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ARQUITETURA E
DA PAISAGEM
Sustentabilidade
em projetos
paisagísticos
Dulce América de Souza
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Introdução
O termo sustentabilidade está presente nos debates do mundo contemporâneo
em múltiplas esferas. Ele é frequentemente associado a atitudes como o uso
racional da água, a preferência por recursos renováveis, a otimização do uso
de materiais não degradáveis, a redução de impactos negativos e o reaprovei-
tamento de matérias-primas. Contudo, o conceito não se aplica somente ao
meio ambiente. Uma noção ampliada também considera as condições humanas,
sociais e econômicas. O paisagismo sustentável apoia-se no prisma ambiental,
mas tem estreito comprometimento com os pilares econômicos e sociais.
Neste capítulo, você vai estudar os requisitos da sustentabilidade no pai-
sagismo, abordando-a sob três eixos: os aspectos bioclimáticos, ambientais e
botânicos. Além disso, vai analisar os conceitos e as diretrizes estabelecidas
e os relacionar a projetos no Brasil e no mundo. Por fim, vai ver a importância
2 Sustentabilidade em projetos paisagísticos
Paisagismo sustentável
Em grande parte das cidades contemporâneas, nos deparamos com problemas
urbanos semelhantes, decorrentes da discordância entre o desenvolvimento
humano e os processos naturais. Nos centros urbanos, a natureza tem sido
eliminada gradativamente pelas urbanizações em diversas escalas, fazendo
emergir a importância do arquiteto paisagista com soluções para a manu-
tenção de processos naturais no meio urbano. As estratégias de projeto são
largamente conhecidas por meio de recentes publicações que contribuem
para a prática profissional e, consequentemente, para a qualidade de vida
nas cidades.
Os estudos estão relacionados ao clima, cuja compreensão mínima é
fundamental para o paisagista, a fim de entender o que deve ser controlado
no ambiente e, assim, obter os melhores resultados durante projeto. Romero
(2000) observa que esses estudos contemplam a formação de diversos fatores
geomorfológicos espaciais, como sol, latitude, altitude, ventos, massas de
terra e água, topografia, vegetação, solo etc., e de elementos do clima, como
temperatura do ar, umidade do ar, movimento das massas de ar e precipitações.
A diferença entre os fatores e os elementos do clima é a produção literária,
que atribui aos fatores a propriedade de definir e fornecer os componentes
do clima e aos elementos a qualidade de condicionar, determinar e dar origem
ao clima. Para o paisagismo, a compreensão dos denominados fatores locais
tem uma importância significativa, pois, conforme Lynch (1997), eles são os
responsáveis pelas modificações ao clima impostas pela forma espacial das
pequenas superfícies. Romero (2000) apresenta uma separação entre os
fatores e os elementos do clima, que devem ser sempre considerados em
conjunto, pois cada um deles resulta da conjugação entre os demais (Figura 1).
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Radiação solar
Quantidade/Qualidade/Inclinação do
eixo terrestre/Equilíbrio término terrestre
Latitude
Altitude
Ventos
Topografia
Declividade/Orientação/
Exposição/Elevação
Vegetação
Superfície do solo
Natural ou construído/Reflexão/
Permeabilidade/Temperatura/Rugosidade
Elementos climáticos
Temperatura
Valores médios/Variações/Valores extremos/
Diferenças térmicas entre o dia e a noite
Umidade do ar
Absoluta/Relativa/Pressão de valor
Precipitações
Chuva/Neve (todo tipo de água que se
precipita da atmosfera)
Movimento do ar
Velocidade/Direção/Mudanças
diárias e estacionais
Dados como topografia, direção dos ventos, qualidades visuais do entorno, patri-
mônio, massas vegetais e recomposição vegetal autóctone, qualidade das águas,
insolação, caracterização da vida animal residente, em conjunto com dados socio-
econômicos e culturais, passaram a constituir os elementos fundamentais para a
elaboração do projeto (VIEIRA, 2007, p. 196).
a b
a c
Figura 4. Praça Victor Civita: (a) implantação, (b) vista aérea e (c) deck.
Fonte: (a, b) Levisky e Dietzsch (2008, documento on-line); (c) Helm (2011, documento on-line).
a b
a b
Figura 6. Planet Smart Square: (a) totem interativo e (b) coluna SOS.
Fonte: Planet the Smart City (2017, documento on-line).
A praça ainda conta com academia ao ar livre com piso que gera energia
elétrica por impacto. (Figura 7a) Além disso, há tijolos de vidro dispostos em
placas fotovoltaicas que absorvem a luz solar durante o dia e a distribuem
à noite, criando um efeito de iluminação sugestivo e ecológico. O baixo con-
sumo de iluminação na praça é garantido pelas lâmpadas de alta eficiência
do sistema LED (Figura 7b), que têm um sensor inteligente.
Os estares das áreas de descanso contam com bancos inteligentes (Figura 7c),
capazes de detectar dados ambientais e reproduzir música, além de oferecer
conexão Wi-Fi e entradas USB para carregar smartphones. O mobiliário lounge
assinado oferece conforto aos ambientes de estar da praça, envolvidos por
vegetação ornamental (Figura 7d).
O jardim urbano com hortas para utilização coletiva transforma o espaço
verde pela noção de compartilhamento, o que reforça o compromisso com
uma cidade unida e sustentável (Figura 8a). A praça conta também com um
sistema de irrigação inteligente (automática), que se ajusta dependendo das
condições meteorológicas e da umidade do solo, chegando a economizar
até 50% dos gastos. Ele é integrado a estratégias de recuperação da água da
chuva, conforme mostra a Figura 8b (PLANET THE SMART CITY, 2017).
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a b
c d
Figura 7. (a) Academia ao ar livre; (b) sistema LED com placa fotovoltaica; (c) bancos inteli-
gentes; (d) mobiliário lounge.
Fonte: Planet the Smart City (2017, documento on-line).
a b
a b
A estrutura dos jardins de chuva pode ser descrita como rasas depressões
de terra que recebem água do escoamento superficial (Figura 10). Essa água
se acumula nas depressões, formando pequenas poças que são gradualmente
infiltradas no solo. “Os poluentes são removidos por adsorção, filtração,
volatilização, troca de íons e decomposição. A água limpa pode ser infiltrada
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Absorção solar
Difusão solar
Premissão
Emissão fraca
(da folhagem para Emissão intensa
o solo)
Emissão fraca
(do solo para a folhagem)
Ao todo, são cerca de 5.000 acessos, representando 181 famílias botânicas, 953
gêneros e pouco mais de 4.200 espécies de plantas vasculares. Tamanha diversidade
faz do Jardim Botânico Inhotim (JBI) um espaço único, possuindo a maior coleção
em número de espécies de plantas vivas entre os jardins botânicos brasileiros
(INHOTIM, 2021, p. 1).
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