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Achando palavras para a glória de Deus

Lembro-me de um dia, quando eu estudava na faculdade, em que


Clyde Kilby, meu professor de inglês favorito, disse algo com este
sentido: “Uma das maiores tragédias da queda é que ficamos
entediados de glórias costumeiras”. Essa afirmação simples penetrou
em minha consciência. Deixou-me triste, porque percebi quão
superficial e insensível eu era para com muitas maravilhas ao meu
redor. Encheu-me de um anseio por não ser mais assim. Eu não queria
chegar nos Alpes, ser cheio de admiração por alguns dias e, no final
da semana, ficar assistindo à televisão no chalé. Lamentei minha
capacidade de bocejar durante o “Aleluia” de Handel.

Isso significa que abomino o pensamento de falar sobre a glória de


Deus de uma maneira que seja tão familiar, tão monótona ou tão
padronizada, que enfraqueça o senso de admiração. Evidentemente, eu
compreendo que somente Deus pode despertar verdadeira admiração
da sua glória. Kilby estava certo. A queda nos deixou profundamente
disfuncionais em nossas emoções. Somos empolgados pelo trivial e
nos entediamos com a grandeza. Coamos um mosquito para admirar e
absorver um camelo de glória imperceptível. Apesar disso, quero
tentar usar uma linguagem que nos ajude a perceber o que é a glória
de Deus, se eu puder. Essa é a razão do esforço para achar outras
palavras além de glória – palavras como dignidade, beleza, valor e
excelência.

O que é a glória de Deus?


Meu entendimento da glória de Deus tem sido moldado
profundamente por sua relação com a santidade de Deus. Tenho em
mente a maneira como esta relação se expressa em Isaías 6.1-3:
No ano da morte do rei Uzias, eu vi o Senhor assentado sobre um alto
e sublime trono, e as abas de suas vestes enchiam o templo. Serafins
estavam por cima dele; cada um tinha seis asas: com duas cobria o
rosto, com duas cobria os seus pés e com duas voava. E clamavam
uns para os outros, dizendo: Santo, santo, santo é o Senhor dos
Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória.
Por que o profeta não disse: “Santo, santo, santo é o Senhor dos
Exércitos; toda a terra está cheia da sua santidade”? Minha sugestão é
que a glória de Deus é a santidade de Deus colocada em exibição.
Quando a santidade de Deus brilha na criação, é chamada “glória de
Deus”.
A santidade de Deus
Isso leva a questão do significado de glória à santidade de Deus. O
que é isso? O significado fundamental da palavra santo no Antigo
Testamento (hebr., chad?sh) é a ideia de ser separado – diferente e
separado de algo. Quando aplicado a Deus, isso significa que
a santidade de Deus é sua separação de tudo que não é Deus. Isto
significa, então, que ele é uma classe isolada. E, como todas as coisas
boas que são raras, quanto mais rara ela for, tanto mais valiosa ela é.
Portanto, Deus é supremamente valioso.
Podemos ver este significado da santidade de Deus nas duas
ilustrações seguintes. Primeira, quando Moisés feriu a rocha, em vez
de falar à rocha como Deus o instruíra, Deus lhe disse: “Visto que não
crestes em mim, para me santificardes diante dos filhos de Israel, por
isso, não fareis entrar este povo na terra que lhe dei” (Nm 20.12; ver
27.14). Em outras palavras, quando Moisés não creu em Deus, não o
tratou como sendo em si mesmo uma classe única e magnífica de
poder e confiança. Moisés o tratou como se fosse outra pessoa comum
e desconfiável, indisposta e incapaz de fazer o que dissera. Mas Deus
não é comum. Ele não é como os outros. Deus é santo.
Segunda, em Isaías 8.12-13, Deus falou a Isaías: “Não chameis
conjuração a tudo quanto este povo chama conjuração; não temais o
que ele teme, nem tomeis isso por temível. Ao Senhor dos Exércitos, a
ele santificai; seja ele o vosso temor, seja ele o vosso espanto”. Em
outras palavras, não coloquem a Deus no mesmo grupo de todos os
seus outros temores e espantos.
Tratem-no como um temor e espanto totalmente único. Separem-no de
todos os temores e espantos comuns.

Eis aqui, portanto, como eu concebo a santidade de Deus. Deus é tão


separado, tão acima, tão distinto de tudo mais – tudo que não é Deus –
que é autoexistente, autossustentável e autossuficiente. Portanto, ele é
infinitamente completo, pleno e perfeito em si mesmo. Deus é
separado e transcendente acima de tudo que não é Deus. Ele não foi
trazido à existência por qualquer coisa fora dele mesmo. Deus é,
portanto, autoexistente. Ele não depende de nada para sua existência
permanente, sendo, por isso, autossustentável. E, por conseguinte, ele
é totalmente autossuficiente. Completo, pleno, perfeito.
A Bíblia deixa claro que este Deus autoexistente, autossustentável,
autossuficiente existe como três pessoas em uma essência divina. O
Pai conhece e ama perfeita, completa e infinitamente o Filho; e o
Filho conhece e ama perfeita, completa e infinitamente o Pai; e o
Espírito Santo é a expressão perfeita, completa e infinita do amor
mútuo entre o Pai e o Filho. Esta comunhão trinitária perfeita é
essencial à plenitude e perfeição de Deus. Não há nenhuma carência,
nenhuma deficiência, nenhuma necessidade – apenas plenitude,
completude e autossuficiência perfeitas.

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