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Resumo:
O autor é angolano e actua em um dos projetos da Universidade Metodista Unida de
Angola- UMA, a Cátedra-Fundação Agostinho Neto, dos Estudos Angolanos. A
reflexão que apresenta neste artigo faz parte da interlocução que se busca, na Cátedra,
estudos angolanos com a história e cultura africanas. O artigo se propõe a um olhar
reflexivo sobre a mulher angolana e, suas condições. Destacamos a característica
peculiar e própria da mulher em Angola. Algumas mulheres que contribuíram
directamente no desenvolvimento político e social em Angola na era colonial e pós-
guerra civil que durou aproximadamente 40 anos. O âmago deste artigo é abordar a
contribuição da mulher intelectual na era colonial-portuguesa e, pós-guerra civil em
Angola. A mulher angolana, tem característica peculiar, como sua luta de sobrevivência
em um país como Angola. O artigo fala da mulher intelectual angolana, e não das
mulheres africanas no modo geral. Ao falarmos da mulher intelectual em Angola
reconhecemos que não é fácil ser mulher em nosso contexto. São discriminadas pela
condição em primeiro de ser mulher; ser mulher em Angola é ser dona de casa, que
sustenta a família, que suporta a vida boémia do marido, por vezes, polígamo, uma
condição próprio e cultural nos países de África. O conceito intelectual orgânico de
Gramsci é utilizado porque se encaixa à mulher intelectual angolana. Para Gramsci, o
intelectual orgânico, não necessariamente é aquele/a que passa pela academia, mas,
qualquer indivíduo que no uso da sua razão é capaz de abstrair e fazer uma reflexão
crítica.
1
Pedro Paulo Ramos Ventura; É Bacharel em Teologia pelo Seminário Betânia em Camaquã –
RS, Brasil. Licenciado em História e Letras - Uniasselvi, Camaquã – RS, Brasil. Licenciado em
Filosofia e Mestre em Filosofia; /Ex – Bolsista, Prosup - CAPES pelo PPGF – Unisinos – RS,
Brasil. Ex-Coordenador dos Direitos Humanos - NEABI, Unisinos, PRONASCI, ABNG e
Prefeitura de Canoas – RS, Brasil. Membro do Grupo de Estudos Africanos pela Faculdade de
História– UFRGS, POA, Brasil; Doutorando em Teologia pela Universidade Metodista Unida
de Angola-UMA. Actualmente Professor de Grego na Faculdade de Teologia da mesma
Universidade.
The author is Angolan and works in one of the projects of the United Methodist University of
Angola - UMA, the Chair-Foundation Agostine Neto, of Angolan studies. The reflection
presented in this article is part of the interlocution sought, in the Chair, between Angolan studies
and African history and culture. The article proposes a reflective look at the Angolan woman
and her conditions. We highlight the peculiar and unique characteristic of women in Angola.
Some Women who directly contributed to political and social development in Angola in the
colonial and post-civil war era which lasted approximately 40 years. The core of this article is to
address the contribution of intellectual women in the colonial-Portuguese era and post-civil war
in Angola. The Angolan woman has a peculiar characteristic, such as her fight for survival in a
country like Angola. The article talks about the Angolan intellectual woman, and not about
African women in general. When we talk about intellectual women in Angola, we recognize
that it is not easy to be a woman in our context. they are discriminated against due to the
condition of being a woman; to be a woman in Angola is to be a housewife, who supports the
family, who supports the bohemian life of her husband, who is sometimes polygamous, a unique
and cultural condition in African countries. Gramsci organic intellectual concept is used because
it fits the Angolan intellectual woman. For Gramsci, the organic intellectual is not necessarily
the one who goes through the academy, but any individual who, using his reason, is able to
abstract and make a critical reflection.
Pois bem, na história de Angola, que é nosso foco, muitas mulheres, para não
dizer algumas, uns de destaque e outras anonimas, desempenharam papeis importantes
na luta de libertação de Angola e das suas próprias liberdades. Ou seja, travaram tripla
guerra: a discriminação na condição de mulher, na condição de negra e da guerra
independentista.
E as que passaram, como dissemos, não fazem eco. Primeiro, por conta das
políticas estruturadas do país; segundo, saem malformadas das academias e encontram
depois barreiras no mercado competitivo. Por um lado, a sobrevivência de muitas
mulheres fica por conta de sua intelectualidade orgânica, a pesar que, é dela, que
houveram resistência no processo de independência de Angola.
Admirado pela sua liderança política, o— escritor francês, “Jean Luis Castilhon,
inspirado nos seus efeitos, foi citada no livro: L´Histoire de l´Afrique, da publição
Histoire Universelle (1765- 1766)” reconhecida em Angola como umas das mulheres
mais importantes da história revolucionária de Angola antes a independência.
5
António Gramsci. (1891-1937). Filósofo italiano atribuía à escola a função de dar acesso
à cultura das classes dominantes, para que todos pudessem ser cidadãos plenos.
Cofundador do Partido Comunista Italiano, foi uma das referências essenciais do pensamento de
esquerda no século XX. Comprometido com um projecto político que culminaria com uma
revolução proletária. Gramsci se distinguia de seus pares por desacreditar de uma tomada do
poder que não fosse precedida por mudanças de mentalidade. Para ele, “os agentes principais
dessas mudanças seriam os intelectuais e um dos seus instrumentos mais importantes, a escola”.
O erro metodológico mais difundido, ao que me parece, consiste
em se ter buscado este critério de distinção no que é intrínseco
às atividades intelectuais, ao invés de buscá-lo no conjunto do
sistema de relações no qual estas atividades (e, portanto, os
grupos que as personificam) se encontram, no conjunto geral das
relações sociais6.
Para Gramsci,
6
Op. cit., p. 3-4
7
. Ibidem. p. 4.
8
GRAMSCI, 1989, p. 6-7.
Gramsci diz que— “um pensar e operar homogêneo são uma especialidade
própria dos intelectuais profissionais”. Não é, assim, um dado do “senso comum”. A
propósito, refletindo, o conceito de intelectual orgânico gramsciano tem haver com a
libertação das consciências das massas e da sociedade em geral. A luta de classe e a
divisão de grupos, de um lado os capitalistas e, de outro os subalternos, mostra que
estamos divididos e, assim qualquer sociedade que seja, não avança.
Não existe uma resposta única e acabada porque a situação da mulher angolana é
ambígua. A mulher que historicamente esteve presente e ativo na luta para
Independência de Angola são paradoxalmente invisíveis em nossa sociedade. O
destaque de algumas “intelectuais” na sociedade angolana pós-guerra civil, são aquelas
de caráter pública como algumas musicistas p. ex.
Mas estas por sua vez, são invisíveis no sentido de que não são mulheres
“intelectuais revolucionárias”, são orgânicas, mas, seus destaques, são apenas a música
em si, e, a música em si, também fica “mbecilizado” porque apenas faz eco e não
provoca mudança mentais nas massas.
Os poucos nomes que mencionamos, são intelectuais literárias, com ótimas
produções poéticas, que subjetivamente falam da dor, do sofrimento, da guerra, da fome
e pouco de romance, nem sei se o homem angolano, entende, “o que é ser romântico”,
talvez porque a ignorância machista não lhe permite saber ou conhecer. As suas obras
são desconhecidas por uma boa parte do sexo feminino. Aliás, o sexo feminino em
Angola não lê, se lê, apenas na fase de sua formação. Depois disto, param de ler.
Uma das razões são aquelas a que apontamos, algumas mulheres são analfabetas
funcionais, outras são mesmas analfabetas, não lê e não escreve; outras são, orgânicas,
mas também, não são tida e nem achadas, ou seja, sabem fazer análise dos problemas da
sociedade e do mundo, mas, não passa mais disso.
Em Angola a mulher intelectual é vista pela posição de trabalho privilegiada que
ocupa, p. ex. ser ministra, governadora, chefe de gabinete, repartições públicas,
deputada, e advogada, musicista etc. São posições de respeito é verdade, mas são apenas
“indumentárias simbólicas”.
São consideradas intelectuais porque assumem responsabilidades. O que elas
produzem fica confinada apenas no imaginário da própria sociedade. Outras mulheres se
consideram cultas ou intelectuais pelo número de viagem que fazem no exterior. Em
Angola não precisa ser classe média para viajar no exterior; é só ter dinheiro que sai do
país, pois, existe um mercado informal que facilita as pessoas trabalharem e adquirirem
dinheiro.
É verdade que ainda é privilégios de poucas mulheres, por outro lado, se
confunde viajar para o exterior em ser uma mulher intelectual. E a verdade é que esse
modo de pensar está no imaginário da sociedade angolana. Mas o que há de incomum
nelas? A mulher angolana são todas sofridas. O sofrimento da guerra, da fome, do
preconceito, da discriminação e de ter que “dividir” o mesmo homem com outras, é a
marca da comum ambiguidade da mulher intelectual angolana.
A nova geração tem outras ambições e, mesmo que tenham gana por estudarem,
se formarem, ser alguém, porém, tais ambições, residem apenas na busca do status quo.
Diferente p. ex. quando pensamos em Nzinga Mbandi e Diolinda Rodrigues embora
outra geração, foram revolucionárias, intelectuais, racionais e não tanto pela força da
arma. Penso que a nova geração deve ser astuciosa no sentido de valorizar mais a razão
e a inteligência do que fazer de conta que são e, é infelizmente o perfil da mulher
intelectual desta nova geração, a preocupação com a estética. Sabemos que essa é nova
tendência do mundo feminino, mas, a verdade é que, a cultura feminina em Angola é
consumista por produto estrangeiro, gasta centenas e milhares de dólares em produto
cosmético e roupa. Estar bem vestida para mulher angolana é mais interessente que
comprar um livro, frequentar uma biblioteca, por exemplo.
O acesso à nova tecnologia dá certa ilusão de liberdade à mulher intelectual
angolana. Não sou tão pessimista, acredito na força e da capacidade da mulher
angolana, mas a verdade é que não as vemos com muita facilidade, quem são e onde
estão. Algumas são identificadas, estas também, são intelectuais “privadas”, que não
fazem nenhuma revolução mentais nas massas.
Existe avanço na valorização da mulher em Angola, ainda que lento, mas,
acreditamos na força da política do governo à inserção da mulher em dar mais
visibilidade e acreditar na capacidade intelectual da mulher.
CONCLUSÃO
Que as mulheres intelectuais um dia será vista na sociedade angolana; que o sol
da aurora intelectual das mulheres angolanas brilhará sobre todas como a Águia nas
alturas. Mãe África, ao longo da história, se configurou apenas como a mulher
acolhedora progenitora e biológica. As mulheres intelectuais angolanas, não serão vistas
como uma figura simbólica apenas: A Mãe África. Serão vistas como figuras “reais” e
não simbólica dos rituais de seus ancestrais que as coisificaram durante séculos.