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Primeira Cartilha Da Diversidade Religiosa - Muitos São Os Caminhos de Deus
Primeira Cartilha Da Diversidade Religiosa - Muitos São Os Caminhos de Deus
MUITOS SÃO OS
CAMINHOS DE DEUS
Um pouco de nossa história e de nossas crenças
Rio Branco-AC, Dezembro de 2011.
TIÃO VIANA
Governador do Estado do Acre
CÉSAR MESSIAS
Vice-Governador do Estado do Acre
DANIEL ZEN
Secretário de Estado de Educação e Esporte
CDD: 209.09812
CDU: 291.16(811.2)
Sumário
Apresentação....................................... 7
Introdução............................................ 9
Comunidades Tradicionais
da Ayahuasca.................................... 15
Protestantismo Brasileiro.................. 39
Catolicismo ....................................... 55
Espiritismo......................................... 67
Conclusão.......................................... 79
Apresentação
Esta cartilha é uma ferramenta informativa O reconhecimento da Diversidade Religio-
da realidade religiosa do Estado do Acre, que, sa impõe-se de forma absoluta, em função de
a exemplo dos demais estados brasileiros, pos- uma série de fatores de ordem histórica de de-
suía uma população majoritariamente católica e, sinformação, de preconceitos e até de ordem
nos últimos anos, assistiu o crescimento rápi- cultural e religiosa, contribuindo para um ge-
do da população protestante estimada no país neralizado desconhecimento entre os diversos
em 25% pelo IBGE. Esses dois fatores tem es- grupos religiosos presentes em nosso Estado,
pecial importância nas relações inter-religiosas favorecendo algumas atitudes fundamentalistas
na sociedade, e muito particularmente dentro de grupos majoritários sobre outros considera-
de nossas escolas, uma vez que no Estado há dos de menor expressão.
também outros grupos expressivos, adeptos Há, portanto, a necessidade de se ouvir
de outras tradições espirituais como daimistas, os diversos grupos que compõem este universo
espíritas, e os seguidores de cultos de matriz religioso no Estado, que nos revelem sua histó-
africana como o Candomblé e a Umbanda. Não ria e sua própria identidade. Esses relatos tem,
podemos ignorar, todavia, a história de outras portanto, muito de história e também de forma
tradições espirituais presentes em nossa Ama- diferenciada a identidade de cada denominação.
zônia como a Indígena, Islâmica, Budista, Bahai, Como afirma o monge Marcelo Barros “É
Seicho-no-ye etc... que deverão ser incorpora- verdade que o nome de Deus tem sido usado
das nas futuras Cartilhas. para intolerâncias e violências. Por isso, é preci-
O Instituto Ecumênico oferece sua contri- so pensar as religiões e a espiritualidade a par-
buição a professores e lideranças religiosas, no tir da paz e da não violência. Atualmente, neste
sentido de capacitá-los para o diálogo inter-reli- mundo marcado pelas migrações e por uma di-
gioso, na sociedade pluralista em que vivemos, versidade de culturas, o desafio do diálogo entre
além de estimular a cooperação entre as diver- as religiões se tornou mais urgente e essencial.
sas denominações e expressões de fé, com o As religiões devem dialogar a fim de cola-
objetivo da construção da paz, da cidadania, da borar para um verdadeiro entendimento entre os
democracia e do respeito aos direitos humanos. povos e ajudar a humanidade a construir coleti-
A presente cartilha da Diversidade Religio- vamente um mundo de justiça, paz e comunhão
sa é resultado de quase seis anos de encontros entre todos os seres vivos. Além disso, as reli-
inicialmente de representantes católicos e evan- giões nasceram e cresceram em culturas rurais
gélicos, ampliados há mais de quatro anos com antigas; para que possam interessar de forma
representantes espíritas, daimistas e de religiões mais coerente à humanidade de hoje, elas tem
de matriz africana, que integram a direção do que testemunhar não apenas com palavras mas,
Instituto Ecumênico Fé e Política - ACRE, entida- principalmente, com sua forma de ser e agir; um
de de direito privado, suprapartidária, compro- Deus amoroso, inclusivo, cuja proposta para as
metida com a justiça social e o respeito à di- pessoas é a de serem mais humanos e capazes
versidade cultural e religiosa. Constitui também de viverem como irmãos e irmãs.”
uma resposta à solicitação de Professores do
Fórum Municipal da Capital, reunidos em agosto
de 2010.
Introdução
(Nelson Mandela)
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vivência, afirmava ele, sem uma paz mundial, não Ensino Religioso, de matrícula facultativa, consti-
haverá paz mundial sem paz religiosa e não haverá tuirá disciplina dos horários normais das Escolas
paz religiosa sem diálogo religioso. Públicas do Ensino Fundamental”.
As religiões tem, portanto, grande contri- O art. 33 da Lei de Diretrizes e Bases da
buição a dar. Dentro da perspectiva ecumênica Educação Nacional, de 1996, redigido pela 2ª vez
descobrir-se-á os valores espirituais e os pontos pela Lei 9475 em 1997, reitera o conteúdo anterior,
comuns e convergentes, presentes em nossas tra- “assegurando o respeito à diversidade cultural, e
dições religiosas. religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de
Por ter-se, até recentemente, compartilha- proselitismo.
do muitas visões preconceituosas e unilaterais de £ 1º- Os sistemas de ensino regulamentarão
outras tradições, este nosso momento constitui os procedimentos para a definição dos conteúdos
um verdadeiro aprendizado desta nova cultura da do ensino religioso e estabelecerão as normas
Diversidade Religiosa. Trata-se de uma tendência para a habilitação e admissão dos professores.
mundial, onde até instituições como a Organização £ 2º- Os sistemas de ensino ouvirão enti-
das Nações Unidas, vem es- dade civil, constituída pelas
timulando encontros, como diferentes denominações re-
o realizado em Nova York, ligiosas, para a definição dos
em agosto do ano 2000, da conteúdos do ensino religio-
Cúpula Mundial de Líderes so.
Religiosos e Espirituais pela A Legislação Brasileira
Paz Mundial, que reuniu cen- é bastante clara no sentido de
tenas de representantes das um ensino plural. A Constitui-
diferentes religiões do pla- ção Federal de 1988, art. 5,
neta, que firmaram em do- inciso VI, assim diz: “É invio-
cumento um Compromisso lável a liberdade de consciên-
com a Paz Global. cia e de crença, sendo asse-
Mas o primeiro evento gurado o livre exercício dos
inter-religioso oficial aconte- cultos religiosos e garantida,
ceu ainda no século XIX, em na forma da lei, a proteção
1893, em Chicago, com a participação de apenas aos locais de culto e as suas liturgias”.
16 religiões. Destes textos, supracitados, é evidente que
No contexto amazônico também é o mo- se o Estado brasileiro é laico, conseqüentemente
mento de começarmos a escutar as tradições nossas escolas públicas também o são, devendo
espirituais que cresceram à margem, dentro das evitar qualquer tipo de proselitismo, isto é, o favo-
florestas e na periferia das cidades, como é o caso recimento a qualquer religião.
das comunidades tradicionais da Ayahuasca e dos No caso do Estado do Acre, na Capital há
adeptos de religiões de matriz africana, do Can- o Fórum de Professores do Ensino Religioso, que
domblé e da Umbanda, além de ampliar o diálogo congrega, há alguns anos, representantes de di-
inter-religioso e a cooperação solidária entre todas versas denominações religiosas e que define, nos
as tradições presentes na Amazônia. termos da lei, os princípios norteadores do Ensino
Religioso para todo o Estado. É importante que as
A Legislação Brasileira Defende um Ensi- Escolas Públicas da Capital e dos demais Municí-
no Religioso Plural pios, integrem também em seus Conselhos Esco-
O Ensino Religioso, de acordo com a Cons- lares, representantes dessa Diversidade Religiosa,
tituição Federal de 1988 em seu art. 110, assim que muito tem a contribuir para o ambiente de paz
o define: “Serão fixados conteúdos mínimos para e harmonia em nossas escolas. Muitas iniciativas
o Ensino Fundamental, de maneira a assegurar poderão acontecer, desde que previamente con-
formação básica comum e respeito aos valores sensualizadas, como fruto deste aprendizado des-
culturais e artísticos, nacionais e regionais. 1º- O sa nova Cultura da Diversidade Religiosa.
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BIBLIOGRAFIA
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AYAHUASCA-DAIME-VEGETAL
Comunidades
Tradicionais da
Ayahuasca
Antonio Alves, Francisco Araújo, Edson Lodi
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com uma mensagem de renovação de ensinos nua ensinando e que podem continuar aprendendo
muito antigos que vem sendo trazidos à humani- através de seu hinário, da meditação, da prece, da
dade gradativamente ao longo da história. Além do recordação de sua vida e da pesquisa espiritual
Cruzeiro, os discípulos de Irineu Serra usam como com ajuda do Daime. Podem vê-lo e conversar
distintivo uma estrela de seis pontas (Estrela de com ele em espírito, receber conselhos e até hinos
Davi) com uma lua crescente em seu centro. Une- com instruções para a vida e para o desenvolvi-
-se, assim, o ser humano ao conjunto de poderes mento espiritual.
que regem a sua vida: “sol, lua, estrela, a terra, o Sua Doutrina incentiva a vida em comu-
vento e o mar”. O sol é a expressão visível do Pai, nidade e o trabalho em mutirão. Na irmandade
a lua representa a Mãe, o Filho veio ao mundo com desenvolvem-se o conhecimento e a cultura. As
seus braços abertos para salvar a humanidade. pessoas aprendem a cantar e a tocar instrumen-
Inicialmente, os ensinos eram compartilha- tos, especialmente o violão. Precisam construir e
dos com poucos, que se reuniam na casa do Mes- manter instalações adequadas ao trabalho espi-
tre. Com o crescimento da irmandade, foi cons- ritual e muitos se tornam carpinteiros, pedreiros,
truída uma sede, com amplo salão central para os artesãos, jardineiros, agricultores. Aprendem na
associados e varandas laterais para os visitantes. floresta a tratar a saúde com ervas e plantas me-
As atividades são públicas, como em qualquer dicinais. Para fazer o Daime, é preciso conhecer
Igreja, mas só podem entrar nas fileiras os “farda- os ciclos da natureza, saber distinguir o cipó e a
dos”, ou seja, associados formalmente ao Centro. folha, os períodos de crescimento e floração das
E mesmo para estes existem restrições para tomar árvores, um amplo conhecimento da floresta e da
Daime: dieta alimentar, regras de comportamento, biodiversidade. Portanto, a comunidade formada
preparação adequada. É proibida a participação de pelo Mestre é um centro produtor de cultura. Ao
pessoas que tiverem ingerido álcool ou qualquer mesmo tempo, é um centro de formação da cida-
outra substância tóxica. Menores de idade só par- dania, onde se orienta as pessoas para que não
ticipam se estiverem acompanhados ou autoriza- sejam ociosas, respeitem as leis, tenham bons
dos por seus pais e responsáveis. Os visitantes hábitos e costumes moralmente aceitáveis, contri-
são bem-vindos e recebidos de acordo com as buindo para formar uma sociedade saudável, com
restrições e dietas, mas aos sócios não é permiti- valores de honestidade, trabalho, solidariedade e
do convidar outras pessoas, cada um deve ir por justiça.
sua própria vontade ou iniciativa. Para “fardar-se”,
ou seja, tornar-se membro efetivo da irmandade, a
pessoa deve cumprir um período de observação e
estudo, para que possa estar certo de que deseja
assumir um compromisso com a missão espiritual
do Centro.
A Doutrina de Irineu Serra é a de Jesus Cris-
to, atualizada para novos tempos e para o ambien-
te da floresta. O cristianismo ensinado através dos
hinos é de fácil compreensão, para que possa ser
entendido por qualquer pessoa, mesmo que não
tenha escolaridade, como ainda é comum nas áre-
as rurais. Nos últimos séculos, o desenvolvimento
tecnológico e material foi grande, mas as lições
essenciais de Cristo foram quase esquecidas pe- Mas o ensinamento principal, cerne da mis-
las sociedades urbanas modernas. Os discípulos são de Irineu Serra e sua Doutrina, é a preparação
do Mestre Irineu consideram que ele é um mensa- para a vida espiritual. O tempo vivido na Terra é um
geiro enviado por Deus para renovar, no coração período de estudo, de aperfeiçoamento, de evolu-
de todos os que quiserem, o amor e a fé em Deus. ção para poder alcançar “as promessas de Nosso
Mestre Irineu “retornou ao mundo espiritual” Senhor Jesus Cristo”, a iluminação e a salvação
em 1971. Seus seguidores afirmam que ele conti- do espírito.
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20 “z”. O Seringal Empreza deu origem à Vila Rio Branco, que posteriormente se
transformaria na capital do Estado.
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No mesmo ano em que Mestre Daniel fun- repetiam as mensagens como saberes incorpora-
dou a Missão, o mundo passava por grandes di- dos à vivência diária. Foram eles os responsáveis,
ficuldades. Findava a II Guerra Mundial e o povo após a desencarnação do fundador, por preservar
sofria suas consequências: fome, doenças e cala- e transmitir essa Doutrina. O uso ritual religioso do
midades. No Acre também os Soldados da Borra- Daime como sacramento orienta a compreensão
cha padeciam, explorados e abandonados nos se- dos ensinamentos e conduz a irmandade a realizar
ringais da Amazônia. Com sua irmandade, Daniel as obras de caridade.
rogava pela humanidade, abatida por esses gran- Desde o início, os trabalhos dentro da igre-
des tormentos. As obras de caridade se dirigiam jinha são realizados com 13 irmãos sentados ao
em benefício dos encarnados e desencarnados. redor de uma mesa em forma de cruz, de onde pe-
Com rezas, acolhia quem chegasse em busca de dem e irradiam as bênçãos através dos cânticos,
auxílio: caçadores da região acometidos de pa- das preces e das rogativas ao Poder Eterno. No
nema; crianças doentes, trazidas pelos pais com salão sentam-se, de um lado homens e, de outro,
quebranto, vento caído e outros males; adultos mulheres, que participam dos trabalhos reforçan-
com espinhela caída, peito aberto, dor de dente, do o coro dos hinos, rezando preces e prestan-
alcoólatras sem esperança de regeneração; doen- do assistência. Aos sábados, no salão de obras
tes do corpo e do espírito que não encontravam de caridade, as pessoas que buscam auxílio são
respostas em médicos e, muitas vezes, chegavam atendidas pelas entidades curadoras e, em datas
carregados em redes, trazidos pelos familiares em comemorativas, após as sessões, acontece no
busca de uma assistência espiritual. Para cada salão do bailado, o festejo com a chamada dos
caso era indicado o tratamento, que poderia ser o encantos da floresta e do mar e outros seres de luz
Daime e preces, passes mediúnicos, aconselha- que assistem à casa durante todos os trabalhos. A
mentos, chás e banhos com plantas medicinais. Missão é representada pelo Barco Santa Cruz, e
Os que recebiam benefícios do tratamento e eram no leme Mestre Daniel, marinheiro de luz, navega
tocados no coração, iam ficando em sua compa- noite e dia pescando almas e encaminhando aos
nhia, para auxiliar nessas obras de caridade. santos pés de Jesus.
Nascia em meio à floresta amazônica uma Os seguidores vivenciam uma fé profunda
Doutrina, com práticas do catolicismo popular, através de práticas devocionais, como o uso da
dos cultos de matriz africana e da cultura indígena. cruz, batismo, festejos aos santos, cânticos, pro-
Ao longo de doze anos, Mestre Daniel conduziu messas, uso das imagens dos santos no altar, no
a Missão, servindo o Daime, ensinando através andor e nas torres da igreja, romarias dirigidas a
de seu Hinário, formando uma comunidade cristã São Sebastião, Nossa Senhora e São Francisco
que se doa ao próximo, reza e se prepara para a e as orações (Pai Nosso, Ave Maria, Salve Rai-
vida espiritual. Os benefícios alcançados são co- nha e Creio em Deus Pai). Os membros oficiais,
nhecidos, há muito tempo, pelos moradores de como símbolo de pertencimento à Missão, usam
Rio Branco e de outras regiões. Sua casa, desde um fardamento que se assemelha ao uniforme dos
então, tornou-se um centro de peregrinação, onde marinheiros. O calendário religioso é vasto e, entre
se pratica romarias, penitências, preces, terços e as datas comemorativas, estão o Natal, Reis Ma-
rosários. Homens, mulheres e crianças podem dar gos, Semana Santa, Corpus Christi, Nossa Senho-
testemunho dos benefícios recebidos nessa co- ra da Conceição, São Francisco, São Sebastião,
munidade religiosa. São José, São João, Finados e os aniversários de
As obras de caridade, juntamente com o passagem do Fundador e de alguns seguidores de
Daime e o Hinário constituem o fundamento da sua Doutrina.
Missão de Mestre Daniel. O Hinário é a palavra Passam-se as décadas e sucedem-se as
de Deus cantada, num conjunto de hinos, salmos gerações de seguidores e continuadores da cul-
e benditos com ensinamentos cristãos, copiados tura religiosa fundada por Mestre Daniel que, com
por Mestre Daniel do Livro Azul e ensinados pela sua orientação e inspirados por São Francisco,
tradição oral aos seus primeiros seguidores, pes- buscam manter viva a fé e a devoção em Deus Je-
soas simples, em sua maioria seringueiros e agri- sus, na busca da evolução espiritual e preparação
cultores não alfabetizados, que memorizavam e para a vida eterna.
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sido feita há muitos séculos. A União do Vegetal, para demonstrar a legitimidade do uso religioso da
instituição religiosa, foi recriada, em caráter defi- Ayahuasca, iniciativas que beneficiam a todos os
nitivo, por Mestre Gabriel, pois trata-se de funda- cidadãos e organizações que fazem esse uso de
mentação religiosa que já existiu na Terra antes da forma sinceramente religiosa.
vinda de Jesus. Surgiu no reinado de Salomão, rei A UDV começou com um pequeno grupo
de Israel, no século 10 antes de Cristo. A história em Porto Velho e é hoje uma instituição com mais
registra esse período como uma época de pros- de quinze mil sócios, com núcleos oficialmente re-
peridade e de considerável conhecimento - tanto conhecidos em todos os estados brasileiros, bem
material como espiritual - para aquela região. Na como nos EUA e na Espanha. Apesar da discri-
memória da humanidade, Salomão ficou registra- ção ser um de seus princípios, as ações que vêm
do como o rei da sabedoria. E é exatamente o que moldando seu crescimento e estabelecimento ins-
ele é. titucional têm sido, repetidamente, no sentido de
A União do Vegetal ensina a prática do bem. adquirir reconhecimento público através dos ca-
Sua doutrina está em sintonia com a de Jesus. nais legais apropriados, no Brasil e aonde se fizer
Auxilia a melhor compreendê-la, trazendo para a necessário. Por isso, a UDV conquistou o título de
humanidade, com maior clareza, aspectos funda- utilidade pública federal, o reconhecimento legal
mentais da realidade espiritual. Sendo a UDV fruto como religião e a garantia do direito de utilizar a
do mesmo Poder Superior que se manifestou em Ayahuasca em cerimônias religiosas.
Jesus, não pode haver contradição entre ambos. Mestre Gabriel faleceu em Brasília, no dia
São frutos da mesma árvore. O que diferencia é a 24 de setembro de 1971. Sua vida foi inteiramen-
época e o contexto em que se desenvolve a mis- te voltada para a realização de sua missão espi-
são. A União do Vegetal vem atender a humanida- ritual. Sua obra é uma organização religiosa que
de nesta nova etapa de sua caminhada evolutiva. ele deixou regularizada e inteiramente constituída
A UDV realiza a comunhão com o sagrado. em seus elementos fundamentais: seu quadro
Em suas sessões, o chá Hoasca é comungado de mestres, suas normas de funcionamento e a
para efeito de concentração mental, pois amplia Doutrina que retransmite de geração a geração.
a percepção e coloca a pessoa em contato direto Essa Doutrina, assim como a personalidade de
com o mundo espiritual, possibilitando que dele seu fundador, está assentada em preceitos que
tenha uma compreensão mais clara. correspondem aos valores éticos e morais com-
Nas sessões de escala, que se realizam no partilhados pelos segmentos mais respeitados da
primeiro e no terceiro sábado de cada mês, o dis- sociedade envolvente. Esse é o fundamento da
cípulo tem a oportunidade de examinar seus atos respeitabilidade da UDV como instituição religiosa
praticados à luz da Sagrada Doutrina trazida por que almeja o equilíbrio físico, mental e espiritual
Mestre Gabriel. de seus membros, enquanto indivíduos e em seus
O efeito que o chá produz assemelha-se ao relacionamentos interpessoais.
êxtase religioso, buscado desde os primórdios da
humanidade. Rituais de jejum, abstinência e até
de sacrifícios físicos são ainda hoje adotados por
diversas religiões, no Oriente e no Ocidente, em
busca desse êxtase, que nada mais é que a reli-
gação com o plano espiritual, proporcionado pelo
chá Hoasca – que na UDV é também chamado de
Vegetal.
A essa realidade do Vegetal como uma força
espiritual corresponde a sua realidade como subs-
tância pura e, segundo as palavras do Mestre Ga-
briel registradas no primeiro estatuto da UDV, em
1968, “comprovadamente inofensivo à saúde”.
Desde o início, a UDV vem promovendo iniciativas
na pesquisa médica e na fundamentação jurídica
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mais velhos são mais sábios, guardam a memória cotidiana, que os valores não ficam apenas nas
da vida e do ensinamento do Mestre, são conse- palavras, mas são levados à prática, quando o en-
lheiros e orientadores valiosos. sino é dado através do exemplo.
d. O valor da memória e a transmissão oral da e. Uma visão espiritual da Saúde
doutrina
Os cientistas e pesquisadores, espe-
As tecnologias da comunicação se de- cialmente em psicofarmacologia, afirmam que a
senvolveram rapidamente nos últimos anos e é ayahuasca tem propriedades medicinais e pode
inevitável que sejam usadas na transmissão das ser usada no tratamento de diversas enfermida-
religiões que são, entretanto, muito mais antigas. des, físicas e mentais. Os associados aos Centros
O Cristianismo expandiu-se nos tempos em que Tradicionais da Ayahuasca, entretanto, dizem que
não havia rádio ou televisão e apenas uma minoria o mais importante não são as propriedades quími-
podia ler e escrever. A própria mensagem original cas, mas o fato de que o Daime ou Vegetal insere-
de Jesus não foi escrita. Só uma parte dela está -se num modo de viver orientado pelo Amor e pelo
registrada nos Evangelhos e nas Cartas dos Após- Espírito do Bem, que é a fonte da saúde. Não se
tolos. Como escreveu o Apóstolo João, “Muitas usa a ayahuasca como simples remédio, nem se
outras coisas fez Jesus e, se fossem escritas uma recusa os recursos da medicina científica, mas
por uma, creio que o mundo não poderia conter compreende-se que a Saúde é um estado natural
os livros que se escreveriam”. Mas o que não foi de equilíbrio e bem-estar em todos os aspectos da
escrito também permaneceu na transmissão oral, vida.
de geração a geração, que levou o Cristianismo a Por isso, as Comunidades Tradicionais da
todos os recantos da Terra. Ayahuasca, que seguem os princípios dos Mestres
Assim também viveram os Mestres funda- fundadores, recusam com veemência os vícios de
dores das Doutrinas da Ayahuasca: em comuni- comportamento e o uso de drogas. Dedicam-se a
dades de seringueiros e agricultores, analfabetos promover a saúde de seus integrantes e ajudam os
em sua maioria, eles deram continuidade à obra que buscam apoio para recuperar a saúde perdida,
doutrinária do Cristianismo em linguagem sim- esclarecendo sempre que a verdadeira cura é es-
ples, porém profunda e elevada. Por isso, nessas piritual e, para alcançá-la, é necessário libertar-se
comunidades, valoriza-se a memória e cultiva-se dos vícios e do uso de substâncias que provocam
um grande respeito pelos idosos. Os textos con- dependência física e psíquica, degeneram o orga-
tidos nos hinos e chamadas, nos documentos e nismo e a mente, desestruturam a família e a so-
registros de palestras, são complementados pela ciedade. A garantia da saúde é uma vida orientada
recordação, principalmente dentro das famílias, para a evolução espiritual, em harmonia com a
das histórias vividas pelos mais antigos e das Natureza e paz na convivência social, consciência
lições que aprenderam na convivência com os e responsabilidade sobre seus atos e, principal-
fundadores e pioneiros. É na memória e em sua mente, obediência às Leis de Deus.
transmissão oral que a Doutrina penetra na vida
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Sugestões de Leitura
• ALVES, Antonio: O Cidadão Irineu Serra - Re- • ARAUJO NETO, Francisco H. / MARGARI-
vista do Seminário, 2010 DO, Sílvio F.L. Mestre Daniel - História com a
Ayahuasca. Rio Branco: Fundação Garibaldi
• COSTA, Joaze Bernardinho (org.) Hoasca: Brasil, 2005
Ciência, sociedade e meio ambiente/- Campi-
nas, SP: Mercado de Letras, 2011
Trabalho espiritual na “Casa de Jesus-Fonte de Luz” de Mestre Daniel Feitio do Daime no Alto Santo
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Devoto fazendo oferenda a “Iemanjá”
Religiões de
Matriz Africana
INTRODUÇÃO HISTÓRICA
Durante muitos anos, a presença da re- nuamente seus valores e significados; a absorção
ligiosidade africana na sociedade brasileira foi destes elementos criou um ambiente sincrético e,
subdimensionada, ou pior, como estratégia de do- nesse contexto, escondendo seus deuses atrás
minação e marginalização esta foi ao longo das dos santos católicos e das suas imagens, Oxalá
décadas e séculos, demonizada atendendo aos in- foi associado ao Senhor do Bonfim, Ogum a Santo
teresses da elite e da presença de outras religiões Antonio, Oxossi a São Jorge, São Jerônimo a Xan-
no país, principalmente a religião católica. gô e os elementos africanos foram misturando-se,
Escrever sobre as religiões africanas ori- não somente entre si mas, também, com a religião
ginárias e as influencias destas na religiosidade implantada pelos europeus.
afro-brasileira é buscar retomar os primórdios da Uma expressão religiosa é comumente
religião no continente africano e ter a plena consci- aceita de matriz africana, dada a sua origem, a sa-
ência que, apesar de termos um continente único, ber, ter seu início vinculado aos negros afro-des-
neste temos uma grande mistura de elementos ét- cendentes no período colonial ou pós-colonial e
nicos, lingüísticos, culturais e religiosos. não tanto pela presença majoritária desses negros
Os africanos trazidos para o Brasil foram em determinada expressão religiosa. O Candom-
separados e reagrupados sem levar em considera- blé não pode ser caracterizado como coisa de ne-
ção aspectos familiares, ou mesmo se estes eram gro apenas porque a maioria é negra, pois temos
ou não inimigos na África; desta forma, vários ele- candomblés dirigidos por brancos e com presença
mentos da sua vivência tiveram que ser reinventa- maciça de brancos. A questão é desconstruir um
dos e a religião não ficou fora desta realidade. Ao discurso, ainda subjacente, de que as religiões do
longo dos séculos no Brasil, ocorreu a reinvenção povo negro são para os negros – “é coisa de ne-
desta pelo contato com a religião católica, com a gro”. A questão é mostrar a universalidade des-
prática espírita e também com a religiosidade indí- sas religiões, que transpõem a barreira imposta
gena. pelo discurso do colonizador de suas subscrições
É claro que no contexto brasileiro com a como expressões “animistas”, “fetichistas”, “sel-
predominância católica, aquelas práticas que não vagens”, ou seja, “pouco evoluídas”.
estavam vinculadas com este eram perseguidas e
rotuladas como heréticas, pagãs ou meramente
supersticiosas. Nesse ínterim, entretanto, a re-
ligião africana teve um maior contato com o ca-
tolicismo, principalmente o catolicismo popular
presente no interior do Brasil, absorvendo conti-
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Nações
ficava no oeste, enquanto Axantis era a tribo do
norte. Todas essas tribos eram de povos Jeje. A
Palavra Dahomé A palavra DAHOMÉ, tem dois sig-
nificados: Um está relacionado com um certo Rei
A Nação Jeje - Candomblé Ramilé que se transformava em serpente e morreu
na terra de Dan. Daí ficou “Dan Imé” ou “Dahomé”,
Os jejes como já eram chamados pelos na- ou seja, aquele que morreu na Terra da Serpente.
gôs, a nação jeje-mahin, do estado da Bahia, e a
jeje-mina, do Maranhão, derivaram suas tradições Nação Ketu
e língua ritual do ewê-fon, ou , e suas divinda-
des centrais são os voduns. As tradições rituais A primeira fase da iniciação ou feitura de
jejes foram muito importantes na formação dos santo na nação Ketu é de 21 dias, onde a pes-
candomblés com predominância iorubá. A pala- soa fica em retiro longe da vida profana e da fa-
vra JEJE vem do yorubá adjeje que significa es- mília, devendo desligar-se de tudo e dedicar-se
trangeiro, forasteiro. Portanto, não existe e nunca totalmente aos ritos de passagem. Saliente-se que
existiu nenhuma nação Jeje, em termos políticos. todo o ritual da iniciação não é público. Saliente-se
O que é chamado de nação Jeje é o candomblé também que essa iniciação só pode ser feita por
formado pelos povos fons vindo da região de uma pessoa iniciada, segundo as normas do can-
Dahomé e pelos povos mahins. Jeje era o nome domblé só pode transmitir o Axé quem os recebeu
dado de forma pejorativa pelos yorubás para as de alguém iniciado na obrigação de Odu ijè.
pessoas que habitavam o leste, porque os mahins Quanto ao fato da pessoa ser recolhida para
eram uma tribo do lado leste e Saluvá ou Savalu ser Iaô, Ogan ou Ekedi, essa questão só é resol-
eram povos do lado sul. O termo Saluvá ou Savalu, vida durante a iniciação. Se a pessoa entrar em
na verdade, vem de “Savê” que era o lugar onde se transe será um Iaô elegun, se não entrar em transe
cultuava Nanã. Nanã, uma das origens das quais e for homem, será um Ogan, se for mulher será
seria Bariba, uma antiga dinastia originária de um uma Ekedi.
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Primeira Cartilha da Diversidade Religiosa
Nação Angola
A “nação” Angola, de origem Banta, adotou
o panteão dos orixás iorubás (embora os chame Um Conto Angolano
pelos nomes de seus esquecidos inkisis, divinda-
des bantos), assim como incorporou muitas das Era uma vez um camponês que foi à floresta vizinha
práticas iniciáticas da nação queto. Sua linguagem apanhar um pássaro para mantê-lo cativo em sua
ritual, também intraduzível, originou-se predomi- casa. Conseguiu pegar um filhote de águia. Colocou-
nantemente das línguas quimbundo e quicongo. -o no galinheiro junto com as galinhas. Comia milho
Nesta “nação”, tem fundamental importância o e ração própria para galinhas, embora a águia fosse
culto dos caboclos, que são espíritos de índios, o rei/rainha de todos os pássaros.
considerados pelos antigos africanos como sendo Depois de cinco anos, este homem recebeu em sua
os verdadeiros ancestrais brasileiros, portanto os casa a visita de um naturalista. Enquanto passeavam
que são dignos de culto no novo território a que fo- pelo jardim, disse o naturalista:
ram confinados pela escravidão. O candomblé de - Esse pássaro aí não é galinha. É uma águia.
caboclo é uma modalidade da nação angola, cen- - De fato - disse o camponês. É águia. Mas eu a criei
trado no culto exclusivo dos antepassados indíge- como galinha. Ela não é mais uma águia. Transfor-
nas. Foram provavelmente o candomblé angola e mou-se em galinha como as outras, apesar das asas
o de caboclo que deram origem à umbanda. Há de quase três metros de extensão.
outras nações menores de origem banto, como a - Não - retrucou o naturalista. Ela é e será sempre
congo e a cambinda, hoje quase inteiramente ab- uma águia. Pois tem um coração de águia. Este co-
sorvidas pela nação angola. ração fará um dia voar às alturas.
O Deus Supremo e Criador é Nzambi ou - Não, não - insistiu o camponês. Ela vi-
Nzambi Mpungu; abaixo dele estão os Jinkisi/ rou galinha e jamais voará como a águia.
Minkisi, divindades do Panteão Bantu. Essas di- Então decidiram fazer uma prova. O naturalista to-
vindades se assemelham a Olorum e Orishas da mou a águia, ergueu-a bem alto e desafiando-a dis-
Mitologia Yoruba, e Olorum e Orixá do Candomblé se:
Ketu. - Já que você de fato é uma águia, já que você per-
tence ao céu e não à terra, então abra suas asas e
voe!
A águia pousou sobre o braço estendido do natura-
lista. Olhava distraidamente ao redor. Viu as galinhas
lá embaixo, ciscando grãos. E pulou para junto de-
las.
O camponês comentou:
- Eu lhe disse, ela virou uma simples galinha!
- Não - tornou a insistir o naturalista. Ela é uma
águia. E uma águia será sempre uma águia. Vamos
experimentar novamente amanhã.
No dia seguinte, o naturalista subiu com a águia no
teto da casa. Sussurrou-lhe:
- Águia, já que você é uma águia, abra suas asas e
voe!
Mas quando a águia viu lá embaixo as galinhas, cis-
cando no chão, pulou e foi para junto delas.
O camponês sorriu e voltou à carga:
- Eu lhe havia dito, ela virou galinha!
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Muitos são os Caminhos de Deus - Um pouco de nossa história e de nossas crenças
37
Primeira Cartilha da Diversidade Religiosa
Nem os doutores que o assistiam, nem os ro de desconhecidos, que ninguém poderia dizer
tios, sacerdotes católicos, haviam encontrado ex- como haviam tomado conhecimento do ocorrido.
plicação plausível. A família atendeu, então, à su- Alguns aleijados aproximaram-se da entidade, re-
gestão de um amigo, que se ofereceu para acom- ceberam passes e, ao final da reunião, estavam
panhar o jovem Zélio à Federação. curados. Foi essa uma das primeiras provas da
Zélio foi convidado a participar da Mesa. Zé- presença de uma força superior. Nessa reunião,
lio sentiu-se deslocado, constrangido, em meio o CABOCLO DAS SETE ENCRUZILHADAS estabe-
àqueles senhores. E causou logo um pequeno tu- leceu as normas do culto, cuja prática seria de-
multo. Sem saber por que, em dado momento, ele nominada “sessão” e se realizaria à noite, das 20
disse: “Falta uma flor nesta casa: vou buscá-la”. às 22 horas, para atendimento público, totalmente
E, apesar da advertência de que não poderia afas- gratuito, passes e recuperação de obsedados. O
tar-se, levantou-se, foi ao jardim e voltou com uma uniforme a ser usado pelos médiuns seria todo
flor que colocou no centro da mesa. Serenado o branco, de tecido simples. Não se permitiria retri-
ambiente e iniciados os trabalhos, manifestaram- buições financeiras pelo atendimento ou pelos tra-
-se espíritos que se diziam de índios e escravos. O balhos realizados. Os cânticos não seriam acom-
dirigente advertiu-os para que se retirassem. Nes- panhados de atabaques nem de palmas ritmadas.
se momento, Zélio sentiu-se dominado por uma A esse novo culto, que se alicerçava nessa
força estranha e ouviu sua própria voz indagar por noite, a entidade deu o nome de UMBANDA, e de-
que não eram aceitas as mensagens dos negros e clarou fundado o primeiro templo para sua práti-
dos índios e se eram eles considerados atrasados ca, com a denominação de tenda Espírita Nossa
apenas pela cor e pela classe social que declina- Senhora da Piedade, porque: “assim como Maria
vam. Essa observação suscitou quase um tumul- acolhe em seus braços o Filho, a Tenda acolheria
to. Seguiu-se um diálogo acalorado, no qual os os que a ela recorressem, nas horas de aflição”.
dirigentes dos trabalhos procuravam doutrinar o Através de Zélio manifestou-se, nessa
espírito desconhecido que se manifestava e manti- mesma noite, um Preto Velho, Pai Antônio, para
nha argumentação segura. Afinal um dos videntes completar as curas de enfermos iniciadas pelo
pediu que a entidade se identificasse, já que lhe Caboclo. E foi ele quem ditou este ponto, hoje
aparecia envolta numa aura de luz. cantado no Brasil inteiro: “Chegou, chegou, che-
Se quiserem um nome - respondeu Zélio gou com Deus, chegou, chegou, o Caboclo das
inteiramente mediunizado - que seja este: eu sou Sete Encruzilhadas”. A partir desta data, a casa
o CABOCLO DAS SETE ENCRUZILHADAS, porque da família de Zélio tornou-se a meta de enfermos,
para mim não haverá caminhos fechados. E, pros- crentes, descrentes e curiosos. Essa, portanto é
seguindo, anunciou a missão que trazia: estabele- a história da Umbanda mais contada e com mais
cer as bases de um culto, no qual os espíritos de veracidade nas fontes inclusive vivas até hoje, que
índios e escravos viriam cumprir as determinações testemunharam esse processo em alguma parte
do Astral. No dia seguinte, declarou ele, estaria do mesmo.
na residência do médium, para fundar um templo, É pesquisa de fácil acesso na Internet, con-
que simbolizasse a verdadeira igualdade que deve tudo, pedimos atenção e cuidado aos que procu-
existir entre encarnados e desencarnados. rarem fazer suas pesquisas, e sempre busquem
Levarei daqui uma semente e vou plantá-la opinião de alguém que realmente entenda, pois
no bairro de Neves, onde ela se transformará em uma religião nova e incompreendida como é a
árvore frondosa. UMBANDA, sempre será vítima de armações, per-
No dia seguinte, 16 de novembro de 1908, seguições e calúnias.
na residência da família do jovem médium, na Rua
Floriano Peixoto, 30 em Neves, bairro de Niterói, REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
a entidade manifestou-se pontualmente no horá-
rio previsto - 20 horas. Ali se encontravam quase África no Brasil
todos os dirigentes da Federação Espírita, amigos José Luiz Fiorin, Margarida Petter (orgs.)
da família, surpresos e incrédulos e grande núme- Editora Contexto
38
Protestantismo
Brasileiro
Pr. Cid Mauro Araujo de Oliveira e
Pr. Enock Pessoa da Silva
(Max Lucado)
Primeira Cartilha da Diversidade Religiosa
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Muitos são os Caminhos de Deus - Um pouco de nossa história e de nossas crenças
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Muitos são os Caminhos de Deus - Um pouco de nossa história e de nossas crenças
João Maurício de
Nassau-Siegen:
Católicos, protestantes, judeus, negros e
indígenas - Governador holandês designado por 5
anos para as províncias ocupadas no Nordeste, foi
exemplo de tolerância, abrindo a confissão religio-
sa a franceses, ingleses e holandeses. Respeitava
as religiões de escravos e indígenas, em diálogo
com eles, mesmo numa aproximação evangeliza-
dora. Data desse período a edificação, em Recife,
da primeira sinagoga no Brasil. A resistência resul-
tou na expulsão dos holandeses, em 26 de janei-
ro de 1654 reunindo, pela primeira vez, europeus
(portugueses), indígenas e escravos, despertando
o sentimento de nacionalidade e proporcionando
aos negros o reforço de sua identidade, pela cria-
ção do Quilombo dos Palmares. Os traços do pro-
testantismo praticamente desapareceram.
43
Primeira Cartilha da Diversidade Religiosa
3.1. Pastores metodistas das Sociedades Bí- 4.1. Os primeiros imigrantes e os cultos
blicas ajudam na fundação da primeira Escola em alemão - Os alemães são os pioneiros do pro-
Dominical no Brasil - Daniel Kidder escreveu Re- testantismo de imigração no Brasil, com comuni-
miniscências de Viagens e Permanência no Brasil, dades permanentes (1824) em Nova Friburgo, RJ,
registrando aspectos culturais da Amazônia e Sul. com 334 irmãos liderados pelo pastor Friedrirch
O missionário congregacional Robert Reid Kalley, O. Sauerbronn, e mais 43 imigrantes no Rio dos
além de ler o livro de Kidder, recebeu uma carta Sinos, RS, uma comunidade a que chamaram São
de Fletcher, que pregava como capelão para mari- Leopoldo, em homenagem à Imperatriz Leopoldi-
nheiros de navios estrangeiros, no porto do Rio de na. No Rio de Janeiro, o primeiro culto público foi
Janeiro, incluídos aqueles envolvidos na corrida em 21 de maio de 1827, na Rua Matacavalos (hoje
do ouro no Oeste americano. Kalley foi o primei- Riachuelo). Depois, espalharam-se por São Paulo,
ro a fundar uma igreja protestante permanente no Santa Catarina, Espírito Santo e Sul de Minas Ge-
Brasil, começando com a Primeira Escola Domi- rais, organizando sínodos que se uniram em 1938.
nical, em Petrópolis, RJ, a partir de 19 de agosto Em 1949, formaram uma Federação de Sínodos
de 1855. e, obtendo sua independência da Igreja Evangélica
Alemã em 1955, fundaram a Igreja Evangélica de
4. Como entender os diferentes ra- Confissão Luterana do Brasil (IECLB). São cerca
mos dos evangélicos: de 1.100.000 no Brasil (2002).
Há duas classificações genéricas para o
protestantismo que se instalou no Brasil no início 4.2. Os cultos em língua inglesa e o primeiro
do século XIX: o protestantismo de imigração: templo protestante erguido no Brasil - Os an-
estrangeiros atraídos por D. Pedro II para substituir glicanos são considerados os primeiros a cons-
mão-de-obra escrava se reuniam em locais onde truir um templo protestante na América Latina, no
celebravam cultos em sua língua de origem, mas Rio de Janeiro, em 1819, na Rua Barbonos (hoje
não comunicavam sua fé aos brasileiros; e o pro- Evaristo da Veiga). Antes se reuniam apenas em
testantismo de missão: missionários que vieram casas ou nos navios. Somente em 1860, Richard
para o Brasil, especificamente com o objetivo de Holden, em Belém e, posteriormente, em Salva-
transmitir sua fé aos brasileiros, na língua nativa dor, tentou implantar uma igreja para brasileiros.
do país. Em 1º de junho de 1890, no Domingo da Trindade,
James Watson Morris e Lucien Lee Kinsolving re-
alizaram o primeiro culto, em Porto Alegre, na Rua
Voluntários da Pátria 387, numa casa alugada, a
Aimee
Semple
McPherson
Jonh Wesley
44 Martinho Lutero
Muitos são os Caminhos de Deus - Um pouco de nossa história e de nossas crenças
que chamaram Casa da Missão. Começava a atual Ramos Pentecostais Clássicos: Congre-
Igreja Episcopal Anglicana do Brasil. São cerca de gação Cristã no Brasil, em 1910; Assembléia de
150.000 membros. Deus, em 1911;
Ramos Pentecostais Autônomos: Igreja
5. Protestantismo de missão: do Evangelho Quadrangular, 1951; Igreja Evan-
Evangelização em língua portuguesa - Ao gélica “O Brasil para Cristo”, 1955; Igreja Deus
ser implantado, encontrou condições favoráveis é amor, 1962; Casa da Bênção, em 1964, entre
no país e fora dele, devido à atividade das enti- outras, bem como grupos provenientes de sub-
dades missionárias estrangeiras. Antes de Kalley, divisões das denominações históricas: Aliança
esteve no Brasil, em 1835, o metodista Fountain das Igrejas Evangélicas Congregacionais (1967,
E. Pitts, do Board of Missions, da Igreja Metodista Congregacionais), Igreja Batista Nacional (1966,
dos Estados Unidos, reunindo-se em casas. Em batistas), Igreja Metodista Wesleyana (1967,
1836, chegou Justus Spalding, que organizou uma metodistas); Igreja Presbiteriana Renovada
igreja metodista com 40 pessoas, todos estran- (1972, presbiterianos) e Igreja Cristã Maranata
geiros. Em 1837, o já citado colportor (distribui- (1968).
dor e vendedor de Bíblias) Daniel Kidder ajudou os Ramo Neopentecostal: Inicia-se com a
metodistas, mas as atividades se encerraram em Igreja de Nova Vida, do bispo canadense Robert
1842. McAlister (1960); Comunidade Evangélica Sara
Nossa Terra, fundada pelo pastor Rodovalho (GO,
5.1. Como entender as diferentes denominações 1976); Igreja Universal do Reino de Deus, no Rio
evangélicas: de Janeiro, pelo bispo Edir Macedo (1977); Comu-
nidade da Graça (SP, 1979); Igreja Internacional da
Ramos de origem direta na Reforma Graça de Deus, no Rio de Janeiro, pelo missionário
Protestante: anglicanos, em 1890 (ingleses, tam- Romildo R. Soares (1980); Igreja Evangélica Cris-
bém incluídos os episcopais e os metodistas ame- to Vive, pelo apóstolo Miguel Ângelo (RJ, 1986);
ricanos) e luteranos, em 1824 (Igreja Evangélica Igreja Renascer em Cristo, pelo casal apóstolo Es-
de Confissão Luterana, ligada aos EUA; e a Igreja tevão e bispa Sonia Hernandes (SP, 1986); Igreja
Luterana do Brasil, ligada à Alemanha); Mundial do Poder de Deus, do apóstolo Valdemi-
Ramos influenciados pela Reforma Pro- ro Santiago. As ênfases doutrinárias são, de um
testante: congregacionais, em 1855; presbite- modo geral, exposição maciça na mídia, cura divi-
rianos, em 1859; metodistas, em 1866; e batis- na, exorcismo, teologia da prosperidade.
tas, em 1882;
Daniel Berg
e Gunnar Vingren
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Primeira Cartilha da Diversidade Religiosa
O casal Robert
e Sarah Kalley.
O Casal Missionário
Robert e Sarah
Kalley
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Chegada ao Acre:
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Primeira Cartilha da Diversidade Religiosa
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Muitos são os Caminhos de Deus - Um pouco de nossa história e de nossas crenças
tinho, próximo à colônia onde, a partir de abril de Regime de governo das igrejas:
1869, organizou uma pequena congregação: pre-
gava em inglês para batistas, metodistas e presbi- Mantendo a tradição de sua origem nos
terianos. EUA, adotam o sistema episcopal representativo.
Trata-se de um regime hierarquizado, baseado na
Início do trabalho no Brasil: figura do bispo, o qual administra uma região ecle-
siástica, a quem estão subordinados os pastores
Atendendo apelos da colônia de Santa Bár- de um grupo de igrejas locais. Os bispos formam,
bara, a Junta de Missões da Igreja Metodista Epis- em seu conjunto, Concílios Regionais, para uma
copal Sul (EUA) enviou John James Ransom, pri- determinada região de igrejas, os quais estão su-
meiro pastor oficialmente designado para o Brasil, bordinados ao Concílio Geral. Atualmente, têm
que chegou em 2 de fevereiro de 1876. Estudou operado uma redistribuição de responsabilidades
português em Campinas, SP, foi para o Rio de em seu modelo de governo, conferindo aos con-
Janeiro em 13 de janeiro de 1878 e inaugurou a cílios locais, formados pela liderança das igrejas,
primeira igreja no bairro do Catete, em setembro maior capacidade de decisão podendo, por exem-
de 1882. A Igreja no Brasil tornou-se indepen- plo, eleger seus pastores locais, os quais podem
dente da americana em 2 de setembro de 1930, ter, com autorização dos bispos, prorrogado seu
com a organização da Igreja Metodista Central de tempo de permanência na igreja. Foi a primeira de-
São Paulo. Foi eleito primeiro bispo o americano nominação evangélica no Brasil a admitir mulheres
Willian Tarboux, sendo César Dacorso Filho, es- como pastoras.
colhido em 1934, o primeiro bispo brasileiro. São
cerca de 350.000 no Brasil (2000). Editam o jornal Tipo de batismo e principais doutrinas:
O Expositor Cristão, fundado por Ransom em 1º
de janeiro de 1886. As filhas de Newman, Annie Aspersão, também batizando recém-nasci-
e Mary, fundaram em Piracicaba, SP, o Colégio dos, baseados na idéia agostiniana de seu funda-
Newman (1879-1880), precursor da Universida- dor, John Wesley, da graça preveniente (exercida
de Metodista de Piracicaba. Também fundaram o por Deus indistintamente desde o nascimento).
Instituto Metodista de Ensino Superior, SP, (1938) Porém tem efeito simbólico, significando que a
e o Instituto Metodista Bennett, RJ, (1888). Admi- criança será acolhida pela comunidade e terá
nistram o Instituto Metodista Ana Gonzaga (1932, confirmada sua confissão na maturidade. John
RJ), entre outros: Associação Metodista de Assis- Wesley (1703-1791) foi um pregador avivalista
tência Social (Itaquera, SP), Associação Metodista
de Ação Social (AMA, Niterói, RJ) e o Lar Pedaci-
nho do Céu (Barra Mansa, RJ).
inglês que liderou um movimento de santidade e vertido pelo Espírito, obtiveram certeza de ir para
enfatizava a experiência pessoal de conversão a o Pará, no Brasil. Em 5 de novembro entraram no
Jesus (Colossenses 2:5 e 3:1-4), que se constitui navio Clement, no porto de Nova York, e chegaram
na ênfase doutrinária comum a todos os grupos a 19 de novembro de 1910, com pouco dinheiro
do protestantismo de missão. Os metodistas são (90 dólares).
arminianos como os assembleianos, ou seja, dife-
rentemente dos calvinistas, não aceitam a predes- Início do trabalho no Brasil:
tinação, mas o exercício do livre arbítrio na aceita-
ção ou rejeição da graça de Deus, não descartada Em 18 de junho de 1911 fundaram a Missão
a possibilidade da perda da salvação, caso o fiel de Fé Apostólica (mesmo nome dado por Willian
caia em apostasia (abandono da fé). É a primeira Joseph Seymour à igreja da Rua Azuza), ocasião
igreja do protestantismo de missão a oficialmente em que a irmã Celina Albuquerque, como Gunnar
declarar-se ecumênica. Vingren anteriormente, recebeu o batismo no Es-
pírito Santo. É considerada a primeira mulher a
Chegada ao Acre: ter essa experiência no Brasil, assim como, mais
tarde, Manoel Francisco Dubu. Em 18 de janeiro
Em setembro de 1978 realizaram o 1º En- de 1918, Vingren sugeriu o nome Assembléia de
contro de Obreiros Metodistas da Amazônia Oci- Deus, inaugurando, em 1926, o primeiro templo
dental, dirigido pelo bispo Sady Machado da Silva. em Belém. São cerca de 8.500.000 no Brasil
Alunos da Faculdade de Teologia da Igreja Meto- (2000). Editam o jornal Mensageiro da Paz (1929)
dista, de São Bernardo do Campo, SP, além de in- que, para ser legalizado por decreto de Getúlio Var-
centivar a criação de uma faculdade de teologia gas, deu origem (1940) à Casa Publicadora das
em Porto Velho, estagiaram em Rio Branco, AC, no Assembléias de Deus, RJ, uma das maiores edito-
trabalho recém fundado em 27 de agosto de 1977, ras evangélicas do Brasil. Possuem também dois
resultado do encontro de três mulheres: Ione Calil, seminários: a Escola de Educação Teológica das
de Ribeirão Preto, SP, e Nise Ester, de Juiz de Fora, Assembléias de Deus (EETAD) e a Faculdade de
MG, que, hospedadas a trabalho em Rio Branco, mesmo nome (FAETAD). Administram, entre ou-
encontraram-se casualmente num hotel. Mais tar- tros: Orfanato Assembleia de Deus (Feira de San-
de foram ajudadas por Maria das Graças, de Porto tana, BA) e Orfanato em Balneário (São Pedro de
Velho, RO, quando iniciaram na Rua Honório Alves Aldeia, RJ).
das Neves 118, no Bairro 15, com 19 pessoas,
as reuniões que resultaram na atual igreja, na Av. Regime do governo das igrejas:
Nações Unidas 2428, Estação Experimental.
A igreja-mãe e demais filiadas formam uma
6.5. Assembléia de Deus unidade administrativa, Ministério ou Área, incluí-
das congregações, subcongregações e pontos de
Missionários Pioneiros: pregação. Praticam um sistema misto episcopal/
Os missionários suecos Gunnar Vingren, congregacional, no qual os membros da igreja
24 anos, e Daniel Berg, 18 anos, chegados aos referendam os assuntos previamente discutidos
EUA, respectivamente em 1902 e 1903, partici- numa reunião de pastores com a liderança local.
param do famoso avivamento da Rua Azuza, em O pastor-presidente é líder do ministério regional
1906. Vingren havia estudado teologia em seu que, reunidos formam uma convenção estadual e,
país e pastoreava uma igreja em Michingan. Da- no conjunto, a Convenção Geral das Assembléias
niel trabalhava numa quitanda em Chicago. Hou- de Deus do Brasil. Em 1989, um grupo de pas-
ve uma conferência evangelística em Chicago, na tores do Ministério de Madureira, RJ, teve oficia-
qual Vingren experimentou o batismo no Espírito lizado seu desmembramento e passou a formar
Santo. Não mais adaptado entre os outros crentes, uma convenção em separado, conhecida como
passou a pastorear em South Bend, onde Olof Ul- Assembléia de Deus – Ministério de Madureira.
din profetizou que ele seria missionário além mar.
Encontrando Daniel, que também vinha sendo ad-
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Muitos são os Caminhos de Deus - Um pouco de nossa história e de nossas crenças
Imersão, pelas mesmas razões que os ba- 7.2. A Igreja Evangélica Pentecostal O
tistas, e acreditam na experiência do batismo no Brasil para Cristo.
Espírito Santo, com evidência do dom de línguas No Brasil: iniciada por Manoel de Mello e
(Atos 1:5; 2:4; 10:44-46; e 19:1-7). Com acen- Silva (1929-1990), pernambucano e trabalhador
tuado vigor evangelístico e ardor missionário, é o da construção civil que veio a São Paulo, con-
grupo evangélico que mais cresceu numericamen- verteu-se na Assembléia de Deus e, algum tempo
te no Brasil. A liderança é exercida por pastores, depois, aderiu à IEQ, pela qual foi ordenado pas-
evangelistas e presbíteros, os quais formam o tor. São cerca de 180.000 no Brasil (2000). Dela
ministério local, e diáconos, estritamente relacio- saíram os fundadores da Igreja Deus é Amor e da
nados ao suporte logístico da igreja. Um de seus Casa da Bênção. No Acre: chegou a Rio Branco em
ministérios mais importantes é o Círculo de Ora- 1960, através do pastor Aramô Pascoal que, algum
ção, liderado pelas mulheres. tempo depois, saiu para organizar a Igreja Pente-
costal Evangelista. Cresceu bastante e, em 2002,
Chegada ao Acre: possuía 17 templos na capital.
Desde 1928, Manoel Pirabas pregava a fé 7.3. A Igreja Evangélica Pentecostal Deus
pentecostal no seringal Lagoinha, no entorno de é Amor (IPDA).
Cruzeiro do Sul. Estava afastado da igreja, mas No Brasil: fundada em 1962 pelo missioná-
reconciliou-se e pediu ajuda a Belém, que enviou rio David Martins Miranda, na cidade de São Pau-
o pastor Antonio Tibúrcio Filho, que organizou a lo, com 17.500 igrejas no Brasil e mais 136 paí-
igreja em 1932. Em Feijó, fundada em 1933, por ses, sendo a quinta igreja em número de membros,
Lino José Benício, Manoel Araújo Silva e Antônio atrás da Assembleia de Deus, Congregação Cristã,
Prudente Almeida; em Tarauacá, em 1935, por Igreja Universal e IEQ. São cerca de 780.000 no
Bento Sameu e, em Rio Branco, inicialmente em Brasil (2000). No Acre: 14 templos em Rio Branco
1943, pelo irmão Luiz Firmino Câmara e, oficial- (2002) e em cidades do interior. Sua ênfase maior
mente, em 24 de janeiro em 1944, pelo pastor é o batismo com o Espírito Santo e a cura divina.
Francisco Vaz Neto: atualmente são 15.000 mem-
bros, subdivididos em 27 áreas de ministério. 7.4. Igreja Tabernáculo Erguido de Jesus
- Casa da Bênção.
7. Outros grupos e sua presença no Bra- No Brasil: a Catedral da Bênção realizou seu
sil e no Acre: primeiro culto em 9 de junho de 1964, na Praça Vaz
O pentecostalismo autônomo se distingue de Melo, Belo Horizonte, às 15 horas, com Doriel de
do pentecostalismo clássico por maior ênfase na Oliveira, ex-ministro da Igreja O Brasil para Cristo.
cura divina, no exorcismo e em estratégias de uso Reuniram-se por 5 meses na praça até arranjarem
intenso da mídia. Quatro grupos se destacam: um templo. Em 1969, o líder decidiu instalar uma
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Primeira Cartilha da Diversidade Religiosa
BIBLIOGRAFIA
54
Catolicismo
Pe. Massimo Lombardi,
Coordenador da Pastoral Diocesana
com as autoridades da Sinagoga e do Templo que dor de Jesus era testemunhar a sua fé diante dos
culminou no assassinato de Estêvão, o primeiro pagãos que sacrificavam aos falsos deuses ou aos
mártir da Igreja. vários ídolos. Para não cair na idolatria, no lugar de
O choque entre o Império e o Cristianismo oferecer sacrifícios aos ídolos do paganismo pre-
surgiu porque Roma pretendeu exigir dos seus sú- feriam oferecer sua vida em sacrifício através do
ditos cristãos alguma coisa que eles não podiam Martírio. Jovens, adultos, velhos e até crianças se
dar: a homenagem religiosa da adoração, que só tornavam mártires e o mártir era considerado pela
a Deus era lícito prestar. Além disso, a proposta Comunidade Cristã um modelo para ser imitado,
de vida dos cristãos baseada no Evangelho de pois tinham alcançado o chamado de Deus con-
Jesus Cristo era totalmente oposta ao sistema do forme o Livro de Levítico, ou mesmo conforme as
Império. Suspeitas, ameaças, desconfianças eram palavras de Jesus: “Sejam perfeitos como o Pai
levantadas continuamente contra os membros da celestial é perfeito.” Mateus 5:38-48 O livro que
Igreja. Enfim, era proibido ser cristão. Ser discípu- resume a vida destes santos mártires chama-se
lo de Cristo significava ser candidato ao martírio. de “Martirológio” e ali se encontra a vida de São
Na época de Pedro e Paulo, os maiores lí- Sebastião, de Santa Luzia, Santa Inês e de milha-
deres do primeiro século, em Roma havia 5.000 res de homens e mulheres que preferiram morrer,
cristãos, organizados em pequenas comunidades. no lugar de sacrificar aos ídolos e abandonar a sua
Muitos foram torturados e mortos. Entre eles Pe- fé.
dro e Paulo. O Monge, ideal de santidade. Quando a
A maior perseguição foi sem dúvida a última, situação se tornou calma demais para os cristãos
que teve lugar no início do século IV, no quadro da e até privilegiada por causa do fim das persegui-
grande reforma das estruturas de Roma realizada ções, muitos jovens se afastaram das seduções
pelo imperador Diocleciano. Este Imperador atri- do mundo, preferindo a vida de contemplação, de
buía à religião tradicional do paganismo um papel estudo das Sagradas Escrituras, de oração, de je-
na regeneração do Império. jum e de penitência. Iniciou a vida das pequenas
Entre fevereiro do ano 303 e março do ano Comunidades, seguindo o exemplo de São Bento
304 foram promulgados quatro editos com o de Norcia (480-547), que fundou o primeiro Mos-
projeto de acabar de uma vez para sempre com teiro no Monte Cassino, longe das barulhentas
o Cristianismo e a Igreja. A perseguição foi mui- cidades, imitando Jesus na luta contra as tenta-
to violenta e fez muitos mártires na maioria das ções do inimigo ( Mt 4:1-11), e encontrando e ex-
províncias do Império. Mas, na verdade, “o san- perimentando no deserto a presença do Senhor:
gue dos mártires era semente de novos cristãos”. “Eis que eu a atrairei e a levarei para o deserto
Depois de Diocleciano, o império recebeu diversas e lhe falarei ao coração.” (Os 2:16) Os monges
reestruturações, até que Constantino se tornou dedicavam sua vida à leitura da Bíblia e a escrever
único imperador. Este, ainda pagão, já compreen- Bíblias manualmente, pois não havia imprensa na-
dera que assim as coisas não poderiam continuar, quela época. Outros se dedicavam ao trabalho da
e no ano de 313 publicou o famoso Edito de Milão, agricultura e ensinavam esta atividade aos povos
declarando a religião cristã livre para quem quises- bárbaros que estavam chegando de longe para
se abraçá-la. uma integração harmoniosa e sem violência. O
A Igreja saiu do esconderijo das catacum- lema dos Mosteiros era: “Ore e trabalhe”.
bas, e surgiram por toda parte igrejas e basílicas.
Os cristãos se multiplicaram enormemente e em
breve se constituíram maioria em todo o império.
Martírio de cristãos no
Coliseo romano
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Primeira Cartilha da Diversidade Religiosa
A) Reforma de Lutero
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Muitos são os Caminhos de Deus - Um pouco de nossa história e de nossas crenças
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Primeira Cartilha da Diversidade Religiosa
Toda a vida da Igreja foi reorganizada, atra- “dilatar a fé e o império”. Efetivamente, no pensar
vés de paróquias mais participativas, com seus do colonizador, conquistar e evangelizar significa-
padres preparados nos seminários durante longos va expandir o domínio luso e divulgar a fé.
anos. Surgiram missionários das muitas Congre- Quando a Igreja no ano de 2000 comemo-
gações religiosas que acompanharam as navega- rou os 500 anos do “descobrimento do Brasil”
ções rumo às novas terras nos vários Continentes convidou os católicos a “purificar a memória” e
para anunciar a Palavra do Senhor. a pedir perdão pelos sofrimentos infringidos aos
habitantes nativos da terra e a um grande número
3. A Igreja chega ao Brasil de africanos, trazidos à força para o Brasil como
escravos.
No Brasil a Igreja chegou com os portugue- Mas, naquela comemoração, foram mani-
ses no ano de 1500 pedindo carona nos seus na- festados também motivos de ação de graças pelas
vios de colonizadores, sonhando que iam expandir dádivas divinas recebidas no decurso desses 500
o Reino de Deus nestas novas terras até então ha- anos, pelo sacrifício de tantos missionários, mui-
bitadas por uns cinco milhões de indígenas, que tos deles mortos violentamente por defenderem
por motivo da ganância desses colonizadores ti- os aldeamentos indígenas ou apoiarem os mais
veram a maioria de suas aldeias destruídas e suas oprimidos, pela solidariedade de muitos cristãos
populações dizimadas. para com seus irmãos sofredores e, sobretudo,
pelo dom da fé cristã e da esperança que nesses
Luzes e sombras da evangelização no Brasil cinco séculos sustentou e ainda sustenta nosso
povo.
O Evangelho foi anunciado no Brasil bem “Que os 500 anos sirvam para sonhar um
identificado com a cultura européia, especialmente Brasil com mais igualdade, justiça e democracia,
lusitana. Assim, pensava-se que os povos indíge- onde caibam todos os seus filhos e filhas, no res-
nas para se salvarem deviam aceitar o Evangelho peito à riqueza de sua diversidade humana, cultu-
e a cultura portuguesa também. ral e espiritual.” (José Oscar Beozzo)
Nos documentos oficias portugueses da
época colonial sempre encontramos a expressão
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Muitos são os Caminhos de Deus - Um pouco de nossa história e de nossas crenças
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Foto 4:Pe. Paolino de visita no seringal.
Primeira Cartilha da Diversidade Religiosa
- Sobre a Palavra de Deus. Falou sobre o 6. CONCÍLIO VATICANO II reno-
delicado e complexo problema da relação entre vou toda a Pastoral do Continente
as Sagradas Escrituras e a Tradição. A Igreja es-
perava um novo impulso de vida espiritual e um O Concílio Vaticano II foi aplicado na rea-
aumento de veneração pela Palavra de Deus que lidade do Continente Latino americano através de
permanece para sempre. sucessivas Assembléias Gerais de seu Episcopa-
- Sobre o Ecumenismo. Incentivou-nos a do. Essas Assembléias Gerais se realizaram nas
novas relações entre os irmãos separados, a um cidades de Medellín (1968), Puebla (1979), Santo
conhecimento e a uma cooperação mútua. Domingo (1992) e Aparecida (2007).
- Sobre o Apostolado dos Leigos. Valorizou Conferência de Medellín
a presença do laicato, não como simples cliente, Tema: “A Igreja na presente transformação
mas como co-responsável da vida da Igreja, so- da América Latina à luz do Concílio Vaticano II”.
bretudo, os jovens, as famílias e as associações
para a evangelização. A Conferência dos Bispos queria ser uma
resposta à necessidade que a Igreja sentia de
B) O Concílio Vaticano II renovou a Caminhada renovar-se e de assumir seriamente sua missão
da Igreja do Acre. profética em meio aos povos que se diziam cris-
tãos, mas eram dominados por ditaduras cruéis e
As CEBs: Bíblia e Realidade. por uma extrema pobreza.
Co-responsabilidade dos Leigos – Missão. Três foram os grandes temas da Conferên-
cia de Medellín: Promoção humana; Evangelização
- Para fazer parte ativa das Comunidades e crescimento na fé.
Eclesiais de Base se precisava manusear, co- Diante do quadro de injustiça e pobreza, os
nhecer e vivenciar a Bíblia e conhecer a realidade bispos afirmaram que a missão pastoral da Igreja
com os problemas que afligiam o povo: expulsão “é essencialmente serviço de inspiração e de edu-
de suas terras, desemprego, moradia, violência, cação das consciências dos fiéis, para ajudá-los a
famílias fragilizadas, educação... Assim, a evan- perceberem as exigências e responsabilidades de
gelização podia ser realizada melhor através do sua fé, em sua vida pessoal e social”.
serviço, do diálogo, do testemunho e do anúncio.
- A experiência de Comunidade de Base Conferência de Puebla
levava os membros ativos a evangelizar fora do
templo, percorrendo estradas, navegando rios e Tema: “Evangelização no presente e no fu-
penetrando florestas para fundar pequenos grupos turo da América Latina.”
lá onde o povo chorava e lutava, plantando a es-
perança de dias melhores, de mais fraternidade e Foi dado um destaque especial ao compro-
justiça. misso de evangelizar os pobres e os jovens, pois
- Os vários Documentos do Concilio Vatica- constituem a riqueza e a esperança da Igreja na
no II e em seguida os Documentos de Medellín, América Latina, e sua evangelização é, por conse-
Puebla e Santo Domingo, favoreceram a reflexão guinte, prioritária.
sobre a Igreja toda ministerial e a prática da “co- Confirma-se a opção preferencial pelos po-
-responsabilidade” dos leigos na condução pas- bres apontada na trilha de Medellín, “exigida pela
toral da Igreja. Os leigos começaram a agir como escandalosa realidade dos desequilíbrios econô-
co-responsáveis em força de seu batismo e, de micos da América Latina, deve levar a estabelecer
uma Igreja piramidal, se passou a uma igreja cir- uma convivência humana digna e a construir uma
cular, isto é, de comunhão. sociedade justa e livre”.
- “Um olho na vida e outro na Bíblia”, era a Ao mesmo tempo em que clamavam por
prática que se considerava fundamental nos cris- uma “necessária mudança das estruturas sociais,
tãos das Comunidades de Base. políticas e econômicas injustas”, os bispos em
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Primeira Cartilha da Diversidade Religiosa
Puebla reafirmaram que esta “não será verdadeira O itinerário formativo para o católico ser
e plena, se não for acompanhada pela mudança discípulo missionário.
de mentalidade pessoal e coletiva com respeito a Para termos uma Igreja em que não exis-
um ideal duma vida humana digna e feliz, que por ta mais o Católico não praticante e só de nome,
sua vez dispõe à conversão”. precisamos de uma clara e decidida opção pela
formação dos membros de nossas Comunidades.
Conferência de Santo Domingo
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Muitos são os Caminhos de Deus - Um pouco de nossa história e de nossas crenças
Justiça, gratuidade, solidariedade, partilha, dig- missão de salvar todos os homens, o Dom do
nidade, direitos de todos, opção pelos pobres, Espírito Santo. (Mt 5, 1-12 )
honestidade, diálogo ecumênico e inter-religioso,
bioética, caráter sagrado da vida humana, valo- 4. O discípulo é amigo íntimo do Mestre: “Eu cha-
rização da família e do amor conjugal, dignidade mo vocês de amigos, porque eu comuniquei a
do trabalho e do trabalhador, valor do corpo como vocês tudo o que ouvi do meu Pai.” (Jo 15,15)
moradia de Deus, sexualidade humana, desenvol- E assim a intimidade entre Jesus e os discípulos
vimento global e solidário, participação popular, supera a intimidade entre os membros de uma
ecologia e cuidado com o meio ambiente, respeito família: “Quem faz a vontade de Deus, esse
e diálogo com as diversidades. Enfim os valores é meu irmão, minha irmã e minha mãe”. (Mc
da ética na política, na economia e nas comuni- 3:35)
cações.
A pessoa convertida é humilde e educável, pode 5. O discípulo é chamado a tornar-se apóstolo. Ele
cair, mas se levanta, aceita as provações e o sa- não pode construir a sua tenda no monte Tabor
crifício, sabe perdoar e conhece o valor do Sacra- para aí ficar: deve descer e comprometer-se no
mento da Reconciliação. ministério, e o seu serviço não é aquele de quem
trabalha por uma recompensa, mas de quem
3. O Discipulado trabalha por amor de quem o chamou, isto é de
Jesus.
O discípulo é um aprendiz, isto é, al-
guém que quer aprender. O discípulo escuta na 4. A Comunhão
celebração dominical a Palavra do Mestre para
testemunhá-la e anunciá-la ao longo da semana. O discípulo cultiva a pertença à Igreja que
O discípulo é um seguidor. O discípulo segue o é “a casa e a escola de comunhão”. O discípulo
Mestre para onde ele o conduzir. Para fazer isso, o não vive na dispersão e no anonimato, não tem so-
discípulo precisa estar disponível. Decide que não mente alguma ligação com a Igreja, mas vive em
importa o sacrifício e nada o afastará da decisão comunhão com Ela.
de seguir o seu Mestre. (Mt. 10, 38 e Lc. 14, 27). A Igreja consegue evangelizar só se for co-
Jesus é o único Mestre e não há mais ninguém munidade do amor que atrai na medida em que
que nos ofereça outra Verdade. (Mt 23,8.10) seus membros vivem o amor fraterno. Deste modo
a Comunhão e a Missão estão profundamente uni-
1.O discípulo é chamado a morar com o Mestre e das entre si.
no caso de Jesus que era um Mestre ambulan- Na experiência das nossas Comunidades o
te, o discípulo deve estar disposto a estar com que favorece isso é a acolhida fraterna, a escuta,
ele em qualquer lugar, até aos pés da Cruz, se o diálogo, a participação com voz e vez de todos,
precisar. (Jo 1:35-40) a correção fraterna, a avaliação pastoral sincera.
Quem trabalha na Comunidade deverá apren-
2. O discípulo está em estado de contínua conver- der a exercitar a autoridade do Bom Pastor que co-
são. Nunca irá parar de procurar a perfeição ou nhece a situação de suas ovelhas, chama-as pelo
a santidade, pois o caminho dura toda a vida: nome, fortalece a fé e a confiança e caminha junto
“Quem perseverar até o fim será salvo”. (Mt a elas sem autoritarismo.
24:13) Na Comunidade cristã ninguém se sente fre-
guês ou consumidor, mas todos se sentem co-res-
3. O discípulo partilha o modo de pensar e de ponsáveis, pois todos estamos a serviço daquele
viver do Mestre: a fé, a confiança no amor do que encontramos e nos chamou.
Pai, o amor pelos pobres, doentes, pecadores,
a certeza do Reino de Deus, as bem-aventuran-
ças, o mistério da morte e da ressurreição, a
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Primeira Cartilha da Diversidade Religiosa
A Missão
Sugestões de Leitura
A Igreja por sua natureza é missionária e os
seus membros que amam seu Senhor, necessitam
anunciar com alegria aquele Jesus Cristo que en- • Curso Básico de História da Igreja, Frohilic Ro-
contraram. land. Ed. Paulus.
- O discípulo que se torna missionário co-
loca-se assim a serviço humilde de Jesus e do • Caminhando pela História da Igreja, Matos,
próximo, cultivando o respeito aos diferentes, co- Henrique Cristiano José. Ed. Lutador.
nhecendo seus problemas e seus anseios, com-
partilhando de suas alegrias e de suas tristezas. • Curso de História da Igreja, Pierini Franco. Ed.
- Escuta e dialoga com Deus e com os ir- Paulus
mãos. Não entra em competição com ninguém e
evita qualquer intolerância, reconhecendo que nas • História da Igreja, Pierrand Pierre. Ed. Pauli-
demais opções humanas e religiosas estão pre- nas.
sentes as “sementes do verbo”.
- O missionário, no respeito das demais • História da Igreja católica, Vários. Ed. Loyola
crenças, esclarece as razões de sua esperança e
não cansa de anunciar o Evangelho, Palavra viva • História da Igreja, Martina Giacomo. Ed Loyola
de Jesus, Filho de Deus feito homem, morto e res-
suscitado, que oferece a salvação a todos como • 500 anos de História da Igreja na América La-
dom da graça e da misericórdia do Pai, sente-se tina. Ed. Paulinas - Cehila
parte de um povo que caminha dócil ao Espírito
Santo, lutando por um mundo mais justo e frater- • História da Igreja no Brasil, Vários Ed. Paulinas
no, rumo ao Reino definitivo. - Vozes - Cehila
Catedral
de Rio Branco
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Espiritismo
Marconi Gomes,
Presidente da Federação Espírita do Estado do Acre
Allan Kardec
Primeira Cartilha da Diversidade Religiosa
no-lo mostra, não mais como coisa sobrenatural, Deus é imaterial; quer dizer, sua natureza
porém, ao contrário, como uma das forças vivas difere de tudo o que chamamos matéria, de outro
e sem cessar atuantes na Natureza, como a fonte modo ele não seria imutável, porque estaria sujeito
de uma imensidade de fenômenos até hoje incom- às transformações da matéria.
preendidos e, por isso, relegados para o domínio Deus é único; se houvesse vários deuses,
do fantástico e do maravilhoso. não haveria unidade de vistas, nem unidade de po-
Essencialmente o objeto primeiro do Espi- der no ordenamento do Universo.
ritismo consiste em contribuir com o aprimora- Deus é todo-poderoso; porque é único. Se
mento moral do homem, resultante da observação não tivesse o soberano poder, haveria alguma coi-
das relações entre o mundo espiritual e o mundo sa mais poderosa ou tão poderosa quanto ele; não
material. teria feito todas as coisas, e as que não tivessem
Portanto, o Espiritismo alia ciência e filoso- feito seriam obras de um outro deus.
fia a serviço da religião, que é justamente o aspec- Deus é soberanamente justo e bom. A sa-
to que liga o ser humano à divindade. bedoria providencial das leis divinas se revela nas
O Espiritismo é uma doutrina filosófica de menores coisas, como nas maiores, e essa sabe-
efeitos religiosos, como qualquer filosofia espiri- doria não permite duvidar da sua justiça, nem da
tualista. sua bondade.
Imortalidade da Alma
Princípios Básicos Os Espíritos são os seres inteligentes da
Criação. Constituem um mundo a parte, o mundo
Como toda doutrina filosófica, o Espiritismo dos Espíritos, o qual preexiste e sobrevive a tudo.
tem seus princípios básicos que são os alicerces São as almas dos que viveram na Terra ou nas
da Doutrina Espírita: A Crença em Deus; A Imor- outras esferas do Universo. Geralmente fazemos
talidade da alma; A Reencarnação; A Pluralidade dos Espíritos uma ideia completamente falsa; eles
dos mundos habitados; A Comunicabilidade dos não são, como muitos imaginam, seres abstratos,
Espíritos. vagos e indefinidos; são, ao contrário, seres muito
reais, com sua individualidade e uma forma deter-
A Crença em Deus minada.
A necessidade da crença em Deus está, ins- São seres semelhantes a nós, ou seja, são
tintivamente, alojada na mente humana, e decorre a nossa realidade após a morte do corpo físico.
do axioma [certeza] científico de que não há efeito Os Espíritos estão por toda parte no espaço e ao
sem causa. Para crer-se em Deus, basta que se nosso lado, vendo-nos e acompanhando-nos de
lance o olhar sobre as obras da Criação; o Univer- contínuo. Atuam sobre a matéria e sobre o nosso
so existe, logo tem uma causa. Para o Espiritismo pensamento e constituem uma das potências da
Deus é a inteligência suprema, causa primária de Natureza e instrumentos de que se vale Deus para
todas as coisas. A inferioridade das faculdades do realizar sua providência.
homem não lhe permite compreender a natureza Na condição de seres imortais, o ser hu-
intima de Deus, no entanto, é importante entender mano caminha para a compreensão de que a vida
alguns de seus atributos para uma melhor concep- pulsa além da dimensão material da nossa exis-
ção da Divindade: tência terrena. Ou seja, além do mundo corporal,
Deus é eterno; se ele tivesse tido um co- habitação dos Espíritos encarnados, que são os
meço, teria saído do nada, ou teria sido criado, homens, existe o mundo espiritual, habitação dos
ele mesmo por um ser anterior. É assim que, de Espíritos desencarnados.
degrau em degrau, remontamos ao infinito e à A ideia de existência de vida além deste mun-
eternidade. do é confirmada por Jesus ao afirmar que “(...) o
Deus é imutável; se estivesse sujeito às mu- meu reino não é deste mundo” (João, 18:36).
danças, as leis que regem o Universo não teriam
nenhuma estabilidade.
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Chico Xavier
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Bibliografia
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Nossa
Contribuição
para uma
Cultura de Paz
Hildo Cezar Freire Montysuma
Pedágogo
sobre o mesmo tema, neste caso, sobre Deus, o
Esta Cartilha que hora chega às mãos de homem e sua relação com o sagrado. Cabe, pri-
professores e alunos é fruto de uma iniciativa meiramente ao indivíduo, e depois a família, de-
do Instituto Ecumênico – Fé e Política. Feito este terminar qual o caminho a trilhar na busca de sua
que não teria se realizado sem o esforço conjunto satisfação espiritual e a escola deve respeitar as
da Secretaria de Estado de Educação e Esporte escolhas de cada um. A escola não pode e não
– SEE, Conselho Estadual de Educação – CEE e deve se colocar no papel das igrejas e nem os pro-
autoridades eclesiásticas das diversas denomina- fessores no de sacerdotes.
ções religiosas do Estado do Acre. É, portanto, Este material, que a partir deste momento a
uma obra coletiva, o que lhe confere maior densi- comunidade educacional disporá, é rico e instruti-
dade e credibilidade. vo e se propõe a ser um instrumento a mais para
Os textos que oferecemos a professores e auxiliar os abnegados professores que abraçaram
alunos, a visão de Deus e de homem, bem como o desafio de construir o ensino religioso no Acre,
a relação entre ambos na perspectiva de Cristãos e que, na maioria das circunstâncias, não dispõe
Católicos, Protestantes, Espíritas, Religiões de dos recursos pedagógicos necessários e adequa-
Matrizes Africanas (Candomblé e Umbanda), bem dos para melhor cumprir sua missão. Aos alunos,
como as comunidades que utilizam a ayahuasca servirá como fonte de pesquisas e enriquecimento
em rituais religiosos, representadas pelas princi- das aulas.
pais linhas (Mestre Irineu, Mestre Daniel e Mestre Porém, não se trata de um projeto acabado.
Gabriel). A revista é, digamos assim, a peça mais importan-
Este esforço é por um lado, fruto do amadu- te de um “quebra cabeça” pedagógico que, para
recimento de sacerdotes e sacerdotisas de nosso se completar, precisa do encaixe de duas outras
Estado no sentido do ecumenismo e da constru- grandes peças fundamentais, quais sejam: 1.
ção de uma cultura de paz. Por outro, responde Construção de atividades práticas, exercícios di-
a uma antiga demanda social, pelo oferecimento, dáticos, roteiros de pesquisas e aprofundamento
por parte do sistema público de educação, de um dos estudos; 2. Capacitação continuada aos pro-
projeto de ensino religioso que extrapole os limi- fessores, para que possam explorar, em toda sua
tes estreitos da “catequização”, que não atende a plenitude, as possibilidades que este instrumento
diversidade cultural e espiritual de nosso povo e oferece, um desafio para nossas instituições de
que, ao invés de educar, constrange e exclui. nível superior. Estas duas outras peças só poderão
O Instituto Ecumênico Fé e Política acredita ser construídas com a participação ativa dos pro-
que a catequização e o doutrinamento religioso só fessores e gestores educacionais, sem os quais,
cabem aos sacerdotes e sacerdotisas e em luga- proposta pedagógica nenhuma ganha vida no inte-
res apropriados: os templos religiosos. O papel rior das escolas.
das escolas e dos professores é outro: ensinar
às novas gerações os diversos pontos de vistas Bom estudo a todos!
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Conclusão
A Escola Pública diante de um desafio
Esta Cartilha de natureza informativa é fruto O que se pretende com esta Cartilha?
do trabalho coletivo de um grupo de pessoas que Nada mais e nada menos que informar, a partir
integram o Instituto Ecumênico, das mais diversas dos agentes que compõem cada tradição espiri-
crenças e tradições religiosas. A síntese constru- tual, sem distorções e sem outros intermediários.
ída no seio de cada uma das denominações não Assim, lideranças religiosas de cada denominação
foi nada fácil, envolvendo quase quarenta pesso- deixaram nestas páginas um pouco de sua história
as e diversas instituições, transformando-se num e de suas crenças.
verdadeiro parto para o nascimento de um novo Nestas histórias temos em comum a
momento na história de nosso tempo, refletindo a identidade da construção social e a identidade
identidade de cada tradição espiritual e ao mesmo na caminhada para Deus. O atendimento aos ne-
tempo, a unidade coletiva fundada nos valores da cessitados, a caridade, o testemunho da salvação
democracia, da paz e da convivência harmoniosa espiritual, o ensinamento sobre o amor a Deus e
no respeito aos direitos humanos e à diversidade ao próximo são elementos presentes em todas as
cultural e religiosa. denominações aqui apresentadas. Verdades estas
Isto, porém, somente se tornou possível que são incompatíveis com qualquer tipo de into-
graças ao trabalho pioneiro do Fórum de Pro- lerância.
fessores do Ensino Religioso que, há anos, vem O que esperar da Escola Pública? Que ela
reunindo representantes católicos, protestantes, seja o espaço democrático e pluralista, uma trin-
espíritas e de outras expressões de fé, iniciando cheira contra todo o tipo de preconceito, discri-
o aprendizado da cultura da diversidade religiosa minação e de fundamentalismo mesmo religioso,
e que hoje, com o aval da Secretaria de Estado da pois, muitos são os caminhos de Deus.
Educação e Esporte, materializou esta importan-
te iniciativa do Instituto Ecumênico Fé e Política-
Acre.
79
Sede misericordiosos como vosso Pai é miseri-
cordioso; não vos erijais em juízos e não sereis julga-
dos, não condeneis e não sereis condenados, absolvei
e sereis absolvidos, dai e haverá quem vos dê.
É uma boa medida, socada, sacudida, transbor-
dante que derramarão nas dobras da vossa veste, pois
a medida que vos servis, servirá também de medida
para vós.
Lucas 6, 36-38