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DIREITO TRIBUTÁRIO – ESTUDO DE CASO (CASE) II

1) O preço público tem natureza tributária? Justifique. Verificar ainda a posição


jurisprudencial predominante sobre o tema, identificando qual o critério dos
julgadores para entender tratar-se ou não de tributo, mencionando ainda se vocês
concordam ou não com o fundamento das decisões.

O preço público não pode ser considerado um tributo, pois não existe nenhuma
legislação que regule ele. Não há nenhum regulamento previsto na Constituição Federal
de 1988 nem tão pouco no Código Tributário Nacional. O preço público, portanto,
remete ao valor cobrado por uma atividade de interesse público que equivale a um
contrato público direcionado a outras pessoas que tiverem interesse nos serviços
oferecidos, podemos citar como exemplo a energia elétrica e os transportes públicos. O
preço público por não ser considerado nenhuma modalidade tributária não se enquadra
nas vedações previstas no art. 150 da CF/1988.

Sua origem é contratual de natureza de direito privado, mas está sujeita ao


regime jurídico de direito público e poderão ser instituídos por ato do executivo. As
características do preço público são seu regime jurídico de viés contratual, a não
compulsoriedade, a admissão da rescisão, a possibilidade de ser cobrado somente pela
utilização efetiva (sendo que a cobrança é proporcional a utilização) e por fim, a sua
fiscalização realizada pelo executivo.

Nesse sentido, a jurisprudência predominante sobre o tema assevera por meio da


Súmula 545 do STF que “preços de serviços públicos e taxas não se confundem, porque
estas, diferentemente daqueles, são compulsórias e têm sua cobrança condicionada à
prévia autorização orçamentária, em relação à lei que as instituiu.”. O conteúdo dessa
súmula influenciou no posicionamento jurisprudencial quanto a preço público no
sentido em que, segundo o julgamento da ADI 800/RS, o critério principal para
identificar e distinguir taxa e preço público é o da compulsoriedade, sendo esta presente
na primeira e ausente na segunda espécie.

No julgamento da ADI, o elemento da compulsoriedade foi o critério base para


determinar que o fornecimento de água é serviço remunerado por preço público, por
exemplo. Quanto a este exemplo, a posição do Superior Tribunal de Justiça (REsp
1492573/RS) e do Supremo Tribunal Federal (AI 753964) é no sentido de que tal
cobrança tem natureza jurídica de tarifa e não de taxa, logo, considerando-se que as
tarifas equivalem a preço público, a adesão ao fornecimento desse tipo de serviço é
facultativo, dando ao consumidor a opção de não recebê-lo e, em não recebendo, não ser
cobrado.
O posicionamento jurisprudencial inserido no fundamento das decisões quanto
ao tema expõe uma clara ideia de que o preço pago por serviços públicos possui caráter
estritamente de tarifa, sem carregar valor tributário em si. Logo, o fator da
compulsoriedade presente na taxa, mas ausente no preço público é o que, de fato,
distingue as duas espécies. Ademais, isto se dá devido à falta de lei para que dispõe
acerca do preço público, conquanto na taxa, a sua cobrança é condicionada a lei
orçamentária. Isto posto, ficamos de acordo com o fundamento das decisões sobre o
tema.

2) Levando-se em consideração a seguinte lei fictícia, construa a regra matriz de


incidência tributária, justificando ainda se o Município X poderia instituir
validamente tal tributo.

Município X, Lei nº 1000, de 10/10/1994

Art. 1º. O presente tributo tem como fato gerador a circunstância da pessoa realizar evento
aberto ao público em área residencial fora do horário permitido.
Art.2º. Contribuinte é o proprietário do imóvel em que foi realizado o evento.
Art.3º. A base de cálculo é o valor venal do imóvel.
Art.4°. A alíquota é de 3%.
Art.5º. As áreas residenciais do Município X econtram-se compreendidas nos setores
residenciais demarcados no plano diretor anexo à esta lei.
Art.6°. O horário permitido para eventos em áreas residenciais é das 8:00 horas da manhã até
as 20:00 horas da noite.
Art.7º. Deverá o contribuinte recolher a importância relativa ao tributo devido, no 1° dia útil
do próximo mês em que ocorreu o fato gerador, nas agências bancárias através de formulário
próprio.
Art.8º. Em caso de falta de pagamento de tributo ou de tributo recolhido a menor, a autoridade
administrativa competente lavrará Auto de Infração e Notificação Fiscal, aplicando a multa de
50%, calculada sobre o valor do tributo.
Art.9°. Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.
Resposta

Conforme Aurora Tomazini de Carvalho, regra matriz de incidência tributária é


aquela produzida para ser aplicada em casos concretos, que se inscrevem entre as regras
gerais e abstratas. Essa regra, portanto, deve estabelecer a hipótese e a consequência de
sua incidência.

A partir dos dados fornecidos pelo enunciado, é possível atribuir à lei municipal
nº 1.000, de 10 de outubro de 1994, uma regra matriz de incidência tributária.

No que tange à sua hipótese, é necessário apontar 3 (três) critérios distintos:


material, espacial e temporal. O critério material refere-se a “realizar evento aberto ao
público em área residencial fora do horário permitido”, conforme previsto no art. 1º da
lei fictícia. O critério espacial corresponde ao imóvel residencial compreendido no setor
residencial demarcado no plano diretor anexo à lei nº 1.000/94. Por fim, o critério
temporal consiste no período compreendido após as 20:00 e antes das 08:00.

No que concerne à sua consequência, é relevante indicar outros 2 (dois)


critérios: pessoal e quantitativo. O primeiro critério subdivide-se em sujeito ativo e
passivo. Na situação em tela, o sujeito ativo é a Fazenda Pública do Município X; e o
sujeito passivo é o proprietário do imóvel em que foi realizado o evento. Por sua vez, o
critério quantitativo diz respeito à base de cálculo, que é o valor venal do imóvel, e à
alíquota do tributo, que é de 3% (três por cento).

A partir da construção de Aurora Tomazini de Carvalho, é possível sistematizar


a regra matriz de incidência tributária prevista pela lei municipal nº 1.000/94 da
seguinte maneira:
Conclui-se ainda que tal tributo não poderia ser criado. Inicialmente, verifica-se
a ausência de respaldo constitucional para a criação do presente tributo, tendo em vista
que não se enquadra em nenhuma das espécies previstas na Constituição. Isso ocorre
tendo em vista que não pode ser considerado um imposto, porque não há revelação de
riqueza. Não pode ser considerada taxa, visto que não há prestação de serviço individual
e divisível pelo Estado. Não pode ser contribuição de melhoria, tendo em vista não
haver qualquer obra pública que traga valorização a imóveis. Igualmente, não é
empréstimo compulsório ou contribuição.
Neste aspecto, a ausência de justificativa para a criação do tributo e, igualmente,
a falta de respaldo constitucional leva a concluir pela ilegalidade do tributo criado, não
podendo ser instituído ou cobrado.

3) Institua a Regra Matriz dos seguintes tributos abaixo, mencionar ainda se trata
de tributos vinculados ou não-vinculados, proporcionais, progressivos ou fixos.
3.1) Projeto de Lei Complementar 34/2020;
O Projeto de Lei em análise trata de empréstimo compulsório, portanto tributo
vinculado, e conforme alíquota caracterizado como progressivo sobre rendimento das
empresas, para tratar das despesas causadas pela situação de calamidade pública
relacionada ao coronavírus (COVID-19).

Regra Matriz:

Hipótese:

a) Material: Hipótese de incidência ocorre sobre prestação de serviços públicos,


pesquisa e afins para lidar com a situação de calamidade pública. Quanto ao fato
gerador, a necessidade de suprimento nacional com insumos de combate e
prevenção a crise sanitária. Ter patrimônio líquido igual ou superior a 1 bilhão
de reais.
b) Espacial: Situação que assola o país como um todo, portanto a República
Federativa do Brasil é a referência territorial e sobre a qual a Câmara dos
Deputados elaborou o Projeto de Lei. Domicílio localizado em território
brasileiro.
c) Temporal: Durante o período de calamidade pública. Doze meses anteriores até
30 dias antes da publicação da lei.

Consequente:

a) Quantitativo: até 10% do lucro líquido apurado pelas pessoas jurídicas nos doze
meses anteriores à publicação do Projeto de Lei.
b) Pessoal: Sujeito Passivo trata-se, via de regra, dos contribuintes (quem pratica o
critério material - PJ), e por conseguinte a União é o Sujeito Ativo.
3.2) Imposto de Doação do Estado de Minas Gerais;
Refere-se a imposto vinculado, recolhido em alíquota fixa, ou seja, trata-se de
tributo proporcional calculando a base de cálculo com alíquota fixa que não se altera,
sobre valor alternando conforme valor pecuniário atribuído ao bem.

Regra matriz:

Hipótese:

a) Material: Hipótese de incidência ocorre o efeito de doar bem a terceiro. Nesse


ínterim o ato gerador performa no ato volitivo inter vivos de transferir bem de
forma benéfica a outrem.
b) Espacial: Doações realizadas sobre bens localizados no estado de Minas Gerais.
c) Temporal: Sobre fato específico e extemporâneo, pois decorre do fato gerador de
doar.

Consequente:

a) Quantitativo: Alíquota de 5% sobre os valores doados.


b) Pessoal: Sujeito Passivo trata-se, via de regra, do doador, e por conseguinte a
Fazenda do Estado de Minas Gerais é o Sujeito Ativo.

3.3) Taxa de Coleta de Lixo Público do Município de Uberlândia.


Taxa é um serviço específico e divisível, de utilização compulsória e colocação à
disposição. No caso em tela, diz respeito ainda a tributo vinculado, por ter destinação
específica seu recolhimento e proporcional por incidir sobre alíquota com base de
cálculo nas medidas prediais.

Regra matriz:

Hipótese:

a) Material: Hipótese de incidência o fornecimento do serviço público de coleta de


lixo. Fato gerador a coleta de resíduos em favor da saúde pública e saneamento
básico.
b) Espacial: Município de Uberlândia
c) Temporal: Anual. A cada exercício anual.
Consequente:

a) Quantitativo: Taxa de coleta de lixo (R$/ano) = Alíquota da zona fiscal (R$/m²)


x Fator de uso x Área edificada do imóvel (m²).
b) Pessoal: Sujeito Passivo trata-se do contribuinte proprietário do imóvel, ao passo
que o sujeito passivo trata-se do ente municipal.

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