certame, o referido artista poderia dele participar, não sendo óbice para tanto a condenação ao pagamento
de indenização pecuniária, na forma descrita no enunciado.

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A alternativa E está incorreta, uma vez que inaplicável ao caso descrito a contratação direta, via
inexigibilidade, assim como também não é verdade que o contrato deveria ter sido firmado com pessoa
jurídica com direitos de representar Ari Carlos.

QUESTÃO 64. Determinado contrato administrativo previa que a obtenção de licenciamento ambiental
para realização da obra ficaria a cargo da Administração Pública, que não toma as providências necessárias
e não cumpre a obrigação assumida, rompendo os prazos contratuais avençados. Diante do exposto, é
correto afirmar que
a) o contrato poderá ser extinto sem necessidade de prévia autorização escrita da autoridade competente.
Sua extinção dá ao contratado direito ao ressarcimento dos prejuízos que comprovadamente houver
sofrido, o pagamento de custos com a desmobilização e a devolução da garantia.
b) o contrato poderá ser extinto, e sua extinção deve ser precedida de autorização escrita e fundamentada
da autoridade competente. Sua extinção dá ao contratado direito ao ressarcimento dos prejuízos que
comprovadamente houver sofrido e devolução de garantia, não alcançado o pagamento de custos com a
desmobilização.
c) o contrato poderá ser extinto, e sua extinção deve ser precedida de autorização escrita e fundamentada
da autoridade competente. Sua extinção dá ao contratado direito ao ressarcimento dos prejuízos que
comprovadamente houver sofrido, o pagamento de custos com a desmobilização e a devolução da
garantia.
d) o contrato poderá ser extinto, e sua extinção deve ser precedida de autorização escrita e fundamentada
da autoridade competente. Sua extinção dá ao contratado direito ao ressarcimento dos prejuízos que
comprovadamente houver sofrido e o pagamento de custos com a desmobilização, não alcançando a
devolução da garantia.
e) o contrato poderá ser extinto sem necessidade de prévia autorização escrita da autoridade competente.
Sua extinção dá ao contratado direito ao ressarcimento dos prejuízos que comprovadamente houver
sofrido e devolução de garantia, não alcançado o pagamento de custos com a desmobilização.
Comentários
A alternativa correta é a letra C.
A questão demandou domínio no que concerne ao tema da extinção de contratos administrativos.
A alternativa A está incorreta. A extinção do contrato estaria embasada no teor do art. 137 , VI, da Lei
14.133/2021: “Constituirão motivos para extinção do contrato, a qual deverá ser formalmente motivada nos
autos do processo, assegurados o contraditório e a ampla defesa, as seguintes situações: VI - atraso na
obtenção da licença ambiental, ou impossibilidade de obtê-la, ou alteração substancial do anteprojeto que
dela resultar, ainda que obtida no prazo previsto;” Nada obstante, seria exigível prévia autorização escrita
da autoridade competente, a teor do art. 138, §1º, do mesmo diploma: “A extinção determinada por ato
unilateral da Administração e a extinção consensual deverão ser precedidas de autorização escrita e
fundamentada da autoridade competente e reduzidas a termo no respectivo processo.”
A alternativa B está incorreta, uma vez que o contratado faz, sim, jus ao pagamento de custos com a
desmobilização, consoante se verifica do art. 138, §2º, do mesmo diploma legal: “Quando a extinção
decorrer de culpa exclusiva da Administração, o contratado será ressarcido pelos prejuízos regularmente

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108
comprovados que houver sofrido e terá direito a: I - devolução da garantia; II - pagamentos devidos pela
execução do contrato até a data de extinção; III - pagamento do custo da desmobilização.”
A alternativa C está correta, tendo em vista a combinação dos embasamentos normativos constantes do art.
138, §§ 1º e 2º, da Lei 14.133/2021, ambos acima já transcritos.
A alternativa D está incorreta, considerando que o contratado teria direito à devolução da garantia, na forma
do inciso I do art. 138, §2º, da Lei 14.133/2021.
A alternativa E está incorreta, eis que haveria necessidade de autorização escrita da autoridade competente,
a teor do art. 138, §1º, assim como porque o contratado faria jus ao pagamento de custos com a
desmobilização.

QUESTÃO 65. Determinada concessionária de serviços públicos pretende realizar uma alteração do
controle acionário da empresa, alterando substancialmente o perfil originalmente contratado pelo poder
concedente. Nessa hipótese, a alteração societária pretendida
a) não implicará na caducidade da concessão, desde que haja prévia concordância do poder concedente,
e a nova configuração atenda às exigências de capacidade técnica, idoneidade financeira e regularidade
jurídica e fiscal necessárias à assunção do serviço; e que a sociedade se comprometa a cumprir todas as
cláusulas do contrato em vigor.
b) não implicará na caducidade da concessão, desde que haja a apresentação de reforço de garantia para
assegurar a continuidade da prestação dos serviços por parte dos sócios originalmente participantes do
quadro societário e os novos sócios comprometam-se a cumprir todas as cláusulas do contrato em vigor.
c) não implicará na caducidade da concessão, havendo apenas necessidade de outra concorrência para
validar a nova configuração da concessionária.
d) implicará na caducidade da concessão, pois a alteração societária desconfigura por completo a
concorrência outrora realizada, maculando o processo irremediavelmente.
e) não implicará na caducidade da concessão, havendo apenas necessidade de comprovação, ao poder
concedente, após a efetivada a reorganização, que se manteve a capacidade técnica, idoneidade financeira
e regularidade jurídica e fiscal da sociedade, e que a sociedade se compromete a cumprir todas as cláusulas
do contrato em vigor.
Comentários
A alternativa correta é a letra A.
A questão versou acerca da concessão de serviços públicos.
A alternativa A está correta, porquanto devidamente apoiada na norma do art. 27, caput e §1º, da Lei
8.987/95, que assim estabelece: “A transferência de concessão ou do controle societário da concessionária
sem prévia anuência do poder concedente implicará a caducidade da concessão. Para fins de obtenção da
anuência de que trata o caput deste artigo, o pretendente deverá: I - atender às exigências de capacidade
técnica, idoneidade financeira e regularidade jurídica e fiscal necessárias à assunção do serviço; e II -
comprometer-se a cumprir todas as cláusulas do contrato em vigor.”
A alternativa B está incorreta, eis que inexiste respaldo normativo no sentido de se exigir a apresentação de
reforço de garantia para assegurar a continuidade da prestação dos serviços por parte dos sócios

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108
originalmente participantes do quadro societário, associada a que os novos sócios comprometam-se a
cumprir todas as cláusulas do contrato em vigor, tal como afirmado neste item, equivocadamente.
A alternativa C está incorreta, pois, acaso não obtida prévia anuência do poder concedente, a alteração do
controle acionário da empresa implicará a caducidade da concessão, a teor do art. 27, caput, da Lei 8.987/95,
acima transcrito.
A alternativa D está incorreta, dado o caráter peremptório da afirmativa, que desconsidera por completo a
possibilidade, efetivamente aberta pela lei, de a concessionária obter prévia anuência do poder concedente
para fins de viabilizar a pretendida alteração do controle acionário.
A alteração E está incorreta, tendo em vista que a lei exige prévia anuência do poder concedente, como
condição para que a caducidade não seja decretada.

QUESTÃO 66. Alaide, durante toda sua gravidez, realizou acompanhamento pré-natal em hospital público.
Após o parto, também realizado em hospital público, verificou-se que o feto nasceu em péssimas
condições vitais, apresentando convulsões, tendo sido internado em leito de UTI com grave quadro clínico
em decorrência de Sofrimento Fetal Agudo, Asfixia Perinatal Grave e Síndrome Hipóxico-Isquêmica, tendo
permanecido internado na UTI por quase nove meses. Em decorrência de tais complicações, evoluiu com
encefalopatia crônica (paralisia cerebral com graves sequelas neurológicas irreversíveis), com
dependência total de terceiros para sua sobrevivência e acompanhamento médico especializado e
contínuo. O laudo do perito judicial concluiu que as lesões graves e irreversíveis decorreram de imperícia
grave da equipe médica que realizou o parto.
Nesse caso em análise:
a) não há responsabilidade civil do Estado por erro médico, pois além de demonstração da culpa genérica
da Administração, por não ter atuado para impedir a ocorrência do dano, faz-se imprescindível a
individualização da conduta culposa do agente.
b) há responsabilidade civil do Estado por erro médico, caracterizado como conduta por omissão, bastando
que se comprove a existência de nexo de causalidade entre o dever do Estado de agir e o dano sofrido
pelos indivíduos.
c) não há responsabilidade civil do Estado por erro médico, posto que a causadora dos danos sofridos pelos
indivíduos foi a equipe médica, essa sim responsável pela indenização daí resultante.
d) há responsabilidade civil do Estado, que responde subjetivamente pelos atos e omissões da equipe
médica que, no exercício de suas funções, cause danos a terceiros, não admitindo excludente de
responsabilidade.
e) não há responsabilidade civil do Estado por erro médico, posto que somente é cabível a
responsabilização estatal por ação e não por omissão
Comentários
A alternativa correta é a letra B.
A questão cobrou domínio relativamente ao tema da responsabilidade civil do Estado.
A alternativa A está incorreta, tendo em vista que: i) haveria, sim, responsabilidade civil do Estado, em vista
do erro médico cometido; ii) o caso não seria de demonstração de culpa genérica, e sim de violação de dever

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específico de agir para evitar resultado danoso; e iii) não haveria necessidade de individualização da culpa
de determinado agente público.
A alternativa B está correta, porquanto a hipótese versada seria de responsabilidade civil por omissão
específica do dever de evitar o resultado danoso, configurando o erro médico. Ademais, nesse caso,
realmente, aplica-se a responsabilidade objetiva do Estado, de modo que basta a comprovação da existência
de nexo de causalidade entre o dever do Estado de agir e o dano sofrido pelas respectivas vítimas.
A alternativa C está incorreta, uma vez que, tratando-se de procedimentos médicos realizados em hospital
da rede pública, a responsabilidade primária e direta deve ser imputada ao ente estatal, e não à equipe
médica, a qual pode vir a responder apenas regressivamente, em caso de dolo ou culpa.
A alternativa D está incorreta, seja porque a responsabilidade civil do Estado seria objetiva, e não subjetiva,
seja porque se trata de modalidade de responsabilização que admite, sim, a incidência de causas
excludentes, à luz da teoria do risco administrativo.
A alternativa E está incorreta, tendo em conta que nada impede, conforme firme magistério da doutrina,
acompanhado da jurisprudência, a responsabilização estatal por condutas omissivas de seus agentes.

QUESTÃO 67. Bernardo, atualmente parlamentar, está respondendo uma ação de improbidade
administrativa praticada durante o exercício do cargo de ministro de Estado. A esse respeito, à luz da Lei
de Improbidade Administrativa,
a) as ações de ressarcimento ao erário fundadas na prática de ato doloso são prescritíveis.
b) se o magistrado identificar a existência de irregularidades administrativas a serem sanadas, desde que
estejam presentes todos os requisitos para a imposição das sanções ao agente incluído no polo passivo da
demanda, poderá, em decisão motivada, converter a ação de improbidade administrativa em ação civil
pública.
c) não se aplica na ação de improbidade administrativa o reexame obrigatório da sentença de
improcedência ou de extinção sem resolução de mérito.
d) a ação de reparação de danos à Fazenda Pública decorrente de ilícito civil culposo é imprescritível.
e) o foro especial por prerrogativa de função previsto na Constituição Federal em relação às infrações
comuns é extensível às ações de improbidade administrativa.
Comentários
A alternativa correta é a letra C.
A questão demandou conhecimentos pertinentes ao tema da improbidade administrativa, disciplinada pela
Lei 8.429/92 (LIA).
A alternativa A está incorreta, eis que o STF firmou compreensão no sentido de que as ações de
ressarcimento ao erário fundadas na prática de ato doloso são imprescritíveis, in verbis: “São imprescritíveis
as ações de ressarcimento ao erário fundadas na prática de ato doloso tipificado na Lei de Improbidade
Administrativa.” (RE 852475, rel. Ministro ALEXANDRE DE MORAES, rel. p/ Acórdão Ministro EDSON FACHIN,
Tribunal Pleno, julgado em 08-08-2018, publicado em 25-03-2019)
A alternativa B está incorreta, pois afronta o teor do art. 17, §16, da LIA, segundo o qual: “A qualquer
momento, se o magistrado identificar a existência de ilegalidades ou de irregularidades administrativas a
serem sanadas sem que estejam presentes todos os requisitos para a imposição das sanções aos agentes

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incluídos no polo passivo da demanda, poderá, em decisão motivada, converter a ação de improbidade
administrativa em ação civil pública, regulada pela Lei nº 7.347, de 24 de julho de 1985.”
A alternativa C está correta, na medida em que alinhada ao que preceitua o art. 17, §19, IV, da LIA, conforme
o qual: “Não se aplicam na ação de improbidade administrativa: o reexame obrigatório da sentença de
improcedência ou de extinção sem resolução de mérito.”
A alternativa D está incorreta, tendo em conta que, na verdade, a ação de reparação de danos à Fazenda
Pública decorrente de ilícito civil culposo é prescritível. No ponto, o STF reconheceu a imprescritibilidade da
ação de ressarcimento ao erário fundada em atos dolosos, e não culposos.
A alternativa E está incorreta, considerando decisão já exarada pelo STF, na linha da qual “O foro especial
por prerrogativa de função previsto na Constituição Federal em relação às infrações penais comuns não é
extensível às ações de improbidade administrativa, de natureza civil.” (Pet 3240 AgR, rel. Ministro TEORI
ZAVASCKI, rel. p/ acórdão Min. ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, julgado em 10-05-2018, publicado em
22-08-2018)

QUESTÃO 68. Trata-se de um remédio constitucional aplicável aos casos em que a falta de norma
regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas
inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania.
Essa descrição refere-se
a) ao habeas data, que somente pode ser impetrado individualmente.
b) ao mandado de injunção, que somente pode ser impetrado individualmente.
c) ao mandado de segurança, que pode ser impetrado tanto individual como coletivamente.
d) ao mandado de segurança, que somente pode ser impetrado individualmente.
e) ao mandado de injunção, que pode ser impetrado tanto individual como coletivamente.
Comentários
A alternativa correta é a letra E, sendo que a questão tratou sobre o mandado de injunção.
A hipótese descrita no enunciado é exatamente a que autoriza o manejo do mandado de injunção, conforme
dispõe o art. 5º, LXXI, da CF: “Art. 5º [...] LXXI - conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de
norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das
prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania”.
Além disso, a Lei n.º 13.300/2016, que disciplina o procedimento do mandado de injunção, deixa claro que
ele pode ser manejado tanto individualmente, quanto coletivamente: “Art. 1º Esta Lei disciplina o processo
e o julgamento dos mandados de injunção individual e coletivo, nos termos do inciso LXXI do art. 5º da
Constituição Federal”.
A alternativa A está incorreta, pois não se trata de hipótese de uso do habeas data, remédio constitucional
este que serve para: (a) assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante,
constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público; (b) a
retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo; e (c)
complementação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo.

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A alternativa B está incorreta, pois é possível o manejo do mandado de injunção, tanto individual, quanto
coletivo.
A alternativa C está incorreta, pois o mandado de segurança se destina a proteger o direito líquido e certo,
não amparado por "habeas-corpus" ou "habeas-data" (caráter residual), quando o responsável pela
ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições
do Poder Público.
A alternativa D está incorreta, pois além do fundamento da alternativa C, o mandado de segurança pode ser
impetrado coletivamente, vide o art. 21 da Lei n.º 12.016/2009: “Art. 21. O mandado de segurança coletivo
pode ser impetrado por partido político com representação no Congresso Nacional, na defesa de seus
interesses legítimos relativos a seus integrantes ou à finalidade partidária, ou por organização sindical,
entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há, pelo menos, 1 (um) ano,
em defesa de direitos líquidos e certos da totalidade, ou de parte, dos seus membros ou associados, na forma
dos seus estatutos e desde que pertinentes às suas finalidades, dispensada, para tanto, autorização
especial”.

QUESTÃO 69. Raimundo é proprietário de um imóvel de grandes dimensões, localizado em área rural, no
Município de Pilar do Sul. Nos últimos anos, Raimundo tem sido fiscalizado e autuado por órgãos
ambientais, devido às constantes áreas desmatadas sem autorização ambiental para supressão de
vegetação. Verificou-se que a área é totalmente improdutiva e não cumpre sua função social. Diante do
exposto, esse imóvel poderá ser
a) desapropriado por interesse social, para fins de reforma agrária, mediante prévia e justa indenização
em títulos da dívida agrária, cuja competência é do Município.
b) confiscado e destinado à reforma agrária, mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida
agrária, cuja competência é do Município.
c) confiscado e destinado à reforma agrária, sem qualquer indenização ao proprietário e sem prejuízo de
outras sanções previstas em lei.
d) desapropriado por interesse social, para fins de reforma agrária, mediante prévia e justa indenização
em títulos da dívida agrária, cuja competência é da União.
e) confiscado e destinado à reforma agrária, mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida
agrária, cuja competência é da União.
Comentários
A alternativa correta é a letra D.
A questão cobrou domínio acerca da intervenção do Estado na propriedade privada, mediante
desapropriação, no caso de imóvel rural que não observe sua função social.
A alternativa A está incorreta, tendo em vista que a desapropriação por interesse social para fins de reforma
agrária é de competência da União, e não dos Municípios.
A alternativa B está incorreta, pois a providência adequada não é o confisco do bem, e sim sua
desapropriação por interesse social para fins de reforma agrária, cuja competência é da União, e não dos
Municípios.

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A alternativa C está incorreta, considerando que a providência adequada não seria o confisco, e sim a
desapropriação por interesse social para fins de reforma agrária. Além disso, referida modalidade
expropriatória pressupõe o pagamento de indenização em títulos da dívida agrária, e não sem qualquer
indenização, como aqui afirmado pela Banca, incorretamente.
A alternativa D está correta, uma vez que se ajusta ao teor do art. 184, caput, da Constituição da República:
“Compete à União desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrária, o imóvel rural que não
esteja cumprindo sua função social, mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária, com
cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano de sua
emissão, e cuja utilização será definida em lei.”
A alternativa E está incorreta, considerando que o caso não seria de confisco, mas sim de desapropriação
por interesse social para fins de reforma agrária, de competência da União.

QUESTÃO 70. Alaor foi selecionado pela Administração Pública para explorar uma lanchonete localizada
dentro de um hospital público. Foi firmado um contrato de adesão, pelo prazo máximo de cinco anos,
prorrogável por igual período, sem possibilidade de transferir a sua titularidade. Nesse caso, o ato
administrativo trata-se de uma
a) permissão, ou seja, um ato administrativo discricionário, sendo possível controle desse ato
administrativo pelo Poder Judiciário quanto à sua legalidade, e não de seu mérito.
b) concessão, ou seja, um ato administrativo discricionário, sendo possível controle desse ato
administrativo pelo Poder Judiciário quanto à sua legalidade, e não de seu mérito.
c) permissão, ou seja, um ato administrativo vinculado, sendo possível controle desse ato administrativo
pelo Poder Judiciário quanto à sua legalidade, e não de seu mérito.
d) permissão, ou seja, um ato administrativo discricionário, sendo possível controle desse ato
administrativo pelo Poder Judiciário tanto quanto à sua legalidade como de seu mérito.
e) concessão, ou seja, um ato administrativo vinculado, sendo possível controle desse ato administrativo
pelo Poder Judiciário tanto quanto à sua legalidade como de seu mérito.
Comentários
A alternativa correta é a letra A.
A questão exigiu domínio acerca do tema concernente aos instrumentos que viabilizam o uso privativo de
bem público por particulares.
A alternativa A está correta, tendo em vista que a permissão de uso de bem público é tida pela doutrina,
realmente, como ato discricionário, de modo que o controle jurisdicional deve se ater aos aspectos de
legalidade, não podendo invadir o mérito administrativo.
A alternativa B está incorreta, pois a concessão ostenta natureza contratual, ao passo que o enunciado, em
sua parte final, afirmou se tratar de ato administrativo, e não de contrato.
A alternativa C está incorreta, tendo em vista que a permissão de uso não tem natureza vinculada, e sim
discricionária.
A alternativa D está incorreta, visto que ao Judiciário não é dado exercer controle de mérito sobre atos
discricionários, mas sim, tão somente, em relação à legalidade de tais atos.

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A alternativa E está incorreta, considerando que o enunciado se refere a ato administrativo, ao passo que a
concessão de uso tem cunho contratual. Além disso, não apresenta natureza vinculada. E, mesmo que assim
o fosse, não teria mérito administrativo. Por fim, ao Judiciário não é dado exercer controle de mérito, e sim
apenas de legalidade.

QUESTÃO 71. Abelardo foi preso e condenado injustamente por roubo, permanecendo preso de
20.12.2017 a 21.10.2020, período em que ficou submetido a todos os problemas do sistema penitenciário,
permanecendo, sem motivo, afastado do convívio social e familiar. Antes disso, durante as investigações,
as vítimas informaram à polícia judiciária que o perpetrador era pardo, "manco" e possuía uma cicatriz
bastante visível no rosto. Mesmo sem portar qualquer deficiência ou cicatriz, Abelardo foi encarcerado
apenas por ser pardo. Importante salientar que, mesmo após perder sua liberdade, crimes semelhantes
continuavam a ser cometidos por um autor identificado com a mesma descrição: "manco", com cicatriz e
pardo. Após a condenação, um dos agentes policiais compareceu espontaneamente à Defensoria Pública
e relatou os equívocos perpetrados pela investigação, dando ensejo ao pedido de revisão criminal e
consequente absolvição pela Câmara Criminal. Abelardo ingressa com pedido de recebimento de
indenização por danos morais por ele formulado em desfavor do Estado, em vista do erro cometido.
Considerada a situação fática, assinale a alternativa correta.
a) A responsabilização do Estado pelos danos dessa natureza que seus agentes causarem a terceiros
depende da prova de ilicitude do ato.
b) A responsabilidade do Estado por erro judiciário depende de prova de que houve dolo por parte dos
agentes públicos.
c) O pleito deve ser indeferido, pois já houve coisa julgada material e formal quanto à condenação.
d) No mérito, o pleito é legítimo, contudo, a indenização deve ser endereçada aos agentes públicos,
pessoas físicas, responsáveis pelos equívocos cometidos durante a investigação.
e) É cabível a indenização do Estado, pois, de acordo com a Constituição Federal, é legítima a indenização
ao condenado por erro judiciário.
Comentários
A alternativa correta é a letra E.
A questão exigiu demandou conhecimentos relativos à responsabilidade civil do Estado por erro judiciário.
A alternativa A está incorreta, tendo em vista que, uma vez caracterizado o erro judiciário, que acarretou
prisão indevida, não há que se exigir prova da ilicitude do ato, por se tratar de hipótese de responsabilidade
objetiva.
A alternativa B está incorreta, considerando que, tratando-se de responsabilidade objetiva, não há que se
exigir prova de dolo por parte dos agentes públicos envolvidos.
A alternativa C está incorreta, tendo em conta que a formação de coisa julgada material, no sentido da
condenação indevida do acusado, seguida do cumprimento de pena, igualmente de forma indevida,
constitui, na verdade, o próprio fato gerador do dever de indenizar imputável ao ente estatal, derivado da
configuração de erro judiciário.

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A alternativa D está incorreta, porquanto a responsabilidade primária e objetiva pertence ao Estado, e não
aos agentes públicos causadores dos danos, os quais podem responder apenas regressivamente, desde que
tenham agido com dolo ou culpa.
A alternativa E está correta, eis que devidamente amparada na regra do art. 5º, LXXV, da CRFB: “o Estado
indenizará o condenado por erro judiciário, assim como o que ficar preso além do tempo fixado na
sentença;”

QUESTÃO 72. Em 2022, a empresa Alfa Ltda. passou por séria crise financeira, gerando a necessidade de
demissão de seu pessoal administrativo. Em 2023, durante uma fiscalização de rotina, a empresa é autuada
por falha na entrega de declarações contábeis e fiscais de 2022. Até então, a empresa sempre havia sido
zelosa no cumprimento tanto de suas obrigações tributárias principais como acessórias. Diante desses
fatos, a responsabilidade pelo ato infracional
a) independe da intenção do agente ou do responsável, mas será afastada no caso em análise por se tratar
de falta de observância a obrigação tributária acessória.
b) será afastada, pois embora a responsabilidade por infrações da legislação tributária independa da
intenção do agente ou do responsável, os efeitos do ato são limitados e podem ser facilmente sanados.
c) independe da intenção do agente ou do responsável, e é aplicada devido à materialidade do ato.
d) será afastada, pois não houve intenção do agente de praticar o ato infracional.
e) será afastada, pois embora a responsabilidade por infrações da legislação tributária independa da
intenção do agente ou do responsável, a falha em questão é imaterial.
Comentários
A alternativa correta é a letra C, pois revela o teor do art. 136 do CTN: “Salvo disposição de lei em contrário,
a responsabilidade por infrações da legislação tributária independe da intenção do agente ou do responsável
e da efetividade, natureza e extensão dos efeitos do ato.”
A questão aborda o tema repartição responsabilidade por infrações à legislação tributária.
As demais hipóteses indicadas nas alternativas A, B, D e E não revelam a inteligência do CTN, razão pela qual
estão incorretas.

QUESTÃO 73. Determinado estado brasileiro publica lei que tem por objetivo majorar a base de cálculo e
a alíquota do Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores – IPVA com aplicação imediata,
gerando grande repercussão entre os contribuintes. A esse respeito, considerando os princípios
constitucionais ao poder de tributar, é correto afirmar que
a) a majoração da base de cálculo não necessita observar o princípio da anterioridade nonagesimal e da
anterioridade de exercício. Já a majoração da alíquota deve respeitar o princípio da anterioridade
nonagesimal e da anterioridade de exercício.
b) tanto a majoração da base de cálculo, quanto da alíquota devem respeitar o princípio da anterioridade
nonagesimal e da anterioridade de exercício.
c) tanto a majoração da base de cálculo, quanto da alíquota não necessitam observar o princípio da
anterioridade nonagesimal e da anterioridade de exercício.

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d) tanto a majoração da base de cálculo, quanto da alíquota devem respeitar o princípio da anterioridade
de exercício, e o aumento da alíquota deve respeitar o princípio da anterioridade nonagesimal.
e) a majoração da alíquota não necessita observar o princípio da anterioridade nonagesimal e da
anterioridade de exercício. Já a majoração da base de cálculo deve respeitar o princípio da anterioridade
nonagesimal e da anterioridade de exercício.
Comentários
A alternativa correta é a letra D.
A questão aborda o tema princípio da anterioridade tributária.
A alternativa A está incorreta, pois a majoração da base de cálculo do IPVA precisa observar o princípio da
anterioridade de exercício, conforme comentários à alternativa D abaixo.
A alternativa B está incorreta, pois a majoração da base de cálculo do IPVA não precisa observar o princípio
da anterioridade nonagesimal, conforme comentários à alternativa D abaixo.
A alternativa C está incorreta, pois (i) a majoração da base de cálculo do IPVA precisa observar o princípio da
anterioridade de exercício e (ii) a majoração da alíquota do IPVA precisa observas os princípios da
anterioridade de exercício e nonagesimal, conforme comentários à alternativa D abaixo.
A alternativa D está correta, pois a majoração da base de cálculo do IPVA é exceção ao princípio da
anterioridade nonagesimal, conforme art. 150, III, “b” e “c” c/c art. 150, §1º, da CF: “Art. 150. Sem prejuízo
de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos
Municípios: III - cobrar tributos: b) no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os
instituiu ou aumentou; c) antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a lei que os
instituiu ou aumentou, observado o disposto na alínea b; § 1º A vedação do inciso III, b, não se aplica aos
tributos previstos nos arts. 148, I, 153, I, II, IV e V; e 154, II; e a vedação do inciso III, c, não se aplica aos
tributos previstos nos arts. 148, I, 153, I, II, III e V; e 154, II, nem à fixação da base de cálculo dos impostos
previstos nos arts. 155, III, [IPVA] e 156, I.”
A alternativa E está incorreta, pois (i) a majoração da alíquota de IPVA precisa observar os princípios da
anterioridade de exercício e nonagesimal e (ii) a majoração da base de cálculo do IPVA não precisa observar
o princípio da anterioridade nonagesimal, conforme comentários à alternativa D acima.

QUESTÃO 74. A empresa Delta limitada realizou a declaração e o pagamento do Imposto sobre Circulação
de Mercadorias e Serviços – ICMS, em 01 de setembro de 2015. Após fiscalização, foi lavrado auto de
infração e a respeito do qual a Delta foi notificada em 30 de março de 2016, em virtude da constatação de
recolhimento a menor dos valores devidos e proposta execução fiscal em 15 de novembro de 2020. A Delta
apresenta embargos à execução tendo em vista a falta de prévio processo administrativo para constituição
do crédito tributário e a prescrição do direito de cobrança do crédito tributário.
Diante dessa situação, assinale a alternativa correta.
a) O direito de cobrança do crédito tributário está extinto, no caso em análise, pois o prazo prescricional é
de cinco anos contados do fato gerador do tributo.
b) O direito de cobrança do crédito tributário não está extinto, no caso em análise, pois o prazo
prescricional é de cinco anos contados da lavratura do auto de infração.

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c) O direito de cobrança do crédito tributário está prescrito, pois era necessária a propositura de processo
administrativo para sua constituição.
d) O direito de cobrança do crédito tributário está extinto, no caso em análise, pois o prazo prescricional
é de cinco anos contados da data do lançamento por homologação do tributo.
e) O direito de cobrança do crédito tributário não está extinto, no caso em análise, pois o prazo
prescricional é de cinco anos contados do término de ano fiscal no qual ocorreu o fato gerador.
Comentários
A alternativa correta é a letra B.
A questão aborda o tema extinção do crédito tributário e o entendimento dos Tribunais Superiores.
A alternativa A está incorreta por dois motivos. (i) O prazo de cinco anos contados a partir do da ocorrência
do fato gerador é decadencial e não prescricional, ou seja, é o prazo para o Fisco constituir o crédito
tributário, especialmente do valor declarado a menor, conforme entendimento do STJ: (...) no caso de
pagamento antecipado, mesmo que a menor, e não havendo dolo ou fraude, a regra legal aplicável para
decadência é a do art. 150, § 4º, do CTN. (STJ - REsp: 1810778 MG 2019/0073002-8, Relator: Ministro
HERMAN BENJAMIN, Data de Julgamento: 11/06/2019, T2 - SEGUNDA TURMA, Data de Publicação: DJe
01/07/2019); (ii) o direito de cobrança não está extinto pois o prazo de cinco anos para ajuizamento da
execução fiscal conta-se da data da constituição do crédito, conforme art. 174 do CTN: “A ação para a
cobrança do crédito tributário prescreve em cinco anos, contados da data da sua constituição definitiva.”
A alternativa B está correta pois o crédito tributário foi constituído dentro do prazo de cinco anos contados
da ocorrência do fato gerador e a execução fiscal foi ajuizada dentro do prazo prescricional, conforme
seguintes dispositivos do CTN. “Art. 150. O lançamento por homologação, que ocorre quanto aos tributos
cuja legislação atribua ao sujeito passivo o dever de antecipar o pagamento sem prévio exame da autoridade
administrativa, opera-se pelo ato em que a referida autoridade, tomando conhecimento da atividade assim
exercida pelo obrigado, expressamente a homologa. § 4º Se a lei não fixar prazo a homologação, será ele de
cinco anos, a contar da ocorrência do fato gerador; expirado esse prazo sem que a Fazenda Pública se tenha
pronunciado, considera-se homologado o lançamento e definitivamente extinto o crédito, salvo se
comprovada a ocorrência de dolo, fraude ou simulação. (...) Art. 174. A ação para a cobrança do crédito
tributário prescreve em cinco anos, contados da data da sua constituição definitiva.”
A alternativa C está incorreta pois, caso o contribuinte discordasse do valor lançado pelo Fisco, deveria ele
próprio manejar o processo administrativo, conforme entendimento do STJ: “2. Nos tributos com
lançamento de ofício, a ausência de prévio processo administrativo não enseja a nulidade da CDA, porquanto
cabe ao contribuinte o manejo de competente processo administrativo caso entenda incorreta a cobrança
tributária, e não ao Fisco que, com observância da lei aplicável ao caso, lançou o tributo. (STJ - AgRg no AgRg
no AREsp: 235651 MG 2012/0203330-2, Relator: Ministro HERMAN BENJAMIN, Data de Julgamento:
26/08/2014, T2 - SEGUNDA TURMA, Data de Publicação: DJe 25/09/2014)” Frise-se que o lançamento que
verifica declaração a menor é lançamento de ofício, nos termos do CTN: “Art. 149. O lançamento é efetuado
e revisto de ofício pela autoridade administrativa nos seguintes casos: V - quando se comprove omissão ou
inexatidão, por parte da pessoa legalmente obrigada, no exercício da atividade a que se refere o artigo
seguinte [lançamento por homologação];”
A alternativa D está incorreta pois (i) o direito de cobrança do crédito não está extinto, conforme comentários
às alternativas A e B.

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108
A alternativa E está incorreta pois, embora o crédito não esteja extinto, os motivos são aqueles expostos nos
comentários às alternativas A e B.

QUESTÃO 75. O Prefeito do Município de Cocaia do Sul envia projeto de lei prevendo a isenção do IPTU -
Imposto Predial e Territorial Urbano para idosos, com mais de 65 anos, proprietários de apenas um imóvel,
com validade para os próximos dois exercícios fiscais. Para que o projeto esteja de acordo com a Lei de
Responsabilidade Fiscal, deverá
a) estar acompanhado de comprometimento por parte do proponente de que envidará seus melhores
esforços para o cumprimento das metas de resultados fiscais.
b) alterar a Lei de Diretrizes Orçamentárias no exercício em que deva iniciar sua vigência e nos três
seguintes.
c) prever medidas de compensação pelo aumento permanente de receita ou pela redução permanente de
despesa.
d) estar acompanhado de estimativa do impacto orçamentário-financeiro no exercício em que deva iniciar
sua vigência e nos três seguintes.
e) estar acompanhado de medidas de compensação, por meio do aumento de receita, proveniente da
elevação de alíquotas, ampliação da base de cálculo, majoração ou criação de tributo ou contribuição.
Comentários
A alternativa correta é a letra E.
A questão aborda o tema da renúncia de receita.
A alternativa A está incorreta, pois a concessão de benefício fiscal poderá estar acompanhada de
demonstração de que a renúncia não afetará as metas de resultados fiscais, conforme art. 14, I, da LRF:
“demonstração pelo proponente de que a renúncia foi considerada na estimativa de receita da lei
orçamentária, na forma do art. 12, e de que não afetará as metas de resultados fiscais previstas no anexo
próprio da lei de diretrizes orçamentárias;”
A alternativa B está incorreta, pois a concessão de benefício fiscal deve atender ao disposto na lei de
diretrizes orçamentárias e não alterá-la, conforme art. 14, caput, da LRF: “Art. 14. A concessão ou ampliação
de incentivo ou benefício de natureza tributária da qual decorra renúncia de receita deverá estar
acompanhada de estimativa do impacto orçamentário-financeiro no exercício em que deva iniciar sua
vigência e nos dois seguintes, atender ao disposto na lei de diretrizes orçamentárias e a pelo menos uma das
seguintes condições”.
A alternativa C está incorreta, pois apenas é admitida a medida de compensação de aumento receita, mas
não da redução permanente de despesa, conforme art. 14, II, da LRF: “estar acompanhada de medidas de
compensação, no período mencionado no caput, por meio do aumento de receita, proveniente da elevação
de alíquotas, ampliação da base de cálculo, majoração ou criação de tributo ou contribuição”.
A alternativa D está incorreta, pois a estimativa do impacto orçamentário-financeiro deve ser feita para o
exercício em que o benefício deva iniciar sua vigência e nos dois seguintes, não três, conforme art. 14, caput,
da LRF: “Art. 14. A concessão ou ampliação de incentivo ou benefício de natureza tributária da qual decorra
renúncia de receita deverá estar acompanhada de estimativa do impacto orçamentário-financeiro no

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108
exercício em que deva iniciar sua vigência e nos dois seguintes, atender ao disposto na lei de diretrizes
orçamentárias e a pelo menos uma das seguintes condições”.
A alternativa E está correta, pois revela a medida apta a compensar o benefício fiscal concedido, conforme
art. 14, II, da LRF: “estar acompanhada de medidas de compensação, no período mencionado no caput, por
meio do aumento de receita, proveniente da elevação de alíquotas, ampliação da base de cálculo, majoração
ou criação de tributo ou contribuição”.

QUESTÃO 76. O Município de Alonsópolis do Sul pretende instituir uma taxa sobre atividade de fiscalização
e licença para instalação de torres e antenas de transmissão e recepção de dados e voz em seu território.
Para o cálculo do valor desse tributo, será aplicada alíquota única, especificamente definida para a taxa,
calculada sobre a mesma base de cálculo do Imposto Predial e Territorial Urbano – IPTU. A esse respeito,
assinale a alternativa correta.
a) É inconstitucional a instituição da taxa pela Municipalidade, embora seja constitucional a adoção, no
cálculo de uma taxa, da base de cálculo própria do IPTU, desde que não haja integral identidade entre uma
base e outra.
b) São inconstitucionais tanto a instituição da taxa pela Municipalidade, como a adoção, no cálculo do seu
valor, da base de cálculo própria do IPTU, sendo que a instituição de taxa dessa natureza compete aos
Estados e ao Distrito Federal.
c) São constitucionais tanto a instituição da taxa pela Municipalidade, como a adoção, no cálculo do valor
de taxa, da base de cálculo própria do IPTU, desde que não haja integral identidade entre uma base e
outra.
d) São inconstitucionais tanto a instituição da taxa pela Municipalidade, como a adoção, no cálculo do seu
valor, da base de cálculo própria do IPTU, sendo que a instituição de taxa dessa natureza compete à União.
e) É constitucional a instituição da taxa pela Municipalidade, mas não a adoção, no cálculo do valor de
taxa, da base de cálculo própria do IPTU.
Comentários
A alternativa correta é a letra A, pois revela o teor de dois entendimentos consolidados do STF.
Tese fixada no Tema 919 da Repercussão Geral: “A instituição de taxa de fiscalização do funcionamento de
torres e antenas de transmissão e recepção de dados e voz é de competência privativa da União, nos termos
do art. 22, IV, da Constituição Federal, não competindo aos Municípios instituir referida taxa.”
Súmula Vinculante 29: “É constitucional a adoção, no cálculo do valor de taxa, de um ou mais elementos da
base de cálculo própria de determinado imposto, desde que não haja integral identidade entre uma base e
outra.”
A questão aborda o tema das taxas.
As demais hipóteses indicadas nas alternativas B, C, D e E não revelam o entendimento do STF, razão pela
qual estão incorretas.

QUESTÃO 77. Na análise da Súmula nº 492 STJ (“O ato infracional análogo ao tráfico de drogas, por si só,
não conduz obrigatoriamente à imposição de medida socioeducativa de internação do adolescente”), à

82
108
vista dos princípios da Infância e da Juventude e da natureza do ato infracional alvo do enunciado, é
correto afirmar que
a) o princípio da excepcionalidade permite a aplicação da medida de internação ao adolescente, ainda que
onerosa ao seu direito de liberdade, considerado o direito coletivo à segurança e à saúde.
b) a interação deve ser aplicada se a medida socioeducativa em meio aberto for desaconselhada por laudo
técnico oficial.
c) condensa os princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em
desenvolvimento, quando da aplicação de qualquer medida privativa da liberdade.
d) a internação deve ser aplicada se descortinadas cumulativamente, as hipóteses previstas no artigo 122,
incisos I e II, do Estatuto da Criança e do Adolescente.
e) o entendimento sumulado exclui possibilidade de aferição, para a aplicação de internação, de atos
infracionais anteriores, considerada a sua condição peculiar de pessoa em desenvolvimento.
Comentários
A alternativa correta é a letra C.
A alternativa A está incorreta. De acordo com o Princípio da Excepcionalidade, a internação só se justifica
quando não houver outra medida que se mostre adequada. Ademais, de acordo com o artigo 122, §2º, do
ECA: §2º Em nenhuma hipótese será aplicada a internação, havendo outra medida adequada.
A alternativa B está incorreta. O legislador definiu, em rol taxativo, quando será aplicada uma medida em
específico apenas em relação à internação. Ele fez isso porque a medida socioeducativa de internação
constitui uma medida séria e grave. Em relação às demais medidas, o juiz da infância e juventude terá
liberdade para aplicá-la de acordo com as circunstâncias do caso concreto e com base na avaliação efetuada
pela equipe técnica da Vara de Infância.
A alternativa C está correta. A gravidade do ato infracional análogo ao de tráfico de entorpecentes não pode
ser o suficiente para fundamentar a decisão de internação do adolescente infrator é preciso verificar no caso
concreto a ocorrência de algumas das hipóteses do art.122 para a decretação da internação como por
exemplo a reiteração.
A alternativa D está incorreta. As hipóteses previstas no artigo 122, I e II, do ECA não são cumulativas e se
presente qualquer delas isoladamente, o juiz aplicará a medida de internação, observados os princípios que
regem o sistema de medida socioeducativa.
A alternativa E está incorreta. Para aplicação da medida de internação, são analisados os atos anteriores, nos
termos do artigo 122 do ECA: “A medida de internação só poderá ser aplicada quando: I - tratar-se de ato
infracional cometido mediante grave ameaça ou violência a pessoa; II - por reiteração no cometimento de
outras infrações graves; III - por descumprimento reiterado e injustificável da medida anteriormente
imposta”.

QUESTÃO 78. O artigo 208, inciso I, da Constituição Federal prevê que o dever do Estado à educação será
efetivado mediante a educação básica obrigatória e gratuita. Nesse contexto, a recusa da municipalidade
à construção de creches, por comprovada falta de dotação orçamentária,

83
108
a) está justificada por falta de meios concretos para a garantia do direito da criança à educação básica,
limitado pela falta de recursos financeiros do ente municipal, a vista do conteúdo dos princípios da
oportunidade e discricionariedade da administração pública.
b) afronta direito da criança, indispensável ao seu desenvolvimento integral, como primeira etapa do
processo de educação básica, dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, reconhecida a
disponibilidade do direito para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria.
c) o princípio do possível será oponível por ente governamental, como justificativa para não construir
creches por falta de verba, mediante o exercício de direito de ação, com observância ao prazo decadencial
previsto em lei.
d) legitima os pais ou responsáveis, de forma exclusiva, ao ajuizamento de ação de obrigação de fazer por
falta de concretude a garantia constitucionalmente prevista, com possibilidade de pedido de tutela de
urgência.
e) constitui omissão do ente público por cumprir à Municipalidade, ente governamental, oferecer, de
forma absolutamente prioritária, meios concretos para a garantia da criança à educação básica.
Comentários
A alternativa correta é a letra E.
A alternativa A está incorreta. A jurisprudência dos tribunais superiores tem entendido que a tese da reserva
do possível não tem cabimento diante do direito à educação, por se tratar de direito subjetivo e de
prioridade. Nesse sentido, a jurisprudência: “ADMINISTRATIVO E CONSTITUCIONAL – ACESSO À CRECHE AOS
MENORES DE ZERO A SEIS ANOS – DIREITO SUBJETIVO – RESERVA DO POSSÍVEL – TEORIZAÇÃO E CABIMENTO
– IMPOSSIBILIDADE DE ARGUIÇÃO COMO TESE ABSTRATA DE DEFESA – ESCASSEZ DE RECURSOS COMO O
RESULTADO DE UMA DECISÃO POLÍTICA – PRIORIDADE DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS – CONTEÚDO DO
MÍNIMO EXISTENCIAL – ESSENCIALIDADE DO DIREITO À EDUCAÇÃO – PRECEDENTES DO STF E STJ” (RECURSO
ESPECIAL Nº 1.185.474 - SC (2010/0048628-4)).
A alternativa B está incorreta. A educação, direito social, é indisponível, previsto no artigo Art. 6º São direitos
sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a
previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta
Constituição. Ademais, dispõe o artigo 208, §1º, da Constituição Federal: Art. 208. O dever do Estado com a
educação será efetivado mediante a garantia de: I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos
17 (dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram
acesso na idade própria. § 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo.
A alternativa C está incorreta. Consoante comentários formulados à alternativa “a”, a jurisprudência dos
tribunais superiores têm entendido que a tese da reserva do possível e escassez de recursos não têm
cabimento diante do direito à educação, por se tratar de direito subjetivo e de prioridade. Nesse sentid:
“ADMINISTRATIVO E CONSTITUCIONAL – ACESSO À CRECHE AOS MENORES DE ZERO A SEIS ANOS – DIREITO
SUBJETIVO – RESERVA DO POSSÍVEL – TEORIZAÇÃO E CABIMENTO – IMPOSSIBILIDADE DE ARGUIÇÃO COMO
TESE ABSTRATA DE DEFESA – ESCASSEZ DE RECURSOS COMO O RESULTADO DE UMA DECISÃO POLÍTICA –
PRIORIDADE DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS – CONTEÚDO DO MÍNIMO EXISTENCIAL – ESSENCIALIDADE DO
DIREITO À EDUCAÇÃO – PRECEDENTES DO STF E STJ (RECURSO ESPECIAL Nº 1.185.474 – SC” (2010/0048628-
4)).
A alternativa D está incorreta. O Ministério Público também detém a legitimidade ao ajuizamento de ação
de obrigação de fazer por falta de concretude a garantia constitucionalmente prevista. Nesse sentido, prevê

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108
o artigo 5º, da Lei n. 9.394/1996: art. 5º - O acesso à educação básica obrigatória é direito público subjetivo,
podendo qualquer cidadão, grupo de cidadãos, associação comunitária, organização sindical, entidade de
classe ou outra legalmente constituída e, ainda, o Ministério Público, acionar o poder público para exigi-
lo.
A alternativa E está correta. Conforme decidiu o Superior Tribunal de Justiça, “[...] 9. Eis a razão pela qual o
art. 227 da CF e o art. 4º da Lei n. 8.069/90 dispõem que a educação deve ser tratada pelo Estado com
absoluta prioridade. No mesmo sentido, o art. 54 do Estatuto da Criança e do Adolescente prescreve que é
dever do Estado assegurar às crianças de zero a seis anos de idade o atendimento em creche e pré-escola.
Portanto, o pleito do Ministério Público encontra respaldo legal e jurisprudencial. Precedentes: REsp
511.645/SP, Rel. Min. Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado em 18.8.2009, DJe 27.8.2009; RE 410.715
AgR / SP - Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 22.11.2005, DJ 3.2.2006, p. 76”.

QUESTÃO 79. A Direção de Presídio Masculino, estabelecido em zona rural do Estado, aos argumentos de
inadequação do ambiente carcerário para crianças e adolescentes e dificuldades de acesso por falta de
linha de transporte regular, proibiu a realização de visitas periódicas de crianças e adolescentes, filhos de
presos, acompanhados de seus responsáveis. A vista do que dispõe o artigo 19, §4, do Estatuto da Criança
e do Adolescente, que assegura a convivência da criança ou adolescente com a mãe ou pai privado de
liberdade, por meio de visitas periódicas, a proibição deve ser revogada porque
a) a proibição não menciona as crianças e os adolescentes em acolhimento institucional, aos quais se
estende o direito à convivência.
b) o direito de convivência não sofre limitações e tem por objetivo precípuo manter a unidade da família,
seja ela natural, extensa ou substituta.
c) o exercício do direito de convivência depende de prévia autorização judicial, ouvido o Ministério Público,
a demonstrar a impropriedade do regramento.
d) o direito à convivência é absoluto, orientado pelos princípios da proteção integral e da absoluta
prioridade e deve ser exercitado sem qualquer limitação.
e) o direito à convivência deve ser interpretado em conjunto com o direito da criança e do adolescente à
dignidade e se limita pela avaliação de risco objetivo à segurança e à integridade física e psíquica da criança
e/ou do adolescente.
Comentários
A alternativa correta é a letra E.
O entendimento firmado pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento do HC 98.518 responde a todas as
alternativa, uma vez que, conforme entendeu a corte suprema, “O art. 120 da Lei 8.069/1990 garante a
realização de atividades externas independentemente de autorização judicial. O Estado tem o dever de
assegurar à criança e ao adolescente o direito à convivência familiar (art. 227, caput, da Constituição do
Brasil). O objetivo maior da Lei 8.069/1990 é a proteção integral à criança e ao adolescente, aí compreendida
a participação na vida familiar e comunitária. Restrições a essas garantias somente são possíveis em
situações extremas, decretadas com cautela em decisões fundamentadas, o que no caso não se dá. Ordem
parcialmente concedida para permitir ao paciente a realização de atividades externas e visitas à família sem
a imposição de qualquer condição pelo juízo da Vara da Infância e Juventude”. [HC 98.518, rel. min. Eros
Grau, j. 25-5-2010, 2ª T, DJE de 18-6-2010.]

85
108
QUESTÃO 80. No tocante à fiscalização e ao monitoramento das medidas socioeducativas, o Conselho
Tutelar
a) pode ter as suas decisões revistas, de ofício, pela autoridade judiciária, nos termos do artigo 137 do
Estatuto da Criança e do Adolescente.
b) tem atribuição para fiscalizar e monitorar o cumprimento das medidas socioeducativas, comunicando
à autoridade judiciária o seu desenrolar, nos termos do artigo 136, VI, cc o artigo 101, incisos I a VI, do
Estatuto da Criança e do Adolescente.
c) na medida em que encarregado pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do
adolescente, além de fiscalizar e monitorar as medidas socioeducativas, nos termos do artigo 131 do
Estatuto da Criança e do Adolescente, pode revogá-las e aplicar outras em substituição.
d) não tem atribuição para fiscalizar e monitorar as medidas socioeducativas, por não exercer parcela de
poder público, à vista da forma de investidura, consoante dispõe o artigo 132 do Estatuto da Criança e do
Adolescente.
e) tem competência jurisdicional limitada à aplicação, mas não ao monitoramento e à fiscalização das
medidas socioeducativas.
Comentários
A alternativa correta é a letra B.
A alternativa A está incorreta. Nos termos do artigo 137 do ECA: Art. 137. As decisões do Conselho Tutelar
somente poderão ser revistas pela autoridade judiciária a pedido de quem tenha legítimo interesse.
A alternativa B está correta. Trata-se da previsão contida no artigo 136, inciso VI, do ECA: Art. 136. São
atribuições do Conselho Tutelar: [...] VI. providenciar a medida estabelecida pela autoridade judiciária,
dentre as previstas no art. 101, de I a VI, para o adolescente autor de ato infracional;
A alternativa C está incorreta. A revogação ou substituição é competência exclusiva do Juiz, nos termos do
artigo 148 do ECA: Art. 148. A Justiça da Infância e da Juventude é competente para: I - conhecer de
representações promovidas pelo Ministério Público, para apuração de ato infracional atribuído a
adolescente, aplicando as medidas cabíveis.
A alternativa D está incorreta. Conforme dispõe o artigo 136 do Conselho Tutelar: Art. 136. São atribuições
do Conselho Tutelar: [...] VI. providenciar a medida estabelecida pela autoridade judiciária, dentre as
previstas no art. 101, de I a VI, para o adolescente autor de ato infracional;
A alternativa E está incorreta. O Conselho Tutelar não possui competência jurisdicional, que é exclusiva do
Juiz.

QUESTÃO 81. No que diz respeito à adoção internacional, diante das diretrizes do Estatuto da Criança e do
Adolescente e do regramento da Convenção de Haia, relativa à proteção das crianças e à cooperação em
matéria de adoção internacional, é correto afirmar:
a) por se tratar de adoção internacional, atribui-se ao adotado a condição de filho para todos os efeitos,
desligando-o de qualquer vínculo (jurídico, pessoal ou patrimonial) com os pais biológicos, consoante
dispõe o art. 41 do Estatuto da Criança e do Adolescente, inclusive no que diz respeito aos impedimentos
para o casamento.

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108
b) a partir do momento em que é constituída pela sentença judicial e é retificado o registro de nascimento,
a adoção gera efeitos, e o adotado adquire os mesmos direitos e obrigações como qualquer filho, razão
por que, em caso de adoção internacional, perde a nacionalidade brasileira.
c) ainda que internacional, a adoção se caracteriza pelo lugar da residência do adotante, seja o postulante
à adoção de nacionalidade brasileira ou estrangeira, em decorrência dos princípios da proteção integral e
da absoluta prioridade e da soberania nacional.
d) são requisitos gerais da adoção internacional: 1. a impossibilidade de reintegração do menor em sua
família natural ou extensa; 2. o exaurimento de possibilidades de encaixar a criança ou jovem em família
substituta brasileira, e 3. a consulta ao maior de 12 anos, para obtenção de consentimento, com
observância aos requisitos de compatibilidade com o adotante e o local para onde segue.
e) para a adoção internacional, o postulante deve residir, ainda que temporariamente, em território
nacional e pretender adotar em Estado-parte da Convenção de Haia.
Comentários
A alternativa correta é a letra D.
A alternativa A está incorreta. Nos termos do artigo 41 do ECA: Art. 41. A adoção atribui a condição de filho
ao adotado, com os mesmos direitos e deveres, inclusive sucessórios, desligando-o de qualquer vínculo com
pais e parentes, salvo os impedimentos matrimoniais.
A alternativa B está incorreta. Conforme forma de garantia prioritária aos direitos da criança e do
adolescente, este não perderá a nacionalidade brasileiro, na hipótese de adoção por estrangeiros. A adoção
internacional, assim, não é causa de perda da nacionalidade.
A alternativa C está incorreta. A adoção internacional é caracterizada pela residência no exterior, seja de
brasileiro ou de estrangeiro, nos termos do artigo 51 do ECA: Art. 51. Considera-se adoção internacional
aquela na qual o pretendente possui residência habitual em país-parte da Convenção de Haia, de 29 de maio
de 1993, Relativa à Proteção das Crianças e à Cooperação em Matéria de Adoção Internacional, promulgada
pelo Decreto no 3.087, de 21 junho de 1999, e deseja adotar criança em outro país-parte da Convenção.
A alternativa D está correta. Trata-se dos requisitos previstos no artigo 51, §1º, do ECA: § 1° A adoção
internacional de criança ou adolescente brasileiro ou domiciliado no Brasil SOMENTE terá lugar quando
restar comprovado: 1) que a colocação em família adotiva é a solução adequada ao caso concreto; 2) que
foram esgotadas todas as possibilidades de colocação da criança ou adolescente em família adotiva
brasileira, com a comprovação, certificada nos autos, da inexistência de adotantes habilitados residentes no
Brasil com perfil compatível com a criança ou adolescente, após consulta aos cadastros mencionados nesta
Lei; 3) que, em se tratando de adoção de adolescente, este foi consultado, por meios adequados ao seu
estágio de desenvolvimento, e que se encontra preparado para a medida, mediante parecer elaborado por
equipe interprofissional, observado o disposto nos §§ 1o e 2o do art. 28 desta Lei.
A alternativa E está incorreta. Não se exige que o adotante resida no Brasil. Exige-se, apenas, que o período
de convivência com o adotando seja cumprido no Brasil, nos termos do artigo 46, §3º, do ECA: §3º Em caso
de adoção por pessoa ou casal residente ou domiciliado fora do País, o estágio de convivência será de, no
mínimo, 30 (trinta) dias e, no máximo, 45 (quarenta e cinco) dias, prorrogável por até igual período, uma
única vez, mediante decisão fundamentada da autoridade judiciária.

QUESTÃO 82. Quanto ao Direitos da criança e do adolescente à Saúde, é correto afirmar que

87
108
a) a proteção do direito à saúde se inicia com o atendimento pré e perinatal, a justificar o disposto no art.
8º, §10, do Estatuto da Criança e do Adolescente, voltado à gestante e à mulher com filho na primeira
infância que se encontrem sob custódia em unidade de privação de liberdade, e que dispõe sobre o
cumprimento do calendário vacinal.
b) a vacinação das crianças e dos adolescentes é obrigatória nos casos recomendados pelas autoridades
sanitárias, nos termos do artigo 14, §1º, do Estatuto da Criança e do Adolescente.
c) há prioridade máxima estabelecida por lei ao atendimento de crianças de até seis anos completos com
suspeita ou confirmação de violência de qualquer natureza pelo serviço de saúde e de assistência social,
nos termos do artigo 13, §2º, do Estatuto da Criança e do Adolescente, sem prejuízo de outras providências
legais.
d) se as gestantes ou mães manifestarem interesse em entregar seus filhos para adoção, poderão ser
encaminhadas à Justiça da Infância e da Juventude, após as advertências legais e a assinatura de termo de
responsabilidade, nos termos do artigo 13, §1º, do Estatuto da Criança e do Adolescente.
e) os hospitais e demais estabelecimentos de atenção à saúde da gestante, públicos e particulares, deverão
disponibilizar os prontuários médicos pelo período de 10 (dez) anos, nos termos do artigo 10, inciso I, do
Estatuto da Criança e do Adolescente.
Comentários
A alternativa correta é a letra C.
A alternativa A está incorreta. O artigo 8º, §10º, do ECA não dispõe acerca do calendário vacinal: §
10. Incumbe ao poder público garantir, à gestante e à mulher com filho na primeira infância que se
encontrem sob custódia em unidade de privação de liberdade, ambiência que atenda às normas sanitárias e
assistenciais do Sistema Único de Saúde para o acolhimento do filho, em articulação com o sistema de ensino
competente, visando ao desenvolvimento integral da criança.
A alternativa B está incorreta. O artigo 14, §1º, trata apenas da obrigatoriedade da vacinação da criança: § 1
o É obrigatória a vacinação das crianças nos casos recomendados pelas autoridades sanitárias.
A alternativa C está correta. Nos termos do artigo 13, §2º, do ECA: Art. 13. Os casos de suspeita ou
confirmação de castigo físico, de tratamento cruel ou degradante e de maus-tratos contra criança ou
adolescente serão obrigatoriamente comunicados ao Conselho Tutelar da respectiva localidade, sem
prejuízo de outras providências legais. [...]§ 2 o Os serviços de saúde em suas diferentes portas de entrada,
os serviços de assistência social em seu componente especializado, o Centro de Referência Especializado de
Assistência Social (Creas) e os demais órgãos do Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente
deverão conferir máxima prioridade ao atendimento das crianças na faixa etária da primeira infância com
suspeita ou confirmação de violência de qualquer natureza, formulando projeto terapêutico singular que
inclua intervenção em rede e, se necessário, acompanhamento domiciliar.
A alternativa D está incorreta. As gestantes ou mães serão encaminhadas sem constrangimento à Justiça da
Infância e da Juventude:§ 1 o As gestantes ou mães que manifestem interesse em entregar seus filhos para
adoção serão obrigatoriamente encaminhadas, sem constrangimento, à Justiça da Infância e da Juventude.
A alternativa E está incorreta. Nos termos do artigo 10, I, do ECA, o prazo para manutenção de registros é de
18 anos: Art. 10. Os hospitais e demais estabelecimentos de atenção à saúde de gestantes, públicos e
particulares, são obrigados a: I - manter registro das atividades desenvolvidas, através de prontuários
individuais, pelo prazo de dezoito anos;

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QUESTÃO 83. Trata-se de conflito negativo de competência suscitado pelo juízo de domicílio da mãe
biológica, autora da ação cautelar incidental, que se mudou do Município de Rio de Janeiro para o de Cabo
Frio, durante o trâmite da ação principal. O Juízo suscitante indica como competente o Juízo suscitado, da
Comarca do Município de Niterói, domicílio da avó materna, onde exercida a guarda de fato da criança.
Qual a solução para o conflito de competência, de acordo com entendimento dos tribunais superiores e
do Estatuto da Criança e do Adolescente?
a) O juízo competente é o da Comarca de Niterói, de domicilio da avó da criança, nos termos do art. 147,
II, do ECA, que encerra regra de competência territorial, mas de natureza absoluta, conforme enunciado
da Súmula 383 do STJ e de acordo com os melhores interesses da criança.
b) Declarada, preliminarmente, a perpetuatio jurisdictionis (perpetuação da jurisdição), nos termos do
artigo 87 do Código de Processo Civil, aplicável, de forma subsidiária, ao Estatuto da Criança e do
Adolescente, na medida em que as normas trazidas pelo artigo 147, incisos I e II, do Estatuto da Criança e
do Adolescente, são de competência absoluta e, portanto, competente o juízo da Comarca do Rio de
Janeiro.
c) O juízo competente é o do domicílio da Comarca de Cabo Frio, da mãe biológica, nos termos do art. 147,
1, do ECA, que encerra regra de competência territorial, mas de natureza geral e absoluta.
d) Não deve ser conhecido o conflito pelo Tribunal de Justiça, porque se trata de regra de competência
relativa, e, assim, deveria ter sido oposta a exceção de competência pelo interessado, não cabendo ao juiz
agir ex officio.
e) Declarada, preliminarmente, pelo Tribunal de Justiça, a perpetuatio jurisdictionis (perpetuação da
jurisdição), nos termos do artigo 87 do Código de Processo Civil, aplicável, de forma subsidiária, ao Estatuto
da Criança e do Adolescente, na medida em que as normas trazidas pelo artigo 147, incisos 1 e II, do
Estatuto da Criança e do Adolescente, são de competência relativa, e, portanto, competente o juízo da
Comarca do Rio de Janeiro.
Comentários
A alternativa correta é a letra A.
A alternativa A está correta. Conforme dispõe a Súmula 383 do STJ: Súmula 383 – A competência para
processar e julgar as ações conexas de interesse de menor é, em princípio, do foro do domicílio do detentor
de sua guarda.
A alternativa B está incorreta. A regra da perpetuatio jurisdicionis não se aplica à incompetência absoluta,
nos termos do artigo 43 do CPC: Art. 43. Determina-se a competência no momento do registro ou da
distribuição da petição inicial, sendo irrelevantes as modificações do estado de fato ou de direito ocorridas
posteriormente, salvo quando suprimirem órgão judiciário ou alterarem a competência absoluta. Observe-
se que a alternativa menciona artigo do Código de Processo Civil revogado, de 1973. Atualmente, o
dispositivo referente ao princípio da perpetuatio jurisdicionis é o artigo 43 do Código de Processo Civil de
2015.
A alternativa C está incorreta. A regra do artigo 147, I, ECA (Art. 147. A competência será determinada: I -
pelo domicílio dos pais ou responsável) se aplica quando a criança está na companhia dos pais ou
responsáveis porque se a criança ou o adolescente NÃO estiver na companhia de seus pais ou responsáveis
adotaremos a segunda regra. Assim, a competência sempre será fixada de acordo com o local onde está a
criança ou adolescente. Embora estejamos tratando de competência territorial ela terá natureza absoluta.

89
108
A alternativa D está incorreta. Embora estejamos tratando de competência territorial ela terá natureza
absoluta.
A alternativa E está incorreta. Conforme mencionado nas alternativas anteriores, embora estejamos
tratando de competência territorial ela terá natureza absoluta, razão pela qual é inaplicável o princípio da
perpetuatio jurisdicionis. Observe-se que a alternativa menciona artigo do Código de Processo Civil
revogado, de 1973. Atualmente, o dispositivo referente ao princípio da perpetuatio jurisdicionis é o artigo
43 do Código de Processo Civil de 2015.

QUESTÃO 84. Quanto a remissão pré-processual (ministerial) ou processual (judicial), é correto afirmar
que
a) somente exclui o processo se concedida por juiz.
b) não implica, necessariamente, o reconhecimento ou comprovação de responsabilidade pela prática do
ato infracional.
c) pode ser fundamento, em qualquer de suas modalidades, para a aplicação futura de medida
socioeducativa de internação, com base na reiteração no cometimento de outras infrações graves.
d) é forma de extinção da medida socioeducativa
e) prevalece para efeito de antecedentes.
Comentários
A alternativa correta é a letra B.
A alternativa A está incorreta. Nos termos do artigo 126, caput, do ECA: Art. 126. Antes de iniciado o
procedimento judicial para apuração de ato infracional, o representante do Ministério Público poderá
conceder a remissão, como forma de exclusão do processo, atendendo às circunstâncias e consequências do
fato, ao contexto social, bem como à personalidade do adolescente e sua maior ou menor participação no
ato infracional.
A alternativa B está correta. Trata-se da literalidade do artigo 127 do ECA: Art. 127. A remissão não implica
necessariamente o reconhecimento ou comprovação da responsabilidade, nem prevalece para efeito de
antecedentes, podendo incluir eventualmente a aplicação de qualquer das medidas previstas em lei, exceto
a colocação em regime de semiliberdade e a internação.
A alternativa C está incorreta. Art. 35. A execução das medidas socioeducativas reger-se-á pelos seguintes
princípios: I - legalidade, não podendo o adolescente receber tratamento mais gravoso do que o conferido
ao adulto. Assim, considerando que as investigações não podem subsidiar a condenação do adulto, da
mesma maneira, a remissão não poderá fundamentar futura medida socioeducativa.
A alternativa D está incorreta. Trata-se de hipótese de exclusão do processo, nos termos do artigo 126, caput,
do ECA: Art. 126. Antes de iniciado o procedimento judicial para apuração de ato infracional, o representante
do Ministério Público poderá conceder a remissão, como forma de exclusão do processo, atendendo às
circunstâncias e consequências do fato, ao contexto social, bem como à personalidade do adolescente e sua
maior ou menor participação no ato infracional.
A alternativa E está incorreta. A remissão não prevalece para efeito de antecedentes, não podendo prejudicá-
lo se vier a ser julgado em uma ação socioeducativa no futuro.

90
108
QUESTÃO 85. Considerando que a ação civil pública é instrumento para defesa de interesses difusos,
coletivos e individuais homogêneos de crianças e adolescentes, é correto afirmar que
a) O Estatuto da Criança e do Adolescente não confere legitimação ao Ministério Público para tutela de
interesses de uma só criança por meio da ação civil pública, voltada aos interesses de coletividade de
crianças e/ou adolescentes.
b) Com a Emenda Constitucional 45/2004, o artigo 114 da Constituição Federal sedimenta a compreensão
de que a competência da Vara da Infância e da Juventude prevalece sobre a da Justiça do trabalho, em
julgamento de ação civil pública fundada em interesses individuais, difusos ou coletivos afetos à criança e
adolescente.
c) a legitimação para a defesa dos interesses metaindividuais de crianças e adolescentes decorre da
integração da Lei da Ação Civil Pública, do Código de Defesa do Consumidor, do Código de Processo Penal
e do Estatuto da Criança e do Adolescente.
d) na tutela jurisdicional coletiva, a multa aplicada em sentença proferida em ação civil pública, desde que
operado o trânsito em julgado, é revertida ao autor da ação.
e) o juiz somente poderá conferir efeito suspensivo ao recurso interposto contra sentença proferida em
ação civil pública para evitar dano irreparável à parte, sendo possível formular o requerimento de tutela
recursal em primeiro ou segundo grau de jurisdição.
Comentários
A alternativa correta é a letra E.
A alternativa A está incorreta. Nos termos do artigo 201 do ECA: Art. 201. Compete ao Ministério Público: V
– promover o inquérito civil e a ação civil pública para a proteção dos interesses individuais, difusos ou
coletivos relativos à infância e à adolescência, inclusive os definidos no art. 220, § 3º inciso II, da Constituição
Federal.
A alternativa B está incorreta. É da Justiça do Trabalho, e não da Justiça Comum, a competência para apreciar
pedido de autorização para trabalho de menores.
A alternativa C está incorreta. A defesa dos direitos metaindividuais da criança e do adolescente não incluir
o Código de Processo Penal.
A alternativa D está incorreta. Conforme dispõe o artigo 13 da Lei n. 7347/85: Art. 13. Havendo condenação
em dinheiro, a indenização pelo dano causado reverterá a um fundo gerido por um Conselho Federal ou por
Conselhos Estaduais de que participarão necessariamente o Ministério Público e representantes da
comunidade, sendo seus recursos destinados à reconstituição dos bens lesados. 1o. Enquanto o fundo não
for regulamentado, o dinheiro ficará depositado em estabelecimento oficial de crédito, em conta com
correção monetária.§ 2o Havendo acordo ou condenação com fundamento em dano causado por ato de
discriminação étnica nos termos do disposto no art. 1o desta Lei, a prestação em dinheiro reverterá
diretamente ao fundo de que trata o caput e será utilizada para ações de promoção da igualdade étnica,
conforme definição do Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial, na hipótese de extensão
nacional, ou dos Conselhos de Promoção de Igualdade Racial estaduais ou locais, nas hipóteses de danos
com extensão regional ou local, respectivamente.
A alternativa E está correta. Trata-se de previsão contida no artigo 14 da Lei n. 7347/85. Art. 14. O juiz poderá
conferir efeito suspensivo aos recursos, para evitar dano irreparável à parte.

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QUESTÃO 86. Considere que Thiago, promotor de justiça do Estado do Rio de Janeiro, ajuizou, no dia 20
novembro de 2020, ação civil pública de responsabilidade civil por danos ambientais em face da B.R.
Petrolífera que despejou material contaminante no Rio Acari, provocando a morte de centenas de peixes
e o desequilíbrio da biota, em 1° de janeiro de 2020, sendo que a re foi citada no dia 18 de dezembro de
2020. Paulo, pescador diretamente afetado pelo dano ambiental, propôs ação indenizatória individual
com a mesma causa de pedir da ação coletiva no dia 15 de dezembro de 2023.
Com base na situação hipotética e na jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, e correto afirmar que
a) Paulo propôs a ação indenizatória após o prazo de prescrição, que se extinguiu em 20 de novembro de
2023.
b) a ação proposta por Paulo está prescrita, pois com a distribuição do processo houve a suspensão da
prescrição, que voltou a correr um dia após a citação válida.
c) Paulo propôs a ação indenizatória após o prazo de prescrição, que se extinguiu em 19 de janeiro de 2023.
d) a ação proposta por Paulo não está prescrita, pois a citação válida do demandado na ação coletiva
interrompe o prazo de prescrição para ajuizamento da ação individual.
e) o Parquet ajuizou a ação coletiva por danos ambientais dentro do prazo decadencial, que é de 05 anos.
Comentários
A alternativa correta é a letra D.
A questão aborda sobre a prescrição em demanda coletiva.
A alternativa D está correta. A ação proposta por Paulo não está prescrita, pois a citação válida em ação
coletiva, configura causa interruptiva da prescrição, conforme o entendimento do Superior Tribunal de
Justiça nesse sentido: “A citação válida em ação coletiva, mesmo que versando sobre direitos difusos,
configura causa interruptiva do prazo de prescrição para o ajuizamento da ação individual. (STJ. 3ª Turma.
AgInt no AREsp 1831684/RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 20/09/2021)”.
As alternativas A, B, C e E estão incorretas, consoante o comentário da alternativa D.

QUESTÃO 87. A respeito do Dano Moral Coletivo, assinale a alternativa que está de acordo com a
jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça.
a) A inserção de cartões informativos no interior das embalagens de cigarros constitui pratica de
publicidade abusiva apta a caracterizar dano moral coletivo.
b) O tráfego de veículos com excesso de peso gera dano moral coletivo consistente no agravamento dos
riscos à saúde e à segurança de todos.
c) É devida a indenização em danos morais coletivos em razão da exigência, pela instituição financeira, de
tarifa bancária considerada indevida.
d) A exploração de jogo de azar ilegal não configura, em si mesma, dano moral coletivo in re ipsa.
e) O estacionamento de veículo em vaga reservada a pessoa com deficiência configura dano moral coletivo
in re ipsa.
Comentários
A alternativa correta é a letra B.

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108
A questão exige do examinando o conhecimento da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça acerca do
dano moral coletivo.
A alternativa B está correta. A alternativa corresponde à literalidade do entendimento do Superior Tribunal
de Justiça assentado no julgamento do REsp 1.574.350-SC, firmando seguinte entendimento: “O tráfego de
veículos com excesso de peso gera responsabilidade civil em razão dos danos materiais às vias públicas e do
dano moral coletivo consistente no agravamento dos riscos à saúde e à segurança de todos, sendo viável,
como medida coercitiva, a aplicação de multa civil (astreinte), ainda que já imputada multa administrativa.”.
As demais alternativas estão incorretas, conforme o comentário da alternativa B.

QUESTÃO 88. Considere que, no âmbito do Município X, é a Concessionária ABC que explora
comercialmente o serviço de lotes e jazigos de cinco dos quinze cemitérios existentes na cidade. No
contrato firmado entre a Concessionária e os Munícipes, consta cláusula que permite que a empresa
rescinda unilateralmente a avença e que a cada doze meses o contrato seja reajustado pela Taxa Selic.
Após receber diversas manifestações dos munícipes que se sentiram lesados pelas referidas cláusulas,
Mário, membro do Ministério Público responsável, propôs ação civil pública em face da Concessionária,
requerendo a declaração de abusividade das cláusulas citadas e indenização dos consumidores que já
aderiram ao contrato. Com base na situação hipotética e na jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça,
é correto afirmar que
a) como a Concessionária ABC explora comercialmente apenas um terço dos cemitérios do Município X,
não é possível a propositura da ação civil pública, pois, no caso, não há interesses difusos, coletivos ou
individuais homogêneos.
b) carece de legitimidade o Ministério Público, pois, no caso concreto, não há nem direito individual
homogêneo nem relevante interesse social.
c) o Ministério Público tem legitimidade para promover ação civil pública para reconhecimento da
abusividade de cláusulas previstas em contrato de adesão estipulado por empresa que explora os serviços
de concessão de lotes e jazigos em cemitério.
d) no âmbito da ação coletiva, o Ministério Público não tem legitimidade para requerer indenização aos
consumidores lesados.
e) como os lesados são individualizados, o Ministério Público não tem legitimidade para a propositura da
ação civil pública.
Comentários
A alternativa correta é a letra C.
A questão aborda sobre a propositura da ação civil pública.
A alternativa A está incorreta. O fato de a Concessionária ABC explorar comercialmente parte dos cemitérios
do Município X não descaracteriza a existência de direitos individuais homogêneos.
A alternativa C está correta. No caso narrado se caracteriza tutela de direito individual homogêneo, cuja
propositura é de legitimidade do Ministério Público. Vejamos:
“Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exercida em juízo
individualmente, ou a título coletivo. Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de: II
- interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de

93
108
natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte
contrária por uma relação jurídica base.”
“Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: III - promover o inquérito civil e a ação civil
pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e
coletivos;”.
As Alternativas B, D e E estão incorretas, conforme o comentário da alternativa C.

QUESTÃO 89. Considere que Luís, membro do Ministério Público do Estado X, propôs ação coletiva em face
do Banco Renda Mais, requerendo a não aplicação de juros capitalizados nos contratos bancários e a
devolução em dobro do que todos os consumidores lesados pagaram nos últimos cinco anos. Após
devidamente citado, o réu, em sede de preliminar de contestação, requereu a extinção do feito sem
julgamento do mérito, em face da inépcia da inicial, sob o argumento de que o pedido formulado é
genérico, prejudicando até mesmo a elaboração da defesa, em face da incerteza e indeterminabilidade.
Em seguida, o juiz acolheu o pedido do réu e julgou extinto o processo, sem resolução do mérito, por
considerar inepta a petição inicial. Com base na situação hipotética e no disposto na jurisprudência do
Superior Tribunal de Justiça, é correto afirmar que:
a) o juiz agiu corretamente, pois no âmbito da tutela coletiva é inadmissível pedido genérico e, caso Luís
apresente apelação, deverá ser diretamente condenado em litigância de má-fé.
b) apresentada e provida a apelação, com o retorno dos autos à primeira instância, se Luís requerer a
realização de perícia, o Banco deverá arcar com o adiantamento dos honorários periciais.
c) o juiz deverá se retratar e determinar a emenda à inicial se o membro do Ministério Público apresentar
apelação e, se julgar procedente a ação, deverá condenar o Banco em honorários advocatícios.
d) em sendo apresentada apelação por Luís e esta seja provida para determinar o retorno dos autos à
primeira instância, caso o juiz determine a realização de perícia contábil, o Ministério Público deverá
adiantar os honorários periciais.
e) o juiz deveria ter oportunizado a emenda da inicial, ainda que já contestada a ação, pois no âmbito de
processo coletivo vigora o princípio da máxima efetividade, que legitima o aumento dos poderes do órgão
jurisdicional, uma vez presente o interesse público subjacente à lide.
Comentários
A alternativa correta é a letra E.
A alternativa A está incorreta, no âmbito da tutela coletiva é permitido o pedido genérico, em razão do
princípio da generalidade das tutelas coletivas, pois não é possível determinar, desde logo, as consequências
do ato ou do fato, não incidindo na aplicabilidade do art. 324, § 1º, inciso II, do CPC.
A alternativa B e D estão incorretas. Se Luís requerer a realização de perícia, a ele será incumbida a
responsabilidade de pagar pelo adiantamento dos honorários periciais,e ainda, caso seja determinada de
ofício plo juiz, ela deverá ser rateada pelas partes, nos termos do art. 95 do Código de Processo Civil, a saber:
“Cada parte adiantará a remuneração do assistente técnico que houver indicado, sendo a do perito
adiantada pela parte que houver requerido a perícia ou rateada quando a perícia for determinada de ofício
ou requerida por ambas as partes.”
A alternativa C está incorreta. Não se trata de hipótese de juízo de retratação.

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108
A alternativa E está correta. De acordo com o a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, hipóteses
relacionadas à propositura de ação civil pública, o julgador deve determinar a emenda da petição inicial
sempre que forem detectados defeitos ou irregularidades relacionados ao pedido, mesmo após a
apresentação de contestação pela outra parte.

QUESTÃO 90. A respeito do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), assinale a alternativa correta.
a) Os recursos do cofinanciamento do SUAS, destinados à execução das ações continuadas de assistência
social, poderão ser aplicados no pagamento dos profissionais que integrarem as equipes de referência,
responsáveis pela organização e oferta daquelas ações, conforme percentual apresentado pelo Ministério
do Desenvolvimento Social e Combate à Fome e aprovado pelo Conselho Nacional de Assistência Social
(CNAS).
b) Ao SUAS compete a gestão das ações na área de assistência social, que deve ser feita de forma
centralizada, mas com a participação indireta dos demais entes federativos.
c) O SUAS é integrado exclusivamente pelos respectivos conselhos de assistência social dos estados e pelas
entidades e organizações de assistência social portadoras do Certificado de Entidade Beneficente de
Assistência Social (CEBAS).
d) As ações ofertadas no âmbito do SUAS têm por objetivos exclusivos a proteção à família, à infância, à
adolescência e à velhice, não se aplicando nas questões relativas ao mercado de trabalho.
e) Cabe à instância controladora da Política Nacional de Assistência Social normatizar e padronizar o
emprego e a divulgação da identidade visual do SUAS.
Comentários
A alternativa correta é a letra A.
A alternativa A está correta, sendo a literalidade do art. 6º-E da Lei nº 8.742/93, no seguinte: “Os recursos
do cofinanciamento do Suas, destinados à execução das ações continuadas de assistência social, poderão ser
aplicados no pagamento dos profissionais que integrarem as equipes de referência, responsáveis pela
organização e oferta daquelas ações, conforme percentual apresentado pelo Ministério do Desenvolvimento
Social e Combate à Fome e aprovado pelo CNAS. (Incluído pela Lei nº 12.435, de 2011).”
A alternativa B está incorreta. A gestão das ações na área de assistência social fica organizada sob a forma
de sistema descentralizado, nos termos do art. 6º da Lei nº 8.742/93.
A alternativa C está incorreta. O Suas é integrado pelos entes federativos, pelos respectivos conselhos de
assistência social e pelas entidades e organizações de assistência social abrangidas pela Lei da Assistência
Social, conforme o art. 6º, §2º da Lei nº 8.742/93.
A alternativa D está incorreta. Ao contrário, o Suas tem por objetivo também aa promoção da integração ao
mercado de trabalho, a saber: “Art. 2o A assistência social tem por objetivos: I - a proteção social, que visa
à garantia da vida, à redução de danos e à prevenção da incidência de riscos, especialmente: c) a promoção
da integração ao mercado de trabalho; (Incluído pela Lei nº 12.435, de 2011).”
A alternativa E está incorreta. Cabe à instância coordenadora da Política Nacional de Assistência Social
normatizar e padronizar o emprego e a divulgação da identidade visual do Suas, nos termos do art. 6º, §4º
da Lei nº 8.742/93.

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108
QUESTÃO 91. A respeito do Inquérito Civil, assinale a alternativa correta.
a) O inquérito civil deve ser instaurado por meio de portaria, com o fim de investigar especificamente fatos
determinados, aplicando-se analogicamente a inversão do ônus da prova disposta no inc. VIII do art. 6° do
CDC, uma vez demonstrado o preenchimento dos requisitos.
b) O inquérito civil deve ser utilizado para averiguar lesões a direitos difusos, coletivos e individuais
homogêneos, não cabendo impetração de mandado de segurança para trancá-lo, na forma da
jurisprudência atual do Supremo Tribunal Federal.
c) O inquérito civil não pode ser considerado como processo, mas sim como procedimento investigatório
contraditório, podendo-se mete decidir-interesses, alterar relações jurídicas e aplicar sanções.
d) Em face do princípio da incolumidade do separável, os vícios do inquérito civil não influenciam a ação
judicial.
e) A comprovação da prévia instauração do inquérito civil-é pressuposto processual implícito para que o
Ministério Público proponha ação coletiva, e, caso ele esteja em andamento, os colegitimados devem
esperar sua conclusão para ajuizarem a respectiva ação coletiva.
Comentários
A alternativa correta é a letra D.
A alternativa A e C estão incorretas, não havendo inversão do ônus da prova, o inquérito civil é um
procedimento inquisitório, ou seja, não cabendo o contraditório ou a ampla defesa, servindo penas para
colher elementos ou informações com o fim de formar-se a convicção do órgão do Ministério Público para
eventual propositura ou não das ações a seu cargo.
O inquérito civil é um procedimento inquisitório, ou seja, não cabendo o contraditório ou a ampla defesa,
servindo penas para colher elementos ou informações com o fim de formar-se a convicção do órgão do
Ministério Público para eventual propositura ou não das ações a seu cargo, conforme assim ensina Hugo
Nigro Mazzilli, a saber: “O inquérito civil não é processo administrativo e, sim, mero procedimento; nele não
há uma acusação nem nele se aplicam sanções; nele não se criam direitos nem se impõem sanções; nele não
se limitam, nem se restringem, nem se cassam direitos. Em suma, no inquérito civil não se decidem
interesses; não se aplicam penalidades; ele serve apenas para colher elementos ou informações com o fim
de formar-se a convicção do órgão do Ministério Público para eventual propositura ou não das ações a seu
cargo.”
A alternativa B está incorreta. Ao contrário do que afirma a alternativa, o Inquérito Civil poderá ser trancado
por meio da impetração do mandado de segurança.
A alternativa D está correta. Consoante a jurisprudência do STJ, a decretação judicial de nulidade não
ensejaria vantagem ao agravante, já que não anularia as diligências até o momento realizadas sob a égide
do princípio da incolumidade do separável.
A alternativa E está incorreta. O inquérito civil não é condição de procedibilidade para o ajuizamento das
ações a cargo do Ministério Público, tampouco para demais medidas de sua atribuição própria, nos termos
doa art. 1º, parágrafo único da Resolução 23/2007.

QUESTÃO 92. A respeito do Compliance, assinale a alternativa correta.

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a) Em sintonia com a doutrina estadunidense, a Lei n° 12.846/2013 previu a obrigatoriedade de que as
empresas notifiquem, em até três dias úteis, o Ministério Público do resultado de uma investigação interna
ocorrida em função da adoção das práticas de compliance.
b) Uma vez constatado qualquer indício de violação ao programa de compliance por parte dos dirigentes
da empresa, a Lei n° 12.846/13 prevê a obrigatoriedade de contratação de um advogado especializado em
programas de integridade para ser responsável pela investigação, eliminando-se, assim, a influência dos
superiores hierárquicos.
c) Atualmente não se admite que as empresas prevejam anistias internas no caso de violações ao programa
de compliance, nem a adoção de medidas cautelares, como o afastamento preventivo de dirigentes.
d) A Lei n° 12.846/2013 determina que as empresas devem realizar a revisão continuada do programa de
compliance no mínimo a cada 12 (doze) meses, sob pena de aplicação de multa, no valor de 0,1% (um
décimo por cento) a 20% (vinte por cento) do faturamento bruto do último exercício da pessoa jurídica.
e) No âmbito de uma empresa, é preciso que haja previsão antecipada das sanções aplicadas no caso de
violações ao programa de compliance, e que as medidas punitivas tenham proporcionalidade com a
infração cometida.
Comentários
A alternativa E está correta.
A alternativa correta é a letra E. A responsabilização das empresas devem encontrar um equilíbrio e
proporcionalidade, a qual, em ambiente de consensualidade, pois, nos termos do art. 7º, I, da Lei n°
12.846/2013, quando aplicadas as sanções em caso de violações ao programa de compliance, estas deverão
considerar a gravidade da infração.
As demais alternativas estão incorretas, não havendo previsão de legal nesse sentido.

QUESTÃO 93. Considere que a Associação Menos Impostos impetrou mandado de segurança no Tribunal
de Justiça do Estado em face de João. Secretário da Fazenda do Estado X, requerendo a declaração de
inconstitucionalidade/ilegalidade da Lei Estadual n° 1.234/22, que determinou a aposição de selos de
controle fiscal nas embalagens de água mineral, para que seja concedida a segurança e evitada a prática
de lançamento fiscal ex officio. Com base na situação hipotética e no disposto na jurisprudência do
Superior Tribunal de Justiça, é correto afirmar que
a) João foi corretamente indicado para figurar no polo passivo, pois entende-se que a autoridade coatora
é aquela que orienta os órgãos subordinados a respeito da aplicação da lei no âmbito administrativo.
b) o processo deve ser extinto sem julgamento do mérito ante a evidente indicação errônea da autoridade
coatora, condenando a entidade autora às custas e honorários advocatícios.
c) João, Secretário de Estado da Fazenda, não está legitimado a figurar, como autoridade coatora, em
mandados de segurança que visam evitar a prática de lançamento fiscal.
d) deve ser aplicada a teoria da encampação ao caso, ainda que João não seja a autoridade coatora,
mitigando a indicação errônea do polo passivo da impetração.
e) será aplicada automaticamente a teoria da encampação, validando-se os atos, ainda que João não seja
a autoridade coatora, se ele apresentar manifestação a respeito do mérito do mandado de segurança.
Comentários

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108
A alternativa correta é a letra C.
A alternativa C está correta. De acordo com a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça o Secretário de
Estado da Fazenda, não está legitimado a figurar, como autoridade coatora, em mandados de segurança que
visam evitar a prática de lançamento fiscal.
De acordo com a Primeira Turma do STJ, ao julgar, tanto o RMS 40.373/MS (DJe de 14/05/2013), quanto o
RMS 38.960/MS (DJe de 22/05/2013), e, posteriormente, o RMS 38.735/CE (DJe de 19/12/2013), reafirmou
que o respectivo Secretário de Estado da Fazenda não está legitimado a figurar, como autoridade coatora,
em mandados de segurança que visam evitar a prática de lançamento fiscal.
Colacionamos também a seguinte ementa neste sentido: “TRIBUTÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO
INTERNO NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA. PRETENSÃO DE
DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE DO § 1º DO ART. 25 DA LEI 6.875, DE 04/08/2016, DO ESTADO
DO PIAUÍ. IMPETRAÇÃO CONTRA LEI EM TESE. IMPOSSIBILIDADE. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 266/STF.
ILEGITIMIDADE DO SECRETÁRIO DE ESTADO DA FAZENDA PARA FIGURAR, COMO AUTORIDADE IMPETRADA,
NO POLO PASSIVO DO MANDADO DE SEGURANÇA. PRECEDENTES DO STJ. AGRAVO INTERNO IMPROVIDO.
(...)IX. Não se aplica ao caso a teoria da encampação, pois a indevida presença do Secretário de Estado da
Fazenda, no polo passivo deste Mandado de Segurança, implicou modificação da competência jurisdicional,
disciplinada pela Constituição do Estado do Piauí.”

QUESTÃO 94. Considere que Mauro e Paulo, deputados do Estado X, foram acusados e condenados pela
prática do crime de corrupção passiva e de lavagem de capitais por se utilizarem pessoalmente do
patrimônio público, desviando recursos para contas comentes de laranjas. Ao proferir a condenação, o juiz
condenou ambos por danos morais coletivos a serem pagos de forma solidária em favor do fundo a que
se refere o art. 13 da Lei n° 7.347/1985. Com base nessa situação hipotética e no disposto na Jurisprudência
do Supremo Tribunal Federal, é correto afirmar que
a) se admite a condenação, ainda que o Ministério Público não tenha requerido na peça acusatória a
condenação dos réus à reparação dos danos morais coletivos, pois, sempre que um interesse
metaindividual for violado, configura-se o dano, o que justifica a reparação ex officio.
b) é incabível a condenação por danos morais coletivos, uma vez ausente a demonstração das pessoas
diretamente lesadas pelos crimes cometidos por Mauro e Paulo, bem como o nexo causal, quer tenha a
condenação natureza pedagógica ou punitiva.
c) se admite a condenação solidária dos réus em danos morais coletivos, uma vez comprovado o
desrespeito aos princípios constitucionais de observância obrigatória, e, como têm função punitiva, a sua
quantificação deve ser feita pelo caráter pedagógico, que admite a prevenção individual como a geral.
d) a condenação por danos morais coletivos só é possível em ação autônoma, com representatividade
adequada, nos termos do microssistema brasileiro de processo coletivo.
e) o juiz agiu errado, pois não se admite a condenação por dano moral coletivo em sede de ação penal.
Comentários
A alternativa correta é a letra C.
A alternativa C está correta, sendo este o entendimento de acordo com a jurisprudência do Superior Tribunal
de Justiça. De acordo com a Suprema Corte, os danos morais coletivos possuem função eminentemente

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punitiva, razão pela qual a sua quantificação deve ser guiada primordialmente pelo seu caráter pedagógico,
que acolhe tanto a prevenção individual como a geral.
Colacionamos a seguinte ementa: “AÇÃO PENAL ORIGINÁRIA. EX-SENADOR DA REPÚBLICA. PRELIMINARES
REJEITADAS. DEMONSTRAÇÃO INEQUÍVOCA DA MATERIALIDADE E DA AUTORIA DELITIVAS. DELITOS DE
CORRUPÇÃO PASSIVA (ART. 317, CAPUT, DO CÓDIGO PENAL), LAVAGEM DE DINHEIRO (ART. 1º. DA LEI
9.613/98) E ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA (ART. 288 DO CÓDIGO PENAL). CONDENAÇÃO DO RÉUS. EXTINÇÃO DA
PUNIBILIDADE EM RAZÃO DA PRESCRIÇÃO QUANTO AO DELITO DE ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA. AÇÃO PENAL
JULGADA PARCIALMENTE PROCEDENTE. DANOS MATERIAIS NÃO ARBITRADOS. FIXAÇÃO DE DANOS MORAIS
COLETIVOS. [...]. 12. Danos morais coletivos fixados em R$ 20.000.000,00 (vinte milhões de reais), a ser
adimplido solidariamente pelos condenados, em benefício do fundo a que alude o art. 13 da Lei 7.357/1985.
[...]. 15. Prejudicado o pedido de perda do mandato parlamentar, tendo presente que o réu Fernando
Affonso Collor de Mello não mais exerce o cargo de Senador da República". (AP 1.025/DF, relator Ministro
Edson Fachin, redator do acórdão Ministro Alexandre de Moraes, Tribunal Pleno, julgado em 1/6/2023, DJe
de 21/9/2023 - destaques acrescidos ao original.)”.
As demais alternativas estão incorretas, conforme comentários da alternativa C.

QUESTÃO 95. Assinale a alternativa que está de acordo com a Lei Nacional de Saneamento Básico.
a) Os consórcios intermunicipais de saneamento básico terão como objetivo, exclusivamente, o
financiamento das iniciativas de implantação de medidas estruturais de abastecimento de água potável,
esgotamento sanitário, limpeza urbana, manejo de resíduos sólidos, drenagem e manejo de águas pluviais,
vedada a formalização de contrato de programa com sociedade de economia mista ou empresa pública,
ou a subdelegação do serviço prestado pela autarquia intermunicipal sem prévio procedimento licitatório.
b) O serviço regionalizado de saneamento básico deverá obedecer a plano regional de saneamento básico
elaborado para o conjunto de Municípios atendidos e deverá ser renovado a cada cinco anos.
c) O lixo originário de atividades comerciais industriais e de serviços cuja responsabilidade pelo manejo
não seja atribuída ao gerador deve ser considerado resíduo sólido urbano.
d) A prestação dos serviços públicos de saneamento básico por entidade que não integre a administração
do titular depende da celebração de contrato de concessão, admitindo-se excepcionalmente a sua
disciplina mediante contrato de programa, convênio termo de parceria ou outros instrumentos de
natureza precária.
e) Os recursos hídricos integram os serviços públicos de saneamento básico, mas sua utilização na
prestação de serviços públicos de saneamento básico, inclusive para disposição ou diluição de esgotos e
outros resíduos líquidos, é sujeita a outorga de direito de uso.
Comentários
A alternativa correta é a letra A.
A questão aborda sobre a Lei Nacional de Saneamento Básico, exigindo do examinando conhecimentos
acerca das diretrizes nacionais para o saneamento básico.
A alternativa A está correta. A alternativa encontra fundamento no art. 8º, §1º, II da Lei 11.445/2007, que
prevê o seguinte: os consórcios intermunicipais de saneamento básico terão como objetivo, exclusivamente,
o financiamento das iniciativas de implantação de medidas estruturais de abastecimento de água potável,
esgotamento sanitário, limpeza urbana, manejo de resíduos sólidos, drenagem e manejo de águas pluviais,

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vedada a formalização de contrato de programa com sociedade de economia mista ou empresa pública, ou
a subdelegação do serviço prestado pela autarquia intermunicipal sem prévio procedimento
licitatório. (Incluído pela Lei nº 14.026, de 2020)”.
A alternativa B está incorreta. As disposições constantes do plano regional de saneamento básico
prevalecerão sobre aquelas constantes dos planos municipais, quando existirem (art. 17, §2º (Lei nº 14.026,
de 2020).
A alternativa C está incorreta. Pode ser considerado resíduo sólido urbano, desde que decisão do poder
público seja nesse sentido (art. 6º, Lei 11.445/2007).
A alternativa D está incorreta. É vedada a sua disciplina mediante contrato de programa, nos termos do art.
10, da Lei 11.445/2007.
A alternativa E está incorreta. Os recursos hídricos não integram os serviços públicos de saneamento básico
(art. 4º Lei 11.445/2007).

QUESTÃO 96. Considere que o Ministério Público do Estado X instituiu, por meio de Resolução, Grupo de
Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) como órgão integrante da estrutura
administrativa e permanente da Procuradoria-Geral de Justiça, para auxiliar o promotor natural,
prestando-lhe suporte técnico e operacional na identificação, na prevenção e na repressão de crimes
complexos. Segundo a Resolução, a atuação do Grupo pode se dar mediante pedido formulado
expressamente pelo promotor natural ou mediante prévia e expressa anuência do membro do Ministério
Público com atribuição, se a iniciativa partir do próprio Grupo. A atuação pode se dar tanto na fase
investigatória como na fase judicial. Posteriormente, o Procurador-Geral de Justiça propôs projeto de lei
complementar, que foi aprovado, autorizando também que, para além da atuação acima, se obtenha a
cessão de servidores de corporações policiais para integrar o Grupo, sob a coordenação de um Promotor
de Justiça.
Determinado representante popular, em entrevista a uma revista especializada, questionou a
constitucionalidade do Gaeco, por considerar que a sua instituição ofenderia, entre outros, o princípio do
promotor natural e por ser a atividade de investigação reservada à polícia judiciária. O promotor de justiça
com atuação no Gaeco foi procurado pela assessoria de imprensa do Ministério Público para prestar
esclarecimentos jurídicos sobre o assunto e subsidiar a elaboração de nota de esclarecimento ao veículo
de imprensa. Com base na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, o promotor poderá afirmar, de
maneira correta, que
a) A norma não padece de inconstitucionalidade material, sendo autorizado, ainda, que o promotor de
justiça tome decisões relacionadas a quaisquer questões referentes às atribuições internas das
corporações policiais, ainda que estranhas à atuação do Gaeco.
b) A norma prevista na resolução não padece de inconstitucionalidade material, pois o Ministério Público
dispõe de competência para promover, por autoridade própria, e por prazo razoável, investigações de
natureza penal, tratando-se de competência que decorre implicitamente do monopólio da titularidade da
ação penal.
c) A lei complementar padece de inconstitucionalidade material, pois os servidores públicos civis não
podem ter como superiores hierárquicos agentes públicos estranhos à estrutura do Poder Executivo.

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d) A norma prevista na Resolução realmente padece de vício de inconstitucionalidade formal, pois a
organização do Ministério Público se dá por lei complementar estadual e pela aplicação supletiva da Lei
Orgânica Nacional.
e) A regulação do tema por Resolução padece de inconstitucionalidade formal, pois a organização de cada
Ministério Público deve se dar mediante lei complementar, proposta pelo Chefe do Poder Executivo.
Comentários
A alternativa correta é a letra B.
A questão aborda a instituição do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO).
A alternativa A está incorreta, pois apesar de o STF, no julgamento da ADI 7170, decidir que a resolução do
MPRJ que reestrutura o Grupo de Atuação Especializada de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) no âmbito
da instituição é constitucional, tal competência ocorre no âmbito administrativo interno do órgão
especializado. Veja trecho do julgado: "Nos dispositivos impugnados apenas se estabeleceu a estruturação
de órgão administrativo interno de cooperação com os promotores naturais. Não se constituíram novas
atribuições e competências. Nelas se dispôs apenas sobre o funcionamento de um órgão especializado no
auxílio ao combate do crime organizado, de atuação facultativa, a depender do pedido do promotor natural."
A alternativa B está correta, pois o STF, no julgamento da ADI 7170, decidiu que a resolução do MPRJ que
reestrutura o Grupo de Atuação Especializada de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) no âmbito da
instituição é constitucional, por se inserir no rol de competências do Ministério Público. Veja trecho da
Ementa: "[...] 4. A jurisprudência deste Supremo Tribunal Federal fixou tese com repercussão geral, no
Recurso Extraordinário n. 593.727 (DJe 8.9.2015), no sentido de que os poderes investigatórios do Ministério
Público decorrem implicitamente do monopólio da titularidade da ação penal conferida ao órgão pelo inc. I
do art. 129 da Constituição da República, não se tratando de atividade exclusiva da polícia judiciária." (STF,
ADI 7170, Relator(a): CÁRMEN LÚCIA, Tribunal Pleno, Julgado em: 03/07/2023, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-
s/n DIVULG 21-08-2023 PUBLIC 22-08-2023).
A alternativa C está incorreta, pois o Plenário do STF, no julgamento da ADI 7170, reconheceu a
constitucionalidade de resolução do MPRJ que reestrutura o Grupo de Atuação Especializada de Combate ao
Crime Organizado (Gaeco) no âmbito da instituição, atribuindo ao Ministério Público a função de presidir e
conduzir investigações criminais, sendo cabível uma atuação conjugada entre o mesmo e demais servidores
civis, veja: "[...] Da mesma maneira, não há qualquer inconstitucionalidade na Resolução impugnada na
presente Ação Direta, na medida em que previu a designação de membros do GAECO para atuarem em
auxílio ao Promotor natural no casos relacionados à repressão de organizações criminosas, mediante o
fornecimento de suporte administrativo para bom desempenho dessa atribuição. A norma também trata da
coordenação de ações internas e colaboração com outras instituições para o combate ao crime organizado,
à corrupção de agentes públicos, à lavagem de dinheiro e demais crimes que atentem contra o interesse
público, que, por suas características, demandem atuação especializada. [...]" (STF, ADI 7170, Relator(a):
CÁRMEN LÚCIA, Tribunal Pleno, Julgado em: 03/07/2023, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-s/n DIVULG 21-08-
2023 PUBLIC 22-08-2023).
A alternativa D está incorreta, pois o STF, no julgamento da ADI 7170, ao reconhecer a constitucionalidade
de resolução do MPRJ que reestrutura o Grupo de Atuação Especializada de Combate ao Crime Organizado
(Gaeco) no âmbito da instituição, refutou a tese da necessidade de Lei Complementar para tanto. Veja:
"Tampouco é necessária a edição de lei formal, pois as normas impugnadas não inovam nem alteram, menos
ainda usurpam atribuições do promotor natural. Tratam apenas da organização interna de órgão facultativo
de apoio do Ministério Público do Rio de Janeiro, estando na esfera de autonomia administrativa do órgão.

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Afasto, portanto, a ocorrência de inconstitucionalidade formal dos dispositivos questionados." (STF, ADI
7170, Relator(a): CÁRMEN LÚCIA, Tribunal Pleno, Julgado em: 03/07/2023, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-
s/n DIVULG 21-08-2023 PUBLIC 22-08-2023).
A alternativa E está incorreta, pois conforme supracitado, no julgamento da ADI 7170 o STF decidiu pela
prescindibilidade de lei formal, por tratar-se da organização interna de órgão facultativo de apoio do
Ministério Público do Rio de Janeiro, sendo, portanto, esfera de autonomia administrativa do órgão. Veja
trecho do julgado: "Tampouco é necessária a edição de lei formal, pois as normas impugnadas não inovam
nem alteram, menos ainda usurpam atribuições do promotor natural. Tratam apenas da organização interna
de órgão facultativo de apoio do Ministério Público do Rio de Janeiro, estando na esfera de autonomia
administrativa do órgão. Afasto, portanto, a ocorrência de inconstitucionalidade formal dos dispositivos
questionados." (STF, ADI 7170, Relator(a): CÁRMEN LÚCIA, Tribunal Pleno, Julgado em: 03/07/2023,
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-s/n DIVULG 21-08-2023 PUBLIC 22-08-2023).

QUESTÃO 97. De acordo com a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, a respeito do Ministério
Público, é correto afirmar que
a) É inconstitucional, por violação ao princípio da independência funcional, norma que estabelece o dever
de membro do Ministério Público e que preside inquérito civil, ao concluir que o procedimento é de
atribuição de outro Ministério Público, submeter a sua decisão a referendo de órgão de revisão
competente.
b) É constitucional lei estadual que divide as atribuições entre membros do Ministério Público para atuar
em inquéritos civis e ações civis públicas.
c) É inconstitucional norma estadual que confere ao Procurador-Geral de Justiça a competência para
conduzir inquérito civil quando a responsabilidade decorrer de ato praticado por determinadas
autoridades.
d) É constitucional norma que estabelece regra que concede preferência à promoção para cargos
específicos a promotores que eventualmente exerceram as funções atribuídas a tais cargos, pois a
promoção não precisa seguir necessariamente os critérios de antiguidade e merecimento.
e) As normas organizacionais internas, que estabelecem critérios de distribuições de competência dentro
do Ministério Público, ofendem o princípio da independência funcional, pois este é um atributo da
instituição Ministério Público e do próprio promotor de justiça, que não pode ser mitigado pelo princípio
da unicidade.
Comentários
A alternativa correta é a letra B.
A questão aborda o tema das jurisprudências do STF a respeito do Ministério Público.
A alternativa A está incorreta, pois conforme o atual entendimento do STF, no julgamento da ADI 5434/DF,
tal norma possui caráter constitucional. Veja trecho da Ementa: "[...] 3. O Conselho Nacional do Ministério
Público age dentro dos limites constitucionais ao editar resolução para esclarecer que deve ser referendada,
pelo órgão de revisão competente, a decisão do membro do Parquet que conclui, após a instauração do
inquérito civil ou do respectivo procedimento preparatório, ser este ou aquele de atribuição de outro ramo
do Ministério Público. [...]" (ADI 5434/DF, rel. Min. Alexandre de Moraes, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin,
julgamento em 26.4.2018.)

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A alternativa B está correta, pois, no julgamento da ADI 1285, o Tribunal Pleno do STF decidiu pela
constitucionalidade de lei estadual que segmente as atribuições entre membros do Ministério Público para
atuar em inquéritos civis e ações civis públicas, firmando a seguinte tese: "(ii) é constitucional lei estadual
que divide as atribuições entre membros do Ministério Público para atuar em inquéritos civis e ações civis
públicas, não havendo violação à competência federal para legislar sobre Direito Processual, tampouco ao
princípio da independência funcional;".
A alternativa C está incorreta, pois, no julgamento da ADI 1285, o Plenário do STF decidiu que, neste caso,
não haveria violação à competência privativa da União para legislar a respeito de matéria processual,
firmando a seguinte tese: "(ii) é constitucional lei estadual que divide as atribuições entre membros do
Ministério Público para atuar em inquéritos civis e ações civis públicas, não havendo violação à competência
federal para legislar sobre Direito Processual, tampouco ao princípio da independência funcional;".
A alternativa D está incorreta, pois o Plenário do Supremo Tribunal Federal decidiu, no julgamento da ADI
1285, que é inconstitucional norma que estabeleça regra referente à promoção para cargos específicos a
promotores que não sigam necessariamente os critérios de antiguidade e merecimento, fixando a seguinte
tese: "(iii) é inconstitucional lei estadual que estabelece critério de preferência para a promoção de membros
do Ministério Público, por desrespeito aos critérios constitucionais de antiguidade e merecimento
estabelecidos pelo art. 129, § 4º c/c art. 93, II, CF."
A alternativa E está incorreta, pois não há tal previsão jurisprudencial. A Lei Orgânica Nacional do Ministério
Público institui, em seu artigo 2º: "Lei complementar, denominada Lei Orgânica do Ministério Público, cuja
iniciativa é facultada aos Procuradores-Gerais de Justiça dos Estados, estabelecerá, no âmbito de cada uma
dessas unidades federativas, normas específicas de organização, atribuições e estatuto do respectivo
Ministério Público. Parágrafo único. A organização, atribuições e estatuto do Ministério Público do Distrito
Federal e Territórios serão objeto da Lei Orgânica do Ministério Público da União."

QUESTÃO 98. A respeito do acordo de não persecução cível, assinale a alternativa correta.
a) O acordo de colaboração visa à obtenção de informações e meios de prova que comprovem o ilícito,
sendo necessário que se tenha, como resultado, a identificação de demais coautores e a localização de
bens que decorram da vantagem indevida obtida.
b) Embora o acordo precise passar por homologação judicial, em razão das sanções cominadas ao ato de
improbidade administrativa, para a sua celebração é prescindível a concordância do órgão com atribuição
para arquivar o inquérito civil.
c) O acordo será cabível ainda que o membro do Ministério Público não identifique indícios suficientes da
existência do ato de improbidade de responsabilização do agente público, desde que a medida seja
adotada para cautelarmente preservar o interesse público.
d) O acordo de não persecução cível não poderá ser celebrado posteriormente à sentença.
e) É compatível com a Lei de Improbidade Administrativa o acordo de não persecução cível de colaboração,
no qual o agente deve oferecer algo ao poder público para que o ajuste seja celebrado, bem como deve
ser admitida a consensualidade por reprimenda, na qual essa exigência não é apresentada.
Comentários
A alternativa correta é a letra E.
A questão aborda o tema do acordo de não persecução cível.

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A alternativa A está incorreta, pois de acordo com a resolução GPGJ nº 2.469 de 25/05/22, que disciplina no
âmbito do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro o acordo de não persecução cível, este fica
condicionado à identificação dos demais coautores, partícipes e beneficiários do ato ilícito ou à localização
de bens, direitos e valores, não sendo necessário a presença de ambos para que ocorra a premiação ajustada.
Vejamos: "Art. 5º - O acordo de colaboração visa à obtenção de informações e meios de prova que
comprovem o ilícito, sendo que a premiação ajustada fica condicionada à colaboração efetiva e voluntária,
com a investigação e com o processo, e desde que advenha um ou mais dos seguintes resultados: I -
identificação dos demais coautores, partícipes e beneficiários do ato ilícito; II - localização de bens, direitos
e valores para fins de ressarcimento".
A alternativa B está incorreta, pois contraria a resolução GPGJ nº 2.469 de 25/05/22, que disciplina, no
âmbito do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, o acordo de não persecução cível e que estabelece
que é necessária a concordância do Conselho Superior do Ministério Público. Veja: "Art. 6º - O acordo de não
persecução cível será submetido à homologação judicial, sendo exigida a prévia aprovação do Conselho
Superior do Ministério Público em se tratando de ajuste extrajudicial." Ao Conselho Superior do Ministério
Público cabe o arquivamento de inquérito civil, consoante Lei nº 8.625, veja: "Art. 30. Cabe ao Conselho
Superior do Ministério Público rever o arquivamento de inquérito civil, na forma da lei."
A alternativa C está incorreta, pois a presença de tais indícios é indispensável para o cabimento do acordo
de não persecução penal, consoante resolução GPGJ nº 2.469 de 25/05/22, veja: "Art. 1º - A presente
Resolução disciplina o acordo de não persecução cível, negócio jurídico celebrado entre o Ministério Público
e pessoas físicas ou jurídicas, investigadas pela prática de improbidade administrativa, devidamente
assistidas por advogado ou defensor público. § 2º - Quando o membro do Ministério Público não identificar
indícios suficientes da existência do ato de improbidade de responsabilidade do agente público ou de
terceiro, não será cabível o acordo de não persecução cível."
A alternativa D está incorreta, pois conforme resolução GPGJ nº 2.469 de 25/05/22, que disciplina no âmbito
do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro o acordo de não persecução cível, o mesmo poderá ser
celebrado após a sentença. Vejamos: "Art. 7º - O acordo de não persecução cível poderá ser celebrado
posteriormente à sentença, presentes os requisitos estabelecidos nesta Resolução."
A alternativa E está correta, pois é o que dispõe a resolução GPGJ nº 2.469 de 25/05/22. Vejamos: "Art. 1º -
A presente Resolução disciplina o acordo de não persecução cível, negócio jurídico celebrado entre o
Ministério Público e pessoas físicas ou jurídicas, investigadas pela prática de improbidade administrativa,
devidamente assistidas por advogado ou defensor público. (...) Art. 3º - O acordo de não persecução cível
pode ser de pura reprimenda ou de colaboração, neste último caso diante da complexidade dos fatos ou da
participação de outros envolvidos. Art. 4º - O acordo de pura reprimenda abrevia o procedimento de
responsabilização, mediante aplicação imediata das medidas sancionatórias convencionadas. Art. 5º - O
acordo de colaboração visa à obtenção de informações e meios de prova que comprovem o ilícito, sendo
que a premiação ajustada fica condicionada à colaboração efetiva e voluntária, com a investigação e com o
processo, e desde que advenha um ou mais dos seguintes resultados (...)".

QUESTÃO 99. Com base na Resolução CNMP n° 181/2017, que dispõe sobre instauração e tramitação do
procedimento investigatório criminal a cargo do Ministério Público, é correto afirmar que
a) As diligências serão documentadas em autos de modo sucinto e circunstanciado.
b) As requisições do Ministério Público serão feitas fixando-se prazo razoável de até 15 (quinze) dias para
atendimento, prorrogável mediante solicitação.

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c) A pedido do investigado, deverá ser feita a transcrição dos depoimentos colhidos na fase investigatória.
d) O autor do fato investigado poderá apresentar, querendo, as informações que considerar adequadas,
devendo ser acompanhado por defensor.
e) Correspondências, notificações, requisições e intimações do Ministério Público, quando tiverem como
destinatário o Presidente da República, serão encaminhadas pelo promotor natural do caso.
Comentários
A alternativa correta é a letra A.
A questão aborda a Resolução nº 181/2017 do CNMP.
A alternativa A está correta, pois é o que determina a Resolução nº 181/2017 do CNMP em seu art. 10, veja:
"As diligências serão documentadas em autos de modo sucinto e circunstanciado. (Redação dada pela
Resolução n° 183, de 24 de janeiro de 2018)".
A alternativa B está incorreta, pois o prazo prescrito pela Resolução nº 181/2017 do CNMP é de até 10 (dez)
dias úteis, vejamos: "Art. 7º O membro do Ministério Público, observadas as hipóteses de reserva
constitucional de jurisdição e sem prejuízo de outras providências inerentes a sua atribuição funcional,
poderá: (Redação dada pela Resolução n° 183, de 24 de janeiro de 2018) § 3º As requisições do Ministério
Público serão feitas fixando-se prazo razoável de até 10 (dez) dias úteis para atendimento, prorrogável
mediante solicitação justificada."
A alternativa C está incorreta, pois tais transcrições somente serão admitidas em casos excepcionais e
imprescindíveis, consoante a Resolução nº 181/2017 do CNMP, vejamos: "§ 1º Somente em casos
excepcionais e imprescindíveis deverá ser feita a transcrição dos depoimentos colhidos na fase
investigatória. (Redação dada pela Resolução n° 183, de 24 de janeiro de 2018)".
A alternativa D está incorreta, pois, conforme a Resolução nº 181/2017 do CNMP, a presença do defensor é
facultada ao autor do fato investigado, quando da apresentação das informações que considerar adequadas.
Veja: "Art. 9º O autor do fato investigado poderá apresentar, querendo, as informações que considerar
adequadas, facultado o acompanhamento por defensor. (Redação dada pela Resolução n° 183, de 24 de
janeiro de 2018)".
A alternativa E está incorreta, pois caberá ao Procurador-Geral da República encaminhar tais
correspondências, notificações, requisições e intimações ao Presidente da República, conforme a Resolução
nº 181/2017 do CNMP. Vejamos: "Art. 7º O membro do Ministério Público, observadas as hipóteses de
reserva constitucional de jurisdição e sem prejuízo de outras providências inerentes a sua atribuição
funcional, poderá: (Redação dada pela Resolução n° 183, de 24 de janeiro de 2018) § 6º As correspondências,
notificações, requisições e intimações do Ministério Público quando tiverem como destinatário o Presidente
da República, o Vice-Presidente da República, membro do Congresso Nacional, Ministro do Supremo Tribunal
Federal, Ministro de Estado, Ministro de Tribunal Superior, Ministro do Tribunal de Contas da União ou chefe
de missão diplomática de caráter permanente serão encaminhadas e levadas a efeito pelo Procurador-Geral
da República ou outro órgão do Ministério Público a quem essa atribuição seja delegada."

QUESTÃO 100. Com base na Resolução CNMP n° 243/2021, que dispõe sobre a Política Institucional de
Proteção Integral e de Promoção de Direitos e Apoio às Vítimas, é correto afirmar que
a) A Política Institucional prevista na Resolução não se aplica a pessoas jurídicas vítimas.

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b) As unidades do Ministério Público deverão implementar, de imediato, Núcleos ou Centros de Apoio às
Vítimas, levando em consideração a gravidade e as características do fato vitimizante.
c) Considera-se vítima indireta a pessoa que possua relação de afeto ou parentesco com a vítima direta,
desde que conviva, esteja sob seus cuidados ou desta dependa.
d) É recomendável que cada unidade do Ministério Público inclua como meta de seu Planejamento
Estratégico tornar a vítima objeto principal de defesa institucional.
e) Estão abrangidas pelas políticas contempladas na Resolução as vítimas de desastres naturais e
calamidades públicas.
Comentários
A alternativa correta é a letra E.
A questão aborda a Resolução nº 243/2021 do CNMP.
A alternativa A está incorreta, pois a Resolução nº 243/2021 do CNMP, no que diz respeito às diretrizes de
atendimento às vítimas, inclui as pessoas jurídicas como alvo das medidas. Vejamos: "Art. 3º Entende-se por
vítima qualquer pessoa natural que tenha sofrido danos físicos, emocionais, em sua própria pessoa, ou em
seus bens, causados diretamente pela prática de um crime, ato infracional, calamidade pública, desastres
naturais ou graves violações de direitos humanos, sendo destinatários da proteção integral de que trata a
presente Resolução: § 1º Aplicam-se às pessoas jurídicas vítimas, no que couber, as medidas de proteção e
os direitos assegurados nesta Resolução."
A alternativa B está incorreta, pois tais medidas deverão ser implementadas de forma gradual, consoante
art. 2º da Resolução nº 243/2021 do CNMP, veja: "As unidades do Ministério Público deverão implementar,
gradualmente e de acordo com sua autonomia administrativa, Núcleos ou Centros de Apoio às Vítimas,
levando em consideração a gravidade, a magnitude e as características do fato vitimizante, e a consequente
violação de direitos, sendo orientados pelos princípios da dignidade, da igualdade, do respeito, da autonomia
da vontade, da confidencialidade, do consentimento e da informação, sem prejuízo do atendimento rotineiro
das vítimas pelo órgão ministerial."
A alternativa C está incorreta, pois para que seja considerada vítima indireta, não basta que haja relação de
afeto ou parentesco com a vítima, devendo este ser até o terceiro grau; veja o que dispõe a Resolução nº
243/2021 do CNMP: "Art. 3º Entende-se por vítima qualquer pessoa natural que tenha sofrido danos físicos,
emocionais, em sua própria pessoa, ou em seus bens, causados diretamente pela prática de um crime, ato
infracional, calamidade pública, desastres naturais ou graves violações de direitos humanos, sendo
destinatários da proteção integral de que trata a presente Resolução: II - vítima indireta: pessoas que
possuam relação de afeto ou parentesco com a vítima direta, até o terceiro grau, desde que convivam,
estejam sob seus cuidados ou desta dependam, no caso de morte ou desaparecimento causado por crime,
ato infracional ou calamidade pública;".
A alternativa D está incorreta, pois conforme a Resolução nº 243/2021 do CNMP não é discricionária a
implementação das vítimas como objeto principal de defesa institucional, no que diz respeito às metas de
seu Planejamento Estratégico. Vejamos: "Art. 14. Cada unidade do Ministério Público deverá incluir,
obrigatoriamente, como meta de seu Planejamento Estratégico, tornar a vítima o objeto principal de defesa
institucional, fomentando cursos de formação inicial e de capacitação continuada de membros e servidores,
para atendimento especial de vítimas de infrações penais e atos infracionais."
A alternativa E está correta, pois está em conformidade com a previsão da Resolução nº 243/2021 do CNMP,
que abrange as vítimas de desastres naturais e calamidades públicas. Veja: "Art. 1º Esta Resolução estabelece

106
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a Política Institucional de Proteção Integral e de Promoção de Direitos e de Apoio às Vítimas, com o objetivo
de assegurar direitos fundamentais às vítimas de infrações penais, atos infracionais, desastres naturais,
calamidades públicas e graves violações de direitos humanos, garantindo-lhes acesso à informação,
comunicação, participação, verdade, justiça, diligência devida, segurança, apoio, tratamento profissional
individualizado e não discriminatório, proteção física, patrimonial, psicológica e de dados pessoais,
participação e reparação dos danos materiais, morais e simbólica, suportados em decorrência do fato
vitimizante."

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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