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Enfermagem
nas Emergências
Atendimento de Emergência em Neurologia,
Hemorragias, Queimados e Afogados
Revisão Textual:
Prof. Me. Luciano Vieira Francisco
Atendimento de Emergência em Neurologia,
Hemorragias, Queimados e Afogados
Objetivos
• Reconhecer e tratar as hemorragias;
• Reconhecer e atender pacientes em emergências neurológicas;
• Tratar afogados, queimados, intoxicados em diversos âmbitos;
• Reconhecer o politrauma e prestar o atendimento necessário.
Caro Aluno(a)!
Normalmente, com a correria do dia a dia, não nos organizamos e deixamos para o úl-
timo momento o acesso ao estudo, o que implicará o não aprofundamento no material
trabalhado ou, ainda, a perda dos prazos para o lançamento das atividades solicitadas.
Assim, organize seus estudos de maneira que entrem na sua rotina. Por exemplo, você
poderá escolher um dia ao longo da semana ou um determinado horário todos ou alguns
dias e determinar como o seu “momento do estudo”.
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de
discussão, pois estes ajudarão a verificar o quanto você absorveu do conteúdo, além de
propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de
troca de ideias e aprendizagem.
Bons Estudos!
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Atendimento de Emergência em Neurologia, Hemorragias, Queimados e Afogados
Hemorragias
Situações clínicas de sangramento gastrointestinal agudo são consideradas emergên-
cias médicas frequentes e com grande potencial de letalidade, observadas em indivíduos
hospitalizados em terapia intensiva (MORTON; FONTAINE, 2019).
A HDA tem origem em qualquer ponto do tubo digestório, desde a faringe até o ân-
gulo Treitz (onde termina o duodeno e se inicia o jejuno), de modo que a doença ulcerosa
e gastrite hemorrágica representam etiologias mais comuns da HDA e ocorrem em mais
da metade dos casos, seguindo-se por varizes esofágicas (SALLU; PARANHOS, 2010).
É importante avaliar se juntamente com a hemorragia existem mais doenças que podem
potencializar esse estado, pois a perda de sangue tem como complicação a baixa oxige-
nação de tecidos e pode acarretar alto risco de isquemia e muitas vezes agravar doenças
pré-existentes (MORTON; FONTAINE, 2019).
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Melena é um quadro que pode permanecer de 3 a 5 dias após cessar a hemorragia,
de modo que se existirem dúvidas quanto à presença de sangramentos pode-se optar
pela realização de lavagem gástrica ou aspiração via sonda nasogástrica, que será efetiva
na maioria dos casos em que persistir a hemorragia. Esse procedimento possibilita pre-
parar o paciente para o exame de Endoscopia Digestiva Alta (EDA). Um tratamento que
vem auxiliando no combate ao quadro hemorrágico do tubo digestório é a erradicação
da Helicobacterpilory. Contudo, a incidência de hemorragias por varizes esofágicas tem
aumentado pelo uso indiscriminado de anti-inflamatórios não hormonais (MORTON;
FONTAINE, 2019).
O melhor exame para diagnosticar HDA é a EDA, pois possibilita observar em tem-
po real a presença de hemorragia em seu local específico, sendo possível usá-la para
constatar hemorragias à cintilografia e arteriografia com hemácias marcadas, especial-
mente nos casos em que não é possível encontrar a hemorragia.
O tratamento das hemorragias consiste em pausa alimentar, estabilização clínica e
reposição de volume corpóreo, correção da coagulação, de modo que devemos nos aten-
tar aos pacientes politransfundidos com medicamentos que tenham o intuito de cessar o
sangramento, tais como antiácidos bloqueadores de H2, vitamina K, endoscopia, eletro-
coagulação e/ou balão esofágico, conforme pode ser observado a seguir:
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– atualmente é a segunda, no mundo é a terceira causa de morte, superado apenas por
neoplasias e doenças cardiovasculares. Em suas diversas formas de apresentação, o AVC
é considerado uma emergência neurológica, de modo que o retardo no atendimento
resulta em prognóstico ruim.
Sendo uma emergência médica, o paciente deverá ser assistido por médicos, enfer-
meiros, fisioterapeutas, de modo que o seu tratamento deverá ser baseado em protoco-
los de atendimento (SALLU; PARANHOS, 2010).
O AVCI associado à embolia cardíaca pode ser causado por estenoses e próteses val-
vares, fibrilação arterial, infarto recente do miocárdio, cardiomiopatia dilatada, doença
de Chagas, mixoma atrial, endocardite bacteriana, aneurisma de septo atrial e forame
patente – em que um êmbolo de origem cardíaca causa súbita oclusão vascular arterial.
Muitas escalas utilizadas para o reconhecimento do AVC foram idealizadas para uso
pré-hospitalar com o intuito de auxiliar em rápido reconhecimento e tratamento dos pa-
cientes, tais como a escala de Cincinnati, Lapss e mais recentemente a escala de Rosier,
as quais devem ser usadas rotineiramente pelas equipes de enfermagem dos serviços de
emergência tanto hospitalar quanto pré-hospitalar.
Acesso venoso periférico deve ser obtido de modo que possa ser administrada a
quantidade necessária de drogas ao tratamento ou soluções paliativas no momento.
Ademais, são informações que devem compor o prontuário médico e de enfermagem:
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hora de início dos sintomas, presença de trauma importante ou realização de cirurgia re-
cente, uso de medicamentos imprescindíveis ao auxílio no diagnóstico e tratamento etc.
O paciente deve ser mantido sob vigilância e ter os sinais vitais continuamente monito-
rados nas primeiras 48 horas, de modo que a observação do padrão respiratório é de fun-
damental importância, principalmente se houver rebaixamento do nível de consciência;
caso o paciente deprima a ponto de ser detectada insuficiência respiratória, deve-se optar
por intubação orotraqueal de emergência, pois a hipóxia pode comprometer o prognós-
tico, devendo ser corrigida o mais rápido possível. As causas mais comuns de hipóxia são
obstrução parcial de vias aéreas, hipoventilação, pneumonia aspirativa, atelectasia, de
modo que o prognóstico de pacientes que necessitem de IOT geralmente é ruim. Alguns
pacientes podem desenvolver padrão respiratório de tipo Cheyne-Stokes, com redução
da saturação de oxigênio, podendo ser revertida com suplementação de oxigênio.
A fonte da febre deve ser determinada, pois na maioria dos casos a febre é secundária
à causa do AVCI, podendo representar uma complicação clínica, como a pneumonia.
Quando disponível, pode-se optar pela ressonância magnética como método de primei-
ra escolha para realizar o diagnóstico de AVC, sendo que esse exame é mais sensível ao
diagnóstico de isquemias cerebrais, sendo útil para verificar lesões no território vertebro
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basilar e em alguns casos tem papel diagnóstico, tais como nas dissecções arteriais
(MORTON; FONTAINE, 2019).
Alguns estudos realizados nos Estados Unidos, como o Ninds, definiram que os cri-
térios adotados para o tratamento dos pacientes com AVCI em fase aguda podem ser
corrigidos com trombólise venosa, de modo que a dose de escolha de rt-PA para esses
pacientes é de 0,9 mg/kg, que deverá ser iniciada dentro de 3 horas ou menos do princí-
pio dos sintomas neurológicos e administrada por via intravenosa em 60 minutos. Além
disso, a dose total não deve ultrapassar 90 mg, o paciente deverá estar com os dois
acessos venosos calibrosos e durante a administração do trombolítico o acesso escolhido
deverá ser exclusivo para essa medicação (MORTON; FONTAINE, 2019).
O protocolo Ninds rt-PA Strouke Study Group recomenda que indivíduos sob a te-
rapêutica trombolítica podem ser aceitos nas primeiras 24 horas PAD <= 105 mmHg e
PAS <= 180 mmHg (MORTON; FONTAINE, 2019). Para a realização dessa medicação
é necessária a autorização por escrito, porém, considera-se o risco-benefício de realizar
a droga no paciente em tempo hábil para o alcance de melhores resultados.
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para coma e morte. Quando há desvio da linha média, alguns sinais clínicos podem ser
observados de acordo com o grau de desvio da glândula pineal por volta de 24 horas do
início da lesão, a saber:
• Sonolência: a glândula pineal deve estar deslocada da linha média entre 4 e 6 mm;
• Estupor: o deslocamento da glândula pineal deve estar entre 6 e 8 mm;
• Coma: há desvio da glândula pineal maior que 8,5 mm (SILVEIRA 2015).
Nas situações em que ocorrer o infarto cerebelar a presença do edema local in-
terromperá a passagem de líquor pelo IV ventrículo, causando a hidrocefalia aguda e
hipertensão intracraniana, situação clínica de extrema gravidade, pois poderá ocorrer a
compressão de tronco cerebral, o que pode levar à morte.
Neste sentido, faremos uma leitura complementar que ressalta a importância de possíveis
complicações relacionadas a infecções do trato urinário e prevenção de LPP, que são dois
achados significativos da pesquisa, disponível em: https://bit.ly/2Mxfopw
Hemorragias
Hemorragia Intraparenquematosa (HIP)
A HIP pode ser traumática ou espontânea, apresentando-se como a ruptura de
vasos intracerebrais, o que causa hematoma dentro da substância cerebral. A hiperten-
são arterial é a principal causa de HIP, porém, pode ser provocada por malformações
vasculares, aneurismas rotos, angiopatias, sangramentos, distúrbios de coagulação,
fibrinolíticos e transformação hemorrágica do AVCI; em idosos a angiopatia amiloide é
a causa de hemorragia lobar, que ocorre próximo ao córtex cerebral.
Causada pela hipertensão arterial crônica, ocorre vasculopatia que se apresenta como
a degeneração da camada média, das artérias e necrose fibrinoide, afetando os vasos de
pequeno calibre – especialmente os penetrantes. Com o enfraquecimento das paredes
das arteríolas, ocorre a formação de microaneurismas que se rompem em situações de
estresse e hipertensão arterial.
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Após a hemorragia ocorre edema em torno da lesão, gerando a aglomeração de
coágulos e compressão de tecidos adjacentes, resultando em isquemia; quando a he-
morragia ocorre mais próxima ao córtex cerebral, é mais fácil de alcançar o espaço
subaracnóideo, de modo que quando for mais próxima aos ventrículos cerebrais poderá
acarretar hidrocefalia.
O tratamento para HIP pode ser clínico ou cirúrgico, dependendo sempre da evo-
lução de cada paciente, em hipertensos crônicos a pressão arterial deve ser mantida
abaixo de 130 mm/hg.
A HSA vem acompanhada por cefaleia súbita, de forte intensidade com a persistência
de vários dias, quase não apresentando melhora com analgésicos, podendo provocar
náuseas, vômitos, mal-estar, tonturas e distúrbios vegetativos como palidez cutânea,
sudorese, convulsões, perda do nível de consciência e até mesmo o estado de coma.
Cerca de 20% das vítimas de HSA vêm a óbito nas primeiras 24 horas, tendo rece-
bido ou não assistência médica; metade dos que sobrevivem permanecem com algum
tipo de sequela. Indivíduos portadores de aneurisma devem ser operados idealmente nas
primeiras 24 horas, mas também podem ser operados entre 24 a 72 horas, ou ainda
após 10 dias. Neste período outras complicações podem ocorrer devido à presença do
sangue: vaso espasmos, resangramento – o qual pode ocorrer entre o 1º e 14º dia –;
cerca de 50 a 75% dos pacientes acabam evoluindo a óbito (PIRES; STARLING, 2017).
Em sua fase aguda, o paciente apresenta hipertensão intracraniana por conta do extrava-
samento de sangue, podendo estar relacionada ao aumento da pressão arterial, ou a sinais
de irritação meningeas como a rigidez de nuca, sinal de Kerninge de Brudzinski.
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O seu tratamento pode ser clínico ou cirúrgico, que também dependerá da evolução
clínica do paciente. A pressão arterial nesse caso deve ser mantida abaixo de 150 mm/
hg, pois pacientes que apresentem aneurisma cerebral correm o risco de ter novos
sangramentos; com a complicação da HSA temos o vaso espasmo, definido como um
estreitamento vascular difuso ou localizado, podendo progredir para um infarto cerebral.
O tratamento cirúrgico pode ser pela hidrocefalia aguda causada pela HSA, necessi-
tando de derivação ventricular externa; ou quando existe a necessidade de drenagem de
hematoma nos casos de aneurisma, a indicação e clipagem cirúrgica ou tratamento en-
dovascular são alternativas (PIRES; STARLING, 2017) – nestes casos, o paciente deverá
receber alguns cuidados específicos, conforme apresentado a seguir:
• Manter em repouso absoluto no leito com visita limitada ao mínimo possível;
• Atenção especial à eliminação intestinal, principalmente naqueles em que o aneu-
risma ainda não foi clipado. A evacuação deve ser facilitada com o uso de laxantes;
• Preferencialmente manter na penumbra;
• Manter acesso venoso prévio para hidratação, caso seja necessário;
• Poderá ser mantido hemodiluído, pois o hematócrito entre 33 e 37% diminui o
risco de vasoespasmo;
• Para a melhora do quadro e fluxo sanguíneo cerebral o nível pressórico pode ser
salino ou hipertônico, albumina, coloide ou concentrado de hemácias até que ocorra
a melhora do déficit neurológico;
• Caso seja necessário, serão utilizadas drogas aminas pressoras (dopamina ou dobu-
tamina) com monitoramento contínuo da perfusão periférica, níveis de creatinina,
débito urinário e lactato sérico;
• Sedação com diazepam, fenotiazínicos ou barbitúricos, prevenção de convulsão
com o uso de anticonvulsivantes e antiácidos;
• Na execução de qualquer procedimento que eleve os níveis pressóricos o paciente
deverá ser sedado;
• Monitorar e intervir na ocorrência de dor e arritmias.
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Tabela 1 – Escala de coma de Glasgow
Prâmetro Resposta Pontuação
• Espontânea; 4
• Ao estímulo verbal; 3
Abertura ocular
• Ao estímulo doloroso; 2
• Ausente. 1
• Orientado; 5
• Conversa confusa; 4
Resposta verbal • Palavras inadequadas; 3
• Sons incompreensíveis; 2
• Sem resposta. 1
• Obedece a comandos; 6
• Localiza estímulos; 5
• Esquiva-se do estímulo; 4
Resposta motora
• Flexão anormal (decorticado); 3
• Extensão anormal (descerebrado); 2
• Sem resposta. 1
Fonte: Adaptado de MORTON; FONTAINE, 2019
A ECG foi idealizada para ser um guia na avaliação rápida do indivíduo com adoe-
cimento agudo ou lesão grave e que o estado/condição poderá se alterar rapidamente.
Score de 3 a 8 pontos sugere grave comprometimento, de 9 a 12 comprometimento mo-
derado e de 13 a 15 leve comprometimento (MORTON; FONTAINE, 2019). Tal escala
foi construída para a utilização em adultos, não sendo indicada para crianças menores de
5 anos de idade.
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Nos pacientes em que a pontuação da escala de coma de Glasgow for menor ou igual
a 8, a avaliação dos seguintes parâmetros deve ser feita de maneira rigorosa: pupilas,
motricidade ocular, padrão respiratório, de modo que as alterações sejam cuidadosa-
mente avaliadas para o diagnóstico de lesões encefálicas. Vale ressaltar que o tronco
encefálico é constituído pelo mesencéfalo, ponte e bulbo, de modo que quanto mais
distante for o local afetado, pior serão as condições do paciente.
Exame Pupilar
Realizar a avaliação pupilar é um importante componente neurológico, uma vez que
dependendo da lesão cerebral, a localização e extensão das reações pupilares poderão
estar presentes; neste sentido, observe as possíveis alterações:
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Quadro 1 – Pupilas anormais
Pupila Tônica – Não tem significância patológica, nestas situações ocorrer rea-
ção lenta à luz e à acomodação. Há uma pupila regular unilateral
Pupila de Adie grande que reage de forma lenta após longo tempo de latência.
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A avaliação deve ser realizada observando-se o contorno, que deve ter o formato de
círculo. Quando a pupila apresenta forma ovoide, pode ser sinal de herniação transten-
torial, por hipertensão craniana; temos também a forma “buraco de fechadura”, mais
apresentada por pacientes que tenham realizado cirurgia de catarata; assim como pupilas
irregulares por traumas em região orbital.
Tabela 3 – Escala de AVC dos institutos nacionais de saúde dos Estados Unidos (Nihss)
Item testado Título Resposta e pontuação
0 – alerta
1 – acorda com estímulos sonoros leves
1A Nível de consciência
2 – estímulo doloroso para resposta motora
3 – coma, resposta motora reflexa ou ausente
Orientação 0 – ambas as respostas corretas
1B (2 questões) 1 – uma resposta correta
(mês e idade) 2 – nenhuma resposta correta
Resposta a comandos 0 – ambas as respsotas corretas
1C (2) (abrir e fechar olhos, 1 – uma resposta correta
apertar e soltar a mão) 2 – nenhuma resposta correta
0 – normal
1 – paresia nervo craniano ou paralisia parcial do olhar conjugado
2 Movimentação ocular
2 – desvio do olhar conjugado ou paralisia completa da motrici-
dade ocular, não suplantada pela manobra oculocefálica
0 – sem perdas
1 – hemianopsia parcial (quadrantanopsia)
3 Campo visual
2 – hemianopsia completa
3 – cegueira cortical
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• Paralisia facial;
• Paresia em MMSS;
• Alteração da fala.
É importante lembrar que o preparo para a alta hospitalar deve iniciar o mais preco-
cemente possível, pois como vimos, a vítima de AVC poderá ter sequelas e, neste senti-
do, caberá ao enfermeiro, por meio da educação em saúde, orientar e treinar o familiar
para o cuidado em domicílio. Lembre-se, tudo é novo e assustador tanto para o familiar
como para o próprio paciente, assim, o processo de educação deve começar o quanto
antes, envolvendo paciente e familiar no cuidado e conhecimento de sua patologia para
que, desta forma, possam responsabilizar-se pelo contínuo cuidado da saúde, de forma
a prevenir novos eventos e complicações.
Você sabia que existe um manual do Ministério da Saúde sobre as rotinas para atenção ao AVC?
Disponível em: https://bit.ly/3j22qwb
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Queimaduras
As queimaduras são classificadas como importante problema de saúde pública, tendo
em vista que representam a segunda causa de morte na infância, seja nos Estados Unidos,
seja no Brasil. Cerca de um milhão de acidentes com queimaduras ocorrem por ano no
Brasil e destes casos 100 mil vítimas procurarão atendimento médico, de modo que em
decorrência direta ou não das lesões 2.500 vítimas falecerão (CRUZ et al., 2012).
A pele é o maior órgão do corpo humano e desempenha importantes funções na
manutenção da homeostase e no equilíbrio orgânico, protegendo o corpo do meio am-
biente, das abrasões, de substâncias nocivas e de microrganismos e da perda de líquido.
As glândulas sudoríparas e os vasos sanguíneos são responsáveis pela regulação de
calor, de modo que a presença de terminações nervosas lhe possibilita ter sensibilidade
ao calor, frio e a dor (MORTON; FONTAINE, 2019).
Quando a pele sofre queimadura, ocorre a desnaturação das proteínas no local da le-
são, levando à destruição tecidual; assim, quanto maior o tempo de exposição ao agente
causador da queimadura, maiores poderão ser os danos e, neste sentido, além de locais
poderão ser sistêmicos.
Na ocorrência de lesão por queimadura, deve-se resfriar o calor gerado pelo processo
– o que trará os seguintes benefícios:
• Alívio da dor;
• Menor formação de edemas;
• Redução da taxa de infecção, assim como do aprofundamento da lesão;
• Cicatrização mais rápida;
• Menor necessidade de enxertia;
• Diminuição das cicatrizes;
• Diminuição da mortalidade (BORKE, 2015).
O resfriamento deve ser feito o mais rápido possível e por 20 minutos no primeiro
socorro à vítima. Apesar das recomendações feitas pelas principais organizações mun-
diais de profissionais envolvidos no atendimento de emergências de queimaduras, rara-
mente o resfriamento ocorre por esse tempo, uma vez que tanto o socorrista quanto a
vítima anseiam por maiores intervenções clínicas, além do receio com a infecção local e
hipotermia. Entretanto, estudos têm evidenciado que o resfriamento pré-hospitalar não
parece contribuir para hipotermia em atendimento prévio (BORKE, 2015).
Muitos trabalhos clínicos indicam o uso da água fria corrente como primeira resposta
ao resfriamento da lesão. Estudos apontam ainda que o adequado resfriamento auxilia:
• Na recuperação da queimadura;
• Na redução de morbidade;
• Na redução de custos, já que diminui o grau de dano no tecido e, consequentemente,
a posterior necessidade de cirurgia e reconstrução;
• Na redução de hipotermia pós-queimadura;
• Na redução de alterações inflamatórias, microvasculares e necrose de tecidos e fibrose;
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• Na menor liberação de histamina, prostaglandinas e tromboxano;
• No menor metabolismo aeróbico;
• Na menor produção de lactato e acidose metabólica;
• Na função de catecolaminas e homeostase cardiovascular.
Com atraso no resfriamento da queimadura há piora da lesão, uma vez que a sua
formação ocorre durante o processo de queimadura ou nos primeiros segundos depois
dessa. Assim, estudos evidenciam que o seu resfriamento precoce favorece o alívio da
dor e a redução da lesão tissular, assim como promove cicatrização mais rápida em
queimaduras dérmicas profundas. Contudo, o resfriamento feito em até 30 minutos
após a queimadura também tem resultados positivos na limitação de danos ao tecido nas
queimaduras (BORKE, 2012).
O calor faz a coagulação das proteínas, de modo que a mudança causada pela des-
truição celular se agrava com o processo inflamatório agudo subjacente. Assim, a brusca
mudança de temperatura resulta na alteração das respostas locais dos vasos sanguíneos
em uma tentativa de dissipar o calor com vasodilatação, aumento da permeabilidade
capilar e, consequentemente, maior atividade osmótica celular.
Esses mediadores causam estase vascular devido à dilatação venosa arteriolar, segui-
dos por agregação plaquetária. Portanto, a mudança das células endoteliais da mem-
brana basal por sistema de microcirculação e alterações na bomba de sódio e potássio
levam à diminuição do potencial da membrana. Por sua vez, tal aumento provoca a
perda proteica ao tecido intersticial, aumentando a formação do edema local.
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Figura 6 – Queimadura de segundo grau profunda
Fonte: Wikimedia Commons
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A regra dos 9% divide as partes do corpo por múltiplos de 9, conforme a seguinte Figura:
A presença de algum desses achados pode sugerir lesão inalatória aguda, necessitando
de intervenção imediata; a presença de lesão inalatória aumenta por si a mortalidade
associada à queimadura. Em exame primário, Mortom e Fontaine (2019) propõem os
seguintes parâmetros a serem avaliados:
• Manutenção da via aérea com a proteção da coluna cervical;
• Respiração e ventilação;
• Circulação com controle de hemorragia;
• Incapacidade (avaliar o déficit neurológico);
• Exposição (despir totalmente o paciente, porém, a temperatura corporal deve ser
mantida).
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Qualquer roupa com substância química deve ser removida imediatamente e com
cautela para que se evite contaminação de outras partes do corpo; áreas corpóreas quei-
madas com substâncias químicas devem ser varridas e lavadas abundantemente; após
estabelecer via aérea prévia, deve-se tratar as lesões que coloquem em risco a vida do
paciente (MORTOM; FONTAINE, 2019).
A estimativa do volume a ser infundido pode ser feita através do uso das fórmulas
para o seu cálculo, de modo que existem 6 fórmulas que possibilitam fazer o cálculo de
reposição de líquido, vejamos:
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Afogamento
Dados Epidemiológicos, Definição e Locais de Ocorrência
A falta de dados epidemiológicos relacionados ao afogamento impossibilita visualizar
o impacto deste evento para a saúde pública. Isso se deve, principalmente, pela falta
de definição uniforme e aceita internacionalmente. Em decorrência disso, casos fatais e
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não fatais podem ter sido excluídos erroneamente das estatísticas. Tal situação passou a se
transformar a partir das definições estabelecidas no I Congresso Mundial de Afogamento
e que atualmente estão em uso pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a saber:
• Afogamento: é definido como a aspiração de líquido não corporal por submersão
ou imersão;
• Resgate: é a definição dada para o indivíduo socorrido da água sem sinais de
aspiração de líquido;
• Cadáver por afogamento: morte causada por afogamento sem chance de iniciar re-
animação, comprovada por tempo de submersão maior que uma hora, ou ainda pela
presença de sinais de rigidez cadavérica, livores e decomposição corporal (SUEOKA;
ABGUSSEN, 2019).
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Fisiopatologia do Afogamento
1º Vítima com água na boca voluntariamente cuspindo ou engolindo;
5º Taquicardia dará lugar a bradicardia que depois dará lugar a atividade elétrica sem pulso e assistolia.
Quando ocorre o resgate da vítima viva, a evolução do quadro clínico torna-se dire-
tamente vinculada à quantidade de água ingerida; assim, tanto a água salgada quanto a
doce produz lesões similares, embora tenham diferenças osmóticas – vejamos a ação da
água nos alvéolos:
Edema pulmonar
Fluídos no pulmão
Nas situações em que for necessária a realização de RCP os riscos de danos neuro-
lógicos serão semelhantes a paradas cardíacas por outras causas; contudo, a frequente
hipotermia em decorrência do afogamento parece proporcionar maior tempo sem se-
quelas, uma vez que a hipotermia reduz o consumo de oxigênio cerebral em cerca de 5%
para cada 1º C reduzido da temperatura – fato que diminui a atividade elétrica e metabó-
lica do cérebro, além de retardar a anóxia celular e depleção do ATP. Esses fatores pare-
cem explicar o sucesso na reanimação de vítimas com tempo prolongado de submersão.
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O afogamento pode ser classificado como:
• Primário: não há indícios de causa do afogamento; e
• Secundário: ocorre em decorrência de alguma causa impedindo a vítima de per-
manecer na superfície da água – uso de drogas (cerca de 36,2% superior à porcen-
tagem pelo uso de álcool), idade menor de 15 anos, sexo masculino, uso de bebidas
alcoólicas, baixa renda e escolaridade, ausência de supervisão, convulsões, doenças
cardiorrespiratórias e traumas.
Consciente, edema agudo de pulmão sem Oxigenoterapia em alto fluxo (por máscara facial ou via aérea
3 hipotensão avançada) e transportar ao hospital
Oxigenoterapia em alto fluxo (por máscara facial ou via aérea
Consciente, edema agudo de pulmão com
4 hipotensão
avançada), reposição volêmica; considerar infusão de droga
vasoativa e transportar ao hospital
Atender conforme o protocolo de parada respiratória em SAV;
5 Inconsciente, em parada respiratória em caso de retorno da respiração espontânea, seguir as orien-
tações do Grau 4
Atender conforme o protocolo de parada cardiorrespiratória
6 Inconsciente, em parada cardiorrespiratória
em SAV
Fonte: Adaptado de BRASIL, 2016
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Esta Unidade trata de vários conceitos e protocolos que devem direcionar a sua atuação
profissional na assistência em situações de urgência e emergência.
Assim, conhecemos as hemorragias que podem afetar o tubo gastrointestinal, bem como
identificamos HDA e HDB e os respectivos cuidados à vítima.
Nesta oportunidade aprendemos a prestar assistência à vítima de AVCI e AVCH, as suas
particularidades, escalas de atendimento e o papel do enfermeiro no reconhecimento
dessas afecções. E finalizamos com o conhecimento dos protocolos para avaliação, clas-
sificação correta da vítima de afogamento, a sua cadeia de sobrevivência e a assistência à
cada fase do evento.
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Referências
AMERICAN HEART ASSOCIATION. Destaques. Atualizações das diretrizes de RCP
e ACE. São Paulo, 2020.
______ __. Ministério da Saúde. Portaria n.º 1.600, de 7 de julho de 2011. Reformula a
política nacional de atenção às urgências no SUS. Diário Oficial da União, Brasília, DF,
2011. Disponível em: <http://dab.saude.gov.br/portaldab/smp_ras.php?conteudo=rede_
emergencias>. Acesso em: 21/12/2020.
______ __. Portaria n.º 1.863, de 29 de setembro de 2003. Institui a política nacio-
nal de atenção às urgências, a ser implantada em todas as unidades federadas, res-
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