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Intervenções de Enfermagem

Intervencionista / Intensivista:
Sistema Gastrointestinal

Profa Luciene Mantovani Silva Andrade


Sistema Gastrointestinal
 O trato digestório e os órgãos
anexos constituem o sistema
digestório.
 O trato digestório é um tubo oco
que se estende da cavidade bucal
ao ânus, sendo também chamado
de canal alimentar ou trato
gastrintestinal.
 As estruturas do trato digestório
incluem: boca, faringe, esôfago,
estômago, intestino delgado,
intestino grosso, reto e ânus.
Distúrbios Gastrointestinais – Sangramento
Gastrointestinal Agudo

 Os sangramentos intestinais agudos são uma


emergência médica potencialmente fatal.
 Assim a Hemorragia Digestiva Aguda (HDA),
pode ser diferenciada em digestiva alta e baixa.
 O ligamento de Treitz ou ligamento
suspensório duodenal, que na junção entre
duodeno e jejuno constitui a divisão anatômica
dos tratos gastrointestinal inferior e superior.
Distúrbios Gastrointestinais – Sangramento
Gastrointestinal Agudo

 As hemorragias que decorrem


de lesões proximais ao
ligamento de Treitz são
consideradas hemorragias
digestivas altas (HDA) e,
distais a ele, hemorragias
digestivas baixas (HDB).
Distúrbios Gastrointestinais – Sangramento
Gastrointestinal Agudo
 HDA
 Causas comuns -
 Origem esofágica: varizes, esofagite, úlceras,
tumores e lacerações de Mallory-Weiss;
 Origem Gástrica: úlceras pépticas, gastrite,
tumores, agiodisplasia e lesões de Dielafoy;
 Origem Duodenal: úlceras pépticas,
angiodisplasia, doença de Crohn;
Distúrbios Gastrointestinais – Sangramento
Gastrointestinal Agudo

 Doença de úlcera péptica: contribui com cerca de


50% de todas as HDA, o sangramento decorre da
erosão da úlcera dentro da parede de um vaso;
 Um fator de risco para esta doença é a presença de
infecção pela bactéria H. pylori.
 Na ausência da infeção a ingestão de aspirina ou de
agentes antiinflamatórios não esteroidais (AINEs)
contribuem para o apareciemento desta doença.
 Tabagismo constitui outro fator de risco.
Distúrbios Gastrointestinais – Sangramento
Gastrointestinal Agudo
 Síndrome erosiva relacionada ao estresse é comum em
pacientes criticamente doentes, e passíveis de prevenção;
 São ulcerações mais superficiais e difusas, podem
desenvolver-se em estomago, duodeno e esôfago após a
lesão inicial do paciente.
 A perfusão diminuída da mucosa do estômago contribui
para o desenvolvimento da úlcera;
 Dificultando a secreção adequada de muco, ph baixo,
regeneração celular deficiente, e tolerancia diminuída às
secreções gástricas;
Distúrbios Gastrointestinais – Sangramento
Gastrointestinal Agudo
 Varizes esofágicas desenvolvem-se como consequência a
uma hipertensão portal, decorrente da cirrose hepática, com
aumento da resistência no sistema venoso porta que é
provocado pela ruptura da estrutura hepática normal;
 Em resposta a esta resistência aumentada, pela hipertensão
portal, as veias colaterais desenvolvem-se na tentativa de
promover melhor retorno sanguíneo a circulação sistêmica;
 E assim veias varicosas ou varizes formação no esôfago,
estômago, duodeno, cólon, reto ou ânus.
 Os sangramentos da junção gastroesofágica podem ser
maciços, com taxa de mortalidade em torno de 40%.
Distúrbios Gastrointestinais – Sangramento
Gastrointestinal Agudo
 Lacerações de Mallory-Weiss são lacerações que ocorrem na
porção distal do esôfago, na junção gastroesofágica e na cárdia
do estômago.
 Ocorre quando um leito venoso ou arterial é envolvido, tendo
ligação forte com o uso contínuo de álcool e recente, e uma
história de vômito ou náusea vigorosa, ou tosse violenta.
 Lesões de Dieulafoy são malformações vasculares arteriais
submucosas e incomunmente grandes, com contato íntimo com a
mucosa gastrointestinal, aparecem com mais frequência no
estômago.
 Por essas lesões ocorrerem em artérias o sangramento é maciço e
pode ser recorrente.
Distúrbios Gastrointestinais – Sangramento
Gastrointestinal Agudo
 Apresentação clínica do paciente com HDA
 Apresentação compatível com perda sanguínea, se esta perda for
rápida e maciça, pode apresentar sinais de choque hipovolêmico.
 Pela perda sanguínea o sistema nervoso simpático libera
catecolaminas, epinefrina e norepinefrina, causando aumento da
FC e vasoconstrição vascular periférica;
 Podem ocorrer alterações pressóricas ortostáticas com a perda
sanguínea superior a 1000ml.
 Como no choque hipovolemico, orgãos nobres são preservados;
 Pode ocorrer hiperventilação para manutenção das trocas gasosas;
Distúrbios Gastrointestinais – Sangramento
Gastrointestinal Agudo

 Outra apresentação clássica é a hematêmese, a


hematoquezia e a melena;
 HDA pacientes com vômitos de sangue fresco e
inalterado ou em “borra de café”; melena pode
perdurar até dias depois do tratamento da HDA;
 Assim a história e exame físico são fundamentais
para sugerir as causas subjacentes;
Distúrbios Gastrointestinais – Sangramento
Gastrointestinal Agudo
 Histórico
 Dor epigástrica, dispepsia ou histórias de úlcera
péptica anterior;
 Sangramento gastrointestinal anterior – reicidiva de
60%;
 Uso agressivo de álcool (cirrose e varizes);
 Tabagismo;
 Histórico de úlceras duodenais;
 Vomito, tosse ou náusea antes do sangramento
(Mallory-Weiss);
 Uso prévio de AINEs ou aspirina;
Distúrbios Gastrointestinais – Sangramento
Gastrointestinal Agudo
 Tratamento
 Reanimação fluidica, compatíveis ao choque
hipovolêmico.
 Oxigênio suplementar pala perda sanguínea;
 IOT com sangramentos ativos e risco de broncoaspiração
ou rebaixamento do nível de consciência;
 Dieta zero e uso de SNG;
 SVD;
 E todos os pacientes com instabilidade hemodinâmica,
queda de hematócrito, precisam de internação em UTI e
hemotransfusão de papas de hemácias.
Distúrbios Gastrointestinais – Sangramento
Gastrointestinal Agudo
 Reposição volêmica: A intensidade da ressuscitação deve ser
proporcional à gravidade do sangramento. Após a obtenção de
dois acessos venosos calibrosos, a reposição rápida de volume
com cristaloides (solução fisiológica 0,9%) deve objetivar a
normalização dos sinais vitais e dos parâmetros vitais.
 A transfusão de concentrado de hemácias tem como objetivo a
manutenção do hematócrito. Na vigência de coagulopatias,
pode-se utilizar plasma fresco congelado e/ou concentrado de
plaquetas.
 Sondagem Nasogástrica: registra a presença de sangramento, e
alterações no sangramento, também descomprime e auxilia na
lavagem gástrica se necessário. Não utiliza-se soluções geladas,
risco de arritmias e perda de temperatura corporal.
Distúrbios Gastrointestinais – Sangramento
Gastrointestinal Agudo
 Terapia antissecretora: O emprego de inibidores de bomba
protônica (IBP), em casos de HDA por úlcera, reduz
significativamente as taxas de ressangramento, a
necessidade de intervenção cirúrgica ou de retratamento
endoscópico. A terapia profilática de úlceras por estresse
pode ser feita com antagonistas da histamina (H2), mas não
na terapia antissecretora.
 Melhora da hipertensão portal, nos casos em que se aplica
com medicações (terlipressina, somatostatina ou
octreotídeo);
 Endoscopia para tratamento e diagnóstico definitivo.
Distúrbios Gastrointestinais – Sangramento
Gastrointestinal Agudo
 Cuidados de enfermagem....

 Vamos pensar....
Distúrbios Gastrointestinais – Sangramento
Gastrointestinal Agudo
 HDB tem como causas comuns: tumores malignos, pólipos,
colite ulcerativa, doença de Crohn, colite sistêmica ou
infecciosa, angiodisplasia, diverticulite, hemorróidas;
 Causas mais comuns como a diverticulite, protusões
saculares na parede do cólon, no ponto onde as artérias
penetram na parede colônica, esses vasos ficam somente
separados pela mucosa da parede intestinal e propensos a
lesão;
 Fatores de risco como o uso de AINEs e dieta pobre em
fibras pode levar a sangramentos;
Distúrbios Gastrointestinais – Sangramento
Gastrointestinal Agudo
 Angiodisplasia também chamada malformação
arteriovenosa, descreve veias submucosas
dilatadas e tortuosas com comunicações
arteriovenosas ou ainda artérias dilatadas;
 Aumenta sua incidência com a idade, e ocorre
em geral no cólon, são menos graves os
sangramentos por angiodisplasia, visto que
tratam-se na maioria das vezes de sangramentos
venosos.
Distúrbios Gastrointestinais – Sangramento
Gastrointestinal Agudo
 Apresentação clínica do paciente é definida pela
presença de instabilidade hemodinâmica e
eliminação de hematoquezia;
 Geralmente os sangramentos diverticulares são
indolores, porém podem apresentar cólicas;
 Este sangramento pode ser crônico também, e
anemia pode estar presente;
 O sangramento maciço de hemorróidas é raro,
mas pode ocorrer.
Distúrbios Gastrointestinais – Sangramento
Gastrointestinal Agudo
 O histórico do paciente quanto a cirúrgias
abdominais anteriores, episódio hemorrágico
prévio, doença de úlcera péptica, doença
intestinal inflamatória;
 A história de medicamentos, febre, dor
abdominal, urgência retal, perda de peso e a idade
são subsidios.
 O exame físico pode ser inespecífico, massas
palpáveis, e exames retais podem ser realizados;
Distúrbios Gastrointestinais – Sangramento
Gastrointestinal Agudo

 O tratamento das complicações da perda sanguínea


maciça são necessários para melhora hemodinâmica,
seguindo o algoritmo de reanimação flúidica.
 Uso de sonda nasoentereal para excluir sangramentos
altos;
 A colonoscopia é o exame de escolha na avaliação da
HDB, e o tratamento também é indicado.
 A laparotomia exploradora também pode ser uma
indicação cirúrgica necessária.
Distúrbios Gastrointestinais – Sangramento
Gastrointestinal Agudo
 Cuidados de enfermagem...

 Vamos pensar...
Abdome Agudo
 DEFINIÇÃO
 Quadro clínico abdominal caracterizado por dor, de início
súbito ou de evolução progressiva, que necessita de
definição diagnóstica e de conduta terapêutica imediata.
 Muitas doenças, algumas das quais não necessitam de
tratamento cirúrgico, causam dor abdominal, de modo que a
avaliação de pacientes com dor abdominal deve ser metódica
e cuidadosa.
 Como existe, com freqüência, um distúrbio intra-abdominal
progressivo, o retardo do diagnóstico e do tratamento afetam
o prognóstico.
Abdome Agudo
 Uma grande série de doenças musculares, gastro-intestinais,
ginecológicas, urológicas, vasculares, psicossomáticas, cardíacas,
parasitárias, pulmonares e intoxicações exógenas, dentre outras
podem causar dor abdominal e até simular abdômen agudo.
 No ano de 2002 nos EUA, cerca de 7 milhões de pacientes
procuraram serviços de emergência com quadro de dor
abdominal, 7,5% do total de atendimentos, e cerca de 50% destes
necessitaram de intervenções médicas.
 Os dados brasileiros são imprecisos, principalmente devido à
ausência de sistematização e informatização do sistema de saúde
público, aliado à ausência de dados do sistema de saúde privado.
Abdome Agudo
 A dor é o item principal na avaliação de um
paciente com suspeita de abdômen agudo.
 A anamnese deve caracterizar a dor de
maneira precisa.
 A duração da dor, sua localização, como se
iniciou e outras características como tipo de
dor e evolução podem ajudar no diagnóstico
diferencial.
Abdome Agudo
 A classificação do abdômen agudo segundo a natureza do processo
determinante:
 Inflamatório: a dor é de inicio insidioso, com agravamento e
localização com o tempo. O paciente presenta sinais
sistêmicos, tais como febre e taquicardia.
 Algumas causas são apendicite, colecistite aguda, pancreatite
aguda, diverticulite, doença inflamatória pélvica, abscessos intra-
abdominais, peritonites primárias e secundárias, dentre outros.
 Perfurativo: a dor é súbita e intensa, com defesa abdominal e
irritação peritoneal. Há derrame do conteúdo de víscera oca no
peritônio.
 Algumas causas são: úlcera péptica, neoplasia gastro-intestinal
perfurada, amebíase, febre tifóide, divertículos do cólon, dentre
outros.

Abdome Agudo
Obstrutivo: a dor é em cólica, geralmente periumbilical. Associadamente
surgem náuseas, vômitos, distensão abdominal, parada da eliminação de
flatos e fezes.
 Podem ser causas as aderências intestinais, hérnia estrangulada, fecaloma,
obstrução pilórica, cálculo biliar, corpo estranho, bolo de áscaris, dentre
outros.
 Vascular: a dor é difusa e mal definida, há desproporção entre a dor e o
exame físico.
 Causas podem ser: isquemia intestinal, trombose mesentérica, torção de
pedículo de cisto ovariano, infarto esplênico, dentre outros.
 Hemorrágico: a dor é intensa, com rigidez e dor à descompressão; há sinais
de hipovolemia, tais como hipotensão, taquicardia, palidez e sudorese.
 Podem ser as causas: gravidez ectópica rota, ruptura do baço, ruptura de
aneurisma de aorta abdominal, cisto ovariano hemorrágico, necrose tumoral,
endometriose, dentre outros.
Abdome Agudo
 A história e exame físico são passos principais na
avaliação dos pacientes com dor abdominal.
 Os exames de imagem melhoram a eficácia
diagnóstica e o tratamento global dos pacientes
que se apresentam com dor abdominal aguda.
 A história menstrual cuidadosa em mulheres com
dor abdominal. (ovulação e gravidez);
 Uso de medicações como corticosteróides e
anticoagulantes;
Abdome Agudo
 Iniciar o exame físico pela inspeção a procura de cicatrizes, hérnias
inguinais e escrotais, distensão, massas e defeitos da parede
abdominal;
 A palpação é etapa fundamental no exame físico, a dor localizada
na fossa ilíaca direita, no ponto de McBurney sugere apendicite
aguda.
 Dor no hipocôndrio direito sugere inflamação da vesícula biliar.
 Diverticulite aguda freqüentemente causa dor na fossa ilíaca
esquerda.
 Dor desproporcional ao exame físico sugere isquemia intestinal e
dor difusa sugere peritonite generalizada.
 A detecção de aumento do tônus muscular abdominal, durante a
palpação é chamada de defesa da parte abdominal. Ela pode ser
voluntária ou não, e localizada ou generalizada.
Abdome Agudo
 A ausculta de um abdômen silencioso sugere íleo paralítico,
enquanto movimentos peristálticos hiperativos ocorrem na
gastrenterite aguda. Períodos de silêncio abdominal
intercalados com peristalse hiperativa caracterizam a luta
contra a obstrução mecânica do intestino delgado.
 A percussão abdominal pode revelar dor, sugerindo
inflamação (irritação peritoneal). O hipertimpanismo à
percussão do abdômen significa distensão gasosa do
intestino ou estômago e timpanismo à percussão sobre o
fígado sugere ar livre intra-peritonial e perfuração de víscera
oca.
Abdome Agudo
 Os exames laboratoriais que auxiliam no diagnóstico do
abdômen agudo em geral são simples, rápidos e de fácil
obtenção.
 A avaliação inicial deve consistir de hematológico completo,
exame qualitativo de urina (urina rotina), amilase e teste de
gravidez (mulheres em idade fértil);
 A confirmação diagnóstica, pode necessitar de avaliação
radiológica, partindo da radiografia abdominal em decúbito
dorsal e ortostático.
 Avançando-se para a ultra-sonografia de abdômen, tomografia
computadorizada (TC), e em alguns casos arteriografia e
ressonância magnética. A videolaparoscopia e a laparotomia
exploradora constituem-se nos meios diagnósticos definitivos
Abdome Agudo
 Cuidados de Enfermagem...

 Vamos pensar...
Trauma abdominal
 São a terceira causa de morte por trauma;
 Podem ser causados por lesões fechadas ou penetrantes;
 As mortes decorrem da lesão abdominal relacionada a
sepse e suas complicações;
 Raramente acomete um único orgão, ou um único sistema.
 Os traumas fechados tem diagnóstico difícil;
 A presença de sensibilidade dolorosa ou defesa abdominal,
instabilidade hemodinâmica, lesão da coluna lombar,
fratura de pelve, ar retroperitoneal.
Trauma abdominal
 A cavidade abdominal contém orgãos ocos e solídos;
 O trauma fechado causa agravamento e comprometimento de
órgãos ocos;
 A compressão e desaceleração do trauma fechado leva a fraturas
de cápsulas e parênquimas de órgãos sólidos, e o órgão oco
pode colabar e absorver o impacto;
 O intestino está propenso a traumas penetrantes por ocupar a
maior parte do abdome;
 Os orgãos sólidos respondem ao trauma com sangramento;
 E os órgãos ocos rompendo-se e liberando seu conteúdo na
cavidade peritoneal, levando a inflamação e infecção;
Trauma abdominal
 Feridas por armas brancas, e por arma de fogo
provocam os traumas penetrantes, por isso o
conhecimento do tamanho e formato e comprimento
de instrumentos é necessário, para determinar a
extensão da lesão;
 Feridas sujas como a empalação podem levar a
infecção secundária a contaminação bacteriana e
falência de múltiplos órgãos.
 Feridas por armas de fogo são de dificil avaliação,
pois pode acometer vários leitos vasculares e órgãos.
Trauma abdominal
 A avaliação do trauma abdominal deve ser contínua;
 É preciso compreender o mecanismo de lesão, as queixas
do paciente e identificar lesões potencias.
 O paciente é reanimado primeiramente e o exame
abdominal fica para uma avaliação secundária, juntamente
com exames laboratoriais e de diagnóstico diferencial;
 O uso de SNG e SVD é necessário nesta avaliação;
 A ultrassonografia abdominal, a lavagem peritoneal e o
TC de abdome ajudam a fechar o diagnóstico e
intervenção terapêutica ou cirúrgica necessária.
Trauma abdominal
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 Vamos pensar...
Síndrome Compartimental de Abdome
 Definição:
 A cavidade abdominal é um compartimento fechado de
complacência limitada com pressão normal de zero a
pressões sub-atmosféricas. Vários fatores patológicos
contribuem para instalação de estados hipertensivos intra-
abdominais, como hemorragia intra-abdominal pós-
operatória, coagulopatias pós-operatórias, edema pós-
operatório de parede abdominal ou alças intestinais, ascite
aguda, obstrução intestinal, cateters peritoniais, traumas,
queimaduras, cirurgia geral abdominal, cirurgia vascular,
transplantes (hepático), fraturas pélvicas, obesidade
mórbida, cirrose hepática com ascite volumosa,
pancreatite, choque séptico.
 Estas alterações levam às disfunções orgânicas múltiplas,
gerando a Síndrome Compartimental de Abdome.
Síndrome Compartimental de Abdome
 A hipertensão intra-abdominal é
transmitida à caixa torácica, aos espaços
pleurais e pericárdico, elevando a pressão
intratorácica, aumentando a pós-carga do
ventrículo esquerdo e redistribuindo o
fluxo dos órgãos abdominais. As
conseqüências hemodinâmicas deste
efeito são diminuição do débito cardíaco
com aumento das pressões de átrio direito
e da artéria pulmonar.
Síndrome Compartimental de Abdome

 Este aumento da pressão intratorácica também


aumenta o trabalho respiratório e aumenta a
pressão das vias aéreas de pacientes em
ventilação mecânica a níveis críticos.
 A hipertensão intra-abdominal causa
alterações não só nos órgãos abdominais, mas
também em outros órgãos afetados direta ou
indiretamente por estas pressões.
Síndrome Compartimental de Abdome

 A Síndrome Compartimental de Abdome pode


ser definida como uma condição de aumento da
pressão em espaço anatômico confinado
(abdome), levando ao comprometimento de
fluxo sangüíneo local, principalmente hepático,
esplâncnico e renal, através da compressão dos
leitos vasculares destes órgãos.
 O aumento destes valores de pressão acima da
normalidade é denominado hipertensão intra-
abdominal.
Síndrome Compartimental de Abdome
 Alterações Cardiovasculares:
 A compressão diafragmática pela elevada pressão
intra-abdominal causa diminuição do retorno venoso,
aumento de resistência vascular periférica, redução da
complacência e contratilidade cardíacas por efeito
direto da compressão sobre o coração, como
consequência há diminuição do débito cardíaco.

 O perfil hemodinâmico mostra aumento da pressão


venosa central (pressão de átrio direito), aumento da
pressão de capilar pulmonar, diminuição da pressão
arterial e, nos casos mais graves, alteração das
características do pulso.
Síndrome Compartimental de Abdome

 Ocorretambém diminuição do retorno


venoso por dificuldade de fluxo da
veia cava inferior causada pelo
aumento das pressões intra-
abdominais e intra-torácicas, causando
uma maior tendência à formação de
edema de membros inferiores e
trombose venosa profunda.
Síndrome Compartimental de Abdome
 Alterações Respiratórias
 O aumento da pressão intra-abdominal eleva o
diafragma, causando um aumento da pressão
inspiratória final em pacientes submetidos à
ventilação mecânica.
 A compressão do parênquima pulmonar leva à
atelectasias, alterações no transporte de oxigênio e
gás carbônico através da membrana alvéolo capilar,
aumentando o shunt respiratório, levando a uma
hipoxemia, hipercapnia e acidose respiratória.  
Síndrome Compartimental de Abdome

 Alterações Renais
 A Hipertensão Intra-Abdominal reduz
significativamente o fluxo sanguíneo renal por
compressão direta ao córtex renal e também
produz um efeito mecânico sobre as veias e
artérias renais, diminuindo o fluxo urinário.
Não existem evidências relacionadas à
compressão dos ureteres.
Síndrome Compartimental de Abdome
 Alterações Digestórias
 No sistema digestório, o aumento da pressão intra-
abdominal acima de 10 mmHg, leva à diminuição do
fluxo sangüíneo a vísceras abdominais e torácicas. A
hipertensão intra-abdominal ainda comprime veias
entéricas gerando um edema intestinal, que aumenta
ainda mais a pressão intra-abdominal, gerando um
ciclo vicioso.
A perda da barreira mucosa gera translocação
bacteriana, podendo causar sepse e disfunção de
múltiplos órgãos e sistemas, com pressões de
10mmHg.
Síndrome Compartimental de Abdome
 A redução do fluxo hepático diminui a função
mitocondrial e o metabolismo do lactato. Com
pressões de 20 mmHg ocorre significativa redução do
fluxo portal.
 Na parede abdominal ocorre aumento da tensão
levando ao edema visceral e o acúmulo de liquido
livre peritoneal causando a diminuição da
complacência abdominal.
 Em pacientes com obesidade mórbida plena,
gestações prévias e cirrose ocorre certo efeito protetor
aumentando a complacência abdominal, diminuindo,
de certa forma, os efeitos da hipertensão intra-
abdominal.
Síndrome Compartimental de Abdome

 Alterações no Sistema Nervoso Central


 A hipertensão intra-abdominal leva ao aumento da
pressão dos grandes vasos intratorácicos, diminuindo
o retorno venoso cerebral, aumentando da pressão
intracraniana diminuindo assim a pressão de perfusão
cerebral. Estes efeitos nocivos são observados com
pressão intra-abdominal acima de 25 mmHg.
 A diminuição de fluxo venoso do plexo lombar leva
também à hipertensão liquórica.
Pressão Intra-abdominal
 Diagnóstico:
 O diagnóstico clínico possui de 53% a 76% de acerto,
e é feito através da identificação da tríade oligúria,
hipóxia e diminuição do débito cardíaco, associada ao
aumento da pressão intra-abdominal.  Existem
diferentes formas de mensurar a pressão intra-
abdominal, entre elas o cateter intraperitonial,
intragástrico e intravesical. A medição da pressão
intra-abdominal através de cateteres intraperitoniais é
considerada inadequada por ser invasiva, levando a
riscos evitáveis como infecção e lesão visceral.
Pressão Intra-abdominal
 Os cateteres intragástricos promovem
colonização e infecção, sendo também
considerados inadequados.
 O método Gold Standard para a medida da
pressão intra-abdominal é o cateter intravesical.
 Mesmo assim, a medida pode ser inexata
quando existem aderências, hematomas, fratura
pélvica e bexiga neurogênica.
Pressão Intra-abdominal
 Medida da Pressão  Kit de cateterismo
Intra-Abdominal vesical de demora
estéril ou descartável.
Pressão Intra-abdominal
 Luva estéril, máscara
cirúrgica, gorro, luva de
procedimento.

 Cateter de owens  (cateter


vesical de 3 vias), coletor de
urina de sistema fechado.
Pressão Intra-abdominal
 Seringas de 20 ml, agulha
40X12mm, solução anti-
séptica, xilocaína geléia
 Equipo de administração
de soluções e coluna
dágua (equipo de
mensuração de PVC),
suporte de soro
 Solução salina estéril
500ml, régua de nível,
calculadora
Pressão Intra-abdominal
 Técnica de
Mensuração da
Pressão Intravesical
 Deve ser realizado o
cateterismo vesical com
cateter de Owens.
 Inicialmente deve-se
conectar a solução
fisiológica de 500 ml no
equipo de infusão de
soluções e coluna dágua
Pressão Intra-abdominal
 A montagem do sistema
de mensuração de
pressão intra-abdominal 
deve ser realizada a
partir da conexão do
equipo de administração
de soluções e coluna
dágua na 3ª via do
cateter de Owens (via de
infusão de soluções).
Pressão Intra-abdominal

 A zeragem do sistema deve ser feita na altura da


sínfese púbica. Após o esvaziamento vesical, deve-se
realizar o clampeamento do sistema de drenagem.
Posteriormente, realizar a  infusão intravesical de
25ml de solução salina estéril. Após 30 a 60 segundos
desta infusão, realizar a abertura do sistema de
medição para o cateter vesical e para a coluna dágua.
Após a estabilidade do menisco da coluna dágua,
realiza-se a leitura dos valores pressóricos (em cm de
H2O).
Pressão Intra-abdominal
 Fecha-se então o sistema de medição tanto para o
cateter vesical quanto para a coluna dágua e abre-se
novamente o sistema de drenagem vesical.
 Os valores obtidos devem então ser transformados em
mmHg através da divisão dos valores obtidos pela
constante 1,36.
 A hipertensão intra-abdominal é definida por uma
PIA sustentada ou patologicamente repetida maior do
que 12 mmHg, e pode ser classificada de acordo com
os valores de pressão intra-abdominal.
Pressão Intra-abdominal

Grau de hipertensão intra-abdominal


 Valores de pressão intra-abdominal (pressão vesical)
 Grau I

12 a 15 mmHg
 Grau II

16 a 20 mmHg
 Grau III

21 a 25 mmHg
 Grau IV

Maior que 25 mmHg


Pressão Intra-abdominal
 Assistência de Enfermagem
 Não se pode esquecer das precauções padrão durante a
medida da pressão intra-abdominal como em todos os
cuidados a serem prestados aos pacientes.
 Outro aspecto importante é a manutenção da higiene
peri inserção do cateter vesical, que é primordial para
evitar infecções.
 O cateter vesical de demora deve ser fixado na lateral
da coxa da mulher e na região supra-púbica no homem
para evitar traumas e mobilização deste cateter.
Pressão Intra-abdominal
 Não se pode esquecer também do controle do débito
urinário destes pacientes, descontando os 25 ml de
solução salina infundidas a cada medida da pressão
intra-abdominal.
 O sistema de drenagem deve ser mantido pérvio para
garantir a fidedignidade da medida. Para isto, pode ser
realizada a ordenha manual do sistema de drenagem.
 No caso de obstrução do sistema, o mesmo deve ser
trocado totalmente, mantendo o sistema fechado,
evitando o desenvolvimento de infecções.
Pressão Intra-abdominal
 Tratamento da Síndrome Compartimental
de Abdome
 O tratamento da Síndrome Compartimental de
Abdome é exclusivamente cirúrgico, devendo
ser realizada a descompressão abdominal
(damage control) nos casos indicados.
 A partir da descompressão abdominal, todas as
alterações decorrentes da hipertensão intra-
abdominal são reduzidas.
Pressão Intra-abdominal
 Nos casos onde há aumento da pressão intra-
abdominal, porém não há ainda alterações
clínicas suficientes que indiquem uma
descompressão abdominal, deve ser realizado
o tratamento de cada um dos efeitos da
hipertensão intra-abdominal, como reposição
volêmica, otimização da PEEP (pressão
positiva no final da expiração) na ventilação
mecânica, manutenção da pressão de perfusão
cerebral entre outros.
Pressão Intra-abdominal
 A monitorização da pressão intra-abdominal justifica-
se para a assistência de enfermagem aos pacientes em
pós-operatórios de cirurgia abdominal por trauma ou
laparotomia, ou aos pacientes com outras alterações
da saúde que possam evoluir com Síndrome
Compartimental de Abdome.
 O diagnóstico precoce da Síndrome Compartimental
de Abdome através da medida da pressão intra-
abdominal, em conjunto com seu tratamento
igualmente precoce, pode diminuir a morbidade e
mortalidade gerada pelas complicações da formação
de uma Síndrome Compartimental de Abdome, como
a disfunção de múltiplos órgãos e sistemas.
Obrigada...

Profa Luciene Mantovani Silva Andrade


lumasil.enf@gmail.com
Referências
 KNOBEL, E.; KUHL, S.D. Condutas do Paciente Grave. 3ª
ed. São Paulo: Atheneu. p. 1315-32. 2006.
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