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TUTORIA UCXI – CENÁRIO 10 imediato de recidiva hemorrágica e

complicações, bem como estabelecer a fonte do


HEMORRAGIA DIGESTIVA sangramento e, se indicada, realizar a
INTRODUÇÃO E DEFINIÇÃO terapêutica hemostática adequada.

HEMORRAGIA DIGESTIVA ALTA Como qualquer paciente em emergência, a


avaliação inicial começa com o A, B e C: vias
Fonte do sangramento proximal ao ângulo de aéreas, respiração e circulação.
Treitz (esôfago, estômago ou duodeno).
 Na hemorragia digestiva alta a proteção das
Subdivida em varicosas (secundária à vias aéreas é importante, pela possibilidade de
hipertensão portal, quando o sangramento ocorre aspiração do sangue vomitado ou regurgitado,
por ruptura de varizes esofágicas e/ou gástricas) e o que está associado a significativas
não varicosas (geralmente, por lesões agudas da morbidade e mortalidade. A intubação
mucosa do esôfago, do estômago e do duodeno). endotraqueal está indicada em casos de
vômitos acentuados ou paciente com
Pode se manifestar por hematêmese e/ou
estado mental alterado.
melena.
 A respiração é avaliada por critérios
Principais causas de hemorragia digestiva alta: clínicos, como os movimentos
Úlcera péptica (35-50%) (duodenal > gástrica); respiratórios, ausência de cianose e níveis
Varizes esofágicas/gástricas (5-10%); de saturação de oxigênio por oximetria de
Gastroduodenite erosiva (8-15%); Síndrome de pulso.
Mallory-Weiss relacionada à esofagite (5-15%);  A avaliação do estado hemodinâmico é
Más-formações vasculares (± 5%); Não realizada por meio dos níveis de pressão
determinada (± 5%). sanguínea, batimentos cardíacos e sinais
de hipoperfusão de órgãos, como estado
HEMORRAGIA DIGESTIVA BAIXA mental alterado, enchimento capilar
Fonte do sangramento é o intestino delgado, aumentado, diminuição do débito urinário e
cólon e/ou anorretal. aumento do lactato. Observação: Pacientes
idosos e pacientes sob medicação
Pode se manifestar por hematoquezia. hipertensiva podem não se tornar
taquicárdicos em resposta à perda de volume.
Observação: A hematoquezia, menos frequente,
pode ser uma manifestação de sangramento ATENÇÃO: O endoscopista deve ser avisado o
digestivo alto, ativo, de grande volume. mais cedo possível para avaliar o paciente e
determinar o melhor momento para realizar o
procedimento.

ANAMNESE E CLASSIFICAÇÃO

A história clínica deve ser bem-feita, às vezes com


a ajuda de familiares ou acompanhantes. Na
emergência a anamnese pode ser prejudicada
pelas condições do paciente, que geralmente está
incapaz de se comunicar.

Dependendo do grau da perda sanguínea, a


EPIDEMIOLOGIA hemorragia digestiva pode se manifestar de
diversas formas e pode ser classificada em
A hemorragia digestiva é uma ocorrência frequente evidente (aguda), oculta (crônica) ou obscura.
nos atendimentos das emergências hospitalares.
Hemorragia digestiva evidente ou aguda:
Trata-se de uma manifestação particularmente sangramento visível, podendo se apresentar na
grave associada à mortalidade de 15 a 20% dos forma de hematêmese, vômitos em “borra de
pacientes. café”, melena ou hematoquezia.
AVALIAÇÃO INICIAL Hemorragia digestiva oculta ou crônica:
A avaliação rápida e a ressuscitação devem resultado de um sangramento microscópico
preceder os procedimentos diagnósticos em que pode se manifestar inicialmente como uma
pacientes instáveis com hemorragia aguda grave. pesquisa de sangue oculto nas fezes positivo
e/ou anemia por deficiência de ferro, sem
Assegurada a estabilidade hemodinâmica, os evidência visível de perda sanguínea pelo
pacientes devem ser avaliados para o risco paciente ou médico.
Hemorragia digestiva obscura: refere-se ao Falsa hematêmese: ocorre quando o paciente
sangramento recorrente cuja fonte não é com sangramento de vias aéreas superiores ou
identificada pela endoscopia digestiva alta e de boca, que é ingerido e acumulado no
pela colonoscopia. Ela pode ser evidente estômago, apresenta náuseas e vômitos com
(aguda) ou oculta (crônica). sangue vivo ou digerido.

Hemoptise: ocorre quando o sangue eliminado


pela boca é proveniente do aparelho
A perda de sangue pelo trato gastrointestinal respiratório. Diferenças: A hematêmese é
manifesta-se, então, de cinco maneiras: precedida de náuseas, o que não acontece com a
(1) Hematêmese: vômito sanguinolento, seja hemoptise, que, geralmente, é precedida por
fresco, vermelho vivo, rutilante ou mais velho, tosse. O sangue eliminado pela hematêmese está
com a aparência de borra de café, resultante acompanhado de suco gástrico e/ou duodenal,
da sua conversão para hematina no estômago e/ou alimentos. A cor do sangue na hematêmese é
na presença do ácido clorídrico; bastante escura, e na hemoptise é vermelho-vivo
(2) Melena: caracterizada como fezes contendo (às vezes, espumoso, rutilante). Frequentemente o
sangue, que saem pretas, brilhantes, sangue eliminado com a hematêmese é
grudentas, com mau cheiro e consistência coagulado, apresentando-se como um líquido
que lembra o alcatrão. Ela é o resultado da marrom-escuro, quase preto, pesado, maciço e
degradação de sangue e não pode ser que se deposita em grumos no fundo do vaso. Se
confundida com os efeitos de substâncias for acrescentada água a essa substância,
exógenas, como o bismuto e o ferro, que observar-se-á que ela assumirá a coloração
escurecem as fezes. Observação: avermelhada própria do sangue. Na hemoptise, se
Ocasionalmente, a ingestão de beterrabas fará houver coágulos, estes são leves, cheios de
o paciente procurar o médico pela passagem bolhas de ar e amolecidos.
de fezes avermelhadas. Em sua passagem HEMORRAGIA DIGESTIVA AGUDA (VISÍVEL)
através do intestino, o sangue torna-se
mais escuro e, eventualmente, preto. Essa A forma mais comum de apresentação da HDA
alteração de cor é iniciada pela ação do aguda é a hematêmese, vômito em borra de café
ácido e da pepsina do estômago, nos casos ou melena, ao passo que na HDB é o
de sangramento gástrico; já a cor preta sangramento vermelho vivo pelo reto.
acredita-se ser devida à presença de
pigmentos porfrínicos. Observação: A As causas mais comuns de HDA aguda são a
alteração para fezes pretas dependerá de doença ulcerosa péptica (incluindo aquelas
vários fatores, incluindo o local, a quantidade causadas por uso de salicilatos (AAS) ou AINEs) a
e rapidez do sangramento e o tempo de hemorragia varicosa, a síndrome de Mallory-
trânsito intestinal. As fezes podem permanecer Weiss e neoplasias (câncer gástrico). Na HDB
pretas por vários dias após o sangramento aguda, as causas mais comuns são a doença
maciço, mesmo que ele já tenha cessado. Se diverticular, angiodisplasia, neoplasias (câncer
o trânsito intestinal for rápido, as fezes podem de cólon e reto), colite isquêmica, doenças
sair com sangramento vermelho infamatórias (doença de Crohn, retocolite
(enterorragia); ulcerativa inespecífica) e lesões anorretais
(3) Hematoquezia (enterorragia): é a passagem benignas (hemorroidas, fissura anal e úlceras de
de sangue vivo rutilante ou sangue marrom reto).
do reto na forma de sangue puro, sangue Observação: Quando o paciente com HDA aguda
misturado com fezes formadas, coágulos apresenta história de aneurisma de aorta ou de
sanguíneos ou diarreia sanguinolenta; cirurgia com enxerto aórtico, deve-se considerar a
(4) Sangue oculto: a perda de sangue no trato possibilidade de a mesma ser devida a uma fístula
gastrointestinal frequentemente é oculta, isto aortoentérica até prova em contrário.
é, somente detectada testando as fezes
com um reagente químico; É importante iniciar a história clínica observando
(5) Sintomas de perda sanguínea: os pacientes os dados de identificação, em que, no Brasil,
podem se apresentar sem qualquer sinal sobressaia a procedência. A prevalência de
objetivo de sangramento digestivo a não ser esquistossomose em certas regiões do país
sintomas de perda sanguínea, tais como pré- alerta para a possibilidade de hemorragia por
síncope, dispneia, angina ou mesmo ruptura de varizes esofagianas.
choque.
HISTÓRIA DO SANGRAMENTO
Alguns cuidados devem ser tomados quanto ao
Nem sempre a quantidade de sangue perdido
diagnóstico diferencial da hematêmese:
pode ser avaliada pela história clínica. Torna-se
importante, então, certificar-se sobre a aparência • Não associadas à diarreia: geralmente não
do sangue e de onde ele provém. apresentam dor, e a hematoquezia é o sintoma
único ou predominante. Fazem parte desse
A hematêmese indica que o local de
grupo aquelas entidades que não apresentam
sangramento é alto e não mais distal que o
processo infamatório concomitante: doença
duodeno; se o sangue é vivo, significa
diverticular, angiodisplasia, colopatia
hemorragia importante. Por outro lado, o vômito
isquêmica (em fase inicial), lesões tumorais,
de pequenas quantidades de sangue alterado
lesões orifciais, pós-polipectomia e lesões
(borra de café), escuro, indica sangramento
do intestino delgado.
pequeno e que já deve ter cessado.
• Associadas à diarreia: manifestações de
Na HEMORRAGIA DIGESTIVA ALTA deve-se doenças infamatórias, infecciosas ou
pesquisar: idiopáticas: colites infecciosas, retocolite
ulcerativa inespecífica, colite
• Antecedentes que sugiram úlcera péptica: granulomatosa (Crohn) e colite
dor epigástrica com ritmo e periodicidade, pseudomembranosa.
principalmente se a dor cessou com o
sangramento e/ou se já tem diagnóstico EXAME FÍSICO
estabelecido;
Inicialmente, deve focar os sinais vitais,
• Síndrome de Mallory-Weiss: ingestão de especialmente os sinais de hipovolemia, como
álcool nos dias ou horas imediatos ao taquicardia, hipotensão e hipotensão postural.
episódio hemorrágico acompanhada de
vômitos acentuados; Observação: Eles permitem prever a evolução da
• Medicamentos à base de aspirina e anti- hemorragia digestiva, havendo recorrência do
infamatórios: frequentemente associados a sangramento em cerca de 2% dos pacientes com
sangramentos por lesões agudas da mucosa sinais vitais normais, 18% dos pacientes com
gastroduodenal (LAMGD) ou úlcera péptica; taquicardia e 48% em pacientes em choque.
• Comorbidades: insuficiência cardíaca
Como regra geral, a pressão sanguínea menor
congestiva, doença renal, hepática ou
que 100 mmHg ou uma frequência de pulso
vascular, as quais aumentam o risco de
acima de 100 bpm, em um paciente anteriormente
mortalidade;
normotenso, indica uma depleção sanguínea de
• Alcoolismo, uso crônico de sonda
cerca de 20%. A palidez e a hipotensão postural
nasogástrica ou enteral e história anterior de
associada permitem confirmar essa afirmativa.
doença do refluxo esofagogástrico
A perda da coloração rósea nas dobras
apresentam maior probabilidade de
palmares com a mão estendida é significativa.
sangramento por esofagite erosiva;
• Antecedentes cirúrgicos ou história de Um aumento da frequência de pulso de 20 bpm
aneurisma de aorta abdominal, pois estes ou uma diminuição da pressão sanguínea
podem apresentar fístula do enxerto para o maior que 10 mmHg em resposta à mudança
duodeno; postural (p. ex., sentar o paciente) sugere uma
• Perda de peso (malignidade), uso de perda aguda de sangue acima de 1.000 mL.
anticoagulantes, radioterapia prévia
(enterite por radiação), dor abdominal Observação: Essas medidas deveriam ser
(doença infamatória intestinal, malignidade, realizadas a intervalos frequentes, e as alterações,
colite isquêmica). anotadas sequencialmente.

Várias condições podem mimetizar hemorragia Observação 2: A hipotensão em paciente idoso


digestiva: epistaxes, sangramentos dentários e que não responde à terapia com fluidos EV deve
de amigdalas, bebidas ou alimentos vermelhos (p. alertar para um possível evento isquêmico do
ex., beterraba), medicamentos contendo bismuto miocárdio, principalmente se o paciente tem
ou ferro. Sangramento vaginal e hematúria intensa história anterior ou alto risco de doença isquêmica
podem confundir com sangramento vermelho vivo cardíaca.
pelo reto. As complicações mais comuns da hemorragia
Na HEMORRAGIA DIGESTIVA BAIXA, visando digestiva alta envolvem os eventos isquêmicos
estabelecer uma correlação prática das causas do miocárdio (angina, infarto, arritmias) e
com suas formas de manifestação clínica, é aspiração pulmonar.
importante avaliar se a manifestação
hemorrágica é acompanhada ou não de
diarreia. A inspeção atenta de sinais ectoscópicos de
hepatopatia crônica (circulação colateral
superfcial visível, icterícia, aranhas vasculares,
fapping) e um exame físico cuidadoso sanguínea, haja vista a possibilidade de
(hepatomegalia, esplenomegalia, ascite) sugerem transfusão.
a possibilidade de sangramento por varizes de
esôfago. ESTRATIFICAÇÃO DE RISCO

No carcinoma, uma massa epigástrica palpável A análise da evolução possibilita observar dois
e sinais de doença metastática (linfonodo extremos nas hemorragias digestivas.
supraclavicular esquerdo aumentado) podem  Pacientes cujo sangramento cessa
indicar o diagnóstico. rapidamente sem necessidade de transfusão
Podem ser necessários inspeção e toque retal ou cirurgia e podem ser tratados
para diagnosticar hemorroidas, fissuras ou lesão ambulatoriamente;
neoplásica  Pacientes cujo sangramento persiste ou
recorre e necessitam transfusão de grandes
Eventualmente, deve ser realizada a volumes de sangue e/ou cirurgia urgente, com
observação das fezes, uma vez que a descrição maior frequência de morte.
subjetiva da sua cor varia muito entre pacientes e
médicos. O desafio na avaliação inicial é distinguir
precocemente se a hemorragia é grave ou não.
EXAMES LABORATORIAIS
Para a HDA aguda, foram desenvolvidos e
A avaliação da concentração de hemoglobina é validados escores de risco como o escore clínico
importante no início e, depois, de maneira seriada Rockall e o escore GlasgowBlatchford, que
para avaliar a resposta à transfusão. Uma anemia incorporam sinais vitais, exames laboratoriais e
profunda (hemoglobina abaixo de 7,5 g/dL) comorbidades.
compromete a capacidade de transporte de
oxigênio e diminui potencialmente a oxigenação Escore Clínico de Rockall:
dos órgãos e tecidos nobres. Deve ser
monitorada a cada 2 a 8 horas, dependendo da
gravidade da hemorragia.

Observação: O hematócrito tem pouco valor na


avaliação da perda aguda de sangue. Por não se
alterar imediatamente em virtude das reduções
proporcionais que ocorrem nos volumes de plasma
e hemácias, ele reflete a magnitude do
sangramento somente após certo tempo.
Somente quando o líquido extravascular entra
para o espaço intravascular para restabelecer
o volume é que o hematócrito cai. Esse
processo começa logo após o sangramento, mas
não está completo até que o volume vascular total Escore GlasgowBlatchford:
seja restabelecido, frequentemente 24 a 72 horas
mais tarde.

A neutrofilia e trombocitose são achados


frequentes após um grande sangramento. A ureia
sanguínea também aumenta dentro de poucas
horas em virtude da hipoperfusão renal e da carga
de proteínas provenientes do sangue no trato
gastrointestinal que é absorvida pelo intestino
delgado.

Deve-se avaliar a possibilidade de doença


hematológica em todos os pacientes além de
se realizar a contagem de plaquetas e
leucócitos.

Testes de coagulação de rotina devem ser


providenciados (tempo de protrombina – TP – e
tempo de tromboplastina parcial ativada – TTPA).

É necessário dosar os eletrólitos (sódio e


potássio), bem como realizar a tipagem
Elas ajudam a prever o risco de recidiva fonte em cólon ou reto, diagnosticados por meio
hemorrágica e mortalidade. da EDA ou colonoscopia.

Pacientes com sangramento mínimo ou As causas mais comuns de hemorragia digestiva


intermitente, estratifcados como de baixo risco, oculta são câncer colorretal (especialmente os do
podem ser avaliados em um cenário de não lado direito do cólon), esofagite acentuada,
internação hospitalar. úlceras pépticas (incluindo as causadas por
aspirina ou AINE), doença infamatória intestinal,
Observação: O EGB parece ser superior ao ECR câncer gástrico, doença celíaca, ectasias
para prever ressangramento, e ambos são vasculares (em qualquer local), divertículo e
eficientes para prever o risco de morte. No entanto, gastropatia hipertensiva portal.
sua limitação na prática clínica é a baixa
especificidade e o fato de uma visão endoscópica Observação: Fontes de perda sanguínea não
ainda ser aparentemente o desejado por médicos localizadas no trato digestivo, como hemoptise e
e pacientes, não importando a pontuação de risco. sangramento orofaríngeo, também podem cursar
com um PSOF positivo.
Recentemente, foi desenvolvido um novo escore
clínico denominado AIMS65, o qual se mostrou INVESTIGAÇÕES
preciso para prever a mortalidade intra-hospitalar,
duração de internação e custos de admissão. • Pacientes com anemia por deficiência de
ferro podem ou não apresentar sintomas. A
escolha da sequência de procedimentos
dependerá da suspeita clínica e, se for o caso,
dos sintomas. Na ausência de sintomas,
particularmente em pacientes sem anemia
ferropriva e/ou em idosos, a investigação
deve ser iniciada pelo cólon e, se negativo,
seguida da EDA.
• Pacientes com anemia por deficiência de
ferro devem fazer a EDA e colonoscopia.
• Pacientes sem anemia e com EDA e
INVESTIGAÇÃO
colonoscopia negativos não requerem
As opções para investigação da hemorragia nenhuma outra investigação, mas aqueles
digestiva aguda são: com anemia devem ser referidos para
investigação do intestino delgado.
• Endoscopia digestiva alta (EDA) e/ou
colonoscopia; CÁPSULA ENDOSCÓPICA
• Cintilografa; Trata-se do exame de escolha inicial, quando
• Angiotomografa computadorizada; disponível, para o intestino delgado. É menos
• Angiografa. útil na avaliação de fontes de hemorragia no cólon,
A investigação de escolha deve ser dirigida pela por causa do campo de visão ruim devido ao seu
suspeita da localização do sangramento (alta ou maior diâmetro, às fezes retidas em sua luz e ao
baixa) baseada na apresentação clínica. Na tempo de vida útil da bateria. As complicações
maioria das vezes, o exame padrão para relacionadas ao procedimento são raras, como a
avaliação da hemorragia digestiva aguda é a retenção da cápsula e a obstrução.
endoscopia digestiva alta de urgência e/ou PUSH ENTEROSCOPIA E ENTEROSCOPIA
colonoscopia. PROFUNDA
HEMORRAGIA DIGESTIVA OCULTA A push enteroscopia pode avaliar o trato
(CRÔNICA) gastrointestinal até 60 a 80 cm do jejuno proximal.
A hemorragia digestiva oculta ocorre em um Com a disponibilidade da enteroscopia profunda
cenário em que ocorre pesquisa de sangue (sistemas endoscópicos com duplo balão, balão
oculto nas fezes (PSOF) positivo e/ou anemia único ou espiral), que pode atingir até o intestino
por deficiência de ferro. delgado distal, seu uso diminuiu. Pode ser utilizado
via oral ou retal. A vantagem da enteroscopia
Pode ocorrer em qualquer local do trato profunda sobre a cápsula endoscópica é
gastrointestinal, desde a cavidade oral até a propiciar não somente o diagnóstico, mas
região anorretal. Observação: Em uma revisão também a terapêutica.
sistemática de cinco estudos prospectivos, 29 a
56% dos pacientes tinham uma fonte alta da EXAMES POR IMAGENS
hemorragia digestiva, e 20 a 30% tinham uma
A enterografa por TC ou a enterografa por
ressonância magnética (RM) seria o próximo
passo na investigação. A enterografa por TC é
realizada com a ingestão de um contraste neutro
para distender o intestino delgado, permitindo uma
melhor avaliação da parede do intestino delgado.
A enterografa por RM tem a vantagem de não
utilizar radiação ionizante, permitindo imagens
seriadas do intestino delgado. Comparada com a
cápsula endoscópica, a enterografa por TC tem
uma visualização melhorada de toda a parede
do intestino delgado e mostra complicações
extraentéricas da doença, enquanto a cápsula
somente permite a visualização direta da mucosa
do intestino delgado e tem maior sensibilidade
para processos de mucosa.

HEMORRAGIA DIGESTIVA OBSCURA


TRATAMENTO
A hemorragia digestiva obscura concorre com 5%
dos pacientes de todas as causas de CONDUTA INICIAL
sangramento gastrointestinal (aguda ou
crônica). • Estabilização clínica e hemodinâmica;
• Colheita de exames laboratoriais na admissão;
É definida como recorrente quando a fonte • Transfusão de hemoderivados na presença de
permanece não identificada após hipotensão arterial ou choque persistente,
procedimentos endoscópicos, sendo causada após a infusão rápida de soluções salinas;
mais frequentemente por sangramento do intestino • Administração de inibidor da bomba de
delgado. prótons (IBP) intravenoso (IV); por exemplo,
omeprazol 40 mg de 12/12 horas até a
Em pacientes com hemorragia digestiva obscura,
confirmação da causa da hemorragia. (A
as seguintes possibilidades existem:
manutenção do pH intragástrico acima de 6 é
 A lesão estava dentro dos limites atingidos fundamental para a agregação plaquetária e
pelo endoscópio e/ou colonoscópio para a estabilização do coágulo).
convencional mas não foi reconhecida
Observação: O uso de fármacos procinéticos,
como local do sangramento (Por exemplo,
como a eritromicina, demonstrou aumento no
lesões de Cameron, angiectasias ou
esvaziamento gástrico e redução da necessidade
hemorroidas internas).
de uma segunda endoscopia, de transfusão de
 A lesão estava dentro dos limites atingidos
sangue e do tempo de internação.
pelo endoscópio e/ou colonoscópio
convencional, mas foi difícil de visualizar Observação 2: Não há indicação formal para
(Por exemplo, recoberta por coágulos passagem de sonda nasogástrica (SNG) ou
sanguíneos, varizes que se tornaram realização de lavagem gástrica em todos os
inaparentes em paciente hipovolêmico ou uma pacientes com HDA. O uso da SNG pode ajudar
lesão escondida atrás de uma prega) ou na remoção de coágulos, permitindo melhor
presente intermitentemente (Por exemplo, exame endoscópico.
lesão de Dieulafoy, angiectasias).
 A lesão estava no intestino delgado além CONDUTA HEMORRAGIA DIGESTIVA ALTA
do limite atingido pelos endoscópios NÃO VARICOSA
convencionais (Por exemplo, neoplasia,
angiectasias, divertículo).

Observação: Deve-se considerar repetir a EDA e a


colonoscopia uma vez que, ao utilizar a
enteroscopia profunda, foi demonstrado que
24,3% das hemorragias digestivas obscuras não
tinham como origem o intestino delgado e estavam
dentro dos limites atingidos pela EDA e
colonoscopia convencionais.
CONDUTA HEMORRAGIA DIGESTIVA ALTA
VARICOSA

CONDUTA HEMORRAGIA DIGESTIVA BAIXA

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