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SEMINÁRIO V – TRIBUTAÇÃO ADUANEIRA

1. Construa a RMIT dos Impostos de Importação e de Exportação. Qual o


conceito de produto para fins de incidência destes tributos?

Quanto ao aspecto material de imposto de importação temos: importar produtos


estrangeiros, e quanto ao imposto de exportação: exportar produtos nacionais ou
nacionalizados para o exterior. Contendo dessa forma, os verbos componentes:
importar ou exportar e seus complementares, importar produtos estrangeiros e
exportar produtos nacionais ou nacionalizados.

Quanto ao aspecto temporal para o imposto de importação considera-se o momento


em que os produtos passam a linha demarcatória do território aduaneiro. Já o
aspecto temporal/espacial do imposto de exportação considera-se o momento em
que o produto sai do território nacional, como também, o local da ocorrência.

No aspecto espacial do imposto de importação temos como marco o ponto do


território cruzados pelos produtos, como exceção da Zona Franca de Manaus (Lei
n. 3.173/57, prevista também na CF, artigo 40 do ADCT, e regulamentada pelo Dec.
Lei n. 288/67).

No critério pessoal do Imposto de importação temos como sujeito ativo a União e o


sujeito passivo é o importador ou quem a lei equiparar ou o arrematante de produtos
apreendidos ou abandonados, já no Imposto de exportação é a União e o sujeito
passivo é o exportador ou a quem a lei equiparar.

Quanto ao critério quantitativo para o Imposto de importação temos a base de


cálculo e a alíquota, previstos no artigo 20 do CTN, já no Imposto de exportação
temos a base de cálculo e a alíquota previstos no artigo 24 do CTN.

Inicialmente, é importante destacar que o conceito de produto e mercadoria são


diversos, afirma-se que não são sinônimos. Mercadoria é um bem corpóreo e seu
objeto é a sua distribuição para consumo, ou seja, tem um conceito mais restrito.
Em contraponto, produto é um bem corpóreo e móvel, com um conceito mais
abrangente. Ainda, na mercadoria o intuito da realização da operação é comercial,
já no produto não é necessário. Dessa forma, a incidência do imposto aduaneiro
versa tanto quanto bens objetos de comércio quanto aqueles que não são, ou seja,
para tributo aduaneiro não há diferença, considerando inclusive que a Constituição
Federal se refere a produto e o Dec. Lei n. 37/66 se refere a mercadoria.

2. A empresa “X” firmou contrato de fornecimento, formalizando a aquisição


de bem do exterior, datado de 10/05/2017. Os produtos transpuseram a
fronteira brasileira, por via marítima em 15/06/2017, chegaram ao porto de
Santos em 18/06/2017, em 25/06/2017 a empresa registrou a operação junto
ao SISCOMEX e os produtos foram desembaraçados em 02/07/2017. No
momento da realização do contrato a alíquota do referido imposto era de
10%. No entanto, em 01/06/2017 o Governo Federal publicou decreto que
aumentou a alíquota aplicável à importação do referido bem para 20%, em
16/06/2017 houve outro aumento de alíquota para 30%, em 22/06/2017 para
35% e em 01/07/2017 para 38%. Pergunta-se: qual é a alíquota aplicável à
operação de importação em análise? Fundamente. (Vide anexo I e II)

De acordo com o RE 225/602/CE o momento do fato gerador do imposto de


importação é a entrada do produto estrangeiro no território nacional, ou seja,
somente poderá incidir a majoração das alíquotas, se a Lei for anterior ao fato
gerador do tributo, corroborando, segue o entendimento do REsp 1.220.979/RJ, no
qual determina que o fato gerador ocorre na data do registro da declaração da
importação, portanto, será aplicada a alíquota vigente na data 02/07/2017, momento
em que a empresa registrou a operação junto ao SISCOMEX.

3. A reimportação de mercadoria exportada em caráter definitivo se equipara à


importação, ou seja, a mercadoria exportada perde a condição de nacional,
devendo se submeter ao Imposto de Importação ao ser reimportada? (Vide
anexo III)
Considerando que a importação e a reimportação são atividades distintas, e, portanto,
tem hipóteses de incidências de IPI distintamente para cada uma, é incabível na
hipótese de reimportação aplicar as exigências previstas para importação, podendo
configurar ofensa ao princípio da legalidade, uma vez que trata-se de fato distinto entre
as duas situações, conforme julgou o REsp 662.882/RJ.

4. O ordenamento jurídico brasileiro adotou o sistema monista ou dualista? Em


face da resposta ao item anterior, defina os critérios para solução de conflitos
entre tratados e lei interna, no Direito Tributário Brasileiro. Há hierarquia entre
tratados e lei interna?
Valendo-se da premissa de que no sistema brasileiro admite-se conflito de normas,
pode-se dizer que no ordenamento jurídico brasileiro é adotado o sistema monista, uma
vez que na teoria dualista não há conflito entre normas estatais e internacionais,
entretanto, é possível que haja um pluralismo de sistemas.

Caso houver conflitos entre tratados e lei interna, a solução se dá pelo critério da
especialidade, quando não envolvam direitos e garantias fundamentais, portanto, há
uma prevalência dos tratados internacionais sobre a lei interna. Considerando o artigo
98 do CTN, podemos afirmar que há hierarquia entre os tratados e a lei interna, posto
que os tratados estão em posição superior.

5. Sobre os tratados, responda:

a) Defina o conceito de “tratado internacional”, descrevendo como se dá seu


ingresso no ordenamento jurídico, seu momento de vigência no direito interno e
sua posição hierárquica no sistema jurídico (vide §2º do art. 5º da Constituição e
o art. 98 do Código Tributário Nacional e o entendimento exposto pelo STF anexo
IV).

O ingresso dos tratados internacionais dá-se por Decreto do Presidente da República,


uma vez que é de sua responsabilidade manter relações com os Estados estrangeiros
e celebrar tratados internacionais. Ademais, devem preencher os requisitos, como,
negociação com o Estado brasileiro, assinatura do instrumento pelo Estado, mensagem
do Poder Executivo ao Congresso Nacional, aprovação dos parlamentares mediante
decreto, ratificação do instrumento e por fim promulgação por meio do decreto
presidencial.

Quanto a posição hierárquica dos tratados internacionais, pode se destacar 3 posições


diversas. 1) quando incorporados os tratados internacionais se sobrepõem até mesmo
a CF. 2) A segunda teoria é que os tratados são inferiores a CF. 3) e a última, segue o
entendimento de que os tratados internacionais estariam hierarquicamente abaixo da
CF e ao mesmo nível da legislação ordinária. Entretanto, considerando que os tratados
internacionais devem ter sua validade no que dispõe a Constituição Federal, é possível
afirmar que estão abaixo da CF, porém, possuindo nível hierárquico das Leis
Complementares e Ordinárias.

b) Pode a União, visando a regular a política tarifária, versar sobre a isenção de


tributo de competência estadual?

Considerando o artigo 151, inciso III da Constituição Federal, é vedado a União instituir
isenções de tributos de competência dos estados, distrito federal ou municípios, em
respeito ao Pacto Federativo, no qual determina a autonomia entre a União, Estado, DF
e Município, portanto, é vedado a isenção heterônoma.

c) Os tratados podem revogar ou suspender a eficácia das normas tributárias


inseridas no ordenamento jurídico brasileiro pelos Estados e Municípios? Haveria
violação ao princípio federativo e ao princípio da autonomia dos Municípios
consagrados na CF/88? (Vide anexos V e VI)

Considerando o artigo 98 do CTN que dispõe a possibilidade dos tratados e convenções


internacionais revogarem e modificarem a legislação tributária interna, pode-se afirmar
que é possível, entretanto, no entendimento de Paulo de Barros Carvalho, o que
modifica ou revoga são os decretos legislativos que aceitam a norma internacional para
que assim incorporem ao sistema tributário. Não há violação ao princípio federativo e
ao princípio da autonomia dos Municípios, considerando que os tratados somente
passam a vigorar a parti de publicação de decreto executivo, ou seja, o tratado por si só
não tem como fonte normativa os poderes estatais internos, é apenas um instrumento
normativo.

6. Ao realizar a classificação aduaneira de um produto, a Receita Federal pode


divergir das normas e de entendimentos técnicos de órgãos especializados?
Fundamente sua resposta. (Vide anexos VIII e IX).
Considerando que os agentes fiscais não dispõem de conhecimento técnico-científico,
não cabe a Receita Federal realizar a classificação aduaneira de um produto, de acordo
com o REsp 1.555.004/SC. Entretanto, quanto a matérias constitutivas, princípios de
funcionamento e processo de obtenção da mercadoria podem ser realizadas pelos
auditores fiscais da Receita.
7. Considerando o despacho aduaneiro de importação, responda (Vide anexo X):

a) Quais as modalidades de lançamento tributário são aplicáveis ao imposto de


importação?

As modalidades de lançamento tributário se dão de 3 formas, de ofício ou direto, por


declaração ou misto e por homologação.

Na forma de lançamento por ofício não temos a presença do contribuinte, o Fisco


identifica o fato gerador, calculo o tributo e exige o pagamento.

No lançamento por declaração, o contribuinte que fornece as informações que o Fisco


necessita para que o cálculo seja realizado e assim exigido o pagamento.

No lançamento por homologação, o contribuinte realiza o cálculo e paga


antecipadamente o valor devido ao Fisco, que neste caso não tem participação.

b) A formalização de exigência no Siscomex tem natureza jurídica de lançamento


de ofício? Qual é a natureza jurídica do ato do sujeito passivo que, cumprindo a
exigência formalizada no Siscomex, retifica a declaração de mercadorias,
recolhendo a diferença do crédito tributário e a multa?

No Siscomex é necessário o registro da declaração de importação, sujeito ao


autolançamento ou lançamento por homologação, consequentemente, os créditos
tributários são pagos automáticos, por meio do DARF, portanto, não tem natureza de
lançamento por ofício.

Quanto a natureza jurídica após o ato do sujeito passivo cumprindo as exigências


formalizadas pelo Siscomex, retificar a declaração de mercadoria, poderá ser de ofício,
considerando que o Fisco apura e em ato de procedimento fiscal realiza a retificação da
declaração após o desembaraço aduaneiro, ou ainda, ao ser realizada pelo sujeito
passivo, pende de homologação posterior pelo Fisco, neste caso, a natureza jurídica é
o lançamento por homologação.

c) O desembaraço aduaneiro (liberação) constitui uma homologação do


lançamento? Considerar os diferentes canais de conferência aduaneira

O desembaraço aduaneiro encerra a fase de conferencia aduaneira, nele resulta a


nacionalização do produto, liberada para ser integrada ao mercado e circular livremente
no território nacional, entretanto, não constitui uma homologação do lançamento,
considerando que a revisão detém por objeto o autolançamento por meio de registro da
DI. Portanto, independe do canal de conferência aduaneira, porque no ato final, não é
transformado em lançamento de ofício.

Posteriormente, na conferência aduaneira, pode ocorrer diferentes canais de


conferência, e se caso estiver de acordo com a regularidade formal e material, o
autolançamento é homologado.
8. Um importador, ao registrar a declaração de mercadorias (DI – Declaração de
Importação - no Siscomex ou DUIMP - Declaração Única de Importação – no Portal
Único de Comércio Exterior), classificou determinado produto como equipamento
de raio X para uso médico não destinado especificamente para diagnóstico (NCM
9022.14.90 1). A declaração foi parametrizada no canal vermelho de conferência
aduaneira. A liberação (desembaraço) ocorreu sem oposição da Receita Federal
em relação ao enquadramento tarifário adotado. Entretanto, após quatro anos,
outro Auditor-Fiscal entendeu que, naquela oportunidade, houve uma
interpretação equivocada das regras da Convenção Internacional do Sistema
Harmonizado de Designação e Codificação de Mercadorias (Decreto Legislativo
nº 71/1988; Decreto nº 97.409/1988). Assim, em sede de revisão aduaneira,
promoveu a reclassificação do produto para a NCM 9022.14.19 2, relativa aos
aparelhos de raios X destinados a diagnósticos, lavrado auto de infração e
lançamento para a constituição da diferença de crédito tributário e cominação das
penalidades. Diante disso, pergunta-se (Vide anexos X e XI):

a) Esse lançamento de ofício deve observar o art. 146 do CTN? Há diferença se a


parametrização, ao invés do canal vermelho, tivesse ocorrido no canal verde?

Não há impedimento por parte do Fisco em realizar o procedimento de Revisão


Aduaneira, respeitando o prazo prescricional de 5 anos da sistemática de lançamento
por homologação por parte do contribuinte.

Anteriormente, caso fosse uma revisão de ofício de lançamento, poderia alegar o


contribuinte óbice ao artigo 146 do CTN, já que seria um segundo lançamento,
entretanto, após a revogação do Decreto n. 91.030/85, passou a ser lançamento em si
efetuado por vez dentro da sistemática do lançamento por homologação e não revisão
de lançamento que já foi efetuado, conforme julgamento do Resp n. 1.576.199/SC.

De acordo com o Resp 1.826.124, não há óbice à revisão aduaneira e parametrizadas


para os canais amarelo e vermelho na fase de conferência, considerando que no
Decreto 6.759/09 em seu artigo 638, não há qualquer vinculação do direito do Fisco de
proceder a revisão aduaneiro apenas a determinado tipo de cana de conferência.

b) A reclassificação foi assentada no alegado equívoco de interpretação das


regras da Convenção Internacional do Sistema Harmonizado de Designação e
Codificação de Mercadorias. Porém, as consequências seriam as mesmas se a
reclassificação fiscal tivesse se baseado na constatação de que o equipamento
importado apresenta características diferentes das identificadas na conferência
anterior? Avaliar, nas duas hipóteses, se há erro de direito ou erro de fato.

Na concepção de Paulo de Barros Carvalho, não há diferenciação e erro de direito e


erro de fato, ou seja, é equiparado o erro de direito e mudança de critério jurídico, uma
vez que consoante artigo 146 do CTN a autoridade administrativa não é autorizada a
majorar a tributação apenas com base no critério jurídico, apenas provando haver erro
de fato.

Quanto ao equívoco de interpretação das regras da Convenção Internacional do


Sistema Harmonizado de Designação e Codificação de Mercadoria, trata-se de erro de
direito, considerando que há equívoco no enquadramento legal ou distorção entre o
enunciado da norma individual e concreta e sua validade da norma geral e abstrata.

Quanto ao equipamento importado apresentando características diversas da


identificada na conferencia anterior, trata-se de erro de fato, uma vez que há um
desajuste de linguagem interna, uma falha no processo de relato do consequente ou
antecedente de norma individual e concreta.

No que concerne as consequências, pode-se dizer que a revisão do lançamento


somente ocorre em caso de erro de fato.

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