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Questões de forma
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eia por assim dizer incontestável 14 . Contudo, esta solidez sem bre-
cha, tão peculiar, resulta da incorporação simultânea de perspec-
tivas sociais antagônicas, e não, como parece, da supressão de-
las. É sabido que a impassibilidade flaubertiana se alimenta de
isenção científica, mas também de ódio ao burguês e, em igual
dose, de desprezo pela impotência do mesmo ódio. Sumariamen-
te, quanto ao conteúdo de classe deste amálgama, note-se nele a
presença silenciosa do "quarto estado": ao desdém pelo cálculo
utilitário, tradicional no aristocratismo romântico, acrescentou-
se o horror - moderno pelo substrato - a certa selvageria de
proprietário, selvageria cuja relevância viera à luz na repressão ao
campo popular em 48 (o que não impede que já antes disso im-
pregnasse o halo conotativo da linguagem).
Seja como for, entre os pressupostos do novo dispositivo lite-
rdrio está a fallncia de idéias ou intenções consideradas em abstra-
to. Flaubert desenvolvera uma arte minuciosíssima do enredo,
14 A esrranheu causada por Madame Bovary e pela nova técnica pode ser
observada no comenrário crítico de Duranry, ironicamenrc um dos paladinos do
Realismo. "Dizem que a feirura do livro levou muiros anos. Com efeito, a enume-
ração dos detalhes se faz um a um, sem distinção de valor. Não há emoção nem
senrimenro nem vida nesre romance, e sim uma grande força de arirmérico, que
examinou e reuniu rudo que pudesse existir de gestos, passos ou acidenres geográ-
ficos em dados personagens, acontecimentos e regiões. O livro é uma aplicação
literária do cálculo de probabilidades ... O estilo rcm as feições desiguais próprias a
um homem que - arrisricamenre e sem senrir - escreve ora pasriches, ora liris-
mos, mas nada de pessoal. Eu repito: sempre dl"Scriçáo marerial, nunca impres-
são. Me parece inútil examinar o pomo de visra da própria obra. à qual os defeitos
precedenres riram qualquer inrcresse. Ames da publicação acredirava-se que oro-
mance fosse melhor. Muito esrudo não subsrirui a esponraneidade, que vem do
senrimenro." Citado em René Dumesnil, le Réalisme et /e Naturalisme, Paris, dei
Duca e de Gigord, 1955, p. 31.
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15 Para uma análise atenta a estes modos de composição, ver o capítulo so-
bre Flaubert do mesmo Oehler, em Ein Hollmsturz der Alten Welt.
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19 MPBC. p. 116.
20 MPBC. p. UO.
21 MPBC, p. 129.
21 MPBC. caps. X e XI.
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chadianas a falta do indispensável odor di femmina, falta natural, visto ser o escri-
tor urw"asceta dos livros e retraído ao gabinete". Obra critica, vol. II, Rio de Ja-
neiro, Casa di: Rui Barbosa, 1960, p. 294. A propósito da~ prostituta~ pintadas
pelo modernista Di Cavalcanci, Gilda de Mello e Souza nota outro momento do
mesmo padrão de pujança, onde confluem a brutalidade patriarcal, a temática
naturalista e o sentimento nacional, que serve de álibi e glorificação ao resto. Ver,
da Autora, Exercícios de leitura, São Paulo, Duas Cidades, 1980, p. 274.
29 Antonio Candido, "Esquema de Machado de Assis", in Vários escritos, São
Paulo, Duas Cidades, 1995. pp. 21-2.
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rior, digamos que pela sua compleição formal o Brás Cubas não
se acomodava ao pacto histórico de nacionalismo, ilustração e
elite, e mais, lhe expunha a dimensão ideológica e os funciona-
mentos classistas (ainda que sem denominá-los, isto é, sem obrigar
ao seu reconhecimento).
Levada em conta a modéstia do romance brasileiro até en-
tão, o número e a agilidade das referências cultas invocadas nas
Memórias, particularmente nos capítulos de abertura, cem algo
de uma entrada triunfal. Aí escava um escritor muito mais armado
que seus contemporâneos e predecessores, e interessado aliás em
assinalar isso mesmo. Uma distância comparável repete-se no
interior do próprio livro, separando o espaço atualizado e uni-
versal, onde evolui e argumenta o narrador, do espaço restrito das
anedotas com sabor localisra. Digamos que o desequilíbrio es-
tético trazia para o plano da forma uma tensão histórica existen-
te. - Do ângulo da composição, e à primeira vista, a desarmo-
nia ocasiona um certo esvaziamento dos dois pólos. Encontran-
do pouca sustentação na órbita da fábula, a atividade reflexiva
adquire algo gratuito, que autoriza o leitor a perguntar, em ex-
pressões do próprio Brás, "se o capítulo passado [de pseudofilo-
sofia acintosa] é apenas uma sensaboria ou se chega a empu-
lhação"31. Ao passo que os episódios de intriga, irônica e arbi-
trariamente erguidos a suporte de indagações "superiores", e des-
vinculados assim do contexto prático, ficam privados de signifi-
cação imanente. A sua relevância passa a ser o produto - força-
do - 'das complacências especulativas do narrador. O apeque-
namento das personagens, que a despeito da motivação rebus-
cada freqüentemente dão a impressão de bonecos, prende-se a
esta função meramente ilustrativa, à infinita distância que as se-
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_1 2 MPRC, p. 196.
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33 MPBC. p. 280.
·14 Mf>BC. p. 301.
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.% MPBC p. 276.
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37 ltkm.
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41 MPBC, p. 214.
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com uma compreensão igualmente profunda <las estruturas sociais, que funcio-
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nam em sua obra com[ ... ] imanência poderosa[ ... ]." Amonio Candido, "Esque-
ma de: Machado de Assis", in Vários e.f<'ritos, pp. j7-8.
4' Cana a J. Weydemeyer. de 05/03/ l 852.
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