ANO 15

# 39
6222802

SEGURANÇA
S
PÚBLICA
Violência urbana e
incapacidade do Estado
agravam crise

Fake news
As notícias falsas na
era das redes sociais
Copa do Mundo da Rússia
Futebol desembarca
em território autoritário
Entre nós
Diretora editorial
(In)Segurança pública Renata Mascarenhas

Nos últimos anos, a questão da segurança pública vem se tornando o prin- Coordenação editorial
ANO 15
cipal desafio ao Estado Democrático de Direito no Brasil. A intervenção fe- Renato Luiz Tresolavy
# 39

deral no Rio de Janeiro – a primeira realizada sob os auspícios da Constitui-

6222802

Jornalista responsável
ção de 1988 – deixou claro o quanto a incapacidade do Estado de exercer
Jayme Brener
o monopólio da violência, nas palavras do sociólogo alemão Max Weber, re- (Mtb 19.289-78-61-SP)
SEGURANÇA
S
PÚBLICA presenta uma ameaça aos direitos fundamentais do cidadão. Reflexos des-
Violência urbana e
incapacidade do Estado
agravam crise
sa incapacidade são a degradação dos espaços públicos, as altas taxas de Produção editorial
Ex Libris Comunicação Integrada
Fake news
criminalidade, a violência e a corrupção policiais, a ascensão dos “coman-
As notícias falsas na
era das redes sociais
Tel. (11) 3266-6088
Copa do Mundo da Rússia
Futebol desembarca
em território autoritário
dos” ligados ao narcotráfico e das milícias e a precariedade e o descontro- contato@libris.com.br
le do sistema carcerário. Mas é preciso lembrar que a violência urbana no
Brasil não é de hoje; suas origens remontam ao Brasil colônia, agravando- Edição
-se durante o Império, a República Velha, o Estado Novo e a ditadura mili- Cláudio Camargo

tar. Na verdade, o problema nunca foi enfrentado de maneira transparente Revisão

e democrática. Este é o tema de nossa matéria de capa. Hélia de Jesus Gonsaga (ger.),
E o que dizer da disseminação das fake news (notícias falsas) e da criação Kátia Scaff Marques (coord.),
de um universo que o dicionário Oxford conceituou de “pós-verdade”? Mas, Rosângela Muricy (coord.),
Cesar Sacramento, Diego
embora tenham sido potencializadas pela ação das redes sociais, as fake Carbone, Gabriela Macedo
news não nasceram hoje, como mostraremos. de Andrade, Larissa Vazquez,
Você também poderá conferir a matéria sobre a participação da mulher na Patricia Cordeiro, Ricardo Miyake
política brasileira – apesar de serem maioria na população, elas são pouco e Vanessa de Paula Santos
mais que 10% da representação no Congresso Nacional.
Projeto gráfico
Na área de Ciências da Natureza, debatemos temas variados, como: a evo- Buono Disegno
lução dos transplantes cardíacos no momento em que se completam os www.buonodisegno.com.br
50 anos da primeira cirurgia dessa natureza no Brasil; a dependência glo-
Diagramação e infográficos
bal de fontes de energia não renováveis, como petróleo; o papel da pecuá-
Regina Beer
ria no aquecimento global; e os sistemas de medidas.
Ah, e trazemos também matérias sobre o conceito de arte moderna e os Capa
50 anos do prédio do Museu de Arte de São Paulo (Masp). Daniel Elias
Boa leitura!
Fotos de capa
Alessandro Buzas/Futurapress

Gente que fez Treenoot/Shutterstock

Impressão e acabamento

Divisão de Sistemas de Ensino

Av. das Nações Unidas, 7221
Arquivo pessoal
Arquivo pessoal
Arquivo pessoal

Arquivo pessoal

Pinheiros – CEP 05425-902

São Paulo – SP

Reprodução proibida.
Todos os direitos reservados.
CLÁUDIO CAMARGO LUIZA VILLAMÉA SILVIA LAKATOS LUIZ CHAGAS
Jornalista e sociólogo, Jornalista graduada Jornalista e historiadora Jornalista, músico e
formado pela Escola pela Universidade formada pela USP. Foi tradutor. Autor, com
de Sociologia e Cásper Líbero e repórter, redatora e editora Mônica Tarantino,
Política de São Paulo. mestre em História nas editoras Globo e do songbook PretoBrás,
Trabalhou como pela USP. Trabalhou Símbolo. Foi assessora de sobre a obra de Itamar
redator e subeditor no jornal O Globo comunicação da Federação Assumpção, com quem
no jornal Folha de e nas revistas das Indústrias do Estado de tocou durante décadas.
S.Paulo e como IstoÉ e Veja. São Paulo (Fiesp) e de Criou trilhas sonoras
Central de
editor da seção Atua como repórter outras organizações do para cinema. Atualmente,
Atendimento às Escolas
“Internacional” especial na revista mercado financeiro, de escreve para a 0800 772 0028
na revista IstoÉ. Brasileiros. medicina e ecologia. revista Brasileiros.

AGOSTO 2018 | ATUALIZA

 Índice
06
TROCANDO IDEIAS
O fisioterapeuta Ciro Athayde,
especialista em Reeducação
Postural Global (RPG), explica por que
essa técnica relativamente recente
está revolucionando o conceito de
fisioterapia e também dá dicas
importantes para quem quer
se dedicar a esse ramo da
área de saúde.

09 CRISE NA
SEM LIMITES SEGURANÇA
PÚBLICA
A recente intervenção federal no Rio
de Janeiro trouxe à tona a questão
da violência urbana nas grandes 10
metrópoles brasileiras. Mas o problema
da segurança pública remonta aos
tempos de Brasil colônia, tendo-se
agravado na República Velha e,
principalmente, durante a
ditadura militar.
18

FAKE NEWS
E PÓS-VERDADE
Embora não sejam um fenômeno
contemporâneo, as chamadas fake
news (notícias falsas) explodiram
nas redes sociais em dois episódios
recentes: o Brexit e a eleição de
Donald Trump para a Presidência dos
EUA. O fenômeno se tornou uma
das mais graves ameaças à
democracia.

MULHERES
NA POLÍTICA
ENTENDA A LÍNGUA Em 1928, o Brasil elegia
25
PORTUGUESA BIOLOGIA
pela primeira vez uma mulher
REVISTA INGLÊS FÍSICA como prefeita; o direito do voto
Os ícones temáticos feminino viria quatro anos depois,
relacionam as ESPANHOL QUÍMICA com o Código Eleitoral. Apesar disso e
matérias às áreas do do fato de representarem 52%
ARTE GEOGRAFIA
conhecimento. A seção do eleitorado brasileiro, as
“Em foco” contempla EDUCAÇÃO
FÍSICA SOCIOLOGIA mulheres têm só 10% de
as competências e as representantes na Câmara
MATEMÁTICA FILOSOFIA
habilidades do Enem. e 16% no Senado.
HISTÓRIA

LINGUAGENS MATEMÁTICA CIÊNCIAS CIÊNCIAS

DA NATUREZA HUMANAS
 ENERGIA
SUSTENTÁVEL
Apesar dos avanços
tecnológicos e dos crescentes
investimentos em fontes
alternativas de energia, os
combustíveis fósseis ainda são a
principal fonte de energia em nível
global. Mas o Brasil é um dos
países que mais produzem
energia a partir de fontes

28 35
renováveis.

UMA
REVOLUÇÃO
NA MEDICINA
Há 50 anos, o cirurgião Euryclides
de Jesus Zerbini realizava o primeiro
transplante de coração no Brasil,
32 apenas cinco meses depois de esse
procedimento ter sido realizado pela
primeira vez no mundo. Hoje,
o país realiza cerca de
300 cirurgias desse
tipo por ano.
PECUÁRIA E
AQUECIMENTO
GLOBAL
Países com grande produção
agropecuária, como o Brasil,
enfrentam mais dificuldades em
combater as consequências do
efeito estufa sobre o meio ambiente:
é que vacas, porcos e cabras
emitem mais gases metano do
que os automóveis movidos a
combustíveis fósseis.

38
SISTEMAS DE
MEDIDAS
Desde a Antiguidade, a MASP
humanidade tenta estabelecer
padrões para medir o tempo e
POLÊMICO
42
Inaugurado em 1968 pela rainha
o espaço. Em relação a este, a
Elizabeth II, o prédio do Museu de
maioria dos países adota o Sistema
Arte Moderna de São Paulo (Masp)
Internacional de Unidades (SI),
tem uma arquitetura arrojada, de
estabelecido em 1960. Mas os
Lina Bo Bardi. Ações agressivas,
EUA e o Reino Unido ainda
capitaneadas pelo empresário
não aderiram a ele.
46 Assis Chateaubriand, dono
dos Diários Associados,
contribuíram para a
montagem do acervo.

41
BACKUP
ARTE
MODERNA
Surgida há cem anos, a partir 50
de uma brincadeira do pintor e DIÁLOGO
escultor francês Marcel Duchamp, COM A ARTE
a arte moderna provocou e provoca
ainda muita polêmica e teve de 49
esperar mais de meio século para ENCARE
que a novidade se espalhasse e a ESSA!
mensagem fosse entendida –
ao menos pela crítica.

AGOSTO 2018  |  ATUALIZA

 06 | TROCANDO IDEIAS
por cícero de ALmeIdA
Arquivo pessoal
Ciro Athayde
Mais qualidade de vida
A RPG, Reeducação Postural Global, é um método fisioterapêutico relativamente
novo, surgido nos anos 1980 na França, que visa corrigir problemas de postura por
meio de técnicas de alongamento do tecido muscular.
omos bípedes e lutamos contra a força
S
da gravidade, o que nos encurta. Nos-
so corpo é todo interligado; não exis-
tem espaços. Qualquer coisa que acon-
teça em determinada região mexe com
o todo. Essa é a abordagem da Reeducação Postural
Global (RPG), técnica fisioterapêutica que corrige
problemas de postura por meio do alongamento do
tecido muscular.
Depois de ter cursado Fisioterapia na USP, Ciro
Athayde trabalhou na área de Ortopedia, em uma es-
cola de crianças com deficiência mental e no Hospi-
tal das Clínicas. Foi então que ele descobriu a RPG,
técnica que mudou sua relação com os pacientes e
com a fisioterapia. Formado em 1985, Ciro Athay-
de fez curso de Cadeias Musculares GDS com Ival-
do Bertazzo, Coordenação Motora com Mademe
Bèziers, Pilates na Bola e Overball, Dinâmica Ener-
gética do Psiquismo e Liberação Miofascial.
Atualiza: Fale um pouco sobre sua experiência
profissional. Como você se interessou pela
ATUALIZA  |  AGOSTO 2018
fisioterapia e como descobriu a técnica de Re-
educação Postural Global (RPG)?
Ciro Athayde: Na época do colégio, tive uma dis-
ciplina que era um programa de informação pro-
fissional e percebi minha vontade de trabalhar na
área de saúde com pessoas portadoras de deficiên-
cia física. O caminho que se conhecia na época era
a fisioterapia. Entrei na USP e na Puccamp e optei
pela USP. Foi um grande encontro, percebi que era
aquilo mesmo que eu queria. Na faculdade, os cur-
sos de Fisioterapia, Terapia Ocupacional e Fonoau-
diologia tinham uma relação muito estreita e de
companheirismo, o que foi muito bom para entrar
em contato com áreas afins. Tive o privilégio de fa-
zer quase todos os estágios no Hospital das Clínicas
(HC), onde se tem contato com diversas patologias,
áreas e equipes multiprofissionais distintas.
Depois de formado, trabalhei atendendo em
domicílios e também em uma clínica de fisiotera-
pia mais ligada à área ortopédica e em uma escola
de crianças com deficiência mental. Depois, prestei
concurso para o HC e fui trabalhar na pediatria da
wavebreakmedia/Shutterstock
 08 | TROCANDO IDEIAS
wavebreakmedia/Shutterstock
Unidade de Retaguarda de Suza-
no, onde tive contato com as mais
diversas patologias, tanto neuro-
A RPG lógicas quanto ortopédicas, pul-
trouxe a monares e mentais. E com um
público de realidades bem diver-
ideia de
sificadas, já que o HC recebe pa-
cadeias cientes de todo o Brasil.
musculares, Foi então que conheci a RPG,
que técnica que me possibilitava re-
alizar isso em outras áreas. Na
mudou a
formação acadêmica, na época,
maneira de o trabalho na ortopedia se ligava
avaliarmos ao sintoma, que era tratado com
e tratarmos eletroterapia e alguns exercícios
específicos. A RPG trouxe a visão
o paciente
global, aliada à importância de se
conhecer a história do paciente
– suas atividades e seu contexto.
Não podemos ignorar que o cor-
po carrega todas as informações
biomecânicas e emocionais do in-
divíduo. Para mim, a RPG foi o co-
meço da “virada” da fisioterapia,
com mais reconhecimento e res-
peito pela profissão.
Fale um pouco mais sobre a
importância da RPG no tra-
tamento de lesões osteomus-
culares e outras alterações
posturais, assim como para a
melhoria da qualidade de vida
das pessoas.
A RPG, assim como outras técni-
cas, trouxe a ideia de cadeias mus-
culares, que mudou a maneira de
ATUALIZA  | AGOSTO 2018
avaliarmos o paciente e o tratar-
mos. Sabemos que nosso corpo é
todo “revestido”; não existem es-
paços; está tudo interligado. En-
tão, qualquer coisa que aconte-
ça em uma região vai mexer com
o todo. O que nos leva a crer que
o local onde aparece um sintoma
não é necessariamente a causa do
problema. Trabalhando dessa for-
ma, vamos juntos descobrindo os
caminhos ou compensações que
o corpo fez para apresentar aque-
le sintoma. Por exemplo, se você
machuca um pé, vai evitar colo-
car o peso sobre ele por um tem-
po. Isso modifica seu modo de
andar e pode desequilibrar a re-
gião dos ombros. Se isso persistir
por um determinado tempo, pode
aparecer uma dor no ombro que
é causada por um machucado no
pé! O fato de sermos bípedes nos
leva a um achatamento constante
e a uma luta contra a gravidade, o
que nos encurta. A vida agitada faz
com que tenhamos uma respira-
ção curta e rápida. Tudo isso gera
uma carga e esforço muito grande
para músculos, tendões, ligamen-
tos, discos intervertebrais, entre
outras coisas.
Quais são as perspectivas de
um fisioterapeuta recém-for-
mado? Ele tem mais chances
de progredir abrindo o próprio
negócio ou procurando empre-
go nas grandes empresas ou
entidades ligadas ao esporte?
Hoje há muita faculdade de Fisio-
terapia, muitos profissionais no
mercado, mas também muitas al-
ternativas de trabalho. Como em
qualquer profissão, é preciso en-
contrar a especialidade com a qual
mais se identifique e investir para
poder se diferenciar. Importan-
te é continuar estudando sempre,
fazendo cursos de formação. Acho
que o melhor é ter um emprego
inicialmente para se colocar nesse
outro papel, não mais de estudan-
te. Hoje há um campo muito gran-
de, clínicas, hospitais, empresas,
escolas, domicílios, casas de idosos
etc. É preciso ter a experiência, fa-
zer o contato com o paciente, com
a equipe multiprofissional para
perceber as nuances de cada um e
também se perceber atuando.
Que dicas você daria a um es-
tudante que esteja pensando
em fazer Fisioterapia?
Acho importante conversar com
profissionais que trabalham em
diferentes áreas e lugares distin-
tos, até para ver como é o cotidia-
no do trabalho, as escolhas que
esses profissionais fazem. Se pos-
sível, experimentar as diferen-
tes técnicas e participar de aulas
práticas ministradas por profis-
sionais. Ver a grade curricular da
graduação, as possibilidades de se
diferenciar, porque hoje esse le-
que é bem grande e é necessário
sentir se é mesmo esse o caminho
que ele deseja percorrer.
Se você não fosse fisioterapeu-
ta, o que escolheria como pro-
fissão?
Já me fiz essa pergunta várias vezes
e, honestamente, não tenho respos-
ta. Gosto muito do que faço e não
me imagino fazendo outra coisa!
 Wilfred Marissen/Shutterstock
09

O beija-flor que não

se faz ouvir
Comum em áreas montanhosas da Mata Atlântica brasileira,
no Uruguai e na Argentina, o beija-flor-preto (Florisuga fusca)
tem uma peculiaridade instigante: seu canto muito agudo
atinge frequências que superam muito a voz de soprano (a
mais aguda do ser humano) e é inaudível para outras espécies
de aves.
A vida
Quarenta e oito espécies de aves com perfil auditivo bem ca- depende do
racterizado são surdas ao canto do beija-flor-preto.
Elas ouvem bem sons agudos na faixa de 6 mil hertz a 7 mil
fósforo
hertz (Hz), enquanto o canto principal do beija-flor-preto é A carência do elemento químico fósforo
formado por três sílabas brevíssimas, com 6 centésimos de no espaço cósmico pode ter importantes
segundo cada uma, emitidas na frequência de 10 mil Hz a consequências para a existência de vida
14 mil Hz, já próximo do limite auditivo humano. extraterrestre. É o que sugere um trabalho de
Fonte: Revista Pesquisa Fapesp cientistas da Universidade de Cardiff, na Inglater-
<http://revistapesquisa.fapesp.br> ra. O trabalho dos astrônomos Jane Greaves e Phil
Cigan foi apresentado durante a Semana Euro-
peia de Astronomia e Ciências Espaciais, que

SEM
aconteceu em Liverpool, Inglaterra.
Greaves procurou por fósforo pelo Universo

LIMITES por causa de sua importância para a vida

na Terra. Se esse elemento – com o sím-
inovacaotecnologica.com.br

INTERFACE bolo químico P – estiver em falta em outras

ENTRE CIÊNCIA partes do cosmos, pode ser mais difícil que
E SOCIEDADE
a vida alienígena exista.
“O fósforo é um dos seis elementos dos quais a
vida na Terra depende”, diz Jane. Segundo a astrô-
noma, o elemento químico é crucial para compor
o trifosfato de adenosina (ATP), que as células
usam para guardar e transferir energia.
Recentemente, os astrônomos começa-
ram a prestar atenção às origens cós-
Avião hipersônico micas do fósforo e tiveram algumas
A Agência Brasileira de Desenvolvimento In- surpresas. Em particular, o fósforo
dustrial (ABDI) assinou acordo com a empresa é criado em supernovas – gigan-
Hyperloop Transportation Technologies para desenvolver tescas explosões de estrelas –,
um sistema de transporte por tubos de altíssima velocidade, ca- mas as quantidades vistas
paz de atingir 1,2 mil quilômetros por hora. até agora não coincidem
A proposta é instalar um centro de pesquisa e desenvolvimento com nossos modelos
em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte (MG). no computador.
O sistema de transporte utiliza plataformas elevadas e está sen-
Fonte: Revista
do desenvolvido para funcionar sem o atrito e a resistência do ar,
Scientific American
permitindo que cápsulas com carga ou pessoas se movimentem <www.sciencemag.org/>
mais rapidamente, com baixo consumo de energia.
A tecnologia envolve ainda levitação magnética e bombas de vá-
cuo para retirar quase todo o ar dos tubos.
Fonte: Site Inovação tecnológica
<http://inovacaotecnologica.com.br>
www.nasa.gov

AGOSTO 2018 | ATUALIZA

10 | CIÊNCIAS HUMANAS
por luiza villaméa

O colapso da
segurança
pública
no Brasil
 Depois de uma onda de violência, o
governo federal decretou intervenção
na segurança pública do Estado do Rio
de Janeiro no início do ano. Quais as
principais consequências dessa medida?

O problema da segurança pública no Brasil

remonta aos tempos da colônia, quando a
Corte portuguesa se instalou no Brasil.
Por que as autoridades combateram
violência com mais violência?

Nos anos 1960, grupos paramilitares

integrados por policiais começaram a
praticar uma política de extermínio de
bandidos. Explique como esse fenômeno
acabou agravando a violência urbana.

Explique como a violência durante a

ditadura militar criou condições para a
formação de organizações criminosas
como a Falange Vermelha e o Primeiro
Comando da Capital (PCC), entre outras.

O problema da violência urbana

remonta a tempos da colônia,
mas a incapacidade do Estado de
lidar adequadamente com esse
problema vem agravando cada
vez mais a situação
12 | CIÊNCIAS HUMANAS
A
caçada ao assaltante José Rosa
de Miranda, o Mineirinho, co-
meçou à tarde, no Morro da Pro-
vidência, no centro do Rio de Ja-
neiro. Em algum momento, ele
conseguiu deixar o morro, esca-
pando do cerco de 100 policiais
com ordens de capturá-lo “de qualquer maneira”.
Famoso por ajudar a comunidade com parte do
produto de seus crimes, Mineirinho estava conde-
nado a 107 anos de prisão. Seu corpo, cravejado por
13 disparos, foi encontrado horas depois, jogado em
um capinzal, à beira da estrada Grajaú-Jacarepaguá,
a cerca de dez quilômetros do Morro da Providên-
cia. Ao redor do corpo não havia nenhum sinal de
sangue, evidenciando que a morte não acontecera
no local da desova. No dia seguinte, o jornal Correio
da Manh‹ comemorou em manchete: “A cidade está
em paz”.
Poderia ser uma ocorrência da semana passada.
O que não falta é cerco policial repleto de tiroteio
no Morro da Providência, assim como em outras fa-
velas do Rio. A morte de Mineirinho, porém, acon-
teceu há mais de 50 anos, no fim de abril de 1962.
No dia 1o de maio, quando o assaltante foi enterra-
do, a cidade não estava em paz, ao contrário do que
anunciava o jornal. Até hoje não se encontrou a paz.
Aliás, piorou com a atuação das milícias, como são
chamadas as organizações paramilitares surgidas
nos anos 1970. Elas se apresentam para oferecer
proteção contra o crime, mas acabam por intimi-
dar e extorquir as comunidades. E a violência não é
uma exclusividade das ruas do Rio. Em todo o país,
ela não para de aumentar, revelando o colapso da
segurança pública no Brasil.
O descalabro chegou a tal ponto que governos de
pelo menos três unidades da federação já quiseram
se livrar da responsabilidade sobre a segurança pú-
blica, prevista pela Constituição. No decorrer de
aTualiza | AGOSTO 2018
graves crises, o Pará e o Espírito
Santo pediram intervenção fede-
ral em 1989 e em 2002, respec-
tivamente. Em 2010, foi a vez do
Distrito Federal requisitar a mes-
ma medida. Os pedidos foram ne-
gados, embora o apoio das Forças
Armadas tivesse sido oferecido
em ocasiões posteriores. O Rio,
por exemplo, já solicitou – e levou
– auxílio das Forças Armadas em
12 momentos, a maioria deles du-
rante eventos mundiais, como os
Jogos Olímpicos de 2016.
Não por acaso militares com ar-
mamento pesado e até tanques de
guerra foram vistos por todos os
lados da cidade durante as Olim-
píadas. A situação agora é diferen-
te. Com o aval do governador Luiz
Fernando Pezão, o presidente Mi-
chel Temer decretou intervenção
federal na segurança pública do
Estado do Rio. É a primeira vez que
a medida é tomada desde a Consti-
tuição de 1988, que respalda a de-
cisão. O artigo 34 estabelece que a
União pode intervir nos Estados e
no Distrito Federal em determina-
das situações. Entre elas está “pôr
termo a grave comprometimento
da ordem pública”.
O Estado está um caos, mas há
dúvidas sobre os reais motivos
de Temer ao determinar a medi-
da. Ao ser nomeado, o interven-
tor, general Walter Braga Netto,
reconheceu que não havia um
plano de ação: “Vamos entrar em
uma fase de planejamento”, disse.
Desde julho de 2017, militares já
atuavam na segurança pública do
Rio por meio de operações de Ga-
rantia da Lei e da Ordem (GLO).
AGOSTO 2018 | aTualiza
 14 | CIÊNCIAS HUMANAS
Banco de Imagens/Ex Libris
Policiais expõem armas de grosso calibre capturadas do crime organizado.
Trata-se de um recurso que o pre- como aconteceu em 1817, quando No início do
sidente da República pode acio- a mulher do embaixador ameri-
nar por um determinado tempo. cano Thomas Sumpter foi atingi- século 19, a
No Rio, estavam previstas para da por uma pedrada quando pas- maioria da
terminar em dezembro de 2018. sava pelo centro dentro de uma população das
A intervenção, portanto, pode ter carruagem. Naquela altura, um cidades era
atendido a motivações políticas do advogado próximo a dom João VI,
presidente. Tirou do foco o debate Paulo Fernandes Viana, já atuava composta de
sobre a impopular reforma da Pre- como intendente-geral da polícia. escravos, e as
vidência Social e, se der resultado, Na cidade em que escravos eram autoridades
pode render dividendos eleitorais. a maioria da população (nas ruas temiam uma
O problema da segurança pú- e nas cadeias), Viana combatia a
blica remonta aos tempos do Bra- violência com mais violência. Ele rebelião como
sil colônia. Quando a família real se apavorava com a ideia de que o a do Haiti em
portuguesa desembarcou no Rio Brasil pudesse ser palco de uma 1804
de Janeiro, em 1808, a cidade não revolta de escravos similar à pro-
tinha infraestrutura para abrigar tagonizada pelo Haiti em 1804.
seus 60 mil habitantes. Da noi- Como atuavam na surdina, em
te para o dia, a população saltou rondas dissimuladas, os homens
para 120 mil moradores. No li- de Viana eram chamados pela po-
vro 1808, Laurentino Gomes des- pulação de “morcegos”, ainda se-
creve o cenário: “A criminalidade gundo Laurentino Gomes. O mais
atingiu níveis altíssimos. Roubos conhecido deles era o major Mi-
e assassinatos aconteciam a todo guel Nunes Vidigal, que popula-
momento. No porto, navios eram rizou na corporação o uso de uma
alvos de pirataria. Gangues de ar- chibata com tiras de couro nas
ruaceiros percorriam as ruas ata- pontas. Nos becos e nas ruas, Vi-
cando as pessoas a golpes de faca digal mandava açoitar quem jul-
e estilete”. gasse estar “fora da ordem”, em
Ataques com pedras também especial os adeptos da capoeira,
eram comuns na cidade. Provoca- a mistura de luta e dança pratica-
ram até reclamações na diplomacia, da pelos escravos. Marcou tanto a
aTualiza | AGOSTO 2018
época que acabou eternizado pelo
escritor Manuel Antônio de Al-
meida no romance Memórias de
um sargento de milícias, lançado
em 1854.
“O major Vidigal era o rei abso-
luto, o árbitro supremo de tudo
que dizia respeito a esse ramo da
administração; era o juiz que jul-
gava e distribuía a pena, e ao mes-
mo tempo o guarda que dava caça
aos criminosos; nas causas de sua
imensa alçada não havia testemu-
nhas, nem provas, nem razões,
nem processo; ele resumia tudo
em si; a sua ‘justiça’ era infalível;
não havia apelação das sentenças
que dava, fazia o que queria, e nin-
guém lhe tomava contas. Exercia
enfim uma espécie de inquirição
policial”, escreveu Manuel Antô-
nio de Almeida.
Pelo resto do Brasil imperava a fi-
gura do capitão do mato, como eram
chamados os homens livres, em ge-
ral pobres, que sobreviviam da cap-
tura de escravos fugitivos. A menta-
lidade de capitão do mato e a falta de
uma política eficaz para o setor da
segurança pública continuaram nas
décadas seguintes. A desigualdade
social e o alto índice de pobreza da
população também se mantiveram
em níveis alarmantes. A Proclama-
ção da Independência, em 1822, não
modificou essa estrutura.
Depois do advento da Repúbli-
ca, em 1889, a mudança no setor
envolveu apenas descentraliza-
ção. As sete Constituições que o
Brasil teve desde então estabe-
leceram que a responsabilidade
pela segurança pública é dos Es-
tados. Cabe à União defender os
interesses de suas próprias ins-
tituições, policiar as fronteiras,
combater o tráfico internacional
e interestadual de drogas, repri-
mir o contrabando, fazer o patru-
lhamento das rodovias federais e
articular a integração entre os
órgãos de segurança pública e a
justiça criminal.
Já era, portanto, assim em
1930, quando Getúlio Vargas as-
sumiu o poder pela primeira vez,
depois de uma revolução apoiada
pelas Forças Armadas. Em 1937,
ela implantou o Estado Novo, um
regime em sintonia com o nazi-
fascismo que crescia de forma
acelerada na Europa, em parti-
cular na Itália e na Alemanha.
Durante o governo marcado pelo
nacionalismo, anticomunismo
e autoritarismo, instalou-se um
período de repressão generali-
zada. Enquanto o Departamento
de Imprensa e Propaganda (DIP)
cuidava da promoção de Getúlio
e do governo junto à população,
a polícia reprimia a ferro e fogo a
dissidência política.
Com o fim do Estado Novo, em
1945, o foco da segurança públi-
ca voltou ao modelo antigo, sem
que o problema da violência fosse
resolvido. Com o êxodo rural, au-
mentou em grandes proporções
a população das cidades e de suas
periferias. Aumentou também
o índice de criminalidade. Para
combater o número de assaltos,
em 1958 a Associação Comercial
do Rio passou a cobrar medidas
duras ao general Amaury Kruel,
chefe do Departamento Federal de
Segurança Pública, o órgão que an-
tecedeu a Polícia Federal.
A resposta do general à deman-
da por proteção do patrimônio
foi criar o Grupo de Diligências
Ação da PM paulista contra suspeitos; todos negros e pobres.
Especiais, cujos integrantes re-
ceberam permissão para “caçar
bandido à bala”. Estava lançado
o embrião para os esquadrões da
morte, os grupos de extermínio
formados por agentes da lei (de-
legados, investigadores e outros
policiais) que assombraram o
Brasil até o fim da década de 1980
e, vez por outra, reaparecem no
cenário. Ainda em 1958, foram
feitas denúncias contra o primei-
ro chefe de esquadrão da morte
de que se tem notícia, o detetive
Eurípedes Malta.
Sete anos depois, um homem que
“vendia” proteção aos banqueiros
do jogo do bicho, conhecido como
Cara de Cavalo, foi apontado como
autor da morte de um detetive mui-
to popular do Rio, Milton le Cocq.
Banco de Imagens/Ex Libris
AGOSTO 2018 | aTualiza
16 | CIÊNCIAS HUMANAS

Para vingar a morte do detetive,
um grupo de policiais criou a or-
ganização paramilitar Scuderie
Le Cocq, com a missão extraofi-
cial de combater o crime. Entre
eles estava Sivuca, policial que
mais tarde se tornaria deputado
estadual. A Sivuca é atribuída a
criação do bordão “bandido bom
é bandido morto”. O primeiro
alvo do esquadrão foi justamente
Cara de Cavalo.
Não demorou para que a Scu-
derie Le Cocq inspirasse a criação
de grupos clandestinos simila-
res em pelo menos seis Estados:
Um dos o Esquadrão da Morte?”, assumiu
em diálogo reproduzido no livro
principais Autópsia do medo: vida e morte do
líderes da delegado Sérgio Paranhos Fleury,
repressão de Percival de Souza.
política A escalada da violência duran-
te a ditadura acabou provocando
durante a o surgimento das organizações
ditadura, o criminosas que atualmente ater-
delegado rorizam o país. A primeira delas
Sérgio Fleury foi a Falange Vermelha, criada no
presídio de Ilha Grande, no Rio,
também onde presos políticos inspiraram,
liderava o de forma involuntária, os outros
Esquadrão da
Morte em SP
condenados a se organizar e a rei-
vindicar direitos. Hoje os chefes
dessas organizações controlam
regiões inteiras, mesmo estando
atrás das grades. No Rio o proble-
ma é mais acirrado, em razão da
constante disputa por território
entre as diferentes facções.
Desta guerra também partici-
pam as milícias, grupos paramili-
tares que, de 2010 para cá, aumen-
taram de 41 para 88 o número de
favelas sob seu controle no Rio,
de acordo com levantamento do

Banco de Imagens/Ex Libris

Alagoas, Espírito Santo, Ceará, Pa-
raíba, Paraná e São Paulo. Famoso
pela truculência e pela corrupção,
o delegado Sérgio Paranhos Fleu-
ry chefiou a organização em São
Paulo. Foi investigado e proces-
sado pelo promotor Hélio Bicudo,
que, em sua biografia, conta como
Fleury operava: “Tratava-se de
um esquema que favorecia deter-
minadas quadrilhas de drogas em
detrimento de outras, assegurava
redes de prostituição e adotava o
sistema mafioso de venda de pro-
teção. Os crimes atribuídos ao es- Scuderie Le Cocq, organização paramilitar composta por policiais nos anos 1950,
quadrão chegavam a centenas – e um dos primeiros “esquadrões da morte” do Brasil.
nunca se soube quantos realmen-

Banco de Imagens/Ex Libris

te foram”.
Durante a ditadura militar
(1964-1985), Fleury costumava
entrar no meio da noite no Presí-
dio Tiradentes, no centro de São
Paulo, para tirar presos que es-
tavam sob a custódia do Estado.
No dia seguinte, os corpos desses
presos eram encontrados na peri-
feria da cidade. Na fase mais vio-
lenta da repressão política, entre
1969 e 1974, Fleury também foi
um dos mais cruéis torturadores
daqueles que participavam da re-
sistência à ditadura. Agia com o
aval dos militares. “Em tudo o que
fiz, recebi ordens. Vinham lá de
cima. Você acha que o governo não
poderia, se quisesse, acabar com O delegado Sérgio Paranhos Fleury, do Dops, chefiava o Esquadrão da Morte em SP.

aTualiza | AGOSTO 2018


As milícias disputam espaço, território e interesses com o narcotráfico.
Ministério Público estadual. O
combate ostensivo à ação das
organizações criminosas e das
milícias está a cargo da Polícia
Militar, que é subordinada ao
governo de cada Estado. Há pelo
menos dois problemas nessa
equação. Em primeiro lugar, não
é rara a participação de policiais
militares tanto nas organizações
criminosas quanto nas milícias.
Em segundo lugar, o combate ao
crime se dá quase exclusivamen-
te pela repressão, em detrimento
das ações de inteligência. Falta
uma política nacional para a se-
gurança pública.
O modelo de ação das polícias
militares é um legado dos tempos
de dom João VI, pois a origem da
corporação está na Divisão Mili-
tar da Guarda Real de Polícia do
Rio. Com o aumento da popula-
ção, foram criados corpos poli-
ciais nas províncias, o primeiro
deles em Minas Gerais. Depois da
Proclamação da República, a de-
signação “militar” foi acrescida
ao nome das corporações. Du-
rante a ditadura, as PMs passa-
ram a ser comandadas por ofi-
ciais do Exército e direcionadas
para o combate aos opositores do
regime. Com a redemocratização,
EM FOCO
C2    C
  ompreender as
transformações dos espaços
Banco de Imagens/Ex Libris
geográficos como produto das
relações socioeconômicas e
culturais de poder.
H8     Analisar a ação dos
estados nacionais no que
se refere à dinâmica dos
fluxos populacionais e no
enfrentamento de problemas de
ordem econômico-social.
Sob intervenção federal na área de se-
gurança pública, o Rio de Janeiro apa-
rece em último lugar no país quando se
trata de investimentos em informação
e inteligência policial. [...] Em 2017, ano
em que foi registrado o maior número
de mortes violentas em oito anos no Rio,
foram gastos R$ 2 469,50 na área. Em
2016, o orçamento fluminense previa
em 1985, voltaram a ser subordinadas R$ 10 mil para inteligência e informa-
ao governo estadual, mas não houve ção, mas nenhuma verba foi utilizada.
mudança na forma de ação. Em 2015, dado mais recente do anuário
Sem ação coordenada entre as es- do Fórum Brasileiro de Segurança Pú-
feras federais, estaduais e munici- blica, o Rio destacou R$ 23,5 mil para
pais e longe da perspectiva cidadã a área. Trata-se de 55% a menos que o
de oferecer segurança em contexto penúltimo colocado, o Tocantins, que gas-
civilizatório, a Polícia Militar contri- tou R$ 52,5 mil [...]. No mesmo período,
bui para o caos da segurança pública. São Paulo e Minas Gerais, 1o e 2o coloca-
Muitas de suas ações remetem à dos no ranking, investiram R$ 366,6 mil e
morte de Mineirinho, o assaltante, R$ 128,5 mil, respectivamente, em ações
que escapou do cerco do Morro da de informação e inteligência.
Providência, foi morto por 13 dis- Disponível em: <https://noticias.uol.com.
paros, mas acabou virando perso- br/cotidiano/ultimas-noticias/2018/02/21/
nagem da escritora Clarice Lispec- sob-intervencao-rio-e-o-estado-brasileiro-
tor em uma crônica publicada na que-menos-investe-em-inteligencia.htm>.
revista Senhor em 1962. Trecho da Acesso em: 18 abr. 2018.
crônica “Mineirinho” fala do im-
pacto da ação dos justiceiros: “Esta O reduzido investimento do Estado do
é a lei. Mas há alguma coisa que, se Rio de Janeiro em inteligência policial
me fez ouvir o primeiro e o segun- a) segue uma tendência observada em
do tiro com um alívio de seguran- todos os estados brasileiros.
ça, no terceiro me deixa alerta, no b) deriva da pouca eficiência dessa
quarto desassossegada, o quinto e ação no combate ao crime.
o sexto me cobrem de vergonha, o c) justifica-se pela necessidade de re-
sétimo e o oitavo eu ouço com o co- duzir gastos em um período de crise
ração batendo de horror, no nono e econômica.
no décimo minha boca está trêmu- d) é desnecessário em uma situação de
la, no décimo primeiro digo em es- intervenção federal no setor.
panto o nome de Deus, no décimo e) tende a onerar os cofres públicos
segundo chamo meu irmão. O déci- com ações de combate ao crime.
mo terceiro me assassina – porque
eu sou o outro. Porque eu quero ser Resposta: e
o outro”.
AGOSTO 2018 | aTualiza
 18 | CIÊNCIAS HUMANAS
por cláudio camargo

Pós-verdade:
é tudo mentira?
A disseminação de fake news
(notícias falsas), uma das grandes
ameaças que pesam sobre a
democracia, pode estar apenas
no começo
pathdoc/Shutterstock

aTualiza | AGOSTO 2018

 Ao contrário do que muitos pensam, as fake news não são
um fenômeno recente. No início, os jornais divulgavam
boatos e propaganda política abertamente. Qual é a
especificidade das fake news?

As fake news ganharam relevância em 2016 com dois

fenômenos de natureza política, o Brexit (saída do Reino
Unido da União Europeia) e a eleição de Donald Trump.
Explique os motivos.

Estudo do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT)

revelou que as notícias totalmente falsas não foram as
que tiveram influência na eleição de Trump, mas as “quase
falsas”. Por quê?

Alguns analistas temem que o fenômeno das fake news

esteja apenas começando e já falam em um novo
estágio, o das deep fake news. Explique o que seria
esse novo estágio.

“Uma mentira repetida mil vezes se torna verdade”

(Joseph Goebbels, ministro da Propaganda do III Reich)

E
m 17 de dezem-
bro de 1989, a
Romênia foi sa-
cudida por ma-
nifestações con-
tra o reg ime
comunista do di-
tador Nicolae Ceaucescu, no po-
der desde 1965. As principais re-
des de notícias internacionais
veicularam que naquele dia, na
cidade de Timisoara, região oci-
dental do país, ocorrera um mas-
sacre pavoroso. As TVs mostra-
vam cenas macabras: milhares de
cadáveres de pessoas que teriam
sido torturadas e mortas pela
Securitate, a temível polícia políti-
ca do regime. As agências de no-
tícias afirmaram que o número
de vítimas variava entre 60 mil e
70 mil mortos. Na verdade, tra-
tava-se de uma das maiores
“barrigas” ( jargão para notícia
inverídica) da história do jorna-
lismo: os cadáveres tinham sido
desenterrados de cemitérios para
simular um massacre que nun-
ca ocorreu e, assim, potencializar a
oposição a Ceaucescu. E a mídia in-
ternacional comprou a notícia sem
apurá-la. Ceaucescu foi deposto e
fuzilado sumariamente com a mu-
lher, Ylena, no dia de Natal, depois
de um julgamento sumário.
Como se vê, as chamadas fake
news (notícias falsas) não são exa-
tamente um fenômeno contem-
porâneo. Elas tiveram espaço para
serem disseminadas porque, his-
toricamente, as crenças pessoais
– políticas, religiosas, etc. – ten-
dem a sobrepujar a racionalidade.
Aliás, em seus primórdios, os jor-
nais estavam mais ligados à difu-
são de boatos e à propaganda po-
lítica do que à informação. Veja-se
o exemplo dos populares canards
AGOSTO 2018 | aTualiza
20 | CIÊNCIAS HUMANAS
Em 2016 o franceses, no século 17, que eram
gazetas ilustradas repletas de bo-
dicionário atos e falsas notícias e que circu-
Oxford laram pelas ruas de Paris durante
anunciou mais de 200 anos.
“pós- O termo fake news foi populari-
zado em 2014 pelo jornalista esta-
-verdade” – dunidense Craig Silverman, que
ideia de que naquele ano descobriu que uma
as emoções história falsa – uma cidade no Te-
influenciam xas (EUA) estaria em quarentena
depois de uma família contrair
mais as o vírus ebola – estava recebendo
pessoas milhares de curtidas no Facebook
do que a e “viralizando”. Mas as fake news
razão – ganharam relevância nos Estados
Unidos em 2016 com dois episó-
como a dios marcantes, o Brexit (plebis-
"palavra cito que decidiu a saída do Rei-
do ano" no Unido da União Europeia)
e, principalmente, a campanha
presidencial de 2016, que culmi-
nou na surpreendente eleição do
megaempresário Donald Trump.
Em ambos os casos, informações
falsas ou manipuladas postadas
nas redes sociais, principalmen-
te pelos defensores do Brexit e
de Donald Trump, foram acusa-
das de influenciar o resultado fi-
nal das eleições. Não foi à toa que
em 2016 o dicionário Oxford de-
cretou “pós-verdade” – a ideia de
que a realidade objetiva influen-
cia muito menos a opinião pública
do que a emoção e as crenças pes-
soais – como a “palavra do ano”.
No Brasil, a difusão de fake
news pelas redes sociais começou
nas eleições de 2010, mas atin-
giu níveis assustadores no pleito
de 2014. Talvez o episódio mais
marcante tenha sido o que ocor-
reu em março último, após o as-
sassinato da vereadora carioca
Marielle Franco, defensora dos
direitos humanos e crítica da vio-
lência policial, quando foram vei-
culadas pelas redes sociais infor-
mações falsas de que ela estaria
ligada ao narcotráfico.
“Na esteira do Brexit e da elei-
aTualiza | AGOSTO 2018
ção de Trump, as empresas de tec-
nologia e as redes sociais foram
as primeiras a serem acusadas –
com boa razão – de leniência com
a propagação das notícias falsas”,
escreveu a jornalista Teresa
Perosa na revista Época. Ela ex-
plica que um levantamento fei-
to em novembro último pelo site
BuzzFeed mostrou que, entre
as notícias mais compartilhadas
pelo Facebook nos dias que ante-
cederam as eleições presidenciais
dos EUA, as notícias falsas supe-
raram as reais em leitura. “Os al-
goritmos que regem a distribui-
ção de conteúdo nas linhas do
tempo dos usuários do Facebook
favorecem o aparecimento de
links que atraem mais cliques e são
mais compartilhados”, continua
Perosa. Portanto, quando se trata
de conteúdo de natureza partidá-
ria ou duvidosa, isso cria um ciclo
tóxico de disseminação da desin-
formação, pontua a jornalista.
O problema das notícias falsas,
contudo, é mais complexo. Um
estudo feito nos Estados Unidos
pela Universidade de Harvard e
pelo Instituto de Tecnologia de
Massachusetts (MIT) indicou
que as notícias totalmente falsas
não foram as que tiveram mais
influência na eleição de Trump.
O impacto maior foi causado por
artigos com alguma base na rea-
lidade, mas distorcidos por veí-
culos partidários, escreve Perosa.
“Não gosto do termo fake news,
porque simplifica demais a situ-
ação. O que ganhou a eleição não
foram teorias da conspiração, mas
artigos que incluíam alguns as-
pectos de verdade, mas que eram
propaganda. Eram geralmen-
te conectados a fatos reais, como
os e-mails de Hillary Clinton va-
zados pelo WikiLeaks”, afirma
Ethan Zuckerman, um dos auto-
res da pesquisa.
O próprio responsável por po-
pularizar o termo fake news, o
jornalista Craig Silverman, con-
ta que hoje sente calafrios ao ou-
vi-lo. Ele acredita que o termo
está sendo manipulado por um
dos principais propagadores de
fake news – o presidente Donald
Trump – contra críticas ao seu
governo feitas pela mídia tra-
dicional. “O fim da fake news
como eu conhecia chegou em
11 de janeiro de 2017, quando
Donald Trump redefiniu o termo
para significar, efetivamente,

notícias de que ele não gostava”,
escreve ele. Silverman lembra
que Trump se recusou a respon-
der a perguntas da rede CNN
acusando-a de promotora de fake
news. “Naquele momento, o ter-
mo fake news foi recrutado para
as guerras partidárias e cooptado
por Trump. Isso dificultou a ba-
talha real contra a manipulação
feita por plataformas para obter
lucro e propaganda, o verdadei-
ro desafio enfrentado pela de-
mocracia em uma era conecta-
da, e os riscos da censura tanto
de plataformas como de gover-
nos”, concluiu Silverman. Para
ele, a mídia tradicional comete
muitos erros, mas eles são ata-
cados ferozmente, ao passo que
mentiras criadas propositada-
mente são tratadas com muito
mais condescendência.
EM FOCO
C5    U
  tilizar os conhecimentos
históricos para
Seja como for, o fato é que parece que o compreender e valorizar
fenômeno das fake news está apenas come- os fundamentos da
çando. Em um artigo publicado pela Ilus- cidadania e da democracia,
favorecendo uma atuação
tríssima, suplemento dominical da Folha consciente do indivíduo na
de S.Paulo, os pesquisadores Virgilio sociedade.
Almeida, Danilo Doneda e Ronaldo Lemos
referem-se à manipulação digital como o H21     Identificar o papel dos
meios de comunicação na
próximo estágio das fake news. “O próximo construção da vida social.
passo parece ser a era das deep fake news.
Cada vez será mais difícil separar a reali-
dade da manipulação digital. E há quem Em 30 de junho de 1961, a revista
diga que estamos vivendo os últimos dias Time dedicou sua capa a Jânio (e
da própria ideia de realidade, como fazem contratou Portinari para retratá-lo).
Claire Wardle e Hossein Derakhshan em O texto dizia: “Saindo não se sabe
recente relatório do Conselho da Europa.” de onde para liderar a maior votação
Em tempo: não há nenhuma evidência popular da história, Jânio Quadros
de que a epígrafe aqui citada tenha sido aparece ao mundo como a própria
proferida por Joseph Goebbels... imagem do Brasil – temperamental,
brilhando com independência, am-
bicioso, assombrado com a pobreza,
lutando para aprender, ávido de gran-
deza”. Já a revista France Soir foi mais
irônica e o comparou a “Marx – não
Karl, mas Harpo”. Ao mesmo tempo,
no Brasil, aliados e inimigos esforça-
vam-se para definir o “enigma políti-
co” que comandava a nação.
BUENO, Eduardo. Brasil: uma história.
São Paulo: Ática, 2013.
A controversa imagem do então pre-
sidente da República Jânio Quadros,
explorada de diferentes formas pela
mídia, acabaria sendo
a) confirmada após o desastroso
governo que culminou com um
golpe militar.
b) desfeita ao entregar democratica-
mente o governo ao seu sucessor,
João Goulart.
Willrow Hood/Shutterstock
c) confirmada ao renunciar ao man-
dato após apenas sete meses de
governo.
d) desfeita ao resistir bravamente à
tomada do poder pelos militares
em 1964.
e) confirmada por medidas contro-
versas adotadas em seus quatro
anos de governo.
Resposta: c
AGOSTO 2018 | aTualiza
 22 | CIÊNCIAS HUMANAS
por cláudio camargo

Política e esporte na
Copa de 2018
Como no passado,
Rússia realizou
importante evento
esportivo em
meio a grave crise
diplomática com
países ocidentais
fifg/Shutterstock

aTualiza | AGOSTO 2018

 Desde a época do Além da questão da Entre os 32 melhores A Copa do Mundo de
comunismo, os grandes ocupação da Crimeia países no ranking 2014, realizada no
eventos esportivos e da guerra na Síria, da Fifa de 2017, dez Brasil, custou aos cofres
na Rússia têm se eventos especificamente não conseguiram se públicos cerca de
transformado em palco esportivos aumentaram classificar para esta Copa R$ 8,3 bilhões para
para a expressão dos a tensão entre a Rússia do Mundo, a primeira a construção e reforma de
conflitos entre o país e o e diversos países ser realizada na Rússia. estádios. Qual foi o custo
Ocidente. Quais foram os ocidentais. Quais foram Quais foram esses que a Rússia teve para
principais episódios? esses eventos? países? sediar a Copa?

C
omo em outros eventos espor-
tivos do passado envolvendo a
Rússia, a Copa do Mundo de Fu-
tebol deste ano foi realizada em
meio a vários conflitos envol-
vendo Moscou e o Ocidente.
Em março, as autoridades bri-
tânicas acusaram a Rússia pela tentativa de enve-
nenamento de um ex-espião russo que vivia em
Londres, Serguei Skripal, e de sua filha. Em con-
sequência, o governo britânico expulsou vários di-
plomatas russos, medida que foi adotada também
por Estados Unidos, Canadá e 15 países da União
Europeia. Moscou, por sua vez, expulsou diploma-
tas britânicos e prometeu adotar represálias con-
tra os demais países.
Já o governo da Islândia não enviou autoridades
para representar o país na Copa da Rússia. Tal me-
dida, no entanto, não atingiu a seleção de futebol is-
landesa, que se classificou pela primeira vez para o
Mundial.
O clima de tensão entre Rússia e Ocidente voltou
EUA e União Europeia. Região
de maioria russa, a Crimeia havia
sido “doada” à Ucrânia em 1954
pela então União Soviética. Tra-
tava-se de uma tentativa de re-
conciliação, uma vez que, no final
da Segunda Guerra Mundial, o di-
tador soviético Josef Stalin havia
deportado os tártaros da Crimeia,
acusados de colaboração com os
nazistas.
Mas Moscou também sofreu
reveses no plano estritamen-
te esportivo. O Comitê Olímpico
Internacional (COI) suspendeu
a Rússia dos Jogos Olímpicos
de Inverno de 2018 por causa do
doping institucionalizado verifica-
do entre os atletas russos duran-
te as Olimpíadas de Sochi-2014.
O Comitê também baniu o vice-
-primeiro-ministro russo Vata-
li Mutko, ministro dos Esportes
durante as Olimpíadas de Sochi
e homem forte da Rússia para a
Copa do Mundo de 2018.
O primeiro grande confronto
entre a Rússia (então União So-
viética) e os países ocidentais na
arena esportiva ocorreu em 1980,
quando os Estados Unidos e ou-
tros 60 países boicotaram os Jo-
gos Olímpicos de Moscou em re-
presália à invasão do Afeganistão
pelos soviéticos. Nos Jogos Olím-
picos seguintes, em 1984, em Los
Angeles (EUA), foi a vez de os rus-
sos e seus aliados do bloco sovié-
tico boicotarem o evento. Na ver-
dade, inicialmente Moscou não
Banco de Imagens/Ex Libris

a esquentar no início do abril, quando os EUA, com

o apoio da França e do Reino Unido, lançaram ata-
ques aéreos contra bases militares da Síria depois
de um suposto uso de armas químicas, por parte do
ditador Bashar al-Assad, contra rebeldes na cidade
de Doula. Assad é o principal aliado de Moscou no
Oriente Médio, e seu governo só não foi derrubado
por rebeldes – até mesmo do Estado Islâmico – pelo
fato de os russos terem enviado armas e tropas para
defender o regime de Damasco.
O clima de animosidade entre o Ocidente e a
Rússia já estava azedo desde 2014, quando Moscou
anexou a península da Crimeia em represália à
derrubada do governo pró-russo da Ucrânia – uma
ex-república soviética –, uma ação estimulada por Tropas russas chegam para ocupar a Crimeia em março de 2014.

AGOSTO 2018 | aTualiza

 24 | CIÊNCIAS HUMANAS
Anton Martynov/Shutterstock
pretendia revidar, mas o clima
geopolítico daquela época estava
bastante carregado. Em setembro
de 1983, os soviéticos derrubaram
um avião comercial sul-coreano,
o KAL 007, que invadira seu espa-
ço aéreo, matando 269 civis. E, em
outubro, tropas estadunidenses
invadiram a ilha de Granada para
derrubar o governo pró-soviético
de Maurice Bishop. Eram os últi-
mos suspiros da Guerra Fria antes
de acabar.
A Copa na Rússia
Foi a primeira vez que um
Campeonato Mundial de Futebol
da Fifa teve lugar na Rússia. Os jo-
gos aconteceram em 11 cidades-
-sede (Moscou, a capital; São
Petersburgo; Sochi; Kazan; Rostov
on Don; Nijni Novgorod; Volgo-
grado; Saransk; Kaliningrado;
Iecaterimburgo) e 12 estádios.
Entre os 32 melhores países no
ranking da Fifa de agosto de 2017,
dez não conseguiram classifica-
ção para esta Copa do Mundo: Chi-
le (9o lugar do ranking); País de Ga-
les (14o); Itália (15o, pentacampeão);
Holanda (20o); Irlanda do Norte
(23o); Eslováquia (24o); Irlan-
da (26o); Escócia (29o); além de
ATUALIZA  |  AGOSTO 2018
Estádio Fisht e o mascote Zabivaka, em Sochi.
grandes rivais da Rússia, como Esta-
dos Unidos (27o) e Ucrânia (30o).
Em relação aos custos, a Copa
do Mundo na Rússia de 2018 saiu
bem mais cara do que a realizada
no Brasil em 2014. Segundo o Mi-
nistério do Esporte, o Brasil inves-
tiu na construção ou reforma de
estádios R$ 8,3 bilhões, dos quais
R$ 3,8 bilhões vieram diretamen-
te do BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e
Social). Segundo os cálculos mais
atualizados feitos pela impren-
sa russa, o custo total das 12 are-
nas da Copa foi o equivalente a
R$ 19,3 bilhões, mais que o do-
bro gasto pelo Brasil. No total,
10 campos foram construídos e
apenas dois reformados.
Durante a época comunista, o
futebol foi uma das fontes de pro-
paganda do regime. No início, a
seleção da União Soviética reali-
zou apenas jogos amistosos a fim
de estreitar relações diplomáticas.
Somente em meados dos anos
1950, depois da morte de Josef
Stalin, a seleção de futebol sovi-
ética tornou-se uma referência,
conquistando uma Eurocopa e dois
ouros olímpicos. E um deles foi em
1988, diante da seleção brasileira.
EM FOCO
C3 Compreender a produção e o papel
histórico das instituições sociais,
políticas e econômicas, associando-
-as aos diferentes grupos, conflitos e
movimentos sociais.
H15 Avaliar criticamente conflitos culturais,
sociais, políticos, econômicos ou
ambientais ao longo da história.
O embate entre “vermelhos”, bolcheviques e
outras facções radicais, e “brancos”, a ala mais
à direita do governo provisório e aliados diver-
sos, marcou a Rússia. “Uns veem a Revolução
como o começo de uma grande civilização, ou-
tros como uma catástrofe. O país está lutando
hoje um tipo de guerra civil ideológica entre os
descendentes de ‘vermelhos’ e de ‘brancos’”,
diz o britânico Orlando Figes, 57, um dos prin-
cipais historiadores dedicados à Rússia. Para
ele, o fato de que as revoluções não são parte do
calendário oficial de comemorações na Rússia
de Vladimir Putin mostra a dificuldade em lidar
com a questão. “Putin talvez tenha se entregado
quando trouxe de volta à Rússia os restos do lí-
der ‘branco’ Anton Denikin (1872-1947). Mas ele
não quer muita conversa sobre revolução por-
que teme uma.”
Adaptado de: GIELOW, Igor. Uma revolução
esquecida. Folha de S.Paulo, 5 mar. 2017. p. A14.
A Revolução Russa de 1917 apeou do poder a fa-
mília imperial e lançou a Rússia em uma dispu-
ta entre grupos opostos, que foi vencida pelos
bolcheviques de Lenin. O texto relaciona esse
movimento ao atual governo de Vladimir Putin
enfatizando
a) sua forte inclinação pelos bolcheviques ao
repatriar os restos mortais de um de seus
líderes.
b) o pouco entusiasmo em comemorar o cen-
tenário do evento por temer ele próprio ser
vítima de um golpe.
c) sua preocupação em acentuar a importância
da Revolução Russa para o surgimento da
Grande Rússia.
d) as comemorações promovidas no ano do
centenário da Revolução com a repatriação
dos restos de figuras históricas importantes.
e) sua convicção da catástrofe que foi a criação
da União Soviética e o surgimento da Cortina
de Ferro.
Resposta: b
 25 | CIÊNCIAS HUMANAS
por luiza villaméa

No Brasil a mulher conquistou o

direito ao voto em 1932, à frente
de muitos países desenvolvidos,
como França (1944) e Suíça (1971),
mas a representação política ainda
é pequena. Por quê?

De acordo com a cota de gênero

Shutterstock

aprovada em 2009, os partidos ou

coligações devem ter no mínimo
30% de mulheres para cargos
proporcionais. Explique as razões
por que isso não acontece.

Nas eleições de 2016 cerca de

14 mil candidatas mulheres não
receberam nenhum voto. A Justiça
descobriu que eram “candidatas-

As brasileiras
-laranja”. Explique que fenômeno é
esse e como afetou as eleições.

A legislação eleitoral vigente

e a política
também prevê que haja igualdade
entre candidatos homens e
mulheres na distribuição de
recursos para a campanha, como o
Fundo Eleitoral. Como isso é feito?
As mulheres são mais da metade do eleitorado.
Ainda assim, não passam de 10,5% dos integrantes
da Câmara dos Deputados e 16% do Senado

A
trajetória das mulhe-

Banco de Imagens/Ex Libris

res na política brasi-
leira tem dupla face.
Na mais moderna de-
las está Alzira Soriano,
uma mulher do sertão
do Rio Grande do Nor-
te tão à frente de seu tempo que há 90 anos
virou notícia no jornal americano The New
York Times. Aos 32 anos, viúva desde os 27,
mãe de três filhas, Alzira disputou com um
major as eleições para a Prefeitura da pe-
quena cidade de Lajes. Ganhou 60% dos
votos e se tornou a primeira prefeita do
Brasil e da América Latina.
O ano era 1928. As brasileiras só te-
riam direito a voto quatro anos mais tar-
de, pelo Código Eleitoral de 1932, mas
uma lei estadual tinha aberto uma bre-
cha para a candidatura feminina. In-
centivada por sufragistas do Sul do país, Alzira Soriano, ao centro, 1929.

AGOSTO 2018 | aTualiza

 26 | CIÊNCIAS HUMANAS

Banco de Imagens/Ex Libris

O Brasil como a cientista Berta Lutz, Alzira inauguraria a presença da mu-
ocupa a não deixou passar a oportunidade. lher no comando de um Estado.
Afinal, desde que ficara viúva, re- Em 2010 foi a vez da economista
152a posição velava-se como gestora. Em vez de Dilma Rousseff chegar ao Palá-
no ranking vender a fazenda de gado deixada cio do Planalto.
de 193 países pelo marido, como recomendava a Soma-se a essas precurso-
quanto à família, ela administrava a proprie- ras a assistente social Lui-
dade com sucesso. za Erundina que, aos 83 anos,
representação De lá para cá, as mulheres con- está em seu quinto mandato
parlamentar quistaram muitos espaços no cená- como deputada federal. Nas-
feminina. rio político. Entre as pioneiras, des- cida em Uiraúna, no sertão da
Na América tacam-se pelo menos quatro. Eleita Paraíba, ela foi a primeira mu-
em 1933 para a Assembleia Consti- lher a administrar São Paulo,
Latina, está tuinte que se instalaria no ano se- a maior cidade do país (1989-
em último guinte, a médica Carlota Pereira de -1993). Antes, como vereado-
lugar Queirós foi a primeira deputada fe- ra (1982-1986), tinha liderado
deral do país. Cinquenta e três anos uma bancada na Câmara Muni- Dilma Rousseff.
depois, a professora universitária cipal composta de três mulheres
Maria Luiza Fontenele, de Fortale- e dois homens: “Quando a gente preocupados em como iríamos ao
za, tornou-se a primeira prefeita de chegou lá, os machistas da Câ- banheiro. Na época, não tinha ba-
uma capital. No mesmo ano, no Acre, mara queriam saber se tínha- nheiro para mulheres na Câmara.”
outra professora, Iolanda Fleming, mos pernas bonitas. Estavam Os tempos de Legislativo sem
banheiro feminino para as parla-
mentares ficaram para trás, mas
a política nacional ainda abri-
ga uma face muito atrasada. As
Marcos da participação das mulheres mulheres são mais da metade do
eleitorado – 52%. Ainda assim,
na política nacional não passam de 10,5% dos inte-
grantes da Câmara dos Deputa-
1917 – Cerca de 100 mulheres fazem passeata no Rio de Janeiro a dos e 16% do Senado. O núme-
favor do voto feminino, mas a Câmara nem sequer apreciou o projeto. ro de candidaturas também não
acompanha a proporção ocupa-
1928 – Eleita em Lajes, no Rio Grande do Norte, Alzira Soriano da pelas mulheres no eleitorado.
torna-se a primeira prefeita do Brasil e da América Latina. Nas últimas eleições, elas cor-
responderam a 31,98% dos can-
1932 – As mulheres conquistam o direito de participar dos processos didatos.
eleitorais, como eleitoras e como candidatas. O problema não é mundial, em-
bora a batalha das mulheres pelo
1933 – Eleita para a Assembleia Constituinte, a médica Carlota voto tenha sido árdua em todos os
Pereira de Queirós torna-se a primeira deputada federal do país. continentes no século passado. O
mais recente levantamento da or-
Vitaly Art /Shutterstock

1988 – A atuação de 26 deputadas de 16 Estados na Assembleia ganização União Interparlamen-

Constituinte fica conhecida como Lobby do Batom. tar (UIP), com sede em Genebra,
na Suíça, mostra a desigualdade de
2009 – Lei estabelece uma cota de gênero, que prevê o mínimo de gênero no Legislativo nacional. O
30% para cada sexo nas candidaturas para deputado e vereador. Brasil ocupa a 152a posição entre
193 países quanto à representação
2018 – As mulheres são 52% do eleitorado brasileiro, mas só 10,5% parlamentar feminina. Na América
dos deputados federais, menor índice da América Latina. Latina, está em último lugar.
Desde 2009, uma lei determina
que, nas eleições proporcionais

aTualiza | AGOSTO 2018


(para deputado federal, estadual e
para vereador), cada partido ou
coligação preencha o mínimo de
30% e o máximo de 70% para can-
didaturas de cada sexo. É a cha-
mada cota de gênero. A ideia é
abrir espaço para as mulheres e,
como consequência, aumentar a
participação delas na política na-
cional. Existem, porém, dois pro-
blemas: as “candidatas-laranja”
e a disputa em desigualdade de
condições.
As “candidaturas-laranja” são
aquelas registradas pelos parti-
dos só para cumprir a lei. Fica-
ram evidentes nas eleições de
2016, quando o Ministério Públi-
co Eleitoral começou a investigar
a falcatrua. Na época, mais de 16
mil candidatos não tinham rece-
bido nenhum voto nas urnas. Ou
seja, nem o candidato votou em si
mesmo. Deste total, 14 417 eram
mulheres. Parte delas não sabia
que tinha concorrido às eleições.
A generalização do fenômeno
de “candidatas-laranja” foi ques-
tionada primeiro pela jurista Lu-
ciana Lóssio, então ministra do
Tribunal Superior Eleitoral, que
pediu uma investigação à Justiça.
Corriam no tribunal ações sobre
a candidatura fraudulenta de três
EM FOCO
C5      U
  tilizar os conhecimentos
históricos para compreender
Banco de Imagens/Ex Libris
Banco de Imagens/Ex Libris
e valorizar os fundamentos da
cidadania e da democracia,
favorecendo uma atuação
consciente do indivíduo na
sociedade.
H25     Identificar estratégias que
promovam formas de inclusão
social.
Luciana Lóssio.
A participação das mulheres na política
brasileira ainda deixa muito a desejar.
No Brasil, pouco mais de 10% dos de-
putados federais são mulheres, o que
nos coloca em 154o lugar entre 193
países do ranking da UIP, à frente ape-
nas de alguns países árabes, do Oriente
Luiza Erundina. Médio e de ilhas polinésias. Embora a
quantidade mínima de candidatos do
mulheres do Piauí. Em agosto do ano sexo feminino seja regulamentada por
passado, pela primeira vez, vereadores lei (pelo menos 30% das candidaturas
perderam o posto por causa de candida- de cada partido ou coligação), o per-
turas femininas fictícias nas eleições de centual de votos recebidos pelas mu-
2016. Dois vereadores da cidade paulista lheres vem caindo nas últimas eleições,
de Santa Rosa do Viterbo foram cassados o que mantém abaixo de 15% a parce-
porque o partido deles tinha registrado la de vagas conquistadas por elas nas
“laranjas” para cumprir a cota de gênero. Câmaras Municipais (no Brasil, há sete
Outro problema evidenciado depois vereadores homens para cada vereado-
da lei que prevê a cota de gênero é a de- ra mulher). Estudos mostram que isso
sigualdade na disputa eleitoral, a come- nada tem a ver com as características
çar pela distribuição dos recursos para do eleitorado, ou seja, não são os mais
a campanha. Não por acaso um grupo pobres, os menos escolarizados ou os
de senadoras e deputadas entrou recen- moradores dos rincões do país que vo-
temente com uma consulta na Justiça tam menos nas mulheres – somos to-
sobre a aplicação do Fundo Eleitoral, o dos nós.
dinheiro público que todos os partidos Adaptado de: <www.politize.com.br/
recebem. Elas querem saber se os recur- participacao-das-mulheres-na-politica-
sos do fundo e o tempo de propaganda brasileira/>. Acesso em: 20 abr. 2018.
eleitoral no rádio e na TV devem seguir
o patamar de 30% previsto para as can- A análise do texto permite concluir que
didaturas. a participação feminina na política bra-
Para um país que teve a primeira pre- sileira
feita da América Latina, o Brasil progre- a) não cresceu de forma efetiva nas
diu pouco no campo eleitoral. Quanto a últimas eleições.
Alzira Soriano, no comando de um gabi- b) não tem amparo legal.
nete formado apenas por homens, ela in- c) coloca o Brasil entre os países que
vestiu em obras de infraestrutura, como mais avançaram na questão.
estradas e iluminação pública, mas ficou d) tende a crescer em razão dos dis-
pouco tempo no posto. Caiu depois da as- positivos legais implementados.
censão de Getúlio Vargas ao Palácio do e) é mais forte nas capitais.
Catete, voltando à vida pública junto com
a redemocratização de 1945. Foi eleita ve- Resposta: a
readora por duas vezes consecutivas.
AGOSTO 2018 | aTualiza
 28 |CIÊNCIAS DA NATUREZA
por fernando porfirio de lima
jaroslava V/Shutterstock

aTualiza | AGOSTO 2018

 Ao contrário das Combustíveis fósseis, A energia proveniente de Os Estados Unidos
termelétricas, que como petróleo, carvão usinas hidrelétricas no ainda respondem por
produzem energia mineral e gás natural, Brasil representa 61,5% uma grande parcela na
poluente por serem à ainda são cerca de 85% do total, enquanto a produção e no consumo
base de combustíveis das fontes energéticas do originária em petróleo de energia do mundo.
fósseis, as usinas planeta. Qual é a posição e gás representa 18%. Nos últimos anos, o país
hidrelétricas produzem do Brasil em relação Qual é a porcentagem de vem investindo em outras
energia limpa, mas às ofertas internas de energia importada fontes de energia. Quais
trazem problemas. Quais energia? pelo país? são elas?
são eles?

Em busca provoca um impacto ambiental

muito grande.

de novas 
Já as termelétricas são usinas
que geram energia da queima de
combustíveis fósseis (carvão mi-
neral, gás natural, diesel, urânio
enriquecido, etc.) ou de biomassa
(bagaço da cana-de-açúcar, casca

fontes
de arroz). Portanto, elas podem
ser poluentes quando se usam
combustíveis fósseis, mas limpas
quando se usa biomassa ou ener-
gia nuclear. Esta última, contu-
do, traz risco de contaminação em
caso de acidentes, como ocorreu
O aumento da em Tchernobil, na Ucrânia, e em
energia renovável Fukushima, no Japão.
nas matrizes Em relação às fontes para a pro-
dução de combustíveis, os fósseis,
energéticas uase tudo o que fazemos e usa- como o petróleo, o carvão mineral
do mundo é mos necessita de algum gas- e o gás natural, ainda representam
um caminho to de energia. Ir à escola ou ao cerca de 85% das fontes energéti-
trabalho, assistir a programas cas do planeta, sendo justamente
necessário para o de TV, cozinhar, tomar banho – estas as fontes responsáveis pela
desenvolvimento em tudo há gasto energético. maior parcela da poluição am-
econômico Mas existem diferentes fontes biental e do efeito estufa.
de energia, renováveis e não Esses combustíveis são encon-
sustentável renováveis, e diferentes ma- trados em bacias sedimentares e
neiras de se obter eletricidade e combustível. formados pela decomposição de
Usinas hidrelétricas são o meio mais tradi- matéria orgânica. Tal processo
cional utilizado para produzir energia elétrica leva milhões de anos para se com-
em países com abundância de recursos hídricos, pletar e, uma vez esgotadas essas
como o Brasil. Nas hidrelétricas, a energia é ob- formações, não haverá tempo su-
tida com o represamento de água por barragens, ficiente para que elas sejam repos-
produzindo quedas para girar turbinas, que por tas na escala da vida humana. Por
sua vez acionam geradores. Trata-se de energia esse motivo, a matriz energética
limpa, mas a construção dessas usinas geralmente atual não é sustentável.

AGOSTO 2018 | aTualiza

30 | CIÊNCIAS DA NATUREZA
Tipos de fontes de energia
Antes de tudo, é importante conhecer os dife-
rentes tipos de fontes de energia. Podemos classi-
ficá-las em renováveis e não renováveis, primárias
e secundárias, convencionais e alternativas.
Renováveis – Fontes de energia que têm capaci-
dade de se formar em um curto tempo, tornando-a
inesgotável; por exemplo: biomassa (óleos/biodie-
sel originado da cana-de-açúcar, da mamona, do
girassol, entre outros produtos).
Não renováveis – Fontes de energia que têm
origem em matéria orgânica decomposta em mi-
lhões de anos, não havendo tempo hábil para ser
formada para o uso humano; é o caso do petróleo,
do gás natural e do carvão.
Primárias – Fontes de energia utilizadas direta-
mente para a geração de calor/energia, como a le-
nha queimada para uso doméstico.
Secundárias – Fontes de energia obtidas de ou-
tros meios de energia. Por exemplo, uma usina nu-
clear enriquece o urânio para aquecer a água e mo-
ver as turbinas, gerando, assim, energia elétrica.
Convencionais – São as energias-base da socie-
dade contemporânea (petróleo, gás natural, car-
vão e hidrelétricas).
Alternativas – Fontes de energia que consti-
tuem uma alternativa ao modelo energético de-
corrente dos últimos dois séculos; sua introdução
pode diversificar a matriz de energia de certo país,
aumentando a segurança e o desenvolvimento
econômico e ambiental. É o caso das energias so-
lar, eólica, geotérmica e maremotriz.
petovarga/Shutterstock
aTualiza | AGOSTO 2018
Conflitos e desafios
Como vimos, apesar dos avan-
ços tecnológicos das últimas
quatro décadas e dos crescentes
investimentos em fontes alterna-
tivas – energia eólica e solar, por
exemplo –, os combustíveis fós-
seis ainda são a principal fonte de
energia em nível global. Ou seja,
desde a Segunda Revolução In-
dustrial, por volta de 1850, o pe-
tróleo, seguido pelo carvão e pelo
gás natural, continua capitanean-
do o desenvolvimento econômico
e industrial global.
Já o Brasil tem uma das maio-
res ofertas internas de energia
renováveis do mundo industria-
lizado, com 75% provenientes de
usinas hidrelétricas, biomassa e
eólica. Os outros 25% provêm de
petróleo e derivados, gás natural,
carvão mineral, urânio e outros.
Assim, em 2017 a distribuição da
oferta de energia brasileira era a
seguinte: hídrica (61,54%); bio-
massa (8,85%); eólica (4,54%);
petróleo e gás (18,05%); nucle-
ar (1,35%) e solar (0,01%). Outros
5,55% eram provenientes de im-
portação.
A busca de fontes energéticas
não renováveis também tem sido
o foco de interesses dos Estados,
gerando disputas geopolíticas
desde a Primeira Revolução In-
dustrial. Os combustíveis fósseis
já provocaram inúmeros confli-
tos globais, como o ataque do Ja-
pão à base estadunidense de Pearl
Harbor, em 1941; o golpe de Es-
tado no Irã, em 1953; a Primeira
Guerra do Golfo, em 1991; e a in-
vasão do Iraque por tropas dos
EUA e do Reino Unido, em 2003;
além de inúmeros outros.
Vale lembrar que a demanda
energética deve crescer nos pró-
ximos anos, sobretudo nos cha-
mados países emergentes, como
China, Índia, Brasil e África do
Sul, entre outros. Nesses países, o
avanço das áreas urbanas, do po-
tencial industrial e da população
certamente fará aumentar o con-
sumo de energia, especialmente
de petróleo e energia elétrica.
Mesmo com a dependência de
recursos não renováveis, há que se
registrar os esforços de vários pa-
íses para ampliar o uso de fontes
de energia renováveis, como a so-
lar e a eólica. Os Estados Unidos,
o Japão e a China – historicamen-
te, os maiores responsáveis pela
poluição global –, além da União
Europeia, investem cada vez mais
em pesquisas para tornar mais efi-
cientes a captação e a distribuição
de energia eólica e solar.
Os Estados Unidos, aliás, têm
e ainda terão grande parcela na
produção e no consumo da ener-
gia do mundo. Nos últimos anos,
 EM FOCO

C6 Apropriar-se de conhecimentos da Física para,

em situações-problema, interpretar, avaliar ou
planejar intervenções científico-tecnológicas.
De onde provém a energia do Brasil
H23 Avaliar possibilidades de geração, uso ou
transformação de energia em ambientes
Nuclear Eólica específicos, considerando implicações éticas,
1,35% Importada ambientais, sociais e/ou econômicas.
4,54%
5,55% Biomassa
8,85%
Em uma conferência sobre formas alternativas de ge-
ração de energia, dois debatedores confrontavam opi-
niões sobre vantagens e desvantagens de cada uma de-
Petróleo e gás las. Atento, um dos presentes montou a seguinte tabela
Usinas hidrelétricas 18,05% que resumia a discussão:
61,54%
Tipo de energia Vantagem Desvantagem

Biogás Forma de Armazenamento

disposição de difícil.
Solar lixo orgânico.
0,01% Biocombustíveis Atenua o efeito Produção de
estufa. matéria-prima
Fonte: BEN – EPE, ANP
reduz área de
produção de
alimentos.

os estadunidenses vêm investindo maciçamente em Solar Fonte abundante Não está

novas fontes de energia – como o xisto betuminoso, e quase disponível pelas
por exemplo. O objetivo é tornar os EUA independen- inesgotável de 24 horas do dia.
energia.
tes dos grandes exportadores de petróleo do Oriente
Médio, da Rússia e da Venezuela. Eólica Chega a locais Morte de
As mudanças são lentas e imperceptíveis, mas já onde a rede pássaros que
estão acontecendo. No setor de transportes, haverá elétrica comum se chocam
uma transição lenta e gradual dos combustíveis fós- não existe. com as pás do
equipamento.
seis para os biocombustíveis – quesito em que o Bra-
sil está bastante avançado. No plano mais geral, ape- Maremotriz Abundante Produção
sar de reveses recentes, como a retirada dos Estados em cidades irregular em
Unidos do Acordo de Paris sobre o Clima, no ano pas- costeiras. razão do ciclo
diário das
sado, a tendência tem sido a conciliação entre desen- marés.
volvimento econômico e sustentabilidade.

Preocupado em ter cometido algum engano, pediu a um

colega que conferisse os dados. A resposta recebida foi:
a) “Você cometeu quatro erros.”
b) “Você cometeu três erros.”
c) “Você cometeu dois erros.”
d) “Você cometeu um erro.”
e) “Você não cometeu erros.”
Resposta: e

AGOSTO 2018  |  ATUALIZA
 32 | CIÊNCIAS DA NATUREZA
por fernando porfirio de lima
u3d/Shutterstock

Um coração novo
no peito
E
ra um feito. Há meio século, a equipe do
doutor Euryclides de Jesus Zerbini realiza-
va, no Hospital das Clínicas de São Paulo, o
primeiro transplante de coração no Brasil,
Há 50 anos, a equipe do doutor
poucos meses depois da realização da pri-
Euryclides Zerbini realizava no meira cirurgia desse gênero no mundo.
HC de São Paulo o primeiro O primeiro transplante de coração em
um ser humano foi realizado no dia 3 de dezembro de 1967,
transplante de coração no Brasil
na Cidade do Cabo, na África do Sul. Ou seja, foi durante o
apartheid — regime de segregação racial que imperou na-
quele país de 1948 a 1994 — que o coração de uma pessoa
morta — no caso, um negro — bateu pela primeira vez no pei-
to de outro ser humano — um branco. O bem-sucedido

aTualiza | AGOSTO 2018

 O primeiro transplante Em maio de 1968 o Segundo a Organização A rejeição do novo
de coração em um ser Brasil realizou a primeira Mundial de Saúde (OMS) órgão pelo organismo
humano foi realizado em cirurgia de transplante 72% dos pacientes do transplantado foi um
dezembro de 1967 na de coração do país e da que recebem um novo dos maiores problemas
Cidade do Cabo, África do América Latina e a 5a do coração vivem, pelo enfrentados no início
Sul. Qual foi o simbolismo mundo. Qual é a média menos, cinco anos. Qual é desse procedimento.
para aquele país na anual de cirurgias desse a porcentagem atual dos Como a medicina lidou
época dessa cirurgia tipo realizadas hoje que alcançam 20 anos com essa dificuldade e
revolucionária? no país? de sobrevida? reduziu o risco?

transplante cardíaco foi reali-
zado pelo médico sul-africano
Christiaan Barnard, na época
com 44 anos.
O feito, até então considerado
inconcebível por muitos e rodea-
do de polêmicas de ordem técni-
ca e moral, transformou o cirur-
gião, da noite para o dia, em uma
celebridade. O paciente trans-
plantado, no entanto, viveu ape-
nas 18 dias. Sua morte foi pro-
vocada por infecção pulmonar.
Contudo, a notícia da proeza al-
cançada espalhou-se como fogo
no palheiro, incentivando muitos
centros médicos mundo afora a
colocar a técnica em prática.
Do outro lado do Atlântico, no
Brasil, a primeira cirurgia do tipo
aconteceu em maio de 1968, cinco
meses depois da de Barnard — foi
a quinta do mundo e a primeira da
América Latina. Hoje são feitos no
planeta cerca de 4 500 transplantes
de coração todo ano. Estima-se que
o Brasil terminou 2017 com 370 ci-
rurgias deste tipo, cem a mais do
que a média anual do país.
Só no Instituto do Coração (In-
cor), em São Paulo, embrião do
centro onde o doutor Zerbini fez
a primeira cirurgia desse tipo, no
ano passado houve um recorde
do hospital, que é considerado o
maior centro transplantador de
coração e pulmão no Brasil, além
de ser o 7o no ranking de trans-
plantes de coração em adultos no
mundo. Atualmente há 113 pes-
soas que aguardam novos órgãos
no Incor para seguirem suas vi-
das por muitos anos.
Agora, 50 anos depois, os
transplantes estão longe de ser
um feito médico incomum — em
2016, por exemplo, foram reali-
zados 6 mil transplantes de co-
ração em todo o mundo, de acor-
do com o Observatório Global de
Doação e Transplante.
Segundo a Organização Mun-
dial da Saúde (OMS), mais de
72% dos pacientes que recebem
um novo coração vivem, pelo me-
nos, cinco anos, enquanto 20%
alcançam a marca de 20 anos.
Os dois maiores riscos para
os transplantados são a rejeição
do órgão pelo corpo e as infec-
ções causadas por medicamen-
tos que controlam as respostas
do sistema imunológico ao novo
coração. As infecções são res-
ponsáveis por uma em cada três
mortes de pacientes no primeiro
ano de cirurgia.
Esse problema fez o número
Os dois ao mesmo tempo, enfraquecer
tanto o sistema imunológico. Foi
maiores
quase uma década em que a eufo-
riscos para os ria do fim dos 60 deu lugar a uma
transplantados “pisada no freio” na técnica de
são a rejeição transplantes cardíacos.
A retomada veio com a Ciclos-
do órgão
porina, uma droga imunossu-
pelo corpo e pressora, classe dos inibidores
as infecções de calcineurina. Isolada de um
causadas por fungo do solo, a nova droga su-
primiu as reações imunológicas
medicamentos
que causavam rejeição de órgãos
que controlam transplantados, reduzindo, as-
as respostas sim, a probabilidade de rejeição,
do sistema com a vantagem de não apresen-
tar os efeitos colaterais indesejá-
imunológico ao
veis de outras drogas usadas para
novo coração esse fim.
A Ciclosporina tornou-se dis-
ponível em 1979, possibilitando
o retorno às atividades de trans-
plante anteriormente abando-
nadas. Como resultado do uso da
nex999/Shutterstock

que salvou ainda mais vidas: fo- de transplantes do órgão prati-

ram 66 transplantes de coração.
Até hoje a instituição já fez 1 229
procedimentos.
O número reflete o aumento
da capacidade de atendimento
camente parar nos anos 1970. Os
médicos acusavam a falta de uma
droga que permitisse controlar a
rejeição do novo coração pelo or-
ganismo do transplantado sem,

AGOSTO 2018 | aTualiza

 34 | CIÊNCIAS DA NATUREZA
Syda Productions/Shutterstock
Ciclosporina, as cirurgias bem-
-sucedidas de transplantes torna-
ram-se corriqueiras. Por muitos
anos a Ciclosporina foi considera-
da medicamento de primeira es-
colha na linha terapêutica, mas,
devido a diversos eventos adver-
sos atribuídos ao seu uso, foi sen-
do substituída por outras drogas.
Ai n d a qu e o s ul -a fri can o
Christiaan Barnard tenha feito
história, a maior parte das pesqui-
sas sobre transplante de coração
foi conduzida por médicos esta-
dunidenses, que aperfeiçoaram
as técnicas usando cães como co-
baias. Barnard, na realidade, utili-
zou muitos dos aprendizados ge-
rados por essas pesquisas.
Não impressiona, portanto, o
fato de os Estados Unidos serem o
país que lidera o número de trans-
plantes de coração, tendo reali-
zado 3 209 cirurgias do tipo em
2016, bem à frente da França, que
aparece em segundo lugar, com
490 procedimentos.
O Brasil vem em terceiro (357),
seguido pela Alemanha e pela Es-
panha. Ironicamente, a África do
Sul aparece bem atrás no ranking,
com apenas 14 cirurgias.
O desafio para o futuro é au-
mentar o número de doadores.
ATUALIZA  |  AGOSTO 2018
EM FOCO
“Hoje, 42% das famílias brasileiras, infeliz-
mente, não autorizam a doação de órgãos.
Esse cenário tem que mudar”, reclama o
cardiologista Fabio Jatene, diretor da Divi-
são de Cirurgia Cardiovascular do Incor.
E novas técnicas são incorporadas às
cirurgias de transplantes do coração,
como a que ocorreu este ano na Ingla-
terra, com a paciente Selwa Hussein, de
39 anos. Ela teve uma grave retenção de
líquido. Depois, começou a sentir dores
no peito e a ter dificuldade para respi-
rar. Foi diagnosticada com insuficiência
cardíaca grave, fruto de uma cardiomio-
patia dilatada familiar, um mal heredi-
tário. Essa doença deixa o músculo do
coração enfraquecido, afetando sua ca-
pacidade de bombear sangue.
Selwa precisaria de um transplante, mas
sua situação era tão séria que os médicos
decidiram que ela não conseguiria esperar
por um doador. Foi assim que ela se tornou
a segunda pessoa do Reino Unido a receber
um coração artificial – e a primeira a sair
do hospital com ele fora do corpo, numa
mochila.
“De lá para cá, quase nada mudou em
relação à técnica operatória para trans-
plantar um coração. A grande diferença
foi que aperfeiçoamos a forma de evitar
a rejeição, grande vilã dos anos 60 e 70”,
conclui Jatene.
C4 Compreender interações
entre organismos
e ambiente, em
particular aquelas
relacionadas à saúde
humana, relacionando
conhecimentos
científicos, aspectos
culturais e características
individuais.
H14 Identificar padrões em
fenômenos e processos
vitais dos organismos,
como manutenção do
equilíbrio interno, defesa,
relações com o ambiente,
sexualidade, entre outros.
Transplantes de tecidos ou ór-
gãos sadios de uma pessoa para
outra podem salvar vidas. No
entanto, o procedimento deve
ser realizado com extremo cui-
dado em razão da possibilidade
de rejeição. Em muitos tipos de
transplantes, doador e receptor
do órgão são preferivelmente pa-
rentes próximos; em outros, nos
quais o doador já faleceu, como
os de coração, são feitas análises
detalhadas para verificar a com-
patibilidade bioquímica com o in-
divíduo que receberá o órgão. De
qualquer forma, o transplantado
tende a receber drogas imunos-
supressoras durante toda a vida.
O uso de tais drogas visa assegu-
rar que
a) antígenos do órgão recebido
não sejam atacados por anti-
corpos do receptor.
b) antígenos do órgão recebido
não sejam atacados por antí-
genos do receptor.
c) anticorpos do órgão recebido
não sejam atacados por anti-
corpos do receptor.
d) anticorpos do órgão recebido
não sejam atacados por antí-
genos do receptor.
e) anticorpos do receptor te-
nham sua produção intensi-
ficada.
Resposta: a
35 | CIÊNCIAS DA NATUREZA
por Silvia laKaToS
A ameaça que vem dos
pastos
Animais ruminantes, como
vacas e ovelhas, emitem
mais gases de efeito estufa
que os automóveis movidos
a combustíveis fósseis
Além de serem fonte de nutrientes
para o ser humano, vacas, búfalos,
ovelhas e cabras são associados a
animais que vivem em equilíbrio com
o meio ambiente. Por que hoje essa
percepção mudou?
Estima-se que se a taxa atual de
aumento de gases de efeito estufa
no planeta continuar pelo próximo
século, as temperaturas médias
globais poderão subir 0,8 ºC por
década. Quais os efeitos disso?
O Brasil tem o segundo maior
rebanho bovino do mundo em
número de cabeças, atrás apenas
da Índia. Qual é a porcentagem de
emissão de gás metano proveniente
da criação de bovinos no país?
A expectativa dos economistas é de
que a produção mundial de carne e
leite no mundo deverá dobrar nos
próximos 30 anos, agravando o
problema do aquecimento global.
Quais são as alternativas?
V
acas, búfalos, camelos, ovelhas, cabras...
Além de servirem de alimento para o ser
humano e de ostentarem um ar pacífico,
inofensivo, o que mais esses animais têm
em comum?
Resposta: eles são uma ameaça para o
meio ambiente.
Isso porque o sistema digestivo dos ruminantes funciona
como uma pequena fábrica de emissão de CH4 (metanol), um
gás de efeito estufa (GEE) que pode ser até 20 vezes mais pre-
judicial para o ambiente do que o CO2 (dióxido de carbono)
emitido sobretudo pela queima de combustíveis fósseis.
Os GEEs dificultam ou impedem a dispersão, para o espaço,
Heath Johnson/Shutterstock
da radiação solar que é refletida pela Terra. Ao segurar o ca-
lor em nosso planeta, esses gases provocam um aumento da
temperatura terrestre, o que, por sua vez, acarreta mudan-
ças climáticas.
AGOSTO 2018 | aTualiza
 36 | CIÊNCIAS DA NATUREZA
Estima-se que, se a taxa atual de
aumento de gases do efeito estu-
fa no planeta continuar pelo pró-
ximo século, as temperaturas mé-
dias globais poderão subir até
0,8 oC por década. Desta forma,
em 2100 a Terra estará 3,5 oC mais
quente do que hoje. Tal aumento
nas temperaturas implicaria em
drásticas consequências em esca-
la global.
Estudos indicam que a flatulên-
cia, a degradação dos dejetos e a
eructação (arrotos) do gado res-
pondem por 9% do total mundial
de emissões de gases de GEEs; ou-
tros 9% vêm dos processos neces-
sários à produção pecuária, espe-
cialmente a derrubada de mata
nativa para a formação de novas
pastagens – é alta a emissão de
CH4 pelo material orgânico em de-
composição – e o transporte das
reses, que muitas vezes percorrem
quilômetros entre sua origem e os
locais de abate e comercialização.
Ou seja: a pecuária responde
por 18% das emissões de GEEs no
mundo contra 13,5% das emissões
oriundas dos veículos movidos a
combustíveis fósseis.
No Brasil, que tem o segundo
maior rebanho bovino do mun-
do (em número de cabeças, só
perdemos para a Índia), a ativida-
de pecuária é uma das principais
vilãs ambientais. De acordo com o
Shutterstock
aTualiza | AGOSTO 2018
estudo “Emissão de metano pela Em 2100 a
pecuária”, produzido pela Em-
Terra estará
presa Brasileira de Pesquisa Agro-
pecuária (Embrapa), nada menos 3,5 ºC mais
quente do que
que 96% do total de emissões bra-
sileiras de gás metano são pro-hoje e esse
venientes da criação de bovinos.
Durante seu ciclo de vida, cada
aumento de
temperatura
cabeça despeja cerca de 57 kg de
gás metano na atmosfera. implicará
drásticas
O porquê dessas emissões
O estômago dos ruminantes é
consequências
muito desenvolvido e divide-se globais
em rúmen, retículo, omaso e abo-
maso (ou coagulador). Popular-
mente, há quem afirme que esses
animais possuem “quatro estô-
magos”.
Em um primeiro momento, es-
ses animais mastigam pouco o ali-
mento, que vai para o rúmen, onde
sofre a ação de bactérias, proto-
zoários e fungos que degradam a
celulose. Ali há a produção de áci-
dos orgânicos, que, por sua vez, são
absorvidos pelas papilas ruminais
encontradas na parede do rúmen,
fornecendo energia e nutrientes ao
animal, mas também produzindo
metano e gás carbônico.
Depois de ser processado no
rúmen, o alimento segue para o
retículo, onde as bactérias e os
protozoários continuarão o pro-
cesso de degradação da celulo-
se iniciado no rúmen. Depois de
se misturar à saliva, o alimento é
regurgitado – isto é, volta para a
boca – e mastigado novamente.
O retículo também é “equipa-
do” com inúmeras pregas que re-
têm corpos estranhos. Ou seja:
pedras, pregos e outros elemen-
tos que poderiam causar a morte
do animal, se fossem engolidos,
acabam por ser “filtrados” nessa
etapa da digestão.
Depois de muito mastigar o ali-
mento regurgitado, os ruminan-
tes o engolem. Nessa etapa, entra
em cena o “terceiro estômago”
dos ruminantes, chamado de
omaso ou folhoso. Ali, inúmeras
lâminas musculares exercem as
funções de reduzir as partículas
alimentares e absorver a água, os
sais minerais e os ácidos graxos.
Saindo do omaso, o alimento
segue para o abomaso ou coagu-
lador, onde as glândulas secre-
tam enzimas, como a pepsina e
o pepsinogênio, hormônios (gas-
trina), ácido clorídrico e água. É
nessa etapa que ocorre a digestão
das proteínas e também das bac-
térias provenientes do rúmen e
do retículo.
A absorção do alimento, ini-
ciada no omaso, termina no in-
testino delgado, com a ação das
enzimas pancreáticas (tripsina,
quimiotripsina, amilase pancreá-
tica, lipase) e intestinais (lactase,
maltase, sacarase, dissacarida-
ses, entre outras).
A maior parte da água ingeri-
da é absorvida no intestino grosso,
onde também existe uma peque-
na quantidade de microrganismos
semelhantes aos encontrados no
rúmen, o que permite finalizar
a fermentação e a degradação de
qualquer resquício de celulose.
O complexo método digestivo
dos ruminantes é muito eficien-
te para uma dieta pobre em pro-
teínas, pois as próprias bactérias
são igualmente digeridas pelos

animais, convertendo-se em fon-
tes de proteínas. Entretanto, o
dióxido de carbono e o metano
são os produtos secundários do
metabolismo fermentativo des-
sas bactérias.
O que fazer?
Com a expectativa de dobrar a
produção mundial de carne e lei-
te nos próximos 30 anos, a huma-
nidade precisa encontrar urgen-
temente uma saída.
Uma das apostas dos pesquisa-
dores tem sido a melhoria gené-
tica. O projeto “Pecuária de bai-
xa emissão de carbono: geração
de valor na produção intensiva de
carne e leite”, coordenado pelo
Ministério da Agricultura, Pecuá-
ria e Abastecimento (Mapa) com
o apoio do Instituto Interameri-
cano de Cooperação para a Agri-
cultura (IICA), já permitiu detec-
EM FOCO
C3     Associar intervenções que
resultam em degradação
ou conservação ambiental a
processos produtivos e sociais
e a instrumentos ou ações
científico-tecnológicos.
H12 Avaliar impactos em ambientes
naturais decorrentes
de atividades sociais ou
econômicas, considerando
interesses contraditórios.
O presidente da Mercedes-Benz do
Brasil, Philipp Scheimer, afirmou que
o automóvel tem sua parcela de par-
ticipação no aquecimento global, mas
não é o “grande vilão”. Segundo o exe-
cutivo da Mercedes, “vacas são res-
ponsáveis por 18% do aquecimento
global, enquanto o setor de transporte
responde por 13,5%”.
Disponível em: <http://economia.
estadao.com.br/noticias/geral,
Alex Marakhovets/Shutterstock
gases-de-bovinos-causam-mais-efeito-
estufa-que-os-automoveis,174754e>.
Acesso em: 20 abr. 2018.
A afirmação do executivo, feita em
2014, está correta em relação à
contribuição do gado bovino para o
tar que o aumento do desempenho produtivo aquecimento global porque
do animal é uma estratégia interessante. Isso a) o consumo das pastagens reduz
porque as reses que alcançarem níveis pro- o sequestro de gás carbônico, o
dutivos maiores, com a otimização do uso de principal gás estufa, pelas plantas.
energia do corpo, deverão, consequentemen- b) o metano liberado na atividade
te, excretar um volume menor de dejetos. excretora do gado é um gás capaz
Como a decomposição dos dejetos é uma de degradar a camada de ozônio
das principais responsáveis pela emissão de da atmosfera.
metano, as táticas de mitigação podem aju- c) o metano liberado nos processos
dar a reduzir em até 35% esse impacto. fermentativos que ocorrem no
O confinamento do gado (em que a mes- sistema digestório do gado é um
ma engorda é obtida com 10% a menos de ali- gás capaz de reter calor na at-
mentos) e o uso de alimentos de melhor di- mosfera.
gestibilidade são algumas das “luzes no fim d) o metano liberado nos processos
do túnel” dos pesquisadores. fermentativos que ocorrem no
Uma coisa é certa: as futuras gerações so- sistema digestório do gado é um
frerão as consequências de nossas ações no gás capaz de degradar a camada
presente. Se a solução virá das mudanças de ozônio da atmosfera.
nos hábitos de consumo ou do incremento às e) o consumo de carne eleva a libe-
tecnologias de produção, não sabemos ain- ração de metano, o principal gás
da. Talvez a resposta esteja justamente em estufa, pelo sistema digestório
combinar as duas possibilidades, produzin- humano.
do com mais eficiência e consumindo com Resposta: c
menos avidez.
AGOSTO 2018 | aTualiza
 38 | MATEMÁTICA
por sILvIA LAkATos

Metros, litros, jardas...

a hist—ria das medidas

R
esponda rápido: quantos cen-
O Sistema
tímetros tem uma polegada? E
Internacional Unificado quantos metros tem uma jarda?
tem menos de 60 anos, Você sabe explicar o que significa
“uma milha”?
mas a humanidade
Se foi difícil responder de ime-
tenta estabelecer diato às perguntas acima, ape-
padrões para o sar de os termos soarem familiares para você, não
se preocupe. Polegadas, jardas e milhas são medi-
tempo, o espaço e as
das utilizadas no Reino Unido e Estados Unidos. No
dimensões desde seus Brasil, adotamos o Sistema Internacional de Unida-
primórdios des, surgido na França no século 18. Baseado em um
sistema de medição decimalizado, ele é, desde 1960,
reconhecido internacionalmente como sistema mé-
trico padrão.
279photo Studio/Shutterstock
O surgimento desse sistema re-
monta aos valores iluministas que
nortearam a Revolução Francesa.
Com a destituição da monarquia
veio a vontade de criar um sistema
de medidas baseado na natureza,
e não em atributos dos corpos dos
monarcas. Por exemplo: a medida
“um pé” se referia, literalmente,
ao tamanho do pé do rei.
Um pouco de Hist—ria
Registros históricos da Babi-
lônia (2300 a.C.) e do Egito anti-
go (3100 a.C.-30 a.C.) descrevem

ATUALIZA  |  AGOSTO 2018
 Polegadas, jardas, Nas antigas Os franceses O Sistema
milhas são medidas civilizações, como instituíram o sistema Internacional de
utilizadas nos as do Egito e métrico no fim do Unidades, criado
Estados Unidos e da Babilônia, século 18, designando em 1960 na 11a
no Reino Unido. No utilizavam-se uma única unidade Conferência Geral
Brasil, adota-se o partes do corpo – e seus múltiplos de Pesos e Medidas,
Sistema Internacional humano, como de 10 – para cada estabeleceu
de Unidades, surgido braços e dedos para quantidade física. um grupo de
na França no século definir dimensões. Como pode ser sete grandezas
18. Em que ele é Como esses povos definido o metro? independentes.
baseado? mediam o tempo e Explique o que
padronizavam pesos? são elas e sua
importância.

a utilização de mãos, braços e de-
dos para definir comprimentos, a
observação de períodos solares e
lunares para mensurar o tempo e
o uso de sementes e pedras para
padronizar pesos. O quilate, por
exemplo, é uma unidade de massa
com valor de 200 mg originada do
uso da semente de alfarrobeira.
O avanço da civilização trouxe
a necessidade de definir padrões,
e os reis passaram a estabelecer
medidas com base em elementos
diversos. O problema é que essas
medidas só valiam para aquele rei-
no, e muitas vezes eram alteradas
com a mudança de reinado.
A revolução científica que teve
lugar durante o Renascimento,
iniciado no século 14, impôs a
necessidade de aprimorar méto-
dos e conceitos. Sir Isaac Newton,
por exemplo, vale-se das medidas
de pé (parisiense) em sua obra
Philosophiae Naturalis Principia
Mathematica, de 1687. Pouco an-
tes disso, em 1668, o filósofo inglês
John Wilkins já havia sugerido a
utilização do segundo como unida-
de básica de tempo. Seu padrão mé-
trico, chamado simplesmente de
standard (padrão), era incrivelmen-
te próximo do metro que seria ado-
tado como unidade de comprimento
pela Assembleia Nacional Francesa
a partir de 1791 – quando alguns dos
nomes de maior destaque no mundo
científico da época estabeleceram o
uso da base decimal.
Assim, já no fim do século 18, os
franceses instituíram o sistema
métrico, que designou uma única
unidade – e seus múltiplos de 10 –
para cada quantidade física. O me-
tro, por exemplo, surgiu como uma
fração da distância entre o equador
e o polo norte.
Mas, à proporção que o conhe-
cimento sobre a natureza se apro-
fundava, as medidas também
passavam por aprimoramentos
científicos. O Sistema Internacio-
nal de Unidades que vigora hoje
foi criado em 1960, na 11a Confe-
rência Geral de Pesos e Medidas
(CGPM). Ali, os cientistas estabe-
leceram um grupo de sete grande-
zas independentes, denominadas
“grandezas de base”. A partir delas,
as demais grandezas – chamadas de
“derivadas” – são definidas e têm O Brasil
suas unidades de medida deter-
minadas.
utiliza o
Algumas unidades derivadas Sistema
recebem um “nome especial”, Internacional
que, na verdade, nada mais é
de Unidades
que uma forma compacta da ex-
pressão de combinações de uni- baseado em
dades de base. Por exemplo: o um sistema
joule (símbolo J) é, por defini- de medição
ção, igual a m 2 kg s -2. Atualmen-
te, 22 nomes especiais para uni- decimalizado
dades são reconhecidos para que, desde
uso no SI. 1960, é
Além disso, o Sistema Interna-
reconhecido
cional de Unidades (SI) especifica
um conjunto de prefixos de uni- no mundo
dade, conhecidos como prefixos todo como
SI ou prefixos métricos. Um pre- sistema
fixo SI é o nome que precede uma
unidade básica de medida para in- métrico
dicar um múltiplo ou fração deci- padrão
mal da unidade.
Cada prefixo tem um símbolo
único, que é colocado adiante do
símbolo da unidade. Os prefixos
SI foram padronizados pelo Bureau
Internacional de Pesos e Medidas
(BIPM), em resoluções tomadas
de 1960 até 1991.
A principal função dos prefixos
SI é reduzir o número de zeros
mostrado em quantidades numé-
ricas antes ou depois do ponto de-
cimal. Por exemplo, uma corrente
elétrica de 0.000000001 ampère,
ou um bilionésimo (pequena es-
cala) de um ampère, é escrito com
prefixo SI nano, como 1 nanoam-
père ou 1 nA.

AGOSTO 2018  |  ATUALIZA
 40 | MATEMÁTICA
Vetreno/Shutterstock
O Sistema Internacional de Uni-
dades especifica vinte prefixos.
Em campos específicos (saú-
de, ensino e comércio), cada país
pode estabelecer suas próprias re-
gras de uso das unidades de medi-
da das grandezas. A Organização
Internacional de Metrologia Le-
gal (OIML), criada em 1955, tem
como atribuição cuidar da harmo-
nização internacional das legisla-
ções dos países em relação às uni-
dades de medida.
Medidas que não
integram o SI
Polegada: o termo inch, que de-
signa polegada em inglês, deriva
do latim uncia, que significa “a
duodécima parte” (ou “um doze
avos”), e define bem a unidade de
medida: uma polegada correspon-
de a 1/12 de um pé, ou seja, 2,54
centímetros.
Arroba: sua denominação vem
do árabe ar-rub, que significa “a
quarta parte”. Isso porque, ini-
cialmente, essa unidade de mas-
sa equivalia a “um quarto de um
quintal”, que era a medida de
massa utilizada em Portugal, no
Brasil e na Espanha. Hoje está
convencionado que a arroba cor-
responde a 15 kg.
Nó: medida de velocidade, cujo
nome advém de uma antiga prá-
tica nas embarcações. Para me-
lhor entendê-lo, precisamos falar
de um aparelho que, no século 16,
ATUALIZA  |  AGOSTO 2018
os portugueses começaram a uti-
lizar durante as navegações. Cha-
mada de barquinha (ou barca), a
engenhoca servia para estimar a
velocidade do deslocamento da
embarcação. Para tanto, jogava-
-se ao mar um batel (peça de ma-
deira triangular) e observava-se
o número de nós que se despren-
diam do carretel em determinado
tempo. Em média, o nó equivale
a uma milha náutica por hora, ou
seja, 1 852 metros/hora.
Libra: chamada de pound em in-
glês, é uma das unidades usuais do
sistema de medição utilizado nos
Estados Unidos. Apesar das dife-
rentes definições ao longo dos anos,
é convencionado hoje que uma li-
bra equivale a 0,45359237 kg. Seu
nome deriva do latim libra, que sig-
nifica balança. Curiosidade: o san-
duíche “quarteirão com queijo”, em
inglês, chama-se “quarter pound
with cheese” porque o hambúr-
guer do recheio pesa ¼ de libra,
ou 0,113398 kg (pouco mais de
110 gramas).
Pé: unidade de medição de dis-
tância utilizada desde a Grécia
antiga. Passou por diversas mu-
danças ao longo do tempo. Hoje a
unidade de medida pé equivale a
0,3038 metros (ou 12 polegadas)
e é adotada nos EUA e no Reino
Unido, por exemplo.
Jarda: equivalente a três pés,
36 polegadas ou também a
0,9144 metro. Uma das explica-
ções para seu surgimento remonta
EM FOCO
C3 Construir noções de
grandezas e medidas
para a compreensão da
realidade e a solução de
problemas do cotidiano.
H10 Identificar relações entre
grandezas e unidades de
medida.
O Sistema Internacional de
Unidades (SI), criado em 1960,
abrange, entre outras, as unida-
des de comprimento, massa e
tempo, que podem ser escritas
de diferentes formas (quilômetro,
metro, quilograma, grama, hora,
segundo), sendo frequente a ne-
cessidade de efetuar conversões.
Em um trabalho escolar, um alu-
no converteu corretamente as
medidas 356 cm, 5,3 kg, 24 m/s e
60 km/h para, respectivamente:
a) 3,56 m, 5 300 g, 86,4 km/h e
16,7 m/s.
b) 0,356 m, 0,053 g, 6,7 km/h e
216 m/s.
c) 3,56 m, 0,053 g, 6,7 km/h e
16,7 m/s.
d) 0,356 m, 5 300 g, 86,4 km/h
e 216 m/s.
e) 3,56 m, 5 300 g, 6,7 km/h e
216 m/s.
Resposta: a
ao reinado de Henrique I, que governou a Inglaterra
de 1100 a 1135: ele teria determinado a jarda como a
distância entre seu nariz e o polegar de seu braço es-
tendido.
Milha: padronizada apenas em 1959, a milha terres-
tre equivale a 1,609344 quilômetros, ou 5 280 pés.
Embora seja adotada em países de língua inglesa, sua
origem está na República de Roma (509 a.C.-27 a.C.),
onde cada milha equivalia a 1 000 passos (mille pas-
sus, no latim) dados pelo centurião, e variavam entre
1 400 e 1 580 metros, aproximadamente.
Quartilho: em inglês, pint. Medida de volume mui-
to usada nos Estados Unidos e em diversos países da
Europa. Gira em torno de meio litro, mas não tem
um padrão específico: no Reino Unido, por exemplo,
equivale a 568,26125 mL, enquanto nos Estados Uni-
dos está fixado em 473,176473 mL.
 BACKUP 41
A MEMÓRIA REVISITADA

Imagens: Banco de Imagens/Ex Libris

1818
(Há 200 anos)

Nascimento de 1918
(Há 100 anos)
Karl Marx
Nascido em 5 de Os 14 pontos de 1938
(Há 80 anos)
maio de 1818 em Wilson
Trier (Alemanha), A Primeira Guerra Golpe 1958
Karl Heinrich Mundial terminou integralista (Há 60 anos)
Marx foi um dos em 1918 depois Depois de terem Brasil campeão
fundadores do de quatro anos apoiado o golpe mundial 1968
(Há 50 anos)
comunismo, a ideia de devastação que instalou o Oito anos depois
de uma revolução sem paralelo na Estado Novo da decepção de ter Fim da
dos trabalhadores história. Potências em 1937, a Ação perdido em casa Primavera 1988
(Há 30 anos)
que substituiria o vencedoras, França Integralista a Copa do Mundo Em agosto de
capitalismo por e Reino Unido Brasileira (AIB, de Futebol para o 1968, as tropas do Constituição
uma sociedade sem queriam punir a versão verde- Uruguai, o Brasil se Pacto de Varsóvia Cidadã
classes. Vivendo no principal perdedora, -amarela do tornou campeão (aliança militar Depois de 21
exílio a maior parte a Alemanha. Mas o nazifascismo) pela primeira vez liderada pela anos de ditadura
de sua vida, Marx e presidente dos EUA, esperava participar na Suécia, em União Soviética) militar, o primeiro
seu companheiro Woodrow Wilson, da ditadura. Mas 29 de junho de puseram fim Congresso eleito
Friedrich fez uma proposta eles se sentiram 1958. Dezesseis à experiência se transformou
Engels também que, segundo ele, traídos pelo seleções nacionais liberalizante que em Congresso
participaram das destinava-se a ditador Getúlio participaram daquela ficou conhecida Constituinte,
lutas de seu tempo. evitar novas guerras Vargas quando Copa: Suécia, como “Primavera produzindo uma
Escreveram O imperialistas. Eram este decretou o Alemanha Ocidental, de Praga”. Desde das constituições
Manifesto Comunista os “14 pontos”, fechamento de Áustria, França, janeiro, quando mais avançadas do
em 1848, pouco que enfatizavam todos os partidos Tchecoslováquia, Alexander Dubček mundo do ponto
antes das revoluções o fim dos acordos políticos. Os Hungria, União substituíra os de vista político
democráticas e diplomáticos integralistas Soviética, Iugoslávia, stalinistas na e social. A Carta
nacionalistas que secretos; a livre organizaram uma Inglaterra, Irlanda do direção do Partido define como crimes
abalariam a Europa. navegação e o ação insurrecional Norte, Escócia, País Comunista da inafiançáveis
A primeira parte fim das barreiras em março, de Gales, Argentina, Tchecoslováquia, a tortura e
da principal obra econômicas; redução rapidamente Brasil, México e foram implantadas ações armadas
de Marx, O Capital, dos exércitos; livre reprimida, e outra Paraguai. A Copa do medidas como contra o Estado
foi publicada em determinação dos em maio. Nesta Mundo da Suécia relaxamento Democrático.
1867. Marx saudou povos e nações e última, tentaram revelou os talentos à censura e à Outras conquistas
a Comuna de Paris formação de uma tomar o Palácio de vários jogadores, circulação de importantes foram
(1871) como a associação das Guanabara entre eles Pelé e pessoas e de o direito à licença-
primeira revolução nações (embrião (residência do Garrincha. A seleção descentralização -maternidade
operária da história. da Organização das presidente da brasileira disputou a econômica. e a garantia ao
No final do século Nações Unidas). O República no Rio final com a Suécia, Temendo uma réu de não se
19, as ideias de projeto foi rejeitado de Janeiro). Apesar vencendo a partida repetição dos autoincriminar, além
Marx se tornaram por franceses e do elemento por 5 X 2. A vitória da acontecimentos da destinação de
hegemônicas britânicos, que surpresa, foram “seleção canarinho” da Hungria em fatias dos recursos
no movimento impuseram pesadas rechaçados por reforçou o clima de 1956, quando os do Orçamento para
operário europeu sanções econômicas forças do governo. otimismo vigente comunistas locais a educação, a cultura
e inspiraram à Alemanha, Seus principais durante o governo se voltaram contra e a previdência.
a Revolução estipuladas pelo líderes, como Plínio de Juscelino os soviéticos, a Também fortaleceu
Bolchevique de 1917, Tratado de Versalhes, Salgado, foram Kubitschek de URSS interrompeu o papel do
na Rússia. de 1919. presos e exilados. Oliveira. a experiência. Ministério Público.

AGOSTO 2018  |  ATUALIZA
42 | LINGUAGENS
 por LUIZ chAgAs

O fundador
da arte
moderna
Banco de Imagens/Ex Libris

Marcel Duchamp no Walker Art Center (Minnesota/EUA), 1965.

ATUALIZA  |  AGOSTO 2018

Nascida de uma brincadeira de Marcel Duchamp
no início do século 20, a arte moderna só
deslancharia plenamente muito tempo depois
A
data de nascimento, assim como
a conceituação do que é moder-
nismo, seja em arte, seja em li-
teratura, é motivo de constantes
e aprofundadas discussões. Em
pintura, pelo menos, o consenso
é que coincide com o avanço tec-
nológico alcançado pela humanidade nos últimos
quatro ou cinco séculos.
O polivalente artista inglês David Hockney, por
exemplo, desenvolveu uma teoria que batizou de
“o conhecimento secreto”, defendendo que os “gê-
nios” da pintura da Renascença se valiam de instru-
mentos ópticos, ou seja, espelhos, lentes e câmaras
escuras, para obter os enquadramentos, os efeitos
de perspectiva, impossíveis de serem assimilados a
olho nu. Contemporâneo desses mestres, o japonês
Katsushika Hokusai registrou imagens que só recen-
temente puderam ser reproduzidas mecanicamente,
caso do célebre quadro A grande onda de Kanagawa.
O padrão que fixou na tela, com as gotas formando
uma espécie de “tesourinha”, só pôde ser captado
em fotografia a uma velocidade de 1/5 000 de segun-
do. Como Hokusai “teria visto” isso?
Mas o que se convencionou chamar de arte mo-
derna, grosso modo, veio com o abandono do “olhar
desarmado”, o desinteresse pela fixação da realidade
imediata. A despeito dos “surrealismos”, tidos como
involuntários, de Hieronymus Bosch no século 15 ou
dos delírios pontilhistas mais recentes de Vincent
van Gogh, o que definitivamente chocou o especta-
dor foi o cubismo da virada do século 20, sugerido
por Georges Braque e Pablo Picasso, algo que deu
origem a uma infinidade de “is-
mos” e comportamentos “chocan-
tes”, “modernos”.
A partir daí, o que se viu é que a
avalanche iniciada com o abando-
no da observação não teria fim, e o
cataclismo artístico foi avançando
exclamativamente: “chega de for-
ma!”, “basta de cor!”, “adeus mol-
dura!”, “esqueçam as telas!”, “não
queremos museus!”, “cidades,
não!”, e por aí foi. Ladeira abaixo.
Em meados dos anos 1970, Tom
Wolfe, o jornalista e influenciador
cultural estadunidense, deitou e
rolou com a crítica de arte em seu
livreto A palavra pintada, que fla-
gra o decano do jornal The New
York Times confessando que para
uma pintura ser devidamente ob-
servada “é crucial que obedeça a
uma teoria convincente!”. Ou seja,
arte: só com bula.
Isso tudo remete a uma conhe-
cida e provavelmente fictícia ane-
dota envolvendo dois gênios espa-
nhóis. Pablo Picasso e Joan Miró.
De acordo com a lenda, o segun-
do, como sempre formal, de terno
e meio deprimido, visitava a nova
propriedade parisiense do primei-
ro – como sempre esfuziante, de
bermudas, chinelos e chapéu
Apesar da pintura
“surrealista” de Hieronymus
Bosch, no século 15, e do
pós-impressionismo, foi a
escola cubista que chocou a
sensibilidade ocidental.
Pode-se dizer que ela
originou a arte moderna?
As primeiras obras de Marcel
Duchamp foram vistas como
aparentadas ao cubismo,
mas com o tempo, suas
pinturas foram se tornando
cada vez mais herméticas.
Como a crítica interpretou
essas obras?
Em 1917 Marcel Duchamp
foi convidado para expor
em um evento de artistas
independentes em Nova
York. Qual foi a obra que
chocou o público e os críticos
e por que ela adquiriu tanta
importância?
Em 1975, o jornalista e
escritor estadunidense
Tom Wolf escreveu o livro
A palavra pintada, no qual
critica os caminhos da
chamada arte moderna.
Qual foi o teor principal
dessa crítica?
AGOSTO 2018  |  ATUALIZA
 44 | LINGUAGENS
Banco de Imagens/Ex Libris

desabado. Só que, a uma dada al-

tura, o dono da casa abre o jogo
dizendo que sempre invejou o co-
lega. E explicou o motivo: “Se eu
pegar uma pedra no chão vão di-
zer que é uma ‘pedra da casa de Pi-
casso’. Se você exibir a mesma pe-
dra, dirão ‘uma pedra de Miró!’”.
Ou seja, o que interessa mesmo
no final das contas é o conceito. E
não é à toa que a pós-modernida-
de, do Grupo Fluxus, de John Cage
e Yoko Ono, aos adeptos da ban-
da Sonic Youth, se voltou para um
nome que emitia conceitos para
todos os lados, em tempo integral,
desde que surgiu nas primeiras
A grande onda de Kanagawa é uma famosa xilogravura do mestre japonês Hokusai décadas do século 20: Marcel Du-
(1829–1832, dimensões: 26 cm X 38 cm). champ (1887-1968)!
Descrito como pintor, escultor e
não raro enxadrista, o francês viveu
Banco de Imagens/Ex Libris

a vida toda adiante de seu tempo

desembarcando nos Estados Uni-
dos já na segunda década do sé-
culo 20, como se previsse o apogeu
econômico da jovem nação – ele
sempre cuidou pessoalmente de ir
enviando sua obra para esse país
onde se encontra reunida, algo
que poucos artistas alcançaram.
Suas primeiras pinturas foram
vistas como aparentadas com o
cubismo, o que negava, contestan-
do o que chamou de arte retinia-
na, ou seja, “vista com os olhos”.
Para ele, a arte devia ser vista com
a mente. Com o tempo, além de
escassas (“de longa gestação”, po-
de-se dizer), suas pinturas foram
se tornando mais e mais incom-
preensíveis. Aqueles que são con-
siderados seus maiores trabalhos
na área consumiram muito tempo
para serem feitos, caso de O gran-
de vidro ou A noiva despida por seus
O grande vidro (1915-1923).
celibatários (1915-1923) e do der-
radeiro Sendo dados: 1o A cascata e
2o O gás de iluminação (1946-1966).
A crítica nunca chegou a um

ATUALIZA  |  AGOSTO 2018

Marcel Duchamp como Rrose Sélavie (nome cujo som é algo
como “é a vida”, em francês), fotografado por Man Ray.
consenso ou sequer a uma tentativa
de interpretação de nenhum deles.
Sempre escrevendo e conceituan-
do, ou jogando xadrez com habili-
dade, Duchamp foi um mestre da
autopromoção e, entre outras ex-
centricidades, travestiu-se crian-
do um personagem, Rrose Sélavie,
que aparecia em público e assi-
nava obras – isso nos anos 1920!
O irrequieto artista ficou casado
durante seis meses com a pri-
meira esposa, teve um caso com
Maria Martins, esposa do embai-
xador brasileiro nos Estados Uni-
dos nos anos 1940, voltando a se
casar uma década depois com a
enteada do pintor Henri Matisse,
ao lado de quem ficou até o fim.
Sua vida se resumiria a isso, não
fosse uma atitude bem-humora-
da, que começou como brincadei-
ra e acabaria sendo considerada
“a obra mais transformadora do
século 20”.
Banco de Imagens/Ex Libris
Convidado para expor em um
evento nova-iorquino de artistas
independentes, realizado há um
século, Marcel encomendou de
uma loja especializada, para ser
entregue diretamente na mos-
tra, um urinol de porcelana com
a inscrição R. Mutti. A “obra”
foi recusada, mas o que Marcel
Duchamp batizou de ready made,
ou seja, “já feito”, “pronto” in-
fluenciou, principalmente a par-
tir dos anos 1960, tudo o que co-
nhecemos como moderno. Da arte
conceitual à pop, da lata de sopa de
Andy Warhol aos happenings. Do
nada, Duchamp havia dado adeus
aos pigmentos, às superfícies, à
luz, aos cenários, aos trâmites,
à dor da criação com sua atitude
destemida. Mas o mundo teve
de esperar pelo menos meio sé-
culo para que a novidade se es-
palhasse e a mensagem fosse
atendida.
EM FOCO
C4 Compreender a arte como saber
cultural e estético gerador de
significação e integrador da
organização do mundo e da própria
identidade.
H13 Analisar as diversas produções
artísticas como meio de explicar
diferentes culturas, padrões de beleza
e preconceitos.
A pop art foi um movimento artístico que sur-
giu na década de 1960, nos Estados Unidos,
tendo Andy Warhol e Roy Lichtenstein como
seus grandes expoentes. Com a proposta de
aproximar a arte do cotidiano, apropriava-se
de objetos de uso popular, como lâmpadas
elétricas, latas de alimentos e eletrodomés-
ticos, em suas composições.
A imagem a seguir é uma arte de rua exis-
tente em Montreal, no Canadá, inspirada em
Marilyn (1967), obra de Andy Warhol.
meunierd/Shutterstock
Na obra original, a repetição sequencial da
imagem de Marilyn Monroe, em consonân-
cia com os princípios da pop art, pode repre-
sentar
a) a importância da indústria cinematográ-
fica contemporânea.
b) a onipresença midiática de grandes ar-
tistas cinematográficos.
c) a ligação íntima do artista com celebri-
dades de sua época.
d) a produção em série, até de celebrida-
des, para consumo popular.
e) o naturalismo característico da chama-
da arte moderna.
Resposta: d
AGOSTO 2018  |  ATUALIZA
 46 | LINGUAGENS
por LUIZ chAgAs
Luz Rosa/Shutterstock

ATUALIZA  |  AGOSTO 2018
 O prédio do Museu O acervo do Masp é um O vão livre do Masp Antes de se mudar
de Arte de São Paulo dos mais importantes é um dos maiores do para a avenida Paulista,
foi inaugurado há do mundo, incluiu mundo e foi calculado o Museu de Arte de
50 anos com a obras de Cézanne, pelo engenheiro José São Paulo ocupava
presença da rainha Renoir, Monet e Carlos de Figueiredo quatro andares em
Elizabeth II. Quem Picasso, entre muitas Ferraz, que depois seria prédio da rua 7 de Abril,
foram as três principais outras. Como foi que prefeito de São Paulo. no centro da cidade.
personalidades sobre parte desse acervo Qual é a origem desse Quais escolas famosas
as quais a história do foi conquistado vão livre do museu? saíram de lá?
museu repousa? inicialmente?

Os brutos também
são amados
prédio do Museu O museu em si, como entida-

O
Há 50 anos, de Arte de São
Paulo, engasta-
a rainha
do em um tra-
Elizabeth II pézio vermelho
d u p l o s i t ua d o
vinha ao Brasil
no número 1578
para inaugurar da avenida Paulista, completa meio
século este ano. O espaço livre sob a
o edifício do
massa de concreto apoiada nos qua-
Museu de Arte tro pilares, 74 m2 que têm resistido a
tudo, de shows de Daniela Mercury à
de São Paulo
tradicional Feirinha de Antiguidades,
(Masp), um e que hoje servem de ponto de partida
para caminhadas de protesto de todos
dos maiores
os matizes ideológicos, já foi conside-
da América rado o maior vão livre do mundo. Mas
na verdade o “jovem” Masp repousa
Latina
sobre três pilares apenas, três nomes,
três personalidades – distintas? São
eles o jornalista, empresário e aven-
tureiro paraibano Francisco de Assis
Chateaubriand Bandeira de Melo, que
lhe dá nome, e o casal italiano formado
pelo crítico e colecionador Pietro
Maria Bardi, responsável pelo acer-
vo de renome mundial, e a arquiteta
Achilina Bo, a Lina, criadora do prédio.
de, surgiu duas décadas antes, em
1947, quando o jornalista conhe-
ceu o casal em lua de mel e imedia-
tamente convidou-o para traba-
lhar junto com ele na construção
da sede de seu império de comu-
nicações. Chatô, como Assis
Chateaubriand era conhecido,
possuía os Diários Associados,
formados por dezenas de jornais
e emissoras de rádio espalhados
pelo país, agência de notícias, edi-
tora, e preparava-se para entrar
no ramo da televisão – do qual
seria pioneiro e durante um bom
tempo líder absoluto. Apoiando
e sendo apoiado pelo presidente
ex-ditador Getúlio Vargas, o pa-
raibano era afeito a práticas beli-
cosas em termos comerciais, que
iam da intimidação velada à chan-
tagem pura e simples. Assim, de-
pois de revolucionar a aviação
brasileira a partir de 1941 com
seu programa “Deem asas para o
Brasil”, que permitiu o surgimen-
to de aeroclubes, a formação de

AGOSTO 2018  |  ATUALIZA
 48 | LINGUAGENS
Banco de Imagens/Ex Libris
pilotos mediante “doações” para a compra de cente-
nas de aviões de treinamento, Chatô resolveu turbi-
nar a cultura.
Bardi, que pensava em passar um ano no Brasil e
não a vida toda, como ocorreria, já havia nos visitado
13 anos antes a caminho de Buenos Aires, para onde
estava levando uma exposição. Agora, ao lado de sua
segunda mulher, apresentava uma mostra italiana que
viera acompanhada de sua enorme biblioteca particu-
lar. Diante de tal oportunidade, Chatô, além de con-
vidá-lo para organizar o museu que tinha em mente,
estendeu a atenção para Lina, que imediatamente se
entusiasmou com a chance. O jornalista havia lhes
oferecido o segundo andar do prédio projetado pelo
francês Jacques Pilon para ser a sede dos Diários As-
sociados, situado no centro de São Paulo, na rua 7
de Abril. Uma área de nada menos do que 1 000 m2,
cujas paredes e espaços decorativos Lina eliminaria
para dar lugar às salas de exposições, cursos e demais
atividades, pois o casal trazia uma concepção museo-
lógica multidisciplinar décadas à frente de entidades
como o Centro Pompidou parisiense.
O acervo inicial composto das obras do próprio
Bardi e de Chatô, que incluíam um Picasso e um
Rembrandt, logo foi enriquecido graças a um insight do
jornalista. Segundo ele, “chegou a hora de se avançar
sobre um mundo ou pelo menos uma Europa dizi-
mada pela guerra que está vendendo tudo a preço de
banana”. E ele sabia como agir. O esquema era azei-
tadíssimo. Os empresários entravam com o dinheiro
em troca de anúncios nos jornais; as aquisições ori-
ginavam “títulos de mecenas” entregues em festas
suntuosas – e rentáveis. A chegada das obras promo-
via mais festas, igualmente pródigas em novos negó-
cios. Assim, em três anos, o Masp já estava ocupando
quatro andares do prédio da 7 de Abril.
A ampliação do espaço encorpou o perfil didáti-
co, originando o Instituto de Arte Contemporânea
ATUALIZA  |  AGOSTO 2018
EM FOCO
(pintura, gravura, escultura), a
Escola de Desenho Industrial,
coordenada pela própria Lina,
iniciativas no campo do cine-
ma, teatro, ecologia, fotografia,
moda, publicidade, e assim por
diante – a Escola Superior de
Propaganda e Marketing nas-
ceu no Masp. Com tantas ativi-
dades, uma nova sede começou a
ser pensada em meados dos anos
1950 – entre as possibilidades, a
incorporação ao museu da Faap,
ideia repelida com veemência
por Bardi. Paralelamente, a Pri-
meira Bienal de São Paulo, rea-
lizada em um pavilhão erguido
em 1951 e logo demolido, ocupou
um terreno da avenida Paulista
invejável em todos os sentidos.
Só que a área doada à Prefeitu-
ra pelo criador da avenida, Joa-
quim Eugênio de Lima, permitia
apenas construções que satisfi-
zessem uma exigência tida como
impossível: preservar a vista do
centro da cidade a partir da ave-
nida 9 de Julho. Foi aí que Lina
viu o prédio suspenso, o vão livre
– que seria “concretizado” pelo
engenheiro José Carlos de Fi-
gueiredo Ferraz, em 1961, e ado-
tado como ícone do estilo “bruta-
lista” – concreto de Le Corbusier,
que alguns preferem ver “demo-
lido” do que “tombado”.
A obra iniciada em 1958 seria
inaugurada dez anos mais tarde
pela rainha Elizabeth II do Rei-
no Unido. Chateaubriand havia
morrido meses antes. Lina mor-
reria em 1992 e, em 1996, Bardi
deixaria o museu já bem adoen-
tado, morrendo três anos depois.
Há décadas o acervo do Masp ex-
cursiona pelo mundo e é consi-
derado “notável”.
C4 Compreender a arte
como saber cultural
e estético gerador de
significação e integrador
da organização do
mundo e da própria
identidade.
H12 Reconhecer diferentes
funções da arte, do
trabalho da produção
dos artistas em seus
meios culturais.
Inaugurado em 1968, o Museu
de Arte de São Paulo (Masp),
com sua estrutura de concreto
e vidro e seu formato caracte-
rístico, suspenso sobre quatro
colunas que deixam enorme
vão livre, assemelha-se a um
contêiner – um contêiner de
arte, ponto turístico da capital
paulista e palco de eventos que
incluem manifestações de dife-
rentes tipos.
Diego Grandi/Shutterstock
A modernidade artística do
Masp é observada
a) na combinação de linhas
retas e curvas de sua su-
perfície exterior.
b) na combinação de cores de
sua estrutura externa.
c) no projeto arquitetônico
inovador para a época.
d) nos tipos de obras que
compõem seu acervo.
e) em seu volume monu-
mental.
Resposta: c
 ENCARE ESSA! 49
DESAFIOS PARA O SEU RACIOCÍNIO

Panorama art’stico
O acervo do Museu de Arte de São Paulo (Masp) apresenta grande variedade
de obras de diferentes artistas brasileiros e estrangeiros. Uma visita virtual
ao museu pode ser feita pelo link <https://masp.org.br/acervo/explore>

Alexandra Petruk/Shutterstock
(acesso em: 21 abr. 2018). Antes, vamos testar seus conhecimentos sobre
grandes artistas e suas obras que fazem parte do acervo permanente do Masp.

Obras do acervo do Masp Data Quem pintou?

Ressureição de Cristo 1499-1502

Moema 1866

Rosa e azul – As meninas 1881

O lavrador de café 1924

O filho do carteiro 1888

A ponte japonesa sobre a 1920-1924
lagoa das ninfeias
Moça com livro Sem data
Retrato de Suzanne Bloch 1904

O mundo é Nome Cargo País

das mulheres! Margaret Thatcher
Angela Merkel
Se no Brasil a
Cristina Kirchner
participação política
das mulheres ainda Indira Ghandi
é reduzida (apesar Isabelita Perón
galaira/Shutterstock

de recentemente
Golda Meir
uma mulher –
Dilma Rousseff – ter Michelle Bachelet
ocupado a presidência Hillary Clinton
da República), no
mundo muitas mulheres Edith Cresson
ocuparam (e ocupam) Kim Campbell
cargos políticos importantes.
Algumas delas estão listadas
ao lado. Tente descobrir o Canadá Primeira-ministra Kim Campbell Pablo Picasso 1904 Retrato de Suzanne Bloch
França Primeira-ministra Edith Cresson
cargo ocupado e o país de EUA Secretária de Estado Hillary Clinton
Almeida Junior Sem data Moça com livro
lagoa das ninfeias
atuação de cada uma.
Claude Monet 1920-1924
Chile Presidente da República Michelle Bachelet A ponte japonesa sobre a
Israel Primeira-ministra Golda Meir Vincent van Gogh 1888 O filho do carteiro
Argentina Presidente da República Isabelita Perón Candido Portinari 1924 O lavrador de café
Índia Primeira-ministra Indira Ghandi Pierre-Auguste Renoir 1881 Rosa e azul – As meninas
Argentina Presidente da República Cristina Kirchner Victor Meirelles 1866 Moema
Alemanha Chanceler Angela Merkel Rafael Sanzio 1499-1502 Ressureição de Cristo
Reino Unido Primeira-ministra Margaret Thatcher Quem pintou? Data Obra do acervo do Masp
País Cargo Nome Panorama artístico
O mundo é das mulheres! Respostas:

AGOSTO 2018  |  ATUALIZA
50 DIÁLOGO COM A ARTE
EXPRESSÕES DA SENSIBILIDADE HUMANA

Banco de Imagens/Ex Libris

A geometria da Composição em oval com planos coloridos 2, de

1914, do pintor modernista holandês Piet Mondrian (1872-1944),
é baseada em desenhos de prédios parcialmente demolidos, com
pisos expostos, chaminés e trechos de papel de parede. Mondrian
acreditava que linhas horizontais e verticais expressavam uma
ordem universal.
ATUALIZA  |  AGOSTO 2018 Técnica: óleo sobre tela
 MATEMÁTICA
AS FIGURINHAS DA COPA DO
MUNDO E A PROBABILIDADE

LINGUAGENS
O DISCURSO DO COTIDIANO

CIÊNCIAS DA NATUREZA
GASES DO EFEITO ESTUFA

CIÊNCIAS HUMANAS
O ENCARCERAMENTO EM MASSA NO BRASIL

REDAÇÃO
COESÃO E COERÊNCIA
 #atualize-se

Tudo está relacionado com tudo

Em seu interessante livro chamado Prohibido pensar: parasitos versus
catalizadores del pensamento (sem tradução para o português), o pro-
fessor espanhol de Ética e Filosofia Josep Muñoz Redón propõe uma
reflexão filosófica comparativa acerca do pensamento. O autor defen-
de que atitudes como indiferença, pressa, indecisão e até informação
podem funcionar como parasitas de nosso pensamento, bloqueando
Atualiza Enem é um suplemento da revista
nossa capacidade de adquirir e de aprimorar conhecimentos, ao passo
Atualiza. que admiração, serenidade, resolução e síntese funcionam como ver-
dadeiros impulsionadores de nossas competências, habilidades de ra-
Diretoria editorial
Renata Mascarenhas
ciocínio e desenvolvimento do bom senso. No total, o professor Redón
discute quinze pares de parasitas/catalisadores de pensamento, colo-
Coordenação editorial cando frente a frente conceitos que, muitas vezes, consideramos ver-
Renato Tresolavy
dades absolutas para o desenvolvimento da aprendizagem, como o par
Autores Especialização versus Curiosidade. Para o professor, a Especialização
Linguagens e Redação: pode ser um inesperado parasita para a aquisição de conhecimentos. E
Texto e Forma
a Curiosidade, o contraponto da primeira, é a postura que nos permite
Matemática:
Rafael Zattoni dirigir nossa própria aprendizagem.
Ciências da Natureza (Química): De acordo com o autor, a especialização é imprescindível quando é
Viver Matemática consequência da modéstia e da perseverança em apenas se aprofundar
Ciências Humanas (História):
Paula Nomelini
em determinado conteúdo ou disciplina, mas é completamente discu-
tível quando sofre de falta de visão mais ampla que ignora a dimensão
Edição globalizadora do conhecimento. Redón cita os filósofos Horkheimer
Renato Tresolavy
e Adorno ao defender a tese de que “para conhecer são necessárias as
Revisão disciplinas, mas o conhecimento dissolve qualquer tipo de organização
Hélia de Jesus Gonsaga (ger.), Kátia Scaff em matérias.”. O professor ainda exemplifica: “A grande maioria dos
Marques (coord.), Rosângela Muricy (coord.),
Ana Curci, Ana Paula C. Malfa, Arali
homens de ciência foram unificadores de sistemas que se estudavam
Gomes, Claudia Virgilio, Daniela Lima, separadamente dentro da própria disciplina. Newton e Einstein foram
Gabriela M. Andrade, Luís M. Boa Nova, os supremos unificadores da Física; Faraday e Ampère unificaram a
Luiz Gustavo Bazana e Patricia Cordeiro
eletricidade e o magnetismo; a revolução biológica que aconteceu nos
Arte anos 1950 nasceu da relação entre disciplinas como Física, Química e
Daniela Amaral (ger.), Catherine Saori Biologia.”.
Ishihara (coord.), Daniel de Paula Elias (ed. de Arte) A reflexão que o livro desse filósofo espanhol provoca em nós pode
Capa servir de análise das exigências de uma prova como a do Enem. Sabe-
Daniel de Paula Elias mos que a base do Enem está descrita em sua matriz de referência, que
observa cinco eixos cognitivos: dominar linguagens, compreender fe-
Foto da capa
Novichok/Shutterstock nômenos, enfrentar situações-problema, construir argumentação e
elaborar propostas. Note que essas competências exigidas pelo exame,
Impressão e acabamento
embora ainda estejam alinhadas com a atual organização escolar sepa-
rada por disciplinas, observam o processo de conhecimento de forma
SER, GEO, MAXI e ÉTICO
DIVISÃO DE SISTEMAS DE ENSINO não especializada. Para o Enem, conceitos e conhecimentos das disci-
Av. das Nações Unidas, 7221 plinas como conhecemos, compartimentadas em seus nichos (Histó-
Pinheiros – CEP 05425-902 ria, Matemática, Física, etc.) devem estar em constante conexão, o que
São Paulo – SP
faz dessa prova um desafio diferente do dos vestibulares mais tradicio-
Reprodução proibida. nais, já que o candidato precisa entender que, como disse o professor
Todos os direitos reservados. Redón em seu livro, “tudo está relacionado com tudo”. Para ter sucesso
na prova do Enem, é preciso, então, cultivar a curiosidade, genuína ca-
talisadora do conhecimento, como recomenda o filósofo em seu livro:
Uma publica•‹o
com ela nos motivamos a explorar, investigar e aprender.
Central de atendimento às escolas
0800 772 0028 Renato Tresolavy, editor

52
 Linguagens
L
L inguag

Tipos e gêneros da discursividade Em profundidade

cotidiana
Diversos discursos atravessam nosso dia a dia por meio das telas de TV, das redes so- Leia

Editora Vozes/Arquivo da editora

ciais, de anúncios em outdoors e jornais, da literatura e das relações interpessoais. Cada
um deles carrega em si diferentes elementos, os quais têm o poder de significar, isto é, de
atribuir sentido a objetos, pessoas e coisas, conferindo mesmo novas importâncias ao que
e a quem somos.
Talvez até aqui você tenha lido algo que pareça comum e até natural, mas já parou para
pensar que os discursos também têm o poder de ressignificar? Pois é exatamente isso. Aqui-
lo que já teve um sentido em outro momento histórico não necessariamente tem o mesmo
significado agora. Liberdade, corrupção e populismo são mais do que simples palavras. Re-
presentam alguns exemplos de conceitos que variam de acordo com o uso e o valor atribuí-
dos a eles, no tempo e no espaço, seja pela literatura, seja pela ciência, seja pelo jornalismo.
E, falando sobre discurso, existem mais algumas variáveis importantes: nem sempre co-
nhecemos a identidade de quem escreve, as fontes e os filtros que selecionam e a inten-
cionalidade do que vai ou não ser dito. A combinação desses formatos pode ser explicada
com base em diferentes padrões, também chamados, pelos teóricos da linguagem, de ti- KÖCHE, Vanilda Salton;
pos textuais, entre os quais se destacam o narrativo, o dissertativo-argumentativo, o in- MARINELLO, Adiane Fogali.
juntivo e o descritivo. Ler, escrever e analisar a língua
a partir de gêneros textuais.
fizkes/Shutterstock

Petrópolis: Vozes, 2017.

Quais são as melhores

estratégias para escrever e
arrasar na hora de elaborar
um texto? Neste livro, Vanilda
Salton Köche e Adiane
Fogali Marinello mostram
como os gêneros textuais são
importantes nesse processo,
associando suas características
a aspectos linguísticos
cotidianos. As autoras discutem
diferentes tipos de conteúdo e
intencionalidade com o intuito
de ilustrar as características
gerais dos gêneros, com foco nos
processos de leitura e escrita.
O livro é ótimo para quem
pretende melhorar a redação e
se interessa por diferentes tipos
Esses tipos são utilizados de maneiras distintas para contar uma história, expor uma de produção textual.
ideia, instruir sobre uma conduta e descrever objetos, dependendo da situação de intera-
ção e das características semânticas que emergem dos textos.
Por isso, gêneros textuais tendem a se apropriar dos tipos textuais com o intuito de
transmitir informações de natureza e formato distintos, entre estes a crônica e a fábu-
la (narrativo), o ensaio e o editorial (argumentativo-dissertativo), os regulamentos e as
prescrições (injuntivo), e a biografia e o relatório (descritivo). Ao publicar um post em al-
guma rede social, escrever uma mensagem de texto (ou um bilhete, se você ainda faz isso),
redigir um e-mail ou argumentar em uma redação, levamos em consideração o contexto, o
interlocutor e a interação que esperamos de cada um deles com o que foi escrito.

53
 Isso quer dizer que escolhemos as palavras e, com base nelas, ordenamos as ideias em um discurso com o intuito de transmi-
tir uma mensagem, de causar um efeito. Segundo Bakhtin, pensador russo, a palavra é sempre a matéria-prima do processo de
compreensão e interpretação. Por meio dela expressamos certa ideia de uma forma e não de outras, e de acordo com a situação
de comunicação. Isso tem implicações diretas nos tipos textuais que escolhemos e, por consequência, no gênero ou no formato
adotado.
Produzir um texto narrativo, ficcional ou não, corresponde a escolher as palavras certas, introduzir um assunto, criar per-
sonagens e um ambiente, desenvolver a sucessão de acontecimentos, gerar um clímax e dar um desfecho – tudo isso dentro de
um gênero como a crônica ou o romance, por exemplo. Os objetivos, no entanto, variam de autor para autor e de público para
público, embora todos estejam relacionados a um propósito que vai sendo esclarecido à medida que os textos ganham forma e
conteúdo.
Isso pode ser observado no tipo injuntivo, no qual se enquadram os discursos que contêm instruções e orientações. É o
caso das receitas culinárias, das bulas de remédio e dos manuais. Normalmente, eles explicam passo a passo os métodos e os
procedimentos que devemos adotar na hora de fazer uma broa, de curar (ou aliviar) uma dor de cabeça ou até mesmo de utilizar
um eletrodoméstico que acabamos de comprar.
Compreender a intencionalidade dos diferentes textos contribui, ainda, na hora de articular as ideias e elaborar argumentos
complexos, como se exige no tipo dissertativo-argumentativo – estilo que normalmente é marcado pela impessoalidade, isto é,
por um relativo distanciamento entre aquele que escreve e o objeto da argumentação.
withGod/Shutterstock

O jornalismo é um bom exemplo de como as características mencionadas podem aparecer ao mesmo tempo em um mesmo
texto. Isso acontece especialmente pelo fato de alguns gêneros jornalísticos – notícia, nota, reportagem – terem como premis-
sa o ato de descrever (descritivo) ou narrar (narrativo) os fatos, com a presença ou não de personagens (descritivo, narrativo),
normalmente de forma impessoal (descritivo, dissertativo).
Vale lembrar que essas são apenas algumas “caixinhas” que facilitam a identificação das características dos textos. No coti-
diano, eles se misturam e dão origem a novas formas de organização do discurso.
No contexto de uma sociedade midiatizada e digitalizada, na qual acontecimentos geograficamente distantes de nós são narra-
dos de diferentes valores, orientações editoriais e com limitações de formato – já que nem tudo cabe em uma página, uma foto-
grafia, um frame televisivo ou um tweet –, conhecer os diversos formatos nos quais podemos nos expressar é um trunfo na hora
de definir nossas estratégias comunicativas nos mais variados suportes. Além disso, entender a dinâmica discursiva pode melho-
rar nossa capacidade de redação e interpretação, e, por sua vez, auxiliar na resolução de questões em provas como as do Enem.
O ponto é que, independentemente do tipo ou do gênero textual, é importante ter em mente que a língua deve ser percebida
como um organismo vivo, pulsante, que se reproduz todas as vezes que pensamos e agimos. Assim, sua mobilização como forma
de discurso pode ser entendida como uma das maneiras pelas quais os sentidos ganham configuração material. Curiosamente,
isso nos permite expressar sentimentos imateriais como ira, angústia, perda, felicidade e amor.
Fique atento a esses detalhes da próxima vez que interagir com algum texto e será possível perceber a grande parcela que
você, o sujeito, representa no processo de construção simbólica dos mais variados discursos.

54
 Linguagens
Em foco C8 Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da
organização do mundo e da própria identidade.
H25 Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singularizam as variedades
linguísticas sociais, regionais e de registro.

(Enem-MEC)
Resposta: d
Reprodução/ Enem, 2009.

A narrativa construída pelo

cartunista Adão Iturrusgarai
permite-nos observar a
coloquialidade típica do gênero
história em quadrinhos. No
primeiro quadrinho, o autor inicia a
comunicação dos dois personagens
atestando, de maneira informal, a
chegada de “HTML”. No segundo
e no terceiro quadrinhos, a
ITURRUSGARAI, A. La vie en Rose. Folha de S.Paulo. 11 ago 2007. representação da linguagem falada
fica ainda mais evidente pelo tipo
Os quadrinhos exemplificam que as Histórias em Quadrinhos constituem um gênero textual: de interação estabelecida por um
a) em que a imagem pouco contribui para facilitar a interpretação da mensagem contida no dos personagens: “Fala, HTML!
texto, como pode ser constatado no primeiro quadrinho. Como vão as coisas?”, ao que HTML
b) cuja linguagem se caracteriza por ser rápida e clara, que facilita a compreensão, como se responde: “Numa boa, e vocês?.
percebe na fala do segundo quadrinho: “</DIV> </SPAN> <BR CLEAR Essa conversação face a face dos
= ALL> < BR> <BR> <SCRIPT>”. personagens ilustra de maneira
c) em que o uso de letras com espessuras diversas está ligado a sentimentos expressos clara a escrita da linguagem falada,
pelos personagens, como pode ser percebido no último quadrinho. o que é uma das características
d) que possui em seu texto escrito características próximas a uma conversação face a face, do gênero história em quadrinhos.
como pode ser percebido no segundo quadrinho. Portanto, a alternativa que
e) que a localização casual dos balões nos quadrinhos expressa com clareza a sucessão responde corretamente à questão é
cronológica da história, como pode ser percebido no segundo quadrinho. a da letra d.

Atividades
Leia o texto a seguir e, na sequência, responda às questões 1 e 2.

Vale tudo: o som e a fúria de Tim Maia

De manhã cedo, atendi o telefone e ouvi a voz inconfundível, em ritmo acelerado e inglês perfeito: “Good morning, Mister Nelson Motta, here’s
your good old friend Tim Maia, calling from room 9-B of the Delmonico’s Hotel, Park Avenue, New York City”.
Que alegria! Foi a maior surpresa, nem imaginava que ele estivesse na cidade, onde eu morava havia cinco anos. Não o via desde um
espetacular show no Scala, numa viagem ao Brasil, uns dois anos antes.
“Ô Nelsomotta, eu tô aqui sentado numa cadeira e tomando café numa mesa tão antiga que estou me sentindo um Dom João VI, porque tudo é
antigaço nesse hotel, mas o fogão está funcionando e você está convidado a tomar um breakfast e a torrar unzinho comigo. Now!”.
Cinco estações de metrô depois, cheguei à esquina da Park Avenue com a Rua 59 e entrei no decadente Delmonico’s, que não vivia mais os
seus dias de glória, mas ainda mantinha os pisos de mármore, os janelões e grandes espelhos, as imensas suítes com cortinas de veludo,
paredes forradas de madeira e um mobiliário escuro e antigo, que davam mesmo um ar de Dom João VI doidão a Tim Maia comendo um
croissant numa cadeirona, atrás de uma pesada mesa de madeira trabalhada.
MOTTA, Nelson. Vale tudo: o som e a fúria de Tim Maia. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007.

1 C8/H25 As intenções, as referências e as visões de mundo do
produtor de um texto são, indiscutivelmente, parte da argamassa
constituinte desse produto social que o texto constitui. Tendo como
base o fragmento selecionado, é possível observar características
discursivas que remetem a diferentes tipologias textuais. Nesse
sentido, é possível afirmar que o trecho é preponderantemente:
a) descritivo-dissertativo, na medida em que, por meio das
modalizações entremeadas às descrições, mostra opiniões e fatos.
b) injuntivo-narrativo, até porque mescla instruções detalhadas nas
entrelinhas dos fatos.
c) narrativo-descritivo, pois, ao mesmo tempo que conta episódios
da vida da personalidade, também descreve espaços, sensações
e seres.
d) injuntivo-descritivo, já que é preponderantemente instrucional.
e) dissertativo-narrativo, já que, ainda que prevaleça a narração, há
traços de uma tese desenvolvida em argumentos.
2 C8/H25 As visões de personagens introduzidos em um texto
de traços narrativos se apresentam, muitas vezes, nas subjacências
criadas pelo autor, para que tais visões sejam interpretadas pelo
leitor, considerando a realidade em que esse receptor se insere.
Assim, as visões que Tim Maia e Nelson Motta têm do hotel, como se
pode perceber, são:
a) idênticas, o que se manifesta pelos adjetivos utilizados.
b) rebuscadas, o que se mostra no vocabulário, que é erudito e até
arcaico em certa medida.
c) complementares, tanto que ambos escolheram se hospedar no
mesmo quarto.
d) contraditórias, pois, enquanto Tim Maia acha o hotel decadente,
Nelson Motta o considera charmoso.
e) em certa medida, opostas, já que, enquanto Tim Maia vê certo
charme no mobiliário antigo e no ar retrô, Nelson Motta visualiza
o local como decadente.

Gabarito 1. c 2. e
Confira as resoluções no Portal de seu Sistema de Ensino.

55
 m
M atemátic
Matemática

Em profundidade
Ano de Copa, ano de figurinhas da Copa
No dia 13 de julho de 1930, no Uruguai, acontecia a abertura da primeira edição da Copa
Leia do Mundo Fifa, e que, desde então, vem se repetindo de quatro em quatro anos, exceto em
Casa da Palavra/Arquivo da editora 1942 e 1946 por causa da Segunda Guerra Mundial.
A 28a edição ocorreu em 2018 na Rússia e, desde 1970, em anos de Copa do Mundo, há
também o lançamento do álbum de figurinhas relacionado ao tema.

Jollanda/Shutterstock
Pegando uma carona no tema,
o livro O mundo das Copas,
de Lycio Vellozo Ribas, tem a
proposta de expor o universo
dos Mundiais com riquezas
de detalhes. São vinte Copas
destacadas, incluindo a
do Brasil em 2014 – quase
800 partidas. Um livro
indispensável para os amantes
Países participantes e grupos da Copa da Rússia – 2018.
desse esporte.
Com a realização dessa última Copa, chega-se à 13a edição do álbum. E agora é rotina:
Acesse
<https://noticias.r7.com/
pontos de troca viraram uma febre país afora.
fala-brasil/videos/figurinhas- Em anos anteriores, os colecionadores eram praticamente a criançada. Hoje, jovens e
da-copa-ajudam-no- adultos participam igualmente empolgados dessa verdadeira “corrida do ouro” de compra
tratamento-de-criancas-com- e troca de figurinhas.
cancer-em-jau-sp-17102015>. Carlos é um desses jovens que, em 2018, também tomou a decisão de participar dessa
Acesso em: abr. 2018.
“febre”. Sua principal dúvida (e preocupação) era quanto precisaria investir para comple-
A reportagem mostra como a
doação de 150 álbuns da Copa tar o álbum.
do Mundo ao Hospital Amaral Sabia de antemão que o álbum onde seriam coladas as figurinhas tinha o preço de R$ 7,90.
Carvalho, em Jaú (SP), ajudou E para completar o álbum seriam necessárias 682 figurinhas que eram vendidas em paco-
no tratamento de crianças tinhos com 5 cromos em cada um, ao preço de R$ 2,00 por pacote.
com câncer. A princípio, parece ser muito fácil responder à dúvida de Carlos. Vamos pegar o núme-
Assista ro 685 (que é o primeiro múltiplo de 5 após o 682), dividir por 5 (quantidade de figurinhas
<www.youtube.com/ por pacote) e multiplicar por 2 (preço de cada pacotinho). Desse resultado, adicionamos
watch?v=Y0JyYr6dEGw>. R$ 7,90 (que é o preço do álbum). Assim, teríamos o valor de investimento de R$ 281,90.
O vídeo apresenta uma
Seria isso mesmo?
matéria da TV Cultura digital
A. RICARDO/Shutterstock

sobre como são fabricadas as Não, não seria. Na realidade, vemos que esse é um cál-
figurinhas da Copa do Mundo. culo simplista demais e a probabilidade de que isso acon-
teça é quase zero. É preciso considerar as figurinhas
repetidas, a distribuição dos lotes pelas bancas de jornal e
outras variáveis estatísticas.
Segundo uma publicação na seção de economia do Esta-
d‹o, em 28 de março de 2018, para obter as 682 figurinhas,
sem trocar com ninguém, é quase certo que se precisa gas-
tar pelo menos R$ 1.956,00.
Ainda de acordo com a matéria do jornal, com três
pessoas trocando figurinhas entre si, cada um teria
um custo médio de R$ 1.042,00, e esse valor cairia
para R$ 474,00 se no grupo de trocas participassem
25 pessoas.

56
 Se o colecionador não troca nenhuma figurinha, certamen- O número médio (M) de figurinha a ser comprada até o álbum
te fica com um grande número de repetidas, daí a importância ficar completo é dado pela soma de todas as etapas (da primeira
de se fazer trocas. Sem essas trocas, é necessário que se compre à última a ser comprada); assim, temos:
aproximadamente sete vezes o número de figurinhas do álbum x x x x x x
(de acordo com a citada matéria jornalística). M= + + + ... + + + ⇒
x x −1 x − 2 3 2 1
Carlos, que também leu a mesma reportagem, ficou em
 1 1 1 1
dúvida. Deveria ou não acreditar nessas informações? ⇒ M = x  1 + + + ... + + 
 2 3 x −1 x
Para ajudá-lo, vejamos como a Matemática pode traba-
lhar em nosso favor e demonstrar a veracidade ou não dos Por meio de uma planilha eletrônica, é possível encontrar
dados da matéria do jornal. Vamos remodelar a dúvida de esse valor para determinado valor inteiro de x. No entan-
Carlos, fazendo a seguinte pergunta: Quantas figurinhas, to, com o auxílio do Cálculo Diferencial Integral (disciplina
em média, um colecionador precisará comprar para com- obrigatória nos cursos superiores de exatas), é possível pro-
pletar seu álbum? var que:
1 1 1 1
Antes de tudo, vamos considerar três particularidades: cada ln ( x + 1 ) < 1 + + + ... + + < 1 + lnx
figurinha é impressa em quantidades iguais; o número produ- 2 3 x −1 x
zido de cada figurinha é suficientemente grande para que as em que ln x é o logaritmo natural (ou logaritmo neperiano)
adquiridas em cada compra sejam consideradas independen- de x.
temente das obtidas nas demais; as figurinhas são compradas Usando uma calculadora científica para o cálculo de ln x,
uma a uma, ou seja, em cada pacote deverá haver um único cro- temos:
mo (apesar de tal fato não ocorrer na realidade, isso não vai mo- • Para x = 3:
dificar o resultado). 1 1 11
Observe a seguinte situação hipotética: 1+ + = ; 1, 83 ; ln (3 + 1) = ln 4 ⇒ 1,39;
2 3 6
Um álbum completo possui 20 figurinhas e você já possui 5 1 + ln 3 = 1 + 1,098 = 2,098
delas coladas. Qual é a probabilidade de, na compra da próxima De fato: 1,39 < 1,83 < 2,098
figurinha (considerando aqui apenas uma unidade), você não
obter uma repetida? • Para x = 5, temos:
20 − 5 15 1 1 1 1 60 + 30 + 20 + 15 + 12 137
A probabilidade P é dada por: P = = = 0, 75 = 75% 1+ + + + = = ; 2,28 ; ln 6 ⇒ 1,79;
20 20 2 3 4 5 60 60
Considere, agora, que um álbum completo contenha x figuri- 1 + ln 5 ⇒ 1 + 1,61 = 2,61
nhas e você já possua, em sua coleção, y delas. Assim, a proba- De fato: 1,79 < 2,28 < 2,61
bilidade P de, na próxima compra (de uma unidade), você obter Para o caso do álbum de figurinhas da Copa de 2018, temos
x−y x = 682, o que implica: ln 683 ⋅ 6,53 e 1 + ln 682 ⋅ 1 + 6,52 = 7,52
uma figurinha não repetida é dada por: P =
x
1 x  1 1 1 1
O valor = é o número médio de tentativas que se Como M = x  1 + + + ... + +  , sendo x a quantida-
p x−y 2 3 x −1 x
deve fazer para obter o próximo cromo não repetido. Explicare- de de figurinha a ser colada no álbum todo, que em nosso caso
mos isso, a seguir, por meio de um exemplo. é 682, concluímos que M é um valor entre 6,53x e 7,52x; ou seja,
No caso de um álbum que possui o total de 10 figurinhas e para completar o álbum da Copa, sem trocas, é preciso comprar
você ainda não possua nenhuma, o número médio de tentativas entre 6,53 e 7,52 vezes o número de figurinhas do álbum.
para obter uma inédita na próxima compra (de uma em uma) é Lembrando, então, que a matéria do jornal trazia duas infor-
1 10 mações sobre as quais trabalhamos e desejamos saber se eram
de = = 1; se você já tem quatro coladas, o número mé- verdadeiras ou não, temos o seguinte:
p 10 − 0
1 10 10 1. Para obter com certeza as 682 figurinhas, sem trocas, é
dio de tentativas será = = ; 1, 66; se você já possui preciso gastar pelo menos R$ 1.956,00.
p 10 − 4 6
1 10 10 Nossa resposta:
oito coladas, essa média passa a ser = = = 5.
p 10 − 8 2 6,53 ⋅ 682 7,52 ⋅ 682
⋅2 = R$ 1.781,38 ; ⋅2 = R$2.051,45
O processo de colar todas as figurinhas no álbum ocorre em x 5 5
etapas (quantidade de figurinhas no álbum). Portanto, o gasto estaria entre R$ 1.781,38 e R$ 2.051,45.
• Para a compra da primeira figurinha, o número médio de Considerando as aproximações feitas pelo jornal e a nossa,
x x pode-se considerar perfeitamente verdadeira a afirmação.
tentativas para se obter uma inédita será = .
x−0 x 2. Sem essas trocas, é necessária a compra de aproximada-
• Para a compra da segunda figurinha, o número médio de ten- mente sete vezes o número de figurinhas do álbum.
x
tativas para se obter uma inédita será . Nossa resposta:
x −1 Como vimos, esse valor está entre 6,53 e 7,52, que é um va-
• Para a compra da terceira figurinha, o número médio de ten-
x lor bem razoável de se aproximar para 7. Ou seja, ao comple-
tativas para se obter uma inédita será . tar o álbum, ele terá colado 682 figurinhas e sobrará algo em
x −2
• E assim sucessivamente até a última etapa, que é a da com- torno de 7 ∙ 682 – 682 = 6 ∙ 682 = 4.092 figurinhas.
pra da última figurinha, cujo número médio de tentativas é Conclus‹o: Se você pretende colecionar figurinhas, tenha
x x
dado por = . em mente que é essencial participar de um grupo de trocas.
x −( x − 1 ) 1

57
Matemática
Em foco C1 Construir significados para os números naturais, inteiros, racionais e reais.
H2 Identificar padrões numéricos ou princípios de contagem.

(Enem-MEC)
O comitê organizador da Copa do Mundo 2014 criou a logomarca
da Copa, composta de uma figura plana e o slogan “Juntos num só
ritmo”, com mãos que se unem formando a taça da Fifa. Considere
que o comitê organizador resolvesse utilizar todas as cores da
bandeira nacional (verde, amarelo, azul e branco) para colorir a
logomarca, de forma que regiões vizinhas tenham cores diferentes.
Resposta: e
Para a resolução desta questão, vamos considerar as cores da
bandeira do Brasil, não podendo garantir que todas as quatro
estejam sendo usadas. Observe que a figura é plana e possui seis
regiões distintas.
Escolhemos uma região qualquer da figura e, para ela, temos
quatro opções de cores. As áreas limítrofes a ela não poderão
exibir a mesma cor já utilizada, restando assim três possibilidades
em cada uma delas. Veja a figura:

3
3
4
7.
01
,2
m
ne
/E
ão
uç
od
pr
Re

3
De quantas maneiras diferentes o comitê organizador da Copa 3
poderia pintar a logomarca com as cores citadas?
a) 15 d) 360
b) 30 e) 972 Assim, o número de possibilidades é dado por:
c) 108 4 · 3 · 3 · 3 · 3 · 3 = 972

Atividades
1 C7/H28 Para o preenchimento completo de um álbum de figurinhas, são necessários 25 cromos. Luís Henrique já possui 23 figurinhas
dessa coleção em seu álbum. Querendo ajudar Luís Henrique, Paulo Roberto, que tem em suas mãos exatamente os
25 cromos suficientes para o preenchimento de um álbum, dá de forma aleatória e simultânea dois cromos para Luís Henrique.
A probabilidade de Luís Henrique completar seu álbum com a ajuda de Paulo Roberto:
a) é menor que 0,5%.
b) está entre 0,5% e 0,75%.
c) está entre 0,75% e 1%.
d) está entre 1% e 1,34%.
e) é maior que 1,35%.

2 C4/H16 Considere que, para a confecção das figurinhas de um álbum de Copa do Mundo, cada uma das seleções participantes tem um
mesmo número x de cromos para representá-las e outras y são destinadas às figurinhas que possuem informações gerais, sem vínculo com
alguma seleção, sendo y o menor valor inteiro que atende a essa situação. Considere também que o número de figurinhas da coleção em cada
edição é diretamente proporcional ao número de seleções participantes. A Copa do Mundo de 2018 na Rússia teve 32 seleções participantes,
e foi produzido um álbum cujo preenchimento total necessitava de 682 cromos. Para a Copa do Mundo de 2026 (cujo anúncio da sede está
previsto para maio de 2020), essa competição terá um aumento de 16 seleções em relação à de 2018.
Tendo em vista que as regras para a elaboração do álbum de figurinhas da Copa de 2026 se mantenha, o percentual de aumento das figurinhas
de informações gerais, em relação à Copa da Rússia, será de:
a) 10% b) 25% c) 50% d) 75% e) 100%

Gabarito 1. a 2. c
Confira as resoluções no Portal de seu Sistema de Ensino.

58
 Ciências
s daNatureza
N

Gases do efeito estufa Em profundidade

Em países frios, é muito comum encontrar grandes estruturas de vidro utilizadas para o cul-
tivo de vegetais: são as estufas de vidro. Nelas o calor do Sol fica retido, o que facilita o cres- Leia

Editora Melhoramentos/Arquivo da editora

cimento de plantas mesmo em locais em que as temperaturas médias são baixas. Fenômeno
semelhante ocorre quando a energia solar entra em nossa atmosfera e aquece nosso planeta.
Por que isso acontece?
A resposta é bem simples: A radiação solar é emitida em vários comprimentos de onda,
especialmente na faixa de 370 nm a 750 nm, que seria a luz visível. Assim como na estufa
de vidro, tal faixa passa pelos gases presentes na atmosfera chegando à superfície, onde
uma grande parte de energia será absorvida promovendo seu aquecimento. Uma parcela
desse calor é irradiada no infravermelho, que possui um comprimento de onda grande (de
4 µm a 40 µm) e não consegue passar por esses gases, ficando aprisionada, aquecendo a
Terra. Este é o chamado efeito estufa (o nome é uma referência às estufas de vidro). Com um texto fácil, rápido
e cheio de ilustrações, o

Mouses Sagiorato/Arquivo da editora

livro O efeito estufa, de
Michael Bright, publicado
Energia devolvida pela Melhoramentos, é uma
para o espaço boa opção para entender
l Gases do efeito estufa melhor esse fenômeno e
so (aprisionam calor)
o suas consequências, além de
zd
Lu mostrar alguns meios para
CH4 CO2 SF5 N2O
diminuir a emissão de GEEs.

Acesse
Luz

<wwwp.fc.unesp.br/~lavarda/
do

procie/dez14/luciana/index.
sol

htm>. Acesso em: abr. 2018.

refle

Para ir ainda mais além no

tida

assunto, sugerimos o texto

da Faculdade de Ciências
da Unesp disponível no
Energia absorvida link acima. Nele você vai
encontrar uma explicação
Ao contrário do que se pensa, o efeito estufa não é um vilão. Na verdade, sem ele não exis- completa sobre os mecanismos
tiria vida em nosso planeta, pois ele aquece e mantém as temperaturas ideais para a existên- do efeito estufa, além de
cia dos ecossistemas. Se ele não existisse, a temperatura média da Terra seria –18 °C, bem atividades para testar seus
menor que os 15 °C que temos atualmente. O problema não é o efeito em si, mas sua intensi- conhecimentos a respeito
do tema.
ficação. Nas últimas décadas, as emissões dos gases que causam o efeito estufa vêm aumen-
tando, o que faz as temperaturas do planeta subirem em torno de 0,5 °C por década.
De acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), os principais
gases que promovem o efeito estufa (GEEs) são: dióxido de carbono (CO2), metano (CH4),
clorofluorcarbonos (CFCs), óxido nitroso (N2O) e ozônio (O3). O vapor de água (H2O) tam-
bém contribui para o efeito estufa. Na tabela a seguir, temos as contribuições para o efeito
estufa e as principais fontes antrópicas de cada um deles:
Gases Contribuição Fontes antrópicas
CO2 60% Combustíveis fósseis e desflorestamento
CH4 15% Cultivo de arroz inundado, pecuária, combustíveis fósseis e queima de biomassa
CFCs 12% Refrigeradores, aerossóis e processos industriais
N2O 5% Fertilizantes e conversão do uso da terra
O3 8% Queima de biomassa
H2O Desconhecida Conversão do uso da terra e irrigação
Como tais gases conseguem reter o calor para fazer o aquecimento do planeta?
Para responder a essa questão, precisamos recordar alguns conceitos importantes.

59
Ligações covalentes Interações intermoleculares
Todos os GEEs têm, entre seus átomos, o mesmo tipo de ligação, Uma molécula interage com outra por três maneiras distintas:
a covalente. Esse tipo de ligação ocorre entre átomos que possuem • Ligações de hidrogênio
alta eletronegatividade e se caracteriza pelo compartilhamento Esta interação ocorre entre moléculas polares que possuem
de um ou mais pares eletrônicos. Quando um par é compartilha- hidrogênio ligado a flúor, oxigênio ou nitrogênio (H com F, O, N).
do, a ligação é simples; quando isso ocorre com dois pares, a ligação É a interação que a água faz.
é dupla; e com três pares, a ligação é tripla. Na ligação normal, um Ligações de hidrogênio
elétron vem de cada átomo para o compartilhamento; na coorde-
nada, o par vem de apenas um átomo. A ligação covalente ocorre H H H
d– d–
entre ametais ou entre ametais e hidrogênio. Existem dois tipos de O O
ligações covalentes: a sigma (s) e a pi (p). d– d– d–
H H H
• Ligação sigma (s) d–
O –
A ligação sigma ocorre quando dois orbitais se interpene- O
tram frontalmente. Pode ocorrer entre dois orbitais s, um s e Água + H H +
um p ou entre dois p.
magnetix/Shutterstock • Dipolo permanente
É a interação das moléculas polares que não fazem ligações
s–s p–s p–p de hidrogênio.
w w
• Ligação pi (p) d+ m d– d+ m d–
A ligação pi ocorre quando dois orbitais se interpenetram H−Br H−Br
lateralmente. Ocorre entre dois orbitais p. • Dipolo induzido
A ligação simples é sigma, a dupla possui uma sigma e uma Esta é a interação das moléculas apolares. Ela ocorre me-
pi, e a tripla tem uma sigma e duas pi. diante a indução gerada pelo giro dos elétrons nas moléculas.
H− C≡ C− H
d+ d– d+ d– d+ d– d+ d–
magnetix/Shutterstock

s ligação
H H p ligação Interações de Van der Waals: dipolos induzidos causados por
p ligação flutuações de cargas.
Em resumo, podemos ter o seguinte esquema:
Polar Molécula polar Ligações de hidrogênio
Polaridade de ligação w
mr Þ 0 (H — F, O, N)
As ligações covalentes podem ser polares ou apolares. Uma Ligação Dipolo permanente
ligação será polar se os átomos que a formarem possuírem
eletronegatividades diferentes. Nesse caso, ocorrerá um des- Apolar Molécula apolar Dipolo induzido
locamento dos elétrons para o átomo mais eletronegativo. A w
mr 5 0
polaridade da ligação é medida pelo momento dipolar (μ), Agora já podemos entender como os GEEs aprisionam o ca-
uma grandeza vetorial que aponta do positivo para o negativo.
w lor para provocar o efeito estufa.
d+ m d– Para reter a radiação infravermelha, é preciso que a molécu-
Menos eletronegativo H−F Mais eletronegativo
la possua um tipo de vibração em sua estrutura, pois dessa for-
Com átomos de mesma eletronegatividade, a ligação será apolar. ma pode ocorrer um desequilíbrio, mesmo que momentâneo,
O≡O (Sem diferença de eletronegatividade) de cargas, permitindo o aprisionamento desse tipo de radiação.
O−C−O
Polaridade da molécula Modo assimétrico
Uma molécula pode ser polar ou apolar. Se uma molécula C
possuir somente ligações apolares, ela será apolar. No entan-
to, se ela possuir ligações polares, poderá ser polar ou apolar, O O
dependendo do momento dipolar resultante (μr). Modo de flexão
Se o momento dipolar resultante for igual a zero, a molécula
será apolar; se o momento dipolar resultante for diferente de O−C−O
Modo simétrico
zero, a molécula será polar.
Modos vibracionais do CO2
w d– w w
m O m mr Com exceção do ozônio, todos os GEEs possuem ligações
d+ d+
H H w polares, o que permite esta vibração, mesmo nas moléculas
mr Þ 0 apolares. No caso do ozônio, esse desequilíbrio se dá pelo des-
w
m d+ m w w
m w
m
d– d– locamento (ressonância) do elétron da ligação coordenada.
O−C−O w
mr 5 0 Esse mecanismo também explica o motivo de os gases majo-
Note que na molécula de água há o vetor resultante em razão de ritários do ar (N2 e O2) não aprisionarem o calor, pois suas li-
sua geometria. Na do dióxido de carbono os vetores se cancelam. gações são apolares e não possuem deslocamento de elétrons.

60
 Ciências da Natureza
Equivalência em dióxido de carbono (CO2 eq)
Outro ponto importante a ser ressaltado é a equivalência de dióxido de carbono. Ela mede a quantidade de GEEs emitida em
termos equivalentes ao CO2. Ou seja, ela expressa essa quantidade supondo que todos os GEEs fossem o CO2 e se baseia no po-
tencial de aquecimento global de cada gás. Por exemplo, para um período de cem anos, o potencial do metano é próximo de 21, o
que significa que cada 1 tonelada de metano emitida corresponderia a 21 toneladas de dióxido de carbono.
Não se deve confundir a equivalência com os Créditos de Carbono, que são certificados emitidos para quem reduz as emis-
sões de GEEs. Uma tonelada de CO2 eq reduzida corresponde a um Crédito de Carbono.

Em foco C1 Compreender as ciências naturais e as tecnologias a elas associadas como construções humanas,
percebendo seus papéis nos processos de produção e no desenvolvimento econômico e social da humanidade.
H4 Avaliar propostas de intervenção no ambiente, considerando a qualidade da vida humana ou medidas de
conservação, recuperação ou utilização sustentável da biodiversidade.

(Enem-MEC)
A atmosfera terrestre é composta pelos gases nitrogênio (N2) e oxigênio (O2), que somam cerca de 99%, e por gases traços, entre eles o gás
carbônico (CO2), vapor de água (H2O), metano (CH4), ozônio (O3) e o óxido nitroso (N2O), que compõem o restante 1% do ar que respiramos.
Os gases traços, por serem constituídos por pelo menos três átomos, conseguem absorver o calor irradiado pela Terra, aquecendo o
planeta. Esse fenômeno, que acontece há bilhões de anos, é chamado de efeito estufa. A partir da Revolução Industrial (século XIX), a
concentração de gases traços na atmosfera, em particular o CO2, tem aumentado significativamente, o que resultou no aumento da
temperatura em escala global. Mais recentemente, outro fator tornou-se diretamente envolvido no aumento da concentração de CO2 na
atmosfera: o desmatamento.
BROWN, I. F.; ALECHANDRE, A. S. Conceitos básicos sobre clima, carbono, florestas e comunidades. MOREIRA, A. G.; SCHWARTZMAN, S. As mudanças
climáticas globais e os ecossistemas brasileiros. Brasília: Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, 2000 (adaptado).
Considerando o texto, uma alternativa viável para combater o efeito estufa é:
a) reduzir o calor irradiado pela Terra mediante a substituição da produção primária pela industrialização refrigerada.
b) promover a queima da biomassa vegetal, responsável pelo aumento do efeito estufa devido à produção de CH4.
c) reduzir o desmatamento, mantendo-se, assim, o potencial da vegetação em absorver o CO2 da atmosfera.
d) aumentar a concentração atmosférica de H2O, molécula capaz de absorver grande quantidade de calor.
e) remover moléculas orgânicas polares da atmosfera, diminuindo a capacidade delas de reter calor.
Resposta: c
Observando o texto, podemos perceber que ele diz que um dos fatores envolvidos no aumento da emissão do CO2 é o desmatamento. Isto
ocorre pois, para a fotossíntese, a planta utiliza este gás, absorvendo-o e transformando-o em O2, que não causa tal efeito. Dessa forma,
a alternativa viável é diminuir o desmatamento. Além disso, a alternativa a aumentaria os CFCs, em razão de seu uso para a refrigeração,
e a alternativa b, o CH4 da queima de biomassa. A d aumentaria o efeito estufa, pois a água também o promove. Já a alternativa e não
resolveria, pois o CH4 e o CO2 são moléculas apolares.

Atividades
1 C5/H17 A Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC) foi instituída em 2009 pela Lei n. 12.187 e oficializa um compromisso
voluntário do Brasil perante a ONU para diminuir as emissões de GEEs. O objetivo é reduzir entre 36,1% e 38,9% até 2020. As medições
dessas emissões são feitas desde 1990. Dados recentes do Ministério do Meio Ambiente mostram que as emissões vêm diminuindo,
e o setor de Uso da Terra e Florestas é o que vem apresentando a maior queda. Em 1995 foram emitidas aproximadamente 1,95 bilhão
de toneladas de CO2 eq por este setor. Já em 2010, foram emitidas cerca de 280 milhões de toneladas de CO2 eq, o que representa uma
queda aproximada de 85,64%.
Considerando que as emissões totais de GEEs sejam compostas somente de CO2, de massa molar 44 g/mol, qual é o número aproximado de
mols desse gás emitido em 2010?
a) 6,36 ∙ 106 mol b) 4,43 ∙ 1013 mol c) 2,83 ∙ 1013 mol d) 6,36 ∙ 1012 mol e) 5,66 ∙ 1013 mol

2 C7/H24 De acordo com a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), o cultivo de arroz inundado é uma das principais fontes
antrópicas de emissão do gás metano (CH4), um dos causadores do efeito estufa da atmosfera. Além dele, os principais gases do efeito estufa
(GEEs) são o dióxido de carbono (CO2), os clorofluorcarbonos (CFCs), o óxido nitroso (N2O) e a água (H2O). Esses gases aprisionam a radiação
infravermelha proveniente da superfície após ser aquecida pelo Sol. Isto ocorre porque essas moléculas possuem uma vibração que absorve
esse tipo de radiação. Tal vibração é atribuída a um deslocamento eletrônico decorrente de uma característica comum a todas estas moléculas
e que outros componentes do ar, como o N2 e o O2, não possuem. Qual seria esta característica?
a) Todas são moléculas polares que, por definição, possuem um desequilíbrio eletrônico, tendo com característica a presença de mais cargas
positivas do que negativas.
b) Todas são ácidos de Arrhenius, que se caracterizam por possuir um maior número de cargas positivas.
c) Todas são moléculas apolares, e o deslocamento de elétrons é decorrente da ressonância destes, do menos eletronegativo para o mais
eletronegativo.
d) Todas possuem ligações apolares, que se caracterizam por existirem entre átomos com eletronegatividades iguais.
e) Todas possuem ligações polares, que se caracterizam por um deslocamento de elétrons do menos eletronegativo para o mais eletronegativo.

Gabarito 1. d 2. e
Confira as resoluções no Portal de seu Sistema de Ensino.

61
 cCCiências
i s
HHumanas
Hu

Em profundidade
O encarceramento em massa no Brasil
O levantamento realizado pelo IBGE em 2016 indica que a taxa de negros analfabetos no
Leia
Brasil é duas vezes maior que a de brancos. Em 2017, um levantamento do IBGE apontou
Editora Letramento/Arquivo da editora
que 50% dos trabalhadores brasileiros recebem menos de um salário mínimo, enquanto
1% dos trabalhadores tem renda mensal de 27 mil reais. O desemprego é de 14,4% entre os
negros, 14,1% entre os pardos e 9,5% entre os brancos. A média nacional de desemprego é
de 12%. O rendimento dos brancos foi de R$ 2.660,00 reais. O rendimento dos pardos foi
de R$ 1.480,00 e dos trabalhadores que se declaram negros foi de R$ 1.461,00.
Zanone Fraissat/Folhapress

BORGES, Juliana. O que é

encarceramento em massa?
Belo Horizonte: Letramento,
2018.
O livro pertence à série
Feminismos Plurais e analisa
os motivos e as consequências
do encarceramento em
massa de homens e mulheres,
majoritariamente negros,
como aspecto essencial na luta
antirracista.

Acesse
ITTC – Instituto Terra,
Trabalho e Cidadania
<http://ittc.org.br/>. O ITTC
é um dos principais agentes
da sociedade civil no estudo
da população encarcerada
no Brasil, construindo
relatórios, publicações,
documentários e projetos Dados do Ipea, do Fórum Brasileiro de Segurança e do Atlas da Violência (2017) confir-
para identificar, compreender mam que a cada 23 minutos um jovem negro é assassinado no Brasil. No Mapa da Violên-
e sugerir ações visando cia de 2015 houve a constatação de que, em dez anos, a taxa de assassinato de mulheres
alterar esse cenário nacional. brancas caiu 9,8%, enquanto nesse mesmo período houve um aumento de 54% na taxa de
assassinato de mulheres negras.
Assista
Tortura e encarceramento Esses dados comprovam os efeitos da desigualdade racial no Brasil. A população ne-
em massa no Brasil 2015 gra brasileira tem mais dificuldade para ter acesso à educação de qualidade, a coloca-
(2015) – Parte 1: A tortura ções no mercado de trabalho, a salários maiores e é a parte da população mais assas-
como política de Estado; Parte sinada. O passado escravocrata ainda não foi superado no Brasil, uma vez que grande
2: As mulheres e o cárcere. parte da população negra não possui os direitos básicos garantidos na Constituição
Documentário produzido pela
Pastoral Carcerária para de 1988. A análise torna-se mais complexa quando categorias como classe e gênero
denunciar as barbáries do são utilizadas para refletir sobre o acesso à cidadania plena. Homens negros pobres e
sistema prisional. periféricos sofrem uma violência maior dentro de nossa sociedade. Mulheres negras
pobres e periféricas são o grupo mais vulnerável nessas relações. Acrescentando o viés
da orientação sexual, fica ainda mais evidente que há alvos destacados dentro da po-
pulação negra que sofrem os efeitos cruéis da desigualdade racial. O assassinato de
Luana Barbosa dos Reis, em 2016, na cidade de Ribeirão Preto (SP), mulher negra, pe-
riférica e homossexual, e o assassinato de Marielle Franco, vereadora do Rio de Janei-
ro (SP), em março de 2018, mulher negra, periférica e homossexual, infelizmente, não
são exceções nesse cenário de violência contra a população negra brasileira.

62
 Completando o ciclo de violência, 64% da população encarcerada no Brasil é negra, enquanto apenas 53% da população total
brasileira é composta de negros. O único espaço onde os negros são a maioria é dentro dos presídios. Atualmente, o Brasil tem a
terceira maior população prisional do mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos e da China. Em 2016, havia 726 mil pes-
soas encarceradas, sendo dois presos para cada vaga do sistema prisional (368 049 vagas disponíveis). A taxa de aprisionamen-
to aumentou em 157% entre 2000 e 2016.
Cerca de 40% são presos provisórios (sem condenação judicial), sendo mais da metade formada por jovens (55%) de 18 a 29
anos. Os dados são do Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (Infopen), do Departamento Penitenciário Na-
cional (Depen), do Ministério da Justiça, de 2016. Os crimes relacionados ao tráfico de drogas são os que mais levam pessoas
às prisões (28% da população carcerária total). Somados, roubos e furtos chegam a 37% e homicídios representam 11% dos cri-
mes que causaram a prisão. Quanto à escolaridade, 75% da população prisional brasileira não chegou ao ensino médio. Entre as
mulheres encarceradas, há um total de 45 989 mulheres presas, sendo 62% dos crimes relacionadas ao tráfico de drogas. Em 16
anos, a população feminina encarcerada cresceu cerca de 698% no Brasil. Um aumento muito mais expressivo que o aumento
da população masculina.
Skyward Kick Productions/Shutterstock

Reconhecer a desigualdade racial é essencial para estruturar e construir uma sociedade mais justa e igualitária no Bra-
sil. Para além das políticas públicas, da legislação e das ações políticas, que todos os cidadãos brasileiros possam com-
preender e fortalecer a luta antirracista em nosso país. “Quanto mais negro, quanto mais melanina, mais alvo. Quanto
mais negro, mais negros juntos, mais alvo, mais Auto de resistência. E nessas horas, estamos sós, desprotegidos e sós. Só
depois, se sobrevivermos ao susto e à violência, a poesia nos acalentará” (Cidinha da Sila, #Parem de nos matar!, São
Paulo: Ijumaa, 2016).

63
Ciências Humanas
Em foco C3  Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as 
aos diferentes grupos, conflitos e movimentos sociais. 
H12 Analisar o papel da justiça como instituição na organização das sociedades.

(Enem-MEC)
Uma sociedade é uma associação mais ou menos autossuficiente de pessoas que em suas relações mútuas reconhecem certas regras de
conduta como obrigatórias e que, na maioria das vezes, agem de acordo com elas. Uma sociedade é bem ordenada não apenas quando está
planejada para promover o bem de seus membros, mas quando é também efetivamente regulada por uma concepção pública de justiça.
Isto é, trata-se de uma sociedade na qual todos aceitam, e sabem que os outros aceitam, o mesmo princípio de justiça.
RAWLS, J. Uma teoria da justiça. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
A visão expressa nesse texto do século XX remete a qual aspecto do pensamento moderno?
a) À relação entre liberdade e autonomia do liberalismo.
b) À independência entre poder e moral do racionalismo.
c) À convenção entre cidadãos e soberano do absolutismo.
d) À dialética entre indivíduo e governo autocrata do idealismo.
e) À contraposição entre bondade e condição selvagem do naturalismo.
Resposta: a
O texto enfatiza o papel da justiça na organização da sociedade: regras que são reconhecidas por todos para garantir o bem-estar dos
membros. Os indivíduos construiriam um consenso de que essas regras possibilitam a aplicação da justiça, garantindo o espaço de atuação
individual.
b) Distrator. O texto não aborda a temática da moral.
c) Distrator. No absolutismo não há convenção entre cidadão e soberano por meio do reconhecimento de regras aplicadas de maneira
semelhante a todos. No absolutismo, alguns grupos possuíam privilégios.
d) Distrator. O texto enfatiza a noção de justiça pública, aspecto que não está presente em um governo autocrata.
e) Distrator. O texto não relaciona a justiça à concepção naturalista.

Atividades
1 C3/H15
[...] num tempo histórico bem anterior, já se exigia modernização técnica e de procedimentos para punição, seguindo os ventos das
inovações aplicadas pelas políticas liberalizantes relativas aos direitos [...]. Ao mesmo tempo, demandava-se uma política de controle
e disciplinamento das classes subalternas rígida, autoritária e altamente repressiva. Contudo, e do ponto de vista da problemática
republicana brasileira, esse é o drama de mais de um século na história política brasileira, desde o fim da escravidão (1888): como
garantir o controle social absoluto [...] sobre a massa de ex-escravos?
NEDER, Gizlene. Sentimentos e ideias jurídicas no Brasil: pena de morte e degredo em dois tempos. In: MAIA, Clarissa Nunes et. al. (Org.).
História das prisões no Brasil. Rio de Janeiro: Anfiteatro, 2017. v. 1.
Qual é a tensão social exposta no texto?
a) O debate sobre a cidadania da população liberta com a Lei Áurea, ampliando as políticas liberais.
b) A criação de mecanismos disciplinadores para a população ex-escravizada a fim de que pudesse ser inserta no mercado de trabalho.
c) O papel do Estado republicano na criação de políticas repressoras em relação à população recém-liberta.
d) A condenação de práticas punitivas violentas e autoritárias por parte da população ex-escravizada influenciada pelas políticas liberais.
e) A construção de um debate amplo e democrático sobre os modelos punitivos que poderiam ser adotados na Primeira República.

2 C2/H8
Fazendo parte de uma cultura legalista comum, Washington Luís, Lindolfo Collor e Getúlio Vargas foram igualmente atraídos pela
simbologia política de leis avançadas e progressistas, ainda que pouco se preocupassem com sua real implementação. Sendo assim,
suas diferenças, se existentes, exigem que se examine de perto a fórmula-chave de Washington Luís: “[...] em São Paulo pelo menos, a
agitação operária é uma questão que interessa mais à ordem pública do que à ordem social. [...] É importante ressaltar que o alvo da
fórmula, [...], não era a questão social ou do trabalho, mas a da agitação dos operários”. De acordo com Washington Luís, era o fenômeno
de greves e protestos dos trabalhadores que dizia respeito à “ordem pública, mais do que à ordem social” – tanto em sua época quanto
nos anos seguintes.
FRENCH, John D. Proclamando leis, metendo o pau e lutando por direitos. In: LARA, Silvia Hunold; MENDONÇA, Joseli Maria Nunes (Org.).
Direitos e justiças no Brasil. Campinas: Ed. da Unicamp, 2006.

De acordo com o texto, qual foi uma possível semelhança entre os governos de Washington Luís e Getúlio Vargas?
a) O tratamento de questões sociais por meio de uma legislação trabalhista para trabalhadores urbanos e rurais.
b) O empenho político em construir uma legislação trabalhista que representasse avanços reais para os operários.
c) O uso da propaganda política para construir mecanismos de controle sobre a população em geral.
d) O controle sobre manifestações grevistas do movimento operário, buscando coibir esse tipo de ação política.
e) A intervenção mínima do Estado nas relações trabalhistas, garantindo a liberdade de atuação e organização do movimento operário.

Gabarito 1.  c      2.  d

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64
 RRRedação
Coesão e coerência: Em profundidade
costurando palavras, frases e ideias Leia
Um bom texto é composto de muitos elementos. Quem escreve precisa estabelecer um

Parábola Editora/Arquivo da editora

fio condutor que tenha sentido completo da primeira à última palavra. Isso pode até pare-
cer bastante óbvio, pois nos comunicamos a todo momento, de maneira gestual, falada e
escrita, utilizando as mais diversas ferramentas e plataformas existentes. A questão, en-
tretanto, vai além: imagine só quantos desentendimentos poderiam ser minimizados se
utilizássemos as palavras corretas, no contexto ideal, para expressar aquilo que realmente
desejamos dizer, ou até mesmo para silenciar algo que não gostaríamos de expor?
Por diversas razões, buscamos atalhos para simplificar o que dizemos. Quando nos ex-
pressamos verbalmente, o interlocutor tem acesso a uma série de recursos cognitivos para
ANTUNES, Irandé. Lutar
interpretar: altura e entonação da voz, gestos e também o movimento de nossos olhos en- com palavras: coesão e
quanto falamos. Tudo isso ajuda, e muito, na hora de compreender mais claramente o que coerência. São Paulo:
está sendo dito – e oferece mecanismos para explicar algo que não foi entendido. Mas, cá Parábola Editorial, 2005.
entre nós, quem nunca teve um problema com a pessoa do outro lado ao enviar uma men- Ao depararmos com um texto
sagem de texto? Pois é, isso acontece porque expressar-se por vias textuais exige muita que não está bem formulado,
atenção ao conjunto de palavras, frases e ideias utilizadas, afinal elas são os principais – com ideias não tão claras,
logo pensamos: esse texto não
quando não os únicos – recursos de comunicação presentes ali.
tem coerência; falta coesão.
É por isso que, ao escrever, devemos sempre convidar duas irmãs muito especiais: a coe- “Mas... falta coesão exatamente
são e a coerência. Às vezes elas são tidas como vilãs, responsáveis por ceifar notas de can- onde? Falta que tipo de recurso
didatos desavisados por aí, provas e vestibulares afora. Porém, se bem usadas, coerência para que ele se torne um texto
e coesão são instrumentos enriquecedores do texto, responsáveis por torná-lo uma obra coerente?”. O propósito do livro
una, lógica, capaz de convencer quem lê. é responder a essas questões,
trazendo noções básicas sobre
Para entender melhor como esses mecanismos atuam na fabricação do texto, vale uma
coesão e sua relação com a
comparação. Pense na fabricação de uma peça de roupa. Nesse caso, as palavras são os re- coerência. Irandé Antunes faz
talhos e a coesão representa as linhas que conectam os pedaços de tecidos, isto é, aquilo o exercício de tradução dos
que dá forma à peça final. termos técnicos que aparecem
A coesão, assim como a linha, conecta as partes do texto, sejam elas palavras, orações, nos manuais de linguística
frases, parágrafos, etc., estabelecendo uma sequência lógica. Essa ligação pode ser feita tradicionais, e que, por vezes,
também não são acessíveis
por meio de alguns mecanismos, entre eles: a criação de referências e reiterações; a subs- nos livros didáticos. A autora
tituição de palavras por outras, evitando repetições; a utilização de conectores que insti- argumenta que tanto escrever
tuam relação de dependência entre termos como conjunções, preposições e outros modos quanto falar são atividades
de estabelecer conexão; e, por fim, a garantia da correta utilização dos tempos verbais, or- textuais e, por isso, não podemos
ganizando os acontecimentos de forma linear. apenas dispor as palavras
de maneira justaposta e
E a coerência, onde ela se encaixa? Bem, não adianta você ter cortes de tecido para fazer
desconectada. Aproximando
uma blusa e tentar costurar uma calça, certo? a reflexão e as técnicas para
Se a coesão se ocupa dos elementos estruturais, a coerência, por sua vez, está relacionada o cotidiano comunicativo,
à significação do texto, ao sentido e à lógica que as ideias indicam ao leitor. Para entendê-la o livro tem como objetivo
e não produzir um texto incoerente, é melhor ficar atento ao que n‹o fazer. Basicamente, o ajudar no desenvolvimento
texto não pode ter informações que se contradizem, perdendo a lógica. Ser coerente pressu- das competências para a
leitura e a formação de textos
põe ainda que não existem, em um mesmo texto, fragmentos com ideias repetidas, mesmo
orais e escritos de forma mais
que escritas em outras palavras. E, por fim, lembre-se de que de nada adianta haver no texto consistente e relevante, bem
trechos que dissertem sobre assuntos diferentes se eles não estiverem relacionados entre si. como na compreensão dos
Talvez você esteja se perguntando: preciso me ater aos detalhes gramaticais, semânti- mecanismos que deixam os
cos, estruturais, ao conteúdo e também aos aspectos de coesão e coerência, tudo isso ao textos mais encadeados, fluidos,
mesmo tempo? A resposta é: sim, precisa. Mas não se assuste. Escrever é um exercício e, portanto, coesos e coerentes.
“Lutar com palavras
cujo sucesso depende da combinação constante entre leitura e redação, além de senso crí- é a luta mais vã.
tico aguçado. Olhar com curiosidade para o mundo, ler o máximo que conseguir e trans- Entanto lutamos
mitir ao papel (ou no teclado) a visão que você tem do assunto certamente fará com que, mal rompe a manhã”.
O lutador, Carlos Drummond de
em pouco tempo, você nem perceba que está utilizando esses mecanismos. Dessa forma, o Andrade.
texto simplesmente fluirá.

65
 Redação
Redação Enem comentada Proposta de
(Enem) O poder de transformação da leitura redação – Inédita
Texto I Textos motivadores
“Uma vez que nos tornamos leitores da palavra, invariavelmente estaremos lendo o mundo
sob a influência dela, tenhamos consciência disso ou não. A partir de então, mundo e Texto I
palavra permearão constantemente nossa leitura e inevitáveis serão as correlações, de Escrita à mão vira hobby na era digital
modo intertextual, simbiótico, entre realidade e ficção. Lemos porque a necessidade de Quando foi a última vez que você utilizou
desvendar caracteres, letreiros, números faz com que passemos a olhar, a questionar, a uma caneta ou um lápis? Em uma realidade
buscar decifrar o desconhecido. Antes mesmo de ler a palavra, já lemos o universo que nos em que usar aplicativos, redes sociais e
permeia: um cartaz, uma imagem, um som, um olhar, um gesto. São muitas as razões para e-mail é uma tarefa ordinária, escrever à
a leitura. Cada leitor tem a sua maneira de perceber e de atribuir significado ao que lê.” mão está ganhando espaço de outra forma:
ALMEIDA, Inajá Martins de. O ato de ler. Texto da internet (com adaptações). como trabalho manual. Em cursos, canais na
internet ou no mercado editorial, a escrita à
Texto II mão se populariza com os nomes de caligrafia
“Minha mãe muito cedo me introduziu aos livros. Embora nos faltassem móveis e roupas, e lettering. [...]
livros não poderiam faltar. E estava absolutamente certa. Entrei na universidade e tornei- Escritora em tempo integral, Tati Lopatiuk, de
me escritor. Posso garantir: todo escritor é, antes de tudo, um leitor.” 33 anos, aderiu à caligrafia há pouco mais de
SCLIAR, Moacyr. O poder das letras. In: TAM Magazine, jul./2006, p. 70 (com adaptações). um mês. [...] A escritora aprendeu a técnica
por meio do livro Caligrafia para relaxar,
Texto III
aposta da Editora Sextante para o mercado de
“Existem inúmeros universos coexistindo com o nosso, neste exato instante, e todos
livros interativos.
bem perto de nós. Eles são bidimensionais e, em geral, neles imperam o branco e o
Lançado em novembro, o livro traz exercícios
negro. Estes universos bidimensionais que nos rodeiam guardam surpresas incríveis
diversos, amparados em textos motivacionais,
e inimagináveis! Viajamos instantaneamente aos mais remotos pontos da Terra ou do
e é personalizável. “A pessoa sai do mundo
Universo; ficamos sabendo os segredos mais ocultos de vidas humanas e da natureza;
digital para fazer as tarefas, mas, depois,
atravessamos eras num piscar de olhos; conhecemos civilizações desaparecidas e
quer fotografar e compartilhar o resultado”,
outras que nunca foram vistas por olhos humanos. Estou falando dos universos a que
comenta a gerente de aquisições da Sextante,
chamamos de livros. Por uns poucos reais podemos nos transportar a esses universos e
Nana Vaz de Castro. Só no Instagram,
sair deles muito mais ricos do que quando entramos.”
as hashtags “lettering” e “caligrafia”
Internet: <www.amigosdolivro.com.br> (com adaptações). têm 7,2 milhões e 324,5 mil postagens,
Considerando que os textos citados têm caráter apenas motivador, redija um texto respectivamente. [...]
dissertativo a respeito do seguinte tema:
Estadão (Conteúdo) – 01/01/2018.
O PODER DE TRANSFORMAÇÃO DA LEITURA Disponível em: <https://istoe.com.br/escrita-a-mao-
Ao desenvolver o tema proposto, procure utilizar os conhecimentos adquiridos e as reflexões vira-hobby-na-era-digital/>.
feitas ao longo de sua formação. Selecione, organize e relacione argumentos, fatos e opiniões Acesso em: 8 abr. 2018.
para defender seu ponto de vista e suas propostas, sem ferir os direitos humanos. Texto II
Observações: “A geração anterior, de quem já tem mais de
• Seu texto deve ser escrito na modalidade-padrão da língua portuguesa. 30 anos, só se comunicava pelo telefone. Esta
• O texto não deve ser escrito em forma de poema (versos) ou narração. geração de crianças e jovens voltou a escrever
• O texto deve ter, no mínimo, 15 (quinze) linhas escritas. – no Facebook, no Twitter, no WhatsApp,
• A redação deve ser desenvolvida na folha própria e apresentada à tinta. em blogs. A escola tem de aproveitar essa
• O rascunho pode ser feito na última página deste Caderno. produção. Alguns até dirão que eles escrevem
Comentário errado. Claro, todo mundo escreve errado antes
Em 2006, a redação do Enem pediu aos estudantes que dissertassem sobre o poder de de escrever certo. Podemos partir de uma
transformação da leitura. Para isso, foram fornecidos três textos motivadores com base escrita que não está no padrão para chegar à
nos quais o aluno era estimulado a refletir sobre a maneira como a leitura é capaz de norma culta.”
modificar nossa relação com o mundo. Mário Sérgio Cortella, filósofo e educador, em
No primeiro texto fica evidente que o ato de ler aumenta nossa capacidade de entrevista de 14/05/2014 ao jornal
interpretação e permite uma observação mais atenta, crítica e relacional, especialmente O Estado de S. Paulo.
quando levamos em consideração a importância das palavras. Isso demonstra o poder do Texto III
leitor na hora de atribuir significado àquilo que lê, característica essa ligada à curiosidade “De repente as pessoas começaram a
humana de desvendar, questionar e buscar o que é desconhecido. Assim, é possível substituir a expressão verbal, seja por
tencionar, por exemplo, os limites entre ficção e realidade, concreto e abstrato, etc. escrito ou não, por uma imagem pictórica
Considerando a palavra como a matéria-prima do processo de significação, Moacyr [emoticon]”.
Scliar, no segundo texto, garante que “todo escritor é, antes de tudo, um leitor”. A
habilidade da escrita, nesse sentido, está intimamente relacionada à leitura. Assim, Mário Sérgio Cortella, filósofo e educador, em
entrevista de 30/05/2017 ao programa Café
traduzir o mundo em palavras é um processo cíclico que também implica capacidade de
Filosófico (apresentado na TV Cultura).
lê-lo por meio dos signos escritos.
Por fim, o terceiro texto aborda a característica lúdica da leitura e a capacidade que os livros Com base na leitura dos textos motivadores
têm de nos fazer viajar, conhecer personagens e nos transportar para outros universos. e nos conhecimentos construídos ao
Nesse sentido, a leitura oferece diferentes possibilidades de percepção a respeito do real e longo de sua formação, redija um texto
do imaginário e nos conecta a personagens fantásticos e ambientes inóspitos. dissertativo-argumentativo em modalidade
Por tudo, deve-se produzir um texto dissertativo que reflita sobre o papel da leitura no escrita formal da língua portuguesa sobre
cotidiano de um mundo em constante modificação, no qual o volume de informação o tema “Os desafios da escrita em língua
a que temos acesso todos os dias exige grande habilidade de interpretação crítica. É portuguesa na era digital”, apresentando
importante que o aluno discuta e apresente de forma inovadora os mecanismos pelos proposta de intervenção que respeite os
quais a leitura – tanto de mensagens, notícias, ciência ou literatura – se configura como a direitos humanos. Selecione, organize
principal ferramenta de ampliação de nossa visão de mundo, expansão de conhecimento, e relacione, de forma coerente e coesa,
descoberta e, portanto, de transformação da realidade. argumentos e fatos para a defesa de seu
ponto de vista.

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