Você está na página 1de 316

PATROCÍNIO COORDENAÇÃO REALIZAÇÃO

SPONSORED BY COORDINATED BY PRESENTED BY


1ª edição
Rio de Janeiro, 2020
O
patrimônio cultural, tanto material quanto imaterial, constitui testemunho
da história e da identidade de um país, além de ser um valioso ativo
econômico e turístico para as cidades. No Brasil, o potencial de gera-
ção de riqueza e de externalidades é enorme: são 1.250 patrimônios tombados,
entre os quais 85 centros urbanos protegidos, cada um deles com centenas de
edificações, podendo-se estimar um total de mais de 5 mil imóveis protegidos.
Desses patrimônios, 21 sítios históricos brasileiros obtiveram o reconhecimento
máximo internacional com o título de Patrimônio Mundial pela Organização das
Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).
Em 2020, será a vez de o Sítio Roberto Burle Marx concorrer a esse título,
como o maior e mais completo espaço dedicado à pesquisa, à difusão e à pre-
servação do legado cultural de um dos mais importantes nomes da arquitetura
e do paisagismo do Brasil. São quase 400 mil m² de área, que abrigam uma das
coleções mais importantes de plantas tropicais e semitropicais do mundo, com
número superior a 3.500 espécies de plantas nativas e exóticas.
4
BNDES
5
Cultural heritage, both material and immaterial, constitutes an account of the
history and identity of a country, as well as a valuable economic and tourism
asset for cities. In Brazil, the potential for generating wealth and externalities is
enormous: there are 1,250 heritage sites, including 85 protected urban centres,
each with hundreds of buildings, forming an estimated total of over 5,000 pro-
tected properties. Of these heritage sites, 21 Brazilian historic sites have obtained
the maximum international recognition of World Heritage from the United Nations
Educational, Scientific and Cultural Organization (UNESCO). 
Sítio Roberto Burle Marx will run for this title in 2020 as the largest and most
comprehensive area dedicated to the research, dissemination and preservation
of the cultural legacy of one of the most important names of the Brazilian ar-
chitecture and landscaping. Around 400,000m² are home to one of the world’s
most important collections of tropical and semi-tropical plants, with over 3,500
native and exotic species.
Nesse cenário, o apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social (BNDES) à requalificação do Sítio Roberto Burle Marx é estratégico. Além
de preparar a propriedade para a candidatura e de aprimorar o usufruto do
espaço pela sociedade, a instituição incentiva a busca por novas iniciativas de
sustentabilidade financeira que contribuam para sua perenidade. Isso porque a
visão do BNDES de apoio à cultura está sempre alinhada à promoção do desen-
volvimento sustentável e competitivo, com a priorização de projetos capazes de
impulsionar o crescimento local e o turismo e de dinamizar as cadeias produtivas
e as atividades econômicas correlatas, que geram emprego e renda.
É por essas razões que, desde 1997, o BNDES elege o patrimônio cultural brasi-
leiro como foco prioritário de seu apoio no campo da cultura. Já são mais de vinte
anos de atuação ininterrupta e relevante, com uma ampla e diversificada carteira
de projetos de preservação e revitalização do patrimônio histórico e artístico, dos
acervos memoriais e do patrimônio imaterial: ao todo, mais de duas centenas de

In this scenario, support from the National Bank for Economic and Social Devel-
opment (BNDES) for the requalification of the Sítio Roberto Burle Marx is strategic.
In addition to preparing the property for the application and improving usufruct
of the area by society, the Institution is encouraging the search for new initiatives
for financial sustainability that will contribute to its perpetuity. This is because the
BNDES vision for supporting culture has always been aligned with the promotion
of sustainable and competitive development, with the prioritisation of projects
capable of boosting local growth and tourism, and of streamlining production
chains and related economic activities that generate revenue and employment. 
It is for these reasons that, since 1997, BNDES has been choosing the Brazilian
cultural heritage as a priority focus of support in the field of culture. It has been
20 years of uninterrupted and relevant action, with a wide and diversified port-
folio of preservation and revitalisation projects for historic and artistic heritage,
memorial archives and immaterial heritage. Altogether, there are over two hun-
projetos de apoio a 185 diferentes monumentos de todas as regiões do país, entre eles
museus, bibliotecas, arquivos, igrejas, sítios arqueológicos, teatros e centros históricos.
Os resultados alcançados até agora fazem do BNDES, em parceria com o
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o maior apoiador
da preservação do patrimônio cultural do Brasil, posição que foi reconhecida
durante as comemorações dos oitenta anos do Iphan, que ofereceu ao BNDES
a Medalha Mário de Andrade por uma atuação que aposta na rica diversidade
brasileira para impulsionar o desenvolvimento do país.
A promissora inscrição do Sítio Roberto Burle Marx na lista do Patrimônio
Mundial representa a atestação da importância do legado universal de Burle
Marx. E também fortalece e legitima a atuação do BNDES. Com o apoio do Ban-
co, mais um patrimônio está sendo reintegrado à vida cotidiana dos brasileiros,
assegurando, simultaneamente, sua preservação ao longo do tempo, seu legado
para futuras gerações e a promoção do desenvolvimento por meio da cultura.
6

7
dred projects supporting 185 different monuments in every region of the country,
including museums, libraries, archives, churches, archaeological sites, theatres
and historic town centres.
The results have made BNDES, in partnership with the National Institute of
Historic and Artistic Heritage (Iphan), the largest supporter in preserving the cul-
tural heritage of Brazil, a position recognised during the Iphan 80 th anniversary
celebrations, in which BNDES was awarded the Mário de Andrade Medal for its
actions committed to Brazil’s rich diversity to drive the country’s development.
The promising entry of the Sítio Roberto Burle Marx onto the list of World Heri-
tage sites is a testament to the importance of Burle Marx’s universal legacy. It also
strengthens and legitimises BNDES actions. With support from the Bank, another
heritage site is being reintegrated into the daily life of Brazilians, simultaneously
ensuring its preservation throughout time, its legacy for future generations and
the promotion of development through culture.
G
enerosidade e reconhecimento
Roberto Burle Marx é sinônimo de generosidade.
Quando falo em Roberto, mais do que sua fantástica obra pictórica ou
paisagística, o que me vem à mente é a sua generosidade.
Ele foi generoso com seus familiares e amigos.
Ele foi generoso com os brasileiros.
Ele foi generoso com o Iphan.
Basta circular pelo Rio de Janeiro ou visitar o Sítio Santo Antônio da Bica para
ter a verdadeira dimensão de sua virtude.
E é com muito orgulho que vejo o resultado da generosidade de Roberto Burle
Marx sendo tão reconhecido, valorizado e bem tratado. Falo, é claro, do nosso
Sítio. Originalmente batizado de Santo Antônio da Bica, recriado pelo paisagista,
reconhecido como patrimônio cultural brasileiro desde 1985, doado ao Iphan e
rebatizado de Sítio Roberto Burle Marx, trata-se do mais importante testemunho
da obra do artista responsável, entre outros feitos, por criar o conceito de jardim
tropical moderno.
8
IPHAN ROBSON ANTÔNIO DE ALMEIDA
9
Generosity and acknowledgement
Roberto Burle Marx is synonymous with generosity.
When I speak of Roberto, more than his wonderful visual or landscaping work,
what comes to my mind is his generosity.
He was generous to his family and friends.
He was generous to the people of Rio and Brazil.
He was generous to Iphan.
One needs only to walk around Rio de Janeiro or visit Sítio Santo Antônio da
Bica to get the true dimension of his virtue.
It is, therefore, with great pride that I see the result of Roberto’s generosity be-
ing so well acknowledged, treated and valued. Of course, I am referring to our
Sítio. Originally baptised as Santo Antônio da Bica, rebuilt by the landscaper,
and recognised as Brazilian cultural heritage since 1985, donated to the current
Iphan and rebaptised as Sítio Roberto Burle Marx, it is the most important docu-
ment of the work of the artist who, among other things, created the concept of
the modern tropical Garden.
O excepcional valor do Sítio como laboratório botânico e local de pesquisa,
aliado à sua vocação paisagística e cultural, levou o Iphan a apresentar sua
candidatura para a chancela da UNESCO como Patrimônio Mundial. Fruto de um
trabalho construído coletivamente, que contou com o empenho e o envolvimento
de técnicos, funcionários e parceiros de longa data, a sua possível inscrição na
mais expressiva lista de bens patrimoniais existente no mundo representará mais
um reconhecimento, agora em nível internacional, do legado de Burle Marx.
Importante mencionar que a preservação e a salvaguarda do patrimônio
cultural brasileiro é a missão que o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional – Iphan – vem desempenhando com força e vitalidade ao longo de seus
83 anos de existência. Tomado individualmente ou em conjunto, o patrimônio,
entendido como múltiplo e plural, constitui-se como referência fundamental à
identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade
brasileira. Mais do que isso, deve ser vetor de desenvolvimento e propulsor da

The exceptional value of the Sítio as a botanical laboratory and research


site, along with its landscape and cultural vocation, has led Iphan to submit its
candidacy for UNESCO World Heritage status. Fruit of a labour built collectively,
which relied on the efforts and involvement of technicians, staff and long-standing
partners, its possible inclusion on the most expressive list existing in the world of
heritage assets will represent yet another acknowledgement – now on the inter-
national scene – of Burle Marx’s legacy.
It is important to mention that preserving and safeguarding the Brazilian cul-
tural heritage is a mission that Iphan – National Institute of Historical and Artistic
Heritage has been performing with strength and vitality throughout its 83 years
of existence. Taken either individually or collectively, the heritage – understood as
multiple and plural – constitutes a fundamental reference to the identity, action,
and memory of the different groups that form the Brazilian society. Even more
than that, it should be the development driving force and economic booster by
economia por meio de geração de emprego e renda e de sua adequada utili-
zação comercial e turística.
A conclusão desta etapa de requalificação do Sítio Roberto Burle Marx, que
compreendeu uma nova identidade visual, a remodelação da musealização de
todo o percurso, da casa e do jardim, além do desenvolvimento de um projeto
executivo de readequação arquitetônica, voltado a aprimorar ainda mais as ações
patrimoniais e culturais do Sítio, representa um marco fundamental nessa trajetória.
Esta requalificação só foi possível graças ao apoio do BNDES, nosso principal
parceiro na preservação do patrimônio cultural brasileiro, que acredita, assim
como o Iphan, que a preservação contribui ativamente para o desenvolvimento
socioeconômico do nosso país.
Acredito que a imensa generosidade de Roberto Burle Marx não é reconhecida só a
cada título nacional ou internacional que recebe, mas também a cada iniciativa concreta
que, como esta, apoiada por nosso principal parceiro, eterniza o legado de nosso mestre.
10

11
means of employment and income generation, and its appropriate commercial
and touristic use.
The conclusion of the Sítio Roberto Burle Marx requalification phase – which
included a new visual identity, the musealisation remodelling of the whole pathway
and the house, as well as of the garden, in addition to the development of an ex-
ecutive project of architectural adjustment aimed at further qualifying the heritage
and cultural actions of the Sítio – represents a fundamental milestone in this path.
Such requalification has been only made possible thanks to the support of
BNDS – our main partner in preserving the Brazilian cultural heritage, which
believes just as Iphan does that preserving actively contributes to the socioeco-
nomic development of our country. And I believe that the immense generosity of
Roberto Burle Marx is not only acknowledged by every national or international
title it has been awarded, but also by each and every concrete initiative that, as
it is, supported by our main partner, eternalises the legacy of our master.
C
ultura é o que nos torna humanos. É parte essencial, não acessória, de nossa
vida social. Por meio dela, podemos construir o respeito e a convivência
entre as pessoas e os povos, catalisar transformações, encurtar os caminhos
para a redução das desigualdades sociais. Na sociedade contemporânea, são
muitos os conflitos e desafios – de diversas ordens de grandeza e configurações –
com que nos defrontamos, e a cultura é fundamental para enfrentá-los. 
O Intermuseus trabalha com essa perspectiva, em busca de fortalecer as
instituições culturais, gerando conexões e relações entre elas. Consideramos a
cultura um eixo do desenvolvimento social e um vetor da ativação de relações
sustentáveis na sociedade. 
Os equipamentos culturais, dentre os quais as instituições de patrimônio, arte
e memória, são locus de expressão e geração de conhecimento, de forma que
é preciso consolidar as relações entre eles e o público. O êxito dessa relação
depende de predisposição, de ambas as partes, para ouvir e transformar. O
projeto de requalificação do Sítio Roberto Burle Marx expressa essa intenção.
O Sítio Roberto Burle Marx tem o papel de promover o conhecimento e as lei-
turas a respeito do artista, paisagista, colecionador, defensor do meio ambiente
e personalidade de importância nacional e internacional que o criou. O espaço

INTERMUSEUS

Culture is what makes us human. It is an essential part of our social life, not an
accessory. Through it, we can build respect and coexistence between people
and peoples, catalyse transformations and shorten the paths to the reduction
of social inequalities. In contemporary society, the conflicts and challenges we
face are many – of varying orders of magnitude and configuration – and culture
is fundamental to addressing them.
Intermuseus works from this perspective, seeking to strengthen cultural institu-
tions, drawing connections and relationships between them. We consider culture
to be a social development axis and an activation vector for sustainable rela-
tions in society.
Cultural facilities, which include institutions of heritage, art and memory, are
loci of expression and knowledge generation, such that it is necessary to consoli-
date relations between them and the audience. The success of this relationship
depends on the predisposition of both parties to listen and transform. The project
for the requalification of the Sítio Roberto Burle Marx expresses this intentionality.
The Sítio Roberto Burle Marx has the role of promoting knowledge and study
of the artist, landscaper, collector, environmentalist and person of national and
tem múltiplas dimensões e potencial de ativar a sensibilidade das pessoas a partir
das diferentes áreas que guardam o legado de Burle Marx, tais como botânica,
paisagem, arquitetura, arte, sustentabilidade. As múltiplas frentes de atividades
que integraram o projeto de requalificação – desde o planejamento estratégico,
do plano diretor e dos projetos arquitetônicos, até a revisão da identidade visual,
a exposição no conjunto arquitetônico da casa e a digitalização e disponibilização
do acervo de autoria do artista – orientaram-se para fortalecer a conexão do
sítio com seu entorno, com seus parceiros e com o público em geral. A intenção
é que o sítio cumpra cada vez melhor sua vocação de ser o local de referência
para a compreensão de Burle Marx e sua obra.
Do ponto de vista do Intermuseus, a qualificação de instituições culturais e a
promoção de sua interação com a sociedade são processos fundamentais para
a valorização do espaço público e o fortalecimento dos processos de desenvolvi-
mento social. É diante dessa perspectiva e com grande alegria que trabalhamos
em parceria com o Sítio Roberto Burle Marx, a fim de elevar a importância da
cultura em todas as suas dimensões e ressaltar o poder de uma instituição res-
ponsável por fazer a diferença em seus campos de atuação e, principalmente,
na sociedade brasileira.
12

13
international importance who created it. The space has multiple dimensions and
potential for activating people’s sensibilities from different areas of Burle Marx’s
legacy, such as botany, landscaping, architecture, art and sustainability. The
multiple fronts of activity which form part of the requalification project – from its
strategic planning, master plan and architectural projects, to a review of its visual
identity, the exhibition of the architectural complex and the digitisation and avail-
ability of the artist’s collection – are oriented towards strengthening the Sítio’s
connection with its surroundings, its partners and the general public. The idea
is that the Sítio will constantly improve in fulfilling its vocation, which is to be the
place of reference for the understanding of Burle Marx and his work.
Intermuseus holds the view that the qualification of cultural institutions and
the promotion of their interaction with society are fundamental processes for
enhancing public space and strengthening processes of social development. It is
from this perspective, and with great pleasure, that we are working in partnership
with the Sítio Roberto Burle Marx, aiming to elevate the importance of culture in
all of its dimensions and highlighting the power of an institution which has made
a difference in its fields of activity and, mainly, in Brazilian society.
24 64
A história de O Sítio
um processo Roberto
de tombamento Burle Marx
The history of The Sítio Roberto
an application for Burle Marx
listed status
CLAUDIA STORINO
ANDREY ROSENTHAL SCHLEE

134
Edificações
PATRIMÔNIO do sítio
CULTURAL
The Sítio’s buildings
CULTURAL HERITAGE

22
16 62
Prefácio HISTÓRICO,
Foreword CONTEXTO,
ARQUITETURA
Genialidade HISTORY, CONTEXT
genuinamente AND ARCHITECTURE
brasileira
Genuinely Brazilian
geniality
136
KÁTIA BOGÉA
Casa de 164
Roberto
As cantarias
Roberto’s House
do Sítio Roberto
Burle Marx
The stonework at the
Sítio Roberto Burle Marx
YANARA COSTA HAAS
174
“A beleza da
experiência
enriquecida”:
o artista e
colecionador
Roberto
Burle Marx
“The beauty
of enriched ROBERTO BURLE
ARTE E experience”:
the artist and MARX – PRINCIPAIS
COLEÇÕES collector Roberto PROJETOS
Burle Marx
ART AND ROBERTO BURLE MARX -
COLLECTIONS VERA BEATRIZ SIQUEIRA MAIN PROJECTS

172 274
232 302
PAISAGISMO Fontes e
E BOTÂNICA referências
LANDSCAPING Sources and
AND BOTANY References

234
Em busca de uma
expressão genuína
In search of a
genuine expression
JOSÉ TABACOW
Ao apresentar mais uma publicação e mesmo forjar, uma ideia de Patrimônio
promovida pelo Instituto do Patrimônio que sustentasse as ações de proteção em
Histórico e Artístico Nacional, gostaria curso. Recorreu aos amigos, como os his-
de resgatar alguns episódios que, sem toriadores Afonso Arinos de Melo Franco
dúvida alguma, reforçam a importância e Sérgio Buarque de Holanda. Em São
e a responsabilidade histórica de nossa Paulo, Mário de Andrade preparava o
Instituição. seu primeiro relatório, contendo a descri-
O primeiro é mais antigo e remonta ção de mais de quarenta edifícios religio-
ao importantíssimo trabalho desenvolvi- sos, enquanto, em Pernambuco, Gilberto
do por Lucio Costa. Ainda na década de Freyre recuperava o inventário de edifica-
1930, Rodrigo Melo Franco de Andrade ções elaborado pela pioneira Inspetoria
percebeu que seria necessário construir, de Monumentos. Mas foi apostando na
capacidade intelectual de jovens arqui-
tetos/servidores que Rodrigo mais acer-

Genialidade
tou. Com Lucio Costa, ele definiu o que
seria tratado como “Patrimônio Histórico

genuinamente
e Artístico Nacional” e quais os critérios
adotados para a sua preservação.

brasileira
A partir de 1938, o Conselho Consul-
tivo passou a funcionar, e o expressivo

KÁTIA BOGÉA*
FOREWORD PREFÁCIO

Genuinely de Melo Franco and Sérgio Buarque


de Holanda. In São Paulo, Mário de
Brazilian geniality Andrade was producing his first report
giving the description of over forty re-
ligious buildings while, in Pernambuco,
By presenting yet another publication Gilberto Freyre was retrieving the in-
sponsored by the National Institute of ventory of buildings prepared by the
Historical and Artistic Heritage, I would pioneering Inspectorate of Monuments.
like to recall some events that unques- But it was betting on the intellectual
tionably reinforce the importance and capacity of young architects/servers
historical responsibility of our Institution. that Rodrigo got it right. He defined –
The first one is older and goes along with Lucio Costa – what would be
back to the extremely important work referred to as the “National Historical
developed by Lucio Costa. Rodrigo and Artistic Heritage”, and what criteria
Melo Franco de Andrade realized as to be adopted for its preservation.
early as the 1930s the need to build, The Advisory Board has been in op-
and even forge, an idea of Heritage eration since 1938, and the large num-
that would support the protection ac- ber of listed assets demonstrate the
tions in progress. He resorted to friends knowledge, coherence and confidence
such as the historians Afonso Arinos rapidly acquired. Little by little, the “Na-
número de bens tombados demostra o comprovar as histórias adotadas – e a
conhecimento, a coerência e a segu- divulgação do trabalho realizado, por
rança rapidamente adquiridos. Pouco meio da Revista do Patrimônio e da série
a pouco, o “Patrimônio Nacional” foi se Publicações do Serviço. Neste sentido,
constituindo de templos, de fortifica- nada se iguala ao esforço institucio-
ções, de casas de câmara e cadeia, de nal promovido para resgatar, estudar
palacetes e residências senhoriais, de e valorizar o artista Antônio Francisco
engenhos e outras moradas rurais. Mas Lisboa. Com o Iphan, o Aleijadinho foi
também, o que representa um avan- eleito e elevado à condição de “primei-
ço conceitual, foram tombados bens ro gênio nacional” (em 1928, Mário de
naturais (como as praias de Paquetá, Andrade havia escrito o artigo O Alei-
os morros do Rio de Janeiro ou a ilha jadinho, defendendo a tese de que foi
de Boa Viagem em Niterói) e conjun- em Minas Gerais, entre 1750 e 1830, que
tos urbanos (como Diamantina, Serro, ocorreu o primeiro “surto coletivo da
Tiradentes, São João del Rei, Mariana nacionalidade brasileira” caracteriza-
e Ouro Preto). do pela “imposição do mulato” e, em
Simultaneamente, ainda frente à especial, pela presença do Aleijadinho
necessidade de legitimação da políti- – produto da terra e gênio maior do “pe-
ca adotada, Rodrigo estimulou a pes- ríodo em que a entidade brasileira age
quisa em fontes primárias – capaz de sob a influência de Portugal”).
16

17
tional Heritage” was being constituted with the institutional effort promoted
of temples, fortifications, town halls to recover, study and value the artist
and jails, palaces and manor houses, Antônio Francisco Lisboa. With Iphan,
mills and other rural dwelling homes. Aleijadinho was elected and elevated
But also – and this constitutes a con- to the condition of “first national genius”
ceptual advance – natural assets were – in 1928, Mário de Andrade had written
listed: the Paquetá Beaches; the Mor- the article O Aleijadinho advocating
ros (Hills) of Rio de Janeiro or the Boa the thesis that it was in Minas Gerais,
Viagem Island, in Niterói; and urban between 1750 and 1830, that the first
complexes such as Diamantina, Serro, “collective outbreak of the Brazilian na-
Tiradentes, São João del Rei, Mariana tionality” took place. It was character-
and Ouro Preto. ized by the “imposition of the mulatto”
Simultaneously, still facing the need and, in particular, by the presence of
to legitimize the adopted policy, Rodri- Aleijadinho – product of the land and
go was stimulating research capable of the greatest genius of the “period in
proving the stories adopted in primary which the Brazilian entity acts under
sources, and the disclosure of the work the influence of Portugal.”
done through the Revista do Patrimônio Giving coherence to its actions,
and the well-respected Publicações do Aleijadinho is the national artist from
Serviço. In this regard, nothing is on par the colonial period with the greatest
Demonstrando a coerência das Piedade, do Santuário da Serra da Pie-
ações do Iphan, o Aleijadinho é o artis- dade, em Caeté; e de inúmeros bens mó-
ta nacional com maior número de obras veis incorporados a acervos protegidos.
protegidas. Em 2018, o acervo tombado Retomando a trajetória histórica do
de bens atribuídos ao gênio do período Iphan, é importante lembrar que, pas­
colonial era constituído do Conjunto do sados dez anos de sua existência, a
Santuário de Bom Jesus de Matosinhos, Repartição inovou mais uma vez. Logo
em Congonhas: conjunto arquitetôni- em 1947 – ao lado dos bens naturais e
co, paisagístico e escultórico; de sete dos conjuntos urbanos – incorporou ao
imagens devocionais tombadas indivi- “Patrimônio Nacional” um primeiro bem
dualmente, como a imagem de Nossa moderno, ou seja, tombou de maneira
Senhora das Dores, do Museu de Arte preventiva a Capela de São Francisco
Sacra de São Paulo; de oito templos, de Assis da Pampulha. Tratou-se de um
incluindo a Igreja de São Francisco de acautelamento solicitado pelo próprio
Assis, de Ouro Preto; de quatro fontes ou Lucio Costa que, pouco a pouco, ele-
chafarizes tombados individualmente, varia Oscar Niemeyer à condição de
incluindo o Chafariz de Marília, em Ouro “segundo gênio nacional”. Foi o que ele
Preto; de 26 bens móveis ou integrados declarou em depoimento de 1948: “Não
em igrejas individualmente tombadas, adianta, portanto, perderem tempo à
como a imagem de Nossa Senhora da procura de pioneiros – arquitetura não é
FOREWORD PREFÁCIO

number of works protected by Iphan. Back to the historical path of Iphan,


In 2018, the listed assets collection at- it is important to bear in mind that the
tributed to Aleijadinho was constituted Division innovated once again ten years
of the Sanctuary of Bom Jesus de Ma- after its existence. In 1947 - together with
tozinhos – an architectural, landscaping natural assets and urban complexes -
and sculptural complex; of seven indi- it incorporated a first modern asset to
vidually listed devotional images, such the “National Heritage”, that is, it listed
as the image of Our Lady of Sorrows, the Chapel of São Francisco de Assis,
from the Museum of Sacred Art of São in Pampulha, in a preventive manner.
Paulo; of eight listed temples, includ- Lucio Costa himself requested the listing
ing the Church of São Francisco de As- that, little by little, would elevate Oscar
sis, in Ouro Preto; of four individually Niemeyer to the condition of “second
listed fountains, including the Fountain National Genius”. That is what he did in
of Marília, in Ouro Preto; of 26 movable his 1948 statement: “It is no use, there-
assets or integrated in individually listed fore, wasting time looking for pioneers
churches, such as the image of Our Lady - architecture is not far west; there are
of Piety, from the Sanctuary of Serra precursors, there are influences, there
da Piedade, in Caeté; and of innumer- are major or minor artists – and Oscar
able movable assets incorporated to Niemeyer is one of the major ones...
protected collections. Moreover, it was our own national ge-
far west; há precursores, há influências, gidas em conjuntos urbanos tombados,
há artistas maiores ou menores: e Oscar como o Hotel Tijuco, no Conjunto Arqui-
Niemeyer é dos maiores… No mais, foi tetônico e Paisagístico de Diamantina.
o nosso próprio gênio nacional que se O interessante é perceber que existe
expressou através da personalidade uma terceira figura importante em nú-
eleita desse artista, da mesma forma mero de bens reconhecidos como fun-
como já se expressara no século XVIII, damentais para a constituição de uma
em circunstâncias, aliás, muito seme- ideia de “Patrimônio Nacional”. Depois
lhantes, através da personalidade de de Aleijadinho e Oscar Niemeyer, o au-
Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho”. tor com maior número de bens tomba-
Mantendo a coerência já destacada, dos é Roberto Burle Marx. Um escultor,
Oscar Niemeyer é o artista nacional com um arquiteto e um paisagista!
maior número de obras protegidas pelo Segundo números divulgados pelo
Iphan. Segundo os dados de 2018, do Iphan quando da publicação da Portaria
total de bens tombados, 24 foram pro- nº 375, de 17 de agosto de 2018, o denomi-
jetados pelo arquiteto, incluindo o Mu- nado “Patrimônio Paisagístico” era cons-
seu de Arte Contemporânea de Niterói; tituído de 41 bens tombados, incluindo o
sete conjuntos arquitetônicos, incluindo o Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro; e
Conjunto Arquitetônico da Pampulha, de inúmeras praças e jardins protegidos em
Belo Horizonte; e inúmeras obras prote- edifícios ou conjuntos urbanos tombados,
18

19
nius that expressed itself through the What is interesting is to realize that
elected personality of this artist, just as there is a third important figure in the
it had already done in the 18th century, number of assets recognized as funda-
in circumstances indeed very similar, mental for the constitution of an idea of
through the personality of Antônio Fran- “National Heritage”. After Oscar Nie-
cisco Lisboa – the Aleijadinho.” meyer and Aleijadinho, Roberto Burle
Keeping up on the coherence al- Marx is the author with the greatest
ready mentioned, Oscar Niemeyer is the number of listed assets. A sculptor, an
national artist with the greatest number architect and a landscaper!
of works protected by Iphan. According According to figures released by
to 2018 data, 24 of the total number of Iphan when Ordinance No. 375, of Au-
listed assets were designed by the archi- gust 17th , 2018 was passed, the so-called
tect, including the Museum of Contem- “Landscape Heritage” was constituted
porary Art of Niterói, in Niterói; seven of 41 listed assets, including Flamengo
listed architectural complexes including Park, in Rio de Janeiro, and count-
the Pampulha Architectural Complex, in less squares and gardens protected
Belo Horizonte; and numerous protect- in buildings or listed urban complexes
ed works in listed urban complexes such such as the square Barão de Campo
as the Tijuco Hotel, in the Diamantina Belo in Vassouras, or the garden of the
Architectural and Landscape Complex. Rui Barbosa House Museum, in Rio de
O Sítio Roberto Burle Marx como a praça Barão de Campo Belo em presentados em obras no Centro Históri-
é o testemunho mais
importante da obra e da Vassouras ou o jardim da Casa de Rui co de Ouro Preto (1980), no Santuário do
generosidade do artista.
Barbosa, no Rio de Janeiro. Do total de Bom Jesus de Matosinhos em Congonhas
Patrimônio cultural
brasileiro, a propriedade bens tombados com valor paisagístico, (1985), em Brasília (1987), no Rio de Janeiro,
é um grande laboratório
e espaço de criação e oito foram projetados por Burle Marx, em paisagens cariocas entre a montanha
pesquisa botânica
incluindo as seis praças do processo Jar- e o mar (2012), no Conjunto Moderno da
e artística.
dins de Burle Marx na Cidade de Recife; Pampulha - Belo Horizonte (2016).
Sítio Roberto Burle Marx
is the most important o Sítio Roberto Burle Marx e sua coleção Em 2020, se tudo correr como progra-
testament to the work
and generosity of the
museológica e bibliográfica, no Rio de mado e desejado, o Sítio Roberto Burle
artist. The property, Janeiro; além de inúmeras obras do pai- Marx será incluído em tão seleta lista,
which is Brazilian cultural
heritage, is a large sagista protegidas em conjuntos urbanos comprovando os acertos e a responsabili-
laboratory and space
for botanical and artistic
acautelados, como a Praça dos Cristais dade do Iphan, bem como a importância
creation and research. do Conjunto Urbanístico de Brasília. e a genialidade de Roberto Burle Marx.
No campo do reconhecimento inter-
nacional, de certa maneira, a lista da
UNESCO reforça a importância da “trin-
ca”. Até o ano de 2020, 22 bens brasilei-
ros foram inscritos na Lista do Patrimônio *dade
Kátia Bogéa Historiadora formada pela Universi-
Federal do Maranhão, especialista em historio-
grafia nacional e regional. Atuou como presidente do
Mundial, sendo 14 culturais. Aleijadinho,
Iphan entre os anos de 2016 e 2019.
Oscar Niemeyer e Burle Marx estão re-
FOREWORD PREFÁCIO

Janeiro. Of the total listed assets with Jesus de Matozinhos Shrine in Con-
landscape value, eight were designed gonhas (1985), in Brasília (1987), in Rio
by Burle Marx, including the six squares de Janeiro – the cariocas landscapes
of the Jardins de Burle Marx process, in between the mountains and the sea
the City of Recife; the Sítio Roberto Burle (2012), and in the Pampulha Modern
Marx and its museological and biblio- Ensemble, in Belo Horizonte (2016).
graphic collection, in Rio de Janeiro, in Should everything goes as planned
addition to numerous of the landscap- and desired, the Sítio Roberto Burle
er’s works preserved in protected urban Marx will be included in such a short list
areas, such as the Praça dos Cristais in in 2020, proving the successes and re-
the Urban Complex of Brasília. sponsibility of Iphan, as well as Roberto
In the realm of international recogni- Burle Marx’s importance and geniality.
tion, in a way, UNESCO list reinforces
the importance of “the tree of a kind”.
By the year 2020, 22 Brazilian assets
will have entered the World Heritage
List – 14 of which cultural. Aleijadinho,
Oscar Niemeyer and Burle Marx are *University
Kátia Bogéa Historian graduated from the Federal
of Maranhão, specialist in national and re-
represented in works at the Historical gional historiography. She was president of Iphan from
2016 to 2019.
Center of Ouro Preto (1980), at the Bom
20

21
PATRIMÔNIO
CULTURAL
CULTURAL HERITAGE
CULTURAL HERITAGE PATRIMÔNIO CULTURAL
Quero começar o presente texto reto- do seu uso e conservação. Como se o Na propriedade, tombada
pelo Iphan na década de
mando um tema que venho explorando processo de preservação pudesse ser 1980, há sete lagos. Todos
nos últimos tempos e que tomou cor- reduzido às importantes ações de iden- eles abrigam exemplares
da coleção de plantas
po, provavelmente pela primeira vez, tificação, reconhecimento e proteção. sub aquáticas de Burle
Marx e estão integrados
em recente publicação do Instituto do Tais posturas apresentam, pelo menos, ao projeto arquitetônico-
Patrimônio Histórico e Artístico Nacio- duas consequências negativas: de um paisagístico do sítio.

nal (Iphan). Tratava-se de registar a lado, fazem que os meios passem a ter On the property, listed by
Iphan in the 1980s, there
experiência institucional na gestão de mais importância do que a finalidade; are seven lakes. All are
home to specimens from
um bem cultural protegido, o conjunto de outro, afastam os técnicos do patri- Burle Marx’s collection of
arquitetônico, urbanístico e paisagístico mônio da essência do seu trabalho ou sub aquatic plants and are
integrated into the Sítio’s
da cidade de Pirenópolis, Goiás. De ve- do contexto real onde os bens a preser- architectural-landscape
project.
rificar o que ocorreu com o bem a partir var estão inseridos, e que inclui os seres
do ato simbólico de seu reconhecimento
e acautelamento como patrimônio cul-

A história de
tural nacional.
No livro sobre Pirenópolis,1 afirmei

um processo
que tenho, constantemente, questiona-
do posturas alienadas que tendem a

de tombamento
isolar ou privilegiar o acautelamento
de determinado bem em detrimento
24
ANDREY ROSENTHAL SCHLEE*
25
I would like to begin the present text The history of
by revisiting a subject which I have re-
cently been exploring and which has an application for
taken shape, probably for the first time, listed status
in a recent publication by the National
Institute of Historic and Artistic Heritage
(Iphan). It concerns documenting the As if the process of preservation could
institutional experience of the manage- be reduced to the important actions
ment of a protected cultural asset – the of identification, recognition and pro-
architectural, urban and landscape tection. Such positions present at least
complex of the city of Pirenopolis, Goias, two negative consequences: on the one
and verifying what has happened with hand, the means become more important
the asset from the moment of the sym- than the ends; on the other, they distance
bolic act of its recognition and care as heritage technicians from the essence
national cultural heritage. of their work or from the real context
In the book on Pirenópolis,1 I stated of the assets to be preserved, which in-
that I have constantly questioned alien- cludes human beings. 2 With regards to
ated positions which tend to isolate or institutional repositioning in relation to
privilege the care of a particular asset to preservation practices, it is important to
the detriment of its use and conservation. consult the Policy on Material Cultural
humanos. 2 Sobre o reposicionamento
institucional em relação às práticas de
O Sítio Santo Antônio da Bica preservação, é importante consultar a
representa o grande esforço de Política do Patrimônio Cultural Material,
um único homem voltado para a instituída pela Portaria Iphan nº 375, de
17 de agosto de 2018. 3
conservação e preservação de
Ainda na reflexão sobre Pirenópo-
elementos naturais num momento
lis, argumentei que a “vida” de um bem
histórico em que a natureza se vê material, o período de sua existência,
mais do que nunca ameaçada pela pode ser, didaticamente, dividida em
depredação humana. três momentos.
O primeiro corresponde à sua con-
 he Sítio Santo Antônio da Bica represents a
T
cepção, elaboração, execução ou fei-
great effort by a single man dedicated to the
tura. A ele está associado o processo
conservation and preservation of natural elements
at a historical moment when nature is more cultural de produção do bem. É quando,
threatened by human destruction than ever before. fruto do saber fazer de um grupo social
determinado, “nasce” um bem cultural
CARLOS FERNANDO DE MOURA DELPHIM e tem início a sua história tradicional. A
história ao alcance do indivíduo, como
nos ensinou Fernand Braudel.
CULTURAL HERITAGE PATRIMÔNIO CULTURAL

Heritage (Política do Patrimônio Cultural universe of cultural assets those to be


Material) instituted by Iphan Ordinance considered and preserved as cultural
No. 375, of 17th August 2018. 3 heritage. This stage is associated with
Within the same considerations on Pi- the cultural process of valuation.4
renópolis I argued that the ‘life’ of a mate- In Brazil, in 1937, Iphan5 was autho-
rial asset – its existence period – can be, rised to identify assets and recognise
didactically, divided into three moments. their exceptional value meriting protec-
The first corresponds to its concep- tion as according to the notions of na-
tion, elaboration, execution or making. It tional historic and artistic heritage,6 or
is associated with the cultural process of cultural heritage of Brazil.7 In the 1980s,
production of the asset. It is when, from based on the revindicated reorganisa-
the know-how of a particular social tion of society and, mainly, from the dis-
group, a cultural asset is ‘born’ and its cussions around the notion of cultural
traditional history begins. History within references, the institution began to build
the reach of the individual, as taught by a means of dialogue with local popula-
Fernand Braudel. tions and protagonists of cultural pro-
The second moment exists only for a cesses, in order to seek greater repre-
very small group of assets. It implies the sentativity in their filtering and choices.
exercising of social practices, of filters The outcome is that, over 82 years, in
and choices, which will select from the ways less or more authoritarian, less or
O segundo momento só existe para populações locais e protagonistas de
um grupo muito reduzido de bens. Im- processos culturais, de maneira a bus-
plica o exercício de práticas sociais, de car maior representatividade em suas
filtragens e escolhas, que elegem – do filtragens e escolhas. Decorre que – ao
universo de bens culturais – aqueles que longo de 82 anos –, de maneira me-
serão considerados e preservados como nos ou mais autoritária, menos ou mais
patrimônio cultural. A ele está associa- participativa, menos ou mais elitista,
do o processo cultural de valoração.4 o Iphan acautelou, via instrumento do
No Brasil, em 1937, o Iphan5 foi legi- tombamento, 1.246 bens. 8 Resultado
timado para identificar bens e reconhe- da mais alta relevância para a cultura
cer seus valores excepcionais, dignos brasileira. Resultado ampliado em sua
de proteção enquanto pertencentes às abrangência e importância quando
noções de patrimônio histórico e artísti- percebemos que, dos bens reconheci-
co nacional6 ou de patrimônio cultural dos como patrimônio cultural, 83 cor-
brasileiro.7 Na década de 1980, a partir respondem a conjuntos urbanos e 41
da reorganização reivindicatória da a bens com valor paisagístico, que in-
sociedade e, principalmente, com as cluem parcelas significativas de cidades
discussões em torno da noção de re- como Ouro Preto e Brasília, assim como
ferências culturais, a instituição passou o Parque do Flamengo e os morros do
a construir meios de diálogo com as Rio de Janeiro (Pão de Açúcar, Urca,
26

27
more participatory, less or more elitist, conservation or intervention actions of
Iphan has listed 1,246 assets8 – a result of the asset proper, or in the context of its
utmost relevance to Brazilian culture. It is influence. In our understanding, such
a result which is broadened in scope and actions always imply adding new values
importance when we notice that, of the to those already patrimonialised9 (in this
assets recognised as cultural heritage, 83 case, we can speak of a cultural process
correspond to urban complexes and 41 of valorisation).
to assets with landscape value, including Curiously, for this current publication,
significant portions of cities such as Ouro it is my task to write about the history of the
Preto and Brasilia, as well as Flamengo listing of Sítio Santo Antônio da Bica, in
Park and the hills of Rio de Janeiro (Pão Barra de Guaratiba, Rio de Janeiro, bet-
de Açúcar, Urca, Babilônia, Corcovado, ter known as the Sítio Roberto Burle Marx.
Dois Irmãos, Gávea and Cara de Cão). The main source of information on
Finally, for an even smaller group of the federal care of Sítio Santo Antônio
assets, once recognised and protected da Bica is the administrative process
as cultural heritage, the third moment of the ‘T’ series of protection n. 1.131-T-
begins with a deepening or radicalisa- 1984, kept at the National Institute of
tion of the cultural process of preserva- Historic and Artistic Heritage. It is a set
tion established in the previous moment. of technical documents organised into
It is the moment of the development of three volumes, covering approximately
Babilônia, Corcovado, Dois Irmãos, Gá- Sítio Santo Antônio da Bica, na Barra
vea e Cara de Cão). de Guaratiba, Rio de Janeiro, mais co-
Finalmente, para um grupo ainda nhecido como Sítio Roberto Burle Marx.
mais reduzido de bens, uma vez reco- A principal fonte de informações
nhecidos e protegidos como patrimônio sobre o acautelamento federal do Sítio
cultural, deve ter início um terceiro mo- Santo Antônio da Bica é o processo
mento, quando se aprofunda ou radica- administrativo da série “T”, de tomba-
liza o processo cultural de preservação mento, n. 1.131-T-1984, conservado no
estabelecido no momento anterior. É Instituto do Patrimônio Histórico e
hora do desenvolvimento das ações de Artís­tico Nacional. Trata-se de um con-
conservação ou intervenção no bem junto de documentos técnicos, organi-
propriamente dito ou no contexto de zados em três volumes, abrangendo
sua influência. No nosso entendimento, aproximadamente três décadas de
tais ações sempre implicam agregar história institucional e que ilustram o
novos valores ao bem já patrimoniali- que chamamos de processo de valora-
zado9 (nesse caso, podemos falar em ção. Ou seja, o juízo crítico avaliativo
processo cultural de valorização). expresso por técnicos ou reconhecido
Curioso é constatar que, para a pelos técnicos a partir da sociedade e,
presente publicação, o que me cabe é finalmente, chancelado pela instituição
historiar o processo de tombamento do de patrimônio.
CULTURAL HERITAGE PATRIMÔNIO CULTURAL

Ainda na infância, Burle


Marx se mudou com a
família para o Rio de
Janeiro. Foi na chácara
do Leme, próxima ao
Morro da Babilônia,
que Roberto começou
a desenvolver o seu
interesse pelo paisagismo
e pelas artes. Foi ali
também que cultivou o
seu primeiro canteiro.

CASA NO LEME, sem data


Carvão/papel
45,3 x 64 cm

Still in his childhood,


Burle Marx moved with his
family to Rio de Janeiro.
It was at the estate in
Leme, near the Babilônia
hill, that Roberto started
to develop an interest in
landscaping and arts. It
was also there that he
planted his first flowerbed.

CASA NO LEME, undated


Charcoal/paper
45.3 x 64 cm
As casas de Nos primeiros anos do século XX,
Roberto Burle Marx Cubatão era caracterizada pelo pre-
A biografia de Roberto Burle Marx é domínio da natureza. Do verde dos
conhecida, mas ainda está por ser es- manguezais e dos bananais. Foi ali,
crita… Dele, sabe-se que era paulista e em função da facilidade de obtenção
que os pais foram figuras ímpares. Wi- do tanino, que, em 1912,10 Wilhelm ins-
lhelm Marx, um comerciante judeu-ale- talou a Companhia Curtidora Marx,
mão, nascido em Stuttgart, cuja árvore abrindo as portas para o processo de
genealógica o ligava ao famoso Karl industrialização que passaria a carac-
Marx. Cecília Burle, jovem pernambu- terizar a região.
cana, amante da música, nascida em “Mesmo com a cultura da banana
Apipucos, bairro de antigos engenhos em grande escala, outra atividade
de açúcar. Depois de passar um tempo econômica se destacava neste início
no Marrocos, Wilhelm desembarcou no do século XX em Cubatão, (…) era o
porto do Recife em 1895. Buscava con- curtimento do couro. Realizado em
solidar o negócio de compra e venda humildes curtumes, espalhados pela
de couros. Acabou casando-se com cidade, a razão de sua existência era a
Cecília. O início da vida conjugal foi no flora da região, fonte de sua principal
estado de São Paulo, onde Wilhelm fun- matéria-prima, o tanino, retirado das
dou um curtume. folhas e cascas de uma árvore, chama-
28

29
three decades of institutional history an old sugar mill neighbourhood. After
and which illustrate what we call the spending some time in Morocco, Wilhelm
process of valorisation, which is to say, landed at the port of Recife in 1895 seek-
the evaluative critical judgment ex- ing to consolidate a leather business. He
pressed by technicians or recognized ended up marrying Cecília. The start of
by technicians of society and, finally, their married life was in the State of São
approved by the institution of patrimony. Paulo, where Wilhelm founded a tannery.
During the first years of the 20 th cen-
The houses of tury, the town of Cubatão was charac-
Roberto Burle Marx terised by a predominance of nature, by
The biography of Roberto Burle Marx the greens of the mangroves and ba-
is well known but yet to be written… It nana trees. The ease of obtaining tannin
is known that he was born in São Pau- there led Wilhelm, in 1912,10 to set up the
lo (or, he was a paulista) and that his Marx Tanning Company (Companhia
parents were peerless figures: Wilhelm Curtidora Marx), opening the doors to
Marx, a Stuttgart-born German Jewish the process of industrialisation which the
merchant whose family tree linked him region would become known for.
to the famous Karl Marx, and Cecília “Despite having large-scale banana
Burle, a young woman from Pernam- plantations, another economic activity
buco, a music lover born in Apipucos, was becoming prominent at the begin-
da Avicennia, predominante nos man-
guezais de Cubatão. Em razão de suas
propriedades bactericidas, o tanino foi
durante bom tempo um produto muito
utilizado na preservação do couro (…).
A primeira [das indústrias pioneiras],
inaugurada em 1912, foi a Cia. Curti-
dora Marx (…). Desenvolvia a prepa-
ração de couros e peles para as mais
diversas utilizações, numa área fabril
de cerca de 15.000 m². Situava-se no
bairro da Olaria, que hoje margeia a
Via Anchieta. Pertencente ao alemão
Wilhelm Marx (…), a empresa funcionou
vigorosa por dois anos, construindo a
primeira vila operária de Cubatão (…).
Mas, em 1914,11 com o início da Primeira
Guerra, a empresa foi quase que obri-
gada a encerrar suas atividades, dado
que seu dono era um alemão.” 12
CULTURAL HERITAGE PATRIMÔNIO CULTURAL

Desenho de Ana Piasceck ning of the 20 th century in Cubatão, (…) (…), the company ran vigorously for two
feito por Burle Marx em
homenagem a sua “mãe which was leather tanning. Carried out years, building the first worker village of
de criação”, que exerceu in humble tanneries spread out through Cubatão (…). However, in 1914,11 with the
papel importante para a
relação de Roberto com the city, the reason of their existence beginning of World War I, the company
as plantas e jardins.
was the region’s flora, source of their was almost forced to shut down, as its
ANA PIASCECK, sem data
Carvão/papel main raw material, tannin, taken from owner was German.” 12
62,7 x 50,3 cm
the leaves and bark of a tree called In the city of São Paulo, Wilhelm and
Drawing of Ana Piasceck Avicennia, which was prominent in the Cecília lived in a beautiful and pictur-
made by Burle Marx in
honour of his “adoptive mangroves of Cubatão. Due to its bac- esque residence on the Avenida Paulista
mother”, who played
an important role in
tericidal properties, tannin was for a – Villa Fortunata, which had belonged
Roberto’s relationship long time a widely-used product for to the Thiollier family13 – including René
with plants and gardens.
leather preservation (…). The first [of the Thiollier, an intellectual directly linked
ANA PIASCECK, undated
Charcoal/paper pioneer factories], inaugurated in 1912, to the modernists of the Semana de 22.
62.7 x 50.3 cm
was the Cia. Curtidora Marx (…). They In this house, five of their six children
were developing the preparation of were born, including Roberto, in 1909.
leather for quite varied uses, in a facto- In 1913, the Burle Marx family moved
ry area of around 15,000 m², located in to Rio de Janeiro, initially sharing part of
the Olaria neighbourhood, which today the residence of Angelina Lisboa, Cecí-
borders the Via Anchieta. Belonging lia’s older sister.14 When Roberto was 10,
to the German national Wilhelm Marx the family moved to a small farm in the
Na cidade de São Paulo, Wilhelm com varanda, terraço, piscina, jardins,
e Cecília viveram em uma bela e pito- matas, nascentes, enfim uma qualida-
resca residência na Avenida Paulista: a de de vida excelente”.15
Villa Fortunata, que havia pertencido à A chácara foi, em todos os sentidos,
família Thiollier13 – da qual fazia parte fundamental para a formação de Ro-
René Thiollier, intelectual diretamente berto. Nela, o jovem despertou para o
ligado aos modernistas da Semana de paisagismo e para as artes. No Leme,
22. Nela, nasceram cinco dos seis filhos recebeu todo o incentivo do pai que,
do casal, incluindo Roberto, em 1909. além de apaixonado por livros e vi-
Em 1913, a família Burle Marx trans- nhos, chegou a construir um pequeno
feriu-se para o Rio de Janeiro, com- ateliê para o filho. No Leme, Roberto
partilhando, num primeiro momento, aprendeu a receber e a compartilhar,
parte da residência de Angelina Lis- adquirindo o gosto pela natureza e pela
boa , irmã mais velha de Cecília. 14 música, sempre cultivadas pela mãe e
Quando Roberto completou dez anos, pelos demais familiares.
todos passaram a viver em uma chá- “Era um terreno grande, com mui-
cara no bairro do Leme: “A chácara, ta pedra, muita água e uma piscina.
situada em um terreno com 60 metros Dona Cecília, sua mãe, tomava conta
de frente, subia até o alto do morro da do grande jardim. Ali também irá mo-
Babilônia. Lá, tinha toda comodidade, rar Ana Piasceck, sua ‘mãe de criação’.
30

31
Leme neighbourhood: “The farmhouse the garden. It is also where Ana Piasceck
was located on a site with a 60-metre would live, his ‘foster mother’. Together,
front which extended up the Babilônia they would care for the children and
hill. It had everything: a balcony, terrace, teach Roberto to care for the plants. This
swimming pool, gardens, woods, springs, was when he had his first flowerbed.”16
in all, an excellent quality of life.”15 When, in 1949, Roberto and his broth-
The farmhouse was, in every sense, er Guilherme Siegfried acquired the Sítio
essential to Roberto’s development. It Santo Antônio da Bica, the landscaper
was here that he awoke to landscaping had already produced some of his most
and the arts. In Leme, he received all important works, such as the squares of
the encouragement from his father who, Recife17 (1934-1937), the gardens of the
in addition to being passionate about Ministry of Education and Public Health
books and wine, even built a small stu- (1938); the Salgado Filho Square at the
dio for his son. In Leme, Roberto learnt Santos Dumont Airport (1938); the gar-
to receive and share, acquiring a taste dens of the Pampulha Complex (1942);
for nature and music, cultivated by his the square of Cataguases (1942); the
mother and other family members. gardens of the first three buildings of the
“It was a large plot, with lots of rock, Parque Guinle (1947) and the gardens of
a lot of water and a swimming pool. the residences of Burton Tremaine (1948)
Cecília, his mother, would take care of and Odette Monteiro (1948).
No sítio, Burle Marx recebia Juntas, tratam das crianças e ensinam do Leme para a Barra de Guaratiba
com frequência amigos
e visitantes interessados Roberto a cuidar das plantas. Ele tem marcaram, no entanto, uma transfor-
em conhecer de perto
então o seu primeiro canteiro.” 16 mação na obra de Burle Marx. De um
sua coleção botânica e
artística. No registro de Quando, em 1949, Roberto e o irmão lado, temos uma mudança da escala
Marcel Gautherot, em fins
da década de 1960, estão Guilherme Siegfried adquiriram o Sítio das intervenções, com a criação dos
o então ministro interino
Santo Antônio da Bica, o paisagista grandes parques urbanos, como o Ibi-
das Relações Exteriores
do Brasil, Renato Archer já havia produzido algumas de suas rapuera (1953), do Pampulha Iate Clu-
(com cachimbo), Burle
Marx, Pablo Neruda e sua principais obras, como as praças de be (1942/1961), do Parque do Flamengo
esposa Matilde, e Vinícius
Recife17 (1934-1937), os jardins do Mi- (1961), do Centro Cívico de Santo André
de Moraes.
nistério da Educação e Saúde Pública (1967), do calçadão de Copacabana
At the Sítio, Burle Marx
often received friends (1938); a Praça Salgado Filho, do Ae- (1970), da Praça dos Cristais em Brasília
and visitors interested
in getting to know his
roporto Santos Dumont (1938); os jar- (1970) e do aterro da Baía Sul de Floria-
botanical and artistic dins do Conjunto da Pampulha (1942); a nópolis (1977). De outro, a possibilidade
collection up close. In the
picture taken by Marcel Praça de Cataguases (1942); os jardins de desenvolvimento de jardins como
Gautherot, at the end
of the 1960s, the Interim
dos três primeiros edifícios do Parque recriação de ecossistemas complexos,
Minister of Foreign Affairs Guinle (1947) e os jardins das residên- como na residência Alberto Kronsfoth
of Brazil at the time,
Renato Archer (with a cias Burton Tremaine (1948) e Odette (1955), no Parque Zoobotânico de Brasí-
pipe), Burle Marx,
Pablo Neruda and his
Monteiro (1948). lia (1961, não executado) ou no Aquário
wife Matilde, and Vinícius A aquisição do sítio e a transferên- do Parque do Flamengo (1969, também
de Moraes.
cia da coleção de plantas tropicais não executado). O Parque del Este, em
CULTURAL HERITAGE PATRIMÔNIO CULTURAL

The acquisition of the Sítio and the


transfer of the tropical plant collec-
tion from Leme to Barra de Guaratiba
marked a transformation in the work of
Burle Marx. On the one hand, we have
a change in the scale of interventions
with the creation of large urban parks
such as Ibirapuera (1953), Pampulha
Yacht Club (1961), Flamengo (1961), Santo
André Civic Centre (1967), the Copa-
cabana promenade (1970), the Praça
dos Cristais in Brasília (1970) and the
Florianópolis South Bay Embankment
(1977). On the other, the possibility of the
development of gardens as the recre-
ation of complex ecosystems, as with the
Alberto Kronsfoth residence (1955), the
Brasilia Zoobotanical Park (1961, not ex-
ecuted) or the Flamengo Park Aquarium
(1969, also not executed). The Parque del
Caracas (1956), é um incrível exemplo
da união das duas situações.
O sítio, além de laboratório botânico
e paisagístico em constante experimen-
tação, deve ser igualmente encarado
como espaço de permanente constru-
ção de um “lar ideal”, capaz de ab-
sorver e solucionar positivamente, do
ponto de vista simbólico, programático
e funcional, todas as necessidades do
ser humano Roberto Burle Marx. Além
dos aspectos naturais que presidiram
a escolha do local, a propriedade era
composta de antiga residência e cape-
la – a marca da tradição, como diria
Lucio Costa. Tais elementos, a partir de
1949, passaram a ser, embora respeita-
dos, engenhosamente transformados
ou recriados. A capela do século XVII
foi restaurada.18 A Casa de Roberto foi
32

33
Este in Caracas (1956) is an incredible House was rebuilt with new spaces
19
Rodrigo Melo Franco de
Andrade (de pé, de óculos),
example of the union of both situations. for the different collections – always que chefiou o Iphan entre
The Sítio, in addition to being a bo- growing – or for the multiple parties and 1937 e 1968, Pedro Calmon,
então vice-presidente
tanical and landscaping laboratory many lunches or dinners. For visitors to do Conselho Federal de
Cultura, sua esposa
of constant experimentation, should the Varanda das Carrancas, an exqui- Hermínia, entre outros,
equally be regarded as a space of site garden was created with nymphs, posam com Burle Marx
em visita ao sítio em fins
permanent construction of an ‘ideal water and a mural of granite blocks. 20 da década de 1960.

home’, capable of positively absorb- For painting, a loggia was prepared, Rodrigo Melo Franco
de Andrade (standing,
ing and solving, from a symbolic, prag- covered with tiles. 21 For wine, there was a wearing glasses), who
matic and functional point of view, the cellar. 22 For friends, several guest rooms headed the Instituto do
Patrimônio Histórico
needs of the human being Roberto Burle – including the construction of a small e Artístico Nacional
(Iphan) [National Institute
Marx. In addition to the natural aspects stone house. 23 For the jade vines, an ex- of Historic and Artistic
which determined the choice of location, traordinary pergola above an ingenious Heritage] between 1937
and 1968, Pedro Calmon,
the property was composed of an old reflecting pool, next to the ballroom or vice-president of the
Conselho Federal de
residence and chapel – a mark of tra- stone kitchen. 24 For the vitórias-régias Cultura [Federal Council
dition, as Lucio Costa would say. Such water lilies, two dammed lakes. 25 For the of Culture] at the time,
his wife Hermínia, among
elements, from 1949 onwards, would be- administration of the complex, a simple others, pose with Burle
Marx on a visit to the Sítio
come ingeniously transformed or recre- building. 26 And, for all that Roberto Bur- at the end of the 1960s.
ated, while respected. The 17th century le Marx loved, a surprising studio, 27 with
chapel was restored. 18 The Roberto’s its main facade composed of granite
cas, foi criado um requintado jardim –
com ninfeias, água e mural com blocos
de granito. 20 Para pintar, foi preparada
uma loggia, toda revestida por azule-
jos. 21 Para os vinhos, uma adega. 22 Para
os amigos, vários quartos de hóspedes –
incluindo a construção de uma pequena
casa de pedra. 23 Para as jades azuis,
um extraordinário pergolado sobre en-
genhoso espelho d’água – tudo ao lado
do salão de festas ou da cozinha de pe-
dra. 24 Para as vitórias-régias, dois lagos
represados. 25 Para a administração do
complexo, um edifício simples. 26 E, para
tudo o que Roberto Burle Marx amava,
reerguida19 e recebeu novos espaços um surpreendente ateliê27 com fachada
para as diferentes coleções – sempre principal composta a partir do granito
crescentes – ou para as múltiplas festas proveniente de uma velha construção
e muitos almoços ou jantares. Para os do Rio de Janeiro. O Sítio Santo Antônio
frequentadores da varanda das carran- da Bica não responde, portanto, a um
CULTURAL HERITAGE PATRIMÔNIO CULTURAL

from an old building in Rio de Janeiro. “Roberto Burle Marx is a singular case.
The Sítio Santo Antônio da Bica does In the midst of the atomic and space age,
not therefore constitute a landscape or his person and his world, while speaking
architectural project, but a life project. a contemporary language, mingles with
“Sítio Santo Antônio da Bica is his the Renaissance. His path is a permanent
home, it is a laboratory where he cross- process of research and creation. The
breeds plants and obtains new varieties. work of the botanist, the gardener, the
He lives in a large house with a balco- landscaper feeds from the work of the
ny from which one can see the Gua­­ artist, the designer, the painter, and vice-
ratiba slope, neighbouring the Novo versa, in a continuous to and fro. He be-
-Rio region, an extensive area whose gan – while still studying painting – to
first urbanisation project, authored by cultivate and manage plants with love,
Lucio Costa, mentions the gardens of in accordance with form, texture, volume
Burle Marx.” 28 “It is possible that, still as and colour, on the slope of the Leme hill
a young boy, his life project had been in the garden of his parents’ home, on
secured on solid affective bases.” 29 Araújo Gondim street, where, in an at-
Regarding the communion between mosphere of extreme family communion,
the landscaper’s biography, artistic pro- music reigned and, by his hand, another
duction and spaces of practice, Lucio art was imposed. Little by little, this small
Costa makes an interesting statement: backyard spread and grew until it
projeto paisagístico ou arquitetônico, espacial e atômica, a pessoa dele e o
mas sim a um projeto de vida. seu mundo, conquanto falem linguagem
“O Sítio Santo Antônio da Bica é sua contemporânea, confinam com a Renas-
casa, é laboratório onde realiza cru- cença. A sua vida é permanente pro-
zamentos de plantas e obtém varie- cesso de pesquisa e criação. A obra do
dades novas. Vive numa casa-grande botânico, do jardineiro, do paisagista se
avarandada, de onde vê a baixada de alimenta da obra do artista plástico, do
Guaratiba, vizinha à região destina- desenhista, do pintor, e vice-versa, num
da ao Novo-Rio, extensa área em cujo contínuo vaivém. Começou – enquanto
primeiro projeto de urbanização, de estudava pintura – cultivando e agen-
autoria de Lucio Costa, estavam men- ciando plantas com amor, em função da
cionados os jardins de Burle Marx”. 28 forma, da textura, do volume, da cor, na
“É possível que, ainda menino, tivesse encosta do morro do Leme no quintal da
se firmado, em sólidas bases afetivas, casa dos seus pais, à rua Araújo Gondim,
o seu projeto de vida”. 29 onde, numa atmosfera de extrema co-
A respeito da comunhão entre bio- munhão familiar, a música já imperava e,
grafia, produção artística e espaços de por sua mão, outra arte se impôs. E, pou-
atuação do paisagista, Lucio Costa faz co a pouco, esse pequeno quintal foi se
interessante depoimento: “Roberto Burle alastrando, crescendo, até que alcançou
Marx é um caso singular. Em plena era o país, ultrapassando-lhe as fronteiras.
34

35
Na varanda da casa
principal, a varanda das
carrancas, convidados
conversam cercados pelos
vasos de plantas criados
por Burle Marx.

Página anterior: no sítio,


eram recorrentes as festas,
almoços e jantares feitos
por Burle Marx. Algumas
das reformas feitas na
casa principal atendiam
ao desejo do anfitrião de
receber bem seus amigos
e convidados.

On the porch of the main


house, the carrancas
[figureheads] porch,
guests chat surrounded by
the plant pots created by
Burle Marx.

Previous page: at the


Sítio, parties, lunches and
dinners held by Burle Marx
were frequent. Some of
the refurbishments made
to the main house fulfilled
the host’s wish to welcome
his friends and guests.
CULTURAL HERITAGE PATRIMÔNIO CULTURAL
A casa sumiu, os pais morreram. A idade Cavalcanti de Lyra o tombamento do imó- Jades azuis cultivadas
no pergolado sobre o
avança. Possui belo sítio com magníficos vel denominado Sítio Santo Antônio da espelho d’água, ao lado
viveiros; recebe e é festejado. Cria joias e Bica, de propriedade dos irmãos Roberto da cozinha de pedra.

estruturas decorativas vegetais; é dese- Burle Marx e Guilherme Siegfried Marx. Blue jade vines grown
on the pergola above the
nhista e pintor, faz jardins; é botânico e A justificativa apresentada para o acau- water mirror, next to the
stone kitchen.
arquiteto paisagista; defende as matas e telamento do bem foi o “inegável valor
ainda preserva a paixão e o entusiasmo cultural e científico da coleção de plan-
de quando começou. Mas em qualquer tas tropicais ali existentes”.31 Assinaram
tempo, vá aonde for, haja o que houver o documento a presidente da Fundação
– aquele recanto do Leme continuará Rodrigo Mello Franco de Andrade, Maria
intacto e vivo no seu coração.”30 do Carmo Melo Franco Nabuco; a pesqui-
sadora de botânica Graziela Maciel Bar-
O Sítio Santo Antônio roso; o botânico Luiz Emygdio de Mello
da Bica como Patrimônio Filho; o arquiteto Alcides da Rocha Mi-
Cultural Nacional randa; o professor Moacyr Barros Bastos;
Em 20 de setembro de 1984, foi protoco­ o advogado e editor Gastão de Holan-
lado na Subsecretaria do Patrimônio His- da; o arquiteto e urbanista Lucio Costa;
tórico e Artístico Nacional, atual Iphan, o economista e ecólogo Carlos Alberto
um abaixo-assinado em que nove cida- Ribeiro de Xavier; e a embaixatriz Luiza
dãos solicitaram ao subsecretário Irapoan Zilda (Zazi) Aranha Corrêa da Costa.
36

37
reached the country, crossing its borders. Iphan, in which nine citizens requested
The house disappeared, his parents died. the subsecretary Irapoan Cavalcanti de
He ages. He owns a beautiful Sítio with Lyra to list the property denominated Sí-
magnificent nurseries; he receives guests tio Santo Antônio da Bica, owned by the
and is celebrated. He creates jewellery brothers Robert Burle Marx and Guil-
and decorative plant structures; he is a herme Siegfried Marx. The justification
designer and a painter, he makes gar- presented for protecting the property
dens; he is a botanist and a landscape was the “undeniable cultural and scien-
architect; he defends the forests and still tific value of the tropical plant collection
has the passion and enthusiasm of when held there.”31 The document was signed
he first started. But at any time, wher- by the president of Rodrigo Mello Fran-
ever he goes, whatever happens – that co de Andrade Foundation, Maria do
corner of Leme will continue intact and Carmo Melo Franco Nabuco; the botany
alive in his heart.”30 researcher Graziela Maciel Barroso; the
botanist Luiz Emygdio de Mello Filho; the
Sítio Santo Antônio da Bica architect Alcides da Rocha Miranda; pro-
as National Cultural Heritage fessor Moacyr Barros Bastos; the lawyer
On the 20th September 1984, a petition and editor Gastão de Holanda; the archi-
was filed at the Subsecretary of National tect and urbanist Lucio Costa; the econo-
Historic and Artistic Heritage, currently mist and ecologist Carlos Alberto Ribeiro
Complementando o pedido de tom- de uma generosa e linda obra de bo-
bamento, também foram encaminha- tânico e artista plástico, inseparável de
dos documentos produzidos pelo Ins- uma longa luta pela paisagem brasilei-
tituto Estadual de Patrimônio Cultural ra e pela defesa de nossa identidade
do Estado do Rio de Janeiro (Inepac), natural (…); (3) como se vê nos textos
que havia provisoriamente tombado anexos, essa valorização é internacio-
o sítio em 1983. Segundo informações nalmente compartilhada; de todos os
então produzidas pelo arquiteto Íta- países chovem elogios a esse acervo”. 32
lo Campofiorito, o Inepac, buscando Como é possível perceber, embo-
preservar a produção botânica e ar- ra diante de um “fascinante conjunto
tística de Burle Marx, identificou “um de bens culturais”, Ítalo Campofiorito
fascinante e surpreendente conjunto defendeu o tombamento estadual do
de bens culturais”, assim explicitados: sítio exclusivamente baseado no seu
“(1) A coleção do sítio é um grande vi- valor botânico, incluindo a área ou
veiro e, portanto, o acervo básico da “terreno” onde essa “riqueza” estava
produção de Burle Marx; conservá-la é “disseminada”, apenas “a Casa, a Ca-
mais do que guardar o que está planta- pela e o Ripado”. 33 Na sequência, seis
do – é proteger um extraordinário de- fotografias foram anexadas: duas ilus-
pósito científico e preservar incontáveis trando o ripado ou sombrais, uma do
jardins do futuro; (2) ali está o resultado lago, uma da capela e duas da casa.
CULTURAL HERITAGE PATRIMÔNIO CULTURAL

Exemplares de orquídeas de Xavier; and the ambassador Luiza


pertencentes à coleção
botânica do sítio, que
Zilda (Zazi) Aranha Corrêa da Costa.
segue atraindo o interesse Complementing the request for pro-
de pesquisadores e
admiradores brasileiros tection, documents produced by the In-
e estrangeiros.
stitute of Cultural Heritage of the State
Specimens of orchids
that belong to the Sítio’s
of Rio de Janeiro (Inepac), which had
botanical collection, provisionally listed the site in 1983, were
which continues to attract
the interest of Brazilian also sent in. According to information
and foreign researchers
and admirers.
produced by the architect Ítalo Cam-
pofiorito, Inepac – seeking to preserve
the botanical and artistic production of
Burle Marx, identified “a fascinating and
surprising set of cultural assets,›› ex-
plained as follows: “(1) The collection at
the Sítio is a large nursery and, as such,
is the basic collection of Burle Marx’s
production; conserving it is more than
saving what is planted – it is to protect
an extraordinary scientific deposit and
preserve uncountable gardens of the fu-
38

39
ture; (2) it is the result of a generous and erences to the directly related cultural Cultivo de mudas em um
dos viveiros do sítio. Em
beautiful work by the botanist and artist, aspects. For example: “In the interior of Guaratiba, Burle Marx
inseparable from the long struggle in the residence there are valuable collec- semeava as próprias
mudas usadas nos
favour of the Brazilian landscape and tions, particularly the pre-Columbian ce- projetos paisagísticos que
realizava, transformando
the defence of our natural identity (…); ramics (over 180 pieces), another of ce- sua propriedade em um
(3) as seen in the annexed texts, this ramics from the valley of Jequitinhonha, grande e considerável
laboratório botânico
valorisation is internationally shared; all another of crystals as well as numerous e paisagístico.

countries praise the collection.”32 pieces of folk art and paintings by Ro- Seedling cultivation in one
of the Sítio’s nurseries. In
As it can be seen, despite being faced berto Burle Marx and others.”34 Guaratiba, Burle Marx
with a “fascinating set of cultural assets,” On the 7th October 1983, the director produced himself the
seedlings used in the
Ítalo Campofiorito defended the state general of Inepac, Leonel Kaz, sent the landscape projects he
carried out, transforming
heritage listing of the Sítio exclusively case to the extraordinary secretary of his property into a large
based on its botanical value, including Science and Culture, Darcy Ribeiro. Ten and important botanical
and landscape laboratory.
the area or “territory” where its “wealth” days later, the Sítio was provisionally list-
was “disseminated,” “the House, the cha- ed and Governor Leonel Brizola informed.
pel, and the shadehouses.”33 Following It was up to journalist and scriptwriter
this, six photographs were annexed: two Roberto Marinho de Azevedo Neto, as a
illustrating the shadehouses, one of the member of the State Council of Heritage
lake, one of the chapel and two of the Listing, in April 1984, to send his favour-
house. Only the captions make slight ref- able opinion for the definitive listing of
Somente nas legendas há ligeiras refe- condição de membro do Conselho
rências aos aspectos culturais direta- Estadual de Tombamento, em abril de
mente relacionados. Por exemplo: “No 1984, encaminhar parecer favorável ao
interior da residência existem valiosas tombamento definitivo do bem. Em sua
coleções, destacando-se uma de ce- argumentação, afirmou que o sítio pos-
râmica pré-colombiana (mais de 180 suía “importância histórica, artística e
peças), outra de cerâmica do Vale do científica”35 sem, no entanto, explicitar
Jequitinhonha, outra de cristais, além tais valores ou quais os atributos que
de numerosas peças de arte popular sustentaram sua avaliação.
e quadros de Roberto Burle Marx e de O processo de tombamento instruí-
outros autores”. 34 do pelo Inepac, conforme salientou Íta-
Em 7 de outubro de 1983, o diretor- lo Cam­pofiorito, reuniu um significativo
-geral do Inepac, Leonel Kaz, encami- conjunto de depoimentos sobre Burle
nhou o processo ao secretário extra- Marx e seu acervo botânico. A leitura
ordinário de Ciência e Cultura, Darcy de tais documentos permite compreen-
Ribeiro. Dez dias depois, o sítio foi pro- der o que, de fato, se desejava preser-
visoriamente tombado e o governador var. Graziela Maciel Barroso, do Jardim
Leonel Brizola, informado. Botânico do Rio de Janeiro, para quem
Coube ao jornalista e roteirista Ro- o sítio se tornou “o depósito de cole-
berto Marinho de Azevedo Neto, na ções botânicas de inestimável valor
CULTURAL HERITAGE PATRIMÔNIO CULTURAL

the property. In his argument, he stated tion into a genuine botanical garden,
that the Sítio possessed “historical, artis- where numerous botanists and nature
tic and scientific importance”35 without lovers may study and admire the speci-
making explicit those values or attributes mens of Anthurium, Philodendron, Cala-
which supported the evaluation. dium, Xanthosoma, Mostera and many
The process of heritage listing in- other Araceas; Begonias, Orquidaceas
structed by Inepac, as pointed out by of various species, Bromeliaceas, Ma-
Ítalo Campofiorito, gathered a sig- rantaceas, Heliconias, palm trees, Gut-
nificant set of testimonials about Bur- tiferae and many other representatives
le Marx and his botanical collection. of angiosperms.”37
Reading these documents gives one Hermes Moreira de Souza, from the
the understanding that, in fact, there Agronomic Institute of São Paulo, rein-
was a desire for preservation. Graziela forced the importance of the botanical
Maciel Barroso, of the Rio de Janeiro collection and highlighted Burle Marx’s
Botanical Garden, for whom the Sítio concerns: 38 “As a landscaper, B. Marx
became a “repository of botanical col- owns his own nursery where plants are
lections of inestimable scientific value,”36 multiplied and seedlings formed for the
explains the exceptionality of the asset: composition of his projects. The plants
“Its owner, endowed with the highest which go to national and international
spirit of research, transformed the loca- exhibitions come from here. Knowing
científico”, 36 explica a excepcionalida-
de do bem: “Seu proprietário, dotado
do mais alto espírito de pesquisador,
Creio que é tempo de o Brasil
transformou o local num autêntico jar-
dim botânico, onde os espécimes de aprender a amar a natureza
Anthurium, Philodendron, Caladium, - as florestas, os rios, os lagos,
Xanthosoma, Mostera e muitas outras os bichos, os pássaros. Creio
Araceas, de Begonias, Orquidaceas de
várias espécies, Bromeliaceas, Maran-
que é preciso reformular
taceas, Heliconias, palmeiras, Guttife- nosso conceito de patriotismo.
rae e muitas outras representantes das Patriotismo, para mim, é
angiospermas, podem ser admirados e proteger o nosso patrimônio.
estudados pelos numerosos botânicos e
amantes da natureza, que lá vão ter”. 37
Artístico, cultural, e a terra, que
Hermes Moreira de Souza, do Insti- nos dá tudo isso. 55
tuto Agronômico de São Paulo, reforçou
a importância da coleção botânica e I believe it’s time Brazil learnt to love
destacou as preocupações de Burle nature – the forests, rivers, lakes, animals,
Marx :38 “Como paisagista, B. Marx pos- birds. I believe we must reformulate our
sui um viveiro próprio onde as plantas concept of patriotism. Patriotism, to me,
is to protect our heritage [patrimony]. 40
Artistic, cultural and the earth, which
gives us all of this. 55 41
the property of B. Marx is to penetrate
a stronghold of art in an environment
ROBERTO BURLE MARX
of respect for nature, with an air of reli-
giosity provided by the old chapel next
to the main building, preserved through
periodic religious services. The main
building, covered in smooth granite, is is proof of the great diversity which ex-
a portrait of B. Marx’s personality (…). B. ists on Sitio.
Marx has a great concern for the future Moving forward with the request
of the exceptional wealth of the plants for listed status received by Iphan in
he has collected. The large area occu- September 1984, architects Glauco
pied by them, the responsibility for their Campello and Sabino Barroso40 tried
maintenance and preservation. (…) Find- to form a technical team to analyse the
ing a solution for the safeguarding of problem, producing reports from the
this heritage of inestimable value (…).”39 architect Antônio Pedro de Alcântara,
Among the documents gathered by the museologist Maria Emília de Souza
Inepac technicians is a long list of plants Mattos and the landscaper-architect
produced by the company Burle Marx Carlos Fernando de Moura Delphim.
& Cia. Ltda. which, far from substituting The first argued in favour of listed sta-
an inventory of the botanical collection, tus, providing additional information on
No processo de tomba­ são multiplicadas e as mudas forma- Entre os documentos reunidos pe-
mento da propriedade,
o seu valor cultural das para composição de seus proje- los técnicos do Inepac, destaca-se a
também foi considerado,
tos. Desse viveiro saem as plantas para longa lista de plantas produzidas pela
incluindo desenhos,
croquis e projetos as exposições nacionais e internacio- empresa Burle Marx & Cia. Ltda., que
realizados por Burle Marx
pertencentes ao acervo nais já realizadas por ele. Conhecer – longe de substituir um inventário da
museológico do sítio.
a propriedade de B. Marx é penetrar coleção botânica – comprova a grande
ESTUDO PARA PAINEL
num reduto de arte e num ambiente de diversidade existente no sítio.
DE AZULEJO, sem data
Grafite/guache/papel respeito à natureza, bafejado de reli- Dando encaminhamento ao pedido
24,4 x 39 cm
giosidade pela capela antiga junto à de tombamento recebido pelo Iphan
In the process of listing
the property as heritage,
sede, preservada para ofícios religiosos em setembro de 1984, os arquitetos
its cultural value was also periódicos. A sede, revestida de grani- Glauco Campello e Sabino Barroso 40
considered, including
drawings, sketches and to liso, retrata a personalidade de B. trataram de constituir um grupo técni-
projects carried out by
Burle Marx that belong to
Marx (…). É grande a preocupação de co para analisar o tema, o que gerou
the Sítio’s museological B. Marx para com o futuro da riqueza pareceres específicos produzidos pelo
collection.
excepcional de plantas que reuniu. A arquiteto Antônio Pedro de Alcântara,
STUDY FOR TILE PANEL,
undated grande área ocupada por elas, a res- pela museóloga Maria Emília de Sou-
Graphite/gouache/paper
24.4 x 39 cm
ponsabilidade pela sua manutenção za Mattos e pelo arquiteto-paisagista
e preservação. (…) Achar uma solução Carlos Fernando de Moura Delphim. O
para o resguardo de todo esse patri- primeiro argumentou favoravelmente
mônio de valor incalculável (…)”. 39 ao tombamento, acrescentando infor-
CULTURAL HERITAGE PATRIMÔNIO CULTURAL
mações sobre o valor cultural do sítio,
particularmente sobre a residência e
o ateliê: “O conjunto arquitetônico que
abriga o mobiliário e as coleções de
cerâmica, pintura, cristais, arte popular
e a obra artística do pintor e paisagista
Roberto Burle Marx, apesar de altera-
do na sua feição original, foi amplia-
do pelo proprietário e restaurado sob
orientação técnica dos arquitetos Car-
los Leão e Lucio Costa, circunstância
que garantiu o toque de sensibilidade
e a elevada qualidade artística dessas
intervenções. Acresce a construção do
futuro atelier de Roberto Burle Marx,
com a recomposição de uma preciosa Esses conjuntos que revelam a criati-
fachada de cantaria do século XIX e vidade de Roberto Burle Marx estão
as várias composições feitas pelo ar- definitivamente integrados ao acervo
tista com cantarias remanescentes de paisagístico do sítio. Enriquecendo-o
demolição de prédios daquele século. extraordinariamente”.41
42

43
the cultural value of the Sítio, particu- reveal the creativity of Roberto Burle ESBOÇO DE PROJETO,
sem data
larly on the residence and the studio: Marx, are definitively integrated into Crayon/papel
“The architectural set which houses the the landscape of the Sítio, enrichening 25,3 x 34 cm

furniture and collections of ceramics, it extraordinarily.”41 PROJECT DRAFT, undated


Crayon/paper
painting, crystals, folk art and the work Maria Emília also analysed the cul- 25.3 x 34 cm

of the painter and landscaper Roberto tural value of the asset, highlighting
Burle Marx, despite being altered in its the elements or attributes of greatest
original features, was extended by the relevance to be included in the listing:
owner and restored under the techni- “(1) In the house – the artist’s office; the
cal guidance of architects Carlos Leão collection of Burle Marx’s paintings and
and Lucio Costa, a circumstance which drawings which decorate the various
ensured the sensibility and high artis- environments, notably the canvases
tic quality of the interventions. There is which document the various phases
the additional construction of the future of the painter Burle Marx; the studies,
studio of Roberto Burle Marx, with the sketches, drawings and projects exe-
recomposition of a precious 19th century cuted by the landscaper for numerous
stonework facade, and several compo- parks, gardens, recreational areas cre-
sitions made by the artist with stonework ated for public and private buildings in
retrieved from demolitions of 19th cen- Brazil and abroad, and which must be
tury buildings. These ensembles, which preserved and exhibited in the house;
Maria Emília também analisou o va-
lor cultural do bem, chegando a desta-
car os elementos ou atributos de maior
relevância que, por isso, deveriam ser
incluídos no tombamento: “(1) Na casa
– o escritório do artista; o conjunto de
pinturas e desenhos de Burle Marx que
decoram os diversos ambientes, nota-
damente as telas que documentam as
várias fases de Burle Marx pintor; os
estudos, croquis, desenhos e projetos
executados pelo paisagista para inú-
meros parques, jardins, áreas de recre-
ação criados para edifícios públicos e
particulares existentes no Brasil e no
Exterior e que devem ser conservados
e expostos nesta casa; parte do acervo
de bens culturais móveis que decora
esta residência e que testemunha o gos-
to pessoal e o cotidiano de Burle Marx.
CULTURAL HERITAGE PATRIMÔNIO CULTURAL

Procissão de Santo part of the collection of movable cultur- collections in the world, sought after by
Antônio realizada na
capela do sítio, na al assets which decorate the residence Brazilian and foreign scholars who have
década de 1960. A and bear witness to the personal taste found as yet unrecognised species of
imagem do santo é parte
do acervo histórico e and daily life of Burle Marx. Brazilian flora, rare or in extinction, if not
artístico do sítio e seu
valor cultural foi (2) In the chapel – the image of Santo the last remaining specimens, as many of
destacado no processo Antônio, including the silver resplendors the places they were collected from have
de tombamento.
which adorn the Saint and Child.”42 disappeared through destruction caused
Procession of saint
Anthony held in the chapel In turn, Carlos Delphim stressed the by man (…). The Sítio Santo Antônio da
of the Sítio, in the 1960s.
The image of the saint
value of the botanical collection and Bur- Bica represents a great effort by a single
is part of the historical le Marx’s contribution towards the con- man dedicated to the conservation and
and artistic collection of
the sítio and its cultural servation of nature: “For over 30 years, preservation of natural elements at a
value was highlighted in
the process of listing the
Roberto Burle Marx has been acclimat- historical moment when nature is more
property as heritage. ing at the Sítio Santo Antônio da Bica a threatened than ever by human destruc-
collection of the most notable tropical tion, and landscapes must be protected
plants of the world, with specimens from through all legislation regarding nature
the Amazon, Porto Rico, Haiti, Ecuador, conservation and cultural assets, and,
Africa, India, etc. On his excursions to furthermore, concrete actions should be
phytogeographic regions of Brazil he taken to safeguard, inventory, map and
collected numerous native plants, cre- reproduce the species which constitute
ating one of the most important floristic Roberto Burle Marx’s collection.”43
(2) Na capela – a imagem de Santo da flora brasileira, espécies raras ou em Capela de Santo Antônio
da Bica, que integra o
Antônio, inclusive os resplendores de pra- vias de extinção, quando não únicas, já conjunto arquitetônico do
ta que adornam o Santo e o Menino”.42 que muitos dos locais onde se fizeram sítio, tombado pelo Iphan
em 1985.
Por sua vez, Carlos Delphim refor- as coletas, desapareceram vítimas de
Chapel of Santo Antônio
çou o valor da coleção botânica e a depredação causada pelo homem (…). da Bica, which integrates
the architectural set of
contribuição de Burle Marx para a pre- O Sítio Santo Antônio da Bica repre- the Sítio, listed by Iphan
servação da natureza: “Durante mais senta o grande esforço de um único [National I nstitute of
Historic and Artistic
de trinta anos Roberto Burle Marx vem homem voltado para a conservação e Heritage] in 1985.

aclimatando no Sítio Santo Antônio da preservação de elementos naturais num


Bica uma coleção com as mais notáveis momento histórico em que a natureza
plantas tropicais do mundo, com exem- se vê mais do que nunca ameaçada
plares da Amazônia, Porto Rico, Haiti, pela depredação humana e aspectos
Equador, África, Índia etc. Através de paisagísticos deverão ser protegidos
suas excursões pelas regiões fitogeo- através de toda a legislação referente
gráficas do Brasil, recolheu numerosas à conservação da natureza e dos bens
plantas autóctones, criando uma das culturais e mais, deverão ser efetiva-
mais importantes coleções florísticas das ações concretas para salvaguar-
do mundo, procurada por estudiosos dar, inventariar, mapear e reproduzir
brasileiros e estrangeiros que nela en- as espécies que constituem a coleção
contram espécies ainda desconhecidas de Roberto Burle Marx”.43
44

45
It was the architect Dora Alcântara
who, as coordinator of the Listed Status
Sector, analysed and consolidated the
available documents produced by In-
epac as well as Iphan. In doing so, she
created a beautiful image, linking Burle
Marx’s work with the history of preserva-
tion in Brazil.
“They refer us to the ideals of na-
tional thought, especially defended
since the [19]20s, of recognition and
valorisation of the cultural heritage
accumulated by a young Brazilian na-
tion in possession of thousands of natu-
ral monuments, sites and landscapes
endowed by nature with remarkable
features. These reflections lead us to
establish a close relationship between
the spirit of the work of Roberto Burle
Marx and the very ideals of SPHAN.”44
Burle Marx em 1957, ainda Foi a arquiteta Dora Alcântara, na de Roberto Burle Marx e os próprios
no início de seus trabalhos
no sítio. Após décadas de função de coordenadora do Setor de ideais da SPHAN.”44
dedicação, seus esforços Tombamento, quem analisou e conso- E foi defendendo o espírito da obra
para a conservação
e preservação de lidou a documentação disponível, pro- de Burle Marx que Dora Alcântara ar-
espécies tropicais seriam
reconhecidos e sua duzida tanto pelo Inepac quanto pelo gumentou pelo tombamento “histórico,
propriedade considerada Iphan. Ao fazê-lo, construiu uma bela paisagístico e artístico do sítio”, em con-
patrimônio nacional.
imagem, relacionando o trabalho de formidade com a delimitação adotada
Burle Marx in 1957, at the
beginning of his works at Burle Marx com a história da preser- pelo Inepac, “incluindo o conjunto de
the Sítio. After decades
of dedication, his efforts
vação no Brasil. bens imóveis”. Argumentou, também,
for the conservation and “Reportam-nos aos ideais do pen- pela necessidade da realização de
preservation of tropical
species were recognized samento nacional, especialmente de- inventários dos acervos botânicos e
and his property recognized
as national heritage.
fendidos a partir dos anos [19]20, de artísticos, a serem incorporados a no-
reconhecimento e valorização do pa- vos processos de tombamento. Por fim,
trimônio cultural acumulado pela jo- deixou uma inquietação: “Queremos, no
vem nação brasileira, possuidora, no entanto, registrar nossa preocupação
entanto, de milhares de monumentos com a preservação deste conjunto ex-
naturais, sítios e paisagens dotados cepcional de valores, que apenas inicia
pela natureza com feição notável. Essas com o processo de tombamento e sua
reflexões levam-nos a estabelecer uma homologação. O tombamento, a nosso
íntima ligação entre o espírito da obra ver, só fará sentido se complementado
CULTURAL HERITAGE PATRIMÔNIO CULTURAL

It was in defence of the spirit of the


work of Burle Marx that Dora Alcântara
argued for the “historical, landscape
and artistic” listed status of the Sítio, in
compliance with the delimitation ad-
opted by Inepac, “including the set of
immovable assets.” She also argued for
the need for inventories of the botanical
and artistic collections, to be incorpo-
rated into new processes of listed pro-
tection. She finished with a concern: “We
wish, however, to register our concern
with the preservation of this exceptional
set of assets, which only begins with the
listed status process and its approval.
Listed status, in our view, will only make
sense if complemented with other pres-
ervation measures which, in their conti-
nuity, will depend on the establishment
of an adequate framework to ensure the
por outras medidas de preservação
que, em sua continuidade, depende-
rão da montagem de uma estrutura
adequada, que garanta a preserva-
ção dos valores naturais e culturais que
integram o Sítio Santo Antônio da Bica
enquanto patrimônio nacional”.45
Em 3 janeiro de 1985, o arquiteto Au-
gusto da Silva Telles, diretor de Tomba-
mento e Conservação,46 encaminhou o
processo para o subsecretário Irapoan
Cavalcanti de Lyra, para a notificação
dos proprietários. Ainda em janeiro,
os irmãos Roberto e Guilherme Marx
anuíram com o tombamento provisório que propôs o tombamento definitivo
do bem. nos seguintes termos:
No Conselho Consultivo do Patri- “Já tombado provisoriamente pelo
mônio Histórico e Artístico Nacional, o Instituto Estadual do Patrimônio Cultural
parecer foi elaborado pelo crítico de do Rio de Janeiro, impõe-se, agora, para
artes visuais Alcídio Mafra de Souza, fins de preservação de toda aquela
46

47
preservation of the natural and cultural purpose of preservation of the entire Burle Marx e Leland
Myano, horticultor e
values of the Sítio Santo Antônio da Bica area, that it be granted listed status as paisagista de Honolulu,
as national heritage.”45 National Historic and Artistic Heritage, em uma das muitas
viagens de coleta que
On the 3 rd January 1985, the archi- in recognition of the generous and long contribuíram para fazer
do sítio um “depósito de
tect Augusto da Silva Telles, director struggle by the artist and botanist in de- coleções botânicas de
of Conservation and Protected Status,46 fence of our cultural identity, our land- inestimável valor”.

forwarded the process to subsecretary scape and the rehabilitation of our flora. Burle Marx and Leland
Myano, horticulturist
Irapoan Cavalcanti de Lyra, for notifica- Internationally valued, I propose [that] and landscaper from
Honolulu, on one of the
tion of the owners. That same January, the Sítio Santo Antônio da Bica be listed many collecting trips that
the brothers Roberto and Guilherme in the respective book for protected sta- contributed to turn the
Sítio into a “storehouse
Marx consented to the provisional list- tus, whose area includes the Residential of invaluable botanical
collections”.
ing of the asset. House and its annexes, the chapel, the
At the Advisory Council of the Na- stoneworks and shadehouses.”47
tional Historical and Artistic Heritage, The meeting of the Advisory Council
art critic Alcídio Mafra de Souza pro- which unanimously approved the listed
posed definitive listed status in the fol- status of the Sítio took place at the em-
lowing terms: blematic Santa Cruz Fortress, on the
“Already provisionally listed by the island of Anhatomirim, in Santa Canta-
Cultural Heritage State Institute of Rio rina, on the 22nd January 1985. The same
de Janeiro, it is now necessary, for the meeting also saw the protection of the
Sala de jantar da Casa área, seu tombamento pelo Patrimônio
de Roberto, em uma
de suas configurações. Histórico e Artístico Nacional. Pleito de
Destaca-se aqui a vista reconhecimento a generosa e longa luta
geral do mobiliário e de
obras pertencentes ao de um artista plástico e botânico pela
acervo do sítio.
defesa de nossa identidade cultural, de
Dining room of Roberto’s
House, in one of its
nossa paisagem e da reabilitação de
configurations. Here, nossa flora. Valorizado internacional-
a general view of
the furniture and the mente, proponho [que] seja inscrito no
artworks that belong to
the Sítio’s collection.
respectivo livro de tombo o Sítio Santo
Antônio da Bica, cuja área inclui a Casa
de Residência e seus anexos, a Capela,
as obras de arte de cantaria e o ripado
de plantas”.47
A reunião do Conselho Consultivo
que aprovou por unanimidade o tom-
bamento do sítio ocorreu na emblemá-
tica Fortaleza de Santa Cruz, na ilha de
Anhatomirim, em Santa Catarina, no
dia 22 de janeiro de 1985. No mesmo
encontro, também foram acautelados
CULTURAL HERITAGE PATRIMÔNIO CULTURAL

“collective housing complex denomi-


nated Avenida Modelo/RJ;” the “São
Clemente Park Hotel, Friburgo/RJ;” the
Guinle Park residential complex/RJ;” the
“Casa Presser, Novo Hamburgo/RS;” the
“Casa do Professor and Rural School
of TImbó/SC;” the “Casa Rural located
on Costeira do Ribeirão da Ilha, Flori-
anópolis/SC;” and the “Casa do Chá,
located in Mogi das Cruzes/SP.” Which
is to say, a significant group of forms of
living, including two works designed by
architect Lucio Costa and four assets re-
lated to immigration (German, Azorean
and Italian). To this group, Roberto Burle
Marx’s Sítio Santo Antônio da Bica was
added. The landscaper was present.48
He watched and, contrary to his per-
sonality, kept silent.
48

49
o “conjunto de habitação coletiva de- O Sítio Roberto Burle Marx
nominado Avenida Modelo/RJ”; o “Ho- como patrimônio cultural
tel do Parque São Clemente, Friburgo/ nacional
RJ”; o “conjunto residencial do Parque Ainda enquanto aguardava a homolo-
Guinle/RJ”; a “Casa Presser, Novo Ham- gação da decisão do Conselho Con-
burgo/RS”; a “Casa do Professor e a Es- sultivo, Augusto da Silva Telles deter-
cola Rural de Timbó/SC”; a “Casa Rural minou a conferência das dimensões e
localizada na Costeira do Ribeirão da da descrição física do bem.49 Ocorreu
Ilha, Florianópolis/SC”; e a “Casa do que, simultaneamente ao processo de
Chá, localizada em Mogi das Cruzes/ tombamento do imóvel, estabeleceu-se
SP”. Ou seja, um conjunto significativo um outro, envolvendo a compra e venda
de formas de morar, incluindo duas e a doação do próprio sítio para a Fun-
obras projetadas pelo arquiteto Lucio dação Nacional Pró-Memória (FNPM).
Costa e quatro bens relacionados à imi- A transação foi registrada no 22º Ofício
gração (alemã, açoriana e italiana). A de Notas do Rio de Janeiro, por meio
esse grupo, somou-se o Sítio Santo An- da Escritura nº 41, de 11 de março de
tônio da Bica, de Roberto Burle Marx. 1985. 50 Tal instrumento definiu as se-
O paisagista esteve presente.48 Assistiu guintes condições para a transmissão
a tudo e, contrariando sua personali- da propriedade: o local passou a ser
dade, manteve-se calado. denominado “Sítio Roberto Burle Marx”
CULTURAL HERITAGE PATRIMÔNIO CULTURAL

The Sítio Roberto Burle Marx ing, direct possession of the buildings
as National Cultural Heritage and improvements of the Sítio; the FNPM
While still awaiting the approval of the took on the responsibility of financing
Advisory Council, Augusto da Silva and carrying out necessary conserva-
Telles verified the dimension and physi- tion works; it was obliged to use the Sítio
cal description of the asset.49 Simultane- as a “centre for studies and research
ous to the process of listing the prop- related to landscaping and nature con-
erty, another process was established, servation;” it was obliged to guarantee
involving the purchase and sale, and the salaries of “all the people required
donation of the Sítio to the National for its proper maintenance;” and, finally,
Pro-Memory Foundation (NPM). The was it equally obliged to “preserve the
transaction was registered at the 22nd physical and institutional integrity of
Notary Office of Rio de Janeiro, by the various existing collections,” be they
Deed no. 41, on the 11 th March 1985. 50 “plants, ceramics, sacred art, paintings
This instrument established the following by the grantor, books and whatever else
conditions for the transmission of the is found.”51
property: the Sítio was renamed “Sítio To help with the administration of
Roberto Burle Marx” and incorporated the Sítio Roberto Burle Marx, Deed no.
into the framework of the FNPM; Roberto 41 also provided for the creation of an
and his brother maintained, while liv- Advisory Council, composed in its first
e incorporado à estrutura da FNPM; Ro- segundo a Escritura nº 41, foi prevista Recanto da antiga sala
de jantar do Sítio Santo
berto e o irmão mantiveram, enquan- a criação de um Conselho Consultivo, Antônio da Bica, em
to vivos, a posse direta dos imóveis e composto em seu primeiro mandato, registro realizado no
início da década de 1960,
benfeitorias do sítio; a FNPM assumiu a além dos membros natos, dos seguintes com destaque para os
curiosos arranjos com
responsabilidade de financiar e realizar amigos de Burle Marx (entre os quais, legumes e vegetais feitos
as obras de conservação necessárias; três signatários do pedido de tomba- por Burle Marx.

ficou obrigada a utilizar o sítio como mento do sítio): Graziela Maciel Bar- Spot in the old dining
room of Sítio Santo
“um centro de estudos e pesquisas re- roso, Maria do Carmo de Melo Franco Antônio da Bica, depicted
in the early 1960s, with
lacionadas com paisagismo e conser- Nabuco, Luiz Emygdio de Mello Filho, focus on the unusual
vação da natureza”; ficou obrigada a Klara Annamaria Kaiser Mari, Jorge vegetable arrangements
made by Burle Marx.
garantir os salários de “todas as pesso- Machado Moreira, Luiz Antônio Ferraz
as necessárias à sua boa manutenção”; Matthes, Nanuza Luiza de Menezes, Ary
e, por fim, ficou igualmente obrigada a Garcia Roza e Rosalina Azevedo Leão.
“preservar a integridade física e institu- Dos três volumes que compõem o
cional das diversas coleções existentes”, processo de tombamento nº 1.131-T-1984,
sejam elas de “plantas, de cerâmica, o terceiro é confuso. Os diferentes ca-
arte sacra, pinturas do outorgante, li- rimbos contendo a marcação das pági-
vros e o que mais encontrado for”. 51 nas demostram certa reordenação dos
Para colaborar com a administra- documentos e a adoção de uma nova
ção do Sítio Roberto Burle Marx, ainda numeração corrida. Na verdade, trata-
50

51
term, in addition to permanent mem-
bers, of the following friends of Burle
Marx (three of whom are signatories of
the request for the Sítio’s listed status):
Graziela Maciel Barroso, Maria do Car-
mo de Melo Franco Nabuco, Luiz Emyg-
dio de Mello Filho, Klara Annamaria
Kaiser Mari, Jorge Machado Moreira,
Luiz Antônio Ferraz Matthes, Nanuza
Luiza de Menezes, Ary Garcia Roza and
Rosalina Azevedo Leão.
Of the three volumes which compose
the process for protected status no. 1.131-
T-1984, the third is confusing. The differ-
ent stamps containing the page markings
point to a reorganisation of the docu-
ments and a new numbering. It is in fact
the procedure of re-ratification of the
decision taken by the Advisory Council
in 1985. On the other hand, the delicate
-se do procedimento de rerratificação
da decisão tomada pelo Conselho Con-
sultivo em 1985. Por outro lado, deve-se
levar em consideração o delicado con-
texto institucional. Naquele momento,
a FNPM e a SPHAN estavam passando
por profundas transformações adminis-
trativas e organizacionais, que culmina-
ram, em 1990, com a extinção de ambas
e a criação do Instituto Brasileiro do
Patrimônio Cultural (IBPC). No entanto,
a vida do IBPC foi curta, dando origem,
logo em 1994, ao atual Iphan.
O primeiro documento é de 1999 e
incorpora ao processo administrativo
o inventário do acervo museológico
do sítio. Ao todo, foram identificados
3.125 bens. Na Casa de Roberto, fo-
ram listadas as peças e objetos que
formam as coleções de arte popular,
CULTURAL HERITAGE PATRIMÔNIO CULTURAL

institutional context must be taken into


account. At the time, the FNPM and the
SPHAN were going through profound
administrative and organisational trans-
formations, culminating, in 1990, with
their extinction and the creation of the
Brazilian Institute of Cultural Heritage
(IBPC). However, the IBPC had a short life,
giving way in 1994 to the current Iphan.
The first document is from 1999 and
incorporates the inventory of the Sítio’s
museological collection to the adminis-
trative process. In all, 3,125 assets were
identified. In the Roberto’s House, pieces
and objects which make up collections
of folk art, ceramics from the Vale do
Jequitinhonha, from pre-Columbian cul-
tures, sacred art, crystals, furniture and
painting, among others, were invento-
ried. In the studio, 1,600 items produced
de cerâmicas do Vale do Jequitinho-
nha, de culturas pré-colombianas, de
arte sacra, de cristais, de mobiliário e
de pintura, entre outras. No ateliê, fo-
ram catalogados 1.600 itens produzidos
pelo artista. Acompanha o dossiê um
detalhado parecer produzido pelos
técnicos Helena Mendes dos Santos e
Marcus Tadeu Daniel Ribeiro, que bus-
caram precisar o objeto tombado (ou
a ser acautelado). Dessa vez, incluindo
a descrição das principais edificações
(edifício da administração, Capela de
Santo Antônio da Bica, loggia, casa ou
residência principal, salão ou cozinha Belas Artes e Arqueológico, Etnográfico
de pedra e pavilhão Roberto Burle Marx e Paisagístico. 52
ou ateliê) e o acervo móvel do sítio. O Na sequência, temos o protocolar
parecer conclui indicando a inscrição parecer do Departamento de Proteção
do “Sítio Burle Marx e seu acervo móvel (Deprot), que recomendou a inscrição do
e bibliográfico” nos livros do tombo de bem nos mesmos livros do tombo. Logo,
52

53
by the artist were catalogued. The dossier istration of the asset in the same listed Peças de arte popular
pertencentes ao
includes a detailed report by technicians status books. Then, a table listing the acervo museológico
Helena Mendes dos Santos and Marcus documents analysed since 1984, so that da propriedade.

Página anterior: em uma


Tadeu Daniel Ribeiro, who seek to spec- it is possible to understand the complex das configurações da
ify the object to be listed (or protected). process which has led to the recogni- Casa de Roberto, vemos
uma das carrancas e
This time including a description of the tion of the Sítio as National Heritage. panelas de pedra que
compõem a coleção
main buildings (administration building, It also reveals the names of a series of do sítio.
Santo Antônio da Bica Chapel, loggia, important figures, friends of Roberto’s
In one of the configurations
Roberto’s House or residence, ballroom and lovers of the Sítio. of Robertos’s house, we
see one of the carrancas
or stone kitchen and Roberto Burle Marx With the instruction for re-ratification [figureheads] and stone
pavillion or studio) and the Sítio’s furni- accepted – now denominated the “Sítio pots that belong to the
collection of the Sítio.
ture collection. The report concluded by Roberto Burle Marx and its museologi- Previous page: folk art
recommending the registration of the “Sí- cal and bibliographic collection” – the pieces that belong to the
museological collection
tio Roberto Burle Marx and its furniture value originally attributed to the asset of the property.

and bibliographic collection” in the Fine was analysed again by the Cultural Her-
Arts and Archaeological, Ethnographic itage Advisory Council, in a meeting on
and Landscape listed status books.52 10 th August 2000, held at the Gustavo
As a result, we have the protocol Capanema Palace, in Rio de Janeiro.
report of the Department of Protection As a tribute, 17 years after the pro-
(Deprot), which recommended the reg- visional listing by Inepac, councillor
consta um quadro com a listagem da to provisório do Inepac, coube ao
documentação analisada desde 1984, conselheiro Ítalo Campofiorito relatar
de maneira que é possível perceber, e o processo: “Diante desse mar de coi-
compreender, a complexa articulação sas, acompanho o historiador do Iphan
que levou ao reconhecimento do sítio Marcus Tadeu Daniel Ribeiro e a arqui-
como Patrimônio Nacional. O quadro teta Helena Mendes dos Santos quando
revela também os nomes de uma série consideram o todo, como é inicialmente
de importantes personagens, amigos sugerido por Iara Valdetaro Madeira,
de Roberto e apaixonados pelo sítio. museóloga, e Robério Dias, diretor do
Aceita a instrução de rerratificação sítio; isto é, todos os bens arrolados e,
– agora com a denominação de “Sítio de fato, vinculados à biografia do Pai-
Roberto Burle Marx e sua coleção muse- sagista, de forma indissociável. Não vejo
ológica e bibliográfica” –, os valores ori- como, nem quando, teria cabimento sele-
ginalmente atribuídos ao bem voltaram a cionar valores antropológicos históricos
ser analisados pelo Conselho Consultivo ou artísticos individualmente, para efeito
do Patrimônio Cultural, em sua reunião de de tombamento. Passou-me pela cabe-
10 de agosto de 2000, ocorrida no Palácio ça a preocupação bíblica de ‘separar o
Gustavo Capanema, no Rio de Janeiro. joio do trigo’. E ponderei, divertido, que
Como uma simbólica homenagem, Roberto jamais aceitaria a discriminação
dezessete anos depois do tombamen- do joio, planta da família das gramíne-
CULTURAL HERITAGE PATRIMÔNIO CULTURAL

Edifício Gustavo
Capanema, sede do
Ministério da Educação
e Saúde Pública. O
edifício é um dos oito
bens tombados pelo
Iphan que contam com
projeto paisagístico de
Burle Marx.

Gustavo Capanema
Building, headquarters of
the Ministry of Education
and Public Health. The
building is one of eight
properties listed as
heritage by the Instituto
do Patrimônio Histórico
e Artístico Nacional
(Iphan) [National
Institute of Historic and
Artistic Heritage] with
landscaping projects by
Burle Marx.
as, conhecida dos especialistas como possível identificar o resultado de oi-
Lolium temulentum, face à tradicional e tenta anos da aplicação do instrumen-
grata importância do trigo. Como dizem to de tombamento e da existência de
os franceses: justement. Acredito que, uma política não explícita de valoração
excepcionalmente, agora é o momen- de bens culturais no Brasil. Uma ação
to de proteger sem exceções. Proponho focada em bens isolados (edificações
o tombamento do Sítio Burle Marx”.53 com ou sem acervos), concentrados na
Aprovado pela unanimidade dos região Sudeste do país (46% do patri-
membros do Conselho Consultivo, o tom- mônio nacional), particularmente nos
bamento do “Sítio Roberto Burle Marx estados do Rio de Janeiro (19%) e Minas
e sua coleção museológica e bibliográ- Gerais (16%). Se observada a “autoria”
fica” foi finalmente homologado pelo dos bens valorados, percebe-se uma
ministro da Cultura Francisco Weffort concentração em dois nomes. Especial-
em 12 de junho de 2002. mente naqueles a quem Lucio Costa
destinou especial atenção, chegando a
Aleijadinho, Niemeyer caracterizá-los como de genuína “ma-
e Burle Marx nifestação do gênio nacional”: Antônio
Quando da elaboração do diagnóstico Francisco Lisboa e Oscar Niemeyer.
que precedeu à preparação da Política Do Aleijadinho, o Iphan tombou, além
do Patrimônio Cultural Material, 54 foi do conjunto do Santuário do Bom Jesus
54

55
Ítalo Campofiorito reported the pro- the traditional and grateful importance
cess: “Faced with this sea of things, I of wheat. As the French say: justement.
am with Iphan historian Marcus Tadeu I believe that, exceptionally, now is the
Daniel Ribeiro and architect Helena time to protect without exceptions. I
Mendes dos Santos when they consider propose that the Sítio Burle Marx be-
the whole, as initially suggested by the come a listed heritage site.”53
museologist Iara Valdetaro Madeira Unanimously approved by the mem-
and the Sítio Director Robério Dias; that bers of the Advisory Council, the listed
is, all assets listed and, in fact, linked to status of the “Sítio Roberto Burle Marx
the biography of the Landscaper indis- and its museological and bibliographic
sociably. I cannot see how, or when, it collection” was finally approved by the
would make sense to select anthropo- Culture Minister Francisco Weffort on
logical, historical or artistic assets in- 12th June 2002.
dividually, for listed status. I thought of
the biblical concern for ‘separating the Aleijadinho, Niemeyer
wheat from the chaff’, and I wondered, and Burle Marx
amused, that Roberto would never ac- In preparing the diagnosis preceding
cept the discrimination of the chaff, a the Policy of Material Cultural Heritage,54
plant of the grass family known to ex- the identification of the result of 80 years
perts as Lolium temulemtum, in view of of the application of a heritage listing
de Matosinhos, 7 bens móveis, 8 bens Pampulha, em Belo Horizonte; a praça
imóveis e 26 bens móveis ou integrados de Cataguases (MG); o jardim da Igreja
em igrejas individualmente acauteladas. de Nossa Senhora da Conceição da Ja-
De Niemeyer, foram 24 obras tombadas, queira, em Recife; o Terreiro de Jesus, em
7 conjuntos arquitetônicos e inúmeras Salvador; o Parque Ibirapuera, em São
obras protegidas em conjuntos urbanos Paulo; as obras em Brasília ou de autoria
igualmente acautelados. de Oscar Niemeyer (como o Ministério
Dos 1.246 bens tombados pelo Iphan das Relações Exteriores, Ministério da
de 1938 a 2019, 8 são de autoria de Bur- Justiça, Praça dos Cristais, Palácio do
le Marx: o Parque do Flamengo, o Sítio Jaburu, entre muitas outras).
Santo Antônio da Bica e as seis praças Ocorre que Burle Marx é o terceiro
por ele projetadas para o Recife. No en- autor com mais obras protegidas pelo
tanto, se considerarmos as obras do pai- Iphan. Justifica-se! Suas obras são úni-
sagista contidas em conjuntos urbanos cas. E, em última análise, representativas
ou arquitetônicos igualmente tombados, do esforço individual de um brasileiro
a lista é maior, incluindo, por exemplo, na criação de uma forma de expressão
os jardins da Igreja de São Francisco de paisagística genuinamente nacional.
Assis, em Belo Horizonte; do Ministério
da Educação e Saúde Pública, no Rio de
Janeiro; do Conjunto Arquitetônico da
CULTURAL HERITAGE PATRIMÔNIO CULTURAL

instrument and the existence of a non-


explicit policy of valuation of cultural
assets in Brazil was made possible.
An action focused on isolated assets
(buildings with or without collections),
concentrated in the Southeast (46%
of national heritage), particularly the
states of Rio de Janeiro (19%) and Minas
Gerais (16%). If the ‘authorship’ of the
valued assets is observed, one notices
a focus on two names. Especially those
to whom Lucio Costa gave particular
attention, characterising them as being
a genuine “manifestation of national
genius”: Antônio Francisco Lisboa and
Oscar Niemeyer.
Of Aleijadinho’s, Iphan listed, in ad-
dition to the Bom Jesus de Matosinhos
Sanctuary, 7 movable assets, 8 immov-
able assets and 26 assets which are
56

57
movable or integrated with individu- Cataguases (MG), the garden of the Vista aérea do aterro do
Flamengo, bem tombado
ally listed churches. Of Niemeyer’s, 24 Church of Nossa Senhora da Conceição pelo Iphan cujo projeto
works were given listed status, 7 ar- da Jaqueira, in Recife; the Terreiro de paisagístico foi realizado
por Burle Marx.
chitectural complexes and numerous Jesus, in Salvador; Ibirapuera Park, in Página anterior:
works protected in equally protected São Paulo; works in Brasilia or of Oscar projetada por Burle Marx
em 1938, a Praça Salgado
urban complexes. Niemeyer’s authorship (such as the Min- Filho, no aeroporto
Santos Dumont, foi o
Of the 1,246 assets listed by Iphan istry of Foreign Affairs, the Ministry of primeiro projeto público
from 1938 to 2019, 8 are of authorship Justice, Cristais Square, Jaburu Palace, do paisagista realizado
no Rio de Janeiro.
of Burle Marx: Flamengo Park, the Sí- among many others).
Aerial view of Aterro
tio Santo Antônio da Bica and the six It so happens that Burle Marx is the do Flamengo, listed as
squares he designed for Recife. How- third author with the most works pro- heritage by the Instituto
do Patrimônio Histórico
ever, if we consider the landscaper’s tected by Iphan. It is justified! His works e Artístico Nacional
(Iphan) [National
works contained in listed urban or ar- are unique, and, in the final analysis, Institute of Historic and
chitectural complexes, the list is greater, representative of the individual effort of Artistic Heritage], whose
landscaping design was
including, for example, the the gardens a Brazilian in creating a form of genu- carried out by Burle Marx.

of the Church of St Francis of Assis, in inely national landscaping expression. Previous page: designed
by Burle Marx in 1938,
Belo Horizonte; the Ministry of Public Praça Salgado Filho, at
Santos Dumond Airport,
Health and Education, in Rio de Janei- was the first public Project
ro; the Pampulha Architectural Com- by the landscaper carried
out in Rio de Janeiro.
plex, on Belo Horizonte; the square in
nacional, independentemente do momento histórico
ou de suas diferentes denominações administrativas
* Andrey Rosenthal Schlee Arquiteto e urbanista pela
Universidade Federal de Pelotas (1987). Mestre em ar- (Serviço, Diretoria, Secretaria ou Instituto).
quitetura pela Universidade Federal do Rio Grande do 6 Nos termos do Decreto-Lei n. 25, de 30 de novembro
Sul (1994) e doutor em arquitetura e urbanismo pela Uni-
de 1937.
versidade de São Paulo (1999). Atualmente, é professor
titular da Universidade de Brasília. Tem experiência na 7 Nos termos do Artigo 216 da Constituição da Repú-
área de arquitetura e urbanismo, com ênfase em história blica Federativa do Brasil, de 5 de outubro de 1988.
da arquitetura e urbanismo, atuando principalmente
8 Desses, 1.198 são bens homologados e inscritos nos res­
nos seguintes temas: preservação do patrimônio cultu-
pectivos Livros do Tombo e 48 foram aprovados pelo Con-
ral, arquitetura brasileira, arquitetura no Rio Grande do
selho Consultivo do Patrimônio Cultural até agosto de 2019.
Sul e arquitetura e urbanismo em Brasília. Atuou como
Diretor do Departamento de Patrimônio Material do 9 Andrey Schlee, “Apresentação”, em Silvio Caval-
Iphan de 2012 a 2019. cante e Neusa Cavalcante, Barro, madeira e pedra:
patrimônios de Pirenópolis, op. cit., p. 12.

NOTAS 10 Renato Kamp informa que foi em 1902. Renato Kamp,


“Roberto Burle Marx e seus pais, Cecília e Wilhelm”,
1 Silvio Cavalcante e Neusa Cavalcante, Barro, madei-
Revisa Folha, Rio de Janeiro, n. 19, 2009, p. 35.
ra e pedra: patrimônios de Pirenópolis, 2.ed., Brasília,
Iphan, 2019. 11 Flávio Motta informa que a família se mudou para
o Rio de Janeiro em 1913. Flávio Motta, Roberto Burle
2 Andrey Schlee, “Apresentação”, em Silvio Caval-
Marx e a nova visão da paisagem, São Paulo, Nobel,
cante e Neusa Cavalcante, Barro, madeira e pedra:
1983, p. 182.
patrimônios de Pirenópolis, op. cit., p. 11.
12 Joaquim Miguel Couto, Entre estatais e transnacio-
3 Iphan, Política do patrimônio cultural material, Bra-
nais: o polo industrial de Cubatão, tese (doutorado),
sília, Iphan, 2018.
Instituto de Economia da Unicamp, Campinas, 2003.
4 Andrey Schlee, “Apresentação”, em Silvio Caval-
13 Avenida Paulista, nº 56, esquina da rua Augusta.
cante e Neusa Cavalcante, Barro, madeira e pedra:
Projeto do arquiteto Augusto Fried para Alexandre
patrimônios de Pirenópolis, op. cit., p. 11.
Thiollier, 1903. Benedito Lima de Toledo, Álbum ico-
5 Vamos empregar “Iphan” para designar a Autarquia nográfico da Avenida Paulista, São Paulo, Ex Libris,
Federal responsável pela preservação do patrimônio 1987, p. 52-3.
CULTURAL HERITAGE PATRIMÔNIO CULTURAL

regardless of the historical moment or of its different

*(Federal
Andrey Rosenthal Schlee Architect and Urbanist
University of Pelotas, 1987). Holds a master’s
administrative denominations (Service, Board, Secre-
tariat or Institute).
degree in Architecture (Federal University of Rio Grande
6 Under the terms of Decree-Law no. 25, of 30 th No-
do Sul, 1994) and a PhD in Architecture and Urbanism
vember 1937.
(University of São Paulo, 1999). He is currently a full-time
professor at the University of Brasilia. Experienced in the 7 Under the terms of Article 216 of the Constitution of
field of Architecture and Urbanism, with an emphasis the Federative Republic of Brazil, of 5 th October 1988.
on the History of Architecture and Urbanism, working
8 Of these, 1,198 are assets which have been approved
mainly on the following subjects: preservation of cul-
tural heritage, Brazilian architecture, the architecture and registered in the respective Listed Heritage Books,
of Rio Grande do Sul and architecture and urbanism in and 48 were approved by the Cultural Heritage Advisory
Brasilia. He was Director of the Department of Material Council by August 2019.
Heritage at Iphan from 2012 to 2019. 9 Andrey Schlee, “Apresentação”, in Silvio Cavalcante
and Neusa Cavalcante, Barro, madeira e pedra: pat-
rimônios de Pirenópolis, op. cit., p. 12.
ENDNOTES
10 According to Renato Kamp it was in 1902. Renato
1 Silvio Cavalcante and Neusa Cavalcante, Barro,
Kamp, “Roberto Burle Marx e seus pais, Cecília e Wil-
madeira e pedra: patrimônios de Pirenópolis, 2.ed.,
helm”, Revista da Folha, Rio de Janeiro, n. 19, 2009, p.
Brasília, Iphan, 2019.
35.
2 Andrey Schlee, “Apresentação”, in Silvio Cavalcante
11 According to Flávio Motta, the family moved to Rio de
and Neusa Cavalcante, Barro, madeira e pedra: pat-
Janeiro in 1913. Flávio Motta, Roberto Burle Marx e a nova
rimônios de Pirenópolis, op. cit., p. 11.
visão da paisagem, São Paulo, Nobel, 1983, p. 182.
3 Iphan, Política do patrimônio cultural material, Bra-
12 Joaquim Miguel Couto, Entre estatais e transna-
sília, Iphan, 2018.
cionais: o polo industrial de Cubatão, doctoral thesis,
4 Andrey Schlee, “Apresentação”, in Silvio Cavalcante Instituto de Economia da Unicamp, Campinas, 2003.
and Neusa Cavalcante, Barro, madeira e pedra: pat-
13 Avenida Paulista, no. 56, corner of rua Augusta.
rimônios de Pirenópolis, op. cit., p. 11.
Designed by architect Augusto Fried for Alexandre Thio-
5 We will use “Iphan” to refer to the Federal Agency llier, 1903. Benedito Lima de Toledo, Álbum iconográfico
responsible for the preservation of national heritage, da Avenida Paulista, São Paulo, Ex Libris, 1987, p. 52-3.
14 Renato Kamp, “Roberto Burle Marx e seus pais, Ce- 27 Projetado pelo arquiteto Acácio Gil Borsoi, com
cília e Wilhelm”, op. cit., p. 36. interiores de Janete Ferreira da Costa. Obra executada
entre 1993 e 1994.
15 Rua Araújo Gondim, nº 46, Leme. Idem, ibidem.
28 Lucio Costa, Plano-piloto para urbanização da bai-
16 Flávio Motta, Roberto Burle Marx e a nova visão da
xada compreendida entre a Barra da Tijuca, o Pontal de
paisagem, op. cit., p. 182.
Sernambetiba e Jacarepaguá, Rio de Janeiro, 1956, p. 14.
17 São desse período: a Praça do Derby, a Praça de
29 Flávio Motta, Roberto Burle Marx e a nova visão da
Casa Forte, a Praça Artur Oscar, a Praça Euclides da paisagem, op. cit., p. 10.
Cunha e as reformas das praças da República, Dois
Irmãos e do Palácio. 30 Lucio Costa, “Roberto Burle Marx: senhor de Guaratiba”,
em Paulo Peltier de Queiroz et al. (coords.), Burle Marx:
18 Obra dos arquitetos Lucio Costa e Carlos Leão, exe- homenagem à natureza, Petrópolis, Vozes, 1979, p. 14.
cutada na década de 1970.
31 Iphan, Processo n. 1.131-T-84, Sítio Santo Antônio da
19 Projeto de Roberto Burle Marx com a colaboração Bica, Barra de Guaratiba/RJ, p. 1.
do arquiteto Wit-Olaf Prochnik (década de 1950). A
casa foi ampliada e reformada nos anos 1980 e 1990. 32 Ítalo Campofiorito, em Iphan, Processo n. 1.131-T-84,
Sítio Santo Antônio da Bica, Barra de Guaratiba/RJ, p. 2.
20 Executados na década de 1950.
33 Idem, ibidem, p. 3.
21 Os azulejos foram pintados por Roberto Burle Marx
em 1967. 34 Iphan, Processo n. 1.131-T-84, Sítio Santo Antônio da
Bica, Barra de Guaratiba/RJ, p. 10.
22 Executada na década de 1980.
35 Roberto Azevedo Neto, em Iphan, Processo n. 1.131-
23 Projetada e executada por Guilherme Siegfried Marx T-84, Sítio Santo Antônio da Bica, Barra de Guaratiba/
entre 1957 e 1958. RJ, p.18.
24 Projetada pelos arquitetos Rubem Breitman e Ha- 36 Graziela Barroso, em Iphan, Processo n. 1.131-T-84, Sí-
roldo Barroso Beltrão (1963) e executados na década tio Santo Antônio da Bica, Barra de Guaratiba/RJ, p. 19.
de 1960.
37 Idem, ibidem.
25 Executados na década de 1980.
38 O mesmo caminho seguiram Leandro Aristegateta
26 Projetado pelo arquiteto Ary Garcia Roza em 1989 (sic) e George Bunting, do Jardim Botânico de Maracai-
e executado até 1992. bo, e J. P. M. Brenan, do Real Jardim Botânico de Kew.

58

59
14 Renato Kamp, “Roberto Burle Marx e seus pais, Ce- 27 Designed by architect Acácio Gil Borsoi, with interiors
cília e Wilhelm”, op. cit., p. 36. by Janete Ferreira da Costa. Executed between 1993
and 1994.
15 Rua Araújo Gondim, no. 46, Leme. Renato Kamp,
“Roberto Burle Marx e seus pais, Cecília e Wilhelm”, 28 Lucio Costa, Plano-piloto para urbanização da
op. cit., p. 36. baixada compreendida entre a Barra da Tijuca, o
16 Flávio Motta, Roberto Burle Marx e a nova visão da Pontal de Sernambetiba e Jacarepaguá, Rio de Ja-
paisagem, op. cit., p. 182. neiro, 1956, p. 14.

17 From this period: the Derby Square, Casa Forte 29 Flávio Motta, Roberto Burle Marx e a nova visão da
Square, Artur Oscar Square, Euclides da Cunha Square paisagem, op. cit., p. 10.
and the refurbishments of the República, Dois Irmãos 30 Lucio Costa , “ Roberto Burle Marx: senhor de
and Palácio Squares. Guaratiba”, in Paulo Peltier de Queiroz et al. (coords.),
18 By architects Lucio Costa and Carlos Leão, executed Burle Marx: homenagem à natureza, Petrópolis, Vozes,
during the 1970s. 1979, p. 14.

19 Designed by Roberto Burle Marx in collaboration 31 Iphan, Process n. 1.131-T-84, Sítio Santo Antônio da
with the architect Wit-Olaf Prochnik (1950s). The house Bica, Barra de Guaratiba/RJ, p. 1.
was extended and refurbished in the 1980s and 1990s.
32 Ítalo Campofiorito, in Iphan, Process n. 1.131-T-84,
20 Executed during the 1950s. Sítio Santo Antônio da Bica, Barra de Guaratiba/
RJ, p. 2.
21 The tiles (azulejos) were painted by Roberto Burle
Marx in 1967. 33 Idem, ibidem, p. 3.
22 Executed during the 1980s. 34 Iphan, Process n. 1.131-T-84, Sítio Santo Antônio da
23 Designed and executed by Guilherme Siegfried Marx Bica, Barra de Guaratiba/RJ, p. 10.
between 1957 and 1958. 35 Roberto Azevedo Neto in Iphan, Process n. 1.131-T-
24 Designed by architects Rubem Breitman and Haroldo 84, Sítio Santo Antônio da Bica, Barra de Guaratiba/
Barroso Beltrão (1963) and executed during the 1960s. RJ, p.18.

25 Executed during the 1980s. 36 Graziela Barroso in Iphan, Process n. 1.131-T-84, Sítio
Santo Antônio da Bica, Barra de Guaratiba/RJ, p. 19.
26 Designed by architect Ary Garcia Roza in 1989 and
executed by 1992. 37 Idem, ibidem.
Os arranjos feitos 39 Hermes Souza, em Iphan, Processo n. 1.131-T-84, Sítio 49 Apenas em março de 1990 foi finalizada a planta
por Burle Marx foram Santo Antônio da Bica, Barra de Guaratiba/RJ, p. 26. contendo a poligonal de proteção do sítio. Iphan, Pro-
exibidos em exposições, cesso n. 1.131-T-84, Sítio Santo Antônio da Bica, Barra
40 Glauco Campello era o diretor da 6ª DR/ Secretaria
recepções oficiais e de Guaratiba/RJ, p. 114-6.
do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN),
festividades realizadas 50 Escritura de compra e venda, de doação com encar-
cargo equivalente ao do atual superintendente do
dentro e fora de sua gos e outros pactos. Outorgante: Guilherme Siegfried
Iphan no Rio de Janeiro. Sabino Barroso era o coor-
propriedade. Na Marx e outro. Outorgado: Fundação Nacional Pró-Me-
denador da Comissão de Documentação, Estudos e
década de 1960, Marcel mória. Livro 2407, Folhas 98, Ato 41, 11 de março de 1985.
Tombamentos da 6ª DR.
Gautherot registrou
a confecção da 41 Antônio Alcântara, em Iphan, Processo n. 1.131-T-84, 51 Iphan, Processo n. 1.131-T-84, Sítio Santo Antônio da
decoração feita por ele Sítio Santo Antônio da Bica, Barra de Guaratiba/RJ, p. 74. Bica, Barra de Guaratiba/RJ, p. 214-5.
para a festa de Santo 52 Idem, p. 214-5, p. 15.
42 Maria Emília Mattos, Iphan, Processo n. 1.131-T-84,
Antônio, realizada na
Sítio Santo Antônio da Bica, Barra de Guaratiba/RJ, 53 Idem, p. 214-5, p. 75.
capela do sítio.
p. 76.
54 Iphan, Política do patrimônio cultural material, op. cit.
Arrangements made 43 Carlos Fernando Delphim, em Iphan, Processo n. 1.131-
by Burle Marx were T-84, Sítio Santo Antônio da Bica, Barra de Guaratiba/ 55 Burle Marx, citado em “Burle Marx - entrevista: a devas-
displayed at exhibitions, RJ, p. 77. tação é total”, por Oswaldo Amorim, publicada na revista
official receptions, Veja, Edição 263, em 19 de setembro de 1973.
and at festivities held 44 Dora Alcântara, Iphan, Processo n. 1.131-T-84, Sítio
indoor and outdoor his Santo Antônio da Bica, Barra de Guaratiba/RJ, p. 80.
property. A decoration 45 Idem, p. 81.
being made by him for
the Saint Anthony feast, 46 Trata-se da Diretoria de Tombamento e Conserva-
held in the Sítio’s chapel, ção (DTC), que equivale ao atual Departamento de
was recorded by Marcel Patrimônio Material (Depam).
Gautherot in the 1960’s. 47 Alcídio Mafra, em Iphan, Processo n. 1.131-T-84, Sítio
Santo Antônio da Bica, Barra de Guaratiba/RJ, p. 81.
48 Iphan, Ata da 113ª Reunião Ordinária do Conselho
Consultivo, disponível em: <http://portal.iphan.gov.br/
uploads/atas/198501113reuniaoordinaria22dejaneiro.
pdf>, acesso em 9 de setembro de 2019.
CULTURAL HERITAGE PATRIMÔNIO CULTURAL

38 The same path followed by Leandro Aristegateta 48 Iphan, Ata da 113ª Reunião Ordinária do Conselho
(sic) and George Bunting, of the Maracaibo Botanical Consultivo, available at: <http://portal.iphan.gov.br/
Garden, and J. P. M. Brenan, of Kew Gardens. uploads/atas/198501113reuniaoordinaria22dejaneiro.
pdf>, accessed 9 th September 2019.
39 Hermes Souza in Iphan, Process n. 1.131-T-84, Sítio
Santo Antônio da Bica, Barra de Guaratiba/RJ, p. 26. 49 The site’s plan containing the polygon of protection
was only finalised in March 1990. Iphan, Process n. 1.131-
40 Glauco Campello was the director of the 6 th DR/
T-84, Sítio Santo Antônio da Bica, Barra de Guaratiba/
Secretariat of National Historic and Artistic Heritage
RJ, p. 114-6.
(SPHAN), a post equivalent to the current superinten-
dent of Iphan in Rio de Janeiro. Sabino Barroso was 50 Escritura de compra e venda, de doação com encar-
the coordinator of the Commission of Documentation, gos e outros pactos. Outorgante: Guilherme Siegfried
Studies and Listing of the 6th DR. Marx e outro. Outorgado: Fundação Nacional Pró-
Memória. Livro 2407, Folhas 98, Ato 41, 11 de março de
41 Antônio Alcântara in Iphan, Process n. 1.131-T-84,
1985. Deed of purchase and sale, donation with duties
Sítio Santo Antônio da Bica, Barra de Guaratiba/RJ,
and other pacts. Grantor: Guilherme Siegfried Marx and
p. 74.
others. Awarded: National Pro-Memory Foundation.
42 Maria Emília Mattos, Iphan, Process n. 1.131-T-84, Sítio Book 2407, Sheets 98, Act 41, 11th March, 1985.
Santo Antônio da Bica, Barra de Guaratiba/RJ, p. 76.
51 Iphan, Process n. 1.131-T-84, Sítio Santo Antônio da
43 Carlos Fernando Delphim in Iphan, Process n. 1.131- Bica, Barra de Guaratiba/RJ, p. 214-5.
T-84, Sítio Santo Antônio da Bica, Barra de Guaratiba/
52 Idem, p. 214-215, . §p. 015.
RJ, p. 77.
53 Idem, p. 214-215,. § p.075.
44 Dora Alcântara, Iphan, Process n. 1.131-T-84, Sítio
Santo Antônio da Bica, Barra de Guaratiba/RJ, p. 80. 54 Iphan, Política do patrimônio cultural material, op. cit.
45 Idem, p. 81. 55 Burle Marx, cited in “Burle Marx - entrevista: a de­
vastação é total”, interviewed by Oswaldo Amorim, pub-
46 The Directorate of Listing and Conservation (DTC),
lished in Veja magazine, No. 263, on 19th September 1973.
equivalent to the current Department of Material Heri-
tage (Depam).
47 Alcídio Mafra in Iphan, Process n. 1.131-T-84, Sítio
Santo Antônio da Bica, Barra de Guaratiba/RJ, p. 81.
60

61
HISTÓRICO,
CONTEXTO,
ARQUITETURA
HISTORY, CONTEXT
AND ARCHITECTURE
HISTORY, CONTEXT AND ARCHITECTURE HISTÓRICO, CONTEXTO, ARQUITETURA
Introdução botânica com mais de 3,5 mil espécies Burle Marx, em registro
feito por Alair Gomes, no
“Deus, para mim, é a natureza.” Essa fra-
1
cultivadas, organizada em viveiros e sítio, em 1968.
se traduz, em boa medida, o pensamento jardins, convive em harmonia com a ve- Burle Marx, in a photo
e o modo de estar no mundo de Roberto getação nativa. Esse lugar, atualmente taken by Alair Gomes, at
the Sítio, in 1968.
Burle Marx. O sentimento faz lembrar o denominado Sítio Roberto Burle Marx,
poema de Alberto Caeiro que, refletindo fica em Barra de Guaratiba, bairro da
sobre a ideia de Deus, em certa altura Zona Oeste da cidade do Rio de Ja-
sustenta: “Mas se Deus é as flores e as neiro. O seu extraordinário acervo bo-
árvores / E os montes e sol e o luar, / En- tânico, notável tanto pela quantidade
tão acredito nele, / Então acredito nele de exemplares quanto pela diversida-
a toda a hora / E a minha vida é toda de de espécies, é o resultado de um
uma oração e uma missa, / E uma co- colecionamento sistemático realiza-
munhão com os olhos e pelos ouvidos”. 2 do pelo paisagista ao longo da vida,
Desde a primavera até o inverno
da vida, que não foi curta, Burle Marx
viveu em estreita ligação com a na-

O Sítio Roberto
tureza. O mais eloquente testemunho
dessa ligação é a propriedade de 40

Burle Marx
hectares, remanescente de uma fazen-
da do século XVIII, onde uma coleção
64
CLAUDIA STORINO*
65
Introduction The Sítio Roberto
“God, for me, is nature.” 1 This phrase
largely reflects Roberto Burle Marx’s Burle Marx
thought and way of being in the world.
This feeling recalls the poem by Alberto
Caeiro who, reflecting upon the idea of cultivated species, organised in nurser-
God, at a certain point states: “But if God ies and gardens, coexists in harmony
is the flowers and the trees / And the hills with native vegetation. This place, cur-
and sun and the moonlight, / Then I be- rently known as Sítio Roberto Burle
lieve in him, / Then I believe in him all the Marx, is located in Barra de Guaratiba,
time / And my whole life is all a prayer a neighbourhood of the West Zone of
and a mass, / And a communion with my the city of Rio de Janeiro. Its extraordi-
eyes and through my ears.”2 nary botanical collection, notable for
From the spring until the winter of the number of specimens as well as for
his life, which was not short, Burle Marx its diversity of species, is the result of
lived in close connection with nature. the systematic collecting carried out by
The most eloquent testimony to this con- the landscaper throughout his life, on
nection is the 40-hectare property, the expeditions to various regions of Brazil
remnant of an 18th century farm, where and on trips abroad, or through do-
a botanical collection with over 3,500 nations and exchanges. In addition to
coletando espécies em expedições re- Aos quatro anos de idade, transferiu-se
alizadas em diversas regiões do Brasil com os pais e os irmãos – Walter, Helena,
e em viagens ao exterior ou por doa- Gabriella e Haroldo Raphael – para a
ções e intercâmbios. Além da coleção cidade do Rio de Janeiro, onde depois
botânica, a propriedade inclui várias nasceu o irmão mais moço, Guilherme
edificações, lagos, jardins, coleções de Siegfried. Dos pais herdou uma ampla,
arte e uma vasta biblioteca. profunda e diversificada formação cultu-
Nesse sítio residiu um artista ao mes- ral, o amor pela natureza e a confiança
mo tempo singular, universal e multifa- necessária para definir seu caminho na
cetado, nascido de pai alemão e mãe vida e produzir seus próprios modos de
brasileira, cuja presença e atuação em ser, de se expressar e de estar no mundo.
Barra de Guaratiba marcaram profun- Como ele mesmo dizia: “Em certo sentido,
damente o panorama do paisagismo no eu fui o poeta da minha própria vida”.4
mundo, o campo das artes e da arqui- Considerado o maior paisagista do
tetura no Brasil, o perfil socioeconômi- século XX, Burle Marx foi o criador do
co local e o nome da estrada onde se jardim tropical moderno, paradigma no
situa a referida propriedade: Estrada paisagismo mundial integrado ao movi-
Roberto Burle Marx. mento modernista no campo das artes,
Quarto filho de Cecília Burle e Wilhelm da arquitetura e do urbanismo. A men-
Marx, Roberto nasceu em São Paulo.3 te inquieta, a curiosidade criativa e a
HISTORY, CONTEXT AND ARCHITECTURE HISTÓRICO, CONTEXTO, ARQUITETURA

the botanical collection, the property youngest brother was born, Guilherme
includes several buildings, lakes, gar- Siegfried. From his parents he received
dens, art collections and a vast library. a broad, deep and varied cultural up-
This Sítio was home to an artist who bringing, a love of nature and the nec-
was at once singular, universal and essary confidence to choose his path in
multifaceted, born of a German father life and produce his own ways of being
and a Brazilian mother, whose pres- and expression in the world. As he said
ence and activity in Barra da Guara- himself: “In a certain sense, I was the
tiba profoundly marked the panorama poet of my own life.”4
of landscaping in the world, the field of Considered the greatest landscaper
the arts and architecture in Brazil, the of the 20 th century, Burle Marx was the
local socio-economic profile and the creator of the modern tropical garden,
name of the road where the property a paradigm in world landscaping inte-
is located: Estrada Roberto Burle Marx. grated to the modernist movement in
The fourth child of Cecília Burle and the fields of art, architecture and ur-
Wilhelm Marx, Roberto was born in São banism. His restless mind, creative cu-
Paulo. 3 At the age of 4, he moved with riosity and solid cultural background
his parents and siblings – Walter, Hele­ were crucial to the production of his
na, Gabriella and Haroldo Raphael – work, which includes over 2,000 public
to the city of Rio de Janeiro, where his and private gardens in various parts of
sólida formação cultural foram fatores esse respeito em palestras, entrevistas e
decisivos para a produção de sua obra, cartas. Essa preocupação está presente
que inclui mais de 2 mil jardins públicos também em suas conferências versando
e privados em diversas partes do mun- sobre as funções do jardim e dos jardins
do e um extenso repertório no campo botânicos, a percepção dos jardins e
das artes visuais, em variados meios de paisagens como bens culturais de uma
expressão: gravuras, serigrafias, dese- comunidade, a necessidade de conser-
nhos, esculturas, tapeçarias, pinturas vação e preservação da natureza por
sobre diferentes suportes, painéis de ce- meio do uso e da valoração dos recur-
râmica, joias, cenários e figurinos para sos vegetais. Sua atuação nas diversas
teatro, entre outros. Seus projetos pai- áreas do conhecimento trouxe para o
sagísticos se destacam tanto pela fina debate nacional a conservação e o uso
sensibilidade e perícia artística quanto sustentável da diversidade biológica,
pela valorização da flora autóctone e antecipando, em décadas, aquilo que
pela incorporação do conhecimento ocorreria na Conferência das Nações
científico sobre as associações vegetais Unidas sobre o Meio Ambiente e o De-
e sua relação com o ambiente. senvolvimento, 5 realizada no Rio de Ja-
Burle Marx foi pioneiro na ecologia neiro, na qual se estabeleceu a Conven-
e ferrenho defensor da conservação ção sobre Diversidade Biológica.6 Cabe
do meio ambiente, manifestando-se a lembrar que foi no Aterro do Flamengo,
66

67
Roberto Burle Marx
(atrás do pai), com a
família no jardim de
casa, no Rio de Janeiro.

Roberto Burle Marx


(behind his father),
with his family in the
garden of their house
in Rio de Janeiro.
obra-prima de Burle Marx, que ocorreu a preservação da propriedade e das
o denominado Fórum Global, encontro coleções ali reunidas. Na escritura de
paralelo à Eco-92 que teve entre os seus doação, fixou uma série de encargos,
resultados a aprovação da Declaração entre eles a mudança do nome do então
do Rio de Janeiro, também conhecida “Sítio Santo Antônio da Bica” para “Sí-
como Carta da Terra.7 tio Roberto Burle Marx” e sua utilização
Expressando o modo de estar no “como um centro de estudos e pesquisas
mundo e a originalidade desse artista relacionadas com paisagismo e con-
multifacetado e inventivo, o Sítio Rober- servação da natureza”.8 Dessa forma, o
to Burle Marx esgarça as fronteiras en- sítio tornou-se um órgão da Fundação
tre o patrimônio material e o imaterial, Nacional Pró-Memória, autarquia vincu-
entre a arte popular e a arte erudita, lada ao Ministério da Cultura do Brasil
entre os entes naturais e as obras da e sucedida pelo Instituto do Patrimônio
criação humana; ele é um testemunho Histórico e Artístico Nacional (Iphan),
de que, na vida real, natureza e cultura, em cuja estrutura administrativa figura
arquitetura e paisagem natural, urbano hoje na categoria de Unidade Especial.
e rural estão muito mais conectados do A opção pela doação ao governo
que frequentemente se imagina. federal foi providencial, pois garantiu: a
Em 1985, Burle Marx doou o seu sítio preservação da propriedade e de todo
ao governo federal, visando garantir o seu patrimônio cultural e natural; a
HISTORY, CONTEXT AND ARCHITECTURE HISTÓRICO, CONTEXTO, ARQUITETURA

Projeto para os jardins the world and an extensive repertoire among others. His landscape projects
da residência de Odete
Monteiro. in the visual arts in various media of are notable for their fine sensibility and
Project for the gardens
expression: engravings, screen prints, artistic expertise as well as their ap-
of Odete Monteiro’s drawings, sculptures, tapestries, paint- preciation of indigenous flora and the
residence.
ings on different media, ceramic panels, incorporation of scientific knowledge of
jewellery, theatre scenery and costumes, associations between plants and their
relationship with the environment.
Burle Marx was a pioneer in ecol-
ogy and a staunch advocate for envi-
ronmental conservation, speaking out
in lectures, interviews and letters. This
concern is also present in his confer-
ences on the functions of the garden
and botanical gardens, the perception
of gardens and landscapes as cultural
assets of a community and the need
for conservation and preservation of
nature via the use and valuing of plant
resources. His activity in diverse areas
of knowledge introduced conservation
68

69
and sustainable use of biological di- human creation; it is a testimony to the Considerado o maior
paisagista do século XX,
versity to the national debate decades idea that, in real life, nature and culture, Burle Marx foi premiado
before the United Nations Conference architecture and natural landscape, the na Bienal de São Paulo
de 1953 pelo projeto para
on Environment and Development5 was urban and the rural, are far more con- os jardins da residência
de Odette Monteiro em
held in Rio de Janeiro, Brazil, in which nected than is often imagined. Correias, Petrópolis (RJ).
the Convention on Biological Diversity6 In 1985, Burle Marx donated his site Considered the greatest
was established. It is worth recalling that to the federal government as a way to landscape artist of
the 20 th century, Burle
the Flamengo Park, Burle Marx’s mas- ensure the preservation of the prop- Marx was awarded a
prize at the São Paulo
terpiece, was the site where the Global erty and the collections therein. In the Biennial of 1953 for the
Forum was held, in parallel to the Eco- donation deed there are a series of garden project of Odette
Monteiro’s residence in
92, which resulted in the approval of undertakings, among which are the Correias, Petrópolis.

the Declaration of Rio de Janeiro, also change of name from “Sítio Santo An-
known as the Earth Charter.7 tônio da Bica” to “Sítio Roberto Burle
Expressing the way of being in the Marx” and its use “as a centre for stud-
world and the originality of this mul- ies and research related to landscaping
tifaceted and inventive artist, the Sítio and nature conservation.”8 As such, the
Roberto Burle Marx breaks the bound- Sítio became an organ of the National
aries between material and immaterial Pro-Memory Foundation, a public body
heritage, between folk and high art, linked to the Ministry of Culture of Brazil
between natural beings and works of and succeeded by the National Insti-
incorporação, na qualidade de servi- tural sob sua guarda, e constituir-se
dores federais, dos jardineiros treinados como centro de memória e de estudos,
por Burle Marx ao corpo funcional da construtor e difusor de conhecimentos
instituição; a dotação de um orçamento nos campos do paisagismo, da paisa-
anual e de condições para a gestão e gem, da conservação ambiental e das
o gradual desenvolvimento institucio- artes” e, por visão, “consolidar-se como
nal do sítio, visando a sua qualificação centro de pesquisa e de referência da
como instituição de memória e lugar de obra de Burle Marx, alinhado à visão
estudo, pesquisa e difusão dos temas e à missão institucional do Iphan e em
fixados pelo paisagista – paisagismo e consonância com a Política Nacional
conservação da natureza –, bem como de Patrimônio Cultural”.
de outros assuntos afetos ao universo de Este texto apresenta ao leitor o Sítio
Roberto, tais como a botânica e as artes. Roberto Burle Marx em sua constituição
Consciente de sua função social e de física e numa perspectiva temporal: a
sua capacidade de proporcionar uma aquisição da propriedade e o desen-
percepção singular sobre o modo de volvimento institucional; o aspecto de
viver, criar e estar no mundo de Burle “laboratório paisagístico” assumido
Marx, o sítio tem por missão institucional pelo sítio; uma descrição do bem cultu-
“preservar, pesquisar e divulgar a obra9 ral; e, finalmente, o seu lugar no mundo
do artista, com base no patrimônio cul- contemporâneo.
HISTORY, CONTEXT AND ARCHITECTURE HISTÓRICO, CONTEXTO, ARQUITETURA

Ubaeté (grande árvore) tute of Historical and Artistic Heritage


na estrada de Guaratiba.
No livro O sertão carioca, (Iphan), whose administrative structure
Magalhães Corrêa presently falls within the category of
apresenta alguns dos
elementos que caracteri­ ‘Special Unit’.
zavam o bairro de
Guaratiba, como trechos Donating the site to the federal gov-
da Estrada de Guaratiba, ernment proved to be providential, as
um dos importantes
acessos à região. it guaranteed the preservation of the
Ubaeté (big tree) on property and its entire cultural and
the Guaratiba road.
In the book O sertão
natural heritage, the incorporation,
carioca, Magalhães as federal servants, of the gardeners
Corrêa presents some
of the characteristic trained by Burle Marx and the insti-
features of the Guaratiba
neighborhood, such
tution’s staff and the provision of an
as stretches of the annual budget and conditions for the
Guaratiba road, one of
the important access management and gradual institutional
routes to the region.
development of the Sítio, with a view
to its qualification as an institution of
memory and place of study, research
and dissemination of the areas set by
the landscaper – landscaping and na-
ture conservation – as well as other sub-
Guaratiba
A região de Guaratiba é habitada há
mais de 3 mil anos. Seus primeiros ocu-
pantes humanos, coletores-caçadores
que viviam de pesca, coleta de molus-
cos e caça, foram sucedidos por grupos
da etnia tupi,10 que lhe deram o nome.11
Em 1579, na esteira da estratégia ado-
tada pelo governo português de doar
grandes sesmarias na região visando
garantir a colonização e a defesa do
território, o português Manoel Velloso
Espinha recebeu da Coroa portuguesa
uma sesmaria em Guaratiba, em cujas
terras ele e sua família implantaram en-
genhos de produção de açúcar e aguar- seus proprietários, foram subdivididos
dente para exportação. O território se em fazendas e engenhos menores, situ-
desenvolveu com a instalação desse e ados nas baixadas ao redor do Maciço
de outros extensos engenhos que, com da Pedra Branca.12 Entre eles estava o
o passar do tempo e a sucessão dos Engenho da Bica, assim denominado
70

71
jects close to Roberto’s universe, such This text introduces the reader to the Augusto Malta, fotógrafo
da prefeitura da Cidade
as botany and the arts. Sítio Roberto Burle Marx in its physical do Rio de Janeiro, incluiu
Aware of its social function and ca- constitution and from a temporal per- no Álbum da cidade do Rio
de Janeiro – Comemorativo
pacity to provide singular insight into spective: the acquisition of the property do 1º centenário da
Independência do Brasil
the way of living, creating and being in and its institutional development; the 1822/1922 a praia de pescaria
the world of Burle Marx, the Sítio insti- ‘landscaping laboratory’ aspect as- na Pedra de Guaratiba
como um dos recantos
tutional mission is to “preserve, research sumed by the Sítio; a description of the pitorescos da cidade.

and disseminate the work9 of the artist, cultural asset; and, finally, its place in Augusto Malta,

based on the cultural heritage under its the contemporary world. photographer for the City
Hall of Rio de Janeiro city
custody, and to constitute itself as the included in Album of the

Guaratiba
city of Rio de Janeiro -
center for memory and study, the builder Commemoration of the

and disseminator of knowledge in the The Guaratiba region has been inhab- 1 st Centenary of Brazilian
Independence 1822/1922
fields of landscaping, landscape, en- ited for over 3,000 years. Its first hu- the fishing beach of
Pedra de Guaratiba as
vironmental preservation and the arts” man occupants, hunter-gatherers who one of the picturesque

and aims to “become consolidated as lived on fishing, shellfish gathering and locations in the city.

the center for research and reference on hunting, were succeeded by Tupi ethnic
the work of Burle Marx, aligned to the groups,10 who named it Guaratiba.11
institutional vision and mission of Iphan In 1579, on the back of the strategy
and in consonance with the National adopted by the Portuguese government
Cultural Heritage Policy. of donating large plots of land (known as
por possuir uma bica d’água que abas- gado e a produção de hortifrutigran-
tecia a população local. No século XVII, jeiros. Até meados da década de 1950,
com a construção da capela dedicada os laranjais e os bananais predomina-
a Santo Antônio, esse engenho rece- vam na região rural em torno do ma-
beu o nome Santo Antônio da Bica, que ciço da Pedra Branca. É nessa época,
passou a designar também o morro por mais precisamente em 1949, que Roberto
onde se estendiam suas terras. Burle Marx e Guilherme Siegfried Marx
A transferência da corte portuguesa chegam a Guaratiba, adquirindo o pri-
para o Brasil, em 1808, gerou um con- meiro dos três terrenos remanescentes
siderável crescimento da população da Fazenda da Bica que compõem o
da cidade do Rio de Janeiro e, conse- atual Sítio Roberto Burle Marx.
quentemente, aumentou a importância A atuação de Burle Marx na região
da zona rural como fonte de abasteci- produziu um impacto importante na
mento de víveres para essa população. economia local, ao introduzir a pro-
Em Guaratiba, as grandes fazendas de dução de plantas ornamentais, nova
café e de açúcar foram gradualmente vocação desenvolvida nas terras de
divididas em glebas dedicadas ao for- Guaratiba, e ao contribuir para a for-
necimento de gêneros alimentícios para mação de diversos profissionais, que se
a capital em expansão, com o cultivo tornaram, a partir da década de 1990,
de laranjas e bananas, a criação de proprietários de hortos13 e que, por sua
HISTORY, CONTEXT AND ARCHITECTURE HISTÓRICO, CONTEXTO, ARQUITETURA

sesmarias) to secure the colonisation and The transfer of the Portuguese Crown
defense of the territory, Manoel Velloso to Brazil, in 1808, generated consider-
Espinha received a sesmaria in Guaratiba able growth of the population of the city
from the Portuguese crown, on which he of Rio de Janeiro, and consequently in-
and his family installed mills to produce creased the importance of rural zones
sugar and alcohol for export. The territory as a source of food for the population.
developed with the installation of these In Guaratiba, large coffee and sugar
and other large mills which, over time plantations were gradually divided into
and successive owners, were subdivided plots destined for supplying food for the
into farms and smaller mills, located on expanding capital, with the cultivation
the slopes around the Maciço da Pedra of oranges and bananas, the raising of
Branca.12Among them was the Bica Mill (or livestock and the production of horti-
to give it its Portuguese name, Engenho da cultural produce. Until the mid 1950s,
Bica), so named for having a spring [bica orange and banana groves were pre-
d’água] which supplied the local popula- dominant in the rural region surrounding
tion. In the 17th century, with the building the Pedra Branca massif. It is at this time,
of a chapel dedicated to Saint Anthony, more precisely in 1949, that Roberto Burle
the mill was then named Santo Antônio Marx and Guilherme Siegfried Marx ar-
da Bica, which also became the name rive at Guaratiba, acquiring the first of
of the hill on which its lands extended. three remaining lands of the Fazenda
vez, influenciaram outros produtores
que vivem dessa atividade.
Estou mostrando um pouco
Sítio Roberto Burle Marx: aquilo que o Brasil tem de rico,
propriedade, arca de
possibilidades, obra de arte extraordinário, maravilhoso:
A dimensão mística e poética de Burle cada dia que passo ali estou
Marx explode em diversos momentos e diante de um pedaço que
com muita frequência. No texto anterior, parece uma oração, que parece
de Andrey Rosenthal Schlee, em uma
referência explícita ao sítio que hoje leva
um poema, que parece um
seu nome, revela-se o intenso sentimento cântico, em que a natureza se
que inspirou a constituição da proprie- expressa com a violência que
dade e a extraordinária obra de arte em ela tem, de beleza e de razão
que ela se converteu, com a dedicação
de existência.14
permanente do paisagista demiurgo.
O Sítio Roberto Burle Marx está situ-
I am showing a little of the extraordinary,
ado na Estrada Roberto Burle Marx n.
marvellous wealth of Brazil: that’s why
2019, em Barra de Guaratiba, bairro da
I am there every day, faced with a piece
Zona Oeste do município do Rio de Ja-
of what seems a prayer, a poem, a song,
in which nature expresses herself with the 72
violence she possesses, of beauty and
73
reason for existence.14
da Bica which currently comprise the
Sítio Roberto Burle Marx.
The activity of Burle Marx in the re- ROBERTO BURLE MARX
gion caused a significant impact on the
local economy by introducing the pro-
duction of ornamental plants, a new
vocation discovered on the lands of Rosenthal Schlee, explicitly referring to
Guaratiba, and by contributing to the the Sítio which today bears his name,
training of various professionals who reveals the intense sentiment which in-
became, from the 1990s onwards, own- spired the constitution of the property
ers of orchards13 and in turn influenced and extraordinary work of art into which
other producers who make their living it was converted, with the permanent
from this activity. dedication of the demiurge landscaper.
Sitio Roberto Burle Marx is located
Sitio Roberto Burle Marx: on Roberto Burle Marx road (n. 2019), in
property, arch of possibilities, Barra de Guaratiba, a neighbourhood
work of art of the West Zone of the city of Rio de
The mystical and poetic dimension of Janeiro, in the State of Rio de Janeiro.
Burle Marx explodes at various times The land, with a total area of 405,325.63
and often. In the previous text, Andrey square metres, rises from 5m above sea
Manguezal situado neiro, estado do Rio de Janeiro. O terre- paisagista, deveriam possuir caracterís-
nos terrenos abaixo da
propriedade. A procura no, com área total de 405.325,63 metros ticas específicas, de modo a viabilizar o
do terreno ideal para a
quadrados, eleva-se de 5 metros aci- uso proposto, tais como: boa diversida-
instalação da coleção
botânica do paisagista ma do nível do mar até uma altitude de de morfológica; rochas afloradas; água
incluía a preocupação
com o ambiente do 395 metros, pela vertente oeste da Serra abundante; solo adequado; ambiente
entorno, que deveria
Geral de Guaratiba, no Morro de Santo de entorno suficientemente íntegro e
viabilizar o intuito
proposto por Burle Marx Antônio da Bica, pertencente ao maciço protegido da especulação imobiliária.19
para a propriedade.
da Pedra Branca, tendo como limite su- No documentário Eu, Roberto Burle
Mangrove located in
the lowlands next to the
perior a linha de cumeada do morro. A Marx, produzido para a Rede Manchete
property. The search partir da altitude de 100 metros, integra por Soraia Cals e Tamara Leftel em 1989,
for the ideal land for
the installation of the o Parque Estadual da Pedra Branca.15 quando Burle Marx completou oitenta
landscaper’s botanical
collection included
O terreno natural desse local apresen- anos, ele afirma: “Santo Antônio da Bica
the concern with the ta três tipos de vegetação autóctone: tem uma importância extraordinária na
surrounding environment,
which should make na parte mais baixa, o manguezal;16 na minha vida (...) [estivemos] procurando
possible Burle Marx’s
intention regarding
parte média, a vegetação de restinga;17 quase que dois anos um lugar, porque
that property. e, na parte mais alta, a Mata Atlântica.18 eu queria um lugar que tivesse bonita
Os terrenos que compõem a proprie- vista, que tivesse pedras e água, o que
dade foram adquiridos após uma lon- eu consegui”. Os irmãos Roberto e Gui-
ga procura, pois, como se destinavam lherme Siegfried Burle Marx adquiriram
à instalação da coleção botânica do os terrenos que constituem o Sítio Santo
HISTORY, CONTEXT AND ARCHITECTURE HISTÓRICO, CONTEXTO, ARQUITETURA

level to 395m along the western slope


of the Serra Geral de Guaratiba, on the
Santo Antônio da Bica morro, which is
part of the Pedra Branca massif, with
its upper limits extending to the hill’s
ridge line. From an altitude of 100m on-
wards, it becomes part of the Pedra
Branca State Park.15 The Sítio’s natural
terrain consists of three types of local
vegetation: in the lower part, the man-
groves;16 in the middle part, restinga
vegetation;17 and at the highest part,
Atlantic Forest.18
The lands which make up the prop-
erty were acquired after a long search,
as specific characteristics were required
for housing the landscaper’s botanical
collection, such as good morphological
diversity, outcropped rocks, abundant
water, adequate soil and sufficiently in-
Antônio da Bica entre 1949 e 1981, em setores diferentes da propriedade e de
etapas sucessivas, anexando progres- acordo com seus elementos constituti-
sivamente as áreas compradas de di- vos – a topografia, as rochas, a água
versos proprietários. Ao mesmo tempo –, arranjos experimentais de plantas,
que ampliavam a área da propriedade, em conformidade com as associações
realizavam as intervenções necessárias, botânicas observadas na natureza.
como a instalação de infraestrutura, a Resultado do empenho e da inven-
construção e ampliação das edifica- tividade de Roberto e Siegfried, o sítio
ções e dos viveiros de plantas e o de- inclui atualmente oito edificações,20 além
senvolvimento das áreas ajardinadas. de sete lagos, 21 tudo isso permeado por
Na primeira faixa de terreno adqui- uma excepcional coleção botânico-
rida havia a antiga capela do Engenho -paisagística disposta ao longo da pro-
da Bica, dedicada a Santo Antônio, e, priedade numa paisagem ajardinada
junto dela, uma casa modesta, em mui- com extraordinário sentido artístico. As
to mau estado de conservação. Com o edificações estão implantadas em três
tempo, Burle Marx restaurou a capela níveis diferentes do terreno: o edifício
e reformou a casa, ampliando-a até da administração e a casa de pedra
que atingisse a feição atual. A paisa- estão próximos do nível da estrada; o
gem ajardinada do sítio foi produzida à conjunto arquitetônico formado pela
medida que Burle Marx compunha, em Casa de Roberto, pela loggia, 22 pela
74

75
tact surrounding environment protected ture, the construction and extension of
from real estate speculation.19 buildings and plant nurseries, and the
In the documentary Eu, Roberto development of garden areas.
Burle Marx, produced for Rede Man- On the first plot of land acquired
chete by Soraia Cals and Tamara Lef- there stood the old chapel of Engenho
tel in 1989, when Burle Marx turned 80, da Bica, dedicated to St Anthony, and
he stated: “Santo Antônio da Bica is of a modest house in an advanced state of
extraordinary importance in my life (...) disrepair. Over time, Burle Marx restored
[we] searched for a place for almost two the chapel and refurbished the house,
years, because I wanted a place with a extending it until it reached its current
nice view, with rocks and water, which state. The garden-like landscape of the
I got.” The brothers Roberto and Guil- Sítio was produced as Roberto Burle
herme Siegfried Burle Marx acquired the Marx composed, in different sectors of
lands which constitute the Sítio Santo the property and according to their con-
Antônio da Bica between 1949 and 1981, stitutive elements – topography, rocks,
in successive stages, progressively an- water – experimental arrangements of
nexing areas purchased from several plants, in accordance with botanical
owners. At the same time the area of associations observed in nature.
the property was extended, necessary As a result of the effort and inven-
interventions were made for infrastruc- tiveness of Roberto and Siegfried, the
HISTORY, CONTEXT AND ARCHITECTURE HISTÓRICO, CONTEXTO, ARQUITETURA

Afloramentos rochosos Sítio currently includes eight buildings, 20 on indigenous tropical plants of Brazil.
naturais usados como
suporte para a coleção as well as seven lakes, 21 permeated by Gathered from expeditions to various
das espécies de saxícola. an exceptional botanical-landscape phytogeographic regions of the country
A presença de pedras
e água foi critério collection arranged throughout the and abroad, and from donations and
importante para a
escolha da propriedade property in a garden-landscape of ex- exchanges, it traces a special overview
que abrigaria a coleção traordinary artistic sense. The buildings of Brazilian flora and constitutes one of
botânica de Burle Marx.

Página seguinte: detalhe


are located on three different levels: the the most important collections of living
de um exemplar de administration building and the stone plants in the world. Burle Marx often
Melocactus bahiensis em
uma das rochas do sítio. house are at the level of the road, the manifested his commitment to the con-
Natural rocky outcrops
architectural ensemble formed of Ro- stitution of the collection as a way of
used as a support for the berto’s House, the loggia, 22 Santo An- preserving the tropical flora, an affir-
collection of saxicolous
species. The presence of tônio da Bica Chapel, the ballroom (or mation of his great effort to perpetuate
stones and water was an
important criterion for
stone kitchen) and the cellar building the existence of plants doomed to dis-
choosing the property are located at an elevation of between appear. At conferences he would also
that would house
Burle Marx’s botanical 35 and 40 metres and the studio was reaffirm his enthusiasm for collecting
collection.
built at the height of 45 metres. plant species: “I want to tell you some-
Next page: detail of a
specimen of Melocactus The botanical collection of the Sí- thing about the violent attraction I feel
bahiensis on one of the
tio Roberto Burle Marx, cultivated in for travelling in search of new plants. It
rocks of the Sítio.
nurseries and organised into gardens is as if the forest was offering a treasure
by the artist himself, places emphasis which exists only for those who seek it.
Capela de Santo Antônio da Bica, pelo tropical, afirmando seu grande esforço
salão de festas (ou cozinha de pedra) e na intenção de perpetuar a existência de
pelo prédio da adega está localizado plantas fadadas ao desaparecimento.
na cota altimétrica entre os 35 e os 40 Em suas conferências, também reafir-
metros; o ateliê foi construído na cota ma seu entusiasmo pelo colecionamento
dos 45 metros. das espécies vegetais: “Quero dizer-lhes
O acervo botânico do Sítio Roberto algo sobre a atração violenta que sin-
Burle Marx, cultivado em viveiros e or- to pelas viagens em busca de novas
ganizado em jardins pelo próprio artista, plantas. É como se a floresta estivesse
enfatiza as plantas tropicais autóctones a oferecer um tesouro, que existe ape-
do Brasil. Reunido a partir de expedi- nas para aquele que o busca. Cada dia
ções às diversas regiões fitogeográfi- que passa, mais sinto o quanto é breve
cas do país e do exterior, de doações a minha vida para conhecer e explorar
e intercâmbios, ele traça um panorama todos os tesouros da flora brasileira”. 23
especial da flora brasileira e constitui Diante dessa perspectiva e com a
uma das mais importantes coleções de intensidade do desejo de ampliar cada
plantas vivas do mundo. Burle Marx, vez mais a sua coleção botânica, ao
por diversas vezes, manifestou seu em- mesmo tempo salvando numerosas es-
penho na constituição dessa coleção pécies de uma possível destruição, o sí-
como forma de preservação da flora tio foi se tornando como que uma arca,
76

77
With each day that passes I feel that scientific work which formed the basis
my life is too brief to know and explore of the new landscaping category of the
all the treasures of Brazilian flora.” 23 modern tropical garden.
From this perspective, and with an in-
tense desire to ever expand the botani-
cal collection, as well as saving numer-
ous species from possible destruction,
the Sítio became something like an ark,
a repository, a possessor of a treasure
collected for application in the present
and a possible future where humanity
might grasp its inestimable worth and
benefit from it, both as landscape reper-
toire as well as natural heritage and ge-
netic bank. It is in this sense that one can
say that the Sítio Roberto Burle Marx
is an ark of possibilities. Based on this
collection and its organisation into vari-
ous landscape environments, Roberto
carried out the aesthetic, technical and
HISTORY, CONTEXT AND ARCHITECTURE HISTÓRICO, CONTEXTO, ARQUITETURA
um repositório, possuidor de um tesouro O interesse de Burle Marx
pelo diálogo entre forma,
recolhido para aplicação no presente e cor, volume e textura
em um futuro possível onde a humani- das plantas norteia a
organização que faz da
dade talvez possa perceber o seu valor vegetação tanto em seus
projetos paisagísticos
inestimável e dele se beneficiar, tanto quanto nos espaços
como repertório paisagístico quanto ajardinados do sítio.

como patrimônio natural e banco gené- Burle Marx’s interest


in the dialogue among
tico. É nesse sentido que se pode dizer the shape, the color, the
volume and the texture
que o Sítio Roberto Burle Marx é uma of the plants guides
arca de possibilidades. A partir dessa his organization of the
vegetation both in his
coleção e com a sua organização nos landscaping projects and
in the garden spaces of
diversos ambientes da paisagem do sí- the Sítio.
tio foi que Roberto realizou as experiên-
cias estéticas, técnicas e científicas que
embasaram o novo partido paisagístico
do jardim tropical moderno.
Faz parte do sítio um acervo museo­
lógico24 de mais de mais de 3 mil itens
que constitui o maior e mais importante
registro de memória da vida e obra do
78

79
The Sítio is home to a museological
collection 24 of over 3,000 items which
constitute the largest and most impor-
tant record of the life and work of the
artist who designed the gardens of the
Gustavo Capanema Palace. In addition
to the artworks, the Sítio preserves his
library, his residence with all furniture
and personal objects and his collec-
tions of sacred art, pre-Columbian ce-
ramics, shells, folk art and design ob-
jects. The Sítio Roberto Burle Marx can
and must be considered, in its totality,
a work of art, in the broadest sense of
the term. It is a notable reflection of the
culture, the creative energy and scien-
tific concern of Burle Marx, whose work
in producing the modern concept of the
tropical garden constitutes a special
paradigm in the field of the modern-
artista que projetou os jardins do Palá- de jardim com composição geometriza-
cio Gustavo Capanema. Além das obras da de rigor formal para o conceito de
de arte, estão preservadas no sítio: sua modernidade do jardim tropical como
biblioteca; sua residência com todo o forma de manifestação artística.
mobiliário e objetos pessoais; suas co- No Sítio Roberto Burle Marx, o pen-
leções de arte sacra, cerâmica pré-co- samento e as formas de expressão de
lombiana, conchas, objetos de design e seu demiurgo podem ser acessados e
arte popular. O Sítio Roberto Burle Marx compreendidos de modo especial. Esse
pode e deve ser considerado, em sua é um aspecto frequentemente destaca-
totalidade, como uma obra de arte, no do por seus amigos e por estudiosos
sentido mais amplo do termo. Espelha de sua obra. Podemos mencionar três
de forma notável a cultura, a energia exemplos. De acordo com a pesqui-
criadora e a preocupação científica de sadora Vera Siqueira: “No sítio cabia
Burle Marx, cuja obra, ao produzir o o mundo inteiro; Burle Marx construiu
conceito moderno de jardim tropical, para si um ambiente em que os valores
constituiu um paradigma especial no estéticos eram centrais”. 25 Lélia Coelho
âmbito do movimento modernista bra- Frota, poeta, museóloga, antropóloga,
sileiro. Trata-se de um referencial de crítica de arte e amiga de Roberto, diz:
paisagem construída, um testemunho “Ir à casa de Burle Marx (...) é ingressar
vivo da mudança do conceito europeu em um estuário de objetos carregados
HISTORY, CONTEXT AND ARCHITECTURE HISTÓRICO, CONTEXTO, ARQUITETURA

ist Brazilian movement. It is a model of “Going to Burle Marx’s house (...) was
built landscape, a living testimony of the to enter an estuary of objects charged
change from the European concept of with poetic emotion.”26 Carlos Fernando
the garden with formally rigorous ge- de Moura Delphim, landscaper-archi-
ometrized compositions to the concept tect and friend of Burle Marx, affirms:
of modernity of the tropical garden as “ Within a limited space, using only
a form of artistic manifestation. his own resources, Roberto created a
At the Sítio Roberto Burle Marx, the world, a miniature world, praising the
thought and forms of expression of its beauty of nature and the work of man.
demiurge can be accessed and under- A world where nature was reinvented
stood in a special way. This aspect is and sacralised, where relations of af-
often stressed by his friends and schol- fect between creatures were practiced
ars of his work. We can cite three ex- and stimulated. An example to be pre-
amples. According to researcher Vera served, valued and disseminated! Ro-
Siqueira: “On the Sítio the whole world berto dreamt and built a utopia.” 27
changes; Burle Marx built for himself This singular and exceptional micro-
an environment in which aesthetic val- cosm, full of cultural and humanist refer-
ues were central.” 25 Lélia Coelho Frota, ences of universal value, was proposed
poet, museologist, anthropologist, art by Iphan and accepted by UNESECO, in
critic and friend of Roberto’s, says: 2015, as a candidate for World Heritage.
de emoção poética”. 26 Carlos Fernando
de Moura Delphim, arquiteto-paisagista
e amigo de Burle Marx, sustenta: “Den- Santo Antônio da Bica tem uma
tro de um espaço limitado, utilizando-
importância extraordinária
-se apenas de seus próprios recursos,
Roberto criou um mundo, um mundo na minha vida (…) abriga uma
em miniatura, louvando a beleza da coleção que estou fazendo
natureza e a obra do homem. Um mun- desde a idade de sete anos.
do onde a natureza foi reinventada e
sacralizada, onde as relações de afeto
Hoje, nos meus oitenta anos [a
entre as criaturas eram praticadas e coleção] tem mais de 3,5 mil
estimuladas. Um exemplo a ser preser- espécies. E, sempre, quando
vado, valorizado e difundido! Roberto vou para outro país, procuro
sonhou e concretizou uma utopia.” 27
Esse microcosmo excepcional e sin-
trazer as plantas que possam se
gular, repleto de referências culturais e desenvolver aqui. De maneira
humanísticas de valor universal, foi pro- que foi o meu cadinho, foi
posto pelo Iphan e aceito pela UNESCO,
o lugar onde fiz as minhas
em 2015, como candidato a Patrimônio
da Humanidade.
experiências, e onde continuo
fazendo, continuo aprendendo. 80
Porque foi [a partir] dos meus
81
erros que aprendi, muitas vezes,
The laboratory,
Roberto’s “crucible” a cultivar plantas. 28
The Sítio Roberto Burle Marx is indeed
a work of art. Its landscapes are unde- Santo Antônio da Bica has an extraordinary
niably the most outstanding element, importance in my life (...) home to a
permeating and linking the entire set collection which I began at the age of 7.
with a powerful personality. The Sitio Today, at the age of 80, [the collection] has
landscaped spaces have a special over 3,500 species. And whenever I go on
character, unlike that of all other gar-
an excursion, when I go to another country,
I always seek to bring back plants which
dens - even Burle Marx’s ones, as they
may develop here. So it was my crucible,
materialise both the landscaping prin-
the place where I could experiment, and I
ciples present in his work as well as the
continue to do so, and continue to learn.
processes of analysis, cultivation and
Because it was [from] my mistakes that I
experimentation which led to the cre-
often learnt how to grow plants. 28
ation of modern tropical landscaping.
The presence, diversity and strength
of the vegetation is organised into dia-
logues of form, colour and volume, which ROBERTO BURLE MARX
are the raison d’être and central element
of the Sítio, permeating all environments
Em seu “cadinho”, Burle O laboratório, tio, que permeiam todos os ambientes,
Marx realizou a
experimentação que o “cadinho” de Roberto mas também se articulam e interagem
subsidiou sua produção O Sítio Roberto Burle Marx é de fato com a mata nativa, com a topografia e
paisagística e
fundamentou seu conceito uma obra de arte. Suas paisagens são os acidentes naturais do terreno e com
moderno de jardim.
inegavelmente o elemento que mais se elementos artísticos e arquitetônicos de
In his “crucible”, Burle
Marx carried out
destaca, permeando e ligando todo o diferentes épocas e culturas, resultam
the experimentation conjunto com poderosa personalidade. numa paisagem notável e singular.
that backed up his
landscaping production Os espaços ajardinados do sítio têm um Há nos jardins toda uma camada de
and supported his modern
concept for a garden.
caráter especial, distinto de todos os ou- conhecimento científico que os precede
tros jardins, mesmo os do próprio Burle e permeia. Burle Marx evidencia, em seu
Marx, pois materializam tanto os princí- discurso, essa dimensão conceitual que
pios paisagísticos presentes em sua obra caracteriza o sítio como um laborató-
quanto os processos de análise, cultivo rio paisagístico, o “cadinho” onde ele
e experimentação que levaram à cria- realizou a experimentação que subsi-
ção do paisagismo tropical moderno, diou sua produção paisagística e fun-
conferindo-lhes o caráter de unicidade. damentou seu conceito de jardim: “(...)
A presença marcante, a diversidade dizer que esta coleção para mim não
e a pujança da vegetação organizada tem uma importância muito grande?
em diálogos de forma, cor e volume, Não seria possível fazer jardins sem o
razão de ser e elemento central do sí- meu cadinho, o lugar onde eu fiz as
HISTORY, CONTEXT AND ARCHITECTURE HISTÓRICO, CONTEXTO, ARQUITETURA

but also articulating and interacting with


the native forest, topography and natu-
ral accidents of the terrain, as well as
with artistic and architectural elements
of different eras and cultures, resulting
in a remarkable and singular landscape.
In the gardens there is a layer of sci-
entific knowledge which precedes and
permeates them. Burle Marx evinces, in
his speech, the conceptual dimension
which characterizes the Sítio as a land-
scaping laboratory, a “crucible” where
he experimented and subsidised his
landscaping production and founded
his concept of the garden: “(...) to say that
this collection does not bear great im-
portance to me? It would not be possible
to make gardens without my crucible, the
place where I have experimented, where
I have learnt to coexist with the plants.”29
experiências, onde eu fui aprendendo Santo Antônio da Bica foi o cadinho,
a conviver com as plantas”. 29 ou crisol, o lugar onde os elementos
A metáfora do cadinho não é força foram misturados, em circunstâncias
de expressão ou referência fortuita. A específicas, de modo a produzir uma
energia depositada por Burle Marx na obra nova, com novos princípios e nova
constituição de sua coleção botânica; expressão plástica.
sua concentração na construção do O conhecimento sobre a natureza,
conhecimento científico necessário ao acumulado ao longo de anos, trouxe a
cultivo, à reprodução e à utilização das Roberto uma percepção fina do univer-
espécies; a dedicação intensa e dura- so da flora brasileira, dos modos como
doura à realização dos experimentos, as diferentes espécies desenvolvem as-
juntando os diversos elementos vegetais sociações e de como essa diversidade
sob os determinantes naturais de terra, produz expressões de vida: “Toda a ex-
água e luz, em busca dos resultados es- periência que adquiri em viagens, em
téticos que o tempo se encarregaria de tantos anos de trabalho, induziu-me a
amadurecer; tudo isso traça paralelos procurar compreender a natureza, tanto
com o trabalho dos alquimistas em sua em superfície quanto em profundidade.
busca da pedra filosofal, da transmu- Preocupei-me com a riqueza manifesta-
tação da matéria. No caso da produ- da pela flora do meu país, onde as mais
ção do jardim tropical moderno, o Sítio inusitadas adaptações se verificam. Ne-
82

83
The metaphor of the crucible is not order to produce a new work, with new
an exaggeration or casual reference. principles and new plastic expression.
The effort placed by Burle Marx into the Knowledge of nature, over the years,
constitution of his botanical collection, gave Roberto a fine perception of the
his concentration on building the scien- universe of Brazilian flora, of the ways
tific knowledge required for the cultiva- in which different species develop asso-
tion, reproduction and use of species, ciations and how that diversity produces
the intense and long lasting dedication expressions of life: “All the experience
to experimentation, bringing together I have acquired on trips, over so many
diverse plant elements under the natural years of work, has induced me to seek to
determinants of earth, water and light, understand nature, on the surface as well
in search of aesthetic results which time as in depth. I have concerned myself with
would take care of maturing: all of this the manifest wealth of my country’s flora,
traces parallels with the work of alche- where the most unusual adaptations take
mists in their search for the philosopher’s place. Within them, form, colour and func-
stone, the transmutation of matter. In tion create rhythms, which also express
the case of the modern tropical gar- life. From there, I have wished to apply
den, Sítio Santo Antônio da Bica was them to gardens, aware that, without this
the crucible, the place where elements understanding, I could never obtain a
were mixed under specific conditions in result with the depth to which I aspire.”30
Mesmo antes da introdução das
espécies, Burle Marx definiu requisitos
específicos para o terreno a ser ad-
quirido; coletou plantas, realizando
expedições aos diversos biomas bra-
sileiros; cercou-se de especialistas com
os quais aprendeu; aclimatou, cultivou
e observou cotidianamente as plantas
coletadas, aprendendo com elas modos
de cultivo, necessidades, associações
possíveis. Com base no conhecimento
acumulado e na reprodução das plan-
tas coletadas é que passou a distribuir
as espécies no terreno, aplicando seus
las, forma, cor e função criam ritmos, que volumes, cores e texturas em arranjos
também expressam a vida. Daí querer embasados nas características da flo-
poder aplicá-los aos jardins, consciente ra, organizados segundo conhecimento
de que, sem essa compreensão, jamais científico e princípios estéticos moder-
poderia chegar a um resultado da pro- nos, inspirados por uma ampla forma-
fundidade a que aspiro”. 30 ção cultural e artística.
HISTORY, CONTEXT AND ARCHITECTURE HISTÓRICO, CONTEXTO, ARQUITETURA

Registro do encontro Even before introducing species, The gardens were thus organically
dos espaços ajardinados
do Sítio Roberto Burle Burle Marx formulated specific require- developed throughout the property, not
Marx com a área de ments for the land to be acquired: he following a previously planned techni-
mata nativa.
collected plants, carried out expedi- cal project but resulting from the po-
Photo of the place where
the garden spaces of the tions to the different Brazilian biomes, tency of life, of the living process, of
Sítio Roberto Burle Marx
meet the area of native
surrounded himself by specialists from the knowledge and creative capacity
forest. whom he learned and acclimatised, cul- of Burle Marx, as described by Giulio
tivated and observed daily the plants Gino Rizzo, architect and professor at
he collected, learning from them ways the faculty of architecture at the Univer-
of cultivation, needs and possible as- sity of Florence and a friend of Roberto
sociations. Based on his accumulated Burle Marx: “Outlined, in these aspects,
knowledge and the reproduction of col- is the Sítio’s landscape project – one
lected plants, he then distributed the among many projects carried out on
species on the land, applying volume, the Sítio, with no preliminary design,
colour and textures in arrangements through studying and perceiving the
based on the flora’s characteristics, or- deep character of the Sítio – conceived
ganised according to scientific knowl- of as a series of different areas in which
edge and modern aesthetic principles, he sought to reproduce the character-
inspired by his broad cultural and ar- istics of the various phytogeographic
tistic background. regions of Brazil – an essential condi-
Os jardins foram, assim, sendo de- sobrevivência e a reprodução das plan-
senvolvidos organicamente ao longo do tas que eram trazidas das várias partes
terreno, sem seguir um projeto técnico do Brasil e do mundo”. 31
previamente elaborado, mas resultan- José Tabacow32 apontou aspectos
do da potência de vida, do processo importantes do Sítio Roberto Burle Marx
de viver, do conhecimento e da capa- como testemunho da inovação de seu
cidade criadora de Burle Marx, como criador no âmbito do paisagismo e da
descreve Giulio Gino Rizzo, arquiteto, íntima relação de sua obra com a natu-
professor da faculdade de arquitetura reza: “Roberto introduziu no mundo um
da Universidade de Florença e amigo conceito de paisagismo que se conecta
de Burle Marx: “Delineia-se, nesses as- com a floresta. É nessa conexão que resi-
pectos, o projeto de paisagem do sítio de uma das características marcantes do
– um dos tantos projetos feitos no local, sítio, que é indivisível, como uma floresta:
sem nenhum desenho preliminar, estu- convive e interage com a fauna, a água,
dando e percebendo as características as nascentes”. 33 No sítio, a conexão com
profundas do local – concebido como a floresta é especialmente perceptível
uma série de áreas diferentes nas quais por meio da integração e do diálogo
buscou reproduzir as características existentes em sua paisagem ajardinada.
das várias regiões fitogeográficas do Tabacow aponta ainda o caráter úni-
Brasil – condição fundamental para a co do sítio como laboratório de experi-
84

85
tion for the survival and reproduction of Tabacow also points to the unique
plants which were brought from various character of the Sítio as a laboratory
parts of Brazil and the world.”31 for experimentation, which is unlike tra-
José Tabacow32 pointed out impor- ditional historical gardens, as it implies
tant aspects of the Sítio Roberto Burle a certain mobility of the species, deter-
Marx as a testimony to the innovation mined by the need for their preserva-
of its creator in the field of landscap- tion and multiplication, as well as by a
ing, and the intimate relationship be- dynamic which is established between
tween his work and nature: “Roberto the shadehouses (nurseries) and the
introduced the world to a concept of “field” (open areas). The landscapes of
landscaping which is connected to the the Sítio encompass this dynamic and
forest. Within this connection resides mobility. In all, the Sítio Roberto Burle
one of the striking features of the Sí- Marx constitutes the materialisation of
tio, which is indivisible, like a forest: it an extraordinary work, produced by an
coexists and interacts with the fauna, exceptional man, who within it com-
water and springs.” 33 On the Sítio, the bined art, science and preservationist
connection with the forest is especially activism. In the words of José Tabacow,
noticeable through the medium of inter- “Roberto built the Sítio the way an artist
action and dialogue already existent in builds a work; there is within it, at all
his garden-like landscape. times, an imponderable side.” 34
Íbis-escarlate ou guará- mentação, que o diferencia dos jardins perspectiva resultante de sua ampla for-
vermelho (Eudocimus
ruber). Na língua tupi, históricos tradicionais, pois implica certa mação cultural, articulando ciência, arte
Guaratiba significa “o mobilidade das espécies, determinada e filosofia. Considerava o jardim como
lugar onde há grande
quantidade de guarás”, pela necessidade de sua preservação e uma obra de arte em quatro dimensões,
em referência à ave.
multiplicação, bem como por uma dinâ- para cuja efetivação o tempo constituía
Página seguinte:
Garça-azul (Egretta mica que se estabelece entre os “som- um elemento indispensável. Algumas de
caerulea) e savacu-
de-coroa (Nyctanassa
brais” (viveiros de plantas) e o “campo” suas reflexões nesse sentido estão regis-
violacea), aves (áreas abertas). As paisagens do sítio tradas no documentário produzido pela
encontradas na região.
contemplam essa dinâmica e essa mo- BBC em 1992: “Um jardim é sempre um
Scarlet ibis or Guara
rubra (Eudocimus ruber).
bilidade. Com tudo isso, o Sítio Roberto problema de tempo. O tempo completa
In the Tupi language, Burle Marx constitui a materialização de as ideias (…) você precisa compreender
Guaratiba means “the
place where there are a uma obra extraordinária, produzida por o jardim ao atravessá-lo, como você
lot of guarás [ibises]”, in
reference to the bird.
um homem excepcional, que nela con- atravessa uma escultura. (…) Um jardim
Next page: Little blue jugou arte, ciência e ativismo preserva- nunca será um problema bidimensional.
heron (Egretta caerulea)
and yellow-crowned
cionista. Nas palavras de José Tabacow, Ele é um problema tridimensional e, mais
night heron (Nyctanassa “Roberto construiu o sítio como o artista que isso, ele possui uma quarta dimen-
violacea), birds found in
the region. constrói uma obra; existe nele, todo o são, na medida em que você atravessa
tempo, um lado imponderável”. 34 o tempo e o espaço”. 35
Burle Marx compreendia a natureza Ao mesmo tempo, o olhar estético
dos jardins e das paisagens por uma do paisagista produzia associações
HISTORY, CONTEXT AND ARCHITECTURE HISTÓRICO, CONTEXTO, ARQUITETURA
com outros campos da arte: “Para mim,
as flores e as folhas são quase música
em sua harmonia. Outras vezes, vejo-
-as como esculturas, como volumes
que se destacam no espaço. Ou, ainda,
sinto-as como pinturas, com seu colo-
rido e formas caprichosas. Observo-as
sob o sol e sob a chuva, e certos cam-
biantes de luz fazem-nas parecer como
pedras preciosas”. 36
Em uma conferência proferida em
1962, ao falar do uso das cores nos
jardins, indica a necessidade de se
ter conhecimento amplo da arte, rela- mengos, nos tapetes de Teerã e Tabriz,
cionando-as a pinturas, tapeçarias e e examinar a porcelana das grandes
porcelanas: “É preciso ir buscá-la nas dinastias da China. Verificaremos sem-
grandes pinturas deste século, na obra pre que as cores se relacionam”. 37
de Braque ou de Picasso, nos impres- Mais adiante, traça um paralelo
sionistas, em Van Gogh e em Gauguin; dos jardins com o universo da música,
procurá-la na obra dos tapeceiros fla- com a escultura, com a pintura, com o
86

87
Burle Marx understood the nature tions with other fields of art: “To me,
of gardens and landscapes from a per- flowers and leaves are almost musi-
spective resulting from his broad cultural cal in their harmony. Other times, I
background, connecting science, art and see them as sculptures, volumes which
philosophy. He considered the garden a stand out in space. Or, yet, I feel them
four-dimensional work of art, for which as paintings, with their colourful and
time was an indispensable element. whimsical shapes. Observing them un-
Some of his reflections in this respect are der the sun and the rain, and certain
captured in a BBC documentary from shifting light makes them appear as
1992: “A garden is always a problem of precious stones.” 36
time. Time completes the ideas (…) you Speaking at a conference in 1962 on
need to understand the garden by going the use of colour in gardens, he points
through the garden, as you go through to the need for a wide knowledge of
a sculpture. (…) A garden will never be a art, relating it to paintings, tapestries
two-dimensional problem. It is a three- and porcelain: “One must seek them in
dimensional problem and, more than the great paintings of this century, in the
that, it has a fourth dimension, as you work of Braque or Picasso, the impres-
go through time and space.”35 sionists, Van Gogh, Gaugain; seek them
At the same time, the aesthetic eye in the work of the Flemish rugmakers,
of the landscaper produced associa- the rugs of Teerã and Tabriz, and exam-
bordado, ressaltando a natureza das turas diferentes e folhas, num canteiro
plantas como seres vivos: “Em um jardim de cor, será diferente. Podemos pensar
saberemos sempre se devemos compor numa planta como obra de escultura,
uma sinfonia ou um simples moteto. Po- que deve ser vista em seus diversos ân-
demos pensar numa planta como uma gulos, transformada por sopros de ven-
nota musical. Tocada num acorde, ela to, de um verde tranquilo numa figura
soará de certa forma, num outro acorde, dançante de folhas verde-prateadas,
seu valor alterar-se-á. Às vezes, ela é salpicadas pelo sol depois de uma ino-
tônica, outras vezes, a terceira ligada pinada chuva. Podemos pensar numa
acima ou abaixo, na escala; pode ser planta como uma pincelada, ou um
legato, staccato, forte ou fraca, tocada ponto de bordado; mas não devemos
numa tuba ou num violino. Mas é sempre esquecer que é um ser vivo”. 38
a mesma nota. Uma planta é uma forma, Um elemento constante na paisa-
uma cor, uma textura, um perfume, um gem do Sítio Roberto Burle Marx é a
ser vivo, com necessidades e preferên- reutilização, em composições totalmen-
cias, com personalidade própria. A luz te inovadoras, de peças de cantaria,
e a distância a modificam, o vento pode em granito ou gnaisse, oriundas de
alterá-la, bem como a chuva, ou o sol. edificações demolidas, elemento que
Plantada sozinha na relva, terá um va- Roberto Burle Marx utilizou em muitos
lor; em grupo, entre rochedos, entre tex- outros jardins. O texto de Yanara Cos-
HISTORY, CONTEXT AND ARCHITECTURE HISTÓRICO, CONTEXTO, ARQUITETURA

ine the porcelain of the great Chinese sonality. Light and distance modify it,
dynasties. We will see that the colours the wind may alter it, as well as the rain
always relate.”37 or the sun. Planted alone in the grass,
Later, he draws a parallel between it will have a meaning; in a group, be-
gardens and the universe of music, tween rocks, among different textures
sculpture, painting and embroidery, and leaves, in a flowerbed, it will be
underlining the nature of plants as liv- different. We can think of a plant as a
ing beings: “In a garden we will always sculpture, which must be seen from dif-
know if we should compose a symphony ferent angles, transformed by the wind,
or a simple motet. We can think of a from a tranquil green to a dancing fig-
plant as a musical note. Played within ure of silver-green leaves, sun soaked
a chord, it will sound a certain way; in after a sudden rain. We can think of a
a different chord, it will change. Some- plant as a brush stroke, or an embroi-
times, it is the tonic, other times it is the dery stitch; but we must not forget that
third above or below; it can be legato, it is a living being.”38
staccato, forte or piano, played on a A constant element in the landscape
tuba or on a violin. But it is always the of the Sítio Roberto Burle Marx is the
same note. A plant is a form, a colour, reuse, in totally innovative compositions,
a texture, a perfume, a living being with of stonework, in granite or gneiss, from
needs and preferences, with its own per- demolished buildings, an element which
ta Haas publicado neste livro aborda
o uso da cantaria na composição de
escadarias, muros, totens, paredes e
taludes, integrada ao terreno e à ar-
quitetura, como elemento funcional e
em composições estéticas, em diversos
locais, no entorno dos prédios e nos
espaços ajardinados do sítio.
Testemunhando a capacidade per-
ceptiva e criadora de Burle Marx é pos-
sível compreender que, assim como a
paisagem produzida nas áreas ajar-
dinadas articula-se com a vegetação
nativa, os elementos em cantaria dialo-
gam com as rochas naturais afloradas
no terreno. As rochas naturais – cuja
existência no terreno foi um dos pré-re-
quisitos para a compra da proprieda-
de – também desempenham um papel
importante na composição dos diversos
88

89
Burle Marx used in many other gardens. tion of various sectors of the landscape, Pequeno caranguejo
junto à nascente do Sítio
The text by Yanara Costa Haas, pub- for example, with the lakes or in areas Roberto Burle Marx, no
lished in this volume, addresses the use where saxicolous species have settled. 39 período da primavera.

of stonework in the composition of stair- Yellow-crowned Night

Description of the property


Heron (Nyctanassa
cases, walls, totems and slopes, inte- violacea), bird found in
the region.
grated with the terrain and architecture, The construction and use of the prop-
as a functional element and in aesthetic erty – from either the artistic or scientific
compositions, in various locations, in the perspective, or even in its more every-
surroundings of buildings and garden day aspects – required the existence of
spaces of the Sítio. infrastructure which could provide the
Witnessing the perceptive and cre- support and conditions for its develop-
ative capacity of Burle Marx one can ment and conservation. A large part of
understand that, as the landscaping of the infrastructure of the Sítio Roberto
the garden areas is linked with the native Burle Marx is due to Guilherme Siegfried
vegetation, the stonework elements are Marx, known as “senhor Sig,” a creative
in dialogue with the natural outcropped and inventive man who arranged for the
rocks. The natural rocks – whose exis- provision of services and thought up in-
tence on the land was a prerequisite genious solutions for everyday needs,
for the purchase of the property – also e.g. the irrigation system, which still func-
fulfil an important role in the composi- tions to this day, distributing water cap-
O reservatório de água setores da paisagem, por exemplo nos por exemplo o sistema de irrigação que
do Sítio Roberto Burle
Marx, que coleta água lagos ou nos trechos em que se insta- funciona até hoje, distribuindo a água
das nascentes e cursos laram as espécies saxícolas. 39 captada na nascente e viabilizando a
de água.

Página seguinte: sistema


rega das plantas, ou a instalação da
de canalização de água Descrição da propriedade pavimentação nas vias internas da
de nascente do sítio,
que foi idealizado por A construção e a utilização da proprie- propriedade com paralelepípedos de
Guilherme Siegfried Marx,
e um dos poços artesianos
dade – percebida na perspectiva de granito, iniciada em 20 de janeiro de
da propriedade. obra de arte, ou pelo viés científico, ou 1976, como indica a data gravada na
Water reservoir at the mesmo nos seus aspectos mais cotidia- soleira de cimento do portão principal.
Sítio Roberto Burle
Marx that draws water
nos – implicavam a existência de uma A parte agenciada do sítio – onde
from springs and infraestrutura que lhe proporcionasse estão instalados os edifícios, as vias,
watercourses.

Next page: pipeline


sustentação e condições de desenvol- os jardins – corresponde a aproxima-
system for spring water vimento e conservação. A instalação damente 40% da sua área total. Os
of the Sítio, designed
by Guilherme Siegfried de grande parte da infraestrutura do caminhos pavimentados partem do
Marx, and one of the
property’s artesian wells.
Sítio Roberto Burle Marx deve-se a portão principal e dão acesso a toda
Guilherme Siegfried Marx, conhecido a propriedade, chegando até a altitude
como “senhor Sig”, homem criativo e de 125 metros, acima do último edifí-
inventivo que providenciou a realização cio, o ateliê. Todos são margeados por
de serviços e idealizou engenhos para árvores de diversas espécies e, a par-
atender às necessidades cotidianas, tir deles, os jardins se espalham pelo
HISTORY, CONTEXT AND ARCHITECTURE HISTÓRICO, CONTEXTO, ARQUITETURA
terreno e permeiam as áreas edifica-
das. Ladeando o caminho que leva ao
conjunto da Casa de Roberto há uma
grande figueira e árvores de pau-ferro,
plantadas antes de sua pavimentação.
Tendo em vista que o motivo central da
aquisição da propriedade foi a instala-
ção da coleção botânica, as primeiras
intervenções destinaram-se a propor-
cionar ao local a infraestrutura neces-
sária para essa finalidade, a começar
pelo sistema de captação e distribuição
de água, a partir da nascente existente
no terreno, e pela construção do grande
reservatório existente na cota dos 100 Como dito anteriormente, o sítio
metros, feita entre 1950 e 1952,40 seguida contempla oito construções, agrupa-
da construção do primeiro viveiro. Ali das em três setores: no mais próximo
foram instaladas as primeiras plantas do acesso, situado entre 5 e 15 metros
da coleção botânica, transportadas da acima do nível do mar, ficam as insta-
residência do artista, no Leme. lações ligadas às atividades de tra-
90

91
tured from the spring to the plants, or the Bearing in mind that the central
paving of internal roads of the property motive of the acquisition of the prop-
with granite cobblestones, which started erty was the housing of the botanical
on 20th January 1976, the date engraved collection, the first interventions were
on the cement sill of the main gate. aimed at providing the location with the
The agency part of the Sítio – where necessary infrastructure for this pur-
the buildings, roads and gardens are – pose, beginning with the water capture
corresponds to approximately 40% of its and distribution system from the exist-
total area. The paved roads lead from ing spring, and the building of a large
the main gate and give access to the en- reservoir at 100 metres, carried out be-
tire property, reaching an altitude of 125 tween 1950 and 1952, 40 followed by the
metres, above the last building, which is construction of the first nursery. Here,
the studio. All are lined with trees of vari- the first plants of the botanical collec-
ous species, with the gardens spreading tion were placed, transported from the
from them throughout the property and artist’s home in Leme.
permeating the built-up areas. Flank- As stated above, the Sítio is comprised
ing the path which leads to the set of of 8 buildings, grouped into three sectors:
buildings of the “Casa de Roberto” there the sector closest to the access, located
is a large fig tree and pau-ferro trees, at between 5 and 15 metres above sea
planted before the path was paved. level, consists of the installation relat-
Lagos próximos ao balho do sítio, 41 tais como o edifício da tas e de composição dos espaços se
portão de acesso. A
presença das rochas administração e a casa de pedra; mais apresentavam. Todos contêm canteiros
foi fundamental para a acima, entre as cotas dos 35 e 40 me- submersos, alimentação e esgotamento
escolha de Burle Marx
por essa parte do terreno. tros, fica o conjunto composto da Casa de água e outros detalhes, com a fina-
Lakes near the access de Roberto, da loggia, da Capela de lidade principal de receber as espécies
gate. The presence of the
rocks was fundamental
Santo Antônio, do salão de festas – co- aquáticas da coleção. Foram pensa-
to Burle Marx’s choice of nhecido como cozinha de pedra – e de dos, assim como os demais elementos
this part of the terrain.
um prédio que abrigava originalmente dos jardins, para integrar paisagens,
a lavanderia e a adega. No nível dos reunindo grupos de plantas diferentes
45 metros fica o ateliê, último edifício em composições de impacto visual e
construído na propriedade. harmonia estética. Atuam também na
composição das paisagens, como su-
Nível do acesso perfícies poéticas refletoras da luz, do
LAGOS céu e da vegetação.
Os sete lagos que integram o conjun- Segundo Robério Dias, diretor do
to arquitetônico-paisagístico do sítio sítio entre 1995 e 2011, Burle Marx ad-
não são elementos naturais; foram in- quiriu a parte do terreno onde ficam
troduzidos gradativamente por Burle os três lagos situados junto do portão
Marx, à medida que as necessidades de acesso devido, principalmente, às
de acomodação da coleção de plan- grandes rochas ali existentes. Ele rela-
HISTORY, CONTEXT AND ARCHITECTURE HISTÓRICO, CONTEXTO, ARQUITETURA

ing to the Sítio’s work activities,41 such ter feeds and drainage, among other
as the administration building and the details, for the purpose of housing the
stone house; further up, between 35 aquatic species of the collection. They
and 40 metres, is the set composed of were conceived, as with the other ele-
Roberto’s House, the loggia, the Santo ments of the gardens, to form part of
Antônio chapel, the ballroom – known as landscapes, bringing together different
the stone kitchen – and a building which plants in visually striking and aestheti-
originally housed the laundry room and cally harmonious compositions. They are
cellar. At 45 metres we find the studio, the also part of the composition of the land-
last construction built on the property. scapes, acting as poetic surfaces which
reflect light, the sky and vegetation.
Access level According to Robério Dias, Sítio
LAKES director between 1995 and 2011, Burle
The seven lakes which form part of the Marx acquired the land where the three
architecture-landscape of the Sítio are lakes are located, close to the access
not natural elements; the were gradually gate, mainly due to the existence of
introduced by Burle Marx, as the needs large rocks. He recalls the experience
of accommodating the plant collection of participating in the composition
and composition of space became ap- of the landscape of one of the lakes,
parent. All contain submerged beds, wa- created without a formal project, but
92

93
O edifício da adminis­ ta a experiência de ter participado da ré até próximo ao lago. Ali distribuiu as
tração foi projetado
pelo arquiteto Ary Garcia composição da paisagem de um dos plantas, umas aqui, outras acolá, e fez
Rosa, em 1989, para lagos, produzida sem um projeto formal, uma composição que ocupava todo o
abrigar salas de aula
e as dependências do mas totalmente de acordo com o pla- terreno em forma de anfiteatro. Achei
escritório de paisagismo
BM&cia. no idealizado por Roberto: “(...) quando aquilo sensacional, porque era como
The administration
Roberto descobriu as grandes rochas criar uma sinfonia ao reger”.42
building was designed na região dos lagos (...) mandou tirar Além dos três lagos existentes no
by architect Ary Garcia
Rosa in 1989 to house todas as árvores da frente. (...) Então ele nível do acesso principal, à direita do
classrooms and
BM&cia landscaping
arrumou todo o cenário para valorizá- portão, há ainda quatro outros lagos ou
office premises. -las e criou lagos para refleti-las, isto espelhos d’água: o lago no jardim em
é, duplicou o grupo de rochas com os frente à Casa de Roberto (o primeiro a
reflexos, como se tivesse achado pouco. ser construído), os espelhos d’água da
Numa excursão que fizemos à Bahia, cozinha de pedra (um sobre a cobertura
na volta ele nos chamou a todos para e um sob a pérgula da flor-de-jade)
o sítio, o que não era normal. Disse que e o lago existente entre a cozinha de
tínhamos algo para fazer. No dia se- pedra e o ateliê.
guinte, às 6 da manhã, já estava can-
tando óperas, acordando todo mundo. EDIFÍCIO DA ADMINISTRAÇÃO
Chamou os jardineiros e veio com o ca- Ao percorrer o caminho que parte do
minhão, ainda carregado, de marcha a portão principal, o primeiro edifício com
HISTORY, CONTEXT AND ARCHITECTURE HISTÓRICO, CONTEXTO, ARQUITETURA

completely in accordance with the plan it was amazing, because it was like con-
devised by Roberto: “(...) when Roberto ducting a symphony.”42
discovered the large rocks in the lake In addition to the three lakes at the
region (...) he had all the front trees re- main access level to the right of the
moved. (...) So he set the entire scen- gate, there are four other lakes or re-
ery to value them, and created lakes flecting pools: the garden lake in front
to reflect them, doubling the group of Roberto’s House (the first to be built),
of rocks with reflections, as if he’d the reflecting pools of the stone kitchen
thought there wasn’t enough of them. (one on the roof and another under the
On returning from an excursion we had jade vine pergola) and the lake between
made to Bahia, he called us all to the the stone kitchen and the studio.
Sítio, which was unusual. He said we had
something to do. The following day, at ADMINISTRATION BUILDING
6 in the morning he was singing operas, Following the path which leads from the
waking everybody. He called the gar- main gate, the first building the visitor
deners and reversed a loaded truck up notices is the administration building,
to the lake. He distributed the plants, by architect Ary Garcia Roza, from 1989
some here, some there, and formed a and finished in May 1992, intended to
composition which occupied all the land house classrooms and the offices of the
in the form of an amphitheatre. I thought Burle Marx & Cia. landscaping com-
que o visitante se depara é o edifício da
administração, projeto do arquiteto Ary
Garcia Roza, de 1989, cuja construção
foi concluída em maio de 1992, destina-
do a abrigar salas de aula e escritórios
da empresa de paisagismo Burle Marx
& Cia. O prédio em “L”, de dois pavimen-
tos, com cobertura em telhas cerâmicas,
totaliza 550 metros quadrados de área
construída. As fachadas são pintadas
em tom de rosa forte, com esquadrias
em madeira e vidro e grades em ferro
pintadas de azul.
Atualmente, esse prédio contém a
biblioteca, o pequeno auditório e as
salas de trabalho da equipe; abriga
também o espaço de acolhimento, a CASA DE PEDRA
loja e os sanitários para o público, além A denominada casa de pedra, proje-
do posto de segurança, dos vestiários tada por Guilherme Siegfried Marx, foi
e da copa dos funcionários. construída entre 1957 e 1958. Suas pare-
94

95
pany. The two-story L-shaped building, an area of 107m , has a ceramic tile
2

with ceramic tile roofing, totals 550m 2 of roof. A side varanda gives access to
built area. The facades are deep pink, the interior, where one finds the living
with wood and glass frames and iron room, kitchen and service area, two
railings painted blue. bedrooms and a bathroom. It was used
Currently, this building contains as a weekend home by Siegfried’s fam-
the library, a small auditorium and the ily, and then became the administrative
staff work rooms, as well as the recep- area for the company, Burle Marx & Cia.
tion area, the shop and public lava- Currently, it is used by the technical sec-
tories, security desk, cloakroom and tor of the Sítio.
staff kitchen. In front of the Stone House is a speci-
men of the Chloroleucon tortum, a na-
STONE HOUSE tive tree of the coastal regions of Brazil,
The stone house, designed by Guilher­me known as jurema, angico-branco, jacaré
Siegfried Marx, was built between 1957 or tataré. In addition to using this tree
and 1958. Its external walls are formed in many gardens – for example in the
of stone blocks selected from among Flamengo Park and the gardens of the
stones brought for the construction of Rodrigo de Freitas Lake, in Rio de Ja-
the flowerbeds of the first lath houses. neiro – Burle Marx produced numerous
The ground floor building, which has drawings of the specimen at the Sítio.
Casa de pedra, projetada des externas são compostas de blocos árvore em muitos jardins – por exemplo,
por Guilherme Siegfried
Marx, com destaque de pedra selecionados entre as pedras no Aterro do Flamengo e nos jardins da
para a varanda lateral trazidas para a construção dos cantei- Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Ja-
e o exemplar de
Chloroleucon tortum. ros dos primeiros ripados. A edificação neiro –, Burle Marx produziu inúmeros
Página seguinte: térrea, de planta quadrada, com 107 desenhos do exemplar existente no sítio.
vista aérea do sítio,
com destaque para os metros quadrados de área, é coberta
sombrais.
por telhado em telhas cerâmicas; uma SOMBRAIS (VIVEIROS DE PLANTAS)
Casa de Pedra [Stone varanda lateral dá acesso ao interior, Continuando no caminho em frente ao
House], designed by
Guilherme Siegfried Marx, onde há sala, cozinha com área de ser- edifício da administração, chega-se aos
highlighting the side porch
and the Chloroleucon viço, dois quartos e um banheiro. Foi sombrais. Os sombrais são elementos
tortum specimen. utilizada como casa de fins de semana importantíssimos no Sítio Roberto Burle
Next page: aerial view
of the house and gardens
da família de Siegfried; depois, abrigou Marx; estão intimamente ligados à sua
highlighting the shade o setor administrativo da empresa Burle própria razão de existência, pois se des-
houses.
Marx & Cia. Atualmente, é utilizada pelo tinam à aclimatação, ao cultivo e à pro-
setor técnico do sítio. pagação das plantas coletadas por
Em frente à casa de pedra, há um Burle Marx. São oito sombrais, que to-
exemplar de Chloroleucon tortum, árvo- talizam 12 mil metros quadrados de área.
re nativa de regiões costeiras do Brasil, Neles se iniciava o trabalho de pesqui-
conhecida como jurema, angico-branco, sa, produção de conhecimento e cultivo
jacaré ou tataré. Além de utilizar essa da matéria-prima com a qual seriam
HISTORY, CONTEXT AND ARCHITECTURE HISTÓRICO, CONTEXTO, ARQUITETURA

SHADE HOUSES (PLANT NURSERIES)


Continuing on the path in front of the
administration building, we arrive at
the shade houses. The shade houses
are extremely important at the Sítio Ro-
berto Burle Marx; they are intimately
linked to their own reason for existence,
as they are intended for acclimatisa-
tion, cultivation and the propagation of
plants collected by Burle Marx. There
are eight shade houses, covering an
area of 12,000m 2. It is here where the
task of researching, producing knowl-
edge and cultivating the raw material
for later landscape experimentation
begins. The selected plants are ac-
climatised, multiplied and studied, al-
lowing for the learning of requirements,
fragilities and mode of cultivation for
each one.43 The shade houses protect
depois desenvolvidas as experiências
paisagísticas. As plantas selecionadas
são ali aclimatadas, multiplicadas e es-
tudadas, permitindo o aprendizado das
exigências, das fragilidades e do modo
de cultivo de cada uma.43 Os sombrais
abrigam milhares de plantas de diversas
procedências (como filodendros, begô-
nias, orquídeas, bromeliáceas); são es-
pécies de sub-bosque, epífitas e outras,
que precisam de proteção contra a luz
direta do sol, pois na natureza crescem
em lugares sombreados.
A cobertura dos sombrais é feita
com uma tela sintética especial para
viveiros de plantas, chamada “sombri-
te”, responsável por filtrar a luz solar
em maior ou menor grau, conforme a
espessura de sua trama. A geometria
das coberturas varia, mantendo o for-
96

97
thousands of plants of various origins the botanical collection grew. Burle
(such as philodendrons, begonias, or- Marx dedicated two of the Sítio’s shade
chids, bromeliads); understory species, houses to dear friends, Graziela Bar-
epiphytes and others need protection roso, an important Brazilian naturalist
against direct sunlight, as they grow in and exponent of the field of botany,
shady places in the wild. and Margaret Mee, a botanical artist
The cover of the shade houses is and illustrator.
made out of a special synthetic mate- The last shade house to be built
rial for plant nurseries, known as “shade was not intended for cultivation of the
cloth,” which filters sunlight to a greater collection; it was used over time for
or lesser degree, according to the thick- various short-term purposes. This space
ness of the weave. The geometry of the of indefinite function will, in the near
covers vary, retaining the format of hor- future, assume an important use: it will
izontal planes or in sloping positions be the site for a new building for tech-
like a hipped roof. At some points there nical activities and services, such as
are elevated central areas for vertically laboratories, a herbarium, work rooms,
growing species. The flowerbeds are an auditorium, among others, which
made of masonry, concrete or stone. are indispensable to the current func-
The shade houses were built and tions of the Sítio and its constitution as
extended between 1950 and 1985 as a research and teaching institution, a
mato de planos horizontais ou assumin- espaço de função indefinida vai assumir,
do posições inclinadas como águas de num futuro próximo, um uso importante:
telhado. Em alguns pontos, há áreas ali será construído um novo edifício, des-
centrais mais elevadas, para abrigar tinado a abrigar atividades técnicas e
espécies com crescimento vertical. Os de serviços, tais como laboratórios, her-
canteiros de plantas são construídos em bário, salas de trabalho, auditório, entre
alvenaria, concreto ou pedra. outras, indispensáveis ao desempenho
Os sombrais foram construídos e das funções atuais do SRBM e à sua
ampliados entre 1950 e 1985, à medida constituição como instituição de pesqui-
que crescia a coleção botânica. Burle sa e ensino, desejo que Burle Marx dei-
Marx homenageou duas de suas mais xou gravado na escritura de doação da
queridas amigas, Graziela Barroso, im- propriedade ao governo federal.
portante naturalista brasileira, expoen-
te no campo da botânica, e Margaret Conjunto arquitetônico-
Mee, artista e ilustradora botânica, de- paisagístico da
dicando-lhes dois dos sombrais do sítio. Casa de Roberto
O último sombral a ser construído não Situado a 35 metros acima do nível da
foi destinado ao cultivo das coleções; foi Estrada Roberto Burle Marx fica o prin-
utilizado, ao longo do tempo, para fina- cipal conjunto arquitetônico do sítio,
lidades diversas, de curta duração. Esse composto de cinco edificações entre-
HISTORY, CONTEXT AND ARCHITECTURE HISTÓRICO, CONTEXTO, ARQUITETURA

Vista do interior do wish Burle Marx recorded in the deed


sombral Graziela Barroso,
cujo nome homenageia of donation of the property to the fed-
a importante naturalista eral government.
brasileira amiga de Burle
Marx e signatária do
abaixo-assinado que
pediu o tombamento da The architectural-landscape
propriedade. ensemble of Roberto’s House
View from inside of the The main architectural ensemble of the
Graziela Barroso shade
house, whose name pays Sítio, composed of 5 buildings inter-
tribute to an important
Brazilian naturalist,
spersed with gardens and paved areas,
friend of Burle Marx is located at 35 metres above Roberto
and signatory of the
petition that asked for Burle Marx road. This was the centre, for
the property to be listed
as heritage.
over two decades, of the sophisticated
and effervescent domestic and social
life of the author of the Copacabana
boardwalk landscape project. It was the
place of shelter, residence, study, artis-
tic production and gathering of many
friends and collaborators.
At the start of the 1950s, Roberto
restored, with assistance from archi-
meadas a jardins e áreas pavimenta- agenciados e ajardinados, com apro-
das. Esse foi o ambiente que centralizou, veitamento de elementos da topografia
durante mais de duas décadas, a sofis- e da vegetação original.
ticada e efervescente vida doméstica e
social do autor do projeto paisagístico CASA DE ROBERTO44
do calçadão de Copacabana; lugar de A casa onde residiu Burle Marx respira arte,
abrigo, residência, estudo, produção reverbera ecos de amizade e tem olhos
artística e reunião dos muitos amigos abertos para a luz e o verde da paisagem.
e colaboradores. Logo em seguida à aquisição do pri-
No início dos anos 1950, Roberto meiro terreno do Sítio Santo Antônio da
restaurou, com o auxílio dos arquitetos Bica, Burle Marx realizou uma primeira re-
Lucio Costa e Carlos Leão, a Capela forma na velha casa existente, com a cola-
de Santo Antônio; também reformou e boração do arquiteto Wit-Olaf Prochnik.45
ampliou a pequena casa existente. Su- Em carta a Walter datada de 8 de
cessivamente, acrescentou ao conjunto agosto 1960,46 Roberto convida o irmão
a loggia, o salão de festas, chamado para uma visita e manifesta seu entu-
de cozinha de pedra, e um prédio feito siasmo com o progresso do sítio: “O nos-
para abrigar a lavanderia e a adega. so sítio está ficando uma maravilha (...).
À medida que surgiam as construções, A casa do sítio está se tornando muito
também os espaços do entorno eram habitável com uma hi-fidelity onde po-
98

99
tects Lucio Costa and Carlos Leão, the refurbishment on the old existing house,
Santo Antônio Chapel; he also restored with the collaboration of architect Wit-
and extended the existing small house. Olaf Prochnik:45 the house was gradu-
Subsequently, he added the loggia to ally enlarged, with additions to the front
the ensemble, as well as the ballroom, veranda and new spaces, until reaching
known as the stone kitchen, and a build- what today is the music room.
ing for the laundry room and cellar. As In a letter to Walter dated 8 th Au-
the buildings emerged, the surrounding gust 1960, 46 Roberto invites him for a
spaces were managed and landscaped, visit and expresses his enthusiasm for
taking advantage of the topography how the site is progressing: “Our site is
and original vegetation. looking marvellous (...). The house at the
site is becoming quite liveable with a
ROBERTO’S HOUSE44 hi-fi where we can peacefully listen to
The house where Burle Marx lived music, especially at night where there
breathes art, reverberates echoes of is almost complete silence. (...) Despite
friendship, and has eyes open to the the setbacks, this land is a wonder. I,
light and greenness of the landscape. Roberto, cannot speak for Siegfried,
Soon after the acquisition of the first but I think he agrees with me, I think we
plot of land of the Sitio Santo Antônio have the most beautiful piece of land
da Bica, Burle Marx carried out a first in the world.”
demos ouvir música sossegadamente,
sobretudo à noite onde o silêncio é quase
completo. (...) apesar dos pesares, essa
terra é uma maravilha. Eu, Roberto, não
posso falar por Siegfried, mas, creio que
ele concorda comigo, creio que temos um
pedaço de terra mais bonito do mundo”.
Na década de 1980, Burle Marx
soube, pela arquiteta Janete Costa, sua
amiga, da existência de uma porta re-
manescente de uma antiga capela de-
molida no Nordeste do Brasil; adquiriu
a porta e, para acomodá-la, construiu
um novo cômodo, com pé-direito mais
alto, depois da sala de música, apro-
veitando o desnível do terreno. Esse cô-
modo, atualmente denominado de sala
das cerâmicas, abriga a maior parte de
sua coleção de cerâmicas populares,
além de outras obras de arte.
HISTORY, CONTEXT AND ARCHITECTURE HISTÓRICO, CONTEXTO, ARQUITETURA

In the 1980s, Burle Marx found out, Marx’s, who witnessed the Sítio’s devel-
through his friend the architect Janete opment from early on, said: “The Sítio
Costa, of the existence of a door left over Burle Marx is a work, I would say, of
from an old chapel which had been de- continual creation, of a creation which
molished in the Northeast of Brazil; he begins and does not die out, which
acquired the door and, to fit it, built a new advances through time until its author
room with a higher ceiling, beyond the mu- leaves, exits the scene. I watched the
sic room, taking advantage of the uneven birth of the Sítio. The house which today is
ground. This room, currently the ceramics a jewel of architecture was an old house
room, houses most of the folk art ceramic with cracked walls and an outside toilet.
collection, as well as other art works. I watched it slowly transform, almost as if
Some years later, at the start of the by magic, until that magnificent balcony
1990s, the house underwent a final re- appeared, those rooms with ceilings he
furbishment, with the removal of a wall painted himself, the chandeliers, the
and the enlarging of the dining room, as sound of the piano room...”
well as the incorporation of a corridor After the refurbishments and ex-
leading to the guest room and a room tensions, Roberto’s House, on a single
that functioned as a small library. floor, has an area of 550m 2 with an
The doctor and botanist Luiz Emygdio L-shaped plan, the larger side fac-
de Mello Filho, a great friend of Burle ing the garden and access path. The
Alguns anos depois, no início dos do, quase como num passe de mágica, Burle Marx com amigos
na varanda de sua casa.
anos 1990, foi feita a última reforma na até chegar àquela varanda magnífica,
Página anterior: na
casa, com a remoção de uma parede e àquelas salas com tetos pintados por casa onde morou, Burle
Marx gostava de receber
a ampliação da sala de jantar, com a in- ele próprio, aos lustres, a sonoridade os amigos e visitantes.
corporação de um corredor que a ligava da sala do piano...”
Burle Marx with friends
à sala de visitas e de uma saleta que fun- Como resultado das reformas e am- on the porch of his house.

cionava como uma pequena biblioteca. pliações realizadas, a Casa de Roberto, Previous page: in the
house where he lived,
O médico e botânico Luiz Emygdio em um único pavimento, tem uma área Burle Marx enjoyed
meeting friends and visitors.
de Mello Filho, grande amigo de Burle de 550 metros quadrados, com planta
Marx, que acompanhou desde cedo o em “L”, cujo lado maior é voltado para
desenvolvimento do sítio, descreve: “O o jardim e o caminho de acesso. A sere-
Sítio Burle Marx é uma obra, eu direi, nidade conferida pelas linhas singelas
de criação continuada, de criação que e pelos materiais sóbrios da construção
começa e não se extingue, que avança proporciona uma pausa repousante en-
pelo tempo até que seu autor se vai, sai tre a exuberância dos jardins e a sofis-
de cena. Eu assisti ao nascer do sítio. A ticação do interior.
casa que hoje é uma joia de arquitetura O aspecto exterior da casa é de-
era uma casa velha, de paredes racha- finido pela cobertura em telhas cerâ-
das e com um banheiro externo. Eu vi micas, paredes caiadas e esquadrias
aquilo pouco a pouco se transmutan- azuis com vergas retas e vedações em
100

101
serenity conferred on it by the simple
lines and sober construction materi-
als provide a restful break between
the exuberance of the gardens and
the sophistication of the interior.
The external aspect of the house is
defined by the ceramic tile roof, white-
washed walls and blue frames with
straight lintels and wooden linings, fur-
nished with white guillotines and glass
frames. Throughout the extension of the
main facade there is a large veranda,
with stone slab floors and a tiled roof
with white rafters, supported by wooden
pillars painted in a colonial red tone,
whose layout reinforces the rhythm of
fullness and emptiness of the window
frames. Upon wooden supports which
are fixed in the wall gaps between the
doors and windows there are four large
Varanda da Casa de
Roberto com piso em lajes
de pedra e cobertura em
telha-vã. Quatro grandes
carrancas de embarcações
que navegavam no Rio
São Francisco guardam
a casa.

Página seguinte: concha


de ostra-gigante
(Tridacna gigas), um dos
itens do acervo do sítio.

In the porch with a


stone slab floor and a
span roof, we have, in
this configuration, the
four large carrancas
[figureheads] of boats
that sailed on the São
Francisco River.

Next page: giant oyster


shell (Tridacna gigas)
that integrates the
decoration of the porch.
HISTORY, CONTEXT AND ARCHITECTURE HISTÓRICO, CONTEXTO, ARQUITETURA

figureheads from ships which sailed the area and four interconnecting rooms:
São Francisco River looking over the the dining room, guest room, music room
garden, guarding the house as if it were – containing the German C. Bechstein
a boat sailing through the landscape. grand piano inherited from his mother –
Two of them were made by Mestre Biqui- and the ceramics room, created for the
ba Guarany.47 Vases with plants, an old folk art collection, most of which are ce-
church pew and other objects – among ramics from the Jequitinhonha valley.48
them a giant oyster shell (Tridacna gi- The aesthetic perspective with which
gas) – complete the decoration. Burle Marx viewed life permeates every
The interior of the residence reveals room of the house; the ceilings of the mu-
a life which is simultaneously simple – sic and ceramics rooms demonstrate this:
in terms of the dimension of the rooms the former is wood with detailed relief in
and construction finishes – and sophis- ivory, pink and light blue, and is a copy
ticated, due to the profusion of artworks of a ceiling of Pouso de Chico Rei, an 18th
and objects, which attest to the wide century house in the city of Ouro Preto;
cultural background and refined aes- the latter, a marouflage,49 was painted
thetic sense with which Burle Marx saw by Roberto himself.
the world around him. Embedded in the walls of the din-
The house is composed of three ing, living and music rooms there are
suites, a spacious kitchen with a service interior lit display cabinets with objects
madeira, guarnecidas com guilhotinas cha de ostra-gigante (Tridacna gigas)
brancas e caixilhos de vidro. Acompa- – completam a decoração.
nhando toda a extensão da fachada O interior da residência revela uma
principal há uma ampla varanda, com vida simultaneamente simples – em ter-
piso em lajes de pedra e cobertura em mos de dimensão dos cômodos e aca­
telha-vã, com caibros brancos, susten- bamentos construtivos – e sofisticada,
tada por pilares de madeira pintados pela profusão de objetos e obras de arte,
em tom vermelho colonial, cuja dispo- que atestam a ampla formação cultural
sição reforça o ritmo de cheios e vazios e o apurado sentido estético com que
conferido pelas esquadrias. Sobre su- Burle Marx olhava o mundo à sua volta.
portes de madeira fixados nos vãos de A casa é composta de três suítes,
parede entre as portas e janelas, quatro uma ampla cozinha, com despensa e
grandes carrancas, figuras de proa de área de serviço, e quatro salas interco-
embarcações que navegavam no Rio municantes: a sala de jantar, a sala de
São Francisco, miram o jardim, guar- visitas, a sala de música – onde fica o
dando a casa como barco a navegar piano de cauda alemão C. Bechstein,
na paisagem. Duas delas são assinadas herdado da mãe – e a sala das cerâmi-
pelo Mestre Biquiba Guarany.47 Vasos cas, criada para acomodar a coleção
com plantas, um antigo banco de igreja de arte popular, onde predominam as
e alguns objetos – entre eles uma con- cerâmicas do Vale do Jequitinhonha.48
102

103
collected by Burle Marx – “objects of of various styles, eras and origins on
poetic emotions,” as he said. In the din- the furniture and attached to walls – oil
ing room there are two cabinets with paintings, polychrome images, sculp-
glass and crystal objects, as well as a tures, engravings, design objects, wa-
large wall-mounted aquarium. In the tercolours – many by Burle Marx himself
guest room there is a cabinet with im-
ages of Catholic religious art; larger
images rest on pedestals and, on the
walls, Cuzco School paintings with re-
ligious motifs. The music room exhibits,
in three cabinets, a collection of pre-
Columbian ceramics. The ceramics
room, as previously mentioned, houses
the Jequitinhonha valley collection and
other folk artworks, as well as works
by Roberto and other artists. The guest
room also has a display case with a
collection of shells.
In addition to the collections dis-
played in the cases, there are artworks
HISTORY, CONTEXT AND ARCHITECTURE HISTÓRICO, CONTEXTO, ARQUITETURA
A perspectiva estética com que Burle imagens de arte religiosa católica; sobre Almofada pintada por
Burle Marx e que pertence
Marx olhava a vida permeia todos os peanhas e pedestais, há imagens maiores ao acervo do sítio.

ambientes da casa; desse olhar são tes- e, nas paredes, quadros da escola cus- Página anterior: sala de
música, em uma de suas
temunhos os forros da sala de música e quenha, com motivos religiosos. A sala disposições expográficas

da sala de cerâmica: o primeiro, em ma- de música expõe, em três vitrines, uma (registro anterior ao processo
de restauração). Destaque
deira com detalhes em relevo, em tons de coleção de cerâmicas pré-colombianas. para o piano de cauda
alemão C. Bechstein, herdado
marfim, rosa e azul-claro, é uma cópia de A sala das cerâmicas, como já mencio- da mãe, objetos de arte de
sua coleção e o forro do
um forro do Pouso do Chico Rei, sobra- nado, apresenta a coleção do Vale do teto, cópia de um forro do
do do século XVIII situado na cidade de Jequitinhonha e outras obras de arte po- Pouso do Chico Rei, sobrado
do século XVIII situado na
Ouro Preto; o segundo, em marouflage,49 pular e de autoria de Roberto e outros ar- cidade de Ouro Preto.

foi pintado pelo próprio Roberto. tistas. Há, ainda, no quarto de hóspedes, Cushion painted by Burle
Marx that belongs to the
Embutidas nas paredes das salas de uma vitrine com uma coleção de conchas. collection of the sítio.
jantar, de estar e de música, há vitrines Além das coleções expostas nas vitri- Previous page: music room,
in one of its expographic
com iluminação interna, onde estão ex- nes, há obras de arte dos mais diversos dispositions (photo previous
postos objetos colecionados por Burle estilos, épocas e procedências, sobre os to the restoration process).
Highlight to the German
Marx – “objetos de emoções poéticas”, se- móveis e presas às paredes – pinturas a C. Bechstein grand piano,
inherited from his mother,
gundo ele. Na sala de jantar há duas vi- óleo, imagens policromadas, esculturas, art objects from his collection
and the ceiling lining, copy
trines com objetos de vidro e cristal, além gravuras, objetos de design, aquarelas of a lining of the Pouso do
de um grande aquário embutido na pare- –, muitas de autoria do próprio Burle Chico Rei, an eighteenth
century house located in
de. Na sala de visitas há uma vitrine com Marx e outras de amigos como Georges the city of Ouro Preto.

104

105
and others by friends such as Georges
Braque, Le Corbusier, Alvar Aalto, Anita
Wechsler and Zélia Salgado. The fur-
niture itself is a collection of different
styles and eras, accompanied by cush-
ions painted by Burle Marx.
During the entire time he lived there,
these environments and his artworks wel-
comed a multitude of friends for count-
less and memorable lunches and dinners.
In the documentary made on the occa-
sion of his 80th birthday, Roberto speaks
of friendship: “To choose one’s friends
is already to make poetry. (...) If you ask
me “Are you a rich man?” I will say ‘I am
very rich. Just by being close to you all’,
(...) the beautiful things life gives me, are
my friends, (...) it is this convergence of
tenderness, friendship, the most beautiful
things that exist in the history of man.”50
Piso da loggia, com Braque, Le Corbusier, Alvar Aalto, Ani- A presença da arte na vida, a pre-
destaque para a
continuidade visual ta Wechsler, Zélia Salgado. Os próprios sença da arte em todos os cantos, no
com o piso externo.
móveis formam uma coleção de dife- interior e no exterior da Casa de Ro-
Abaixo, chafariz de
sete bicas na parede rentes estilos e épocas, acompanhados berto, a profusão de obras de grande
posterior da loggia.
por almofadas pintadas por Burle Marx. qualidade articuladas por um arranjo
The floor of the loggia
accentuating the visual
Durante todo o tempo em que ali estético singular, tudo indica que ali
continuity of the residiu o artista, esses ambientes e suas residia um artista que colocava a sua
external flooring. On
the bottom, seven- obras de arte acolheram uma infinida- arte em conversa com outras produ-
headed fountain at the
back wall of the loggia.
de de amigos, em incontáveis almoços e ções artísticas, que cultivava amizades
jantares memoráveis. No documentário como quem faz poesia, que vivia e se
feito por ocasião de seus oitenta anos, alimentava de emoções poéticas, mas
Roberto fala da amizade: “Escolher os também tinha o desejo de se projetar
amigos já é fazer poesia. (...) Se você me na memória do futuro e de provocar em
perguntar ‘Você é um homem rico?’, eu seus contemporâneos e nos pósteros
digo ‘Eu sou muito rico. Basta estar per- emoções poéticas também singulares.
to de vocês’, (...) são as coisas bonitas
que a vida me dá, são os meus amigos, LOGGIA
(...) é essa convergência de ternura, de Compondo o pano de fundo para o re-
amizade, das coisas mais bonitas que tângulo ajardinado que separa a Casa
existem na história do homem”. 50 de Roberto da Capela de Santo Antônio
HISTORY, CONTEXT AND ARCHITECTURE HISTÓRICO, CONTEXTO, ARQUITETURA

The presence of art in life, the pres- to serve as a small studio for painting
ence of art in every corner, inside and and screen printing. With a rectangu-
outside of Roberto’s House, the profu- lar floor plan and an area of 60m 2 , the
sion of works of great quality joined by loggia roof is tiled with barrel clay tiles
a unique aesthetic arrangement, all indi- type tiles and externally whitewashed.
cate that here resided an artist who put To the left of the entrance through the
his art in dialogue with other forms of ar- arches, a cast-iron barred door with a
tistic production, who cultivated friend- granite frame leads to the garden be-
ships as if writing poetry, who lived and tween Roberto’s House and the stone
fed on poetic emotions, but also had the kitchen; to the right there is a barred
desire to project himself into the memory rectangular window opening. Inside, the
of the future, and provoke in his contem- loggia is completely clad with painted
poraries also singular poetic emotions. tile panels by Burle Marx, dated 1967,
interrupted only by the arch, door and
LOGGIA window openings. From the trellis lined
Forming the backdrop to a rectangu- ceiling hang two chandeliers created
lar garden which separates Roberto’s by the artist, formed of an iron structure
House from the Santo Antônio Chapel is with four arms, to which plant elements
the loggia, an “edicule” with five gran- are affixed (foliage, flowers, fruits). The
ite arches whose original function was arrangements which line the chandeliers
fica a loggia, edícula com cinco arcos
de cantaria granítica, cuja função origi-
nal foi servir como pequeno ateliê para
pintura e serigrafia. De planta retangu-
lar e área de 60 metros quadrados, a
loggia é coberta por telhas cerâmicas
do tipo capa-canal e caiada externa-
mente de branco. À esquerda de quem
entra pelas arcadas, uma porta grade-
ada em ferro fundido com enquadra-
mento em granito dá acesso ao jardim
entre a Casa de Roberto e a cozinha de
pedra; à direita há um vão retangular
de janela, gradeado. Internamente, a
loggia é totalmente revestida por um
painel de azulejos pintados, de autoria
de Burle Marx, datado de 1967, inter-
rompido apenas pelos vãos da arcada,
da porta e da janela. Do forro tabuado
em gamela pendem dois candelabros
106

107
are periodically replaced by the Sítio’s
gardeners, following a mode of compo-
sition learnt from Burle Marx. The floor
is composed of granite slabs, maintain-
ing visual continuity with the external
floor. On the back wall of the room, a
seven-spouted fountain pours water into
a stone channel, which is lined with pot-
ted plants.

SANTO ANTÔNIO CHAPEL


The small Santo Antônio Chapel is locat-
ed at the same level as Roberto’s House,
facing the plain and access path, with an
area of 177.3m2, a single nave and choir,
chancel, sacristy and a side room with a
large opening on to the chancel. At the
back of the chapel there is an extension,
with external access, composed of a suite
with two bathrooms.
Interior da capela. criados pelo artista, compostos de uma Capela de Santo Antônio, com área de
Destaque para as
esquadrias em madeira da estrutura de ferro com quatro braços, 177,3 metros quadrados, de nave única
fachada: portas de folhas onde são afixados elementos vegetais com coro, capela-mor, sacristia e um
duplas almofadadas na
cor vermelho colonial (folhagens, flores, frutos). Os arranjos cômodo lateral aberto por um grande
e janelas de caixilhos
brancos envidraçados, que revestem esses candelabros são vão para a capela-mor. Na parte pos-
todas arrematadas por substituídos periodicamente por jar- terior da capela há um acréscimo, com
cercaduras em madeira
pintadas de azul. dineiros do sítio, seguindo o modo de acesso externo, composto de uma suíte
Na nave da capela, composição aprendido com Burle Marx. e dois banheiros.
o piso em lajota de
cerâmica e a capela-mor, O piso é composto de lajes de granito, A construção da capela nesse lo-
revestida de madeira.
mantendo a continuidade visual com o cal remonta ao século XVII, quando as
Interior of the chapel.
piso externo. Na parede posterior desse terras faziam parte da antiga Fazenda
Focus on the wooden
frames of the facade, ambiente, um chafariz com sete bicas da Bica. Em seu Memorias historicas do
double-hinged doors
in colonial red, and white despeja água numa valeta revestida Rio de Janeiro e das provincias annexas
window cases finished
de pedra, cuja borda é guarnecida por a’jurisdicção do vice-rei do Estado do
in wooden frames
painted in blue. jardineiras com plantas. Brasil,51 José de Souza Azevedo Pizarro
In the nave of the chapel, e Araújo, o monsenhor Pizarro,52 relata
the ceramic tile floor
and the chancel, with CAPELA DE SANTO ANTÔNIO que a Capela de Santo Antônio havia
wood finishing.
Situada no mesmo plano da Casa de sido “fundada na Bica antes de 1681”.
Roberto e voltada para a planície e Em outra publicação,53 ele diz que “Em
o caminho de acesso, fica a pequena o anno de 1743 axava-se esta Cap.ª arrui-
HISTORY, CONTEXT AND ARCHITECTURE HISTÓRICO, CONTEXTO, ARQUITETURA
nada, e foi o objeto das providências do
R. [Visitador] Dr. Araujo: estando só com
alicerces, foi reedificada pelo falecido
Cap. Francisco de Macedo Freire no ano
de 1791 (...)”. Entre 1686 e 1690, achando-
-se arruinada a igreja matriz de Guara-
tiba, a Capela de Santo Antônio da Bica
funcionou como sede paroquial, tendo
retornado ao uso doméstico original com
a conclusão da reforma da igreja matriz.
Ao adquirir o terreno, Burle Marx
restaurou a capela e a manteve fran-
queada ao uso da comunidade católica
de Barra de Guaratiba, que lá, ainda
hoje, realiza missas dominicais, casa-
mentos, batizados e outras celebrações,
inclusive a festa de Santo Antônio, ce- tetura. Coberta com telhas cerâmicas,
lebrada anualmente no dia 13 de junho. caiada externa e internamente, possui
Como a Casa de Roberto, a capela esquadrias em madeira: portas de fo-
se destaca pela singeleza de sua arqui- lhas duplas, almofadadas na cor ver-
108

109
The construction of the Chapel dates turning to its original domestic use when Vista lateral da Capela
de Santo Antônio da Bica.
back to the 17th century, when the land the main church was refurbished.
Side view of the Chapel
was part of the old Fazenda da Bica. When acquiring the land, Burle Marx of Santo Antônio da Bica.
In his Memórias históricas do Rio de Ja- restored the chapel and kept it free for
neiro e das províncias annexas à juris- use by the Catholic community of Barra
dicção do vice-rei do Estado do Brasil, 51 de Guaratiba, which to this day uses it to
José de Souza Azevedo Pizarro e Araú- hold Sunday mass, weddings, baptisms
jo, Monsignor Pizarro, 52 reports that the and other celebrations, including the
Santo Antônio Chapel was “founded in Santo Antonio festivities, held annually
Bica before 1681.” In another publica- on the 13th June.
tion, 53 he says that “In the year 1743 this As with Roberto’s House, the cha-
chapel in ruins was annexed and was pel stands out for the simplicity of its
the object of measures by R. [visiting] Dr. architecture. With ceramic tile roofing
Araujo: being only with foundations, it and internal and external whitewashed
was rebuilt by the late Cap. Francisco walls, it has wooden frames and double-
de Macedo Freire in the year of 1791 leafed doors paneled in a colonial red,
(...).” Between 1686 and 1690, when the and glazed white sash windows with
main church of Guaratiba was ruined, blue-painted wooden moldings. Next
the Santo Antônio da Bica Chapel func- to the side facade, on the left, there is a
tioned as the parish’s main office, re- small stone bell tower with a bronze bell
melho colonial, e janelas de caixilhos frisos em vermelho colonial e dourado,
brancos envidraçados, todas arremata- com mesas e supedâneos em madei-
das por cercaduras em madeira pinta- ra. Cada altar é guarnecido por dois
das de azul. Junto da fachada lateral, à castiçais e duas ânforas em madeira
esquerda, há uma pequena torre sineira entalhada policromada. No altar da
em alvenaria, com um sino de bronze, direita, para quem olha em direção à
coberta com telhas cerâmicas, cuja al- capela-mor, está a imagem de Nossa
tura não ultrapassa a cimalha. O piso Senhora do Parto ou da Apresentação
da nave é revestido por lajotas de cerâ- e, no da esquerda, encontra-se a ima-
mica, e o da capela-mor, por tabuado gem de São Jerônimo, ambas datadas
em madeira. A nave e a capela-mor do século XVIII54 e em madeira enta-
têm forros em tabuado saia-e-camisa lhada policromada.
em três planos, acompanhando os cai- O altar-mor, de feição singela, pos-
bros e a linha alta da cobertura, na cor sui um retábulo da segunda metade do
branca, com cimalhas em frisos azuis e século XVIII, típico de capela de fazen-
verdes junto das paredes. da, tendo ao centro um nicho com a
Próximo ao arco-cruzeiro há dois imagem de Santo Antônio, escultura em
altares laterais, compostos de nichos madeira policromada do século XVII,
embutidos na alvenaria, internamente representando Santo Antônio com o
pintados de azul e arrematados por menino Jesus no colo, ambos com res-
HISTORY, CONTEXT AND ARCHITECTURE HISTÓRICO, CONTEXTO, ARQUITETURA

and ceramic tile roofing, the height of left-hand altar, the image of Saint Je-
which does not exceed the coping. The rome, both dating from the 18th century54
nave has ceramic tile flooring, and the and in polychrome carved wood.
chancel has wooden flooring. The nave The simple high altar has an altar-
and chancel have three-tiered wooden piece dating from the second half of the
ceilings, accompanying the rafters and 18 th century, typical of a farm chapel,
the topline of the white roof, with blue with a centre niche with the image of
and green friezes along the walls. Saint Anthony carved in polychrome
Next to the crossing are two side al- wood from the 17th century, representing
tars, made up of niches embedded in Saint Anthony with the baby Jesus on his
the stonework, painted blue and topped lap, both with silver resplendors. 55 The
with colonial red and gold friezes with high altar is made of carved wood with
wooden tables and props. Each altar an embedded niche and decorated with
is decorated with two candlesticks and eight candlesticks and a polychrome
two amphorae of carved polychrome carved crucifix.
wood. On the right-hand altar, looking In front of the chapel’s main door
towards the chancel, is the image of Our a nine-step granite staircase, flanked
Lady of Childbirth or the Presentation by a granite wall, leads to the garden,
(or, in Portuguese, Nossa Senhora do where another stone staircase leads to
Parto ou Apresentação), and, on the the Sítio’s main path.
plendores em prata. 55 O altar-mor, em talou espécies saxícolas de variadas
madeira entalhada com nicho embuti- procedências, como ceibas, clúsias,
do, é guarnecido com oito castiçais e bromeliáceas, agaváceas, iúcas”.
crucifixo em talha policromada.
Em frente à porta principal da ca- JARDIM DA CASA
pela, uma escadaria com nove degraus O platô situado logo abaixo do nível
em granito, ladeada por uma mureta da Casa de Roberto, posicionado ao
com arranques também em granito, faz longo do eixo Leste-Oeste como o con-
a ligação com o jardim, de onde parte junto casa-loggia-capela, compõe um
uma escadaria em pedra que leva ao plano ajardinado, com um gramado ao
caminho principal do sítio. centro, ligado à casa por uma escada
O agenciamento da paisagem em em pedra paralela ao muro de arrimo.
torno dessa escadaria, com a intro- A extremidade leste do jardim é limi-
dução de uma grande quantidade de tada por uma parede escultórica em
plantas provenientes de várias regiões blocos de cantaria, onde estão dispos-
do Brasil e de outros países, foi descrito tas bromélias variadas. À frente dessa
por Giulio Rizzo: 56 “Burle Marx reuniu parede há um espelho d’água formado
no talude em frente à capela e à Casa por recortes de linhas retas, com bordas
de Roberto pedras de vários tamanhos em cantaria, contendo plantas aquáti-
encontradas na propriedade; ali ins- cas. Contornando o espelho d’água e
110

111
The arrangement of the landscape garden is bordered by a sculpted stone-
surrounding the staircase, with the intro- work wall with an arrangement of varied
duction of a large quantity of plants from bromeliads. In front of the wall there is
various regions of Brazil and other coun- a reflecting pool formed of straight cuts
tries, was described by Giulio Rizzo: 56 with stone edges, containing aquatic
“Roberto Burle Marx gathered stones of plants. Skirting the pool and bordering
varied sizes he found on the property on the lawn are diverse groups of plant spe-
the slope in front of the chapel and Ro- cies forming masses of different colours,
berto’s House; there he set up saxic spe- widths, shapes and textures, which act as
cies of various origins, such as ceibas, clu- a transition between the two planes, soft-
sias, bromeliads, agavaceae and yucca.“ ening the straight lines of the retaining
walls. Distributed throughout the garden,
HOUSE GARDEN vertical elements such as palm trees and
The plateau just below the level of Ro- stone columns holding up bromeliads
berto’s House, positioned along an east- create a rhythm which breaks up the hori-
west axis like the house-loggia-chapel zontality of the landscaped plan.
ensemble, forms a landscaped plain,
with a lawn in the middle linked to the STONE KITCHEN
house via a stone staircase parallel to The space between the rear facade of
the retaining wall. The east end of the Roberto’s House and the stone kitchen
HISTORY, CONTEXT AND ARCHITECTURE HISTÓRICO, CONTEXTO, ARQUITETURA

is occupied by flowerbeds combining happen. So the first experiment was to


smooth pebbles, stones and various discover what to do for a plant coming
plant species, interspersed with rect- from another ecosystem to adapt here.
angular stone tiles. Two staircases with A good example of this is the Velozia-
stone steps connect the level of this area ceae. Roberto adored these plants, but
with the higher level of the paved path would not risk bringing them because he
which runs alongside it. thought they would die. Until the day he
This part of the garden is near the met Nanuza Menezes, another excep-
Veloziaceae collection, considered the tional botanist, who told him a secret:
largest in the world,57 which Roberto was ‘It’s not dead Roberto, it looks like it’s
proud of; this collection exemplifies the dead, but you just need to keep water-
dynamic character which the landscap- ing it and it will revive’. From then on,
er gave to the Sítio, as the introduction of Roberto made excursions sometimes al-
its cultivation, Robério Dias says, reflects most solely to search for Veloziaceae.”58
the challenges for composing the col- José Tabacow highlights the liberty
lection and the adaptation of the spe- with which Burle Marx intervened in the
cies: “Plants taken from nature do not landscape of the Sítio and altered it ac-
come with an instruction manual. Here cording to the emergence of new priori-
they were planted in places [Burle Marx] ties: “Roberto wasn’t committed to the
thought would work, which didn’t always composition of the Sítio; it was dynamic,
beirando todo o gramado, grupos de taria vencem a diferença de nível entre Exemplar de Vellozia
situado atrás da Casa de
plantas de espécies diversas formam essa área e o caminho pavimentado Roberto, que se orgulhava
massas de diferentes cores, larguras, que passa ao lado, em nível mais alto. de ser um dos grandes
colecionadores dessa
formatos e texturas, que promovem a Próximo a essa parte do jardim está espécie.

transição entre os dois planos, ameni- instalada a coleção de Veloziaceae, ou Página anterior: platô
abaixo do nível da Casa
zando as linhas retas dos muros de con- velózias, considerada a maior do mun- de Roberto, com plano
ajardinado e gramado
tenção. Distribuídos ao longo do jardim, do, 57 da qual Roberto muito se orgulha- ao centro.
elementos verticais como palmeiras e va; essa coleção exemplifica o caráter
Specimen of Vellozia
colunas em cantaria que sustentam bro- dinâmico que o paisagista imprimia à located behind Roberto’s
House, who prided
mélias compõem um ritmo que rompe a paisagem do sítio, pois sua introdução himself on being one of
horizontalidade do plano ajardinado. e seu cultivo, como indica Robério Dias, the great collectors of
that species.
refletem os desafios enfrentados para Previous page: plateau
COZINHA DE PEDRA a composição das coleções e a adap- below the level of
Roberto’s House, with a
O espaço entre a fachada posterior da tação das espécies: “As plantas retira- gardened ground and a
lawn in the center.
Casa de Roberto e a cozinha de pedra das da natureza não vêm com manual
é ocupado por canteiros que combi- de instrução. Aqui eram plantadas em
nam seixos rolados, pedras e variadas locais em que ele [Burle Marx] achava
espécies de plantas, entremeados ao que iam funcionar, o que nem sempre
piso em lajes retangulares de pedra. acontecia. Então a primeira experiência
Duas escadarias com degraus em can- era descobrir o que fazer para que a
112

113
such as for example, the garden [behind
the house, part of which] became the Ve-
loziaceae collection.” To install this col-
lection, he removed a well-developed
tree (Pseudobombax ellipticum).
A little further on is the stone kitchen,
the large ballroom by Francisco Rubem
Breitman and Haroldo Barroso Beltrão,
called the Roberto Burle Marx Pavillion,
which received an award in 1963 by the
Institute of Architects of Brazil.
With a square floor plan of 217m2, the
building’s main space is a large covered
hall open on three sides. On the near-
est side to Roberto’s House, in a con-
tinuous space, there is the service area,
with sculptural walls composed of reused
stonework elements, which is equipped
with a large central oven flanked by two
sinks and a block on each side housing,
Cascata que alimenta vegetação que vinha de outro ecossis- casa, parte do qual] virou uma coleção
o espelho d’água com
peixes e plantas em torno tema se adaptasse aqui. Um exemplo de velózias”. Para instalar essa coleção,
da cozinha de pedra.
bom disso são as Veloziaceae. Roberto ele removeu uma árvore (Pseudobom-
Página seguinte: painel
de cerâmica de autoria
adorava essas plantas, mas não arris- bax ellipticum) já bastante desenvolvida
de Burle Marx situado na cava mais trazê-las porque achava que que ali havia.
cozinha de pedra.
morriam. Até o dia em que conheceu a Um pouco mais adiante, chega-se à
Cascade that feeds the
water mirror, which has Nanuza Menezes, outra excepcional cozinha de pedra, o grande salão de
fish and plants, located botânica, que lhe contou o segredo: festas cujo projeto, de Francisco Rubem
around the stone kitchen.

Next page: ceramic panel


‘Ela não morreu, Roberto, parece que Breitman e Haroldo Barroso Beltrão,
by Burle Marx located in está morta, mas é só continuar regando intitulado Pavilhão Roberto Burle Marx,
the stone kitchen.
que ela revive’. A partir daí Roberto fez foi premiado em 1963 pelo Instituto dos
excursões, às vezes quase que só para Arquitetos do Brasil.
buscar velózias”. 58 De planta quadrada, com 217 metros
José Tabacow aponta a liberdade quadrados, a edificação tem como es-
com que Burle Marx intervinha na pai- paço principal um grande salão coberto
sagem do sítio e a alterava, caso sur- e aberto em três lados. Na extremidade
gissem novas prioridades: “Roberto não mais próxima à Casa de Roberto, em es-
tinha compromisso com a composição paço contínuo, concentra-se o setor de
do sítio; havia uma dinâmica, como, por serviços, com fechamento em paredes
exemplo, o jardim [existente atrás da escultóricas compostas de elementos
HISTORY, CONTEXT AND ARCHITECTURE HISTÓRICO, CONTEXTO, ARQUITETURA
reaproveitados de cantaria, equipado
com um grande forno central, ladeado
por duas pias e tendo a cada lado um
bloco que abriga, respectivamente, um
sanitário e uma despensa. Externamente,
essa extremidade também apresenta
revestimento com elementos de cantaria
e trechos em alvenaria pintada de azul.
Todo o piso da cozinha de pedra é
formado por lajes de pedra, e a cober-
tura é composta de uma grande laje em
concreto armado, sustentada por pilares
no mesmo material, sobre a qual há um
espelho d’água. No lado oposto à en-
trada, um intervalo entre dois pilares é -se para um jardim, em plano mais bai-
preenchido por um painel de cerâmica xo, coberto por um grande pergolado
de autoria de Burle Marx, com motivos em vigas de concreto, com 243 metros
abstratos em preto, amarelo e azul sobre quadrados de área, que sustenta a tre-
fundo vermelho. À esquerda de quem padeira conhecida como flor-de-jade
entra, a lateral totalmente livre abre- (Strongylodon macrobotrys). Na extre-
114

115
respectively, a toilet and a pantry. Ex- panel, a granite staircase leads to the
ternally, this side also features cladding garden, paved with stone slabs where,
with stonework elements and sections of in addition to the flowerbeds, there is
blue-painted masonry. a reflecting pool with plants and fish,
The entire floor of the stone kitchen which receives the waters from a cas-
is formed of stone slabs, and the roof cade and water curtain from the roof.
is of a large reinforced concrete slab Surrounding the garden, and in dia-
supported by concrete pillars, on which logue with it, the place’s native trees
there is a water mirror. On the opposite support philodendrons.
side to the entrance, a gap between two
pillars is filled by a ceramic panel by LAUNDRY BUILDING
Burle Marx with abstract motifs in black, Behind the Stone Kitchen there is a sup-
yellow and blue on a red background. port building, built after the donation of
To the left of the entrance, the com- the Sítio to the federal government (1985)
pletely free side opens to a garden on a to house the laundry room, a cellar and
lower level, covered by a large pergola a large storage room, as well as a room
on concrete beams with a 243m 2 area, with a bathroom. It is a simple building,
supporting a vine known as the jade with a rectangular plan of 103.5m2 , ce-
flower (Strongylodon macrobotrys). At ramic tile roofing, white painted facades
the right end of this side, next to the tile and blue frames in wood and glass. After
Jardim junto à cozinha
de pedra, com piso
em lajes de granito e
espelhos d’água, sob a
pérgula da Flor de Jade.

Garden next to the stone


kitchen, with granite
slabs flooring and
reflecting pools under
the Jade Flower pergola.
HISTORY, CONTEXT AND ARCHITECTURE HISTÓRICO, CONTEXTO, ARQUITETURA
116

117
Caminho pavimentado midade direita dessa lateral, próximo retangular, com área de 103,5 metros
em paralelepípedos que
dá acesso ao ateliê, ao painel de azulejos, uma escada em quadrados, coberta por telhas cerâ-
projetado por Acácio Gil granito dá acesso ao jardim, pavimen- micas tipo capa-canal, com fachadas
Borsoi, com arquitetura de
interior de Janete Costa. tado com lajes de pedra, onde há, além pintadas de branco e esquadrias azuis
Paved cobblestone path dos canteiros, um espelho d’água com em madeira e vidro. Após uma reforma
that gives access to the
studio, designed by Acácio
plantas e peixes, que recebe as águas realizada em 2009, o espaço da lavan-
Gil Borsoi in partnership de uma cascata e de uma cortina d’água deria passou a abrigar sanitários para
with the interior architect
Janete Costa. proveniente da cobertura do salão. Em o público visitante.
torno desse jardim e em diálogo com ele,
as árvores da vegetação originária do Nível do ateliê
lugar sustentam filodendros. ATELIÊ
Subindo o terreno pelos jardins, o visi-
PRÉDIO DA LAVANDERIA tante passa pelo Lago 5, situado à di-
Por trás da cozinha de pedra fica uma reita, e por um largo que tem ao centro
edificação de apoio, construída após uma sapucaia (Lecythis pisonis), che-
a doação do sítio ao governo federal gando à construção mais recente do
(1985), para abrigar uma lavanderia, sítio: o ateliê de Burle Marx.
uma adega e um amplo depósito, além Implantado no nível da cota dos
de um quarto com banheiro. Trata-se 45 metros, o ateliê foi projetado por
de uma construção simples, de planta Acácio Gil Borsoi, com arquitetura de
HISTORY, CONTEXT AND ARCHITECTURE HISTÓRICO, CONTEXTO, ARQUITETURA

the refurbishment of 2009, the laundry artistic production for Burle Marx, as
room space was converted into lavato- well as the place for exhibitions and
ries for the visiting public. conducting courses on landscaping,
botany and other related subjects.
Studio Level The building is reached by a cob-
STUDIO blestone-paved path, at a level below
Ascending the grounds through the the actual building, where a 36 square
gardens, the visitor will pass Lake 5 on metre space was originally intended
the right-hand side, and cross a square for use as a garage; in the 2009-2011
with a sapucaia (Lecythis pisonis), be- renovation, the space was converted
fore reaching the Sítio’s most recent to a public lavatory. To the left of the
construction, the studio of Burle Marx. lavatories, a staircase leads to a porch
Situated at the 45 metre level, the with a stone floor and concrete slab
studio was designed by Acácio Gil Bor- roofing which is partially closed with
soi with interior architecture by Janete stonework, and gives access to the stu-
Costa. It is a modern building with a dio inside via a large wooden panelled
partial stonework facade reused from a door, painted blue and green with red
demolished old 19th century townhouse friezes. On the outer wall to the right of
in the centre of Rio de Janeiro, whose the porch, facing the garden, there is a
function was to become the place of tile panel by Burle Marx.
interior de Janete Costa. É uma constru-
ção moderna, que utiliza parte de uma
fachada em cantaria reaproveitada de
um antigo sobrado do século XIX, de-
molido no centro do Rio de Janeiro, cuja
finalidade era constituir-se como local
de produção artística para Burle Marx e
também como lugar para a realização
de exposições e cursos de paisagismo,
botânica e assuntos afins.
Chega-se ao edifício pelo caminho
pavimentado em paralelepípedos, num
nível inferior à construção propriamente
dita, onde há um espaço de 36 metros
quadrados que originalmente se desti-
nava a uma garagem; na reforma rea-
lizada entre 2009 e 2011, esse espaço foi
convertido em sanitários para o público.
À esquerda dos sanitários, uma escada
com degraus em pedra leva a um alpen-
118

119
The single floor building with a rect-
angular floor plan has a composite roof:
in the hall area, it has a metallic struc-
ture and roofing, and in the areas cover-
ing the other rooms, it is a concrete slab.
The plan is staggered on three levels,
following the slope of the ground.
The main environment is a large hall
measuring 22.45 by 7.51 metres and a
ceiling height ranging between 4.9 and
6 metres with zenith lighting provided
by two skylights. At one end of the room
there is a large counter with a sink. The
room’s natural light is complemented by
five large iron and glass-sealed openings
which, on three sides, open onto the front
porch and the west patio. Between the
doorways, the walls display six canvases
and a tapestry, all large in size and made
by Roberto especially for this location.
dre, com piso em pedra, cobertura em
laje de concreto e fechamento parcial
em cantaria, que dá acesso ao interior
do ateliê, por meio de uma grande porta
almofadada, em madeira pintada em
azul e verde, com frisos vermelhos. Na
parede externa à direita do alpendre,
voltado para o jardim, há um painel de
azulejaria de autoria de Burle Marx.
A construção de pavimento único e
de planta retangular tem sua cobertura
composta, na área do salão, com estru-
tura e telhamento metálicos e, nas áreas
que cobrem o restante dos ambientes,
em laje de concreto. A planta é esca-
lonada em três níveis, acompanhando
a inclinação do terreno.
O ambiente principal é um grande
salão medindo 22,45 metros de com-
primento por 7,51 metros de largura,
HISTORY, CONTEXT AND ARCHITECTURE HISTÓRICO, CONTEXTO, ARQUITETURA

Centred in relation to the larger axis The living room leads, to the left, to
of the building, on the left-hand side two rooms and a spacious bathroom. At
coming through the main door entrance a slightly higher level and directly behind
and at a higher level than the hall of this room there is a solarium with two
the studio, there is a large living room large windows facing the studio’s back
which is accessed by a ramp at the end garden, where there is an old settee, a
closest to the main door, and a staircase Charles and Ray Eames armchair and
at the other end. The room is set with a small side table in wood and metal.
modern furniture – including pieces by To the right of the living room, which
Maurício Azeredo 59 – and decorated is also open onto the hall, there is a
with folk art objects and works by Burle small kitchen with a sink, stove, cabinets
Marx; at its centre, there is a truss ceil- and fridge. Further right, at the same
ing, produced on the Sítio itself, made level as the solarium, accessed by a ma-
in concrete embossed with bas-reliefs sonry staircase, there are two rooms
designed by Burle Marx, with a five-arm which originally were used for storage
chandelier, also by Burle Marx, com- (pigments, paint, brushes, etc.). In the
posed of a metallic tube structure with intervention of 2009 and 2011, these two
turned wood geometric solids painted in rooms were transformed into technical
various colours and glass sleeves made reserves for works on paper (drawings,
with cut bottles. prints) and paintings. The map library
com um pé-direito que varia de 4,9 a rampa, na extremidade próxima à porta O grande salão do
ateliê, com iluminação
6 metros, com iluminação zenital pro- principal, e por uma escada, na outra zenital, piso em lajes
porcionada por duas claraboias. Em extremidade. Essa sala é ambientada de concreto, portas e
janelas em ferro e vidro.
uma das extremidades do salão há uma com mobiliário moderno – incluindo pe- As três grandes portas se
abrem para a varanda.
ampla bancada com pia. A iluminação ças de Maurício Azeredo59 – e decorada
Página anterior: painel
natural desse ambiente é complemen- com objetos de arte popular e obras de azulejos desenhado
por Roberto Burle Marx,
tada por cinco grandes vãos com ve- de Burle Marx; possui, ao centro, um integrado à fachada
dação em ferro e vidro que se abrem, teto em gamela, produzido no próprio lateral do ateliê.

em três lados, para a varanda frontal sítio, em concreto, ornado com baixos- The studio’s large hall,
with zenithal lighting,
e para o pátio existente a oeste. Entre -relevos com desenho de Burle Marx, concrete slab floor,
os vãos das portas, as paredes expõem com um lustre de cinco braços, também iron and glass doors
and windows. The three
seis telas e uma tapeçaria, todas de de autoria de Burle Marx, composto de large doors open onto
the porch.
grandes dimensões, feitas por Roberto estrutura em tubos metálicos, com sóli-
Previous page: tiles
especialmente para esse local. dos geométricos em madeira torneada panel designed by
Roberto Burle Marx,
Centralizada em relação ao eixo pintados em cores diversas e mangas integrated into the side
maior da edificação, à esquerda de de vidro feitas com garrafas cortadas. facade of the studio.

quem entra pela porta principal e em ní- A sala dá acesso, à esquerda, a dois
vel mais elevado do que o salão do ate- quartos e um banheiro amplo. Em nível
liê, há uma ampla sala de estar, aberta um pouco mais acima e diretamente
para ele, cujo acesso se faz por uma atrás dessa sala há um solarium com
120

121
À direita da sala de estar, também
aberta para o salão, há uma pequena
cozinha, com pia, fogão, armários e
frigobar. Mais à direita, em nível equi-
valente ao do solarium, com acesso
por uma escada de alvenaria, há dois
cômodos que originalmente funciona-
riam como locais de guarda de mate-
riais (pigmentos, tintas, pincéis etc.). Na
intervenção realizada entre 2009 e 2011,
esses dois cômodos foram transforma-
dos nas reservas técnicas para obras
sobre papel (desenhos, gravuras) e pin-
turas. A mapoteca situada em uma das
salas da reserva técnica contém 1.620
duas grandes janelas voltadas para o obras, a maior parte de autoria de Ro-
jardim situado aos fundos do ateliê, onde berto Burle Marx, mas também de ou-
ficam um canapé antigo, uma poltrona tros artistas, como Margaret Mee, Leo
com banqueta Charles e Ray Eames e Putz, Alfredo Volpi. A reserva técnica
uma mesinha lateral em madeira e metal. de pinturas guarda 42 obras a óleo ou
HISTORY, CONTEXT AND ARCHITECTURE HISTÓRICO, CONTEXTO, ARQUITETURA

Solarium do ateliê, com located in one of the technical reserve The first element to be introduced
poltrona com banqueta
Charles e Ray Eames e rooms contains 1,620 works, mostly by on the Sítio was the old stone facade,
mesinha lateral de madeira Burle Marx but also by other artists, transported from the corner of Con-
e metal. No solarium,
assim como na sala de such as Margaret Mee, Leo Putz and selheiro Saraiva and São Bento, in the
estar e nos quartos, o piso
é em tabuado corrido. Alfredo Volpi. The technical reserve for centre of Rio de Janeiro, and reassem-
Página seguinte: paintings has 42 oil or acrylic canvases, bled on a concrete base at the end of
exemplares da coleção
botânica do sítio à margem
painted by Burle Marx at different times. the 1980s. The actual building was built
do caminho pavimentado At the far right, on the same level at the start of the following decade,
de Santa Luzia.
as the living room, there is an opening between 1993 and 1994. It was finished
The studio’s solarium,
with an armchair and into the hall, which was used for stor- shortly after Burle Marx’s death.
stool designed by Charles ing new large canvases. The floors of
and Ray Eames and a
wood and metal side the hall, kitchen, bathroom and tech- SANTA LUZIA
table. In the solarium, as
well as in the living room nical reserve rooms are ceramic; the The cobblestone-paved path rises
and in the bedrooms, living room, solarium and bedrooms above the level of the studio, past the
with strip flooring.

Next page: specimens


have wooden floorboards. On the op- large water reservoir, at 100 metres, and
of the botanical posite side, three large glazed doors reaching up to the level of 110 metres,
collection of the Sítio
around the paved path open onto a veranda, with an area of to a place called Santa Luzia, where
of Santa Luzia.
165 square metres and a granite slab Burle Marx initially thought of building
floor, circumscribed by the facade’s his studio. The landscaped scenery ex-
stonework arcades. tends to this level, containing species of
acrílica sobre tela, pintadas por Burle Bento, no centro do Rio de Janeiro, que
Marx em diversos períodos. foi remontada sobre uma base de con-
Na extremidade à direita, no mes- creto, no final da década de 1980. O
mo nível da sala de estar, há um vão edifício propriamente dito foi construído
aberto para o salão, que se destinava no início da década seguinte, entre 1993
a guardar telas novas de grandes di- e 1994. Foi concluído pouco depois da
mensões. Os pisos do salão, da cozinha, morte de Burle Marx.
do banheiro e das salas da reserva téc-
nica são em cerâmica; a sala de estar, SANTA LUZIA
o solarium e os quartos possuem pisos O caminho pavimentado com parale-
em tabuado corrido. Do lado oposto, lepípedos sobe para além do nível do
três grandes portas envidraçadas se ateliê, passando pelo local onde fica o
abrem para uma varanda, com área de grande reservatório de água, na cota
165 metros quadrados e piso em lajes dos 100 metros, e atingindo o nível da
de granito, circunscrita pelas arcadas cota dos 110 metros, local denominado
em cantaria da fachada. Santa Luzia, onde Burle Marx inicial-
O primeiro elemento a ser introdu- mente pensou em construir o ateliê. A
zido no terreno foi a fachada antiga paisagem ajardinada estende-se até
em cantaria, trasladada da rua Conse- esse nível, contendo espécies da co-
lheiro Saraiva, esquina com a rua São leção botânica, em harmonia com a
122

123
the botanical collection in harmony with
the natural landscape and native veg-
etation, as advocated by Burle Marx.
Beyond Santa Luzia is the remaining
land and native vegetation, which is
part of the Pedra Branca State Park.

Final Considerations
“God, to me, is nature.” This phrase be-
longs to the same artist who said “To
choose one’s friends is already to make
poetry,” and, in a self-reflective moment,
also said “In a certain sense, I was the
poet of my own life.” Nature, poetry, art,
garden, landscape and friendship are
part of the life lived by Burle Marx. A
multiple artist, a demiurge producer of
social benefits, capable of giving mean-
ing to life, nature and things. An artist
who traversed the 20th century, created
paisagem natural e a vegetação au- o século XX, criou o jardim moderno e
tóctone, como preconizava Burle Marx. projetou-se com potência no século XXI.
Para além da Santa Luzia, fica o res- Muitos artistas extraordinários vive-
tante do terreno, constituído por mata ram para sua arte e morreram pobres
nativa, integrante do Parque Estadual – Mozart, Rembrandt, Monet, Edgar
da Pedra Branca. Allan Poe, Antoni Gaudí e outros. Com
Burle Marx não foi assim; viveu sua vida
Considerações finais intensamente, produziu com liberdade
“Deus, para mim, é a natureza.” O artis- e fixou residência no lugar que mais
ta que cria essa frase é o mesmo que diz amou: seu sítio, onde concentrou tudo
“Escolher os amigos já é fazer poesia” e o que de melhor obteve na vida, inclu-
que, num movimento autorreflexivo, diz sive financeiramente. Todos os frutos de
também “Em certo sentido, eu fui o po- seus trabalhos no campo da arte e do
eta da minha própria vida”. Natureza, paisagismo foram, durante décadas,
poesia, arte, jardim, paisagem e amiza- aplicados na propriedade. Quando de-
de fazem parte da vida vivida por Burle cidiu doá-la ao governo federal, com
Marx. Um artista múltiplo, um demiurgo o objetivo de garantir sua preservação
produtor de benefícios sociais, capaz futura, transferiu para o irmão Siegfried
de pôr sentido na vida, na natureza e diversos bens, para a aquisição da par-
nas coisas. Um artista que atravessou te que lhe correspondia. Doou a sua
HISTORY, CONTEXT AND ARCHITECTURE HISTÓRICO, CONTEXTO, ARQUITETURA

the modern garden and powerfully pro- Foundation also paid Siegfried for a
jected himself into the 21st century. remaining part.
Many extraordinary artists lived for This very particular microcosm
their art and died poor – Mozart, Rem- formed organically, in accordance with
brandt, Monet, Edgar Allan Poe, Antoni Roberto’s perspectives, life-power and
Gaudí and others. With Burle Marx this creative curiosity. In it, layers of culture,
was not the case; he lived his life in- affections, thought and experimentation
tensely, produced freely and made a accumulated, in which all elements are
home in the place he most loved, where related, expressing the world view of
he concentrated all the best he got from the generation which produced the
life, including financially. All the fruits modern movement in the arts, architec-
of his work in the field of art and land- ture and urbanism.
scaping where, for decades, applied to It is the manifestation of creativity
the property. When he decided to do- of somebody who detested formulas:
nate it to the federal government for “I do detest them, I keep saying, be-
the purpose of ensuring its future pres- cause the formula is repetitive, it is like
ervation, he transferred various assets a dead end. Accepting the formula is
to his brother Siegfried, in acquisition to invalidate the capacity of thought. I
of his corresponding part. He donated detest dictatorships, which are imposi-
his share, and the National Pro-Memory tions, formulas. I want to have the right
parte, e coube ainda à Fundação Na- taduras, que são imposições, fórmulas.
cional Pró-Memória o pagamento a Eu quero ter o direito de descobrir o
Siegfried de uma parte faltante. que serve para mim e o que não serve
Esse microcosmo tão particular for- para os demais. Eu me interesso por
mou-se organicamente, em conformida- princípios”.60 Ali também se encontram
de com as perspectivas, a potência de o encantamento e a contemplação qua-
vida e a curiosidade criativa de Roberto. se religiosa diante da natureza, assim
Nele, foram se acumulando camadas como a curiosidade sentida como mola
de cultura, de afetos, de pensamento e propulsora para a busca incessante do
de experimentação, nas quais todos os conhecimento: “(...) por que é que a na-
elementos se relacionam expressando tureza, com uma mão, cria uma folha
a visão de mundo da geração que pro- tão larga e resistente que uma criança
duziu o movimento moderno nas artes, pode boiar sobre ela e, com a outra,
na arquitetura e no urbanismo. modela um flor tão diminuta quanto
Ali se manifesta a criatividade de uma cabeça de alfinete, contendo to-
quem detestava fórmulas: “Eu as de- dos os órgãos necessários para a sua
testo, sim, continuo a dizer, pois a fór- reprodução? Esses mistérios, essas for-
mula é repetitiva, é como um beco sem ças da natureza, são os meus deuses.
saída. Aceitar a fórmula é inviabilizar Quando eu não tiver mais a curiosidade
a capacidade de pensar. Eu detesto di- de persegui-los, certamente morrerei”.61
124

125
to discover what works for me and what same time recalling the salads served
doesn’t work for others. I am interested at memorable lunches, with forms and
in principles.”60 There, one can also colours reminiscent of Roberto’s tropi-
find enchantment and quasi- religious cal gardens, accompanied by “pitan-
contemplation before nature, as well gomangolotango,” a tropical sangria
as curiosity felt as a propulsive spring he created by mixing pitanga, a na-
for the incessant search for knowledge: tive fruit of the Brazilian atlantic for-
“(...) why is it that nature, with one hand, est, with wine, the millenary creation of
creates a leaf so broad and resilient humanity. In the buildings and gardens,
that a child could float on it and, with centuries-old works of art, such as the
the other, shapes a flower as small as religious paintings of the Cuzco School,
a pinhead, containing all the organs mingle with works by modern authors,
necessary for its reproduction? These folk artists and friends of Burle Marx
mysteries, these forces of nature, are my in a polyphonic dialogue, just as the
gods. When I am no longer curious to music from his mother’s piano interacts
pursue them, I will surely die.”61 with pre-Columbian sculptures, and
The enormous shell of the Tridacna furniture from various eras and origins
gigas, the giant oyster, speaks of the coexists with tablecloths, bedspreads
coral reefs of the warm waters of the and pillows painted by Roberto himself.
tropical Indo-Pacific ocean, while at the The inside and outside of built spaces
A enorme concha da Tridacna gigas, liário de diversas épocas e procedências
a ostra-gigante, ao mesmo tempo que convive com toalhas de mesa, colchas
fala dos recifes de corais das águas e almofadas pintadas pelo próprio Ro-
quentes da região oceânica indo-pací- berto. O dentro e o fora dos espaços
fica tropical, remete às saladas servidas construídos estão, ainda, em permanen-
em almoços memoráveis, cujas formas e te articulação com a paisagem que a
cores lembravam os jardins tropicais de tudo envolve e dá sentido. Os espaços
Roberto, acompanhadas por “pitango- do sítio são, assim, discursos eloquentes
mangolotango”, sangria tropical criada que, sem palavras, nos transmitem clara-
por ele misturando a pitanga, fruta nati- mente a percepção de estarmos diante
va da mata atlântica brasileira, ao vinho, de um todo coeso que expressa o modo
criação milenar da humanidade. Nas de pensar e de estar no mundo de uma
edificações e nos jardins, obras de arte época específica da humanidade.
centenárias, como as pinturas religio- O Sítio Roberto Burle Marx foi aceito
sas da escola cusquenha, misturam-se a como candidato à inclusão na Lista do
obras de autores modernos, de artistas Patrimônio Mundial da UNESCO, sendo
populares e de amigos de Burle Marx considerado uma realização única no
num diálogo polifônico, assim como a contexto do paisagismo internacional e
música do piano da mãe interage com da cultura do século XX, com base nas
as esculturas pré-colombianas e o mobi- seguintes premissas:
HISTORY, CONTEXT AND ARCHITECTURE HISTÓRICO, CONTEXTO, ARQUITETURA

are, still, in a permanent link with the


landscape which surrounds and gives
A vida é a gente saber observar, meaning to everything. The spaces of
absorver e, possivelmente uma the Sítio are thus eloquent discourses
coisa que talvez tenha me ajudado which, wordlessly, clearly transmit to
us the perception of being before a co-
muito é que eu nunca perdi a
hesive whole which expresses the way
curiosidade pelas coisas. Com a
of thinking and being in the world of a
idade que eu tenho sempre tem specific epoch of humanity.
uma coisa nova, é uma cor, uma The Sítio Roberto Burle Marx was
coisa que me induz a ver. accepted as a candidate for inclusion
on the UNESCO World Heritage List,
Life is knowing how to observe, to absorb and, considered a unique achievement in
possibly one thing that may have helped me a lot,
the field of international landscaping
is that I never lost curiosity for things. At my age
there is always something new, a colour, something
and 20 th century culture, based on the
which induces me to see. following premises:
Being an exceptional example world-
ROBERTO BURLE MARX wide of a place in which the study and
landscape experience around tropical
flora and phytoecology serves as a
Ser um exemplo excepcional em todo período moderno do século XX) que se
o mundo de um espaço em que o estudo materializou na arquitetura, nas artes,
e a experiência paisagística em torno da no planejamento urbano e, mais espe-
flora e da fitoecologia tropical serviram cificamente, na criação de paisagens.
de base para um amplo intercâmbio de Que o Sítio Roberto Burle Marx con-
valores humanos que influenciaram a tinue a inspirar a curiosidade dos seres
direção da modernidade e a visão de humanos, como inspirou a vida e a obra
paisagismo no Brasil e no mundo. de Roberto, que dizia: “Todo dia eu sin-
Ser o laboratório paisagístico e ar- to falta daquilo que não sei. Mas uma
tístico de Burle Marx, local de teste e de coisa que me induz a ver é a minha
experiência direta com a flora tropical, curiosidade, quero ver sempre o que
entendida como signo de identidade está em torno da minha pessoa e é essa
cultural, que baseia a construção do uma das razões que me faz viver”.62
chamado jardim tropical moderno.
Na articulação entre espaços ajardi-
nados, arquitetura e acervo botânico, o
sítio testemunha de forma única o pensa-
mento de um artista internacionalmente
*memória
CLAUDIA STORINO Arquiteta, designer, mestre em
social e, desde 2012, diretora do Sítio Roberto
renomado, bem como um importante Burle Marx.
momento da história da humanidade (o
126

127
base for a broad exchange of human May the Sítio Roberto Burle Marx
values which influence the course of mo- continue to inspire the curiosity of hu-
dernity and the vision of landscaping in man beings, as it inspired the life and
Brazil and the world; work of Roberto, who used to say: “Every
Being the artistic and landscape day I feel a need for that which I don’t
laboratory of Burle Marx, a place for know. But what induces me to see is my
testing and direct experience with tropi- curiosity, I always wish to see what is
cal flora, understood as a sign of cul- around me, and that is one of the things
tural identity, which forms the basis of I live for.”62
the so-called modern tropical garden.
In the articulation between land-
scaped spaces, architecture and the
botanical collection, the Sítio is a unique
testament to the thought of an inter-
nationally renowned artist, as well as
an important moment in the history of
humanity (the modern period of the 20th
century) which materialised in architec-
*ter’s
CLAUDIA STORINO Architect, designer, with a mas-
degree in social memory, Sítio Roberto Burle Marx
ture, the arts, urban planning and, more Director from 2012 to the present.
specifically, the creation of landscapes.
Diversidade Biológica”, disponível em: <www.mma.gov.br/
NOTAS biodiversidade/conven%C3%A7%C3%A3o-da-diversidade-
1 Roberto Burle Marx, em Colin Waldeck e Malcolm -biol%C3%B3gica.html>, acesso em: 27 de setembro de 2019.
Daniel, Lost Paradise: the Gardens of Roberto Burle 7 Declaração de princípios fundamentais para a constru-
Marx, BBC/Neon Rio Ltda, Rio de Janeiro, 1992, fita VHS ção de uma sociedade global justa, sustentável e pacífica
(tradução da autora). no século XXI; visa inspirar em todos os povos um novo
2 Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa, no sentido de interdependência global e de responsabilidade
poema “Há metafísica bastante em não pensar em nada”. compartilhada pelo bem-estar da família humana e do
mundo. A Carta da Terra reconhece que a proteção am-
3 Mais informações sobre a vida de Roberto Burle Marx biental, os direitos humanos, o desenvolvimento humano
estão no texto biográfico presente neste mesmo livro. equitativo e a paz são interdependentes e inseparáveis,
4 Roberto Burle Marx, no documentário Eu, Roberto Burle resultando em conceitos novos e mais amplos para as ideias
Marx, produzido por Soraia Cals e Tamara Leftel, em 1989, de comunidade sustentável e desenvolvimento sustentá-
como especial de fim de ano para a Rede Manchete, no vel. Fonte: Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, “Carta
ano em que Burle Marx completou oitenta anos. da Terra”, disponível em: <www.tjpr.jus.br/web/gestao-am-
biental/cartadaterra>, acesso em 27 de setembro de 2019.
5 Também conhecida como Eco-92, Cúpula da Terra,
Cimeira do Verão, Conferência do Rio de Janeiro e 8 Escritura de compra e venda, de doação com encar-
Rio-92. Para mais informações, ver Senado Federal, gos e outros pactos. Outorgante: Guilherme Siegfried
“Conferência Rio-92 sobre o meio ambiente do planeta: Marx e outro. Outorgado: Fundação Nacional Pró-
desenvolvimento sustentável dos países”, disponível -Memória. 22º Ofício de Notas da Comarca da Capital,
em: <www.senado.gov.br/noticias/jornal/emdiscussao/ Livro n. 2407, Folhas 98, Ato n. 041, 11 de março de 1985.
rio20/a-rio20/conferencia-rio-92-sobre-o-meio-am-
biente-do-planeta-desenvolvimento-sustentavel-dos- 9 Considera-se como obra de Roberto Burle Marx: o
-paises.aspx>, acesso em 27 de setembro de 2019. seu saber-fazer; o sítio como um todo, com a sua dinâ-
mica de vida; a sua produção intelectual – paisagística,
6 A Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) é um artística, científica, cultural – e as suas coleções, com
tratado da Organização das Nações Unidas, um dos mais destaque para o acervo botânico-paisagístico.
importantes instrumentos internacionais relacionados ao
meio ambiente e o principal fórum mundial para questões 10 Ver Instituto Estadual do Ambiente (Inea), Plano de ma-
relacionadas ao tema. Mais de 160 países já assinaram o nejo da reserva biológica estadual de Guaratiba, disponível
acordo, que entrou em vigor em dezembro de 1993. A esse em: <www.inea.rj.gov.br/wp-content/uploads/downloads/
respeito, ver Ministério do Meio Ambiente, “Convenção Sobre manejos/RBG-PM.pdf>, acesso em 27 de setembro de 2019.
HISTORY, CONTEXT AND ARCHITECTURE HISTÓRICO, CONTEXTO, ARQUITETURA

Diversity”, available at: <www.mma.gov.br/biodiver-


ENDNOTES sidade/conven%C3%A7%C3%A3o-da-diversidade-
1 Roberto Burle Marx, in Colin Waldeck and Malcolm biol%C3%B3gica.html>, accessed 27th September 2019.
Daniel, Lost Paradise: the Gardens of Roberto Burle 7 Declaration of fundamental principles for building
Marx, BBC/Neon Rio Ltda, Rio de Janeiro, 1992, VHS a just, sustainable and peaceful global society in the
tape (author’s translation to Portuguese). 21 st century; it aims to inspire in all peoples a new sense
2 Alberto Caeiro, heteronym of Fernando Pessoa, in of global interdependence and shared responsibility
the poem “There’s enough metaphysics in not thinking for the welfare of the human family and the world. The
of anything”. Earth Charter recognizes that environmental protection,
human rights, equitable human development and peace
3 More information about the life of Roberto Burle Marx are interdependent and inseparable, resulting in new
can be found in the biography in this same volume. and broader concepts for the ideas of sustainable com-
4 In the documentary I, Roberto Burle Marx, produced munity and sustainable development. Source: Paraná
by Soraia Cals and Tamara Leftel, in 1989, as a year- State Court of Justice, “Carta da Terra”, available at:
end special for Rede Manchete, the year in which Burle <www.tjpr.jus.br/web/gestao-ambiental/cartadaterra>,
Marx turned 80. accessed 27th September 2019.
5 Also known as Eco-92, Earth Summit, Summer Sum- 8 Deed of purchase and sale, donation with undertak-
mit, Rio de Janeiro Conference and Rio-92. For more ings and other agreements. Grantor: Guilherme Siegfried
information, see Federal Senate, “Rio-92 Conference Marx and others. Awarded to: National Pro-Memory
on the Planet’s Environment: Sustainable Development Foundation. 22º Ofício de Notas da Comarca da Capi-
of Countries,” available at: <www.senado.gov.br/noti- tal, Livro n. 2407, Folhas 98, Ato n. 041, 11th March 1985.
cias/jornal/emdiscussao/rio20/a-rio20/conferencia-
rio-92-sobre-o-meio-ambiente-do-planeta-desen- 9 Roberto Burle Marx’s work is considered to be: his
volvimento-sustentavel-dos-paises.aspx>, accessed know-how, the Sítio as a whole, with its life dynamic, his
27th September 2019. intellectual production – of landscape, artistic, scientific,
cultural – and his collections, particularly the botanical-
6 The Convention on Biological Diversity (CBD) is a landscape collection.
United Nations treaty, one of the most important inter-
national instruments related to the environment and 10 See Instituto Estadual do Ambiente (INEA), Plano de
the main world forum for issues related to the subject. manejo da reserva biológica estadual de Guaratiba,
Over 160 countries are signatories to the agreement, available at: <www.inea.rj.gov.br/wp-content/uploads/
which came into force in December 1993. See Minis- downloads/manejos/RBG-PM.pdf>, accessed on 27th
try of the Environment, “Convention on Biological September 2019.
11 Guaratiba significa, na língua tupi, “lugar onde há 16 A Resolução Conama n. 303/2002 define como man-
grande quantidade de guarás” (Eudocimus ruber, ave guezal: “ecossistema litorâneo que ocorre em terrenos
conhecida como íbis-escarlate, guará-vermelho, guará- baixos, sujeitos à ação das marés, formado por vasas
-rubro ou guará-pitanga). lodosas recentes ou arenosas, às quais se associa,
12 Ver Maria Sarita Cristina Mota, Nas terras de Guara- predominantemente, a vegetação natural conhecida
tiba: uma aproximação histórico-jurídica às definições como mangue, com influência fluviomarinha, típica de
de posse e propriedade da terra no Brasil entre os solos limosos de regiões estuarinas e com dispersão
séculos XVI-XIX, tese (doutorado), Universidade Federal descontínua ao longo da costa brasileira, entre os es-
Rural do Rio de Janeiro, Instituto de Ciências Humanas tados do Amapá e Santa Catarina”.
e Sociais, Seropédica, 2009. 17 A Resolução Conama n. 303/2002 define como res-
13 Raquel Fassini Esperança Queiroz, As especifici- tinga: “depósito arenoso paralelo à linha da costa, de
dades naturais de Ilha de Guaratiba e os impactos forma geralmente alongada, produzido por processos
ambientais provenientes do processo de urbanização, de sedimentação, onde se encontram diferentes co-
monografia (especialização em Educação Ambiental), munidades que recebem influência marinha, também
AVM Faculdade Integrada, Rio de Janeiro, 2011, p. 30-2. consideradas comunidades edáficas por depende-
rem mais da natureza do substrato do que do clima.
14 Roberto Burle Marx, na parte 4 (7:19) do documentário
A cobertura vegetal nas restingas ocorre em mosaico,
Burle Marx, TV Brasil, disponível em: </www.youtube.com/
watch?v=r1W-Vv9u92I&index=5&list=PLp5b8MkaqtmK9JqJ e encontra-se em praias, cordões arenosos, dunas e
yMiE8YJTIDbbJeHTr>, acesso em 27 de setembro de 2019. depressões, apresentando, de acordo com o estágio
sucessional, estrato herbáceo, arbustivo e arbóreo,
15 O Parque Estadual da Pedra Branca, criado em 1974, este último mais interiorizado”.
é uma unidade de preservação do Instituto Estadual do
Ambiente (Inea); compreende todas as áreas acima da 18 A Mata Atlântica é um bioma composto por forma-
cota 100 metros do Maciço da Pedra Branca e seus con- ções florestais nativas (floresta ombrófila densa; flores-
trafortes, estendendo-se por dezessete bairros, entre eles ta ombrófila mista, também denominada de mata de
Jacarepaguá, Vargem Grande, Vargem Pequena, Recreio araucárias; floresta ombrófila aberta; floresta estacional
dos Bandeirantes, Barra de Guaratiba, Bangu e Realengo. semidecidual; e floresta estacional decidual) e ecossis-
Com uma área de 12.393,84 hectares, é uma das maiores temas associados (manguezais, vegetações de restinga,
florestas urbanas do mundo. Para mais informações, ver campos de altitude, brejos interioranos e encraves flores-
Parques Estaduais – Rio de Janeiro, “Parque Estadual da tais do Nordeste), que ocupava originalmente mais de 1,3
Pedra Branca”, disponível em: <http://200.20.53.15/inea/ milhão de quilômetros quadrados em dezessete estados
pepb_s.php>, acesso em 27 de setembro de 2019. brasileiros, estendendo-se por grande parte da costa do

128

129
11 Guaratiba means, in the Tupi language, “A place sociated predominantly with natural vegetation known
where there are a lot of guarás” (Eudocimus ruber, a bird as the mangrove, with fluvial-marine influence, typical
known as a scarlet ibis, red guara or pitanga guará). of muddy soils of estuarine regions and with discontinu-
ous dispersion along the Brazilian coast, between the
12 See Maria Sarita Cristina Mota, Nas terras de Guara-
states of Amapá and Santa Catarina”.
tiba: uma aproximação histórico-jurídica às definições
de posse e propriedade da terra no Brasil entre os sécu- 17 Conama Resolution no. 303/2002 defines restinga
los XVI-XIX, doctoral thesis, Rural Federal University of as: “A sandy deposit parallel to the shoreline, generally
Rio de Janeiro, Institute of Human and Social Sciences, elongated, produced by sedimentation where there are
Seropédica, 2009. different communities of marine influence, also consid-
13 Raquel Fassini Esperança Queiroz, As especifici- ered edaphic communities as they depend more on the
dades naturais de Ilha de Guaratiba e os impactos nature of the substrate than the climate. Vegetation
ambientais provenientes do processo de urbanização, cover in restingas occurs in mosaic, and is found on
monograph (specialised in Environmental Education), beaches, sandy strands, dunes and depressions, pre-
AVM Faculdade Integrada, Rio de Janeiro, 2011, p. 30-2. senting, according to successional stages, herbaceous,
shrub and arboreal strata, the latter more internalised.”
14 Roberto Burle Marx, in the 4th part (7:19) of the docu-
mentary Burle Marx, TV Brasil, available at: </www. 18 The Atlantic Forest is a biome composed of native
youtube.com/watch?v=r1W-Vv9u92I&index=5&list=PL forest formations (dense ombrophilous forest; mixed
p5b8MkaqtmK9JqJyMiE8YJTIDbbJeHTr>, accessed 27th ombrophilous forest, also called araucaria forest; open
September 2019. ombrophilous forest; semideciduous seasonal forest;
and deciduous seasonal forest) and associated eco-
15 The Pedra Branca State Park, created in 1974, is a systems (mangroves, restinga vegetation, altitude fields,
preservation unit of the State Environmental Institute inland marshes, and forest enclaves of the Northeast),
(INEA); Jacarepaguá, Vargem Grande, Vargem Peque- which originally occupied over 1.3 million square kilo-
na, Recreio dos Bandeirantes, Barra de Guaratiba, Ban- metres in seventeen Brazilian states, extending over
gu and Realengo. With an area of 12,393.84 hectares, it much of the country’s coast. Currently, 29% of its original
is one of the largest urban forests in the world. For more
coverage remains, although it is estimated that there
information, see State Parks – Rio de Janeiro, “Pedra
are still around 20,000 plant, 850 bird, 370 amphibian,
Branca State Park”, available at: <http://200.20.53.15/
200 reptile, 270 mammal and 350 fish species in the
inea/pepb_s.php>, accessed 27th September 2019.
Atlantic Forest. The Atlantic Forest is home to 35% of
16 Conama Resolution no. 303/2002 defines a man- existing plant species in Brazil. It is, in this sense, richer
grove as: “lowland coastal ecosystem, subject to the than some continents, such as North America, which has
action of tides, formed by recent or sandy muds, as- 17,000 plant species, and Europe, with 12,500. This is one
país. Atualmente, restam 29% de sua cobertura original, 24 O Sítio Roberto Burle Marx tem sob sua guarda acervos
mas, ainda assim, estima-se que existam na Mata Atlântica museológicos, bibliográficos e botânico-paisagísticos. Na
cerca de 20 mil espécies vegetais, 850 espécies de aves, categoria de acervos museológicos estão incluídos os
370 de anfíbios, 200 de répteis, 270 de mamíferos e 350 de objetos de uso pessoal de Roberto Burle Marx, as obras
peixes. A Mata Atlântica abriga 35% das espécies vegetais de arte de sua autoria e de outros autores, as alfaias utili-
existentes no Brasil; é, nesse sentido, mais rica do que zadas na casa e os diversos bens culturais que colecionou.
alguns continentes, como a América do Norte, que conta
25 Vera Beatriz Siqueira, “Um jardim sem igual”, Revista
com 17 mil espécies vegetais, e a Europa, com 12,5 mil. Esse
de História, n. 40, janeiro de 2009.
é um dos motivos que tornam a Mata Atlântica prioritá-
ria para a conservação da biodiversidade mundial. Ver 26 Texto datado de 2016 e inscrito na placa à entrada
Ministério do Meio Ambiente, “Mata Atlântica”, disponível da sala das cerâmicas.
em: <www.mma.gov.br/biomas/mata-atl%C3%A2ntica_em-
27 Texto produzido para o Sítio Roberto Burle Marx em 2016.
desenvolvimento>, acesso em 27 de setembro de 2019.
28 Roberto Burle Marx, no documentário Eu, Roberto
19 Giulio G. Rizzo, Il giardino privato di Roberto Burle Marx: il
Burle Marx, op. cit.
Sítio. Sessant’anni dalla fondazione. Cent’anni dalla nascita
di Roberto Burle Marx, Roma, Gangemi Editore, 2009, p. 31. 29 Burle Marx, documentário Burle Marx – De Lá Pra
Cá, exibido em 20 de abril de 2009, parte 2/3, disponí-
20 Há ainda a marcenaria, a garagem, o barracão de
vel em: <www.youtube.com/watch?v=bFX3UjOwHPE>,
trabalho dos jardineiros e algumas outras edículas,
acesso em 29 de setembro de 2019.
basicamente instalações de infraestrutura.
30 Roberto Burle Marx, em José Tabacow (org), Roberto
21 Aqui incluímos, na categoria “lago”, além dos lagos
Burle Marx, arte & paisagem, op. cit., p. 20.
de feição natural – com peixes, plantas e pedras –,
os espelhos d’água existentes no jardim da Casa de 31 Giulino G. Rizzo, Il giardino privato di Roberto Burle
Roberto e na cozinha de pedra. Marx: il Sítio, op. cit., p. 43.
22 O termo loggia, de origem italiana, identifica um 32 José Waldemar Tabacow é arquiteto paisagista, espe-
elemento arquitetônico coberto e aberto, como uma cializado em Ecologia e Recursos Naturais e doutor em
arcada, uma galeria ou um pórtico, comumente sus- Geografia. Foi estagiário de Roberto Burle Marx e depois
tentado por colunas e arcos. paisagista colaborador da empresa Burle Marx & Cia.
Ltda.; foi também diretor do Sítio Roberto Burle Marx.
23 José Tabacow (org.), Roberto Burle Marx, arte & pai-
sagem: conferências escolhidas, Rio de Janeiro, Nobel, 33 José Tabacow, em workshop realizado no Sítio Rober-
2004, p. 18. to Burle Marx nos dias 24 e 25 de agosto de 2016, com
HISTORY, CONTEXT AND ARCHITECTURE HISTÓRICO, CONTEXTO, ARQUITETURA

of the reasons that make the Atlantic Forest a priority for 26 Text from 2016 and inscribed on the plaque at the
the conservation of world biodiversity. See Ministry of entrance to the ceramics room.
the Environment, “Atlantic Forest,” available at: <www.
27 Text produced for the Sítio Roberto Burle Marx in 2016.
mma.gov.br/biomas/mata-atl%C3%A2ntica_emdevel-
opment>, accessed 27th September 2019. 28 Roberto Burle Marx, in the documentary I, Roberto
Burle Marx, op. cit.
19 Giulio G. Rizzo, Il giardino privato di Roberto Burle
Marx: il Sítio. Sessant’anni dalla fondazione. Cent’anni 29 Burle Marx, documentary Burle Marx – De Lá Pra
dalla nascita di Roberto Burle Marx, Roma, Gangemi Cá, shown 20 th April 2009, part 2/3, available at: <www.
Editore, 2009, p. 31. youtube.com/watch?v= bFX3UjOwHPE>, accessed
29 th September 2019.
20 There is also the joinery, garage, gardeners’ shed
and other buildings, basically infrastructure facilities. 30 Roberto Burle Marx, in José Tabacow (org), Roberto
Burle Marx, arte & paisagem, op. cit., p. 20.
21 Here we have included in the category of “lake”, in
addition to natural lakes – with fish, plants and stones 31 Giulino G. Rizzo, Il giardino privato di Roberto Burle
– the reflecting pools in the garden of Roberto’s House Marx: il Sítio, op. cit., p. 43.
and the stone kitchen.
32 José Waldemar Tabacow is a landscape architect
22 The term loggia, of Italian origin, is used to identify specialised in Ecology and Natural Resources with a
a covered and open architectural element, such as an doctorate in Geography. He was an intern and later a
arcade, a gallery or a portico, commonly supported by landscape collaborator at Burle Marx & Cia. Ltda. He
columns and arches. was also the director of the Sítio Roberto Burle Marx.
23 José Tabacow (org.), Roberto Burle Marx, arte & 33 José Tabacow, in a workshop held at the Sítio Ro-
paisagem: conferências escolhidas, Rio de Janeiro, berto Burle Marx on the 24 th and 25 th of August 2016,
Nobel, 2004, p. 18. with various specialists in attendance, discussing the
candidacy of the Sítio for World Heritage.
24 The Sítio Roberto Burle Marx has in its custody muse-
um, bibliographic and botanical-landscape collections. 34 Idem, ibidem.
The museum collection includes the personal effects
35 “A garden is always a problem of time. Time completes
of Roberto Burle Marx, the works of his own and other
the ideas (…) you need to understand the garden by going
authors, the tools used in the house and the various
through the garden, as you go through a sculpture. (…)
cultural goods he collected.
A garden will never be a two-dimensional problem. It is
25 Vera Beatriz Siqueira, “Um jardim sem igual”, Revista a three-dimensional problem and, more than that, it has
de História, n. 40, January 2009. a fourth dimension, as you go through time and space.”
a presença de diversos especialistas, para discussão doação ao governo federal é que a função comercial,
da candidatura do sítio a Patrimônio Mundial. ligada à empresa de paisagismo de Roberto Burle Marx,
34 Idem, ibidem. deixou de ser ali exercida.

35 “A garden is always a problem of time. Time com- 42 Robério Dias, entrevista concedida em dezembro de
pletes the ideas (…) you need to understand the gar- 2008, Revista Folha, Sociedade dos Amigos de Roberto
den by going through the garden, as you go through a Burle Marx, maio de 2009, disponível em: <http://escri-
sculpture. (…) A garden will never be a two-dimensional tosnapaisagem.blogspot.com.br/2009/06/entrevista.
problem. It is a three-dimensional problem and, more html>, acesso em 29 de setembro de 2019.
than that, it has a fourth dimension, as you go through 43 Idem, ibidem.
time and space.” Colin Waldeck e Malcolm Daniel, Lost
Paradise: the Gardens of Roberto Burle Marx, op. cit. 44 A equipe do sítio decidiu renomear a residência de
Burle Marx (durante algum tempo conhecida como casa
36 Roberto Burle Marx, em “Burle Marx – entrevista:
principal) Casa de Roberto, pois era assim que funcioná-
a devastação é total”, entrevista a Oswaldo Amorim,
rios, jardineiros, colaboradores e amigos a chamavam.
publicada originalmente na revista Veja, n. 263, 19 de
setembro de 1973. 45 O arquiteto Wit-Olaf Prochnik participou, de 1949 a
1955, da equipe do escritório de Roberto Burle Marx;
37 Roberto Burle Marx, em José Tabacow (org.), Roberto
foi assistente da cadeira de Arquitetura Paisagística do
Burle Marx, arte & paisagem, op. cit, p. 62.
curso de Urbanismo da Faculdade Nacional de Arqui-
38 Idem, p. 64. tetura da Universidade do Brasil e chefiou o Serviço de
39 Saxícolas, ou litófitos, são os organismos que vivem ou se Estudos e Projetos do Departamento de Parques e Jardins
desenvolvem diretamente sobre, ou entre, rochas e pedras. da prefeitura do Rio de Janeiro, então Distrito Federal.

40 Informação obtida em entrevistas realizadas pela 46 Guilherme Mazza Dourado, “Espelhos de si: Burle Marx
equipe técnica do Sítio Roberto Burle Marx com jar- a partir de suas cartas”, Paisagem e ambiente, São Paulo,
dineiros que trabalharam com Roberto Burle Marx e n. 39, 2017, disponível em: <www.revistas.usp.br/paam/arti-
presenciaram o desenvolvimento do sítio. cle/view/127314/135111>, acesso em 30 de setembro de 2019.

41 É preciso esclarecer que o Sítio Roberto Burle Marx 47 Francisco Biquiba dy Lafuente Guarany (Santa Maria
foi constituído inicialmente com um caráter comercial, da Vitória, Bahia, 1884-1985), conhecido como Mestre
estreitamente vinculado à atividade profissional de seu Guarany, foi um importantíssimo artista popular, o mais
criador, e, apesar de ter assumido gradativamente um renomado “carranqueiro”, ou seja, produtor de figuras
perfil pessoal, artístico e científico, somente com sua de proa da região do médio Rio São Francisco.

130

131
Colin Waldeck and Malcolm Daniel, Lost Paradise: the House, as that was what employees, gardeners, cowork-
Gardens of Roberto Burle Marx, op. cit. ers, and friends called it.
36 Roberto Burle Marx, in “Burle Marx – entrevista: a 45 The architect Wit-Olaf Prochnik was, from 1949 to 1955,
devastação é total”, interviewed by Oswaldo Amorim, part of the office staff of Roberto Burle Marx; he was as-
originally published in Veja, n. 263, 19 th September 1973. sistant to the Landscape Architecture chair of the Urban-
ism course at the National Faculty of Architecture of the
37 Roberto Burle Marx, in José Tabacow (org.), Roberto
Burle Marx, arte & paisagem, op. cit, p. 62. University of Brazil and headed the Studies and Projects
Service of the Department of Parks and Gardens of Rio
38 Idem, p. 64. de Janeiro City Hall, at the time Federal District.
39 Saxicians, or lithophytes, are organisms that live or 46 Guilherme Mazza Dourado, “Espelhos de si: Burle Marx
thrive directly on or between rocks and stones. a partir de suas cartas”, Paisagem e Ambiente, São Paulo,
40 Information obtained from interviews conducted n. 39, 2017, available at: <www.revistas.usp.br/paam/article/
by the Sítio Roberto Burle Marx technical team with view/127314/135111>, accessed 30th September 2019.
gardeners who worked with Roberto Burle Marx and 47 Francisco Biquiba dy Lafuente Guarany (Santa Maria
witnessed the development of the site. da Vitória, Bahia, 1884-1985), known as Mestre Guarany,
41 It should be clarified that the Sítio Roberto Burle Marx was a very important folk artist, the most renowned “car-
was initially constituted with a commercial character, ranqueiro”, another name for a producer of figureheads
closely linked to the professional activity of its creator, in the region of middle São Francisco River.
and, although it gradually assumed a personal, artistic 48 The Jequitinhonha valley is located in the Northeast
and scientific profile, it was only with the donation of of the state of Minas Gerais. It is a region of contrasts,
the Sítio to the federal government that the commercial with low social indicators, but which nonetheless pos-
function, tied to the landscaping company of Roberto sesses soil rich in mineral resources, and a historical-
Burle Marx, stopped being exercised. cultural heritage which is a point of reference for Minas
42 Robério Dias, interview from December 2008, Revista Gerais and Brazil, with varied artisanship.
Folha, Society of Friends of Roberto Burle Marx, May 2009, 49 Marouflage is the technique of gluing a fabric or
available at: <http://escritosnapaisagem.blogspot.com. canvas onto a wall or on wood with an adhesive which
br/2009/06/entrevista.html>, accessed 29th September 2019.
hardens upon drying, producing a mural or painted ceil-
43 Idem, ibidem. ing. In this case, the support is the wooden plank ceiling.
44 The Sítio team decided to rename the Burle Marx 50 Roberto Burle Marx, in the documentary Eu, Roberto
residence (known formerly as the main house) Roberto’s Burle Marx, op. cit.
A Alameda Pau-Ferro 48 O Vale do Jequitinhonha se situa no nordeste do es- 54 Identificação e datação feitas por Julio Cezar Neto
está situada no início do tado de Minas Gerais. É uma região de contrastes, com Dantas, arquiteto, urbanista e museólogo, especialista
percurso de visitação baixos indicadores sociais e que, no entanto, possui um em história da arte sacra, diretor do Museu de Arte
do sítio. As árvores que subsolo rico em recursos minerais e um patrimônio histó- Sacra e do Museu Forte Defensor Perpétuo, ambos em
a margeiam possuem
rico-cultural que é referência para Minas Gerais e para Paraty, ligados ao Instituto Brasileiro de Museus (Ibram).
esse nome devido à sua
o Brasil, onde se destaca o artesanato diversificado.
55 Idem.
dureza e à resistência de 49 Marouflage é a técnica com que se cola um tecido, ou
sua madeira. tela, sobre a parede, ou sobre madeira, com um adesivo 56 Giulio G. Rizzo, Il giardino privato di Roberto Burle
que endurece ao secar, produzindo um mural ou teto pin- Marx: il Sítio, op. cit., p. 43.
Alameda Pau-Ferro is tado. No caso, o suporte é o teto em tábuas de madeira. 57 Soraia Cals, Roberto Burle Marx: uma fotobiografia,
located at the beginning
50 Roberto Burle Marx, no documentário Eu, Roberto Rio de Janeiro, [s. n.], 1995, p. 134.
of the Sítio’s visitation
Burle Marx, op. cit.
route. The trees that line 58 Robério Dias, Robério Dias, entrevista concedida
it have this name due 51 José de Souza Azevedo Pizarro e Araújo, Memorias em dezembro de 2008, op. cit.
to the hardness and historicas do Rio de Janeiro e das provincias annexas
59 Maurício Azeredo: arquiteto e designer premiado de
resistance of their wood. a’jurisdicção do vice-rei do Estado do Brasil, dedica-
das a El-Rei nosso senhor D. João VI, Rio de Janeiro, mobiliário brasileiro, radicado em Pirenópolis, no inte-
Impressão Régia, 1820, disponível em: <https://play. rior do estado de Goiás. Suas peças não usam pregos
google.com/books/reader?id=dQECAAAAYAAJ&hl=p nem parafusos, apenas encaixes de precisão absoluta,
t&pg=GBS.PA11>, acesso em 30 de setembro de 2019. sistema que lhe rendeu uma patente de invenção.

52 Monsenhor Pizarro (1753-1830) foi nomeado em fins 60 Roberto Burle Marx, entrevista a Ana Rosa de Olivei-
do século XVIII para representar o bispo do Rio de Janei- ra em fevereiro de 1992, Vitruvius, ano 2, abril de 2001,
ro nas visitas pastorais, percorrendo toda a área do bis- disponível em: <https://www.vitruvius.com.br/revistas/
pado, que se estendia da capitania do Espírito Santo ao read/entrevista/02.006/3346?page=1>, acesso em 30
Rio da Prata. Nas visitas às freguesias, fazia o inventário de setembro de 2019.
de seu patrimônio eclesiástico, observava o trabalho
61 Roberto Burle Marx, citado em Evelyn De Wolfe, “Famed
dos párocos, verificava os livros de batismo, casamento
Landscaper a ‘Man in Love With Plants’: Nearly 80-Year-
e óbito, fazia levantamentos, catalogava e mapeava
-Old Brazilian Architect has Worked on Projects in Many
as freguesias. Publicada no século XIX, a sua obra é,
Parts of World”, Los Angeles Times, 23 de abril de 1989.
até hoje, importante fonte de informações históricas.
53 José de Souza Azevedo Pizarro e Araújo, O Rio de Ja- 62 Roberto Burle Marx, entrevista a Ana Rosa de Oli-
neiro nas visitas pastorais de monsenhor Pizarro: inventário veira em fevereiro de 1992, op. cit.
da arte sacra fluminense, v. 2, Rio de Janeiro, Inepac, 2008.
HISTORY, CONTEXT AND ARCHITECTURE HISTÓRICO, CONTEXTO, ARQUITETURA

51 José de Souza Azevedo Pizarro e Araújo, Memorias 57 Soraia Cals, Roberto Burle Marx: uma fotobiografia,
historicas do Rio de Janeiro e das provincias annexas à Rio de Janeiro, [s. n.], 1995, p. 134.
jurisdicção do vice-rei do Estado do Brasil, dedicadas
58 Robério Dias, Robério Dias, interview, December
a El-Rei nosso senhor D. João VI, Rio de Janeiro, Im-
2008, op. cit.
pressão Régia, 1820, available at: <https://play.google.
com/books/reader?id=dQECAAAAYAAJ&hl=pt&pg=G 59 Maurício Azeredo: Award-winning Brazilian architect
BS.PA11>, accessed 30 th September 2019. and furniture designer, based in Pirenópolis, Goiás. His
pieces do not use nails or screws, only a patented system
52 Monsenhor Pizarro (1753-1830) was nominated at the
with fittings of absolute precision.
end of the 18 th century to represent the bishop of Rio de
Janeiro on pastoral visits, covering the entire area of 60 Roberto Burle Marx, interviewed by Ana Rosa de
the bishopric, extending from the captaincy of Espírito Oliveira in February 1992, Vitruvius, year 2, April 2001,
Santo to the River Plate. During visits to the parishes, he available at: <https://www.vitruvius.com.br/revistas/
made an inventory of ecclesiastical patrimony, observed read/entrevista/02.006/3346?page=1>, accessed 30 th
the work of parish priests, checked records of baptism, September 2019.
marriage and death, made surveys, and catalogued
61 Roberto Burle Marx, cited in Evelyn De Wolfe, “Famed
and mapped the parishes. Published in the nineteenth
Landscaper a “Man in Love With Plants”: Nearly 80-Year-
century, his work is, to this day, an important source of
Old Brazilian Architect has Worked on Projects in Many
historical information.
Parts of World”, Los Angeles Times, 23 rd April 1989.
53 José de Souza Azevedo Pizarro e Araújo, O Rio de
62 Roberto Burle Marx, interviewed by Ana Rosa de
Janeiro nas visitas pastorais de monsenhor Pizarro:
Oliveira in February 1992, op. cit.
inventário da arte sacra fluminense, v. 2, Rio de Janeiro,
Inepac, 2008.
54 Identification and dating by Julio Cezar Neto Dantas,
architect, city planner and museologist, sacred art his-
tory specialist and director of the Museum of Sacred
Art and the Forte Defensor Perpetuo Museum, both
in Paraty, linked to the Brazilian Institute of Museums
(IBRAM).
55 Idem.
56 Giulio G. Rizzo, Il giardino privato di Roberto Burle
Marx: il Sítio, op. cit., p. 43.
132

133
N

10

COZINHA
DE PEDRA
STONE KITCHEN

7 8
9
6
5

3 4
2
1

SOMBRAL
MARGARET
MEE
MARGARET MEE
SHADE HOUSE

EDIFICAÇÕES
DO SÍTO
SÍTIO‘S BUILDINGS 3

2
SOMBRAL
GRAZIELA 4
BARROSO
GRAZIELA
BARROSO
SHADE HOUSE

CASA DE EDIFÍCIO DA
PEDRA ADMINISTRAÇÃO
STONE HOUSE ADMINISTRATION BUILDING
10 SANTA LUZIA ATELIÊ
STUDIO

9
L

8 L L
7
L
6 CASA DE ROBERTO
ROBERTO’S HOUSE

5
134

135

LOGGIA

CAPELA DE SANTO
L ANTÔNIO DA BICA
SANTO ANTÔNIO DA
BICA CHAPEL

L
GUARITA
SECURITY CABIN

ENTRADA
ENTRANCE

L LAGOS
LAKES
CASA DE
ROBERTO
ROBERTO’S
HOUSE

11
8
12 10 9
7

2 3 4 5
6

1 VARANDA FRONTAL
FRONT PORCH
2 SALA DAS CERÂMICAS
CERAMICS ROOM
3 SALA DE MÚSICA
MUSIC ROOM
4 SALA DE ESTAR
LIVING ROOM
5 SALA DE JANTAR
DINING ROOM
6 QUARTO DE ROBERTO
ROBERTO’S ROOM
7 BANHEIRO DE ROBERTO
ROBERTO’S BATHROOM
8 COZINHA
KITCHEN
9 HALL DO QUARTO DE HÓSPEDES
GUEST ROOM HALL
10 BANHEIRO DO HALL DO QUARTO
DE HÓSPEDES
GUEST ROOM HALL BATHROOM
11 QUARTO DE HÓSPEDES
GUEST ROOM
12 VARANDA POSTERIOR
BACK PORCH
VARANDA
FRONTAL
FRONT VERANDA

Espaço de transição entre o “den-


tro” e o “fora”, muito utilizado nas
atividades cotidianas, nas con-
versas de Burle Marx com os jar-
dineiros e nas festas e encontros.
Dentre os objetos que compõem
este espaço, destacam-se as car-
rancas – incluindo duas do maior
carranqueiro do Brasil, o Mestre
Biquiba Guarany – e as esculturas
do ceramista Miguel dos Santos.

A transitional space between “inside” and


“outside”, widely used in daily activities, for
conversations between Burle Marx and the
gardeners and for parties and meetings.
Notable among the objects which compose
this space are the figureheads – including
two from the greatest figurehead sculptor
in Brazil, Mestre Biquiba Guarany – and the
sculptures by ceramicist Miguel dos Santos.
SALA DAS
CERÂMICAS
CERAMICS ROOM

Expressivo conjunto de cerâmicas


do Vale do Jequitinhonha, com
destaque para as fabulosas mo-
ringas de várias cabeças e as
esculturas mesclando bichos e
gente. Peças em madeira, como
por exemplo o conjunto de ex-
-votos e as obras de conhecidos
artistas populares como Maurino
de Araújo e Mestra Zefa, fazem
parte das coleções expostas nes-
ta sala, que apresenta ainda di-
versas obras de Burle Marx, como
o teto pintado, as telas figurativas
de 1928 a 1941 e obras abstratas
das décadas de 1970 e 1980, sinte-
tizando seus momentos de maior
produção pictórica.

A significant set of ceramics from the


Jequitinhonha Valley, highlighting the
fabulous multi-headed jugs and sculptures
combining animals and people. The room
features woodworks such as the set of votive
offerings and works by well-known folk
artists like Maurino de Araújo and Mestra
Zefa, as well as several works by Burle Marx,
such as the painted roof, figurative paintings
from 1928 to 1941, and abstract works from
the 1970s and 80s, synthesising his moments
of greatest pictorial production.
SALA DE MÚSICA
MUSIC ROOM

A música era muito importante para


a família Burle Marx. A mãe, Cecí-
lia, tocava piano, o irmão Walter
se tornou maestro de prestígio in-
ternacional, e Roberto organizava
concertos no Sítio e cantava com sua
voz de barítono junto ao piano de
cauda nas festas que promovia aqui.
O teto desta sala reproduz o for-
ro do Pouso do Chico Rei, de Ouro
Preto (MG). Nas paredes, duas telas
cusquenhas e uma pernambucana
(século XVIII) retratam a Virgem das
Mercês, uma das mais antigas de-
voções da América Ibérica. As três
vitrines comportam a coleção de
arte pré-colombiana, originária de
diferentes culturas do Peru e Equa-
dor (3000-2000 a.C. ao século XV).
Sobre o arcaz ao fundo, um conjunto
de objetos variados sintetiza o inte-
resse múltiplo e a liberdade de Burle
Marx como artista e colecionador.

Music was very important for the Burle Marx


family. Roberto’s mother Cecília played the
piano, his brother Walter became a conductor
of international renown and Roberto organized
concerts and sang with his baritone voice
accompanied by the grand piano at the parties
he held at the Sítio. The ceiling of this room is a
reproduction of the ceiling of Pouso do Chico
Rei, in Ouro Preto (MG). On the walls, two Cuzco
School paintings and one from the state of
Pernambuco (18 th century) portray the Virgin
of Mercy, one of the oldest devotions of Iberian
America. The three showcases contain the pre-
Columbian art collection, which originates from
different cultures of Peru and Ecuador (3000-
2000 BC to the 15th century). The cabinet at the
back features a set of varied objects which
epitomise the multiple interests and freedom
of Burle Marx both as an artist and collector.
SALA DE ESTAR
LIVING ROOM

Combinação típica dos cole-


cionadores brasileiros dos anos
1960 e 1970. Pinturas da escola
de Cusco do século XVIII, rea-
lizadas por nativos da América
hispânica colonial, representan-
do a defesa da Eucaristia e a
Sagrada Família, convivem com
imagens de santos da tradição
luso-brasileira, cuja maioria é do
século XVIII, e com o mobiliário
Francisco Manuel Béranger e ne-
orrococó, de inspiração colonial.
Forma-se, assim, um espaço que
celebra as tradições coloniais la-
tino-americanas, nativas e popu-
lares, especialmente valorizadas
pelo colecionismo de então.

A combination typical of Brazilian collectors


of the 1960s and 70s. Paintings of the Cuzco
School of the 18 th century, made by natives
of colonial Hispanic America, representing
the defence of the Eucharist and the Holy
Family, coexist with images of saints from
the Luso-Brazilian tradition, mostly from the
18th century, and with colonial-inspired Fran-
cisco Manuel Béranger and neorococco
furniture. Thus, we have a space which cel-
ebrates Latin American, native and popular
colonial traditions, especially valued by col-
lectors of the time.
SALA DE JANTAR
DINING ROOM

Burle Marx gostava muito de re-


ceber os amigos e dar festas,
ocasiões em que organizava o
cardápio e a decoração floral.
Refletindo o modo de estar no
mundo de Burle Marx, este am-
biente articula em seus elementos
– aquário, obras de arte, mobili-
ário – diferentes épocas e estilos.
Nas duas vitrines, Burle Marx dis-
pôs sua coleção de objetos em
cristal e vidro. Alguns são de ar-
tistas importantes da modernida-
de, como o vaso Savoy (1936), de
Alvar Aalto. Aqui se apresenta
também um panorama da pro-
dução artística múltipla de Burle
Marx, reunindo pinturas figurati-
vas e abstratas, esculturas, de-
senhos e gravuras. A toalha de
mesa pintada por ele faz a liga-
ção entre todos os elementos.

Burle Marx was very fond of entertaining


friends and having parties, for which he
would organize the menus and floral ar-
rangements. Reflecting Burle Marx’s way of
being in the world, this environment articu-
lates through its elements – aquarium, art-
works, furniture – different eras and styles. In
the two showcases, Burle Marx arranged his
collection of crystal and glass objects. Some
are by leading artists of modernity, such as
the Savoy Vase (1936) by Alvar Aalto. Here
one also finds an overview of Burle Marx’s
multiple artistic work, bringing together figu-
rative and abstract paintings, sculptures,
drawings and engravings. The tablecloth
painted by him ties all the elements together.
QUARTO DE
ROBERTO
ROBERTO’S ROOM
COZINHA
KITCHEN

Depois que se mudou para Gua-


ratiba, Burle Marx contratou Cle-
ofas César da Silva para dirigir a
cozinha e a casa em geral. César
se tornou o seu mais duradouro
companheiro na vida doméstica.
Organizava os cardápios do dia
a dia e das festas. De suas formas
e panelas saíam os pratos que
faziam a alegria de Burle Marx e
de seus convivas. Quem frequen-
tava o sítio costumava dizer que
a cozinha era o lugar da casa
em que todos gostavam de ficar.
O coração pulsante da vida do-
méstica é um espaço funcional e
moderno, decorado com as pe-
ças de serviço e dotado de uma
grande ilha central. Ali soavam
as badaladas de um antigo reló-
gio de pêndulo da marca alemã
Junghans, do início do século XX.

After moving to Guaratiba, Burle Marx hired


Cleofas César da Silva to run the kitchen
and the house in general. César became
his most enduring companion in domestic
life. He organised the daily menus as well
as the parties. From his moulds and pans
came the dishes which made Burle Marx and
guests happy. The Sítio’s frequent visitors
used to say that the kitchen was the place in
the house where everybody liked to be. The
beating heart of domestic life is a functional
and modern space, decorated with service
pieces and endowed with a large central
island. From here one could hear the chimes
of an old German Junghans grandfather
clock of the early 20 th century.
QUARTO DE
HÓSPEDES
GUEST ROOM

O antigo quarto de hóspedes hoje


se destina a celebrar a vida pri-
vada do paisagista, que costu-
mava dizer que a grande riqueza
da vida eram os amigos. Entre os
objetos expostos, vemos roupas,
óculos, documentos, livros com
dedicatórias, fotografias que fa-
lam de sua vida intensamente vi-
vida, de suas relações pessoais e
profissionais. Uma curiosa vitrine
de conchas marinhas, instalada
pelo próprio artista, apresenta
um arranjo estético de exempla-
res das classes Bivalvia, Gastro-
poda e Cefalópode, oriundos da
região circuntropical.

The former guest room today celebrates the


private life of the landscaper, who used to
say that his friends were the great wealth
of life. Among the objects on display are
clothes, reading glasses, documents, books
with dedications, and photos which evince
a life intensely lived and his personal and
professional relationships. A curious sea-
shell showcase, installed by the artist him-
self, shows an aesthetic arrangement of
specimens from the Bivalvia, Gastropoda
and Cephalopod classes, from the circum-
tropical region.
VARANDA
POSTERIOR
BACK PORCH

Era um dos espaços preferidos


de Burle Marx para pintar. Aqui
costumava montar seu cavalete e
aproveitar a luz que se infiltrava
na área semiaberta, voltada para
o jardim, onde experimentava ar-
ranjos paisagísticos e que hoje
abriga parte de sua significativa
coleção de velosiáceas. A liber-
dade com que o paisagista criava
e transformava seus jardins é a
mesma com que compunha suas
pinturas. Ele experimentava muito
com as cores e formas e dizia não
ter medo de errar. Em sua última
entrevista, Burle Marx afirmou:
“É errando que se aprende. Fór-
mulas nos trazem apenas esteri-
lidade”. E concluiu: “O meu ateliê
é um laboratório – tem que ser um
laboratório. Afinal, toda a vida é
um experimento em realização”.

One of Burle Marx’s favourite spaces for


painting. Here he would set up his easel
and benefit from the light which would seep
into the semi-open area, facing the garden,
where he would experiment with landscape
arrangements, and which today houses a
part of his large collection of velosiaceae.
The freedom with which the landscaper
created and transformed his gardens was
the same with which he would compose his
paintings. He would experiment with colours
and shapes, and said he had no fear of
mistakes. In his final interview, Burle Marx
stated: “It is by making mistakes that one
learns. Formulas bring us only sterility.”
He concluded by saying: “My studio is a
laboratory – it must be a laboratory. After
all, life is an experiment in realisation.”
HISTORY, CONTEXT AND ARCHITECTURE HISTÓRICO, CONTEXTO, ARQUITETURA
É desconhecido da maior parte do pú- fissionais que atuam em restauração, a
blico que o fascínio de Roberto Burle palavra é definida como o trabalho em
Marx pela natureza foi traduzido não pedra aparelhada, entalhada ou afeiço-
somente pela arte com plantas, mas ada cuidadosamente. São pedras regu-
também pela arte com pedras. larmente cortadas e encaixadas segundo
Intercalando com a suavidade dos as regras da estereotomia, em geral inse-
planos paisagísticos, o renomado pai- ridas na construção como revestimento
sagista brasileiro utilizou-se de inúme- ou estrutura. Cada pedra deve ocupar o
ras peças de cantaria de demolição lugar que lhe foi previamente estabeleci-
para compor ideias arquitetônicas e do, sendo, assim, um elemento integrado.
paisagísticas. Algumas de suas me- A importação de pedras lavradas
lhores composições encontram-se no era uma prática do Brasil colônia, e
surpreendente espaço tombado pelo
Iphan que era sua propriedade e mo-
radia, o Sítio Roberto Burle Marx.

Cantaria no Rio antigo


As cantarias
Quando se trata de pedras, o termo mais
utilizado nas bibliografias é “cantaria”.
do Sítio Roberto
Nos glossários específicos para os pro- Burle Marx
164
YANARA COSTA HAAS*
165
Unknown to most people, Roberto Bur- The stonework at the
le Marx’s fascination with nature was
translated not only into art with plants, Sítio Roberto Burle Marx
but also art with stone.
Interspersed with the softness of the
landscape plans, the renowned Brazil- on the laying, carving, or preparation A fachada em cantaria do
ateliê é proveniente de um
ian landscaper used countless pieces of stone. The stone is of a regular cut casarão colonial do centro
of stonework from demolitions to com- and fitted according to the rules of stere- do Rio Janeiro. Burle Marx
a remontou, na década de
pose architectural and landscaping otomy, generally used in construction as 1990, sem as esquadrias,
sobre um retângulo de
ideas. Some of his best compositions a covering or structure. Each stone must concreto, de acordo com
can be found at the surprising Iphan- occupy its previously established place, o desenho feito pela
empresa de demolição que
listed space, which was his property and forming as such an integrated element. lhe forneceu a fachada.

residence – the Sítio Roberto Burle Marx. The import of mined stone was a The studio stonework
facade is a reuse from
practice of colonial Brazil, coming an old colonial house
Stonework in Old Rio mostly from the Portuguese metropo- originally located in Rio
de Janeiro City centre.
Regarding stone, the most commonly lis. It is believed that Rio stone – granite In the 1990’s, Burle Marx
reassembled it with no
used term in bibliographies is “stone- or gneiss – was very difficult to work frames, onto a concrete
work” (cantaria in Portuguese). In specific with due to its hardness, as well as the rectangle following the
design provided by the
glossaries for restoration professionals, lack of tools and qualified Brazilian demolishing company that
supplied it to him.
the term is defined as the careful work labour for work of this nature. In the
Portal da antiga Academia sez de instrumentos e pela desqualifi-
Imperial de Belas Artes
(séc. XIX), construído em cação da mão de obra brasileira para
estilo neoclássico pelo trabalhos dessa natureza. Já no século
arquiteto francês
Grandjean de Montigny, XIX, no entanto, a monumentalidade
integrante da Missão
Francesa e professor de dos edifícios neoclássicos passou a
arquitetura civil na exigir trabalhos decorativos compatí-
referida Academia.

Página seguinte: pedras


veis com suas características. A mão
afloradas compondo o de obra de então, mais preparada, era
paisagismo do sítio.
capaz de executar verdadeiras obras
Portal of the former
Imperial Academy of
de arte. Nos revestimentos das pare-
Fine Arts (19 th century), des externas, no lugar da massa de
built in neoclassical style
by the French architect cal, tornou-se comum a cantaria apa-
Grandjean de Montigny,
a member of the French
relhada, com bossagens, acentuando
Mission and professor of os corpos centrais, os cunhais e outras
civil architecture at the
mentioned Academy. partes da composição. Como elemento
Next page: outcropping elas vinham em grande parte da me- integrado, a cantaria estava presente
stones composing the
Sítio’s landscaping. trópole portuguesa. Acredita-se que nas fachadas enquanto adorno e es-
havia muita dificuldade de trabalho trutura de portas, janelas, escadas e
com as pedras cariocas – granitos e seus respectivos guarda-corpos. São
gnaisses – por sua dureza, pela escas- esses elementos integrantes da arqui-
HISTORY, CONTEXT AND ARCHITECTURE HISTÓRICO, CONTEXTO, ARQUITETURA

19 th century, however, the monumen- Stonework in architecture


tality of neoclassical buildings began and landscaping
to require decorative work which was In the form of facade, retaining wall and
compatible with these characteristics. lake composition, the stonework piec-
Labour, now better prepared, was able es adorn the most beautiful scientific
to execute true works of art. On external flowerbeds in the world. Since acquir-
wall coverings, lime mass was replaced ing the Sítio, Burle Marx was delighted
with fitted stonework, with raised panels, with the human and, especially, natural
emphasising the corners and the central improvements. Many outcrops were still
part of the composition. As an integrat- covered by native vegetation, but his
ed element, stonework was present on restless curiosity exposed and explored
facades as an ornament and structure these elements.
of doors, windows and stairs and their In Burle Marx’s view, the Old House
respective railings. It is these integral (now known as the Roberto’s House)
elements of old architecture which Burle and the Santo Antônio Chapel, both
Marx acquires at a number of demoli- originally built in the 17th century (1680),
tions to compose his gardens with a new did not match the beauty of the natural
conception of architectural art. stone arising from the ground. In these
places, the landscaper experimented
with compositions which integrated the
tetura antiga que Burle Marx adquire to Antônio, ambas construídas origi-
em diversas demolições para compor nariamente no século XVII (1680), não
com seus jardins uma nova concepção se equiparavam em beleza às pedras
de arte arquitetônica. naturais que afloravam no terreno, se-
gundo a visão de Burle Marx. Nesses
Arquitetura e paisagismo locais, o paisagista experimentou com-
com cantaria posições que integravam o terreno com
Na forma de fachada, murada de ar- as pedras de cantaria, utilizando-as em
rimo e composição de lagos, as peças muradas, escadarias e totens.
de cantaria ornam os mais belos can- Na varanda em frente à Casa de
teiros científicos do mundo. Desde que Roberto – onde morava e que foi di-
adquiriu o terreno do sítio, Burle Marx versas vezes ampliada –, Burle Marx
encantou-se com as benfeitorias – as fez construir um muro de arrimo para
humanas e, principalmente, as naturais. sustentar um espelho d’água com es-
Muitos afloramentos estavam ainda en- pécies aquáticas. O muro foi montado
cobertos pela vegetação nativa, mas com peças de demolição encaixadas
sua inquieta curiosidade descortinou aleatoriamente de forma a demonstrar
e explorou esses elementos. volumes, cheios e vazios, de ambos os
A casa antiga (hoje denominada lados. Na mesma casa, ele instalou es-
Casa de Roberto) e a Capela de San- cadas e uma bela portada com aliza-
166

167
HISTORY, CONTEXT AND ARCHITECTURE HISTÓRICO, CONTEXTO, ARQUITETURA

Muro de arrimo rocky terrain, using it in walls, staircases room, today known as the stone kitchen,
construído junto
ao lago próximo à and totem poles. was built in the 1960s and awarded a
Casa de Roberto.
On the porch in front of the Roberto’s prize by the Institute of Architects of Bra-
Página seguinte:
cascata da
House – where he lived and which was zil (Instituto de Arquitetos do Brasil – IAB).
cozinha de pedra extended many times – Burle Marx built Lastly, on a promontory far from
Retaining wall built a retaining wall to sustain a reflecting the other buildings, Burle Marx built his
by the lake next to
the Roberto’s House. pool with aquatic species. The wall painting studio in modern architectural
Next page: stone was built with randomly fitted demoli- style, with a stone facade transported
kitchen’s cascade .
tion pieces so as to show full and emp- from a colonial building in the city centre
ty volumes on both sides. In the same of Rio de Janeiro. On the recommenda-
house he installed stairs and a beautiful tion of Lucio Costa, his friend and mentor,
doorway with stone frames. Next to it, in Burle Marx acquired a stone facade from
his former printing studio, he set up five a colonial mansion on the corner of Con-
arches, giving the space the character selheiro Saraiva St. and São Bento St.,
of a loggia, that is, a covered gallery in the centre of Rio de Janeiro. With the
half-closed laterally by an arcade. idea of moving to another place within
Right behind these buildings there is a the Sítio, Burle Marx reassembled the
semi-open ballroom with a concrete slab facade, without the frames, onto a con-
roof and bathroom and refrigeration ar- crete rectangle, following the design the
eas bordered by stone walls. The ball- demolition company had provided him.
res em pedra. Junto dali, em seu antigo de pedra transladada de um prédio
ateliê de estamparia, foram montados colonial no centro da cidade do Rio
cinco arcos, caracterizando o espaço de Janeiro. Por indicação do arquiteto
como uma loggia, ou seja, uma galeria Lucio Costa, seu amigo e orientador,
coberta e semicerrada lateralmente por Burle Marx adquiriu uma fachada em
uma arcada. cantaria proveniente de um casarão co-
Imediatamente atrás dessas constru- lonial na esquina das ruas Conselheiro
ções, foi projetado um salão de festas Saraiva e São Bento, no centro do Rio
semiaberto, com cobertura em laje de de Janeiro. Com a ideia de se mudar
concreto e as áreas de sanitários e fri- para outro local dentro do próprio ter-
goríficos delimitadas por paredes de reno, Burle Marx remontou a fachada,
pedra de cantaria. O salão, hoje de- sem as esquadrias, sobre um retângulo
nominado cozinha de pedra, foi cons- de concreto, seguindo o desenho que a
truído na década de 1960 e premiado empresa de demolição lhe havia forne-
pelo Instituto de Arquitetos do Brasil cido. A concretização de sua ideia foi
(IAB) por seu caráter de modernidade. acompanhada pelo projeto do novo
Por último, em um promontório dis- ateliê, na década de 1990, com autoria
tante das demais edificações, Burle de Acácio Gil Borsoi, Janete Ferreira da
Marx construiu seu ateliê de pintura Costa e do próprio Burle Marx. Juntando
em arquitetura moderna com fachada peças de cimento para completar novos
168

169
In the 1990s, together with the completion visionary artist, a proponent of con-
of this idea, there came a project for a cepts and ideas. The use of demolition
new studio by Acácio Gil Borsoi, Janete stonework on his property is of great
Ferreira da Costa and Burle Marx him- relevance to the geological heritage of
self. Bringing together pieces of cement Rio de Janeiro.
to complete new arches, the facade of his
new studio-home or, as we call it today,
the painting studio, became an icon of
modern architecture.
There is still much to be studied in re-
lation to the stone elements used at the
Sítio Roberto Burle Marx, from a reading
of the structural and formal composi-
tion, considering each stone in relation
to the filled and empty spaces, to the
identification of the geological nature
of the stones and the origin of the con-
structions. However, it is right to con-
clude that these works are examples of
modernity, created by an aesthetically
Ateliê de pintura do Sítio arcos, a fachada de seu novo ateliê-
Roberto Burle Marx com
a fachada de cantaria -casa ou, como hoje chamamos, ateliê
remontada. de pintura, transformou-se em um ícone
Painting Studio at the da arquitetura moderna.
Sítio Roberto Burle Marx
with the reassembled Há muito ainda a ser pesquisado em
stonework facade.
relação aos elementos pétreos utiliza-
dos no Sítio Roberto Burle Marx, desde
uma leitura de composição estrutural e
formal, considerando cada pedra em
relação aos espaços cheios e vazios, até
a identificação da natureza geológica
das pedras e a origem das construções.
No entanto, é certo concluir que essas
obras são exemplos de modernidade,
criadas por um artista visionário na
questão estética, um preconizador de
conceitos e ideias. O uso das pedras
de cantaria de demolição em sua pro-
priedade é de grande relevância ao
patrimônio geológico do Rio de Janeiro.
HISTORY, CONTEXT AND ARCHITECTURE HISTÓRICO, CONTEXTO, ARQUITETURA

*versidade
Yanara Costa Haas Arquiteta e urbanista pela Uni-
Santa Úrsula (1986), é especialista em conser-
vação e restauração de elementos pétreos pela UNES-
CO/ICCROM (1991), mestre em restauração e gestão do
patrimônio pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
(2003) e docente pelo Centro Universitário SENAC-
-SP (2018). Atuou por mais de 30 anos como arquiteta
conservadora do Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (desde 1987), sendo, nos últimos 11
anos, coordenadora da área de arquitetura do Sitio
Roberto Burle Marx.

*sidade
Yanara Costa Haas Architect and urbanist (Univer-
Santa Úrsula, 1986), Specialist in Conservation
and Restoration of Stone Elements (UNESCO/ICCROM,
1991), with a master’s degree in Heritage Restoration
and Management (Federal University of Rio de Janeiro,
2003) and lecturer at SENAC University SP (2018). Was
Conservation Architect for over 30 years at the National
Historical and Artistic Heritage Institute (1987), and
coordinator of Architecture at Sítio Roberto Burle Marx
for the last 11 years.
170

171
ARTE E
COLEÇÕES
ART AND
COLLECTIONS
ART AND COLLECTIONS ARTE E COLEÇÕES
É bastante conhecida a afirmação de
Lucio Costa de que Burle Marx e seu
mundo, “em plena era espacial e atômi-
ca, (...) conquanto falem linguagem con-
temporânea, confinam com a Renas-
cença”.1 O arquiteto moderno brasileiro

“A beleza
referia-se, antes de tudo, ao caráter
experimental do trabalho do artista e

da experiência
paisagista, que renovava a compreen-
são, típica da primeira idade moderna,

enriquecida”:
de criação como pesquisa e experimen-
tação. A invenção da perspectiva linear

o artista e
pelos artistas renascentistas atestava a
nova associação entre arte, invenção e

colecionador
pensamento, colocando as artes plásti-
cas no mesmo patamar intelectual das

Roberto
chamadas artes liberais. Essa situação
foi sintetizada na célebre sentença de

Burle Marx
Leonardo da Vinci: “arte é coisa mental”.
Isso fez com que os artistas do período
174
VERA BEATRIZ SIQUEIRA*
175
Lucio Costa said that Burle Marx and
“The beauty of No sítio, Burle Marx abrigou
não só uma representativo
his world “in the midst of the atomic
enriched experience”:
acervo botânico, mas
and space age, (...) while speaking a também um expressiva
coleção de arte e cultura,
contemporary language, is adjacent to the artist and que inclui peças perten­
centes à cultura popular;
the Renaissance.” 1 The modern Brazil-
ian architect was referring, foremost, to
collector Roberto arte sacra luso-brasileira;
obras cusquenhas, peças

Burle Marx
em vidro e cristal, pinturas
the experimental character of the art- e gravuras de seus con­
temporâneos, além de
ist and landscaper’s work, which was obras suas realizadas
renewing an understanding, typical of em suportes distintos.
Na imagem, esculturas de
the first modern age, of artistic creation ing experience from painting, architec- F. Heise.

as research and experimentation. The ture, engineering, treatises, etc. Lucio On the Sítio, Burle Marx
invention of linear perspective by Re- Costa also noticed this multiplicity in housed not only a
representative botanical
naissance artists was a testament to the Burle Marx, recognising how the work of collection but also a
significant collection of
new association between art, invention the botanist and landscaper “feeds on art and culture, including
and thinking, placing the fine arts on the work of the artist, the designer, the items belonging to popular
culture, Luso-Brazilian
the same intellectual level as the so- painter and vice-versa, in a continuous religious art, Cuscan works,
pieces in glass and crystal,
called liberal arts. This was synthesised back and forth.” 2 paintings and prints by his
in Leonardo Da Vinci’s famous phrase: In another text, published together contemporaries, as well as
his own works in different
“Art is a mental thing.” It led artists of the with that of Lucio Costa’s in a book media. In the image,
sculptures by F. Heise.
period to act in multiple ways, gather- which commemorated Burle Marx’s 70th
ART AND COLLECTIONS ARTE E COLEÇÕES

Sala de estar do ateliê, birthday, Leonardo Boff presented a of the divine scripture. The marriage
em nível superior e
aberta ao salão, com new facet of his ambivalent temporal- between erotic and Christian love in
teto em gamela feito ity. Through analysing his passionate St Francis obliged him to ‘be among
em concreto e ornado
com baixos-relevos, com defence of ecology, Boff highlights the things’, distancing him from the typical
desenho de Burle Marx,
e lustre de cinco braços, relationship of Burle Marx with the ar- experience of modern sensibility of ‘be-
também de autoria chaic, non-modern way of being of St ing over things’. Burle Marx, according
do paisagista.
Francis of Assisi. Instead of modern do- to Boff, shared the saint’s profoundly
Studio living Room,
located on the upper
minion over objective reality, Roberto ecological attitude towards things. The
level and opened to the is closer to the Franciscan vision of Franciscan archetype and its cosmic
lounge, with a trough
ceiling made of concrete “tender affection and devotion to all religiosity emerge in the personality of
and decorated with bas-
reliefs designed by Burle
things.” 3 The deep love the saint felt for the “landscaper and friend of all man-
Marx, and a five-arm things, especially for nature, which rep- ifestations of nature”4 in his fraternal
chandelier, also by the
landscaper. resents the Father’s creation, and the relationship with Earth.
recognition of the fraternity between all We must yet mention two other texts
beings and objects, led him to experi- from the same book, which also refer to
ence unbridled joy before every herb Burle Marx’s experience of an elusive
(even weeds) growing in the corner temporality. The first, authored by land-
of the garden, the fragrance of every scaper Claude Vincent, while highlight-
flower, every small detail seen in the ing the original and innovative quali-
immense variability of the expression ties of his gardens, compares them with
atuassem de modo múltiplo, reunindo ximaria da visão franciscana de “ter-
experiências em pintura, arquitetura, níssimo afeto de devoção a todas as
engenharia, tratadística etc. Lucio Cos- coisas”. 3 O entranhado amor do santo
ta também assinalou essa multiplicida- pelas coisas, em especial pela nature-
de em Burle Marx, reconhecendo como za, que representa a criação do Pai, e o
a obra do botânico e do paisagista “se reconhecimento da fraternidade entre
alimenta da obra do artista plástico, do todos os seres e objetos, levavam-no à
desenhista, do pintor, e vice-versa, num experiência de transbordante alegria
contínuo vaivém”. 2 diante de cada erva (mesmo a daninha)
Em outro texto, publicado junto com que brotava em um canto de jardim,
esse de Lucio Costa na coletânea que da fragrância de cada flor, de cada
celebrava os setenta anos do paisagis- pequeno detalhe observado na imensa
ta, Leonardo Boff trouxe nova faceta variabilidade da expressão da escritu-
da sua ambivalente temporalidade. Ao ra divina. O casamento do amor erótico
analisar a sua apaixonada defesa da com o amor cristão em São Francisco
ecologia, destacou a relação de Burle obrigava-o a um “estar entre as coisas”,
Marx com o modo de ser arcaico, não afastando-o da experiência típica da
moderno, de São Francisco de Assis. sensibilidade moderna, o “estar sobre
No lugar do domínio moderno sobre as coisas”. Burle Marx, segundo Boff,
a realidade objetiva, Roberto se apro- compartilha com o santo essa atitude
176

177
“past landscapers such as [William] Peça em vidro murano,
projetada por Roberto
Kent, in 18th century England, and the Burle Marx.
Frenchman [Auguste François Marie]
Murano glass piece,
Glaziou in [19 th century] Brazil,” 5 who designed by Roberto
Burle Marx.
both sought a pertinent link between
architecture, garden and landscape.
The second text, “The Prophet of the
New” by Artur da Távola, places Burle
Marx, with his discourse in defence of
nature, as a messenger of the new,
based on a salvationist ethic which
involves a reaction to the destructive
processes of modernity.
The emphasis on the experience of
a simultaneously current and remote
temporality, in all of these cases, is key
to understanding Burle Marx’s par-
ticular place within the more general
scope of modern Brazilian art. The use
of abstract and rational forms did not
diante das coisas, que é profundamen-
te ecológica. O arquétipo franciscano
e a sua religiosidade cósmica emer-
gem na personalidade do “paisagista
e amigo de todas as manifestações da
natureza”4 e em sua relação fraterna
com a terra.
E não podemos deixar de mencionar
outros dois textos da mesma coletânea
que remetem, igualmente, à experiên-
cia da temporalidade esquiva de Burle
Marx. O primeiro, de autoria do paisa-
gista Claude Vincent, embora destaque
as qualidades originais e inovadoras
de seus jardins, compara-o aos “paisa-
gistas do passado como [William] Kent,
na Inglaterra do século XVIII, e como o
francês [Auguste François Marie] Gla-
ziou no Brasil [do século XIX]”, 5 envolvi-
dos na busca de uma ligação pertinente
ART AND COLLECTIONS ARTE E COLEÇÕES

O interesse de Burle Marx lead him to disregard nature or see it between the various artistic manifesta-
pela música remonta a sua
tradição familiar (a mãe exclusively in its formal dimension, as so tions understood as expressions of a
tocava piano e o irmão many other artists, architects and land- same poetic emotion, which led him to
mais velho, Walter Burle
Marx, tornou-se maestro scapers did. In his painting, abstraction devote himself with equal affection to
reconhecido no Brasil
e no exterior). No sítio, never ceases to refer to being among painting, sculpture, engraving, design,
costumava cantar e ouvir things, to affectionate relationships with the decorative arts, jewellery and scenic
música nos momentos
de trabalho e de lazer. plants, objects, creatures that appear design, singing and landscaping. All of
Na imagem, Burle Marx,
que era barítono, canta as absent presences, reconciling ge- these activities are fused with the same
acompanhado por Anna ometry and lyricism. In his landscaping, principle of laboratory experimentation.
Cândida Gomide ao piano.
he remains attached to both sides of Perhaps, however, this ambivalent
Burle Marx’s interest in
music goes back to his his characteristic equation, articulating temporality can be better understood
family tradition (his mother
played the piano and
formal rationality with the exuberance from the viewpoint of Burle Marx as an
his older brother, Walter of tropical fauna. He also rejects the op- art collector. His art collection is scarce-
Burle Marx, became a
recognized conductor position between rational and organic ly analysed - the best known Burle Marx
in Brazil and abroad).
At the Sítio, he used to
forms and eschews defined artistic and collection, due to its unequivocal im-
sing and listen to music landscape styles. He sees no problem portance, is of species of tropical and
during work and leisure.
In the image, Burle Marx, in retrieving elements of the past, such subtropical flora. But it seems to me to
who was a baritone, sings
accompanied by
as the ashlar stonework he takes from be at the centre of his broad cultural
Anna Cândida Gomide demolitions, and employs on his sculp- performance. The collection is precisely
at the piano.
tural walls. He sees no contradiction the model for this simultaneously re-
entre arquitetura, jardim e paisagem. O jamais deixa de se remeter ao estar Na sala das cerâmicas
estão reunidas peças de
segundo, de Artur da Távola, intitulado com as coisas, às relações afetuosas sua coleção de cerâmica
“O profeta do novo”, coloca Burle Marx, com plantas, objetos, criaturas que se popular brasileira, com
destaque para a
com seu discurso em defesa da natu- insinuam como presenças ausentes, produção do Vale do
Jequitinhonha, no
reza, como o mensageiro da novidade, conciliando geometria e lirismo. Em seu nordeste de Minas Gerais.
baseada em uma ética salvacionista paisagismo, decide manter-se apega- Completam o ambiente
pinturas do próprio Burle
que envolve a reação aos processos do aos dois lados de sua característica Marx dispostas na prede;
o teto, igualmente pintado
destrutivos da modernidade. equação, articulando a racionalidade por ele (com motivos
A ênfase na vivência de uma tem- formal à exuberância da flora tropical. abstratos); e quatro
gravuras modernas, sendo
poralidade simultaneamente atual e Também recusa a oposição entre formas duas de Le Corbusier e
duas de Georges Braque.
remota, em todos esses casos, serve racionais e orgânicas e dispensa estilos
Burle Marx in the
como chave para compreender a atu- paisagísticos e artísticos definidos. Não ceramics room, where
ação peculiar de Burle Marx no quadro vê problema em recuperar elementos the Brazilian ceramics
are held, highlighting
mais geral da arte moderna brasileira. do passado, como as pedras de canta- production from the Vale
de Jequitinhonha, in the
O uso da forma abstrata e racional não ria aparelhadas que emprega em seus northeast of Minas Gerais.
o levou a desprezar a natureza nem, muros escultóricos. Não percebe con- The room also contains
paintings by Burle Marx,
tampouco, a percebê-la exclusivamente tradição entre as várias manifestações which hang on the walls; the
ceiling, also painted by him
em sua dimensão formal, como fizeram artísticas, entendidas como expressões (with abstract motifs); and
tantos outros artistas, arquitetos e pai- de uma mesma emoção poética, o que four modern engravings,
two by Le Corbusier and
sagistas. Em sua pintura, a abstração o leva a dedicar-se com igual afeto à two by Georges Braque.

178

179
paisagismo. Todas essas atividades são
fundidas pelo mesmo princípio da ex-
perimentação laboratorial.
Talvez, porém, essa temporalidade
ambivalente possa ser melhor compre-
endida a partir da atuação de Burle
Marx como colecionador. Tal faceta foi
pouco analisada no campo artístico
– a coleção de Burle Marx que ficou
mais conhecida, até por sua relevância
inequívoca, é a de espécies da flora
tropical e subtropical –, mas me parece
estar no centro de sua ampla atuação
cultural. A coleção é justamente o mo-
delo para essa experiência simultane-
amente atual e remota, na medida em
que retira os objetos de seus contextos
pintura, à escultura, à gravura, ao de- específicos para incluí-los em uma nar-
senho, às artes decorativas, ao design rativa radicalmente contemporânea,
de joias e de cenários, ao canto ou ao que atende tanto aos valores privados
ART AND COLLECTIONS ARTE E COLEÇÕES

CARTOMANTE, 1951 mote and current experience, insofar Burle Marx, focusing on his practice as
Óleo/tela
72,5 x 59,8 cm as it removes objects from their spe- an artist and collector of cultural and
Página seguinte: cific contexts in order to include them art objects so as to qualify his particu-
ANA PIASCECK, 1927
in a radically contemporary narrative, lar poetic narrative, which is a vast and
Carvão/papel
46,5 x 31 cm which meets both the private values of deep reflection on the proximity of man
RETRATO DE WALTER the collector’s taste as well as its col- and things.
BURLE MARX, 1983
Acrílica/tela lective sphere. Collecting is suggested
77,9 x 68,2 cm
in the Renaissance universe pointed out Burle Marx, the artist
FORTUNE TELLER, 1951 by Lucio Costa, where the very notions More than a few scholars have empha-
Oil/canvas
72.5 x 59.8 cm of collection and collector are defined, sised the graphic foundation of the mul-
Next page: and the practice reaches global fron- tiple oeuvre of Burle Marx, which is due
ANA PIASCECK, 1927
Charcoal/paper
tiers from the cabinets of curiosities. It is to the landscaper having graduated
46,5 x 31 cm also a kind of guide in the landscaper’s as a painter from the National School
PORTRAIT OF WALTER approach to the Franciscan vision which of Fine Arts in Rio de Janeiro, in 1934.
BURLE MARX, 1983
Acrylic/canvas preaches a love to all things and affec- From early on, he became interested
77.9 x 68.2 cm
tionate attention to each object in par- in the care of gardens and especial-
ticular, essential to the collection itself. ly music, which was part of the family
Based on this key idea of collection, tradition (his mother was a pianist; his
the present chapter seeks to define the older brother, Walter Burle Marx, be-
contour of the cultural performance of came a renowned conductor in Brazil
do gosto do colecionador quanto à sua culiar narrativa poética, uma vasta e
esfera coletiva. O colecionismo se insi- profunda reflexão sobre a proximidade
nua no universo renascentista apontado do homem com as coisas.
por Lucio Costa, momento em que as
próprias noções de coleção e de cole- Burle Marx artista
cionador se definem e a prática alcan- Não foram poucos os estudiosos que
ça fronteiras globais nos gabinetes de destacaram o fundamento gráfico da
curiosidades. Também é uma espécie obra múltipla de Burle Marx, que pode
de guia na aproximação do paisagista ser comprovado pelo fato de o paisagis-
à visão franciscana que prega o amor ta ter se formado como pintor na Escola
às coisas, a atenção afetuosa a cada Nacional de Belas Artes, no Rio de Janei-
objeto em particular, essencial para a ro, em 1934. Desde cedo, interessou-se
própria coleção. pelo cuidado de jardins e, muito espe-
É a partir dessa ideia-chave de cole- cialmente, pela música, que estava liga-
ção que o presente capítulo vai buscar da à sua tradição familiar (a mãe tocava
definir os contornos da atuação cultu- piano; e o irmão mais velho, Walter Burle
ral de Roberto Burle Marx, destacan- Marx, tornou-se maestro reconhecido no
do suas práticas como artista e como Brasil e no exterior). Acabou, contudo,
colecionador de objetos culturais e de optando por cursar pintura. Burle Marx
arte, de modo a qualificar a sua pe- gostava de repetir, em entrevistas e ar-
180

181
tigos, o quanto as obras de Vincent van
Gogh e de Pablo Picasso, que conhecera
no período em que morara com a família
em Berlim (1928-1930), teriam impactado
sua sensibilidade e motivado sua de-
cisão de se formar em artes plásticas.
E é inegável que foi a arte moderna, e
mais especificamente a pintura de ver-
tente expressiva, a sua grande referên-
cia estética e a abertura para a forma
moderna e abstrata, essencial para o
seu paisagismo.
Um modo interessante de se com-
preender como essas formas de mani-
festação de sua sensibilidade estética
se inter-relacionavam é acompanhar as
décadas iniciais da recepção pública
de sua obra, percebendo como esta foi,
paulatinamente, rompendo as fronteiras
culturais estabelecidas entre arquitetu-
ART AND COLLECTIONS ARTE E COLEÇÕES

VASO COM ESTRELÍCIA and abroad). Eventually, however, he boundaries between architecture, fine
E FICUS, 1939
Óleo/tela chose to study painting. Burle Marx art and decorative art. At a given mo-
99 x 79,5 cm liked to reiterate, in interviews and ar- ment, articles about his work began to
Página seguinte:
ticles, how much the works of Van Gogh celebrate the multiplicity and freedom
MULHER DE COMBINAÇÃO
ROSA, 1933 and Pablo Picasso, which he came to of movement between artistic mediums
Óleo/tela
99,5 x 69,5 cm know during the period he stayed with as a specific value of the art of Burle
VASE WITH BIRDS
his family in Berlin (1928-1930), had im- Marx. This once again leads us to the
OF PARADISE pacted his sensibility and motivated his perception of an elusive temporality,
AND FICUS, 1939
Oil/canvas choice to study fine art. It is undeniable which flirts with both the present (the
99 x 79.5 cm
that it was modern art, and more specifi- post-medium condition of contempo-
Next page:
WOMAN IN PINK
cally expressive painting, that was his rary art) and the more remote (recover-
COMBINATION, 1933 great aesthetic reference and opening ing the figure of the multiple artist of the
Oil/canvas
99.5 x 69.5 cm towards the modern and abstract form Renaissance, celebrated in the text by
which was essential to his landscaping. Lucio Costa). As if the contemporaneity
One interesting way of understand- of his production was precisely a return
ing how the forms of manifestation of his to a past situation.
aesthetic sensibility are interrelated is to In the 1930s, when Burle Marx was not
look at the early decades of the public yet known as an artist or landscaper, his
reception of his work, and how it gradu- name would appear in Rio newspapers
ally broke down the established cultural as a baritone for performing in concerts.
ra, artes plásticas e artes decorativas. A suas apresentações em concertos. Em
ponto de, em dado momento, os artigos 1931, participou do Concerto no estúdio,
sobre seus trabalhos passarem a celebrar da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro,
a multiplicidade e a liberdade de circula- interpretando o “Canto da saudade”,
ção entre os meios artísticos como valor de Alberto Costa, e a “Canção do arre-
específico da arte de Burle Marx. O que pendimento”, de Emil von Reznicek. Em
nos leva, de novo, para a percepção de 1934, no evento em homenagem ao cen-
uma temporalidade esquiva, que fler- tenário da cidade de Vassouras, apre-
ta tanto com o atual (a transposição de sentou uma das canções românticas
fronteiras midiáticas, mote da arte con- de Alexandr Gretchaninov. É certo que
temporânea) quanto com o mais remoto essas menções não podiam ser compa-
(recuperando a figura do artista múltiplo radas em número ou consistência aos
do Renascimento, celebrada no texto de incontáveis artigos que se referiam a
Lucio Costa). Como se a contemporanei- seu irmão, Walter Burle Marx, diretor da
dade de sua produção fosse justamente Orquestra Filarmônica do Rio de Janei-
o retorno a uma situação pretérita. ro, que regeu, em 1931, o concerto em
Na década de 1930, quando Burle homenagem à inauguração da estátua
Marx ainda não era artista ou paisagis- do Cristo Redentor e foi convidado para
ta conhecido, seu nome aparecia nos ser regente no Teatro Colón, em Buenos
jornais cariocas como barítono, por Aires, e no Teatro Municipal de Santia-
182

183
In 1931, he took part in Rádio Sociedade’s
Studio Concert, performing Alberto
Costa’s Song of Longing and Emil von
Reznicek’s Song of Repentance. In 1934,
at an event in honour of the centenary
of the city of Vassouras, he performed
a romantic song by Alexandr Gretchani-
nov. These mentions surely cannot be
compared in number or consistency to
the innumerable articles which referred
to his brother, Walter Burle Marx. Di-
rector of the Rio de Janeiro Symphonic
Orchestra, Walter conducted the con-
cert for the inauguration of the Christ
the Redeemer statue in 1931, and was
invited to conduct at the Teatro Colón
in Buenos Aires, and the Teatro Munici-
pal in Santiago, among others, draw-
ing high praise from the South American
press. The Chilean composer Enrique
MORRO DO
QUEROSENE, 1936
Óleo/tela
81 x 100 cm

MORRO DA GLÓRIA, 1946


Óleo/tela
81 x 100 cm

KEROSENE HILL, 1936


Oil/canvas
81 x 100 cm

GLORIA HILL, 1946


Oil/canvas
81 x 100 cm
ART AND COLLECTIONS ARTE E COLEÇÕES
go, entre outros, recebendo elogios da começa a circular: em 2 de outubro de
imprensa sul-americana. O compositor 1941, uma pequena nota do Jornal do
chileno Enrique Soto, em entrevista para Brasil divulgava a abertura da expo-
o jornal El Diário Ilustrado, de Santiago, sição de Roberto Burle Marx no Salão
referiu-se a Walter como “a primeira de Exposições da Associação dos Ar-
batuta americana”. Sua “fama mundial” tistas Brasileiros, no Palace Hotel (Rio
motivou diversos artigos críticos, sempre de Janeiro). Em 9 de outubro, o mesmo
elogiosos, e muitas notas sobre suas jornal trazia um curto texto crítico, sem
viagens de trabalho à América Latina, assinatura, sobre a mostra, intitulado
à Europa e aos Estados Unidos, onde “Primeira exposição de Burle Marx”,
se fixou a partir de 1935. que falava da arte como expressão do
É nessa época que o nome de Burle temperamento do artista e elogiava as
Marx passa a suplantar o do irmão na paisagens do Recife, os retratos e as
mídia brasileira. A polêmica causada representações de flores e tinhorões. A
pelos jardins públicos que projetou para mesma mostra motivou uma reportagem
a cidade do Recife gerou alguns artigos do cinejornal Atualidades Atlântida, exi-
que ora elogiavam, ora criticavam a bido nos cinemas brasileiros, ampliando
sua proposta original de uso da flora sua circulação cultural.
nativa. É apenas na década seguinte Desde então, multiplicaram-se as
que o seu nome como artista plástico notas e os artigos que difundiam as
184

185
Soto, in an interview with the Santiago Brasil announced the opening of Burle
newspaper El Diario Ilustrado, refers to Marx’s show at the Exhibition Hall of
Walter as “the first American baton.” His the Association of Brazilian Artists, at
‘worldwide fame’ gave rise to a number the Palace Hotel (Rio de Janeiro). On
of articles, always critically favourable, the 9 th October, the same newspaper
and news of his travels to Latin America, featured a short, unsigned review of
Europe and the United States, where he the show with the title “First Burle Marx
settled in 1935. Exhibition,” speaking of his art as an
During this period, the name of Burle expression of the artist’s temperament
Marx began to supersede his brother’s and praising Recife’s landscape paint-
in the Brazilian media. The controversy ings, the portraits, and the representa-
caused by the public gardens he de- tions of flowers and tinhorões [Araceae
signed for the city of Recife (capital of herbs]. The same show was covered by
the State of Pernambuco, in Northeast- the Atualidades Atlântida newsreel,
ern Brazil) gave rise to articles either shown in Brazilian cinemas, expand-
praising or criticising his original pro- ing its cultural reach.
posed use of native flora. Only in the Since then, press notes and articles
following decade does his name as an about the artistic and landscape prac-
artist begin to circulate: on the 2nd Oc- tice of Burle Marx multiplied, although
tober 1941, a short note in the Jornal do both facets remained separate. His work
HOMENS E BOIS, 1949
Crayon/papel
54,4 x 75 cm

Página seguinte:
SEM TÍTULO, 1992
Acrílica/tela
147 x 112 cm

SEM TÍTULO, s/ data


Guache/papel
57 x 75 cm

SEM TÍTULO, s/ data


Tinta hidrocor/papel
56.5 x 75 cm

MEN AND OXEN, 1949


Crayon/paper
54.4 x 75 cm

Next page:
UNTITLED, 1992
Acrylic/canvas
147 x 112 cm

UNTITLED, undated
Gouache/paper
57 x 75 cm.

UNTITLED, undated
Maker ink/paper
56.5 x 75 cm
ART AND COLLECTIONS ARTE E COLEÇÕES

as an artist appeared in the news and along with next to Candido Portinari,
reviews of the national and international Guignard, Tarsila do Amaral, Djanira, Di
shows in which he participated, along- Cavalcanti, Iberê Camargo, José Pan-
side the names of the front group of Bra- cetti and Milton Dacosta names as a
zilian modernism. On 22 nd November representative of modern Brazilian art
1944, the Jornal do Brasil published a in an exhibition in Buenos Aires. In 1951,
review by the English art critic Sachever- Djanira, Guignard, Milton Dacosta and
ell Sitwell titled “Representative Exhibi- Iberê Camargo once again joined Burle
tion of Modern Art from Brazil,” in which Marx in the inauguration grand opening
was analysed the work of Burle Marx of the Ibeu Gallery, in Rio de Janeiro.
presented at the Exhibition of Modern His landscaping projects, in turn,
Brazilian Paintings opened at Burlington were part of specific exhibits, alongside
House, at the London Royal Academy of works by Lucio Costa and Oscar Nie-
Arts of London. His work, alongside of meyer - including the celebrated Brazil
Candido Portinari, Lasar Segall, Cicero Builds in 1943, at the New York Museum
Dias, Heitor dos Prazeres and Guig- of Modern Art (MoMA) – equally put-
nard’s works, was scanned in light of the ting him at the front of modern Brazil-
author’s emphasis on the national char- ian architecture. In 1945, the opening
acter of Brazilian painting. In Septem- of the former Ministry of Education and
ber 1945, his name appears once again, Health building in Rio de Janeiro (to-
práticas artísticas e paisagísticas de
Burle Marx. Mas essas duas facetas
mantinham-se ainda separadas. Sua
obra como artista aparecia em notícias
e textos críticos sobre as mostras nacio-
nais e internacionais em que participa-
va, ao lado de nomes do grupo de frente
do modernismo brasileiro. Em texto do
crítico de arte inglês Sacheverell Sitwell
intitulado “Exposição representativa de
arte moderna no Brasil”, sobre a Exhi-
bition of Modern Brazilian Paintings,
inaugurada na Burlington House, da
Royal Academy of Arts de Londres, pu-
blicado no Jornal do Brasil em 22 de no-
vembro de 1944, a obra de Burle Marx,
junto com a de Candido Portinari, Lasar
Segall, Cicero Dias, Heitor dos Praze-
res e Guignard, foi analisada no bojo
do destaque dado pelo autor ao cará-
186

187
day Gustavo Capanema Palace) was
covered by a number of newspapers
and attended by President Getúlio Var-
gas, and included special visits to the
gardens designed by Burle Marx for
the project supervised by Le Corbusier.
The international impact of Burle Marx’s
work with Brazil’s modern architects
led the French magazine L’Architecture
d’Aujourd’hui to publish a special issue
entirely devoted to Brazil, which was
reported with fanfare in the Jornal do
Brasil of the 27th September 1952. His
work as a landscape architect featured
in reports on different modern architec-
ture projects in various Brazilian cities,
in a prominent way Pampulha, which
generated countless articles in news-
papers and magazines and, later on,
the Aterro do Flamengo project in Rio.
ter nacional da pintura brasileira. Em
setembro de 1945, seu nome aparecia
Necessitamos de uma cultura novamente – ao lado dos de Candido
Portinari, Guignard, Tarsila do Amaral,
geral, mas eu penso que, para
Djanira, Di Cavalcanti, Iberê Camargo,
obtê-la, necessitaríamos toda José Pancetti e Milton Dacosta – como
uma vida, pois há tanta coisa representante da arte moderna brasi-
a conhecer… Todo dia eu sinto leira em uma exposição inaugurada em
Buenos Aires. Em 1951, Djanira, Guig­
falta daquilo que não sei. Mas
nard, Milton Dacosta e Iberê Camargo
uma coisa que me induz a ver é voltavam a fazer companhia a Burle
a minha curiosidade, quero ver Marx na inauguração da Galeria Ibeu,
sempre o que está em torno da no Rio de Janeiro.
minha pessoa e é essa uma das Seus projetos paisagísticos, por sua
vez, integravam mostras específicas,
razões que me faz viver. ao lado de trabalhos de Lucio Costa e
Oscar Niemeyer – incluindo a celebra-
We need a general culture, but, I think, to
da Brazil Builds, de 1943, no Museu de
obtain it would require a lifetime, as there
Arte Moderna de Nova York (MoMA) –,
is so much to learn… Every day I feel a need
colocando-o igualmente no front da
for that which I don’t know. But what induces
me to see is my curiosity, I always wish to
see what is around me, and that is one of
ART AND COLLECTIONS ARTE E COLEÇÕES

the things I live for.


so until the end of his life, as can be
seen in advertisements for the Barra
ROBERTO BURLE MARX
da Tijuca neighbourhood project in the
1970s and 1980s, described as an earthly
paradise with urban planning by Lucio
Costa, architecture by Oscar Niemeyer
His landscaping work was also and landscaping by Burle Marx.
broadcasted in news reports as to the The expression ‘Burle Marx gardens’
opening of some buildings, such as the was gaining unmistakable cultural val-
United States Embassy in Rio, in 1953, ue. In Elsie Lessa’s chronicle Um do-
with “tropical style” gardens by Burle mingo de sol (“A sunny Sunday”), the
Marx, 6 or in advertisements for resi- imaginary projections for transforming
dential and commercial buildings in São Gonçalo (in the State of Rio de
the city, such as the Morant building, Janeiro) into the future city of cinema
on Benjamin Constant street, in Glória (a included a garden by Burle Marx built
neighbourhood in south Rio), advertised on a steep slope.7 Along with news cov-
as a modern set on pilotis, with Santa erage of Burle Marx’s trips throughout
Rosa panels and gardens by Burle Marx. Brazil and abroad to work on garden
The signature of the landscaper added projects, there also appeared in the
value to property and continued to do 1950s more specialised articles, such
arquitetura moderna brasileira. Em 1945, tetura moderna nas diferentes cidades
recebeu cobertura de vários jornais a brasileiras, com destaque para o con-
inauguração oficial do edifício do Mi- junto da Pampulha, que gerou inúmeros
nistério da Educação e Saúde (atual artigos em jornais e revistas de grande
Palácio Gustavo Capanema, no Rio de circulação, e, mais tarde, para o projeto
Janeiro), que contou com a presença do Aterro do Flamengo, no Rio.
do presidente Getúlio Vargas e incluiu Também difundia-se sua obra pai-
visitas especiais aos jardins elabora- sagística nas notícias de inauguração
dos por Burle Marx para esse projeto de certos edifícios, como o da Embaixa-
supervisionado por Le Corbusier. A re- da dos Estados Unidos no Rio, em 1953,
percussão internacional do trabalho de com jardins em “estilo tropical” de Burle
Burle Marx junto aos arquitetos moder- Marx,6 ou nos anúncios e propagandas
nos brasileiros levou à publicação de de edifícios residenciais e comerciais
um número especial da revista francesa construídos na cidade, como o edifício
L’Architecture d’Aujourd’hui, integral- Morant, na rua Benjamin Constant, na
mente dedicado ao Brasil, noticiada Glória (bairro na Zona Sul carioca), pro-
com alarde pelo Jornal do Brasil em pagandeado como um conjunto moder-
27 de setembro de 1952. A sua atuação no sobre pilotis, com painéis de Santa
como paisagista aparecia, ainda, em Rosa e jardins de Burle Marx. A assina-
reportagens sobre projetos da arqui- tura do paisagista agregava valor aos
188

189
as Breve giro pelo mundo dos jardins e his name appeared in reports on the
murais de R. Burle Marx (“Brief Tour of annual floral art shows which he or-
R. Burle Marx’s World of Gardens and ganised every December at the Copa-
Murals”), by S. Castello Branco, (Man- cabana Palace Hotel, where he sold
chete, Rio de Janeiro, No. 66, July 1953, Christmas arrangements of Brazilian
p. 32-33); Burle Marx jardineiro (“The plants for the benefit of the noelistas
Gardener Burle Marx”), a biographical (charity movement by Rio society wom-
text by Rubem Braga (Manchete, Rio en for disadvantaged children). On the
de Janeiro, n. 95, February 1954, p. 58- 21st December 1955, the social column
59); O jardim como arte plástica (“The of the Jornal do Brasil mentioned the
Garden as a Plastic Art”), by Flávio de success of one of the shows, highlight-
Aquino (Manchete, Rio de Janeiro, n. 116, ing how Burle Marx, who had to return
July 1954, p. 37) and Jardins no Papel to his country house to collect more
(“Gardens on Paper”), by Manuel Ban- plants to replenish the stock which was
deira (Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, depleted daily, had aristocratised the
No. 75, April 1, 1956). ‘humble Brazilian plant’: “He took it from
The multiple practice of Burle Marx, small Mocambo [rustic and poor house]
however, began to defy the traditional villages and made it the queen of the
boundaries between artistic forms of salons.” 8 His floral arrangements for
expression. During the same period, weddings and receptions in high society
apartamentos à venda, o que se mante- “Breve giro pelo mundo dos jardins e
ve até o fim de sua vida, como podemos murais de R. Burle Marx”, de S. Castello
ver nas propagandas do projeto do bair- Branco (Manchete, Rio de Janeiro, n.
ro da Barra da Tijuca, nas décadas de 66, julho de 1953, p. 32-33); “Burle Marx
1970 e 1980, anunciado como um paraíso jardineiro”, texto biográfico de Rubem
terrestre, com plano urbanístico de Lucio Braga (Manchete, Rio de Janeiro, n. 95,
Costa, arquitetura de Oscar Niemeyer e fevereiro de 1954, p. 58-59); “O jardim
paisagismo de Burle Marx. como arte plástica”, de Flávio de Aqui-
A expressão “jardins de Burle Marx” no (Manchete, Rio de Janeiro, n. 116, ju-
ganhava inequívoco valor cultural. Na lho de 1954, p. 37) e “Jardins no Papel”,
crônica de Elsie Lessa, “Um domingo de Manuel Bandeira (Jornal do Brasil,
de sol”, as projeções imaginárias para Rio de Janeiro, n. 75, 1º de abril de 1956).
transformar São Gonçalo (RJ) na futu- A prática múltipla de Burle Marx,
ra cidade do cinema incluíam um jar- contudo, começa a forçar os limites
dim de Burle Marx construído em uma tradicionais entre as manifestações
pirambeira.7 Junto a isso e a notícias artísticas. Nessa mesma época, seu
de viagens de Burle Marx pelo Brasil nome circulava em reportagens sobre
e ao exterior para realizar projetos de as mostras anuais de arte floral que
jardins, surgem, ainda nos anos 1950, realizava em dezembro no salão do
artigos mais especializados, tais como hotel Copacabana Palace, nas quais
ART AND COLLECTIONS ARTE E COLEÇÕES

became so well-known that they were for the fabric. The jewellery, produced
cited in a chronicle by Henrique Pon- with his brother Haroldo, is featured
getti in Manchete magazine, in which in a number of fashion articles of the
a woman complained of her démodé same magazine in the 1960s and 1970s,
husband, who prevented her from wear- including a special feature in which the
ing an Alexander Calder mobile on her Burle Marx brothers are referred to as
head, but could solve the problem by ‘masters of the free form’.11 In 2016, this
commissioning Burle Marx for a “foliage qualification was used as the title of a
arrangement” for her hair, “perhaps a show at the Wright Gallery in New York:
free interpretation of the Tower of Pisa Free Form: The Jewelry of Brazil’s Burle
... perhaps the Victory of Samothrace.” 9 Marx Brothers. The show displayed the
The same Louvre Museum sculpture pieces designed by Roberto and cut
cited above appears as the backdrop by Haroldo to the sound of Walter’s
of a photograph of a model showing musical compositions. Time magazine
off the production of Brazilian fashion referred to the trio in a 1967 article as
designers in Paris, on the theme of cof- “the most amazing and talented brother
fee, published in O Cruzeiro magazine act in Brazil.” 12
in 1960.10 Burle Marx designed the jewel- Jewellery designed by Burle Marx be-
lery for the Coleção Café (“Coffee Col- came famous worldwide, especially as it
lection”), as well as the print pattern was a much appreciated gift offered by
vendia arranjos natalinos com plantas reclamava do marido démodé, que a
brasileiras em benefício da obra social impedira de colocar um móbile de Ale-
das noelistas (mulheres da sociedade xander Calder na cabeça, mas que so-
carioca reunidas em torno do movimen- lucionara o problema encomendando
to Noel, em prol de crianças desfavo- a Burle Marx um “arranjo de folhagens”
recidas). Em 21 de dezembro de 1955, para seus cabelos, “talvez uma inter-
a coluna “Notas Sociais”, do Jornal do pretação livre da Torre de Pisa... talvez
Brasil, falou do sucesso de uma dessas a Vitória de Samotrácia”.9
mostras, destacando como Burle Marx, A mesma escultura do Museu do Lou-
que precisara buscar em seu sítio mais vre citada acima aparece como fundo
plantas para renovar o estoque que se da fotografia de uma modelo que exibe
esgotava a cada dia, teria aristocra- a produção de estilistas brasileiros em
tizado a “humilde planta brasileira”: Paris, tendo como tema o café, publica-
“Tirou-a dos mocambos e fê-la rainha da na revista O Cruzeiro em 1960.10 Burle
dos salões”. 8 Os arranjos florais que Marx desenhou as joias para a Coleção
fazia para casamentos e recepções fre- Café, além de padronagem para es-
quentados pela alta sociedade ficaram tamparia de tecido. As joias produzidas
tão conhecidos que foram citados em com o seu irmão Haroldo aparecem
crônica de Henrique Pongetti, na re- em vários artigos de moda dessa mes-
vista Manchete, na qual uma mulher ma revista nas décadas de 1960 e 1970,
190

191
the Brazilian Ministry of Foreign Affairs nary of São Paulo in the Theatro Mu-
to visiting first ladies, ambassadresses, nicipal of Rio de Janeiro. O Cruzeiro
empresses, queens and princesses. Their magazine dedicated four articles with
modern design led them to be included colour photographs to the event, focus-
in the 7th São Paulo Biennial (1963) and ing on the modernity of the project. In
received the Grand Prize at the Biennial the following decade his creation for
of Applied Arts of Uruguay, in Punta del the Zuimaalúti ballet would be highly
Este, in 1965. It was also the innovation praised, with Manuel Bandeira’s libretto
of their design which prompted their use inspired by the poem ‘Toada do Pai-
in an advert for a television and hi-fi do-Mato’ by Mário de Andrade, music
equipment range for the Empire brand. by Cláudio Santoro and choreography
The jewellery’s formal audacity, repro- by Nina Verchinina, part of the modern
duced above a picture of the electronic ballet series directed by Margot Fonteyn.
products under the phrase ‘they have The critic Renzo Massarani admired the
much in common’ emphasised the mo- “beautiful costumes by Roberto Burle
dernity of the advertised goods. Marx,” which contributed to making the
At the beginning of 1955, the press piece “the most exciting and definitive.”13
reported on Burle Marx’s project for the Nilson Penna also admitted that it was
scenery and costumes of Petrouchka, “the best ballet of the repertoire.” 14 This
staged by the Ballet of the 4th Cente- must have been the reason why Zui-
ART AND COLLECTIONS ARTE E COLEÇÕES

Toalhas pintadas por


Roberto Burle Marx.

Cloths painted by
Roberto Burle Marx.
192

193
incluindo uma matéria especial sobre que visitavam o país. A modernidade do
elas, em que os irmãos Burle Marx são desenho levou-as a serem exibidas na
chamados de “mestres da forma livre”.11 VII Bienal de São Paulo (1963) e a rece-
Em 2016, essa qualificação foi usada berem o Grande Prêmio na Bienal de Ar-
como título de uma mostra na galeria tes Aplicadas do Uruguai, em Punta del
Wright, em Nova York: Forma livre: The Este, em 1965. Foi também a inovação do
Jewelry of Brazil’s Burle Marx Brothers. design que motivou a sua utilização na
Nela, as peças desenhadas por Roberto publicidade de uma linha de televisores
e lapidadas por Haroldo eram exibidas e aparelhos de som da firma Empire. A
ao som de composições musicais de ousadia formal das joias de Burle Marx,
Walter. O trio havia sido descrito pela reproduzidas acima da foto dos produ-
revista Time, em 1967, como “os irmãos tos eletrônicos, sob a frase “têm muito
mais incríveis e talentosos do Brasil”.12 em comum”, acentuava a modernidade
As joias desenhadas por Burle Marx das mercadorias divulgadas.
acabaram por se tornar famosas mun- No início de 1955, a imprensa no-
dialmente, em especial pela atuação do ticiou o projeto de Burle Marx para o
Ministério das Relações Exteriores do cenário e os figurinos de Petrouchka,
Brasil, que as oferecia como presente encenado pelo Ballet do IV Centená-
para as primeiras-damas, embaixatri- rio de São Paulo, no Theatro Municipal
zes, imperatrizes, rainhas e princesas do Rio de Janeiro. A revista O Cruzei-
ART AND COLLECTIONS ARTE E COLEÇÕES

Produzidas por Burle Marx in London, as well as other at European


e seu irmão Haroldo, as
joias foram estampadas theatres. In 1956, Burle Marx would be
com frequência em artigos celebrated in articles about the Carnival
de moda de revistas de
grande circulação no Ball at the Theatro Municipal of Rio de
Brasil, durante as décadas
de 1960 e 1970. Janeiro, which was decorated with his
Página seguinte: exemplar abstract designs. Two years later, in 1958,
de joia desenhado por
Burle Marx. Muitas de suas
the carnival and set designer Fernando
peças foram expostas Pamplona singled out the project in an
em diferentes ocasiões
dentro e fora do Brasil, interview with Jornal do Brasil: “one of
tornando-se conhecidas
mundialmente.
the most beautiful and carnivalesque
decorations of the Municipal was Bur-
Made by Burle Marx and
his brother Haroldo, the le Marx’s, made only of colours and
jewels were often shown in
fashion editorials of major shapes, which set the venue admirably.”15
magazines in Brazil, during
Finally, in 1963, the first show to
the 1960s and 1970s.

Next page: a jewel


bring together a significant portion
designed by Burle Marx. of the diversity of Burle Marx’s work
Many of his pieces have
been exhibited on different opened at the Museum of Modern Art
occasions inside and
outside Brazil, becoming
maalúti was selected to be shown at the of Rio de Janeiro. For this exhibition, the
known worldwide. Royal Academy of Dancing (renamed artist returned to producing oil paint-
the Royal Academy of Dance in 2001), ings after almost a decade. The new
ro dedicou quatro artigos ao evento, ser apresentado na Royal Academy of
com fotografias coloridas, destacando Dancing (que a partir de 2001 passou a
a modernidade do projeto do artista. se chamar Royal Academy of Dance),
Na década seguinte, foi muito elogiada em Londres, bem como em outros tea-
a sua criação para o balé Zuimaalúti, tros europeus. Em 1956, Burle Marx seria
com libreto de Manuel Bandeira ins- celebrado em matérias que tratavam do
pirado no poema “Toada do Pai-do- Baile de Carnaval do Theatro Municipal
-Mato”, de Mário de Andrade, música do Rio de Janeiro, para o qual teria cria-
de Cláudio Santoro e coreografia de do a decoração com desenho abstrato.
Nina Verchinina, que integrava a série Dois anos depois, em 1958, o cenógrafo
de balés modernos brasileiros dirigidos e carnavalesco Fernando Pamplona,
por Margot Fonteyn. O crítico Renzo em entrevista ao Jornal do Brasil, elo-
Massarani elogiou os “belíssimos trajes giou especialmente esse projeto: “uma
de Roberto Burle Marx”, que contribu- das mais bonitas e mais carnavalescas
íram para que esse espetáculo fosse decorações do Municipal foi a de Burle
qualificado como o “mais empolgante Marx, constituída apenas de cores e de
e definitivo”.13 Também Nilson Penna formas, que ambientaram admiravel-
admitiu que esse teria sido “o melhor mente o local de baile”.15
bailado do repertório”.14 Isso deve ter Em 1963, realiza-se, por fim, a pri-
motivado a escolha de Zuimaalúti para meira mostra a reunir uma parcela sig-
194

195
ART AND COLLECTIONS ARTE E COLEÇÕES
nificativa da diversidade da obra de Jornal do Brasil intitulada “Roberto, CARNAVAL, TEATRO
MUNICIPAL, (desenho
Burle Marx, no Museu de Arte Moderna homem renascentista” afirma que te- para cenário), c. 1956
do Rio de Janeiro. Para essa exibição, o ria sido a artista Fayga Ostrower quem Grafite/guache/
colagem/papel
artista volta a produzir pinturas a óleo, assim o classificou, difundindo a ideia 70,2 x 100,1 cm

o que não fazia havia cerca de uma para um público mais vasto. 16 Ainda ESBOÇO PARA
CENÁRIO, 1956 (?)
década. As novas telas, celebradas nessa nota, o articulista elogia uma sé- Grafite/guache/
por críticos como Harry Laus e Jaime rie de desenhos feitos por Burle Marx a colagem/papel
71 x 104,5 cm
Maurício, foram exibidas junto a pintu- partir da observação do esgalhar da
CARNAVAL, TEATRO
ras anteriores, projetos paisagísticos, árvore Chloroleucon tortum, que fica à MUNICIPAL, (scenery

joias, painéis de azulejo, arranjos de frente de uma das construções do Sítio design), c. 1956:
Grafite/gouache/
plantas, desenhos e fotografias de seus Santo Antônio da Bica, como exemplo collage/paper
70.2 x 100.1 cm
jardins feitas por Marcel Gautherot. Foi da articulação entre as sensibilidades
SCENERY (DESIGN)
justamente a partir dessa mostra que artística e paisagística. DRAFT FOR SCENERY,
1956 (?)
a identificação de Burle Marx como Outros estudiosos se dedicaram ao Grafite/gouache/
“homem renascentista” ganhou força. longo do tempo a analisar tal articula- collage/paper
71 x 104.5 cm
Geraldo Ferraz, autor do catálogo da ção, muitas vezes tentando estabele-
mostra, fez questão de recuperar essa cer relações de causalidade entre essas
definição para dar conta do vulto de duas esferas. Não são raras expressões
suas realizações em todos os campos como “pintura em forma de jardim”, usa-
artísticos em que atuou. Uma nota no da como subtítulo de um ensaio de Cla-
196

197
paintings, celebrated by critics such as Burle Marx by observing the branching
Harry Laus and Jaime Maurício, were of the Chloroleucon tortum tree in front
exhibited together with earlier paint- of one of the buildings of the Sítio Santo
ings, landscape projects, jewellery, tile Antônio da Bica (his property in Guara-
panels, plant arrangements, designs tiba, Rio de Janeiro) as an example of
and photographs of his gardens taken the articulation between artistic and
by Marcel Gautherot. It was precisely landscaping sensibilities.
from this show that the identification of Over time, other scholars dedicated
Burle Marx as a ‘renaissance man’ be- themselves to the analysis of this ar-
gan to gather strength. Geraldo Ferraz, ticulation, often attempting to establish
author of the show’s catalogue, made a relations of causality between the two
point of using this definition to account spheres. Expressions such as ‘painting in
for the achievements in every artistic garden form’, the subtitle of an essay by
field Burle Marx worked in. The Jornal Clarival do Prado Valladares, for whom
do Brasil, in a note titled “Roberto, Re- Burle Marx “was always, fundamentally,
naissance Man,” states that it was the a designer and painter,” 17 were not at
artist Fayga Ostrower who qualified him all unusual. The idea was revisited in
as such, spreading the idea to a wider Julia Rey Pérez’s more recent research,
audience.16 The author of the note also where she states that “his facet as painter
praises a number of drawings made by clearly conditions the character of his
Série de obras baseadas rival do Prado Valladares, para quem montar uma coleção de plantas tropi-
na observação de
Chloroleucon tortum, 1961. Burle Marx “sempre foi, fundamental- cais teria nascido enquanto desenhava
Nanquim/papel mente, o desenhista e pintor”.17 Ideia re- as plantas brasileiras que conhecera
Series of works based novada nas pesquisas mais recentes de nas estufas do Jardim Botânico de Ber-
on the observation of
Chloroleucon tortum, 1961 Julia Rey Pérez, que afirma que a “sua lim. A partir de então, teria sido tomado
China ink/paper
faceta de pintor condiciona de maneira pelo impulso colecionista que acabaria
evidente o caráter de seus projetos”.18 por moldar uma visão ampla de arte
Independentemente de direções ou hie- e paisagem: “O Roberto Burle Marx foi
rarquias, é nítido que há correlações a pessoa que conheci que menos pre-
entre as duas pontas da atuação de conceito tinha em termos de arte. Por-
Burle Marx. Prefiro pensar, entretanto, que ele nunca se deixou seduzir pelo
que ambas se articulam por meio de um caráter de raridade de uma determi-
tipo de olhar para o mundo que envolve nada planta para usar em jardim. Ele
basicamente a poética colecionista. sempre se seduzia pela possibilidade
Burle Marx era um ativo coleciona- de expressão plástica”. 20 Em termos de
dor. Ou, como prefere José Tabacow, um coleção artística, podemos dizer o mes-
de seus mais íntimos colegas, era um mo. O seu interesse vasto e amoroso
“colecionador de coleções”.19 Na mesma pelas coisas o levava a vê-las em si
entrevista em que afirma isso, Tabacow mesmas, em sua expressão particular,
conta como o desejo de Burle Marx de sem restrições estilísticas ou temporais.
ART AND COLLECTIONS ARTE E COLEÇÕES
198

199
projects.” Regardless the directions and
18
Marx was the person I knew with the
hierarchies, it is clear that there are cor- least prejudice in terms of art. He never
relations between the two sides of Burle let himself be seduced by the rarity of a
Marx’s work. I prefer to think, however, particular plant for use in a garden. He
that the two are articulated through a was always seduced by the possibility of
view of the world which basically in- plastic expression.” 20 The same can be
volves the poetics of collecting. said in terms of collecting art. His vast
Burle Marx was an active collec- and affectionate interest in things led
tor. Or, as one of his closest colleagues him to see them in themselves, in their
José Tabacow prefers to say, he was a particular expression, free from stylistic
“collector of collections.” 19 In the same or time constraints.
interview, Tabacow talks of how Burle Analysing his trajectory as an art-
Marx’s wish of setting up a collection ist, we can see the poetics of collecting
of tropical plants arose while drawing expressed in a number of ways. In Figa
the Brazilian plants he had seen in the e toalha de renda (Fig sign and lace
greenhouses of the Botanical Garden of cloth, oil on canvas, 1933), the arrange-
Berlin. From then on, he was taken by ment of the objects – a fig hand sign
the impulse of collecting, which even- amulet, a bead necklace, a vase with
tually gave give rise to a broad view flowers, a small mirror, a lace cloth on
of art and landscape: “Roberto Burle a table, a painting propped against the
Analisando a sua trajetória como associados à sexualidade e à fertilida-
artista, vemos essa poética colecio- de, que protegem de doenças físicas e
nista se expressar de vários modos. espirituais. No Brasil, durante o período
Em Figa e toalha de renda (óleo so- colonial, as figas eram frequentemente
bre tela, 1933), o arranjo dos objetos – usadas por negras escravizadas, pen-
uma figa, um colar de contas, um vaso duradas em pencas de balangandãs.
com flores, um pequeno espelho, uma Figas maiores, como a que aparece na
mesa com toalha de renda, um quadro tela, eram usadas nas casas como ele-
encostado à parede –, assim como o mentos protetores ou decorativos.
cuidado com que são representados, Burle Marx representa uma grande
indicam um afeto e um interesse típicos figa de madeira em posição não usual
do colecionador. A figa deitada, enro- (geralmente são apresentadas na ver-
lada na guia, fala das tradições afro- tical, apoiadas em sua base ou como
-brasileiras. Guias ou fios de conta são pendentes), com o polegar extrapolan-
usados em terreiros. No caso, trata-se do o limite da mesa, o que acaba por
de um fio feito de sementes conhecidas acentuar o sentido fálico inerente ao ob-
como lágrimas-de-nossa-senhora, usa- jeto, reforçado pela contraposição entre
do por pretos-velhos e pretas-velhas a sua horizontalidade e a verticalidade
manifestados em pessoas. Figas são do vaso no qual quase toca. A delica-
amuletos bastante comuns, geralmente deza das coisas que o cercam – como
ART AND COLLECTIONS ARTE E COLEÇÕES

wall – as well as the care with which one depicted, were kept in homes as
they are represented – indicate the af- protective or decorative elements.
fection and interest typical of the col- Burle Marx paints a large wooden fig
lector. The tipped fig sign, wrapped in sign in an unusual position (they are gen-
the necklace, alludes to Afro-Brazilian erally displayed vertically, either upright
traditions. Bead necklaces or strings on their base or as pendants), with the
are used in sites of Candomblé rituals thumb extending over the boundary of
called terreiros. The beads in the paint- the table, emphasising the inherent phal-
ing are known as the ‘tears of Our Lady’ lic sense of the object, reinforced by the
(lágrimas-de-nossa-senhora), worn by contrast between its horizontal position
people who incorporate the spirits of and the vertical vase, which it is almost
pretos-velhos and pretas-velhas. Fig touching. The delicacy of the surrounding
signs are commonly used as charms, objects – such as the sinuous line of
generally associated with sexuality beads, the painting and the form of the
and fertility, and as protection from vase, the bouquet of roses and the lace
physical and spiritual illness. During fabric – reveal a more complex narrative,
Brazil’s colonial period, fig signs were emphasising the image’s ambiguity of
often used by enslaved black women, genre, synthesised in the red painted
hanging from balangandãs (bunches nails of the fig sign. The corner of the
of trinkets). Larger fig signs, such as the table faces the viewer, producing a dis-
a linha sinuosa de contas, a pintura e o
formato do vaso, o buquê de rosas e a
toalha rendada – torna a narrativa mais
complexa, acentuando a ambiguidade
de gêneros da imagem, cuja síntese está
nas unhas pintadas de vermelho da figa.
Também a quina da mesa que se volta
para o espectador produz um deslo-
camento do gesto incisivo do polegar
em nossa direção, sentido sugerido pelo
desenho ondulante traçado pela guia.
Cada objeto é representado em seus
elementos particulares: a figa de madei-
ra tem inscrições, o punho é pintado de
branco, e a mão, de preto com as unhas
vermelhas. As miçangas do colar são
individualizadas, e seus fios se enove-
lam traçando arabescos. Na detalhada
pintura do vaso, o bico do passarinho
inerte repete a indicação de sentido da
200

201
placement of the incisive thumb gesture the flowers. A miniature forest, as-
21
FIGA E TOALHA
DE RENDA, 1933
towards us, suggested by the undulating similated in its relationship with Afro- Acrílica/tela
shape traced by the necklace. Brazilian traditions. 94,5 x 79 cm

Each object is represented in its par- There are seven roses, six pink and FIG SIGN AND LACE
TABLE CLOTH, 1933
ticular elements: the wooden fig sign one red, on the right, the only one bend- Acrylic/canvas
94.5 x 79 cm
has inscriptions, the wrist is painted ing in the opposite direction, visually
white and the hand black with red nails. rhyming with the colour of the nails. The
The beads of the necklace are singled folds in the fabric of the cloth are associ-
out and their threads are entangled, ated with the flowers and the lace cuts to
tracing arabesques. In the detailed add a sense of transparency and light-
painting of the vase, the inert bird, ness to the somewhat rough arrange-
which beak repeats the indicated direc- ment of a studio corner. There is a deli-
tion of the arrow-shaped inscription cate connection between the objects:
and the fig thumb, is supported on flow- the roses on the left overlap the mirror
ers with rounded and fleshy petals. The on the wall, whose diagonal reflection
arrow and bird are signs of the orixá causes the eye to return to the table; a
Oxóssi, the mythical hunter who lives in fold in the cloth partially covers the bot-
the forest, represented here in his cycle tom of the vase and hides small sections
of birth, growth and death by the seeds of the necklace and base of the fig sign;
of the beads, the trunk of the fig and the more bulging portion of the vase
inscrição em forma de seta e do polegar Entre esses objetos cria-se uma delicada
da figa, apoiando-se sobre flores com conexão: as rosas mais à esquerda se
pétalas arredondadas e carnudas. Cabe sobrepõem ao espelho na parede, cujo
lembrar que flecha e pássaro são signos reflexo diagonal faz o olhar voltar-se
do orixá Oxóssi, o caçador mítico, que para a mesa; uma dobra da toalha co-
vive na floresta, aqui representada em bre parcialmente o pé do vaso e escon-
seu ciclo de nascimento, crescimento e de trechos mínimos da guia e da base
morte pela semente das contas, pelo da figa; também a parte mais bojuda do
tronco da figa e pelas flores. 21 Uma mi- vaso recobre ligeiramente fragmentos
niatura de floresta aculturada em sua re- da guia e da figa; a guia se enrola na
lação com as tradições afro-brasileiras. figa e se espalha sobre a toalha; a mão
As rosas são em número de sete, da figa avança além dos limites da mesa
seis delas cor-de-rosa e uma, à direita, e se delineia contra o quadro recostado
vermelha, a única que se curva para o na parede; este cria uma conexão verti-
sentido contrário, formando uma rima cal com a mesa, justificando ao mesmo
visual com a cor das unhas. As dobras do tempo o fragmento horizontal de tela
tecido da toalha se associam às flores e da parte superior.
aos recortes da renda para acrescentar A esse sentido de combinação en-
um dado de leveza e transparência ao tre a qualidade particular do objeto e
arranjo meio rude de um canto de ateliê. a sua transmutação em outro, dentro
ART AND COLLECTIONS ARTE E COLEÇÕES

slightly covers parts of the necklace and therefore made concrete, and not ab-
fig sign; the necklace is entwined around stract, art – in the case of the Brazilian
the fig sign and spreads over the cloth; artist it may be more ambivalent still,
the fig hand extends beyond the edge as his use of abstract and geometric
of the table and is outlined against the forms never became independent of
picture propped against the wall; this worldly things. Perhaps his model here
creates a vertical connection with the was Picasso, whose work he admired
table while justifying the horizontal frag- and whose phrases he quoted. Picasso
ment of the upper part of the canvas. always rejected the idea of abstraction,
This sense of combination between even for his cubist works, which were
the particular quality of the object and considered important antecedents of
its transmutation into another, in a new the constructive art which came later,
set, is what I call the poetics of collec- as, per his understanding, no form, even
tion. We also see it materialised in other geometric, ceases to be a figure nor
abstract works of Burle Marx. If the con- loses its connection with the real.
cept of abstraction is no longer very The inspiration for the landscapes
precise when speaking of the epigone made by Picasso circa 1909, before cub-
artists of abstractionism - Mondrian, for ism, can be seen in another work by
example, rejected the idea, as he said Burle Marx, Ladeira de Santa Teresa
that he always produced an object and (Santa Teresa slope, oil on canvas, 1946),
de um novo conjunto, chamo de poética para a arte construtiva, que veio depois, LADEIRA DE SANTA
TEREZA, 1946
colecionista. Podemos perceber a sua pois entendia que nenhuma forma, mes- Óleo/tela
materialização também em obras abs- mo a geométrica, deixava de ser uma 81 x 100 cm

tratas de Burle Marx. Se o conceito de figura nem perdia a ligação com o real. MULHER NUA SENTADA
COM MANEQUIM, 1936
abstração já não é muito preciso quando A inspiração nas paisagens feitas Óleo/tela
100 x 80,5 cm
falamos de artistas epígonos do abs- por Picasso por volta de 1909, anteriores
SANTA TEREZA HILL, 1946
tracionismo – Mondrian, por exemplo, ao cubismo, pode ser notada em outra Oil/canvas
recusava a ideia, pois dizia que sempre obra de Burle Marx, Ladeira de Santa 81 x 100 cm

produzia um objeto e, portanto, fazia Teresa (óleo sobre tela, 1946), na qual os NUDE WOMAN SITTING
WITH MANNEQUIN, 1936
arte concreta, e não abstrata –, no caso edifícios são simplificados em volumes Oil/canvas
100 x 80.5 cm
do artista brasileiro pode ser ainda mais geométricos, enquanto a rua ascende
ambivalente, já que o uso que fez de em orientação vertical, organizando
formas abstratas e geométricas jamais no espaço os planos de tons rebaixa-
se tornou independente das coisas do dos de cinza, ocre, terra e avermelha-
mundo. Talvez o seu modelo, aqui, te- do. Diferentemente de Picasso, porém,
nha sido Picasso, cuja obra admirava e insinua-se na paisagem um certo tom
cujas frases gostava de citar. O artista local, assim como a umidade atmosfé-
espanhol sempre recusou a ideia de abs- rica, que conferem um toque naturalista
tração, mesmo para suas obras cubistas, à cena. A comparação dessa pintura
consideradas antecedentes importantes com outras duas feitas por Burle Marx,
202

203
Mulher nua sentada com manequim
(óleo sobre tela, 1936) e Retrato de
Gene Berendt (óleo sobre tela, 1942),
também chamada de Ménage à trois,
revela esse processo de simplificação
e de estilização abstrata.
Na tela de 1936, a ausência de tra-
ços fisionômicos, a volumetria geome-
trizada do corpo, a simplificação dos
elementos de cenário e a redução da
perspectiva concedem perenidade ao
estudo de modelo vivo, monumentali-
zando a figura da mulher. Na de 1942,
a imbricação dos corpos é represen-
tada pelo encaixe de formas que são,
a um só tempo, anotações abstratas e
fragmentos corporais. Um círculo faz
as vezes de ombro. A linha sinuosa que
delineia um seio continua para sugerir
a silhueta de outro corpo. Arabescos
ART AND COLLECTIONS ARTE E COLEÇÕES

in which buildings are simplified as geo- perspective lend continuity to the study
metric volumes while the street vertically of the live model, making the woman’s
ascends, spatially arranging the planes figure monumental. In the 1942 canvas,
of recessed tones of grey, ocher, earth the interlinking bodies are represented
and reddish. Unlike Picasso, however, the by shapes which fit together, at once ab-
landscape suggests a certain local hue, stract annotations and bodily fragments.
which along with the atmospheric hu- A circle stands in for a shoulder. The sinu-
midity lend the scene a naturalist touch. ous delineation of a breast extends to
Comparing this painting with two oth- suggest the silhouette of another body.
ers by Burle Marx, Mulher nua sentada Busy arabesques act as hair. The pro-
com manequim (Naked woman sitting cess of abstraction of the human figure
with dummy, oil on canvas, 1936) and moves in the direction of non-figurative
Retrato de Gene Berendt (Gene Berendt art which nonetheless maintains repre-
portrait, oil on canvas, 1942), also known sentative links with reality. Such is the
as Ménage à Trois, reveals a process of case with an untitled abstract painting
simplification and abstract stylisation. (REG 630, acrylic on canvas, 1992) made
On the 1936 canvas, the absence of near the end of Burle Marx’s life, whose
physiognomic features, the geometrized vertical geometrized figure is reminiscent
volumetry of the body, the simplification of an anthropomorphic structure, making
of scenery elements and the reduction of us imagine a person, perhaps sitting, with
movimentados fazem as vezes de ca- mamão e moringa (óleo sobre tela,
belos. O processo de abstração a partir 1934), na qual o ponto de vista elevado
da figura humana avança no sentido do pintor força a verticalidade do esca-
de uma arte não figurativa que, porém, lonamento dos objetos representados.
mantém vínculos representativos com a Na pintura feita cinquenta anos depois,
realidade. É o caso da tela abstrata sem as formas abstratas parecem guardar
título (acrílica sobre tela, 1992) realiza- elos com a sua origem objetiva: a curva
da ao fim da vida de Burle Marx, cuja fi- de um vaso, a transparência de um te-
gura vertical geometrizada remete-se à cido, as linhas paralelas das teclas de
estrutura antropomórfica, fazendo-nos um piano, o arredondado chato de um
imaginar uma pessoa, possivelmente prato, a superfície plana de uma mesa.
sentada, com a mão esquerda pousada Esse exercício imaginativo, com todas
sobre a coxa e o cotovelo direito fletido. as suas variáveis possíveis, não é algo
Do mesmo modo, ao olharmos outra exterior, e sim uma exigência do próprio
tela abstrata (sem título, óleo sobre tela, trabalho. É momento de experiência da
1984), não temos como não imaginar liberdade criativa, envolvendo o espec-
um arranjo vertical de objetos. Talvez tador no trabalho do artista.
possamos mesmo cogitar que se trata Em suas séries de gravuras, o artista
de um conjunto assemelhado ao que fazia questão de explicitar os elos entre
encontramos em Natureza morta com formas abstratas e natureza através
204

205
their left hand resting on their thigh and NATUREZA MORTA COM
MAMÃO E MORINGA, 1934
right elbow flexed. Óleo/tela
Similarly, when observing another 70,3 x 49,3 cm

abstract painting (untitled, REG 382, oil Página anterior:


SEM TÍTULO, 1984
on canvas, 1984), it is unavoidable to Óleo/tela
117 x 77 cm
imagine a vertical arrangement of ob-
jects. We might even consider it to be a STILL LIFE WITH PAPAYA
AND MORINGA, 1934
similar set as those of Natureza morta Oil/canvas
com mamão e moringa (Still life with 70.3 x 49.3 cm

papaya and jug, oil on canvas, 1934), in Previous page:


UNTITLED, 1984
which the painter’s elevated viewpoint Oil/canvas
117 x 77 cm
forces the vertical grading of the ob-
jects represented. In the painting of 50
years later, the abstract forms seem to
preserve links with their objective origin:
the curve of a vase, the transparency
of a piece of fabric, the parallel lines
of the keys of a piano, the flattened
roundedness of a plate, the flat surface
of a table. This imaginative exercise,
de títulos como: Os sertões (litografias, des de realidade oferecida pela arte
1991), Serra Dourada (litografias, 1991), abstrata. Como havia postulado Kan-
Taperapecu (litografias, 1987), Cais dinsky, em sua defesa da abstração,
(litografias, 1983), Favela (litografias, uma forma abstrata permite múltiplas
1991), Apipucos (litografias, 1987), Gi- interpretações, todas corretas, enquan-
rândola (litografias, 1987). Também to a representação figurativa impõe
gostava de se valer de títulos literá- os limites da realidade à percepção
rios que produzem algum tipo de estra- humana. Mas o modelo do paisagista
nhamento no confronto com a imagem brasileiro para essa ampliação da re-
abstrata, como no caso das litografias alidade não vinha da visão espiritual
de 1984 intituladas Mãe e filha – es- de Kandinsky, ainda que tenha sido
trepitizando no mar/ Zoraida, a po- influenciada por ela, e sim da própria
brezinha, O sol morreu no mar, Jardim prática da coleção. Não à toa, foi nas
de Epicuro, Túnica inconsútil ou Ode estufas de Dahlem, diante da coleção
marítima. Os títulos narrativos ou com de plantas tropicais do Jardim Botânico
evocações de determinados lugares e alemão, que identificou a origem de
plantas servem como estímulo do jogo sua prática como colecionador, artista
abstrato e imaginativo. e paisagista. Ali, estabelecia-se uma
Burle Marx interessava-se especial- relação de curiosa simpatia, um elo de
mente pela expansão das possibilida- proximidade, entre o jovem Burle Marx
ART AND COLLECTIONS ARTE E COLEÇÕES

with all of its possible variables, is not a pobrezinha (Mother and Daughter
something external, but a requirement – Rowdy at Sea/Poor Little Zoraida),
of the work itself. It is the moment when O sol morreu no mar (The Sun Died In
creative freedom is experienced, involv- The Sea), Jardim de Epicuro (Garden
ing the viewer in the artist’s work. of Epicurus), Túnica Inconsútil (Seam-
In his series of engravings, Burle Marx less Tunic) or Ode Marítima (Maritime
made explicit the links between abstract Ode). Narrative titles, or titles evocative
forms and nature through titles such as: of certain places and plants, serve to
Os sertões (The backlands, lithographs, stimulate abstract and imaginative play.
1991), Serra Dourada (Golden Sierra, Burle Marx was especially interested
lithographs, 1991), Taperapecu (litho- in the expansion of the possibilities of
graphs, 1987), Cais (Wharf, lithographs, reality offered by abstract art. As Kan-
1983), Favela (Slum, lithographs, 1991), dinsky had postulated in his defence of
Apipucos (lithographs, 1987), Girân- abstraction, an abstract form allows for
dola (lithographs, 1987). He also liked multiple interpretations, all of which are
to use literary titles which produced a correct, while figurative representation
certain strangeness when confronted imposes the limits of reality upon hu-
with the abstract image, as is the case man perception. However, the Brazil-
with the 1984 lithographs titled Mãe e ian landscaper’s model for extending
filha – estrepitizando no mar/Zoraida, reality did not come from Kandinsky’s
e aquelas espécies vegetais que então por seu uso imediatamente próximas.
desconhecia. Manter o fundamento fi- Forram, confortam, aquecem. Com esses
gurativo das formas abstratas, fazer objetos estabelecemos vínculos afeti-
os seus espectadores experimentarem vos e domésticos, ativando memórias
essa expansão da realidade, levá-los íntimas. Já os painéis de azulejo, como
a perceber as formas como expressões o que ambienta a loggia (espaço misto
de uma propriedade inerente ao pró- de ateliê e apoio para festas ao lado da
prio observador significava renovar Casa de Roberto em Guaratiba), des-
esse mito de origem de sua poética pertam lembranças mais remotas, liga-
colecionista. das a tradições culturais luso-brasilei-
As obras em que o discurso da abs- ras; mas, em seu ritmo lúdico de formas
tração se afirmava de modo mais com- abstratas que se repetem e alternam,
pleto, ou seja, aquelas que produziu no devolvem-nos o princípio de vida como
campo das artes decorativas ou apli- uma qualidade presente em todas as
cadas à arquitetura, valiam-se de outro coisas. O que importava ao artista Burle
tipo de ampliação imagética, no caso, Marx era, sempre, erguer esse sistema
ligada à sua própria aplicabilidade. As de existência pela proximidade, algo
toalhas de mesa, almofadas e colchas típico da experiência da coleção.
pintadas, que ainda hoje podemos ver Nesse sentido, sua obra artística não
no Sítio Roberto Burle Marx, tornam-se podia limitar-se a uma forma arbitrária,
206

207
spiritual vision, even if it was influenced those he produced in the fields span-
by it, but from the practice of collection ning decorative or applied arts to ar-
itself. Little wonder it was at the Dahlem chitecture, relied on another type of
greenhouses, at the collection of the imagetic expansion, in this case linked
German Botanical Garden’s tropical to its own applicability. The painted
plants, that he identified the origin of tablecloths, pillows and quilts, which
his practice as a collector, artist and we can today see at the Sítio Roberto
landscaper. Here, a relationship of curi- Burle Marx, become immediately famil-
ous sympathy, a close bond was formed iar due to their use. They cover, provide
between the young Burle Marx and the comfort or warmth. We have affection-
plant species hitherto unknown to him. ate and domestic bonds with these ob-
was formed. To maintain the figurative jects, which activate intimate memories.
basis of abstract forms, to make viewers Azulejo tile panels, as those set in the
experience the expansion of reality, to loggia (a mixed studio space and spill
lead them to see forms as expressions of for parties next to the Roberto’s house in
a property inherent to the very observer Guaratiba) awaken more distant memo-
meant to renew the origin myth of his ries, tied to Luso-Brazilian cultural tra-
poetics of collecting. ditions; however, in their playful paces
The works in which an abstract dis- of repeating and alternating abstract
course was more fully affirmed, that is, forms, they return to us the principle of
ART AND COLLECTIONS ARTE E COLEÇÕES
devendo manter-se aberta às interpre- Os azulejos que
compõem o painel
tações. Na contramão da vanguarda da loggia despertam
moderna, devia renunciar a critérios de lembranças mais
remotas, ligadas a
valor como novidade ou originalidade, tradições culturais
luso-brasileiras; mas,
em favor de uma forma livre e cam- em seu ritmo lúdico de
biante que requisitasse a percepção do formas abstratas que
se repetem e alternam,
espectador. A forma abstrata servia-lhe devolvem-nos o
princípio de vida como
especialmente para isso. Talvez tenha uma qualidade presente
sido Gastão de Holanda, ao analisar em todas as coisas.

os arranjos florais que decoravam as The tiles that make up


the loggia panel evoke
festas de Burle Marx na sua casa de more remote memories,
linked to Luso-Brazilian
Guaratiba, quem conseguiu encontrar cultural traditions; but,
a chave explicativa de seu fazer artís- in its playful rhythm
of abstract forms that
tico peculiar: para Burle Marx, “pintar e are repeated and
alternated, they bring
esculpir” eram “ato simples de escolher, back to us the principle
estender a mão ao chão e colher uma of life as a quality
found in all things.
forma rara”. 22 Nos arranjos florais, como
na pintura ou na escultura, o que o ar-
tista fazia era colher formas preexisten-
tes, arranjá-las em conjuntos significa-
208

209
life as a quality present in all things.
What mattered to the artist Burle Marx
was, always, to erect this system of ex-
istence by proximity, which is typical of
the experience of collecting.
In this sense, his work could not be
limited to an arbitrary form, remain-
ing open to interpretations. Against the
modern avant-garde, he would eschew
criteria such as novelty or originality in
favour of a free and changing form which
requires the perception of the viewer. The
abstract form was especially useful to
him in this sense. Perhaps it was Gastão
de Holanda who, analysing the floral ar-
rangements which decorated the parties
at Burle Marx’s Guaratiba home, found
the key to explaining his particular artis-
tic activity: for Burle Marx, “painting and
sculpting” were “simple acts of choice, to
tivos, escolher – gestos que identificam leira. Esse conjunto eclético forma uma
criação artística e prática colecionista. narrativa complexa de proximidade.
Tomemos, por exemplo, as coleções
Burle Marx colecionador de arte pré-colombiana e de pintura
Em texto que publiquei em 2017, procurei cusquenha. Não há, ou pelo menos ain-
analisar o Sítio Santo Antônio da Bica da não foi encontrada, documentação
como o espaço erguido por Burle Marx que explicite como se deu a aquisição
para abrigar as suas coleções. 23 Adqui- desses conjuntos de peças. Os objetos
rido com a função de acolher a coleção pré-colombianos colecionados por Bur-
botânica, o sítio foi sendo configurado le Marx são originários de diferentes
como o destino de outras coleções de culturas, em materiais vários, cobrin-
arte e cultura, que incluíam as peças do um arco temporal bastante extenso
pré-colombianas, as pinturas cusque- (3000-2000 a.C. ao século XV). A quase
nhas, a arte sacra luso-brasileira, as totalidade advém do Peru e do Equa-
obras em vidro e cristal, as pinturas e dor. Curiosamente, esses países esta-
gravuras de seus contemporâneos, a vam representados na grande mostra
cerâmica do Vale do Jequitinhonha, de arte pré-colombiana da VII Bienal
os santeiros do Piauí, as carrancas do de São Paulo, de 1963, na qual Burle
Rio São Francisco, entre vários outros Marx expôs suas joias. Ainda que não
objetos ligados à cultura popular brasi- se possa afirmar que a coleção de Burle
ART AND COLLECTIONS ARTE E COLEÇÕES
Marx tenha alguma relação com essa Cusco. Essas escolas nativas de pintura
mostra, realizada na capital paulista, do período colonial combinavam traços
importa notar como a arte pré-hispâ- do barroco espanhol com influências
nica integrava o próprio discurso da bizantinas e flamengas, conhecidas
modernidade no Brasil. por meio de gravuras, além de trazer
A integração latino-americana era, contribuições dos próprios indígenas,
na década de 1960, uma opção estra- dando origem a uma arte marcada
tégica para tirar o país da influência pela originalidade e pela mestiçagem
norte-americana e inseri-lo no sistema de tradições culturais. Entre as obras
internacional a partir de uma posição expostas na Bienal, estava uma repre-
de autonomia. Burle Marx certamente sentação da Virgem das Mercês, tema
não estava imune a esse discurso, que, que reaparece na coleção Burle Marx.
no campo cultural, envolvia a valori- Entre as seis telas da escola cusque-
zação da arte latino-americana, tra- nha que hoje vemos no Sítio Roberto
dicional e contemporânea. Na mesma Burle Marx, duas possuem como tema
Bienal de 1963, além das cerca de 400 a Virgem das Mercês (ambas em óleo
peças pré-colombianas, vieram pintu- sobre tela, século XVIII). Uma pintura
ras dos séculos XVI ao XVIII do “Alto identificada como originária de Per-
Peru”, atual Bolívia, da chamada escola nambuco, do século XVIII, feita em óleo
de Potosí, que tem parentesco com a de sobre madeira, também é devotada ao
210

211
reach out and pick a rare shape from the by his contemporaries, ceramics of the Peças da coleção de arte
pré-colombiana de Burle
ground.”22 In his floral arrangements, as Jequitinhonha Valley, Piauí santeiros, Marx, pertencentes ao
with his painting or sculpture, what the figureheads (carrancas) from the São acervo do sítio.

artist did was to take pre-existing forms Francisco River, among many other ob- Burle Marx’s Pre-
Columbian art pieces
and arrange them in meaningful sets, to jects linked to popular Brazilian culture. that belong to the Sítio’s
collection.
choose - gestures which identify artistic This eclectic group forms a complex
creation and the practice of collecting. narrative of proximity.
Let us take, for example, the collec-
Burle Marx The Collector tions of pre-Columbian art and Cusque-
In an article published in 2017, I sought ño paintings. There is no, or at least
to analyse the Sítio Santo Antônio de not yet found, documentation which
Bica as a space built by Burle Marx explains how he acquired these sets of
to house his collections. 23 Acquired pieces. The pre-Columbian objects of
for the purpose of hosting his botani- Burle Marx’s collection originate from
cal collection, the Sítio was gradually different cultures, in multiple materials,
configured as the destination for other covering a rather large temporal arc
collections of art and culture, which in- (3000-2000 BC to the 15th century). Al-
cluded pre-Columbian pieces, Cusque- most all of them come from Peru and
ño paintings, Luso-Brazilian sacred art, Ecuador. Curiously, these countries were
glassworks, paintings and engravings represented in the great pre-Columbi-
ART AND COLLECTIONS ARTE E COLEÇÕES

Na sala de música, an art exhibition of the 7th São Paulo paintings from the 16th to 18th centuries
destaque para duas
telas a óleo da escola Biennial in 1963, in which Burle Marx’s from ‘Alto Peru’, currently Bolivia, of
cusquenha (século XVIII) e jewellery was exhibited. Although it can- the so-called Potosí school, which is
uma pintura a óleo sobre
madeira (à esquerda), not be said that Burle Marx’s collection related to the Cusco school. These na-
originária de Pernambuco
(século XVIII), que bears any relation with this exhibit held tive schools of painting of the colonial
possuem como tema a in this city, it is important to notice how period combine Spanish baroque lines
virgem das Mercês.
pre-Hispanic art was part of the dis- with Byzantine and Flemish influences,
Into the music room,
highlight to two oil course of modernity in Brazil. received through engravings, as well
paintings from the
Cusqueño School
Latin American integration was, in as contributions from the indigenous
(18 th century) and to an the 1960s, a strategic option for remov- people themselves, giving rise to an art
oil on wood painting
(left) originally from ing the country from North American marked by originality and the mixing
Pernambuco State, all
devoted to the Virgin of
influence and inserting it into an in- of cultural traditions. Among the works
Mercy theme. ternational system from a position of on display at the Biennial, there was a
autonomy. Burle Marx was certainly representation of the Virgin of Mercy,
not immune to this discourse, which in which reappears as a theme in Burle
the cultural field involved the valorisa- Marx’s collection.
tion of traditional and contemporary Of the six canvases from the Cusque-
Latin American art. In the same Bien- ño school which can be seen today at
nial of 1963, in addition to the nearly the Sítio Roberto Burle Marx, two are
400 pre-Columbian pieces, there were of the Virgin of Mercy (both oil on can-
mesmo assunto. As três obras, que por e São Domingos. O primeiro motivo, a Imagem de Santa Luzia,
em madeira, datada do
vários anos permaneceram juntas na defesa eucarística, era extremamente século XVIII.
mesma parede da sala de música do popular no círculo de Cusco. Na parte Nessa disposição das
obras no quarto, temos, na
sítio, falam de uma das mais antigas de- central, aparece o ostensório adornado parede à direita, pintura
voções estabelecidas na América Ibéri- sobre uma coluna; do lado esquerdo, do Cristo crucificado
(escola cusquenha, século
ca, uma vez que os mercedários, após o rei da Espanha, cuja coroa está na XVIII, óleo sobre tela,
171 x 129 cm).
a chegada de Colombo ao continente, base da coluna, portando uma espada,
logo se prontificaram para a tarefa de cercado de seus aliados e protegido In the dining room, the
image of Saint Lucy,
catequização dos indígenas. Embora pelo Cristo, acima; do lado direito, os wood, 18 th century.

associada à colonização, a Virgem, cuja inimigos da fé católica, representados On the bedroom wall,
prominently featured,
ordem fora criada a partir de visão do por figuras de turbante que tentam Cristo cruxificado (Christ
Crucified, Cusco school,
rei espanhol para a libertação de seu derrubar o ostensório. Essas represen- 18 th century. Oil on
povo, subjugado pelos mouros, difundiu- tações estão relacionadas à tradição canvas, 171 x 129 cm).

-se na América Latina como protetora espanhola – levada ao Vice-Reino do


de negros e índios escravizados. Peru – de encenar nas festas de Corpus
As demais telas cusquenhas, todas Christi as batalhas entre mouros, tur-
do século XVIII, momento do apogeu cos e cristãos, nas quais atores vestidos
comercial da escola, dedicam-se a com roupas orientais tentavam, sem
representar a defesa da eucaristia, a sucesso, impedir os cristãos de adorar
Sagrada Família, o Cristo crucificado a eucaristia.
212

213
A Sagrada Família também era tema lhamento da representação e o uso de
comum, assim como a forma de apre- dourados (chamado de “brocateado”)
sentação que vemos na tela da coleção também eram bastante recorrentes.
de Burle Marx: ao centro, o Jesus menino, O Cristo crucificado era uma entre
abençoado por Deus, pelo Espírito San- tantas outras formas de abordar o tema
to e pelos anjos, ladeado por Sant’Ana e da cruz, central para a evangelização
Maria, à esquerda, e por São José e São e para o reforço da espiritualidade
João Batista, à direita; o menino segura católica após a reforma protestante.
a mão da mãe, mas também pisa em um Na tela da coleção Burle Marx, a figu-
crânio e porta um cetro, mostrando que ra central de Jesus pregado na Cruz e
escolhe o caminho sagrado; ao redor amparado pelo Pai celestial tem ao seu
dessa cena central, uma série de pe- lado o “bom ladrão”, que foi crucificado
quenas cenas ovais mostra episódios junto a ele, e a figura de um santo. São
dos mistérios de Cristo e da Virgem, da Domingos, cujo convento em Cusco foi
anunciação à ascensão e ao coroamen- erguido sobre o Templo do Sol dos incas
to de Maria, passando pelo nascimento, (Coricancha), aparece portando alguns
pela paixão e pela ressurreição de Je- de seus atributos tradicionais – o livro
sus. Esse tipo de narrativa visual, muito e o rosário –, além de símbolos ligados
empregada na arte da escola de Cusco, à sua prática evangelizadora, como o
tinha nítidos objetivos didáticos. O deta- estandarte vermelho e a miniatura de
ART AND COLLECTIONS ARTE E COLEÇÕES

vas, 18th century). A painting identified school’s commercial apogee, represent


as originating from Pernambuco in the the defence of the Eucharist, the Holy
18th century, made in oil on wood, is also Family, the crucifixion of Christ, and St
devoted to the subject. The three works, Dominic. The first motif, the defence of
which for many years hung together on the Eucharist, was extremely popular
the same wall in the music room, are in the Cusco circle. The adorned mon-
regarding one of the oldest established strance appears in the centre on a col-
devotions of Iberian America, as the umn; to the left, the King of Spain carries
Mercedarians readied themselves for a sword, having his crown at the base
the task of catechising the indigenous of the column, surrounded by his allies
population soon after Columbus’ ar- and protected by Christ, above; on the
rival on the continent. Although associ- right side, the enemies of the Catholic
ated with colonisation, the Virgin, whose faith, represented by figures in turbans,
order was created on the basis of the attempt to topple the monstrance. These
Spanish King’s vision for the liberation of representations are related to the Span-
his Moorish-dominated people, spread ish tradition - brought to the Viceroy-
in Latin America as a protector of en- alty of Peru – of staging celebrations
slaved blacks and Indians. of Corpus Christi with battles between
The remaining Cusqueño paintings, Moors, Turks and Christians, in which
all from the 18th century, the period of the actors dressed in Oriental dress unsuc-
igreja apoiada sobre a Bíblia. Volutas
florais emolduram o frade fundador da
Ordem dos Pregadores. Esse povo sofredor não conhece
Nenhuma das obras da escola cus-
Wagner, nem Ulisses
Ulisses,, nem a
quenha pertencentes a Burle Marx pos-
sui identificação de autoria, como de
Divina comédia.
comédia. E dessa margem
resto a grande maioria dessas pinturas, de privação, em condições
que se tornaram objeto de desejo de tão adversas, busca ainda a
vários colecionadores brasileiros, es- comunicação através de uma
pecialmente paulistas, nos anos 1960 e
1970, em cujas casas costumavam con-
vontade de beleza, organiza
viver com móveis e objetos coloniais. parâmetros estéticos próprios, e
Isso também acontecia na sala de estar nos revela formas como um barro
do Sítio Santo Antônio da Bica, onde do Jequitinhonha, um ex-voto,
essas telas conversam, ainda hoje, com
uma carranca de proa.
o mobiliário Beranger e neorrococó, de
inspiração colonial, além de se apro-
These suffering people do not know
ximarem das imagens de santos luso-
of Wagner, or Ulysses
Ulysses,, or of the Divine
-brasileiras, muitas delas igualmente Comedy.. And from that margin of
Comedy
setecentistas. Mas, no caso da coleção deprivation, in such adverse conditions,
they still seek to communicate through a 214
desire for beauty, they organise their own
aesthetic parameters, and reveal to us 215
cessfully attempted to prevent Chris- forms such as Jequitinhonha ceramics, a
tians from worshipping the Eucharist. votive offering, a bow figurehead.
The Holy Family was also a com-
mon subject, as well as the form of its ROBERTO BURLE MARX

presentation as seen in the painting in


Burle Marx’s collection: in the centre, the
infant Jesus, blessed by God, the Holy
Spirit and the angels; flanked to the left narrative, widely used in the art of the
by St Anne and Mary, and to the right Cusco school, had clear didactic pur-
by St Joseph and St John the Baptist; poses. Detailing of the representation
the infant holds its mother’s hand but is and the use of gilding (called brocatea-
also stepping on a skull and carries a do) were also very common.
sceptre, showing that he has chosen the The crucifixion of Christ was one of
sacred path; surrounding this central the many forms of addressing the theme
scene, a series of small oval scenes por- of the cross, essential to evangelisation
tray episodes of the mysteries of Christ and the reinforcing of Catholic spiritu-
and the Virgin, from the Annunciation ality after the Protestant reform. In the
to the ascension and the crowning of painting from Burle Marx’s collection,
Mary, including the birth, passion and the central figure of Jesus nailed to the
resurrection of Jesus. This form of visual cross reassured by the Celestial Father
ART AND COLLECTIONS ARTE E COLEÇÕES
Burle Marx, o êxito dessa associação Peça da coleção de arte
popular pertencente ao
passava, necessariamente, pelo teor acervo do sítio.
popular das imagens, pelo sentido cul- Página anterior: o estudo
do colecionismo de
tural e vernáculo da religiosidade. Burle Marx, não só de
Uma das fábulas contadas por Burle seu acervo botânico,
mas também artístico,
Marx e registradas por Gastão de Ho- é uma espécie de guia
na aproximação do
landa refere-se a Santa Luzia, de quem paisagista à visão
possuía uma imagem em madeira do franciscana que prega o
amor às coisas, a atenção
século XVIII, disposta atualmente em afetuosa a cada objeto
em particular, essencial
sua sala de jantar. O paisagista, em uma para a própria coleção.
de suas festas, disse aos convidados Na sala das cerâmicas,
destaque para a coleção
que a santa era em verdade brasileira. de cerâmica popular
brasileira.
Seus olhos teriam sido arrancados por
um torturador da ditadura de Getúlio
Vargas. A proximidade de Burle Marx
com a santa parece ter sido motivo para
a criação dessa lenda, atualizando e
aculturando o martírio registrado na
escultura pelos olhos que Luzia carrega
em um prato na sua mão esquerda.
216

217
has beside him the ‘Good Thief’, who jects in their houses. This was also the Piece of folk art that
belongs to the Sítio’s
was crucified with him, and the figure case with the living room of the Sítio collection.
of a saint. St Dominic, whose convent in Santo Antônio da Bica, where these Previou page: the study
of the collecting practices
Cusco was erected built on the Temple paintings still dialogue with Beranger of Burle Marx, not only of
of the Sun of the Incas (Coricancha), and neo-rococó furniture of colonial his botanical collection
but also the artistic
appears bearing some of his traditional inspiration, as well as images of Luso- one, is a kind of guide
to his approach to the
attributes – the book and rosary – as Brazilian saints, many also of the 18 th Franciscan vision that
well as symbols connected to his evan- century. However, in the case of Burle preaches the love for all
things, the affectionate
gelising practise, such as the red banner Marx’s collection, this association nec- attention to each object
in particular, essential for
and a miniature of a church resting on essarily has more to do with the popular the collection itself. In the
the bible. Floral scrolls frame the found- content of the images and their cultural Ceramics Room, focus on
the collection of Brazilian
ing friar of the Order of Preachers. and vernacular sense of religiosity. folk ceramics.

None of the Cusqueño school works One of the tales told by Burle Marx
belonging to Burle Marx bear identifica- and documented by Gastão de Ho­
tion of authorship, as is the case with the landa is about Santa Luzia, whose 18th
rest of the vast majority of these paint- century wooden image he possessed
ings, which became desired objects by and is currently displayed in the dining
many Brazilian collectors, especially room. At one of his parties, the land-
Paulistas, in the 1960s and 1970s, who scaper told his guests that the saint was
used to have colonial furniture and ob- actually Brazilian. Her eyes were pulled
Esse é apenas mais um episódio que A beleza é, portanto, uma experi-
ilustra o fato de não lhe interessar a ência que antecede o fazer, na medi-
religião formal ou a devoção cristã, e da em que é vontade ou desejo, mas
sim uma espécie de religiosidade bási- também é o resultado do próprio fa-
ca, popular, de recorte vernáculo, que zer, alcançada ao final de um processo
identificava, por exemplo, nas expres- técnico e artístico de criação formal.
sões da arte popular brasileira. Quando Logo, não pode se submeter a regras
se referia a essas tradições, gostava tangíveis, a convenções determinadas,
de destacar o tipo de atenção sensí- devendo ser, antes, algo definido como
vel para o mundo, que não deixa de absoluto, transcendente.
ser uma forma de religiosidade: “Esse A transcendência da experiência
povo sofredor não conhece Wagner, da beleza, entretanto, não serve para
nem Ulisses, nem a Divina comédia. E fundamentar ou reforçar antigas hie-
dessa margem de privação, em condi- rarquias entre as artes. Ao contrário, é
ções tão adversas, busca ainda a co- a garantia da indistinção entre as múl-
municação através de uma vontade de tiplas manifestações estéticas. Em 1965,
beleza, organiza parâmetros estéticos a indicação de artistas chamados de
próprios, e nos revela formas como um “ingênuos” para a representação brasi-
barro do Jequitinhonha, um ex-voto, leira na Bienal de Veneza gerou algu-
uma carranca de proa”. 24 ma polêmica. O colunista do Jornal do
ART AND COLLECTIONS ARTE E COLEÇÕES

Peças da coleção de arte


popular do acervo do
sítio provenientes do
Vale do Jequitinhonha.

Pieces from the


Jequitinhonha Valley
belonging to the Sítio’s
folk art collection.
Brasil Harry Laus entrevistou artistas e Esse interesse múltiplo e sem limites
críticos sobre o assunto, e eles se divi- predeterminados por estilos ou épocas
diram. De um lado, os que, como Fayga fez com que Burle Marx formasse uma
Ostrower, Ivan Serpa ou Lygia Clark, coleção bastante eclética, que difere
entendiam que o país devia expor seus de outras do mesmo período pelo es-
valores novos, o desenvolvimento his- paço central que ocupam as suas obras
tórico do Brasil moderno. De outro, de arte popular brasileira. A começar
aqueles que, com entusiasmo ou con- pelo conjunto de mais de cem peças
descendência, defendiam a apresenta- de cerâmica do Vale do Jequitinhonha.
ção da “arte ingênua” brasileira como Entre elas, podemos destacar as quinze
uma forma de atender aos interesses obras de Ulisses Pereira Chaves, cuja
do público europeu, incluindo-se nesse atuação foi essencial para o desenvol-
grupo Antonio Bento, Marc Berkowitz, vimento da arte cerâmica na região,
Flávio de Aquino, Carlos Cavalcanti e para além de ter ampliado o escopo
Augusto Rodrigues. Apenas Burle Marx da produção local, deixando de lado
apresenta argumento diferente, dizen- as peças utilitárias para desenvolver
do que não é o fato de ser primitivo suas figuras zoo-antropomorfas e as
que deve excluir um artista, e sim a célebres moringas de várias cabeças.
qualidade da sua pintura, “se é boa Mas o que vale é o conjunto, reunido
ou má”. 25 pelo próprio Burle Marx em uma galeria
218

219
out by a torturer of the dictatorship of Comedy. And from that margin of depri-
Getúlio Vargas. Burle Marx’s closeness vation, in such adverse conditions, they
with the saint seems to have been the still seek to communicate through a de-
reason for the creation of this legend, sire for beauty, they organise their own
updating and acculturating the mar- aesthetic parameters, and reveal to us
tyrdom depicted in the sculpture by the forms such as Jequitinhonha ceramics,
eyes Luzia carries on a plate held in her a votive offering, a bow figurehead.” 24
left hand. Beauty is therefore an experience
This is just another illustration of the which precedes doing, to the extent that
fact that Burle Marx was not interested it is will or desire, but is also the result of
in formal religion or Christian devotion, the doing itself, attained at the end of a
but in a type of basic, popular religios- technical and artistic process of formal
ity of vernacular inclination which he creation. It cannot thus be submitted to
identified, for example, in expressions tangible rules or set conventions, but
of popular Brazilian art. When referring must be something previously defined
to these traditions, he liked to empha- as absolute, transcendent.
sise the form of sensitive attention to the The transcendent experience of
world, which is also a form of religiosity: beauty, however, is not for supporting
“These suffering people do not know or reinforcing old hierarchies among the
of Wagner, or Ulysses, or of the Divine arts. On the contrary, it is a guarantee
erguida nos anos 1980. Contou-me José
Tabacow que o paisagista, por ocasião
de uma de suas expedições de coleta
de espécies pelas serras de Minas Ge-
rais, conheceu em Belo Horizonte uma
loja que comercializava esses traba-
lhos. Desde então, passou a ir lá sempre
que estava na capital mineira e nunca
deixava de comprar mais uma cerâmica
para a sua coleção.
A visão não hierárquica que Burle
Marx destinava às peças que coleciona-
va não impede que destaquemos séries
de trabalhos de alguns artistas ou de
tradições culturais específicas, de modo
a pensar na relevância cultural de sua
prática colecionista. É o caso de ou-
tro ceramista popular, Mestre Galdino,
que trabalhava no Alto do Moura, em
Caruaru (PE), de quem o colecionador
ART AND COLLECTIONS ARTE E COLEÇÕES

O ecologista, de 1983, of the indistinctness between multiple gusto Rodrigues. Only Burle Marx was of
óleo sobre tela de
Miguel dos Santos em aesthetic manifestations. In 1965, the a different persuasion, making the point
homenagem a Burle Marx.
nomination of ‘naive’ artists to represent that it should not be primitiveness that
Página seguinte: totem de
Miguel dos Santos, no
Brazil at the Venice Biennale caused a excludes the artist, but rather the quality
largo à frente da Capela degree of controversy. The Jornal do of the painting, if “it is good or bad.” 25
de Santo Antônio da Bica.
Brasil columnist Harry Laus interviewed These multiple and limitless interests
O ecologista, (The
Ecologist), 1983, oil on artists and critics on the subject, who in styles or periods led Burle Marx to
canvas, by Miguel dos were divided. On one side were those, form an eclectic collection, differing
Santos in homage to
Burle Marx. such as the artists Fayga Ostrower, Ivan from others of the same period due to
Next page: totem by Serpa or Lygia Clark, who understood the central space occupied by works
Miguel dos Santos in the
square in front of the that the country should display its new of popular Brazilian art, starting with
Chapel at Santo Antônio
da Bica.
values and the historical development the set of over 100 ceramic works from
of modern Brazil. On the other side, the Jequitinhonha Valley. Among them
those who enthusiastically or conde- are 15 works by Ulisses Pereira Chaves,
scendingly defended the presentation of whose performance was essential for
Brazilian ‘naive art’ as a way of meeting the development of ceramic art in the
the interests of European audiences, a region, for broadening the scope of lo-
group which included critics and artists cal production, setting aside utilitarian
as Antonio Bento, Marc Berkowitz, Flávio pieces to develop his zoo-anthropo-
de Aquino, Carlos Cavalcanti and Au- morphic figures and his famous multi-
possuía cinco peças. Sua obra diferia
bastante da tradição dos bonequeiros
de Caruaru, de quem Mestre Vitalino
(que foi seu professor) era represen-
tante, por suas figuras fantásticas, fun-
dindo homens e animais, para as quais
escrevia histórias fabulosas. Quando
perguntado sobre o aprendizado com
Vitalino, respondia em versos: “Galdino
é bonequeiro/ e sou poeta também/ tem
boneco em minha casa/ que bonequeiro
não tem/ na arte só devo a Deus/ lição
não devo a ninguém”. 26 A referência ao
dom divino se aproxima da compreen-
são de Burle Marx da sacralidade da
criação artística.
Outro ceramista popular com des-
taque na coleção é Miguel dos San-
tos, do qual adquiriu sete esculturas
(incluindo o grande totem disposto no
220

221
headed moringas. But what really mat-
ters is the whole set, brought together
by Burle Marx himself in a gallery built
in the 1980s. José Tabacow told me that
Burle Marx, when travelling on one of
his expeditions to collect species in the
mountains of Minas Gerais, found a
shop in Belo Horizonte which sold these
works. Since then, he would always visit
the shop whenever he was in town and
buy new pottery for his collection.
The non-hierarchical view Burle Marx
took of the pieces he collected does not
stop us from highlighting series of works
by some artists or specific cultural tradi-
tions in order to think of the cultural rele-
vance of his practise as collector. Such is
the case with another popular ceramist,
Mestre Galdino, who worked in Alto do
Moura, in Caruaru (Pernambuco State).
Nas próximas duas largo à frente da Capela de Santo An- nho, que inicialmente viu em livros e
páginas, vê-se as
vitrines que acomodam tônio da Bica), um relevo em cerâmica depois estudou em Minas.
os objetos em cristal e e uma pintura (O ecologista, óleo sobre A mesma combinação de referên-
vidro da coleção de
Burle Marx. tela) feita especialmente para Burle cias está na base da arte de Maurino
On the next two pages, Marx. O colecionador chegou a visi- de Araújo, de quem Burle Marx comprou
we see the exhibition
cases which houses
tar o ateliê do artista em João Pessoa um expressivo conjunto de nove peças
crystal and glass objects (PB) na década de 1980, mantendo com em madeira, sendo oito esculturas de te-
from the Burle Marx’s
collection. ele o hábito de trocar obras. Parecia mática religiosa e um lustre, que ilumina
gostar especialmente de suas figuras a galeria de exposição da arte popular.
fabulosas, de mitologia deliberada- Novamente, a conjugação de religiosi-
mente estranha e arcaica. Integrante dade e arte popular ganha relevância
do Movimento Armorial, criado por dentro da narrativa colecionista do pai-
Ariano Suassuna, Miguel dos Santos sagista. O que podemos ver igualmente
costuma dizer que o tripé no qual sua no conjunto de onze ex-votos e cinco
arte se apoia inclui os arquétipos cul- carrancas do Rio São Francisco, sendo
turais africanos, a cultura popular re- três de autoria de Francisco Biquiba dy
presentada pela cerâmica de Mestre Lafuente Guarany, importante repre-
Vitalino (a quem conheceu nas feiras sentante dessa arte, seja como artista,
de Caruaru, onde nasceu e passou a seja como divulgador da tradição entre
infância) e as esculturas de Aleijadi- colecionadores e instituições culturais.
ART AND COLLECTIONS ARTE E COLEÇÕES

Burle Marx owned five of Galdino’s da Bica Chapel), a ceramic relief and
pieces. His work greatly differed from a painting (O ecologista, oil on can-
the tradition of the Caruaru puppeteers, vas) made especially for Burle Marx.
as represented by Mestre Vitalino (who The collector even visited the artist’s
was his teacher) due to its fantastic fig- studio in João Pessoa (Paraíba State)
ures, fusing men and animals, for which in the 1980s, maintaining the habit of ex-
he wrote fables. When asked of his ap- changing works. He seemed especially
prenticeship with Vitalino, he would reply fond of the fable figures, of deliberately
in verse: “Galdino is a puppeteer/and a strange and archaic mythology. A mem-
poet too/there are puppets in my home/ ber of the Armorial Movement created
that puppeteers do not have/in art I owe by Ariano Suassuna, Miguel dos Santos
only God/for lessons I owe no one.”26 The would say that the tripod on which his
reference to a divine gift comes close to art was supported consisted of African
Burle Marx’s understanding of the sa- cultural archetypes, popular culture as
credness of artistic creation. represented by Mestre Vitalino’s pottery
Another popular ceramist featured (whom he met at the markets of Caruaru,
in the collection is Miguel dos Santos, where he was born and spent his child-
from whom he acquired seven sculptures hood), and the sculptures of Aleijadinho,
(including the large totem displayed in which he initially saw in books and later
the square in front of the Santo Antônio studied in Minas.
222

223
ART AND COLLECTIONS ARTE E COLEÇÕES
Os ex-votos que representam cabeças, a admirar o diálogo entre suas formas,
seio e pé falam diretamente dessa reli- as texturas, o brilho, a transparência, a
giosidade popular, que confina com o presença ou ausência de cor. As pra-
milagre. As carrancas também entram teleiras de cristais passam a funcionar
nesse universo estético-mágico, por sua como um curioso tipo de retábulo, pro-
função básica de afastar os males e os duzindo novo instante de vivência da be-
perigos. Tarefa que voltam a cumprir, leza como esse absoluto que se expressa
simbolicamente, no Sítio de Burle Marx, nos detalhes inesperados do cotidiano.
por sua disposição na varanda frontal, Não posso, por fim, deixar de incluir
voltando-se para os jardins. entre esses altares de culto à beleza a
Essa narrativa poética que faz con- vitrine da coleção de conchas marinhas
fluir criação artística e sacralidade serve – que reúne exemplares das classes bi-
de fundamento para o arranjo das de- valve, gastrópode e cefalópode, espe-
mais peças de sua coleção. Nas vitrines cialmente presentes na região circun-
da sala de jantar, os objetos em vidro e tropical, ocorrendo do Sul dos Estados
cristal adquirem certa solenidade. Com- Unidos até as Filipinas, passando por
poteiras, travessas, vasos, candelabros Caribe, América do Sul, África, Índia.
e copos perdem seu sentido utilitário e Até por sua diferença com relação aos
são contemplados como as imagens demais objetos reunidos por Burle Marx
de santos da sala ao lado. Passamos em sua casa, essas conchas têm a capa-
224

225
The same combination of references The figureheads are also part of this
forms the basis of the art of Maurino de magical-aesthetic universe, as they have
Araújo, from whom Burle Marx bought the basic function of dispelling evil and
a set of nine wooden pieces, eight of danger, a task they once again fulfil at
which religiously themed sculptures, and the Sítio Roberto Burle Marx, arranged
a chandelier which illuminates the popu- on the front porch facing the gardens.
lar art exhibition gallery. Once again, This poetic narrative, which brings
the combination of religiosity and popu- together artistic creation and the sa-
lar art are relevant within Burle Marx’s cred, serves as a basis for arranging
narrative of collecting. This can also be the other pieces of the collection. In the
seen in the set of 11 votive offerings and dining room cabinets, glass and crys-
5 figureheads from the São Francisco tal objects take on a certain solemnity.
River, three of which by Francisco Biqui- Compotes, platters, vases, candelabras
ba dy Lafuente Guarany, an important and glasses lose their utilitarian mean-
representative of this art both as an art- ing and are contemplated much like the
ist and disseminator of tradition among images of saints in the next room. We
collectors and cultural institutions. The begin to admire the dialogue between
votive offerings which represent heads, their shapes, textures, brightness, trans-
breasts and feet refer directly to popular parency and the presence or absence
religiosity, which is related to the miracle. of colour. The shelves of glassware take
admitir simpatias estranhas, quase pri-
mitivas, por esses seres naturais. Como
se nos identificássemos com aquelas
conchas mais rugosas, ou com as que
se voltam sobre si mesmas, ou ainda
com as que se assemelham a animais
meio grotescos. O mundo se revela mais
surpreendente, mais encantador diante
dessas conchas variadas. Recorda-me
o encanto do literato norte-americano
Ralph Waldo Emerson quando de sua
visita ao Gabinete de História Natural
cidade de nos fazer experimentar, como do Jardin des Plantes, em Paris: “os li-
talvez nenhuma outra de suas coleções, mites do possível se alargam, e o real é
a amplitude e a variedade do belo. Pois, mais estranho que o imaginário”. 27
aí, a beleza não é a vontade do cria- Retomo, a título de conclusão, al-
dor, e sim a do espectador. O arranjo guns dos elos da narrativa poética de
original das conchas, qualificado por Burle Marx, para embasar meu argu-
Gastão de Holanda como “barroco”, mento de que a coleção e sua pecu-
propicia esse olhar estético que nos faz liar ética constituem o modelo de sua
ART AND COLLECTIONS ARTE E COLEÇÕES

on the function of a curious sort of altar- ator but of the viewer. The original ar-
piece, producing an instance of beauty rangement of the shells, classified by
as an absolute expressed in the unex- Gastão de Holanda as ‘baroque’, fos-
pected details of the quotidian. ters in us an aesthetic gaze, compelling
I cannot leave out, finally, among us to admit a strange, almost primitive
these beauty-worshipping altars, the dis- sympathy for these natural beings. As
play case of seashells - which contains if we identified ourselves with the more
examples of the bivalve, gastropod and rugged shells, or those which go back
cephalopod classes, especially present on themselves, or even those which re-
in the circumtropical region, occurring semble grotesque animals. The world
from the south of the United States up reveals itself as more surprising, more
to the Philippines, including the wCarib- charming before these varied shells. I
bean, South America, Africa and India. am reminded of the charm of the North
It is maybe even due to their difference American writer Ralph Waldo Emerson
with the other objects collected in Burle during his visit to the Jardin des Plantes
Marx’s house that these shells have the Natural History Museum in Paris: “The
capacity to make us experience, per- limits of the possible are enlarged, and
haps like none of his other collections, the real is stranger than the imaginary.”27
the breadth and variety of beauty. For Let me return, by way of conclusion,
here beauty is not the desire of the cre- to some of the links of the poetic narra-
SEM TÍTULO, 1974
Acrílica/tela
122 x 150 cm

SEM TÍTULO, 1970


Acrílica/tela
122 x 150 cm

Página anterior:
SEM TÍTULO, dec. 60/70
Grafite/guache/
colagem/papel
70,2 x 100 cm

UNTITLED, 1974
Acrylic/canvas
122 x 150cm

UNTITLED, 1970
Acrylic/canvas
122 x 150cm

Previous page:
UNTITLED, 1960s/1970s
Graphite/gouache/
collage/paper
70.2 x 100 cm

226

227
atuação cultural ampla. Comecei mos- fornecendo algumas bases conceituais
trando as múltiplas facetas de sua arte para a compreensão de sua poética: a
e como estas se relacionavam não a não hierarquia entre as peças; a asso-
partir de causalidades e hierarquias, ciação entre estética, erotismo e sacra-
mas sim como peças de uma coleção lidade; o interesse pelo vernáculo, pelo
vasta de expressões estéticas, múltiplos comum, como veículo de estranheza e
de um mesmo todo que, por sua vez, maravilhamento; a compreensão da
só existe nessa multiplicidade. A par- beleza como transcendente.
tir daí, a análise das pinturas indicou Tudo isso mostra a qualidade muito
como o próprio discurso formal de Burle particular do projeto de modernidade
Marx incorpora a poética colecionista, de Burle Marx, que encontra no seu Sí-
na medida em que suas figuras não se tio Santo Antônio da Bica o lugar pro-
apresentam como criações originais, pício (e único) de realização. Ali, como
e sim como escolhas do artista diante bem expressou a poeta Elizabeth Bishop,
das inumeráveis possibilidades do real, o artista reuniu “acres e acres de árvo-
funcionando, de outra parte, como estí- res e plantas subtropicais maravilhosas
mulos ao exercício da liberdade criativa e de alguma forma tristes, extravagan-
pelo espectador. A descrição dos princi- tes e ameaçadoras”. 28 Maravilha e ex-
pais conjuntos de obras da sua coleção travagância são, em realidade, os an-
retomou a questão da multiplicidade, tídotos que Burle Marx lança contra a
ART AND COLLECTIONS ARTE E COLEÇÕES

tive of Burle Marx to support my argu- works from the collection returns to the
ment that the collection and its particu- subject of multiplicity, providing some
lar ethos constitute a model of his wider conceptual base for an understanding
cultural work. I began by showing the of his poetics: the non-hierarchy be-
multiple facets of his art and how these tween works; the association between
are related, not on the basis of causality aesthetics, eroticism and the sacred;
and hierarchy, but as pieces in a collec- interest in the vernacular, in what is com-
tion of vast aesthetic expressions, mul- mon, as a vehicle for strangeness and
tiples of the same whole which, at once, wonder; the understanding of beauty
only exists in this multiplicity. Based on as transcendent.
this, analysis of the paintings showed This all shows the very particular
how Burle Marx’s own formal discourse quality of Burle Marx’s project of mo-
incorporates the poetics of collecting, to dernity, which has its propitious (and
the extent that his figures do not present unique) place of realisation in the Sítio
themselves as original creations but as Santo Antônio da Bica. There, as well
the artist’s choices from the countless expressed by the poet Elizabeth Bishop,
possibilities of the real, which on the the artist brought together “acres and
other hand function as a stimuli for the acres of marvellous and somehow sad,
exercise of the viewer’s creative free- flamboyant, and threatening subtropi-
dom. The description of the main sets of cal plants and trees.” 28 Wonder and ex-
tristeza e a ameaça do real. O interesse
na variabilidade das formas do mundo *associada
Vera Beatriz Siqueira Historiadora da arte, professora
da Universidade do Estado do Rio de Janeiro
traz consigo, como pressuposto, o receio e coordenadora da área de artes na Capes/Ministério
da Educação (2018-2022). É autora de vários livros sobre
do esgotamento das possibilidades, arte moderna no Brasil, incluindo Burle Marx (São Paulo,
Cosac Naify, 2001 e 2ª edição em 2009). Também escreveu
cujo paroxismo é a morte. Para o nosso artigos para revistas e livros, muitos dos quais dedicados
colecionador, o único remédio contra o à obra de Burle Marx. Atua como curadora de exposições,
incluindo a nova musealização da casa do Sítio Roberto
tédio e o fim era a alegria do contato Burle Marx. De janeiro a março de 2020 atuou como pesqui-
sadora visitante no Getty Research Institute em Los Angeles.
com as coisas; era o encantamento pro-
duzido pelo capim mais comum, pelo NOTAS
objeto mais corriqueiro, pela atenção 1 Lucio Costa, “Roberto Burle Marx: senhor de Guaratiba”,
em Paulo Peltier de Queiroz et al. (coords.), Burle Marx:
renovada na multiplicidade da nature- homenagem à natureza, Petrópolis, Vozes, 1979, p. 14.
za e da cultura. Só assim a morte trans- 2 Idem, ibidem.
forma-se não em ausência, e sim em 3 Leonardo Boff, “O São Francisco que mora dentro de
cada um de nós”, em Paulo Peltier de Queiroz et al. (co-
excesso de vida. Afinal, como ele mes- ords.), Burle Marx: homenagem à natureza, op. cit., p. 20.

mo disse, “cada ruga a mais no rosto 4 Idem, ibidem, p. 17.


5 Claude Vincent, “O arquiteto-paisagista Roberto
marcado pelo tempo possui a beleza Burle Marx”, em Paulo Peltier de Queiroz et al. (coords.),
Burle Marx: homenagem à natureza, op. cit., p. 35.
da experiência enriquecida”. 29
6 “Inaugurada, pelo Presidente da República, a nova
sede da Embaixada Americana”, Jornal do Brasil, Rio de
Janeiro, n. 94, 26-27 de abril de 1953, 1º Caderno, p. 6.
7 Elsie Lessa, “Um domingo de sol”, Manchete, Rio de
Janeiro, n. 110, 29 de maio de 1954, p. 47.

228

229
travagance are, in fact, the antidotes
which Burle Marx uses against the sad- *fessor
Vera Beatriz Siqueira Art historian, associate pro-
at the State University of Rio de Janeiro and Arts
ness and threat of the real. Interest in coordinator at Capes/Ministry of Education (2018-2022).
She is the author of several books on modern art in Brazil,
the variability of forms in the world pre- including Burle Marx (São Paulo, Cosac & Naify, 2001,
second edition in 2009). She has also written articles for
supposes the fear of exhaustion of pos- books and magazines, many of which are dedicated to
sibilities, whose paroxysm is death. For the work of Burle Marx. She works as an exhibition curator,
including the new musealization of the Sítio Roberto Burle
our collector, the only remedy against Marx. She was a visiting researcher at the Getty Research
Institute in Los Angeles from January to March 2020.
tedium and the end was the happiness
of contact with things; it was the en- ENDNOTES
chantment produced by the most com- 1 Lucio Costa, “Roberto Burle Marx: senhor de Guaratiba”,
in Paulo Peltier de Queiroz et al. (coords.), Burle Marx: hom-
mon grass, the most ordinary object, enagem à natureza, Petrópolis, Vozes, 1979, p. 14.
by renewed attention to the multiplicity 2 Idem, ibidem.

of nature and culture. Only thus then 3 Leonardo Boff, “O São Francisco que mora dentro de
cada um de nós”, in Paulo Peltier de Queiroz et al. (coords.),
does death become not an absence but Burle Marx: homenagem à natureza, op. cit., p. 20.

an excess of life. After all, as he said 4 Idem, ibidem, p. 17.


5 Claude Vincent, “O arquiteto-paisagista Roberto
himself, “every new wrinkle on the face Burle Marx”, in Paulo Peltier de Queiroz et al. (coords.),
Burle Marx: homenagem à natureza, op. cit., p. 35.
marked by time carries the beauty of
6 “Inaugurada, pelo Presidente da República, a nova
enriched experience.” 29 sede da Embaixada Americana”, Jornal do Brasil, Rio
de Janeiro, n. 94, 26-27th April, 1953, 1 st Caderno, p. 6.
7 Elsie Lessa, “Um domingo de sol”, Manchete, Rio de
Janeiro, n. 110, 29 th May, 1954, p. 47.
Na coleção reunida por 8 “Notas Sociais”, Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, n. 19 Caetano de Freitas Medeiros, “Fragmentos de um
297, 21 de dezembro de 1955. caminho: entrevista com o paisagista José Tabacow”,
Burle Marx no sítio, é
9 Henrique Pongetti, “Jota Aragonesa”, Manchete, Rio Cadernos Naui, v. 5, n. 9, jul.-dez., 2016, p. 104.
possível ver tanto sua
atuação cultural ampla e de Janeiro, n. 120, 7 de agosto de 1954, p. 3. 20 Idem, ibidem, p. 102.
múltipla quanto sua 10 “Modelos brasileiros em Paris”, O Cruzeiro, Rio de 21 Agradeço a Roberto Conduru, que fez uma leitura
produção artística, cujo Janeiro, n. 8, 3 de dezembro de 1960, p. 91. crítica desta parte do texto, por essa sugestão.
discurso formal incor­p ora 11 “Mestres da forma livre”, O Cruzeiro, Rio de Janeiro, 22 Gastão de Holanda, “Roberto Burle Marx aos 70
a poética do colecionismo. n. 20, 24 de fevereiro de 1962, p. 22-23. anos”, em Paulo Peltier de Queiroz et al. (coords.), Burle
12 Citado em “Joias de Haroldo e Roberto Burle Marx Marx: homenagem à natureza, op. cit., p. 54.
In the collection gathered
ganham exposição em Nova York”, RG, 2 de junho de 2016, 23 Vera Beatriz Siqueira, “Sítio Santo Antônio da Bica:
by Burle Marx at the
disponível em: <https://siterg.uol.com.br/moda/2016/ as coleções de Roberto Burle Marx”, Modos, v. 1, n.
Sítio, one can see both 1, 2017, disponível em: <https://doi.org/10.24978/mod.
06/02/joias-de-haroldo-e-roberto-burle-marx-ganham-
his broad and multiple -exposicao-em-nova-york/#2>, acesso em 7 de junho de 2019. v1i1.731>, acesso em 4 de junho de 2019.
cultural performance
13 Renzo Massarani, “Um ballet brasileiro”, Jornal do 24 Citado em Paulo Lemos e Eduardo Schwarzstein,
and artistic production,
Brasil, Rio de Janeiro, n. 152, 30 de junho de 1960, p. 6. Roberto Burle Marx, São Paulo, Lemos Editorial, 1996.
whose formal discourse
incorporates a poetics 14 Nilson Penna, “Margot Fonteyn – Michael Somes 25 Harry Laus, “Veneza – prós e contras”, Jornal do
of collectionism.
com o balé do Rio de Janeiro”, Jornal do Brasil, Rio de Brasil, n. 286, 7 de dezembro de 1965.
Janeiro, n. 161, 10 de julho de 1960. 26 Citado em “Manuel Galdino de Freitas”, Wikipédia,
15 “Uma ponte cairá do céu no baile do Municipal, disponível em <https://pt.wikipedia.org/wiki/Manuel_
para o desfile das fantasias”, Jornal do Brasil, Rio de Galdino_de_Freitas>, acesso em 6 de junho de 2019.
Janeiro, n. 9, 11 de janeiro de 1958, p. 7. 27 Escrito em 13 de julho de 1833, publicado em Al-
16 Harry Laus, “Roberto, homem renascentista”, Jornal fred R. Ferguson (org.), The journals and miscellaneous
do Brasil, Rio de Janeiro, n. 211, 10 de setembro de 1963, notebooks of Ralph Waldo Emerson, v. IV: 1832-1834,
Caderno B, p. 4. Cambridge, Mass., Belknap Press, 1964.
17 Clarival do Prado Valladares, “Roberto Burle Marx: 28 Elizabeth Bishop, carta a Robert Lowell, Rio de Ja-
pintura em forma de jardim”, em Paulo Peltier de Quei- neiro, 15 de junho de 1961. Citada como epígrafe no livro
roz et al. (coords.), Burle Marx: homenagem à natureza, de Catherine Seavitt Nordenson, Depositions: Roberto
op. cit., p. 67. Burle Marx and public landscapes under dictatorship,
18 Julia Rey Pérez, Burle Marx: del lienzo al espacio Austin, University of Texas Press, 2018.
público en Río de Janeiro, Sevilha, Aconcagua Libros/ 29 Citado em Rosa Cass, “Jardim é tentativa do homem
Instituto de Estudios sobre América Latina, Universidad de reencontro consigo mesmo”, Jornal do Commercio,
de Sevilla, 2014, p. 23. Rio de Janeiro, n. 102, 3 de fevereiro de 1963.
ART AND COLLECTIONS ARTE E COLEÇÕES

8 “Notas Sociais”, Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, n. 19 Caetano de Freitas Medeiros, “Fragmentos de um
297, 21 st December, 1955. caminho: entrevista com o paisagista José Tabacow”,
9 Henrique Pongetti, “Jota Aragonesa”, Manchete, Rio Cadernos Naui, v. 5, n. 9, Jul.-Dec., 2016, p. 104.
de Janeiro, n. 120, 7th August 1954, p. 3. 20 Idem, ibidem, p. 102.
10 “Modelos brasileiros em Paris”, O Cruzeiro, Rio de 21 I would like to thank Roberto Conduru, who made a
Janeiro, n. 8, 3 rd December 1960, p. 91. critical reading of this part of the text, for this suggestion.
11 “Mestres da forma livre”, O Cruzeiro, Rio de Janeiro, 22 Gastão de Holanda, “Roberto Burle Marx aos 70 anos”,
n. 20, 24th February 1962, p. 22-23. in Paulo Peltier de Queiroz et al. (coords.), Burle Marx:
homenagem à natureza, op. cit., p. 54.
12 Cited in “Joias de Haroldo e Roberto Burle Marx
ganham exposição em Nova York”, RG, 2 nd June 2016, 23 Vera Beatriz Siqueira, “Sítio Santo Antônio da Bica:
available at: <https://siterg.uol.com.br/moda/2016/06/ as coleções de Roberto Burle Marx”, Modos, v. 1, n. 1,
02/joias-de-haroldo-e-roberto-burle-marx-ganham- 2017, available at: <https://doi.org/10.24978/mod.v1i1.731>,
exposicao-em-nova-york/#2>, accessed 7th June 2019. accessed 4th June 2019.
13 Renzo Massarani, “Um ballet brasileiro”, Jornal do 24 Cited in Paulo Lemos and Eduardo Schwarzstein,
Brasil, Rio de Janeiro, n. 152, 30 th June 1960, p. 6. Roberto Burle Marx, São Paulo, Lemos Editorial, 1996.
14 Nilson Penna, “Margot Fonteyn – Michael Somes 25 Harry Laus, “Veneza – prós e contras”, Jornal do Brasil,
com o balé do Rio de Janeiro”, Jornal do Brasil, Rio de n. 286, 7th December 1965.
Janeiro, n. 161, 10 th July 1960. 26 Cited in “Manuel Galdino de Freitas”, Wikipedia, avail-
15 “Uma ponte cairá do céu no baile do Municipal, able at <https://pt.wikipedia.org/wiki/Manuel_Galdino_de_
para o desfile das fantasias”, Jornal do Brasil, Rio de Freitas>, accessed 6th June 2019.
Janeiro, n. 9, 11th January 1958, p. 7. 27 Written on 13th July, 1833, published in Alfred R. Ferguson (org.),
16 Harry Laus, “Roberto, homem renascentista”, Jornal The journals and miscellaneous notebooks of Ralph Waldo Em-
do Brasil, Rio de Janeiro, n. 211, 10 th September 1963, erson, v. IV: 1832-1834, Cambridge, Mass., Belknap Press, 1964.
Caderno B, p. 4. 28 Elizabeth Bishop, letter to Robert Lowell, Rio de Janeiro,
17 Clarival do Prado Valladares, “Roberto Burle Marx: 15th June, 1961. Cited as an epigraph in Catherine Seavitt
pintura em forma de jardim”, in Paulo Peltier de Queiroz et al. Nordenson’s book Depositions: Roberto Burle Marx and
(coords.), Burle Marx: homenagem à natureza, op. cit., p. 67. public landscapes under dictatorship, Austin, University
of Texas Press, 2018.
18 Julia Rey Pérez, Burle Marx: del lienzo al espacio
público en Río de Janeiro, Sevilla, Aconcagua Libros/ 29 Cited in Rosa Cass, “Jardim é tentativa do homem
Instituto de Estudios sobre América Latina, Universidad de reencontro consigo mesmo”, Jornal do Comércio,
de Sevilla, 2014, p. 23. Rio de Janeiro, n. 102, 3 rd February 1963.
230

231
PAISAGISMO
E BOTÂNICA
LANDSCAPING
AND BOTANY
Pode-se afirmar que o Sítio Roberto como consequência, como aproveita-
Burle Marx nasceu com o principal ob- mento das oportunidades que o espaço
jetivo, se não o único, de ser um grande físico proporcionou a Burle Marx. E que
experimento visando aumentar as pos- ele conseguia perceber como ninguém.
sibilidades de expressão paisagística O que o moveu em seus anseios foi a
de seu criador. Os outros papéis des- permanente desconformidade com a
sa instituição singular, relacionados a mesmice, uma vontade constante e ina-
coleções de arte, arquitetura, culinária, balável de investigar a fundo qualquer
música, festas, em suas complexas con- ensejo que cruzasse seu caminho. Ele
figurações e interações, vieram depois, deixou essa afirmativa patente quando
declarou que, “numa análise final, a vida
toda é um experimento em marcha”.

Em busca
A necessidade de um grande espaço,
um laboratório onde pudesse avaliar as

de uma
possibilidades de introdução de novas
espécies de plantas em cultivo, para

expressão
propósitos paisagísticos, determinou que
procurasse, juntamente com seu irmão

genuína
Guilherme Siegfried Marx, um terreno
adequado, uma área que os brindasse

JOSÉ TABACOW*
LANDSCAPING AND BOTANY PAISAGISMO E BOTÂNICA

In search of a manent disconformity with sameness, a


constant and unwavering urge to delve
genuine expression deep into any opportunity that crossed
his path. This is made patent when he
declares: “in the final analysis, life is an
It can be said that the Sítio Roberto ongoing experiment.”
Burle Marx was created with the main The need for a large space, a labora-
objective, if not the only one, of being tory where he could assess the possibili-
Burle Marx encontrou
no antigo Sítio Santo
a large experiment aimed at increasing ties of introducing new species of plants
Antônio da Bica um its creator’s possibilities of expression in cultivation for landscaping purposes,
espaço que oferecia as
condições adequadas within landscaping. The other roles of led him, together with his brother Guil-
para funcionar como
grande laboratório onde
this singular institution, relating to art herme Siegfried Marx, to seek out a suit-
ele pudesse experimentar collections, architecture, cooking, music able terrain which could provide them
suas possibilidades de
expressão paisagística. and parties, and their complex configu- with a large variety of environments
Burle Marx found in rations and interactions, came later, as – dry and humid, with slopes, hilltops,
the old Sítio Santo a consequence and advantage of the valley floors, sun-exposed or shaded,
Antônio da Bica a space
which offered the right opportunities which the physical space with streams and lakes, with sandy or
conditions to function as
a large laboratory where area provided Burle Marx. And which loamy soil, with rocks as outcrops, boul-
he could experiment he was aware of more than anybody. ders or gravel and everything else which
with possibilities for
landscape expression. What moved him in his desire was a per- could host species of the most varied
com uma grande variedade de ambien-
tes – partes secas e úmidas, em encostas,
cimeiras de morros, fundo de vale, expos-
tas ao sol ou sombreadas, com presença
de água em forma de riachos e lagos,
com solo arenoso ou argiloso, com ro-
chas como afloramentos, matacões ou
cascalho e tudo que pudesse acolher es-
pécies oriundas dos mais variados ecos-
sistemas. Em 1949, após quase um ano
de buscas nos mais diferentes recantos
das imediações do Rio de Janeiro, Sie-
gfried trouxe a notícia de uma área que
se adequava como uma luva a tais pro-
pósitos, uma antiga plantação de café
numa encosta, que parecia preencher
todos os requisitos. Nascia o Sítio Santo
Antônio da Bica. Localizado no morro de
mesmo nome, na Barra de Guaratiba, foi
o ponto de partida para uma empreitada
234

235
ecosystems. In 1949, after almost a year
searching the most diverse corners of
the surroundings of Rio de Janeiro, Sieg-
fried brought news of an area that fit
their purposes like a glove. An old cof-
fee plantation on a hillside seemed to
meet all the requirements. This was the
birth of the Sítio Santo Antônio da Bica.
Located on the hill of the same name, in
Barra da Guaratiba, it was the starting
point for an unprecedented endeavor,
a permanent experience, a constant
search permeating the landscaper’s life.
Without much thought about plant
collecting in the etymological sense of
the term, the two brothers began a task
the dimensions of which they could not
suspect at the time. Burle Marx always
said that if he knew how big it would
become, he might never have started
LANDSCAPING AND BOTANY PAISAGISMO E BOTÂNICA

As viagens de coleta, it. The fact is, the small group of plants projects or art exhibitions. On his trips
dentro e fora do Brasil,
foram um dos muitos in the back garden of the family home he had a rather curious habit: upon his
meios usados por in the neighbourhood of Leme had departure, he would place a suitcase
Roberto Burle Marx
para a formação de sua now gained almost unlimited possi- with clothes and personal belongings
coleção botânica.
bilities for expansion. Until 1994, when inside a larger one, which would invari-
Página seguinte: registro
de uma das expedições he passed away at the age of 85, he ably return packed with seedlings, cut-
de coleta do paisagista.
sought to bring new plants to the Sítio tings and seeds obtained from wherever
Collecting trips, inside and by all means possible, to “increase the he travelled. When visiting a location
outside Brazil, were one
of the many ways used vocabulary available,” as in his work he for the first time, he would enquire
by Roberto Burle Marx to
put together his botanical
considered the plant to play the leading about orchards, commercial nurseries
collection. part in a garden, seconded by a cast in or plant collectors, as he always anx-
Next page: Image of
one of the landscaper’s
which stone, earth and water completed iously sought opportunities for new
collecting expeditions. the compositional idea. It was system- acquisitions through agreements and
atic collecting over 45 years. During exchanges.
this long period, several means were It is interesting to recall how the Sí-
used: collecting trips, exchanges with tio’s plant collections were formed. It is
national and international institutions, a well known fact that the young Ro-
exchanges with other collectors, acqui- berto marveled at the species of Bra-
sitions from nurseries in every place he zilian flora from Adolf Engler’s collec-
visited for work, either conferences, new tions, exhibited in the greenhouses of
inédita, uma experiência permanente, siderava a planta como a atriz prin-
uma busca constante que permeou a cipal dos jardins, secundada por um
vida do paisagista. elenco onde a pedra, a terra, a água
Sem pensar muito em dar início a completavam uma ideia composicional.
uma coleção de plantas, no sentido Foram 45 anos de colecionamento sis-
etimológico do termo, os dois irmãos temático. Durante esse longo período,
iniciaram uma tarefa de cujas dimen- muitos meios foram utilizados: viagens
sões não suspeitaram naquele mo- de coleta, intercâmbios com instituições
mento. Burle Marx dizia sempre que, nacionais e internacionais, trocas com
se soubesse o tamanho que o conjunto outros colecionadores, aquisições em
atingiria, talvez não tivesse se anima- viveiros por todas as partes nas quais
do a começar. O fato é que o diminuto passava a trabalho, seja para realizar
grupo de plantas no quintal da casa conferências, seja para executar no-
da família no bairro do Leme ganhava vos projetos ou expor sua arte. Em suas
agora possibilidades quase ilimitadas viagens, tinha um costume bem curioso:
de expansão. Até 1994, quando faleceu, na ida, colocava a mala com roupas e
aos 85 anos, ele procurou, sob todas as objetos pessoais dentro de uma mala
formas disponíveis, trazer novas plantas maior, que voltava invariavelmente re-
para o sítio, “aumentar o vocabulário pleta de mudas, estacas e sementes
disponível”, pois, em seu trabalho, con- obtidas nos locais por onde passava.
236

237
LANDSCAPING AND BOTANY PAISAGISMO E BOTÂNICA

A visita às estufas de the Dahlem Botanical Garden in Berlin. Calla, among others. His father had al-
plantas tropicais no
Jardim Botânico de His attention was drawn to the exuber- ready brought him several copies of the
Dahlem, em Berlim, ance and beauty of the exhibited plants, German publication Gartenschoenheit
despertou em Burle Marx
o desejo de construir their sculptural forms, structural defi- from Switzerland, which he would later
sua própria coleção
botânica e usar espécies nition, lively colours, the large size of subscribe to. When Burle Marx was still
nativas em seus projetos tropical foliage and the plastic qualities a child, his housekeeper Ana Piasceck
paisagísticos.

Página seguinte: Caladium


that strongly characterise this particular had taught him the magic of sowing, the
hortulanum, espécie que type of vegetation. But the landscaper’s miracle of seedlings emerging from the
Burle Marx desenhava
ainda na juventude. observations went further: he noticed ground, from a small grain he had bur-
The visit to the tropical that this type of flora was disregarded in ied with his own fingers. As such, his pas-
greenhouses in the favour of conventional vegetation, used sion for plants would have started at the
Dahlem Botanical Garden,
in Berlin, inspired Burle to exhaustion in the gardens of the time. age of seven years old.1 However, Berlin
Marx to have his own
botanical collection and Many interpret this fact as the trigger was an important step on his journey. It
use native species in his which awoke in him the decision to build was then that he questioned why these
landscape projects.

Next page: Caladium


a botanical collection. However, even plants were not used in our gardens. It
hortulanum, a species before going to Germany with his family, was then that he became aware of the
that Burle Marx drew in
his youth. he had already expressed an unusual potential of indigenous flora and decid-
interest in the world of plants. Many of ed that our squares and parks should be
his drawings of the period are of plant the expression of a genuinely Brazilian
genera such as Caladium, Anthurium, landscaping. Therefore, nothing would
Quando visitava alguma localidade qualidades plásticas que caracteriza-
pela primeira vez, perguntava se ali vam fortemente aquele tipo especial
existiam hortos, viveiros comerciais ou de vegetação. A observação do pai-
colecionadores de plantas, pois sempre sagista foi mais longe: ele percebeu
buscava ansiosamente oportunidades que aquela flora era desprezada em
para estabelecer acordos e intercâm- favor de uma vegetação convencional,
bios visando a novas aquisições. usada à exaustão nos jardins da épo-
É interessante relembrar como as ca. Muitos interpretam tal fato como
coleções vegetais do sítio se formaram. tendo sido o estopim, o gatilho que lhe
É bastante conhecido o fato de o jovem despertou a decisão de construir uma
Roberto ter se maravilhado com espé- coleção botânica. Mas, antes mesmo
cies da flora brasileira das coleções de de ir para a Alemanha com a família,
Adolf Engler, em exposição nas estufas Burle Marx já havia manifestado seu
do Jardim Botânico de Dahlem, Ber- interesse incomum pelo mundo vegetal.
lim. Sua atenção foi então despertada São dessa época muitos de seus de-
pela exuberância e pela beleza das senhos retratando plantas de gêneros
plantas expostas, pelas formas escul- como Caladium, Anthurium, Calla, entre
tóricas, pela definição estrutural, pelos outras. Seu pai já lhe trouxera da Suíça
vivos coloridos, pelo grande tamanho vários exemplares da publicação alemã
da folhagem tropical, pelo conjunto de Gartenschoenheit, da qual posterior-
238

239
be more appropriate than using the
natural vegetation of our landscapes,
breaking with the European model of
garden-making which was a strong in-
fluence in Brazil, due to the Portuguese,
Spanish and French gardeners who
brought with them a little of the home-
land they had left behind. They planted
begonias, gloxinia and caladium. Roses
and dahlias were also very common.
Native flora was unknown, despised, in
the words of Burle Marx. The rare Bra-
zilian plants which featured in gardens
were ‘imported’ from Europe, where they
had been taken to in the 19 th century
by botanists and collectors who visited
America, among them Carl Friedrich
Philipp von Martius, George Gardner,
Giuseppe Raddi, Johann Christian Mi-
kan, Auguste de Saint-Hilaire and many
Begonia Venosa. mente lhe faria uma assinatura. Muito romper com o modelo europeu de fa-
Página seguinte: Sombral antes, quando Burle Marx ainda era zer jardins, uma forte influência para o
de Begoniaceae.
criança, sua governanta Ana Piasceck Brasil em razão dos jardineiros portu-
Begonia Venosa.
lhe ensinara a magia da semeadura, gueses, espanhóis e franceses que para
Next page: Begoniaceae
shade house. aquele milagre das plântulas surgindo cá trouxeram um pouco de sua pátria
da terra, de um grãozinho que ele ha- deixada para trás. Eles plantavam be-
via enterrado com seus próprios dedos. gônias, gloxínias e tinhorões. Rosas e
Desse modo, sua paixão por plantas dálias também eram muito frequentes.
teria começado ainda com a idade A flora autóctone era desconhecida,
de sete anos.1 Mas Berlim foi uma eta- desprezada, no dizer do paisagista. As
pa importante em sua caminhada. Ali raras plantas brasileiras que figuravam
ele questionou as razões pelas quais nos jardins eram “importadas” da Eu-
aquelas plantas não eram utilizadas ropa, para onde tinham sido levadas
em nossos jardins. Ali ele percebeu o no século XIX pelos botânicos e cole-
potencial da flora indígena e decidiu cionadores que visitaram a América,
que nossas praças e parques deveriam entre eles Carl Friedrich Philipp von
ser a expressão de um paisagismo ge- Martius, George Gardner, Giuseppe
nuinamente brasileiro. E, para tanto, Raddi, Johann Christian Mikan, Auguste
nada mais indicado do que usar a ve- de Saint-Hilaire e muitos outros. Como
getação natural de nossas paisagens, exemplos, as mais variadas buganvílias
LANDSCAPING AND BOTANY PAISAGISMO E BOTÂNICA

others. As examples, the most varied


bougainvillea (Bougainvillea sp.) and
gloxinia (Sinningia sp.) were brought
from European plantations to Brazil,
their original homeland, as if they were
imported novelties.
After his return from Germany, Burle
Marx began his work as a landscaper,
determined to fight for the recognition of
autochthonous flora, which he intended
to use in gardens not due to any sort of
ufanism but a greater landscape coher-
ence as an access to a greater means
of expression, a greater vocabulary. He
sees, as his projects develop, the need to
maintain the garden in close connection
with the surrounding landscape. One
of the simplest ways of achieving this
is obviously by using plants that occur
naturally in the landscape. Until that
240

241
Exemplares de agaves (Bougainvillea sp.) e gloxínias (Sinningia ao ambiente, muitas vezes oriunda de
cultivados no sítio. A
planta fibrosa, de clima sp.) eram trazidas dos cultivos europeus regiões de clima temperado, caracteri-
quente e seco, é nativa,
para o Brasil, sua pátria original, como zava uma interferência, uma imposição
sobretudo, do México.
se fossem novidades importadas. à paisagem, provocando um resultado
Specimens of agaves
grown on the Sítio. This De volta da Alemanha, Burle Marx estético visualmente desvinculado do
fibrous plant, from hot
and dry climates, is native
inicia suas atividades como paisagista, ambiente natural, das vizinhanças.
mostly to Mexico. decidido a lutar pela valorização da Entretanto, Burle Marx encontra sé-
flora autóctone, que pretende utilizar rias dificuldades para a utilização da
em jardins não por uma atitude ufanista, flora autóctone, uma vez que, devido ao
mas por coerência paisagística e como desconhecimento de seu trato cultural e
forma de dispor de mais meios de ex- à falta de aceitação do mercado, já vi-
pressão, de maior vocabulário. Ele per- ciado no elenco convencional (problema
cebe, à medida que vai desenvolvendo que persiste até hoje), esse tipo de planta
seus projetos, a necessidade de man- não era comercializado. Decide, então,
ter o jardim em estreita ligação com a cultivar suas próprias plantas, para não
paisagem circundante. Uma das manei- ficar condicionado à oferta dos estabe-
ras mais simples de lograr esse intento lecimentos comerciais da época.
é, obviamente, utilizando plantas que Em 1934, com 25 anos, Burle Marx
ocorrem naturalmente na paisagem. Até é convidado para o cargo de diretor
então, o uso de uma vegetação estranha de Parques e Jardins do Recife, Per-
LANDSCAPING AND BOTANY PAISAGISMO E BOTÂNICA
nambuco. O governador/interventor
em Pernambuco, Lima Cavalcanti, que
estivera no Rio de Janeiro, havia se
deslumbrado com o jardim da casa da
família Schwartz, na rua Tonelero, em
Copacabana, feito por Burle Marx em
seu primeiro trabalho como profissional.
O convite partira de Lucio Costa, que,
juntamente com o arquiteto russo Gre-
gori Warchavchik, concebera a primeira
casa de inspiração modernista no Rio de
Janeiro, a Casa Nordschild, demolida em
1954. Burle Marx aceita o convite e viaja
para o Nordeste, onde passa a conviver
com a nata da intelectualidade local,
nomes como o antropólogo e sociólogo
Gilberto Freyre, os irmãos e críticos de
arte Clarival e José Antônio do Prado
Valladares, o pintor Cicero Dias, o fu-
turo diplomata Mário Gibson Barboza,
242

243
point, the use of vegetation from outside rector of the Parks and Gardens of Re- No lago próximo
à entrada do sítio,
of the environment, often originating cife, Pernambuco. The governor of Per- um exemplar de
from regions with a temperate climate, nambuco, Lima Cavalcanti, had been Typhonodorum
lindleyanum, também
was regarded as an interference, an amazed by the garden of the Schwartz conhecida como banana
d’água. O modo como
imposition on the landscape, resulting family home on Tonelero Street in Co- a planta se insere nos
in a visual aesthetic detachment from pacabana, Rio, made by Burle Marx projetos de Burle Marx
coloca em evidência seu
the surrounding natural environment. in what it was his first job as a profes- valor escultórico.

However, Burle Marx encountered se- sional. The invitation came from Lucio In the lake near
the entrance to the
rious difficulties in using autochthonous Costa who, together with the Russian Sítio, a specimen
flora, which simply was not commercially architect Gregori Warchavchik, had of Typhonodorum
lindleyanum, also known
available due to a lack of knowledge designed the first modernist inspired as “water banana”. The
way in which the plant
about its adequate care, and a lack of house of Rio de Janeiro, the Casa Nor- fits into Burle Marx’s
acceptance from a market hooked on dschild, demolished in 1954. Burle Marx projects highlights its
sculptural value.
more conventional fare (a problem which accepted the invitation and travelled
persists to this day). He therefore decided to the Northeast, where he mixed with
to plant them himself, in order not to be the (cream) crème de la crème of local
constrained by what commercial estab- intellectuality, such as the anthropolo-
lishments supplied at the time. gist and sociologist Gilberto Freyre, the
In 1934, at the age of 25, Burle Marx brothers and art critics Clarival and
was invited to assume the post of di- José Antônio do Prado Valladares, the
o escritor Graciliano Ramos, os arqui- perceber, ele havia criado seu primeiro
tetos Luiz Nunes e Attílio Correa Lima, jardim público a partir de um engano.
bem como o aglutinador de todos eles, Mas esses jardins encerram um princí-
o poeta e engenheiro Joaquim Cardozo. pio que, sempre em desenvolvimento,
Para o jovem artista, era um enorme permearia toda sua obra posterior: o
desafio. Com formação em pintura na estabelecimento de um critério geográ-
Escola Nacional de Belas Artes do Rio fico2 na escolha do elenco vegetacional.
de Janeiro, ele não estava afeito aos Com efeito, na seção central dos jardins
meios de expressão arquitetônicos. Por para a praça de Casa Forte, que tem um
essa razão, seus projetos iniciais naque- lago circular, Burle Marx restringe suas
la cidade se apresentam não em planta escolhas a plantas oriundas da região
baixa, mas em perspectivas desenha- amazônica, como Euterpe, Phenakos-
das a nanquim. Para sua concepção, permum, Urospatha, Victoria. Circun-
ele se baseia em exemplos dos espelhos dando o lago, um grupo de pau-mulato
d’água do Jardim Botânico de Kew, em (Calycophyllum spruceanum). As mudas
Londres, publicados na citada revista vêm da seção de plantas amazônicas
Gartenschoenheit. Mais tarde, visitando do Jardim Botânico do Rio de Janeiro.
esses jardins, o paisagista se daria con- Se tal critério não pode ser inicial-
ta de que não havia interpretado direito mente caracterizado como ecológico,
as imagens. Ironicamente, sem sequer pelo menos compreende os primeiros
LANDSCAPING AND BOTANY PAISAGISMO E BOTÂNICA

painter Cicero Dias, the future diplomat


Mário Gibson Barboza, the writer Gra-
ciliano Ramos, the architects Luiz Nunes
and Attílio Correa Lima, as well as the
person binding them all, the poet and
engineer Joaquim Cardozo.
For the young artist it was an enor-
mous challenge. Having trained in
painting at the National School of Fine
Arts of Rio de Janeiro, he was not used
to the medium of architectural expres-
sion. For this reason, his early projects
in Rio were presented not as floor plans
but in perspective and drawn in ink. He
had based himself on examples of the
reflecting pools at Kew Gardens in Lon-
don, published in the aforementioned
Gartenschoenheit magazine. Later,
when visiting the gardens, he realised
that he had not correctly interpreted
germes de uma postura de valoriza- genuinamente brasileiro. Outros, mais Projeto de Burle Marx
para jardins de Recife,
ção da flora brasileira que, vinda do conservadores, acusaram o paisagista 1935.
contato permanente com botânicos, de tentar asselvajar a cidade, de querer Página anterior:
exemplares de Nymphaea
geógrafos e ecólogos, levaria o pai- voltar à pré-História em que o homem no lago em frente à Casa
sagista a depurar suas escolhas, pos- vagava, nômade, pelas florestas. de Roberto.

teriormente passando a considerar não No projeto seguinte, o Cactário da Design by Burle Marx for
gardens in Recife, 1935.
apenas as plantas, mas o substrato so- Madalena (praça Euclides da Cunha),
Next page: examples of
bre o qual vivem, suas associações com sai o elenco amazônico e entram em Nymphaea from the lake
in front of the Roberto’s
outras plantas e sua presença, muitas cena espécies da caatinga: manda- house
vezes carismática, nos ambientes em carus (Cereus jamacaru), xiquexiques
que ocorrem. Ele define, assim, opções (Pilosocereus polygonus) e facheiros
claramente emanadas das paisagens (Pilosocereus pachycladus) passam a
em que insere seus projetos, uma pre- ser os atores principais. Ainda prevale-
ocupação com a coerência ecológica ce aqui a ideia de valorização da flora
e com uma forte vinculação plástica brasileira, embora não diretamente vin-
com a paisagem. Segundo seu próprio culada ao ambiente em que se insere
depoimento, houve reações as mais di- o jardim. E surge um problema inédito:
versas. Muitos se empolgaram com a onde encontrar cultivo de plantas tão
novidade, vislumbrando ali uma chan- específicas. Não custa lembrar que a in-
ce para estabelecer um paisagismo fluência, à época, ainda era totalmente
244

245
LANDSCAPING AND BOTANY PAISAGISMO E BOTÂNICA
europeia: nos viveiros, havia apenas as posição no afã de colecionar espécies Projeto de Burle Marx
para jardins de Recife,
rosas, margaridas e dálias de sempre. utilizáveis em projetos de paisagismo. 1935. No projeto, sai
Em resposta nasce, nesse momento, a As excursões ao interior do país foram, o elenco amazônico
e entram em cena
ideia de ir buscar as plantas nos pró- certamente, o mais importante deles, espécies da caatinga:
mandacarus (Cereus
prios locais onde ocorrem. Burle Marx aquele que mais determinou a forma- jamacaru), xiquexiques
estrutura e empreende algumas excur- ção de sua valiosa coleção de plantas (Pilosocereus polygonus)
e facheiros (Pilosocereus
sões, talvez as primeiras profissionais e vivas. Desde então, Burle Marx jamais pachycladus) passam a
ser os atores principais.
de porte mais ambicioso, às regiões de pararia de explorar o interior do Brasil
Burle Marx’s project
caatinga mais próximas. Nesse momen- em busca de novas espécies para uso for gardens in Recife,
to ocorrem os primeiros movimentos re- em paisagismo. 1935. In the project, the
Amazon cast goes out
lacionados com a ideia de coleção, essa Da década seguinte vem o contato and species from the
caatinga come into play:
que seria uma das mais fortes caracte- com o eminente botânico Henrique Lah- mandacarus (Cereus
rísticas de sua concepção paisagística, meyer de Mello Barreto, fundamental jamacaru), xique-xiques
(Pilosocereus polygonus)
uma das marcas mais incontestáveis do em toda essa história, com o qual Burle and blue columnar
cactus (Pilosocereus
trabalho que viria posteriormente, suas Marx se associou ao ser convidado a pachycladus) become
singulares composições vegetais, que, projetar os jardins do Parque de Ara- the leading actors.

além de belíssimas, superam em muito xá, na pequena cidade turística do tri-


a mera preocupação estética. ângulo mineiro. Mello Barreto o leva a
Vimos anteriormente que Burle Marx compreender, a partir de observações
lançou mão de todos os meios à sua dis- de campo, as associações das plantas
246

247
the images. Ironically, his first public contains the germination of a position
garden was based on a misconcep- recognising the value of Brazilian flora
tion. But these gardens were based on which, arising from permanent contact
a principle which, always developing, with botanists, geographers and ecolo-
would permeate all of his later work: gists, would lead the landscaper to re-
the establishment of geographical fine his choices, later considering not
criteria 2 when choosing vegetation. In only plants but the substrate on which
effect, for the central section of the they live, their associations with other
gardens of the square at Casa Forte, plants and their often charismatic pres-
which has a circular lake, Burle Marx ence in the environments in which they
restricts his choice to plants originating occur. He thus defined options that
from the Amazon region, such as the clearly arose from the landscape in
Euterpe, Phenakospermum, Urospatha, which his projects were to be inserted,
and Victoria. Surrounding the lake, a a preoccupation with ecological co-
group of pau-mulato trees (Calycophyl- herence and a strong plastic link with
lum spruceanum). The seedlings came the landscape. According to his own
from the Amazonian plant section of statements, reactions were very diverse.
the Botanical Garden of Rio de Janeiro. Many were excited, envisioning the pos-
If such a criteria cannot initially be sible arrival of a genuinely Brazilian
characterised as ecological, it at least landscaping. Others, who were more
com as rochas, os animais, as outras
plantas. Com ele, Burle Marx aprende
Roberto e sua equipe pegavam a transpor para os jardins os elementos
naturais, associados de acordo com
quase que exclusivamente plantas
seus vínculos ambientais e ecológicos,
na beira das estradas, que são bem como a importância de sua pre-
as primeiras a desaparecer com sença na paisagem.
a utilização das vias, e em matas As viagens, a partir de então, assu-
mexidas ou devastadas, e sempre mem uma conotação muito mais forte
para a coleção do Sítio Santo de estudo e observação paisagística de
campo. As viagens de coleta continu-
Antônio da Bica.
am, mas, agora, além das plantas, são
observadas suas relações ambientais,
Roberto and his team would almost
suas ligações com o meio. As composi-
exclusively collect plants from the roadside,
which are the first to disappear with road use, ções de jardins ganham um caráter de
and from disturbed or devastated woods, maior coerência ecológica, de maior
and always for the collection at Sítio Santo equilíbrio entre os seres e as coisas. E
Antônio da Bica. a coleção segue ganhando corpo, as-
sumindo proporções que exigem maior
NANUZA MENEZES controle, mais dedicação e cuidados.
LANDSCAPING AND BOTANY PAISAGISMO E BOTÂNICA

conservative, accused the landscaper


of trying to make the city more jungle-
like, and of wanting to go back to pre-
history when man wandered nomadi-
cally through the forests.
For his next project, the Cactário da
Madalena (praça Euclides da Cunha),
the Amazonian cast is replaced with
species from the caatinga: mandaca-
rus (Cereus jamacaru), xiquexiques (Pi-
losocereus polygonus) and facheiros (Pi-
losocereus pachycladus) are given the
leading roles. The idea of valuing Brazil-
ian flora still prevails here, although it
is not directly linked to the environment
in which the garden is placed. An un-
precedented problem arises: where can
one find the cultivation of such specific
plants. It is worth recalling that at the
time European influence was still domi-
Com a frequência das viagens, para-
lelamente às novas descobertas, o pai-
sagista começa a perceber que chega
ao interior um “progresso” predador, o
qual encara a natureza como inimiga,
como obstáculo à sua voracidade. A de-
vastação ganha corpo e atinge propor-
ções alarmantes. A transformação dos
ambientes é radical. Nada é poupado. A
pujança da natureza tropical ilude o ho-
mem, que a julga inesgotável. Formações
pouco conhecidas e pouco estudadas
são dizimadas sem maiores escrúpulos,
e espécies endêmicas desaparecem sem
haver tempo sequer para classificá-las. a necessidade de contato permanente
Burle Marx sente a importância de com botânicos. Isso o leva a conviver
preservar, de estudar, de multiplicar e com alguns dos nomes mais ilustres da
perpetuar aquelas espécies ameaça- botânica no Brasil: além de Mello Bar-
das. A partir do trabalho associado com reto, Adolpho Ducke, Luiz Emygdio de
Mello Barreto, tornara-se visível para ele Mello Filho, Graziela Maciel Barroso,
248

249
nant: nurseries had only the usual roses, interior of the country were certainly Anthurium amnicola
(esq.) e Anthurium sp.
daisies and dahlias. In response, the idea of utmost importance, and most de-
Página anterior: estudo
of seeking plants in the places where termined the shaping of his valuable e catalogação de
Philodendrum, cuja
they naturally occur is born. Burle Marx collection of living plants. Since then, coleção é uma das mais
organised and undertook what were Burle Marx never stopped exploring the expressivas no sítio.

perhaps the first professional and more interior of Brazil in search of new species Anthurium amnicola (left)
and Anthurium sp.
ambitious excursions to the nearest caat- to use in landscaping.
Previous page: study
inga regions. This also brought about In the following decade, Burle Marx and cataloging of
Philodendrum, which
the first movements towards the idea of would come into contact with the emi- is one of the most
collecting, which would become one of nent botanist Henrique Lahmeyer de significant collections of
the Sítio.
the strongest features of his landscap- Mello Barreto, an essential part of the
ing concept, and one of the undeniable story, whom he became associated with
hallmarks of his later work: his singular when invited to design the gardens of
plant compositions which, as well as be- the Parque de Araxá in the small tour-
ing beautiful, go much beyond a merely ist town of the mineiro triangle. Mello
aesthetic concern. Barreto led him to understand, based
We previously saw that Burle Marx on field observations, the associations
used every means at his disposal to between plants and rocks, animals and
collect species which could be used in other plants. Burle Marx learnt to trans-
landscaping projects. Excursions to the pose natural elements to his gardens,
Ariane Luna Peixoto, Gustavo Martinelli, mais e assume importância científica
Nanuza Luíza de Menezes, João Semir, significativa. Certos gêneros estão aí
João Geraldo Kuhlman, Apparicio Pe- representados por elevado número de
reira Duarte, entre muitos outros, par- espécies, destacando-se Philodendron,
ticipam da obra paisagística de Burle Anthurium, Heliconia, Vellozia. Em razão
Marx na qualidade de conselheiros e do dinamismo vital das plantas, bem
amigos, discutindo problemas genéricos como das constantes revisões bibliográ-
e específicos, filosóficos e conceituais, ficas, não se sabe ao certo o tamanho
ampliando os horizontes do paisagista desse formidável acervo. Mas se estima
e incentivando nele o conservacionista que tenha entre 3 mil e 4 mil espécies.
que denuncia, com todos os meios de O sítio é um laboratório onde as
que dispõe, o arbítrio e a inconsequência plantas coletadas na natureza são acli-
das intervenções antrópicas na natureza. matadas, multiplicadas e, posteriormen-
A coleta de plantas assume um te, utilizadas em projetos. Assim, plantas
caráter de operação de salvamento. antes desprezadas por preconceituo-
Muitas delas são apanhadas entre tra- sa avaliação de seu valor ornamental
tores e incêndios. Levadas para o sítio, passam a ser utilizadas nos jardins, vi-
são multiplicadas e passam a integrar ram moda, e sua comercialização se
os jardins. Com a coleta sistemática e generaliza. Burle Marx dizia que não
intensificada, a coleção cresce ainda existem plantas bonitas ou feias, todas
LANDSCAPING AND BOTANY PAISAGISMO E BOTÂNICA

with associations according to their


environmental and ecological links, as
well as the importance of their presence
in the landscape.
His trips from then on have a much
stronger connotation of landscape field
study and observation. Collection trips
continued, but now, as well as plants,
their environmental relationships and
connections to their surroundings are
observed. The compositions of the gar-
dens gain greater ecological coherence
and a greater balance between beings
and things. The collection continues to
grow, taking on proportions requiring
greater control, dedication and care.
With the frequency of these trips, in
parallel with new discoveries, the land-
scaper began to realise that a predato-
ry ‘progress’ was arriving in the interior,
250

251
which viewed nature as an enemy, as an dition to Mello Barreto, Adolpho Ducke, Entre as cerca de 3 mil e
4 mil espécies cultivadas
obstacle to its voracity. Devastation was Luiz Emygdio de Mello Filho, Graziela no sítio, destacam-se as
reaching alarming proportions. There Maciel Barroso, Ariane Luna Peixoto, helicônias, apreciadas
por Burle Marx.
was a radical transformation of environ- Gustavo Martinelli, Nanuza Luíza de Em sentido horário,
ments. Nothing was spared. The strength Menezes, João Semir, João Geraldo helicônia híbrida de
Heliconia psittacorum e
of tropical nature deceives man who Kuhlman, Apparicio Pereira Duarte, Heliconia spathocircinata,
Heliconia vellerigera e
judges it inexhaustible. Little known and among many others, who participated Heliconia sp.
little studied formations are decimated in the landscaping work of Burle Marx Página anterior:
without scruples, and endemic species as advisors and friends, discussing Heliconia burle-marxii:
helicônia que recebe o
disappear before there is even time to generic and specific, conceptual and nome de Burle Marx como
homenagem.
classify them. philosophical problems, broadening the
Among approximately
Burle Marx is aware of the impor- landscaper’s horizons and encouraging 3,000 and 4,000 species
tance of preserving, studying, multiply- the conservationist in him to denounce, grown in the Sítio,
heliconias, admired by
ing and perpetuating those threatened with all the means at his disposal, the Burle Marx, stand out.
Clockwise, Hybrid of
species. From his work with Mello Bar- arbitrariness and thoughtlessness of Heliconia psittacorum and
reto, the need became visible to him anthropic interventions in nature. Heliconia spathocircinata,
Heliconia vellerigera
for permanent contact with botanists. The collecting of plants takes on the and Heliconia sp.

This led him to meet and become an character of a rescue operation. Many Previous page: Heliconia
burle-marxii: heliconia
acquaintance of some of the most illus- are caught between tractors and fires. named after Burle Marx as
trious names of botany in Brazil: in ad- Taken to the Sítio, they multiply and a tribute to him.
produzem seus efeitos estéticos quando
bem relacionadas umas com as outras.
Várias plantas coletadas em viagens
foram objeto de descrição pelos botâ­
nicos, sendo classificadas como espécies
novas, até então desconhecidas da ciên-
cia, e levaram o nome de seu descobri-
dor ou outros nomes por ele sugeridos.
O prestígio da coleção ultrapassou as
fronteiras do país, despertando a ad-
miração de botânicos, de técnicos e do
público de todas as partes do mundo,
que frequentemente a visitam.
A distribuição dessas plantas no es-
paço do sítio não segue, como se pode-
ria supor, um critério sistemático, tendo
sido dispostas de acordo com os princí-
pios em que se baseava o paisagista na
concepção e composição dos jardins. Se
sua distribuição atendia também a ne-
LANDSCAPING AND BOTANY PAISAGISMO E BOTÂNICA

become part of the gardens. Through


systematic and intensified collecting, the
collection grows larger and becomes of
significant scientific importance. Certain
genera are represented by a large num-
ber of species, such as Philodendron,
Anthurium, Heliconia, and Vellozia. Due
to the vital dynamism of the plants as
well as constant bibliographic reviews,
the exact size of this formidable col-
lection is unknown, but is estimated at
between 3,000 and 4,000 species.
The Sítio is a laboratory where plants
collected in nature are acclimatised,
multiplied and later used in projects.
Thus plants previously disregarded be-
cause of a prejudiced evaluation of their
ornamental value become used in gar-
dens, then fashionable, and their com-
mercialisation becomes widespread.
cessidades estéticas, levando em conta princípios que norteavam Burle Marx ao Lançando mão de opções
claramente emanadas
volume, associações naturais, floração, conceber um jardim: o visitante podia das paisagens em que se
forma, em resumo, as características pe- observar claramente as intenções do inserem os seus projetos,
Burle Marx tinha uma
culiares a cada espécie, tal preocupação plantio, a busca de um relacionamento preocupação com a
coerência ecológica e
foi se perdendo, conscientemente, pela com a arquitetura, a manutenção do ca- com uma forte vinculação
necessidade de espaço físico em razão ráter das associações naturais. O pai- plástica com a paisagem.
Corypha umbraculifera
do constante incremento de exemplares. sagista afirmava que “fazer jardins não em frente ao edifício da
administração
Mas algumas plantas agrupadas for- é imitar servilmente a natureza” e que
Página anterior:
mam grandes volumes, e sua presença “jardim é obra feita pelo homem e para Eucalyptus deglupta
(eucaliptos arco-íris).
é acentuada nos períodos de floração o homem”, reforçando seu conceito da
ou quando caem as folhas. Outras, iso- artificialidade que envolve a arte pai- Choosing options that
clearly emanated
ladas, mantêm as linhas de perspectivas sagística. Ele achava que o jardim não from the landscapes in
which his projects are
favorecendo e destacando suas quali- deveria copiar ou espelhar a natureza, inserted, Burle Marx
dades escultóricas. Há ainda associa- que esta age por seus próprios cami- was concerned with
ecological coherence
ções em que foi considerada a simulta- nhos, independente de conceitos huma- and with a strong plastic
connection with the
neidade de florações, a convergência nos. 3 Mas também dizia que a natureza landscape. Corypha
de formas ou o aspecto biogeográfico. oferece sugestões e oportunidades a umbraculifera in front
of the administration
Essa composição fez com que o sítio serem reinterpretadas – e acentuava building.

se transformasse, durante determinado esse termo – nas composições vegetais Previos page: Eucalyptus
deglupta (rainbow
período, num conjunto de exemplos dos e de materiais construtivos. Assim, por eucalyptus).

252

253
Burle Marx used to say that there are
no beautiful or ugly plants, all produce
their aesthetic effects when they are well
related to each other.
Many of the plants collected on the
trips were described by botanists, clas-
sified as new species hitherto unknown
to science, and named after their dis-
coverer or given other names suggested
by him. The collection’s prestige became
known beyond the country’s borders,
drawing the admiration of botanists,
technicians and the public from all parts
of the world, who frequently visited.
The distribution of the plants on the
Sítio does not follow, as one might sup-
pose, a systematic criteria, having been
arranged according to the principles on
which the landscaper based the con-
ception and composition of his gardens.
exemplo, uma vereda em que os buritis exigida como condição para poder aco-
(Mauritia flexuosa) sobressaem altanei- lher plantas oriundas dos mais diversos
ros indica que renques dessa palmeira ecossistemas, foi sendo preenchida ao
podem ser o pano de fundo e os limita- longo da vida do sítio. Hoje a instituição
dores de um espaço construído. Não se conta com 14 mil m² de sombrais,4 abri-
trata de imitar, mas de observar poten- gando, entre muitas outras, expressivas
ciais, de aproveitar sutis sugestões que coleções de aráceas, em especial dos
se imbricam nas formações naturais e gêneros Philodendron e Anthurium. Inú-
que, segundo Burle Marx, estão por toda meros lagos acolhem plantas aquáticas
parte. Para tanto, há que educar o olhar. do Pantanal e da Amazônia e muitas
E ele fez isso a vida inteira, incansável. outras espécies exóticas. Pelas encostas
Com o aumento sistemático da cole- e fundos de vale distribuem-se palmei-
ção, essa disposição paisagística no sítio ras, em grande parte espécies brasi-
foi gradativamente sacrificada, os jar- leiras, mas também algumas espécies
dins foram sendo substituídos por con- importadas. Nos arredores da pequena
juntos de enorme diversidade de espé- capela e da residência do paisagista
cies, ficando mais difícil manter apenas está a parte mais ensolarada do sítio,
os aspectos estéticos para a distribui- recoberta com plantas de locais mais
ção das plantas. Dessa forma, a grande secos, como Agave, Furcraea, algumas
variedade de ambientes, inicialmente espécies de bromélias e muitas outras
LANDSCAPING AND BOTANY PAISAGISMO E BOTÂNICA

If their distribution also responded to ciples which guided Burle Marx when
aesthetic needs, taking into account vol- designing a garden: the visitor could
ume, natural associations, blossoming, clearly recognise the intentions behind
form, in short the specific characteristics the planting, the search for a relation-
of each species, such a concern was ship with architecture, the preservation
lost, consciously, in favour of the need of the character of natural associations.
for physical space due to the constant Burle Marx would say: “to make gardens
increase of specimens. Some plants in is not to make a servile imitation of na-
clusters form large volumes, and their ture,” and that “the garden is a work
presence is emphasised when flowering made by man and for man,” emphasising
or when leaves fall. Others are isolated, his concept of the artificiality involved
maintaining their lines of perspective in landscape art. He believed that the
and showing off their sculptural quali- garden should not copy or mirror nature,
ties. There are also other associations which acts on its own accord regardless
in which the simultaneity of blossom- of human concepts. 3 But he also said
ing, the convergence of forms, or their that nature offered suggestions and op-
biogeographic aspect was considered. portunities for reinterpretation – a term
This composition meant that the Sítio he stressed – in compositions of plants
would transform, during a certain pe- and constructive materials. Thus, for ex-
riod, into a set of examples of the prin- ample, a path along which towering bu-
254

255
riti palms (Mauritia flexuosa) stand out out the life of the Sítio. Today the insti- Vista da varanda frontal
da Casa de Roberto, com
indicates that the lines of palms can act tution has 14,000m 2 of shades,4 hous- destaque para a
as a backdrop as well as the boundaries ing – among many others – substantial Alcantarea imperialis e
palmeiras.
of a built space. It is not about imitating, collections of araceae, especially of the
View from the front
but observing potential, of making use of Philodendron and Anthurium genera. Nu- veranda of the Roberto’s
House, featuring the
the subtle suggestions interwoven with merous lakes are home to aquatic plants Alcantarea imperialis
natural formations which, according to from Pantanal and Amazonia, and many and palm trees.

Burle Marx, are everywhere. To do so, other exotic species. On the slopes and
one must train the eye. He did so his valley bottoms there are palm trees,
entire life, tirelessly. mostly of the Brazilian variety, but also
With the systematic increase of the some imported species. The surroundings
collection, the scenic layout was gradu- of the small chapel and residence are
ally sacrificed, the gardens were substi- the sunnier part of the Sítio, covered with
tuted for enormously diverse sets of spe- plants from drier places such as Agave,
cies, making it more difficult to maintain Furcraea, some bromeliad species and
the purely aesthetic aspect of the plants’ many others collected in fields and rocky
distribution. As such, the large variety outcrops, on the tops of mountains and
of environments, initially required as a drier parts such as the caatingas, cer-
condition for receiving plants from very rados or savannas of South America. In
diverse ecosystems, were filled through- the humid parts, there are collections
LANDSCAPING AND BOTANY PAISAGISMO E BOTÂNICA
recolhidas em campos e afloramen- Com a evolução da coleção não é Detalhe do afloramento
rochoso e do lago em
tos rupestres, no topo das montanhas, mais possível considerar alguns espaços frente à Casa de Roberto.
nas partes mais secas como caatingas, como sendo jardins; com exceção do Página anterior: Jardim da
Casa de Roberto, com
cerrados ou savanas da América do platô em frente à residência e à igreja, destaque para Deuterocohnia
Sul. Nas baixadas úmidas, coleções de de alguns canteiros ao redor do ateliê e meziana, a bromélia de
galho, em primeiro plano;
plantas latifoliadas como helicônias, dos lagos da entrada do sítio, torna-se e Congea tormentosa, ao
fundo à direita.
marantáceas, piperáceas e outras ori- muito difícil delimitar o que deve ser pre-
ginárias dos sub-bosques da Amazô- servado como jardim e onde e quando Detail of rocky outcrop
and lake in front of the
nia e da Mata Atlântica. E o que antes, deve ser previsto o aumento natural das Roberto’s House.

originalmente, eram plantios de café coleções, com réplicas, duplicatas de Previous page: Garden of
the Roberto’s House,
hoje é uma exuberante floresta hete- segurança, experimentos relacionados featuring the
Deuterocohnia meziana,
rogênea, que reúne árvores das mais com a variação das condições físicas bromeliads on a branch
distintas procedências, estabelecendo e todos os outros fatores que podem in the foreground, and
Congea tormentosa
um ecossistema inteiramente artificial, afetar a sobrevivência de seres vivos. background right.

porém com a coerência paisagística que As proporções assumidas criaram


foi uma preocupação permanente de sérias dificuldades de manutenção. A
Burle Marx, a colocação em prática de saúde das plantas, por exemplo, exige
todos os princípios e de toda a filosofia um fitossanitarista contratado em tempo
que, ao longo de sua vida, ele estabe- integral. As moléstias e pragas, abun-
leceu como forma de expressão. dantes nos ambientes tropicais, cobram
256

257
um grande tributo pelo seu combate. A so seu desejo de que ali se instalasse um
mão de obra, difícil pela falta de for- centro de pesquisas relacionadas com
mação especializada no país, também paisagismo e conservação ambiental.
concorreu para dificultar a manutenção. Burle Marx faleceu em 1994, no dia 4
Com as crises por que o país passou de junho, curiosamente na semana do
nas últimas décadas, sublinhadas pela meio ambiente (Decreto n. 86.028, de 27
constante instabilidade econômica, de maio de 1981).
tornou-se muito difícil a conservação Sob a administração do Iphan, o
de tal patrimônio com recursos próprios. sítio é hoje uma instituição cujos obje-
Em 1985, preocupado com o destino que tivos, claramente definidos no docu-
o formidável acervo pudesse ter após mento de doação, incluem pesquisa e
sua morte, Burle Marx tomou a decisão estudos nas áreas de paisagismo, bo-
de garantir sua perenidade. Para tanto, tânica, horticultura e afins. Aberto à
indenizou seu irmão e sócio Siegfried visitação pública, acolhe também es-
por sua participação na construção colas e estudantes de todos os níveis
e manutenção da área e das plantas para aulas, desenvolvimento de teses e
e doou imóvel, benfeitorias e acervos de textos acadêmicos, experimentos di-
para a Fundação Nacional Pró-Memó- versos e demais atividades didáticas. É,
ria, 5 do Ministério da Cultura do Brasil. ainda, ponto de passagem obrigatório
Na escritura de doação, deixou expres- para aqueles que pretendem conhecer
LANDSCAPING AND BOTANY PAISAGISMO E BOTÂNICA

of broad-leaved plants such as helico-


nia, marantaceae, piperaceae and oth-
ers originating from the undergrowth
of Amazonia and the Atlantic Forest.
What previously was coffee plantations
is today lush and heterogeneous forest
bringing together trees of very different
origins, forming a completely artificial
ecosystem, albeit with the landscaping
coherence which was a permanent con-
cern for Burle Marx, putting into practice
all the principles and philosophy which
he established, throughout his life, as a
form of expression.
As the collection evolved, it was no
longer possible to consider some spaces
as gardens; with the exception of the pla-
teau in front of the residence and church,
a few flower beds surrounding the stu-
dio and two lakes at the entrance of the
258

259
Sítio, it is quite difficult to define what conservation of this heritage has become Ficus drupacea
próximo ao edifício da
should be preserved as a garden, and very difficult to achieve through its own administração.
where and when the natural growth of resources. In 1985, Burle Marx, concerned Página anterior: aberto à
visitação pública, o sítio
the collection should be envisaged, with about the future of this formidable ar- acolhe também escolas
replicas, safety duplicates, experiments chive after his death, decided to ensure e estudantes de todos
os níveis para aulas,
relating to the variation of physical con- its perpetuity. He compensated his brother desen­volvimento de teses
e de textos acadêmicos,
ditions, and all the other factors which and associate Siegfried for his participa- experimentos diversos
can affect the survival of living things. tion in building and maintaining the area e demais atividades
didáticas.
The proportions reached have cre- and plants, and donated the property, im-
Ficus drupacea near the
ated serious maintenance difficulties. provements and collection to Fundação administration building
The health of the plants, for example, Nacional Pró-Memória,5 of the Ministry of Previous page: open to
public visitation, the Sítio
requires a full-time phytosanitary con- Culture of Brazil. In the deed of donation, also hosts schools and
tractor. Fighting diseases and pests, which he expressed his wish that a landscaping students of all levels for
classes, development
are abundant in tropical environments, and environmental conservation research of academic theses
and texts, diverse
incurs a high cost. Labour, complicated centre should be set up there. Burle Marx experiments and other
by the lack of specialised training in the passed away in 1994, on the 4th of June, didactic activities.

country, has also added to the difficul- curiously during environment week (De-
ties of maintenance. With the crises and cree No. 86,028, May 27, 1981).
constant economic instability the country Under Iphan’s administration, the
has undergone over the last decades, the Sítio is today an institution whose ob-
LANDSCAPING AND BOTANY PAISAGISMO E BOTÂNICA

Burle Marx entre os jectives, clearly defined in the donation nature, a set of tensions and relations
galhos da Congea
tormentosa no jardim em document, include research and study in have been established which include
frente a sua casa. the areas of landscaping, botany, hor- competition for space, water and light.
Página seguinte:
Philodendron grazielii,
ticulture and others. It is open to the Some of these plants adapt well and
a planta leva o nome public and hosts schools and students dominate others, affect their perma-
de Graziela Barroso,
botânica brasileira, of all levels for classes, the development nence, survival and consolidation, or
também homenageada
em um dos sombrais
of thesis and academic texts, various even eliminate them. This is an example
do sítio (acima), e experiments and other didactic activi- of how preservation, here, is far more
Alcantarea glaziouana.
ties. It is also a mandatory waypoint for complicated than that of buildings,
Burle Marx among the
branches of the Congea anyone wanting to see tropical flora, monuments or other artworks in gener-
tormentosa in the garden especially of native Brazilian origin, as al, whose protocols are clearly defined.
in front of his house.

Next page: Philodendron


the most important living collection of Of all these types of heritage, only the
grazielii, plant named some of the plant families in existence. living plant collection is not inert; it is
after Graziela Barroso, a
Brazilian botanist. One of In heritage terms, the maintenance dynamic and often implies the sacrifice
the Sítio’s shade houses is
also named after her.
of living collections is complex. From an of one of its parts for the sake of an-
ecological point of view, by concentrat- other. This requires immense precaution
ing a collection of plants originating and strategy. For example, the planting
from the most diverse environments, na- of duplicates and the translocation of
tive and exotic, acquired in commercial specimens which, due to the growth of
establishments or simply collected in neighbouring plants, would be affected
a flora tropical, em especial a autócto- vação, aqui, é muito mais complicada
ne do Brasil, por ser a mais importante do que quando se trata de edifícios,
coleção viva de algumas das famílias monumentos ou obras de arte em ge-
de plantas ali existentes. ral, cujos protocolos de preservação
Em termos patrimoniais, a manuten- estão claramente definidos. Entre to-
ção de acervos vivos é complexa. Do dos esses patrimônios, a coleção viva
ponto de vista ecológico, quando se de plantas é o único que não é inerte,
concentrou uma coleção de plantas que tem dinamismo e implica, muitas
oriundas dos mais diversos ambientes, vezes, decidir o sacrifício de uma de
nativas e exóticas, adquiridas em es- suas partes em benefício de outra. E exi-
tabelecimentos comerciais ou simples- ge muita precaução e estratégia. Como,
mente coletadas na natureza, foram por exemplo, o plantio de duplicatas
estabelecidas relações e tensões que e a translocação de exemplares que,
incluem a competição pelo espaço, com o crescimento das plantas vizinhas,
pela água, pela luz. Algumas dessas passaram a sentir falta do sol e da luz.
plantas se adaptam melhor e podem Há que se considerar também as mor-
dominar as outras, prejudicar sua per- tes, naturais ou acidentais, provocadas,
manência, sua sobrevivência e sua con- por exemplo, por agentes patógenos ou
solidação ou até mesmo eliminá-las. por uma ventania anormal. De acordo
Esse fato é exemplar de como a preser- com as orientações do corpo técnico,
260

261

Impressionava-me a sua extraor­


dinária memória. Andávamos por
todo o sítio no meio das coleções de
aráveas (principalmente filodendrons
e antúrios), de bromeliáceas (…) e
tantas outras plantas ornamentais
e árvores magníficas. E ele sabia o
nome científico de quase todas!

I was impressed by his extraordinary memory. We


walked all around the Sítio among the collections
of araceae (mainly philodendron and anthurium),
of bromeliaceae (…) and so many other wonderful
ornamental plants and trees. And he knew the
scientific names to almost all of them!

NANUZA MENEZES
de conselhos, sociedades de amigos, despertar nossas emoções, se souber-
instituições congêneres e consultores mos observar. A esse respeito, é digno
especializados, a instituição vai gra- de menção o plantio da palmeira-do-
dativamente estabelecendo os proto- -ceilão (Corypha sp.), que floresce ape-
colos necessários a uma preservação nas uma vez, entre os quarenta e os ses-
eficiente desse formidável patrimônio. senta anos de idade. Burle Marx dizia
É possível que, ao iniciar sua cole- aos visitantes: “Plantei para que outros
ção de plantas, Burle Marx jamais tenha pudessem ver, já que há muitos anos
imaginado que ela pudesse atingir esse alguém plantou para que eu visse”. A
porte. É provável que ele nem tenha se palmeira floresceu logo após sua morte.
preocupado com isso. Com mais de oi- Mas a floração é, segundo o pen-
tenta anos de idade, ainda realizava samento de Burle Marx, apenas uma
excursões de coleta com o mesmo entu- etapa, entre tantas outras, cada qual
siasmo e curiosidade com que começou. em seu momento, com sua beleza espe-
Semeou plantas que levarão algumas cial. Por ter percebido isso desde seus
dezenas de anos para chegar ao está- primeiros contatos com a natureza, o
gio adulto, ensinando-nos que a beleza paisagista abriu um novo caminho na
da planta está também no seu desen- concepção de áreas verdes, ao mes-
volvimento, que cada estágio do ciclo mo tempo que lutava de forma quase
vital encerra qualidades capazes de pioneira pela valorização e utilização
LANDSCAPING AND BOTANY PAISAGISMO E BOTÂNICA

by the lack of sunlight. One must also in its development, that each stage of
consider deaths, natural or accidental, the life cycle has qualities which can
caused, for example, by pathogens or stir our emotions, if we are observant.
abnormal windstorms. Through guid- In this respect, one should mention the
ance from a technical body, councils, ceylon palm (Corypha sp.), which flowers
friendly societies, peer institutions and only once between the ages of 40 and
specialised consultants, the institution 60 years old. Burle Marx would tell visi-
has gradually established the necessary tors: ‘I planted it so others could see it,
protocols for the efficient preservation since many years ago somebody planted
of this formidable heritage. one for me to see’. The palm blossomed
It is possible that, when he began his shortly after his death.
plant collection, Burle Marx never imag- However, the blossoming is, accord-
ined it could grow to this size. It is likely ing to Burle Marx, just one stage among
that it never really worried him. Into his many, each with its own moment and its
80s he was still going on collecting ex- own special beauty. Having realised this
cursions with the same enthusiasm and from his first encounters with nature, the
curiosity as when he began. He sowed landscaper opened a new path in the
plants that would take several decades conception of green areas, while at the
to reach their adult stage, teaching us same time pioneering the fight for the
that the beauty of the plant also lies recognition and use of native flora, a ro-
da flora autóctone, um vigoroso marco eram o sonho, o desejo e a realização
na conscientização da necessidade de desse extraordinário artista.
preservação ambiental.
Esse caminho só foi possível graças
* José Tabacow Arquiteto e urbanista, FAU-UFRJ (1968),
ao sítio, que, hoje, mais do que nun- especialista em ecologia e recursos naturais, UFES (1991),
doutor em geografia, IGEO-UFRJ (2002). Sócio e coautor
ca, é o resultado de suas experiências, do escritório de Roberto Burle Marx (1965-1982). Autor
dos livros A vida dos morcegos (Nobel, 2002) e Roberto
de seus erros, de seus anseios, de seu Burle Marx – Arte & paisagem (Nobel, 2004). Diretor do
exemplo e, sobretudo, de sua curiosi- Museu de Biologia Professor Mello Leitão (Iphan, 1985-
1992) e do Sítio Roberto Burle Marx (Iphan, 1994-1995).
dade. Conhecê-lo é descobrir o amor,
o entusiasmo e a honestidade com que NOTAS
Burle Marx se entregou, durante quase 1 Conrad Hamerman, “Roberto Burle Marx: the last
interview”, The Journal of Decorative and Propaganda
toda a vida, à sua construção. Arts, Miami, v. 21, 1995.
Essa obra, agora com o nome Sítio 2 Alguns autores apontam tal critério como “ecológi-
co”, palavra aqui inadequada porque as espécies eram
Roberto Burle Marx, continua preserva- amazônicas, em área de ocorrência da floresta atlântica.
da tal como seu criador a deixou. As Daí a escolha do termo “geográfico”, que é mais genérico.

coleções e os acervos, em geral, estão 3 Lauro Cavalcanti e Farès el-Dahdah (orgs.), Roberto
Burle Marx, 100 Anos: a permanência do instável, Rio
sob permanente processo de registro e de Janeiro, Rocco, 2009.

conservação, dentro das normas e dis- 4 Estruturas especiais para proporcionar sombra a
espécies dos sub-bosques.
posições definidas para conservação
5 Atualmente, Instituto do Patrimônio Histórico e Artís-
de acervos científicos e artísticos. Como tico Nacional (Iphan).

262

263
bust milestone in the creation of aware-
ness of environmental preservation. * José Tabacow Architect and Urbanist (FAU-UFRJ,
1968), Specialist in Ecology and Natural Resources
(UFES, 1991), Doctorate in Geography (IGEO-UFRJ, 2002).
This path was only possible thanks to
Partner and co-author at Roberto Burle Marx’s office
the Sítio which, today more than ever, is (1965-1982). Author of A vida dos morcegos (Nobel,
2002) and Roberto Burle Marx – Arte & Paisagem (No-
the result of his experience, his mistakes, bel, 2004). Director of the Prof. Mello Leitão Museum
of Biology (Iphan, 1985-1992) and of the Sítio Roberto
his desires, his example, and overall,
Burle Marx (Iphan, 1994-1995).
his curiosity. To know it is to discover
the love, enthusiasm and honesty which ENDNOTES
Burle Marx dedicated, during almost his 1 Conrad Hamerman, “Roberto Burle Marx: the last
interview”, The Journal of Decorative and Propaganda
entire life, to its construction. Arts, Miami, v. 21, 1995.
This work, which now carries the 2 Some authors define this criterion as “ecological”,
an inadequate term, as the specimens used here were
name Sítio Roberto Burle Marx, contin- Amazonian, in an area of Atlantic Forest. Hence the
ues to be preserved just as its creator choice of the term “geographical”, which is more generic.
3 Lauro Cavalcanti and Farès el-Dahdah (orgs.), Ro-
left it. The collections and archives, in
berto Burle Marx, 100 Anos: a permanência do instável,
general, are under a permanent process Rio de Janeiro, Rocco, 2009.

of registration and conservation, within 4 Special structures for providing shade to undergrowth
species.
the norms and provisions set out for the
5 Currently, the National Institute of Historic and Artistic
conservation of scientific and artistic Heritage (Iphan).

collections. As was dreamt, desired and


realised by this extraordinary artist.
ROBERTO
BURLE MARX
– PRINCIPAIS
PROJETOS
ROBERTO BURLE MARX
– MAIN PROJECTS
Roberto Burle Marx nasce dia 4 de Janeiro. É no Leme, bairro à época bu-
agosto de 1909, na capital paulista. É cólico e ainda coberto por mata de ve-
o quarto filho de uma família de seis getação nativa, que a família passa a
irmãos. Em 1895, o pai, o alemão Wi- residir e onde Burle Marx, então com
lhelm Marx, havia chegado ao país e sete anos, inicia sua coleção de plantas,
se estabelecido no Recife, onde traba- além de cuidar de um canteiro e mon-
lhou como gerente em um curtume e se tar seu próprio ateliê. Essas primeiras
casou, em 1900, com a pernambucana experiências com jardinagem são in-
de origem francesa e holandesa Cecília centivadas pela mãe, que tem o hábito
Burle. No ano seguinte, o casal muda- de cultivar um jardim, e pelo pai, que
-se para São Paulo, onde Wilhelm abre assina revistas estrangeiras de jardina-
negócio próprio no ramo de couros. Em gem e cultivo de plantas.
1913, a família se estabelece no Rio de Em 1928, Burle Marx viaja com a fa-
mília para a Alemanha, devido à ne-
cessidade de tratamento especializado
para um problema de visão. Em Berlim,

Roberto
que vive o florescimento cultural da Re-
pública de Weimar, visita exposições,

Burle Marx
frequenta concertos, vai a teatros de
ópera e trava contato com a obra de
ROBERTO BURLE MARX – MAIN PROJECTS ROBERTO BURLE MARX – PRINCIPAIS PROJETOS

Roberto Burle Marx was born on the 4th father, who receives gardening and
of August 1909, in São Paulo. He was the plant growing magazines from abroad.
fourth child among six siblings. In 1895, In 1928, Burle Marx travels with his
Roberto’s German father, Wilhelm Marx, family to Germany for specialised treat-
arrived and settled in Recife, found work ment for a problem with his vision. In
as a manager at a tannery and in 1900 Berlin, which is experiencing the cultur-
married Cecília Burle, a woman from al flourishing of the Weimar Republic,
Pernambuco of French and Dutch origin. he visits exhibitions, goes to concerts,
The following year, the couple moved opera theatres, and comes into con-
to São Paulo, where Wilhelm opened tact with the works of artists such as
a leather business. In 1913 the family Paul Cézanne, Henri Matisse, Georges
moved to Leme, at the time a bucolic Braque, Paul Klee, Pablo Picasso and
neighbourhood of Rio de Janeiro City Vincent van Gogh. In the Dahlem Bo-
still covered by native vegetation, and tanical Garden, he sees various species
where Burle Marx, then 7 years old, be- of Brazilian plants. The first sketches of
gan his plant collection, as well as car- landscapes and observation drawings
ing for a flowerbed and setting up his of gardens, flowers, the city and pas-
own studio. These first experiences in the sersby date from this period. Throughout
garden are encouraged by his mother, his life, Burle Marx would often men-
who does some gardening, and by his tion the importance of his experience of
artistas como Paul Cézanne, Henri Ma- pintura. Em 1944, participa da Exhibi-
tisse, Georges Braque, Paul Klee, Pablo tion of Modern Brazilian Paintings, na
Picasso e Vincent van Gogh. No Jardim Burlington House, da Royal Academy
Botânico de Dahlem, entra em contato of Arts de Londres, que reuniu cerca
com diversas espécies de plantas bra- de 70 artistas e 160 trabalhos. Em 1951,
sileiras. Datam dessa época os primei- participa da I Bienal de São Paulo e,
ros esboços paisagísticos e desenhos no ano seguinte, realiza, no Museu de
de observação em que registra jardins Arte de São Paulo Assis Chateaubriand
e flores, a cidade e os transeuntes. Ao (Masp), a primeira exposição que inclui
longo da vida, Burle Marx menciona- seus projetos paisagísticos.
ria muitas vezes a importância da ex- É também a convite de Lucio Costa
periência com a vegetação brasileira que Burle Marx realiza seus primeiros
em solo alemão para sua formação e projetos: o jardim da residência da fa-
atuação profissionais. mília Schwartz, em Copacabana, em
De volta ao Brasil, em 1929, matricu- 1932, e o jardim de Ronan Borges, em
la-se no curso de arquitetura da Esco- 1933. A repercussão dos projetos ini-
la Nacional de Belas Artes e é poste- ciais resulta no convite para assumir o
riormente convencido por Lucio Costa, cargo de diretor de Parques e Jardins
seu vizinho e, à época, diretor da insti- do Recife, onde, entre 1934 e 1937, tem
tuição, a se transferir para o curso de a oportunidade de projetar seus pri-
276

277
Brazilian vegetation on German soil to projects: the garden of the Schwartz
his professional training and practice. family residence in Copacabana, in 1932,
Back in Brazil, in 1929, he enrolled on and the garden of Ronan Borges, in 1933.
the architecture course at the National The impact of these initial projects re-
School of Fine Arts, and was later con- sulted in an invitation to assume the post
vinced by Lucio Costa, his neighbour and of director of the Parks and Gardens of
at the time the director of the institution, Recife, where between 1934 and 1937 he
to transfer to the painting course. In 1944, could design his first public gardens. In
his work was featured in the Exhibition 1943, his landscape projects were part
of Modern Brazilian Paintings at Burl- of the Brazil Builds: Architecture New
ington House, at the Royal Academy of and Old, 1652-1942 exhibition, alongside
Arts in London, which brought together works by Lucio Costa and Oscar Nie-
160 works by nearly 70 artists. In 1951, he meyer, held at the Museum of Modern
took part in the 1st São Paulo Biennial, Art in New York (MoMA). In 1953, he was
and the following year an exhibition at awarded a prize for the residence of
the Museum of Art of São Paulo Assis Odette Monteiro at the 1st International
Chateaubriand (MASP) was the first to Exhibition of Architecture of the 2nd São
include his landscape projects. Paulo Biennale. In 1991, there was a large
It was also at the invitation of Lucio retrospective exhibition titled Roberto
Costa that Burle Marx undertook his first Burle Marx: the Unnatural Art of the Gar-
meiros jardins públicos. Em 1943, seus Guilherme Siegfried Marx, seu irmão
projetos paisagísticos integram, ao lado mais novo, sócio e administrador do es-
de trabalhos de Lucio Costa e Oscar critório Burle Marx & Cia., com o objetivo
Niemeyer, a exposição Brazil Builds: Ar- de abrigar sua coleção botânica e de-
chitecture New and Old, 1652-1942, no senvolver os estudos necessários para
Museu de Arte Moderna de Nova York aplicá-la nos projetos paisagísticos de
(MoMA). Em 1953, é premiado pelo pro- sua autoria. A aquisição dos terrenos
jeto para a residência de Odette Mon- foi feita em três momentos: o primeiro
teiro, na I Exposição Internacional de terreno foi comprado em 1949, o segun-
Arquitetura da II Bienal de São Paulo. do, em 1952, e o terceiro, em 1960, o que
Em 1991, é realizada a grande exposi- demonstra que houve necessidade de
ção retrospectiva Roberto Burle Marx: ampliar gradativamente o espaço. O
the Unnatural Art of the Garden, no terreno foi escolhido por possuir fontes
MoMA, que consagra seu nome como de água, pedras e formação geológica
o grande paisagista do século XX. Até adequada para abrigar espécies tro-
1994, ano de sua morte, Burle Marx rea- picais autóctones da Serra do Mar. O
lizaria, entre demandas dos setores pú- Sítio Santo Antônio da Bica se conver-
blico e privado, mais de 2 mil projetos. te em uma espécie de “laboratório” –
Em 1949, Burle Marx adquire o Sítio para usar uma palavra do próprio Burle
Santo Antônio da Bica, juntamente com Marx – de experimentação paisagística,
ROBERTO BURLE MARX – MAIN PROJECTS ROBERTO BURLE MARX – PRINCIPAIS PROJETOS

den at MoMA, establishing his name as cal formation for hosting native tropical
a great landscaper of the 20th century. specimens of the Serra do Mar. The Sítio
Until 1994, the year of his death, Burle Santo Antônio da Bica became a type of
Marx carried out over 2,000 projects, for “laboratory” – to use Burle Marx’s own
the public and private sectors. term – of landscaping experimentation,
In 1949, Burle Marx acquired the Sítio essential to the formal and ecological
Santo Antônio da Bica, together with development of his projects.
Guilherme Siegfried Marx, his younger Soon after the acquisition of the
brother, partner and administrator of the land was complete, Burle Marx began
Burle Marx & Cia office, for the purpose the construction of nurseries and lath
of housing his botanical collection and houses, and planned the restoration of
developing studies for their application the Santo Antônio da Bica Chapel, a
in landscaping projects of his authorship. chapel dating back to the 17th century,
Acquisition of the lands occurred in three with the architect Carlos Leão, as well
stages: the first was purchased in 1949, as the execution of new works, which
the second in 1952, and the third in 1960, occurred from 1952 to 1957. In 1973, Burle
which demonstrates that there was a Marx made Sítio Santo Antônio da Bica
need for gradual expansion. The prop- his residence. The place would become
erty was chosen for its sources of water at once an open-air studio, school, bu-
and stone, and for its suitable geologi- colic nook and botanical garden with
central para o desenvolvimento formal listas trabalharam junto ao paisagista,
e ecológico de seus projetos. entre jardineiros, botânicos, biólogos,
Logo após a aquisição completa do agrônomos, geógrafos e geólogos. Em
terreno, Burle Marx inicia a construção 1985, a propriedade foi doada ao Go-
de viveiros e ripados, além de planejar, verno Federal, passando a se chamar
em colaboração com o arquiteto Carlos Sítio Roberto Burle Marx.
Leão, a recuperação de uma capela de
Santo Antônio, datada do século XVII, e
a execução de novas obras, que ocor-
rem de 1952 a 1957. Em 1973, Burle Marx
passa a residir no Sítio Santo Antônio Você me pergunta se eu
da Bica. O lugar seria, a um só tempo, prefiro fazer um jardim
ateliê ao ar livre, escola, recanto bu- para um casal, uma família,
cólico e jardim botânico com ares de
laboratório e pesquisa científica. O sítio
ou um jardim público, eu
reúne plantas até então não utilizadas respondo que prefiro fazer
em paisagismo (e outras nem mesmo um jardim que sirva para
catalogadas) e abriga a maior coleção uma cidade, onde posso ter
do mundo da família Velloziácea, ado-
rada por Burle Marx. Diversos especia-
a possibilidade de ajudar e
educar, oferecendo uma área 278
verde a pessoas que não
279
têm a oportunidade de estar
the aspect of a scientific research labo-
ratory. The Sítio is home to plants not
em contato com as plantas,
previously used in landscaping (some os animais, a paisagem, tudo
are not even catalogued), and hosts the o que é vivo.
largest collection of the Velloziaceae
family in the world, adored by Burle If you ask if I prefer to make a garden
Marx. A number of specialists worked for a couple, a family, or a public
with the landscaper, among them gar- garden, I would answer that I prefer
deners, botanists, biologists, agrono- to make a garden which serves a
mists, geographers and geologists. In
city, where I may have the possibility
1985, the property was donated to the
of helping and educating, offering a
Federal Government, and renamed Sítio
green area to people who do not have
Roberto Burle Marx.
the chance to be in contact with plants,
animals, the landscape and everything
that is living.

ROBERTO BURLE MARX


PRINCIPAIS É convidado para projetar os
PROJETOS jardins e terraços do Ministério da
MAIN PROJECTS Educação e Saúde (atual Palácio
Gustavo Capanema). Arquitetos:
A convite de Lucio Costa,
Lucio Costa, Affonso Eduardo
realiza seu primeiro
jardim, para a residência Reidy, Oscar Niemeyer, Jorge
da família Schwartz, em Machado Moreira, Carlos Leão e
Copacabana, Rio de Ernani Vasconcellos.
Janeiro. Arquitetos: Gregori
Warchavchik e Lucio Costa. He is invited to design the gardens
and terraces of the Ministry of
At the invitation of Lucio
Costa, he creates his first Education and Health (currently
garden for the Schwartz family the Gustavo Capanema Palace).
residence in Copacabana, Rio Architects: Lucio Costa, Affonso
de Janeiro. Architects: Gregori
Eduardo Reidy, Oscar Niemeyer,
Warchavchik and Lucio Costa.
Jorge Machado Moreira, Carlos
Leão and Ernani Vasconcellos.
1932
1938

1930
ROBERTO BURLE MARX – MAIN PROJECTS ROBERTO BURLE MARX – PRINCIPAIS PROJETOS

1934-1937

Exerce a função de diretor de Projeto de jardins residenciais


Parques e Jardins no Recife, onde para Roberto Marinho, J. Louis
promove reformas e projeta os Wallerstein, entre outros.
primeiros jardins públicos de
Residential garden project
caráter ecológico no Brasil.
for Roberto Marinho, J. Louis
Destacam-se a Praça de Casa
Wallerstein, among others.
Forte e o Cactário da Madalena
(Praça Euclides da Cunha).
Projeto do jardim da
Becomes director of Parks praça Salgado Filho, no
and Gardens in Recife, where Aeroporto Santos Dumont,
he promotes renovations and no Rio de Janeiro.
designs the first ecological
public gardens of Brazil. Praça Gardens project for the
de Casa Forte and Cactário da Salgado Filho Square in
Madalena (Praça Euclides da the Santos Dumont Airport,
Cunha) are noteworthy. Rio de Janeiro.
280

281
Projeto de jardins para o
bairro da Pampulha (Cassino,
Iate Clube, Casa do Baile,
Ilha Restaurante e o roseiral
e o ficetum da Igreja São
Francisco), em Belo Horizonte.
Arquiteto: Oscar Niemeyer.

Gardens project for the


Pampulha neighbourhood
(Casino, Yacht Club, Casa
do Baile, Ilha Restaurant and
the rose garden, as well as
ficetum of the São Francisco
Church) in Belo Horizonte.
Architect: Oscar Niemeyer.

1943

1940
ROBERTO BURLE MARX – MAIN PROJECTS ROBERTO BURLE MARX – PRINCIPAIS PROJETOS

1942

Projeto de jardim para


o Parque do Barreiro,
em Araxá, Minas Gerais,
em colaboração com
o botânico Henrique
Lahmeyer de Mello Barreto.

Garden project for Barreiro


Park in Araxá, Minas Gerais,
in collaboration with the
botanist Henrique Lahmeyer
de Mello Barreto.
Projetos de jardins para residências
particulares (↓) casa de Odette
Aquisição do Sítio
Monteiro, em Correias, e (←) Fazenda Santo Antônio da
Samambaia, em Petrópolis, ambas Bica, atual Sítio
no Rio de Janeiro; casa de Diego Roberto Burle Marx.
Cisneiros, em Caracas, Venezuela;
casa de Burton Tremaine, em Acquisition of Sítio
Santa Bárbara, na Califórnia, Santo Antônio da
Estados Unidos. Este último tem o
Bica, currently Sítio
projeto arquitetônico assinado por
Oscar Niemeyer. Roberto Burle Marx.

Garden project for private residences:


the (↓) home of Odette Monteiro,
in Correias, and (←) Fazenda
Samambaia, in Petrópolis, both in
Rio de Janeiro; the home of Diego
Cisneiros, in Caracas, Venezuela; the
home of Burton Tremaine, in Santa
Barbara, California, USA. The latter
is part of an architectural project by
Oscar Niemeyer.

1948
282

283

1949
1950
ROBERTO BURLE MARX – MAIN PROJECTS ROBERTO BURLE MARX – PRINCIPAIS PROJETOS

1949 1951
Projeto de jardim e painéis
para a Tecelagem Parahyba
Projeto dos jardins da Realiza projeto de jardim
e para a residência de Olivo para a residência de
residência de Walther Gomes, em São José dos Cassiano Ribeiro Coutinho,
Moreira Salles (atual Campos, São Paulo. Arquiteto: em João Pessoa.
Instituto Moreira Salles), Rino Levi. Arquiteto: Acácio Gil Borsoi.
com imenso painel de Garden project and panels Garden project of the
azulejos, no Rio de for Tecelagem Parahyba and residence of Cassiano
Janeiro. Arquiteto: Olavo the residence of Olivo Gomes Ribeiro Coutinho in João
in São José dos Campos, São
Redig de Campos. Pessoa. Architect: Acácio
Paulo. Architect: Rino Levi. Gil Borsoi.
Garden project of Walther
Moreira Salles’s residence
(currently Instituto Moreira
Salles), with a large tile
panel, in Rio de Janeiro.
Architect: Olavo Redig de
Campos.
Projeto para o Parque
Ibirapuera, em São Paulo
(não executado).
Arquiteto: Oscar Niemeyer.

Project for the Ibirapuera


Park, in São Paulo (not
executed).
Architect: Oscar Niemeyer.

1953

284

285

1954
Projeto dos jardins do
Museu de Arte Moderna
do Rio de Janeiro (MAM),
no Aterro do Flamengo.
Arquiteto: Affonso
Eduardo Reidy.
Projeto de jardim e mosaico
de pastilhas de vidro para Gardens for the Museum
o Conjunto Residencial
of Modern Art of Rio de
Prefeito Mendes de Moraes,
conhecido como Pedregulho, Janeiro (MAM), at the
no Rio de Janeiro. Arquiteto: Aterro do Flamengo.
Affonso Eduardo Reidy. Architect: Affonso
Garden project and glass Eduardo Reidy.
mosaic for the Prefeito
Mendes de Moraes
Residential Complex, known
as Pedregulho, in Rio de
Janeiro. Architect: Affonso
Eduardo Reidy.
Projeto de jardim para o
hospital Sul América (atual
Hospital da Lagoa), no Rio
de Janeiro. Arquitetos: Oscar
Niemeyer e Hélio Uchôa.

Garden project for the Sul


América Hospital (presently
Hospital da Lagoa), in Rio Projeta os jardins da
de Janeiro. Architects: Oscar residência de Francisco
Projeto de
Niemeyer and Hélio Uchôa. Pignatari (atual Parque
recuperação do
Largo do Machado, Burle Marx), em São Paulo.
no Rio de Janeiro. Gardens of the residence
Project for the of Francisco Pignatari
rehabilitation of (currently Burle Marx Park),
Largo do Machado, in São Paulo.
Rio de Janeiro.

1956
1954
1955
ROBERTO BURLE MARX – MAIN PROJECTS ROBERTO BURLE MARX – PRINCIPAIS PROJETOS

1956-1961

Projeto paisagístico e
coordenação de equipe
Projeto paisagístico da multidisciplinar para a
residência de Edmundo construção do Parque del
Cavanellas (atualmente de
Este (Parque Generalísimo
propriedade de Gilberto
Strunck), em Petrópolis, Francisco de Miranda), em
Rio de Janeiro. Arquiteto: Caracas, Venezuela.
Oscar Niemeyer.
Landscaping project and
Landscaping project for
multidisciplinary team
the residence of Edmundo
Cavanellas (currently coordination for the building
property of Gilberto of Parque del Este (Parque
Strunck), in Petrópolis, Generalísimo Francisco
Rio de Janeiro. Architect:
de Miranda) in Caracas,
Oscar Niemeyer.
Venezuela.
Criação de pátios para
a sede da UNESCO
(Maison de l’UNESCO),
em Paris, França.
Arquitetos: Marcel
Projeto de paisagismo
Breuer e Bernard-Henri
do Parque do Flamengo Zehrfuss. Engenheiro:
(Grupo de Trabalho para Pier Luigi Nervi.
a Urbanização do Aterro),
Creation of gardens for
no Rio de Janeiro. the UNESCO headquarters
(Maison de l’UNESCO)
Landscaping project of
in Paris, France. Architects:
the Flamengo Park (Aterro Marcel Breuer and
Urbanisation Working Bernard-Henri Zehrfuss.
Group), Rio de Janeiro. Engineer: Pier Luigi Nervi.

1961
1960
286

287

1963

Projeto paisagístico do
Parque Zoobotânico,
em Brasília.

Landscaping project
for the Brasilia
Zoobotanical Park.

Anteprojeto paisagístico
para o Jardim Botânico
de São Paulo.

Preliminary landscape
project for the São Paulo
Botanical Garden.
ROBERTO BURLE MARX – MAIN PROJECTS ROBERTO BURLE MARX – PRINCIPAIS PROJETOS
Projeto de jardins, terraços Paisagismo do Centro Projeto de jardins
e tapeçarias para o Palácio Cívico de Santo André, e esculturas para o
São Paulo. Arquitetos: Parque Anhembi, em
do Itamaraty – Ministério das
Rino Levi & Associados. São Paulo. Arquitetos:
Relações Exteriores, em Brasília. Jorge Wilheim e
Arquiteto: Oscar Niemeyer. Landscaping of the
Miguel Juliano.
Santo André Civic
Designs gardens, terraces Centre, São Paulo. Garden and sculpture
Architects: Rino Levi & design for Parque
and tapestry for the Itamaraty
Associates. Anhembi, São Paulo.
Palace – Ministry of Foreign Architects: Jorge
Affairs, Brasilia. Architect: Wilheim and Miguel
Oscar Niemeyer. Juliano.

1968

1967

1970
288

289

1965 1966
Projeto de jardins e de
Projeto do terraço e do muro esculturas para o Ministério
escultórico para o Edifício da Justiça, em Brasília.
Manchete, no Rio de Janeiro. Arquiteto: Oscar Niemeyer.
Arquiteto: Oscar Niemeyer.
Gardens and sculptures
Designs the terrace and
sculpture wall of the Manchete for the Ministry of Justice in
Building in Rio de Janeiro. Brasilia. Architect: Oscar
Architect: Oscar Niemeyer. Niemeyer.

Projeto de jardim, pátios internos


e muro escultórico de cantaria de
demolição para a residência de
Candido Guinle de Paula Machado, no
Rio de Janeiro. Arquiteto: Jorge Hue.

Garden project, internal gardens


and sculpture wall using demolition
stonework for the residence of Candido
Guinle de Paula Machado in Rio de
Janeiro. Architect: Jorge Hue.
Projetos de calçadas
e jardins para o
alargamento da praia
de Copacabana, no
Rio de Janeiro.

Footpath and garden


projects for extending
Copacabana beach in
Rio de Janeiro.

1970
ROBERTO BURLE MARX – MAIN PROJECTS ROBERTO BURLE MARX – PRINCIPAIS PROJETOS

Projetos de jardins e
esculturas em concreto
aparente para a Praça
Cívica (Praça dos Cristais),
do Ministério do Exército,
em Brasília. Arquiteto:
Oscar Niemeyer.

Gardens and sculptures in


exposed concrete for the Civic
Square (Praça dos Cristais)
of the Ministry of the Army
in Brasilia. Architect: Oscar
Niemeyer.
Projeto de jardim Projeto de jardim
para a Praça Dalva para o Parque
Simão, na Pampulha, Recreativo Rogério
em Belo Horizonte. Pithon Farias (atual
Parque Dona Sarah
Dalva Simão
Kubitschek), em
Square in Pampulha,
Brasília. Arquiteto:
Belo Horizonte.
Oscar Niemeyer.

Garden project for


(↓) Projeto de jardins the Rogério Pithon
Farias Recreational
para o edifício-sede
Park (currently Dona
do BNDES, no Rio de Sarah Kubitschek
Janeiro. Park) in Brasilia.
Projeto de painel em Architect: Oscar
concreto aparente para o (↓) Gardens for the Niemeyer.
edifício do Ciesp, Sesi, Fiesp, BNDES headquarters
em São Paulo. building in Rio de
Concrete panel project Janeiro.
for the Ciesp, Sesi, Fiesp
building in São Paulo.
1974
1973

290

291

1972

Painel para o
Palácio do Planalto,
em Brasília.

Panel for the


Planalto Palace
in Brasilia.

Jardim para o Palácio


do Desenvolvimento,
em Brasília. Arquiteto:
Oscar Niemeyer.

Garden for the


Development Palace
in Brasilia. Architect:
Oscar Niemeyer.
Projeto de jardim para a
Praça Sérgio Pacheco, em Projeto de jardim para o
Uberlândia, Minas Gerais. Teatro Nacional de Brasília
Arquiteto: Ary Garcia Roza. (atual Teatro Nacional
Projeto de jardim para Claudio Santoro), em Brasília.
Garden project for
o Palácio do Jaburu, Arquiteto: Oscar Niemeyer.
Sérgio Pacheco Square in
residência oficial da
Uberlândia, Minas Gerais. Garden project for the
vice-presidência da
Architect: Ary Garcia Roza. National Theatre of Brasilia
República, em Brasília.
Arquiteto: Oscar (currently Claudio Santoro
Niemeyer. National Theatre) in Brasilia.
Projeto de jardim suspenso Architect: Oscar Niemeyer.
para a indústria têxtil Cia. Garden project for
Hering, em Blumenau, the Jaburu Palace,
Santa Catarina. Arquiteto: official residence of
Hans Broos. the Vice-Presidency
of the Republic in
Hanging garden project Brasilia. Architect:
for Hering textiles in Oscar Niemeyer.
Blumenau, Santa Catarina.
Architect: Hans Broos. 1976

1975
1974
ROBERTO BURLE MARX – MAIN PROJECTS ROBERTO BURLE MARX – PRINCIPAIS PROJETOS

Projeto de jardins da
residência de Hans Broos, no
bairro do Morumbi, em São
Paulo. Arquiteto: Hans Broos.

Gardens for the residence of


Hans Broos in the Morumbi
neighborhood, São Paulo.
Architect: Hans Broos.
Projeto para o Aterro
da Baía Sul, em
Florianópolis.

Project for the


Aterro da Baía Sul in
Florianópolis.

1977
292

293

Projeto de jardim para o edifício- 1979


sede da Organização Mundial da
Propriedade Intelectual (Ompi),
em Genebra, Suíça. Arquiteto:
1978 Projeto de jardim para
Nova Guarapari, em Vitória.
Pierre Braillard.
Urbanismo: Escritório Técnico
Projeto de jardim para
Garden project for the World Ary Garcia Roza Ltda.
o Serviço Social do
Intellectual Property Organization
Comércio (Sesc), no Rio Garden project for Nova
(WIPO) headquarters building in
de Janeiro. Arquitetos: Guarapari in Vitória.
Geneva, Switzerland. Architect:
Sérgio Jamel e Marco Urbanism: Escritório Técnico
Pierre Braillard.
Antonio Coelho da Silva. Ary Garcia Roza Ltda.

Garden project for


Projeto do Parque Ecológico do the Social Service of Projeto de jardins para a
Tietê, em São Paulo. Arquitetos: Commerce (Sesc) in Rio de Praça Histórica da Cia.
Ruy Ohtake, Haron Cohen, Janeiro. Architects: Sérgio Hering, em Blumenau,
Dalton de Luca, José Roberto Jamel and Marco Antonio Santa Catarina. Arquiteto:
Graciano e Maria Teresa Furuiti. Coelho da Silva. Hans Broos.
Tietê Ecological Park, in São
Historic Square of the
Paulo. Architects: Ruy Ohtake,
Hering Company in
Haron Cohen, Dalton de Luca,
Blumenau, Santa Catarina.
José Roberto Graciano and
Architect: Hans Broos.
Maria Teresa Furuiti.
ROBERTO BURLE MARX – MAIN PROJECTS ROBERTO BURLE MARX – PRINCIPAIS PROJETOS
Projeto de jardim Projeto de jardim para
o Largo da Carioca, no
para o Jockey Club
Rio de Janeiro.
Brasileiro, no Rio
Projeto de jardim para
de Janeiro. Pontual Garden project for
a Xerox do Brasil, no
the Largo da Carioca,
Associados Arquitetura Rio de Janeiro. Pontual
Rio de Janeiro.
e Planejamento. Associados Arquitetura e
Planejamento.
Garden project for Projeto do Jardin
Garden project for Xerox
the Brazilian Jockey Botánico de Maracaibo,
do Brasil, Rio de Janeiro.
em Maracaibo,
Club, Rio de Janeiro. Pontual Associados
Venezuela.
Pontual Associados Architecture and Planning.
Architecture and Maracaibo Botanical
Garden, Maracaibo,
Planning. Projeto de jardim para
Venezuela.
praças em Tiradentes,
Minas Gerais.

Garden project for the


squares of Tiradentes,
1981
Minas Gerais.

1980
294

295

1979
Fazenda Vargem
Grande, Areias,
São Paulo.

Fazenda Vargem
Grande, Areias,
São Paulo.

Projeto de jardim
para o Parque
Municipal das
Mangabeiras, em
Belo Horizonte.

Garden project for


the Mangabeiras
Municipal Park in
Belo Horizonte.
Projeto de jardim
para a residência de
Roberto Marinho, no
Rio de Janeiro.

Garden project for


the residence of
Roberto Marinho in
Rio de Janeiro.

1985
ROBERTO BURLE MARX – MAIN PROJECTS ROBERTO BURLE MARX – PRINCIPAIS PROJETOS

1987
1982 Projeto para o Museu
Brasileiro da Escultura
Painel com jardineiras para
Projeto de jardim para (MuBE), em São Paulo.
o pavimento térreo e
um edifício na avenida Epitácio
semienterrado do Banco Project for the Museu
Pessoa, no Rio de Janeiro.
Safra, na avenida Paulista, Brasileiro da Escultura
Panel with planters for a em São Paulo. (Brazilian Museum of
building on Epitácio Pessoa
Avenue in Rio de Janeiro.
Garden project for the Sculpture - MuBE) in
ground floor and semi- São Paulo.
subterranean paving of
Projeto de jardim e painéis the Safra Bank on Avenida
do edifício de serviços do Paulista, in São Paulo.
Banco Safra, em São Paulo.
Arquitetos: Roberto Loeb e
Majer Botkowski. Projeto de oito vitrais
para sinagoga no Guarujá,
Garden and panel project
São Paulo.
for the service building of
the Safra Bank in São Paulo. Eight stained glass windows
Architects: Roberto Loeb project for a synagogue in
and Majer Botkowski. Guarujá, São Paulo.
Projeto de jardim para Projeto de jardim para a Anteprojeto para a
a praça da entrada da Prefeitura Municipal de residência de Joseph Safra,
cidade de Cubatão, Varginha, Minas Gerais. no Morumbi, em São Paulo.
São Paulo.
Garden project for the Draft project for the
Project for the garden Municipality of Varginha residence of Joseph Safra
and entrance square in Minas Gerais. in Morumbi, São Paulo.
of the city of Cubatão,
São Paulo.
Vitral para a Confeitaria Anteprojeto para o
Colombo, no BarraShopping, Copacabana Palace,
no Rio de Janeiro. no Rio de Janeiro.

Stained glass window for Draft project for the


the Confeitaria Colombo, at Copacabana Palace,
the BarraShopping mall in Rio de Janeiro.
Rio de Janeiro.

Anteprojeto para
Projeto de piso para o Jardim Botânico,
o BarraShopping, no em Fortaleza.
Rio de Janeiro.
Draft project for
Floor project for the the Botanical Garden
BarraShopping mall in in Fortaleza.
Rio de Janeiro.

1990
296

297
1992

Projeto para a Oficina


Cerâmica Francisco
Brennand, em Recife.

Project for the


Francisco Brennand
Ceramic Workshop in
Recife.

REA
D

R
EN

CO


O Sítio Roberto Burle Marx foi, ao IS

DO
VA

LCI

ER
N
longo da sua trajetória, cultivado DA

  DE

UI
I SQ
CO
por muitas mãos. Registramos

ICE
N
C

O
EI

IUD
o nosso agradecimento a todos

IP
Ç

ÉD
ÃO  

EL G
A

S 
que participam e participaram  
TA
N

AE
N

LE D
dessa história. SA

OR
DE

SM
NIE
N
LA

LA
Throughout its path, the Sítio Roberto Burle Marx R

  DA
DI

UG

has been cultivated by many hands. We would O
CI

DO
ILVA
like to register here our gratitude to all those who N

S A 

AS
participate and have participated in its story. C RE S ILV

ND
A
E G
O
IR AD
DI

ITO
Funcionários atuais do sítio RE
MO

CLE
O
The Sítio’s current staff E RT A 
LB ES OUZ
O SA EI RA D
(*) In memorian RL OLIV
CA E DS
ON
TA 
R
MA A

I O R
  CA R EI
IR A O
IVE M
OL N
AN
O
R DA
ET E
  CA SOUZA   V
NRIQUE DE S
R ES CARLOS HE LIA
A E
O
SO CA S *   E U L ÁL
R I IA O
UN LO LL LIVE
AL AN
SOUZA BR SJ P O IR A
  OR E  
GE I N
A
NE
EL A 
ÁRI O RO DR IGU ES   VE
S B OS
ALCEM  C AR

ÁT
I I P EB
IO R SILVA   A L
JUN CELSO DA LIM FE
E I DA A I R A 
ALM   UE F
E U DE CL
A S IQ E RN
AN D
ALC UD
IA T ON AO
STO E R LIVE
RI N EV IR A

  O 
I A S
EL A 
RE STO PEREIR
X A ND FE R N A NDO AUGU
E
  AL
I N HA  
D
SAR SILVA   RO

I R N D O E I S
ALD FE R NA
DE
B
RI
EN

I S
ALMIR BARCELLOS   ALMIR MOREIRA   S
AS
M

E
S

D
BA

O
SC
AL

ANTONIO I
DOS SAN C
 G

TOS   AN
TÔNIO M R AN
EL

ARCOS F F
NG

ERREIRA
  ARNALD
O DA SIL
RA

VA    
AL
E
EL

LE
RI

ANDRÉ LUIZ FERREIRA   ANDRÉ OLIVEIRA   ANTÔNIO CARLOS AMARAL   DO


B

AL
GA

R
GE
O 
S TR

GER
A
DE C
RTO
ILBE

ALD
OG  
  JOÃ OS
GU

O NT
FILH
OS
A
RR A SS
ILH

BIZE DO


EG R

R
AN O A  
ER

VO
EN S
OE MILI R TO
ME

AN

LA
  JOÃ   LO
ETO
S S
NA SA

IA
NTA DO
DE

BO

I 
OS

ÍC
SA R

N
  G IS

CA A L

ET
I R
AZ

J ÉS S B

CI


IA A
ÍS C

NA

 L
RO
LÍV
EV

LU
ELE

ES

AN
E

RA
ND
ED

RG
ZE
SO U

TA

O
E
O

  JO
R 

M
NA

N
Ú N IO
 G

VI A

A
J

SA
I S

S
A
ZA

EIR C I

N
M ES S
US

LU

TO

RI
A OEL O 

O
ÁR I

N
 H N

A
TA

LD
  M

SA
ÉL

 K
R Y O
ANA OR
VO

IO

RA
LYA C

O
IR D

S
OL

IR
M
DO

GE
IV JU A

TE
E TA  
IR COS
EL

N

A

O
A
SE D
  JO


  JO
A 

M
O JO E LIM

A
D
S

S LD E T E

LI
A  IVA GOR
TO

UE

RE IR   J OS

PE ARIA
N

O   M
IG

S I CA T S
COU
SA

J ÉS J ESU
DR

DO IA DE
DE

E U M A R
A 
O

M
É RO VIAN
EI

IR

J OS ELO
N

C
EL

  MA R
CI


SILVA UZA
JO

LO D A
LO N SO
  JO

C E A R
MAR MI   M
ACA
O

M U R
LH

IANA
  MAR
FI

ILV A
DA S
A

G I NA
IR

R E
E

IA
MAR MATHEUS PLUMM   MAURÍCIO LEMOS  
LIV
O

MA
DE

UR

MA

O
DA

PE
JO

YA

SIL

DR
VA RA
R AM

O
    FA
A

EL
EL
ILV
ER

RE

IS
S M
A
N
DA
LIN

RO


RI
AT
BS N
IO
A
ON H

RG RO
ZA  
G
RO O
A SO U ES  
O
  PAUL SÉ DR DR  R
U
ALV IG IG A
LA
TEIRO AR O FA
YM ON CES UL SI O UE
RT
LV SI S  EL
NAN C AUL
O
 P
A É LV A
 R
S  P RI A
MO RA N
O
A I O  R U
BS
OR SO OG
E RT RE N
EZ
O
LB PE UZ ÉR
N
LO A O A IO  
G
PAU RT  S DA
O
SIR IM
BE
U
  LEN SI
LA

OR O LV
I RO SU EG
UIM N A
RT

UN O ZA AR E
M  S
SJ UL NA AN

E AE S O
NT A BE   UR DR
A  P ZE ÃO A
S RR
A RN AE A  TO
ES R TH  S FA
C O AÍ IN N I 
O M SD VA
UL LO WE IA L
PA S
SE

PAU RLE
NP
UEL
ITON
  TH PE
RE
LM

  AE S IAG
A DE O O IR
ST
A

ZU   WI LIVE SIL A
L SO IR
CO LM A  V VA FI
AL

IR AC ND ITTO   LH
DA
VE

AN AS R HU O
ILV GO
SÉ AR  
S 

A  Y RI B E
JO IO AN IRO
PO AR  
O PE AH
AUL AA
P S  
CL
AU
C AR D IO
LOS FE
Pessoas que já trabalharam no sítio H E N RI RR
QUE EI
DE S RA
People who worked at Sítio OUZ
A   
CAROL MACH  
(*) In memorian
EIRA   ULO

A C R IS TINA OLIV LE PA
C AR L DA N I E  
A  O SA
S  IST RB
Á
LV M IC ALDA P T
BA
N D RÉ BA
A A I O ON
RO D BS
AU RO
PI
N CL VI
H ANA CARO
LINE DA SIL DA
AD EI VA  


RO SILVA*  

Z*
ÃO CLEOFAS CÉSAR DA

VA
CA * 
RD TO   A 

CO
LA PEIXO L SILV

E 
IA ANA PAU AN I E

IS
L

EG
DA AF   D

C
TZGR

R
S ILV PFAL

VA
A
AD A  I N A
RIST

FR

RANDÃO C

SA
AU
AN D R É B

R
TO  

ZI
RO

DA
IL

 E
D RIG DENIS LAZARINI   DENIS SILVA   WE

IZ

AN
 UE A
N ÍLI

IN
ALM

G SB
UC

RN
D
EL AR
BO LA

E
O

FE
 G

ET
SA
IR P

M   A

S
A CH

ES

LI
RC O
AL

 E
E RE

M
I AR
O

A
O D
EX

UZ
DA G IL A
IR A

A
ÁT
AN

SO
IM

SI L GUSTAVO PORTO SALMI  


LV RI E
DE

AT

E
AR

B
D
A
GA
 F
RO

N
 A A 
TU

SO
SA

RL AG
RF

LIV

ED

Z
ÇO

EN
ON
ER

E
ER

AG
E

BA
IR A

OR
RE

V
BA

TI
  FL * 
O

S
IR A

BI

TA O S
BA

NH ZE
FA

  RI E
 A

A EN
LL
A
TA

VI M
CA

A E
ÍD

ND YM
EC

NA
LA

  JA

R
DO

FE
ND

AU ES
OR

R
ER

EL M
IN

Y GO
UI

CA
O
A*

U
S 

I SQ

NT DE


NTO

R   IL
ON

BÁR IA O
BAR BÓ D
VE
S SA

RS


MA RI

DI
E

A
GA O
FE

AZ ILV

N
LH  
DO

ÃE S
JE

RO
R
O
SS
LIM
A     IG GI
ON

BÁR
I

A
LU


BE BAR IR
E
E RS

RN A
E

JO

ZO AD
RG

AR FFO JORGE AMADO  


LI M
JEF

D
JO

M   R A
JO
O
CZ   IA ÃO
YD A DE BA
LO R RR
ND JOSÉ TABACOW  
CA

W ET
ER A
IO

  DE O

JOCARSTEA BRINATI  
RA J OS É
SA

  IA AN T
R

Y   ÔNI
AR RE IR A
AL

ER OD
LL RI E L F JO ON

HI O GAB SÉ AS C
S   JOÃ IM E
NT

NA I CA B
A S TO RI
CA
NTO

AR

HAN J ÉS S RD
A

O

PAULO
RE

NIL S
NA  
DO M HEIRO
N A PIN
CA RENAT

ON
RV

NAT
ING

BA
AL  

RI B E
HO  
AS

RBOSA
HO

ALI
OS N

   
COEL DI
  O

IRO*
N O
NAT

E PA
I RI
FF RE RE

* 
E
AIM

A F OB

RX
H


O

UF
R


C  

A
N
EL

M
E

A O RAIA

E RR
IC NA M TR

E
LA

OI

RL
N ARQ
O AU U ES

BU
M
O 
 M  P   O
RD

O
RO A

RT
EI
H CA
RI

BE
N
RD RA

RO
A
CO LA
ÉS AU S 
IZ  P OME
AE L G

RO
O
 M A   R AF RO
LV E IR A

B
SI RR BS
S E FE

SO
O
IR IA O JO O
BE PAUL

NF
C N
RI TR
Í   M
GO

ON
LE A O
 P LA RE
EL
GO

SE
H O IR
IC N RI A

CA
U D DA
M RO
M
BR SI


EL
MAR

O LIS   LV
IN IS RUTH VIA
NA DINE A*
N SA
IAN


FI
GU * 
A

FILHO
S 

EI S
ANTO
A 

GR A

RA D OS S * 
IRE

DO R INO
ID

  SALVA GA
L D
ME

S SI  
SP

T IÃO  
XA
AL

S
RLO

E BA A
MAR

  S T
DE

LA NE
CO
CA

IA
JUL

I O
IO

T

A
IO B

C TA
EZ

GO
UD

* 
S
YK

TIA
LUI

GN

N A
IR
AIO

SA
LA
ELL

RE
PA

STA
C

PE
Q
YF

IZ

LE
O

TO
UE N

O
CO

S
ND
LU

NA
ER

U
RD UG
NA
RE

G IO

O A
ETO

AL M AL
IR A

ER

ME A NV
SÉR

RI I
F

ID A  S TH
IZ


  KA

A N
  A I NI A
ÍS
LU

FA V
TIA

E R D
ÍS IN O
M C M S
G

A A E SA
RO

RC   N N
EL O TO
I M
TH
M

O S S 
M 

AM

MA SO
LIA G NO UZ
KL

IR

IA NELLI EL
ES

  LUCI A
AY

ANA IN  
O
DA

LEAL
TO

  DA
SIL
SI
N

S 
LV

VA O
SANT
DIA

* 
A

OS
GO D

U
S 

RH
LU VITO
LA

C IAN
OG
RIS

OM E 
VILSON BOTELHO OP
SA

ES P
  LU IR A
CY LM
BA

UL
IAN A   ZU
LB

O S
A  B
BAR
IN

CE
O 

LLA
WA
FONTES E BERRIZBEITIA, Anita. “Parque del Este Minas Gerais. Rio de Janeiro: AC&M, 1988.
Caracas: between a critical naturalism “BURLE Marx”. Presença, Rio de Janeiro,
REFERÊNCIAS and a critical formalism”. Delaware Re-
view of Latin American Studies, v. 6, n. 1,
v. 1, n. 2, abril 1951, p. 37-50.
SOURCES AND 30 de junho de 2005. BURLE Marx. Rio de Janeiro: TV Brasil,
REFERENCES 2011. Disponível em: <www.youtube.com/
. Roberto Burle Marx in Caracas: watch?v=r1W-Vv9u92I&index=5&list=P
Parque del Este, 1956-1961. Filadélfia: Lp5b8MkaqtmK9JqJyMiE8YJTIDbbJeH
University of Pennsylvania Press, 2004. Tr>, acesso em 27 de setembro de 2019.
ADAMS, William Howard. Roberto Burle
Marx: the unnatural art of the garden. Nova BEZERRA, Ricardo Figueiredo Bezerra et BURLE Marx – de lá pra cá. Rio de Ja-
York: The Museum of Modern Art, 1991. al. Roberto Burle Marx e o Theatro José neiro: TV Brasil, 2009.
AQUINO, Flávio de. “O jardim como arte de Alencar: um projeto em dois tempos.
“BURLE Marx – entrevista: a devastação
plástica”. Manchete, Rio de Janeiro, 10 Fortaleza: Editora Secult- CE, 2010.
é total”, a Oswaldo Amorim. Veja, São
de julho de 1954. BOFF, Leonardo. “O São Francisco que Paulo, n. 263, 19 de setembro de 1973.
ARAÚJO, José de Souza Azevedo Pizarro mora dentro de cada um de nós”. In:
CALS, Soraia. Roberto Burle Marx: uma
e. Memorias historicas do Rio de Janeiro QUEIROZ, Paulo Peltier de et al. (coor-
fotobiografia. Rio de Janeiro: [s. n.], 1995.
e das provincias annexas a’jurisdicção ds.). Burle Marx: homenagem à natureza.
do vice-rei do Estado do Brasil, dedi- Petrópolis: Vozes, 1979. CALS, Soraia; LEFTEL, Tamara. Eu, Ro-
cadas a El-Rei nosso senhor D. João VI. berto Burle Marx. Rio de Janeiro: Rede
Rio de Janeiro: Impressão Régia, 1820. BOIFAVA, Barbara; D’AMBROS, Matteo.
Manchete, 1989.
Disponível em: <https://play.google. Roberto Burle Marx: verso un moderno
com/books/reader?id=dQECAAAAYA paesaggio tropicale. Padova: II Poli- CARUSO, Carla. Burle Marx: mestres
AJ&hl=pt&pg=GBS.PA11>, acesso em 30 grafo, 2014. das artes no Brasil. São Paulo: Moder-
de setembro de 2019. na, 2006.
BROWNE Paula. Vários mundos: Burle
. O Rio de Janeiro nas visitas pas- Marx além das paisagens. Rio de Ja- CASO, Paul. “Roberto Burle Marx”. Le
torais de monsenhor Pizarro: inventário neiro: Rocco, 2009. Soir, Paris, 13 de março de 1957.
da arte sacra fluminense, v. 2. Rio de CASS, Rosa. “Jardim é tentativa do ho-
BUDIGNA, Luciane. “Roberto Burle Marx:
Janeiro: Inepac, 2008. mem de reencontro consigo mesmo”.
l’architetto del paesaggio”. La Settimana
ARNOLD, Christopher. “Burle Marx”. Ar- Incom, v. 25, 22 de junho de 1957. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro,
chitecture and Building, Londres, v. 30, n. 102, 3 de fevereiro de 1963.
n. 5, maio de 1956, p. 181-4. BURLE MARX, Roberto. “Expedição Bur-
le Marx à Amazônia”. Relatório apre- CAVALCANTI, Lauro; EL-DAHDAH, Farès
“O ARQUITETO de jardins Roberto Burle (orgs.). Roberto Burle Marx, 100 Anos:
sentado ao CNPq, 1983.
Marx”. Habitat, São Paulo, n. 15, março- a permanência do instável. Rio de Ja-
-abril de 1954, p. 36-40. . “O jardim de hoje para o homem de neiro: Rocco, 2009.
amanhã”. Cadernos Brasileiros, Rio de
“ARQUITETURA do Museu e conceitos de CAVALCANTI , Lauro; EL-DAHDAH ,
Burle Marx sobre os jardins do Museu”. Janeiro, v. 59, n. 34, maio-junho de 1970.
Farès; RAMBERT, Francis (orgs.). Roberto
Boletim do Museu de Arte Moderna, Rio . “Jardim, paisagem e trópico”. Pa- Burle Marx, the Modernity of landscape.
de Janeiro, MAM, 1958. lestra proferida em 1967 nos Seminá- Nova York/ Barcelona: Actar, 2011.
ARTE e paisagem: a estética de Roberto rios de Tropicologia da Universidade
Federal de Pernambuco. In: Trópico e CAVALCANTI, Lauro; ZAPPA, Regina.
Burle Marx. São Paulo: Museu de Arte
Sociologia. Recife: Ed. UFPE, 1971. Roberto Burle Marx: uma experiência
Contemporânea/ USP, 1997.
estética. Rio de Janeiro: 19 Design, 2009.
BANHAM, Reyner. “The profession of . “Mon expérience de paysagiste”.
landscape architect and the existence CAVALCANTE, Silvio; CAVALCANTE,
Caravelle: Cahiers du Monde Hispani-
of Burle Marx”. Art News and Review, Neusa. Barro, madeira e pedra: patri-
que et Luso-Brésilien, Paris, v. 22, p. 161-7.
Londres, junho de 1956. mônios de Pirenópolis, 2. ed. Brasília:
. Paisagismo no Brasil. São Paulo: IPHAN, 2019.
BAR ATA , Má rio. “ B u rle Ma rx e a Câmara Brasileira do Livro, 1994.
preservação paisagística”. Jornal do CLARK, H. F. “Reflections on Burle Marx”.
Comércio, Rio de Janeiro, 19 de maio . Plantas bem brasileiras, apresenta- Journal of the Institute of Landscape Ar-
de 1970. das por Burle Marx. São Paulo: Pedro Pau- chitects, Londres, v. 38, n. 2-5, 18 de março
lo Poppovic Consultores Editoriais, 1980. de 1957.
. “O mago dos jardins”. Diário de
Notícias, Rio de Janeiro, 15 de maio de 1956. BURLE MARX, Roberto; GAUTHEROT, CLERICI, Francesco. “Burle Marx e os
BARDI, Pietro Maria. The tropical gar- Marcel; GUIMARAES, Maria. Guia dos jardins brasileiros”. Diário de Pernambu-
dens of Burle Marx. Amsterdã: Colibris, Jardins de Roberto Burle Marx no Institu- co, Recife, 16 de dezembro de 1979. (Pu-
1964. to Moreira Salles. Rio de Janeiro: Editora blicação original: Milão, Novità, 1958.)
IMS, 2009.
BARROSO, Haroldo. “Roberto Burle CORAINE , Michèle. “ Roberto Burle
Marx”. Arquitetura, Rio de Janeiro, v. BURLE MARX, Roberto; TABACOW, José; Marx”. Le Peuple, Bruxelas, 13 de mar-
34, abril de 1965, p. 17-9. ALCÂNTARA, Araquém. Árvores/ Trees ço de 1957.
CORREA , Armando Magalhães . O . Roberto Burle Marx lectures as art FRASER, Valerie. “Cannibalizing Le
sertão carioca. Rio de Janeiro: Instituto and urbanism. Zurique: Lars Muller, 2018. Corbusier: The MES Gardens of Rober-
Histórico e Geográfico Brasileiro, 1936. DOURADO, Guilherme Mazza. “Espelhos to Burle Marx”. Journal of the Society
COSS, Aguedita. Villanueva, umbral de de si: Burle Marx a partir de suas cartas”. of Architectural Historians, v. 59, n. 2,
un descubrimiento paisajista. Caracas: Paisagem e Ambiente, São Paulo, n. 39, junho de 2000.
Copred, 2009. 2017. Disponível em: <www.revistas.usp. FROTA, Lélia Coelho. Roberto Burle Marx.
br/paam/article/view/127314/135111>, Sabará: Fundação Belgo-Mineira, 1993.
COSTA, Lucio. Plano-piloto para ur-
acesso em 30 de setembro de 2019.
banização da baixada compreendida . “Roberto Burle Marx: um brasileiro
entre a Barra da Tijuca, o Pontal de . “Green modernity: landscape ar- planetário”. Revista Folha, Sociedade
Sernambetiba e Jacarepaguá. Rio de chitecture by Roberto Burle Marx”. ICAM dos Amigos de Roberto Burle Marx, n.
Janeiro, 1956. 10 Proceedings, Rio de Janeiro, 21-25 de 19, ano XV, maio de 2009.
maio de 2000, p. 56-64.
. “Roberto Burle Marx: senhor de . “Roberto Burle Marx: o parceiro
Guaratiba”. In: QUEIROZ, Paulo Peltier . Modernidade verde: jardins de da natureza”. In: CALS, Soraia. Roberto
de et al. (coords.). Burle Marx: homena- Burle Marx. São Paulo: Editora Senac/ Burle Marx: uma fotobiografia. Rio de
gem à natureza. Petrópolis: Vozes, 1979. Edusp, 2009. Janeiro: [s. n.], 1995.
COUTO, Joaquim Miguel. Entre estatais . “Paisagismo no Brasil: itinerário . “Roberto Burle Marx: the partner
e transnacionais: o polo industrial de de uma profissão”. In: DOURADO, Gui- of nature”. ICAM 10 Proceedings, Rio de
lherme Mazza (org.). Visões de pai- Janeiro, v. 21-5, maio de 2000, p. 50-5.
Cubatão. Tese de doutorado. Campinas:
sagem: um panorama do paisagismo
Instituto de Economia da Universidade GIEDION, Siegfried. “Roberto Burle
contemporâneo no Brasil. São Paulo:
Estadual de Campinas (Unicamp), 2003. Marx”. Brasil Arquitetura Moderna, Rio
Associação Brasileira de Arquitetos
CRUZ, Luís Santa. “Ouvindo Burle Marx, o Paisagistas, 1997. de Janeiro, v. 11, 1957.
renovador dos nossos jardins”. O Jornal, GONÇALVES, Lisbeth Rebollo (org.).
. “Progetto di vita”. Case da Abitare,
Rio de Janeiro, 26 de setembro de 1948. Arte e paisagem: a estética de Roberto
Milão, n. 52, novembro de 2001, p. 178-89.
DE WOLFE, Evelyn. “Famed landscaper Burle Marx. São Paulo: Museu de Arte
. “Sítio Roberto Burle Marx”. In:
a ‘man in love with plants’: nearly 80-ye- Contemporânea/ USP, 1997.
TAYLOR, Patrick (org.). Oxford com-
ar-old Brazilian Architect has worked HAAS, Yanara Costa. “As cantarias do 302
panion to the Garden. Oxford: Oxford
on projects in many parts of world”. Los Sítio Roberto Burle Marx/ RJ”. Anuário
University Press, 2006.
Angeles Times, 23 de abril de 1989. do Instituto de Geociências, Universida-
. “Utopia verde”. AU Arquitetura e 303
DIAS, Robério. “Entrevista concedida de Federal do Rio de Janeiro, v. 35, n.
Urbanismo, São Paulo, n. 88, fevereiro-
em dezembro de 2008”. Revista Folha, 1, jun. 2012. Disponível em: <http://www.
-março de 2000, p. 28-35.
Sociedade dos Amigos de Roberto Bur- ppegeo.igc.usp.br/index.php/anigeo/
le Marx, maio de 2009. Disponível em: ELIOVSON, Sima. Os jardins de Burle article/view/5928>, acesso em 25 de
<http://escritosnapaisagem.blogspot. Marx. Rio de Janeiro: Salamandra, 1991. outubro de 2019.
com.br/2009/06/entrevista.html>, aces- FERGUSON, Alfred R. (org.). The jour- HAMERMAN, Conrad. The last interview
so em 29 de setembro de 2019. nals and miscellaneous notebooks of in the Journal of Decorative and Propa-
Ralph Waldo Emerson, v. IV: 1832-1834. ganda Arts. Miami: The Wolfson Foun-
. Estrelas do Sítio Burle Marx. Dis-
Cambridge, Mass.: Belknap Press, 1964. dation of Decorative and Propaganda
ponível em: <http://roberiodias. blogs-
pot.com.br/>, acesso em 25 de outubro FERRAZ, Geraldo. “Individualidades na Arts, 1995.
de 2019. história da atual arquitetura no Brasil: . “Roberto Burle Marx: the last in-
Roberto Burle Marx”. Habitat, São Paulo, terview”. The Journal of Decorative and
. O patrimônio paisagístico do Sítio
v. 36, novembro de 1956, p. 12-24. Propaganda Arts, Miami, v. 21, 1995.
Roberto Burle Marx: uma visão geográ-
fica. Tese de doutorado. Rio de Janeiro: FIRSZT, Natalio D. “Burle Marx”. Nuestra HOFFMANN, Jens; NAHSON, Claudia J.
Universidade Federal do Rio de Janeiro Arquitectura, Buenos Aires, v. 26, n. 313, Roberto Burle Marx Brazilian Modernist.
(UFRJ), 2008. agosto de 1955, p. 248-52. New Haven/ Londres: Yale University
. “O Sítio Santo Antônio da Bica: um FLEMING, Lawrence; ROGERS, S. Rober- Press, 2016.
laboratório paisagístico”. Revista Leituras to Burle Marx: lanscape architect, bo- HOLANDA, Gastão de. “Roberto Burle
Paisagísticas, n. 3, 9 de novembro de 2009. tanist and artist. Exhibition Catalogue. Marx aos 70 anos”. In: QUEIROZ, Paulo Pel-
Disponível em: <http://escritosnapaisa- Londres: Royal College of Art and Royal tier de et al. (coords.). Burle Marx: home-
gem.blogspot.com/2009/11/o-sitio-santo- Botanic Gardens, Kew, 1982. nagem à natureza. Petrópolis: Vozes, 1979.
-antonio-da-bica-um.html>, acesso em 25 . Roberto Burle Marx: um retrato. “INAUGURADA , pelo Presidente da
de outubro de 2019. [S. l.], Índex, 1996. República, a nova sede da Embaixa-
DOHERTY, Gareth. Landscape as a way FRAMPTON, Kenneth. “Intimations of da Americana”. Jornal do Brasil, Rio de
of life: lectures by Roberto Burle Marx. tactility”. Artforum, Nova York, v. 19, n. Janeiro, n. 94, 26-27 de abril de 1953, 1º
Zurique: Lars Muller, [s. d.]. 7, março de 1981. Caderno, p. 6.
INSTITUTO ESTADUAL DO AMBIENTE . “Veneza – prós e contras”. Jornal MONTERO, Marta Iris. Burle Marx, pai-
(INEA), Plano de manejo da reserva bio- do Brasil, n. 286, 7 de dezembro de 1965. sajes líricos. Buenos Aires: Iris, 1997.
lógica estadual de Guaratiba. Disponí- . Burle Marx: the lyrical landscape.
LEENHARDT, Jacques (org.). Nos jardins de
vel em: <www.inea.rj.gov.br/wp-content/ Londres: Thames & Hudson, 2001.
Burle Marx. São Paulo: Perspectiva, 1996.
uploads/downloads/manejos/RBG-PM.
pdf>, acesso em 27 de setembro de 2019. LEMOS, Paulo; SCHWARZSTEIN, Edu- MOTA, Maria Sarita Cristina. Nas ter-
ardo. Roberto Burle Marx. São Paulo: ras de Guaratiba: uma aproximação
IPHAN. Ata da 113ª reunião ordinária histórico-jurídica às definições de posse
Lemos Editorial, 1996.
do conselho consultivo. Disponível em: e propriedade da terra no Brasil entre
<http://portal.iphan.gov.br/uploads/ata LESSA, Elsie. “Um domingo de sol”. Man-
os séculos XVI-XIX. Tese de doutorado.
s/198501113reuniaoordinaria22dejaneiro. chete, Rio de Janeiro, n. 110, 29 de maio
Seropédica: Universidade Federal Rural
pdf>, acesso em 9 de setembro de 2019. de 1954, p. 47.
do Rio de Janeiro, 2009.
. Política do patrimônio cultural LIMA, Catarina; SANDEVILLE, Euler. “Por
MOTTA, Flávio; GAUTHEROT, Marcel.
material. Brasília: IPHAN, 2018. um projeto contemporâneo de paisagis-
Roberto Burle Marx e a nova visão pai-
mo”. In: DOURADO, Guilherme Mazza
“JARDINS de Roberto Burle Marx”. Re- sagística. São Paulo: Nobel, 1983.
(org.). Visões de paisagem: um panora-
vista Municipal de Engenharia, Rio de NORDENSON, Catherine Seavitt. Depo-
ma do paisagismo contemporâneo no
Janeiro, v. 16, n. 1, janeiro-março de 1949,
Brasil. São Paulo: Associação Brasileira sitions: Roberto Burle Marx and public
p. 17-25.
de Arquitetos Paisagistas, 1997. landscapes under dictatorship. Austin:
“OS JARDINS de Burle Marx”. Habitat, University of Texas Press, 2018.
LORENZI, Harri. As plantas tropicais
São Paulo, v. 3, abril-junho de 1951.
de Roberto Burle Marx. Nova Odessa: “NOTAS Sociais”. Jornal do Brasil, Rio de
JEAN, Yvonne. “O jardim-integração de Instituto Plantarum, 1999. Janeiro, n. 297, 21 de dezembro de 1955.
Burle Marx”. Jornal de Brasília, Brasília,
MASSARANI, Renzo. “Um ballet brasilei- OLIVEIRA, Ana Rosa. Paisagens parti-
24 de agosto de 1975.
ro”. Jornal do Brasil, n. 152, 30 de junho culares: jardins de Roberto Burle Marx
. “Salas ao ar livre: o mágico Ro- de 1960, p. 6. (1940-1970). Rio de Janeiro: Dantes, 2015.
berto Burle Marx”. Folha da Manhã, São
MAURÍCIO, Jayme. Roberto Burle Marx: . Tantas vezes paisagem. Rio de
Paulo, 28 de janeiro de 1954.
exposição de paisagismo. Catálogo da Janeiro: [s. n.], 2007.
JELLICOE, Geoffrey Alan. “Interpretação exposição. Rio de Janeiro: Museu de Arte PEDROSA, Mário. “Arquitetura paisa­
britânica dos jardins brasileiros de Ro- Moderna, 1965. gística no Brasil”. Jornal do Brasil, Rio
berto Burle Marx”. Habitat, São Paulo,
MAYO, Simon. Roberto Burle Marx, de Janeiro, 9 de janeiro de 1958.
v. 29, abril de 1956, p. 75.
landscape architect, botanist and ar- . “O paisagista Burle Marx”. Jornal
“JOIAS de Haroldo e Roberto Burle Marx tist. Londres: Royal Botanic Gardens of do Brasil, Rio de Janeiro, 10 de janeiro
ganham exposição em Nova York”. RG, 2 Kew, 1982. de 1958.
de junho de 2016. Disponível em: <https://
MEDEIROS, Caetano de Freitas. “Frag- PENNA, Nilson. “Margot Fonteyn – Micha-
siterg.uol.com.br/moda/2016/06/02/
mentos de um caminho: entrevista com el Somes com o balé do Rio de Janeiro”.
joias-de-haroldo-e-roberto-burle-
o paisagista José Tabacow”. Cadernos
-marx-ganham-exposicao-em-nova- Jornal do Brasil, n. 161, 10 de julho de 1960.
Naui, v. 5, n. 9, julho-dezembro de 2016.
-york/#2>, acesso em 7 de junho de 2019. PÉREZ, Julia Rey. Burle Marx: del lienzo
MELHEM, Nubia Santos; CARVALHO,
KAMP, Renato. “Roberto Burle Marx e al espacio público en Río de Janeiro.
Marcia Pereira. Burle Marx: jardins e
seus pais, Cecília e Wilhelm”. Revista Sevilha: Aconcagua Libros/ Instituto de
ecologia. São Paulo: Editora Senac, 2009.
Folha, Rio de Janeiro, n. 19, 2009. Estudios sobre América Latina/ Univer-
MELLO, Dunstana Farias de. Pedra de sidad de Sevilla, 2014.
KASSLER, Elizabeth B. Modern gardens
Guaratiba: um lugar onde o futuro não
and the landscape. Nova York: Museum . La intervención de Burle Marx en
aconteceu. Dissertação de mestrado.
of Modern Art, 1964. el paseo de Copacabana: un patrimo-
Rio de Janeiro: Unirio, 2015.
nio contemporáneo. Sevilha: Instituto
KERNER, Miguel Thomas. “Roberto Bur-
“MESTRES da forma livre”. O Cruzeiro, Andaluz del Patrimônio Histórico, 2011.
le Marx: parchi, giardini, ville, piazze,
Rio de Janeiro, n. 20, 24 de fevereiro de
spiagge”. L’Architettura, Roma, v. 21, n. PESSOA, José (org.) Lucio Costa: do­
1962, p. 22-3.
12, abril de 1976, p. 716-40. cumen­tos de trabalho. Brasília: IPHAN,
MINDLIN, Henrique. Arquitetura moder­ 2004.
LANA, Ricardo Samuel de. Arquitetos da
na no Brasil. 2 ed. Rio de Janeiro: Aero-
paisagem: memoráveis jardins de Burle PONGETTI, Henrique. “Jota Aragonesa”.
plano/ Iphan/ Ministério da Cultura, 2000.
Marx e Henrique Lahmeyer de Mello Bar- Manchete, Rio de Janeiro, n. 120, 7 de
reto – década de 1940. Belo Horizonte: . Modern architecture in Brazil. Rio agosto de 1954, p. 3.
Museu Histórico Abílio Barreto, 2009. de Janeiro/ Amsterdã: Colibris, 1956.
“UMA PONTE cairá do céu no baile do
LAUS, Harry. “Roberto, homem renascen- “MODELOS brasileiros em Paris”. O Cru- Municipal, para o desfile das fantasias”.
tista”. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, n. 211, zeiro, Rio de Janeiro, n. 8, 3 de dezembro Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, n. 9, 11
10 de setembro de 1963, Caderno B, p. 4. de 1960, p. 91. de janeiro de 1958, p. 7.
PORTNER, Leslie Judd. “Burle Marx in SICRE, José Gomes. “Burle Marx of Brazil TOLEDO, Benedito Lima de. Álbum ico-
Washington”. Washington Post, Wa- designs gardens for today”. Americas, nográfico da Avenida Paulista. São
shington, maio-junho de 1954. Washington, v. 6, julho de 1954. Paulo: Ex Libris, 1987.
QUEIROZ, Paulo Peltier de et al. (coor- SILVA, Aline de Figueirôa. Jardins do VACCARINO, Rossana (org.). Roberto
ds.). Burle Marx: homenagem à natureza. Recife: uma história do paisagismo no Burle Marx: landscape reflected. Prince-
Petrópolis: Vozes, 1979. Brasil (1872-1937). Recife: Cepe, 2010. ton: Princeton Architectural Press, 2000.
QUEIROZ, Raquel Fassini Esperança. SILVA, Roberto. New Brazilian gardens: VALLADARES, Clarival do Prado. “Ar-
As especificidades naturais de Ilha de the legacy of Burle Marx. Londres: Tha- quitetura do jardim e da paisagem”.
Guaratiba e os impactos ambientais mes & Hudson, 2006. Diário de Notícias, Rio de Janeiro, 8 de
provenientes do processo de urbani- dezembro de 1959.
SIQUEIRA, Vera Beatriz. Burle Marx.
zação. Monografia de especialização.
São Paulo: Cosac Naify, 2009. Coleção . Paisagem revivida. Salvador: Im-
Rio de Janeiro: AVM Faculdade Inte-
Espaços da Arte Brasileira. prensa Oficial da Bahia, 1962.
grada, 2011.
. “Um jardim sem igual”. Revista . “Roberto Burle Marx: pintura em for-
REED, Peter. Groundswell: constructing
de História da Biblioteca Nacional, Rio ma de jardim”. In: QUEIROZ, Paulo Peltier
the contemporary landscape. Nova
de Janeiro, Sociedade dos Amigos da de et al. (coords.). Burle Marx: homena-
York: MoMA, 2005.
Biblioteca Nacional/ Ministério da Cul- gem à natureza. Petrópolis: Vozes, 1979.
RIZZO, Giulio G. Il giardino privato di tura, v. 40, janeiro de 2009, p. 52-7.
. “A unidade plástica na obra de
Roberto Burle Marx: il Sítio. Sessant’anni
. “Permanência e diversidade: valo- Burle Marx”. Cadernos Brasileiros, Rio
dalla fondazione. Cent’anni dalla nas-
res modernos nos jardins de Burle Marx”. de Janeiro, v. 5, n. 5, setembro-outubro
cita di Roberto Burle Marx. Roma: Gan-
Anais do Museu Paulista, v. 25, n. 3, 2017, de 1964, p. 65-76.
gemi Editore, 2009.
p. 83-102.
VÉLEZ, Patricio. En el Sítio Roberto Burle
. Roberto Burle Marx: Il giardino
. “Sítio Santo Antônio da Bica: as Marx. Barcelona: Fundació Vila Casas, 2014.
del Novecento. Florença: Cantini, 1992.
coleções de Roberto Burle Marx”. Mo-
ROBERTO Burle Marx. São Paulo: Lemos dos, v. 1, n. 1, 2017. Disponível em: <https:// VINCENT, Claude. “O arquiteto paisa-
Editorial, 1996. doi.org/10.24978/mod.v1i1.731>, acesso gista: Roberto Burle Marx”. Rio, Rio de
em 4 de junho de 2019. Janeiro, v. 10, n. 123, setembro de 1949,
ROBERTO Burle Marx: catálogo da p. 64-5. 304
exposição. Brasília: Galeria Práxis, 1989. SOUZA, Abelardo Reidy de. “Paisagis-
mo: arquitetura do exterior”. Arquite- . “O arquiteto-paisagista Roberto
ROBERTO Burle Marx: catálogo da Burle Marx”. In: QUEIROZ, Paulo Peltier 305
tura e Construção, São Paulo, v. 1, n. 1,
exposição. Paris: Musée Galliera, 1973. de et al. (coords.). Burle Marx: homena-
novembro de 1966, p. 22-6.
“ROBERTO Burle Marx, entrevista a Ana gem à natureza. Petrópolis: Vozes, 1979.
STEPAN, Nancy. “Picturing tropical natu-
Rosa de Oliveira em fevereiro de 1992”. WALDECK, Colin; DANIEL, Malcolm.
re”. Londres: Reaktion Books, 2001.
Vitruvius, ano 2, abril de 2001. Disponí- Lost Paradise: the Gardens of Roberto
vel em: <https://www.vitruvius.com.br/ . “Tropical modernism: designing Burle Marx. Rio de Janeiro: BBC/ Neon
rev i s ta s /re a d /e nt rev i s ta /0 2 . 0 0 6/ the tropical landscape”. Singapore Rio, 1992.
3346?page=1>, acesso em 30 de setem- Journal of Tropical Geography, v. 21, n.1,
bro de 2019. março de 2000, p. 79-91. WILLIAMS, A. Roberto Burle Marx: su
obra arquitetural paisajistica. Catálogo
ROBERTO Burle Marx: homenagem à TABACOW, José (org.). Roberto Burle da exposição. Buenos Aires: Museo Na-
natureza. Petrópolis: Vozes, 1979. Marx, arte & paisagem: conferências es- cional de Bellas Artes, 1961.
colhidas. São Paulo: Studio Nobel, 2004.
ROBERTO Burle Marx: joias, desenhos, ZANINI, Walter. “A versatilidade de
guaches, óleos, paisagismo e plantas “A TAREFA nativista de Roberto Burle Burle Marx”. O Tempo, São Paulo, 6 de
vivas – catálogo da exposição. Rio de Marx”. Habitat, São Paulo, v. 17, julho- julho de 1952.
Janeiro: Museu de Arte Moderna, 1963. -agosto de 1954, p. 15-9.
ZEVI, Bruno. “O arquiteto no Jardim”.
ROBERTO Burle Marx: uma poética da TÁVOLA, Artur da. “O profeta do novo”. In: Burle Marx: homenagem à natureza.
modernidade. [S. l.]: Itaminas, 1989. In: QUEIROZ, Paulo Peltier de et al. (co- Petrópolis: Vozes, 1979.
ords.). Burle Marx: homenagem à natu-
SAARINEM, Aline B. “Brazilian pioneer: . “Roberto Burle Marx”. L’Espresso,
reza. Petrópolis: Vozes, 1979.
landscape architecture of Burle Marx Roma, 18 de outubro de 1959.
represented in Washington show”. The TELLES, Gonçalo Ribeiro. “Burle Marx:
New York Times, Nova York, 30 de maio arquiteto paisagista”. Colóquio, Lisboa,
de 1954. 11 de fevereiro de 1973.
SÁ CARNEIRO, Ana Rita; SILVA, Joelmir TOFANI, Sandra Regina Menezes. Acer-
Marques da; SILVA, Aline de Figueirôa vo botânico do Sítio Roberto Burle Marx:
(orgs.). Jardins de Burle Marx no Nordes- valorização e conservação. Dissertação
te do Brasil. Recife: Editora UFPE, 2013. de mestrado. Rio de Janeiro: IPHAN, 2014.
A Requalificação do Sítio Roberto Burle Marx foi idealizada, elaborada
e coordenada em uma parceria entre o Sítio Roberto Burle Marx (SRBM / Iphan)
PRESIDENTE DA REPÚBLICA
PRESIDENT OF THE REPUBLIC e o Intermuseus, com patrocínio do Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES), e foi realizada, em seus diversos desdobramentos,
Jair Bolsonaro
pelas empresas e profissionais indicados a seguir:
MINISTRO DA CIDADANIA
MINISTER OF CITIZENSHIP
The Requalification of Sítio Roberto Burle Marx was conceived, elaborated and
coordinated in a partnership between Sítio Roberto Burle Marx (SRBM / Iphan)
Onyx Lorenzoni
and Intermuseus, sponsored by the National Bank for Economic and Social
MINISTRO DO TURISMO Development (BNDES), and was carried out, in its various developments, by the
MINISTER OF TOURISM following companies and professionals:
Marcelo Álvaro Antônio
PRESIDENTE INTERINO DO INSTITUTO COORDENAÇÃO EXECUTIVA PROJETOS ARQUITETÔNICOS E PLANO DIRETOR
DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO EXECUTIVE COORDINATION ARCHITECTURAL PROJECTS AND MASTER PLAN
E ARTÍSTICO NACIONAL (IPHAN) INTERMUSEUS PROCHNIK ARQUITETURA
INTERIM PRESIDENT OF THE
NATIONAL INSTITUTE OF HISTORIC ASSOCIADOS COORDENAÇÃO
AND ARTISTIC HERITAGE (IPHAN) ASSOCIATES COORDINATION
Robson Antônio de Almeida Andréa Bueno Buoro Mauricio Prochnik
(licenciada | licensed)
DIRETORES DO IPHAN EQUIPE – ARQUITETOS E URBANISTAS
IPHAN DIRECTORS Denise Grinspum TEAM – ARCHITECTS AND URBANISTS
Hermano Queiroz Joana Tuttoilmondo Maria Carolina Duriez
Ione Maria de Carvalho Maria Izabel Casanovas Thiago Lopes
Marcelo Brito Pedro Leitão Leoni Palheta Miranda
Marcos José Silva Rêgo Renato Baldin Isabela Assis Brasil
Robson Antônio de Almeida CONSELHO FISCAL
FISCAL COUNCIL CONSULTORA
  CONSULTANT
Agostinho Resende Neves
Marta Prochnik
Renato Musa
Miguel Gutierrez TOPOGRAFIA
SÍTIO ROBERTO DIREÇÃO EXECUTIVA TOPOGRAPHY
BURLE MARX EXECUTIVE DIRECTOR  Braga Netto Associados Ltda.
DIRETORA
Andréa Bueno Buoro
ESTRUTURAS
DIRECTOR COORDENAÇÃO DE PROJETOS STRUCTURES
Claudia Maria Pinheiro Storino PROJECT COORDINATION  Cerne Engenharia e Projetos
Joana Tuttoilmondo
CHEFE DA DIVISÃO ADMINISTRATIVA INSTALAÇÕES PREDIAIS
HEAD OF ADMINISTRATIVE DIVISION ASSISTENTE DE COORDENAÇÃO BUILDING FACILITIES
Letícia Dias Lavor  DE PROJETOS
Equilibrium
PROJECT COORDINATION ASSISTANT
CHEFE DA DIVISÃO TÉCNICA Marina Frúgoli AR CONDICIONADO E VENTILAÇÃO
HEAD OF TECHNICAL DIVISION AIR CONDITIONING AND VENTILATION
ASSISTENTE DE COMUNICAÇÃO
Marlon da Costa Souza COMMUNICATION ASSISTANT Flowterm Engenharia Ltda.
Néliane Catarina Simioni CONSULTORIA DE SEGURANÇA
SECURITY CONSULTANT
GESTÃO FINANCEIRA
FINANCIAL MANAGEMENT Katia Beatris Rovaron Moreira
Instituto do Patrimônio Histórico Raquel Celso SEGURANÇA CONTRA INCÊNDIO E PÂNICO
e Artístico Nacional (Iphan) FIRE AND PANIC SAFETY
ASSISTENTE ADMINISTRATIVO
National Institute of Historic ADMINISTRATIVE ASSISTANT Gedraw Projetos E Instalações Ltda.
and Artistic Heritage (Iphan)
Diego Braga Gomes
www.iphan.gov.br SEGURANÇA ELETRÔNICA –
ASSESSORIA JURÍDICA CFTV EXTERNO E INTERNO
edicoes.iphan@iphan.gov.br
LEGAL CONSULTANCY ELECTRONIC SECURITY –
EXTERNAL AND INTERNAL CCTV
Wendel Sociedade de Advogados
Instec Sistemas Eletrônicos
CONTABILIDADE
ACCOUNTANCY
de Segurança
Quality Associados ACÚSTICA
ACOUSTICS
PESQUISA DE ENGAJAMENTO TERRITORIAL
TERRITORIAL ENGAGEMENT RESEARCH Traço Verde Arquitetura Ambiental
Bianca Ramos SONDAGEM
(coordenação | coordination) SOUNDING
Daiane Brasil Soloteste Engenharia
Verônica Nascimento
(assistentes | assistants)
PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO INSTITUCIONAL CURADORIA CONSERVAÇÃO
E REQUALIFICAÇÃO MUSEOLÓGICA CURATORSHIP  CONSERVATION
INSTITUTIONAL STRATEGIC PLANNING AND
Vera Beatriz Siqueira Ateliê Raul Carvalho
MUSEOLOGICAL REQUALIFICATION
Coreart
EXPOMUS – EXPOSIÇÕES, MUSEUS, CURADORA ASSISTENTE
ASSISTANT CURATOR
PROJETOS CULTURAIS  MONTAGEM FINA
Carla Hermann ARTWORK INSTALLATION
DIREÇÃO GERAL 
EDIÇÃO DE CONTEÚDOS KBedim
GENERAL DIRECTOR 
CONTENT EDITION
Maria Ignez Mantovani Franco  WEBSITE
Carolina Vilas Boas  Dupla Design (Design)
DIREÇÃO EXECUTIVA  Cristiane Santana Monocromo (Desenvolvimento | Development)
EXECUTIVE DIRECTOR 
Fiorela Bugatti Isolan Diego Moura (Redação de textos | Writing)
Roberta Saraiva Coutinho 
PESQUISA DE IMAGENS
SISTEMA DE GESTÃO DE ACERVO
DIREÇÃO ADMINISTRATIVA IMAGE RESEARCH
ARCHIVE MANAGEMENT SYSTEM
ADMINISTRATIVE DIRECTOR Amanda Tavares Sistemas do Futuro – Software
Cláudia Ciarrocchi
FOTÓGRAFO - DECOF/IPHAN e Serviços Culturais
COORDENAÇÃO DO PROJETO MUSEOLÓGICO PHOTOGRAPHER – DECOF/IPHAN
TRADUÇÃO
PROJECT COORDINATION  Oscar Henrique Liberal TRANSLATION
Carolina Vilas Boas LICENCIAMENTO DE IMAGENS Philip Somervell
Cristiane Santana IMAGE LICENSING
REVISÃO DE TEXTOS
Maria de Lourdes da Silva Andrea Bolanho PROOFREADING
COORDENAÇÃO DE ACERVOS PROJETO EXPOGRÁFICO  Bibiana Leme (Português | Portuguese)
COLLECTION COORDINATION EXHIBITION DESIGN  Márcia Longarço (Inglês | English)
Alessandra Labate Rosso Luis Carlos Antonelli Lacerda
PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO IDENTIDADE VISUAL,
STRATEGIC PLANNING COMUNICAÇÃO E SINALIZAÇÃO
VISUAL IDENTITY, COMMUNICATION
Cristiane Santana AND SIGNAGE
AGRADECIMENTOS
Léa Blezer Araújo Dupla Design
ACKNOWLEDGEMENTS
Mariana Varzea Andrey Rosenthal Schlee
PROJETO AUDIOVISUAL 
Fátima Gomes
306
COORDENAÇÃO EDITORIAL AUDIOVISUAL PROJECT
EDITORIAL COORDINATION
Estúdio Preto e Branco Giulio G. Rizzo
Marcela Vieira Instituto Burle Marx 307
CONSULTORIA PEDAGÓGICA
PEDAGOGICAL CONSULTING Instituto Estadual do Patrimônio
CATÁLOGO RAISONNÉ ROBERTO
Sapoti Projetos Culturais Cultural - lnepac
BURLE MARX – ETAPA 1 (ACERVO SRBM) Instituto Moreira Salles
ROBERTO BURLE MARX CATALOGUE CONSULTORIA E RECURSOS
RAISONNÉ – STAGE 1 (SRBM’S COLLECTION) DE ACESSIBILIDADE
Instituto Rio Patrimônio da
HÓLOS CONSULTORIA ACCESSIBILITY CONSULTANCY Humanidade - IRPH
E ASSESSORIA
AND RESOURCES   José Tabacow
Gabriella Zubelli Jurema Machado
DIREÇÃO GERAL Maurício Montel e Renato Frosch Kátia Bogéa
GENERAL DIRECTION
CEFEP (Comércio Especializado no Prefeitura da Cidade
Christina Gabaglia Penna Fornecimento de Equipamentos PNE)
do Rio de Janeiro
COORDENAÇÃO AUDIOGUIA Superintendência do Iphan no
COORDINATION AUDIO GUIDE Estado do Rio de Janeiro – Iphan/RJ
Patricia Galliez de Salles SAPOTI E A TODA A EQUIPE DO SÍTIO
MUSEÓLOGAS 20dash ROBERTO BURLE MARX, EM ESPECIAL A
MUSEOLOGISTS AND TO ALL OF SÍTIO ROBERTO
PRODUÇÃO BURLE MARX’S STAFF, IN SPECIAL TO
Maria Pierro Gripp PRODUCTION
Cecilia Ewbank Izabel Campello Catia Regina de Lima e Silva
Jéssica Santana
ARQUIVISTA EXECUÇÃO DA EXPOGRAFIA
ARCHIVIST EXECUTION OF EXHIBITION DESIGN
Letícia Dias Lavor
Maria Gorete Ferreira de Lima
Juliana Ferreira Camuflagem
Marlon da Costa Souza
PROJETO DE ILUMINAÇÃO
BIBLIOTECONOMISTA Selma Alves de Jesus
LIBRARIAN LIGHTING DESIGN
Suzana Bezerra
Zulmira Pope Rogério Wiltgen 
Yanara Costa Haas
INSTALAÇÃO DE ILUMINAÇÃO
FOTÓGRAFO
LIGHTING INSTALLATION
PHOTOGRAPHER
Rafael Ardoján Ricardo Ponciano
LIVRO
BOOK
COORDENAÇÃO DE PROJETO EDITORIAL Daniele Del Giuduce de Andrade
EDITORIAL PROJECT COORDINATION
(Acervo SRBM): p 248
Expomus – Exposições Museus
Eduardo Treptow: p 87b
Projetos Culturais 
©Escritório de Paisagismo Burle Marx:
COORDENAÇÃO EDITORIAL
EDITORIAL COORDINATION
pp 56, 57, 68, 69, 282a, 283b, 284a
Marcela Vieira Felipe Tubarão: pp 74, 87a
PROJETO GRÁFICO
Gabrielle Carvalho Rangel: p 39
GRAPHIC DESIGN Halley Pacheco de Oliveira: p 166
Dupla Design Isabella Matheus / Pinacoteca de
PESQUISA DE IMAGENS São Paulo: p 195
IMAGE RESEARCH
José Tabacow: capa | cover, pp 21,
Amanda Tavares
24, 236-38, 286a, 289, 290d, 293a,
Andrea Bolanho
294, 295
LICENCIAMENTO DE IMAGENS
Karine Daufenbach: p 292
IMAGE LICENSING
Andrea Bolanho Leonardo Finotti: pp 285a, 291

TEXTOS
Luis Chacin 1972/Shutterstock: p 287b
TEXTS Luiz Cavalcanti Damasceno: p 86
Andrey Rosenthal Schlee Marcel Gautherot / IMS: p 32, 33,
Cláudia Storino 35, 44, 46, 51, 54, 61, 194, 274, 275,
José Tabacow 281, 282b, 283a, 285 b,c,d, 286b,
Vera Beatriz Siqueira 287a, 288, 290a,b,c
Yanara Costa Haas
Mariana Murakami: pp 77, 249
TRADUÇÃO
TRANSLATION Marlon da Costa Souza: pp 264-265
Philip Somervell Oscar Liberal: guardas | endpapers,
pp 8, 11 , 36, 38, 45, 48, 49, 52, 62, 63,
PREPARAÇÃO DE TEXTOS
COPY EDITING 76, 78, 79, 84, 89 - 91, 93, 95, 96, 98,
Bibiana Leme (Português | Portuguese) 102-105, 107-109, 112, 114-117, 119-123,
133, 134 a,b,c,d, 135-164, 167-173, 176,
REVISÃO DE TEXTOS
177, 181-183, 192, 193, 198c, 201, 203,
PROOFREADING
208-210, 212, 213, 216-218, 220, 221, DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO
Ana Cecília Agua
223, 224, 227a, 239-246, 250-253, NA PUBLICAÇÃO (CIP)
de Melo (Português | Portuguese) (CÂMARA BRASILEIRA DO LIVRO, SP, BRASIL)
255-257, 259, 261, 266-273, 310-311
Márcia Longarço (Inglês | English)  Sítio Roberto Burle Marx / ]Andrey Rosenthal
Rafael Adorjan: pp 180, 184, 187, Schlee… [et al.] ; organização Claudia Storino,
IMPRESSÃO Vera Beatriz Siqueira ; coordenação Marcela
PRINT
203, 204, 205, 280 Vieira]. -- São Paulo : Intermuseus ; Rio de

Stillgraf Reprodução | copy: Oscar Liberal: p 70 Janeiro : Sítio Roberto Burle Marx, 2020.

Edição bílíngue: português/inglês.


DIREITOS AUTORAIS E CRÉDITOS DE IMAGENS
Rogério Reis / Tyba: p 258 Outros autores: Claudia Storino, José Tabacow,
Vera Beatriz Siqueira, Yanara Costa Haas
COPYRIGHT AND IMAGE CREDITING Rubens Chaves/Pulsar Imagens: p 297
1. Arquitetos paisagistas - Brasil 2. Botânica
Acervo SRBM: pp 4, 6, 28, 30, 34, Vitor Marigo / Tyba: p 296 3. Marx, Roberto Burle, 1909-1994 4. Paisagismo
42, 43, 47, 53, 67, 82, 97, 100, 101, 113, 5. Patrimônio cultural - Rio de Janeiro (RJ)
- Proteção 6. Plantas 7. Sítio Roberto Burle
178, 186, 187, 196, 198 a,b,d, 199, 226, Devido à natureza histórica do acervo, Marx - Rio de Janeiro (RJ) 8. Sítios históricos I.
227b, 248, 235, 284b mesmo após intensa investigação não foi Schlee, Andrey Rosenthal. II. Storino, Claudia.
possível identificar todos os retratados, III. Tabacow, José. IV. Siqueira, Vera Beatriz. V.
Alair Gomes / Acervo da Fundação autores e créditos das obras. Não obstante,
Haass, Yanara Costa. VI. Vieira, Marcela.

Biblioteca Nacional - Brasil: p 64 estamos aptos a sanar eventuais equívocos 20-34860 CDD-712.098153

Augusto Malta: p 71 decorrentes dos fatos supramencionados.

Ayrton Camargo / Tyba: p 231 Because of the historical nature of the Este livro foi editado na cidade de São Sebastião
collection, it was not possible to identify all do Rio de Janeiro, em março de 2020.
Caetano Oliveira: pp 232-233 those portrayed, authors and works credits Foi composto com a tipografia Hurmes Geometric
Sans 4, e impresso em papel Couché Matte 170g,
Claus Meyer / Tyba: pp 22, 23,174, albeit intensive research. Notwithstanding,
na gráfica Stilgraf.
179, 260, contracapa | backcover we are able to clear up any possible
misunderstandig arising from the above This book was published in the city of São
Cléo Bicho (Dupla Design): p 134e mentioned facts. Sebastião do Rio de Janeiro in March 2020.
Hurmes Geometric Sans 4 typography on
Daderot: p 293b Couché Matte 170g paper, printed by Stilgraf.
PATROCÍNIO COORDENAÇÃO REALIZAÇÃO
SPONSORED BY COORDINATED BY PRESENTED BY

Você também pode gostar