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# 35
ISSN 24467995
ORIGENS DA
CORRUPÇÃO
NO BRASIL CORRUPÇÃO
À VISTA!
ELA CHEGOU
AO PAÍS
JUNTO COM
AS CARAVELAS
HINO DO NORDESTE
OS 70 ANOS DE “ASA-BRANCA”,
DE LUIZ GONZAGA, O REI DO BAIÃO
Jornalista responsável
ORIGENS DA gos elevados, sua conduta começa a corromper-se”. Seria mais do que Jayme Brener
CORRUPÇÃO
NO BRASIL razoável imaginar que elas foram proferidas por algum brasileiro profunda- (Mtb 19.289-78-61-SP)
CORRUPÇÃO
À VISTA!
ELA CHEGOU
mente desiludido com a avalanche de escândalos de corrupção que há anos
AO PAÍS Produção editorial
JUNTO COM
AS CARAVELAS
assola o país. Mas não, caro leitor! A primeira frase é de autoria do escritor
Ex Libris Comunicação Integrada
irlandês Jonathan Swift (1667-1745), cuja obra mais famosa é Viagens de Tel. (11) 3266-6088
HINO DO NORDESTE
OS 70 ANOS DE “ASA-BRANCA”,
DE LUIZ GONZAGA, O REI DO BAIÃO Gulliver. E a segunda é da lavra de ninguém menos que Thomas Jefferson contato@libris.com.br
MUITO MAIS QUE UM ROSTO BONITO
HEDY LAMARR E A INVENÇÃO DO CELULAR
(1743-1826), um dos pais fundadores dos EUA.
Edição
Fica claro, portanto, que a corrupção não é uma jabuticaba, ou seja, algo que
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Cláudio Camargo
só prospera nestas terras onde canta o sabiá, como muitos nos querem fazer
crer. Nem tampouco é algo recente, que está sendo desvendada pelos procu- Revisão
radores da Operação Lava Jato. Nossa reportagem de capa mostra que convi- Hélia de Jesus Gonsaga (ger.),
vemos com essa praga desde os tempos coloniais. “Perde-se o Brasil porque Kátia Scaff Marques (coord.),
Rosângela Muricy (coord.),
alguns ministros de Sua Majestade não vêm cá buscar nosso bem, vêm cá bus- Cesar Sacramento, Diego
car nossos bens”, asseverava o padre Antônio Vieira, um dos mestres da língua Carbone, Gabriela Macedo
portuguesa. Chegando com as caravelas portuguesas, a corrupção continuou de Andrade, Larissa Vazquez,
vicejando nas capitanias, na vinda da família real, no império, na república velha, Patricia Cordeiro, Ricardo Miyake
e Vanessa de Paula Santos
nas ditaduras e na democracia. Talvez estejamos passando o país a limpo, mas
a história nos mostra que a corrupção pode ser reduzida, mas não abolida. Projeto gráfico
Você poderá também ler uma matéria sobre as origens do neoliberalismo. Buono Disegno
Curiosamente, os dois países que deram origem a tal política – Reino Unido www.buonodisegno.com.br
e Estados Unidos – foram os primeiros que começaram a rejeitar alguns de
Diagramação
seus pressupostos: veja-se o Brexit e a eleição de Donald Trump. Regina Beer
Você também poderá conferir matérias sobre a história da corrida espacial;
os 70 anos da “Asa-Branca”, o “hino do Nordeste”; e a fascinante trajetória Infográficos
Área Design
do Homo sapiens. Saiba também como uma beldade de Hollywood ajudou
a inventar o celular. Na entrevista, a anestesiologista Lygia Mello Zanetta dá Capa
dicas para quem pretende cursar medicina. Daniel Elias
Boa leitura!
Foto da capa
Impressão e acabamento
Arquivo pessoal
Reprodução proibida.
LUIZA VILLAMÉA CLÁUDIO CAMARGO LUIZ CHAGAS FERNANDO PORFIRIO Todos os direitos reservados.
09
SEM
LIMITES A
CORRUPÇÃO
DESDE CABRAL
O ataque aos cofres públicos e
a confusão entre bens públicos
e privados escancarados na Lava
Jato têm origem na época da Colônia.
As práticas corruptas cresceram com
a vinda da família real em 1808 e se 10
intensificaram no Império e nas
diversas fases da República, com
destaque para o período da
ditadura militar.
18
O FIM DO
NEOLIBERALISMO?
Depois de reduzir o papel do
Estado, diminuir os direitos
sociais e precarizar o trabalho, o
neoliberalismo está em crise desde
2008 e uma das razões dessa crise é
a insistência dos Estados Unidos em
manter sua hegemonia, forçando
o resto do mundo a financiar
seu deficit comercial
e fiscal.
CORRIDA
ESPACIAL
ENTENDA A LÍNGUA
PORTUGUESA BIOLOGIA Em 1957, a URSS lança o 22
REVISTA primeiro satélite artificial, o
INGLÊS FÍSICA Sputnik I, e em 1961 o cosmonauta
Os ícones temáticos
QUÍMICA
soviético Iuri Gagárin se torna o
relacionam as ESPANHOL
primeiro homem a ir ao espaço.
matérias às áreas do Mas os EUA superaram o atraso e
ARTE GEOGRAFIA
conhecimento. A seção chegaram à Lua em 1969. Hoje,
“Em foco” contempla EDUCAÇÃO
SOCIOLOGIA
FÍSICA depois de acidentes e do impacto
as competências e as da crise econômica, a corrida
MATEMÁTICA FILOSOFIA
habilidades do Enem. espacial se desacelerou.
HISTÓRIA
SOBROU O
HOMO SAPIENS
36 Surgido há cerca de 200 mil anos, o
Homo sapiens era apenas uma entre
várias espécies de humanos habitando
a Terra. Há 30 mil anos, contudo, o
sapiens se tornou a única espécie e as
demais se extinguiram. A capacidade
de criar narrativas para realizar
a cooperação em massa pode
explicar essa evolução.
43 LIXO
ELETRÔNICO
BACKUP
A indústria de computadores 40
e smartphones gera cerca de
41 milhões de toneladas de lixo
eletrônico por ano, e este número
HEDY não para de crescer. O problema da
LAMARR E O destinação desse lixo eletrônico
CELULAR tornou-se um desafio global porque
44 Além de encantar o público com
sua beleza deslumbrante, a atriz
ameaça o meio ambiente e a
própria vida humana.
Hedy Lamarr (1914-2000) foi uma
aplicada cientista. Juntamente
com o músico George Antheil, ela
elaborou uma tecnologia que
permitiria, décadas depois, o 50
desenvolvimento dos modernos
celulares. Na época, contudo,
49 DIÁLOGO
ENCARE COM A ARTE
a descoberta foi
desprezada.
ESSA!
ormada em 1979 pela Faculdade de Me- estava muito bem preparada, então fiz o vestibu-
F
dicina da Universidade de São Paulo, Ly- lar para biologia. Cursei um ano, mas desde o co-
gia Mello Zanetta tem especialização em meço não gostei muito. Fiz cursinho preparatório
anestesiologia e atualmente trabalha para o vestibular junto com a faculdade e daí en-
como autônoma em hospitais de ponta, trei em Medicina.
como o Hospital Israelita, o Albert Einstein, o Hos-
pital e Maternidade São Luiz e o Hospital Sírio-Liba- E como escolheu se especializar em aneste-
nês, o Hospital Alemão Oswaldo Cruz, entre outros. siologia?
Ela diz que a profissão requer muita dedicação e, Decidi só no sexto ano. Um dos motivos foi que eu
mesmo que o médico não goste de lidar diretamen- gostava muito de terapia intensiva, e a residência
te com pacientes, o trabalho é sempre muito árduo. de anestesiologia era um caminho mais rápido para
“Quem quer fazer Medicina tem que saber que vai fazer UTI (Unidade de Terapia Intensiva). Tam-
se privar de passeios, viagens, diferentemente dos bém achava que não tinha perfil para o dia a dia de
amigos que vão para outras áreas. Por outro lado, por um consultório e, como anestesiologista, o trabalho
conviver em tempo integral com os colegas de tra- é sempre em equipe. Gostei muito da especialidade.
balho, desenvolvem-se grandes amizades e relações Faço anestesia até hoje e não fui para UTI!
duradouras”, pondera Lygia.
O exercício da profissão correspondeu às suas
Atualiza: Como você decidiu estudar Medicina? expectativas de estudante?
Foi a sua primeira opção? Acho que correspondeu. Mas durante a faculdade
Lygia Mello Zanetta: No fim do colegial eu esta- eu não tinha uma boa ideia de como seria a rotina da
va em dúvida entre Medicina e Oceanografia. Não vida profissional. Pouca gente tinha, aliás.
HQuality/Shutterstock
A Medicina é um curso muito
difícil, tanto para nele ingres-
sar quanto para concluí-lo. Em
sua experiência, você conhece
casos de estudantes que desis-
tiram da profissão no meio do
caminho?
Conheço alguns. Mas na mi-
nha turma de 100 alunos, ape-
nas um colega desistiu durante a
graduação. E tenho colegas que
se formaram e logo mudaram
de carreira. Nunca exerceram a
Medicina. Mas a grande maioria
exerce até hoje.
A tecnologia é essencial em
quase todas as profissões, prin- havia e fazia falta. Outra grande Quais são as especialidades
cipalmente na Medicina. Mas A residência mudança é que o curso era, até o atualmente mais procuradas?
existem casos em que o excesso médica ajuda quarto ano, igual para todos. Ago- Por quê?
de automação atrapalha a prá- Segundo uma colega que participa
tica profissional?
a obter mais ra existe um currículo nuclear
obrigatório e matérias optativas, de comissões de residência médi-
Em minha opinião, pode atrapa- conhecimento, que podem incluir já contato com ca, há maior procura por derma-
lhar muito. Acho que a relação desenvolver pacientes e pesquisadores. Algu- tologia e radiologia. Acredito que
médico-paciente ainda é funda- prática e mas faculdades estão adotando o por proporcionarem melhor qua-
mental para o diagnóstico e a ade- método PBL (problem based lear- lidade de vida, já que não têm cha-
rência ao tratamento. Exames so-
treinar na ning): grupos pequenos de alunos mados de urgência nessas espe-
fisticados são importantes, claro, especialidade e um tutor apresentam e estudam cialidades.
mas não devem substituir a boa escolhida casos clínicos.
clínica. Que dicas você daria a um es-
Outro aspecto é a informatização O que mais te marcou em sua tudante que pensa em fazer
dos prontuários nos hospitais. experiência como médica? Medicina?
Aos poucos os papéis estão sendo O tempo que passei trabalhando Tentar ter certeza de que realmen-
substituídos por registros infor- no pronto-socorro do Hospital das te gosta, o que não é muito fácil!
matizados. Ainda estamos numa Clínicas. Pacientes graves, e nosso Apesar de haver um leque grande
fase de transição, alguns ainda trabalho faz muita diferença. de possibilidades de trabalho na
têm registros em papel e no com- Medicina – até mesmo para os que
putador. Pode ser que futuramen- Quais são as perspectivas de não gostam de lidar com pacientes
te a rotina se torne mais fácil, mas um médico recém-formado? –, a dedicação requer muito tem-
por enquanto está dificultando Ele deveria, antes de tentar po. O aluno tem que saber que vai
bastante. abrir um consultório ou uma se privar de passeios, viagens – di-
clínica, trabalhar em hospitais ferentemente dos amigos que vão
Aponte algumas mudanças e prontos-socorros para adqui- para outras áreas. Por outro lado,
importantes que você detec- rir uma experiência maior? por conviver em tempo integral
ta hoje nos cursos de Medici- Acho que o médico recém-forma- com colegas de trabalho, desenvol-
na em relação à época em que do deve fazer a residência médica. vem-se grandes amizades e rela-
você se formou. É o ideal para obter mais conheci- ções duradouras.
Mudou bastante. Está sendo aos mento, desenvolver prática e trei-
poucos incluído um “currículo namento na especialidade que es- Se você não fosse médica, o que
humanista”, com aulas de filoso- colheu e ganhar segurança, com escolheria como profissão?
fia, antropologia, psicologia, o que supervisão de profissionais mais Acho que poderia ser arquiteta.
é muito bom. Quando estudei não experientes. Ou trabalhar com turismo.
muratart/Shutterstock
na atmosfera aumentará 59%, com as turbulências classifi- dos Campos (SP), estão dentro do cro-
cadas de leve a moderadas aumentando 75%; as moderadas, nograma para testar o primeiro avião hi-
94%; as moderadas a graves, 127%; e as graves, 149%. persônico brasileiro em 2020.
A razão desse crescimento é que as mudanças climáticas es- O protótipo, batizado de 14-X, uma homena-
tão gerando tesouras de vento mais fortes dentro das gem ao 14-Bis de Santos Dumont, terá um motor
correntes de jato. As tesouras de vento podem se capaz de levar o avião não tripulado a uma veloci-
tornar instáveis e são uma das principais causas dade de 12 mil quilômetros por hora, ou 3 km
de turbulências. por segundo – uma velocidade dez vezes
Fonte: <http://www.sciencemag.org/> mais rápida que o som.
SEM Os testes iniciais do veículo estão sendo
INTERFACE Latina.
ENTRE CIÊNCIA A tecnologia de propulsão hipersônica as-
E SOCIEDADE
pirada, que utiliza o ar atmosférico para a
combustão, está em desenvolvimento por
empresas e agências espaciais dos Estados Uni-
dos, da Europa e da Austrália.
O objetivo do programa brasileiro, deno-
minado Prohiper, é projetar, construir e
Influência da ensaiar em solo e em voo duas tecno-
logias: a de uma aeronave – em que é
vitamina D estudado o efeito de sustentação hi-
Um estudo brasileiro divulgado na revista persônica (waverider), que permi-
inovacaotecnologica.com.br
A primeira missa no Brasil (1860), quadro de Victor Meirelles que celebra o descobrimento
do Brasil. Os índios foram as primeiras vítimas da corrupção no país.
A corrupção chegou Historiadores como A República Velha As empreiteiras que
ao Brasil com as Marco Morel afirmam (1889-1930) ficou estão sendo investigadas
caravelas de Pedro que o primeiro conhecida por ter pela Operação Lava Jato
Álvares Cabral. governador-geral do aumentado nasceram e se
Portugal queria Brasil, Tomé de consideravelmente a consolidaram durante
amealhar lucros, mas Souza, inaugurou a corrupção eleitoral que a ditadura militar
não desejava investir tristemente famosa era praticada no Império. (1964-1985). Explique
na nova colônia. “boquinha” no Quais eram os principais por que na época não
De que maneira a coroa país. Quais são as mecanismos que a prosperou qualquer
portuguesa conseguiu evidências que oligarquia política utilizava tentativa de investigar
resolver esse impasse? comprovam esse fato? para fraudar as eleições? casos de corrupção.
Corrupção,
uma prática muito antiga
Dos tempos coloniais
aos dias de hoje, a
trajetória do país é
pontuada pelo uso de
bens públicos como se
fossem privados e por
episódios explícitos
de “toma lá dá cá”
12 | CIÊNCIAS HUMANAS
É
nas os delatores
da empreiteira
Odebrecht citaram
em casos de cor-
rupção o atual pre-
sidente da Repú-
blica, quatro ex-presidentes, oito
ministros, 24 senadores, 39 depu-
tados federais e três governadores.
É assustador, mas não é novidade.
Desde os tempos do Brasil colônia,
a corrupção assola o país. Não por
acaso, padre Antônio Vieira, que
vivia entre o Brasil e Portugal, pro-
feriu, em 1655, o Sermão do Bom
Ladrão, no qual dizia que não são
só ladrões “os que cortam bolsas,
ou espreitam os que se vão banhar O padre Antônio Vieira, um dos mestres da literatura portuguesa, foi
um dos primeiros a denunciar a corrupção oficial.
para lhes colher a roupa”.
No entender do padre, “os la-
drões que mais dignamente mere-
cem este título são aqueles a quem desembarque português. Em se- direito de ficar com uma porcenta-
os reis encomendam os exércitos guida, estabeleceu-se o ambien- gem dos lucros da empreitada. Não
e legiões ou o governo das provín- te propício para que a corrupção deu muito certo. Como não havia
cias, ou a administração de cidades se alastrasse. Portugal queria fiscalização, a Coroa era obrigada
e reinos”. E, embora fizesse o ser- amealhar lucros, mas não dese- a aceitar qualquer conta que lhe
mão na Igreja de Nossa Senhora java investir no novo território. prestassem. Ademais, além da ex-
da Misericórdia, em Lisboa, diante A saída foi terceirizar a ocupação. tração do pau-brasil, pouco se fez
de dom João IV, o padre em alguns Como as terras eram distantes e na então colônia até 1545, quando
momentos fala como se estivesse na rareavam empreendedores para a Espanha descobriu as minas de
colônia do Atlântico Sul: “Perde-se a tarefa, a Coroa optou por ser prata de Potosí, onde se localiza
o Brasil (digamo-lo em uma pala- permissiva. atualmente a Bolívia.
vra) porque alguns ministros de Sua Dividiu o território em capi- Diante da possibilidade de tam-
Majestade não vêm cá buscar nosso tanias e doou a posse para inte- bém encontrar riquezas minerais
bem, vêm cá buscar nossos bens”. grantes da pequena nobreza de no Brasil e para impedir invasões
Ele estava coberto de razão. A Portugal, que ganharam o título estrangeiras, Portugal nomeou
corrupção chegou ao Brasil junto de capitães donatários. Nas faixas um governador-geral, Tomé de
com as caravelas. Em troca de quin- de terra, eles eram a autoridade Souza. Ele chegou em 1549, auto-
quilharias, os indígenas não ofe- máxima, podendo decretar até rizado pelo rei dom João III a fa-
receram nenhuma resistência ao pena de morte. Tinham também o zer “dádivas a quaisquer pessoas
que sejam”. E fez isso sem parci- era, no entanto, uma exclusivi- Benguela e outros países africa-
mônia. Mal desembarcou, come- dade de Portugal. Em territórios nos eram a força motriz de todos
çou a tocar obras, a começar pela colonizados por outros países eu- os setores da economia da colô-
construção de Salvador, a primei- ropeus, como a Holanda, a Grã- nia – e também por todo o servi-
ra capital da colônia. -Bretanha e a França, também ço doméstico.
O historiador Marco Morel ocorria processo similar, embora Os negreiros, como eram co-
afirma que Tomé de Souza inau- cada um tivesse sua especificida- nhecidos os negociantes de escra-
gurou a tristemente famosa “bo- de. Quando o Brasil passou a se vos, faziam fortuna rapidamen-
quinha”. Citando um cronista da destacar pela produção de açúcar, te e contavam com a aprovação
época, frei Vicente de Salvador, o Portugal embolsava polpudas ta- social. Na verdade, integravam a
historiador conta que depois de xas pagas pelos senhores de enge- elite colonial. Para ter uma ideia
quatro anos, ao fim de sua admi- nho. Os portugueses também con- de como suas práticas corrosivas
nistração, Tomé de Souza desa- trolavam a oferta de mão de obra, estavam entranhadas na socieda-
bafou com o meirinho (funcio- por meio do monopólio na com- de, basta lembrar a Quinta da Boa
nário da Coroa) encarregado de pra e na venda de escravos. Vista, o complexo paisagístico do
avisá-lo que chegara a nau que o A atividade cruel e predatória, Rio de Janeiro que inclui um mag-
levaria à Lisboa: corruptora por natureza, tinha se nífico palácio em estilo neoclássi-
– Vedes isso, meirinho, verda- intensificado à medida que a terra co. Erguida em 1803, a Quinta era
de é que eu o desejava muito, e começara a ser cultivada. Diante a melhor residência do Rio e per-
me crescia a água na boca quando da dificuldade em subjugar os in- tencia a um negreiro, o português
cuidava em ir para Portugal, mas dígenas, os portugueses passaram Elias Antônio Lopes.
não sei que é que agora se me seca a “caçar” mão de obra na África. Em 1808, com a chegada da fa-
a boca de tal modo que quero cus- Não demorou muito para a explo- mília real ao Brasil e a falta de
pir e não posso. ração do trabalho escravo se ge- moradia para abrigá-la, Lopes
O esquema de muita explora- neralizar nesta parte do mundo. simplesmente ofereceu a pro-
ção com pouca fiscalização não Negros trazidos de Angola, Guiné, priedade ao príncipe regente.
Jânio Quadros e a vassoura. O presidente-ditador Emílio Médici e o ministro Mario Andreazza na ponte Rio-Niterói, em 1974.
Por que o
neoliberalismo
A manutenção da hegemonia estadunidense na
economia global trouxe a desregulamentação
financeira, a flexibilização e a precarização do
trabalho, além do aumento das desigualdades
falhou?
sociais, e acabou provocando a crise de 2008
lação aos 10% mais pobres. Nos anos proporcionar estabilidade global. de poder mundial, não tinham in-
Outro efeito notável é a migra- 2000 os Inicialmente, Washington queria teresse em restringir sua própria
ção dos empregos do setor indus- evitar a repetição da grande de- capacidade de administrar exce-
Estados
trial para o setor de serviços. Só pressão de 1929. Se esta impactara dentes comerciais e por isso cria-
para dar um exemplo, nos Esta- Unidos se sobremaneira os Estados Unidos ram o Plano Global. “O dólar se
dos Unidos, o Walmart, gigante tornaram o quando estes dividiam a hegemo- tornaria efetivamente a moeda
do varejo, emprega 2,1 milhões destino nia econômica com outros cen- mundial, e os Estados Unidos ex-
de funcionários, enquanto a HP, tros – Alemanha, Reino Unido e portariam bens de capital para a
de 70% dos
a empresa do setor industrial que França –, a repetição daquela crise Europa e o Japão”. Tratava-se de
mais contrata, tem 320 mil. E a capitais no pós-guerra seria catastrófica, já “uma hegemonia baseada no fi-
produtividade da potência esta- internacionais que os EUA se tornaram a única nanciamento de centros capita-
dunidense é garantida pela queda e esses potência do mundo capitalista. listas estrangeiros em troca dos
real dos salários do setor indus- Na Conferência de Breton excedentes comerciais dos EUA”,
capitais
trial e pela baixa remuneração do Woods, em 1944, os Estados Uni- escreve Varoufakis.
setor de serviços. alimentaram dos arquitetaram o que Varoufakis Entre 1945 e 1973, o Plano Glo-
aventuras denomina “Plano Global”, assen- bal possibilitaria a criação da
As origens: o Plano Global financeiras tado em três pilares: a criação do União Europeia e do “milagre
e o Minotauro Fundo Monetário Internacional econômico” japonês. Foram os
Como se chegou a essa situa- (FMI), do Banco Mundial e de ta- “anos de ouro” do capitalismo: a
ção? Há muitas interpretações xas de câmbio fixas, com o dólar economia era regulada e o Esta-
possíveis, no entanto uma das como referência. Flutuações das do funcionava como gestor, havia
mais originais é a do economis- outras moedas em relação ao dólar pleno emprego e os trabalhado-
ta grego Yanis Varoufakis, ex-mi- só ocorreriam em uma estreita fai- res tinham aumentos constantes
nistro das Finanças da Grécia do xa de 1%. O dólar era lastreado em de salários e recebiam benefícios
governo do Syriza (esquerda). No ouro, à razão de US$ 35 por onça. do welfare state (Estado do Bem-
seu livro O minotauro global: a ver- Na ocasião, os Estados Unidos -Estar social). Esse modelo, no
dadeira origem da crise financei- deixaram de lado a proposta do fa- entanto, só se sustentou enquan-
ra e o futuro da economia global, moso economista britânico John to a economia estadunidense foi
ele parte da hipótese de que, para Maynard Keynes, que talvez trou- superavitária. O problema é que, a
funcionar de uma maneira mini- xesse maior estabilidade ao sis- partir dos anos 1960, ela se tornou
mamente estável, o capitalismo tema mundial. Ele defendia criar deficitária – coisa que os gestores
necessita de um Mecanismo Ge- uma União Internacional de Di- do Plano Global não previram.
ral de Reciclagem de Excedentes visas (UID) e uma moeda única (o Isso aconteceu tanto em termos
(MGRE). O que seria isso? bancor), com um Banco Central. comerciais como fiscais, algo que
Varoufakis explica: “Qualquer Porém os Estados Unidos, que Varoufakis denomina “ deficits
sistema econômico contém unida- emergiam da guerra como centro gêmeos”.
des que são propensas a gerar ex-
cedentes e outras que têm maior
Banco de Imagens/Ex Libris
C2 Compreender as
transformações dos espaços
Desbyrmephoto
geográficos como produto das
relações socioeconômicas e
culturais de poder.
O céu é o limite
s 17h17min (horário de Brasília)
Há 60 anos, o lançamento do satélite
À
do dia 20 de julho de 1969 – um
Sputnik pelos soviéticos dava início domingo, data em que Alberto
à corrida espacial, que desenvolveu Santos Dumont, pai da aviação,
completaria 96 anos – dois astro-
mísseis balísticos, mas também
nautas estadunidenses a bordo
trouxe internet, GPS, telefonia do módulo lunar Eagle (Águia),
por satélite, circuitos integrados e da missão Apollo 11, confirmam o pouso na Lua:
“Houston. Aqui Base Tranquilidade. A Águia pou-
desfibriladores
sou”, diz o comandante da missão, o astronauta
Neil Armstrong. Ele só desceria do módulo lunar
para pisar na superfície da Lua quase oito horas de-
pois, às 23h56min20s (hora de Brasília), numa das
primeiras transmissões ao vivo por TV para todo o
planeta Terra, a 384 mil quilômetros de distância.
Banco de Imagens/Ex Libris
C2 Compreender as
transformações do espaço
mação de Gagárin de que nosso decolagem, matando seus sete tripu- geográfico como produto das
planeta é azul. Depois da façanha lantes. Quase ao mesmo tempo, em 20 relações socioeconômicas e
da Apollo 11, a Apollo 13 sofre um de fevereiro, os soviéticos colocam na culturais de poder.
acidente e não consegue pousar órbita terrestre a primeira estação
H7 Identificar o significado
na Lua (situação retratada no fil- permanente, a Mir. Em 1o de fevereiro histórico-geográfico das
me de 1995 Apollo 13, do desastre de 2003, o ônibus espacial Columbia relações de poder entre
ao triunfo, com Tom Hanks). Em explode na fase de reentrada da at- as nações.
clima de distensão entre EUA mosfera terrestre apenas 16 minutos
e URSS, o projeto termina em antes de aterrissar, matando seus sete Um foguete que servisse de propul-
1975 com uma missão conjunta astronautas. sor para uma nave espacial também
da Apollo 18 com a nave soviética O colapso da URSS, por um lado, e a poderia fazer o mesmo com um mís-
Soyuz 19. crise de 2008, por outro, congelaram sil carregando uma ogiva nuclear.
Batidos na conquista da Lua, os programas espaciais dos russos e A ciência dos foguetes, bem como
os soviéticos estabelecem como dos estadunidenses. Contudo a corrida a precisão e a velocidade dos mís-
meta a colonização do espaço. espacial, além de desenvolver mísseis seis, havia avançado muito desde o
Em 19 de abril de 1971, a URSS balísticos intercontinentais, permitiu fim das experiências na Alemanha
lança em órbita a Salyut-1, pri- imensos avanços tecnológicos: na co- hitlerista. Por volta de 1960, mais e
meira estação espacial, com três municação (GPS, internet, telefonia mais locais de lançamento de mís-
astronautas. por satélite, controle de voos); ele- seis norte-americanos, situados não
Nos anos 1980, a Nasa cria o trônica (substituição de válvulas por muito distantes da União Soviética,
Projeto Shuttle (ônibus espa- transístores, circuito integrado); segu- estavam prontos – se fossem neces-
cial), com cinco aeronaves tri- rança (roupa antichamas, revestimen- sários – para empreender um ataque
puladas: Columbia, Challenger, tos à prova de fogo); aviação (pressuri- nuclear. Alguns desses locais tinham
Discovery, Atlantis e Endeavour. zação de cabine, sistema anticolisão); e como alvo as grandes cidades rus-
Em 28 de janeiro de 1986, a medicina (monitores cardíacos e desfi- sas. A União Soviética ainda não po-
Challenger explode logo após a briladores). dia lançar um míssil que chegasse ao
distante país norte-americano, mas
seus alvos e reféns eram Paris, Lon-
dres, Munique e outras importantes
cidades europeias de países aliados
1975 1981 1986 1990 2003 dos Estados Unidos.
BLAINEY, Geoffrey. Uma breve história
Julho Abril Janeiro Abril Fevereiro do século XX. Curitiba: Fundamento,
A Apollo 18 Começa o O ônibus O ônibus O ônibus
(estadunidense) programa espacial espacial espacial 2008. 307 páginas
e a Soyuz 19 ônibus espacial Challenger Discovery leva Columbia
(soviética) estadunidense, explode após o telescópio desintegra-se A leitura do texto indica que a corrida
juntam-se no com o o lançamento, Hubble para o na reentrada
espaço, na lançamento da matando espaço. da atmosfera, espacial, muito mais que instrumen-
primeira ligação nave espacial os sete matando to de propaganda,
internacional Columbia. astronautas. os sete
a) representou uma bem-sucedida
entre naves astronautas.
espaciais. iniciativa de colaboração entre as
nações.
b) induziu a União Soviética a trocar
o socialismo pelo capitalismo.
c) alimentou a polarização entre as
superpotências no contexto da
Imagens: Banco de Imagens/Ex Libris
Guerra Fria.
d) estabeleceu a Cortina de Ferro em
torno dos países socialistas.
e) definiu o velado conflito da Guerra
Fria a favor dos Estados Unidos.
Resposta: c
século I
Quais foram as principais
consequências dessa guerra para
os judeus e para os romanos?
Objetos descobertos na
região de Jerusalém e
Galileia permitem que século I, primeiro sé- encontradas praticamente toda sema-
O
culo da Era Cristã, na, como informado pelo arqueólogo
historiadores compreendam notabilizou-se por fa- Gideon Avni, diretor da Divisão Arqueo-
melhor a vida no século I tos históricos como o lógica da Autoridade de Antiguidades de
da nossa era surgimento do cris- Israel, que recentemente exibiu objetos
tianismo e o auge do da época descobertos na região de Jeru-
Império Romano. A salém e Galileia.
maioria das fontes de referência da épo- Apresentados no último mês de mar-
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C1 Compreender os elementos
culturais que constituem as
identidades.
H2 Analisar a produção da
memória pelas sociedades
humanas.
Europa, da África e da Ásia. As Além de extremamente peri- A tese de que Jesus Cristo nunca exis-
principais cidades do império gosos à noite, os lugares públicos tiu é um prato cheio para teóricos da
eram Roma, com 1 milhão de ha- eram muito sujos, uma vez que conspiração da internet, embora seja
bitantes; Alexandria, com 700 todo o lixo e os dejetos eram des- rejeitada pela grande maioria dos
mil; e Antioquia, que somava 300 pejados diretamente na rua. especialistas. Uma das raras obras
mil habitantes. Essa situação, diante dos privi- sinceras que tentam defender essa
A região da Judeia foi conquis- légios recebidos pela aristocracia ideia, escrita pelo historiador e ativis-
tada pelo Império Romano em judaica em troca de seu apoio a ta ateu americano David Fitzgerald,
63 a.C. e se tornou um reino se- Roma, foi a causa de muitos con- acaba de chegar ao Brasil em versão
miautônomo. Quando o rei He- flitos internos até culminar no eletrônica. No livro, chamado Nailed:
rodes I morreu, o território foi confronto direto com Roma. dez mitos cristãos que mostram que
dividido entre seus três filhos: A derrota dos judeus na Pri- Jesus nunca sequer existiu, Fitzgerald
Felipe (leste do Rio Jordão), Ar- meira guerra judaico-romana deixa de lado o consenso entre os es-
quelau (Judeia, Samaria e Idu- (66 d.C.-73 d.C.) resultou em um pecialistas modernos ao argumentar
meia) e Herodes Antipas (Galileia). grande número de mortos e pri- que nenhum historiador contempo-
Herodes Arquelau (23 a.C.– sioneiros e na destruição de Jeru- râneo de Jesus obteve informações
–18 d.C.) foi o rei da Judeia, de Idu- salém. O Templo foi espoliado de independentes sobre ele, e que as
meia e de Samaria, e, segundo o his- suas riquezas, que foram levadas poucas menções a Cristo em textos
toriador Flávio Josefo (século I), a pelo então comandante e futuro não cristãos teriam sido “forjadas” ou
política despótica dele e de seus imperador Tito Flávio Vespasiano “derivadas dos próprios seguidores
sucessores tornou a região um lu- Augusto para Roma e ostentadas do cristianismo”.
gar miserável e de injustiças, ex- no desfile sob o arco que leva seu LOPES, Reinaldo José. Jesus existiu? Folha
ceto pelos habitantes de alguns nome, construído para a ocasião. de S.Paulo, 16 abr. 2017. (Adaptado.)
dos poucos locais privilegiados O conflito foi a causa do des-
pela fertilidade do solo. Arquelau mantelamento da estrutura da Os questionamentos levantados pela
revelou-se tão brutal que foi de- sociedade judaica da Palestina do obra citada são:
posto, e seu reino convertido em primeiro século, com seus vários a) corroborados pela ausência de
província sob os cuidados de um e complexos movimentos religio- fontes documentais sobre fatos
governador romano. Na época de sos, sociais e culturais que com- ocorridos há mais de 2 000 anos.
Jesus, esse governador era Pôn- punham o judaísmo. b) contrapostos pela divergência de-
cio Pilatos. corrente da tradição oral, que mo-
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Ilustração: Jô Oliveira
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As asas
desse fenômeno?
que nunca
Álbum Branco a música Asa-Branca,
com o título Blackbird.
Qual foi a origem e quem foi o
responsável pela divulgação desse
deixaram de
boato no Brasil?
Os principais expoentes do
tropicalismo, Caetano Veloso e
Gilberto Gil, citaram Luiz Gonzaga
H
do baião”, e seu parceiro na- história de Carlos Imperial, figura
quele momento, Humberto folclórica daqueles anos que, en-
Teixeira, lançavam Asa-Bran- tre outras picaretagens, se apre-
ca. A canção se tornaria um dos sentava como compositor de Meu
maiores sucessos do sanfonei- limão, meu limoeiro, sucesso de
ro, a qual entrou para a lista dos Wilson Simonal então no auge – e
“clássicos” que definem a música popular brasileira que, de certa forma, devia sua car-
ao lado da já centenária Carinhoso, de Pixinguinha, reira, a exemplo de Elis Regina,
que só seria letrada por João de Barro em 1937. Roberto Carlos, Tim Maia e tantos
Um período rico de nosso cancioneiro – Noel outros, ao mefistofélico e multifa-
Rosa compôs Feitiço da Vila em 1934; Dorival cetado Imperial. Como a música
Caymmi, O que é que a baiana tem? em 1938; e Ary era de 1937 (outra dos anos 1930!),
Barroso, Aquarela do Brasil em 1939. No entanto, o vivaldino a teria “composto”
só Asa-Branca chegaria incólume aos turbulentos quando tinha 2 anos! O que não o
anos 1960. Prova disso é que em 1968, ano em que impediu de passar um bom tempo
os Beatles lançaram o LP duplo conhecido como o faturando em cima.
Álbum Branco, correu o boato de que “os cabeludos” No caso de Asa-Branca, po-
(!) teriam incluído no set list a música de Gonzaga, rém, a mentira tinha um perío-
rebatizada Blackbird. do menor de validade. Naqueles
CEDOC/ TV Globo
gentinos. Foi várias vezes à Rádio
Nacional participar do programa
de calouros de Ary Barroso, onde
por pouco não foi gongado, rece-
bendo várias notas baixas. O cli-
que ocorreu no mesmo mangue,
quando foi desafiado a tocar mú-
sica autêntica nordestina por es-
tudantes cearenses – entre eles
o futuro ministro da Justiça, Ar-
mando Falcão, de triste memória.
Sem saber o que tocar, teve de
recorrer ao que tinha aprendido
com Januário lá atrás.
Seu cartaz foi aumentando nos
programas de rádio até que, em
1943, deu o passo definitivo. Ao
ver o colega do Rio Grande do Sul,
Pedro Raimundo, se apresentar
vestido de gaúcho, bombachas,
Dominguinhos e Luiz Gonzaga em gravação do Som Brasil, em 1981. chapéu, lenço e botas, escreveu
para a mãe pedindo uma indu-
tempos pré-históricos, sem in- o lendário Januário, Lua, como era mentária de cangaceiro comple-
Entre 1945 e
ternet, tudo levava certo tempo chamado, cresceu imitando o pai. ta. Nascia o Rei do Baião, exímio
para ser esclarecido, o “ouvir di- 1955, Luiz Nascido em 1912 em Exu, na divi- instrumentista, arranjador nato,
zer” valia muito. Quando o dis- Gonzaga foi sa entre Piauí, Ceará e Pernambu- criador do combo sanfona, za-
co finalmente foi lançado, des- o artista mais co no dia de Santa Luzia, o meni- bumba e triângulo (segundo Gon-
cobriu-se que Blackbird de fato no teve de encarar esse desafio ao zaga, invenção sua), responsável
existia! Mas era uma música folk
popular do se tornar, com a morte do primo- por aproximadamente 50 grava-
de Paul McCartney, sem nenhu- Brasil, a gênito, o mais velho entre seis ir- ções instrumentais, e que come-
ma relação com o Brasil. Só que, ponto mãos. Folgado, galanteador, tam- çou a cantar em 1945. Depois de
até isso ser confirmado, Luiz bém sanfoneiro, bateu de frente estrear com Dança, Mariquinha,
de sua
Gonzaga deu muita entrevista com o pai e fugiu para entrar no que teve letra de Saulo Augusto
sempre ao lado de Imperial. E a gravadora, Exército, onde ficou dez anos, via- Silveira Oliveira, passou a procu-
exposição ocorreu na hora certa, a RCA Vitor, jando pelo país como cornetei- rar parceiros que pudessem tratar
pois o nome do pernambucano reservar ro, apelidado Bico de Aço. Pouco a temática do sertão.
já vinha sendo apontado pelos antes de dar baixa, em 1940, Lua As 19 canções que compôs com
baianos do nascente movimen- todas as passou por São Paulo, onde com- o cearense Humberto Teixeira fi-
to tropicalista, Caetano Veloso e prensas prou a sanfona de seus sonhos. zeram sucesso a ponto de o advo-
Gilberto Gil, como uma de suas apenas para Próxima parada, Rio de Janeiro, gado deixar o parceiro para entrar
maiores influências. O sanfonei- onde ficava a Rádio Nacional, o para a política, elegendo-se de-
ro explodiria em plena Ipanema
os discos lar dos astros e estrelas com quem putado federal em 1954 – compo-
no verão de 1972 em Luiz Gonza- do sanfoneiro tanto sonhava e queria conviver. ria ainda, entre outras, Kalu para
ga volta pra curtir, dirigido por Na realidade, o filho de Januá- Dalva de Oliveira e Adeus, Maria
Jorge Salomão e Capinam. rio, todo engomadinho de terno Fulô (com Sivuca) para Carmé-
Curiosamente, tanto Luiz Gon- e sapato reluzente, passou a vi- lia Alves. Com o conterrâneo per-
zaga quanto Asa-Branca, de certa ver de tocar no mangue, zona de nambucano Zé Dantas foram mais
forma, são invenções habilmente prostituição carioca. Seu repertó- de 40, até sua morte em 1962 – en-
construídas. Filho de sanfoneiro, rio era um amontoado de clichês tre elas A volta da Asa-Branca – e
C7 Confrontar opiniões
e pontos de vista
sobre as diferentes
linguagens e suas
outras tantas com o paraibano caz. E a tal “volta” da música de Zé Dantas manifestações
específicas.
José Marcolino. diz respeito ao próprio Luiz Gonzaga que
O fato é que entre 1945 e 1955 só se reencontrou com sua família, “voltou H22 Relacionar, em vários
Luiz Gonzaga foi o artista mais para o sertão”, em 1945. tipos de textos,
popular do Brasil a ponto de sua Que os Beatles nunca gravaram Asa- opiniões, temas,
assuntos e recursos
gravadora, a RCA Victor, volta e -Branca é fato. Mas, sem querer, Carlos linguísticos.
meia reservar as 17 prensas de Imperial tocou em um ponto fundamen-
que dispunha funcionando ape- tal: a partir dos anos 1940 quem abaste-
nas com os discos do sanfoneiro. cia o mercado mundial de música a partir Quando olhei a terra ardendo
Contudo, passada a euforia dos dos EUA era um grupo de compositores Qual fogueira de São João
primeiros anos, entre o advento profissionais amontoados no célebre Brill Eu perguntei a Deus do céu, ai
da bossa nova e sua redescober- Building, prédio vizinho do Tin Pan Alley, Por que tamanha judiação
ta pelos tropicalistas, o sanfonei- na Broadway nova-iorquina. Entre outros, [...]
ro amargou certo esquecimento. Carole King, Neil Sedaka, Burt Bacharach Até mesmo a asa-branca
Mas nunca se abateu, tocando e Phil Spector cresceram ali. E nos anos Bateu asas do sertão
onde e quando pudesse, em cir- 1950 foi a vez da explosão da world music, Então eu disse adeus Rosinha
cos, em boleia de caminhão, em do chá-chá-chá e outras ondas. Guarda contigo meu coração
coreto de praça, como ele próprio Em um DVD sobre sua obra, a dupla Jer- [...]
costumava dizer, “em todos os ry Leiber e Mike Stoller, autores de Hound
municípios brasileiros com mais Dog e Jailhouse rock, sucessos de Elvis GONZAGA, Luiz; TEIXEIRA,
de 500 habitantes”. Presley, e de Stand by me, que teve sua vida Humberto. Asa-branca.
Gonzaga casou-se em 1948 com prolongada pela gravação de John Lennon,
uma fã que havia se tornado sua revela toda sua mágoa com George Mar- Este trecho da canção "Asa-
secretária e o acompanhou até o tin, o produtor inglês considerado “o quin- -branca" faz referência a dois
fim. Adotou dois filhos, Rosinha to beatle”. Segundo os dois, o som que ele fenômenos típicos do Nordes-
e o futuro cantor e parceiro Gon- inventou para seu grupo foi copiada deles. te brasileiro. São eles:
zaguinha. Quando morreu, em A começar pelo baixo de McCartney, que a) os incêndios e a biodiver-
1989, era um homem consagrado lembra uma zabumba. E insistem: “nós des- sidade.
mundialmente. Asa-Branca, con- cobrimos e copiamos o baião muito antes de b) os conflitos pela terra e o
siderada uma espécie de “hino Martin sonhar em dirigir os Beatles!”. romance.
do Nordeste”, foi eleita, em 1997, Eu vou contar pra vocês. c) as festas juninas e o lati-
pela Academia Brasileira de Le- Em tempo: alguém já notou que todos fúndio.
tras "a segunda canção brasileira os seguidores de Gonzagão têm nomes no d) a religiosidade e a frag-
mais marcante do século 20”. Ao diminutivo? Dominguinhos, Oswaldinho, mentação das famílias.
lado de Carinhoso e atrás apenas Mestrinho e até o gaúcho Borghettinho? e) a seca e a migração.
de Aquarela do Brasil, daquele Isso é respeito.
que tanto o esnobou no começo Resposta: e
da carreira.
De fato, e a exemplo de inúme-
ras outras músicas do repertório Obra de Silvio Rabelo
de Gonzagão, o tema, que origi- presente na exposição
"O Imaginário do Rei –
nalmente era conhecido como
visões sobre o universo de
Catingueira do sertão (ár- Luiz Gonzaga", em 2012,
vore comum no semiári- Brasília (DF).
do), pertencia a seu pai,
Januário. A “asa-bran-
ca” a que Teixeira se re-
ris
Lib
pomba-pedrês ou pomba-tro-
od
nc
Ba
A Geometria –
de Tales a Descartes
Surgida há mais de
5 mil anos, a Geometria
conquistou a maioridade
científica na Grécia antiga
e atingiu a maturidade
no século XVI
G
metrein”, que significa ‘medir a senos, do matemático persa
terra’, em que geo é ‘terra’ e me- Ghiyath al-Kashi (1380-1429),
trein, ‘medir’. Suas origens re- que permitem encontrar a me-
montam a civilizações da Índia, dida de um lado de um triângulo
da Babilônia e do antigo Egito desde que se conheça a medida e
de mais de 5 mil anos atrás. Se- o ângulo dos outros lados.
gundo o historiador Heródoto (século V a.C.), a ori- Contudo, é Euclides de Ale-
gem da Geometria é a agrimensura, a medição de xandria (nascido na Síria em
terrenos. Em seus primórdios, a Geometria era ex- 330 a.C.) que é considerado o pai
perimental; somente a partir do conhecimento de- da Geometria, pois suas teorias
senvolvido pelos matemáticos da Grécia é que ela perdurariam até o século XIX.
se estabelece como uma teoria dedutiva, provando Ele estudou os elementos primi-
a veracidade das proposições a partir de hipóteses e tivos, como ponto, reta e plano,
demonstrações. e formulou a Geometria eucli-
Os primeiros geômetras também integravam o diana, também conhecida como
que posteriormente os estudiosos convencionaram Geometria plana, que nasceu da
chamar de “filósofos pré-socráticos”, que, como diz necessidade de compreender o
o nome, precederam Sócrates, considerado o funda- mundo em que vivemos por meio
dor da Filosofia ocidental. Entre os pré-socráticos de deduções e hipóteses compro-
que se destacaram como geômetras, estão Tales de váveis, superando dessa maneira
Mileto (623 a.C.?-548 a.C.?), fundador da Escola Jô- o mero conhecimento empírico e
Euclides de Alexandria, o geômetra.
nica, e seu discípulo Pitágoras de Samos (570 a.C.- indutivo da realidade.
-495 a.C.). Sua principal obra, Os elemen-
Tales conseguiu medir a pirâmide de Quéops, no num triângulo retângulo, o qua- tos, é um tratado matemático em
Egito, elaborando o famoso teorema de Tales. Par- drado da hipotenusa é igual à 13 volumes. Os seis primeiros
tindo do princípio de que existe uma razão entre a soma dos quadrados dos cate- abordam a Geometria plana (tri-
altura de um objeto e o comprimento da sombra que tos. Alguns estudiosos susten- ângulos, retas paralelas, teorema
esse objeto projeta, e que essa razão é a mesma para tam que esse teorema já existia de Pitágoras; Álgebra geométrica;
diferentes objetos no mesmo instante, Tales pôde no Egito. Deixando de lado as círculo e circunferência; polígo-
calcular a altura da pirâmide (146,6 metros). controvérsias, o teorema de Pi- nos regulares, inscritos e circuns-
Já a contribuição mais importante de Pitágoras tágoras pode ser aplicado a ou- critos; proporções). Os quatro li-
foi o famoso teorema que leva seu nome, pelo qual, tras áreas da Matemática, como vros seguintes tratam da teoria
dos números (divisibilidade, nú- métodos de cálculo integral bem de Arquimedes. Ele morreu assas-
meros primos, algoritmo de Eu- antes de Isaac Newton. Suas últi- sinado durante a captura de Sira-
clides; proporções da teoria dos mas pesquisas teriam sido inicia- cusa pelos romanos, na Segunda
números e sequências geométri- das a fim de responder à dúvida Guerra Púnica, na qual contribuiu
cas; números pares perfeitos). Fi- de Herão, rei de Siracusa, sobre ajudando a construir várias má-
nalmente, os três últimos tratam se sua coroa era realmente só de quinas de guerra.
da Geometria espacial ou tridi- ouro. Conseguindo solucionar Talvez o último grande geôme-
mensional. o problema enquanto se banha- tra clássico tenha sido o filóso-
Outro grande geômetra da An- va, Arquimedes teria saído à rua fo francês René Descartes (1596-
tiguidade foi Arquimedes de Si- gritando: “Eureca! Eureca!” (que -1650), que relacionou a Geome-
racusa (287 a.C.-212 a.C.), mais em grego significa ‘Descobri!’). tria à Álgebra, criando a chamada
conhecido por ter inventado um Trata-se do princípio ou teorema Geometria analítica. Trata-se do
método para calcular o número pi sistema de coordenadas cartesia-
(3,1415...) a partir da relação en- nas, ou plano cartesiano, que con-
tre o comprimento e o diâme- siste em dois eixos perpendicula-
tro de uma circunferência. res numerados, denominados
Estudou em Alexandria abscissa (horizontal) e orde-
(Egito), então um centro nada (vertical), que represen-
k
toc
C2 Utilizar o
conhecimento
geométrico para
realizar a leitura e
a representação
da realidade e
agir sobre ela.
H8 Resolver
situação-
-problema
que envolva
conhecimentos
geométricos de
espaço e forma.
Um engenheiro precisa
estimar a altura de um
prédio, mas não dispõe
de meios para efetuar
diretamente a medida.
Ele, então, posiciona-se
a 50 metros de distância
do edifício e, usando um
teodolito (instrumento
A importância da de duas variáveis. A Geometria analítica esta- que possibilita a aferição
Geometria analítica belece conexões entre Geometria e Álgebra, de de ângulos), verifica que
Há vários tipos de Geometria, modo que os conceitos da Geometria são anali- o ângulo formado entre o
como a Geometria descritiva, que sados por meio de processos algébricos. ponto mais alto do prédio
estuda a representação de objetos Todos os objetos, figuras e relações já ob- e a linha horizontal traça-
espaciais em um plano; e a Geo- tidos na Geometria euclidiana clássica (Geo- da entre seus olhos e o
metria plana, uma Geometria do metria plana e espacial) são estudados na próprio prédio é de 60º.
âmbito bidimensional, pois é de- Geometria analítica por meio da Álgebra. Sabendo que o enge-
finida sobre um plano. A Geome- Isso expande os conceitos da Geometria, nheiro tem pouco mais
tria das figuras planas é também que agora podem ser analisados de forma de 2 metros de altura, o
conhecida como planimetria, en- completamente nova, e introduz conceitos prédio mede aproxima-
quanto a dos sólidos geométricos que ainda não podiam ser considerados ou ex- damente
é conhecida como estereometria. plorados ao máximo na Geometria euclidiana. a) 120 m.
Já a Geometria espacial é defini- Um exemplo disso é o conceito de distância b) 95,5 m.
da em um espaço com três dimen- entre um ponto e uma reta. c) 88,5 m.
sões e por isso tem como objetivo A base da Geometria analítica está em re- d) 65 m.
estudar figuras tridimensionais. presentar os pontos de uma reta utilizando e) 60,5 m.
Assim, mediante a Geometria es- os números reais. Cada ponto de uma reta é Resposta: c
pacial, é possível calcular o volu- representado por (ou representa) um único
me de um sólido. número real. Esse número real é obtido pela
Já a Geometria analítica é o distância entre o referido ponto e a origem da
ramo da Matemática que utiliza reta, que é o ponto relacionado com o núme-
processos de Álgebra e de aná- ro zero.
lise matemática e que faz uma O conceito de distância, portanto, é um dos
investigação em relação às figu- mais importantes dentro da Geometria analíti-
ras geométricas, como curvas e ca. Por meio dele são definidos outros concei-
superfícies, as quais são repre- tos fundamentais, como os de círculo e circun-
sentadas por equações. Uma ferência. Além disso, a maioria das definições
reta, por exemplo, pode ser repre- algébricas de figuras geométricas é obtida por
sentada por uma equação linear intermédio do conceito de distância.
único
humano Surgido há
200 mil anos, o
Homo sapiens era
apenas uma das
muitas espécies de
humanos, mas
30 mil anos atrás
as demais
estavam extintas
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D
lou sua teoria sobre a evolução atual, o Homo habilis (homem ha-
das espécies, é conhecida a hipó- bilidoso) é a espécie mais antiga de
tese de que o gênero humano e humanos. Viveu entre 2 milhões e
os chimpanzés têm um ancestral 1,6 milhão de anos e recebeu esse
em comum. Estudos com base em nome de estudiosos porque sabia
análises de fósseis pré-históricos fabricar instrumentos e cavar a ter-
indicam que os humanos surgiram entre 3,5 milhões ra para coletar raízes. Essa espé-
e 2,5 milhões de anos na África oriental e, a partir daí, cie se alimentava de frutas, raízes e
migraram para outras regiões da própria África, para a carne de animais caçados. Seu cére-
Ásia e a Europa, e só depois para as Américas. bro media entre 650 cm3 e 800 cm3.
Mas o Homo sapiens sapiens, a espécie humana da Já o Homo erectus (homem ere-
qual é bem provável que façamos parte, surgiu há re- to) teria surgido na África há cerca
lativamente pouco tempo em termos geológicos, cer- de 1,5 milhão de anos. Tinha entre
ca de 200 mil anos atrás. E poucos se dão conta de que 1,50 metro e 1,60 metro de altura e
o sapiens não foi o único representante da humani- seu cérebro tinha entre 900 cm3
dade. Sim, há 100 mil anos, por exemplo, havia pelo e 1 100 cm3. É provável que o Homo
menos seis espécies de humanos coabitando a Terra erectus tenha aprendido a produzir
com o Homo sapiens sapiens. O que teria provocado a fogo. De qualquer forma, foi a espé-
predominância do sapiens sobre seus “primos” e “ir- cie humana que durou mais tempo
mãos”, que foram todos extintos? antes do sapiens.
Houve também o Homo rudolfensis
As famílias humanas (homem do Lago Rudolf ) e o Homo
O ancestral mais próximo dos homens é um gênero ergaster (homem trabalhador). Há
de primata denominado Australopithecus (“macaco cerca de 500 mil anos, os humanos
do sul”), que viveu no período Paleolítico (a chama- na Europa e no Oriente Médio deram
da era da pedra lascada, cerca de 2,5 milhões de anos origem ao Homo neanderthalensis,
atrás). Esses mamíferos eram bípedes, tinham pos- literalmente homem do vale do
tura ereta e usavam as mãos para manusear objetos Neander (localizado no que hoje é a
e coletar frutas. Tinham entre 1 metro e 1,5 metro, e Alemanha), mais conhecidos como
seus cérebros mediam cerca de 450 cm3 a 500 cm3. neandertais. Eles tinham uma rica
C8 Apropriar-se de conhecimentos
da Biologia para, em situações-
-problema, interpretar, avaliar ou
planejar intervenções científico-
-tecnológicas.
Winai Tepsuttinun/Shutterstock
Descarte de
aparelhos
eletrônicos
O destino dos equipamentos destinação do lixo eletrônico tornou-se
A
uma das mais importantes questões na ges-
eletrônicos, cada vez mais tão de resíduos sólidos, que busca maneiras
numerosos, tornou-se um eficazes de dar um fim adequado a esses ob-
jetos, preservando o meio ambiente.
grave problema num mundo Conforme informações divulgadas pela
digital e conectado Organização das Nações Unidas, a indústria
eletrônica gera em todo o mundo cerca de 41 milhões de tone-
ladas de lixo eletrônico, oriundos de bens como smartphones e
computadores. As previsões são de que esse número pode che-
gar a 50 milhões de toneladas já neste ano.
E o Brasil está entre os países A maior parte do resíduo eletro- A maior origem a Ásia, os Estados Unidos e
que mais produzem lixo eletrôni- eletrônico tem valor no mercado a Europa.
parte dos
co no mundo, totalizando 1,4 mi- pelos elementos que podem ser re- A exportação de lixo eletrônico é
lhão de tonelada por ano. Isso cor- ciclados. Muitos desses equipamen- resíduos ilegal na Europa, no entanto mui-
responde a 7 quilos por habitante. tos rejeitados possuem até ouro em eletrônicos tos exportadores alegavam que
Uma pesquisa divulgada em 2016 sua composição. É claro que em pe- tem valor se tratava de equipamentos que
pela USP revela que São Paulo, quena quantidade, mas que junto poderiam ser reaproveitados nos
com 448 mil toneladas/ano, é o es- com outras porções em uma grande
no mercado países de destino. A ONG já havia
tado que mais produz lixo eletrô- usina de reciclagem pode se tornar pelos
nico no país. uma quantidade expressiva. elementos
Mas o que é considerado lixo Todos os smartphones contêm
que
eletrônico? ouro, prata e platina em sua com-
Segundo o Instituto GEA, uma posição. Além desses metais pre- podem ser
Oscip (Organização da Socieda- ciosos, os aparelhos carregam reciclados,
de Civil de Interesse Público) que ainda uma série de elementos ter- como ouro
procura desenvolver a educação ras-raras, como lantânio, térbio,
ambiental e ajudar a população a neodímio, gadolínio e praseodímio. e platina
implantar programas de coleta se- As terras-raras, ou metais de terras-
letiva de lixo e reciclagem, pode- -raras, são um grupo de elementos
mos definir como lixo eletrônico abundantes na crosta terrestre, po-
tudo o que é proveniente de equi- rém com extração extremamente
Bluskystudio/Shutterstock
Hedy Lamarr
e a invenção do celular
A beldade de Hollywood foi uma das criadoras da tecnologia que,
décadas depois, permitiria o desenvolvimento da telefonia móvel
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De Viena a Hollywood
Nascida Hedwig Eva Maria Kiesler em Vie-
na, na Áustria, filha de pais judeus, Hedy era
fascinada por projetos científicos e tecno-
lógicos desde menina. Ela acompanhava o
pai, um diretor de banco, em longas ca-
minhadas, absorvendo conhecimentos
C6 Apropriar-se de
Matemática prática
A matemática apresenta muitas aplicações práticas que facilitam o cotidiano das pessoas. Ela pode ser usada,
por exemplo, para avaliar a altura de edificações, como nas três situações a seguir, nas quais você deverá usar
diferentes ferramentas matemáticas para a mesma finalidade: determinar a altura de um prédio.
MATEMÁTICA
GEOMETRIA: DO SURGIMENTO A DESCARTES
CIÊNCIAS HUMANAS
OS CONFLITOS QUE MARCARAM A CONTEMPORANEIDADE
REDAÇÃO
"PROFESSOR, QUANTAS LINHAS?"
#atualize-se
52
L
Linguagens
L inguag
No livro Comunicação em
prosa moderna (São Paulo:
FGV, 27. ed.), o estudante conta
com conceitos e exercícios
desde a estruturação da frase
até a redação técnica, por
meio de uma sistematização
pormenorizada dos elementos
lógicos e linguísticos,
fundamentais para uma
boa e eficaz organização do
pensamento a fim de desenvolver
e praticar a escrita e, assim,
elaborar textos claros, coesos e
Há algumas décadas, tem-se discutido no Brasil o ensino da disciplina “gramática”, com consistentes.
base na ideia de que as ditas “análises sintáticas”, exploradas de forma descontextualizada
pelos professores de Língua Portuguesa, que, muitas vezes, se valem de exemplos cristaliza-
dos e estanques, acabam por contribuir para o desensino da língua.
No contexto histórico, tal ideia passa a vigorar quando tivemos a oportunidade de co-
nhecer a nova disciplina que nos legaria uma visão bem mais complexa, e à luz de uma
ciência que se queria exata, sobre o fenômeno da comunicação: a linguística textual1. De
fato, a linguística textual trouxe para a sala de aula uma nova perspectiva sobre os estudos
da língua, na medida em que propunha um novo paradigma, isto é, um novo modelo me-
todológico, que poderia tanto aposentar as cansativas e estéreis análises sintáticas quanto
oferecer ao educando uma visão panorâmica, pormenorizada e contextualizada do texto.
Dessa nova perspectiva iria se desenvolver a análise da língua com base no conceito de
“gêneros textuais”, em que a palavra, oral ou escrita, é estudada em função de uma dada si-
tuação comunicativa e conforme uma situação específica.
Nesses novos moldes, compreender uma frase passa a ser compreender um todo orga- (1) A linguística textual constitui um
ramo da linguística que começou a
nizado, criado de uma intenção e um contexto, submetido a uma relação de causa e efeito desenvolver-se na década de 1960
por meio de uma relação de coesão e coerência textuais. Assim, para a linguística textual, o na Europa, de modo especial na
estudo da língua, escrita ou falada, pressupõe o estudo do texto, considerando-o uma “se- Alemanha. Sua proposta consiste
quência coerente de significados” cuja ocorrência se dá em situações específicas de comu- em tomar como unidade básica,
nicação e em contextos específicos. ou seja, como objeto particular de
investigação, não mais a palavra ou
Pois bem. Mas o que tudo isso tem a ver com a singela frase do início do artigo? Tem a a frase, mas sim o texto, por serem
ver com o seguinte: de singela, ela nada tem. Voltaremos a ela. Contudo, antes, faremos os textos formas específicas de
mais algumas considerações a respeito da linguística textual. manifestação da linguagem.
53
Segundo essa nova maneira de compreender a língua tomando Nesse sentido, o ensino da língua deve levar em conta o tex-
como base o conceito de texto proposto pela linguística textual, as to como uma unidade de sentido tanto do ponto de vista ma-
escolas brasileiras passaram a adotar em seus currículos uma nova cro como do micro, garantindo ao estudante uma visão que vai
metodologia para o ensino da língua. Começaram a abordar a lín- do simples ao complexo na construção de seu conhecimento.
gua não pela análise de frases e orações isoladas, como se fazia no É o que pretendemos propor com a análise da frase apresenta-
ensino tradicional. Com o advento da linguística textual, o estudo da no começo deste artigo:
da língua desenvolve-se considerando seu uso social, que se realiza Solicitamos a todos que desembarquem.
por meio dos gêneros textuais. Se fizermos uma reflexão a respeito da frase em referência,
É o que procuram enfatizar os PCN de Língua Portuguesa e ou da oração, perceberemos que há um problema em sua estru-
as matrizes do Ministério da Educação: tura que somente pode ser detectado com o auxílio da análise
sintática, tão criticada nos dias atuais.
Competência de área 6 – Compreender e usar os sistemas
simbólicos das diferentes linguagens como meios de organi- Conforme a gramática nos ensina, estamos diante de um
zação cognitiva da realidade pela constituição de significados, período composto, pois há dois verbos: solicitamos e desem-
expressão, comunicação e informação. barquem. Assim, temos:
Habilidade 18 – Identificar os elementos que concorrem para Solicitamos = oração principal, sendo:
a progressão temática e a organização e estruturação de textos
Sujeito (oculto) = Nós
de diferentes gêneros e tipos.
Competência de área 8 – Compreender e usar a língua por- Predicado verbal = solicitamos
tuguesa como língua materna, geradora de significação e inte- a todos = objeto indireto
gradora da organização do mundo e da própria identidade. que desembarquem = oração subordinada objetiva direta
Habilidade 25 – Identificar, em textos de diferentes gêneros, (função sintática de objeto direto)
as marcas linguísticas que singularizam as variedades linguís-
ticas sociais, regionais e de registro. No caso, temos o sujeito, o verbo bitransitivo (direto e indire-
to), o objeto direto e o indireto, e este está em forma de oração
A partir dessa nova maneira de estudar a língua, o Exame subordinada. É exatamente aqui que encontramos o problema
Nacional do Ensino Médio (Enem) vem dando ênfase, qua- na oração, pois o verbo solicitar pede dois complementos, isto
se que exclusivamente, aos diversos gêneros textuais. Embo- é, quem solicita, solicita alguma coisa a alguém.
ra a maioria dos autores das Letras considere que esse tipo de Comumente, assim construiríamos o raciocínio: (nós) solici-
abordagem no ensino da língua portuguesa seja o mais ade- tamos algo (que desembarquem) a alguém (a todos). Vê-se que,
quado, não devemos nos esquecer de que as tais análises sin- na sentença utilizada pelos operadores do trem, o objeto indi-
táticas estéreis, como citado antes, ainda auxiliam sobrema- reto é o sujeito da oração principal. E esse tipo de construção
neira a construção do raciocínio, na medida em que colocam somente é aceito no âmbito da fala, não no da escrita, já que o
o falante ou, no caso, o aluno diante de situações gramaticais objeto indireto não pode ter função de sujeito da oração subor-
que só podem ser percebidas pela sintaxe, isto é, pelas rela- dinada, conforme nos ensina a gramática prescritiva.
ções de sentido geradas entre as palavras e que conferem a Então como resolveríamos a questão? Ora, mudando a for-
possibilidade de uma comunicação de fato eficaz. ma de construção da sentença, que poderia ser reformulada
Mesmo propondo o estudo da língua portuguesa fundamen- de duas maneiras:
tado nos gêneros textuais, a matriz do Ministério da Educa-
A. Solicitamos a todos o desembarque; quer dizer, solicitamos
ção, na mesma Competência de área 8, como visto neste texto, aos passageiros o desembarque.
faz menção à norma-padrão da língua como uma ferramenta a ou
ser utilizada pelos professores em sala de aula: B. Solicitamos que todos desembarquem; quer dizer, solicita-
mos que todos os passageiros desembarquem.
H27 – Reconhecer os usos da norma-padrão da língua portu-
guesa nas diferentes situações de comunicação.
Dean Drobot/Shutterstock
54
Linguagens
Portanto, o estudo da gramática não deve ser desprezado ço nas abordagens de como ensinar a língua portuguesa em sala
pelos professores de Língua Portuguesa, visto ser prático e de aula. No entanto, é pela análise sintática que teremos meios
eficiente para desenvolver o raciocínio dos estudantes e para mais eficazes de identificar desvios e deslizes no uso da língua.
dirimir certos obstáculos linguísticos. E até mesmo identificar as segundas intenções daqueles que
Acreditamos que o estudo da língua portuguesa por meio dos formulam juízos de forma precipitada, sem o cuidado necessá-
gêneros textuais constituiu, e ainda constitui, um grande avan- rio ao organizar o pensamento e as ideias.
Em foco C8 Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da
organização do mundo e da própria identidade.
H27 Reconhecer os usos da norma-padrão da língua portuguesa nas diferentes situações de comunicação.
(Enem-2011)
O humor da tira decorre da reação de uma das cobras com
Atividades
O texto a seguir fundamenta as questões 1 e 2.
João Cabral de Melo Neto nasceu no Recife em 1920. Mudou-se para o Rio de Janeiro aos 20 anos. Publicou, em 1950, O cão sem plumas,
considerado um marco em sua poética. Recebeu prêmios importantes, como: Camões, Neustadt International, Rainha Sofia. Faleceu em 1999.
Catar feijão
1 Catar feijão se limita com escrever: Ora, nesse catar feijão entra um risco:
jogam-se os grãos na água do alguidar 10 o de que entre os grãos pesados entre
e as palavras na da folha de papel; um grão qualquer, pedra ou indigesto,
e depois, joga-se fora o que boiar. um grão imastigável, de quebrar dente.
5 Certo, toda palavra boiará no papel, Certo não, quando ao catar palavras:
água congelada, por chumbo seu verbo: a pedra dá à frase seu grão mais vivo:
pois para catar esse feijão, soprar nele, 15 obstrui a leitura fluviante, flutual,
e jogar fora o leve e oco, palha e eco. açula a atenção, isca-a com o risco.
Disponível em: <https://pt.scribd.com/doc/61605099/1966-2008-A-Educacao-pela-Pedra-Joao-Cabral-de-Melo-Neto>. Acesso em: 9 abr. 2017.
2 C7/H21 No poema, percebe-se que o escritor, utilizando-se da linguagem para atingir seu objetivo, adverte o leitor sobre uma leitura
superficial. Um exemplo de que o escritor se vale ocorre no verso 10, em que uma leitura desatenta pode levar o leitor a confundir a classe
gramatical da palavra “entre”. De acordo com a gramática, a palavra tem função, respectivamente de:
a) verbo e verbo. d) verbo e preposição.
b) preposição e preposição. e) preposição e verbo.
c) conjunção e verbo.
Gabarito 1. b 2. e
Confira as resoluções no Portal de seu Sistema de Ensino.
55
m
M atemática
Matemática
Reprodução/Coleção Particular
Reprodução/Coleção Particular
Roque, apresenta um olhar
crítico sobre o modo como
a história da Matemática
tem sido contada ao longo
dos tempos, mostrando
que diferentes práticas
matemáticas coexistiram
desde sempre, dando soluções
diversas para problemas
semelhantes, pondo em xeque
a superioridade grega na
Matemática. Além disso,
a autora procura mostrar
que a disciplina não é
essencialmente abstrata e
teórica.
Site
<www.ufrgs.br/espmat/
disciplinas/geotri/moduloII/
Tales de Mileto Pitágoras
apresentacao2.html> (acesso
Reprodução/Museu do Louvre, Paris, França
Vídeo
O primeiro vídeo da
série O legado de
Pitágoras (O triângulo
de Samos), disponível
em <www.youtube.com/
watch?v=j1aWX6UO4v0>
(acesso em: abr. 2017), mostra
a construção do aqueduto de
Eupalinos.
René Descartes Euclides
56
Desde tempos remotos, a geometria vem auxiliando diversos Caso LLL (lado – lado – lado)
setores profissionais na resolução de problemas específicos. Ve- Dois triângulos são semelhantes se os lados de um são orde-
remos um caso desse tipo a seguir, sobre seu uso na abertura de nadamente proporcionais aos lados do outro.
um túnel, dezenas de séculos atrás, sem os conhecimentos da
atual engenharia. Caso LAAo (lado – ângulo – ângulo oposto)
Estamos na ilha de Samos, hoje pertencente à Grécia, terra de Dois triângulos são semelhantes se apresentam um par de ân-
Pitágoras, no ano de 530 a.C. gulos congruentes a lados homólogos, sendo um deles oposto a
Polícrates, o líder político dessa ilha, percebeu que ela pas- esses lados.
sava por problemas em setores estruturais básicos, como o de Na construção do túnel de Eupalinos, foi usado o caso LAL
água potável, e, com a ajuda do então engenheiro Eupalinos, de- para um triângulo retângulo. Para isso, considere que os triân-
cidiu construir um túnel que atravessasse o monte Castro, dan- gulos retângulos ABC e A'B'C' seguintes sejam semelhantes.
do, assim, acesso mais próximo à fonte de água da região, além B
de tornar possível seu escoamento para a população. B'
Uma obra complexa da engenharia, ainda mais que, por ser um a
c a'
túnel de enorme extensão, e para poupar tempo, ele deveria ser c'
cavado dos dois lados do monte. Sendo assim, os operários deve-
riam cavar em ambas as extremidades e se encontrarem no meio C b A C' b' A'
da construção. Então:
E assim foi feito. b c b b
O túnel tinha 1 km de extensão, e sua seção transversal era um = ⇒ = '
b' c ' c c'
quadrado de 2 m de lado, com uma vala funda para os canos de
Colocando os triângulos na posição a seguir, temos:
água e aberturas na parte superior para a ventilação e o auxílio
C'
na limpeza de dejetos.
Porém de que forma Eupalinos, com os conhecimentos da
época, conseguiu tal proeza? Para isso, vamos precisar de
um pouco de conhecimento sobre semelhança de triângulos.
b' a'
Dizemos que dois triângulos, ABC e A'B'C', são semelhantes
(notação: ~) quando possuem ângulos ordenadamente de medi-
das iguais e lados homólogos (correspondentes) proporcionais.
A B'
A' c' C
A'
B C B' C' b a
57
já havia instrumentos para se conseguir tais medidas), atinge-se Assim, teremos a seguinte situação:
o ponto A, contornando o monte (por um caminho mais plano e
mais fácil de ser percorrido, porém não o mais curto). b'
M N A
c'
A b
K L O c B
b''
I c''
J b b' b''
= = =k
G O B c c' c''
H
Pronto. Agora é só cavar a partir dos pontos A e B na mesma
D C direção das hipotenusas dos triângulos retângulos menores.
F E Pois bem, o problema estaria resolvido se os pontos A e B es-
tivessem no mesmo nível. Bastaria cavar sempre na horizontal.
Conhecendo a medida de cada lado da poligonal, pode-se che-
Entretanto no caso em questão é óbvio que o ponto B deveria ser
gar às medidas dos segmentos AO e BO.
AO perfurado mais abaixo que o ponto A, visto que se pretendia que a
Dessa forma é possível encontrar a razão k = .
BO água partisse de A e escorresse até B.
A partir dos pontos A e B, constroem-se dois pequenos triân- Seria necessário, então, calcular a diferença de nível d entre os
gulos retângulos em que um dos catetos é paralelo a CD e o outro pontos A e B. Para isso, bastou ir registrando, à medida que se per-
a DE, cuja razão entre os catetos seja igual a k, conforme a figura. corria a poligonal BCDEFGHIJKLMN, a diferença de nível em
M N cada vértice, e mais: uma vez determinada essa diferença d entre
A e B, seria necessário fazer novo cálculo para que houvesse o con-
trole na escavação. Para isso, bastaria fazer uma nova relação de
semelhança entre os triângulos ABM e ACM' da figura a seguir.
A
K
L A
M' C
I Tún
el
photo stella/Shutterstock
J B
B M
H G O
Monte Castro
D A
C
F E C
M'
B
M
'C e AM
CM' é paralelo a BM; AM B são ângulos retos.
58
Matemática
Logo, pelo caso AA de semelhança de triângulos, conclui-se que Descartes havia desvendado a possibilidade de abordar a
os triângulos AM'C e AMB são semelhantes. geometria de dimensões superiores, que não são captadas
AM AM' por nossos olhos, porém são essenciais para a ciência e a tec-
=
AB AC nologia moderna. Sem dúvida, Descartes foi um dos gigantes
Considere que AM' seja um desnível de s unidades. da Matemática, alavancando os estudos da Física e da Enge-
Assim, temos: nharia.
AM s AM ⋅ AC Voltando agora ao túnel de Eupalinos, descobrimos que esse
= ⇒s =
AB AC AB feito foi repetido em 1994, quando da inauguração do Euro-
AM túnel, sob o canal da Mancha, ligando a França e a Inglaterra,
Fazendo AC = 1, concluímos que s = , ou seja, à medida
AB obviamente com tecnologias muito mais avançadas e usando
que se caminha uma unidade de comprimento u ao longo do tú-
nel, deve-se rebaixar o nível dele em s unidades. coordenadas cartesianas, legado de Descartes. Esse legado ain-
Avançando um pouco no tempo, chegamos agora ao século da foi aplicado na construção de mapas e localizações, ajudando
XVII, quando a Europa assumia o papel de “guardadora mun- na obtenção de caminhos até chegar, nos dias de hoje, ao GPS
dial de ideias matemáticas”. (Global Positioning System), cuja função é identificar a locali-
Houve grandes avanços na geometria e, nessa ocasião, procu- zação de um aparelho chamado de receptor GPS, que usa o sis-
rava-se entender a matemática dos objetos em movimento. tema de triangulação para determinar a localização de um re-
Descartes nasceu na França em 1596. Ele tinha ideias filosófi- ceptor em terra.
cas, científicas e matemáticas que se combinavam entre si. Seu Então, com os conhecimentos da geometria analítica de hoje,
grande questionamento era: "Como comprovar que algo real- sobretudo aquela que aprendemos no Ensino Médio, como po-
mente é?". A resposta encontrada por ele mesmo foi que a chave deríamos resolver o problema do túnel de Eupalinos?
era edificar a filosofia sobre os fatos irrefutáveis da matemáti- Vejamos a seguinte situação e também a resolução.
ca. Dessa forma, ele fundiu a álgebra com a geometria, criando Considere os pontos A(xA, yA) e B(xB, yB) como os dois extre-
fórmulas e números com os quais podia alternar entre as duas mos do monte Castro, que serão as aberturas do túnel de Eupa-
coisas. linos.
Em duas dimensões, cada ponto podia ser descrito por dois Inicialmente encontramos a distância d entre os pontos
números, um que dá a posição horizontal e outro que dá a po- A e B:
sição vertical desse ponto. Contudo, à medida que o ponto se dd == ( x B ⋅ x A )2 + ( y B ⋅ y A )2
move num círculo, suas coordenadas mudam, e podemos es-
Agora encontramos a equação da reta r que passa pelos pon-
crever uma equação que indica os números das coordenadas
tos A e B.
que variam e em qual ponto da figura eles se encontram. E y ⋅y
r: y – yA = m(x – xA), sendo m == B A ou r: y – yB = m(x – xB)
desse modo, de repente, a geometria havia se transformado xB ⋅ x A
em álgebra... O segmento de reta com extremos em A e B, comprimento d
Usando tais transformações de geometria em números, é e que está contido em r é a representação do túnel a ser cons-
possível notar, por exemplo, se o arco de uma construção qual- truído.
quer (uma fachada de casa, por exemplo) faz parte ou não de Nota-se que a geometria, de Euclides a Descartes, nos rodeia
um círculo. Desde essa descoberta, não era mais preciso con- há muitos e muitos anos, e que, mesmo não se sabendo quando
fiar apenas no olhar. Havia agora as equações da curva que e em que época ela surgiu, estará presente na maioria dos mo-
mostravam essas características. mentos de nossas vidas.
Conhecida como cidade de Samos, Vathi (foto)
é a capital da ilha de Samos e cidade natal de
Pitágoras.
59
Matemática
Em foco C2 Utilizar o conhecimento geométrico para realizar a leitura e a representação da realidade e agir sobre ela.
H9 Utilizar conhecimentos geométricos de espaço e forma na seleção de argumentos propostos como solução de
problemas do cotidiano.
Em uma cidade será construída uma galeria subterrânea que receberá uma rede de canos para o transporte de água de uma fonte (F)
até o reservatório de um novo bairro (B). Após avaliações, foram apresentados dois projetos para o trajeto de construção da galeria:
um segmento de reta que atravessaria outros bairros ou uma semicircunferência que contornaria esses bairros, conforme ilustrado no
sistema de coordenadas xOy da figura, em que a unidade de medida nos eixos é o quilômetro.
y (km)
F = (–1, 1) 1
–1 O 1 x (km)
–1 B = (1, –1)
Estudos de viabilidade técnica mostraram que, pelas características do solo, a construção de 1 m de galeria pelo segmento de reta demora
1,0 h, enquanto 1 m de construção de galeria pela semicircunferência demora 0,6 h. Há urgência em disponibilizar água para o novo bairro.
(Use 3 como aproximação para π e 1,4 como aproximação para 2.)
O menor tempo possível, em hora, para a conclusão da construção da galeria, para atender às necessidades de água do bairro, é de
a) 1 260. b) 2 520. c) 2 800. d) 3 600. e) 4 000.
Alternativa: b
A distância entre a fonte e o bairro corresponde ao diâmetro da semicircunferência do gráfico, com centro em O(0; 0) e que passa pelo ponto
F(−1; 1). Da medida do raio ( –1 – 0 ) + ( 1 – 0 ) = 1 + 1 = 2 , concluímos que o diâmetro citado corresponde a 2 2 km; H 2 · 1,4 · 1 000 m =
2 2
Atividades
1 C5/H22 O projeto de uma rodovia retilínea e plana deverá ter início 2 C2/H6 O gráfico seguinte, que é parte de uma reta, representa a
na cidade de Nogueira e término na cidade de Figueira. Colocado o extensão, em quilômetro, de um túnel em construção e os respectivos
projeto em um mapa com coordenadas cartesianas, observa-se que anos em que isso ocorreu.
Nogueira está no ponto N(5, 2) e Figueira no ponto F(9, 10) do mapa. 7
Nessa região, entre as duas cidades, existem três enormes rochas,
A, B e C, que no mapa estão representadas respectivamente pelos 2
pontos A(7, 6), B(8, 9) e C(10, 12). Para que o projeto da estrada se
torne realidade, na íntegra:
a) não há necessidade de remoção de nenhuma das rochas. 2000 2010 Ano
b) é necessária a remoção das três rochas.
c) é suficiente a remoção das rochas A e B. Se a perfuração completa terminou em 2016, a extensão do túnel
d) é suficiente a remoção das rochas A e C. depois de pronto é, em km:
e) é suficiente a remoção da rocha A. a) 9,4. b) 10. c) 10,4. d) 12. e) 14,4.
60
Ciências daNatur
Natureza
Arthito/Shutterstock
ervo da Editora
Capstone Press/Ac
Hedy Lamarr and a Secret
Communication System
(somente em inglês)
Editora: Capstone Press
Primeira edição, publicada em
setembro de 2006.
61
Uma atriz inventora Além de músico, George Antheil era inventor e tinha se es‑
Hedwig Eva Maria Kiesler nasceu em 9 de novembro de pecializado em automatizar e sincronizar instrumentos mu‑
1914 na cidade de Viena, na Áustria. Filha de judeus, interpre‑ sicais. Hedy Lamarr, por sua vez, já tinha bons conhecimen‑
tou na adolescência várias personagens em filmes alemães, tos de física e eletrônica. Ambos, descontentes com o avanço
contracenando com artistas famosos. nazista na Europa, juntaram‑se em um projeto que serviu de
base para as modernas tecnologias de Wi‑Fi e celulares.
Corbis via Getty Images
Hayk_Shalunts/Shutterstock
Hedy Lamarr em 1940.
62
Ciências da Natureza
Hedy Lamarr e George Antheil conseguiram patentear o A ideia desenvolvida no equipamento de Lamarr e George
Sistema de Comunicação Secreta em 1942, em plena Segunda embasou a moderna tecnologia de comunicação, tal como
Guerra Mundial. Apresentaram o sistema ao Departamento de COFDM (Multiplexação por Divisão de Frequência Or‑
Guerra dos Estados Unidos, que se recusou a utilizar a ideia de togonal Codificada) usada nas conexões Wi‑Fi e CDMA
trocar as 88 frequências a fim de despistar radares. Era uma ta‑ (Acesso Múltiplo por Divisão de Código) usada em telefo‑
refa muito complexa e difícil demais para ser realizada na épo‑ nes celulares.
ca. Além disso, o Departamento de Guerra não gostou do fato As redes atuais
de o equipamento ter surgido de uma adaptação com base em A alternância de frequência, hoje aperfeiçoada, é utilizada em
instrumentos musicais. diversos sistemas de telefonia móvel, como na tecnologia GSM,
em inglês Global System Mobile.
IFI CLAIMS Patent Services
Ollyy/Shutterstock
Cada pessoa consegue utilizar sua linha sem que haja interferência
nas demais linhas.
63
Ciências da Natureza
Em foco C2 Identificar a presença e aplicar as tecnologias associadas às ciências naturais em diferentes contextos.
H6 Relacionar informações para compreender manuais de instalação ou utilização de aparelhos, ou de sistemas
tecnológicos de uso comum.
(Enem-MEC) O progresso da tecnologia introduziu diversos artefatos geradores de campos eletromagnéticos. Uma das mais empregadas
invenções nessa área são os telefones celulares e smartphones. As tecnologias de transmissão de celular atualmente em uso no Brasil
contemplam dois sistemas. O primeiro deles é operado entre as frequências de 800 MHz e 900 MHz e constitui os chamados sistemas
TDMA/CDMA. Já a tecnologia GSM ocupa a frequência de 1.800 MHz.
Considerando que a intensidade de transmissão e o nível de recepção “celular” sejam os mesmos para as tecnologias de transmissão
TDMA/CDMA ou GSM, se um engenheiro tiver de escolher entre as duas tecnologias para obter a mesma cobertura, levando em
consideração apenas o número de antenas em uma região, ele deverá escolher:
a) a tecnologia GSM, pois é a que opera com ondas de maior comprimento de onda.
b) a tecnologia TDMA/CDMA, pois é a que apresenta Efeito Doppler mais pronunciado.
c) a tecnologia GSM, pois é a que utiliza ondas que se propagam com maior velocidade.
d) qualquer uma das duas, pois as diferenças nas frequências são compensadas pelas diferenças nos comprimentos de onda.
e) qualquer uma das duas, pois nesse caso as intensidades decaem igualmente da mesma forma, independentemente da frequência.
Alternativa: e
Com os mesmos níveis de intensidade mencionados, independem da frequência de operação. Sendo assim, o engenheiro pode escolher
qualquer uma das duas, pois a intensidade não depende da frequência.
Atividades
1 C1/H1 Após o embarque em aeronaves de rotas comerciais, a tripulação solicita a atenção dos passageiros sobre alguns procedimentos
importantes antes da decolagem. Um deles solicita que todos os passageiros desliguem seus aparelhos celulares, tablets e notebooks. Após
a decolagem o uso é permitido com o aparelho em “modo avião” e, quando próximo da aterrissagem, é solicitado que todos sejam desligados
novamente. Tais procedimentos visam a segurança do voo. Se algum passageiro não desligar seu aparelho, pode(m) ocorrer:
a) ruídos no sistema de som interno da aeronave.
b) interferências nas comunicações entre o piloto e a torre de controle.
c) pane no sistema elétrico da aeronave.
d) queda no sinal de satélite, que permite o acesso à rede sem fio da aeronave.
e) falha nas ligações que o passageiro tentar realizar em voo.
2 C2/H6 Estudos realizados pelo dr. Hansraj, chefe de cirurgia da coluna vertebral da New York Spine Surgery & Rehabilitation Medicine,
alertam sobre problemas posturais e suas consequências devido ao uso de smartphones. O tempo gasto com leitura de e-mails, uso de redes
sociais e navegação em sites diversos varia entre 700 a 1.400 horas por ano para a maioria das pessoas, podendo chegar a 5.000 horas para
os jovens. O fato é que tal atividade produz uma inclinação excessiva da cabeça para baixo, contrariando as orientações posturais de manter
o máximo possível a cabeça ereta. A permanência dessa inclinação por períodos prolongados gera uma sobrecarga na coluna cervical. Essa
má postura, denominada algumas vezes como “pescoço de texto”, do inglês text neck, pode levar a um desgaste precoce da coluna vertebral,
degeneração e até casos de intervenção cirúrgica. Além disso, existem estudos que associam essa má postura à perda de 30% da capacidade
pulmonar, dores de cabeça frequentes, problemas neurológicos e até doenças cardíacas.
Adaptado de: The Washington Post, 20 nov. 2014 (acesso em: 5 jan. 2017).
Link: <www.washingtonpost.com/news/morning-mix/wp/2014/11/20/text-neck-is-becoming-an-epidemic-and-could-wreck-your-spine/?utm_term=.94ff31eb070f>.
→
A cabeça humana tem uma massa de cerca de 5 kg. Com a postura ereta, ela Fc
provoca uma reação normal (força de contato – Fc) pela coluna vertebral
equivalente ao seu próprio peso. Na condição de “pescoço de texto”, exposta no
texto e na figura ao lado, a cabeça está inclinada formando um ângulo de 45o
com a horizontal e, nesse momento, também atua uma força muscular (Fm) de
200 N, formando um ângulo de 35º com a horizontal. (Dados: sen 35o = 0,57 e →
cos 35o = 0,82; sen 45o = cos 45o = 0,71.) Fm
A sobrecarga aproximada na coluna vertebral para que a cabeça permaneça
equilibrada (força de contato) na situação de text neck e o posicionamento
adequado para evitá-la estão corretas em:
a) 170 N e manter o smartphone numa posição em que a cabeça esteja
inclinada no máximo em 30º.
b) 170 N e manter o smartphone numa posição vertical na altura dos olhos.
c) 231 N e manter o smartphone numa posição em que a cabeça esteja
batcave/
stock
Gabarito 1. b 2. d
Confira as resoluções no Portal de seu Sistema de Ensino.
64
cCiências
Ciências
HHumanas
Humanas
ra
rvo da Edito
O século XX nasceu com o primeiro conflito mundial (1914-1918) marcado por um
grande número de mortes e mutilações e pelo uso de tecnologias inovadoras criadas
Zahar/Ace
para a guerra (armas químicas, metralhadoras, munição de longo alcance). Algumas
das motivações desse conflito mundial – as disputas entre potências europeias por co-
lônias na África e na Ásia – evidenciam as práticas violentas adotadas por nações in-
dustrializadas para dominar povos e territórios, sob o pretexto do “fardo do homem
branco”. O genocídio promovido por belgas no interior da África e as tensões e confli-
tos alimentados por interesses europeus são situações que nos permitem relativizar o
clima de belle époque anterior à Primeira Guerra Mundial. O encantamento com o po-
tencial que a tecnologia propiciava e o orgulho do modo de vida civilizado, urbaniza-
do e permeado pelo consumo fundamentaram-se em práticas violentas, em conflitos BAUMAN, Z.; BORDONI,
que destruíram culturas e povos dos continentes africano e asiático e na exploração C. Estado de crise. Rio de
de seus recursos naturais em função dos interesses econômicos das grandes potências Janeiro: Zahar, 2016.
industrializadas.
Esse livro aborda a crise
MILpictures by Tom Weber/The Image Bank/Getty Images
Sites
<https://nacoesunidas.
org/direitoshumanos/> e
<www.direitoshumanos.
usp.br/index.php/
Declara%C3%A7%C3%A3o-
Universal-dos-Direitos-
Humanos/declaracao-
universal-dos-direitos-humanos.
html>
Os sites aqui citados
apresentam o histórico dos
direitos humanos, destacando
os principais fatos e
documentos.
Filme
O capital, dirigido por Costa
Gavras (França, 2012).
O filme conta a história de
um banqueiro em ascensão,
mostrando as estratégias
utilizadas para garantir
o crescimento econômico
da empresa e seus efeitos
para diferentes grupos da
sociedade.
65
No entreguerras, o clima de euforia promovido pela cul- da Síria ou de países da África, deslocando-se para a Euro-
tura norte-americana (american way of life) parecia tra- pa em busca de oportunidades de sobrevivência, fugindo das
duzir a crença de que o capitalismo liberal solucionaria guerras em seus países ou das condições de extrema pobre-
todos os problemas. A queda da Bolsa de Nova York, em za, são vistos como problema por governos europeus e impe-
1929, foi o fato que comprovou os limites desse modelo, didos de ultrapassar certas fronteiras; muitos acabam, por-
afundando as economias capitalistas em uma profunda tanto, morrendo em embarcações precárias que afundam no
crise econômica. Nesse cenário, grupos totalitários sur- mar Mediterrâneo. Em diferentes países, determinados gru-
giram e conquistaram o apoio popular, por meio da pro- pos, como as mulheres, os LGBTs, os negros e os pobres, são
paganda de massas (nacionalismo), da repressão e da cen- desumanizados por meio de práticas governamentais bru-
sura, e o apoio de parte da elite industrial, e passaram a tais e pela disseminação de uma cultura que bloqueia o aces-
controlar o governo de alguns países europeus (Alema- so a direitos básicos, como o direito a vida, a dignidade, a
nha, Itália, Portugal, Espanha) para promover o cresci- saúde, a educação, a moradia, entre tantos outros, como se
mento econômico por meio do militarismo e de projetos tais direitos fossem privilégio para um pequeno grupo. Um
expansionistas. Mais uma vez, a promessa de um progres- dos principais efeitos que esse recente histórico de guerras,
so permeado pelo desenvolvimento tecnológico foi asso- conflitos e extermínio traz é a naturalização da violência e da
ciada a práticas de extermínio, intolerância e conflitos construção de ferramentas que promovam a violência (como
que levaram à morte milhares de pessoas, promovendo a se fossem parte da lógica de mercado). Torna-se normal in-
maior onda de refugiados em toda a Europa ao término da vestir no desenvolvimento de tecnologias que promovem a
Segunda Guerra Mundial (1939-1945). morte, como estratégia para a construção da segurança. Tor-
Na sequência, a Guerra Fria continuou sendo o propul- na-se normal adotar critérios que mantêm privilégios para
sor para que essa associação entre tecnologia e crescimen- poucos. É como se fosse natural que a aposta no desenvol-
to econômico com os conflitos armados existisse, tornan- vimento tecnológico que gera conforto, segurança, qualida-
do-se uma “verdade absoluta”. EUA e URSS disputavam a de de vida e aumento da expectativa de vida tivesse como
liderança militar mundial por meio do desenvolvimento “preço a ser pago” o constante clima de guerra e extermínio.
de armas nucleares, tecnologia para o domínio do espaço, É como se apenas parte da humanidade tivesse direito a es-
uso da aviação, criação de ferramentas para espionagem, ses benefícios que a tecnologia proporciona e, assim, tam-
ampliação do alcance de mísseis e armas de fogo. Diversos bém tivesse o direito de eliminar todas as “ameaças” à con-
conflitos foram, e continuam sendo, alimentados no con- cretização desse projeto. Nesse tipo de raciocínio construído
tinente africano, no asiático e no Oriente Médio. A Guerra historicamente no século XX, a humanidade sempre está em
da Coreia, a Guerra do Vietnã, a Guerra do Afeganistão, as guerra, porque parte dela deseja manter seus privilégios e vê
guerras ocorridas dentro das nações recém-independen- no outro um problema a ser eliminado. Seria possível alcan-
tes da África, as guerras travadas após a criação de Israel çarmos uma consciência diferente, promovendo pesquisas e
são alguns dos conflitos mais famosos do século XX, que desenvolvimento tecnológico capaz de utilizar os recursos da
foi caracterizado como um dos mais violentos da história natureza para garantir a todos o direito a vida? Seria possível
da humanidade. nos humanizarmos completamente, reconhecendo no outro
Apesar da existência da Declaração Universal dos Direitos uma parceria e não uma ameaça? Seria possível pensarmos em
Humanos, em 1948 essa construção histórica que associou dedicar nossos esforços para a construção de soluções que pro-
o desenvolvimento tecnológico ao desenvolvimento econô- movam relações pacíficas? O século XXI vive um grande dile-
mico, dando ênfase ao setor bélico para a construção do po- ma: manter as mesmas diretrizes políticas elaboradas ao lon-
der ou da hegemonia de uma nação sobre as outras, tem des- go do século XX ou inovar na construção de novos parâmetros
truído a noção de humanidade e do direito à vida. Refugiados para o desenvolvimento tecnológico e humano? Vitezslav Halamka/Shutterstock
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Ciências Humanas
Em foco C3 Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as
aos diferentes grupos, conflitos e movimentos sociais.
H14 Comparar diferentes pontos de vista, presentes em textos analíticos e interpretativos, sobre situações ou
fatos de natureza histórico-geográfica acerca das instituições sociais, políticas e econômicas.
(Enem-2016)
Ser moderno é encontrar-se em um ambiente que promete aventura, poder, alegria, crescimento, autotransformação e transformação
das coisas em redor – mas ao mesmo tempo ameaça destruir tudo o que temos, tudo o que sabemos, tudo o que somos. A experiência
ambiental da modernidade anula todas as fronteiras geográficas e raciais, de classe e nacionalidade: nesse sentido, pode-se dizer que a
modernidade une a espécie humana. Porém, é uma unidade paradoxal, uma unidade de desunidade.
BERMAN, M. Tudo que é sólido desmancha no ar: a aventura da modernidade. São Paulo: Cia. das Letras, 1986 (adaptado).
O texto apresenta uma interpretação da modernidade que a caracteriza como um(a)
a) dinâmica social contraditória.
b) interação coletiva harmônica.
c) fenômeno econômico estável.
d) sistema internacional decadente.
e) processo histórico homogeneizador.
Alternativa: a
O texto apresenta a construção da modernidade como uma dinâmica social que, ao mesmo tempo que ameaça destruir os saberes e
culturas locais, estabelece uma união entre os seres humanos, destruindo fronteiras físicas e sociais (unidade de desunidade). (b) Errada.
Não há o aspecto harmônico descrito no texto. (c) Errada. Não há descrição da modernidade como fenômeno econômico. O texto aborda a
construção social do fenômeno. (d) Errada. Não há referências ou classificações da modernidade como decadente. (e) Errada. O texto não
aponta o efeito de homogeneização, mas o efeito de ligação entre seres humanos de diferentes locais e grupos.
Atividades
1 C2/H7
A enorme trilha e destruição precipitada pela guerra deixou em ruínas não só grande parte da Europa e da Ásia, mas também a antiga ordem
internacional. [...] Na verdade, o sistema internacional eurocêntrico que havia dominado as relações mundiais nos 500 anos anteriores
desaparecera virtualmente da noite para o dia. Dois gigantes militares do tamanho de um continente haviam surgido em seu lugar, cada um
querendo forjar uma nova ordem de acordo com suas necessidades e seus valores.
MCMAHON, Robert J. Guerra Fria. Porto Alegre:
L&PM Pocket, 2012. Disponível em: <www.lpm.com.br/livros/Imagens/guerra_fria_encyclopaedia_trecho.pdf>. Acesso em: 25 abr. 2017.
2 C3/H15
Leia um trecho do poema “No vosso e em meu coração”, de Manuel Bandeira.
A Espanha de Franco, não!
Espanha republicana,
Noiva da Revolução!
Espanha atual de Picasso,
De Casals, de Lorca, irmão
assassinado em Granada!
Os resultados da Guerra Civil abordada no poema levaram
a) à criação de um governo comunista.
b) à invasão da Polônia em 1939.
c) ao assassinato do príncipe do Império Austro-Húngaro.
d) à instalação de um governo com características totalitárias.
e) à formação do Eixo, contribuindo para o aumento das tensões na Europa.
Gabarito 1. c 2. d
Confira as resoluções no Portal de seu Sistema de Ensino.
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RRedação
“Professor, quantas linhas?”
Em profundidade Já falamos em outras edições desta revista sobre a dificuldade de os alunos iniciarem
Site sua redação. Agora, abordaremos outro aspecto que muito incomoda os alunos no mo-
mento de construir seu texto: o número de linhas que a redação deve ter. O Enem tem exi-
Reprodução/www.escritaacademica.com/
gido uma redação com no máximo 30 linhas. A partir desse critério, pode-se ter uma ideia
de como você vai organizar o texto final.
Considerando as 30 linhas propostas, chega-se à seguinte média: entre 5 e 6 parágrafos;
cada um deles com, aproximadamente, 5 ou 6 linhas. Se optarmos por um parágrafo com
6 linhas, por exemplo, a redação deverá ter 5 parágrafos com 6 linhas, perfazendo as 30
linhas exigidas. Com essa informação prévia, fica mais fácil para o estudante pensar em
como vai estruturar cada parágrafo de sua redação.
As partes do texto: de acordo com a maioria dos textos que lemos, a organização mais
comum é: a) introdução; b) desenvolvimento; c) conclusão ou desfecho. Sendo assim, o
Caso você queira aprofundar próximo passo será planejar o conteúdo de cada parágrafo. Geralmente, a organização do
seus estudos, utilizando texto ocorre da seguinte maneira: na introdução, é apresentado o tema central que será
ferramentas tecnológicas como discutido; nos três parágrafos seguintes, são apresentados os argumentos, baseados nos
a internet, navegue no site propósitos que temos em mente; e no último, a conclusão, em que fechamos o assunto, ge-
Escrita Acadêmica, clicando ralmente apresentando uma proposta de intervenção social.
na aba Tópicos e depois no Com esse planejamento prévio, o estudante estará apto a “antever” seu texto e imaginar
item Construção de sentido, como suas ideias serão dispostas no papel.
em que há as opções: Tópico O conteúdo do parágrafo: talvez a parte mais crítica na composição do texto seja a
frasal, Parágrafos e Coerência construção do parágrafo. Conforme alguns autores nos ensinam, o parágrafo-padrão
e Coesão. O endereço é: <www. constitui-se de um tópico frasal, em que se apresenta a ideia-núcleo a ser discutida, a que
escritaacademica.com/>. se ligam outras, secundárias, mas que se relacionam pelo sentido, ou são decorrentes da
ideia nuclear1 . Vejamos alguns exemplos:
Conservador é quem rejeita mudanças, indicando que está satisfeito com a situação e que
imagina possível manter as regras atuais no futuro, embora sejam evidentes os sinais de
reestruturações econômicas e sociais. Quem é contra as reformas em discussão no Brasil não
quer mudança e, portanto, é conservador. Os sistemas de regulação na sociedade e na economia
não podem ser rígidos e definitivos, porque devem se adaptar e renovar para acompanhar as
transformações das estruturas e das relações de produção, de modo que garanta o equilíbrio
entre proteção social e eficiência econômica.
Adaptado de: A vanguarda do atraso, de Sérgio C. Buarque, 8 abr. 2017.
Observe que o tópico frasal é colocado logo no primeiro período do parágrafo. Nele, o autor
(1) “É certo que nem todo parágrafo
apresenta o tema principal, definindo o que para ele significa uma pessoa conservadora, isto é,
apresenta essa característica:
algumas vezes a ideia-núcleo está que não aceita mudanças, que está satisfeita com as regras atuais, mesmo sabendo que há sinais
como que diluída nele ou já expressa de reestruturação. A partir daí, todo seu argumento vai girar em torno dessa ideia ou dessa defi-
num dos precedentes, sendo apenas nição nuclear. Repare que o tópico frasal tem um aspecto generalizante, dedutivo. Primeiro o
evocada por palavras de referência autor define o que entende por conservador, depois vai exemplificando, afunilando, a partir do
(certos pronomes) e partículas
contexto brasileiro atual e da tese que pretende desenvolver nos próximos parágrafos.
de transição. Mas a maioria deles
é assim construída. Pesquisa que Apesar de o mais comum ser o tópico frasal figurar logo nas primeiras linhas do parágra-
fizemos, em muitas centenas de fo, nem sempre essa disposição acontece, já que depende muito do estilo e da intenção de
parágrafos de inúmeros autores, quem escreve. Há casos em que o tópico frasal pode vir no fim do parágrafo, isto é, o autor
permite-nos afirmar com certa do texto, visando prender a atenção do leitor para o que pretende dizer como ideia central
segurança que mais de 60% deles
de seus argumentos, reserva o último período para expor sua tese. Observe no editorial do
apresentam tópico frasal inicial.”
Fonte: Comunicação em prosa
Estado de S. Paulo do dia 14/04/2017 como isso se dá:
moderna, Othon M. Garcia, FGV, 27 ed.
Durante várias décadas, a Suíça foi um país marcado pela precisão de seus relógios, pela
qualidade de seus chocolates, pela secular Guarda Pontifícia e pela segurança garantida pelo
sistema bancário a todos aqueles com boas razões para esconder das autoridades a origem de
seus patrimônios. Os relógios e os chocolates lá produzidos continuam excepcionais. Pode-se
também dizer que a integridade do papa Francisco permanece garantida pela Guarda. O que vem
mudando, e muito, é a imagem de um oásis para os ladravazes* internacionais.
(*) ladravaz: grande ladrão Disponível em: <http://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,novos-tempos,70001738163>. Acesso em: 14 abr. 2017.
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No primeiro texto, o argumento do autor gira em torno do
Note que o autor do editorial opta por começar seu texto
conceito de conservador, e todo o parágrafo se constrói em
apontando aspectos da Suíça que já fazem parte da memória
busca de explorar esse argumento para a defesa de sua tese.
das pessoas: a precisão dos relógios, a qualidade dos chocola-
O parágrafo é formado seguindo dois caminhos: a definição de
tes, a secular Guarda Pontifícia e a segurança do sistema ban-
conservador versus a necessidade de mudança. Vejamos:
cário. Essas informações são, de modo geral, conhecidas pelos
leitores. No entanto, o que ele quer dizer, relacionando aos epi- Definição de conservador × Necessidade de mudança
sódios que vêm ocorrendo no Brasil nos últimos tempos, isto é, rejeitar mudança × sinais de reestruturação
a corrupção e a transferência de quantias vultosas de dinheiro sistemas não podem ser rígidos
ilícito para aquele país, ele reserva para o tópico frasal, apresen- estar satisfeito com a situação × nem definitivos
tado no último período. Ou seja, a informação nova, que consti- sistemas devem se adaptar e
manter as regras atuais × renovar
tui a sua tese, é dada somente no último período.
sistemas devem acompanhar as
Coesão e coerência: a forma de construção do parágrafo não querer mudança × transformações
e do lugar do tópico frasal, como já dito, depende exclusiva-
mente do escritor, isto é, cabe a ele decidir como vai discor- No segundo texto, o autor enumera certos produtos que
rer sobre o assunto, organizando suas ideias. Embora essa de- confirmam a excelência do país (Suíça), contrapondo-os a um
cisão seja exclusiva do autor do texto, o mais importante a ser elemento negativo. Vejamos:
considerado na organização do parágrafo é que, independen-
temente da posição do tópico frasal, as partes do texto devem
Elementos positivos × Elemento negativo
precisão de seus relógios
estar bem articuladas para garantir unidade de sentido ao lon-
qualidade de seus chocolates a imagem de um oásis para os
go do processo de produção textual.
secular Guarda Pontifícia ladravazes internacionais
Assim, quando vamos planejar as partes do texto a que pro-
segurança do sistema bancário
pomos discorrer, precisamos ter em mente estes dois ele-
mentos: a coesão e a coerência. A coesão diz respeito às par- Assim, a escolha do tópico frasal e das ideias secundárias
tes do período quanto aos parágrafos propriamente ditos; e a que darão sustentação ao argumento, além da coesão e da coe-
coerência refere-se à unidade de assunto, isto é, todo o texto rência entre as partes do texto, são elementos fundamentais
deve estar articulado e relacionado a um mesmo tema, daí a para que sua redação fique bem estruturada e seja bem recebi-
sua unidade. Vejamos como os dois parágrafos estudados fo- da pelo público leitor. Boa redação!
ram estruturados.
(Enem-1999)
Texto I Texto II
O encontro “Vem ser cidadão” reuniu 380 jovens de 13 estados, em
Henfil
Texto III
• Eu não sinto vergonha de ser brasileiro. Eu sinto muito
orgulho. Mas eu sinto vergonha por existirem muitas pessoas
acomodadas. A realidade está nua e crua. […] Tem de parar
com o comodismo. Não dá para passar e ver uma criança na
rua e achar que não é problema seu. (E.M.O.S., 18 anos, Minas
Gerais)
• A maior dica é querer fazer. Se você é acomodado, fica
esperando cair no colo, não vai acontecer nada. Existe muita
coisa para fazer. Mas primeiro você precisa se interessar.
(C.S.Jr., 16 anos, Paraná)
• Ser cidadão não é só conhecer os seus direitos. É participar, ser
dinâmico na sua escola, no seu bairro. (H.A., 19 anos, Amazonas)
Depoimentos extraídos de: Para quem se revolta e quer agir.
HENFIL. Fradim. Ed. Codecri, 1997, n. 20. Folha de S.Paulo, 16 nov. 1998.
69
Redação
Com base na leitura dos quadrinhos e dos depoimentos, redija um texto em prosa, do tipo dissertativo-argumentativo, sobre o tema:
Cidadania e participação social.
Ao desenvolver o tema proposto, procure utilizar os conhecimentos adquiridos ao longo de sua formação. Depois de selecionar, organizar e
relacionar as opiniões, os argumentos e os fatos apresentados em defesa de seu ponto de vista, elabore uma proposta de ação social sobre o tema.
Comentário
Embora seja um tema proposto no fim da década de 1990, trata-se de um assunto ainda pertinente, que encontra eco na atualidade, na
medida em que os jovens nas sociedades tecnológicas atuais se mostram cada vez mais participantes e coautores de suas histórias, por
meio de iniciativas populares, tanto no âmbito estudantil quanto no dos movimentos populares modernos. Assim, falar de protagonismo
juvenil significa refletir sobre as mudanças pelas quais o mundo, em geral, e o Brasil, especificamente, vêm passando. Quais são os novos
desafios que os jovens devem enfrentar, numa sociedade em que temas como “empoderamento” e relações homoafetivas têm chamado a
atenção das mídias e mudado o panorama mundial e sua forma de ver e compreender o mundo; qual é o papel do jovem neste novo cenário,
e quais são as implicações de um novo paradigma que se coloca a todos de uma forma definitiva, isto é, que veio para ficar. Assim, uma
reflexão, abordando as novas maneiras de encarar e compreender as demandas deste mundo atual, em que o jovem é coparticipante em
definitivo, é uma boa forma de pensar e discorrer sobre o tema.
Proposta de redação
Com base na leitura dos textos motivadores seguintes e nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija um texto
dissertativo-argumentativo em norma-padrão da língua sobre o tema: Os novos paradigmas da sociedade brasileira: tempos de
mudança. Selecione, organize e relacione coerentemente argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista, respeitando os direitos
humanos.
Texto I
Nos mais importantes eventos internacionais que tratam de política, economia e gestão pública, o Brasil vem sendo citado como referência
muito mais por sua capacidade de combater a corrupção (leia-se Lava Jato) do que por seu potencial de nação emergente.
Mergulhado em uma dura recessão, a imagem que o País vem passando para o mundo é a de que suas instituições e sua democracia são
fortes o suficiente para resistir às consequências de uma operação policial de grande porte que colocou na cadeia poderosos da economia e da
política.
<www.opovo.com.br/jornal/opiniao/2017/04/editorial-mudanca-de-paradigma.html>
Texto II
Daisaku Ikeda, presidente da Soka Gakkai International (SGI), apresenta sua 35a proposta de paz anual, intitulada Solidariedade Global dos
Jovens: Alvorada de uma Nova Era de Esperança, em 26 de janeiro de 2017.
Reconhecendo inúmeros desafios globais, do conflito armado à crise dos refugiados, Ikeda rejeita o pessimismo citando sua confiança
nos jovens, que incorporam a esperança e catalisam reações em cadeia de mudanças positivas em sua localidade. Ele afirma: "Os jovens
e seu intenso engajamento representam a solução para os desafios globais que enfrentamos". Ele também vê os jovens como indivíduos
essenciais para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) adotados pela Organização das Nações Unidas (ONU) rumo
a 2030. Enfatiza que a ação globalmente compartilhada, como observado em recentes esforços para combater as mudanças climáticas, é
essencial para promover esses objetivos.
<http://economia.estadao.com.br/noticias/releases-ae,lider-budista-destaca-em-sua-proposta-de-paz-anual-o-poder-dos-jovens-na-construcao-de-uma-
solidariedade-global-incentivando-a-sociedade-civil-a-desempenhar-papel-ativo-nas-discussoes-sobre-o-desarmamento-nuclear,70001646551>
Texto III
Os jovens de hoje estão se tornando novamente protagonistas no cenário político brasileiro, como sucedeu em outras épocas, e isto motivado por
um senso de dever e ética com as causas sociais, se envolvendo com as mais diferentes temáticas e participando de vários Movimentos Sociais.
“Os estudantes têm participado ativamente dos encontros do Fórum Social Mundial. As publicações, análises, materiais visuais, e relatos das
edições do FSM que ocorreram em Porto Alegre, por exemplo, atestam isso” (GOHN, 2014, p. 55).
As Políticas Públicas contemporâneas de nosso tempo devem inserir a juventude na discussão das mais variadas questões, como cotas e
financiamentos para estudantes, questões de raça, credo, gênero, classe social, não se restringindo a discutir a forma e sim ir além, construindo
socialmente seu conteúdo e conceito estratégico de sociedade.
<www.portalconscienciapolitica.com.br/ci%C3%AAncia-politica/politicas-publicas/juventude/>
Texto IV
RIO – A Operação Lava Jato vai mudar o Brasil? A presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Cármen Lúcia, afirma que,
para isso, os brasileiros precisarão “assumir sua própria história, seu próprio destino, que, muitas vezes, foi deixado a cargo dos outros”.
Ao participar do quinto encontro “E agora, Brasil?”, promovido pelo GLOBO com o apoio da Confederação Nacional do Comércio (CNC),
na última sexta-feira, na Maison de France, no Rio, a ministra defendeu que este “é o momento de despertar” para a necessidade de
adotar uma democracia participativa:
– Eu acredito em todas essas operações, processos. Vejo como uma sinalização do que precisamos fazer para termos o que queremos. O título
do nosso encontro, “E agora, Brasil?”, é uma pergunta feita para nós todos: E agora, brasileiros? O que vocês, incluindo todos nós, vão fazer
para mudar? Este é o momento de despertar, como em outras oportunidades que tivemos.
<http://oglobo.globo.com/brasil/e-agora-brasil-hora-de-despertar-participar-da-mudanca-21090493>
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