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ESCOLA BÁSICA E SECUNDÁRIA ALFREDO DA SILVA

Tão importante como realizar uma experiência e obter resultados é a descrição dessa experiência, desses resultados
e das principais conclusões obtidas, para que possam ser compreendidas, reproduzidas e discutidas por outros.
A estrutura de um relatório assemelha-se à de um artigo científico, obedecendo a certas regras, mais ou menos rígidas,
que os estudantes devem aprender e começar a praticar o mais cedo possível. No entanto, a elaboração cuidada de um
relatório é, em geral, bastante trabalhosa. Assim, muitas vezes vezes a descrição dos resultados e as conclusões dos
trabalhos práticos podem, por exemplo, ser registados diretamente num caderno de laboratório.

CADERNO DE LABORATÓRIO

No caderno de laboratório devem ser registados, antes da realização do trabalho, os aspetos relevantes das
experiências que irão ser realizadas, bem como os riscos de segurança relacionados com os reagentes, possíveis
intermediários, produtos finais, equipamentos a manipular e técnicas a realizar. No caderno de laboratório serão
anotados os resultados obtidos, o tratamento desses resultados e as principais conclusões.
Nunca se arrancam folhas ou fazem rasuras num caderno de laboratório: passa-se um traço sobre o que se quer
eliminar, para que o “erro” continue visível.
Na elaboração do caderno de laboratório deve-se atender aos seguintes pontos, ainda que nem todos sejam aplicados
em todas as situações:
 Data.
 Título.
 Referências bibliográficas relativas à experiência.
 Reações químicas.
 Equações para tratar os resultados.
 Referência ao mecanismo provável, aos intermediários formados e à sua influência na formação dos produtos e
respetiva estrutura.
 Quantidades de reagentes necessários em g (mg) e mol (mmol), e solventes em L (mL).
 Características físicas e químicas dos produtos usados, perigo de explosão, ponto de fusão, ponto de ebulição,
densidade, índice de refração, métodos de purificação.
 Advertências de perigo e recomendações de prudência envolvidas no manuseamento dos reagentes e dos
produtos. Consultar, para tal, rótulos, fichas de dados de segurança e leitura apropriada.
 Esquema de montagem da reação.
 Descrição do procedimento experimental, que deverá incluir não só o modo de proceder, como todas as
observações relativas ao decurso da experiência (variação de cor, evolução de gás, formação de precipitado, etc.)
e qualquer modificação ao procedimento que daí advenha.
 Métodos usados para seguir a reação.
 Métodos de purificação.
 Características físicas e espetroscópicas dos produtos formados.
 Características principais da aparelhagem utilizada e procedimentos experimentais relacionados com essa
aparelhagem.

Apresentam-se em seguida alguns exemplos de páginas típicas de um caderno de laboratório. Foram retiradas do
livro: Simões, J., Castanho, M., Lampreia, I., Santos, F., Castro, C., Pamplona, M., Piedade, M. (2017). Guia do
Laboratório de Química e Bioquímica, p. 8-11. Lisboa. Lidel, 3ª edição.

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Figura 1 – Exemplo de notas preliminares de uma atividade experimental num caderno de laboratório

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Figura 2 – Exemplo de descrição final da experiência num caderno de laboratório

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Figura 3 – Exemplo de rascunhos de uma atividade experimental num caderno de laboratório

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Figura 4 – Exemplo de tabela de constantes físicas e identificação estrutural de compostos sintetizados,
num caderno de laboratório

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ESQUEMA DE UM RELATÓRIO

1. Título e autores

O título não deve conter um número excessivo de palavras (mas deve ser suficientemente informativo) e tem de
chamar à atenção para o assunto tratado.
Seguem-se dois exemplos de títulos, o primeiro de acordo com as normas, o segundo não.
 Exemplo 1:
Entalpia de Vaporização do Isooctano.
 Exemplo 2:
Estudo da Variação da Pressão de Vapor do Tolueno com a Temperatura, pelo Método do Ponto de Ebulição.

2. Resumo

O resumo deve, num mínimo de palavras, conter o essencial do trabalho realizado e as suas primeiras conclusões.
Com a maior concisão possível, tem de incluir o que se fez, como se fez e que conclusões e/ou valores principais foram
obtidos. Nunca se utilizam tabelas ou gráficos.
Seguem-se dois exemplos de resumos, o primeiro de acordo com as normas, o segundo não.
 Exemplo 1:
Determinou-se, pelo método do ponto de ebulição, o valor da entalpia de vaporização padrão do isooctano. O valor
encontrado, 35,0±1,2 kJ mol-1, está em boa concordância com os resultados obtidos por outros autores.
 Exemplo 2:
Determinou-se a entalpia de vaporização padrão do isooctano. O valor encontrado foi comparado com resultados
da literatura.

3. Introdução

A introdução do relatório não é um amontoado de expressões e de teorias. É apenas uma iniciação ao problema
estudado, uma justificação dos autores para o facto de terem realizado o trabalho e uma contextualização para o leitor.
Deve, por isso, ser breve (1 – 2 páginas), fazendo uso, se necessário, de referências bibliográficas.
Por exemplo, no caso de a experiência envolver uma síntese de um determinado composto, na Introdução dever-
se-á explicar o interesse na obtenção desse composto e incluir a descrição (breve) dos mecanismos que eestavam na
base da experiência a realizar, bem como referir os possíveis métodos alternativos disponíveis na literatura.

4. Parte Experimental

Contém a indicação e a descrição de:


 Aparelhos ou montagem utilizada;
 Reagentes e/ou materiais biológicos utilizados;
 Método experimental seguido;
 Metodologia de análise de dados e respetivo softwarw, se for caso disso.
Caso se tenha utilizado um aparelho comercial sem qualquer modificação importante, basta indicar a sua marca, o
modelo e algumas específicações consideradas significativas para o trabalho executado; tratando-se de uma montagem
especialmente feita para a experiência em causa, dever-se-á descreve-la e, de preferência, acompanhar o texto com uma
figura esquemática dessa aparelhagem.
Nunca se inclui material trivial de laboratório, como balões volumétricos, pipetas, etc., desligados dos aspetos
essenciais do trabalho. Embora importantes para uma boa prática laboratorial, a utilização destes materiais corretamente
é tido como um pressuposto, de tão básico e fundamental que é.
A informação sobre os reagentes usados deve conter a sua origem ou marca e o respetivo grau de pureza. Caso se
trate de uma substância preparada no laboratório, devem indicar-se as referências bibliográficas sobre o método de
sintese e purificação. Se o objetivo da experiência for a síntese e a caracterização de compostos, esta última informação

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não é suficiente (referir-se-á mais à frente o que indicar neste caso). Se for utilizado material biológico, indicar a
proveniência e detalhar espécies e estirpes.
O texto sobre o método experimental seguido não é uma cópia do protocolo fornecido para a realização da
experiência. Pode ser mais sucinto, eliminando alguns pormenores, ou detalhar algumas modificações em relação ao
procedimento usual.
Quando se utiliza um método de análise de dados já publicado basta mencionar a fonte de informação e as
equações mais importantes, as que são diretamente utilizadas.
Caso se faça uma dedução de uma equação especificamente para o trabalho em causa, a mesma faz parte
integrante do estudo e pode optar-se por fazer-lhe menção e apresentar a sua dedução na secção de métodos, na
discussão ou mesmo num anexo. As deduções devem mencionar clara e explicitamente os passos que envolvem
pressupostos ou limitações, para que o leitor se aperceba das condições de validade das equações, mesmo que não
acompanhe passo a passo as deduções.
As diferentes secções que compõem esta parte podem ser tratadas separadamente, como, por exemplo:
 Aparelhagem;
 Reagentes (e material biológico);
 Método experimental;
 Metodo de análise de dados.
Podem também ser conjugadas numa única rúbrica, tudo depende do tipo de trabalho. Em qualquer caso nunca
deve citar-se aparelhagem ou reagentes de forma esquemática, mas sim de forma descritiva.
Seguem-se dois exemplos de resumos, o primeiro representa a forma incorreta e o segundo de acordo com as
normas.
 Exemplo 1:
Aparelhagem
 Picnómetro (com termómetro) de 50 mL;
 Refratómetro X.
Reagentes
 Iodeto de potássio, p.a. da Merck;
 Iodo Analar, da BDH;
 Etanol, p.a. da Carlo Erba.

 Exemplo 2:
Aparelhagem
Usou-se, para a medida de densidades das soluções, um picnómetro de vidro de 50 mL, com termómetro. Os
índices de refração foram obtidos com um refratómetro X (…).
Reagentes
Usou-se iodeto de potássio (p.a., da Merck), iodo (Analar, BDH) e etanol (p.a., Carlo Erba).

Se o objetivo da experiência for a síntese e a caracterização de compostos, a Parte Experimental deverá incluir a
descrição do protocolo, um diagrama de fluxo do processo e uma tabela ou um texto que inclua as constantes físicas e o
grau de pureza de todos os reagentes e produtos. Deve também descrever-se todas as observações relevantes que
ocorram.
O exemplo seguinte refere-se à experiência relatada no primeiro exemplo do caderno de laboratório (figura 1 ,
página 3).
 Exemplo:
Preparação do 7-oxabiciclo(2,2,1)hepta-5-en-4-ona (2)
Preparou-se uma solução de metóxido de sódio em metanol dissolvendo sódio (0,02 g, 0,9 mmol) em metanol
recentemente destilado (5 mL). Esta solução foi adicionada, usando uma seringa, a uma solução do nitrilo (1) (2,93 g, 13,6
mmol), em metanol seco (20 mL), sob agitação, a 20 0C. Após 2 horas de agitação, adicionou-se uma solução de
formaldeído (10 mL, 37%) e a mistura foi agitada durante 1 hora, após o que foi arrefecida a 0 0C, usando um banho de
água/gelo, e, em seguida, deitada sobre água gelada (30 mL). Foi adicionada, depois, uma solução aquosa saturada de

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NaCℓ (30 mL) e diclorometano (20 mL). Após separação das fass orgânica e aquosa, esta foi extraída com diclorometano
(3x20 mL). A solução de diclorometano foi lavada com a solução saturada de NaCℓ (2x30 mL), seca com sulfato de
magnésio e o solvente foi evaporado a pressão reduzida, originando um óleo verde-claro (1,72 g, 96%).
O produto puro foi obtido após destilação (1,21 g, 67%; p. eb. 96-98 0C/ 15 mm Hg, lit. [1] 90 0C/15 mmHg). IV max
(cm-1; filme fino): 3700-3250 (m), 3020 (m), 1750 (s), 1635 (w). RMN (200 MHz, CDC13): 1,90 (1H, d, J=16,0 Hz), 2,28 (1H,
dd, J=15,0 Hz, J=5,0 Hz), 4,50 (1H, s, br), 5,38 (1H, d, br, J=5,0Hz), 6,40 (1H, dd, J=5,5Hz, J=1,5 Hz), 6,68 (1H, dt, J=5,0Hz,
J=1,5 Hz). m/z (EI): 110 (M+, 4%), 68 (100%).

5. Resultados

Descrevem-se os resultados das experiências, de preferência sob a forma de tabelas ou gráficos. Note-se que
os Resultados não incluem apenas as medidas diretas, mas também os pricipais valores calculados com base nessas
medidas. No caso de o trabalho envolver estudos de síntese e de reatividade, é aqui que devem ser apresentadas
as reações ensaiadas.

 Exemplo 1:
Num relatório envolvendo um estudo sobre difração de Raio X (DRX), devem ser incluídos os difratogramas, em
conjunto com as tabelas nas quais constam os valores retirados desses difratogramas, que sejam considerados relevantes
para o trabalho.
Tabela 1- valores de referência para os picos
do cobre (rosa) e da cuprite (cinza)
Pos. [°2Th.] Height [cts] d-spacing [Å]
28.6140 36.35 3.01713
36.3494 181.76 2.46957
43.4009 1173.18 2.08827
50.5464 343.80 1.80425
61.3155 30.05 1.51066
74.1369 146.03 1.27793
Figura 5 – Difratograma de uma amostra de cobre com indicação
dos picos de cobre (rosa) e da cuprite (cinza)

 Exemplo 2:
Tratando-se da síntese de compostos já conhecidos, devem comparar-se os dados obtidos para as amostras com
os valores da literatura – o que, normalmente é feito na Parte Experimental

6. Discussão

Juntamente com os Resultados, é a parte mais importante do relatório. Aqui deve fazer-se a análise dos valores
mais relevantes ou dos processos de síntese adotados, comparando-os, sempre que possível, com os de outros autores
ou com os que envolveram metodologias diferentes. Dessa análise decorre a crítica ao método experimental usado e/ou
ao modelo físico adotado para calcular os valores encontrados. Não deve fazer-se uma crítica baseada apenas em
generalidades, mas sim uma crítica específica e dirigida.
Seguem-se dois exemplos, o primeiro representa a forma incorreta e o segundo de acordo com as normas.
 Exemplo 1:
Variações na temperatura podem ter influído nos resultados.

 Exemplo 2:
Uma variação de temperatura de 2 0C implica uma variação de 5% na constante de velocidade.

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7. Apêndice(s)

No caso de existir, contém somente matérias importantes para a completa compreensão do relatório, mas
cuja inclusão no decorrer do texto não é essencial para o seu acompanhamento. Não deve incluir aspetos triviais
de cálculos, mas é obrigatório constar equações deduzidas de novo eusadas para análise de dados, quando a
dedução for demasiado complexa para integrar nas secções de Resultados e/ou Discussão.

8. Bibliografia

Contém a listagem de artigos e de livros citados ao longo de todo o trabalho e, se for o caso disso, bibliografia de
carácter geral, não referida no texto. Existem várias formas de ordenar esta lista, mas a mais vulgar é escrever as referêcias
por ordem de citação no texto do relatório. Existem também diferentes formas de, no texto, numerar as referências, uma
das que se utiliza frequentemente é usando parêntesis reto.
 Exemplo:
“No caso da moeda de 1924, confirmou-se a formação de patines em materiais de cobre, pois o produto de corrosão
identificado, através da base de dados [4] tratava-se de cuprite, o seu principal constituinte.”

As indicações para elaborar corretamente uma bibliografia constam de um documento publicado no Classroom,
permitindo assim uma consulta regular para todo e qualquer trabalho em que seja necessário recorrer a consultas e
pesquisas.

8. Notas finais

 Sempre que possível, deve fazer-se uma análise de erros, com vista a obter os intervalos de incerteza que afetam
os valores mais relevantes. Esta análise deve ser incluída nos resultados;
 Embora todos os cálculos possam (e devam) ser feitos com grande número de dígitos, para se evitar erros de
arredondamento, os valores (intermédios ou finais) apresentados em tabelas ou no texto devem ter o número
correto de algarismos significativos;
 É necessário ser rigoroso e cuidadoso com a nomenclatura utilizada;
 Usar, sempre que possível, o Sistema Internacional de Unidades (SI);
 Numerar e legendar figuras e tabelas. A legenda da figura escreve-se em baixo da figura, enquanto a identificação
da tabela se escreve em cima da tabela. Caso tenha sido copiada da literatura, indicar a referência;
 Numerar as páginas do relatório;
 Assinar e datar o relatório.

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