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MANUAL
DE
PALEOHISTOLOGIA
© Sandra Assis
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SANDRA ASSIS
2009
TABELA DE CONTEÚDOS
Índice de figuras
2. HISTOPATOLOGIA EM IMAGENS 20
3. O MICROSCÓPIO ÓPTICO 26
4.1. Descalcificação 27
5. BIBLIOGRAFIA 37
Índice de figuras
Figura 10. Corte histológico evidenciando os três tipos de células. Adaptado de: 7
www.cell.utmb.edu.
Figura 12. Corte histológico evidenciando as diferenças entre o osso lamelar e o osso woven. 9
Figura 15. Cortes histológicos evidenciando a estrutura do tecido compacto. Adaptado de: 12
www.lab.anhb.uwa.edu.au.
Figura 20. Cortes histológicos evidenciando a estrutura do tecido trabecular. Adaptado de: 15
www.lab.anhb.uwa.edu.au.
Figura 21. Pormenor da estrutura do tecido trabecular. Adaptado de: 15
www.lab.anhb.uwa.edu.au.
O osso é um material anisotrópico, não heterogéneo, e composto em 60% por uma porção
orgânica, de onde sobressai o colagénio, e em 40% por constituintes minerais, dos quais o cálcio
é um dos componentes principais (Rothschild & Martin, 1993; Frassico et al., 1997; Lieberman,
1997; Kumar, 2001). As fibras de colagénio conferem ao tecido ósseo a flexibilidade e a
capacidade para resistir à tensão exercida pelo movimento, enquanto que os componentes
minerais ricos em cálcio e fósforo providenciam a rigidez e dureza que subsiste à compressão
(Lieberman, 1997; Gonçalves e Bairos, 2006).
Apesar da sua rigidez, os ossos não constituem estruturas de sustentação passiva, sendo um
tecido dinâmico, metabolicamente muito activo, e que está continuamente a ser formado e
reabsorvido ao longo da vida (Gonçalves e Bairos, 2006). A remodelação e reorganização do
tecido ósseo resultam de vários factores que incluem:
o Estímulo mecânico
o Causas metabólicas (deficiência em calico, doença ou idade)
o Alterações endócrinas
o Efeito de drogas
Estruturalmente é possível identificar dois tipos de tecido ósseo: compacto ou cortical e esponjoso
ou trabecular (Wynsberghe et al., 1995; Whiting & Wernicke, 1998; White, 2000). O tecido cortical
é a camada sólida e densa presente nas paredes dos ossos longos, que lhe dá consistência. O
tecido esponjoso, mais poroso e leve, é composto por uma malha trabalhada tridimensional de
tecido trabecular primário (longitudinal) e secundário (transverso) separado por medula
1
hematopoiética ou amarela (Keaveny et al., 2001; Buckwalter et al., 1996 in Niva, 2006). O tecido
esponjoso está presente nas vértebras e nas terminações ósseas (epífises). No esqueleto em
crescimento o tecido esponjoso corresponde às áreas de produção hematopoiética, ou seja, de
células sanguíneas, integrando a medula vermelha (Wynsberghe et al., 1995; White, 2000;
Keaveny et al., 2001).
A superfície interna das diáfises denomina-se por endósteo. A superfície externa é composta por
uma membrana fibrosa ricamente vascularizada chamada de periósteo (figura 2), onde residem
células com grande potencial osteogénico: os osteoblastos, os osteoclástos e os osteócitos
(Wynsberghe et al., 1995; Carter & Beaupré, 2001). O periósteo encontra-se conectado ao osso
subjacente por fibras de colagénios chamadas fibras perfurantes do periósteo ou fibras de
Sharpey. Estas fibras penetram a camada interna do periósteo, encontrando-se embebidas na
matriz óssea (Wynsberghe et al., 1995).
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Figura 2. Cortes histológicos de fémur. Tecido compacto (à esquerda). Tecido esponjoso (à direita). Adaptado de:
http://www.technion.ac.il/~mdcourse/274203/lect5.html.
Os ossos chatos ou membranosos (figura 3) são formados por tecido ósseo compacto e por tecido
ósseo esponjoso, disposto numa estrutura em “sandwich” (Wynsberghe et al., 1995). Nesta
organização sobressai uma camada compacta de osso, a tábua externa; uma camada interna de
tecido esponjoso que contem a medula e vasos, o diploe; e uma camada interna de tecido
compacto, a tábua interna. O periósteo cobre o osso chato na camada externa. Na camada interna
o periósteo é mais espesso encontrando-se em continuo com a duramater (membrana meningeal
externa do encéfalo) (Wynsberghe et al., 1995; Gonçalves e Bairos, 2006).
3
1.3. As células ósseas
4
Figura 5. Corte histológico de fémur evidenciando os osteoblastos. Adaptado de: www.ouhsc.edu/histology.
5
Figura 7. Corte histológico evidenciando os osteócitos nas lacunas. Adaptado de:
http://www.technion.ac.il/~mdcourse/274203/lect5.html.
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Figura 9. Corte histológico evidenciando os osteoclastos em lacuna. Adaptado de: www.ouhsc.edu/histology.
Figura 10. Corte histológico evidenciando os três tipos de células. Adaptado de: www.cell.utmb.edu.
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A matriz óssea extracelular é constituída por (Gonçalves e Bairos, 2006):
Porção inorgânica formada por hidroxiopatite e por iões de fosfato e de carbonato responsáveis
pela rigidez do osso. Em redor de cada cristal de hidroxiopatite existe um revestimento aquoso,
cuja função é facilitar a troca de iões entre os cristais e a fluído extracelular.
A organização microscópica do tecido ósseo (figura 11) permite identificar dois tipos de osso:
primário (também designado por imaturo, em formação ou woven) e secundário (também
apelidado de maduro ou lamelar) (Gonçalves e Bairos, 2006) (figura 12).
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Matos et al. 2008.Journal of Orthopaedic Surgery and Research, 3:4
Figura 12. Corte histológico evidenciando as diferenças entre o osso lamelar e o osso woven.
O osso do tipo primário ou woven (figura 13) constitui uma massa desorganizada de fibras de
colagénio e osteócitos de crescimento rápido (Rothschild & Martin, 1993; Lieberman, 1997;
Whiting & Wernicke, 1998). Constitui uma forma de tecido ósseo primitivo que pode ser
identificado por uma ausência de ordem nas lacunas (osteócitos) e por uma rede espessa e
irregular de fibras de colagénio na matriz (Gonçalves e Bairos, 2006). O osso woven é encontrado
primariamente no embrião em desenvolvimento, antes da remodelação que conduz ao
desenvolvimento de osso lamelar. Este tipo de não é comum em pessoas com idade superior a 14
anos, excepto nas suturas cranianas, nos alvéolos dentários e nalgumas zonas de inserção de
tendões. O osso woven também se desenvolve, temporariamente, durante o processo de
consolidação das fracturas ósseas. Este tipo de tecido pode ser observado nalgumas condições
patológicas, tais como as de cariz infeccioso e neoplásico (ex. osteosarcoma) (Schultz, 1997).
9
http://www.histol.chuvashia.com/atlas-en/connective-01-en.htm
Legenda:
Invariavelmente, o osso secundário ou maduro (figura 14) apresenta um crescimento lento e uma
estrutura laminar formada por várias camadas, nas quais as fibras de colagénio se dispõem de
modo organizado (Gonçalves e Bairos, 2006). O osso lamelar é constituído por lamelas ósseas
dispostas concentricamente onde os osteócitos se encontram alojados em cavidades ou lacunas a
partir das quais irradiam canalículos que comunicam com as lacunas adjacentes (Schultz, 1997;
Gonçalves e Bairos, 2006). As lacunas (osteócitos) encontram-se regularmente organizadas tal
como as fibras de colagénio da matriz. O termo lamela refere a camada da matriz compreendida
entre duas secções da lacuna. A organização do osso lamelar encontra-se bem ilustrado no tecido
compacto das diáfises dos ossos longos. O tecido lamelar pode ser compacto ou esponjoso
(Schultz, 1997). O osso secundário é depositado durante o processo de remodelação, substituído
o tecido ósseo pré-existente (Whiting & Wernicke, 1998).
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http://www.histol.chuvashia.com/atlas-en/connective-01-en.htm
Legenda:
1. Osteónio ou Sistema de Havers
2. Canal de Havers
3. Sistema intersticial
Figura 14. Cortes histológicos evidenciando a estrutura do tecido lamelar.
4. Lamela cortical
5. Periósteo
6. Osteócito
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sistema intersticial, encontra-se uma linha cimentante (Gonçalves e Bairos, 2006). Esta linha não
calcifica, apresenta poucas fibras de colagénio, contudo é rica em glicoproteínas e cora de modo
distinto da matriz da lamela. Cada canal de Havers contém um vaso sanguíneo que nutre o
osteónios com sangue proveniente dos vasos sanguíneos localizados no periósteo. Os vasos
sanguíneos penetram transversalmente os osteónios e são designados de canais de Volkmann’s.
Os canais de Volkmann são identificados por não possuírem lamelas concêntricas a envolvê-los
(Wynsberghe et al., 1995; Gonçalves e Bairos, 2006). Os osteónios constituem a principal unidade
morfo-funcional do tecido compacto.
Figura 15. Cortes histológicos evidenciando a estrutura do tecido compacto. Adaptado de: www.lab.anhb.uwa.edu.au.
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2) Sistemas circunferenciais
Imediatamente abaixo do periósteo, na periferia do tecido compacto da diáfise dos ossos longos,
uma lamela envolve o osso de modo contínuo. Esta lamela é designada de lamela circunferencial
(figura 17) externa. Um sistema idêntico de lamelas contínuas é observado junto ao endósteo.
Estas designam-se de lamelas circunferenciais internas. Um conjunto de fibras de colagénio, as
fibras de Sharpey’s ou fibras perforantes, que ancoram o periósteo à lamela circunferencial
adjacentes, particularmente na zona de inserção dos tendões (Schultz, 1997; Gonçalves e Bairos,
2006).
Figura 17. Cortes histológicos evidenciando as lamelas circuferencias. Adaptado de: www.lab.anhb.uwa.edu.au.
3) Sistemas intersticiais
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lamela conduzindo à formação de cavidades de reabsorção (Ortner, 2003). Estes podem
comunicar com cavidades de reabsorção de osteónios adjacentes. Quando o processo fica
concluído, os osteoblastos surgem na cavidade de reabsorção e começam a sintetizar uma nova
geração de osteónios. Quando os novos osteónios estão completos, os restos dos osteónios
formam os sistemas intersticiais. Este processo de remodelação prolonga-se ao longo da vida
(Ortner, 2003).
Figura 18. Cortes histológicos evidenciando os sistemas intersticiais do tecido lamelar. Adaptado de:
http://www.technion.ac.il/~mdcourse/274203/lect5.html.
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O tecido ósseo trabecular ou esponjoso (figura 20 e 21) também é formado por lamelas, contudo,
estas não estão organizadas em sistemas tal como acontece com o osso compacto. Em oposição
ao tecido compacto, o tecido esponjosos não é penetrado por vasos sanguíneos, recebendo a sua
nutrição via difusão a partir do endósteo que circunda os espaços da medula óssea (Ortner, 2003).
Figura 20. Cortes histológicos evidenciando a estrutura do tecido trabecular. Adaptado de: www.lab.anhb.uwa.edu.au.
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1.5. Histogénese óssea ou osteogénese
1) Ossificação intramembranosa
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Figura 23. Corte histológico evidenciando a ossificação intramembranosa. Adaptado de: www.ouhsc.edu/histology.
2) Ossificação endocondral
1 O termo endocondral deriva do grego endo (dentro) e khondros (cartilagem) que significa dentro da
cartilagem (Wynsberghe et al., 1995).
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A ossificação endocondral pode ser considerada a nível celular ou dos tecidos (figura 24).
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3) Os condrócitos sofrem hipertrofia e começam a segregar o factor de crescimento de
endótelio vascular (VEGF), que por sua vez induz a formação de vasos sanguíneos a
partir do pericôndrio. Células osteoprogenitoras e hematopoiéticas surgem com os novos
vasos recém-formados. Deste acontecimento, resulta a formação do centro de ossificação
primário (figura 26). Nos futuros ossos longos do esqueleto, o centro de ossificação
primário aparece na zona central que virá a ser a futura diáfise.
4) Por acção dos osteoclastos forma-se a cavidade medular a partir da degradação do tecido
esponjoso primário. A cavidade medular aumenta de tamanho associado também a um
incremento na vascularização.
5) Os centros de ossificação secundários surgem no interior do molde cartilaginoso das
epífises, sofrendo um processo de expansão e acabando por se fundir na altura da
puberdade com o centro de ossificação primário, que, entretanto, também se expandem
em direcção às extremidades.
Figura 26. Ossificação endocondral. Pormenor dos centros de ossificação primários e secundários.
Adaptado de: http://www.technion.ac.il/~mdcourse/274203/lect5.html.
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Figura 27. Ossificação endocondral. Pormenor da plataforma de crescimento.
Adaptado de: http://www.technion.ac.il/~mdcourse/274203/lect5.html.
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5. BIBLIOGRAFIA
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21
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