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SBPJor

– Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo


VIII Encontro Nacional de Jovens Pesquisadores em Jornalismo (JPJOR)
FIAM-FAAM / Anhembi Morumbi – São Paulo – 7 a 9 de Novembro de 2018
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Jornalismo de Dados: a importância da apresentação
gráfica na interpretação dos dados

Gabriela Güllich1
Fabiana Siqueira2

Universidade Federal da Paraíba

Resumo: O presente artigo tem por finalidade estudar a importância da apresentação gráfica
dentro de reportagens de Jornalismo de Dados. Para realizar isso, procuramos compreender o
papel dos sistemas de visualização (gráficos e infográficos) dentro do Jornalismo de Dados e
como estão inseridos dentro da dimensão comunicativa. Realizamos também uma análise de
conteúdo de duas reportagens da BBC Brasil, que utilizaram sistemas de visualização. Utiliza-
mos como categorias de análise as cores escolhidas e a distribuição da informação. Chegamos
ao entendimento de que a dimensão comunicativa em uma reportagem de Jornalismo de Dados
deve ser elaborada com cautela, tendo como perspectiva sempre a visão do leitor, pois do con-
trário pode dificultar e/ou distorcer o entendimento dos dados ao invés de facilitar.

Palavras-chave: Jornalismo de Dados; visualização gráfica; dimensão comunicativa; BBC Bra-


sil.

1. Introdução ao Jornalismo de Dados

O Jornalismo de Dados não é algo novo. O primeiro registro que se tem conheci-
mento em um veículo de comunicação é do The Guardian. Em 1821, no jornal impresso
foi publicada uma tabela com informações sobre a área de educação, que demonstravam

1
Estudante de Graduação 6º. Semestre do Curso de Jornalismo da Universidade Federal da Paraíba
(UFPB). E-mail: gabrielagullich@hotmail.com.
2
Orientadora do trabalho. Professora do Curso de Jornalismo da Universidade Federal da Paraíba
(UFPB). Doutora em Comunicação pela Universidade Federal de Pernambuco, com doutorado sanduíche
pela Universidad Complutense de Madrid. E-mail: fabiana_s@yahoo.com.

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o acesso gratuito ao ensino em uma cidade britânica (GRAY; BOUNEGRU; CHAM-
BERS, 2012).
Na época, não havia o entendimento de que isso se tratava de Jornalismo de Da-
dos (JD), pois o termo passou a ser empregado com mais ênfase nos últimos dez anos.
Na atualidade, os dados são usados como complemento, prova e/ou como o tema central
das notícias.
As técnicas de produção de reportagem presentes no JD incorporam várias carac-
terísticas presentes no jornalismo tradicional, como a checagem de fontes, a pesquisa
bibliográfica, entrevistas de campo e/ou via plataformas (incluindo aqui entrevistas fei-
tas via redes sociais, telefonemas e/ou videochamadas), investigação e apuração de fa-
tos, entre outras.
De acordo com Mancini e Vasconcellos (2016), dependendo da forma como os
dados são utilizados nessas reportagens, há diferentes classificações.

Há uma diferença, a nosso ver, entre reportagens COM e reportagens DE da-


dos. Enquanto o primeiro contemplaria reportagens que se apropriam de da-
dos de forma ilustrativa, no segundo caso, os dados seriam a própria razão da
reportagem. No primeiro caso, o dado quantitativo teria o papel de auxiliar a
ilustrar uma reportagem; no segundo, o dado seria o próprio fundamento da
pauta e a história das relações entre os dados conduziria, neste caso, a repor-
tagem (MANCINI; VASCONCELLOS, 2016, p. 75).

Os dados não são necessariamente números. Podem ser documentos ou ferra-


mentas, como explicam Gray, Bounegru e Chambers (2012):

Os dados podem ser a fonte do jornalismo de dados, ou podem ser as ferra-


mentas com as quais uma notícia é contada — ou ambos. Como qualquer fon-
te, devem ser tratados com ceticismo; e como qualquer ferramenta, temos de
ser conscientes sobre como eles podem moldar e restringir as reportagens que
nós criamos com eles (GRAY; BOUNEGRU; CHAMBERS, 2012, p. 9).

No Brasil, o JD é usado em reportagens investigativas para denunciar situações de


má gestão de recursos públicos, para monitorar as ações suspeitas de políticos, para
acompanhar índices de desemprego, trabalho infantil, mortalidade, violência e outros
temas. De certa forma, também está vinculado ao chamado Big Data, nomenclatura

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usada para definir um grande conjunto de dados armazenados e que envolve volume,
velocidade, variedade, valor e veracidade de informações.
Como esse “volume de dados brutos como fonte de informação” ganhou propor-
ções maiores ao longo dos anos, tornou-se necessário criar um conceito que fosse capaz
de definir esse uso, e é nesse contexto que surge a denominação dessa atividade como
Jornalismo de Dados.
Existe toda uma preocupação ao trabalhar dados, documentos e estatísticas em
uma reportagem. No JD, os números apontados não são citados por acaso, e a forma
com que eles são apresentados interfere diretamente na compreensão de quem for ter
acesso à notícia. Na internet ou nos veículos impressos, “não são meros gráficos a ocu-
par um espaço na página, são gráficos que contam parte da história apresentada na pági-
na” (MANCINI; VASCONCELLOS, 2016).
Neste trabalho, o nosso objetivo foi justamente apontar a visualização gráfica co-
mo aspecto fundamental da interpretação dos dados pelo leitor, mostrando como o uso
das cores e do próprio tipo de gráfico pode interferir na informação. Sendo assim, con-
sideramos os gráficos e tabelas que carregam os dados como parte fundamental da nar-
rativa. Levando em conta isso, estudamos a importância da visualização gráfica no Jor-
nalismo de Dados.

2. Trabalhando a informação na Dimensão Comunicativa

Um número solto, por si só, dentro de uma notícia, não representa muito. É papel
do jornalista de dados procurar a informação, filtrar a relevância dos dados recolhidos,
interpretá-los e, por fim, transmiti-los de forma clara. Para fazer o Jornalismo de Dados,
Colussi e Gomes-Franco (2017) afirmam que “o jornalista profissional é quem deve
transformá-los em uma narrativa sólida e, ao mesmo tempo, estruturada, acessível e
intuitiva”. As mesmas autoras ressaltam que “apesar do avanço tecnológico, o fator
humano, capaz de oferecer diversas leituras dos dados brutos com uma abordagem in-
terpretativa, continua sendo insubstituível” (COLUSSI; GOMES-FRANCO, 2017).
Com isso, fica clara a importância de ter, além da tecnologia, um profissional que
saiba como utilizá-la afim de não desperdiçar o potencial jornalístico que a mesma ofe-

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rece. Como comunicadores, os jornalistas precisam levar em consideração que uma re-
portagem só é realmente bem aproveitada quando o público consegue compreender a
ideia que se tenta passar. Afinal, para quem é feito o trabalho do jornalista? De que ser-
ve comunicar algo que não passa clareza? É preciso atentar para o fato de que em tem-
pos de instantaneidade e velocidade de informação, o público carece cada vez mais de
conteúdos jornalísticos que chamem a atenção e que apresentem leitura de fácil acesso e
com informações completas.
Nesse sentido, primeiramente precisamos entender em qual das dimensões do JD
a apresentação da informação se encaixa. Usaremos aqui, a identificação elaborada por
Mancini e Vasconcellos (2017):

A nosso ver, uma forma de melhor entender o que é e como se faz JD é cons-
truir uma matriz que leve em consideração três dimensões, que dizem respei-
to às competências que o jornalismo pode ou não adotar: a dimensão investi-
gativa (atuação proativa na busca de dados e revelações), a interpretativa (ca-
pacidade ou interesse em expor relações de causas ou consequências entre os
dados) e a dimensão comunicativa (a centralidade da visualização do dado,
compreendido aqui como um componente que ajuda o leitor a entender por
imagens as relações entre os dados) (MANCINI; VASCONCELLOS, 2016,
p. 81).

A etapa de busca e coleta de dados está presente na dimensão investigativa, en-


quanto a discussão da relevância dos dados recolhidos e da relação estabelecida entre
eles cabe à dimensão interpretativa. Sendo assim, é na dimensão comunicativa onde o
jornalista vai trabalhar os dados, pensando na apresentação das informações, ou seja, é
quando vai colocar isso em prática na etapa de escolha dos gráficos, cores, seleção de
ícones, montagem de infográficos e elaboração de demais elementos presentes na parte
de visualização da reportagem.
Como demonstrado anteriormente, o JD utiliza dados coletados para transformar
informações em conteúdo visual jornalístico. Para Lima (2015) “o objetivo da infografia
não é apenas tornar a informação mais atrativa, mas auxiliar o leitor a compreender algo
que, comunicado de outra maneira, poderia ser complexo demais”. Para elaborar a Di-
mensão Comunicativa de uma reportagem de dados, o jornalista precisa ter o conheci-
mento das ferramentas que facilitam esse processo.

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Neste sentido, atentamos para o fato de que um gráfico visualmente mal elaborado
não implica, necessariamente, em uma reportagem de conteúdo ruim. No entanto, a in-
terpretação dos fatos, bem como a atenção do leitor para o assunto está voltada para
além do conteúdo: a estética é um fator importante nesse processo.
Paschoarelli, Campos e Santos (2015) argumentam que a estética “não afeta ape-
nas a percepção visual, mas também pode proporcionar a sensação de prazer, conforto,
bem-estar, alegria e satisfação”. Todas essas sensações são fatores que influenciam a
leitura, fazendo com que o leitor não só entenda o texto, mas tenha uma experiência
agradável interpretando a informação.
Como apresentado, não existe um gráfico “melhor” que os outros. Cada gráfico
tem sua função e é papel do responsável por codificar os dados escolher, dentre as di-
versas opções, aquela que traduz a informação de maneira clara ao público.
É importante lembrar que, como afirma Cairo (2015), “gráficos, mapas e diagra-
mas não mentem. As pessoas que elaboram gráficos, sim.”. Ao ter conhecimento da
utilização de diferentes gráfico e como cada um apresenta a informação, o jornalista
precisa optar por aquele que tem uma relação direta e precisa com a notícia que se pre-
tende transmitir, sem manipulações, agindo com ética na execução da informação visu-
al.
Para o referido autor, os pré-requisitos do que não fazer ao trabalhar gráficos são:
esconder dados relevantes, disponibilizar dados em excesso para distorcer a realidade e
usar gráficos de formas inapropriadas. Tudo isso confunde o público e leva a interpreta-
ções distorcidas dos fatos.
Os gráficos podem ser apresentados como imagens anexadas à reportagem ou
como parte da composição de infográficos – representação que une elementos gráfico-
visuais. Comumente, as primeiras opções de construção de gráficos que se pode utilizar
vêm de programas conhecidos, como: Excel, Powerpoint e o próprio Word. No entanto,
tais programas são muito limitados, o que não permite tanta inovação na apresentação
de conteúdo. Tanto gráficos como infográficos podem ser produzidos em ferramentas
online gratuitas, de fácil acesso e, principalmente, de didática simples e intuitiva, como
por exemplo, os programas Infogram, Piktochart e Easel.ly.

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Como explicam Colussi e Gomes-Franco (2017), “é evidente que o Big Data pro-
porciona infinitas possibilidades de informação, tornando imprescindível o papel do
profissional que realiza a filtração, o tratamento e a interpretação dos dados”. Com tan-
tas opções a serem exploradas, cabe ao jornalista de dados – ou ao profissional envolvi-
do no processo – definir como e qual ferramenta utilizar.

3. A análise de conteúdo da BBC

Para estudar a importância da visualização gráfica no Jornalismo de Dados, opta-


mos por fazer uma análise de conteúdo (BARDIN, 2011) de sistemas de visualização
publicados em duas reportagens da BBC3, por ser um veículo de circulação mundial que
também possui certa relevância no Brasil.
Analisamos os sistemas de visualização levando em consideração as seguintes ca-
tegorias: cores escolhidas (sem abordar aspectos como psicologia das cores ou semióti-
ca, apenas observando como as cores da imagem trabalham na composição final do grá-
fico) e distribuição da informação. O critério para a escolha das reportagens foi baseado
no uso de gráficos e também de cores nos sistemas de visualização.
O primeiro material analisado vem da reportagem “50 anos após assassinato de
Martin Luther King, qual é a cor do Congresso dos EUA?”4, publicada em abril de 2018
na BBC Brasil, em referência aos 50 anos do assassinato de um dos maiores líderes po-
líticos dos Estados Unidos.
A reportagem faz um balanço da representatividade no que tange à composição
étnico-racial do Congresso dos EUA desde a morte Martin Luther King até 2017. A
primeira imagem (Figura 1) demonstra, através de um gráfico de colunas, o que mudou
na composição racial e étnica do Senado dos EUA da década de 1960 até 2017.

3
British Broadcasting Corporation, emissora pública do Reino Unido, fundada em 1922.
4
Reportagem publicada na BBC Brasil em abril de 2018. Disponível em:
<https://www.bbc.com/portuguese/internacional-43631774>.

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Figura 1: O primeiro gráfico da reportagem demonstra a composição racial e ética do Senado dos EUA.
Fonte: BBC Brasil (2018)

O gráfico divide a composição em tons de azul para as seguintes categorias: bran-


cos/caucasianos, nativos americanos, hispano-americanos, afro-americanos e asiáticos
americanos. No entanto, a informação não fica clara. O jogo de cores degradê em um
gráfico de colunas pode facilmente confundir o leitor, fazendo com que seja difícil dis-
tinguir os valores de cada categoria.
Giannella (2014) define a visualização da informação como “um processo cujo
objetivo é facilitar a compreensão de uma grande quantidade de dados”. Sendo assim, é
preciso atentar para todos os detalhes que fazem parte desse processo e, ao elaborar uma
reportagem de dados, faz-se necessário pensar nas seguintes questões: o que os dados
representam? O que pode ser extraído dessa informação? Qual a melhor maneira de
traduzi-la visualmente? Quais cores usar? Que tipos de gráficos podem ser utilizados?
Nesse caso, a mesma reportagem traz outra maneira mais eficiente de trabalhar a
informação em tons degradê, utilizando outro recurso: o mapa. Esse segundo exemplo
(Figura 2), traz o mapa dos Estados Unidos dividido por estados e o degradê foi utili-
zado para representar a escala de negros e minorias étnicas nas legislaturas estaduais. Os
tons mais claros foram utilizados para os estados com menos representatividade e, os
mais escuros, para os estados com mais representatividade.
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Figura 2: O infográfico do mapa dos EUA apresenta os estados com menos e com mais representativida-
de étnico-racial nas legislaturas estaduais. Fonte: BBC Brasil (2018)

O mapa tem uma área maior e também uma diferenciação mais distinta, pois os
estados são separados por uma linha de contorno preta, deixando o limite entre os tons
de azul mais definidos. Isso acaba apresentando a informação de forma mais clara do
que no gráfico da Figura 1, tornando-se visualmente mais compreensível e traduzindo a
informação de forma mais eficaz.
A segunda reportagem selecionada é de 2015 e diz respeito à busca por refúgio
em países europeus. Intitulada “Refugiados na Europa: a crise em mapas e gráficos”5, a
matéria traz dados dos países da Europa mais procurados por refugiados, nacionalidade
das pessoas acolhidas e quantidade de mortes ocasionadas por migrações arriscadas. O
primeiro sistema de visualização apresentado na Figura 3 traz informações da Força
Externa de Fronteira Europeia, a Frontex, sobre a nacionalidade dos migrantes.

5
Reportagem publicada na BBC Brasil em setembro de 2015. Disponível em:
<https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/09/150904_graficos_imigracao_europa_rm>.

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Figura 3: O infográfico mostra de onde saíram os migrantes refugiados em 2014/15 e suas principais
nações de origem. Fonte: BBC Brasil (2015)

As localidades apontadas foram divididas através de três gráficos de pizza: Medi-


terrâneo Central em tons de vermelho, Leste do Mediterrâneo em tons de verde e Oeste
dos Bálcãs em tons de rosa. O degradê, neste caso, utilizado na diferenciação das nações
presentes em cada uma das localidades, não afetou a interpretação da informação. As
cores de cada gráfico foram dividas em três tons: escuro, mediano e claro, com uma
transição mais marcada, diferente do gráfico apresentado na Figura 1, na qual a dife-
renciação entre cada tom de azul deixava certa confusão visual na organização da in-
formação.
Nesta mesma reportagem sobre os refugiados foi mostrada outra situação. A Fi-
gura 4 traz a quantidade de mortes no Mediterrâneo por rota de migração, misturando
um gráfico de barras representando o ano de 2014 e outro representando o ano de 2015.
Abaixo, o mapa esclarece o que cada cor representa, indicando as rotas por setas. Os
dados são foram retirados da Frontex e da Organização Internacional de Migração
(IOM).

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Figura 4: Os gráficos de barras representam a quantidade de mortes no Mediterrâneo e o mapa aponta as


rotas de migração. Fonte: BBC Brasil (2015)

Dentro do infográfico, o gráfico de barra de 2014 traz as cores das rotas de manei-
ra bem separada: vermelho para o Mediterrâneo Central, verde para Apulia e Calábria,
roxo para o Mediterrâneo Oriental e azul para o Mediterrâneo Ocidental. Já o gráfico de
2015 tem definido com clareza apenas a barra vermelha do Mediterrâneo Central e a
roxa do Oriental. África Ocidental e Mediterrâneo Ocidental são apenas uma linha do
gráfico, o que confunde a interpretação e deixa aberto para questionamentos: as duas
localidades apresentaram o mesmo número de mortes? O que diferencia um resultado
do outro? Em 2015 não houve morte alguma na rota de migração vinda de Apulia e Ca-
lábria? Apesar do gráfico apresentar cores bem distintas, o que facilita a diferenciação, a
informação ficou confusa em relação aos dados. Ou seja, pouco espaço para muita in-
formação.
Com os quatro exemplos analisados, percebemos que cada sistema de visualiza-
ção apresenta uma característica diferente na comunicação visual, e a paleta de cores

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também é um fator importante na organização. Testar as diferentes ferramentas de visu-
alização gráfica requer tempo e esforço e, apesar de todo o tempo gasto com esse tipo
de trabalho jornalístico, Martinho (2014) argumenta que “o valor do trabalho aumenta à
medida que se torna mais inteligível para o público, porque esse é um dos fins últimos
dos jornalistas, descodificar a informação para que seja compreendida pelo público”.

4. Considerações finais

Ao pensarmos dados e estatísticas como a pauta de uma reportagem – ou como


fonte de uma matéria, como vimos anteriormente há a diferenciação entre Jornalismo de
Dados e Jornalismo com dados –, é preciso levar em consideração que a tarefa de tradu-
zir esses dados para o leitor vai muito além da organização textual. A estética, isto é, a
apresentação dos gráficos – considerada aqui como visualização gráfica, interfere dire-
tamente na interpretação dos dados. Um sistema de visualização que contém muitas
informações, com cores destoantes e muitos números deixa a informação confusa, dis-
persando o leitor do assunto e voltando sua atenção para a falta de organização do con-
teúdo.
Neste artigo, percebemos que cada informação tem a sua maneira de ser apresen-
tada. Não há um gráfico que se sobressaia aos demais, mas cada gráfico ou infográfico
tem suas funções específicas e precisa ser adaptado de acordo com os dados disponí-
veis. Também entendemos que não há uma paleta de cores única que funcione para to-
dos os recursos visuais. Vimos que, na reportagem “50 anos após o assassinato de Mar-
tin Luther King, qual é a cor do Congresso dos EUA?”, a paleta degradê em tons de azul
funcionou muito bem quando colocada no infográfico do mapa dos Estados Unidos,
presente na Figura 2, mas, quando utilizada no gráfico de colunas da Figura 1, deixou
a informação confusa.
Acreditamos que a Dimensão Comunicativa de uma reportagem de dados deve ser
elaborada cautelosamente, sempre tendo em vista a visão do leitor: ela deve ser clara,
objetiva e pode ser pensada de maneira inovadora, com ferramentas de infografia e di-
versos tipos de gráfico. A visualização gráfica é, portanto, fundamental na compreensão
de uma reportagem de dados, contribuindo para uma recepção clara da informação e se
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mal elaborada e executada, pode funcionar como o oposto: servir para confundir o pú-
blico, dificultar o entendimento.

Referências
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Acesso em: jul. de 2018.

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