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Módulo Incidência e Crédito Tributário

INSTITUTO BRASILEIRO DE ESTUDOS TRIBUTÁRIOS – IBET

SEMINÁRIO III - AÇÕES TRIBUTÁRIAS ANTIEXACIONAIS:


DECLARATÓRIA, ANULATÓRIA E CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO

ANA LUIZA ALVES DA HORA MAIA

RECIFE – PE
2022
Módulo Incidência e Crédito Tributário

Leitura básica
• CONRADO, Paulo Cesar. Processo Tributário. 3 ed. São Paulo: Quartier Latin, 2012,
Capítulo 3, itens 3.1 e 3.2, e Capítulo 9, itens 9.3.1.1; 9.3.2.2.1 e 9.3.2.3.3.
• CONRADO, Paulo Cesar. Execução Fiscal. 4 ed. São Paulo: Noeses, 2020, Item 7.6.
• DALLA PRIA, Rodrigo. Direito Processual Tributário. São Paulo: Noeses, 2020.
Título I, Capítulo II, itens 2.1.3 a 2.1.4.2; e Título II, Capítulo I, itens 1.1 a
1.3.3.2.3.

Leitura complementar
• CANTANHEDE, Luís Cláudio Ferreira. Exceção de pré-executividade e seu julgamento:
impacto em outros processos (administrativo, declaratório e anulatório). In: CONRADO,
Paulo Cesar. Processo tributário analítico, volume II. São Paulo: Noeses, 2016.
 CONRADO, Paulo Cesar. Transação antiexacional (contencioso) e sua possível
incidência sobre a tese jurídica de fundo. In: CONRADO, Paulo Cesar; ARAUJO, Juliana
Furtado Costa. Transação Tributária na prática da lei nº 13.988/2020. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2020.
• GONÇALVES, Carla de Lourdes. A suspensão da “exigibilidade” nas ações preventivas.
In: : CONRADO, Paulo Cesar. Processo tributário analítico, volume II. São Paulo: Noeses,
2016.
• OLIVEIRA, Julio M. Ação anulatória de débito fiscal. In: CONRADO, Paulo Cesar.
Processo tributário analítico, volume I. São Paulo: Noeses, 2015.
• DALLA PRIA, Rodrigo. A constituição e a cobrança das contribuições previdenciárias pela
Justiça do Trabalho: aspectos processuais relevantes. In: CONRADO, Paulo Cesar.
Processo Tributário Analítico. 2.ed. v. 2. São Paulo: Noeses, 2017.
• DALLA PRIA, Rodrigo. O processo de positivação da norma jurídica tributária e a fixação
da tutela jurisdicional apta a dirimir os conflitos havidos entre contribuinte e fisco. In:
CONRADO, Paulo Cesar. Processo tributário analítico. 3.ed. v. 1. São Paulo: Noeses,
2015.
• VERGUEIRO, Camila Campos. A ação de consignação em pagamento e a extinção do
crédito tributário. In: CONRADO, Paulo Cesar. Processo tributário analítico. 3.ed. v. 1.
São Paulo: Noeses, 2015.
• CONRADO, Paulo Cesar. Processo Tributário e Instrumentalidade.
https://www.conjur.com.br/2021-mar-02/paulo-conrado-processo-tributario-
instrumentalidade
• CONRADO, Paulo Cesar. Medidas exacionais e antiexacionais: muito além das
conveniências classificatórias. https://www.conjur.com.br/2021-mai-04/paulo-
conrado-medidas-exacionais-antiexacionais
• DALLA PRIA, Rodrigo. Processo de positivação, ações e conflitos tributários.
https://www.conjur.com.br/2021-mar-09/opiniao-processo-positivacao-acoes-
conflitos-tributarios
• DALLA PRIA, Rodrigo. Ações antiexacionais preventivas.
https://www.conjur.com.br/2021-mai-16/processo-tributario-acoes-tributarias-
antiexacionais-preventivas
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• DALLA PRIA, Rodrigo. Ações tributárias declaratórias negativas: aspectos


procedimentais. https://www.conjur.com.br/2021-jul-18/processo-tributario-acoes-
tributarias-declaratorias-negativas-aspectos-procedimentais

Questões

1. Observadas as situações concretas abaixo descritas, identifique o(s)


instrumento(s) processual(is) judicial(is) adequado(s) para a defesa dos
interesses do sujeito passivo da obrigação tributária, considerando as ações
que são estudadas neste Seminário III:
a) Exercício da competência tributária pelo ente político com a edição e
publicação da regra-matriz de incidência tributária, mas antes da constituição
da obrigação tributária;

R – Considerando que a obrigação tributária ainda não está constituída, mas já


houve a publicação da regra matriz de incidência tributária e desde que haja risco
iminente de indevida constituição do crédito tributário, entendo que o instrumento
processual cabível é a Ação Declaratória de Inexistência de Vínculo Tributário;

b) Constituição da obrigação tributária sem que tenha havido a intimação do


sujeito passivo desse ato constitutivo da dívida

R – Considerando que o crédito tributário apenas se constitui com a ciência do


devedor, entendo que o instrumento cabível nesse caso é a Ação Declaratória de
Inexistência de Vínculo Tributário;

c) Dúvida a respeito do sujeito ativo da obrigação tributária;

R – Ação de Consignação em Pagamento, com fundamento no art. 164, III, CTN;

d) Inscrição do crédito tributário em dívida ativa;


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R – Enquanto não houver o ingresso da execução fiscal, o instrumento cabível é a


Ação Anulatória de Débito Fiscal;

e) Constituição da obrigação tributária com a intimação do sujeito passivo


desse ato constitutivo da dívida;

R – O instrumento processual cabível é a Ação Anulatória de Débito Fiscal;

f) Ajuizamento de execução fiscal cobrando crédito tributário prescrito;

R – Considerando que se trata de matéria de ordem pública, além de poder se


utilizar dos Embargos do Devedor, o devedor também poderá tentar sua defesa por
meio de Exceção de Pré-Executividade, a qual ao contrário daquela não exige que
haja o depósito integral do valor executado, porém apenas poderá se ater
estritamente a matéria de ordem pública, como no caso da prescrição;

g) O sujeito ativo da obrigação tributária está condicionando o pagamento do


tributo ao pagamento de uma multa instituída por instrução normativa;

R – Ação de Consignação em Pagamento, conforme art. 164, I, CTN;

h) Intimação de penhora de bens nos autos de execução fiscal;

R – O instrumento processual adequado nesse caso são os Embargos do Devedor,


conforme art. 16, inciso III, da Lei de Execução Fiscal.

2. Quanto à ação declaratória de inexistência de relação jurídica tributária,


pergunta-se:

a) Quando nasce o interesse processual para sua propositura?


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R – O interesse processual para a propositura de Ação Declaratória Negativa nasce


quando há risco iminente de ameaça a direito, havendo grande chances de haver a
constituição de crédito tributário que o devedor entende como indevido, mas antes
da efetiva constituição da obrigação tributária.

Um exemplo do respectivo risco iminente de lesão ao direito ocorre quando se


verificar que há casos similares em que houve a tributação por parte do sujeito ativo
em face de outros sujeitos passivos.

Assim, a respectiva ameaça a direito é que diferencia a ação declaratória negativa


dos instrumentos processuais adequados para atacar lei em tese, como ADIN,
ADPF, ADC, etc.

b) O manejo do referido instrumento processual em momento anterior à


constituição do crédito configura questionamento de “lei em tese”? Aponte o
que é questionamento de “lei em tese”.

R – Conforme já explicado acima, o ingresso de ação declaratória quando há a


demonstração de eminente risco de haver constituição indevida de crédito tributário
não configura questionamento de lei em tese.

O questionamento de lei em tese ocorre quando se ingressa com ação judicial com
o fito de se questionar, por exemplo, que a edição da respectiva norma fere
preceitos constitucionais.

Neste último caso, devem ser utilizados os instrumentos constitucionais cabíveis,


como, por exemplo, a Ação Direta de Inconstitucionalidade, não sendo cabível a
utilização de ação declaratória.

b) Há interesse jurídico na sua propositura após a expedição do ato


constitutivo do crédito tributário? Em caso afirmativo, quais seriam os efeitos
da referida tutela jurisdicional? (Vide anexos I e II)
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R – Entendo que após a expedição do ato constitutivo do crédito tributário não há


mais interesse no ingresso de Ação Declaratória Negativa, uma vez que esta visa
impedir a constituição de obrigação tributária, tendo efeito de segurança jurídico-
tributária, conforme artigo 19, inciso I, CPC.

Assim, após a constituição do crédito tributário, entendo que a ação cabível é a


Anulatória de Débito Fiscal, com o escopo de buscar os efeitos de anulação de
crédito constituído indevidamente.

3. Quanto à ação anulatória de débito fiscal, pergunta-se:


a) É viável a propositura de ação anulatória para desconstituição de relação
jurídica constituída pelo próprio contribuinte por meio de DCTF, cujo
recolhimento do tributo ainda não tenha ocorrido?

R – Me alinho com a posição de Paulo de Barros de Carvalho, o qual dispõe que o


requisito para ingresso da Ação Anulatória é que tenha sido o crédito constituído,
não sendo feita qualquer distinção entre as modalidades de lançamento do crédito,
como autolançamento ou de ofício.

É cediço que seria menos oneroso ao devedor não realizar o autolançamento e


ingressar com a Ação Declaratória Negativa, porém uma vez o crédito estando
constituído, deve ser assegurado ao devedor o interesse de agir ao ingressar com a
respectiva Ação Anulatória, desde que observados os demais requisitos e regras
necessários ao ingresso.

b) E para a desconstituição de crédito tributário inserido em parcelamento,


onde houve confissão da dívida por parte do contribuinte? Em caso de
resposta positiva, indaga-se: qualquer tipo de questão (causa de pedir)
poderá ser objeto desta ação anulatória (questões de fato e/ou questões de
direito)?
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R – Nos casos de parcelamentos, há a confissão da dívida por parte do contribuinte


e, por isso, entendo que seria cabível o ingresso da Ação Anulatória apenas para a
rediscussão de questões jurídicas, já que o contribuinte reconhece
administrativamente que o fato gerador realmente ocorreu, conforme entendimento
da jurisprudência majoritária.

c) Qual o prazo prescricional para a ação anulatória de débito fiscal? É


possível ingressar com ação anulatória de débito após a propositura da ação
executiva fiscal? E após o transcurso do prazo para apresentação dos
embargos à execução?

R – O prazo prescricional para a ação Anulatória de débito fiscal é de 5 anos


contados da sua constituição definitiva (da notificado do contribuinte quanto a sua
constituição), conforme artigo 174, do CTN.

Em alguns casos específicos é possível sim ingressar com a Ação Anulatória após
a propositura da Executiva Fiscal, desde que não tenha ocorrido a garantia do juízo,
já tenha transcorrido o prazo para apresentação dos embargos à execução, sem
utilizar do respetivo instrumento, ou que tenha sido proferido sentença meramente
terminativa, nestes casos deverá ser observado ainda o prazo prescricional.

Ademais, deve ser considerado que não é possível ingressar concomitantemente


com Ação Anulatória após os Embargos do Devedor, pois haverá clara relação de
prejudicialidade entre eles. Apenas quando os Embargos do Devedor forem mais
amplos que a Anulatória, será estabelecida uma relação de continência, desde que
eles tenham sido opostos em momento posterior à Anulatória.

d) O depósito do valor do débito fiscal discutido na ação anulatória é


condição específica dessa ação?

R – Não. Segundo a súmula vinculante 28 é totalmente vedado que seja exigido o


prévio depósito judicial como condição para conhecimento de ação judicial que vise
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a discussão de crédito tributário, em decorrência do princípio da inafastabilidade da


apreciação judiciária.

O depósito do montante integral, todavia, pode ser realizado por mera faculdade do
devedor com o intuito de haver a suspensão da exigibilidade do crédito, não sendo,
todavia, o único meio de suspendê-lo, conforme rol de suspensão da exigibilidade
do crédito tributário que consta no artigo 151, CTN.

4. Que relações podem existir entre as ações anulatória de débito, executiva


fiscal e embargos à execução: conexão, continência ou prejudicialidade (ou
nenhuma das alternativas)? Qual o juízo competente para julgá-las? Deverão
ser reunidas para julgamento conjunto? Responder a essa pergunta, com
base nas disposições do código de processo civil de 2015 que tratam da
modificação da competência (artigos 54 a 63). (Vide anexos III e IV – aplicam-
se tais precedentes?)

R – Segundo o Superior Tribunal de Justiça, em casos de Ação Anulatória e


Executiva Fiscal que versem sobre a mesma lide, devem ser aplicadas as regras de
conexão, prevista no artigo 55, do Código de Processo Civil.

Assim, para haver a conexão são necessários que a competência seja relativa e
que nenhuma das ações tenham sido sentenciadas, conforme artigo 55, parágrafo
primeiro e artigo 54, CPC. Estando cumprido os respectivos requisitos, os
processos devem ser reunidos no juízo prevento.

Logo, nos casos em que houver o ingresso de Ação Anulatória em momento


anterior à Execução Fiscal e está seja distribuída para vara especializada, entendo
que em razão de se tratar de competência absoluta se torna impossível a reunião
dos processos, devendo ser aplicáveis os precedentes que determinam que a
Execução Fiscal deve ser suspensa nesses casos, desde que o juízo esteja
garantido.
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Quando, todavia, a Anulatória for proposta após a Execução Fiscal, então deverá
haver a reunião dos processos na vara especializada, em conformidade com o
artigo 61, CPC, que dispõe que a ação acessória deve ser distribuída em
dependência a ação principal, uma vez que a Anulatória neste caso produzirá
efeitos análogos aos Embargos do Devedor.

Frise-se que é plenamente possível ingressar com Ação Anulatória após a


execução fiscal, desde que o devedor não tenha se utilizado dos embargos do
devedor, restando transcorrido o prazo para a utilização deste instrumento, ou
tenha sido proferido sentença na execução meramente terminativa.

Assim, caso haja o ingresso de Ação Anulatória após a Execução Fiscal e de


Embargos do Devedor simultaneamente, haverá clara relação de prejudicialidade
entre eles, devendo haver a extinção do mais recente em decorrência de
litispendência ou coisa julgada.

Apenas em raras exceções, em que o objeto dos embargos do devedor seja mais
amplo que o alegado na Anulatória, segundo o art. 57, CPC, haverá uma relação de
continência entre eles, motivo pelo qual devem ser reunidos e julgados em
conjunto.

5. Você é procurado pela empresa AZT Foods do Brasil Ltda que lhe apresenta o
seguinte:
CASO CONCRETO – Em função de sua atividade a empresa AZT Foods do
Brasil Ltda. está sujeita ao pagamento de determinado tributo pela venda de
seu produto. Nos últimos 3 anos, em função de algumas dificuldades
financeiras, ela não pagou o tributo devido (e sequer informou seus débitos
ao Fisco), pretendendo fazê-lo agora por se encontrar em melhores condições
financeiras. Contudo, em função do inadimplemento, a confissão do débito
para fins “denúncia espontânea” está sujeita a multa de 45% do valor da
operação (venda de seu produto), cuja instituição se deu por ato normativo
infralegal.
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A AZT solicita um parecer em que você deverá apontar:


(a) a estratégia processual (a medida judicial ou medidas judiciais) a ser adotada
para a defesa dos seus interesses, devendo ser justificada a opção da(s)
medida(s), com a indicação do dispositivo de lei que determina o seu
cabimento;
(b) o(s) fundamento(s) jurídico(s) que poderá(ão) ser(em) utilizado(s) para afastar a
exigência dessa multa – causa de pedir;
(c) a necessidade, ou não, de efetivação do depósito judicial;
(d) o pedido da ação (ou ações);
(d) o efeito da sentença pretendido com a ação (ou ações).

R - De acordo com o artigo 19, inciso I, do Código de Processo Civil, é cabível


Ação com o único fito de declarar a inexistência de relação jurídica, tendo como
requisitos, no âmbito tributário, que não tenha ainda o crédito sido
definitivamente constituído e haja risco concreto de ocorrência da situação que
se busca proteger.

Assim, no caso em epígrafe, considerando que não houve ainda a constituição


definitiva do crédito através da ciência do devedor quanto ao lançamento do
tributo, bem como que há evidente risco de cobrança indevida da multa,
verifica-se que a ação cabível quanto à discussão da penalidade seria a Ação
Declaratória de Inexistência de Relação Tributária.

Terá, então, como objetivo que seja declarado a inexistência da obrigação do


devedor realizar o pagamento da multa de 45%, uma vez que esta foi instituída
por norma infra legal, o que fere ao Princípio da Legalidade, conforme artigo 5°,
II e artigo 150, inciso I, ambos da Constituição Federal – este último aplicável
por analogia – , os quais prescrevem que a multa tributária não instituída por lei
será considerada inconstitucional.

Neste caso, a empresa também deverá buscar a suspensão da exigibilidade do


crédito tributário até o julgamento final da demanda. Para isso, ela pode pleitear
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a suspensão da exigibilidade através de tutela antecipada de urgência ou por


depósito do montante integral, conforme artigo 151, incisos II e V.

Frise-se, todavia, que não há obrigatoriedade de realizar o depósito judicial,


sendo inclusive inconstitucional a ação judicial que vincular a sua apreciação ao
depósito do montante integral, conforme S.V. 28.

O pedido a ser feito na declaratória, então, é a declaração de inexistência de


relação jurídica entre o devedor e o Fisco no tocante ao pagamento da multa de
45% imposta pela denunciação espontânea do tributo decorrente do fato
gerador praticado, uma vez que esta é inconstitucional.

Com a respectiva ação, portanto, se buscará que seja declarado que o ente
tributante não poderá lançar e cobrar a penalidade tributária, por ser esta
indevida.

Quanto ao pagamento do tributo que o cliente entende devido, mas que está
vinculado ao pagamento da multa que será discutida na Ação Declaratória,
deverá ingressar com Ação de Consignação em Pagamento, conforme
artigo164, inciso I, do CTN, uma vez que é ilegal a negativa de recebimento do
tributo, sob o pressuposto que obrigatoriamente precisa também ser paga a
multa que o devedor entende indevida.

Neste caso, deverá requerer a citação do Fisco e a autorização para depositar


e, juízo o montante que entende devido.

Para isso, portanto, deverá realizar o depósito do montante integral o qual terá a
eficácia de extinção do crédito tributário somente após o trânsito em julgado da
decisão judicial que julgar procedente a consignatória, sendo este o efeito
pretendido na consignatória.
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6. Na ação de consignação em pagamento, o que extingue a obrigação


tributária: (i) a consignação em pagamento; (ii) a conversão em renda do valor
consignado; (iii) a sentença que julga procedente a ação de consignação em
pagamento; (iv) a decisão judicial de procedência da ação transitada em
julgado? Fundamente sua resposta.

R – Considerando que a Ação Consignatória de pagamento, segundo o artigo 164,


CTN, visa garantir ao devedor o direito de ter o crédito tributário extinto em face de
ilegítima recusa do ente tributante, entendo que o que extingue o crédito tributário é
o trânsito em julgado da decisão judicial de procedência da ação consignatária.

Logo, ao ingressar com a Ação Consignatória, o devedor deverá realizar o depósito


judicial do montante que entende devido e requerer a autorização para depósito.

A extinção do crédito tributário, todavia, terá sua eficácia suspensa até que transite
em julgado a decisão que julgar procedente a consignação em pagamento, com o
intuito de evitar que seja reconhecido a extinção de crédito tributário de forma
diversa do débito fiscal devido e garantindo ao Fisco o direito constitucional ao
contraditório e ampla defesa.

7. Contribuinte sediado no Estado de São Paulo tem lavrado em seu desfavor


auto de infração de ICMS pelo Estado do Mato Grosso (problemas atinentes à
documentação fiscal que acompanhava a mercadoria, bem como ao não
destaque do diferencial de alíquotas supostamente devido ao Estado do Mato
Grosso). Inconformado com essa situação, referido contribuinte lhe procura
para que ajuíze ação anulatória, questionando-lhe, nessa ocasião, acerca do
foro competente no qual deve ser processada a referida ação. Apresente, de
forma fundamentada, sua resposta a esse questionamento, analisando o caso
à luz da regra veiculada no parágrafo único do artigo 52 do Código de
Processo Civil/15.
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R – Primordialmente, é necessário observar que o ICMS constitui imposto estadual,


neste caso, tendo como sujeito ativo o Estado do Mato Grosso.

De outra senda, imprescindível observar que se busca ingressar com Ação


Anulatória, a qual possui procedimento comum cível e será ingressada em face do
ente tributante.

Assim, considerando que o Estado do Mato Grosso figurará no polo passivo da


demanda, para o ingresso da ação, faz-se necessário observar o art. 52, parágrafo
único, do CPC, o qual dispõe que sendo os Estados ou Distrito Federal o
demandado, da ação, esta “poderá ser proposta no foro de domicílio do autor, no
de ocorrência do ato ou fato que originou a demanda, no de situação da coisa ou na
capital do respectivo ente federado.”

Depreende-se, portanto, que no caso concreto apresentado acima, será


competente para processar e julgar a Ação Anulatória tanto na Comarca em que
está sediada a empresa autora, quanto a comarca de Cuiabá, por ser esta a capital
do demandado, Estado do Mato Grosso.

Por fim, deve-se atentar se o ente tributante não já ingressou com a Execução
Fiscal, pois, em caso positivo, passará a ser competente para julgar a Ação
Anulatória exclusivamente a vara especializada em que estiver tramitando a
executiva, conforme entendimento majoritário da jurisprudência.

Sugestão para pesquisa suplementar


• MARINS, James. Título III, capítulo 11, item 3 e capítulo 15 do livro Direito processual
tributário brasileiro (administrativo e judicial),. São Paulo: Dialética.
• Artigo: “Ação de consignação em pagamento no direito tributário, de James Marins, in
Processo judicial tributário. São Paulo: MP editora.
• Capítulo 10 do livro Introdução à teoria geral do processo civil, de Paulo Cesar Conrado.
São Paulo: Max Limonad.
• Capítulos 8 e 9 do livro Fundamentos do direito processual tributário, de Rafael Pandolfo.
São Paulo: Saraiva.
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• Livro I, Capítulo VIII, “A (des) construção das normas tributárias nas ações (reações)
antiexacionais”, de Júlio M. de Oliveira, in Curso de Especialização em direito tributário –
homenagem a Paulo de Barros Carvalho, coord. Eurico Marcos Diniz de Santi. São Paulo:
Forense.
 SOUZA, Fernanda Donnabella Camano de. Os requisitos e os efeitos da transação por
adesão no contencioso tributário de relevante e disseminada controvérsia jurídica. In:
CONRADO, Paulo Cesar; ARAUJO, Juliana Furtado Costa. Transação Tributária na
prática da lei nº 13.988/2020. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2020.

Anexo I
REsp 862.230/DF
Dje 11/09/2008

PROCESSO JUDICIAL TRIBUTÁRIO. CRÉDITO FISCAL CONSTITUÍDO AINDA


NÃO EXECUTADO. AÇÃO DENOMINADA DE DECLARATÓRIA, MAS COM
CONTEÚDO ANULATÓRIO. NATUREZA DA AÇÃO. IRRELEVÂNCIA DA
NOMINAÇÃO DADA PELO AUTOR.
1. O pedido inicial formulado na ação ordinária, ajuizada antes da propositura do
executivo fiscal, que objetiva a declaração de ilegalidade da inscrição da dívida no rol da
Dívida Ativa do Distrito Federal e o conseqüente reconhecimento da inexistência do
débito fiscal referente a IPTU, ostenta conteúdo constitutivo negativo de lançamento
tributário supostamente eivado de ilegalidade, revestindo a demanda de natureza
anulatória, malgrado o nomen iuris atribuído pelos autores (Precedentes do STJ: EDcl
no REsp 894.545/DF, Rel. Ministro Teori Albino Zavascki, Primeira Turma, julgado em
17.05.2007, DJ 31.05.2007; AgRg nos EREsp 509.300/SC, Rel. Ministro Jorge
Scartezzini, Segunda Seção, julgado em 08.02.2006, DJ 22.02.2006; REsp 392.599/CE,
Rel. Ministro Fernando Gonçalves, Quarta Turma, julgado em 06.04.2004, DJ
10.05.2004; e REsp 100.766/SP, Rel. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, Quarta
Turma, julgado em 15.06.1999, DJ 16.08.1999).
2. É cediço que, em sede tributária, faz-se mister distinguir a ação declaratória
negativa da ação anulatória de débito fiscal, porquanto seus efeitos são diversos. Esta
última tem como objetivo precípuo a anulação total ou parcial de um crédito tributário
definitivamente constituído, sendo este, portanto seu pressuposto. Sua eficácia é, desse
modo, constitutiva negativa.
3. “Como afirma Carreira Alvim, a “distinção que se há de fazer entre ação
anulatória e declaratória é que a anulatória pressupõe um lançamento, que se
pretende desconstituir ou anular; a declaratória não o pressupõe. Através desta
pretende-se declarar uma relação jurídica como inexistente, pura e simplesmente”
(Cleide Previtalli Cais, in O Processo Tributário, Ed. Revista dos Tribunais, 4ª ed.,
págs. 495/496).
4. Destarte, à luz dos princípios da mihi factum, dabo tibi ius e iura novit curia, não
se revela escorreito encerrar o feito sem “resolução”do mérito, tão-somente pelo
fundamento de que, nomeada a ação ordinária de declaratória, faleceria aos autores o
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necessário interesse de agir, máxime na hipótese em que ainda não ajuizado o


executivo fiscal pertinente.
5. Recurso especial desprovido.
(REsp 862.230/DF, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado em
05/08/2008, DJe 11/09/2008)

Anexo II
AgRg no AgRg no REsp 1.025.893/RJ
DJe 24/03/2009
AGRAVO REGIMENTAL. PROCESSUAL CIVIL. IPTU. PRETENSÃO DE
ANULAÇÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO. PRESCRIÇÃO QUINQUENAL A PARTIR
DA NOTIFICAÇÃO. ART. 1º DO DECRETO N. 20.910/32.
1. “Considerando que na ação anulatória de débito fiscal ocorre o efeito
constitutivo, são diferentes os reflexos provocados pela ação declaratória negativa e
pela ação anulatória de débito fiscal. Como já foi assinalado, a ação anulatória
demanda um lançamento contra o qual é voltada, enquanto a ação declaratória pode
ser proposta, entre outros casos, visando declarar a inexistência de obrigação
tributária; declarar a não incidência de determinado tributo;
declarar a imunidade tributária; declarar isenção fiscal; declarar ocorrência de
prescrição etc. Quando outorga a feição de declaratória negativa ao seu pedido, o
autor não está pretendendo desconstituir o crédito tributário, mas, antecipando-se à
sua constituição, requer uma sentença que afirme não ser devido determinado tributo.
Como afirma Carreira Alvim, a ‘distinção que se há de fazer entre ação anulatória e
declaratória é que a anulatória pressupõe um lançamento, que se pretende
desconstituir ou anular; a declaratória não o pressupõe. Através desta pretende-se
declarar uma relação jurídica como inexistente, pura e simplesmente.’ (in O Processo
Tributário, Ed. Revista dos Tribunais, 4ª ed., p. 495/496).
Conseqüentemente, afasta-se a tese do acórdão recorrido acerca da
imprescritibilidade da presente demanda, posto que, conforme evidenciado, trata-se de
hipótese cuja sentença é constitutiva negativa. Assim, na ausência de norma
específica a regular a matéria, o prazo prescricional a ser observado é qüinqüenal, nos
moldes do art. 1º do Decreto 20.910/32.” (EDcl no REsp 894.981/RJ, Rel. Min. Luiz
Fux, Primeira Turma, julgado em 6.11.2008, DJe 27.11.2008).
2. O termo a quo para se questionar a constitucionalidade e legalidade do IPTU, e
das taxas a ele vinculadas, é a notificação fiscal do lançamento, que, no presente caso,
deu-se em período anterior a cinco anos, contados do ajuizamento da ação.
Agravo regimental provido. (AgRg no AgRg no REsp 1025893/RJ, Rel. Ministro
HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 17/02/2009, DJe 24/03/2009)

Anexo III
Conflito de Competência n. 105.358/SP
Julgamento: 13/10/2010
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CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. EXECUÇÃO FISCAL. AÇÃO


ANULATÓRIA AJUIZADA ANTERIORMENTE. CONEXÃO. NORMA DE
ORGANIZAÇÃO JUDICIÁRIA. EXISTÊNCIA DE VARA ESPECIALIZADA PARA
JULGAR EXECUÇÕES FISCAIS. REUNIÃO DOS PROCESSOS. IMPOSSIBILIDADE.
SUSPENSÃO DA EXECUÇÃO. GARANTIA DO JUÍZO. NECESSIDADE.
1. Esta Seção, ao julgar o CC 106.041/SP (Rel. Min. Castro Meira, DJe de
9.11.2009), enfrentou situação semelhante a dos presentes autos, ocasião em que
decidiu pela impossibilidade de serem reunidas execução fiscal e ação anulatória de
débito precedentemente ajuizada, quando o juízo em que tramita esta última não é
vara especializada em execução fiscal, nos termos consignados nas normas de
organização judiciária. No referido julgamento, ficou consignado que, em tese, é
possível a conexão entre a ação anulatória e a execução fiscal, em virtude da relação
de prejudicialidade existente entre tais demandas, recomendando-se o simultaneus
processus. Entretanto, nem sempre o reconhecimento da conexão resultará na
reunião dos feitos. A modificação da competência pela conexão apenas será possível
nos casos em que a competência for relativa e desde que observados os requisitos
dos §§ 1º e 2º do art. 292 do CPC. A existência de vara especializada em razão da
matéria contempla hipótese de competência absoluta, sendo, portanto, improrrogável,
nos termos do art. 91 c/c 102 do CPC. Dessarte, seja porque a conexão não possibilita
a modificação da competência absoluta, seja porque é vedada a cumulação em juízo
incompetente para apreciar uma das demandas, não é possível a reunião dos feitos no
caso em análise, devendo ambas as ações tramitarem separadamente. Embora não
seja permitida a reunião dos processos, havendo prejudicialidade entre a execução
fiscal e a ação anulatória, cumpre ao juízo em que tramita o processo executivo decidir
pela suspensão da execução, caso verifique que o débito está devidamente garantido,
nos termos do art. 9º da Lei 6.830/80.
2. Pelas mesmas razões de decidir, o presente conflito deve ser conhecido e
declarada a competência do Juízo suscitado para processar e julgar a ação anulatória
de débito fiscal.

Anexo IV
Conflito de Competência n. 106.041/SP
Julgamento: 28/10/2009
CONFLITO DE COMPETÊNCIA. EXECUÇÃO FISCAL. AÇÃO ANULATÓRIA
AJUIZADA ANTERIORMENTE. CONEXÃO. NORMA DE ORGANIZAÇÃO
JUDICIÁRIA. EXISTÊNCIA DE VARA ESPECIALIZADA PARA JULGAR EXECUÇÕES
FISCAIS. REUNIÃO DOS PROCESSOS. IMPOSSIBILIDADE. SUSPENSÃO DA
EXECUÇÃO. GARANTIA DO JUÍZO. NECESSIDADE.
1. Cuida-se de conflito negativo de competência instaurado entre o juízo da 4ª
Vara Federal de Santos/SP, suscitante, e o juízo da 1ª Vara Federal e Juizado
Especial Cível de Foz do Iguaçu/PR, suscitado, nos autos de execução fiscal movida
pela União Federal. Discute-se a possibilidade de serem reunidas execução fiscal e
ação anulatória de débito precedentemente ajuizada, quando o juízo em que tramita
esta última não é vara especializada em execução fiscal, nos termos consignados em
norma de organização judiciária.
Módulo Incidência e Crédito Tributário

2. Em tese, é possível a conexão entre a ação anulatória e a execução fiscal, em


virtude da relação de prejudicialidade existente entre tais demandas, recomendando-
se o simultaneus processus. Precedentes.
3. Entretanto, nem sempre o reconhecimento da conexão resultará na reunião dos
feitos. A modificação da competência pela conexão apenas será possível nos casos
em que a competência for relativa e desde que observados os requisitos dos §§ 1º e
2º do art. 292 do CPC.
4. A existência de vara especializada em razão da matéria contempla hipótese de
competência absoluta, sendo, portanto, improrrogável, nos termos do art. 91 c/c 102
do CPC. Dessarte, seja porque a conexão não possibilita a modificação da
competência absoluta, seja porque é vedada a cumulação em juízo incompetente para
apreciar uma das demandas, não é possível a reunião dos feitos no caso em análise,
devendo ambas as ações tramitarem separadamente.
5. Embora não seja permitida a reunião dos processos, havendo prejudicialidade
entre a execução fiscal e a ação anulatória, cumpre ao juízo em que tramita o processo
executivo decidir pela suspensão da execução, caso verifique que o débito está
devidamente garantido, nos termos do art. 9º da Lei 6.830/80.
6. Conflito conhecido para declarar a competência do juízo suscitado.

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