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23 de outubro de 2022
O discipulado e a via da humildade.
1. Situando-nos
A justiça de Deus, à diferença da que é comumente praticada pelos
seres humanos, nunca se deixa corromper e jamais se deixa comprar
com ações cultuais, ainda que bem feitas e esplendorosas. O que conta
é a intenção da mente e do coração; não adianta não se vangloriar de
suas ações, ainda que pautadas na sua Lei, mas demonstrar-se incapaz
de olhar para o mais necessitado.
A Primeira Leitura (Eclo 35,15b-17.20-22a) apresenta o Senhor
Deus como justo juiz. Dado singular, visto que provém de um escrito
de índole sapiencial. Sem dúvida, atesta uma adequada reflexão sobre
a Torá. O dado central e inabalável encontra-se na certeza de que Deus
não faz acepção de pessoas, mas não despreza o mais fraco que somente
nele coloca a sua confiança, sabendo reconhecer as suas limitações e
pecados, certo de que nada lhe escapa. A viúva, o órfão e o estrangeiro
são os típicos representantes dos mais humildes, porque são, segundo
a lógica da Sagrada Escritura, os dependentes de Deus.
A Segunda Leitura (2Tm 4,6-8.16-18) também pode ser lida
sob a ótica da primeira. As condições de vida do Apóstolo Paulo
são deploráveis, mas atestam a grande transformação que começou
a ocorrer desde a sua conversão a Jesus ressuscitado, aceitando-o
como o Cristo de Deus. A partir disso, começou a viver somente do
Evangelho, graça que deu total sentido à sua vocação e missão. Se tem
2. Recordando a Palavra
Na Primeira Leitura aparece, claramente, a firme convicção do
sábio de que Deus não pode ser comprado nem se deixa corromper
pelos sacrifícios que lhe são oferecidos. Deus não se deixa enganar
pela opulência de nossas orações. Essa convicção prenuncia o que Jesus
disse à mulher samaritana: os adoradores autênticos de Deus são os
que o cultuam em espírito e em verdade. Para o sábio, o dependente
de Deus – órfão, viúva e estrangeiro – adora a Deus em verdade, pois
sabe que é vão colocar a sua confiança nos poderosos. Assim, se existe
uma oração que “adentra” nos Céus é a que é feita pelo humilde, isto é,
por quem reconhece a sua própria condição e não se vangloria diante
de Deus. Em sua pobreza, é capaz de cultuar a Deus com a própria
vida. Por isso, o sábio afirma que a oração dessas pessoas é ouvida, pois
Deus é justo e sempre disposto a salvar quem a Ele se confia.
Na Segunda Leitura, a humildade do Apóstolo Paulo é um
autêntico testemunho de fé. No centro da sua fala não está o que
foi capaz de fazer pela graça de Deus, mas está o próprio Deus que,
por meio dele, tudo fez em função da proclamação da mensagem do
Evangelho aos pagãos. Como um soldado que sobreviveu a inúmeras
3. Atualizando a Palavra
A temática proposta pelas leituras é bem clara: a oração deve ser
feita com humildade. Não deve ser entendida somente como condição
de vida exterior, mas fluir do interior como um modo concreto de se
comportar diante de Deus e do próximo. Pela forma como alguém
reza, é possível dizer algo sobre a própria identidade religiosa.
Reconhecer diante de Deus as próprias misérias e necessidades é a
condição indispensável para vencer a tentação do mérito que, a todo
custo, busca tirar vantagens de Deus em suas adversidades.
Sendo assim, a oração revela a consciência que cada fiel possui não
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