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Didática

Essencial Em que deve basear-se as es-


Ao longo de dezesseis anos, viajei por nosso imenso país, colhas dos professores, a fim
especialmente pelo interior do Norte brasileiro, lecionando de incentivar o aprendizado
matérias teológicas e pedagógicas em cursos de formação de de seus alunos? Você costu-
Pastor, pedagogo, ba- professores de Escola Dominical. [...] Depois de certo tempo, ma variar seus procedimentos
charel em Teologia, pós- insistindo no ensino de procedimentos e na utilização de re- e dinâmicas de ensino? Ser
-graduado em Docência cursos didáticos, percebi que a grande dificuldade daqueles didático é ser simples, claro,

Marcos Tuler
Superior, Gestão e Supervisão Es- educadores cristãos não era o “fazer pedagógico”, ou seja, não acessível, direto e organiza-
colar e Psicopedagogia, mestre em do, e, ao folhear as páginas
estava na utilização dos métodos e técnicas de ensinar, e, sim,
Educação, conferencista, articulista. a seguir, você, professor de
em como aprender para ensinar.
É membro da Casa de Letras Emílio Escola Dominical, descobri-
Conde, membro correspondente O principal propósito é fornecer aos professores de Teologia rá a importância das técnicas
da Academia Evangélica de Letras e Bíblia, leigos, voluntários ou veteranos, conhecimentos ele- didáticas nos procedimentos
do Brasil, e autor dos livros Manual mentares, porém fundamentais de didática, visando auxiliá-los destinados à orientação do
do Professor de Escola Dominical, em suas atividades na Escola Dominical e demais áreas da ensino das Sagradas Escrituras.
Recursos Didáticos para a Escola educação cristã. Boa leitura!
Dominical, Dicionário de Educação
Espero que, especialmente os professores de Escola Dominical,
Cristã, Ensino Participativo para a
ao término da leitura deste livro, estejam realmente habilitados,
Escola Dominical e Abordagens e
através do aprendizado de técnicas de ensino, a orientarem a
Práticas da Pedagogia Cristã, todos
publicados pela CPAD. aprendizagem de seus alunos nas mais diversas atividades edu-
cacionais da igreja.

Didática Essencial
Marcos Tuler
Marcos Tuler

1ª Edição

Rio de Janeiro
2019
Todos os direitos reservados. Copyright © 2019 para a língua
portuguesa da Casa Publicadora das Assembleias de Deus.
Aprovado pelo Conselho de Doutrina.

Preparação dos originais: Cristiane Alves


Revisão: César Moisés Carvalho
Capa: Wagner de Almeida
Projeto gráfico e editoração: Elisangela Santos

CDD: 370 - Educação


ISBN: 978−85−263−1849−6

As citações bíblicas foram extraídas da versão Almeida Revista e
Corrigida, edição de 2009, da Sociedade Bíblica do Brasil, salvo
indicação em contrário.

Para maiores informações sobre livros, revistas, periódicos e os


últimos lançamentos da CPAD, visite nosso site: http://www.
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Casa Publicadora das Assembleias de Deus


Av. Brasil, 34.401, Bangu, Rio de Janeiro – RJ
CEP 21.852-002

1ª edição: 2019
Tiragem: 3.000
Aos educadores cristãos de todo o Brasil e aos meus
alunos, responsáveis por minha constante necessidade
de aprimoramento.

“Ninguém nasce educador ou marcado para ser


educador. A gente se faz educador, a gente se forma,
como educador, permanentemente, na prática e na
reflexão da prática.”

Paulo Freire
PREFÁCIO

E
ra o mês de outubro de 1999 quando, ao ler o Mensageiro da Paz,
Órgão Oficial das Assembleias de Deus no Brasil, deparei-me
pela primeira vez com o nome de Marcos Tuler. O artigo “Deus
não fala em off”, assinado por ele, abria a seção Edificação do jornal
naquela época.1 Poucos meses depois, quando foi lançada a revista
Ensinador Cristão, já em seu primeiro número, seria a vez de lê-lo em
sua área de maior atuação — a Educação Cristã. No ano seguinte,
tive o privilégio de conhecê-lo, e ouvi-lo, em setembro de 2001, na
Assembleia de Deus em Curitiba, por ocasião da 3ª Conferência de
Escola Dominical da CPAD. À época, eu havia sido contatado pela
Casa para fazer a cobertura jornalística do evento como free-lancer. Em
2002, veio seu best-seller, Manual do Professor de Escola Dominical, também
publicado em espanhol pela Editorial Patmos. Essa obra que lhe ren-
deu o antigo Prêmio Abec (hoje Areté), na categoria “autor revelação”.
Não é segredo o fato de o pentecostalismo ser conhecido, desde
sempre, por pregadores inflamados pelo Espírito de Deus. Ensinadores
também nunca faltaram ao movimento. Educadores, porém, no sentido
técnico da palavra, não são tão comuns. Atuante na área educacional das
Assembleias de Deus por mais de quatro décadas, desde 1974 tínhamos
a figura do pastor Antonio Gilberto que, inegavelmente, foi o maior teó-
logo e educador da denominação. Desde então, não havia alguém com
destaque nesse quesito. Marcos Antonio Tuler — que, antes de trabalhar
na CPAD, havia procurado ingressar em sua adolescência no IBAD (Ins-
tituto Bíblico das Assembleias de Deus), e estudado precocemente no IBP

1
TULER, Marcos. Artigo: Deus não fala em off. Mensageiro da Paz. Ano
LXIX. Nº1351. Rio de Janeiro: CPAD, outubro de 1999, p.8.
Didática Essencial

(Instituto Bíblico Pentecostal), tendo como professores nada menos que


Lawrence Olson e o próprio pastor Antonio Gilberto — depois de uma
longa trajetória profissional, período em que concomitantemente conti-
nuou preparando-se para a docência, surgiu no final do século passado
e, aos poucos, foi ocupando esse espaço tão importante.
Ao chegar à CPAD, de início Marcos Tuler atuou como editor da
revista Lições Bíblicas e, posteriormente, chefiou por quase dez anos o
Setor de Educação Cristã, marcando o vértice definitivo entre os que o
precederam como encarregados, primeiramente pelas revistas de Escola
Dominical e, posteriormente, pelo então Departamento de Escola Do-
minical, mais tarde Divisão de Educação Cristã e, finalmente, Setor de
Educação Cristã, cuja trajetória contou com os seguintes responsáveis,
por ordem cronológica: Samuel Niström, Nils Kastberg, Emílio Conde
e José Pimentel de Carvalho (este último, anos depois, foi também dire-
tor do já criado Departamento de Escola Dominical),2 Geziel Gomes e
Antonio Gilberto (denominados coordenadores, sendo que o último foi
criador e, posteriormente, diretor do Departamento de Escola Domini-
cal), Adilson Faria, Raimundo de Oliveira, Antonio Mardônio Nogueira,
Gilmar Vieira Chaves, Claudionor de Andrade e Isael de Araujo. Além
disso, coordenou inúmeros Capeds (Curso de Aperfeiçoamento para
Professores de Escola Dominical), além de Conferências e Congressos.
Do farto catálogo de obras acerca de Educação Cristã que a
CPAD possui, cerca de 40 títulos, cinco delas são de sua autoria. A
despeito de todos os seus livros serem de caráter técnico, possuem uma
linguagem plenamente acessível ao imenso contingente de educadores
cristãos voluntários e, por isso mesmo, sem formação em Pedagogia.
Tal capacidade não advém unicamente da academia, mas de sua
prática como professor e superintendente de Escola Dominical, além
da docência e da coordenação de seminários teológicos e, finalmente,
direção de faculdade. No campo literário, suas obras renderam a ele
a oportunidade de ser membro da Academia Evangélica de Letras
do Brasil (AELB) e da Casa de Letras Emílio Conde. Além disso, há
décadas tem viajado pelo país inteiro e auxiliado na capacitação e
aperfeiçoamento de milhares de professores leigos.

2
Até 1974, quem foi encarregado pela publicação da revista era chamado
“diretor responsável”, pois ainda não existia um departamento específico
de Educação Cristã ou de Escola Dominical.

8
Prefácio

Por toda essa bagagem, mas, sobretudo, pela grande amizade


que desfrutamos, tenho imenso prazer em apresentar esta nova obra
do professor Tuler. Tive a grata oportunidade de integrar sua equipe
quando se ultimava os preparativos para o lançamento do currículo
de Escola Dominical mais completo que, à época (ia desde o berçá-
rio até a vida adulta, ou seja, nove faixas etárias, tendo mais duas
revistas para grupos específicos sendo as do discipulado e a de não
crentes), a CPAD já tinha publicado. O lançamento deu-se em 31 de
outubro de 2006, e mal sabíamos que nossas histórias se cruzariam
tanto, pois além de viajarmos inúmeras vezes juntos, acabei tendo a
incumbência de sucedê-lo na chefia do Setor e, por isso, tive de dar
prosseguimento ao relevante trabalho de Educação Cristã que havia
sido feito por quase uma década.
O trabalho que o leitor tem em mãos visa, como todas as demais
obras de Marcos Tuler, prover conhecimentos imprescindíveis aos
professores de Escola Dominical que, por serem voluntários, não
cursaram uma faculdade de Educação, mas exercem a docência. De
sua rica e vasta experiência, Tuler nos brinda uma vez mais com um
trabalho que fará parte do acervo de todo professor comprometido
com a Educação Cristã relevante, posto que seu objetivo é auxiliar os
educadores no processo de transmissão-assimilação. Tão importante
quanto o conteúdo que se ensina é a forma como se faz educação.
A sala pode se tornar um dos momentos mais prazerosos da vida do
educando, um local de satisfação e confronto, no qual ele deseja estar,
pois a cada aula cresce como indivíduo e como discípulo de Cristo.
Por outro lado, a forma como o educador conduz sua aula pode
tornar-se o maior empecilho à aprendizagem, levando os educan-
dos ao desestímulo e, consequentemente, à evasão. Os que não têm
formação técnica não podem mais se escusar de que não possuem
material acessível para aprenderem a transmitir o que pretendem
ensinar, pois Didática Essencial cumpre bem esse papel de auxiliá-los
na tarefa hercúlea de ensinar.

César Moisés Carvalho


Rio, outono de 2019

9
Introdução

A
palavra didática vem do grego didaktiké e significa arte de
ensinar. É uma disciplina pedagógica de caráter prático e
normativo, que tem por objetivo específico a técnica do en-
sino, isto é, a técnica de incentivar e orientar eficazmente os alunos
na sua aprendizagem. A palavra foi empregada pela primeira vez em
1629, pelo professor Ratke em seu livro Principais Aforismas Didáticos.
Porém, a expressão foi realmente consagrada por Comenius em sua
obra Didática Magna.
Ser didático é ser simples, claro, acessível, direto e organizado.
Imagine quantos alunos poderão perder o interesse diante de um
professor, confuso, desorganizado, que não tem a mínima noção de
como iniciar, desenvolver e concluir uma aula. Desses, há aos montes
por aí. Não porque queiram ou não tenham o menor interesse de
se aprimorarem em sua prática docente, mas por não possuírem a
mínima noção de didática.
Hoje, a didática não é considerada apenas uma arte, no sentido
de depender muito mais da intuição do professor, mas também uma
ciência, em razão das pesquisas sobre como melhor ensinar. Dessa
forma, podemos afirmar que a didática estuda os procedimentos des-
tinados a orientar a aprendizagem do aluno do modo mais eficiente
possível, com vistas no alcance dos objetivos visados previamente.

Razão e finalidade do livro


Ao longo de 16 anos, viajei por nosso imenso país, especialmente pelo
interior do Norte brasileiro, lecionando matérias teológicas e peda-
gógicas em cursos de formação de professores de Escola Dominical.
Sempre procurei enfatizar as disciplinas técnicas-didáticas por entender
Didática Essencial

que parte significativa daqueles professores não teve oportunidade de


cursar Pedagogia ou qualquer outro curso direcionado ao magistério.
São leigos e voluntários.
Depois de certo tempo, insistindo no ensino de procedimentos e
na utilização de recursos didáticos, percebi que a grande dificuldade
daqueles educadores cristãos não era o “fazer pedagógico”, ou seja,
não estava na utilização dos métodos e técnicas de ensinar, e sim em
como aprender para ensinar.
O problema não estava em como ensinar, mas em como aprender
para ensinar. Muitos professores não sabem estudar, no sentido de
apreender, assimilar, fixar, dominar plenamente o objeto da apren-
dizagem. Eles não possuem as habilidades necessárias à investigação
científica no campo da teologia e pedagogia. É por essas e outras ra-
zões que surgiu a ideia de incluir neste trabalho os capítulos 5, 6 e 7,
respectivamente, “O Professor e o Estudo”, “O Professor e a Prática
da Leitura” e “O Professor e a Pesquisa”.
Depois de tantos anos formando educadores cristãos, posso afirmar:
O professor que organiza previamente os conteúdos de sua matéria,
seleciona os procedimentos de ensino, disponibiliza os recursos e es-
colhe as formas mais adequadas de avaliação da aprendizagem, está
preparado para atender às demandas de sua práxis docente. O mestre
que se vale, pelo menos do que é essencial da Didática, é competente e
eficiente, no sentido de que provê para seus alunos maior volume de
aprendizagem, com menos esforço e em menor tempo.
“Didática Essencial” não pretende esgotar o assunto a que se
refere, portanto, não suprime a necessidade de se desenvolver um
estudo mais profundo por meio de outras fontes. O principal propó-
sito é fornecer aos professores de Teologia e Bíblia, leigos, voluntários
ou veteranos, conhecimentos elementares, porém fundamentais de
didática visando auxiliá-los em suas atividades na Escola Dominical
e demais áreas da educação cristã.

Para fins didáticos, todos os capítulos possuem as seguintes seções:

Seção 1: “Neste capítulo você aprenderá...”. Essa seção tem o propósito


de orientar o leitor/estudante sobre o conteúdo principal
do capítulo.
12
Introdução

Seção 2: “Este capítulo pretende ajudá-lo a...”. Essa seção mostra ao


leitor/estudante o resultado prático e imediato do seu
estudo.
Seção 3: “Responda”. Essa seção tem o propósito de avaliar o
aproveitamento do leitor/estudante por meio de atividades,
exercícios e questões objetivas.
Seção 4: “Para sua reflexão”. Essa seção tem por objetivo fazer o leitor/
estudante refletir mais profundamente sobre o assunto
focado na lição.
Seção 5: “Pesquise”. Essa seção tem por finalidade despertar a
motivação do leitor/estudante conduzindo-o à investigação
e à pesquisa.
Seção 6: “Saiba mais”. Essa seção traz uma breve bibliografia a fim
de que o leitor/estudante aprofunde-se no estudo do tema.
Seção 7: “Confira suas respostas”. Essa seção traz as respostas das
atividades, exercícios ou questões.

Espero que todos, especialmente os professores de Escola Dominical,


ao término da leitura deste livro estejam realmente habilitados, através
do aprendizado de técnicas de ensino, a orientarem a aprendizagem
de seus alunos nas mais diversas atividades educacionais da igreja.

Marcos Tuler

13
Sumário

Dedicatória........................................................................................5

Prefácio.............................................................................................7

Introdução.......................................................................................11

Capítulo 1:
O Professor Vocacionado e sua Capacidade de Incentivar o Aluno....17

Capítulo 2:
O Professor e o Processo de Ensino-Aprendizagem.......................29

Capítulo 3:
Objetivos e Técnicas de Ensino......................................................45

Capítulo 4:
Recursos Didáticos..........................................................................57

Capítulo 5:
O Professor e o Estudo....................................................................71

Capítulo 6:
O Professor e a Prática da Leitura..................................................89

Capítulo 7:
O Professor e a Pesquisa...............................................................107

Capítulo 8:
Educação, Desenvolvimento e Aprendizagem..............................123
Didática Essencial

capítulo 9:
Plano, Organização e Coerência..................................................137
Capítulo 10:
O Professor e o Conteúdo de Ensino............................................147

16
Capítulo 1

O Professor
Vocacionado e sua
Capacidade de
Incentivar o Aluno
Neste capítulo você aprenderá:
O significado de vocação autêntica; A importância das aptidões na-
turais específicas para o magistério; As diferenças entre motivação e
incentivos; As principais técnicas de incentivos do aluno.

Este capítulo pretende ajudá-lo a:


Certificar-se de sua vocação para o magistério eclesiástico; Despertar a
motivação em sua turma; Aplicar técnicas de incentivos na sala de aula.
Um autêntico professor de Escola Dominical deve atender no
mínimo a três condições básicas: vocação natural, aptidões específicas
e preparo especializado.

I. O Professor e sua Vocação


1. Vocação natural
A vocação floresce no cerne da personalidade humana. Tra-
ta-se de uma tendência fundamental do espírito, uma inclinação
preponderante para um determinado tipo de vida e de atividade,
em que se encontra plena satisfação e possibilidades de autorrea-
lização. Para o magistério a vocação revela-se como um conjunto
de predisposições temperamentais, preferências afetivas, atitudes
e ideais de cultura e de sociabilidade.

a) Sociabilidade
A educação e o ensino são fenômenos de interação psicológica
e social. O professor egocêntrico, fechado e que é incapaz de abrir e
Didática Essencial

manter contatos sociais com certo calor e entusiasmo, não está talhado
para a função do magistério; esta exige comunicabilidade e dedicação
à pessoa dos alunos e aos seus problemas.
Há professores que quando terminam suas aulas apressam-se
em deixar a sala, dizendo que já cumpriram sua missão e programa.
Saem, literalmente, em disparada para não responderem às possíveis
perguntas, dúvidas ou queixas dos estudantes. Não têm interesse no
aluno como pessoa, como indivíduo que tem necessidades, curiosida-
des, expectativas, e esperanças. O professor vocacionado tem prazer
de estar ao lado, no meio e com os seres humanos.

b) “Amor paedagogicus”
A palavra hebraica hanak, “educar”, tem uma raiz original que
quer dizer “dedicar” ou “consagrar”. Sei que isso pode parecer
romantismo exagerado de minha parte, mas educadores cristãos
autênticos amam e se dedicam a seus alunos. Isso significa que o
professor deve ir além da simples simpatia e interesse por eles. O
mestre vocacionado deseja imensamente auxiliar seus pupilos em
seus problemas, necessidades e expectativas. O professor desenvolve
um puro sentimento de empatia, ou seja, coloca-se no lugar do aluno
para sentir o que ele está sentindo, como se estivesse no lugar dele.
Um autêntico educador importa-se mais com a pessoa do aluno que
com a frieza do conteúdo e currículo.
Xenofonte, grande filósofo da antiguidade, disse: “Nunca pude
aprender nada com aquele mestre: ele não me amava”.

c) Apreço e interesse pelos valores da inteligência e da


cultura
O professor que tem vocação para o magistério é naturalmente
um estudioso, um leitor assíduo, com sede de novos conhecimentos
capaz de se entusiasmar pelo progresso da ciência e da cultura.
O professor que não se lança ao labor da pesquisa não pode
lecionar de forma relevante. Nunca é suficiente o conhecimento ad-
quirido e acumulado ao longo dos anos. Há sempre algo que precisa
ser aprendido, revisado ou revisitado. O professor deve ser um eterno
aprendiz. Charles Spurgeon, o príncipe dos pregadores, já dizia: “O
que deixa de aprender também cessa de ensinar”.
18
O Professor Vocacionado e sua Capacidade de Incentivar o Aluno

2. Aptidões Específicas
São atributos ou qualidades pessoais que exprimem certa dispo-
sição natural ou potencial para um determinado tipo de atividade
ou de trabalho. São características específicas da personalidade que,
comumente, completam o quadro com a vocação e que, quando
cultivadas, asseguram a capacidade profissional do indivíduo. Para o
magistério, as aptidões mais importantes são as seguintes:

a) Saúde física e equilíbrio mental


O ideal é que o mestre desfrute de plena saúde física, orgânica.
É imprescindível ao professor cuidar-se através de uma alimentação
balanceada, exercícios físicos, descanso, lazer e exames médicos perió-
dicos. Uma pessoa que viva, por descuido, constantemente enferma
não estará apta para as demandas do magistério. Equilíbrio mental
e emocional é indispensável àquele que ensina e educa. Você pode
imaginar o estrago que um professor mentalmente desequilibrado
faria a uma determinada classe?

b) Boa apresentação
Há os que não concordam ou simplesmente ignoram, mas a boa
apresentação do professor é extremamente importante para a assimilação
do conteúdo didático. Como cativar a atenção de um aluno que não
consegue deixar de reparar a negligente aparência de seu professor?
Roupas amarrotadas, gravatas tortas no pescoço, cabelos desalinhados,
unhas sujas, barba por fazer, maus odores e outros desleixos costumam
despertar mais a atenção dos alunos do que o conteúdo em si mesmo.

c) Órgãos de fonação, visão e audição em boas condições


Não significa que o mestre que tenha deficiências visuais, fonéticas
ou auditivas não possa lecionar. Estamos falando do que é ideal. É
óbvio que o professor portador dessas deficiências terá mais dificul-
dades para desempenhar suas funções magisteriais.

d) Boa voz: firme, agradável e convincente


A voz do professor deve expressar sua convicção acerca de tudo
o que ensina. Há mestres que ao invés de pronunciarem a palavra
19
Didática Essencial

cheia, plena, completa, inteligível costumam “espremê-las” ou


“mastigá-las” pelos cantos da boca. Não é o caso de se ter uma voz
bonita, aveludada ou sonora, como a de um barítono. Mas, sim, de
se esmerar a fim de que nossa mensagem seja agradável, convincente
e plenamente compreensível. Quem ensina persegue a ênfase, ou seja,
faz de tudo para que o objeto da aprendizagem seja apreendido. A
ênfase tão desejada no magistério, às vezes, se consegue com a simples
modulação da voz. É necessário aumentar ou diminuir o volume da
voz para se conseguir enfatizar determinadas palavras, frases ou ideias.

e) Linguagem fluente,
clara e simples
Para sua O tom de voz do professor
Reflexão deve ser igual ao de uma conversa
e a forma de expressão deve ser
“Ser didático é, o diálogo. A linguagem deve ser
antes de tudo, simples: não há necessidade de se
ser simples, usar frases rebuscadas, recheadas
acessível, claro”. de termos técnicos ou de palavras
(Rafael Grisi) pouco usadas. Deve ser direta,
ou melhor, ir diretamente ao
assunto que está sendo tratado.

f) Confiança em si mesmo e presença de espírito, com


perfeito controle emocional
Confiar em si mesmo não significa deixar de confiar primeira-
mente em Deus. Confiar no Senhor é imprescindível em todas
as coisas. Porém, o mestre precisa acreditar em sua potenciali-
dade, capacidade e condição para realizar o trabalho da melhor
maneira possível.
Outras aptidões também importantes são elas: naturalidade
e desembaraço; firmeza; perseverança, imaginação, iniciativa e
liderança; habilidades de criar e manter boas relações humanas.

3. Preparo Especializado
O conhecimento amplo e sistemático da matéria ou da respectiva
área de estudo é condição essencial e indispensável para a eficiência

20
O Professor Vocacionado e sua Capacidade de Incentivar o Aluno

do magistério. O professor deve conhecer, pelo menos, bem mais do


que o estritamente exigido pelos programas das disciplinas, tanto em
extensão como em profundidade.

II. O Professor e sua Capacidade de Incentivar


o Aluno
O que é incentivo? O que é motivação? Há diferença entre esses termos
ou ações? Pode o professor motivar o aluno? Ou apenas incentivá-lo?
Os melhores teóricos nessa área dizem que o incentivo ocorre quando
os alunos recebem estímulos externos, isto é, incentivos. Enquanto
que a motivação ocorre quando os alunos são estimulados por fa-
tores internos, ou seja, eles já possuem os motivos. Então, podemos
depreender que o professor apenas pode despertar a motivação dos
alunos por intermédio de incentivos.

1. Incentivos versus Motivação


A motivação e o incentivo podem ser intrínsecos ou extrínsecos.
São intrínsecos quando o aluno tem interesse pela própria atividade.
São extrínsecos quando o aluno não tem interesse pela atividade em
si, mas por suas consequências. Vejamos:

Motivação intrínseca – Quando o aprendiz tem motivos para


estudar aquela matéria e tem interesse
real por ela.
Motivação extrínseca – Quando quem aprende está estimu-
lado por aspectos correlatos ao tema,
e não pelo próprio tema.
Incentivos intrínsecos – Quando estimula o aluno a estudar
o assunto pelo valor que ele encerra.
Incentivos extrínsecos – Quando o mestre estimula o aluno a
prender fatores estranhos à aprendi-
zagem em si.

Exemplos:
ææ Uma pessoa muito ocupada e cheia de responsabilidades
pinta quadros, nas suas poucas horas de lazer, pelo prazer de
pintar, sem visar a qualquer outro fim (motivação intrínseca).
21
Didática Essencial

ææ Os pais de um jovem dão-lhe um violão, e ele, que até então


não havia pensado em tocar um instrumento, passa a ter aulas
de música e acaba empolgando-se por essa nova atividade
(incentivo intrínseco).
ææ Uma criança, desejando ganhar uma bicicleta, resolve ser boa
estudante, sem que tal resolução tenha sido sugerida por outra
pessoa (motivação extrínseca).
ææ A mãe de uma adolescente vaidosa consegue despertar nela o
interesse em aprender “corte e costura”, a fim de que ela pos-
sa, com maior facilidade, renovar seu próprio guarda-roupa
(motivação intrínseca).

Para sua Reflexão

“A tarefa do professor é despertar a mente


do aluno, é estimular ideias, através do
exemplo, da simpatia pessoal, e de todos
os meios que puder utilizar para isso, isto
é, fornecendo-lhe lições objetivas para os
sentidos e fatos para a inteligência [..]. O
maior dos mestres disse: ‘A semente é a
palavra’. O verdadeiro professor é o que
revolve a terra e planta a semente.”
(John Milton Gregory)

2. Técnicas Didáticas de Incentivos


Segundo a pedagoga Irene Mello Carvalho, as técnicas incenti-
vadoras abaixo são as mais utilizadas na sala de aula.

a) Correlação com o real


O professor mostra o quanto sua matéria é importante, relacionando
os assuntos ou tarefas propostas a aspectos reais da vida. Essa técnica
é usada no início e no meio das atividades. Exemplo: apresentação
de um filme, fotografia, gravura, visitas, excursões, etc.

22
O Professor Vocacionado e sua Capacidade de Incentivar o Aluno

b) Participação ativa
Todo ensino tem de ser ativo; toda aprendizagem não pode dei-
xar de ser ativa, pois ela somente se efetiva pelo esforço pessoal do
aprendiz, visto que ninguém pode aprender por alguém. O professor
deve solicitar, quer no início, quer no decurso de qualquer atividade,
a opinião, a colaboração, a iniciativa e o trabalho do próprio aluno.
Essa técnica é usada no início e meio.

c) Êxito inicial
O professor deve facilitar por todos os meios possíveis uma perfeita
compreensão das ideias expostas e debatidas, prevendo e aplainando
as dificuldades que os trabalhos possam apresentar. O aluno que con-
segue compreender bem o assunto ou resolver as questões propostas
logo no início, sentir-se-á disposto a dar seguimento ao processo de
aprendizagem. Essa técnica é usada somente na fase inicial.

d) O insucesso inicial
O insucesso deve ser de cunho passageiro, já que o professor deve
orientar o aluno a vencer as dificuldades, tão logo seja possível. É uma
técnica incentivadora valiosa quando se trata de um assunto aparen-
temente fácil ou que o aluno supõe já ter dominado suficientemente.
O professor deve apresentar questões um pouco acima da capacidade
atual dos alunos, para fazer com que eles sintam a necessidade de estu-
dar o tema que julgam já conhecer ou pensam dominar plenamente.
Essa técnica é usada somente no início do processo.

e) Apresentação de tarefas
Consiste em pedir aos alunos que cumpram determinadas tarefas
tais como, fazer uma pesquisa, trazer determinado objeto ou realizar
alguma atividade em casa com a finalidade de utilizar os resultados
dessas ações na próxima aula. Essas são, sem dúvida alguma, exce-
lentes maneiras de incentivar a classe.

f) Atividades socializadas ou trabalho em grupo


Aqui a potencialidade incentivadora decorre do processo intera-
tivo mental e social que serve de base e é estimulante para a maioria
das pessoas normais. Exceção: por problemática psicológica ou por
23
Didática Essencial

características de personalidade alguns preferem estudar e produzir


a sós. Essa técnica é usada no final.

g) Auto e heterocompetição
O aluno deve ser orientado no sentido de desejar o seu progresso
individual, com fundamento na comparação de seus resultados atuais
com seu próprio rendimento anterior. A competição individual deve ser
afastada do quadro escolar pelos seus aspectos deseducativos. Já a com-
petição entre grupos será usada eventualmente, pois tem muitos aspectos
positivos e alguns poucos negativos. Essa técnica é usada no final.

OBS: Todas as técnicas incentivadoras até aqui apresentadas, rela-


cionam-se intrinsecamente com a matéria a ser aprendida ou com
o método empregado.

h) Interesse pelos resultados da aprendizagem


Trata-se, aqui, do interesse pelas notas ou conceitos que ha-
verão de garantir a aprovação do aluno e consequente promoção
de classe.

i) Desejo de corresponder à dedicação e ao interesse


do professor
Apela-se para a sensibilidade do aluno, procurando estabelecer
um forte elo afetivo entre educador e educando, pela demonstração
do interesse pessoal por aquele aluno e pelos problemas que estão
prejudicando a aprendizagem.

j) Incentivos negativos: Sanções, advertências, notas


baixas, reprovação
O professor mantém seus alunos motivados quando consegue
aliar um bom conhecimento da matéria a uma excelente preparação
didática. Além disso, é imprescindível ao mestre incentivador saber
escolher métodos didáticos adequados à sua classe e conjugá-los com
ótimos recursos audiovisuais. Um professor com essas qualificações não
precisa apelar para truques de animação a fim de manter sua classe
atenta e interessada; seus alunos sentem prazer em assistir às suas aulas.
24
O Professor Vocacionado e sua Capacidade de Incentivar o Aluno

Responda
1. Quais são as três principais características de uma pessoa voca-
cionada para o magistério?

2. Por que as pessoas egocêntricas, fechadas, incapazes de fazer


contatos sociais não estão em condições de assumir o magistério?

3. O que são aptidões específicas para o magistério?

4. O que é motivação? Defina o que significa incentivo?

25
Didática Essencial

5. Das fontes de incentivos abaixo, qual a que predomina na sua


prática docente?

a) A própria matéria de ensino.


b) O método utilizado pelo professor.
c) Os modernos recursos audiovisuais.
d) A personalidade docente.

Confira suas Respostas


R1. Sociabilidade, amor paedagogicus e interesse pelos valores
da inteligência e da cultura.

R2. O magistério exige comunicabilidade e dedicação à pessoa


dos alunos e suas necessidades.

R3. São atributos ou qualidades pessoais que exprimem certa


disposição natural ou potencial para um determinado tipo
de atividades ou de trabalho.

R4. A motivação ocorre quando os alunos são estimulados


por fatores internos (os motivos). O incentivo acontece
quando os alunos recebem estímulos externos (incentivos).

R5. Resposta pessoal.

Saiba Mais
BORDENAVE, Juan Díaz; PEREIRA, Adair Martins. Estratégias de
Ensino-Aprendizagem. 17. ed. Petrópolis: Vozes, 1997.
CARVALHO, Irene Mello. O Processo Didático. Rio de Janeiro: Fun-
dação Getúlio Vargas, 1972.

26
O Professor Vocacionado e sua Capacidade de Incentivar o Aluno

GANGEL, Kenneth O.; HENDRICKS, Howard, G. Manual de Ensino


para o educador cristão. Rio de Janeiro: CPAD, 1999.
GONÇALVES, Romanda. Didática Geral. 12. ed. Rio de Janeiro:
Livraria Freitas Bastos, 1982.
GREGORY, John Milton. As Sete Leis do Ensino. 3. ed. Rio de Janeiro:
JUERP, 1977.
GRISI, Rafael. Didática Mínima. 6. ed. São Paulo: Companhia Editora
Nacional, 1967.
MATTOS, Luiz Alves de. Sumário de Didática Geral. 16. ed. Rio de
Janeiro: Aurora, 1963.
MONTEIRO, Conceição P.; OLIVEIRA, Maria Helena C. Didática
da linguagem. São Paulo: Saraiva, 1987.
PILLETE, Claudino. Didática geral. São Paulo: Ática, 1984.
POPHAM W. James; BACKER Eva L. Sistematização do ensino. 2. ed.
Porto Alegre: Globo, 1978.
SILVA, Hildo Barcelos, Didática para a Escola Dominical. São Paulo:
Casa Editora Presbiteriana, 1986.
SMITH, Cathryn. Programa de Educação Religiosa. 6. ed. Rio de Janeiro:
JUERP, 1995.
TULER, Marcos A. Manual do professor de Escola Dominical. Rio de
Janeiro: CPAD, 2002.
TURRA, Clódia Maria Godoy. Planejamento de Ensino e Avaliação. 9.
ed. Porto Alegre: PUC-EMMA, 1975.

Pesquise
Faça uma pesquisa em sua Escola Dominical. Entreviste alguns pro-
fessores e faça as seguintes perguntas: Que tipo de aproveitamento
terá o aluno cujo professor exerça suas atividades por obrigação?
Você é um professor vocacionado? Em que deve basear-se a escolha
dos professores da Escola Dominical? De que maneira você tem
incentivado seus alunos?

27
Capítulo 2

O Professor e o
Processo de Ensino-
-Aprendizagem
Neste capítulo você aprenderá:
O que é aprender? O que é ensinar? Como evoluíram os conceitos
de aprender e ensinar? Qual a importância da comunicação para o
processo ensino-aprendizagem?

Este capítulo pretende ajudá-lo a:


Distinguir os conceitos de ensinar e de aprender com base nas novas
concepções educacionais. Reconhecer a importância da comunica-
ção como principal tecnologia de ensino, diferenciando-a da simples
informação.
O que realmente significa ensinar? O que é aprender? Para muitos
ensinar significa apenas transferir saberes e conhecimentos de uma
cabeça à outra. Se partirmos da etimologia da palavra, teremos de dar
razão a tais pessoas, uma vez que ensinar vem do latim insignare que
quer dizer “colocar dentro”, “gravar no espírito”, introduzir ideias
na cabeça do indivíduo. Se ensinar fosse somente isso, qualquer um
estaria apto para essa tarefa. Todavia, ensinar vai além das raias da
simples transferência de informações, envolve comunicação e rela-
cionamento. Antigamente, aprender significava apenas memorizar e
acumular conteúdos. E hoje? Como consideramos a aprendizagem?
Ao longo da história da pedagogia e da didática, os conceitos de en-
sino e aprendizagem vêm sofrendo significativa evolução. Vejamos:

I. O que É Aprender
Até o século XVI, aprender era apenas memorizar. No presente,
sabemos que a simples memorização de textos e palavras não prepara
Didática Essencial

ninguém para a realidade da vida e sua complexa problemática; não


desenvolve a inteligência, não aguça o discernimento nem estimula a
reflexão; forma, apenas, repetidores passivos, com esquemas mentais
rígidos e irreversíveis.
No século XVII, Comenius, o pai da didática moderna, dividiu a
aprendizagem em três etapas: compreensão, memorização e aplicação.
Dessa forma, o ensino passou a ser fortemente expositivo e explicativo,
pois a finalidade é compreender e dar sentido ao conhecimento con-
seguido. Hoje, verifica-se que a mera explanação verbal do professor
não é tão essencial e indispensável para “o aprender” dos alunos; serve
apenas para iniciar a aprendizagem, e não para integrá-la levando-a a
bom termo. Do fato de o professor ter explicado muito bem a matéria
não se pode concluir que os alunos já aprenderam.
Atualmente, verifica-se que aprender é um processo: lento, gradual
e complexo de interiorização e de assimilação, no qual a atividade
do aluno é o fator decisivo. A aprendizagem não é de modo algum
um processo passivo de mera receptividade; é, pelo contrário, um
processo eminentemente operativo, em que a atenção, o empenho e
o esforço do aluno representam o papel central e decisivo. Ana Lúcia
Buogo diz que

Aprender implica apreender (tomar para si), por isso sempre


inclui, em seu processo, uma elaboração do próprio sujeito so-
bre aquilo que constrói aprendizagem. O ato de decorar pode
contribuir para a aprendizagem em momentos específicos, mas
nunca encerrará em si o aprender sobre algo.

Os dados do conhecimento têm que ser identificados, analisados,


reelaborados e incorporados na contextura mental dos alunos, em
estruturas definidas e bem coordenadas. Conheça agora as etapas do
processo de aprendizagem:

1. Etapas do processo de aprendizagem


Aqui é importante ressaltar que a aprendizagem não é apenas
um processo de aquisição do conhecimento, conteúdo ou informa-
ções. As informações são importantes, mas precisam passar por um
processamento muito complexo, a fim de se tornarem significativas
30
O Professor e o Processo de Ensino-Aprendizagem

para a vida das pessoas (isso será aprofundado mais adiante). Todas
as informações, todos os dados da experiência devem ser trabalhados
de maneira consciente e crítica por quem os recebe.

a) Sincretismo inicial. Primeiro temos apenas algumas noções


vagas, confusas e errôneas do objeto da aprendizagem.
b) Focalização analítica. Cada parte do todo é, por sua vez,
examinada, identificada nos seus pormenores e nas suas parti-
cularidades. Também conhecida como fase da “diferenciação”,
“discriminação”.
c) Síntese integradora. Os pormenores se estruturam integran-
do-se num todo coerente de significados, de compreensões ou
de habilitações. Também chamada de etapa de “integração” ou
“síntese”.
d) Consolidação ou de fixação. Por exercícios e repasses interati-
vos, o que foi aprendido analítica e sinteticamente é reforçado ou
fixado, de modo a tornar-se uma aquisição integrada em esquemas
mentais bem estruturados na mente dos alunos.

OBS: Essas fases não são estanques; não há um momento preciso no


qual podemos dizer que termina uma fase e começa outra.

A moderna pedagogia diz que aprender é modificar o compor-


tamento. O professor pode afirmar que seu aluno sabe tudo acerca
de determinado assunto, todavia esse aluno não demonstra na sua
prática do dia a dia as mudanças implicadas no conteúdo didático
recebido. Não houve mudança significativa no comportamento do
aluno. Essa modificação do comportamento abrange alterações na
maneira de pensar, sentir e agir. Então podemos dizer que a apren-
dizagem pode ser:

a) Aprendizagem ideativa. Quando envolve novas ideias.


b) Aprendizagem afetiva. Quando o aprendiz toma novas atitudes.
c) Aprendizagem motora ou verbo-motora. Quando o
aprendiz adquire habilidades para, por exemplo, nadar, diri-
gir um automóvel, conjugar verbos, discursar ou ensinar com
desenvoltura, etc.
31
Didática Essencial

A aprendizagem em
sua plenitude acon-
tece quando o aluno
Para sua Reflexão compreende o objeto
de estudo, reconstrói
“A aprendizagem se
realiza através da o caminho de inven-
conduta ativa do aluno, ção ou descoberta e
que aprende mediante o o aplica de modo a
que ele faz e não o que estabelecer relação
faz o professor.” direta entre teoria e
(Ralph W. Tyler) prática.
Aprender não é
atividade fácil, banal;
requer total dedica-
ção e interesse por parte do aprendiz. Ninguém aprende sem estar
completamente interessado, e envolvido no objeto e no processo da
aprendizagem. Tudo o que aprendemos até hoje, só aprendemos por-
que desejamos e decidimos aprender. Há um provérbio popular que
diz que podemos levar um cavalo até o ribeiro de águas, mas fazê-lo
beber é impossível. O cavalo somente beberá se quiser, se desejar. O
mesmo acontece com a aprendizagem. O mestre precisa encontrar o
“foco de interesse” de seus alunos se pretende ensiná-los de verdade.
Finalmente, concordo quando Schmitz diz que a aprendizagem
é “um processo de aquisição e assimilação, mais ou menos conscien-
te, de novos padrões e novas formas de perceber, ser, pensar e agir”
(Schmitz, E.F. p. 53).

2. Aprendizagens significativas
Para David Ausubel, psicólogo da educação, o mais impor-
tante no processo de ensino é que a aprendizagem seja significa-
tiva. Isto é, o material a ser aprendido faça sentido para o aluno.
Isso acontece quando a nova informação “ancora-se” nos con-
ceitos relevantes já existentes na estrutura cognitiva do aprendiz.
Nesse processo, a nova informação interage com uma estrutura de
conhecimento específica que Ausubel chama de conceito subsunçor.
Essa é uma expressão que tenta traduzir o termo inglês subsumer.
Quando o material a ser aprendido não consegue ligar-se a algo já
32
Didática
Essencial Em que deve basear-se as es-
Ao longo de dezesseis anos, viajei por nosso imenso país, colhas dos professores, a fim
especialmente pelo interior do Norte brasileiro, lecionando de incentivar o aprendizado
matérias teológicas e pedagógicas em cursos de formação de de seus alunos? Você costu-
Pastor, pedagogo, ba- professores de Escola Dominical. [...] Depois de certo tempo, ma variar seus procedimentos
charel em Teologia, pós- insistindo no ensino de procedimentos e na utilização de re- e dinâmicas de ensino? Ser
-graduado em Docência cursos didáticos, percebi que a grande dificuldade daqueles didático é ser simples, claro,

Marcos Tuler
Superior, Gestão e Supervisão Es- educadores cristãos não era o “fazer pedagógico”, ou seja, não acessível, direto e organiza-
colar e Psicopedagogia, mestre em do, e, ao folhear as páginas
estava na utilização dos métodos e técnicas de ensinar, e, sim,
Educação, conferencista, articulista. a seguir, você, professor de
em como aprender para ensinar.
É membro da Casa de Letras Emílio Escola Dominical, descobri-
Conde, membro correspondente O principal propósito é fornecer aos professores de Teologia rá a importância das técnicas
da Academia Evangélica de Letras e Bíblia, leigos, voluntários ou veteranos, conhecimentos ele- didáticas nos procedimentos
do Brasil, e autor dos livros Manual mentares, porém fundamentais de didática, visando auxiliá-los destinados à orientação do
do Professor de Escola Dominical, em suas atividades na Escola Dominical e demais áreas da ensino das Sagradas Escrituras.
Recursos Didáticos para a Escola educação cristã. Boa leitura!
Dominical, Dicionário de Educação
Espero que, especialmente os professores de Escola Dominical,
Cristã, Ensino Participativo para a
ao término da leitura deste livro, estejam realmente habilitados,
Escola Dominical e Abordagens e
através do aprendizado de técnicas de ensino, a orientarem a
Práticas da Pedagogia Cristã, todos
publicados pela CPAD. aprendizagem de seus alunos nas mais diversas atividades edu-
cacionais da igreja.

Didática Essencial
Marcos Tuler

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