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Trabalhos em Escavações

Introdução

Nas actividades relacionadas com movimentos de terras e obras de infra-estrutura (esgoto,


abastecimento, etc.), os trabalhos de escavação representam uma alta percentagem dos acidentes
graves ou mortais, sendo uma das principais causas o soterramento ou enterramento provocado pelo
desabamento, afundamento e deslizamento de terras.
Definições:

Terraplenagem:Conjunto de trabalhos realizados no terreno para modificar adequadamente a sua


superfície, preparando-o para a construção e adaptando-o à sua forma definitiva. Compreende tanto a
extracção como a adição de terras.
Escavação: extracção de terras realizada em áreas localizadas do terreno...
Vala e Poço: Definimos vala como uma escavação comprida e estreita, e poço como uma escavação
vertical ou inclinada onde predomina a dimensão de profundidade sobre as outras duas, ambas
realizadas no terreno com meios manuais ou mecânicos, e que cumprem ainda as seguintes
características: Largura/Diâmetro ≤ 2 m, Profundidade ≤ 7 m, nível freático inferior à profundidade ou
rebaixado, não sendo incluídos os terrenos rochosos nem moles ou expansivos.
Esvaziamento: Escavação a céu aberto realizada com meios manuais e/ou mecânicos cujo perímetro fica
inteiramente sob o nível do solo. Ficam excluídos os terrenos que exigem a utilização de explosivos e as
lamas ou lodos. Quando a largura/diâmetro da escavação for ≤ 2 m, será considerada uma vala ou um
poço.
Talude: Inverso do declive de um terreno.

Os riscos mais importantes na realização de trabalhos em escavações são:

 Queda de pessoas ao mesmo nível.


 Queda de pessoas ao interior da escavação.
 Desabamento de materiais, terras, rochas.
 Desmoronamento do terreno ou de edifícios adjacentes.
 Entalamento.
 Inundações.
 Pancadas com objectos e ferramentas.
 Colisões de veículos.
 Capotamento de máquinas.
 Atropelamento com veículos.
 Ruído.
 Outros riscos decorrentes da interferência com outras canalizações subterrâneas (electricidade, gás, água, etc.).

Medidas básicas a adoptar em qualquer tipo de escavação

 Conhecer previamente as características físicas e mecânicas do terreno (estratificação, fissuras, etc.).


 Seguir estritamente as indicações e instruções da Direcção da obra.
 Se necessário, contar com Estudo Geológico e/ou Geotécnico prévio para determinar o método apropriado de
protecção interior nas escavações.
 No caso de não efectuar escoramento e resolver realizar taludes, deve-se conhecer:
 - O grau sísmico do local do corte.
 - Os planos e secções dos cortes provisórios do projecto.
 - O tipo, localização, profundidade e dimensões de fundações próximas e vias de circulação que se encontrem a
uma distância igual ou inferior a duas vezes a profundidade do corte provisório.
 - A avaliação da tensão de compressão transmitida para o terreno pelas fundações próximas, no mesmo plano ou
mais profundas.
 - O nível freático.
 - A permeabilidade e desagregabilidade na água.
 - O grau de dessecação.
 - O peso específico aparente.
 - A resistência à compressão simples de amostras inalteradas.
 - As características de cortes do terreno garantidos por experiências anteriores no local das obras.
 Caso não tenha sido estabelecida a obrigatoriedade de realizar um estudo geotécnico, quer pela falta de projecto de
obra, quer por qualquer outro motivo, e tal estudo efectivamente não seja elaborado, devem ser adoptadas as
medidas mais favoráveis do ponto de vista da prevenção em função da avaliação profissional.
 Dispor da informação dos órgãos públicos e companhias fornecedoras que permita localizar as condutas e
canalizações de água, gás, telefone, esgoto e electricidade para determinar o método de escavação e os sistemas de
protecção mais apropriados.
 Prever as sobrecargas estáticas ou dinâmicas sobre o terreno que possa representar a proximidade de edifícios,
equipamentos, armazenamento de materiais e estradas ou ruas.
 Prever os apoios provisórios e escoramentos tendo em conta a proximidade de edifícios adjacentes, equipamentos,
armazenamento de materiais e estradas ou ruas.
 Ter sempre presente que pode ocorrer desabamento e deslizamento até mesmo em terrenos rochosos.
 Verificar diariamente a escavação (independentemente do tipo: vala, poço ou esvaziamento), taludes e
escoramentos; especialmente:
 - Se houver interrupções prolongadas
 - Situações de gelo e degelo, chuvas, etc
 Se, durante as operações de escavação, surgir qualquer anomalia não prevista, os trabalhos devem ser
interrompidos e o facto será comunicado à Direcção técnica.
 Presença de um Delegado de Prevenção quando exista risco grave de soterramento ou afundamento.
Equipamentos de protecção individual

Neste tipo de trabalhos devem ser utilizados os EPI´s adequados aos riscos existentes, nomeadamente,
capacete, calçado de segurança, óculos, luvas de protecção e colete reflector.

Dentre os trabalhos de escavação distinguem-se dois casos diferenciados, as valas e poços (cujas escassas
dimensões fazem com que os trabalhos no interior das mesmas possam ser perigosos) e os esvaziamentos.
Trabalhos em valas e poços

Este tipo de escavação está associada ao tipo de obra linear enterrada abrangida pelo conjunto de obras
de Infra-estrutura de redes de abastecimento, esgoto e canalizações, incluindo a construção de
gasodutos, cujos trabalhos acrescentam outras características próprias da colocação de tubos de aço de
grande comprimento que devem ser soldados e submetidos a radiografia.

Este tipo de obras implica a abertura de uma vala no terreno e a introdução de tubagens, colocação e
junção das mesmas e o posterior enchimento com compactação de terras, incluindo ainda a realização de
alicerces para a edificação. Poder realizar estes trabalhos sem intervenção humana no fundo da
escavação e ficando do lado de fora, evitaria muitos problemas e um grande número de acidentes
mortais.

Por enquanto, e à espera de novas tecnologias que evitem a presença do trabalhador no interior de valas
e poços, devemos utilizar os meios disponíveis ao nosso alcance aplicando as medidas de segurança
necessárias para o controlo dos riscos de acordo com o estabelecido na Regulamentação em vigor.
Medidas preventivas nas valas:

Concepção:

 Considerar, com carácter geral, perigosa qualquer escavação que alcance uma profundidade de 0,80 m., no caso de
solos correntes, e de 1,30 m. nos solos consistentes.
 Largura ou diâmetro mínimo da vala ou poço. Para cada profundidade e fase de execução que exija o acesso de um
operário à vala ou poço, este deverá dispor de um espaço com diâmetro ≥ 0,80 m. para se mover facilmente entre os
elementos de escoramento ou obra executada.
 No caso de solos coerentes e sem solicitação de fundações ou vias de circulação, para H < 1,30 m podem ser
realizados cortes verticais sem entivação. Para profundidades maiores, deve-se utilizar escoramento ou realizar um
talude adequado.
 No caso de solos soltos que não alcançam esta profundidade ou solos coerentes com solicitação de fundação ou
próximos de uma via de circulação, deve-se realizar entivação ou um talude adequado das paredes da vala.
 Podem ser implantados taludes escalonados, com banquetas não menores de 0.65 m. e altura entre banquetas não
maior de 1,30 m, nos cortes taludados do terreno com ângulos entre 60º e 90º ou para uma altura admitida em
função do peso especifico aparente do terreno e da resistência simples do mesmo.
Altura máxima admitida em m. nos cortes verticais, livres de solicitações, para diferentes pesos específicos do
terreno.

Peso específico aparente e em g/cm3


Resistência à compressão simples

Ru em Kg/cm3 2,20 2,10 2,00 1,90 1,80

0,250 1,05 1,10 1,15 1,20 1,25


0,300 1,30 1,35 1,40 1,45 1,50

0,400 1,70 1,80 1,90 2,00 2,10

0,500 2,10 2,20 2,30 2,45 2,60

0,600 2,00 2,70 2,80 2,95 3,10

0,700 3,00 3,15 3,30 3,50 3,70

0,800 3,40 3,60 3,80 4,00 4,20

0,900 3,90 4,05 4,20 4,45 4,70

1,000 4,30 4,50 4,70 4,95 5,20

1,100 4,70 4,95 5,20 5,20 -

> 1,200 5,20 5,20 - - -

Altura máxima admitida (H max.) em m.

 Igualmente, é conveniente utilizar entivação sempre que sejam construídos taludes mais acentuados do que o
adequado às características do terreno, ou quando sejam realizados taludes escalonados com banquetas que não
reúnam as condições acima indicadas.

Acesso

 De preferência, devem ser utilizadas escadas fixas ou rampas e evitar, na medida do possível, usar escadas de mão
ou escadotes.
 Se por qualquer circunstância o acesso for realizado utilizando escadas de mão, estas deverão estar situadas pelo
menos a cada 30 metros, e estarão livres de obstáculos, tanto no topo como no interior da vala. Devem ficar fixadas
pela sua parte superior e sobressaindo da vala pelo menos 1 m. A base das escadas deve ser apoiada sobre uma
superfície que actue como distribuidora de cargas, para evitar inclinação ou desestabilização.
 Sempre que possível, devem ser delimitadas as áreas de trânsito de pessoas e veículos, sinalizando adequadamente
cada uma delas. Se tal não for possível, a passarela deve ser prevista de tal forma que a passagem para pessoas fique
separada da zona de trânsito de veículos por meio de uma barreira de protecção.
Sinalização e protecções:
 Para H ≥ a 2 m, as bordas do coroamento devem ser protegidas com guarda-corpos regulamentares, devendo estes
cumprirem com os requisitos especificados no Decreto Real 485/1997 relativo à sinalização, e serão colocados
paralelamente ao longo de toda a extensão da vala. Os guarda-corpos devem ter uma altura de 1 m para as áreas de
passagem de pessoas, e de 2 m para as vias de circulação de veículos.
 Para H < de 2 m, devem ser sinalizados e delimitados com fitas de sinalização colocadas a uma distância suficiente.
 Nos casos em que seja previsível as pessoas ou veículos atravessarem as valas, devem ser instaladas passarelas com
guarda-corpos em ambos os lados; a largura destas passarelas será, no mínimo, de 60 cm. para os peões e de 2 m.,
no mínimo, para circulação dos veículos.
Distâncias de acumulação de materiais e circulação de veículos

 Evitar a acumulação do material escavado e de equipamentos ao lado da borda e, se isto for inevitável, tomar as
precauções pertinentes de forma a impedir o desmoronamento das paredes e a queda dos materiais para o fundo da
vala.
 Os materiais e as terras extraídas nos cortes de H > de 1,30 m. devem ser colocados a uma distância não menor de 2
m da borda da vala, ou, dado o caso, à distância máxima estabelecida no Plano de Segurança e Saúde do projecto.
 Como regra geral, a distância a que devem ser depositados os materiais nas imediações das valas é de 1,5 vezes a
profundidade da vala, com uma distância mínima recomendada de 2 metros para eliminar as pressões do terreno
sobre as paredes da vala. No caso de circulação de veículos nas suas imediações, essa distância deverá ser
aumentada para 2 vezes a profundidade do corte e com uma distância mínima recomendada de 4 metros.
 Quando os veículos circularem na direcção normal a corte, a área delimitada deve ser aumentada nessa direcção para
2 vezes H, e não menos de 4 m no caso de adoptar sinalização de redução da velocidade.
Iluminação:

 No caso de baixa visibilidade ou durante a noite as valas ou poços devem ser sinalizados através de lâmpadas de
luz-relâmpago, sempre que haja previsão de circulação nas suas imediações de pessoas ou veículos.
 Sempre que previsto o trânsito de peões ou de veículos, as barreiras de protecção devem ser sinalizadas a cada 10 m
com dispositivos de luz portáteis.
 Quando seja necessária iluminação no interior da vala/poço, devem ser instaladas torres exteriores de iluminação.
 No caso de utilizar iluminação portátil no interior da vala/poço, deverá ter alimentação de 24 Volts.

Inundações:

 No caso de existir risco de inundações, deve-se prever a instalação de bombas de esvaziamento capazes de eliminar
a água rapidamente.
 Após a interrupção dos trabalhos, e especialmente no começo da semana, deve ser realizada uma revisão da
entivação da vala antes de autorizar a retomada dos trabalhos.
 Nas épocas de chuva, antes de proceder a executar os trabalhos, deve-se inspeccionar especialmente a vala e todo o
sistema de escoramento.
Outras medidas:

 Eliminar ou reduzir ao máximo possível a geração de ruído no interior da vala, já que pode interferir com os
possíveis sinais de alarme previstos.
 Para H > a 1,30 m, se houver operários no interior da vala, sempre deve haver outro assistindo no exterior da
mesma.
 Os operários que trabalham no interior das valas devem de ser devidamente informados e formados.
 Quando houver subempreiteiros a desenvolver trabalhos, deve-se verificar se estes também cumprem as medidas de
segurança.
 Não permitir o trabalho em níveis diferentes no interior da vala e na proximidade dos equipamentos

Escoramento das valas:

 Os elementos de escoramento devem ser dimensionados para conter as cargas máximas previsíveis nas condições
mais desfavoráveis.
 Devem ser inspeccionados no início do período de trabalho diário, e no caso de interrupção do trabalho por mais de
um dia ou de alterações atmosféricas, tais como chuva ou geadas, é aconselhável redobrar esta medida de
prevenção.
 Devem ultrapassar em 20 cm. a altura da borda da vala, a fim de desempenharem uma função de rodapé e evitar a
queda de objectos e materiais para o interior da vala.
 Em geral, os escoramentos, ou partes dos mesmos, serão removidos apenas quando deixarem de ser necessários e
sempre por faixas horizontais, começando pela parte inferior da vala/poço.
 "É proibido servir-se da própria estrutura ou escoramento para a descida ou subida dos trabalhadores".

 
 

Trabalhos em Escavações
Trabalhos em esvaziamentos

A obra Civil exige grandes movimentos de terras, concretizados nas operações de desaterro, aterro e
escavação ou esvaziamento, cujos riscos mais importantes são:

 Os riscos decorrentes da utilização dos equipamentos.


 Quedas ao mesmo nível e a nível diferente.
 Soterramento ocorrido durante a realização de trabalhos nas zonas de coroamento dos taludes, trânsito nas suas
imediações e, sobretudo, na execução de fundações, drenagens e impermeabilização de muros junto ao pé dos
mesmos. É necessário garantir:
 A estabilidade dos taludes através de gunitagem ou qualquer sistema de contenção.
 Protecção das zonas de coroamento.
 Acondicionamento dos acessos.
 Protecção nos trabalhos a níveis diferentes ou evitação dos mesmos.

Nas zonas urbanas, onde o encarecimento do solo e a necessidade de estacionamentos subterrâneos


condicionam a construção de edificações com maiores profundidades de escavação, o esvaziamento
apresenta uma problemática que se agrava pelas alterações sofridas pelo terreno, canalizações antigas,
trânsito de veículos, etc. cujos riscos mais importantes, são:

 Quedas ao mesmo nível e a nível diferente.


 Atropelamento.
 Afundamento.
 Deslizamento e desabamento, com as consequências de enterramento e soterramento do trabalhador.

Medidas preventivas:

Concepção do esvaziamento

O esvaziamento pode ser realizado de duas formas, sem construir ou construindo previamente estrutura
de contenção nas suas paredes. A escolha de um sistema ou outro dependerá do tipo de terreno, das
solicitações a que estiver submetido, da existência de edifícios adjacentes, etc., que irão determinar o tipo
de protecção a estabelecer.
Protecção interior sem estrutura prévia

O ideal seria implantar taludes naturais nas escavações, no entanto, pretender realizá-los em uma
escavação em forma de caixa e com as profundidades de escavação utilizadas hoje em dia, torna-se, em
muitas ocasiões, uma utopia. Contudo, quando este sistema não seja possível, será necessário recorrer
a:

 ENTIVAÇÃO e ESCORAMENTO. Sistema que normalmente é condicionado pela improvisação como


consequência da formação de taludes verticais ou inadequados.
 PAINÉIS BETONADOS e ESCORAS. Combinação dos dois sistemas anteriores baseado em um processo
alternativo, ideal para o controlo e contenção de terras naqueles terrenos aceitáveis e cuja profundidade não seja
excessiva.
 CORTINA DE CONTENÇÃO. Se aconselhado pela Direcção Técnica do projecto.

Protecção interior com estrutura previa

Protecção interior com estrutura

 MURO DE ARRIMO, descendente em sentido vertical por painéis, onde a perfuração da cortina de contenção não é
realizável; sendo ideal para terrenos coerentes e sem água, solos rochosos ou solos muito compactados.
 CORTINA DE ESTACAS E MICRO-ESTACAS. Sistema adequado para aqueles terrenos urbanos onde as
fundações dos edifícios contíguos sejam fracas ou inexistentes, evitando assim o desabamento e afundamento dos
mesmos.
Cercado do terreno

 Em toda obra de escavação é necessária a instalação de um cercado perimetral contínuo de 2 m de altura, situado a
igual distância das bordas da escavação, de modo a assegurar a inacessibilidade de qualquer pessoa estranha ao
serviço.
Protecção exterior da escavação

Para evitar quedas ao fundo da escavação, as zonas de coroamento de qualquer escavação em forma de
caixa, devem ser protegidas por meio de:

 Cercas fixas com guarda-corpos e rodapé.


 Sinalização e balizamento, desde que não seja zona transitável ou de trabalho.

Definir os acessos de pessoas e equipamentos

 O acesso de pessoas ao fundo da escavação, se possível, deve-se realizar independentemente do acesso dos veículos
e equipamentos, através de escada fixa provisória para pessoas.
 O acesso de veículos e equipamentos deve ser estabelecido mediante uma rampa com uma inclinação de 12% nos
trechos rectos e de 8% nos curvos, tendo em conta a manobrabilidade dos veículos e a saída para a via pública, com
talude nos lados para compensar as sobrecargas dinâmicas.

Escavação com contenção do terreno através de encravamento de carris e fecho perimetral


Escavação com taludes, fecho perimetral, rampa de acesso equipamentos e protecção no coroamento dos
taludes

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