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BASES EM MICROSCOPIA ÓPTICA

(Versão de março de 2020)

Paulo César Fonseca Giannini

1. Transmissão versus vibração da luz

Luz é energia eletromagnética propagada por ondas transversais, isto é, com direção
de oscilação ou vibração perpendicular à direção de transmissão. Suas ondas vibram em
infinitos planos perpendiculares à transmissão. A amplitude de vibração das ondas é ligada
à intensidade ou energia, e o comprimento de onda controla diretamente a velocidade c de
transmissão. No entanto, a velocidade c varia com o meio. No vácuo, essa velocidade é de
~300000 km/s.

2. Efeitos do meio sobre a luz

Ao passar de um meio transparente, por exemplo vácuo, ar ou outro fluido qualquer,


para outro, por exemplo um grão mineral, a luz pode sofrer três efeitos: mudança de
velocidade; desvio na geometria do feixe incidente; e alteração na suas direções de
vibração. Estes efeitos podem ser observados, de modo direto ou indireto, em lâminas de
grãos em imersão num fluido ou mesmo em seções delgadas (isto é, fatias de rocha com
espessura constante). Cada um deles é descrito a seguir.

2.1. Mudança de velocidade: os índices de refração

A redução da velocidade c, quando a luz passa do vácuo para outro meio, é


determinada pela diminuição do comprimento de onda (Figura 1). Isto ocorre sempre,
independentemente das características do meio, e cada meio possui uma magnitude de
desaceleração característica, expressa no seu índice de refração n (onde n é a razão c vácuo /
cmeio, com cvácuo ~300.000 km/s). O n do ar, por exemplo, é igual a 1,00029.
Embora a desaceleração em si não possa ser visualmente percebida ao microscópio,
é possível avaliar a diferença de índices de refração entre duas substâncias colocadas na
mesma lâmina, lado a lado, em contato inclinado. Esta possibilidade está relacionada ao
segundo efeito que a luz pode sofrer ao passar de um meio a outro: a mudança ou desvio na
geometria do feixe incidente.

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Figura 1. Desaceleração da luz ao passar do ar para meios de índice de refração 2,0 (A) e
1,5 (B).

2.2. Desvios de percurso por dupla refração: relevo e linha de Becke

A mudança no percurso dos raios do feixe de luz só ocorre se os índices de refração


das duas substâncias não forem os mesmos e se as superfícies de contato entre elas não
forem paralelas nem perpendiculares à incidência. Ocorre, por exemplo, em um grão
lenticular imerso em ar, água, óleo ou bálsamo do Canadá. Nesse caso, o raio desvia-se
aproximando-se da normal óptica (divergindo do grão), caso o índice de refração do grão
seja menor que o do meio envolvente, ou afastando-se dela (convergindo para o grão), se o
índice do grão for maior que o do meio (Figura 2). Quanto maior a diferença de índice de
refração entre grão e meio e quanto mais curvo o grão, mais intenso o processo de
convergência ou divergência de luz, o que se reflete em sombreamento da borda do grão. A
este efeito de sombreamento, dá-se o nome de relevo.
A intercepção do plano focal com os raios desviados forma uma linha luminosa
amarelada chamada linha de Becke, melhor observada sob penumbra (diafragma
parcialmente fechado). Como os raios desviados convergem para o grão, no caso de índice
maior que o do meio, e divergem, no caso de índice menor (Figura 2), o levantamento
(afastamento) do plano focal, através do distanciamento entre canhão de objetivas e platina,
gera entrada ou saída da linha de Becke, respectivamente (Figura 3). Assim, o movimento
relativo da linha de Becke, ao levantar-se o canhão do microscópio, é utilizado para avaliar
a relação entre os índices de refração do grão e do meio.

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Figura 2. Desvio da luz, incidente de baixo para cima, em um
grão de mineral com índice de refração maior (A) e menor que
o meio (B).

Figura 3. Movimentos da linha de Becke, na borda de um grão


observado em planta, quando se levanta o plano focal do
microscópio. A. Em mineral de índice de refração igual ao do
meio de imersão. B. Em mineral de índice de refração maior
que o do meio de imersão. C. Em mineral de índice de refração
menor que o do meio de imersão.

2.3. Mudança na direção de vibração: a polarização

O terceiro efeito possível, quando a luz passa de um meio a outro é a mudança nas
suas direções de vibração. Este efeito, chamado de polarização, é permitido por substâncias
que possuam ordenação atômica interna (arranjo cristalino) não simétrica
tridimensionalmente, ou seja, que não pertençam ao sistema cúbico. Vácuo, ar, água,

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sólidos sem arranjo cristalino e cristais do sistema cúbico permitem à luz vibrar em todas as
direções no plano perpendicular à incidência, com mesma velocidade; já o cristal
anisótropo, posicionado em determinadas orientações, força a luz a vibrar em direções
preferenciais. Existem três tipos de polarização da luz ao passar por um cristal anisótropo:
plana, elíptica e circular (Figura 4). Na polarização plana, a luz vibra em uma só direção,
dentre as infinitas direções possíveis perpendiculares à de propagação. Na polarização
elíptica, a luz vibra em duas direções ortogonais, com velocidades de transmissão (n) e
intensidades diferentes. Na polarização circular, a luz vibra em duas direções ortogonais,
com velocidades de transmissão (n) diferentes, mas intensidade iguais.
Ao contrário do desvio de raio, a polarização por dado mineral anisótropo
posicionado na platina é um processo que depende de luz incidente polarizada para ser
percebido ao microscópio. A luz polarizada é uma das principais características que
distinguem o microscópio petrográfico do microscópio comum (“biológico”).

Figura 4. Tipos de polarização da luz ao passar por um cristal: plana (A), elíptica (B) e
circular (C). Em A, a luz vibra numa só direção. Em B, a luz vibra em duas direções
ortogonais, com velocidades de transmissão (n) e intensidade diferentes. Em C, a luz a luz
vibra em duas direções ortogonais, com velocidades de transmissão (n) e intensidade iguais.

3. Constituição do microscópio petrográfico

Como qualquer outro microscópio óptico, o microscópio petrográfico pode ser


dividido em três constituintes essenciais: platina, objetivas e oculares. Suas principais
diferenças em relação aos microscópios comuns, em termos de constituição, estão no
caráter giratório da platina e numa série de acessórios existentes tanto na parte inferior do
microscópio, ou sub-platina, quanto na superior, ou sobre-platina. A luz sai plano-
polarizada em dada direção por uma lente existente dentre os acessórios inferiores, mas
pode ser polarizada em direção diferente, por outra lente na parte superior (Figura 5).

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Os acessórios sub-platina incluem a fonte de luz e uma série de lentes capazes de
modificar seu modo de transmissão; além do polarizador, que é de uso permanente nos
trabalhos petrográficos de rotina, têm-se acessórios de uso opcional como o diafragma, para
reduzir a intensidade de luz emitida, e a lente convergente ou condensadora, para
transformar a geometria do feixe de luz incidente, de retilíneo para cônico. A lente
condensadora tem dois tipos principais de usos: concentrar a iluminação e permitir assim
examinar melhor substâncias semi-opacas (e.g. criptocristalinas); e possibilitar, com uso
dos acessórios superiores, uma análise tridimensional do comportamento da luz em
substâncias cristalinas anisótropas.
Os acessórios superiores abrangem outro conjunto de lentes (analisadora e de
Amici-Bertrand) e diafragma, além de compensadores (constituídos de placas e cunhas de
cristais de espessura e orientação conhecida). Eles têm a finalidade de modificar a luz que
atravessou o objeto em estudo, colocado na platina. Permitem inferir o comportamento
óptico isótropo ou anisótropo do objeto. Caso o objeto seja anisótropo e gere, portanto,
duas direções de vibração da luz com velocidades de transmissão distintas, o analisador
promove a interferência entre estas direções de vibração, com comprimento de onda e cor
característica, a chamada cor de interferência.
A cor de interferência permite estimar a diferença de índice de refração entre as
duas direções de vibração, ou seja, a birrefringência da seção. O uso combinado de
analisador e lente de Amici-Bertrand, com a ajuda do condensador de luz, permite ainda a
análise tridimensional do cristal anisótropo, e, assim, a determinação do número de
direções de vibração preferencial da luz (já que existem cristais anisótropos com duas e
com três direções: uniaxiais e biaxiais, respectivamente).
Em suma, os acessórios superiores possibilitam determinar as propriedades ópticas
de interferência de minerais anisótropos: cor de interferência, relacionada com a
birrefringência; elongação, que permite posicionar as direções de vibração da luz daquela
seção em relação a feições cristalográficas, como faces e clivagens; ângulo de extinção, que
permite medir a diferença de posição entre as direções de vibração e as feições
cristalográficas; e a figura de interferência, que possibilita inferir o caráter óptico, uni ou
biaxial.
As propriedades ópticas determinadas sem o uso dos acessórios superiores serão
explicadas nos itens 4, 5 e 6. As propriedades estudadas com os acessórios superiores serão
explicadas nos itens 7 e 8.

4. O polarizador

No microscópio petrográfico, a luz emitida sai plano-polarizada, graças ao


polarizador do conjunto sub-platina, motivo pelo qual esta direção é referida como direção
de vibração do polarizador (direção P-P´ nas Figuras 5 e 6). Como a luz é transmitida na
vertical, de baixo para cima, a direção do polarizador é uma qualquer na horizontal (isto é,
no plano da platina e do campo de visão do microscópio). Normalmente, para facilidade de
operação, ela é mantida no NS ou no EW. Não existe convenção internacional para
posicionar o polarizador sempre na mesma orientação (só EW ou só NS). Isto varia de
microscópio para microscópio, na dependência de marca, modelo e ano de fabricação.

5. Pleocroísmo e eixo óptico

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Materiais isótropos não modificam o caminho da luz. Assim, se a luz entra plano-
polarizada segundo P-P’ em um material isótropo, ela continua plano-polarizada, na mesma
direção, após atravessar esse material (Figura 5A). Quando se gira a platina, cor e relevo
não se modificam, porque o material isótropo tem o mesmo índice de refração em todas as
direções de vibração da luz e, portanto, em qualquer posição na platina (Figura 5B).
Já o cristal anisótropo pode variar visivelmente de cor, propriedade conhecida como
pleocroísmo, e de relevo, à medida que se gira a platina do microscópio petrográfico (sem
inserção do analisador). Este comportamento está ligado ao fato de o cristal anisótropo ser
um polarizador de luz (Figura 6). Ele tem a capacidade de fazer a luz vibrar em duas
direções preferenciais, perpendiculares entre si, com comprimentos de onda e portanto
velocidades de propagação diferentes. Assim, ao passar pelo cristal, a direção de vibração
da luz plano-polarizada transmitida na sub-platina varia entre estas direções à medida que o
feixe luminoso se propaga para cima (Figura 6). As velocidades (ou índices de refração) e
intensidades da luz nestas duas direções de polarização dependem da orientação do cristal,
em termos de corte (em seções delgadas) ou de posição com a qual o grão cai na platina
(em lâminas de grãos em imersão). E deve-se lembrar também que estas direções podem
mudar de posição no giro da platina (Figura 6). Duas situações principais são possíveis, em
termos de corte ou posição de repouso do grão. Na primeira, as duas direções apresentam
intensidades, comprimentos de onda e velocidades distintas. A luz fica então elipticamente
polarizada (Figura 4B e 6A). A representação tridimensional das intensidades de vibração
da luz, à medida que ela se propaga, é uma espiral (Figura 4B), cuja projeção no plano
ortogonal à propagação é uma elipse (Figura 6B). Os eixos desta elipse são as duas direções
de vibração preferencial da luz impostas pelo mineral, naquela orientação.
Na segunda situação, o cristal posiciona-se de tal modo que existe uma direção
preferencial de vibração em qualquer posição do giro da platina. Diz-se então que a luz
propaga-se segundo o eixo óptico do cristal (Figura 5). O eixo óptico é a direção de
propagação através da qual a luz vibra com mesma velocidade em todas as direções
perpendiculares. Nesse caso, a exemplo do que acontece com o material isótropo, a luz
permanece plano-polarizada segundo P-P’, ao sair do cristal. Não há variação de cor ao giro
da platina (pleocroísmo), nem de relevo.
Num certo sentido, pode-se dizer que o material isótropo é aquele que possui
infinitos eixos ópticos. Já os anisótropos podem ter um ou dois eixos ópticos.

6. Eixos de vibração preferencial da luz e fórmula pleocroica

Se em seção bidimensional os minerais anisótropos apresentam uma ou duas


direções de vibração preferencial, na dependência do corte, na representação tridimensional
há minerais anisótropos com duas e com três direções preferenciais. Nos cristais com duas
direções de vibração preferencial, existe apenas um eixo óptico, o qual coincide com uma
das direções de vibração preferencial da luz (chamada de extraordinária; a outra direção, a
ela perpendicular, é dita ordinária). Estes cristais são designados cristais uniaxiais (do
grego: “um eixo”). Os cristais uniaxiais (Figura 7) pertencem a sistemas cristalinos que
contêm um eixo de simetria ternário (trigonal, como a turmalina, o coríndon, a calcita e o
quartzo) ou quaternário (tetragonal, como o zircão, o rutilo, o anatásio e a cassiterita), o
qual atua como eixo extraordinário ou eixo óptico. Nos cristais com três direções de
vibração preferencial, existem dois eixos ópticos, situados em suas bissetrizes. Estes cristais
são designados, por esta razão, biaxiais (Figura 8). Pertencem a sistemas cristalinos

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ortorrômbico (como a estaurolita, a sillimanita, a andaluzita e o hiperstênio), monoclínico
(como o epídoto, a titanita, a augita e o ortoclásio) ou triclínico (como a cianita, o
plagioclásio e o microclínio).
Por possuírem comprimentos de onda e velocidades diferentes, as direções de
vibração preferencial dos cristais anisótropos são apelidadas de raios lento (ng=Z) e rápido
(np=X), havendo ainda, no caso de cristais biaxiais, o raio mediano (nm=Y). Se a luz, vinda
do polarizador, entra no cristal vibrando somente no NS, e o cristal está posicionado na
platina de tal modo que Z esteja no NS e X no EW, a luz sairá do cristal plano-polarizada
em NS. Ele apresentará, nessa posição, o índice e o comprimento de onda característicos de
Z, o raio lento. Mas, girando-se a platina 90 graus, a luz sairá plano-polarizada em EW,
com as características do raio rápido X. Nas posições de platina intermediárias, a luz sairá
polarizada elíptica ou circularmente, ou seja, vibrando segundo as componentes das duas
direções preferenciais na direção de vibração do polarizador (NS). Índices e cores serão
intermediários entre os de X e os de Z. Esta diferença de índice de refração entre as
diferentes posições da platina pode traduzir-se em pleocroísmo perceptível (na dependência
da cor natural do mineral, isto é, de ele não ser incolor) e em variação visível de relevo
(dependendo da magnitude de sua birrefringência). Por outro lado, se o mineral for uniaxial
e estiver em seção perpendicular ao eixo extraordinário (eixo óptico), todas as posições de
giro da platina resultarão em vibração da luz segundo o eixo ordinário (Figuras 7). Tem-se
assim plano-polarização, idêntica em qualquer posição. Resultado: nessa seção específica, o
mineral não exibirá pleocroísmo, mesmo que seja colorido. Tampouco exibirá variação de
relevo ao giro da platina. Similar efeito acontece com cristais biaxiais colocados na platina
de tal modo que o caminho da luz incidente coincida com um de seus dois eixos ópticos
(isto é, em corte ou seção perpendicular a um eixo óptico: Figura 8). O que ocorre com os
minerais anisótropos, uni ou biaxiais, em seção perpendicular ao eixo óptico, é o mesmo
que ocorre com materiais isótropos, em qualquer seção (Figura 5). Diz-se, então, que se
está na seção isótropa de um mineral anisótropo.
Para expressar o pleocroísmo de dado mineral, normalmente se utiliza a fórmula: nx
// (ou ┴) cr = cor, o que quer dizer, quando o índice de refração x (ng, np ou nm), paralelo
(ou perpendicular) a feição cristalográfica cr (geralmente o próprio eixo cristalográfico de
alongamento do cristal, via de regra c), é colocado paralelamente à direção de vibração do
polarizador, a cor (preferencialmente, a de absorção máxima) é aquela descrita na fórmula.
Por exemplo, para um grão de turmalina azul na seção prismática, o pleocroísmo poderia
ser descrito como: ng ┴ c = azul índigo. Isto significa que quando ng, perpendicular ao
alongamento do prisma, é colocado na direção de vibração do polarizador, a cor de
absorção máxima, azul índigo, aparece. A fórmula pode ainda ser expressa de modo mais
completo, por exemplo: ng ┴ c = azul índigo, np // c = incolor. Este tipo de notação mais
completo é particularmente conveniente no caso de minerais biaxiais, onde é hábito indicar
as cores produzidas por np, nm e ng, quando coincididos com a posição de vibração do
polarizador.
A determinação das fórmulas de pleocroísmo depende que se conheça ng e np, o
que se faz através da determinação da elongação do mineral (item 7.2). Pressupõe também
conhecer a direção de vibração da luz no microscópio em uso (se NS ou EW), o que é
geralmente feito através da avaliação da variação de cor de minerais com pleocroísmo bem
conhecidos, contidos em uma lâmina de referência. A turmalina e a hornblenda prismáticas
e a biotita, em seção transversal à clivagem micácea, por possuírem pleocroísmo forte, são
muito usadas com esta finalidade. A turmalina sempre absorve mais a luz (fica mais escura

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ou colorida) na posição perpendicular a de vibração do polarizador. Este tipo de
comportamento é chamado de pleocroísmo inverso, em contraposição ao pleocroísmo
direto, apresentado por biotita e hornblenda, no qual a máxima absorção ocorre na posição
de alongamento paralelo à direção de vibração do polarizador.

7. O analisador: nicóis cruzados

O segundo polarizador do microscópio petrográfico, situado no jogo de acessórios


superior, é inserido apenas quando se pretende analisar propriedades ópticas específicas do
mineral (cores de interferência, birrefringência, elongação e caráter óptico). Por isso, é
denominado analisador (com direção de polarização A-A´, nas Figuras 5 e 6). A idéia do
par de polarizadores foi introduzida no século XIX por um físico inglês, William Nicol
(1768-1851), e, em homenagem a ele, estas duas lentes são hoje também conhecidas como
nicols, termo aportuguesado para nicóis. Os polarizadores de William Nicol eram dois
cristais de calcita, convenientemente cortados em direções perpendiculares entre si (e
paralelas ao eixo óptico: ver definição deste conceito no item 5). Os polarizadores
modernos são fabricados com resina polaroide, visando obter o mesmo efeito de fazer a luz
vibrar somente numa direção. Os microscópios costumam conter dispositivos que permitem
girar o analisador, o polarizador ou ambos. É assim que o ângulo de vibração da luz, entre
eles, pode variar de 0 a 90 graus. No trabalho rotineiro de mineralogia e petrografia, o
analisador é mantido em direção perpendicular a do polarizador (A-A´ ┴ P-P´, nas Figuras 5
e 6). Se o polarizador faz vibrar a luz no NS, o analisador vibra-a no EW, e vice-versa.
Desse modo, quando o analisador é inserido (através de alavanca ou botão específicos),
costuma-se dizer que os polarizadores ou os nicóis estão cruzados.

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Figura 5. Representação esquemática da transmissão de luz em cristal isótropo. O cristal
não modifica a plano-polarização da luz e, portanto, não muda de cor ou relevo ao giro do
cristal (platina). Além disso, a nicóis cruzados (analisador inserido), nenhuma luz é
transmitida acima do analisador, independentemente do giro. Situação similar ocorre em
cristais anisótropos na posição perpendicular ao eixo óptico.

A nicóis cruzados, e não havendo nenhum objeto na platina entre fonte de luz e
objetivas (além do ar), a imagem observada na ocular é totalmente escura (Figura 5), pois a
única direção de vibração da luz que tem passagem permitida pelo polarizador (por
exemplo, NS) é bloqueada pelo analisador (nesse caso, EW). Mesmo comportamento se
observa se forem colocadas na platina outras substâncias transparentes que não modifiquem
o comportamento (percurso e direção de vibração) da luz, isto é, que forem opticamente
isótropas. É o caso de qualquer substância sem arranjo cristalino, como a água, a opala, o
vidro e a maioria dos demais líquidos. Mas é o caso também de substâncias cristalinas de
elevado grau de simetria, as do sistema cúbico. Exemplos são fluorita, granada, espinélio,
pirocloro e diamante.
Quando se gira o polarizador lentamente, a imagem clareia de modo gradual, até
alcançar a luminosidade máxima quando analisador e polarizador estiverem paralelos. Isso
deve-se ao aumento gradual da passagem de luz vibrando na mesma direção do analisador.

Figura 6. Representação esquemática da transmissão de luz em cristal anisótropo. O cristal


faz a luz vibrar segundo duas direções perpendiculares entre si e pode apresentar mudança
de cor e relevo ao giro da platina. A nicóis cruzados, o analisador capta apenas as
componentes destas duas direções no seu plano de vibração. Com cristal a 45 graus da
posição de extinção (esquerda), a luminosidade é máxima e as duas componentes podem
vibrar com igual intensidade (luz circularmente polarizada). A 15 graus (direita), as

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componentes sempre vibram com intensidades diferentes (luz elipticamente polarizada) e a
intensidade de luz que passa do analisador é menor. A zero graus, a luz resulta plano-
polarizada em P-P´, ocorrendo extinção.

Figura 7. Indicatrizes ópticas de minerais uniaxiais positivo (esquerda), exemplificado pelo


quartzo, e negativo (direita), exemplificado pela calcita. No positivo, o eixo óptico
(extraordinário) é o lento, de índice de refração grande. No negativo, ele é o rápido, de
índice pequeno.

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Figura 8. Indicatrizes ópticas de minerais biaxiais positivo (esquerda) e negativo (direita).
No positivo, o raio lento, de índice de refração grande (ng ou Z) fica na bissetriz dos eixos
ópticos. No negativo, quem ocupa essa posição é o índice pequeno (np ou X).

7.1. Extinções e cores de interferência

Só existe interferência entre dois raios com direções de vibração distintas quando
eles são levados a um mesmo plano (plano-polarizados). A função do analisador é forçar a
interferência dos raios de luz elipticamente polarizada que saem do cristal (ou ainda, em
casos específicos, circularmente polarizada ou plano-polarizada), de modo a produzir
comprimento de onda e cor característicos (apresentados na tabela gráfica de Michel Levy).
A cor de interferência, também chamada de cor de Michel Levy, é função da diferença de
percurso ou atraso (A) entre os raios lento e rápido da luz polarizada que sai do cristal e,
portanto, de sua birrefringência (b) na seção e de sua espessura (e). Desse modo, vale a
fórmula A = b x e, onde A e e são expressos em unidades de comprimento (l). A
interferência de raios com velocidade igual (mesmo índice de refração) é a anulação
(extinção ou “cor” preta), visto que nesse caso a birrefringência b será nula. Assim, se a
seção é perpendicular ao eixo óptico, a luz sairá do cristal vibrando somente segundo o
plano do polarizador. Como a componente paralela ao analisador é nula, resulta extinção
(Figura 5). Em qualquer posição da platina, o cristal não mudará a direção de vibração do
polarizador, porque sempre haverá um raio de vibração ordinário paralelo a EW ou NS.
Este comportamento acontece tanto nas seções perpendiculares ao eixo óptico de cristais

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anisótropos como em qualquer seção de cristais isótropos, ou seja, em qualquer material
que, naquela orientação, não interfira no comportamento plano-polarizado da luz incidente.
Já nas seções não perpendiculares ao eixo óptico (em cristais anisótropos), o giro da
platina faz alternar extinção, nas posições de analisador ou polarizador paralelas a um dos
raios característicos do cristal, com luminosidade e cores de interferência, nas posições
intermediárias. Nas posições de giro da platina em que houver coincidência entre
polarizador e raio lento ou rápido, a luz sai do cristal plano-polarizada, vibrando apenas na
direção (lenta ou rápida) do polarizador. Como o analisador vibra em direção
perpendicular, o resultado é a extinção. Sendo dois estes raios, e perpendiculares um do
outro, esta extinção ocorre a cada 90 graus de giro da platina. Nas demais posições de
rotação da platina, a luz sai elíptica a circularmente polarizada (Figura 6), e o analisador
produzirá uma cor de interferência entre as componentes de raios lento e rápido daquela
seção, cuja passagem seja permitida pelo polarizador e pelo analisador. A bissetriz (45
graus) das duas posições de extinção sucessivas corresponde à posição em que a luz pode
estar circularmente polarizada (Figura 6A). É nesta posição que as cores de interferência de
Michel Levy características desta seção podem ser observadas com maior intensidade.

7.2. Relações qualitativas entre cristalografia e raios lento e rápido: a elongação

A cor de interferência pode ser aumentada ou reduzida (compensada) se a diferença


de fase entre os dois raios for ampliada ou amenizada, respectivamente. Basta inserir uma
placa de outro cristal, de espessura e orientação óptica conhecida (o chamado
compensador), em posição paralela à determinada direção de vibração do cristal em estudo.
O compensador é posicionado, no conjunto superior do microscópio, de modo a ampliar ou
reduzir a diferença de percurso entre os dois raios de direções de vibração distintas. Duas
convenções para a medida de elongação são: 1. a elongação é positiva quando ng está no
alongamento do mineral (na maioria das vezes, representativo do seu eixo cristalográfico c
ou, mais raramente, do eixo b, como no epídoto); e 2. a placa é construída com np (eixo X
ou raio rápido) no alongamento. Se, ao orientar-se a placa compensadora paralelamente ao
cristal, o atraso e a cor correspondente aumentam (cor de interferência desloca-se para a
direita na tabela de Michel Levy), é porque há adição de atrasos, isto é, o np do cristal está
paralelo ao np da placa (elongação negativa). Se a cor de Michel Levy reduz, é o ng do
cristal que está sendo combinado com o np da placa. É ele, portanto, que está no
alongamento do cristal (elongação positiva). As placas mais usuais são a de mica
(glimmer), para produzir pequenos atrasos (de um quarto de comprimento de onda), e a de
gipso, para gerar grandes atrasos (de um comprimento de onda inteiro, isto é, um conjunto
ou ordem de cores na tabela de Michel Levy). No entanto, para minerais de elevada
birrefringência (por exemplo, grãos com cores de interferência de terceira ordem para
cima), a distinção do efeito (se de aumento ou redução de atraso) destas placas pode ficar
extremamente difícil, dada a similaridade das cores de Michel Levy nesta zona da tabela. A
solução, nestes casos, é o emprego da cunha de quartzo, em que a variação de atraso deve-
se não somente à orientação óptica deste mineral no instrumento compensador (construída,
a exemplo da placa, com np paralelo ao alongamento), mas ao aumento gradual de
espessura (e portanto de atraso), à medida que ela é inserida no caminho da luz polarizada.
Se o mineral possui np no alongamento, a exemplo da própria cunha de quartzo, o atraso
aumenta (as cores de Michel Levy caminham para a direita) à medida que se introduz a
cunha. E vice-versa. Mais prático e funcional do que isso é deixar-se levar pela sensação de

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que as faixas de cores (isocromáticas) entram ou saem no cristal quando se vai introduzindo
a cunha. Se as cores saem, é porque o np do cristal em questão está no seu alongamento,
paralelo ao da cunha (elongação negativa); se entram, é porque ng é que está no
alongamento do cristal em exame (elongação positiva).

7.3. Relações angulares entre cristalografia e raios lento e rápido: ângulos de extinção

O ângulo de extinção expressa a relação entre os eixos de velocidade da luz rápido


X (np) e lento Z (ng) e determinada feição cristalográfica, como face de prisma, clivagem
ou partição. Para medi-lo, posiciona-se paralelamente ao retículo (NS ou EW), sob nicóis
paralelos e médio aumento, a feição cristalográfica de referência. Em seguida, cruzam-se os
nicóis. Se o mineral já estiver totalmente extinto, o ângulo de extinção é nulo (zero grau) e
diz-se que a extinção é angularmente reta ou paralela. Caso o mineral não esteja extinto, a
extinção é inclinada. Para medir esta inclinação, marca-se a posição angular inicial da
platina (com retículo paralelo a feição cristalográfica escolhida) e gira-se a platina em
seguida, até obter a extinção completa. O ângulo de giro da platina entre esta posição de
extinção completa e a inicial corresponde ao ângulo de extinção.

8. Uso do condensador: a conoscopia

8.1. Da luz reta à luz cônica

A análise óptica descrita até aqui baseia-se na ortogonalidade entre luz incidente e
platina, recebendo por isso a denominação de ortoscopia. A conoscopia, em contraposição,
é o estudo óptico com convergência da luz no plano focal, obtida através da inserção, no
conjunto sub-platina, da lente condensadora, sob iluminação intensa e com auxílio, no
conjunto sobre-platina, da lente de Amici-Bertrand. Se na ortoscopia, todo o feixe de raios
luminosos é, grosso modo, perpendicular ao plano de observação, na conoscopia apenas o
raio de luz central possui esta propriedade. A lente condensadora é convexa: faz os demais
raios encontrarem-se no cristal e daí divergirem. A forma do feixe de raios luminosos
resulta, portanto, semelhante à de uma ampulheta (dois cones empilhados pelos vértices,
com estrangulamento no plano focal: Figura 9).

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Figura 9. Cones de luz
condensada, em um mineral
uniaxial em corte perpendicular
ao eixo óptico. Cada cone
corresponde a uma mesma
distância de desvio da luz e
portanto a uma superfície
isocromática. O eixo óptico
central e as posições de extinção
com polarizador e analisador
(linhas EW e NS) aparecerão sem
cor, extintos, compondo assim a
figura de interferência na forma
de cruz (ver Figura 10).

8.2. Conoscopia em cristais uniaxiais

8.2.1. Figuras de interferência

Imaginemos um mineral uniaxial, como quartzo ou turmalina, em posição basal,


perpendicular ao eixo cristalográfico c e ao eixo óptico. Este mineral aparecerá extinto em
qualquer posição da platina a nicóis cruzados. Na conoscopia, o raio de luz central, que se
propaga por este eixo, vibrará segundo o índice de refração ordinário paralelo ao
polarizador e será extinto pelo analisador. Já se sabe, portanto, que, nestes casos, haverá um
ponto escuro no meio do campo de visão conoscópico, chamado melatopo (do grego, local
escuro). Os demais raios do cone luminoso, por estarem oblíquos ao cristal, vibrarão
segundo duas direções perpendiculares entre si, passíveis de interferência. A cor de
interferência não dependerá apenas da diferença de velocidade (refração) entre os raios,
mas da espessura de cristal atravessada no seu percurso. Quanto mais afastados do centro
estiverem estes raios, isto é, quanto mais periférica for sua posição relativa no cone de luz,
maior a espessura atravessada, maior o atraso e mais alta a cor de interferência. Isto
significa a produção de faixas de mesma cor de interferência (isocromáticas)
aproximadamente concêntricas em relação ao ponto negro central (eixo óptico), com
aumento de atraso do interior para as bordas do campo de visão. Além disso, os raios que

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saírem com vibração no plano EW e NS terão suas componentes anuladas ou pelo
polarizador ou pelo analisador, de tal modo que a interferência será nula, com extinção.
Estes raios estarão ao longo de duas retas perpendiculares entre si, formando portanto uma
figura preta em forma de cruz. Formas geométricas, como esta cruz, geradas pela união de
pontos de anulação (extinção) dos raios do cone de luz, denominam-se figuras de
interferência. A cruz centrada é, por excelência, a figura de interferência do cristal uniaxial
em seção perfeitamente perpendicular ao eixo óptico (seção isótropa).
O que faz os raios do cone de luz vibrarem segundo esta ou aquela direção não é
apenas seu ângulo de incidência, mas a orientação relativa do cristal ao cone. Assim, se a
seção do cristal uniaxial estiver próxima, mas não perfeitamente perpendicular ao eixo
óptico, o que corresponde a uma seção anisótropa de cor de interferência relativamente
baixa, o ponto negro correspondente ao eixo óptico estará deslocado do centro do campo e
girará com a rotação da platina. Se a seção for fortemente oblíqua ao eixo óptico, ele poderá
não aparecer no campo de visão. Com a rotação da platina, as hastes negras da cruz
sofrerão deslocamento paralelo às direções NS e EW. Assim, por exemplo, ao passar-se do
quadrante superior direito (NE) da cruz para o inferior direito (SE), em giro anti-horário, a
haste horizontal (EW) subirá. Ao passar-se do quadrante inferior direito (SE) para o inferior
esquerdo (SW), a haste vertical (NS) andará lateralmente para a direita, e assim por diante.
Isto quer dizer que, mesmo em seções fortemente inclinadas em relação ao eixo óptico,
caracterizadas por cores de interferência moderadas, é possível distinguir cada quadrante da
figura de interferência uniaxial. Esta distinção será necessária, como veremos no subitem a
seguir, para identificar o caráter óptico da figura (orientação relativa entre eixo óptico e
índices ng ou np). O único caso em que a mesma distinção não é possível é aquele em que a
seção do cristal encontra-se paralela a seu eixo óptico (nos cristais uniaxiais, quase sempre
equivalente a seção prismática). Neste caso, o ponto negro correspondente ao eixo óptico
não aparece no campo de visão da microscopia conoscópica. Ao girar-se a platina por 360
graus, observam-se apenas quatro borrões escuros, correspondentes às posições de
extinção, os quais aparecem e desaparecem rapidamente (tipicamente num ângulo de
rotação inferior a 20 graus). Esta “figura de interferência” é conhecida como flash ou
relâmpago. Para alguns, não é uma figura de interferência, mas sim a ausência dela, daí o
uso das aspas. O padrão flash ocorre em seções que expõem os eixos ordinário e
extraordinário e que possuem portanto, na ortoscopia a nicóis cruzados, a máxima cor de
interferência possível para aquele cristal, com aquela espessura.

8.2.2. Caráter óptico

A grande importância da conoscopia reside na medição do caráter óptico do cristal:


se uniaxial ou biaxial, e de seu sinal, positivo ou negativo. O caráter uniaxial é indicado
pelas figuras de interferência em cruz (Figura 10), cujas hastes retas, caso mudem de
posição, fazem-no sempre paralelamente às direções do retículo. O sinal do caráter óptico
mede a relação de coincidência entre eixo óptico e os raios lento (Z) e rápido (X),
correspondentes aos índices ng e np, respectivamente. Ele tem princípio parecido com o da
elongação, só que usando o eixo óptico e não mais o alongamento como referencial. A
exemplo do que se faz para medir a elongação, o sinal óptico é medido com uso de
compensadores, mais comumente a placa de gipso. A convenção para os sinais é análoga da
usada na elongação: se ng coincide com o eixo óptico, o sinal é positivo. Se np coincide
com o eixo óptico, o sinal é negativo. Para compreender o funcionamento do método de

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avaliação do eixo óptico em minerais uniaxiais, é preciso ter em mente que o eixo
extraordinário, coincidente com o eixo óptico, decompõe-se radialmente pela deformação
conoscópica. Assim, no octante N ele está voltado para N, no NE está voltado para NE, no
E para E, e assim sucessivamente. Isto quer dizer que os quadrantes NW e SE sempre
apresentam o eixo óptico paralelo à posição (np) da placa, e os quadrantes NE e SW sempre
têm o eixo óptico posicionado perpendicularmente à placa. Assim, se a cor de interferência
dos quadrantes NW e SE aumenta (de cinza para azul), e portanto a dos demais diminui
(para amarelo), é porque o eixo óptico do cristal é, como o da placa, np; logo, o cristal tem
np no eixo óptico, o que significa, por definição, sinal óptico negativo. Inversamente, se os
quadrantes NW e SE ficam amarelos e os NE e SW ficam azuis, houve combinação de ng
com np; o cristal tem ng no eixo óptico e, portanto, sinal óptico positivo.

Figura 10. Projeção no plano de observação (esquiódromo), das duas direções de vibração
da luz (ng e np) em um mineral uniaxial, corte perpendicular ao eixo óptico. O padrão é
radial e a cor é ausente, onde houver coincidência de ng e np com as direções do
polarizador e do analisador.

8.3. Conoscopia em cristais biaxiais

O mesmo raciocínio geral exposto para a conoscopia de minerais uniaxais (item 8.2)
vale para a de biaxiais, como feldspato, estaurolita e epídoto, porém com as devidas

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adaptações. As isocromáticas agora formam um x em torno dos eixos ópticos (Figuras 11 e
12). Caso se esteja em corte perpendicular ao eixo óptico (seção isótropa), o ponto negro
central (melatopo) estará presente, mas os raios que saírem com vibração no plano EW e
NS, deformados que estão pela disposição inclinada à seção e pela conoscopia, formarão
uma haste escura curva, uma espécie de parábola, que rotaciona sem mudar de posição ao
giro da platina. Numa seção quase perpendicular ao eixo óptico, com cor de interferência
muito baixa (primeira ordem), a mesma parábola aparece, porém descentrada. Ela muda
ligeiramenre de posição ao giro da platina, porém sem chegar a sair do campo de visão.
Cortes oblíquos ao dois eixos ópticos, mas transversais a bissetriz aguda entre eles,
produzem dois conjuntos de isocromáticas formando uma espécie de binóculo (Figuras 11 e
12). Nesta posição de bissetriz aguda, chamada abreviadamente de bxa, as direções de
vibração paralelas a NS e EW formam duas parábolas com aberturas divergentes ou uma
hipérbole, que se movimentam ao giro da platina. Seções transversais à bissetriz obtusa dos
dois eixos ópticos (chamadas de bxo) produzem figuras de interferência em parábola, que
entram e saem do campo de visão no giro da platina. Finalmente, seções paralelas ao plano
dos eixos ópticos, correspondentes às de máxima cor de interferência, não geram figuras
bem definidas, mas apenas o padrão em relâmpago similar ao de cristais uniaxiais. A
definição do sinal óptico dos minerais biaxiais segue princípio análogo ao dos uniaxiais,
com amarelo no quadrante superior direito (NE) indicando sinal negativo e azul, sinal
positivo. As melhores figuras para a determinação do sinal são as de eixo óptico centrado
ou semi-centrado e as de bxa. Figuras de bxo permitem identificação de sinal óptico, porém
com inversão da regra de cores. No entanto, é preciso certificar-se com segurança de que se
trata de fato de bxo. Por exemplo, minerais com 2V muito alto, próximo de 90 graus, como
perovskita e estaurolita, produzem figuras de bxa e bxo muito parecidas entre si: a bxa
apresenta as duas isógiras quase saindo do campo, enquanto na bxo a saída de uma isógira é
quase simultaneamente acompanhada pela entrada de outra no canto oposto. A confusão
entre os tipos de figura pode implicar erro na determinação do sinal óptico. Para 2V de 90
graus, as duas figuras são virtualmente equivalentes, valendo a regra de bxa.

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Figura 11. Cones de luz condensada, em um mineral biaxial em corte perpendicular a
bissetriz aguda dos eixos ópticos. Cada cone corresponde a uma mesma distância de desvio
e portanto a uma superfície isocromática. As projeções das posições de extinção com
polarizador e analisador aparecerão como parábolas.

Figura 12. Projeção no plano de observação (esquiódromo), das duas direções de vibração
da luz (ng ou Z e np ou X) em um mineral biaxial, na posição de bissetriz aguda dos eixos
ópticos. A figura da esquerda representa a posição de extinção do mineral. O padrão é
radial e a cor é ausente, onde houver coincidência de ng ou np com as direções do
polarizador e do analisador.

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