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1. PREFÁCIO
Caro leitor,
Boa leitura,
Carlota Aquino
Diretora Executiva do Idec
3
SUMÁRIO
1. Prefácio 3
2. Introdução 6
da sindemia global 31
Referências 97
5
Giulia Levy/Nupens
2. INTRODUÇÃO
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3. RESUMO EXECUTIVO
DOS RESULTADOS
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ou pelo menos contemplando a reali- da etapa de triagem, 113 materiais fo-
dade brasileira; 4) conexão e pertinên- ram selecionados para comporem a
cia com a temática central do estudo revisão de literatura. Abaixo, apresen-
- transição para um sistema alimentar tamos uma breve síntese dos resulta-
saudável e sustentável. Após a segun- dos em cada dimensão.
9
concentrado, o que torna ainda mais caros os alimentos saudá-
veis para aqueles com recursos limitados. Adicionalmente, essa
lógica do sistema alimentar em larga escala também acarreta
um grande desperdício em diferentes etapas do processo de
produção e do processamento dos alimentos.
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SAN e dando centralidade à produção da SAN, inclusive com financiamentos
de alimentos da agricultura familiar e da próprios, que possam auxiliar estados e
agroecologia em dinâmicas locais e sus- municípios a priorizar a transição para
tentáveis. sistemas alimentares agroecológico e
justos, com a consolidação de agendas
Apesar do contexto positivo em relação locais que integrem as dinâmicas rural
ao marco legal existente, as publicações e urbana. Recomenda-se também a am-
que analisam o cenário contemporâneo pliação das pesquisas que possam ava-
alertam para um grave processo de re- liar a influência das empresas do setor
trocesso político, em que muitas ações alimentar no processo de tomada de
de SAN têm sido fragilizadas com redu- decisões públicas no país, inclusive con-
ção de recursos, precarização de servi- siderando o processo de financiamento
ços ou até mesmo a total extinção de de campanhas eleitorais.
pastas e instâncias de alta relevância,
como Consea nacional, requerendo uma A literatura também aportou um con-
forte atuação da sociedade para que os junto de 100 marcos político-normati-
direitos conquistados sejam mantidos. vos já ativos no país que contribuem de
Recomenda-se também a estrutura- forma positiva ao processo de transição
ção de mecanismos de descentraliza- para um sistema alimentar saudável e
ção focados em facilitar a capilaridade sustentável.
Giulia Levy/Nupens
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4. OS SISTEMAS
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ALIMENTARES E A
SINDEMIA GLOBAL: UMA
BREVE INTRODUÇÃO
13
O debate sobre sistemas alimentares sos, infraestrutura, tecnologias) que
surge a partir de evidências que corre- compõem as atividades que envolvem
lacionam a persistência da inseguran- a geração de alimentos (produção,
ça alimentar e nutricional e a degra- extração, agregação, processamen-
dação ambiental. Se, por muitas déca- to, distribuição, consumo e descarte)
das, a fome era atribuída à escassez de pela agricultura, pecuária, silvicultu-
alimentos, requerendo um progressivo ra e maricultura de forma dinâmica e
aumento na produção agrícola, desde integrada nas múltiplas escalas e di-
o início do século XXI, diversos estu- mensões - social, econômica e natural
dos indicam que temos alimentos su- (INGRAM, 2011; HLPE 2014; IPES-Food,
ficientes1 para alimentar a população 2015). As diferentes maneiras como
atual e a das projeções futuras (GO- estes elementos e processos intera-
DFRAY et al., 2010; INGRAM, 2011; RE- gem constituem padrões que resultam
GANOLD; WATCHER, 2016; PONISIO em diferentes tipos de sistemas, esti-
et al., 2016). De forma paralela, a pro- mulando resultados e consequências
dução agrícola intensiva tem utilizado igualmente distintas. Nesse sentido,
os recursos naturais (solo, água, biodi- Swinburn et al. (2019) argumenta que:
versidade vegetal e animal) de forma
abusiva e predatória, gerando sua a
Sistemas alimentares
contaminação e escassez e suscitan-
sustentáveis seriam
do uma contínua emissão de gases do
aqueles que promovem
efeito estufa (DE LAURENTIIS; HUNT;
os resultados globais da
ROGERNS, 2016; FAO, 2017). Énes-
saúde humana, saúde
se sentido que Ingram (2011) propõe
ecológica, igualdade social
uma abordagem sistêmica às questões
e prosperidade econômica.
alimentares, em que a segurança ali-
Eles têm um baixo impacto
mentar e as mudanças ambientais em
ambiental, apoiam a
curso possam ser tratadas de forma
biodiversidade, contribuem
complexa, almejando a solução síncro-
para a segurança alimentar
na destes problemas.
e nutricional e apoiam
Essa perspectiva passa a ser discuti- as culturas e tradições
da e qualificada por outros autores, alimentares locais.
sendo entendida como a percepção (SWINBURN et al., 2019, p.
e o tratamento conjunto de todos os 6, tradução da autora)
elementos (atores, instituições, recur-
1. Ainda que com metodologias distintas, os estudos trabalham com dados de produção total de alimentos e consu-
mo de calorias per capita, indicando que em termos quantitativos a produção global de alimentos supera a neces-
sidade calórica da população atual e projeções futuras. No entanto, vale a ressalva de que os totais calóricos pouco
dizem sobre a diversidade e a qualidade nutricional dos alimentos. Portanto, considerando que uma alimentação
nutricionalmente adequada e saudável deve considerar contextos muito específicos a cada indivíduo (peso, altura,
cultura, condições de saúde, entre outros), é muito difícil realizar uma projeção global que considere uma alimen-
tação em qualidades adequadas. Ou seja, ainda que não precisemos produzir mais, é muito provável que sejam
necessárias produções mais diversificadas para contemplar a necessidade da população por alimentos saudáveis.
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internacionais liderado por Swinburn ligente revisão de literatura e das evi-
propõe o conceito de “sindemia glo- dências que o embasam, mas também
bal”, uma forma a ressaltar a sinergia a sua abordagem sistêmica e pragmá-
existente entre essas três pandemias tica, segundo a qual, para problemas
(desnutrição, obesidade e mudanças de causas em comum, é necessário o
climáticas) que coexistem, interagem desenho de soluções conjuntas e com-
entre si e compartilham fatores sociais plexas que possam mitigar de forma
comuns entre suas causas e conse- paralela os determinantes de desnutri-
quências (SWINBURN et al., 2019). A ção e obesidade, bem como conter os
ampla repercussão que este trabalho impactos das mudanças climáticas.
tem recebido não se deve apenas à di-
Giulia Levy/Nupens
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média do restante do país, e esse contexto é ainda mais grave
entre desempregados e trabalhadores informais. Entre os agri-
cultores familiares, a fome atinge 14,3% da população, sendo que
65,2% desta categoria apresenta algum nível de ISAN. As ques-
tões de gênero e raça também se tornam emblemáticas: quando
avaliada a pessoa de referência do domicílio, as mulheres são
as mais atingidas, com 64,1% apresentando pelo menos uma di-
mensão de ISAN e 11,1% em estado de fome. Já dentre as pessoas
autodeclaradas negras, 59,3 % estão em ISAN. É um contexto de
alta gravidade que requer ação urgente.
100%
77,1%
69,6%
64,8% 63,3%
50% 44,8%
34,7%
20,7%
13,8% 15,8% 12,6%
11,5%
10,1%
12% 8% 6,1%
0% 9,5%
6,6% 4,2% 5,8% 9%
INQUÉRITO
PNAD 2004 PNAD 2009 PNAD 2013 PNAD 2018
VIGISAN 2020
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recomendações da Organização Mun- dade persistem em enfoques de com-
dial da Saúde (OMS), que defende o portamentos individuais (MILL et al.,
consumo diário desses alimentos. Os 2021; STREB et al., 2020). Há, no en-
resultados indicam que apenas 23,1% tanto, uma literatura crescente que dis-
da população segue esta recomenda- cute a multifatorialidade e a complexi-
ção, sendo o índice entre homens mais dade das causas que levam ao excesso
baixo do que entre as mulheres - res- de peso e a obesidade, bem como o
pectivamente 18,4% e 27,2% (VIGITEL papel do Estado em criar estratégias
BRASIL, 2019). Em ambos os casos, há múltiplas de prevenção e tratamento.
um aumento do índice em idades mais Além dos fatores socioeconômicos já
avançadas e em indivíduos com eleva- mencionados, outras causas e agra-
da escolaridade. vantes são discutidos na literatura bra-
sileira sobre excesso de peso, como: o
Martinez-Steele et al. (2020) traz da- acesso a alimentos saudáveis, nível de
dos complementares, que consideram o informação, estilos de vida, atendimen-
consumo de alimentos saudáveis, como tos dos indivíduos na rede de saúde, a
hortaliças, frutas e leguminosas, frente regulação da oferta de alimentos e a in-
aos não-saudáveis, como alimentos ul- fluência de práticas industriais e corpo-
traprocessados, imediatamente antes rativas, seja na escolha individual, seja
e durante a pandemia de Covid-19 no nos processos políticos e governamen-
Brasil. O estudo indica um aumento es- tais (HENRIQUES et al., 2020; NOGUEI-
tatisticamente significante no consumo RA et al. 2020; GUIMARÃES; PEREIRA,
dos marcadores de alimentação saudá- 2020; GUIMARÃES; PEREZ; DUNKER,
vel e a estabilidade dos não-saudáveis 2020; LIMA et al., 2020; BRANDÃO et
na maior parte dos estratos sociodemo- al., 2020; ARAÚJO et al., 2019; HENRI-
gráficos. No entanto, nas macrorregiões QUES; 2018; BAIRD; 2016; BURLANDY
Nordeste e Norte e entre a população et al., 2016; GOMES, 2015).
com menor escolaridade, os resultados
indicam aumentos significativos tanto No que confere às mudanças climáti-
na frequência de consumo de hortali- cas, a dinâmica complexa desse fenô-
ças e frutas quanto na quantidade de meno natural não obedece, em suas
grupos de alimentos ultraprocessados causas ou em suas consequências, as
ingeridos (MARTINEZ-STEELE et al., fronteiras geográficas que estabelece-
2020). Conforme as autoras, estes re- mos para gerir política e administrati-
sultados indicam que as desigualdades vamente nossos territórios. Assim, dife-
sociais, em especial, em termos econô- rente das pandemias da desnutrição e
micos e de escolaridade, características da obesidade, a caracterização de sua
marcantes dessas regiões, são fatores incidência em um determinado país
influentes no comportamento alimentar torna-se uma tarefa mais árdua, pois
da população e, portanto as colocam não há um único indicador que possa
em maior risco de obesidade e demais ser mensurado. Assim, trataremos de
doenças crônicas não transmissíveis, expressões no território brasileiro dos
bem como maior vulnerabilidade e leta- fenômenos que notoriamente contri-
lidade frente à Covid-19. buem para o agravamento das mudan-
ças climáticas - emissão excessiva de
Nesse sentido, é importante ressaltar gases de efeito estufa, desmatamento
ainda que alguns estudos sobre obesi- e a perda de biodiversidade.
Figura 2 - Participação das atividades econômicas nas emissões brutas de gás de efeito estufa. Fonte: Observatório
do Clima, 2019.
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Ao olhar de forma detalhada quais são as atividades da agrope-
cuária que mais contribuem para a emissão de gases de efeito
estufa, vemos que o rebanho bovino é a principal fonte, devi-
do ao metano gerado na fermentação no rúmen dos animais
(fermentação entérica), seguido pelo uso de fertilizantes nitro-
genados para manejo de solos (OBSERVATÓRIO DO CLIMA,
2019). Além disso, há contribuições significativas do cultivo de
arroz irrigado e da queima de resíduos de colheita, tal como a
palha de cana-de-açúcar e de cereais. O Observatório do Cli-
ma (2019) ressalta que desde 2016, tem havido uma queda de
aproximadamente 1% ao ano das emissões de gases de efeito
estufa oriundas da agropecuária, o que poderia auxiliar no cum-
primento de metas de redução assumidas pelo setor como par-
te da contribuição brasileira no Acordo de Paris (NDC), vigente
desde 2020. O atendimento dessa meta se torna especialmente
possível com a paulatina adoção de práticas de baixas emissões
de carbono e a ampliação de políticas públicas que fomentem
formas mais ecológicas de produção.
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Joly et al. (2019) traz também algumas míferos, aves e plantas para áreas mais
informações interessantes sobre as pro- ao sul do país (JOLY et al., 2019).
jeções de como o Brasil pode ser afe-
tado pelas mudanças climáticas. Por Considerando a dependência intrínseca
exemplo, as previsões indicam que te- dos seres humanos em relação à bio-
remos um aumento médio da tempera- diversidade e os recursos naturais que
tura de 2º-3ºC até 2070, afetando mais permitem os serviços ecossistêmicos é
intensamente as regiões Centro-Oeste, urgente não só ações que mitiguem os
Norte e Nordeste. A redução significa- processos danosos, mas também o in-
tiva das chuvas, paralela ao crescimen- vestimento e a valorização das dinâmi-
to exponencial de secas, tenderá a de- cas que possibilitam um uso adequado
sencadear processos de savanização na dos elementos naturais. Nesse sentido,
Amazônia, dinâmicas de desertificação diferentes autores ressaltam o papel
na Caatinga e uma alteração territorial essencial dos povos tradicionais e dos
nos biomas com a expansão da Mata agricultores familiares como atores com
Atlântica, reduzindo as áreas do Pampa conhecimentos e práticas alinhadas
(JOLY et al., 2019). Por outro lado, são com o uso sustentável da biodiversida-
justamente estes dois últimos biomas os de (JOLY et al., 2019, OBSERVATÓRIO
que apresentam potencialmente capa- DO CLIMA, 2019, PEREIRA et al., 2020).
cidade reduzida de resiliência frente às Não podemos deixar de mencionar que
mudanças climáticas, dado seu grau de as mudanças climáticas e a depreda-
degradação, somado à fragmentação ção ambiental causadas pelo sistema
da vegetação nativa e a baixa presença alimentar hegemônico também têm
de unidades de conservação. Além dis- sido mencionadas na literatura como
so, já temos evidências de redução em um fator disruptor de pandemias sani-
populações de anfíbios e corais, com a tárias tais quais a que estamos vivendo
redução acentuada de espécies amea- atualmente com a Covid-19 (WALLACE,
çadas de extinção e a migração de ma- 2016; POLLAN, 2020; OLIVEIRA, 2020).
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6. ENQUADRAMENTO
CONCEITUAL
E METODOLÓGICO
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Figura 3. Visão multiescalar da sindemia global. Fonte: IDEC (2019), traduzido de Swinburn et al., 2019.
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RESULTADOS TOTAIS POR BUSCAS DE PALAVRAS EM PORTUGUÊS (GOOGLE)
Figura 4. Resultados totais por buscas de palavras em português. Fonte: elaborado pela autora.
Figura 5. Resultados totais por buscas de palavras em inglês. Fonte: elaborado pela autora.
Nas buscas em que houve resultados ca ser de uma revisão de escopo com
com número superior a 40 materiais, fo- o fim de compreender a amplitude do
ram analisados os 20 documentos mais tema e não uma revisão sistemática que
citados em cada base3. Uma vez que o considera o rastreamento e completa
número expressivo de resultados em identificação de todo o material encon-
determinadas buscas impediria a rea- trado (MARIANO-CARVALHO, 2020). A
lização da revisão em tempo hábil, foi primeira etapa de seleção resultou em
necessário escolher os que tenderiam um total de 189 materiais, apresentando
a ser os materiais mais referendados variações conforme as dimensões em
pela comunidade acadêmica. Soma-se questão conforme detalhado na tabela
ainda o fato de a escolha metodológi- a seguir (Tabela 1).
3. Este procedimento foi especialmente necessário no uso da base de dados Google Acadêmico, que possui um
mecanismo de busca bastante amplo, incluindo em seus resultados além de artigos e livros, teses, dissertações,
monografias e outros materiais correlatos, sem fornecer um mecanismo de filtragem.
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Tabela 1. Resultados da 1a fase de seleção de materiais.
Negócios 18 12 30
Abastecimento e
29 28 57
demanda
Ecológico 21 15 36
Saúde 22 15 37
Governança 11 18 29
Total geral
de materiais 101 88 189
selecionados
7. O CENÁRIO BRASILEIRO
FRENTE AOS CICLOS DE
RETROALIMENTAÇÃO DA
SINDEMIA GLOBAL
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Visão dos Cinco Ciclos de retroalimentação da Sindemia Global
Dimensão
Abastecimento
Dimensão e demanda
da saúde Dimensão
dos negócios
Dimensão
Dimensão da
ecológica
governança
Figura 6. Ciclos de retroalimentação da sindemia global. Fonte: adaptada de Swinburn et al. (2019).
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7.1.1 O CENÁRIO BRASILEIRO NESTA DIMENSÃO
4. Para maiores detalhes, ver: ALVES, ER de A.; SOUZA, G. da S.; MARRA, R. Êxodo e sua contribuição à urbanização
de 1950 a 2010. Revista de Política Agrícola, ano XX, n. 2, Abr./Maio/Jun. 2011.
35
Além de uma revisão dos dados ambientais relacionados à pro-
dução agropecuária no bioma, os autores dão ênfase a um ciclo
vicioso na política nacional em que grupos de interesse finan-
ciam determinados candidatos almejando após as eleições ter
privilégios em suas pautas, à revelia aos impactos ambientais e
sociais (PEREIRA et al., 2020). De forma complementar, Budó,
França e Da Veiga Dias (2021) problematizam, a partir do cam-
po do direito, sobre como parlamentares federais representam
em sua prática legislativa a indústria da agropecuária, não só
apoiando a continuidade dos impactos já mencionados, mas
também criando um contexto de negação no que diz respei-
to à responsabilidade do setor como gerador de danos socio-
ambientais. Embasados na perspectiva da criminologia verde,
os autores ressaltam a necessidade de visibilização social dos
problemas e crimes propagados, argumentando que a invisibili-
dade dos impactos auxilia na constante imunização jurídica do
setor (BUDÓ, FRANÇA; DA VEIGA DIAS, 2021).
5. Os dados se baseiam em modelos climáticos que indicam o aumento de até 4ºC na região, fortes reduções na
vazão da bacia hídrica, mudanças no padrão de precipitação com menor incidência de chuvas paralela a períodos
de secas mais intensas e modificações da vegetação.
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melhorias na alimentação e maior renda. Segundo, a centralidade no mercado
Os principais desafios enfrentados são a internacional incentiva a especialização
falta de experiência e informações, in- produtiva das variedades mais rentáveis
dicando que a atuação da Empresa de (a soja, o milho e o algodão tem domi-
Assistência Técnica e Extensão Rural do nado as lavouras brasileiras), implican-
Rio Grande do Sul (EMATER/RS) tem do a redução da produção de alimentos
sido essencial neste sentido. de base da dieta alimentar e a criação
de uma dinâmica de concentração pro-
De forma complementar, incluímos o re- dutiva específica em determinadas re-
latório de um estudo sobre a cadeia de giões, o que dificulta a distribuição e
alimentos brasileiros, realizado por Belik o acesso aos alimentos (BELIK, 2020).
(2020), delineando as relações de pro- Geralmente, a priorização nas varieda-
dução que sustentam o sistema alimen- des mais rentáveis é justificada pelo
tar. Entre os resultados, o autor indica retorno econômico expressivo, medido
que o Brasil tem um papel relevante na pela contribuição final para o Produto
economia mundial como exportador de Interno Bruto (PIB) brasileiro. No entan-
alimentos, porém apenas 10% da produ- to, se considerarmos apenas as ativida-
ção agropecuária brasileira destina-se des específicas da produção agropecu-
a este mercado, portanto 90% da pro- ária, a participação efetiva para o PIB
dução é consumida internamente pelo brasileiro em 2019 foi apenas 5,2%, po-
mercado doméstico. Apesar disso, a ló- rém, o dado geralmente divulgado pelo
gica de construção das cadeias produ- agronegócio considera a atividade de
tivas e a ação do Estado historicamente forma alargada, somando a indústria de
têm priorizado o mercado internacional, insumos, transformação dos alimentos
uma postura que gera uma série de im- e atividades decorrentes, o que aumen-
plicações que afetam negativamente o ta essa participação no PIB para 21,4%
país, em especial a SAN da população. (Belik, 2020). Portanto, mesmo quando
Daremos destaque aqui a três fatores considerada a apropriação de setores
discutidos neste estudo. mais amplos, a contribuição final ao PIB
não é tão alta quanto o setor faz pare-
Primeiro, ao orientar a produção agrope-
cer de forma pública.
cuária ao mercado internacional, o Esta-
do permite que a formação dos preços Por fim, o material aporta dados deta-
dos alimentos fique sujeita às regras in- lhados sobre a concentração da cadeia
ternacionais de comercialização, inclusive de distribuição dos alimentos, revelando
na formação de preços suscetível à flutu- que 92,9% do varejo alimentar no país
ação nos valores de outros países e à taxa é dominado pelos supermercados, dei-
cambial do dólar. Assim, quando o mer- xando apenas 7,1% para outros comér-
cado externo está pagando melhor por cios, como açougues, quitandas, merce-
determinado produto, a tendência é que arias e feiras livres (BELIK, 2020). Além
os produtores brasileiros prefiram vender disso, o próprio setor supermercadista é
a outros países, buscando maior retorno altamente concentrado dos R$ 330,4
econômico, porém diminuindo a disponi- bi em futuramente declarados pela As-
bilidade interna de alimentos para a po- sociação Brasileira de Supermercados
pulação e fazendo com que os alimentos (Abras) em 2018, 41,7% ficam restritos
se tornem mais escassos e caros para a aos três maiores grupos: Carrefour, Gru-
sociedade brasileira (BELIK, 2020).
6. Tem como base a definição legal de agricultura familiar descrita no Decreto nº 9.064, de 31 de maio de 2017.
39
Em boa medida, a literatura indica o for- mercialização da produção agroecoló-
talecimento das cadeias curtas de abas- gica (SCARABELOT, SCHNEIDER, 2012;
tecimento como uma estratégia capaz SCHNEIDER; FERRARI, 2015; PREISS;
de ao mesmo tempo gerar maior inclu- MARQUES, 2015; DAROLT ET AL., 2016;
são social e produtiva aos agricultores PREISS, 2019). No que diz respeito aos
familiares e aumentar a oferta de ali- benefícios a população, os consumi-
mentos saudáveis e sustentáveis à po- dores engajados nestas dinâmicas de
pulação, com menor impacto ambien- abastecimento tendem a encontrar ali-
tal (SCARABELOT, SCHNEIDER, 2012; mentos orgânicos e agroecológicos a
GOMES JR; JUNIOR, 2015; SCHNEIDER; preços acessíveis, frequentemente de-
FERRARI, 2015; PREISS; MARQUES, senvolvem hábitos alimentares mais
2015; POZZEBON, RAMBO, GAZOLLA; saudáveis (maior diversificação de die-
2018; PREISS; VASCONCELLOS; SCH- tas, aumento de consumo de vegetais e
NEIDER, 2018; PREISS, 2019; DE SOU- frutas, maior frequência de preparo das
ZA AMARAL; 2020; BELIK, 2020). Ar- refeições, ampliação de conhecimentos
gumenta-se que, diferentemente, das sobre alimentos locais e sazonais) e em
cadeias longas de abastecimento, em muitos casos passam a atuar politica-
que não há contato entre quem produz mente em prol da segurança e da so-
e quem consome, as cadeias curtas de berania alimentar e em defesa da agri-
abastecimento agem de forma a re-so- cultura familiar agroecológica (PREISS;
cializar e re-territorializar os alimentos MARQUES, 2015; PREISS, 2019). A lite-
em todo o seu processo (da produção ratura indica ainda que, a partir da con-
ao consumo) beneficiando os agriculto- formação das cadeias curtas de abas-
res ao apresentar condições produtivas tecimento outras dinâmicas territoriais
e comerciais mais benéficas e maior va- são estimuladas em especial no que diz
lor agregado, bem como maior inserção respeito à criação de trabalho e renda
e autonomia nos mercados (SCHNEI- para agricultores familiares e comuni-
DER; FERRARI, 2015; PREISS, 2019). dades tradicionais por meio de oferta
de outros serviços (artesanato, turismo
De forma mais ampla, as evidências local, serviços ambientais, etc.) gerando
indicam que as cadeias curtas contri- assim uma dinâmica mais ampla de de-
buem para a manutenção de alimentos senvolvimento rural sustentável (SCA-
cultural e regionalmente enraizados, a RABELOT, SCHNEIDER, 2012; SANTOS;
organização de produtores em redes e CHALUB-MARTINS, 2012; SCHNEIDER;
cooperativas permitindo uma maior ca- FERRARI, 2015; DAROLT et al., 2016;
pacidade de negociação nos mercados, PREISS; VASCONCELLOS; SCHNEIDER,
bem como uma menor pegada ambien- 2018; AGUIAR; DELGROSSI; THOMÉ,
tal seja por ser centrada em produção 2018; DE SOUZA AMARAL, 2020).
de média a pequena escala, por atua-
rem em circuitos próximos que reduzem Entre os fatores limitantes para a expan-
a distância percorrida pelos alimentos são das cadeias curtas de abastecimen-
entre a produção e consumo ou ainda to são mencionados: 1) a falta de políti-
por serem o principal mercado de co- cas públicas específicas que auxiliem os
41
7.2 DIMENSÃO ABASTECIMENTO E DEMANDA
43
POLÍTICAS ESTRUTURAIS
POLÍTICAS ESPECÍFICAS
POLÍTICAS LOCAIS
Figura 5 – Proposta original do Programa Fome Zero. Fonte: Instituto Cidadania (2001) apud Belik (2012).
45
salta-se que, após as mudanças institu- uma perspectiva homogênea da unidade
cionais de 2006 (em especial as novas familiar de produção, sem considerar as
modalidades de compra, fomento para distinções de gênero, resultando na par-
a produção local da agricultura familiar ticipação menos intensa das agricultoras
e o uso de recursos do Ministério do (SILIPRANDI; CINTRÃO, 2011).
Desenvolvimento Agrário - MDA), entre
os anos 2010 e 2012 ocorreu a consoli- Kroth, Geremia, Mussio (2020) e Sarai-
dação nacional e internacional do PAA va et al. (2013) trazem estudos comple-
por apresentar uma proposta inovado- mentares que situam o PNAE como uma
ra de fomento à alimentação saudável política pública alinhada aos princípios
e ao consumo local (GRISA et al., 2017). da SAN, da sustentabilidade e da sau-
Porém, a partir de 2013, a aplicação de dabilidade, gerando melhorias no am-
recursos passa a ser reduzida, paralela- biente alimentar de escolares, fomento
mente à construção de uma dinâmica a inclusão social e produtiva da agricul-
mais rígida de regramentos e fiscaliza- tura familiar local e facilitação dos pro-
ção, afetando a performance do pro- cessos de transição agroecológica e o
grama e tornando-o menos flexível às desenvolvimento econômico regional.
demandas da agricultura familiar (GRI- Rossetti, Da Silva, Winnie (2016) fazem
SA et al., 2017). Tais processos afetaram uma análise da aquisição de alimentos
ambas as regiões estudadas, gerando regionais para o PNAE, alertando que
paralisações e descontinuidades das alguns produtos podem ser inadequa-
ações, promovendo desafios para a or- dos e não saudáveis à alimentação dos
ganização da produção e a busca por escolares (embutidos e enlatados). As
novos mercados por parte das famílias e autoras também avaliam os gargalos
criando múltiplas tensões no ambiente para a implementação do programa em
institucional (GRISA et al., 2017). diferentes localidades, dando especial
destaque para as seguintes questões:
Siliprandi e Cintrão (2011) investigam a falta de documentação por parte dos
participação das mulheres como forne- agricultores familiares; ausência de es-
cedoras do PAA7, verificando que a pre- trutura física e logística; normas sanitá-
sença direta das agricultoras é baixa - rias inadequadas à realidade da agroin-
23% em média para o território nacional dústria familiar (ROSSETTI; DA SILVA;
-, ainda que com grande variação entre WINNIE, 2016).
estados e regiões, bem como entre as
modalidades e produtos comercializa- Dias e Oliveira (2019) analisaram a exe-
dos. As autoras ressaltam que, apesar cução do PNAE nas escolas públicas
de as agricultoras terem uma atuação estaduais no RN (anos de 2011 e 2013),
relevante na produção, a participação no concluindo que, apesar de o estado ter
PAA tende a ser feita através do CPF do atingido uma média total de 26,2% dos
homem (SILIPRANDI; CINTRÃO, 2011). recursos em compra de produtos da
Assim, apesar de a proposta do programa agricultura familiar, o desempenho das
ofertar condições que atendem às neces- Diretorias Regionais de Alimentação Es-
sidades das mulheres (entregas parcela- colar (DRAEs) é bastante diverso e con-
das, constância, pedidos em pequenas flitivo. Tal observação indica que a ca-
quantidades e em diferentes modalida- pacidade de cada gestão em lidar com
des), o programa segue a mesma lógica o processo burocrático é essencial para
de outras políticas agrícolas que reforçam a efetividade do programa.
47
que esta condição estava presente em mite que esses processos sejam mono-
42,9% das famílias que se alimentavam polizados pelo setor privado (WEGNER;
em restaurantes populares locais e em BELIK, 2012).
72,2% entre os beneficiários do progra-
ma de fornecimento de alimentos Ces- Lopes, Menezes e Araújo (2017) pesquisam
ta Cheia, Família Feliz. Além disso, uma o acesso da população de Belo Horizon-
série de características foi associada te (MG) a frutas e hortaliças e descobrem
a maior incidência de ISAN no âmbito que existe uma concentração de estabele-
municipal; são elas: a maior quantidade cimentos que ofertam estes alimentos em
de moradores no domicílio, a presença regiões privilegiadas, tendo em contrapar-
de indivíduos com menos de 20 anos tida acesso limitado em áreas da periferia.
de idade, a baixa renda familiar, a che- Ainda que com metodologia distinta, um
fia das famílias sob responsabilidade de estudo com objetivos similares é realizado
pessoas negras e a falta de posse do por Duran et al. (2013) na cidade de São
domicílio (SILVA; CURIONI, 2013). Paulo. A obra aponta uma maior presença
de bares e restaurantes de fast food em
No que diz respeito às estratégias de bairros com população de baixa renda e,
abastecimento disponíveis para a popu- em paralelo, uma maior incidência de su-
lação em geral, Wegner e Belik (2012) permercados, mercados com ofertas de
problematizam como o encerramento do frutas e hortaliças e restaurantes de servi-
Sistema Nacional de Centrais de Abaste- ço completo nos bairros com famílias de
cimento e o consequente repasse do con- média e alta renda.
trole acionário destas unidades, somados
à intensa entrada de capital estrangeiro Também em São Paulo, Mondini et al.
no setor supermercadista brasileiro, têm (2012) avaliaram o impacto da evolução
feito com que estes atuem como ataca- dos preços de alimentos entre o período
distas na distribuição de hortifrutis, utili- de 1980 a 2009, demonstrando que os ali-
zando centrais de distribuição privadas mentos ultraprocessados apresentavam
que acabam por competir ou substituir as valores reduzidos quando comparados a
centrais geridas pelo estado. Esta nova di- um expressivo grupo de alimentos sau-
nâmica cria uma grande fragilidade na ar- dáveis (frutas, legumes, verduras, pães,
ticulação entre o atacado, os produtores e arroz, feijão, óleo, açúcar e carne bovi-
os equipamentos de varejo, prejudicando na), indicando que os valores praticados
a oferta de hortifrutis inócuos com preços se tornam uma limitação para a adoção
acessíveis à população (WEGNER; BELIK, de uma alimentação saudável. Oliveira
2012). Assim, os autores argumentam que (2012) avalia como os preços dos princi-
estas centrais deveriam ser geridas pelo pais alimentos da cesta básica de Porto
Estado de forma a contribuir para a SAN Alegre (RS)8 são impactados pela Política
e atuar no controle da segurança dos ali- de Garantia de Preço Mínimos Agrícolas,
mentos na cadeia de abastecimento, pois, do crédito rural e da carga tributária indi-
ao não investir em uma política nacional reta, concluindo que há uma sobrecarga
de qualificação das CEASAS e controlar a no valor final dos alimentos, o que pode
expansão supermercadista, o Estado per- representar um problema para o acesso,
49
iStock.com/Julio Ricco
pam cada vez mais espaço na ação pri- teresse da população neste tipo de ali-
vada e cotidiana dos indivíduos, sendo mento ainda é baixo.
marcados por alterações nos sistemas
globais e a maior percepção dos riscos Três estudos problematizam as ques-
alimentares. O estudo contribui com tões de gênero no abastecimento ali-
uma revisão das abordagens teóricas mentar nacional. Siliprandi (2012) abor-
sobre o tema e indica a necessidade da as conexões entre a invisibilidade
de uma agenda brasileira de pesquisas do trabalho das mulheres na alimenta-
que possam melhor explicar como o fe- ção frente à SAN, defendendo que as
nômeno se manifesta no país, por meio formas de atuação das mulheres nos
de redes de produtores e consumidores, processos de produção (cultivo, cria-
coletivos de compras e ações de boico- ção de pequenos animais, preservação
te, analisando também em que medida de sementes, aclimatação de espécies,
tais ações influenciam políticas públicas uso de plantas medicinais e transmissão
e empresariais (PORTILHO; CASTAÑE- de conhecimentos) e distribuição de
DA; CASTRO, 2011). alimentos (comercialização orientadas
pela economia solidária e feminista) são
Silva, Lima Filho e Freire (2015) buscam desvalorizadas por serem interpretadas
avaliar a intenção de compra de carne como “atividades complementares” às
bovina ambientalmente sustentável em ações “principais” sob responsabilidade
Campo Grande (MS), descobrindo que dos homens.
o nível de percepção e conhecimento
dos problemas ambientais tem forte in- Por sua vez, Gomes-Junior e Andra-
fluência no comportamento dos consu- de (2013) analisam a contribuição das
midores, sendo a escolaridade um fator mulheres na construção da soberania
de peso para a consciência ambiental. alimentar, consolidando o tema como
Ainda assim, os dados indicam que o in- uma disputa política e de narrativas
51
problemas históricos como a fome e a defendem a atuação pública coordena-
pobreza (BELIK, 2012 CHMIELEWSKA; da nas diferentes escalas (federal, es-
SOUZA, 2011; MALUF et al., 2015; HENZ; tadual e municipal) para a criação de
PORPINO, 2017). Para atender a SAN, as um sistema público de abastecimento
políticas públicas de abastecimento de- interligado, que fomente programas de
vem dialogar com diferentes setores, de modernização e qualificação da gestão
forma a integrar ações de saúde, plane- das CEASAS, bem como a implementa-
jamento urbano, assistência social, agri- ção de processos de regulação sobre a
cultura, dentre outro setores, de forma distribuição privada de alimentos.
a qualificar o acesso a alimentos saudá-
veis, em especial que possam atender Ainda que o PNAE tenha trazido contri-
o público mais vulnerável em termos buições altamente importantes, os auto-
sociais e econômicos (BELIK, 2012; DU- res defendem, para além da continuidade
RAN et al., 2013; TRICHES, 2015; LOPES; do programa, seu aprimoramento e for-
MENEZES; ARAÚJO, 2017) talecimento por meio de ações como: a)
ampliação da exigibilidade da aplicação
Distintos autores defendem a criação mínima dos recursos advindos do FNDE
de novas políticas de abastecimento na aquisição de alimentos da agricultu-
alimentar no Brasil que priorizem os ra familiar, passando dos atuais de 30%
produtos da agricultura familiar, o va- para 100%; b) o uso da totalidade dos re-
rejo de pequeno e médio porte, os ca- cursos do FNDE nesta modalidade; c) a
nais de comercialização em circuitos elaboração de um plano de capacitação
curtos, as dinâmicas em que há uma técnica do PNAE para entes federados,
colaboração direta entre agricultores envolvendo todos os atores responsá-
e consumidores (grupos de consumo veis pela operacionalização do progra-
responsável, feiras, etc.) e a revitaliza- ma (nutricionistas, setores de compras,
ção de canais de comercialização como jurídico das prefeituras, merendeiras,
mercados municipais e as Centrais de professores, profissionais da saúde);
Abastecimento (GOMES-JÚNIOR; PIN- d) formação de equipes de Assistência
TO; LEDA, 2016; SILVA FILHO; GOMES- Técnica Rural (ATER) especializadas na
-JÚNIOR, 2020; PREISS, MARQUES; promoção da produção da alimentação
WISKERKE, 2015; PREISS et al., 2021). escolar; e) criação de comitês gestores
Belik, Cunha, Costa (2012) ressaltam a intersetoriais para tratar das questões
importância dos Bancos de Alimentos em nível local (similares a uma CAISAN);
para fazer frente ao alto desperdício e f) maior regularização fundiária (CH-
alimentar, com uma possível grande MIELEWSKA; SOUZA, 2011; SARAIVA et
contribuição para a SAN ao viabilizar al., 2013; RoSSETTI; DA SILVA; WINNIE;
doações para famílias em vulnerabili- 2016; KROTH; GEREMIA; MUSSIO, 2020).
dade social, sendo a atuação do Estado No que diz respeito ao PAA, Grisa et al.
central em qualificar os Bancos de Ali- (2017) propõe a necessidade de resgatar
mentos terciários (estruturas de gran- os princípios originários do programa de
de porte em grandes cidades), de for- forma que este volte a ser fortalecido e
ma a realizar um trabalho colaborativo propicie um ambiente institucional mais
e complementar com as redes já estru- consistente com as especificidades da
turadas pela sociedade civil. De forma agricultura familiar e dos contextos so-
complementar, Wegner e Belik (2012) ciais locais.
53
Considerando que na natureza não exis- científica, entre os quais estão: intoxi-
tem processo lineares, o setor mais pre- cações, diferentes tipos de câncer, mal-
judicado pelas mudanças climáticas é a formações, defeitos congênitos, abortos
agricultura, que, nos anos recentes, tem espontâneos, partos prematuros e nati-
sido crescentemente pressionada e mo- mortos, distúrbios neurodegenerativos
dificada por fenômenos como o aumen- como Parkinson e Alzheimer, tumores
to da temperatura média do planeta, as sólidos e desregulações endócrinas que
alterações nos padrões de precipitação podem acarretar obesidade e diabetes.
com maior frequência de secas e en-
chentes, e a intensificação de eventos Diante disso, acelerar a transição para
climáticos extremos. Os efeitos na saúde sistemas de produção ecológicos, que
humana tampouco podem ser desconsi- garantam a alimentos de qualidade e
derados, visto que a qualidade de vida que permitam a regeneração dos recur-
é paulatinamente reduzida pela intensi- sos naturais é o problema fundamental
dade da poluição generalizada em que dessa dimensão. Dados o vergonhoso
temos vivido, em especial nas cidades, destaque internacional do Brasil no uso
mas, lamentavelmente, com índices cres- de agrotóxicos e a necessidade de pro-
centes também no campo. Pode-se citar duzir alimentos de forma que nossos
aqui os graves efeitos que os agrotóxi- biomas possam ser preservados, estes
cos geram na saúde, amplamente docu- dois temas serão pontos de aprofunda-
mentados e evidenciados na literatura mento nesta dimensão.
55
ao alimentos orgânicos em comparação essenciais da agroecologia, mas tam-
aos convencionais, indicando que os pri- bém como formas de contraposição ao
meiros se destacam por apresentar bai- modelo hegemônico e corporativo da
xa toxicidade, maior durabilidade e teor agricultura, que se apropria dos recur-
para determinados nutrientes, fazendo sos genéticos para lucro privado.
com que seu consumo apoie os proces-
sos de transição ecológica, a desintoxi- Azevedo e Pelicioni (2011) fazem uma
cação gradual dos solos e das águas, a análise das abordagens conceituais dos
promoção da agricultura diversa e de- campos de conhecimento da Agroeco-
senvolvimento local sustentável. As au- logia e da Promoção da Saúde e proble-
toras ressaltam a relevância de maiores matizam que apesar de ambos terem in-
pesquisas de cunho comparativo com terfaces teóricas em comuns, são áreas
foco nas vantagens nutricionais das dis- de pesquisa que pouco têm dialogado,
tintas formas de produção para que as o que dificulta a realização de projetos
controvérsias persistentes na literatura com práticas intersetoriais de promo-
sejam dirimidas (SOUZA et al., 2012). ção da saúde aliadas ao desenvolvimen-
to sustentável.
Pereira, López e Dal Soglio (2017) dis-
cutem a relevância da conservação de Chiodi, Marques e Muradian (2018) ana-
sementes crioulas por agricultores fa- lisam para quais categorias sociais e em
miliares, por meio de estratégias de que proporções estão sendo destinados
construção de conhecimentos, promo- os recursos do programa De Pagamen-
ção da soberania alimentar, autonomia to por Serviços Ambientais (PSA) vin-
produtiva e manutenção da diversidade culados à gestão de recursos hídricos,
genética. Os autores mencionam o re- no âmbito do Programa Produtor de
gistro de ações de resgate, manutenção Água da Agência Nacional das Águas
e uso de germoplasma nativo em mais (ANA). O programa em questão tem
de 30 municípios do RS e cerca de 220 como foco o controle da poluição di-
experiências na Paraíba, em que além fusa em bacias hidrográficas por meio
dos agricultores familiares, envolvem-se de ações de melhoria da qualidade da
também instituições de assistência téc- água e redução da erosão do solo, pe-
nica rural, academia, organizações da quenos proprietários rurais como atores
sociedade civil e Igreja Católica (PEREI- chave para o planejamento, execução e
RA; LÓPEZ; DAL SOGLIO, 2017). Estas monitoramento de práticas sustentáveis
variedades também têm especial rele- de produção e gestão hídrica (CHIODI;
vância para a mitigação de mudanças MARQUES; MURADIAN, 2018). Entre os
climáticas, pois são desenvolvidas con- beneficiários são identificados quatro
forme as condições ambientais locais e perfis: a) 40% são agricultores familia-
por isso tendem a apresentar maior resi- res que residem e trabalham na proprie-
liência a fenômenos adversos, tais como dade rural desde a infância, dependen-
estiagens prolongadas e enchentes do totalmente da renda das atividades
(PEREIRA; LÓPEZ; DAL SOGLIO, 2017). agropecuárias para o seu sustento; b)
No mesmo tema, Campos e Dal Soglio 18,2% são agricultores pluriativos, indiví-
(2020) discutem referenciais teóricos duos que residem na propriedade rural,
que auxiliam a perceber a conservação têm uma produção de autoconsumo e
das sementes crioulas e suas práticas pequena comercialização, mas a renda
associadas não só como características principal advém de ações não agrícolas
57
Belik (2020) destaca que, ainda que o água para animais em cochos e o cum-
Brasil seja o maior exportador de car- primento de leis e regulamentos gover-
ne do mundo, exportando o dobro do namentais) limitam-se àquelas necessá-
que o segundo maior exportador mun- rias para o cumprimento da legislação,
dial (a Austrália), dados recentes indi- sem a realização de ações voluntárias
cam que o consumo de carne bovina no mais amplas (GRUBA; DE SOUZA DU-
país é 4 vezes maior do que a demanda TRA; DE MELO STOCK, 2013).
externa, portanto a produção atende
especialmente o mercado doméstico. Claudino (2014) analisa a construção de
A medida indica que este é o setor de narrativas e práticas vinculadas susten-
produção de alimentos com maior taxa tabilidade na pecuária bovina brasileira,
de crescimento, é também o que mais indicando a coexistência de diversos
demanda recursos naturais gerando segmentos em que distintas relações
desmatamento de áreas de vegetação de poder e subjetividades são mobiliza-
nativa para uso como pastagem, cres- das para relacionar a pecuária e o meio
cente produção de grãos para consumo ambiente, sendo estes elementos fun-
animal, forte poluição hídrica e intensa damentais para a definição e a classifi-
emissão de GEE (BELIK, 2020). cação do que se entenderá socialmente
como sistemas e produtores susten-
Silva, Alves e Barcellos (2016) analisam táveis. O autor destaca que, entre as
como atores chave na indústria da carne vertentes mais fortes, está a defesa de
bovina do RS têm se envolvido em com que a forma de pecuária mais susten-
práticas responsáveis e sustentáveis con- tável para criação dos bovinos é a vin-
siderando diferentes critérios e dimen- culada aos sistemas de integração de
sões, indicando que a percepção dos en- monocultivos com espécies comerciais
trevistados sobre a questão ambiental e (Lavoura-Pecuária; Pecuária-Floresta;
as práticas ecológicas são relacionadas Lavoura-Pecuária-Floresta) que bus-
à manutenção do negócio ao longo do cam eficiência produtiva e econômica
tempo, tendo, portanto um viés bastante aliada à redução de emissão de. Neste
econômico. As autoras revelam que não caso, há uma ênfase na ideia de que o
há uma narrativa sincrônica entre os di- empreendedorismo econômico tende
ferentes atores, indicando a necessidade a ter repercussões na crise socioam-
de melhor articulação para que as ações biental, de forma que o pagamento por
realizadas gerem um incremento positi- serviços ambientais e a remuneração
vo nos negócios e qualifiquem o seu po- por créditos de carbono se tornam os
sicionamento na cadeia (SILVA; ALVES; principais incentivos para a redução da
BARCELLOS, 2016). emissão de GEE. Outra vertente defen-
de o fortalecimento da pecuária familiar
Seguindo no tema da carne, Gruba, De e das comunidades tradicionais em sis-
Souza Dutra e De Melo Stock (2013) in- temas autóctones de criação, por meio
vestigam as ações de sustentabilidade da gestão coletiva dos recursos natu-
socioeconômica ou ambiental mobiliza- rais, a manutenção da biodiversidade,
das por produtores vinculados à COO- aliados ao fomento da autonomia e ren-
PERALIANÇA, no Paraná. Os resultados da aos atores sociais envolvido. Para o
indicam que as ações de sustentabili- autor, a compreensão de tais narrativas
dade ambiental implementadas (manu- e processos se torna essencial porque,
seio correto de resíduos, distribuição de para além dos processos discursivos,
59
as de pastagens degradadas; o manejo possível realizar uma verificação sobre a
integrado de áreas de lavoura, pecuá- efetividade do Programa ABC e os dos
ria e floresta e a gestão adequada dos dados divulgados. Os autores também
dejetos animais. Em média, o valor re- alertam que o Brasil tem sido altamente
passado corresponde a 2% do total do displicente frente ao comprometimento
recurso ao longo dos últimos nove anos, que assumiu na redução de emissões
sendo que da meta de recuperação de GEE, pois apesar de a Política Nacional
30 milhões de hectare até 2030, os da- de Mudança do Clima (PNMC) ter sido
dos do Ministério do Meio Ambiente in- regulamentada ainda em 2010, não há
dicam que apenas 10,4 milhões de hec- evidências de queda nas emissões bra-
tares de pastagens foram recuperados sileiras (OBSERVATÓRIO DO CLIMA,
entre 2010 e 2017 (OBSERVATÓRIO DO 2019). Além de não cumprir a política
CLIMA, 2019). nacional, o país também não respeita
a meta a que se propôs no Acordo de
Ainda segundo o Observatório do Clima, Paris (as ações deveriam iniciado em
até o momento, não há um detalhamen- 2020), um contexto que tem se tornado
to por parte do governo sobre qual é a ainda mais inexequível com o desmonte
metodologia de monitoramento utiliza- das ações federais sobre o clima duran-
da ou os indicadores que dão base aos te o governo Bolsonaro (OBSERVATÓ-
dados anunciados, de forma que seja RIO DO CLIMA, 2019).
61
da saúde considerando as repercussões SILVA; 2018; OBSERVATÓRIO DO CLI-
do sistema agroalimentar nas condições MA, 2019). O Observatório do Clima
de vida da população. (2019) ressalta que é imperativo que
o governo brasileiro amplie os recur-
Por fim, é crucial e urgente que o Bra- sos públicos investidos nas ações de
sil tome ações efetivas para cumprir redução de GEE e mitigação geral das
metas e acordos em prol da mitigação mudanças climáticas, bem como seja
das mudanças climáticas, colocan- mais transparente em relação a fonte
do em ação programas já existentes de obtenção de dados e as formas de
e fazendo jus aos acordos assinados monitoramento utilizadas para argu-
em âmbito internacional (SCARANO; mentar avanço do país na temática.
63
Tabela 2 - Porcentagem de redução de orçamento em programas e metas do Plano Nacional de Segurança
Alimentar e Nutricional, 2014-2018
Distribuição de cestas de
R$ 82 R$ 27,4
alimentos a povos tradicionais e 67
milhões milhões
populações específicas
R$ 106,2
Programa Bolsa Verde - 100
milhões
R$ 630 R$ 185,4
Assistência Técnica Rural (ATER) 71
milhões milhões
R$ 32,5 R$ 3,6
Inclusão produtiva para mulheres 89
milhões milhões
Gonçalves, Campos e Sarti (2011) verifi- urbano. Os resultados revelam que 60%
cam se o público usuário do Programa dos usuários pertencem a faixas etárias
de Restaurantes Populares do Ministério entre 20 e 60 anos, no entanto a por-
do Desenvolvimento Social e Combate centagem de população atendida pelo
à Fome (MDS) está de acordo com a de- programa (em nível nacional e nas fai-
signação original da política, que priori- xas regionais) não ultrapassa 0,3% da
zava a população em situação de vulne- população que compõe o público-alvo
rabilidade socioeconômica dos centros (GONÇALVES; CAMPOS; SARTI, 2011).
10. São citadas as seguintes ações: Renda Básica Emergencial (União); Programa de Aquisição de Alimentos
(PAA) e auxílio financeiro emergencial (estados); programas de doação emergencial de alimentos (estados e
municípios); adaptação do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), o Programa de Aquisição de
Alimentos (PAA) nacional.
65
todos os estados para reflexão e mobili-
zação para contribuição na consulta pú-
blica. Por sua vez, Monteiro et al. (2015)
analisa as informações contidas no Guia
Alimentar para a População Brasileira
Sawaya et al. (2018) debate a relevân- de 2014 concluindo que a publicação
cia e as dificuldades de atuação com o aborda as questões alimentares de for-
núcleo familiar da população de menor ma complexa, considerando as dimen-
renda como elemento potencializador sões culturais, socioeconômicas, am-
do DHAA, indicando que a instabilidade bientais, biológicas e comportamentais
de renda afeta não só a aquisição dire- das famílias, indo além dos elementos
ta de alimentos, mas também as condi- nutricionais. Os autores argumentam
ções para o preparo dos alimentos em que o material fornece diretrizes cla-
casa (por exemplo, devido a falta de ras, que consideram a saúde integral e
eletrodomésticos e recursos para com- a prevenção de doenças, destacando
pra de gás), gerando uma tendência a os benefícios de uma alimentação rica
aumento de consumo de alimentos e em alimentos in natura e minimamente
bebidas ultraprocessados (salgadinhos, processados, bem como das refeições
biscoitos, refrigerantes, doces, bolos, preparadas em casa e compartilhadas
embutidos). A condição é agravada no núcleo familiar. As recomendações
pelo incentivo das propagandas da in- de redução e eliminação de alimentos
dústria que geram um falso sentimento e bebidas ultraprocessados e prontos
de inclusão social a partir do consumo para consumo, dada sua nocividade à
de tais produtos. As autoras enfatizam saúde, também são conteúdos de des-
a necessidade de se abordar as mulhe- taque (MONTEIRO et al., 2015).
res de forma diferenciada devido ao seu
papel de destaque nas atividades de Dois estudos internacionais fazem re-
cuidado e alimentação do grupo fami- ferência a qualidade do Guia Alimen-
liar e pela alta incidência de famílias mo- tar para a População Brasileira de 2014.
noparentais chefiadas por mulheres que Fabri et al. (2021) faz uma análise nas
apresentam maior risco de insegurança diretrizes alimentares de 90 países con-
alimentar (SAWAYA et al., 2018). siderando a inclusão de informações
sobre sustentabilidade e a abordagem
Bortolini et al. (2019) relata como o pro- das questões simbólicas que envolvem
cesso de elaboração dos guias alimen- a alimentação. Nos resultados, o guia
tares brasileiros se deu por uma cons- recebe destaque por ser um dos pou-
trução coletiva que mobilizou processo cos materiais a contemplar ambas as
múltiplos, com distintos atores, incluin- temáticas. Scrinis e Parker (2016) tam-
do: criação de comitê gestor e comitê bém mencionam de forma positiva o
de monitoramento político; chamada material, devido ao uso da classificação
pública para contribuição de pesquisa- NOVA e por fornecer dados que auxi-
dores e profissionais de saúde; oficinas liam os consumidores a interpretar ró-
com atores estratégicos; atividades em tulos e fazer escolhas mais adequadas.
67
Giulia Levy/Nupens
O corte de perfil indicou que os jovens e no acesso a alimentos em quantida-
analisados eram majoritariamente mu- de e qualidade adequadas (BARBOSA
lheres eutróficas, de alta escolaridade et al., 2020). Os resultados do estudo
e renda. Em termos associativos, o con- indicam ainda que alimentos in natura
sumo de alimentos ultraprocessados e ultraprocessados foram os mais pre-
foi negativamente relacionado à inges- sentes nos domicílios, havendo uma
tão de carboidratos, proteínas e fibras correlação positiva entre a presença de
alimentares e positivamente vinculado leite, gordura animal, enlatados e pão
ao de colesterol, sódio, ferro e cálcio de queijo com a ISAN, o que pode sig-
(BIELEMANN et al., 2015). nificar que, apesar de algumas dessas
famílias estarem em condição de SAN
Corrêa et al. (2018) pesquisa o potencial pelos critérios da EBIA, elas não aces-
de associação entre a disponibilidade saram alimentos de boa qualidade nu-
ambiental de alimentos e a prevalência tricional. O estudo revelou também uma
de sobrepeso ou obesidade entre crian- maior incidência de excesso de peso en-
ças com idade entre 7 e 14 anos em Flo- tre indivíduos com ISAN que pode estar
rianópolis (SC). A partir de uma amostra relacionada aos alimentos previamente
de 2.195 indivíduos, o estudo revela uma citados, em especial o leite integral e
correlação positiva entre a presença de de fazenda que são ricos em gorduras
restaurantes, mercados públicos e fru- saturadas. Em paralelo, nos domicílios
teiras nas proximidades das residências com maior ISAN, houve maior disponi-
das crianças com sobrepeso e obesida- bilidade de produtos ultraprocessados,
de (CORRÊA et al., 2018). sendo o consumo destes maior do que
o consumo de alimentos in natura e mi-
A partir da classificação NOVA, Barbosa
nimamente processados (BARBOSA et
et al (2020) investiga a disponibilidade
al, 2020).
domiciliar de alimentos frente a SAN no
Tocantins, após avaliar 95 domicílios ao Dois estudos avaliam o contexto vivido
longo de 30 dias, os autores verificaram nas escolas brasileiras a partir de dife-
a prevalência total de 55,79% de ISAN rentes perspectivas. Carmo et al. (2018)
entre os participantes. As condições realiza uma pesquisa com instituições
de trabalho, renda e a educação fo- públicas e privadas com o intuito de ca-
ram tomados como fatores de influên- racterizar o ambiente alimentar, tendo
cia nas condições de SAN das famílias uma amostragem de 1.247 escolas (des-
11. Na época do estudo, 10 dos 26 estados brasileiros tinham algum dispositivo legal (portaria, resolução, decreto
ou lei) com orientações sobre a comercialização de alimentos no ambiente escolar.
69
quando comparadas com águas e sucos Frente às temáticas prioritárias dessa
naturais, e o mesmo ocorre como as re- dimensão, destacamos que não foram
feições ultraprocessadas, que chegam a encontrados estudos com foco em tri-
70% da oferta total dos cardápios. A uti- butação para promoção da Alimentação
lização de imagens e a associação dos Saudável. Os poucos artigos identifica-
alimentos com desconto teve maior in- dos na busca eram estudos internacio-
cidência nas bebidas ultraprocessadas, nais, em especial estudos portugueses
sanduíches, sorvetes, balas e salgadi- sobre a tributação na União Europeia
nhos embalados, sendo esta estratégia e algumas monografias e dissertações
raramente mobilizada na oferta de fru- sobre México e Chile, sendo a grande
tas e vegetais (HORTA et al., 2021). maioria da área do direito.
71
Considerando que o consumo de ali- TOS et al.; 2011; MONTEIRO et al; 2015;
mentos ultraprocessados é maléfico SCRINIS; PARKER, 2016; SAWAYA et
à saúde, diferentes autores defendem al., 2018; BORTOLINI et al., 2019; FABRI
a realização de ações que facilitem o et al., 2021). De forma complementar,
acesso da população a alimentos in Gonçalves et al. (2015) recomenda a
natura e pouco processados, promo- realização de ações de educação e co-
vendo a prática de hábitos alimentares municação que possam auxiliar a po-
mais adequados (CANELLA et al., 2014; pulação a compreender as informações
BIELEMANN et al., 2015; CLARO et al., descritas nos rótulos dos alimentos.
2016; SANTOS et al.; 2020; BARBOSA
et al.; 2020). Canella et al. (2014) ar- Santos et al. (2011) ressalta a relevância
gumenta que a redução dos índices de de atuação de nutricionistas na orienta-
excesso de peso e obesidade só acon- ção de cardápios nos restaurantes para
tecerá caso sejam efetivadas medidas que possam ser ambientes alimentares
de controle da produção e o consumo saudáveis. Por fim, Gonçalves, Elias e Da
de produtos ultraprocessados. Silva (2020) alertam para a necessidade
de pesquisas nacionais que foquem na re-
Recomenda-se o aumento de progra- lação entre ambiente alimentar, sistemas
mas de educação nutricional e as ações alimentares e qualidade das dietas como
de divulgação das orientações do Guia insumos relevantes para o fortalecimento
Alimentar para a População Brasileira, do conhecimento nesse campo, mas tam-
seja para sociedade em geral, seja para bém para que deem base a políticas pú-
cuidadores e profissionais das institui- blicas para a promoção da alimentação
ções envolvidas com a saúde (SAN- adequada e saudável nos territórios.
73
Programa Fome Zero pelo Governo Federal12, e importantes
marcos legais são construídos em diferentes frentes. Entre eles,
destacam-se: a) a criação da Lei Orgânica de Segurança Ali-
mentar e Nutricional (LOSAN) dando origem ao Sistema Na-
cional de Segurança Alimentar e Nutricional (SISAN); b) as
adaptações no Programa Nacional de Alimentação Escolar
(Pnae) para compra de alimentos da agricultura familiar e c)
a reformulação das atribuições do Consea enquanto uma ins-
tância formal de controle social para assessoramento imedia-
to do poder executivo nas três esferas de governo - municipal,
estadual e federal (Maluf, Burlandy; Prado, 2020). Os autores
também dão ênfase ao fato de que a definição legal de segu-
rança alimentar e nutricional assumida no país e transforma-
da em lei é o conceito debatido e formulado na II Conferência
Nacional de Segurança Alimentar, reconhecendo novamente a
importância dos processos de participação coletiva (MALUF;
BURLANDY; PRADO, 2020). A redação do conceito de SAN é:
12. O programa em questão parte de uma proposta elaborada pelo Instituto Cidadania (organização não governa-
mental) no final dos anos de 1990, tendo um amplo grupo de especialistas e ativistas do campo, sendo convertido
no programa de governo e implementado pela gestão do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (Takagi, 2010; Leão
e Maluf, 2012).
13. Entre as organizações sociais que surgem no período estão a Central Única dos Trabalhadores (CUT) (1983), com
um Departamento Nacional de Trabalhadores Rurais; o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) (1984); o
Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) (1991); e o Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS) (1985).
75
e a certificação de produção orgânica O marco legal de SAN brasileiro é men-
via sistemas participativos de garantia cionado por Swinburn et al .(2015)
(GRISA; SCHNEIDER, 2014). É impor- como um exemplo positivo de estrutura
tante ressaltar que, ainda que essas ca- legal que dá protagonismo a sociedade
racterísticas que compõem as gerações civil na formulação de políticas, dando
tenham surgido em distintos períodos destaque ao papel dado ao Consea, a
históricos, contemporaneamente elas CAISAN e as Conferências Nacionais
convivem de forma paralela e seguem de SAN na estrutura de governança,
ativas nas arenas públicas (GRISA; SCH- criando mecanismos de participação
NEIDER, 2014). O estudo indica ainda e controle social tanto da ação do Es-
uma transformação nas relações entre tado como do setor privado. De forma
Estado e sociedade civil, que passam similar, Candel (2014), pontua como a
de uma dinâmica mais contestatória e governança da SAN é concomitante-
reivindicativa a uma interação constru- mente um desafio e uma solução, sen-
tiva, fazendo com que a sociedade civil do a estrutura brasileira e a alocação
passe a ser colaboradora na execução de ministério específico para tratar da
e administração das políticas públicas pasta (o antigo MDS) um avanço alta-
a partir dos anos 2000 (GRISA; SCH- mente positivo.
NEIDER, 2014).
Siegel e Lima (2020) investigam em que
Diferentes artigos tratam da repercus- medida os Objetivos de Desenvolvimen-
são dessas ações no âmbito interna- to Sustentável (ODS) têm sido conside-
cional. Ao investigarem os processos rados na política interna de governança
de governança da SAN na América La- agroalimentar de países latino-america-
tina, Pérez-Escamilla, Shamah-Levy e nos, concluindo que a capacidade de a
Candel (2017) dão destaque à experi- Agenda 2030 contribuir para a inclusão
ência brasileira, que, desde 1990, tem dos diferentes atores é amplamente de-
realizado esforços para melhor integrar finida pelo contexto político nacional, as
diferentes segmentos da sociedade relações de poder estabelecidas, a dis-
civil nas instâncias de planejamento e ponibilidade de recursos e a apropria-
ação, em especial no Consea. Para os ção da sociedade civil e dos governos
autores, criou-se com esses programas sobre a temática. No caso do Brasil em
um contexto de decisão participativa e especial, os autores indicam que no iní-
democrática essencial para a materiali- cio do século XXI diferentes processos
zação de uma perspectiva multidimen- colocaram o país no cenário internacio-
sional vinculada ao atendimento dos nal como uma potência agrícola e um
direitos humanos. Outra contribuição relevante caso de redução da pobreza
positiva que o país aporta para a região e da fome, com uso sustentável dos re-
é o uso da EBIA como mecanismo de cursos ambientais e uma admirável par-
monitoramento das políticas em vigor, ticipação institucionalizada da socie-
bem como as condições de SAN da po- dade civil na governança dos sistemas
pulação nos diferentes níveis de gestão alimentares via conselhos temáticos, to-
(PÉREZ-ESCAMILLA; SHAMAH-LEVY; dos os processos fortemente alinhados
CANDEL, 2017). aos ODSs (SIEGEL; LIMA, 2020).
77
dependência dos recursos financeiros mento rural; saúde e segurança alimen-
oriundos do governo federal, indicando tar. No entanto, ressaltam que a maioria
que a falta de instabilidade nos investi- das ações implementadas entre os anos
mentos e a insuficiência de mecanismos de 2003 a 2014 foi liderada pelo gover-
institucionais sólidos podem fragilizar a no federal. Ainda que possa indicar cer-
implementação de ações e dificultar o ta dependência da esfera municipais em
alcance dos propósitos do SISAN (VAS- relação à federal, esse elemento foi in-
CONCELLOS; MOURA, 2018). terpretado como positivo pelos autores,
argumentando que esta capilaridade
Buscando compreender os desafios político-administrativa se torna bené-
enfrentados pela gestão municipal do fica em uma localidade tão vulnerável,
SISAN em 45 municípios no RN, De gerando efeitos positivos na redução
Medeiros et al. (2019) entrevistam 651 das desigualdades sociais (DE ARAÚJO
atores, entre gestores públicos e socie- PALMEIRA; DE MATTOS; SALLES-COS-
dade civil, no período de 2016 a 2018 e TA, 2020).
encontram os seguintes entraves: difi-
culdades na governança em coleta de O PNAE é o foco de análise de dois
informações sobre a política e o Mapa- estudos. Sonnino, Torres e Schneider
SAN devido à falta de compreensão da (2014) analisam a legislação chave para
intersetorialidade por parte dos gesto- o funcionamento da alimentação esco-
res públicos; incapacidade de estabele- lar brasileira, indicando que as altera-
cer metas municipais para atendimento ções recentes na legislação criaram um
da política de SAN; alta rotatividade na contexto de governança inclusiva que
equipe de gestores e falta de qualifi- auxiliou na descentralização da partici-
cação dos funcionários envolvidos na pação social e na inclusão de atores pre-
implementação das ações resultando viamente excluídos ou pouco partícipes
em perda de referências e informações. do processo como produtores e con-
Além disso, as autoras relatam que o sumidores. Para estes autores, a evolu-
processo de prestação de contas e par- ção do sistema nacional de alimentação
ticipação social é prejudicado pela in- escolar tem auxiliado a criar interações
compreensão dos recursos disponíveis constantes entre atores localizados em
e a inexistência de mecanismos de mo- diferentes escalas e estágios do sistema
nitoramento e mobilização da popula- alimentar, por meio de mecanismos de
ção (DE MEDEIROS et al., 2019). governança inclusivos e a mediação de
órgãos coletivos (como os Conselhos de
De Araújo Palmeira, De Mattos e Salles- Alimentação Escolar - CAEs), em uma
-Costa (2020) buscam identificar ações dinâmica de descentralização adminis-
governamentais de SAN implementadas trativa e multiescalar (SONNINO; TOR-
em Cuité, um pequeno município rural RES; SCHNEIDER, 2014). Porém, apesar
do nordeste brasileiro e encontram um da normativa legal, a pesquisa revela
contexto positivo com iniciativas gover- que o nível de investimento na produ-
namentais em seis frentes de atuação: ção familiar é inferior ao percentual do
abastecimento de alimentos e água; orçamento alocado para produtos con-
proteção social; educação; desenvolvi-
79
Mariath e Martins (2020) analisam dois Grisa e Coelho-De-Souza (2021) apor-
processos regulatórios em andamento tam uma contribuição de cunho aca-
que afetam a indústria de ultraproces- dêmico, sugerindo o uso das Redes de
sados. O primeiro, desencadeado em Política Pública (RPP) como referen-
2014 pela Anvisa com fins de alterar cial teórico para análise da ação e in-
as regras para a rotulagem nutricional teração dos diversos atores que atuam
de alimentos industrializados, em que na governança do sistema alimentar.
um conjunto de associações articula- Por fim, considerando as questões de
das por meio da Rede Rotulagem14 tem sustentabilidade, Joly et al. (2019) res-
mobilizado diversas estratégias para a salta que as ações de governança nos
definição de uma norma mais favorável territórios incidem diretamente sobre
ao setor (o modelo de rotulagem nu- a biodiversidade, uma vez que atual-
tricional do semáforo). O segundo pro- mente 47% das terras nacionais são ge-
cesso analisado refere-se ao Decreto nº ridas de forma coletiva e pública e os
9.394 de 30 de maio de 2018, em que outros 53% ficam sob responsabilida-
benefícios fiscais fornecidos a empre- de privada. Desde que a Constituição
sas de refrigerantes atuantes na Zona Federal de 1988 entrou em vigor, tem
Franca de Manaus foram circunscritos sido observada uma pequena recupe-
de forma a compensar o declínio na ar- ração da população indígena brasileira,
recadação de recursos federais, devido ocupando atualmente 17% do território
aos impactos econômicos da greve dos do país em áreas caracterizadas como
caminhoneiros ocorrida no mesmo ano Terras Indígenas, Territórios Quilombo-
(MARIATH; MARTINS, 2020). A ação las, Reservas Extrativistas e Reservas
teve uma manifestação pública con- de Desenvolvimento Sustentável (JOLY
trária por parte da ABIR e resultou em et al.,2019). Os autores destacam que
recuo do governo, restabelecendo par- a garantia de direitos dessas popula-
cialmente o subsídio em benefício da ções e a sua participação nas diversas
indústria (MARIATH; MARTINS, 2020). instâncias de tomada de decisão sobre
políticas públicas, são essenciais para a
Considerando a importância de que a manutenção dos processos democráti-
SAN seja percebida em seu caráter sis- cos e a governança efetiva da biodiver-
têmico e multiescalar, Zúñiga-Escobar, sidade nacional (JOLY et al., 2019).
14. Conforme o site https://www.rederotulagem.com.br, a rede é formada por 21 entidades: ABIA - Associação
Brasileira das Indústrias da Alimentação; ABIR - Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e de Bebi-
das Não Alcoólicas; ABIAD - Associação Brasileira da Indústria de Alimentos para fins comerciais e congêneres;
ABIAM - Associação Brasileira da Indústria e Comércio de Ingredientes e Aditivos para Alimentos; ABICAB - Asso-
ciação Brasileira da Indústria de Chocolates, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados; ABLV - Associação Brasileira
da Indústria de Lácteos Longa Vida; ABIMAPI - Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimen-
tícias e Pães & Bolos Industrializados; ABIOVE - Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais; ABIQ
- Associação Brasileira das Indústrias do Queijo; ABITRIGO - Associação Brasileira da Indústria do Trigo; APAS
- Associação Paulista de Supermercados; ABPA - Associação Brasileira de Proteína Animal; ABRAS - Associação
Brasileira de Supermercados; ABRE - Associação Brasileira de Embalagem; SIAEG - Sindicato das Indústrias da
Alimentação no Estado de Goiás; SINDICARNES SP - Sindicato das Indústrias de Carnes e Derivados no Estado
de SP; SINDILEITE - Sindicato das Indústrias de Laticínios e Produtos Derivados do Leite do Estado da Bahia; Viva
Lácteos - Associação Brasileira de Laticínios; UNICA - União da Indústria de Cana-de-Açúcar; Firjan - Federação
das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro e CNI - Confederação Nacional da Indústria.
81
No que diz respeito à cooperação Sul- micas rural e urbana. De forma comple-
-Sul implementada pela Estratégia de mentar, De Medeiros et al. (2019) sugere
Segurança Alimentar e Nutricional da a realização contínua de capacitações
CPLP, as recomendações centram-se para técnicos e gestores municipais en-
em enfrentar os principais desafios volvidos em implementar atividades de
identificados por Sarmento et al. (2015). SAN, bem como a construção de planos
Entre eles estão: a necessidade de maior de operacionalização municipal do SI-
apoio para a institucionalização de orga- SAN de forma a delinear indicadores de
nizações nacionais de forma a tonificar execução que auxiliem na informação e
sua ação nas estruturas legais de SAN; a transparência das ações realizadas.
necessidade de angariar recursos para a
manutenção e ampliação dos trabalhos; Sonnino, Torres e Schneider (2014) de-
fortalecimento do Mecanismo de Faci- fendem a elaboração de estratégias de
litação da Participação da Sociedade inclusão na governança da alimentação
Civil do Conselho de Segurança Alimen- escolar brasileira de pessoas pobres e
tar da CPLP (CONSAN-CPLP); impul- sem instrução e de minorias étnicas e
sionamento das atividades dos grupos raciais. Também consideram as diferen-
de trabalho, em especial o focado na ças regionais que afetam a participa-
Agricultura Familiar; garantia da com- ção de atores nas instâncias de decisão
preensão e concordância da complexa - neste caso, a criação de mecanismos
estrutura decisória como sistema de go- que criem um fluxo de conhecimentos e
vernança que reconhece as diferenças e informação regular entre os formulado-
identidades nacionais. res de políticas nas distintas escalas de
gestão pode auxiliar na disseminação
Distintos autores recomendam a cria- de melhores práticas e a expansão de
ção de uma dinâmica multiescalar de inovações locais (SONNINO; TORRES;
financiamento estável para as ações do SCHNEIDER, 2014).
SISAN, gerando menor dependência do
governo federal, bem como o fortaleci- Mariath e Martins (2020) defendem a
mento da intersetorialidade, em especial ampliação de pesquisas nacionais que
no âmbito municipal (VASCONCELLOS; possam avaliar a influência das empre-
MOURA, 2018; DE ARAÚJO PALMEIRA; sas do setor alimentar no processo de
DE MATTOS; SALLES-COSTA, 2020). tomada de decisões públicas no país,
Vasconcellos e Moura (2018) propõem favorecendo o setor privado em detri-
a estruturação de mecanismos efetivos mento da garantia constitucional da po-
de descentralização focados em facili- pulação ao direito à saúde e a alimen-
tar a capilaridade municipal da SAN, de tação adequada. Por fim, Pereira et al.
forma que os municípios invistam mais (2020) recomenda que o processo de
nas ações que priorizam a transição financiamento de campanhas eleitorais
para sistemas alimentares agroecoló- seja reformulado de forma a mitigar a
gicos e justos, com a consolidação de influência privada na construção das
agendas locais que integrem as dinâ- políticas públicas no país.
Emenda Constitucional
Leis
83
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Plano Nacional de Desenvolvimento (PND), para o período de 1972 a 1974. 1971
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II, IV e V do § 1º do art. 225 da Constituição Federal, estabelece normas
de segurança e mecanismos de fiscalização de atividades que envolvam
organismos geneticamente modificados - OGM e seus derivados, cria
2005
o Conselho Nacional de Biossegurança - CNBS, reestrutura a Comissão
Técnica Nacional de Biossegurança - CTNBio, dispõe sobre a Política
Nacional de Biossegurança - PNB e dá outras providências. Diário Oficial da
União, Brasília, 24 mar. 2005.
Medida Provisória
Decretos Legislativos
87
BRASIL. Decreto nº 58.380, de 10 de maio de 1966. Aprova o regulamento
da Lei n º 4829, que Institucionaliza o Crédito Rural. Diário Oficial da União, 1966
Brasília, 10 mai. 1966.
89
BRASIL. Decreto nº 7.572, de 28 de setembro de 2011. Regulamenta
dispositivos da Medida Provisória nº 535, de 2 de junho de 2011, que tratam
2011
do Programa de Apoio à Conservação Ambiental - Programa Bolsa Verde.
Diário Oficial União, Brasília, 29 set. 2011.
Resoluções
Portarias
91
BRASIL. Ministério da Saúde (MS). Portaria nº 4.279, de 30 de dezembro
de 2010. Estabelece diretrizes para a organização da Rede de Atenção à
2010
Saúde no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Diário Oficial da União,
Brasília, 30 dez. 2010.
Instruções Normativas
Plano
Estado do Amazonas
Distrito Federal
93
Estado do Mato Grosso
Estado da Paraíba
Estado do Paraná.
Estado de Roraima
95
Estado do Sergipe
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Organização:
Alan Azevedo, Ana Paula Bortoletto,
Elisabetta Recine, Janine Coutinho,
Lorenza Longhi e Potira V. Preiss.
Pesquisa: Apoio:
Potira V. Preiss
Produção de texto:
Potira V. Preiss
Revisão:
Alan Azevedo, Ana Paula Bortoletto,
Cristina Marques, Janine Giuberti Coutinho,
Lorenza Longhi e Potira V. Preiss.
Esta publicação é um produto do projeto
“Uma Agenda para Ação: Transição
Supervisão:
para Sistemas Alimentares Saudáveis e
Janine Coutinho Sustentáveis na América Latina”, financiado
pelo International Development Research
Projeto gráfico e diagramação: Centre [bolsa # 109603] com apoio do
Wellcome Trust [bolsa # 222109/Z/20/Z].
Coletivo PIU @coletivopiu
Ano: 2021
107
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