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no contexto
de enfermidade
e morte
Rua: Martinho Lutero, 277 - Gleba Palhano - Londrina - PR - Tel.: (43) 3371.0200
Sumário
Aconselhamento no contexto de enfermidade e morte
Aula 01: Adoecimento..........................................................................................05
1. Recebendo disgnóstico de câncer.................................................................................06
2. Conceituação de câncer..................................................................................................07
3. Tipos de câncer...............................................................................................................09
4. Encaminhamentos para o tratamento...........................................................................10
5. Prevenção........................................................................................................................12
6. Direitos sociais do paciente com câncer.......................................................................14
Aula 02: Sofrimento.............................................................................................17
1. Compreendendo o sofrimento.......................................................................................17
2. Teologia do sofrimento...................................................................................................19
3. Ser humano holístico/integral........................................................................................23
Sobre a autora
Clarissa Sanchez é Mestranda em Teologia/EST
Especialista em: Bíblia/FTSA - Terapia de Casal e Família/FTSA
Especialista em Aconselhamento e Cuidado Pastoral/
Introdução
Objetivos:
- Refletir sobre o diagnóstico de câncer e o que ele pode causar na pessoa;
- Compreender melhor a doença e os tipos de tratamento;
- Conhecer as formas de prevenção para poder orientar as pessoas.
2. Conceituação de câncer
Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), “câncer é um nome geral
dado a um conjunto de doenças que têm em comum o crescimento anormal
e desordenado de células. Paciente oncológico é aquele que porta algum
tipo de câncer”.
O termo câncer surgiu pela primeira vez na literatura médica como karkinos,
palavra grega para caranguejo, na época de Hipócrates, o “pai da medicina”,
por volta do ano 400 a.C. O tumor, com vasos sanguíneos inchados à sua
volta, fez Hipócrates pensar num caranguejo enterrado na areia com as
patas abertas em círculo. Escritores posteriores acrescentaram mais
detalhes que justificavam o uso da comparação. A superfície endurecida
e desbotada do tumor lembrava a dura carapaça do corpo do caranguejo,
além da súbita pontada de dor produzida pela doença, que se compara à
dor produzida pelas garras do animal (MUKHERJEE, 2012, p. 68).
Estima-se que o câncer seja uma das doenças mais antigas da história
da humanidade. Uma explicação para não ter sido antes citada é que
as sociedades mais antigas não viviam muito tempo. Existem registros
de células cancerígenas em múmias do Egito, datadas de 3000 a.C.
Também foi localizado um câncer em restos de crânio humano de 1900
a.C. Pergaminhos egípcios, datados por volta de 1600 a.C., descrevem
oito casos de tumores de mama tratados por cauterização; câncer de
estômago, tratado com cevada cozida, misturada com tâmaras; câncer
de útero, tratado com uma mistura de tâmaras frescas, misturadas com
cérebro de porco, introduzidos na vagina (JEMAL, 2014, p. 94).
Com o avanço da medicina, sabe-se hoje que o câncer não tem uma causa
única. Há variadas causas externas, que estão presentes no meio ambiente
e causas internas, como hormônios, condições imunológicas e mutações
genéticas. Os fatores podem interagir em diferentes formas, dando início
3. Tipos de câncer
O câncer pode surgir em qualquer parte do corpo, mas alguns órgãos são
mais afetados do que outros; e cada órgão pode ser acometido por tipos
diferenciados de tumor que podem ser mais ou menos agressivos.
E nas mulheres: mama (29,5%); cólon e reto (9,4%); colo do útero (8,1%);
traqueia, brônquio e pulmão (6,2%); glândula tireoide (4%); estômago
(3,8%); corpo do útero (3,3%); ovário (3%); sistema nervoso central (2,7%);
leucemias (2,4%); Linfoma não Hodgkin (2,4%); cavidade oral (1,7%); pele
melanoma (1,7%); bexiga (1,4%); esôfago (1,3%); laringe (1.6%); Linfoma
de Hodgkin (0,5%).
Outro tratamento que pode ser proposto para algumas doenças que
afetam as células do sangue, como leucemias e linfomas, é o transplante
de medula óssea2 que pode ser autogênico, quando a medula vem da
própria pessoa ou alogênico, quando a medula vem de um doador ou
doadora, mas também pode ser feito a partir de células precursoras de
medula óssea, obtidas do sangue de uma pessoa doadora ou do sangue
de cordão umbilical. Para receber o transplante, a pessoa é submetida a
um tratamento que ataca as células doentes e destrói a própria medula.
Então, ela recebe a medula sadia como se fosse uma transfusão de sangue.
Uma vez na corrente sanguínea, as células da nova medula circulam e vão
se alojar na medula óssea, onde se desenvolvem. Os principais riscos se
relacionam às infecções e aos medicamentos quimioterápicos utilizados
durante o tratamento. A rejeição é relativamente rara, mas pode acontecer.
Já para a pessoa doadora os riscos são poucos e em poucas semanas a
medula óssea estará totalmente recuperada.
5. Prevenção
A prevenção primária tem como objetivo impedir que o câncer se
desenvolva e, para isso, é necessário se evitar a exposição aos fatores de
risco e adesão de um estilo de vida saudável. Já a prevenção secundária
2 Medula óssea é um tecido líquido-gelatinoso que fica no interior dos ossos, conhecido por
tutano. Nela são produzidos os componentes do sangue: hemácias (glóbulos vermelhos),
leucócitos (glóbulos brancos) e as plaquetas.
Conclusão
Nesta primeira aula vimos, portanto, o estigma cultural do câncer,
o que é a doença, os tipos de câncer, os possíveis tratamentos e
seus efeitos colaterais, formas de prevenção e direitos sociais do
paciente. Todas essas informações são muito úteis para quem quer
exercer o ministério de cuidado a pessoas, tanto no que se refere
em orientação da prevenção da doença como em acompanhamento
de pessoas em tratamento, já que o câncer é uma doença que está
acometendo a cada ano um número maior de indivíduos.
Objetivos:
- Compreender o sofrimento humano;
1. Compreendendo o sofrimento
Etimologicamente, sofrimento “denota pena ou dor que se deve suportar
(latim subferre, levar debaixo). No dicionário da língua portuguesa,
sofrimento é definido como “ato ou efeito de sofrer; dor física; angústia,
aflição”. E o termo sofrer é definido como: “ser atormentado, afligido por;
suportar, aguentar; admitir, consentir; passar por, experimentar coisa
desagradável ou trabalhosa”.
2. Teologia do sofrimento
Para Moltmann (2004, p. 11), “a teologia ocorre quando pessoas chegam
ao conhecimento de Deus e percebem a presença dele com todos os seus
sentidos na práxis da vida, da felicidade e do sofrimento.”
C.S. Lewis (1995, p. 103) afirma: “na prosperidade Deus sussurra, mas, na
adversidade, ele grita”. O sofrimento testa a ligação do ser humano com
Deus e revela as falhas ou, até mesmo, a falsidade de sua fé em Deus.
Por isso, é muito importante o acompanhamento e ajuda neste processo
através do aconselhamento.
Por essas definições o ser humano não tem dimensão espiritual, sendo
apenas um ser bio-psico-social. E lamentavelmente o Estado consegue
atender de forma muito limitada as três realidades elencadas. Saúde
requer a consideração do ser humano em todas as suas dimensões. A
deficiência em qualquer uma delas impede a presença da saúde em seu
sentido pleno.
A dimensão espiritual pode ser definida como uma busca do ser humano
por respostas sobre o sentido da vida e o relacionamento com o sagrado
e/ou o transcendente.
Conclusão
Como manifestação típica do sofrimento está a angústia, falta de sentido e
adoecimento espiritual. O sofrimento compõe um quadro de sintomas que
denotam a alienação do ser humano, uma ansiedade espiritual profunda,
a negação da dimensão espiritual e, por outro lado, uma busca de sentido
e de espiritualidade autêntica. É tarefa do aconselhamento cristão ajudar
a pessoa no entendimento desse sofrimento e na busca por um sentido e
por uma experiência espiritual.
O sentido de vida, segundo Frankl, pode se realizar por três vias principais:
por meio da criação, de uma obra, do trabalho, de uma ação, algo que leve
o ser humano a se confrontar com a sua capacidade criativa, pela qual se
encontrará consigo mesmo, seu ser; por meio do amor, da descoberta da
capacidade de amar, experimentando algo, vivenciando algo muito especial; e
por meio do sofrimento, isto é, por meio da atitude em relação ao sofrimento.
Apesar do sofrimento que pode acometer o ser humano, ele ainda é capaz
de encontrar um sentido, e justamente o sentido mais elevado. Mesmo
diante de um destino que não pode ser mudado, uma pessoa pode “erguer-
se acima de si mesma, crescer para além de si mesma e, assim, mudar-se
a si mesma” (FRANKL, 1992, p. 124).
Referências
BERGER, Peter. Dossel sagrado: elementos para uma teoria sociológica da
religião. São Paulo: Paulinas, 1985.
Objetivos:
• Conhecer a história da capelania e dos hospitais;
Na Índia, entre 273 a 232 a.C. foi construído um dos hospitais relevantes
pelo rei Asok e no século VI Buda designou médicos para dez vilas e
construiu hospitais para aleijados e pobres. Em 437 a.C. Hipócrates fez os
templos assumirem características de hospitais.
A pessoa doente tem suas crenças e valores abalados e postos à prova, o que
pode afetar todo o tratamento clínico, a escolha do e da paciente de aderir ou
não ao mesmo e, também, a força e esperança para lutar contra a doença.
Segundo Eleny Vassão (que foi capelã evangélica titular do Hospital das
Clínicas de São Paulo por 22 anos), a missão da capelania é oferecer
assistência espiritual nos hospitais e esta é assegurada conforme
dispositivo legal encontrado na Lei 9.982 de 2000:
Boa saúde: como vai lidar com doenças, deve ter boa saúde física, antes
de mais nada. Mas também saúde psicológica. Há certos problemas
psicológicos, de temperamento e de personalidade, que podem ser
grandemente negativos no trabalho com pessoas enfermas. Mas muitas
pessoas não são conscientes disso. É bastante válido um psicoteste para
avaliar as condições da pessoa interessada nesse ministério.
Mente aberta: não deve ser inflexível na sua doutrina, pois vai lidar com
outras doutrinas, seitas e pensamentos.
Asseio: deve andar sempre limpo, com roupas simples, sem exageros.
O ideal é o uso de jaleco identificativo. Não usar perfumes; unhas bem
aparadas e limpas; cabelos penteados e cuidar bem do hálito bucal.
Amor, muito amor: deve ter amor no coração. Amor de verdade. É preciso
possuir essa virtude. Não dá para ser só agradável profissionalmente.
Conclusão
A capelania faz parte da equipe hospitalar, por isso, deve trabalhar em
harmonia com médicos, enfermeiros e outros profissionais da saúde, e
está voltada para a pessoa que sofre, seja ela paciente, seu familiar ou o
profissional da saúde, devendo dar atenção, conforto e testemunhando o
amor de Deus. Assim, fará com que a pessoa enferma se sinta amada por
Deus e a ajudará a aceitar melhor a dor, mesmo que não possa explicar as
razões do sofrimento. A confiança no Deus soberano, que tem um plano
para a sua vida em meio do sofrimento e por meio dele, ajudará o paciente
a enfrentar com mais segurança as situações adversas.
Objetivos:
- Definir cuidados paliativos;
- Repensar os cuidados paliativos;
- Compreender a tanatologia.
4. Tanatologia
Um dos grandes pioneiros na área da tanatologia, que é de estudos sobre
a morte, foi William Osler (1849-1919), médico muito conhecido no seu
3 Tratamento ativo é aquele no qual, após ter sido feito o diagnóstico, inicia-se a terapia
específica para doença, com o objetivo de prolongar a sobrevida. Esse período termina
com a cura ou remissão definitiva da doença.
A morte era uma área importante de trabalho para ele que, além de estudar
a patologia, tinha uma grande preocupação no cuidado com as pessoas.
São apresentados casos em que acompanhava crianças até a morte,
deixando rosas nos seus leitos, enfatizando a importância da empatia e
compreensão do processo do fim da vida. A perda de um filho, certamente,
teve grande influência na sua maneira de lidar com a questão. Tinha uma
coleção de livros, com diversos temas ligados à morte, que está no acervo
da biblioteca Osler, na Universidade Mc Gill em Quebec.
Osler propunha que nenhuma morte deveria ser dolorosa, e que poderia
ocorrer na inocência, como os nascimentos. Defendia a utilização de
drogas para facilitar o processo, não só para o alívio da dor, e já fazia o
uso da morfina, que denominava de medicação divina. Advogava que as
pessoas deveriam morrer dignamente, sem sofrimento, sem intervenções
desnecessárias, podendo se perceber aí as raízes do movimento dos
cuidados paliativos.
Existem três zonas para o perfil conceitual de morte: (a) a naturalista; (b)
a religiosa e (c) a relacional. No primeiro caso, a morte se apresenta como
um fenômeno orgânico, inerente à vida. Na zona religiosa, a morte revelou-
se o resultado da vontade divina, indicando o fim da vida terrena e, por
consequência, o início de uma vida eterna. Na zona relacional, são tratadas
a ocultação e não aceitação da morte pelo ser humano, bem como são
abordados os aspectos referentes à história e às lembranças legadas pela
pessoa falecida.
Assim, a reconstrução teórica aponta, da mesma forma que os dados
empíricos, que quando a discussão refere-se à morte, concorrem três
grandes questões específicas: (a) o reconhecimento da morte como fato
biológico; (b) a crença na vida eterna e na manutenção da alma, e, por fim,
(c) a certeza da primeira questão e a incerteza da segunda, implicando a
ocultação, a negação, a não aceitação da morte.
Portanto, é porque seu saber da morte é exterior, aprendido, não inato, que
o ser humano é sempre surpreendido pela morte. Freud mostrou este fato:
“Sempre insistimos no caráter ocasional da morte: acidentes, doenças,
infecções, grande velhice, revelando assim claramente nossa tendência
a despojar a morte de qualquer caráter de necessidade, a fazer dela um
fato puramente acidental.” Mas o importante não é tanto a tendência a
despojar a morte de seu caráter de necessidade: é antes o assombro
sempre novo provocado pela consciência da inelutabilidade da morte.
Todos já puderam constatar, como Goethe, que a morte de um ser próximo
é sempre “incrível e paradoxal”, “uma impossibilidade que de repente se
transforma em realidade”; e esta aparece como um acidente, um castigo,
um erro, uma irrealidade. E esta reação ao “incrível” da morte que se traduz
através dos signos arcaicos onde essa é explicada como um malefício.
Conclusão
Até o século XIX, a maior parte dos cuidados médicos era dirigida à
melhoria dos sintomas enquanto a doença seguia seu curso natural, ruma
à recuperação ou à morte. No século XX, o desejo de cura impulsionou
pesquisas e a terapia dos sintomas foi relegada a segundo plano – na
busca de cura, tudo era possível. Na segunda metade do século XX, como
reação a essa visão, surgiu o notável movimento hospice. Enquanto
prosseguem pesquisas para a cura a longo prazo, a miséria e o sofrimento
precisam de atenção. O velho método de cuidados foi redescoberto, os
cuidados paliativos.
A vida é um eterno readaptar e, mesmo que não seja possível viver como
antes da doença, pode-se encontrar um motivo, ainda que novo, para
participar da própria vida. Todos os dias temos a oportunidade de escolher
entre gastar o tempo que ainda possuímos de vida vivendo ou morrendo.
Referências
CASSORLA, Roosevelt M. S. (Coord). Da morte: estudos brasileiros. 2ª ed.
Campinas: Papirus, 1991.
Objetivos:
• Explorar o cuidado;
• Compreender o aconselhamento;
• Refletir o aconselhamento a pessoas doentes.
A doença, então, não será apenas vista como um sofrimento, mas como
um presente, um momento para novas aprendizagens e uma grande
oportunidade do corpo exercitar a autocura. Essa nova visão da doença
ou da dor repercutirá tanto em nível do indivíduo portador do sintoma
ou dificuldade quanto ao nível do grupo ou comunidade a que pertença.
Indivíduo e grupo se beneficiarão do momento de dor ou sofrimento e de
“cura” ou transformação.
Quando se acolhe a pessoa como ser único e irrepetível, ela deve ser
respeitada como tal. Respeitar significa aceitar que a outra pessoa pense,
sinta e aja diferente de quem a acompanha. Significa cuidar com carinho,
Conclusão
O conselheiro cristão ou a conselheira cristã deve ajudar a pessoa que se
encontra em processo de morte a ter o direito de:
• Ser tratado como ser humano;
• Manter algum senso de esperança;
• Ser cuidado por aqueles que consigam manter um senso de esperança;
• Expressar seus sentimentos e emoções em relação à morte à sua
maneira;
• Participar de todas as decisões referentes ao tratamento;
• Ser cuidado por pessoas compassivas e sensíveis, pessoas que
tentarão compreender suas necessidades;
• Ter resposta plena e honesta a todas as suas questões;
• Satisfazer a sua espiritualidade;
• Expressar sentimentos e emoções relativos à dor à sua maneira;
• Entender o processo de morte;
• Morrer;
• Morrer em paz e com dignidade;
• Não morrer só.
ROGERS, Carl R. Tornar-se pessoa. 6ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2009.
Objetivos:
• Esclarecer a função do aconselhamento no cuidado de pacientes
paliativos;
• Compreender o processo de morrer;
• Repensar a morte quando ela se aproxima.
2. O processo de morrer
No livro Sobre a morte e o morrer de Elizabeth Kübler-Ross, pode-se
encontrar dez grandes reações emocionais das pessoas diante da morte,
divididas em cinco estágios que não são estanques e podem coexistir ou
se combinar de maneira complexa, sem que haja um tempo determinado
ou mesmo uma ordem para as suas reações emocionais. Segundo Kübler-
Ross (2012), a única certeza é que cada pessoa vive esse momento de
forma única, e captar essa singularidade é fundamental ao cuidado da
pessoa adoecida.
Raiva é um dos estágios mais bem descritos por Kübler-Ross. Quase sempre
é um sinal de que a pessoa doente está se dando conta do problema, ou
seja, está se conectando com a realidade da vida e ficando mais lúcida do
que no estágio da negação. É difícil conviver com a pessoa neste estágio
porque não poupam hostilidade aos que estão ao seu redor. É importante
não tomar essa raiva como algo pessoal. A pessoa doente tem o direito de
ter raiva ao fim da vida e poder falar sobre ela, por isso, no aconselhamento
pastoral, deve-se validar a raiva, acolher o sofrimento e, de certa forma,
autorizá-lo e respeitá-lo, por mais difícil que seja. Depois de expressar sua
raiva, ela pode se sentir exaurida, e aparece uma oportunidade para buscar
certo equilíbrio entre a raiva e a amorosidade. Na medida em que a pessoa
doente pode falar sobre o que sente num clima de compreensão e amor,
dissolve esse sentimento e as defesas, aos poucos diminuem.
Conclusão
Para ficar ao lado da pessoa que está morrendo é necessário força e amor.
Tal momento não é assustador nem doloroso, mas um cessar em paz do
funcionamento do corpo. Estar próximo de uma pessoa que agoniza é uma
tomada de consciência de nossa finitude, de nosso limitado período de
vida. Por isso, é necessário olharmos para nosso ser, nossa humanidade,
nosso conhecimento técnico e nossos recursos disponíveis para poder
exercer esse ministério. Aí podemos agir pelo alívio do sofrimento,
buscando proporcionar à pessoa doente e sua família acolhimento,
conforto e consolo.
Olhar, perguntar. E ouvir. Ouvir como você gostaria de ser ouvido é a única
parte da experiência de adoecimento que pode ser compartilhada entre o
ser humano que cuida e o que recebe cuidado. A escuta é uma capacidade
que deve ser treinada para que prevaleça sobre a fala, sobretudo quando
se trata de cuidar de pessoa em final de vida.
Referências
CASSORLA, Roosevelt M.S. Da morte: estudos brasileiros. Campinas, SP:
Papirus, 1991.
HENNEZEL, Marie de; LELOUP, Jean Yves. A arte de morrer. Lisboa: Casa
das Letras, 2001.