Livro Único Murder at Sunrise Lake - TRD - LR

Murder At Sunrise Lake
Livro Único
1
Livro Único
Suspense
Tudo começa em seus sonhos. Flashes horríveis de um
pesadelo que só ela pode parar. Imagens de um assassino
perseguindo aqueles com quem ela mais se preocupa...
Stella Harrison achava que havia escapado dos traumas de

seu passado. Administrar o resort Sunrise Lake no alto das
montanhas de Sierra Nevada trouxe paz, embora ela realmente
não compartilhe sua vida tranquila com ninguém. Nem mesmo
Sam, o faz-tudo contratado que repara em tudo e sempre parece
saber exatamente o que ela precisa.
Stella não sabe nada sobre o passado de Sam, mas de

alguma forma, nos últimos dois anos, sua presença lenta e
constante escapou de suas defesas. Ainda assim, ela sabe que não
pode contar a ele sobre suas premonições recentes. Até agora não
houve assassinato. Sem corpo. Nenhuma maneira de provar o que
está para acontecer sem destruir a vida que ela tem.
Mas um assassino está lá fora. E Stella sabe que desta vez

ela fará de tudo para detê-lo.
2
Livro Único
Projeto Independente
3
Livro Único
Capítulo 01
Mamãe, papai está fazendo a coisa errada de novo.
A voz da criança dizia muito claramente às palavras que

ela disse à mãe quando tinha quatro anos. Quando ela tinha cinco
anos. Quando ela tinha sete anos.
Stella Harrison sabia que estava sonhando, mas ainda não

conseguia lutar para chegar à superfície. Esta foi à quinta noite
consecutiva que ela teve o sonho e a câmera alargou a lente um
pouco mais como fazia todas as noites, então ela viu pedaços
adicionais do pesadelo horrível que ela não conseguia parar. O
homem pescando. Ele usava um macacão jeans dobrado em botas
altas cor de oliva. Um boné azul estava puxado para baixo sobre
seus olhos para que ela não pudesse ver seu rosto. Havia
pedregulhos entre os pesados juncos e plantas que cresciam ao
longo da costa, rastejando para o lago. Ele abriu caminho através
das pedras para sair da sombra de várias árvores.
Ela tentou avisá-lo. Gritando. Chamando. Não lance. Não faça

isso. Todas as noites ela via sua linha ir para o mesmo lugar. Aquela
pequena área mais escura que ondulava em anéis como uma
pequena piscina redonda, tão convidativa. O pescador sempre fazia
4
Livro Único
exatamente a mesma coisa, como um robô programado.

Avançando, lançando, a isca acertando perfeitamente, afundando
no meio daquela mancha escura, caindo sob a água nas
profundezas abaixo.
A câmera mudou então e ela pôde ver abaixo da água.

Deveria ter sido tranquilo. Pacífico. Peixes nadando. Não o homem
de roupa de mergulho, esperando por aquele anzol, esperando para
puxar e entrar em algum tipo de jogo terrível com o pescador acima
da superfície. A luta pelo peixe tornou-se uma verdadeira batalha de
vida ou morte, com o pescador sendo atraído cada vez mais para
longe da segurança da costa e para os juncos e rochas - mais perto
da ameaça que espreitava sob a água.
O peixe mítico parecia estar lutando. Ele parecia grande e

valia a pena à batalha exaustiva. O pescador prestava cada vez
menos atenção ao ambiente à medida que puxava o peixe para
mais perto e percebia que estava perto de ganhar seu prêmio.
Sem aviso, o assassino, sob a água, levantou-se bem na

frente do pescador desavisado, jogando-o para trás para que suas
pernas não pudessem encontrar tração no fundo do lamacento lago.
Ele bateu com a cabeça na pedra atrás dele e caiu. Imediatamente,
o assassino agarrou suas pernas e puxou com força, arrastando-o
para baixo da água e segurando-o ali enquanto o pescador se
5
Livro Único
debatia e lutava, mas ele estava fraco com o golpe violento na
pedra em sua cabeça.
Stella só pôde assistir, horrorizada, enquanto o assassino

calmamente terminava a cena arrastando o corpo para a superfície
por apenas alguns momentos para que pudesse arrastar o fundo ao
longo de uma pedra antes de puxar o pescador de volta para a
água e enredá-lo sua própria linha de pesca logo abaixo da
superfície nos juncos e plantas perto da costa. O assassino nadou
calmamente como se nada tivesse acontecido.
A lente da câmera se fechou e tudo ficou preto.
STELLA acordou lutando contra um emaranhado de

lençóis, o suor pingando, o cabelo úmido. Ela se sentou
abruptamente, pressionando as costas das mãos nos olhos.
Esfregando, esfregando as palmas das mãos no rosto uma e outra
vez. Tentando apagar o pesadelo. De novo não. Já fazia anos. Anos.
Ela fez uma nova vida para si mesma. Novos amigos. Um lugar. Um
lar.
Agora o pesadelo estava de volta e se repetia. Esta foi à quinta

vez que ela teve. Cinco vezes seguidas. Não era como se ela vivesse
em uma cidade grande. Normalmente, se um assassinato estivesse
acontecendo, todos saberiam especialmente em uma cidade
pequena. Mas esse assassino era brilhante. Ele era absolutamente
brilhante e era por isso que iria se safar - a menos que ela chamasse
a atenção para os assassinatos. Mesmo assim, ela não tinha certeza
de que ele seria pego.
6
Livro Único
Ela não percebeu que estava se balançando para frente e para

trás, tentando se acalmar. Ela se forçou a parar. Ela não fazia isso há
anos também. Todos aqueles hábitos terríveis que ela desenvolveu
quando criança, que voltaram na adolescência, ela conseguiu
superar. Agora ela descobriu que eles estavam se esgueirando de
volta para sua vida.
Não havia como voltar a dormir, embora ainda estivesse

escuro lá fora. Ela planejou dormir até tarde. Ela tinha alguns dias
de folga, embora a temporada estivesse terminando. Ela era dona do
Sunrise Lake Resort e o havia feito por vários anos, transformando-o
de um negócio sombrio e falido para um que não apenas gerava
grandes lucros, mas ajudava também os negócios locais. Ela amava
o resort, amava tudo nele, até mesmo o trabalho duro.
Especialmente isso. Ela prosperava na solução de problemas, e esses
problemas mudavam de hora em hora, mantendo sua mente
constantemente ativa. Ela precisava disso, primeiro administrando,
e depois possuindo, Sunrise Lake providenciou isso.
Quando o proprietário decidiu que era hora de se aposentar

quatro anos antes, ele vendeu o resort para ela. Eles mantiveram a
transação em segredo e ele continuou a ficar no primeiro ano como
se fosse o dono. Com o tempo, suas visitas tornaram-se cada vez
menos frequentes. Ela renovou a casa principal, mas manteve uma
cabana especial para ele para que ele tivesse um lugar sempre que
voltasse.
A propriedade era linda, no alto das montanhas que cercavam

uma boa parte do Lago Sunrise. Knightly, a cidade mais próxima,
ficava à uma hora de carro abaixo em uma rodovia bastante sinuosa.
A cidade era pequena, mas isso apenas tornava a comunidade mais
unida.
Stella tinha feito bons amigos lá. Ela gostava de viver no

interior. Ela se sentia aterrada, conectada, viva ali. Havia todos os
tipos de coisas a fazer, desde esquiar, fazer caminhada, acampar e
7
Livro Único
escalar. Ela cabia ali. Ela não estava jogando tudo fora com alguns
pesadelos. Isso seria tão estúpido. Acontece que os pesadelos eram
tão vívidos e agora recorrentes, cada vez mais detalhados.
Não era como se houvesse um corpo - ainda. Ela estremeceu.

Ia ser. Ela sabia disso. Ela simplesmente sabia que haveria. Em
algum lugar, um pescador seria assassinado nos próximos dois dias.
Não haveria como provar que ele foi assassinado. Ela tinha que
parar de pensar nisso ou ficaria louca.
Ela rolou para fora da cama e foi direto para o banho. Ela
mesma supervisionou as reformas da casa principal, prestando
especial atenção ao banheiro e à cozinha. Amava cozinhar e, mais do
que tudo, depois de um longo dia de trabalho, queria saber se tinha
água quente de sobra para chuveiros e banhos. Seu banheiro
espaçoso era uma obra de arte.
A banheira autônoma era funda e o chuveiro maior. Ela

gostava de espaço no chuveiro e de muitos jatos vindo de todos os
lados, já que muitas vezes ficava dolorida com o trabalho que fazia,
ou por escalar, esquiar, fazer caminhada ou qualquer outra
atividade ao ar livre que decidia fazer. Até dançar com seus amigos
às vezes durava a noite toda. Seu banheiro era perfeito para ela.
Ela projetou as reformas da casa principal para duas pessoas,

embora não acreditasse que algum dia teria uma outra pessoa
importante em sua vida. Ela estava muito fechada. Ela não
compartilhou seu passado com ninguém, nem mesmo seus amigos
mais próximos. Ela realmente não namorava. No minuto em que
alguém começava a chegar perto demais, ela recuava.
A água quente derramou sobre ela enquanto ela lavava seus

grossos cabelos loiros. Seu cabelo era a única coisa pela qual ela era
um pouco vaidosa. Ela não o usava com frequência, mas era quase
prateado, graças aos avós finlandeses por parte da mãe. Ela herdou
deles aquela cor de cabelo claro, junto com seus olhos azuis
8
Livro Único
cristalinos. A espessura de seu cabelo e os cílios mais escuros foram

um presente do lado paterno da família. Ele era originalmente da
Argentina. A mãe dela o conheceu na faculdade em San Diego, onde
ambos estudaram. Seu pai era de uma rica família argentina. Entre
seus dois pais, ela teve a sorte de obter uma genética incrível.
A água quente ajudou a dissipar o último pesadelo e a bile em

seu estômago. Infelizmente, a inquietação persistiu. Ela só não tinha
certeza do que fazer. Ela teve esses sonhos apenas duas vezes antes,
e nas duas vezes a realidade acabou sendo pior do que seus
pesadelos. Suspirando, ela tirou o máximo de água possível do
cabelo antes de enrolar uma toalha ao redor da massa e, em seguida,
secou o corpo lentamente com uma toalha quente.
Vestindo sua calça jeans favorita e uma camiseta confortável,

ela vestiu um suéter e as botas antes de trançar o cabelo. Ela não o
secou se pudesse evitar, e como ela raramente usava maquiagem ou
se arrumava quando tinha um dia de folga, ela estava pronta para ir
em minutos.
— Bailey, não acredito que você ainda está dormindo.

Levante-se, seu animal preguiçoso. Ela colocou as mãos nos quadris
e tentou parecer severa enquanto considerava o grande Airedale1
ainda enrolado em sua cama de cachorro ao lado de sua cama.
Os olhos de Bailey se abriram e ele olhou para ela e depois ao

redor da sala, notando a escuridão, como se dissesse que ela estava
louca por acordar tão cedo. Com um suspiro, o cachorro se levantou
e a seguiu pela casa espaçosa até a porta da frente. Na varanda, ela
hesitou na porta. Ela tinha parado de trancar a porta ou ajustar o
alarme há algum tempo, mas, ultimamente, aquela sensação que
rastejava em sua espinha estava de volta. A agitação em seu
1
A airedale terrier, oriunda do Reino Unido, é a maior raça entre os cães do tipo terrier.
Criado através de cruzamentos entre o Old english broken-haired terrier e o cão-de-lontra, este animal é
classificado como versátil e corajoso.
9
Livro Único
estômago começou tudo de novo. Bailey esperou pacientemente que

ela se decidisse.
Stella sabia que era ridículo ficar parada na frente da porta

como uma louca. Ela tomava decisões o tempo todo. Acontece que
ceder aos seus medos era como voltar atrás, e ela prometeu a si
mesma que nunca faria isso. Ela ficou lá indecisa, olhando para a
porta grossa esculpida por mais um minuto antes de se decidir.
Trancando a porta, ela acionou o alarme, furiosa consigo

mesma por ter cedido aos pesadelos e terror implacável que podiam
consumi-la quando ela estava dormindo. O medo se apoderou dela
de surpresa, e lenta, mas seguramente, assumiu até que ela se
envolvesse nas coisas que era melhor deixar quieto. Se ela realmente
reconheceria que um assassinato ocorreria em suas amadas Sierras,
ninguém iria ajudar nas investigações desta vez. O assassino faria
com que parecesse um acidente. Ela não tinha sonhos, a menos que
o assassino fosse um serial killer, o que significava que ele mataria
novamente. Acidentes aconteciam o tempo todo nas serras.
Não haveria fofoca, sem sussurros ou rumores. Antes, ela

odiava isso, a maneira como em todos os lugares que ela ia,
assassinato tinha sido o assunto da conversa. Agora, se ela quisesse
parar um assassino, ela teria que fazer as perguntas certas ela
mesma. Vários de seus amigos estavam envolvidos com Busca e
Resgate. Ela conhecia o médico legista. Talvez ela pudesse descobrir
um motivo para fazer perguntas que fizessem sentido e, ao mesmo
tempo, levantar suspeitas de que a morte não foi um acidente.
Stella evitou deliberadamente a marina e caminhou no escuro

para chegar ao cais da família. Este cais não era aquele para o qual
os proprietários originais dirigiram seu barco - eles usaram os cais
da marina para isso. Este era privado, para aproveitar o nascer e o
pôr do sol, assim como ela estava fazendo agora. A doca tinha sido
posicionada perfeitamente para captar a beleza das montanhas
10
Livro Único
espelhadas no lago enquanto o sol nascia ou se punha. Ela nunca se

cansava da vista.
Ela estava tão familiarizada com o layout do terreno que mal

precisou da pequena lanterna enquanto manobrava o caminho
estreito que a levava para longe dos edifícios principais, do pequeno
supermercado, da loja de iscas, da coleção de cabines e das áreas de
lazer designadas para crianças e áreas de jogos para adultos.
A trilha a levou para trás dos acampamentos e locais de RV

para um caminho ainda mais estreito que conduzia por uma pilha
de pedras e em uma área densamente florestada. Uma vez por entre
as árvores, ela estava de volta à costa. Parecia um lugar ridículo para
colocar um píer, mas ela gostava da paz quando mais precisava -
como agora. Os turistas não sabiam como chegar ao cais, e isso
significava preciosa solidão quando ela tinha algumas horas - ou um
dia para si mesma.
O outono havia chegado, e com ele as cores gloriosas com as

quais apenas as serras orientais poderiam envolvê-la. Ela adorava
cada temporada nas serras, mas o outono era definitivamente uma
das favoritas. O tempo mais fresco depois do calor do verão era
sempre bem-vindo. Ainda havia pesca e turistas ainda vinham, mas
as coisas estavam diminuindo, então ela podia respirar. Escalar
ainda era uma possibilidade e ela adorava escalar.
Em seguida, havia apenas a beleza absoluta dos blazing reds2

em chamas, todos os vários tons, do carmesim a um achatado, quase
vermelho-púrpura nas folhas de muitas das árvores. As laranjas
eram iguais, em todos os tons variados. Ela não sabia que havia
tantos tons, de sutil a laranja brilhante, dourados e amarelos, as
11
Livro Único
cores competindo por atenção mesmo entre os verdes variados, até

que ela chegou às serras orientais.
As montanhas3 se ergueram acima do lago; florestas de

árvores comprimidas tão fortemente que pareciam impenetráveis à
distância. As montanhas se estendiam por quilômetros,
desfiladeiros e rios, florestas incríveis e rochas lindas e marcadas
não encontradas em nenhum outro lugar. Este era o lugar das
lendas, e ela aprendera a amá-lo e à paisagem em constante
mudança.
Stella sentou-se na ponta das grossas tábuas que formavam o

píer e ficou olhando para a água do lago gelado. Alimentado pelos
rios de alta montanha e neve, Sunrise Lake4 era uma enorme bacia
de água cor de safira profunda. Uma leve brisa agitou a superfície,
mas na maior parte, a água brilhava como vidro. Às vezes, a beleza
incomparável deste lugar roubava seu fôlego. Não parecia importar
em que época do ano era, o lago e as montanhas circundantes
sempre tiveram tanta elegância e majestade.
Bailey se enrolou ao lado dela, perto, do jeito que ele sempre

fazia quando ela se sentava no final do cais. Ele voltou a dormir,
sem saber por quanto tempo ela planejava ficar sentada, esperando
o sol nascer. Ela desejou que Bailey pudesse falar para que ela
pudesse pelo menos ter alguém com quem falar coisas importantes -
como um assassinato - mas quando ela tentou, o cachorro deu a ela
uma aparência de que ela tinha enlouquecido e colocou o rosto em
seu colo, convidando-a a coçar suas orelhas. Tirando vantagem.
Essa era seu amado Bailey.
3
As Montanhas que se refere na estória são as Serra Nevada, também conhecida como
The Sierra, é uma cordilheira que se situa na parte oriental do estado da Califórnia, com uma pequena
porção que se estende pelo estado de Nevada. O seu cume mais alto é o monte Whitney. A Sierra
Nevada oferece uma grande diversidade de paisagens.
12
Livro Único
Não houve nenhum aviso. Uma mão tocou seu ombro e ela
quase se jogou do cais para o lago. Bailey nem ergueu os olhos ou
fez barulho. A mão a segurou com firmeza antes que ela pudesse
cair do cais. Ela virou a cabeça para olhar para o homem elevando-
se sobre ela. Sam Rossi era um daqueles homens que podia andar
em silêncio absoluto. Às vezes, como agora, ele a assustava. Ele era
muito rude para chamá-lo de lindo, com seus traços masculinos
esculpidos, todos os ângulos e planos. Sua mandíbula estava sempre
coberta por uma sombra escura que nunca foi uma barba, mas
nunca foi raspada. Ele raramente sorria se é que o fazia, e quando o
fazia, aquele sorriso nunca alcançava seus olhos frios como o ártico.
Ele tinha um corpo sobre ele. Ombros largos. Peito grosso.

Muitos músculos. Ele era forte. Ela sabia por que o empregou como
um faz-tudo e ele teve que fazer todos os tipos de trabalhos que
exigiam uma força inacreditável. Ele tinha que ter conhecimento de
barcos, carpintaria, pesca, escalada e a maioria das atividades ao ar
livre, e até agora, ele não a decepcionou nenhuma vez.
Ele tinha cicatrizes. Muitos deles. Ele tirou a camisa quando

estava quente como o inferno e ele teve que trabalhar fora. Não
tanto quando havia outras pessoas por perto, geralmente apenas ela,
ou quando ele estava a uma boa distância dos outros, mas ela tinha
visto as cicatrizes, e essas cicatrizes não eram bonitas. Não eram o
tipo de cicatriz que se adquiria em um acidente de carro. Parecia
que a pele havia sido arrancada de suas costas. Ele foi baleado mais
de uma vez. Ele tinha algumas cicatrizes de faca, com certeza. Ela
não olhou de perto. Ela fez questão de não olhar, embora ela
quisesse. Ela nunca perguntou e ele nunca deu uma explicação.
— Pare de se aproximar de mim assim, ela retrucou irritada

enquanto pegava o café que ele tinha na outra mão, claramente
destinado a ela.
Ele puxou a caneca para viagem e se sentou Bailey entre eles,

ignorando sua mão estendida.
13
Livro Único
— Sam. Ela praticamente rosnou o nome dele. Ele não poderia

trazer o aroma de sua bebida fermentada favorita e então retê-lo.
Ele ergueu uma sobrancelha para ela. Evidentemente, ele

pensou que poderia. Ele colocou a caneca no lado oposto de seu
corpo, de forma que ela não pudesse pular sobre o cachorro e
agarrá-la. Ignorando-a, Sam bebeu calmamente de sua caneca e
olhou para o lago. Bailey nem mesmo a ajudou mordendo-o. Ou
levantando a cabeça e rosnando.
— Você veio aqui só para me irritar? Stella exigiu.
Ele não respondeu. Ela sabia que ele poderia manter o

tratamento de silêncio para sempre. Era como seu apelido irritante
para ela. Ele a chamou de Satine com aquela voz boba - Satine do
personagem principal do filme Moulin Rouge! Bem, não que ele
tivesse uma voz exatamente boba; ele tinha uma voz baixa,
hipnotizante, sexy como o inferno. Felizmente, ele não a chamou de
Satine na frente de ninguém. Ele não falava muito, então nunca
surgia quando os amigos dela estavam por perto.
Ela não era do tipo de pessoa que ficava constrangida com

muita coisa, nem mesmo quando era pega em uma situação ridícula,
mas porque ela nutria uma leve queda por Sam, ela descobriu coisas
das quais normalmente riria quase humilhantes.
Ela amava o filme Moulin Rouge! Amava. Era o filme que ela ia
assistir quando ela estava com medo e queria uma festa de piedade.
Ela não os tinha com frequência, mas quando o fazia, ela reproduzia
aquele filme e chorava muito. Quando ela quis ouvir algo que fazia
seu coração cantar, ela tocou Moulin Rouge! E comia pipoca e chorava
e ria.
Stella nem sabia como aconteceu de Sam ter entrado enquanto

ela estava dando uma festa de pena, mas ele veio. Ele se sentou e
assistiu ao filme com ela. Depois disso, ele se juntou a ela mais de
uma vez e parecia assisti-la mais do que ao filme. Como sempre, ele
14
Livro Único
não disse nada, apenas balançou a cabeça como se ela fosse um

pouco maluca e saiu em seguida. Ela nem sabia se ele gostava do
filme, mas se não gostasse, ele não tinha alma, que ela gritou atrás
dele. Ele nem mesmo se virou.
Ela sabia cada música de cor, e todas as manhãs, quando ela

fazia seus exercícios, ela tocava as músicas, cantava para eles e
dançava. À noite, ela fazia sua rotina de exercícios para eles e fazia
um pequeno show burlesco. Naturalmente, Sam entrou no momento
em que ela estava chutando uma cadeira com a perna e ela não
conseguiu chegar e caiu de bunda. Essa foi à primeira vez.
Ela adorava fazer sedas aéreas como forma de exercício. Como

a casa era de dois andares e aberta, ela tinha seu próprio cordame
em casa e praticava algumas noites. Claro, quando ela se enroscou
por um momento e estava de cabeça para baixo, tentando
desesperadamente soltar o pé das sedas, com a música estridente,
ele entrou.
Na terceira vez, ela estava balançando o bumbum muito legal

e sexy - se é que ela mesma não disse - e voltou a se levantar.
Naturalmente, ele estaria encostado no batente da porta observando,
os braços cruzados sobre o peito, aqueles olhos escuros fixos nela.
Ela nunca poderia dizer o que ele estava pensando porque ele não
tinha nenhuma expressão em seu rosto.
Ele começou a chamá-la de Satine em uma voz baixa e

dramática de filme de vez em quando. Ela queria encará-lo, mas isso
sempre a fazia rir. Ele não compartilhava a risada com ela, mas seus
olhos escuros às vezes ficavam suaves como veludo e seu estômago
dava uma estranha volta na montanha-russa, o que a irritava
completamente.
— Sério, Bailey, que tipo de cão de guarda é você? Ela

suspirou enquanto afundava os dedos no pelo encaracolado de seu
cachorro. Não havia como contornar o fato de que agora que o café
15
Livro Único
estava ao seu alcance, ela precisava dele. — Sam, obrigado por

pensar em me trazer café. Eu aprecio muito isso.
Já que ela gostou dele trazer café, foi fácil manter o sarcasmo
fora de sua voz, embora uma parte dela quisesse ser sarcástica.
Talvez empurrá-lo de seu cais privado para a água gelada
alimentada pela neve. Ele sem dúvida encontraria uma maneira de
arrastá-la para a água com ele, então ela não poderia nem mesmo
obter satisfação dessa forma.
Sem uma palavra, Sam entregou a ela a caneca para viagem.

Ela agradeceu seu primeiro gole enquanto os dois assistiam a brisa
brincar com a superfície da água. Ela deu uma olhada rápida no
rosto de Sam. Felizmente, Sam nunca sorriu. Ele era uma pessoa
tranquila, pois nunca exigia nada dela. Às vezes, ela ficava tão
exausta no final do dia que não queria ter que se entregar a
ninguém.
Naqueles dias, Sam ficava em seu deck grelhando vegetais e

bife ou o que fosse como se soubesse que ela teve um dia terrível e
não quisesse falar. Ele indicaria o refrigerador e haveria cerveja
gelada nele. Ela pegaria um para si, entregaria um a ele e iria se
sentar em sua cadeira de balanço favorita pendurada no teto
cobrindo a varanda. Ele nunca perguntou nada a ela. Ela nunca
perguntou nada a ele. Essa era a melhor parte de seu estranho
relacionamento. Ele apenas parecia saber quando as coisas estavam
ruins para ela. Ela não questionou quando ele apareceu e tornou as
coisas melhores ou como ele parecia saber que ela precisava de um
pouco de cuidado.
Ela suspirou e tomou outro gole de café, sua mão movendo-se

no pelo de Bailey. Ela descobriu que algumas coisas tornavam a
vida ótima. Este lugar e sua beleza. O cachorro dela. Café. Seus
cinco amigos. Seu filme favorito de todos os tempos e talvez Sam
Rossi. Ela não tinha certeza de em que categoria colocá-lo. Eles não
16
Livro Único
tinham exatamente um relacionamento. Sam não tinha

relacionamentos. Nem ela. Ambos tinham muitos segredos.
As folhas das árvores mais próximas do cais eram amarelas e

vermelhas, algumas laranjas, e balançavam com a brisa, criando
uma moldura de cada lado das pranchas de madeira na costa.
Muitas das folhas caíram nas pedras onde as águas do lago lambiam
a costa. No píer, onde a brisa lançava as folhas em espiral sobre a
madeira, havia se transformado em um tapete de cores brilhantes.
O sol estava começando a nascer e as cores mudaram

sutilmente. Os raios começaram a se espalhar pela água. Eles
estavam baixos no início. Um globo dourado mal visto refletido nas
piscinas profundas do lago safira. A visão era pura magia, o motivo
pelo qual Stella morava aqui. Ela se sentia conectada ao mundo real.
Humilhada pela natureza. Quando a esfera dourada começou a
subir, as árvores adquiriram uma aparência totalmente diferente. A
bola parecia ter crescido na água, espalhando-se pelo lago,
brilhando sob a superfície como um tesouro dourado.
Stella manteve o olhar na esfera. Parecia estar se movendo,

como se estivesse vivo. Cada nascer do sol era diferente. As cores, a
forma como se apresentava na água. A mágica. Ela nem sempre
conseguia chegar ao seu local favorito para assistir à dramática
entrada, mas ela tentava. Sempre havia os sons da manhã
acompanhando o nascer do sol. As melodias dos madrugadores.
Algumas eram canções dos machos definindo seus territórios.
Alguns pássaros tinham belas qualidades musicais, enquanto outros
pareciam roucos.
Ela ouviu a maneira como os pássaros cantavam; alguns

terminaram em notas altas, enquanto outros deixaram suas notas
soarem baixos. Alguns gritaram em um único tom mais grosso,
como se tivessem acabado de se cumprimentar ou dizendo: Estou
aqui! Ela gostava de sua solidão matinal antes que o sol realmente
nascesse e ela pudesse ver quais pássaros estavam voando com ela.
17
Livro Único
Ela percebeu o zumbido das abelhas e o movimento dos

lagartos nas folhas. Sempre havia o zumbido dos insetos, o canto
das cigarras. Era tudo parte da natureza com a qual ela podia contar
nas Serras Orientais. Não importava a época do ano, sempre havia
algo que dava a ela a conexão que ela precisava com a própria terra,
em vez da insanidade que criava um mundo no qual ela parecia não
se encaixar ou entender.
— Você vai falar comigo?
O estômago de Stella já estava embrulhado. Ela precisava falar

com alguém. Se ela fosse falar com alguém, seria Sam, mas o que ela
iria dizer? Ela o olhou por baixo dos cílios, esperando que ele não
visse o medo em seus olhos. Essa era a coisa sobre Sam. Ele era
muito observador. Ele percebia tudo. Detalhes que todos os outros
perderam.
Ela não era do tipo falante. O que ela realmente sabia sobre
ele? Ela queria confiar nele. Ele era o único homem que entrava e
saía de sua casa, mas ela não o conhecia. Ela não sabia nada sobre a
vida dele. Ela nem sabia se ele era casado ou tinha filhos. Ela não
sabia se ele estava fugindo da polícia, embora olhando para ele, ela
soube instintivamente, se ele estava fugindo, não era de algo tão
mundano quanto os policiais. Sam estaria se escondendo de algum
crime internacional que cometeu um crime que a CIA ou a
Segurança Interna saberia e ninguém mais.
Como regra, Stella sabia tudo o que havia para saber sobre
seus funcionários, mas Sam não. Quando ela o pediu para trabalhar
para ela, ele ficou um pouco relutante. No final, ele disse que
trabalharia apenas por dinheiro. Debaixo da mesa. Ela não
costumava fazer isso. Ela mantinha tudo estritamente legal, mas
estava desesperada por um trabalhador realmente bom que
soubesse o tipo de coisa que Sam sabia. Na época, quase todas as
cabines precisavam de reformas. Eletricidade, encanamento, paredes
caindo aos pedaços. Muito trabalho. Motores nos barcos. Ela
18
Livro Único
precisava dele mais do que ele dela. Ela o contratou pensando que
seria por um curto período de tempo. Esse curto período se
transformou em mais de dois anos.
Ela ficou em silêncio. Tomou outro gole de café. Fiquei

olhando para o lago. O que havia para dizer que não a fazia parecer
que estava perdendo a cabeça? Nada. Não havia nada que ela
pudesse dizer. Mesmo se ela revelasse seu passado, explodisse sua
mentira de vida cuidadosamente construída, de que adiantaria? Não
havia prova, e ela duvidava que pudesse obter alguma prova de que
acidentes não seriam acidentes e que um serial killer estava à solta.
Naquele momento, nem mesmo o pescador havia sido encontrado
morto porque nenhum crime havia sido cometido - ainda. O
assassino atacaria em dois dias. Ela precisava dirigir ao redor do
lago e procurar o local.
— Já estou aqui há mais de dois anos, Stella. Você nunca

trancou aquela porta. Você ataca os trabalhadores, especialmente se
eles cometerem um erro. Esse não é o seu jeito.
Ela não olhou para ele novamente. Em vez disso, ela manteve
os olhos no lago. O lago tranquilo que era tão profundo e poderia
conter incontáveis corpos se alguém os carregasse para baixo. Acima
do lago, as montanhas se erguiam com todas as belas árvores.
Tantos lugares para enterrar corpos que ninguém jamais
encontraria. Fontes termais. Algumas das fontes termais eram
quentes o suficiente para decompor um corpo.
Sem pensar, ela pressionou os dedos na boca do jeito que fazia

quando era criança para não deixar escapar qualquer coisa que não
deveria dizer. Um hábito. Um mau hábito que ela lutou para
superar, e agora estava de volta. Tão rápido. Seus dedos tremiam e
ela queria sentar-se neles. Ela esperava que ele não percebesse, mas
ele viu tudo. Ela sabia que sim. Sam era esse tipo de homem. Ela
colocou a mão de volta no pelo de Bailey. Enterrou profundamente
os dedos trêmulos.
19
Livro Único
— Satine, você quer ajuda, estou bem aqui, mas você tem que
conversar. Use suas palavras, mulher.
— Eu realmente fiz isso? Atacar alguém porque cometeu um

erro? Ela virou a cabeça e olhou para ele então. — Eu fiz isso com
você, Sam?
Suas feições duras suavizaram por apenas um momento.

Aqueles olhos escuros dele se tornaram quase veludo, vagando
sobre ela. Perturbando ela. — Não, foi a Berenice no aluguel de
barcos outro dia.
Stella pressionou a palma da mão na testa. Ela tinha feito isso.

Não gritou. Mas definitivamente foi ríspida. OK. Mais do que
arrogante. Ela não era uma chefe para ser ríspida ou grossa com
seus funcionários. Bernice Fulton era mais velha e trabalhava para
ela há mais de cinco anos. Ela levaria isso a sério.
— Eu vou conversar com ela.
Aquele dia estava excepcionalmente quente, quando todos

esperavam o clima mais frio do outono. Porque era, os que estavam
hospedados no resort correram para alugar os barcos, querendo
passear no lago. Infelizmente, isso incluía pessoas que não tinham a
menor ideia de como dirigir um barco ou atracar um. Sam e Stella
passaram a maior parte da noite resgatando de 04 a 06 pessoas em
festas bêbadas e casais, bem como uma mãe solteira e seus dois
filhos muito pequenos, que, graças a Deus, usavam coletes salva-
vidas.
Os pescadores reclamaram o dia todo, um fluxo constante de

pessoas ranzinzas, irritadiças ou francamente furiosas, a maioria
homens, agindo com superioridade, embora a maioria deles a
conhecesse agora. Eles passaram a respeitá-la ao longo dos anos.
Ainda assim, eles não estavam imunes às altas temperaturas
inesperadas. Umidade quando geralmente havia calor seco, e todos
os turistas malucos que não faziam a menor ideia de como navegar
20
Livro Único
em barcos no lago. Nem aqueles turistas pareciam ter educação

quando se tratava de dividir o lago com os pescadores.
Stella tinha gritado, xingado e insultado muitas vezes,

principalmente em referência ao seu QI e capacidade de dirigir um
acampamento de pesca - o que Sunrise Lake não era, mas ela não
corrigiu ninguém. Ela apenas manteve seu sorriso educado, ouviu
todas as preocupações e reclamações e garantiu que isso seria
resolvido - a menos que fossem longe demais.
Stella aprendera há muito tempo, ao se tornar gerente, que se

ela quisesse o respeito dos pescadores, teria de enfrentá-los. Ela não
era estridente, ela não gritava. Ela parecia até a mais velha, mais
endurecida aos olhos quando falava com eles. Ela conhecia seus
fatos, lutou por seus direitos, mas se recusou a permitir que eles a
pressionassem por mais que estivessem chateados.
Ainda assim, no final de um dia muito longo e difícil, depois

de sair de barco após barco para resgatar a maioria dos bêbados que
não sabiam como atracar um barco, ela não estava de bom humor e
gritou com Berenice Fulton. Sam estava certo. Ela não fazia coisas
assim. Ele mantinha a calma. Ela sempre mantinha. Sam não gritou
com ninguém. Claro, ele não falou com ninguém. Ele não precisava.
Ele voltou aquele olhar para qualquer um que estivesse lhe
causando problemas e eles pararam.
Quando ele subiu a bordo de um barco de festa com cinco

mulheres de biquíni, todas se atirando nele, ele mal olhou para elas.
Ele simplesmente trouxe o barco, amarrou-o e nem mesmo ajudou
galantemente as mulheres bêbadas a entrar no cais. Ele
simplesmente foi embora, deixando-os com Berenice. Stella sabia,
porque ela estava assistindo. Foi à única coisa de que ela riu a noite
toda.
Stella estava tendo pesadelos todas as noites agora. Ela não

conseguia dormir depois deles, o que significava que estava
21
Livro Único
dormindo muito pouco. Isso certamente contribuiu para sua

crescente irritabilidade. Não ser capaz de discutir sua inquietação e
o alarme que sentia com ninguém aumentava sua irritabilidade. Ela
não tinha ideia do que fazer para proteger seus amigos ou aqueles
que ela conhecia que moravam na área.
— Berenice ficará feliz por você estar limpando o ar, Stella,

mas não está me dizendo por que está chateada. O que está
acontecendo?
Ela tomou outro gole de seu café e observou a superfície

brilhante do lago. Um pequeno arrepio de apreensão passou por ela.
Não havia como falar com ninguém sobre isso. Nem mesmo Sam.
Ela tinha que descobrir isso sozinha, pelo menos até saber que Sam
não estava envolvido de forma alguma. Ele havia chegado dois anos
antes. Ele não falou com ninguém. Ele era um solitário completo. Ele
poderia enfiar seus pertences em uma mochila e ir embora em
minutos.
Sam era bom em todas as atividades ao ar livre. Ele era

extremamente forte. Ele tinha cicatrizes por todo o corpo, indicando
que algo terrível havia acontecido com ele em algum momento de
sua vida. Psicologicamente, o que isso fazia a uma pessoa? Ela
tentou descobrir sobre ele na internet, procurando por ele, mas não
havia nada que ela pudesse descobrir. Ela não podia imaginar Sam
sendo um assassino de pessoas inocentes, mas ela tinha que saber
antes de confiar nele o suficiente para falar com ele.
Ela podia sentir os olhos de Sam sobre ela e sabia que ele não
iria desistir. Ela estava agindo de maneira diferente. Ela gritou com
um funcionário. Ela trancou sua casa. Ela estava obviamente
chateada.
— O que fez você decidir me trazer café esta manhã, Sam?
Ele não trazia café todas as manhãs. Ele não fazia o jantar para
ela todas as noites. Ele não parava na casa dela para assistir filmes
22
Livro Único
todas as noites. Ela nunca o convidou. Ele simplesmente apareceu.

Quando o fazia, sempre preparava o jantar. Ele trouxe cerveja. Ele
nunca pediu nada. Nunca. Ele nunca ultrapassou a linha de beijá-la.
Ela ficou tentada a beijá-lo mais de uma vez, mas também nunca
cruzou essa linha com ele. Ela estava com medo de que ele
simplesmente fosse embora, e ela o queria em sua vida de qualquer
maneira que ela pudesse tê-lo.
Sam gostava de escalar em rocha e em parede. Ele apareceu

para escalar na área como tantos outros. Ele dirigiu um veículo com
tração nas quatro rodas contendo seus pertences e acampou em um
dos acampamentos locais. Ele não perguntou nada a ninguém. Ele
parecia viver da terra na maior parte, mas não tinha medo do
trabalho e era bom em quase tudo. Ela o notou imediatamente
trabalhando na cidade para Carl Montgomery, o empreiteiro local.
Bem, o único decente. Se Carl o contratou, isso significava que ele
era bom.
Era impossível não notá-lo. Stella notou todo mundo. Ela era
orientada para os detalhes, por isso era tão boa em seu trabalho.
Sam era um solitário, mesmo no meio de um local de trabalho
movimentado. Ele raramente falava com alguém, mas isso não o
impedia de fazer qualquer tarefa que lhe fosse pedido. No final, ela
decidiu que ele seria perfeito trabalhando no resort como um faz-
tudo. Ele poderia fazer qualquer tipo de trabalho que ela exigisse.
Ela ofereceu a ele um bom salário, uma cabine durante todo o

ano e um upgrade para um veículo com tração nas quatro rodas. Ele
não aceitou a oferta. Ele levou seu tempo, pensando sobre isso. Ele
até foi ao resort e deu uma olhada antes de se decidir. Ela gostou
dele ainda mais por isso. Ela nunca se arrependeu de sua decisão de
contratá-lo, mesmo quando ele era irritante como o inferno porque
quase nunca falava.
23
Livro Único
Stella encontrou seus olhos escuros e atraentes. Não foi fácil.

Olhar em seus olhos nunca era. Às vezes ela pensava que era como
olhar para o inferno.
— Eu posso ir embora, você quer que eu faça isso, Stella.
Ele disse tão baixinho a princípio que as palavras não

penetraram. Quando o fizeram, seu corpo inteiro quase paralisou.
Ela teve que virar o rosto rapidamente, com medo de que ele visse o
calor das lágrimas. Com medo de que ele visse o pânico que ela
sentia.
— Por que você diria isso para mim, Sam? Ela mal conseguia
falar, mal conseguia fazer a pergunta ‘ir embora’. — Porque eu te fiz
uma pergunta? Por que você diria isso para mim? Ela queria se
levantar e deixá-lo ali, mas tinha medo de que ele enfiasse todos os
seus pertences na mochila e fosse embora e ela nunca mais o veria.
Sam estava ainda mais fechado do que ela. Era possível que
ele não sentisse absolutamente nada por ninguém. Ela significava
tão pouco para ele? Provavelmente. Ela construiu seu
relacionamento porque ela precisava de alguém. Ele era
verdadeiramente autossuficiente. Ela pensava que sim, mas no final,
ela precisava do resort, de seus amigos. Sam. Ela precisava de Sam.
A ideia de ficar sem ele a atormentava. Talvez ela só estivesse se
sentindo tão vulnerável por causa dos pesadelos e da incerteza.
Porque ela temia por todos.
— Eu sei coisas às vezes se as pessoas são importantes para

mim. Você é importante para mim, então eu sei quando você se
sente uma merda.
Os dedos de Stella se apertaram em sua caneca de café. Essa

foi à última admissão que ela esperava de Sam. Seu tom era
exatamente o mesmo, aquela mistura baixa de sensualidade
masculina que afundou sob sua pele e a encontrou em algum lugar
profundo. Para outras pessoas que nunca agiram com impulsos
24
Livro Único
inexplicáveis, sua explicação pode ter soado ridícula, mas para ela,
era perfeitamente razoável.
Foi a primeira vez que Sam disse algo que poderia torná-lo
vulnerável. Ele quase deu a entender que tinha uma habilidade
psíquica ou, pelo menos, uma forte intuição. Ela queria dar a ele
algo de si mesma de volta. Era justo. Algo real.
— Eu tenho pesadelos às vezes. Os maus. Assim que

começam, eles vêm em grupos. Não consigo dormir quando isso
acontece. Nada ajuda. Isso tudo era verdade. Ela bebeu um pouco
mais do café e manteve a mão livre no pelo de Bailey.
Sam ficou em silêncio por um longo tempo. Quando ela se

atreveu a olhar para ele, ele estava olhando para as montanhas. Os
raios do sol espalharam cores pelas árvores e uma névoa
fantasmagórica. A visão nunca deixou de mexer com ela.
— Que tipo de coisas traz seus pesadelos? Sobre o que são?
Essas foram boas perguntas. Ela deveria ter pensado que ele
poderia fazer perguntas como essas. Ele era inteligente e um fixador.
— Cadáveres flutuando sob a superfície do lago. Ela deixou

escapar a verdade. Ou meia verdade. Saiu estrangulado porque uma
parte dela parecia que era uma mentira e ele deu a ela algo de si
mesmo. Tornou-se vulnerável a ela depois de dois anos dançando
perto do outro. Ele se abriu para o ridículo e ela ainda estava
fechada. Ele era astuto. Ele sabia que havia algo que ela não estava
lhe contando e que doía. Ela ficaria magoada.
Stella se forçou a olhar para ele porque ele pelo menos

merecia. Aqueles olhos escuros estudaram seu rosto. Penetrante.
Vendo muito. Ela sabia que havia sombras sob seus olhos. Mas o
que ela poderia realmente dizer a ele? Não havia ninguém. Nem
mesmo um acidente ainda. Ela definitivamente usaria seu dia de
folga para dirigir ao redor do lago e ver se conseguia encontrar o
25
Livro Único
local onde o pescador seria morto se ela não pudesse evitar. O pior
de tudo era que havia vários lagos na área populares entre os
pescadores. Ainda assim, ela tinha certeza de que o local era seu
amado lago.
— Stella, você é a mulher mais calma e pensante que já

conheci. Eu sei que você está com algum tipo de problema. Ele
encolheu os ombros. — Eu não vou me intrometer. Não gosto de
ninguém me fazendo perguntas, então não vou insistir para que
você fale comigo se não quiser compartilhar. Depois de deixar de ser
abalada, você faz o que sempre faz, pensa em etapas e enfrenta o
problema um de cada vez. Você encontrará a resposta. Você sempre
faz.
Havia confiança absoluta na voz de Sam e isso a estabilizou.

Isso deu confiança a ela. Ele estava certo. Ela não era uma criança e o
assassino estava em sua casa. Suas amadas Sierras. Ele não tinha
ideia de que ela já estava atrás dele e viria atrás dele.
Capítulo 02
— Obrigado, Sam. Não fico bem sem dormir. Você

parece ter o sono leve e é capaz de existir em apenas algumas horas.
Tenho o sono pesado e preciso de umas boas oito horas ou fico mal-
humorada.
O fantasma de um sorriso deslizou sobre seu rosto apenas por

um breve momento e foi tão lindo quanto o nascer do sol. Ela não
achou que o sorriso dele alcançou seus olhos, ou foi tão fugaz que
ela não conseguiu perceber. Ela via isso raramente. Mais
26
Livro Único
frequentemente, as linhas duras gravadas profundamente em seus

traços ásperos eram a norma.
— Você nunca ficou irritada, Stella, até recentemente. Eu diria

que os pesadelos, em vez da falta de sono, fizeram isso.
— Talvez, mas me lembrar que tenho uma boa cabeça sobre os

ombros ajuda. Eu agradeço. Estou grata por ter o dia de folga.
— Você trabalha muito, mas parece ter sucesso no trabalho.
— Eu amo esse lugar. É como se estivesse em casa para mim,

ela admitiu. Ela nunca teve isso antes. Tudo sobre as Sierras
Orientais a atraía.
— Às vezes eu me sento no terraço e olho ao meu redor e me

sinto tão sortuda por estar viva. Eu não gostaria de estar em outro
lugar.
— Eu gosto que você possa ver as estrelas à noite, Sam disse

inesperadamente. — Eu durmo fora quase todas as noites e gosto de
deitar na cama e olhar para o céu. Você não pode mais ver as
estrelas de todos os lugares. Aqui, eles são incríveis e parecem
próximos.
Sam não falava como regra, e apenas aquela pequena

revelação dele parecia um presente. Ela sabia que ele costumava
rondar o resort à noite, verificando tudo. Ele era tão ruim quanto os
dois seguranças, ou talvez melhor, já que fazia rondas todas as
noites e mais um pouco.
Ela conhecia Patrick Sorsey, um dos seguranças, às vezes

adormecia no trabalho. Ele tinha quarenta e quatro anos, tinha três
filhos e sua esposa estava grávida do quarto filho, um chocante
‘opss’ que nenhum deles esperava. Ele tinha dois empregos, e ela
sabia que Sam o cobria. Patrick era um bom homem, apenas
sobrecarregado.
27
Livro Único
— É um pouco surpreendente que alguns cadáveres flutuando

no lago pudessem chegar até você. Não é como se você não tivesse
que lidar com corpos, a polícia e o legista mais de uma vez, e até
onde eu sei isso nunca te desestabilizou antes.
Isso era verdade. Administrando o resort e estando onde

estava ela encontrou todos os tipos de cenários, de ataques cardíacos
a acidentes verdadeiros. Principalmente afogamentos por excesso de
álcool perto da água. Ela não tinha problemas em lidar com nenhum
deles e sabia o que fazer e para quem ligar. Vários de seus amigos e
conhecidos, incluindo Sam, faziam parte da Busca e Resgate. Na
verdade, Vienna Mortenson, uma de suas amigas, era a chefe do
programa do condado. Elas conversaram muito e, após cada resgate,
a maioria dos participantes se reunia no Grill para conversar sobre o
que haviam vivido. Ajudou a aprender com cada situação.
Stella não tinha certeza de como responder a Sam porque ele

estava certo novamente. Ele a conhecia tão bem. Poucas coisas a
assustavam, incluindo cadáveres - apenas sabendo que um
assassino em série estava começando seu trabalho ali, em seu belo
pedaço do paraíso. Mas ela poderia ir à frente dele. Ela apenas tinha
que manter o foco e não ser jogada. Ela não era aquela criança. Ela
não era adolescente. Ela tinha habilidades e treinamento adquiridos
ao longo dos anos.
Ela colocou a caneca de café no cais e esfregou as têmporas. —

Eu só preciso dormir um pouco. Eu tenho alguns dias de folga. Isso
deve ajudar. Tentarei falar com Berenice antes de conhecer Harlow e
Shabina. Eu realmente aprecio você dizer algo para mim sobre ser
rude com ela. Ela não merece isso só porque estou sem sono.
— Ela merece porque alugou barcos para pessoas que não

deveria, mas você nunca é rude com as pessoas, ele corrigiu. —
Tenho que consertar o ar-condicionado da Cabine F.
28
Livro Único
— Você quer dizer a cabine ‘Favo de Mel’? Ela usou

deliberadamente o nome oficial dado à cabana rústica maior que
havia sido reformada e normalmente era alugada continuamente.
Um casal havia partido na noite anterior, e eles teriam um dia antes
que os próximos convidados chegassem. Isso era muito raro para
aquela cabana particular e muito popular.
Sam não respondeu, simplesmente olhou para ela sem

expressão.
— Você recua toda vez que eu digo ‘Favo de mel. ’ Ela não
conseguiu esconder o riso em sua voz. Ele sempre se referiu às
cabines como A, B ou C.
— Não sei por que você insiste em se referir a edifícios

perfeitamente bons com nomes ridículos.
— Temos que chamá-los de algo para nossos hóspedes. Eles

não são o mesmo que cabines de pesca, trailers ou áreas de
acampamento, Sam. Estamos atraindo um grupo de pessoas
completamente diferente. Com um rendimento muito elevado. Essas
cabines geraram receita o ano todo. Os esportes de inverno -
snowboard, esqui e snowmobile - eram muito populares, e o resort
era a porta de entrada para a montanha acima deles.
— Você terá tempo suficiente para consertar a unidade antes

que nossos próximos convidados cheguem?
— Se não, posso instalar eles em outro e consertar mais tarde.

Ele levantou-se. — Não gosto que você esteja tendo esses pesadelos,
Stella. Se eles continuarem, vou dormir mais perto e ver se posso
ajudar.
Ele caminhou ao redor do Airedale daquela forma silenciosa

que ele tinha de ficar atrás dela por apenas um momento. Em
seguida, a palma da mão moldou o topo de sua cabeça, as pontas
dos dedos se acomodando em seu couro cabeludo. Ele correu os
29
Livro Único
dedos em uma lenta carícia do topo de sua cabeça até sua nuca, um
quase sussurro de um toque, e ainda assim ela sentiu como um
relâmpago chiando por seu corpo. Ele não fazia coisas assim. Seu
toque enviou um frisson de intensa consciência por sua espinha.
Cada terminação nervosa se iluminou. Sam não era descontraído.
Ele não era um homem descontraído.
— Vou colocar isso aí, Stella. Eu tenho certas habilidades. Jurei

que nunca mais os usaria, por nenhum motivo, mas estou aqui há
pouco mais de dois anos e pude conhecê-la. Se você estiver com
problemas e precisar de mim, é só dizer.
Ela franziu a testa e esticou o pescoço, virando-se para olhar

para ele, mas ele já estava indo embora sem olhar para trás. Desta
vez, o andar dele assumiu um caminhar predatório, ou talvez fosse
sua imaginação, porque ela estava tão perturbada com seus sonhos.
O que ele quis dizer com certas habilidades e jurar que nunca mais
as usaria por qualquer motivo? Sam não estava agindo como Sam.
Ela tinha contado com ele sem perceber, e agora ela descobriu que
tinha um pouco de medo dele.
Ela olhou para seu cachorro. Dormindo de novo. Não

prestando a mínima atenção. — Sabe, Bailey, você deveria ser um
cão de proteção, assim como meu cão de companhia. Você se lembra
de quando eu expliquei isso para você quando você era um
cachorrinho? Ela esfregou as orelhas do Airedale. Ele parecia ser
uma constante em sua vida com quem ela podia contar, como suas
amadas Sierras.
Ela precisava ficar conectada ao seu mundo. Tudo ao seu

redor estava mudando muito rápido. Ela sentiu como se o próprio
solo estivesse se distanciando dela. As Sierras abrigaram um
assassino. Ela sabia disso com cada respiração do ar fresco da
manhã que ela inspirou. Ela nunca teve o pesadelo, a menos que um
serial killer estivesse por perto. Se o padrão continuasse, um corpo
surgiria em um ou dois dias. Normalmente dois. Nem sempre. Essa
30
Livro Único
era uma janela de oportunidade muito estreita para parar um

assassino.
Levantando os joelhos, ela esfregou o queixo em cima deles

enquanto olhava para o lago. A névoa havia chegado até a borda da
costa, rastejando como dedos cintilantes, ainda com aquele brilho
avermelhado. Stella se recusava a ver de outra forma que não fosse
bela. Sam estava certo. Ela não era dada a voos da fantasia. Ela se
agarrou ao realismo e era assim que pegaria o assassino. Ela não ia
se transformar em uma criança assustada. Sua primeira tarefa era
tentar encontrar o local onde o assassinato ocorreria. Foi um
empreendimento enorme, pois havia vários lagos, não apenas o
Sunrise, onde muitos pescadores saíam nas primeiras horas da
manhã para pescar.
— Ok, Bailey, temos trabalho a fazer.
O cachorro ergueu a cabeça, inclinou-a para o lado e olhou

para ela como se perguntasse se ela estava bem agora. Ela bagunçou
seu pelo. — Eu estou bem. Assistir ao nascer do sol sempre me
reconfigura. Não importa o quão ruim esteja tudo, uma vez que o
sol nasça tudo estará bom novamente. Eu me sinto como uma nova
pessoa. Nós temos isso. Depois de tomar um café com Shabina e
Harlow, vou ver se consigo almoçar furtivamente com Zahra.
Zahra Metcalf era sua irmã alma. Nunca havia ocorrido a ela
que algum dia teria alguém com quem realmente se conectaria como
fez com Zahra. Ela era amiga das outras mulheres. Gostava delas.
Compartilhado com elas. Mas elas não eram como Zahra. Ela estava
em um nível totalmente diferente. Se havia uma pessoa no mundo
em que Stella confiava, era Zahra.
Ela demorou a caminhar de volta para sua casa. Felizmente,

ninguém mais havia se levantado ainda. Muito poucos de seus
convidados queriam se levantar quando o sol estava nascendo, a
não ser aqueles que estavam pescando no lago. Muitas vezes ela
31
Livro Único
tinha vontade de dizer a seus convidados que se eles simplesmente

saíssem para as varandas ou sacadas fornecidas e assistissem ao
nascer ou pôr do sol, eles entenderiam a beleza do ambiente. Alguns
dos convidados entenderam. A maioria tinha vindo para fugir da
cidade, mas trouxeram a cidade com eles porque não suportavam
deixar seus eletrônicos para trás.
Stella permitiu que Bailey fosse primeiro para a ampla

varanda envolvente, observando o cão cuidadosamente em busca de
quaisquer sinais de que um estranho pudesse ter se aproximado de
sua casa. Havia portões de segurança que era preciso atravessar
para chegar a este lado da propriedade, e geralmente os guardas de
segurança eram “dragões” que mantinham todos afastados, a
menos que tivessem um encontro com Stella. Isso não significa que
não havia muitas outras maneiras de acessar este lado da
propriedade.
Ela abriu a porta e entrou com muito mais confiança quando

Bailey não demonstrou alarme. O material de arte era mantido no
estúdio no andar de cima. Ela amava o quarto com vista para o lago.
Um dos lados era quase todo de vidro, uma parede de correr
espessa que lhe permitia sair para a varanda, onde mantinha uma
cadeira confortável e uma mesinha durante a maior parte dos meses.
Durante o inverno, quando a neve caia, ela colocava os móveis para
dentro.
O estúdio estava claro e ensolarado, uma luz perfeita para

esboçar e pintar. Não era como se ela fosse imensamente talentosa,
mas gostava de pensar que era muito boa. Ela nunca iria vender seu
trabalho. Como suas sedas aéreas e pedras, a pintura a relaxou. Ela
teve algumas aulas de arte junto com suas aulas de negócios na
faculdade.
Ela manteve o diário de seus pesadelos e os cadernos de

desenho trancados em uma gaveta ao lado de sua cama. Ela nunca
32
Livro Único
quis que ninguém os encontrasse. Eles eram as verdadeiras coisas

do terror. Ela não olhou para nenhuma das entradas ou desenhos
mais antigos. Na verdade, ela deliberadamente começou a limpar
sua mente como ela mesma havia ensinado a fazer. Ela imaginou
seu cérebro como um quadro-negro e o apagou várias vezes até que
não houvesse nada no quadro. Uma vez que estava vazio, ela puxou
os detalhes do pesadelo. As pedras. As plantas. Os juncos. Cada
detalhe que ela conseguia se lembrar. Ela olhou para o céu. No chão.
Nas margens do próprio lago. Ela tentou ver além do pescador,
além de seu próprio terror do que estava por vir, para que pudesse
se concentrar nos detalhes e ampliar seu escopo do que poderia
desenhar. Até mesmo o formato das pedras na água e as algas que
as cobrem podem lhe dar pistas de onde estava a cena.
Assim que Stella ficou satisfeita por ter o máximo de detalhes

possível dos arredores, ela se concentrou no homem pescando,
tentando ver o máximo possível sobre ele. Suas roupas. Sua forma.
Sua altura. Tanto de seu cabelo quanto ela podia ver com o chapéu
puxado para baixo do jeito que estava. Suas mãos na vara de pescar.
A própria haste. Ela escreveu tudo, tudo que ela poderia se lembrar,
e ela era boa em extrair detalhes.
Depois de escrever em seu diário, ela tirou seu caderno de

esboços e começou a desenhar cada cena separada, exatamente
como havia escrito, certificando-se dos detalhes. Ela não se
apressou, querendo acertar todos os fatos. Quando ela finalmente se
endireitou, com as costas doendo um pouco, ela ficou satisfeita por
ter reproduzido a cena de assassinato em potencial em seu pesadelo
com o melhor de sua capacidade.
Ela voltou à primeira entrada cinco noites antes para comparar

os desenhos. O primeiro tinha poucos detalhes porque era o mínimo
que ela tinha conseguido, as lentes da câmera foram fechadas,
permitindo que apenas uma pequena parte do horror que se
desenrolava fosse vista.
33
Livro Único
Seu celular tocou algumas notas de uma música jazz,

puxando-a para fora de sua contemplação intensa. Ela tirou o
telefone do bolso, franzindo a testa com total culpa.
— Harlow. Eu sinto muito. Eu sei. Eu sei. Eu marquei com

você e Shabina. Eu me envolvi em algo... Ela parou, sabendo que
Harlow seria gentil com isso.
Harlow Frye cresceu em uma família política e estava

acostumada a se ajustar ao que quer que esteja acontecendo ao seu
redor. Ela “seguiu o fluxo”, por assim dizer, com graça e elegância.
Ela nunca ficava chateada com coisas pequenas, especialmente
quando presumia que Stella estava ocupada consertando algum
problema no resort.
— Nós tentaremos novamente em outra hora. Espero vir à

cidade esta noite. Talvez eu possa enviar uma mensagem para você
para ver se você está disponível para um encontro, Stella ofereceu,
sabendo que as duas mulheres tinham que trabalhar. Foi por isso
que elas planejaram se encontrar para o café da manhã.
— Trabalhando no turno da noite esta noite. E Shabina

também, disse Harlow. — Vamos nos encontrar não se preocupe.
Stella se sentiu péssima por mentir. Foi assim que tudo

começou. Mentindo para seus amigos. Suspeitando de Sam só
porque ele andava como um predador. Ela suspeitava dele? Na
verdade não, mas ela não podia simplesmente descartar o fato de
que ele era capaz de matar. Mas não foi todo mundo? Não, ela
achava que não. Nem todos.
Ela desligou depois de se desculpar novamente e mandou

uma mensagem de texto para Zahra, perguntando se ela tinha
tempo para almoçar. Zahra Metcalf trabalhava no hospital como
administradora, então passava a maior parte do tempo em reuniões,
tentando descobrir onde gastar o dinheiro que conseguiam colocar
34
Livro Único
as mãos. Stella sabia que as doações eram extremamente

importantes para o hospital. Subsídios, doações e arrecadação de
fundos compraram equipamentos atualizados para o hospital e
garantiram que eles tivessem médicos e enfermeiras suficientes para
o pronto-socorro e também para o próprio hospital. Era pequeno,
mas o hospital estava muito bem equipado. Tinha que ser. Eles
estavam a uma boa distância de qualquer outra ajuda. Zahra foi à
administradora que garantiu que o dinheiro fosse enviado ao
hospital. Ela era astuta e incrível em encontrar doações e garanti-las
para o hospital. Ela era muito boa em pensar em arrecadadores de
fundos e supervisionava sua execução, envolvendo todo o condado.
Harlow também ajudou, embora houvesse algo entre Zahra e

Harlow sobre o qual nenhuma das mulheres jamais falava. Elas
eram sempre amigáveis, mas não muito próximas, o que não fazia
sentido. Harlow ajudou Zahra a escapar de um casamento arranjado
em seu país. Sua mãe conseguira um visto para Zahra, um bom
emprego e, por fim, a cidadania. Zahra nunca falou sobre nenhum
problema com Harlow, e Harlow nunca falou sobre um problema
com Zahra. Stella tinha muitos segredos para descobrir.
Zahra poderia encontrá-la para o almoço, o que foi perfeito.

Stella olhou para o relógio. Ela teve muito tempo para dirigir ao
redor do lago e procurar qualquer lugar que pudesse se parecer com
o que ela havia desenhado. Ela tinha estado em torno do Lago
Sunrise inúmeras vezes, mas era um lago grande e não havia como
ela se lembrar de cada seção dele.
Quando a camada de neve derreteu, alimentou o rio e os

riachos que desaguavam no lago, por isso fazia tanto frio. A estrada
principal que contornava o lago era estreita e com duas pistas,
pavimentada, mas cheia de buracos o ano todo. A neve e o gelo
impediam que o asfalto permanecesse liso. Não importa o que foi
feito para protegê-la, a estrada se desintegrou em uma bagunça suja
e lamacenta.
35
Livro Único
Stella jogou algumas garrafas de água em seu 4Runner,5 abriu

a traseira para Bailey, esperou o Airedale saltar e então deu a volta
para o lado do motorista. Seu 4Runner era um veículo funcional,
equipado para todos os tipos de clima. Ela tinha dinheiro suficiente
para garantir que seu equipamento funcionasse independentemente
do que acontecesse.
Ela estava com o bloco de desenho, embora tivesse quase

certeza de que a cena do crime estava gravada em seu cérebro, para
nunca ser apagada. Ela pegou a estrada principal que contornava o
lago, mas havia algumas dezenas de pequenas estradas de terra que
se ramificavam, levando até a costa, e ela explorou as seis primeiras
seguidas que eram as mais bem percorridas. Se o pescador estivesse
acampando no resort dela, ele poderia ficar perto do resort
principal, mas se ele fosse um local, ou um dos frequentadores que
costumavam pescar nos vários lagos, quem sabia onde ele teria seus
lugares favoritos?
Ela virou na primeira estrada de terra. Era acidentado e não

muito conhecido. Apenas os habitantes locais usavam esta estrada
quando queriam pescar aqui. As amoreiras estavam crescidas
demais, mas ela podia ver marcas de pneus na terra. Alguém tinha
passado recentemente, não que isso significasse alguma coisa. Se
seus pesadelos mantivessem o que haviam feito no passado, ela teria
outro dia, possivelmente dois, antes que o assassino atacasse. Isso
não significa que o assassino não estava explorando sua vítima
naquele minuto.
Ela parou seu 4Runner bem no meio da estrada de terra

estreita, abriu o console escondido no meio entre os bancos e puxou
sua Glock. Ela tinha uma licença de transporte oculta, só por
segurança, e era uma atiradora muito boa.
5
4Runner equipado para qualquer terreno 4x4.
36
Livro Único
— Tudo bem, Bailey, estamos protegidos agora, disse ela

suavemente enquanto olhava pelo espelho retrovisor para seu
cachorro. — Você está pronto para isso?
O Airedale entrou em alerta no momento em que ela puxou a

arma e a carregou. Ela engatou a marcha e mais uma vez começou a
descer lentamente a estreita faixa em direção ao lago. Havia uma
ligeira curva na pista de terra e, quando ela fez a curva, logo à
frente, viu dois veículos - uma caminhonete verde-acinzentada
escuro, o outro um SUV azul marinho sujo. Ela reconheceu os dois
equipamentos.
Stella não percebeu que estava prendendo a respiração até

soltar o ar. Seus pulmões pareciam em carne viva e queimando.
Suas mãos apertaram o volante até que os nós dos dedos ficaram
brancos enquanto ela olhava pelo para-brisa para os dois homens
pescando. Eles foram incluídos no círculo de seus amigos - aqueles
com quem ela saía quando conseguia se livrar do trabalho e ter uma
noite de folga.
Bruce Akins, um homem de barba escura e carranca perpétua,

o que não era absolutamente sua personalidade, foi um dos
primeiros empresários com quem ela fez um acordo. Ele era dono
da cervejaria local, empregando moradores da cidade e tentando
manter a economia em alta e funcionando em uma cidade onde não
havia muito trabalho.
Stella sentou-se com ele, convencendo-o de que ela poderia

mudar o resort e, ao fazê-lo, ajudar o comércio local ao mesmo
tempo. Ela usou a cerveja dele, fingindo ser exclusiva e criando um
folheto, o que acabou fazendo com que ele fizesse um tour VIP pela
cervejaria, pela qual alguns de seus clientes mais sofisticados
pagaram generosamente. A cerveja dele era boa era isso. Se não
fosse, Stella não teria ficado atrás.
37
Livro Único
Muitos dos que vinham para escalar, esquiar ou fazer

caminhada vinham da região de Los Angeles e tinham dinheiro.
Depois de provar a cerveja de Bruce, eles queriam ter acesso a ela, e
não apenas no resort ou nas cidades vizinhas. Bruce conseguiu
fechar contratos com alguns dos clubes muito particulares de Los
Angeles para sua cerveja, e isso significou cobrar um preço alto por
ela. Stella se tornou uma das pessoas favoritas de Bruce.
O Dr. Denver Dawson e Bruce eram amigos íntimos há anos,

pelo menos desde que Stella morava na área. Denver era um homem
ao ar livre. Ele caçava. Pescado. Ele era um grande alpinista, fosse
escalada em boulder6, trad7 ou esportiva8. Ele alegou que não
gostava de esportes de inverno, mas ela sabia que ele tinha saído
para recuperar corpos na neve mais de uma vez e havia provocado
uma avalanche quando precisaram derrubar uma seção muito
perigosa para deixar pendurada. Ele não tinha medo de trabalhar
duro e ajudava onde fosse necessário, muitas vezes nas atividades
de arrecadação de fundos de Zahra.
Denver era um bom homem e ela gostava muito dele. Quase

todo mundo na cidade sabia. Quando ele caçava, ele dividia a carne
com pessoas que não sobreviveriam ao inverno sem ajuda. O
mesmo com seu peixe. Ele era silenciosamente generoso. Pelo que
Stella sabia, embora Sam parecesse educado com todos, Denver era
o único de quem ele era amigo, se é que tinha um amigo.
Bruce tinha uma queda por Zahra. Ela era pequena e tinha
aquele sotaque fofo como o inferno e aqueles olhos escuros e boca
6
O boulder é uma das modalidades da escalada em rocha, praticada sem o uso dos
equipamentos de segurança convencionais como cordas e mosquetões.
7
Trad. é uma das modalidades da escalada em rocha, praticada com o uso dos
equipamentos de segurança convencionais como cordas e mosquetões.
8
Esportiva em paredões preparados com pinos e instrutor.
38
Livro Único
perfeita. Bruce elevou-se sobre ela, um urso de homem. Ele quase

fez dois dela. Com todos os outros ele estava absolutamente
confiante, mas perto de Zahra ele mal conseguia dizer uma palavra
coerente. Ele tinha motivos para estar confiante. Ele tinha um metro
e noventa de altura, ombros largos e se mantinha em boa forma. Sua
carranca o fez parecer intimidante, mas seus olhos azuis e seu rosto
bonito atraíam todas as mulheres como ímãs - todas menos aquela
que ele queria.
Como Denver deveria ser seu ‘braço-direto’ ele se sentou ao

lado de Stella em quase todos os eventos de Bruce. Stella e Denver
acabaram rindo um pouco por causa de seus dois amigos dançando
ao redor um do outro. Stella gostou muito de Denver. Ele não era
suave e charmoso como alguns dos outros homens em seu círculo
de amizades, mas podia contar com ele. Ele era leal aos amigos. Ele
tinha um bom senso de humor. Isso importava para ela.
Ela estacionou seu 4Runner, olhando para as cores do sol

brilhando na superfície do lago. A névoa passando por entre as
árvores deu ao céu um efeito prateado cintilante, amplificando os
tons de ouro e laranja espalhados sobre a água. Ela sempre desejou
encontrar as cores perfeitas para pintar o visual na tela. Ela tentou
em vários meios, mas nunca conseguiu chegar perto de replicar a
natureza.
Stella deixou Bailey sair de seu equipamento. Ele conhecia os

dois homens, mas o mais importante, ele sabia como se comportar
quando os homens estavam pescando. Ele era mais educado do que
a maioria dos turistas que iam ao resort. Na verdade, ela havia
discutido dicas com Roy Fulton, o homem que trabalhou em sua loja
de iscas por anos, montando uma lista de regras de cortesia comuns
e deixando-as em todas as cabines. Ela pediu a Denver para
adicionar algo a eles quando os dois estavam no bar assistindo
Zahra e Bruce fazerem sua dança cuidadosa em torno um do outro.
39
Livro Único
Os homens estavam a uma boa distância um do outro, mas

ambos tinham linhas na água. Ela podia ver por que eles gostavam
deste lugar, especialmente nas primeiras horas da manhã. As
árvores cresciam quase até a costa, dando-lhes privacidade e
proteção contra o calor implacável do sol nos dias mais quentes.
Havia as rochas de granito inevitáveis, lisas pelos anos de estar na
água com ondas batendo nelas, moldando-as em versões mais
redondas de um ovo. As plantas cresciam ao longo da costa, juncos
altos erguendo-se acima da superfície, balançando com as ondas
enquanto a leve brisa soprava sobre a água.
Esses dois homens eram seus amigos. Eles eram uma grande
parte da vida em sua comunidade e ela sabia que corriam risco. Ela
não tinha pensado em termos de nenhum de seus amigos estar em
risco. Quando essa compreensão a atingiu, ela mal conseguiu
respirar por um momento. Ela se encostou na porta do lado do
motorista e olhou para os dois homens enquanto pescavam
pacificamente na beleza do lago. Era tão lindo ali com as cores do sol
e os reflexos na superfície da água. A prata cintilante da névoa que
se aproxima, e o brilho de outono das folhas, laranjas, vermelhos e
verdes que decoram as árvores. Os homens nunca suspeitariam, por
um momento, que o perigo espreitava sob a superfície.
Sua visão ficou turva. Bailey pressionou a cabeça com força

contra seu quadril, e ela afundou a mão em seu pelo, estendendo a
outra para agarrar a porta. O que diabos estava acontecendo com
ela? Um ataque de pânico total? Ela não tinha isso há anos. Assim
como enfiar os dedos nos lábios ou se balançar, ela estava
regredindo a todos aqueles hábitos de infância, mas a percepção de
que esses dois homens realmente bons podiam estar em risco era
horrível. Sam também pescava. A maioria dos homens em seu
círculo pescava.
40
Livro Único
— Stella, venha aqui, bebê. Apenas sente-se. Você precisa

respirar. Denver passou o braço em volta dela e a levou até uma
cadeira de acampamento.
Ela respirou fundo, estremecendo, enquanto afundava na

cadeira e conseguia levar ar fresco para seus pulmões. — Estou bem,
Denver.
Ele deve ter jogado sua vara de pescar e vindo correndo. Isso
seria típico dele, notar alguém em apuros. Ele era o anestesiologista9
do hospital. Dr. Denver Dawson, o homem mais legal do planeta,
embora seu exterior áspero afastasse muitas pessoas. Faça isso
mulheres. Ela tinha visto isso dezenas de vezes. Mulheres tolas
sempre buscavam os encantadores suaves, os jogadores, e então
choravam quando seus corações se partiam.
Denver se agachou ao lado da cadeira, uma mão acariciando

Bailey automaticamente, a outra com os dedos sobre o pulso dela.
Essa era outra coisa sobre Denver. Ele podia ser todo profissional,
mas nunca deixava de reconhecer os animais ao seu redor. Ele podia
caçar e pescar, mas comia o que matava.
— Eu não fiz você perder sua vara de pescar, não é? Stella

inclinou a cabeça para trás para olhar para ele. — E por acaso você
não tem café, não é? Tenho certeza de que estava um pouco tonta
por falta de cafeína. Eu realmente preciso colocá-la diretamente nas
minhas veias.
— Eu não estava prestes a perder minha vara de pescar

favorita, disse ele, levantando-se e bagunçando o cabelo dela como
se ela tivesse cinco anos. — Você bebe cafeína em excesso e não
tenho certeza se devo contribuir para o seu vício.
9
O anestesiologista, ou anestesista como é comumente chamado, é um médico que atua para
proporcionar aos pacientes um estado de total ausência de dor, sensação de bem estar, relaxamento e
conforto durante um procedimento cirúrgico, diagnóstico ou terapêutico.
41
Livro Único
— Eu fico mal-humorada sem cafeína, Denver. Até Bailey não

gosta de mim.
Ela não queria que ele pensasse muito sobre seu ataque de
pânico ou fizesse perguntas. Ele também. Ao contrário de Sam, que
não tinha problemas com longos silêncios e raramente fazia
perguntas, Denver se metia em seus negócios. Ele nunca parecia ver
as barreiras que ela colocava, mas também não as via com outras
pessoas. Ela tinha certeza de que ele estava em algum lugar do
espectro - um homem brilhante com autismo, provavelmente
Asperger10, embora claramente tivesse um funcionamento
extremamente elevado.
Ele sorriu para ela e correu até a caminhonete cinza e verde.

Stella o observou partir, uma pequena carranca no rosto. Seu corpo
era todo músculos, assim como muitos dos homens que viviam e
trabalhavam na área. Eles eram escaladores, outdoorsmen11,
mochileiros e esquiadores, e se mantinham em forma por
necessidade para o que gostavam de fazer. Denver tinha um ótimo
corpo. Muito musculoso. Ela tinha notado isso antes, mas por algum
motivo, a maneira como ele estava se movendo, era muito aparente
para ela novamente. Ainda assim, mesmo construído como era, isso
não o manteria a salvo de um assassino à espreita sob a superfície
do lago.
Ela esfregou a palma da mão no rosto, tentando pensar. Ela

poderia pedir aos dois homens que não fossem pescar por alguns
dias porque ela teve um pesadelo? Isso a faria parecer uma lunática.
Como ela poderia proteger seus amigos? Sua mente disparou e seu
estômago embrulhou. Bailey empurrou contra ela. Seu cachorro
sempre sabia quando ela estava chateada.
10
A síndrome de Asperger é um estado do espectro autista, geralmente com maior adaptação funcional.
Pessoas com essa condição podem ser desajeitadas em interações sociais e ter interesse em saber tudo
sobre tópicos específicos. Um treinamento comunicacional e terapia comportamental podem ajudar
pessoas com a síndrome a aprender a conviver melhor.
11
A definição de outdoorsman no dicionário é um homem que se engaja ou desfruta de atividades
regulares ao ar livre, especialmente profissionalmente.
42
Livro Único
Denver estava de volta com uma caneca de café e outra

cadeira de acampamento debaixo do braço. — Eu roubei a cadeira
de Bruce. Não tenho certeza se ele sabe que você está aqui. Quando
ele está pescando, acho que uma bomba poderia explodir e ele não
saberia.
Ela envolveu as mãos ao redor do calor da caneca de café.

Havia um alce com chifres largos na caneca. — Está uma linda
manhã, não é?
Denver olhou para o céu e então seu olhar moveu-se

lentamente sobre o lago. — Sim. Nada igual em nenhum outro
lugar, Stella.
Ela sorriu para ele. — É exatamente assim que me sinto. Ela

colocou a cabeça para trás e fechou os olhos por um momento. —
Denver, já se passaram dezoito meses desde que você perdeu Suzy.
Por que você não comprou outro cachorro? Você sempre teve um
cachorro. O silêncio se estendeu por tanto tempo que ela temeu tê-lo
ofendido. Ela abriu os olhos para olhar para ele.
Denver estava olhando para o lago, sua expressão um pouco

perdida. Isso era outra coisa sobre ele. Ela nunca poderia ler Sam,
mas Denver era um livro aberto. Se ele estava com raiva, você sabia.
Se ele estava triste, era bem ali em seu rosto. Ele não se preocupou
em enganar você. Se ele não gostava de você, ele deixava claro. Não
havia besteira com Denver. Ele não gritava, não era seu estilo, ele
apenas olhava para quem estava sendo um idiota com total
desprezo e depois ia embora, ou ele os derrubava com um soco e
depois ia embora. Ele tinha uma certa reputação, então a maioria
dos bêbados no bar o deixava em paz.
— Sinto muito, Denver. Stella pôs a mão em seu braço para

confortá-lo. — Eu não deveria ter perguntado. Bailey e Suzy eram
tão bons amigos. Quando o deixei sair do carro, meio que esperava
vê-la correndo para nos cumprimentar. Quando ela não fez isso, eu
43
Livro Único
me perguntei por que você não comprou outro cachorro, mas eu

deveria ter deixado sozinho.
Denver encolheu os ombros, um giro de ombros. — Eu penso

nisso o tempo todo. É que eu a tive desde quando ela era um
cachorrinho. Eu gostei daquilo. Agora, estou tão ocupado. Fico
pensando em como seria justo ter um cachorrinho comigo. Eu
poderia levá-la para qualquer lugar, menos para o hospital, mas se
eu for muito lá, ela ficaria sozinha. Não gosto da ideia de ela ficar
sentada sozinha em uma caixa o dia todo.
Stella acenou com a cabeça em compreensão. Bailey, o

desavergonhado cão em busca de atenção, abriu caminho entre as
duas cadeiras, determinado que ambos os humanos deveriam
acariciá-lo e coçá-lo. Stella começou a rir. — Ele é horrível e você
está apenas encorajando-o. Denver já estava coçando as orelhas e o
peito, dois dos lugares favoritos do Airedale.
Denver sorriu para ela. — Ele merece toda a atenção que

puder receber por aturar você, Stella. Por que você o está arrastando
ao redor do lago, especialmente quando você não teve sua cota
matinal de cafeína?
Sem hesitar, Stella fez um gesto em direção ao lago. — Você ao

menos vê o que eu faço? Dê uma olhada, Denver. Experimente
pintar isso. Nem é possível. Ela deixou a frustração aflorar sua voz.
Quem disse que ela não era atriz quando tinha que ser? Ela
aprendeu a ser atriz, segurando seu sorriso em torno de todos os
pescadores que eram tão desrespeitosos quando ela assumiu a
administração do resort pela primeira vez. — Às vezes observo o
lago de diferentes ângulos para tentar ter uma ideia melhor das
cores. O brilho. Isso muda o tempo todo. Isso era verdade. Ela
dirigiu ao redor do lago, mas mais porque a beleza da natureza a
inspirava.
44
Livro Único
Denver a olhou por tanto tempo em silêncio que ela se sentiu

corar sem motivo, a não ser o olhar de admiração em seu rosto. —
Eu aprendo algo novo sobre você o tempo todo, Stella. Eu não tinha
ideia de que você pintava.
— Seriamente. Não sou artista, por isso não conto a ninguém,

disse Stella. Ela tomou outro gole cauteloso de café. Era um café
muito ruim. — Quem fez isso?
Denver riu. Ele tinha uma risada rica e calorosa que convidava
outros a rir com ele. — Bruce. Eu disse a ele para nunca se oferecer
para fazer café para Zahra. Ele ficou muito ofendido.
— Se eu não estivesse tão desesperada por cafeína, eu a

cuspiria, mas não posso me dar ao luxo de desperdiçar o presente
dos deuses.
Denver vomitou seu café no chão. — Você é ainda mais louca

do que eu pensava que era.
Ela acenou com a mão livre alegremente enquanto segurava a

caneca com a outra.
— Infelizmente, é verdade, mas eu não me importo. Com que

frequência vocês dois vêm aqui?
Denver encolheu os ombros. — Não com a frequência que

gostaríamos. Bruce está ocupado o tempo todo agora, graças a você
e suas maquinações. Nossos dias descontraídos de caça e pesca
acabaram.
— Eu não estou acreditando nisso, Denver. Você é um

workaholic.12
Ela estudou o layout da margem do lago com cuidado,

guardando-o na memória. As árvores que choronas. Elas eram
12
Trabalhador compulsivo ou workaholic é uma pessoa que trabalha compulsivamente. Enquanto que o
termo geralmente implica uma pessoa que gosta de seu trabalho, ele também pode implicar que ela
simplesmente se sente obrigada a fazê-lo.
45
Livro Único
iguais? Ela os reconheceu? E as rochas que se projetam da água? Seu

olhar saltou para Bruce. Ele havia se afastado da costa como o
pescador em seu pesadelo. Ela podia ver que ele usava botas. Os
juncos e plantas pareciam iguais, mas a flora estava perto de ser a
mesma deste lado do lago.
— Você vai derramar seu café, Stella, Denver apontou seu tom
suave. Ele estendeu a mão e pegou a caneca dela. — Por que você
está olhando para Bruce assim?
— Eu estava imaginando como deve ser um peixe. Ela teve

que improvisar rápido. — Num minuto, nadando pacificamente,
procurando uma refeição, e então no próximo, algum idiota manda
um anzol para baixo e acerta você na garganta com ele. Agora você
está lutando por sua vida. Se você tem uma bela família de peixes,
nunca mais os verá. Bruce parece um cara legal, mas sob toda aquela
gentileza se esconde um matador de peixes do mal. Tenho que
avisar Zahra.
Denver olhou para ela como se ela tivesse crescido duas

cabeças. Stella não podia culpá-lo. Ela não foi feita para ser detetive.
Ela não era tão inteligente. A expressão em seu rosto a fez querer rir.
— Família de peixes agradável? Matador de peixes do mal?

Meu Deus, Stella, você tem uma imaginação terrível.
— Não, eu tenho uma imaginação fértil, ela corrigiu. — É por

isso que eu não pesco. Ou caço. Vou matar uma aranha ocasional,
mas pratico principalmente o programa de captura e liberação. Eu
os prendo e os coloco do lado de fora.
Denver gemeu e baixou a cabeça nas mãos. — Você não

precisa.
— Eu faço. Minha imaginação muito saudável me diz que

todas as aranhas da casa que estão relacionadas se levantarão em
um exército e virão atrás de mim enquanto eu durmo. Vou
46
Livro Único
desenvolver uma alergia naquela única noite e vai ser uma maneira
horrível de morrer, engasgar com meu próprio vômito ou algo
igualmente desagradável e pouco feminino.
Denver começou a rir. — Não feminino?
— Bem, sim. Quando eu for, quero pelo menos ter uma boa
aparência. Nem todos estão cobertos de manchas vermelhas de
alergias. Isso não seria muito digno. Se você vai me encontrar,
Denver preciso ter uma aparência um tanto decente. Vienna está
sempre me falando sobre esses corpos de aparência horrível quando
você os encontra. Eu me recuso a morrer dessa maneira. Se um
exército de aranhas me pegar no meio da noite e me envenenar e eu
ficar com horríveis manchas de alergia, então posso pelo menos
saber que meu cadáver não vai ficar horrível. Bem, quero dizer que
vai acontecer se eu for atacada, mordida e morrer assim.
Ele empurrou a caneca de café de volta para ela. — Bebida.

Você não está fazendo nenhum sentido. Ele olhou para o cachorro.
— Ela é sempre assim de manhã, Bailey?
Stella envolveu a xícara de café com as mãos, feliz por ter

desviado sua atenção novamente. Ela tomou outro gole saudável da
bebida amarga. — Bruce realmente gosta deste café, Denver? Zahra
é fanática por café, assim como eu. Acho que ela pode desmaiar se
beber isso, não que eu ache que os dois algum dia vão acontecer.
A risada sumiu do rosto de Denver, deixando-o com aquele

exterior áspero que desanimava a maioria das pessoas. Havia
marcas de pústulas em seu lado esquerdo, fracas, mas lá, estragando
a pele envelhecida. De perto ela podia ver uma cicatriz estranha
sobre as pústulas, muito parecida com uma marca de derrapagem,
como se sua bochecha e mandíbula tivessem deslizado ao longo da
calçada.
— Por que você diz isso, Stella?
47
Livro Único
— Bruce é tão tímido perto de Zahra e não consegue convidá-

la para sair. Ela foi criada em uma pequena vila no Azerbaijão. Ela
está aqui há muito tempo e é cidadã, mas passou a vida lá como
uma criança. Nossa infância nos molda Denver, você sabe disso. Ela
não vai ser ousada de repente e chamar Bruce para sair. Ela pode
flertar com ele, especialmente se beber um pouco, mas não vai além
disso. Ela pode ser americana agora, mas nunca será aquela mulher
ousada que simplesmente o chama para sair primeiro. Bruce não vai
assumir o controle como ela precisa que ele faça. Eles estão,
infelizmente, em um impasse.
Denver esticou as pernas na frente dele, seu sorriso de volta.

— É por isso que ela bebe tanto. Devo dizer que fiquei um pouco
preocupado e fiquei de olho nela, com medo de que fosse alcoólatra.
Eu até o adverti sobre isso uma vez, o que não foi muito bom.
Seu sorriso se transformou em uma gargalhada. Ele tinha

olhos castanhos extremamente claros, quase mais âmbar do que
castanhos. Seu cabelo era muito espesso e castanho claro com
mechas loiras de todo o tempo que ele passou ao sol. Quando ele
sorriu para ela, seus olhos ficaram com a cor de um uísque
queimado.
— Talvez devêssemos trancar os dois em uma de suas

menores cabines por um fim de semana e ver o que acontece,
arriscou.
Stella começou a rir, mas havia uma pequena parte dela

contemplando a ideia. — Se ao menos pudéssemos escapar
impunes.
— Ela realmente gosta dele? Denver perguntou seu tom

repentinamente sério.
— Ela realmente gosta dele. Stella combinou com seu tom.
48
Livro Único
Capítulo 03
Bruce caminhou até Denver e Stella, emburrado com eles,

uma mão na cabeça de Bailey enquanto ele lançava uma sombra
gigante sobre eles. — Você está sentado na minha cadeira, Denver, e
deu a Stella minha caneca de café favorita.
Stella o examinou com atenção. As waders13 eram da mesma

cor verde-oliva de seu pesadelo. Ela disse a si mesma que isso não
significava nada. Muitos dos pescadores usavam exatamente as
mesmas Waders. Acontece que o homem em seu pesadelo usava um
macacão jeans com bordas enfiadas nas botas. Denver estava com as
botas, mas não com o macacão, o que não significava que ele não
tinha um par. Nenhum dos dois usava chapéu, mas era cedo o
suficiente para que os raios do sol ainda não fossem tão fortes.
— Estou brincando, Stella, disse Bruce. — Não fique tão

chateada.
— Eu estava prestes a dizer a ele para ir pegar outra cadeira de

sua caminhonete. Ele tem dez delas lá, disse Denver. — Sério, Stella,
ele não poderia se importar menos.
Ela parecia chateada de novo? Seus pesadelos realmente a

abalaram. Ela prometeu a si mesma que controlaria seu
comportamento. Estes eram seus amigos. Se ela ia salvá-los, ela
precisava fazer melhor. Muito melhor.
— Desculpe, eu estava pensando em aranhas e famílias de

peixes. Ela acenou com a mão com desdém. — Não pergunte Bruce.
13
Macacão com bota em PVC resistente e impermeável, específico para pesca dentro da água.
49
Livro Único
Denver já acha que estou louca. Os peixes estavam mordendo esta

manhã?
Denver se levantou e Bruce imediatamente afundou na cadeira

desocupada. Denver o ignorou, mas foi até a caminhonete de Bruce
e puxou outra cadeira.
— Na verdade, não, respondeu Bruce. — Eu realmente não me

importei se eu peguei alguma coisa esta manhã ou não. Eu só queria
vir aqui e relaxar. Às vezes fica agitado e meu cérebro não aguenta
mais o caos depois de um tempo. Eu preciso reiniciar.
Stella achou interessante que ele pensasse nos mesmos termos

que ela. Todas as manhãs o nascer do sol a “restaurava”. — Todos
nós precisamos disso de vez em quando, não é?
Bruce acenou com a cabeça. Ele olhou ao redor. — Você veio

por sozinha?
Stella manteve o rosto sério. Denver colocou sua cadeira em

frente a eles, olhando para ela com um sorrisinho que lhe disse que
sabia exatamente o que Bruce estava pescando.
— Quem você acha que estava escondido na traseira dela,

Bruce? Denver perguntou.
Bruce olhou feio para ele. — Você é um pé no saco, Denver.
Stella se levantou da cadeira. — Vou olhar para a água e tentar

descobrir as cores e o que estou fazendo de errado ao misturar
minhas tintas. Tenho tentado acertar as cores há muito tempo e
simplesmente não consigo fazer isso quando estou pintando o lago.
Vocês dois podem discutir sem mim. Sua arte era seu melhor
disfarce, a melhor razão que tinha para examinar as pedras e a
grama com tanto cuidado.
Ela correu até a beira da água, fazendo uma varredura

cuidadosa da costa. Ela queria ver de todas as direções, do jeito que
50
Livro Único
as lentes da câmera faziam em seus sonhos todas as noites. Ela teve

várias vistas do lago e das pedras e árvores. Ela deve ser capaz de
identificar se esta era a localização exata do próximo assassinato. Ela
duvidou disso. Seria muita sorte se este fosse o primeiro lugar
isolado que ela verificasse. Era um lugar remoto, desconhecido para
estranhos, e apenas alguns moradores locais viam aqui, o que na
verdade o tornava o lugar perfeito para assassinato.
Ela estava muito feliz por ter dito a Denver que pintava,
embora apenas alguns de seus amigos soubessem que ela pintava e
ela se sentisse muito mais confortável com isso. Ter contado a ele era
um bom motivo para ela estudar a costa e as árvores de todos os
ângulos. Ela poderia guardar cada detalhe na memória. Seu cérebro
catalogou imagens para ela. Às vezes isso era bom, mas nem
sempre. Havia coisas em seu passado que ela queria esquecer.
Ela afastou todos os pensamentos e começou a estudar

lentamente cada seção individual da área de pesca. Seria lógico que
um pescador chegasse de carro, estacionasse como Denver e Bruce
haviam feito e andasse até a área onde ambos haviam escolhido
pescar. Eles não iriam muito mais longe. Isso significava que ela
poderia concentrar sua investigação onde eles estiveram pescando.
Ela escolheu inspecionar onde Bruce estivera primeiro. Ele havia
entrado mais fundo no lago e estivera entre as rochas, entre os
juncos e as plantas.
Stella foi até a área onde Bruce estava pescando. Contornando

a grande pilha de pedras em terra, ela desceu até a beira da água, de
onde podia olhar para trás, em direção às que se projetavam da
água. Ela disse a si mesma para continuar respirando
uniformemente. Devagar. Era estranho o quanto ela sentia
apreensão, embora continuasse se assegurando de que não havia
nenhuma maneira de este lugar ser o mesmo que o local do
assassinato em seu pesadelo. Ainda assim, havia apenas algo nela
que sabia. Ela sentiu isso.
51
Livro Único
As rochas tinham o formato exatamente igual ao que ela

esboçou em seu pesadelo. Quanto mais ela os estudava de cada
ângulo, mais seu coração batia mais rápido. Ela olhou para os juncos
e plantas subindo da água, a maneira como cresciam ao redor das
rochas em forma de ovo, algumas curvadas, outras subindo em
direção ao céu. Havia manchas grossas e outras onde a água batia
nas rochas de granito. Foi como um déjà vu.
Não Bruce. Denver, não. Por que alguém iria querer matar
qualquer um deles? Os dois homens eram queridos, mas Bruce
precisava dispensar trabalhadores ocasionalmente. E quanto a
Denver? Ele tinha alguns inimigos. Ele entrava em brigas de bar às
vezes. Bruce também. Sam também, não tantos, mas ele era
conhecido por dar um soco de vez em quando. Sam pescava aqui?
Ela não tinha ideia. Quantos outros locais pescaram aqui?
Talvez ela devesse acampar aqui. Quantos dias antes que o

assassinato ocorresse? Um? No máximo dois. Ela poderia fazer isso.
Acampar bem aqui. Ninguém poderia usar o local como local de
pesca. O assassino não seria capaz de matar como queria. O que isso
o faria fazer? Ele perceberia que ela estava atrás dele? Isso seria
impossível.
— Stella? Bruce chamou o nome dela. — Você está com fome?

Eu tenho comida.
Ela se levantou lentamente de sua posição agachada. — Vou

me encontrar com Zahra para almoçar e é melhor eu me mexer, mas
obrigado pela oferta. Quando seu rosto caiu, ela teve pena dele. —
Alguns de nós vamos dançar hoje à noite no Grill. Você e Denver
são bem-vindos para se juntar a nós.
Bruce assentiu imediatamente. — Estaremos lá.
— Tenho que verificar minha programação, disse Denver.
— Estaremos lá, disse Bruce decisivamente.
52
Livro Único
Denver riu, seguindo Stella até seu 4Runner, observando

enquanto ela abria a parte de trás para que Bailey pudesse entrar. —
Ele pode ser muito dominante quando Zahra não está por perto.
Acho que ele iria para o hospital e reagendaria qualquer operação
apenas para que eu pudesse ir com ele para um bar para que ele
pudesse ficar olhando para sua mulher a noite toda. Ele fingiu
sussurrar, já que Bruce os havia seguido.
Bruce olhou feio para ele. — Não há nada de errado com isso.
— Ela não pode ser sua mulher se você não a reivindicou,

Denver apontou. — Fazer cara feia para outros homens para mantê-
los longe dela não conta.
— Pode não contar em seus olhos, mas funciona, disse Bruce

presunçosamente.
— Não vai funcionar para sempre, disse Stella ao sentar-se ao

volante. — É melhor você decidir logo o que vai fazer Bruce. Ela
ligou o veículo e começou a recuar para que pudesse se virar.
— Espere o que? Bruce gritou atrás dela. — Você está tentando

me dizer algo?
Stella acenou no espelho retrovisor, ignorando Bruce

pressionando os punhos grossos na cintura enquanto gritava atrás
dela. Ele era um homem adulto. Se ele não conseguia descobrir
depois de todas as dicas que Zahra, Denver e Stella haviam lhe
dado, ele não merecia Zahra. Stella tinha a sensação de que Zahra já
havia desistido e estava tentando seguir em frente, pelo menos em
sua cabeça, e Stella não a culpava.
Realmente havia algo no relógio biológico de uma mulher, se

alguém quisesse filhos. Os óvulos só serviam por um certo tempo.
Ela sabia por que havia investigado esse fato e então se resignado a
uma vida sem filhos. Ela não queria isso para Zahra, quando sabia
53
Livro Único
que sua amiga realmente queria uma família. Não era como se elas
tivessem mais vinte anos. Elas tinham trinta e contando.
O resort ficava a uma boa distância da cidade e ela teve muito

tempo para pensar no que faria a fim de evitar o assassinato do
pescador enquanto dirigisse até lá. A única solução real que ela
encontrou foi acampar no local por vários dias. Ela só podia esperar
que os pesadelos previssem a mesma linha do tempo que os
assassinos em série anteriores com os quais ela sonhou. Isso daria a
ela dois dias antes de ele atacar.
Se o assassino não tivesse acesso ao terreno escolhido para o

crime, talvez ele fosse jogado fora de seu jogo e tivesse que começar
tudo de novo com seu planejamento. Isso lhe daria tempo para
estudar tudo o que havia escrito e esboçado sem ficar tão
apavorada. Quanto mais calma ela estivesse, mais lógica e racional
seria ao caçar o assassino.
Zahra já estava esperando em seu local favorito para o almoço,

na mesa do canto nos fundos do pequeno café que os moradores
sabiam que tinha o melhor café da manhã e almoço da cidade. A
maioria era uma delicatessen onde as pessoas compravam
sanduíches para viagem, mas havia algumas mesas e cabines
localizadas nos fundos do café. O chão era de ladrilhos xadrez preto
e branco. As toalhas de mesa eram de papel xadrez preto e branco
sobre madeira para que pudessem ser arrancadas e as próximas
colocadas facilmente.
Sunrise Café pertencia e era operado por sua amiga Shabina

Foster. Shabina tinha um metro e setenta de altura e cabelos pretos
e grossos que iam até a cintura, se ela deixasse. Principalmente ela o
trançou e o embrulhou em um oito em sua cabeça. Ela tinha uma
pele linda e olhos azuis-pavão inesperados emoldurados por cílios
pretos. Espantosamente bela Shabina era incrivelmente modesta. A
empresa de seu pai havia ascendido para se tornar à empresa
número ‘um’ chamada quando poços de petróleo pegavam fogo em
54
Livro Único
qualquer lugar do mundo. Foi assim que sua mãe o conheceu na

Arábia Saudita.
Shabina raramente falava sobre seus pais ou como surgiu a

união deles. Shabina uma vez disse a elas que seu nome significava
"olho da tempestade" em árabe. Sua mãe havia lhe dito que seu
nome era apropriado. Shabina deixou implícito que isso significava
que tinha algo a ver com a história de sua família. Stella sabia que
sua mãe nunca voltou para a Arábia Saudita e seus avós nunca
foram para os Estados Unidos. Nenhuma das tias, tios ou primos de
Shabina a conhecia. Parecia que todos eles tinham segredos, e tudo
bem. Talvez fosse isso que permitia que todos fossem amigos.
Stella acenou para Shabina, sabendo que ela estava muito

ocupada agora para falar, mas voltaria para a cabine mais tarde,
quando a pressa acabasse. Correndo para trás, Stella sentou-se no
banco em frente à Zahra. — Você saiu mais cedo.
Zahra assentiu seus olhos escuros examinando Stella com

cuidado. — Eu tinha um tempo livre para vir, e minha agenda não
era tão importante para que eu não pudesse mover as coisas. Achei
que seria bom passar mais tempo juntas.
Aquilo não era nada típico de Zahra. Ela trabalhava. Ela

seguia seu calendário e riscava os compromissos quando eles
chegavam. Ela parecia inocente, mas isso era metade do charme de
Zahra. Ela poderia parecer inocente, mesmo se ela estivesse
roubando seu carro debaixo de você. Quando eles iam para a
academia juntos e compartilhavam um personal trainer, Zahra
conseguia convencê-lo a deixá-la fora de perigo quando se tratava
de exercícios mais difíceis, embora Zahra pudesse fazê-los sem
problemas. Stella, por outro lado, pensou que estava morrendo e o
treinador apenas a fez fazer mais. Ela não tinha aquele sotaque fofo
ou o sorriso adorável de inocência que Zahra tinha.
— O que esta acontecendo com você? Stella perguntou.
55
Livro Único
— Eu precisava de um tempo de menina.
Stella a olhou com desconfiança. Havia um prato de

abobrinhas fritas, uma das especialidades de Shabina. Não era
qualquer abobrinha frita. O gosto era leve, como se não fosse frito e
não pudesse adicionar uma única caloria ao seu corpo. Shabina
poderia enganar você fazendo-o pensar coisas assim com sua
comida.
— Perfeito. Eu também. Vou acampar e preciso de alguém

para acampar comigo. Stella saltou. Zahra era uma garota de luxo
cinco estrelas. Ela já tinha passado fome e sofrido o suficiente para
durar uma vida inteira quando estava crescendo, mas fez a mochila
e escalou quando Stella torceu o braço.
Zahra estreitou os olhos castanhos escuros. — O que isso

significa? Acampando em uma de suas cabines? Ou em uma
barraca? O que exatamente você está dizendo? Porque está frio à
noite agora, ou você não percebeu?
— Tendas à beira do lago. Já escolhi o local perfeito.
Zahra caiu dramaticamente sobre a mesa, enterrando o rosto

nos braços, gemendo. — Você não está bem da cabeça, Stella.
Ninguém quer mais acampar em uma barraca. Você tem uma linda
casa. Cabines. Podemos ir a qualquer lugar. Tendas à beira do lago?
Ela ergueu a cabeça e olhou para Stella. — Diga-me agora, você vai
me trazer de volta naquela época em que eu deveria caminhar no
JMT com você e pensei que estava doente e desisti.
Stella revirou os olhos. — Ninguém acreditou que você iria

fazer a trilha comigo, Zahra. Eu não acreditei por um minuto. Eu
realmente pensei que você poderia chegar ao Whitney porque você
sempre fala sobre isso, mas de jeito nenhum você realmente iria
fazer a trilha, especialmente quando eu estava saindo por um mês. E
você não estava doente.
56
Livro Único
— Eu poderia ter feito isso, afirmou Zahra, salgando as batatas

fritas de abobrinha, sem se importar em negar que não estava
doente.
Stella pegou o saleiro dela. — Não apenas você poderia ter

feito isso, você teria sido muito melhor nisso do que eu. Você
simplesmente não gosta de se incomodar.
— Eu gosto de chuveiros. E banheiros, Zahra apontou. — Não

há nada de errado com isso. As pessoas em sã consciência gostam
dessas coisas.
Stella riu e então olhou para a jovem garçonete enquanto ela

colocava dois pratos na frente deles.
— Eu fiz o pedido para você, explicou Zahra. — Você sempre

pede a mesma coisa. Você leva quinze minutos olhando o cardápio e
depois pede exatamente a mesma coisa. É irritante.
— Hum, querida. É você. Que faz isso. Eu nunca olho para o

menu.
Zahra revirou os olhos e riu. — Ok, vou admitir que é a

verdade. Gosto de olhar porque tudo soa muito bem. É o mesmo
comprar roupas. Você entra e quer entrar e sair de uma loja
imediatamente. Gosto de procurar por horas. Não preciso comprar
nada, mas gosto de olhar. Shabina é como eu. Harlow também,
embora ela goste de comprar. A mãe dela é uma compradora, então
eu entendo isso. Raine é mais parecida com você. Basta seguir o
programa, ela faz suas pesquisas com antecedência. Ela está de
volta, por falar nisso.
O trabalho de Raine era vagamente intitulado de

programadora. Ela “meio que” trabalhava para o governo, se é que
se pode chamar assim. Raine não. Raine estava naquele primeiro
círculo de amigos próximos com segredos, o que significava que elas
não pediam muito e ela não se oferecia. Ela trabalhava
57
Livro Único
principalmente para a base de treinamento da Marinha, que ficava a

cerca de cinco horas de carro delas. Raine era assustadoramente
inteligente. Muito inteligente. Sam a percebeu imediatamente, e isso
já dizia alguma coisa, porque Raine tendia a ficar quieta e observar.
Houve uma época em que ela havia programado mísseis quando
estava no exército, mas estava fora e agora programada com um
código que poucos entendiam ou conheciam. Pelo menos, foi o que
Stella pensou que ela fazia. Quem realmente sabia?
— Raine gosta de acampar, disse Zahra, girando o garfo no

macarrão caseiro. — Ela provavelmente viria com a gente.
Bem ali, era por isso que Zahra sempre seria sua melhor
amiga. Ela pode não gostar de acampar em barracas no frio, mas ela
o faria. Stella sorriu para ela. — Você acha que ela gostaria de vir
quando acabou de voltar de uma viagem?
— Viagem de garotas? Zahra deu seu sorrisinho misterioso

que os homens achavam atraente. — Claro que ela vai querer vir.
Sempre nos divertimos. Podemos perguntar a Shabina também. É
um curto prazo para ela, mas ela pode conseguir alguém para cobri-
la. Ela tem uma boa equipe agora.
— Harlow tem que trabalhar esta noite. Eu queria que elas

fossem ao Grill conosco e dançar. Perdi o café com elas esta manhã.
Zahra deu de ombros e fechou os olhos, gemendo enquanto

comia um pedaço do macarrão. — Eu juro que me casaria com
Shabina se fosse assim. Ninguém cozinha como ela.
Stella teve que concordar com ela. Shabina manteve o menu

pequeno, com alguns pratos especiais do dia, mas tudo era perfeito.
— Viena pode ser capaz de ir. Vou mandar uma mensagem para
Harlow e Vienna e ver se elas podem nos encontrar mais tarde esta
noite. Posso montar tendas para elas. Se não, talvez amanhã. Eu
queria acampar três dias.
58
Livro Único
Ela esperava que três dias fossem suficientes. Se a linha do

tempo fosse à mesma das outras duas vezes em que houve
pesadelos anunciando assassinos em série em sua vida, então o
assassino tentaria matar nos próximos dois dias. Ela teria um sonho
por cinco noites seguidas e dois dias depois, o corpo seria
encontrado. Foi assim que funcionou. Neste caso, ela esperava
interromper o assassino com a viagem de acampamento de meninas
- com sorte haveria o suficiente delas acampando para atrapalhar
qualquer pessoa que estivesse procurando um local de pesca
tranquilo.
— Não estaremos longe do resort, então durante o dia você

pode ter um tempo no spa enquanto estou trabalhando, se houver
uma emergência ou algo assim. Stella sentiu o impacto instantâneo
do olhar de Zahra. A mulher via muito. A conhecia há muito tempo.
Quando Stella ia acampar, ela saia do trabalho. Guardava o telefone
dela. Não queria que ninguém falasse de trabalho.
— Adoro o seu spa, disse Zahra. — Mas estou trazendo as

cartas do tarô para que cada uma de vocês possa encontrar seu guia
interno para capacitá-los. A leitura a ajudará a encontrar sabedoria e
orientação para se conectar com o seu verdadeiro eu.
Stella continuou comendo, recusando-se a olhar para a amiga,

que estava muito séria. Ela não estava falando sobre as outras
mulheres em seu círculo, ela estava falando sobre Stella. Ela sabia
que algo estava incomodando Stella, e sua maneira de ajudar era
dando-lhe uma leitura e deixá-la resolver o problema com seus
próprios guias. Quem sabia? Talvez ajudasse. Nesse ponto, ela
pegaria tudo o que pudesse.
— Você vai trazer as cartas de tarô e Viena vai querer jogar

pôquer e ficar com todo o nosso dinheiro. Stella lançou a Zahra um
olhar carregado de emoção, mostrando seu afeto brevemente, mas
mudando de assunto.
59
Livro Único
— Ela vai. Acho que ela trapaceia nas cartas, mas nunca
consigo pegá-la nisso, Zahra declarou.
Stella começou a rir. — Vienna nunca trapacearia nas cartas,

mas ela é muito afiada. Um sério. Ela vai para Las Vegas e joga
alguns dos jogos de pôquer de grandes apostas lá. Ela vence
também. Nossa doce enfermeira cirúrgica tem dentes. Ela parece
uma supermodelo e ninguém a leva a sério e isso é um grande,
grande erro.
Zahra olhou para cima, suas sobrancelhas escuras se unindo

daquela maneira que era tão adorável que os homens geralmente
caíam a seus pés, mas ela nunca percebeu. Stella e as outras sempre
a faziam e riam secretamente porque ela parecia tão sem noção.
— Carta afiada? Não ouvi esse termo, Stella, e estou neste país
há muitos anos. Eu jogo cartas.
— Você é terrível nas cartas, observou Stella, achando que ser

péssima era generoso. Zahra só jogava porque todo mundo queria
jogar e ela gostava de fazer o que os outros decidiam fazer. Como
acampar perto do lago quando a temperatura caía, porque ela sabia
que Stella ia fazer isso estando sozinha ou não. Essa era Zahra, leal
demais.
— Eu não sou terrível, Zahra defendeu e depois caiu na

gargalhada. — Ok, talvez eu esteja, mas pôquer é tão chato. Não
tenho ideia do que está acontecendo na metade do tempo. Ela deu
mais mordidas em seu macarrão e gemeu mais. — E eu chuto sua
bunda se estivermos jogando Durak.14
14
O Durak é um jogo de cartas de origem russa de ataque e defesa. Dizemos que neste jogo não há
vencedores, apenas um perdedor. A última pessoa que ficar com cartas na mão é o perdedor (o burro
ou “durak”). O objetivo é descartar todas as suas cartas antes dos seus adversários em diferentes
rodadas de ataque e defesa até que não haja cartas no baralho.
60
Livro Único
— É verdade, porque você gosta desse jogo e presta atenção.

Caso contrário, você iria tagarelar. Incessantemente. Acho que você
está esperando nos distrair, o que não funciona.
Os olhos chocolate escuro de Zahra se arregalaram. — Eu

absolutamente não falo durante as cartas. Ela não apenas parecia,
mas estava indignada.
Shabina sentou-se no banco ao lado de Zahra. — Sim, você faz

mamãe.
Ela sempre chamava Zahra de ‘mamãe pequena’, um termo

carinhoso da Arábia Saudita que a mãe de Shabina a chamava. —
Mas todos nós amamos. Você nos conta as histórias mais
engraçadas.
Stella começou a rir ao ver a expressão no rosto de Zahra.

Zahra nunca se considerou engraçada. Ela se metia em apuros o
tempo todo, mas conseguia se livrar deles o mais rápido possível.
— Vamos ao Grill hoje à noite para bebidas e dança e depois,

vamos acampar a beira do lago por três noites. Eu tenho tempo para
montar tendas para nós, Stella ofereceu como suborno. — Eu sei que
é curto prazo, mas eu realmente preciso ir descansar. Não é muito
longe do resort. O que ainda era longe para quem morava na cidade,
se tivesse que verificar seus negócios durante o dia.
— Definitivamente para o Grill, Shabina disse prontamente. —

Dê-me uma hora para ver se consigo acampar. Se Vaughn puder me
cobrir, estou lá. Eu poderia usar um pouco de tempo de inatividade.
E posso ajudar a montar tendas. Devo partir em mais algumas
horas.
Zahra gemeu novamente enquanto dava outra mordida. Isso

lhe rendeu alguns olhares muito interessados dos dois homens na
mesa em frente a eles, que ela perdeu completamente. Stella e
Shabina trocaram olhares conhecedores. Elas estavam acostumadas
61
Livro Único
com Zahra e a maneira como ela atraía os homens. Ela não pôde
evitar. Ela flertava escandalosamente e não pareceu notar que ela
estava flertando.
O outro ímã de homem em seu grupo era Viena. Ela descendo

a rua pode causar um engarrafamento. A diferença é que ela estava
ciente disso - ela simplesmente não se importava. Ela era
extremamente inteligente e muito independente como todas as
mulheres do círculo de amizades. Ela malhava muito, fazia as
mesmas atividades ao ar livre que o resto delas e todas juraram que,
como Zahra, ela nem suava.
— Meu Deus, Zahra, se você continuar fazendo esse som, vai

ser presa por exposição indecente ou algo assim, advertiu Stella.
Zahra começou a rir. — Eu não posso evitar. Esta massa é

muito boa.
O rosto de Shabina se iluminou, seus olhos escuros brilhando.

— Essa é a coisa mais legal que você poderia ter me dito. Um cliente
exigiu seu dinheiro de volta depois de comer todo o almoço,
alegando que isso lhe causou dor de estômago e foi a pior refeição
que ele já teve.
— Você tem que estar brincando comigo. Zahra ficou

indignada. — Espero que você não tenha devolvido o dinheiro dele,
Shabina. Ele estava apenas procurando uma refeição grátis. Que
idiota. Você ligou para a polícia?
— Ele realmente não causou nenhum incômodo e quando eu

pedi para ele ir embora, ele o fez. Parece, porém, que ele chamou a
polícia para mim. Um leve rubor deslizou sob a bela pele escura que
ela herdou de sua mãe.
Stella se recostou na cabine e a observou com atenção. — Não

creio que um certo detetive apareceu por acaso com um policial para
investigar a denúncia. Eu me pergunto por que isso seria.
62
Livro Único
— Um detetive investiga todos os tipos de crimes, incluindo a

tentativa deliberada de envenenar os clientes, o que, aparentemente,
eu tentei fazer, ressaltou Shabina, levantando o queixo e seus cílios
muito pretos caindo para cobrir os olhos azul royal.
— Ele realmente acusou você de tentar envenená-lo? Stella

disse o sorriso desaparecendo.
Shabina acenou com a cabeça. — Aparentemente, o Sr. Watson

- esse era o cliente - tem certeza de que sou do Irã, do Iraque ou do
Afeganistão e fui plantada aqui para obter informações,
possivelmente no centro de treinamento da Marinha, bem perto de
nós.
— No final da estrada? Zahra ecoou. — Você quer dizer cinco

horas de distância? Esse centro de treinamento?
— Espere - disse Stella, franzindo a testa, erguendo os olhos

para encontrar os olhos de Shabina. — Sean Watson? Que trabalha
com peixes e animais selvagens? Isso não faz sentido. Ele sempre te
deu problemas, Shabina? Você deve ter se cruzado com ele antes
disso. Todas nós o conhecemos.
Shabina encolheu os ombros. — Ele me convidou para sair um

tempo atrás, mas havia algo na maneira como ele fez isso que me
incomodou. Ele é atraente. Até meu tipo. Eu pensei sobre isso, mas
não gostei do jeito que ele estava olhando para mim, ou talvez tenha
sido a maneira como ele falou quando me perguntou. Eu não posso
te dizer exatamente porque eu disse não. Não foi nem mesmo um
não rude. Eu só disse que não fazer isso naquele momento, que teria
que fazer uma checagem.
— O que ele fez? Zahra perguntou seus olhos castanhos

escuros arregalados de preocupação.
— Ele me olhou de cima a baixo como se eu estivesse abaixo

dele. Ele tinha um sorriso de escárnio no rosto, como se estivesse
63
Livro Único
realmente enojado. Ele apenas se virou e foi embora. Depois disso,

ele vinha ao meu café uma vez por semana e reclamava da comida.
Ele geralmente mandava seu almoço de volta pelo menos duas
vezes. Tentei ter certeza de que poderia escapar pela porta dos
fundos se o visse chegando. Se eu não estivesse aqui, ele apenas
comia e ia embora. Ela hesitou. — Pequenas coisas começaram a
acontecer cerca de seis meses atrás. Não com frequência, cerca de
uma vez por mês ou mais. Alguém pegou uma lata de spray e
escreveu em todo o lado de fora do café pedindo que eu voltasse
para o meu país, seja lá o que isso signifique. Eu nasci aqui. Minha
mãe nem é saudita completa. De qualquer forma, denunciei à polícia
e colocamos um prime15 e pintamos naquela mesma manhã.
— Você não disse uma palavra, disse Stella.
— Eu sei. Shabina suspirou. — Apenas deixou um gosto tão

ruim na minha boca. Os outros incidentes foram semelhantes.
Vandalismo, principalmente. Instalei mais câmeras de segurança
recentemente, tanto dentro quanto fora do café. Pedi ao advogado
para me ajudar. Ele instalou as câmeras para mim e colocou os
aplicativos no meu telefone, iPad e computador para me avisar se
alguém se aproximasse do local.
Zahra continuou franzindo a testa, olhando para Shabina com

a mesma preocupação. — Por que você não contatou a empresa de
segurança de Bale?
— Ele é amigo de Sean Watson, Stella respondeu por Shabina.
— Lembre-se, Bale namorou Harlow por um curto período de

tempo, cerca de seis meses atrás. Ela terminou abruptamente, mas
nunca disse realmente por quê. Eles só saíram em alguns encontros.
Talvez devêssemos perguntar a ela.
15
Prime - Uma substância usada como uma camada preparatória em madeira, metal ou tela não
pintada, especialmente para evitar a absorção de camadas subsequentes de tinta ou o desenvolvimento
de ferrugem.
64
Livro Único
— Ele a convida para sair o tempo todo, Shabina informou. —

Eu o vi mandando mensagens para ela. Geralmente ela ignora as
mensagens, mas às vezes ela digita uma resposta e é muito curta.
Uma vez eu perguntei a ela por que ela não o bloqueou quando ele
deve estar deixando-a louca com tantas mensagens, e ela apenas
encolheu os ombros e disse que realmente não queria irritá-lo.
Stella recostou-se na cadeira e olhou para o rosto de Shabina.

Ela era uma mulher bonita. Harlow também. Elas eram muito
diferentes na aparência. Harlow era uma chama de fogo. Cabelo
ruivo, olhos de jade brilhantes. Sardas no nariz e nas maçãs do rosto
salientes que só aumentavam sua beleza. Ela era alta, com pernas
longas e conseguia se mover rápido quando queria, embora
parecesse ser sempre graciosa, mesmo de salto agulha - treinanda
para ser filha de um senador e tendo que comparecer a inúmeras
arrecadações de fundos, ela disse rindo para elas.
— Mandei uma mensagem de texto para Harlow e Vienna

para ver se elas podem se juntar a nós depois de seus turnos hoje à
noite, disse Stella. — Eu adoraria se todas nós pudéssemos ficar
juntas. É tão raro ultimamente.
— Sabe se vamos ao Grill esta noite, não podemos acampar,

Zahra apontou. — Estaremos bebendo e como chegaremos lá?
Stella suspirou. — Eu serei a motorista sóbria.
— Você não pode ser a motorista sóbria, disseram Shabina e

Zahra simultaneamente e depois caíram na gargalhada.
A sobrancelha de Stella ergueu-se. — O que?
— Você é hilária quando bebe e quase nunca bebe, Zahra

apontou. — Não estamos perdendo isso.
— Bem, vou acampar hoje à noite.
65
Livro Único
— Envie uma mensagem para Sam e veja se ele será nosso

motorista sóbrio, Zahra sugeriu com um pequeno sorriso travesso.
— Ou Denver. Qualquer um faria isso por você.
— Você é tão engraçada, disse Stella, ciente do calor

aumentando, o rubor começando em algum lugar baixo e movendo-
se por seu corpo em direção ao rosto. — Você é um demônio. Só
vamos ao Grill porque você quer ver Bruce.
— É porque eles fazem os melhores Moscow Mules16, corrigiu

Zahra. — E eu gosto de dançar.
Shabina riu. — E você gosta de cobiçar Bruce e todos os seus

músculos.
Zahra revirou os olhos e encolheu os ombros. — Ele é muito

alto, então há espaço para muitos músculos, mas ele não fala.
— Na minha experiência, disse Shabina, — isso pode ser uma

coisa boa. Quanto menos conversa, mais ação. Você não quer ação,
Zahra?
Zahra suspirou. — Ele tem que começar de algum lugar, como

me convidar para sair. Ele mal consegue me convidar para dançar.
Acho que estamos nos divertindo muito e então ele simplesmente
vai embora e estamos de volta à estaca zero. Enquanto ele estiver
por perto, ninguém mais vai me convidar para sair porque ele os
encara.
— Isso não é tudo que ele faz, disse Shabina. — Eu o ouvi

ameaçar algum idiota para deixá-la em paz ou ele o estava levando
para fora, e ele quis dizer isso também.
16
Moscow Mules – De origem russa, e deve ser servida em caneca de cobre. O seu nome, algo
como mula de Moscou, é uma referência ao efeito que o destilado de origem russa, cujo teor alcoólico
varia de 35% a 60%, costuma causar em seus bebedores.
66
Livro Único
Zahra endireitou-se na cadeira. — Ele fez o quê? Ele não pode

fazer isso. Alguém ia me convidar para dançar?
Stella a cutucou embaixo da mesa com o pé. — Eu me lembro

daquela noite. O cara não iria te deixar em paz, não importa quantas
vezes você disse a ele para sair de cima de você. Ele continuou
tentando dançar e assustar você. Bruce o puxou e bateu um papo
com ele. Essa foi à última vez que o vimos na pista de dança.
Zahra parecia apaziguada. — Bem, acho que está tudo bem,

então. Ela olhou para cima quando outra mulher se juntou a eles,
empurrando para o lado de Stella da mesa.
— Raine. Você nos encontrou.
— Onde mais você estaria? Melhor comida. Melhor café. Faz

sentido. Raine cutucou Stella. — Acampar hoje à noite? Depois do
Grill?
Raine era pequena, uma loira com cabelos beijados pelo sol
que geralmente ficavam soltos. Ela prestou pouca atenção à sua
aparência, o que significava que ela realmente não precisava.
Grandes olhos azul-ardósia emoldurados por cílios e sobrancelhas
douradas eram a ruína de sua vida, pelo menos ela sempre disse
que eram. Stella achou que seus olhos eram lindos.
Tudo em Raine era um pouco selvagem, como se ela fosse

indomável. Ferozmente independente, não importa o quanto
temesse alguma coisa - ou por causa disso - ela trabalhou nisso até
que fosse capaz de fazê-lo. Ela adorava boulder e passava horas
resolvendo os problemas da rocha com alegria. A escalada Trad era
seu inimigo. Ela realmente tinha medo de altura e não confiava em
ninguém na ponta da corda. Ainda assim, ela estava determinada a
67
Livro Único
escalar. Ela fazia parasailing17 mesmo quando isso a assustava e ela

acabou adorando.
Raine havia caminhado a trilha John Muir sozinha, passando

várias semanas no deserto para fazer isso, chegando ao cume do
Monte Whitney várias vezes. Ela também escalou o Monte Shasta e
depois foi para a Europa e escalou os Alpes sozinha. Ela foi para a
Islândia e escalou um vulcão adormecido, e visitou cavernas de gelo
na Romênia, caminhando pelo sertão. Ela tinha feito o mesmo na
Tailândia.
— Você parece cansada, Raine. Você não tem que vir acampar
conosco esta noite, disse Stella. — Estamos perto do resort. Você
poderia ficar em uma das cabines e ter uma boa noite de sono e
depois se juntar a nós amanhã à noite. Estávamos pensando em
acampar por três noites.
Stella se sentiu culpada por não confiar em seus amigos, mas o

que ela poderia realmente dizer? Não houve assassinato. Não havia
ninguém. Não havia explicação que ela pudesse dar a elas sem virar
seu mundo de cabeça para baixo. Nada fazia sentido para ela agora.
Tinha que ser um estranho, não alguém que morasse e trabalhasse
na cidade.
Havia tantas pessoas com empregos temporários. Ela

pressionou os dedos nas têmporas. Pessoas iam e vinham. Até no
resort ela contratou a mesma equipe, mas nem todos ficavam o ano
todo. Ainda assim, ela não conseguia imaginar nenhuma das
pessoas que conhecia - nem mesmo aquelas de quem ela não
gostava muito - como um serial killer. Mas um forasteiro não teria
17
O parasailing é uma atividade desportiva muito divertida e descontraída para todos os
seus praticantes. Trata-se de uma modalidade que tem tido um crescimento acentuado nos últimos
anos e a sua prática acontece nos meses de maior calor, principalmente nas férias, onde as atividades na
água são as mais apetecidas.
68
Livro Único
conhecimento de um local de pesca que apenas alguns habitantes

locais usavam.
— Você está bem, Stella? Raine perguntou.
— Sim, eu estava pensando sobre as coisas que Shabina estava

nos contando. Sei que Zahra já encontrou preconceito
ocasionalmente por causa de onde ela vem, mas sempre foi de
estranhos. Eles começam a perguntar sobre o sotaque dela e depois
ficam estranhos com ela. Nunca pensei que alguém seria assim com
Shabina.
— Deixe-me adivinhar, Raine disse. — Um de quatro. Bale

Landry, Sean Watson, Jason Briggs ou Edward Fenton. É um ou
todos eles. Colegas de faculdade. Muito superior às mulheres. Eles
se misturaram em uma fraternidade que fez listas de alunas,
especialmente aquelas que pareciam ser de diferentes etnias. Os
membros da fraternidade deveriam dormir com o máximo de
mulheres que pudessem de qualquer maneira que pudessem. Eles
fingiam que gostavam delas, namoravam com elas ou simplesmente
as embebedavam em uma festa. Se a mulher fosse virgem, eles
marcaram mais pontos por isso.
— Isso é nojento, disse Stella. — Havia toda uma fraternidade

de alunos do sexo masculino em uma faculdade dedicada a ferir
emocionalmente as alunas assim? Isso é vil, sórdido e tão nojento
que me revira o estômago.
— Era um jogo para eles. Eles tinham um sistema de pontos,

disse Raine. — Se eu lhe desse todos os detalhes, realmente iria
revirar o seu estômago. Eu gostaria de dizer que foi uma merda de
faculdade, mas no que me diz respeito, no momento em que você
está na faculdade, você é responsável pelo que faz. Seu código moral
está desenvolvido, e claramente os quatro não têm nenhum quando
se trata de mulheres. Tenho quase certeza de que trairão suas
69
Livro Único
esposas se se casarem. Fiquei chocada quando Harlow saiu com

Bale.
— Você contou para ela.
— Eu mostrei a ela as evidências. Normalmente não faço esse

tipo de coisa, mas não ia deixar uma das minhas amigas mais
próximas cair em uma armadilha como essa. Quando ela saiu, ele
estava com muita raiva.
— Eles sabem que você teve algo a ver com ela descobrir sobre
eles? Shabina perguntou.
— Ela não disse a ele que sabia sobre seu jogo estúpido ou
mesmo que havia um empate entre os quatro. Ela acabou de
terminar o namoro. Harlow nunca realmente teve relacionamentos
aqui, então não foi um grande salto para ele acreditar que ela
poderia ter medo e fugir, disse Raine.
— Sean convidou Shabina para sair um tempo atrás, Zahra

forneceu. — Ela recusou e ele tem sido terrível desde então. Ele
chamou a polícia hoje e a acusou de tentar envenená-lo. Adivinha
quem apareceu para verificar a reclamação?
— Não vamos falar sobre isso de novo, disse Shabina. — Eu

vou buscar a sobremesa. Raine? Você pediu?
— Não estava com fome de almoço, mas pedi café. Adoraria

sobremesa, qualquer coisa que você fizesse como especial.
Shabina se levantou e fez o possível para fitar Zahra. — Não se

atreva a falar sobre mim enquanto eu estiver fora ou você não vai
comer sobremesa. Acontece que é o seu favorito.
Zahra deu seu sorriso travesso, aquele que a deixava escapar

impune de qualquer coisa. Shabina saiu apressada, olhando por
cima do ombro várias vezes, tentando parecer severa.
70
Livro Único
Raine começou a rir. — Presumo que Craig Hollister entrou e,

tecnicamente, está falando sobre ele, não sobre Shabina.
Os olhos de Zahra brilharam. — Isso é verdade. Sim, Craig

veio, mas ela não embelezou muito. Você não olhou para os
antecedentes de Craig, não é, Raine?
Raine parecia indignado. — Bem, eu não olhei para o passado

dele ainda porque ele gosta de Shabina, mas não tenho certeza se ela
está interessada nele. Se eu fosse bisbilhotar, teria que ser uma
pessoa muito mais interessante.
Zahra balançou a cabeça. — Sam. Eu acho que você o achará

totalmente intrigante, Raine.
A respiração de Stella ficou presa na garganta. Ela não queria

os holofotes sobre Sam. Ela não sabia por que, mas ela não queria
que Raine de repente treinasse suas habilidades de computador
nele. Ela ficou quieta. Sam era um solitário. Ele poderia caçar.
Pescar. Escalar. Ele poderia usar equipamento de mergulho. Ele não
era um especialista em nenhuma dessas coisas, mas não precisava
ser.
Raine fez uma careta. — Sam é chato. Ele nem fala, Zahra. Ele
é pior do que Bruce.
— Ninguém é pior do que Bruce declarou Zahra. — Sam não

dança com ninguém além de Stella, e isso é romântico.
Raine riu. — Ou ela tolera que ele pise em seus pés.
Sam nunca pisou em seus pés. Nem uma vez. Ela não
conseguia imaginar isso acontecendo. Ele estava muito ciente de
onde seus pés estavam colocados o tempo todo - e ela não tinha
certeza de que Raine estava dizendo a verdade. Raine percebeu tudo
sobre todos. Sam seria interessante para ela só porque ele era um
solitário e tão quieto, então por que ela não admitia?
71
Livro Único
Capítulo 04
Harlow e Vienna foram capazes de dirigir até o local e

armar suas tendas com Raine e Zahra, bem como Stella, vigiando o
acampamento por conta própria. Stella queria deixar claro para
qualquer um dos pescadores que o local estava lotado de campistas.
Elas moveram a mesa de piquenique para perto da fogueira e
puxaram espreguiçadeiras para organizar ao redor da cova, que
encheram com lenha em preparação para a noite ou manhã.
Stella sabia que poucas pessoas desciam por aquela estrada de

terra esburacada em particular até para pescar, então ela não estava
preocupada que suas barracas fossem perturbadas enquanto eles
estivessem fora. Portanto, se esse local era tão remoto que apenas
Denver e Bruce pescavam lá regularmente, algum deles era o alvo?
Sua mochila e saco de dormir estavam em seu equipamento,

junto com seu refrigerador, quando ela estacionou em frente ao
Grill, onde se encontraria com Zahra, Raine e Shabina. Vienna e
Harlow prometeram que as encontrariam na manhã seguinte ao
término de seus turnos no hospital. A música tocava alto,
reverberando pelo prédio como sempre, convidando a todos a se
levantarem de suas cadeiras e dançar.
Zahra acenou freneticamente, quase caindo da cadeira. Ela

conseguiu agarrar a maior mesa redonda mais próxima do bar,
apenas à direita de onde a banda tocava. Era o lugar favorito delas
para se sentar porque podia acomodar a maioria delas e os outros
podiam sentar-se no bar ou até mesmo na saliência ao redor das
plantas atrás da mesa. Bruce e Denver sentaram-se no bar em frente
à mesa. Sam estava no bar também, mas em seu banquinho de canto
72
Livro Único
de costume. Raine e Shabina já estavam à mesa com Zahra, então

Stella acenou e foi até Sam.
— Ei. Ela moveu um quadril na banqueta ao lado dele. Ele

sempre foi caloroso. Ela não sabia se era porque ele era tão denso,
seus músculos tornando seu corpo mais grosso do que realmente
parecia, ou se ele era apenas naturalmente quente. Quando ela se
aproximou dele, ele pareceu elevar sua temperatura corporal em
vários graus.
Seus olhos escuros se moveram sobre ela daquela maneira

como se ele visse tudo sobre ela, coisas que ninguém mais viu. —
Stella.
— Queríamos acampar esta noite. Já há um local que

demarcamos, nossas barracas estão lá. Estou preocupada em
bebermos muito e não conseguirmos sair daqui. Ela colocou o
cotovelo na bancada e apoiou o queixo na palma da mão, olhando
para ele. Ela nunca tinha visto Sam beber muito. Ele nunca tinha
bebido mais do que uma cerveja, duas no máximo em um dia
quente. Ele era um homem da água e basicamente se apegava a isso,
a menos que fosse café da manhã. Mesmo isso era moderadamente.
— Você está pensando em beber esta noite?
— Eu queria, mas não preciso Sam, não se for um

inconveniente.
— Onde fica o acampamento?
Ela disse a ele, observando seu rosto de perto. Ela deveria

saber que não adiantaria muito. O rosto de Sam não revelou muito.
— Satine, isso não é um acampamento. É um local de pesca.

Denver me mostrou há um ano. Ninguém vai lá.
73
Livro Único
— Exatamente. É um lugar lindo quando o sol nasce. Tem uma

mesa de piquenique e uma fogueira e ficaremos sozinhas, sem
ninguém por perto para nos incomodar.
Ele estendeu a mão. — Vocês quatro? Onde estão as outras

duas?
Ela largou as chaves de seu carro na palma da mão dele. —

Trabalhando. Elas vão nos encontrar lá pela manhã. Obrigado, Sam.
— Sem problemas.
Ela deslizou para fora da banqueta do bar, parou e se virou,

embora não soubesse por quê. Ela não deveria. — Você vai dançar
comigo esta noite?
Novamente, seu escuro olhar vagou sobre ela. Desta vez, ela
poderia jurar que havia um toque de posse em seus olhos, mas
poderia ter sido um truque da luz. Um frisson de consciência desceu
por sua espinha como se todas as terminações nervosas de repente
tivessem acordado e entrado em estado de alerta máximo. Seu
coração acelerou e ela conseguiu se impedir de pressionar a palma
da mão sobre o peito.
Ela nunca o havia convidado para dançar antes. Nunca. Ele já

a chamou para agir fora do personagem. Isso estava realmente fora
do personagem. Ela não tinha certeza do por que queria ver sua
reação. Ele não tinha feito barulho sobre o acampamento, exceto por
um comentário, e agora ele estava olhando para ela exatamente com
a mesma expressão em seu rosto, exceto... Diferente.
— Não danço sempre com você?
Ele fazia. Uma dança. Não era o que ela estava pedindo, era?
Ela não sabia. Ela acenou com a cabeça, de repente confusa.
Perturbada de novo pelos pesadelos. Pelo fato de ter tanta certeza de
que um serial killer estava se aproximando de seus amigos - Sam
incluído. Por seus sentimentos repentinamente confusos.
74
Livro Único
Sam estendeu a mão para passar a palma da mão muito

suavemente sobre o cabelo dela. Quase lá. Um sussurro de toque,
mas ela sentiu como uma espada de puro calor perfurando seu
crânio e correndo sobre ela para varrer seu corpo, ficando mais
quente quanto mais baixo a bola de necessidade furiosa ia.
Finalmente se estabeleceu baixo e perverso, uma piscina fervente de
fome e paixão em seu âmago, seu sexo apertando e dolorido por ele.
Ela tocou o lábio com a ponta da língua e deu um passo para trás,
chocada com sua reação a ele. O que. O. Inferno. Ela não tinha bebido
nada, então ninguém colocou nada em sua bebida. Ela apenas
reagiu assim ao seu toque.
Stella esperava que ele não pudesse realmente ler sua mente,
como às vezes ela suspeitava que ele pudesse, porque agora era
puro caos e luxúria. Ela se virou e correu para a mesa onde seus
amigos já estavam à sua frente, suas bebidas esperando, batatas
fritas com molho de salsa na mesa. Eles tinham sua bebida
esperando também. Bruce e Denver giraram em seus assentos para
entrar na conversa.
A bebida preferida de Stella, como as outras mulheres, era um

Moscow Mule. As batatas fritas eram caseiras, assim como o molho
de salsa. Isso fazia parte do charme do Grill. Normalmente a banda
era boa, pelo menos para dançar. Eles estavam tão longe do
caminho tradicional, não era como se eles tivessem bandas incríveis
competindo para tocar, mas eles conseguiram alguns decentes.
Havia vários bons músicos na cidade tocando juntos, e os locais,
Stella incluída, gostavam de dançar ao som de sua música.
— Harlow fez uma bela cerâmica, Raine estava dizendo

enquanto Stella se sentava ao lado dela. — Fomos até a casa de Judy
e Tom antes de sair em minha última viagem e ela nos mostrou
como fazer vasos. Harlow tem muita paciência para detalhes. Cada
uma de suas peças é tão bonita.
75
Livro Único
Stella sabia que era verdade. Harlow poderia facilmente

vender seu trabalho, e às vezes vendia na loja de Tom e Judy na
cidade. Raine preferia peças menores e mais clássicas, pequenas
tigelas ou canecas que ela queria aperfeiçoar para usar em sua casa
ou dar a seus amigos. Ela nunca pensou em vender suas peças, mas
às vezes gostava de dá-las de presente.
Ela amava especialmente os animais e tentava fazer a Caneca

de café ou sopa “perfeita” para um amigo, para incluir o seu cão ou
gato na peça de cerâmica. Infelizmente, ela era muito exigente e
dura consigo mesma, então muitas vezes começava uma peça várias
vezes antes de ficar satisfeita o suficiente para passá-la adiante.
— O que ela fez desta vez? Shabina perguntou.
— Vasos esmaltados, mas eram impressionantes, todos

retratando vários lugares ao redor do lago enquanto o sol estava
nascendo. Você sabe como ela é boa com uma câmera. Ela tem
colecionado fotos do nascer do sol nos últimos anos em vários locais
ao redor do lago, e ela escolheu aquelas que queria colocar na
cerâmica, disse Raine. Sua voz estava cheia de admiração.
— Espero que isso a coloque mais perto de seu sonho,

murmurou Zahra.
— O sonho dela? Raine ecoou. — Harlow nunca fala sobre

nada em particular que ela queira fazer. Embora ela tenha aquele
lindo estúdio fotográfico dela e ela venda lindas fotos de vez em
quando nas galerias de arte. Ela empurrou a bebida de Stella para
mais perto dela. — Você está atrasada. Você precisa se recuperar.
Zahra deu de ombros e bebeu mais de seu Moscow Mule, a

cabeça balançando no ritmo da música. — O que eu sei? Ela pulou
da cadeira e deu a volta na mesa, fazendo o impensável ao parar na
frente de Bruce. — Dance Comigo.
76
Livro Único
O grande homem quase caiu da banqueta do bar para

acomodá-la. Sua grande mão engoliu completamente a de Zahra
enquanto a conduzia em direção à pista em frente à banda, já cheia
de corpos. O advogado Collins, um homem nascido e criado em
Knightly que consertava e vendia telefones celulares e laptops em
sua loja, imediatamente veio e reivindicou Raine. Denver deslizou
para fora de sua banqueta, seus olhos cor de âmbar procurando os
de Stella, mas Sam estava lá antes dele, capturando seu pulso e
puxando-a suavemente de seu assento, guiando-a para a pista de
dança, uma mão na parte inferior das costas. Ela olhou por cima do
ombro para ver Carl Montgomery reivindicar Shabina enquanto
Denver se sentava na banqueta do bar, com um sorriso irônico no
rosto.
Sam a puxou para perto dele, de costas para ele, enquanto a

música batia forte. O homem sabia dançar. Ele apenas parecia ter
ritmo e sabia como se mover. Mais, ele impedia que ninguém
tropeçasse nela, não importa o quão bêbados estivessem. Ela chegou
tarde, e aqueles que bebiam há mais tempo já estavam sentindo isso,
as inibições diminuídas.
O corpo de Sam estava perto do dela, perto o suficiente para

que ela pudesse sentir seu calor. Ele sempre foi tão gostoso. Sua
energia era discreta, então por que a temperatura de seu corpo
estava tão quente? Ele passou um braço ao redor dela, bem alto,
logo abaixo dos seios, e puxou seu corpo com força contra o dele.
Ele dançou com ela inúmeras vezes, mas nunca tinha feito isso
antes. No momento em que ele o fez, ela pôde sentir cada linha dura
de seu corpo. Ela imediatamente percebeu que ele era um homem e
ela, uma mulher. Essa dinâmica vinha crescendo entre eles há muito
tempo, um vínculo confortável e fácil que parecia natural e forte.
Stella não deixava muitas pessoas entrarem em seu mundo -

não o verdadeiro. De alguma forma, Sam encontrou seu caminho
dentro dela. Ele sempre manteve sua palavra. Sempre. Ela podia
77
Livro Único
contar com ele. Quando ele disse que faria algo, ele sempre fez.
Quando as coisas davam errado e um convidado saía do controle,
ele aparecia de repente, um parceiro silencioso parado bem ao lado
dela, parecendo tão intimidante, que os problemas se dissipavam.
Ela não sabia quando começou a vê-lo como alguém importante em
seu mundo. Importante para ela como mulher. Mas ele estava. Não
havia como contornar isso.
No final da noite, Stella deslizou para a banqueta do bar ao

lado de Denver, como costumava fazer quando Bruce e Zahra
estavam dançando. Ela sabia que estava um pouco além do ponto
de sobriedade, mas Denver parecia que ele também poderia estar.
Esse não era exatamente o jeito de Denver.
— Você está bem, Den?
— Recebi algumas notícias da minha família há mais ou

menos uma semana e ainda estou processando, admitiu.
Denver nunca falou sobre sua família. Ele estava falando

baixo, então ela teve que se inclinar para ele. — Estou aqui se você
quiser compartilhar.
Eles conversaram sobre muitas coisas. Denver era melhor em

compartilhar do que ela. Muitas vezes ela se sentia culpada por isso.
Ela estava fechada por um motivo, e isso não ia mudar. Ela olhou
para cima brevemente para avistar Sam em seu canto de sempre -
bebendo água. Esperando para levá-la e suas amigas ao
acampamento. Talvez ela pudesse compartilhar um pouco com Sam
mais tarde, se ela fosse pegar um assassino. Ela tinha que confiar em
alguém.
Denver suspirou. — Meu velho e seu irmão, meu tio Válter, se

meteram nisso e atiraram um no outro. Realmente estúpido, mas
inevitável.
78
Livro Único
Ele balançou a cabeça, expondo os fatos como se eles não o

tocassem, quando Stella percebeu que não era o caso. Suas mãos
tremiam enquanto ele as envolvia em torno de sua bebida.
Normalmente ele bebia cerveja. Ele estava bebendo bebidas
destiladas.
— Eles se mataram. Ambos sangraram antes que alguém

pudesse chegar até eles. Minha mãe morreu enquanto eu estava no
exército, então herdei a porra de toda a propriedade. Tudo isso. Os
advogados me contataram e me informaram, foi assim que descobri
que os dois estavam mortos.
Stella não tinha certeza do que dizer sobre isso. — Você não
era próximo de nenhum deles?
— De jeito nenhum. Entrei no serviço militar para ficar longe

deles e pagar minha passagem pela faculdade de medicina. Eu
estava determinado a ser um anestesiologista. Sempre quis ser.
— Você era um oficial, certo? Você teria que ser se fosse um

médico militar em qualquer ramo do serviço. Stella deu um gole em
sua bebida e olhou para Denver com compaixão.
— Sim, essa era a única maneira de eu chegar a algum lugar.

Minha família tem dinheiro, mas eles não iam me ajudar a conseguir
uma educação, ou qualquer outra coisa nesse sentido. Não pense
que porque as pessoas têm dinheiro, suas famílias não estão
ferradas, Stella.
Stella nunca tinha ouvido uma única nota de amargura na voz

de Denver antes. Ela deixou seu olhar vagar pelo rosto dele. Ele
parecia o mesmo de sempre, mas havia uma pitada de dor em seus
olhos. Ela acenou com a cabeça. — Eu entendo talvez mais do que
você pensa que eu possa entender. Isso era o máximo que ela iria
dar de seu próprio passado.
79
Livro Único
Ela veio de uma família rica e seu drama foi representado na

imprensa de todo o país. Se isso não bastasse, mais tarde tinha
aparecido em um daqueles dramas de episódios de televisão idiotas,
não com muita precisão também. Ela certamente sabia que crescer
com dinheiro não garantia uma infância confortável.
— Bem, você fez bem a si mesma, Denver, e isso deve dizer

algo sobre como você é uma pessoa forte. É o que sempre penso.
Tenho orgulho de quem sou. Espero que você seja. Todos os seus
amigos, inclusive eu, admiram você. Se sua família não gosta de
você, vá se ferrar.
Ele sorriu para ela. — Isso é você, Stella. Leal aos seus amigos.
Eu não tenho exatamente nenhuma família sobrando. Ele gesticulou
ao redor do bar. — Eu acho que é isso. Decidi fazer minha casa aqui
quando vim aqui pela primeira vez. Foi o único lugar que me deu
uma verdadeira paz.
Ela entendeu isso. — Parece que você herdou muito dinheiro.

Você pode ir a qualquer lugar.
Ele encolheu os ombros. — Vivo de forma simples e gosto

assim. Eu ganho uma tonelada de dinheiro sozinho. Vou pensar no
que fazer com o dinheiro que herdei. Podemos usá-lo aqui para o
hospital, e talvez eu possa abrir uma fundação. Vou falar com Zahra
e Viena. Zahra sabe o que o hospital precisa e Viena sabe o que
precisamos para busca e resgate.
— Dê um tempo, Denver. Mesmo que você tenha passado por

momentos difíceis com sua família, a perda ainda pode atingi-lo no
momento mais inesperado. Eu sei por experiência própria. Não
éramos próximos, mas ainda assim foi uma perda quando perdi
minha mãe. Você tem que se permitir sofrer e processar.
— Eu suponho que sim. Ele parecia duvidoso. Ele esvaziou

sua bebida e ergueu o copo. O barman se aproximou para
reabastecê-lo. — O que está acontecendo com você e Sam?
80
Livro Único
Ela franziu o cenho para ele. — Não tenho certeza do que você
quer dizer. Ele é nosso motorista sóbrio esta noite.
— Ele nunca dança com você mais de uma dança. No máximo

duas. E ele não coloca as mãos em cima de você.
Sua carranca se aprofundou. — Não me lembro que ele

colocou as mãos em cima de mim.
Ela pegou seu telefone celular. Você colocou suas mãos em cima
de mim quando estávamos dançando? Ela observou enquanto Sam
pegava seu telefone e olhava para a tela.
Sua expressão nunca mudou, nem mesmo enquanto ele

mandava uma mensagem de volta.
— Sim, ele colocou. Bem, ele estava dançando mais perto do

que antes. Você tem que ter cuidado com ele, Stella.
Quando eu estiver com minhas mãos em cima de você, Satine,

você vai se lembrar e não será em público.
Um pequeno arrepio desceu por sua espinha. Ela olhou para a

tela duas vezes. Sim. Ele usou a palavra quando. Era uma loucura,
mas apenas olhar para o texto fez seu corpo ciente dele. Bem vivo.
Muitos Moscow Mules, com certeza. Ela precisava parar de beber.
Ela tomou outro gole porque o sangue pulsando entre suas pernas
era delicioso quando ela se sentiu com frio e sozinha e frígida por
tanto tempo. Sam a acordou lentamente. Se ele tivesse vindo muito
rápido, ela teria corrido para as colinas, mas de alguma forma ele
escapou de sua guarda e encontrou seu caminho dentro dela.
— Pensei que você fosse amigo de Sam. Ela se inclinou para

mais perto de Denver, mantendo o rosto voltado diretamente para
ele, com medo de que Sam pudesse ler os lábios. Ela sempre pensou
que ele poderia - bem, depois dos primeiros encontros com ele. Ou
81
Livro Único
isso ou ele realmente era tão psíquico quanto ela, só que de um jeito
diferente.
O olhar de Denver levantou para vagar sobre Sam e então

voltou para ela, sua expressão preocupada. — Não estou dizendo
que não gosto do homem. Eu faço. Acontece que ninguém pode
realmente ser amigo de um fantasma, Stella, e é isso que ele é.
— Hum, não, ele é de carne e osso de verdade, Denver. Ele

está sentado bem ali e trabalha pra caramba no resort. Ele está na
Busca e Resgate com você e nunca se esquiva. Foi você quem me
disse isso.
— No exército, às vezes homens como ele são necessários e são

chamados quando tudo o mais falha. Às vezes os víamos, como
sombras, caçando como lobos, mas sozinhos, sempre em silêncio.
Na maioria das vezes você não os via, mas os sentia. Eles abriram
caminho para você quando você era imobilizado. Ou eles tiravam
você de uma situação ruim.
— Isso não é uma coisa boa?
Ele hesitou. — Nas circunstâncias certas, sim. Mas os

fantasmas também são usados para outras tarefas, Stella, fora do
serviço militar. Eles geralmente não duram muito. Eles morrem
jovens. Eles não devem durar muito porque são treinados para uma
coisa. Eles recebem testes psicológicos e, quando são comprovados
como adequados para o que o governo está procurando, são
treinados para tarefas específicas.
— O que você está dizendo é que eles são usados tão rápido
quanto o governo pode usá-los.
Denver concordou. — Muitas vezes, se eles se libertam, são

caçados e mortos porque são considerados um risco muito grande
para ficarem soltos.
82
Livro Único
— Você realmente acha que Sam é um desses 'fantasmas'?
Ela teve o cuidado de não olhar para Sam. Ele pediu para ser
pago por baixo da mesa. O que aconteceria se ela dissesse que
queria que ele se tornasse legítimo? Ele iria embora? Ela poderia
pedir a Raine para investigá-lo, mas então Raine saberia que ela
suspeitava dele e exigiria uma razão, e ela não queria isso. O que ela
poderia dizer a ela?
Denver suspirou e passou a mão pelo cabelo. — Sim, eu acho

que ele pode ser. Ele é muito bom em tudo. Muito quieto. Muito
vigilante. Eu nem sei como explicar.
— E a papelada dele, Denver?
— Esses caras têm um milhão de identidades. Eles os têm

escondidos em todos os lugares e dinheiro junto para ir com eles.
Eles podem desaparecer em minutos. Se ele for um fantasma, ele
teria contatos para levá-lo a qualquer lugar que ele quisesse.
— Talvez ele só queira ser deixado sozinho como o resto de

nós. Mudamos para cá porque este lugar representa paz para nós,
Denver. Você mesmo disse. Todos nós merecemos uma chance de
viver nossas vidas da maneira que queremos vivê-las. Você tem
uma família aqui. Você pertence a nós. Sam também.
Ela gesticulou ao redor do bar para suas amigas. Elas estavam

rindo alto, agarrados uma a outra, felizes em seu círculo na pista de
dança. — Somos nós. Vamos descobrir juntos, certo? Sempre
conseguimos. Lamento muito que o passado de sua família tenha
alcançado você e que tenha ficado feio. Juro para você, eu sei como é
isso. Não desejo isso para você, mas aconteceu. Apoie-se em nós.
Você sempre esteve lá para nós. Deixe-nos cuidar de você. Você ao
menos conversou com Bruce sobre isso?
83
Livro Único
Ele colocou o braço em volta dela. — Babe. Caras não fazem

esse tipo de merda. Não precisamos nos emocionar uns com os
outros. É uma má forma.
Stella riu. — Os homens são tão bobos. Você não pode nem
mesmo compartilhar com Bruce que você é o último da sua família?
Você tem primos? Irmãos? Mesmo meios-irmãos? Sempre desejei tê-
los.
— Não que eu saiba. Ele esfregou a ponta do nariz. — Tudo é

possível, mas de acordo com os advogados, ninguém apareceu de
repente para dizer que eles são parentes e que deveriam ganhar um
pedaço da torta. É uma grande torta. Milhões. Centenas de milhões.
Stella recuou assustada, olhando-o nos olhos. — Centenas de

milhões? De repente, a conversa casual não era tão casual. Quando
os sonhos começaram exatamente? A data? Denver pescava naquele
local. Ele caçava. Ele escalava. Ele estava na equipe de Busca e
Resgate. E se ele fosse o alvo real porque tinha dinheiro? Ela odiava
que os pensamentos estivessem instantaneamente empurrando em
sua cabeça, mas o dinheiro era um grande motivador. Enorme. E
centenas de milhões?
— Denver, você tem que ter cuidado com esse tipo de

dinheiro. Faça um testamento e envolva-o em um fundo de
confiança ou algo assim. Você pode ser muito vulnerável. Ela tomou
outro gole de seu Moscow Mule, desta vez quase engolindo. Faz
sentido. Um estranho pode até pagar alguém para dar informações a
fim de atingir Denver. Um primo? Mesmo um primo distante. O
advogado que leu o testamento para ele? Ele sabia onde Denver
estava. Sua cabeça estava girando. Ela não conseguia pensar direito.
— Querida, não soe tão ansiosa. Ninguém sabe sobre o

dinheiro. Ninguém sabe onde estou Stella. Juro para você estou
seguro. Denver segurou seu queixo e virou seu rosto para ele. Ele
deu um beijo no canto de sua boca e depois outro em seu queixo.
84
Livro Único
Stella desejou ter sentido algo. Nada. Não houve incêndio.

Denver se afastou e sorriu para ela, seu polegar acariciando seu
rosto como se pudesse apagar sua expressão.
— Você tem que parar ou terá linhas de preocupação.
Ela sentiu a palma da mão de Sam deslizar sob seu cabelo e se

enrolar em sua nuca. Ela sabia que era ele sem se virar. Ele se
inclinou contra suas costas, seus dedos massageando a tensão dela,
enviando pequenas faíscas de eletricidade dançando sobre sua pele.
Ela definitivamente tinha bebido muito.
Ela tinha que ficar em silêncio ou ela iria deixar escapar algo
horrível, como se ele pudesse ser o homem mais quente da terra.
— Por que Stella estaria tendo linhas de preocupação, Denver?

Sam perguntou.
Ele se inclinou mais perto para que ela sentisse sua respiração
mexendo nos fios de cabelo dela. Ela precisava prender a própria
respiração para saborear aquele momento. Se ela respirasse muito
fundo, ela puxaria seu cheiro direto para seus pulmões, e ela não
ousou fazer isso. A voz dele. Aquela voz rica e baixa que roçou sua
pele e então afundou em seus ossos.
— Ela está preocupada comigo, disse Denver, sua voz alta e

um pouco arrastada. Ele se virou ligeiramente na banqueta do bar,
uma carranca puxando suas sobrancelhas juntas. — Uh-oh. Aquele
bastardo Bale Landry e seus amigos podres estão aqui esta noite e
Sean está olhando para Shabina de uma maneira que não gosto. Eu
não os vi entrar, você viu Sam?
Stella imediatamente tentou se afastar da bancada, mas Sam a

segurou no lugar. Ele prendeu seu corpo facilmente com o maior,
sua mão ainda descansando casualmente em sua nuca, mas ele
estava claramente segurando-a no lugar.
85
Livro Único
— Não saia meio armada, querida. Precisamos ver o que eles

estão fazendo antes de você começar uma guerra com eles.
Denver se levantou, cambaleou e recuperou o equilíbrio. —

Eles sempre ficam feios com Zahra e Shabina. Principalmente
Shabina. Bruce está com Zahra e ninguém quer mexer com ela
quando ele está por perto.
Essa era a verdade. Bruce era muito grande, uma montanha de

homens, principalmente músculos. Era sabido por todos os
habitantes locais que ele tinha uma forte queda por Zahra, e dizer
qualquer coisa a ela poderia te deixar do lado errado de seu punho
poderoso. Stella pôde ver Bruce dançando no meio, rodeado por
Shabina, Zahra e Raine. Eles não tinham notado Bale, Sean, Edward
e Jason subindo até o bar. Os quatro homens pediram cervejas e
imediatamente se viraram para observar as danças.
— Por que você acha que eles continuam mirando em Shabina

e Zahra da maneira que fazem? Stella perguntou. — Acho que Bale
intimidou Harlow, e isso é difícil de fazer, mas eles nunca foram
atrás de mim. Eu quero saber por quê.
Sam trocou um olhar com Denver sobre sua cabeça. Denver

suspirou e esfregou o braço. — Babe, ninguém vai vir atrás de você
se eles acharem que vão ter que lutar contra nós dois. E eles teriam
que fazer.
Stella inclinou a cabeça para trás para olhar para Denver e

depois para Sam. Ela definitivamente tinha bebido muito. Inclinar a
cabeça para trás foi um grande erro. A sala começou a girar. Ela
esticou o braço em busca de algo sólido para se agarrar. Ao mesmo
tempo, ela agarrou sua bebida. Ele tinha sido misteriosamente
recarregado. Como mágica. Ela encontrou o braço de Sam. Ele tinha
um braço muito bom. Todo músculo. Duro. Ela acariciou seus
músculos.
— Eu preciso ir lá, Sam. Alguém tem que ser a voz da razão.
86
Livro Único
— Você está um pouco bêbada agora, Stella, disse Sam. Ele

parecia à voz da razão, o que a irritou. Ela deveria ser a voz da
razão. Ela não se embebedava. Ela ficava tonta às vezes, como agora,
quando tinha quase certeza de que seu bando precisava dela para
afastar os bandidos que circulavam seu grupo. Havia muitas
mulheres para escolher para dançar, mas não, Bale e seus
perdedores desesperados tiveram que começar a criticar suas
amigas. Era tão irritante.
Sam passou o braço em volta da cintura dela. — Mulher.
— Homem. Ela olhou para ele. — Elas precisam de mim.
— Sam e eu podemos lidar com isso. Você se senta aqui e se

comporta. Denver inesperadamente ficou do lado de Sam.
Stella o incluiu em seu olhar. Ela deveria saber que ele trocaria
de lado, o traidor. Só porque Sam estava com aquela expressão
implacável no rosto. — Babe. Denver começou a rir e ergueu as duas
mãos em sinal de rendição. — Você está disparando raios de seus
olhos. Você vai me fritar. A única razão pela qual não fomos banidos
do Grill da última vez que houve uma altercação entre sua turma de
garotas e Bale e os meninos dele foi porque Alek está um pouco
apaixonado por você. Você salvou o bar dele com o seu plano de
negócios e fez do Grill o que é hoje, então você é a garota de ouro
dele.
Stella salvou o restaurante, tendo a ideia de música à noite e a

comida que era mais do que comida de bar. Shabina ajudou com o
menu. Ela não esteve sozinha no planejamento. Suas amigas ficaram
sentadas com ela, pensando em diferentes comidas que gostavam de
comer em bares quando estavam dançando. Stella queria um lugar
onde aqueles que alugavam suas cabines realmente adorassem ir à
noite.
Raine desenhou um folheto e uma apresentação em

PowerPoint para Stella mostrar a Alek. Tinha funcionado e ele
87
Livro Único
concordou em experimentar a comida e dança por um mês para ver

se poderia trazer os habitantes locais junto com aqueles que ela
havia prometido em seu resort. Os resultados foram surpreendentes
e, desde então, o Grill tornou-se tão popular que Alek teve de
contratar ajuda permanente junto com seus trabalhadores
temporários durante o auge da temporada turística.
Sam se inclinou sua boca perto o suficiente de seu ouvido para

ser ouvido acima da música alta e pulsante. — Fique quieta, Stella.
Bale e seus amigos são perigosos quando estão bebendo,
especialmente quando confrontados por mulheres.
Denver concordou com a cabeça. — Eles não podem ser

derrotados por uma mulher ou precisarão se vingar de uma forma
muito pública. Você já teve um confronto com eles, não precisa de
outro.
Ela observou os dois homens caminharem para a pista de

dança. Denver parecia estar sóbrio. Ele não estava cambaleando
enquanto caminhava ao lado de Sam. Sam apenas parecia...
Predador. Para ela, ele sempre se destacaria, não importa onde
estivesse. Não fazia sentido que ele fosse um fantasma, como
Denver sugeriu. Seu olhar foi atraído para ele, à maneira confiante
como ele se movia, como um gato selvagem perseguindo sua presa.
Stella não entendia homens como Bale ou os outros. Eles

tinham negócios prósperos, ou pelo menos alguns que funcionavam
na pequena cidade. Eles tinham empregos onde tantos tinham que
ter três empregos. Por que eles se achavam tão superiores às
mulheres? Especialmente para uma mulher como Shabina ou
Zahra? Ambas as mulheres trabalharam muito. O único crime delas
foi recusar um encontro de um desses homens? Bale estava
realmente assediando Harlow? Filha de um senador? Ele ousaria?
Stella não tirou o olhar de Denver e Sam enquanto eles

caminhavam casualmente até o bar perto da pista de dança e se
88
Livro Único
inseriam ao lado de Bale e seus amigos. Houve satisfação em notar

que os sorrisos zombeteiros desapareceram quando os dois homens
apareceram, embora isso não tenha impedido Sean de gritar algo
desagradável enquanto Shabina dançava nas proximidades.
Shabina parecia de tirar o fôlego. Ela era naturalmente

graciosa e tinha ritmo, perdendo-se na música enquanto se movia
com Zahra, Raine e Bruce. Ela tinha os braços erguidos sobre a
cabeça e os olhos fechados. Seu cabelo comprido e escuro caía até a
cintura e se movia ao redor dela como uma cachoeira de seda
brilhante.
Stella observou a expressão de Sean mais de perto. Ela pode

estar embriagada, mas ela estava ciente. Ele tinha uma expressão de
obsessão no rosto. Havia um motivo pelo qual ele sempre aparecia
no Sunrise Café, apesar dos avisos para não voltar mais. Ele poderia
se considerar superior e poderia dizer a si mesmo tudo o que
quisesse, mas ele tinha uma coisa real por sua amiga. Ela mudou seu
olhar para Sam. Naturalmente, Sam percebeu porque viu tudo.
Ela deixou escapar o fôlego. Sam seria um grande aliado para

se ter. Ele via tudo. Ele era cuidadoso. Ele a ouvia e pesava o que ela
disse cuidadosamente. Se ela pudesse descartá-lo como suspeito - e
honestamente, ela não pensou por um minuto realmente que ele era
um assassino em série - então ele seria a pessoa em quem ela
confiaria. Ele se encaixava nela. Ela não sabia por que, apenas que
ele sabia.
Ela voltou sua atenção para Denver. Ele a avisou sobre Sam,
mas ele o fez gentilmente, não de uma forma maldosa. Ela poderia
dizer que, apesar de seu aviso a ela, ele gostava de Sam e o
respeitava ainda mais. Ele era apenas cuidadoso com ela, como um
irmão poderia ser. Ela estava fechada para todos e tinha se colocado
fora dos limites. Denver respeitou esses limites. Sam sempre
respeitou também. Sam parecia estar passando por cima deles de
repente.
89
Livro Único
— Este assento está ocupado?
Stella ergueu os olhos. Carl Montgomery, o empreiteiro local,

deslizou para a banqueta ao lado dela. Ele tinha cerca de quarenta
anos, cabelos escuros e olhos azuis surpreendentes. Como a maioria
dos que moravam na cidade, ele era um caçador. Ele trabalhou duro
e esperava que sua equipe o fizesse também. Carl construiu várias
cabines para ela no resort, e elas eram exatamente o que ela havia
pedido e muito mais.
Ela sorriu para ele. — Não vejo você aqui com frequência,
Carl. Que surpresa agradável.
— O que você está bebendo?
Ela olhou para o copo. — Moscow Mule, mas acho que bebi
um pouco demais. Estou definitivamente sentindo isso.
— Uma noite de folga não vai te matar, Stella. Você trabalha

muito. Ele se inclinou sobre o bar para chamar a atenção do barman.
— Está lotado aqui.
Stella olhou em volta. Cada mesa estava ocupada. Cada

banqueta. A pista de dança estava lotada. Ao longo das paredes, as
pessoas conversavam e riam juntas, batendo os pés ao som da
música. No pátio externo coberto, onde os aquecedores foram
ligados contra o ar frio da noite, ela podia ver que as mesas estavam
ocupadas também.
— Sim, está. Era uma satisfação saber que ela ajudara a fazer
isso acontecer. Ela fazia questão de visitar todas as empresas da
cidade em um esforço para descobrir como poderia ajudá-las a se
tornarem um dos grandes sucessos, especialmente se estivessem
caindo. Essas pessoas haviam se tornado suas amigas e ela
acreditava que, se ajudassem umas às outras, todas poderiam se
manter à tona durante os tempos de vacas magras.
90
Livro Único
— Você sabe que roubou meu melhor trabalhador. Carl

indicou Sam com um aceno de queixo. — Eu esperava fazer dele
meu capataz. Homens como ele não aparecem todos os dias. Ele
conhece bem uma construção.
Ela sorriu para ele. — Eu vi isso. Ele também é bom com

motores. Você esperou um pouco demais antes de fazer uma oferta
decente. Eu não ia perder. Ele pode praticamente administrar o
resort. Ela fez uma careta. — A menos que ele tenha que falar com
um convidado, então, não tanto. Eu não diria que suas habilidades
sociais correspondem ao seu conhecimento de consertar quase tudo
que for necessário.
Ela riu suavemente. Era a verdade absoluta. Na maioria das

vezes, Sam evitava ter que lidar com os convidados. Não era seu
trabalho. Ela tinha outros para fazer isso. Ele trabalhou nos
bastidores para manter o resort funcionando. Ele deixou bem claro
para ela quando concordou em aceitar o trabalho que não era uma
pessoa sociável.
A risada de Carl se juntou à dela. — Você está certa sobre isso.

Ele não é muito falador. Mas trabalha duro. Vejo que ele está ali
intimidando o inferno fora de Sean e Ed. O que diabos há de errado
com esses meninos? Se eles fizerem mais um comentário
desagradável em relação à Shabina, terei que enfiar meu punho em
suas gargantas, e não brigo desde os vinte anos. Talvez dezoito.
Tenho quase certeza de que foi no ensino médio.
— Você os conhece há muito tempo. Eles sempre foram assim?

Stella perguntou.
O barman colocou as bebidas e um prato de abobrinhas fritas,

cogumelos e palitos de queijo na frente deles.
— Obrigado, Lucca, disse Carl, empurrando uma gorjeta

saudável na direção do barman.
91
Livro Único
Lucca o saudou e desceu correndo a fila, esmagando-a, como

fazia quando estava preparando vários drinques ao mesmo tempo.
Alek, o proprietário, foi inteligente ao contratá-lo quando ele chegou
à cidade, oferecendo-lhe o suficiente para fazê-lo querer ficar.
— Mergulhe Stella. Não posso comer tudo isso sozinho ou

terei que ir a uma daquelas aulas de garotas desagradáveis que
Harlow dá.
Stella mergulhou um palito de abobrinha no molho marinara.

Era bom. Não é tão bom como o de Shabina, mas é bom. Alek tinha
suas próprias receitas do lado materno da família e elas eram
valiosas para o Grill. Não era apenas uma colher gordurosa.
— As aulas de ioga de Harlow? Espere até eu dizer a ela que

você os descreve como coisas de garotas. Isso é forte. Você já
experimentou uma? Dê uma aula particular se você estiver muito
intimidado para assistir a uma aula. Sério, não é fácil, e isso é
iniciante. As pessoas sempre acham que a ioga vai ser tão fácil. Seu
corpo tem que usar todos os músculos, alongando-os...
— Harlow dá aulas particulares? Carl interrompeu.
Stella deu um gole em seu Moscow Mule. Ela sabia melhor,

mas estava indo bem e isso era bom demais para ser verdade. Carl
Montgomery gostava de Harlow. Quem poderia saber? Ele sempre
foi tão reservado. Ele raramente ia ao Grill e, se o fazia, não andava
com um grupo. Na verdade. Ele era um dos marginalizados. Ela o
conhecia, mas não muito bem.
— Sim, Harlow dá aulas particulares. Ela olhou para a pista de

dança quando um movimento chamou sua atenção. Carl desceu da
banqueta.
Sean estava abrindo caminho entre as poucas pessoas que

dançavam entre ele e o pequeno círculo íntimo de amigos de Stella.
Ele caminhou até Shabina, que estava dançando, e se posicionou
92
Livro Único
atrás dela, seu corpo quase em cima do dela. Ela tentou afastá-lo
com uma cotovelada, mas ele a puxou para si, seus quadris
empurrando com força.
Stella se viu tentando correr em direção à pista de dança, mas

havia muitas pessoas entre ela e o local marcado para a dança. Ela
passou por dois homens e contornou uma mulher que havia parado
bem na sua frente. No momento em que ela chegou à beira da pista,
o que quer que tenha acontecido estava acabado.
Bale, Ed e Jason seguravam Sean pelos braços e o escoltavam

para fora. Bruce, Sam, Denver e o segurança de Alek, Jeff, os
assistiram partir. Zahra e Raine acompanharam Shabina de volta a
Stella. Ela jogou o braço em volta da amiga.
— Esse homem precisa de alguém que lhe ensine uma ou duas

lições de boas maneiras, disse ela. — Você está bem?
— Sim. Não é como se fosse a primeira vez que um homem

queria dançar maluco com uma de nós. Isso acontece o tempo todo.
Shabina sorriu para Carl. — Eu não sabia que você estava aqui esta
noite.
Ele acenou em direção ao prato de comida. — Faça isso,

senhoras. O que você está bebendo? Mais uma vez, ele chamou a
atenção do barman.
Em poucos minutos, Carl fez todos rirem. Stella gostou do fato

de ele não ter se referido ao incidente, mas sim colocar todos de
volta nos eixos, se divertindo. Denver e Bruce juntaram-se a eles.
Sam foi para seu lugar habitual no canto, mantendo um olho neles.
Antes, ela queria que ele estivesse com eles, achando estranho e
assustador que ele não se sentasse com eles, mas agora, ela gostava
da ideia de que ele os vigiava - que ele estava sóbrio e ela não
precisava se preocupar sobre qualquer coisa, exceto se divertir com
seus amigos porque ele estava lá.
93
Livro Único
Capítulo 05
Stella acordou com a cabeça latejando. Ainda estava

escuro, graças a Deus. Bailey empurrou o nariz molhado contra o
rosto dela e ela distraidamente deu um tapinha nele. Ela se lembrou
de sair com ele na noite anterior antes de ir para a cama? Ela era
uma dona de cachorro responsável. Claro que ela o tinha levado
para sair, mas claramente ele precisava sair novamente. Ela se
sentou, gemendo enquanto o fazia, pressionando a mão na cabeça.
Ela merecia tudo que ela iria receber esta manhã.
Olhando em volta, ela percebeu que estava em sua própria

cama. Na mesa de cabeceira havia uma garrafa de água e dois
comprimidos brancos. Sam. Ele despejou as quatro mulheres em seu
carro e as levou de volta ao resort em vez do acampamento. No
caminho de volta, elas cantaram a plenos pulmões e riram
histericamente, principalmente porque uma vez que Bruce, Denver e
Carl se retiraram, deixando as quatro mulheres, Stella confessou
pensamentos escandalosos que tivera sobre Sam e todas as coisas
que ela o queria para fazer com ela.
Ela gemeu novamente e cobriu o rosto. Esperançosamente, ela

estava sussurrando quando disse a seus amigos repetidamente o
quão quente ela o achava. Ele estava sentado a uma distância deles,
e o nível de ruído no bar era alto, então certamente ele não tinha
ouvido. Ela bebeu o máximo de água possível e saiu da cama.
Ela ainda estava com suas roupas, mas sem sapatos. Pelo
menos ela foi poupada da indignidade de vomitar em cima dele. Ela
correu para deixar o cachorro sair, tentando pensar se o estivera
encarando enquanto estava confidenciando a suas amigas em seu
estado de embriaguez - ok, passado de embriaguez - sobre o quão
94
Livro Único
gostoso Sam era. Ela tinha quase certeza de que ele podia ler os
lábios. Ela ficaria mortificada. Mas então, ela tinha muito do que se
envergonhar. Deixando Bailey para fazer seus negócios, ela correu
para o chuveiro, na esperança de limpar as teias de aranha.
O Moscow Mules de alguma forma fez as quatro acreditarem

que eram excelentes na Dança Cossack18. Eles foram para a pista de
dança, agachandos, chutando as pernas com os braços cruzados
sobre o peito e rindo histericamente. Infelizmente, tudo o que elas
estavam realmente fazendo era se agachar, ficar em pé e se agachar
novamente. Isso, e caindo de bunda. Foi uma noite fabulosa.
Sam manteve sua máscara inexpressiva enquanto as levava

para casa, suportando as quatro fazendo caretas ultrajantes uma
para a outra para se lembrar de ficar caladas e esconder a paixão
secreta de Stella. Todas elas iriam começar a rir. Ele foi estoico sobre
isso, o que só as fez rir mais alto.
Stella vestiu jeans e camiseta, tentando se lembrar se a

conversa com as garotas havia acontecido na frente de Sam ou não.
Ela definitivamente perguntou a elas se ela inadvertidamente
deixou escapar o quão gostoso ele era ou como ela o "faria" em um
minuto quente. Ela tinha perguntado a elas no bar ou no 4Runner
ou em sua casa? Ela se lembrava de Zahra garantindo-lhe repetidas
vezes que ela não havia dito uma única palavra maldita na frente
dele. As outras assentiram solenemente, mas estragaram tudo rindo
histericamente de novo e perguntando como elas saberiam por que
estavam bêbadas.
18
Dança Cossack/коссакк/нопацк - é uma dança folclórica ucraniana originada como uma
dança masculina entre os cossacos zaporozhianos, mas posteriormente dançada por casais, solistas
masculinos e grupos mistos de dançarinos. Hopak é a dança popular da Ucrânia com, marca de tempo
2/4. O nome vem do verbo Hopati - que significa saltar e corresponde a exclamação «Hop!»,
pronunciada durante a dança.
95
Livro Único
Ela calçou tênis depois de trançar o cabelo e saiu para

encontrar Bailey. Sam geralmente acordava muito antes de qualquer
outra pessoa. Ela não o viu em lugar nenhum, então ela desceu para
o aluguel de barcos. Bernice Fulton sempre acordava cedo,
certificando-se de que os barcos estavam limpos e todos tinham o
número necessário de coletes salva-vidas. Ela era meticulosa no
cuidado com os barcos. Ela certamente não merecia Stella brigando
com ela alguns dias antes.
Bernice e Roy Fulton trabalharam para Stella por cinco anos e

ela teve muita sorte em encontrar o casal. Roy conhecia todos os
aspectos da pesca e estava disposto a transmitir esse conhecimento a
Stella. Quando ela teve a ideia de torneios de pesca, ele estava mais
do que disposto a ajudá-la. Eles eram dois dos poucos funcionários
permanentes que ela mantinha na equipe. A cada ano, Roy a
ajudava a melhorar o torneio, até que pescadores vieram de todas as
partes para participar do evento.
Berenice podia não conseguir consertar motores de barcos,

mas era hábil com os clientes. Eles gostavam dela e ela podia vender
facilmente todos os tipos de itens de sua seleção de pedalinhos,
barcos a remo, caiaques, canoas, barcos de pesca e, claro, seus barcos
de cruzeiro. Eles tinham tudo para alugar na marina.
— Ei, Stella. Berenice a cumprimentou com seu sorriso

habitual. Ela estava com quase 50 anos e era eternamente feliz. Ela
tinha muito poucas rugas no rosto para mostrar o passar dos anos, e
as que tinham eram principalmente por estar no sol. Ela sempre
usava um chapéu de aba larga e passava protetor solar. Seus
chapéus eram lindos e ninguém os usava com mais estilo do que
Berenice.
— Bom dia, Berenice. Embora eu não tenha tomado meu café,

então, tecnicamente, não posso dizer se é um bom dia ou não, Stella
a cumprimentou. — Como sempre, você está linda.
96
Livro Único
Berenice estava linda. Ela usava jeans amarelos suaves

enrolados até as panturrilhas e uma camisa de gola canoa com finas
listras azuis, brancas e amarelas. Suas botas amarelas combinavam
com seu suéter grosso, e em algum lugar ela teria óculos de sol que
combinavam com sua roupa também.
— Obrigado, querida. Berenice considerou o elogio que lhe era

devido. — Roy tem café na loja de iscas, mas você sabe que não é tão
bom.
Stella sabia muito bem que o café de Roy carecia de qualquer

coisa remotamente boa sobre o café, além da cafeína real. — Eu
queria me desculpar com você pela maneira como falei com você
outro dia. Eu estava fora da linha. Você não merecia que eu
descontasse meu dia seriamente ruim em você e era isso que eu
estava fazendo. Espero que você possa me perdoar, Berenice. Você é
uma boa amiga e eu sei que te machuquei ao explodir com você do
jeito que fiz.
Os olhos de Berenice turvaram-se e ela abraçou Stella. —

Querida, não pense nada sobre isso. Eu sabia que aquele dia foi
terrível para você. Roy me contou como alguns dos convidados
gritaram com você. Eu odiei isso por você.
Stella a abraçou de volta. — Isso não é motivo para descontar

em você, alguém de quem gosto. Lamento profundamente.
Berenice deu um tapinha nas costas dela, fungou e depois se

endireitou e a soltou.
— Sem problemas. Agradeço seu pedido de desculpas. Isso

significa algo para mim. Sam disse que você iria acampar com suas
garotas por alguns dias. Eu acho que é bom. Você precisa de um
tempo livre.
— Você o viu esta manhã? Onde ele está? Ele deveria nos levar
para nossas barracas na noite passada.
97
Livro Único
— Não esta manhã. Quando ele trouxe todas vocês para casa
ontem à noite, disse a Roy que iria passar a noite onde vocês
acampariam para proteger suas coisas, disse que estava preocupado
com todas vocês acordando com ressacas. Achei que ele poderia
pescar um pouco. Você sabe que ele raramente tem tempo. Denver
pode se juntar a ele se ele não estiver de ressaca. Aparentemente,
Denver bebeu mais do que normalmente bebe, mas planejava
encontrar Sam lá no início da manhã, antes do nascer do sol.
Berenice continuou a falar, mas Stella não conseguiu ouvir

uma palavra do que ela dizia.
Ela sentiu a cor sumir de seu rosto. Sam e Denver estavam

pescando. Ela levou duas pessoas que significavam o mundo para
ela bem ao local onde o assassino queria que sua vítima estivesse.
— Eu tenho que ir, Berenice, ela sussurrou, e correu para fora

do pequeno prédio e desceu a marina para a casa principal e para a
garagem onde Sam havia estacionado seu 4Runner. Ela sabia que
devia parecer louca, mas não se importou. Ela tinha que chegar aos
homens antes que algo ruim acontecesse a eles. — Bailey! Ela abriu a
parte de trás da plataforma.
Bailey veio correndo e imediatamente saltou para o seu lugar.

Ela bateu a porta e correu para o lado do motorista. Onde estava o
chaveiro de seu equipamento? Ela tinha dado a Sam na noite
anterior. Onde ele colocaria? Provavelmente em sua mesa de
cabeceira. Amaldiçoando, ela correu de volta para a casa, para seu
quarto, e com certeza, estava bem ali. Sam era previsível quando se
tratava de coisas assim. Água para hidratar. Aspirina para sua dor
de cabeça. Suas chaves.
Ela dirigia como uma maníaca. Ela sabia o que seu carro
poderia fazer e o quão longe ela poderia empurrá-lo na estrada ao
redor do lago. Graças a Deus Bailey a acordou antes de o sol nascer.
Estava subindo no céu agora e ela sabia que os dois homens
98
Livro Único
estariam pescando, ou pelo menos Sam estaria se Denver ainda não

estivesse lá. Os pneus escorregaram um pouco quando ela fez uma
curva fechada muito rápido. Não seria bom escorregar para fora da
estrada.
Ela bateu no volante com a palma da mão e enviou orações

silenciosas a alguém, ela não sabia quem. A última vez que ela
assistiu impotente como as pessoas morreram, ela parou de
acreditar em qualquer pessoa fora de si mesma. Mesmo assim, as
orações podem ajudar. Quem sabia? Ela não queria perder mais
ninguém. Não Sam. Denver, não. Ninguém.
Stella fez a curva para a estrada de terra esburacada que

levava ao lago. A poeira subiu em torno dela em nuvens, forçando-a
a diminuir a velocidade. Ela veio por trás da plataforma de Sam,
estacionou o 4Runner, desligou o motor e saltou. Ela não viu a
caminhonete de Denver. Sam já estava pescando. Ele usava um
chapéu e botas de cano longo. Exatamente como em seu pesadelo,
ele vadeara entre as pedras, plantas e juncos. Ela soltou Bailey e
correu em direção ao lago, chamando Sam.
O vento soprava forte e açoitava seus cabelos, arrancando

lágrimas de seus olhos. Talvez os tenha colocado lá. Ele estava longe
demais para ouvir. Seu olhar foi para a superfície do lago, onde o
vento puxava a água. Havia aquele ponto escuro que atraiu seu
olhar como um ímã, o ponto exato onde Sam havia deixado cair sua
linha. É claro que ele atingiu o local onde a água parecia girar um
pouco, criando sua própria piscina preguiçosa.
O sol havia nascido projetando o lago em belas cores como

fazia todas as manhãs. Hoje, ele havia escolhido vários tons de roxo,
de lilases claros a roxos escuros e bordô e, finalmente, vermelhos
escuros. Seu coração acelerou enquanto ela corria. Ela sentiu aquela
ameaça sombria se aproximando. Não era sua imaginação. Estava lá,
sob a superfície da água, nadando em direção ao anzol de Sam.
Nadando em sua direção como um fantasma silencioso.
99
Livro Único
Ela viu o braço dele se sacudir levemente, exatamente como o

do pescador no pesadelo. Ele deu um passo mais para dentro do
lago, lutando gentilmente com os peixes em sua linha. Stella se
sentia como se estivesse correndo em câmera lenta. Além das
tendas. A mesa de piquenique e a fogueira. Ela continuou gritando,
tentando dizer a ele para sair da água. Para deixar de lado a linha.
Ele estava muito longe, longe da segurança da costa. Enquanto
corria, ela tirou suas roupas mais pesadas, a jaqueta, o suéter, então
ela estava só com a camiseta. Não havia como tirar seus jeans ou
sapatos; ela não tinha tempo para se dar ao luxo.
Sam se afastou ainda mais da rede de segurança da costa,

vadeando mais fundo entre os juncos, trabalhando o “peixe” em
sua linha. Ela podia imaginar a determinação em seu rosto. Ela
continuou correndo ao ver seu corpo estremecer e perder o
equilíbrio, algo que Sam nunca, jamais fez. Ele caiu para trás
abruptamente, assim como no pesadelo dela, batendo com a nuca
em uma pedra.
Ele era um homem grande e levou várias tentativas pesadas

para o assassino arrastar o corpo sem resposta de Sam para baixo da
água, dando a Stella o tempo que ela precisava para cobrir o resto
do chão. Ela não hesitou, correndo para a água gelada e
mergulhando abaixo da superfície.
O lago era alimentado com a neve acumulada todos os anos, e

a temperatura estava congelando para seu corpo. Chocantemente
assim. Não importa. O frio mal foi registrado enquanto ela nadava
em direção ao assassino tentando segurar Sam para afogá-lo. Sam
não estava completamente apagado com o ferimento na cabeça.
Instintivamente, ele estava lutando de volta, seus movimentos

lentos.
Stella atingiu o assassino por trás, tentando contornar seu

tanque de ar, desejando ter usado uma faca para poder cortar sua
100
Livro Único
linha aérea. Ela empurrou para ele, indo para sua máscara, para
qualquer coisa para distraí-lo. Ele se virou, socando seu rosto e
acertando sua bochecha. Ela inseriu seu corpo entre ele e Sam,
determinada a não chegar ao homem quase inconsciente. Ela nadou
para o assassino mais uma vez, tentando arrancar a máscara facial
novamente. Desta vez, ele puxou as pernas para cima, joelhos contra
o peito, e bateu com força contra ela, afastando-a dele com o poder
de suas pernas. Ele nadou rapidamente, desaparecendo de vista sob
as águas mais profundas.
Stella tentou se mover, nadar, fazer alguma coisa, mas não

conseguiu. Ela apenas se enrolou lá na água, sua mente lenta,
incapaz de processar o que ela precisava fazer a seguir. As mãos de
Sam a pegaram antes que ela percebesse que estava quase
completamente entorpecida e incapaz de se mover na água gelada.
Eles cambalearam entre os juncos e as pedras até a costa onde se
deitaram juntos, Sam quase em cima dela. Ele assobiou para Bailey e
o cachorro respondeu, deitando-se do outro lado de Stella ao
comando de Sam. Eles ficam assim tentando recuperar o fôlego e
aquecer o suficiente para realmente se moverem.
— Precisamos tirar suas roupas molhadas, Sam disse

eventualmente. — Vou acender o fogo para nos aquecer.
— Eu posso fazer isso, Sam. Sua cabeça. Você levou um golpe

feio nas rochas quando ele o empurrou para baixo. Ela estava
tremendo tanto que pensou que fosse quebrar os dentes, eles batiam
muito. Ela teve uma imagem terrível deles se quebrando e
simplesmente se desintegrando e caindo para fora de sua cabeça.
— Eu acho que, pela primeira vez na sua vida, você vai me

deixar cuidar de você. Eu sei que você é independente e não precisa
de ninguém, mas você vai ficar aqui com Bailey, te mantendo
aquecida enquanto eu acendo o fogo. Primeiro, estou tirando sua
roupa e trazendo meu saco de dormir. Havia aço puro em sua voz.
101
Livro Único
Ela virou a cabeça para olhar para ele por cima do ombro.
Algo em seus olhos escuros disse a ela para não mexer com ele e ela
estava muito cansada para discutir. Ela não tinha certeza se
conseguiria ficar de pé de qualquer maneira. Ela não conseguia
controlar o tremor incessante. Ela apenas balançou a cabeça e
colocou a cabeça para trás passivamente. Quem diria que quando
ele começasse a falar ele seria mandão?
Sam se levantou e alcançou a bainha de sua camisa. — Você

pode levantar os braços, Stella? Se você não puder, posso cortar isso
de você.
Ela colocou os braços sobre a cabeça e tentou se levantar o

suficiente para ele puxar a camiseta molhada de seu corpo. Seu sutiã
foi o próximo. Em seguida, seus sapatos e jeans. Ele foi e voltou
rapidamente com um saco de dormir, colocando-o em volta dela e
mais uma vez ordenando que o cão se deitasse contra ela. Quando o
tremor cessou, Sam havia acendido o fogo na fogueira, colocado
roupas secas e colocado água para o café.
Ele trouxe a mochila de sua tenda. — Pelo menos você tem

roupas secas.
— O corte na parte de trás da sua cabeça ainda está sangrando.

Ela evitou seus olhos. Não porque ela estava nua sob o saco de
dormir, mas porque ela dirigiu até o lago e agiu como uma maníaca,
correndo para ele, mergulhando, sabendo claramente que um
assassino espreitava sob a superfície. Como ela explicaria isso?
— Está diminuindo. Se vista e venha até o fogo. Tome um café.

Com você, isso sempre ajuda.
— O que você quer dizer com está diminuindo? Deixe-me dar

uma olhada. Precisa de pontos? Devíamos pedir a Harlow ou
Vienna para dar uma olhada em você. Ou levar você para a sala de
emergência.
102
Livro Único
— Eu vou cuidar disso, Stella. Ele se afastou dela e caminhou

de volta para a fogueira.
Ela não obteria indulto. Ela queria contar a ele. Ela até
precisava. Ele era inteligente. Ele ouviu. Ouvi de verdade. Ele tinha
um jeito de ficar em silêncio e processar o que ela dizia, não
interrompendo, mas realmente ouvindo quando ela falava com ele.
Ela queria dizer a ele que sabia que um serial killer iria começar a
matar nas Sierras e ele disfarçaria suas mortes como acidentes,
tornando extremamente difícil identificar o padrão.
Contar a ele, falar sobre seu passado significava revelar seus

segredos. Mas então, Sam também tinha segredos. Ele tinha um
passado que não compartilhava com outras pessoas. Nem mesmo
ela. Ela não achava que ele ficaria chateado e magoado do jeito que
ela sabia que seus amigos estariam. A ideia de voltar, revisitar todas
aquelas coisas que havia enterrado, a deixou doente. Ela havia
prometido a si mesma que nunca abriria aquelas portas novamente,
mas como alguém poderia ignorar um assassino?
Ela se sentou lentamente, um pouco surpresa ao descobrir que

seu corpo não queria cooperar. Seus músculos pareciam pesados e
machucados. Bailey se aproximou e ela abraçou o Airedale, grata ao
animal leal. Ela sempre poderia contar com o cão para companhia e
proteção. Bailey teria mergulhado no lago gelado depois dela se ela
tivesse ficado em baixo por muito tempo. Ele tinha feito isso antes,
quando ela rolou sua canoa. Ele nem mesmo hesitou.
Ela vestiu leggings forradas de lã e um suéter longo. Sam

havia deixado suas botas forradas de pele que encontrou em sua
tenda. Ela os usava à noite para se aquecer enquanto caminhava
com Bailey. Levantando-se lentamente, ela ficou desconcertada ao
perceber o quão instável ela ainda estava. Sam estava esparramado
em uma cadeira de acampamento perto do fogo, e o aroma do café a
atingiu quando ela se aproximou dele e o calor das chamas
crepitantes.
103
Livro Único
Stella pegou a jarra de café. Nada cheirava tão bem quanto

café de manhã, especialmente agora, quando ela estava congelando
e talvez um pouco assustada. Bem, muito assustada. Ok, apavorada.
Sua bochecha latejava onde o punho do assassino havia acertado seu
rosto, e bem abaixo de seus seios, onde ele a chutou, seu abdômen
doeu. Sua pele queimava e seus músculos doíam. Descongelar pode
não ser tudo o que parece.
Sam casualmente puxou a jarra de café fora de seu alcance e

indicou a cadeira de acampamento que ele colocou de frente para
ele. — Sente-se e coloque o cobertor ao seu redor. Você pode tomar
um café quando estiver acomodada. Ele derramou um pouco da
ambrosia em uma caneca.
Ela não conseguia tirar os olhos do líquido rico e escuro. Na

verdade, ela queria tanto que nem sequer fez uma careta para ele
por ser tão mandão. Ela apenas humildemente se deixou cair na
cadeira e puxou o cobertor ao redor dela.
Sam entregou-lhe a caneca com um leve aceno de cabeça. —

Você realmente é uma viciada terrível.
— Eu sei. Não há esperança para mim. Ela não ia mentir. Ela

adorava café. Ela era uma esnobe por café. Na cidade, Shabina fazia
o melhor café, mas Stella era muito, muito boa em fazer seu próprio
café. Ela aprendeu por necessidade. — Eu nem me importo e espero
nunca me recuperar.
Sam deu a ela um meio sorriso enquanto gesticulava em

direção ao lago. — Alguém acabou de tentar me matar e você sabia
que isso iria acontecer. Sua voz era gentil. Não houve acusação. Sem
julgamento. Apenas uma declaração de fato.
Isso era tão típico de Sam. Stella tomou um gole de café,

piscando rapidamente para clarear a visão do borrão repentino, e
olhou para o lago. O vento caprichoso havia diminuído e a
superfície parecia uma pedra preciosa de safira profunda
104
Livro Único
resplandecendo com beleza enquanto o sol da manhã brilhava sobre

ela.
— Você vai ter que confiar em alguém, Stella. Pode muito bem
ser eu. Eu disse que faria por você certas coisas que nunca faria por
mais ninguém, e eu quis dizer isso, mas você tem que falar comigo.
Eu não posso te ajudar se você não me deixar entrar.
— Eu não sei como. Não sei por onde começar.
— Olhe para mim, Stella.
Ela quase o matou. Ela tinha sido tão egoísta, querendo sua
noite de folga, pensando que ela poderia montar seu local de
acampamento e ninguém iria pescar. O assassino não teria um alvo.
Em vez disso, ela configurou Sam para ser a vítima do assassino. Ela
tinha feito isso. O entregue nas mãos do assassino.
— Eu poderia ter perdido você, ela sussurrou. Lágrimas

escorreram por seu rosto. Ela não conseguia parar de chorar quando
normalmente nunca mostrava fraqueza a ninguém. Ela sabia
melhor. Ela aprendeu isso desde cedo. — Eu quase matei você.
— Olhe para mim, Stella, repetiu ele. Não houve mudança em

sua voz. Não no volume. Na verdade, o tom era mais suave, mas
havia uma firmeza nele, aquela implacabilidade absoluta que dizia a
ela que ele não pararia até que fizesse o que queria.
Ela se forçou a levantar os cílios úmidos e espetados. Suas

feições eram duras, ilegíveis, todos os ângulos e planos, mas seus
olhos mantinham uma suavidade em desacordo com as linhas
implacáveis esculpidas em suas feições duras. Seu estômago deu
uma cambalhota séria. As montanhas-russas não afetaram o
desempenho. E seu coração... Derretendo sério.
Ela não confiava. Isso foi um dado. Ela tinha razão para não o
fazer. Razões reais. Como Sam, nos últimos dois anos, caiu sob sua
guarda? Como eles chegaram a esse ponto?
105
Livro Único
— Eu não fui nocauteado. Quando senti o puxão na minha

linha, soube que algo estava errado. Eu vi você correndo em direção
ao lago. Não era preciso ser um cientista de foguetes para somar
dois e dois para que você decidisse por este local de acampamento
por um motivo. Você não queria ninguém pescando aqui, não é?
Ela não conseguia desviar o olhar de seu olhar, não importa o

quanto ela quisesse. Ela balançou a cabeça.
— Eu senti alguém agarrar meus tornozelos e puxar, então eu

os deixei me levar para baixo. O golpe na minha cabeça me deixou
atordoado, mas não me nocauteou. Eu estava com minha faca,
querida. Ninguém iria me matar. Eu não morro tão fácil.
Ela deixou escapar o fôlego. Se ela apenas tivesse ficado fora

disso, Sam poderia tê-lo matado, ou pelo menos dominado o
assassino em potencial, e tudo estaria acabado. Ela correu para
salvá-lo e agora o assassino estava à solta.
— Isso só piora as coisas. Agora ele está lá fora e vai matar

outra pessoa. Ele vai continuar matando. Eu não sabia que você
viria aqui. Achei que se deixássemos as barracas aqui, ninguém viria
aqui para pescar. Denver e Bruce beberam ontem à noite e são os
únicos que conheço que realmente vêm a este lugar para pescar.
Ela esfregou as têmporas latejantes. Primeiro o esquerdo e

depois direito. Ela tomou outro gole de café. — Eu realmente sinto
muito.
— Não há necessidade, Stella. Apenas fale comigo. Olhe para

o seu lago. Beba seu café e saiba que pode confiar em mim. Fale
comigo. Ele indicou o lago.
Stella respirou fundo e inalou as Sierras. O ar fresco da

montanha da manhã. A fogueira. Sam. Bailey. Até o cheiro das
barracas de seus amigos. Ela olhou ao seu redor para a beleza
106
Livro Único
absoluta de sua casa escolhida. A magnificência disso. As árvores e

cores. Sunrise Lake.
Ela umedeceu os lábios. — Eu gostaria de soar são, mas não

vou, então não decidi como posso dizer isso a você e fazer você
acreditar em mim. Ela foi tão sincera quanto poderia ser.
Stella manteve o olhar na superfície do lago enquanto as cores

iam dos lindos tons de roxo para vários tons de vermelho. Ela olhou
para o céu. Nuvens haviam se movido, apenas pequenas formações
rendadas, nada ameaçador. Branco e cinza, eles tomaram formas no
céu. Pequenos dedos de névoa rastejaram das montanhas,
emergindo das árvores, vindo em direção ao lago em estranhas
flechas fantasmagóricas de névoa fina. Isso foi algum tipo de
presságio? Ela ao menos acreditava em coisas assim?
— Stella, você é a mais sensata possível. Fale comigo.
Ela abriu a boca duas vezes para dizer a ele, porque ela
realmente precisava compartilhar. Não era como se Sam falasse com
ninguém. Ela fechou a boca ambas as vezes e balançou a cabeça. Ele
não disse nada encorajador. Ele apenas esperou em silêncio. Um
peixe pulou e caiu de volta na água perto dos juncos que se
projetavam da água pelas rochas para onde Sam havia sido puxado
para baixo. Se Stella olhasse perto o suficiente, ela juraria que podia
ver uma mancha de sangue em uma das rochas. Seu estômago se
rebelou. Ela pousou a xícara de café e envolveu a cintura com os
braços.
— Eu acho que há sangue naquela pedra, Sam. Ela sussurrou.
— Provavelmente, Stella. Teremos que mostrar ao xerife.

Temos que relatar isso.
Ela fechou os olhos. Ela sabia que ele estava certo. Esta seria
uma tempestade da qual ela não sairia. — Às vezes tenho pesadelos.
107
Livro Único
Foi um ótimo começo. Pesadelos. Ela tinha visto o inferno nos

olhos de Sam em mais de uma ocasião e estava bastante certa de que
ele sabia o que eram pesadelos reais.
— Eu só tive esse tipo de pesadelo algumas outras vezes na

minha vida. Eu tinha quatro anos na primeira vez. Quatro. Cinco.
Seis anos de idade. Os pesadelos eram fragmentados no início, mas
depois, à medida que eu envelhecia e os sonhos eram mais
frequentes, eles seriam em mais detalhes. Quando eu tinha sete
anos, podia ver os detalhes o suficiente para desenhá-los e escrever
alguns deles.
Ela franziu a testa, tentando pensar em uma maneira de

explicar. — A princípio não percebi, porque era criança, mas os
sonhos aconteciam em um padrão de cinco dias. No primeiro dia, eu
via um pequeno vislumbre de uma cena como se um clipe de um
filme ou vídeo estivesse sendo reproduzido. A cada noite, as lentes
se abriam mais. Na verdade, eu estava vendo um assassino em série
assassinando uma vítima. Eu nunca vi o assassino, apenas o cenário
e, às vezes, o suficiente da vítima para identificá-lo.
Ela enterrou uma mão no pelo de Bailey, precisando do

conforto do Airedale. Bailey respondeu empurrando sua grande
cabeça em seu colo. Ela podia sentir os olhos de Sam sobre ela, mas
ela não olhou para ele. Ela tinha que encontrar uma maneira de
dizer isso a ele do seu próprio jeito.
— Normalmente, dois dias depois de cada pesadelo, alguém

era assassinado da maneira que eu via no meu sonho. Eu era uma
garotinha e não tinha ideia de que os pesadelos estavam se tornando
realidade. Eu disse a minha mãe, mas ela nunca me disse que eles
estavam se tornando realidade. Mais tarde, quando perguntei por
que ela não foi à polícia, ela me disse que ninguém aceitaria a
palavra de uma criança e que ela não queria virar nossas vidas de
cabeça para baixo.
108
Livro Único
Stella esfregou as mãos nas pernas. Ela se preparou para olhar

para Sam. Para ver a condenação ali. As mortes duraram quatro
anos. Houve muitos assassinatos naquela época. Ela deveria saber
que Sam nunca teria julgado aquela garotinha. Suas feições não
mostraram nenhuma emoção. Ele era todo planos e ângulos, aquela
masculinidade sombria que sussurrava que ele tinha suas próprias
histórias para esconder.
— Minha mãe não estava dizendo a verdade. Eu diria a ela -

ela baixou a voz ainda mais - Mamãe, papai está fazendo a coisa errada de novo.
— Ela ficou com tanta raiva de mim. Ela não queria que eu dissesse
isso. Ou contasse a alguém. Estávamos muito bem e ela tinha tantos
amigos, almoços para ir, jogos de tênis para jogar. Ela não se
incomodava com pesadelos que não podiam ser reais, mesmo que
soubesse que eram. Ela demitiu minha babá para que eu não falasse
com ninguém sobre papai fazendo a coisa errada de novo.
Stella baixou os olhos para as próprias mãos. — Todas aquelas

vidas que talvez pudessem ter sido salvas ao longo daqueles anos.
Os policiais provavelmente não teriam dado ouvidos a uma criança,
mas talvez um deles pudesse ter. Minha mãe começou a beber. Eu
tinha sete anos quando um de meus tutores me ouviu e me levou ao
departamento de polícia. Eventualmente, meu pai foi pego. Minha
mãe bebeu até a morte. Com isso quero dizer que ela cometeu
suicídio. Depois que o circo da mídia morreu e não houve ninguém
disposto a se apresentar para levar a filha de um assassino em série,
fui colocada em um orfanato.
Sam não ofereceu simpatia e ela ficou grata. Ela enterrou os

dedos profundamente no pelo de Bailey e manteve o olhar na névoa.
Com o sol no céu, os fios de neblina haviam se transformado da
linda lavanda em traços carmesim, então parecia que o sangue
derramava em marcas de ancinho na superfície do lago. O que
deveria ter sido lindo a fez estremecer. Aquelas flechas de névoa
pareciam ter sido mergulhadas em sangue.
109
Livro Único
Ela não iria compartilhar isso com ele. Ela dirigia um resort
multimilionário porque era equilibrada e orientada para os detalhes,
não movida pela fantasia. Os pesadelos estavam bagunçando sua
cabeça.
— As coisas ficaram bem por alguns anos, mas então, quando

eu tinha dezesseis anos, comecei a ter pesadelos novamente. Eles
começaram da mesma maneira. Mamãe, papai está fazendo a coisa errada de
novo. Eu sempre me ouviria dizer isso claramente e então veria uma
parte do assassinato. Cada noite um pouco mais viria para mim. Na
quinta noite eu veria o assassinato e então não sonharia. Algumas
noites depois, ouvi falar de um assassinato cometido exatamente
dessa forma. Eu leria sobre isso ou veria no noticiário.
Ela pressionou os dedos contra a boca. Sua mão tremia. De

repente, ela era a adolescente assustada, sabendo que se fosse à
polícia o circo iria começar tudo de novo. Se ela não fosse, ela
poderia ser responsável por outros perderem suas vidas. Ela não
queria a notoriedade. Ela detestava os holofotes.
Stella forçou o ar pelos pulmões, lembrando-se de como foi

difícil tomar essa decisão. — Eu não queria contar a ninguém, mas
me sentia culpada porque as pessoas estavam morrendo, e talvez ao
revelar os sonhos eu pudesse salvar vidas, então fui à polícia. Eles
riram de mim. Na verdade, fiquei feliz com o que eles fizeram, mas
os assassinatos continuaram acontecendo. Meus pesadelos
continuaram acontecendo. Minha mãe adotiva foi muito compassiva
e me aconselhou. Eu queria acreditar em todos, que os assassinatos
estavam provocando pesadelos por causa do meu pai, mas eu sabia
que não. Eu estava vendo assassinatos antes de eles realmente
acontecerem.
Stella suspirou e pegou seu café, tomou alguns goles, grata por
ter levado sua caneca favorita para ar livre, que mantinha o café
quente para sempre. — Eventualmente, o FBI veio até mim e me fez
todo tipo de pergunta. Minha mãe adotiva e minha conselheira
110
Livro Único
estavam comigo e insistiram na promessa do FBI de me manter fora

disso. Os agentes me fizeram desenhar detalhes de cada um dos
meus sonhos. Eles me disseram quando eu tinha um novo para
contatá-los e começar a detalhar tudo de que conseguia me lembrar.
O serial killer foi pego e o FBI tentou me manter fora disso, como
prometeram. Infelizmente, minha identidade vazou e era uma
história boa demais para ser deixada para a mídia. Meu nome estava
em todo lugar.
Ela lançou um olhar rápido para ele. Sam estava olhando para
o lago, e o ar que ela estava segurando nos pulmões saiu com
pressa. Ele podia ser contado, assim como as Sierras. Seu lugar de
paz. Sua rocha. O mundo pode estar desabando ao seu redor, mas
ele estava firme. Quieto. Confiante. O mesmo.
— Eventualmente, eu herdei um grande fundo fiduciário.

Havia dinheiro suficiente para eu viver como quisesse. Mudei
legalmente meu nome. Eu me formei e eventualmente acabei aqui.
Eu adorei esse resort, fui contratada como gerente e o transformei
com muito trabalho duro. O proprietário era mais velho e queria
vender. Fiz uma oferta e comprei há quatro anos, embora não
tenhamos contado a ninguém na época. Não gosto que ninguém
saiba do meu negócio.
Sam ficou em silêncio por tanto tempo que ela não tinha
certeza se ele diria alguma coisa. Ele bebeu seu café, olhando para o
lago, processando o que ela disse a ele.
Seu olhar mudou para o rosto dela. — Os pesadelos

começaram novamente.
Ela acenou com a cabeça. — Eles começaram.
— Era por isso que você não conseguia dormir e atacou

Berenice.
111
Livro Único
— Isso ainda não é uma boa desculpa, Sam. Eu me desculpei

com ela. Se ela não tivesse... Ela piscou para conter as lágrimas e
tomou um gole de café. — Eu não conseguia acreditar que um serial
killer estava aqui em nossa linda casa. Ele vai fazer suas mortes
parecerem acidentes. O primeiro é um pescador. Eu sabia que tinha
um ou dois dias para encontrar o local da morte, então dirigi por aí
parecendo uma louca. Foi pura sorte encontrar este local, uma vez
que é isolado e ninguém vem aqui com tanta frequência.
— Você teve um pesadelo horrível por cinco noites seguidas,

Stella, e nem sequer mencionou isso para Zahra?
Ela pressionou os dedos contra a boca e balançou a cabeça,

mantendo os olhos no peito dele. — Se eu contasse a ela, teria que
contar tudo a ela, ela sussurrou. — Sam, você não estaria aqui se não
fosse por mim.
— Esse não é o tipo de pensamento que vai nos fazer bem,

querida. Se vamos pegar um assassino em série, vamos ter que sair
na frente dele. Preocupar-se se você me forçou ou não a ir pescar
quando ninguém nunca me forçou a fazer nada é meio ridículo,
você não acha?
— Eu não vi nenhuma parte dele, confessou Stella. — Nada

que me ajudasse a identificá-lo. Eu estava tão focado em chegar até
você que nem pensei em olhar para o equipamento dele. A água
estava turva porque o fundo tinha sido agitado e era difícil ver. Eu
estava com frio e com medo de não chegar até você a tempo. Eu nem
pensei em usar uma faca.
— Ele conhece este pesqueiro, mas muitos que vêm aqui ano
após ano conhecem os melhores pesqueiros. Quando alguém vai à
loja de iscas e pergunta, Roy dá um mapa dos vários pontos e até
marca como chegar até eles, lembrou Sam.
— Isso é verdade, admitiu Stella. Ela não tinha pensado nisso.

— Ele estava vestindo uma roupa de mergulho e nadando no lago, o
112
Livro Único
que significa que ele pelo menos sabe como contornar isso. Se ele for
local, o que o faria começar a matar?
— Se você andava com o FBI, provavelmente sabe mais do que

eu. Meu palpite seria que assassinos em série matariam por vários
motivos. Raiva. Emoções. Dinheiro. Até o poder. Sexo. Às vezes,
pode estar procurando atenção. Isso para mim parece bastante
lógico, mas os assassinos em série são lógicos? Quem diabos sabe?
Stella fez uma careta para o lago. Seu lindo lago. — Quem
quer que tenha pensado neste assassinato teve muito trabalho para
fazê-lo parecer um acidente. Estamos em um local isolado. Ele
vestiu o equipamento de mergulho, nadou sob a água gelada e
executou um esquema elaborado para enganar o legista, o xerife e
todos os outros.
— Para ser um assassino em série, o que ele teria que ser para
desencadear seus pesadelos, significa que ele planeja cometer mais
de um assassinato, certo? Sam meditou.
Ela acenou com a cabeça. — Eu não tenho pesadelos toda vez

que alguém é assassinado. Tenho que estar muito perto de um
assassino em série. Isso só aconteceu duas vezes antes disso.
— Se ele quer que os assassinatos pareçam acidentes, podemos

descartar a busca por atenção e o sexo como motivadores.
— Denver sempre pesca aqui com Bruce. É o lugar favorito

deles. Ele herdou muito dinheiro. Quando digo muito, quero dizer
milhões. Mais de milhões. O suficiente para que alguém queira
matá-lo por esse dinheiro.
Mais uma vez, Sam ficou quieto, revirando essa informação

repetidamente em sua mente. — Se Denver fosse o alvo, ele seria um
alvo único. Nosso assassino não seria um serial killer.
113
Livro Único
— A menos que ele quisesse cobrir seus rastros fazendo

parecer que Denver seria um de muitos se os chamados acidentes
fossem descobertos, ressaltou Stella.
Ela sentiu que isso era um pouco longe do campo esquerdo,

mas quem sabe o que se passava na mente de um assassino? —
Estou feliz que Denver e Bruce beberam na noite passada.
Ela olhou para ele e sorriu, percebendo que estava quente

novamente e tomou café. Seu cachorro estava bem ali e até as cores
do lago estavam mais uma vez lindas e não ameaçadoras. Ela tinha
Sam para conversar sobre as coisas.
Sam balançou a cabeça. — Mulher.
— Homem. O sorriso sumiu de seu rosto. — Eu não quero

contar com você, Sam, e então você desaparecer. Seria melhor nunca
começar nada e apenas me deixar descobrir por conta própria do
que me deixar me apoiar em você e você sair quando eu acho que
vai estar aqui.
Stella se permitiu olhar para ele, embora fosse difícil. Ela tinha
que saber. Ela não era covarde. Não era como se sua expressão
tivesse mudado. Ele era um mestre em não revelar nada.
— Estou quebrado, Stella, e não deixo ninguém se aproximar

de mim. Não é uma boa ideia. Mas você... Você conseguiu entrar.
Talvez porque nós dois estamos um pouco quebrados. Você nunca
pergunta. Você nunca empurra. Você não se importa com o silêncio.
Você apenas me aceita. Eu vim para essas montanhas e encontrei a
primeira paz verdadeira que tive em anos. E então as montanhas me
deram você. Só estar perto de você me traz paz. Se isso for tudo que
eu conseguir, vou aceitar. Você oferece mais, e eu irei em um piscar
de olhos e nunca serei estúpido o suficiente para jogá-la fora.
No que diz respeito às declarações românticas, não estava lá

com Shakespeare, mas Stella não precisava de um poeta. Sam
114
Livro Único
manteve sua palavra. Se ele dissesse que ficaria, ele o faria. Se ele
declarou que ela era para ele, estava sendo sincero.
Ela acenou com a cabeça, o sorriso de volta. — Eu quero que

você fique Sam. Não tenho certeza se serei boa em qualquer tipo de
relacionamento real diferente do que temos, mas gostaria de tentar.
— Não estava planejando deixar você, Stella, a menos que

você me expulsasse ou assumisse um homem. Você sabe que Sean e
Edward são mergulhadores certificados e Jason e Bale estão tendo
aulas com eles.
Ela não sabia disso. — Excelente. Talvez sejam todos

assassinos em série. Ela esfregou a bochecha. — Seria como se eles
decidissem matar um monte de gente só para ver se conseguiam se
safar.
— Temos que ligar para o xerife e informá-lo do que

aconteceu, disse Sam.
— Você precisará anotar tantos detalhes quanto se lembrar e

esboçar o que puder. Vou escrever o máximo que consigo me
lembrar também.
— Sam, sua identidade vai aguentar? Ela realmente odiava

perguntar.
Ele assentiu. — Sim, não há problema. É tudo perfeito. Eu sou

Sam Rossi.
Capítulo 06
Griffen Cauldrey era a assistente do xerife local que saiu

para receber o relatório. Stella o conhecia muito bem. Nos últimos
115
Livro Único
anos, ela teve sua cota de ligações para o xerife. Cadáveres

apareceram em vários locais em um resort do tamanho dela,
principalmente afogamentos. Álcool e água não combinavam muito
bem.
Griffen estava com sua esposa, Mercy, há quinze anos, e eles

tinham filhos gêmeos chamados por seu pai de “pequenos
diabinhos”, mas isso sempre era dito com afeto. Os meninos agora
tinham dez anos e podiam ser um bocado, mas eram respeitosos e
definitivamente se importavam com os pais, especialmente Griffen,
quando ele os chamava para fazerem o pedido. Como a maioria das
famílias nos condados de Mono e Inyo, eles adoravam esportes ao ar
livre, e Griffen e Mercy criaram seus filhos com as regras de
segurança.
Griffen examinou a cena com seu jeito meticuloso de sempre,

fazendo perguntas aos dois e retrocedendo sem dar a impressão de
fazê-lo. Ele tirou várias fotos da nuca de Sam e depois insistiu para
que ele procurasse atendimento médico, querendo que fosse
documentado.
— Você sabe melhor, Stella, ele repreendeu. — Ele deveria ter

sido atendido imediatamente.
Ela assentiu e indicou Sam com o queixo. — Diga a ele, não a

mim. Achei que ele poderia ouvir você melhor do que eu. Ele é duro
como pregos.
— Liguei para a Busca e Resgate para ajudar na busca de

equipamentos de mergulho em barcos e plataformas e também para
falar com qualquer pessoa que possa ter visto alguém saindo do
lago com equipamento de mergulho. As chances de encontrá-los
neste ponto são muito pequenas, mas talvez tenhamos sorte e
alguém terá visto algo. Simplesmente não temos mão de obra para
algo assim. É tudo voluntário e, quando eles chegarem aqui e eu os
116
Livro Único
organizar, esse homem já terá partido há muito tempo. Você tem

inimigos, Sam?
Sam encolheu os ombros. — Não que eu saiba.
— Diga-me novamente por que você saiu tão cedo de manhã.

Griffen olhou ao redor do acampamento com todas as tendas
montadas.
Ela suspirou. Foi seu terceiro depoimento. — Íamos acampar

aqui, montamos nossas barracas e deixamos tudo aqui, mas fomos
ao Grill ontem à noite. Vienna e Harlow tiveram um turno no
hospital e não saíram até tarde, então elas não iriam se juntar a nós
até de manhã, mas Raine, Zahra, Shabina e eu deveríamos ficar aqui
ontem à noite. Percebi que estávamos todas bebendo demais, então
perguntei a Sam se ele seria nosso motorista sóbrio e dei a ele as
chaves do meu carro. Acordei cedo, conversei com Berenice no
aluguel de barcos e ela me disse que Sam passou a noite aqui para
garantir que nenhuma de nossas coisas fosse levada. Eu me senti
muito mal por ele ter que fazer isso, quando ele já tinha que nos
levar de volta ao resort e estávamos um pouco fora de controle.
Ela fez uma careta e enviou um olhar de desculpas a Sam,

esperando não ter feito papel de boba. Como sempre, havia pouca
expressão em seu rosto, embora pudesse haver um toque de
diversão em seus olhos escuros. Se havia, sumiu quase
imediatamente.
— Eu cheguei aqui, deixei Bailey sair e estava correndo em

direção ao lago. Principalmente, eu estava preocupado em conseguir
café. Eu ainda não tinha comido e Sam sempre faz. Ele estava
pescando e andando entre os juncos. De repente, ele caiu com força
e ficou debaixo d'água. Eu não pensei, apenas entrei. Foi quando
percebi que mais alguém estava na água, segurando Sam embaixo
da água. Ele estava vestindo um traje de mergulho. Ele me bateu
aqui. Ela apontou para a bochecha. — E me chutou aqui. Ela
117
Livro Único
apontou para logo abaixo dos seios. — Então ele se foi. Eu nem
estava pensando em identificar nada sobre ele. Só estava tentando
chegando ao Sam. Achei que ele poderia estar inconsciente.
Ela não queria reviver aqueles momentos novamente, sob a

água fria quando ela pensou que Sam estava se afogando e aquela
figura escura e sinistra tinha se aproximado, disparando em sua
direção tão rápido que ela quase deu um salto mortal para trás. Ele
tinha partido antes que ela tivesse tempo para pensar.
— Por que ele não tentou me matar, Griffen? Ela se endireitou,

franzindo a testa. — Não teria sido tão difícil. Ele estava com
equipamento de mergulho. Ele poderia ter me segurado debaixo
d'água.
— Eu não estava inconsciente. Sam deu uma resposta. — Eu

puxei minha faca do meu cinto. Certo, eu estava lento, talvez um
pouco desorientado com o golpe na minha cabeça, mas eu estava
ciente do ataque e ele indo atrás de você.
Ela nem tinha visto a faca no punho de Sam. Agora que ela
tentou puxar os detalhes, ela percebeu que era Sam quem realmente
estava arrastando-a para fora.
— Acho que não fui tão heroica. Ela sorriu para Griffen e
envolveu sua caneca para viagem. — Eu ainda não tinha tomado
meu café ou teria sido muito mais cautelosa.
Griffen passou mais alguns minutos com eles e depois saiu

para organizar uma busca pelo agressor. Os voluntários locais
estavam acostumados a se reunir para ajudar na aplicação da lei
quando necessário para várias tarefas. Nesse caso, eles trabalhariam
em duplas, dentro e fora da água, em busca de quem pudesse ter
visto algo que pudesse levar à identificação do agressor.
118
Livro Único
Harlow chegou ao acampamento para dar uma olhada no

nó na nuca de Sam. — Viena está ajudando Griffen a enviar todos os
voluntários. Denver e Bruce estão realmente chateados por não
estarem aqui. Denver diz que ele deveria pescar com você esta
manhã, Sam, mas ele estava com um pouco de ressaca. Ele decidiu
vir, mas teve que parar várias vezes porque estava vomitando. Ela
tentou não rir quando disse isso. Todo mundo sabia que Denver não
estava no seu melhor se bebesse demais.
Ela tinha um pequeno kit de primeiros socorros com ela, que

ela abriu e entregou a Sam. — Naturalmente, vocês dois estariam
apenas sentados aqui como se nada tivesse acontecido, bebendo
café. Alguma coisa te perturba, Sam?
— Se Stella não pegar o café da manhã.
Houve um breve silêncio. Harlow ergueu os olhos de onde

estava movendo suavemente os dedos ao redor do inchaço na nuca
de Sam. — Você acabou de fazer uma piada? Acho que nunca ouvi
você fazer uma piada.
— Não é uma piada se Stella não toma seu café.
— Isso é tão verdade, Harlow concordou.
— Estou bem aqui, caso alguém não tenha notado, ressaltou

Stella.
— Sheesh. Uma pequena rachadura na cabeça e Sam pensa

que ele é um comediante.
— Eu sempre fui engraçado, Sam disse sem uma mudança de

expressão. — Não foi preciso bater na cabeça para me deixar assim.
Harlow começou a rir. Ela balançou a cabeça. — Eu não fazia

ideia. Mal posso esperar para contar a Viena. A mera ideia de que
Sam pode contar uma piada vai matá-la.
119
Livro Único
— Não a incentive, Harlow. Stella jogou a cabeça para trás e

olhou para as nuvens que se moviam. Era bom estar viva. — E
Viena nem tem bom senso. Ela adora de gatos.
Isso fez Harlow rir mais. — O que isso significa? Os gatos têm
muito mais bom senso do que os cães. Bailey teria pulado naquela
água fria para salvar sua bunda, assim como meu beagle19 pequeno,
Misha. A gata de Vienna, no entanto, teria torcido o nariz em puro
desdém. Ela teria sabido melhor.
— Ela tem razão, disse Sam. — Bailey teria.
Bailey ergueu a cabeça e olhou para Stella com seus olhos

castanhos. Ela coçou atrás das orelhas dele. — Porque você é tão
leal, certo, garoto? Você teria me salvado. Aquele gato de Viena teria
deixado ela se afogar.
— Você está falando com voz de bebê com aquele animal

enorme? Harlow exigiu.
— Ele não deveria ser um cão de proteção fodão?
— Eu não falo como se tivesse falando com bebê com meu

cachorro, negou Stella. Ela o fazia, o tempo todo.
— Ela fala, Sam confirmou, e estendeu a mão para pegar a

mão dela bem na frente de Harlow.
Sua mão estava quente. Seus dedos são fortes. O que quer que
Harlow fosse dizer foi interrompido no meio da frase quando ela o
viu pegar a mão de Stella. Foi a primeira vez que Sam realmente fez
qualquer tipo de reclamação pública real sobre ela, se alguém
pudesse chamar de mãos dadas uma reclamação pública. Sam não
parecia o tipo de homem que dá as mãos. Ele era muito reservado
19
Beagle ou bigle é uma raça de cães de caça de pequeno a médio porte originária do
Reino Unido.
120
Livro Único
para qualquer tipo de agradecimento público ou demonstrações de

afeto.
Harlow inclinou a cabeça para mais perto do ferimento de

Sam. — Isso não é tão ruim quanto poderia ter sido. Os ferimentos
na cabeça tendem a sangrar muito e fazer as coisas parecerem muito
piores do que realmente são. Você esta com visão turva?
— Não. Um pouco de dor de cabeça e na nuca, onde está o nó.

Está centrado bem aqui. Mais como uma pulsação, como se eu
pudesse sentir meu batimento cardíaco lá.
Stella ficou surpresa que Sam fosse tão direto e preciso.
Harlow fez mais algumas perguntas e ele respondeu, mas

agora seu polegar se moveu sobre as costas da mão de Stella,
ondulando para frente e para trás em uma pequena carícia que
enviou estranhos dardos de fogo correndo por sua corrente
sanguínea direto para seu núcleo mais profundo, fazendo-a todos
muito conscientes dele. Apenas aquele pequeno gesto.
Ela não ousou olhar para ele. Já fazia muito tempo. Muito
tempo. Ela não tinha relacionamentos e não tinha certeza de como
reagir. As perguntas que Harlow fez a Sam pareciam distantes.
Stella ouviu Harlow dizer que ela nem precisava usar cola cirúrgica
para fechar o corte, mas depois disso, Stella se concentrou na
maneira como o único gesto, tão pequeno, fazia seu corpo ganhar
vida. Ou talvez fosse o fato de que ela podia se sentar em sua
cadeira de acampamento nas primeiras horas da manhã com o sol
brilhando no Lago Sunrise, banhando a água com cores lindas,
sabendo que Sam estava vivo. Saber que o assassino não conseguiu
o que queria e que o homem com quem ela se importava não foi sua
primeira vítima. Não houve primeira vítima.
— Terra para Stella, Harlow chamou. — Esse lago hipnotiza

você. Eu preciso que você me escute. Sam nunca o faz e precisa
tomar antibióticos. Todos eles até que terminem. Não sabemos o que
121
Livro Único
havia naquela rocha ou na água. Eu dei a ele uma injeção para

começar e coloquei creme antibiótico na ferida para ficar seguro.
Ela estendeu o tubo para Stella, forçando-a a puxar a mão de

Sam ou pousar o café. Sam resolveu seu dilema soltando a mão dela.
Ela pegou o tubo de Harlow.
— Você precisa colocar isso no corte algumas vezes por dia

durante dois dias. Então você pode deixar aberto ao ar.
Sam estendeu a mão quase preguiçosamente e quase

conseguiu obter o tubo de creme antibiótico de Stella antes que ela
percebesse sua intenção.
— Mulher. Havia um rosnado em sua voz.
— Homem. Ela olhou para ele. O rosnado teve um efeito sobre

ela, mas não foi intimidação.
— Eu não tenho cinco anos.
— Esse é o problema. Harlow sabe que não se pode confiar em

você para cuidar de feridas porque pensa que é algum tipo de
homem viril que não precisa de coisas como antibióticos como as
pessoas normais precisam. Vou apenas manter o controle disso e
supervisionar você tomando os comprimidos também.
Harlow começou a rir enquanto pegava o kit de primeiros

socorros de Sam e o fechava. — Tenho que escrever um relatório
sobre você e depois fazer o mesmo com seus ferimentos, Stella. Mas
isso é ótimo. Nunca ouvi vocês dois interagindo assim antes.
— Eu não tenho ferimentos, protestou Stella, franzindo a testa

para a amiga. — Griffen enganou você. O suposto assassino me deu
um soco, mas debaixo d'água, não é como se ele pudesse realmente
me machucar tanto. Foi mais que eu fiquei assustada e isso me
empurrou para trás e para longe dele. Isso permitiu que ele levasse
122
Livro Único
as pernas até o peito e colocasse os pés em mim. Ele tinha

nadadeiras, mas ainda me deixou duro e me empurrou para trás.
Sua mão foi para sua bochecha. Por que sua bochecha doeu?
Não deveria. A água teria retardado o soco do agressor. Ele não
conseguia força suficiente para realmente machucá-la, mas ela se
sentia machucada. Não estava inchado, mas parecia sensível. Ela
escovou os dedos sobre o ponto exato onde o suposto assassino
havia atingido seu rosto. Houve uma pequena mancha que doeu.
Não muito ruim, mas definitivamente estava um pouco dolorido. O
que isso significa? Ele estava usando luvas, mas ele estava usando
um anel por baixo das luvas? Algo pesado que teria caído bem no
osso daquele jeito?
Ela olhou para Sam. Seus olhos encontraram os dela. Ele sabia.
Essa seria outra pista. Não era óbvio, mas se ele estava usando uma
aliança, era pesada, não uma aliança de casamento. Eles teriam que
escrever isso e ela teria que pensar sobre como se sentia. Que forma
pode ter. Talvez encontre uma maneira de esboçá-lo.
Os dedos de Harlow foram gentis enquanto ela examinava o

rosto de Stella. Stella fez o possível para não demonstrar qualquer
tipo de emoção, principalmente porque podia sentir o olhar de Sam
sobre ela. Ela sabia que ele não sentia falta de muito e ela não era
muito boa em esconder seus sentimentos, não do jeito que ele era.
Ela não queria que ele soubesse que ela estava machucada,
principalmente porque havia algo que se escondia por trás de seus
olhos escuros, uma emoção que ela não conseguia entender, que a
assustava um pouco.
— Babe, disse Harlow. — Ele bateu em você bem aqui, não

foi? Seu polegar deslizou sobre a bochecha de Stella. — Estranho
que ele pudesse te bater forte o suficiente debaixo d'água para te
deixar dolorida. Não há hematomas de verdade, mas posso dizer
que você esta muito sensível aqui. Vou precisar que você se levante
para que eu possa olhar sua barriga e costelas.
123
Livro Único
Stella estava relutante em mostrá-la na frente de Sam. Ela se

pegou colocando o café no chão e quase enfiando os nós dos dedos
na boca do jeito que uma criança de cinco anos havia feito há muito
tempo, como se lembrando a si mesma de não falar. Esse era um
daqueles hábitos que ela lutou muito para superar, e agora depois
de alguns pesadelos e ela estava de volta a ter que lutar contra
aqueles velhos padrões odiados.
Ela puxou o suéter. — Não há realmente nada para mostrar.

Ele apenas me chutou forte o suficiente para me afastar dele para
que ele pudesse nadar para longe de nós. Ele claramente não seria
capaz de afogar Sam, e com dois de nós lá, ele deve ter decidido
fugir rápido.
Mais uma vez, Harlow sondou ao longo das costelas de Stella

e ao longo de seu estômago e, em seguida, sob os seios, onde ela
recebeu o impacto de seus pés. Ela fez o possível para não reagir
quando Harlow encontrou o local exato do impacto.
— Debaixo d'água, ele não poderia realmente me machucar

com um chute duplo como aquele Stella reafirmou. — Tenho certeza
de que foi mais para me afastar do que qualquer coisa. Ela colocou o
suéter de volta no lugar.
— Não entendo por que ele não usou apenas uma lança ou
uma arma assim, Harlow disse. — Ele realmente se arriscou. Agora
a maior parte do condado está em alerta. Você sabe que quase todo
mundo carrega uma arma. O alerta foi lançado no Facebook para os
pescadores. Isso não vai impedir ninguém de pescar, na verdade o
lago estará lotado amanhã, tanto com barcos como com homens e
mulheres pescando ao redor do lago. Todos eles estarão fazendo as
malas.
Stella suspirou. — Eu sei. Ela certamente carregava uma arma.

Ela o fazia desde que tinha idade suficiente para aprender a atirar.
Ela nunca parou de praticar. As imagens das coisas terríveis que seu
124
Livro Único
pai e o outro serial killer fizeram às vítimas ficaram gravadas em

sua mente. Não importa o quanto ela tentasse esquecer aqueles
pesadelos terríveis, ela não conseguia. O pior de tudo era que ela
sabia que eram reais. Os seres humanos fizeram essas coisas a
outros seres humanos. Seu pai, um homem que deveria amá-la e
protegê-la, tinha feito essas coisas aos entes queridos de outras
pessoas. Como ela poderia confiar totalmente em alguém
novamente?
Ela tinha a sensação de que o assassino era alguém que

visitava o condado com frequência, talvez pescando ou caçando
regularmente. Ele pode até ficar no acampamento de pesca dela, ou
em um dos muitos acampamentos ou locais para trailers que ela
alugou. Ela pode estar abrigando o assassino. Ele tinha que estar
perto dela, ou ela não teria pesadelos.
Bailey deu um breve latido de advertência para anunciar a

chegada de outro veículo. Sam imediatamente se levantou e juntou
seu equipamento enquanto Zahra e Shabina saltavam do RAV4 de
Shabina, nenhuma das duas parecendo ter passado a maior parte da
noite festejando.
— Onde está Raine? Harlow perguntou.
— A Busca e Resgate foi chamada para ajudar na busca por

quem tentou matar Sam esta manhã, disse Shabina, examinando
Sam e Stella. — Ela está verificando o equipamento de mergulho dos
barcos e conversando com todos na água, esperando que alguém
possa ter visto algo estranho. Vocês dois estão bem?
— Harlow declarou que nós dois estamos bem, disse Stella,

seguindo Sam até seu carro. — Tem certeza de que está bem para
dirigir? Posso levá-lo de volta e ter um dos outros conosco. Ela
tentou manter a ansiedade longe de sua voz.
Sam estava com a porta de seu carro aberta e seu equipamento

já jogado no banco do passageiro. Ele se virou para ela e
125
Livro Único
inesperadamente emoldurou seu rosto com as mãos, enviando seu

estômago em uma montanha-russa de voltas e cambalhotas.
— Eu vou ficar bem. Tenho trabalho a fazer. Você se divirta

com suas amigas, Stella, e não pensa em nada por alguns dias. Vai te
fazer bem. Vou cuidar do resort. Ele inclinou a cabeça e roçou os
lábios nos dela.
Foi o mais breve dos contatos, mas quente como o pecado. Um

milhão de borboletas voaram. As cambalhotas em seu estômago
aumentaram tanto que ela apertou a mão com força, perguntando-se
por que ela nunca teve aquela reação em sua vida com nenhum
homem que esteve por perto, ou namorou. Ele realmente não a
beijou, mas não parecia importar.
Ele deslizou para dentro da caminhonete, fechou a porta,

baixou a janela e olhou para ela com seus olhos escuros. — Satine,
você tem que dar um passo para trás para que eu possa ir. Não ficar
por perto quando o acampamento estiver lotado de mulheres.
Isso a fez rir. — Você está fugindo.
— O mais rápido que posso ir.
Stella balançou a cabeça e se afastou, levantando a mão,

observando ele se afastar com facilidade, depois dar meia-volta e ir
embora. Quase imediatamente ela se sentiu vulnerável, como se os
olhos estivessem neles. Ela cruzou os braços sobre o peito e olhou
lentamente ao redor. Alguém pode estar em um terreno mais alto,
escondido nas árvores, a uma boa distância deles. Ele precisaria de
binóculos se quisesse realmente vê-las claramente daquele ponto de
vista. Lá estava o penhasco de granito que subia até as árvores.
Pedregulhos se projetavam e podiam fornecer cobertura. E, claro,
havia o lago. Qualquer pessoa com um barco poderia observá-las do
lago ou de um dos pontos ao longo da costa próximos a elas.
126
Livro Único
— Stella, você vai ficar aí o dia todo em uma névoa induzida

por Sam, Zahra exigiu, — ou vir aqui e nos contar o que está
acontecendo? Porque parecia que ele beijou você.
Stella sentiu a cor rastejar em seu rosto enquanto voltava para

as amigas.
— Eu garanto que ele não fez isso. Fez esforço para não
pressionar os dedos nos lábios de repente formigando. — Não tenho
certeza do que você pensou que viu, mas não foi isso. Ela colocou as
mãos nos quadris e olhou para Shabina e Zahra, estudando sua pele
clara e brilhante. — Você foi ao spa a primeira hora desta manhã,
não foi?
As duas se entreolharam e caíram na gargalhada.
— Enquanto eu estava quase sendo morta por algum louco,

vocês estavam mergulhadas no luxo, ela acusou, feliz por desviar a
atenção do adeus de Sam para ela. — E eu não vejo nenhum
remorso em seus rostos.
Shabina enfiou os óculos de sol no nariz. — Garota, se você se

machucasse, ficaríamos chateadas, mas tudo acabou bem, então não
há razão para estar nada além de grata por termos tido uma manhã
de spa.
— Tive uma experiência angustiante. Stella se jogou em sua

cadeira de acampamento.
— Você compartilhou uma experiência com Sam, o homem

mais quente da terra, corrigiu Zahra. — Foi o que ela disse ontem à
noite, Harlow. De novo e de novo. Ela dizia que ele era o homem
mais quente do planeta Terra.
— Eu certamente não disse, Stella negou, com medo de que ela

pudesse ter feito isso. Provavelmente a caminho de casa. Com Sam
dirigindo. Não era como se ele não pudesse ter ouvido. Ela gemeu.
— Apenas me mate agora.
127
Livro Único
Harlow começou a rir. — Stella, você bebeu muito na noite

passada?
— Aparentemente sim. Não vamos mais falar sobre isso. Estou

ficando com dor de cabeça só de pensar nisso. Stella vasculhou sua
pequena mochila para tirar os óculos de sol. Ela precisava deles para
se esconder atrás.
— Talvez deixar escapar em seu estado de embriaguez que

você achava que Sam estava gostoso valeu a pena, Harlow apontou.
— Ele segurou sua mão.
— O que? Zahra quase saltou para cima e para baixo. — Você

está escondendo de nós. Somos suas melhores amigas e você está
mentindo para nós. Ele deu um beijo de despedida em você.
Shabina baixou os óculos de sol para olhar por cima deles para
Stella. — Estou mandando mensagens de texto para Vienna e Raine
agora para mantê-las informados. Se beijando. De mãos dadas. O
que mais aconteceu? Tudo em algumas horas de manhã também.
Ainda bem que fomos ao spa, Zahra. Somos como casamenteiras.
Sem a nossa intervenção oportuna, eles provavelmente nunca teriam
ficado juntos.
Stella não pôde deixar de rir. Era sempre assim quando elas
ficavam juntas. Elas podiam ir de sérias a engraçadas em um piscar
de olhos, sempre pegando nas costas uma da outra.
Vienna e Raine não se juntaram a elas até à tarde. Elas

montaram o acampamento do jeito que gostavam, quando todos
estavam presentes. Vienna parecia cansada e as outras sugeriram
que ela descansasse enquanto elas cozinhavam a maior parte do
jantar, mas como sempre, ela insistiu em puxar seu peso. Elas
jogaram cartas e conversaram noite adentro. Stella ainda se sentia
desconfortável e muitas vezes caminhava com Bailey para ver se ele
estava detectando algum sinal de um intruso por perto. Bailey
parecia tão cauteloso quanto ela, mas ele não rosnou ou fez uma
128
Livro Único
postura, simplesmente ficou alerta quando normalmente estaria

relaxado. Ninguém mais pareceu notar a sensação sinistra no ar do
jeito que ela fez. Stella tentou atribuir isso a seus pesadelos.
Uma por uma, as outras foram para suas tendas. Ela ficou do
lado de fora com Bailey, patrulhando ao redor das tendas e depois
no lago apenas para ter certeza de que todas estavam seguras. Ela
até tirou sua arma do compartimento em seu 4Runner, carregou-a e
colocou-a em sua mochila, que manteve perto dela o tempo todo.
Quando ela voltou para a fogueira, o fogo havia morrido e

apenas Raine permaneceu sentada, claramente esperando por ela.
Stella pegou um cobertor e afastou um pouco a cadeira do fogo,
mais para evitar que a luz atingisse seu rosto do que qualquer outra
coisa. Ela sabia que Raine esperou por um propósito - falar com ela a
sós.
— Já está todo mundo dormindo?
Raine acenou com a cabeça. — Você está inquieta esta noite.
— Eu simplesmente continuo sentindo como se alguém

estivesse nos observando. Eu sei que provavelmente é uma coisa
que sobrou desta manhã, mas eu não consigo me livrar disso. Bailey
colocou a cabeça dele em seu colo e Stella coçou suas orelhas.
— Eu fiz chocolate quente para você e coloquei na sua caneca

de chocolate quente. Raine entregou a ela a caneca para viagem. —
Isso deve mantê-la aquecida.
— Você quer falar sobre algo? Stella percebeu que era melhor
acabar com isso.
— Quão envolvida você está com Sam, Stella? Raine

perguntou baixinho, olhando ao redor como se as outras pudessem
ouvi-las, embora ela tivesse esperado até que estivessem dormindo
em suas tendas. Ela e Stella estavam sentadas a uma boa distância,
perto da fogueira, mas ela ainda estava preocupada.
129
Livro Único
Stella congelou. Essa era Raine. Ela sabia coisas que outros não
sabiam. — Por quê?
— Vocês dois sempre agiram como se fossem bons amigos,

mas agora Shabina me mandou uma mensagem dizendo que ele
beijou você e que você estava de mãos dadas. Parece que vocês são
mais do que amigos. Você está em um relacionamento com ele? Ou
ela estava brincando? No bar, ontem à noite, ele parecia protetor
com você.
— Ele é sempre protetor, rebateu Stella, tentando se esquivar

da pergunta. — Essa é a natureza dele.
— Não, não é Raine negou. — Não a menos que você pertença

a ele. Ele não reivindica muitas pessoas em seu círculo. Nem mesmo
nós, e já estamos com ele há alguns anos.
Stella inclinou a cabeça e estudou o rosto de Raine à luz do

fogo que diminuía. — Você tende a fazer uma verificação de
antecedentes em qualquer pessoa que se aproxime de nós. Você fez
um nele? Ela estava curiosa. Se Raine tivesse, ela nunca teria
compartilhado.
Raine balançou a cabeça e novamente olhou ao redor, sua

expressão cautelosa. — Não.
— Por que não? Aposto que você sabe mais sobre todos na
cidade do que qualquer outra pessoa. Por que não Sam? Por que
você não iria checá-lo, especialmente porque está claro que você não
confia nele? Stella tentou não soar agressiva ou beligerante.
Essa era Raine. A amiga dela. Ela conhecia Raine a mais tempo
do que Sam, e Raine sempre foi intensamente leal. Se Raine tinha
algo a dizer, Stella precisava ouvi-la, não importa o quanto ela
quisesse estar com Sam. Denver a avisou sobre Sam, mas ela não
tinha certeza do que ele estava tentando dizer. Raine seria sincera e
130
Livro Único
não haveria nenhuma mensagem oculta. Stella pode não querer

ouvir, e pode ser doloroso, mas Raine não teria essa intenção.
Raine franziu a testa. — Não, não é uma questão de confiança,

Stella. Você está me interpretando errado. Você é minha amiga e não
quero que se machuque. Sam é o tipo de pessoa com quem você
pode contar se estiver em seu círculo, e seu círculo será
extremamente pequeno. Ele nunca deixará muitas pessoas entrarem.
Se você for um deles, considere-se com sorte porque ele a defenderá
com a vida. Ele nunca vai mentir para você e vai ficar.
— Mas. Eu ouço um ‘mas’. Há uma razão para você não ter

feito uma verificação de antecedentes dele, Raine. E há uma razão
para você estar me avisando sobre ele, porque isso é um aviso, não
é? Stella se obrigou a prosseguir com a conversa quando sabia que
Raine teria parado ali mesmo. Raine não se intrometia. Ela não
entrou em nenhuma de suas vidas quando ela poderia facilmente.
Ela não fofocava e guardava confidências.
Raine suspirou e empurrou seu longo cabelo com mechas de

sol, um raro gesto de nervosismo. — Eu sabia que não teria
encontrado nada sobre ele e não queria disparar um alerta se
alguém estivesse procurando por ele. Ela hesitou. — Homens como
ele têm alertas definidos para qualquer coisa assim em seus
registros. Eles sabem quando alguém está tentando encontrá-los. Ele
terá amigos que o avisarão se alguém estiver procurando por ele.
Não quero uma visita no meio da noite.
O coração de Stella parou. — O que isso significa Raine?
Raine esfregou a mão na perna e olhou em direção ao lago. —

Ele obviamente veio aqui apenas para viver sua vida, Stella. Ele quer
ficar sozinho. Se eu chamasse a atenção para ele, ele não ficaria
muito feliz e eu não poderia culpá-lo. Ele cumpriu sua pena.
131
Livro Único
— Denver me disse que ele é o que algumas pessoas no

exército chamam de ‘fantasma’. Ele mais do que deu a entender
que Sam limpou a bagunça, não apenas para os militares, mas
também para outras agências.
Stella manteve o olhar grudado no rosto de Raine. Raine não

tinha a cara de pôquer de Viena, e agora ela estava muito
desconfortável.
— Como Denver saberia o que Sam fez por qualquer agência,

Stella? A menos que Sam tenha contado a ele - e você e eu sabemos
que Sam nunca faria isso - Denver não sabe de nada. Estou apenas
dando uma facada no escuro e fazendo isso como sua amiga, porque
quero que você tenha muita certeza antes de entrar em um
relacionamento com ele. Não estou dizendo que é uma coisa ruim,
apenas que você precisa saber com quem está. Você tem esse direito.
— Devo ter medo de um homem assim?
— Você tem medo de Sam? Raine olhou diretamente para ela.
Stella não respondeu imediatamente. Raine merecia uma

resposta real. Stella pensou em todas as vezes que esteve sozinha
com Sam nos últimos dois anos. Ela estava com medo dele? Ela
havia considerado que ele, como todo mundo, poderia ser o
assassino em seus pesadelos quando ela precisava excluir os
suspeitos, mas ela não tinha realmente acreditado que ele pudesse
ser o assassino em série.
Ela balançou a cabeça. — Não, eu nunca tive medo dele. Ele

me faz sentir segura.
Raine acenou com a cabeça. — Então você tem sua resposta,

Stella, e eu tenho a minha. Eu não preciso fazer uma verificação de
antecedentes dele.
132
Livro Único
— Na verdade, não quero que você faça um. Eu não estava

pedindo para você fazer um, só me perguntei por que você não fez.
— Porque ele é um homem perigoso e não vou me envolver

com ele. Eu também acho que ele mais do que merece começar uma
nova vida, o que ele fez aqui.
Stella deu um gole no chocolate quente. — Você fez uma

verificação de antecedentes sobre mim? Ela manteve a voz baixa,
parecendo calma, mas seu coração batia tão rápido e seu peito doía a
ponto de que ela estava com medo de saber como é a sensação de ter
um ataque cardíaco.
Raine suspirou e acenou com a cabeça, sem desviar o olhar

dela. — Eu sinto Muito. É um perigo que acompanha meu trabalho.
Na verdade, tenho que fazer verificações de antecedentes das
pessoas com quem saio. Eu te conheço há muitos anos, Stella. Nunca
disse nada a você ou a qualquer outra pessoa. Posso guardar
segredos e guardei os seus.
— Mesmo das nossas amigas? Stella gesticulou em direção às

tendas.
Raine franziu o cenho para ela. — Claro. Não é da conta de

ninguém. Se você decidir contar a alguém, cabe a você decidir, não a
mim, a ninguém mais.
Stella não tinha certeza se sabia como se sentir sobre Raine

saber quem ela realmente era, ou o fato de que seu pai era um
assassino em série. Ela sentiu a cor se espalhar em seu rosto e estava
grata que a noite tinha escurecido e ela estava sentada longe o
suficiente da fogueira para que as chamas não estivessem jogando
luz em seu rosto. Raine sempre a aceitou, e ela mostrou intensa
lealdade a ela, mas apenas saber que ela realmente era com seu
passado feio, era desconcertante.
133
Livro Único
Era assim que sempre começava no passado, uma pessoa

sabendo e então sua vida virando de cabeça para baixo. Os
sussurros. O aspecto. Um circo da mídia. Isso era tão injusto colocar
em Raine. Ela sabia há anos e nunca disse uma palavra até mesmo
para suas amigas mais próximas.
Raine pigarreou. — Não sei ao certo que tipo de trabalho Sam

fez. Não gosto de especular, mas digamos que Denver está certo
sobre ele e ele é um desses fantasmas, por falta de uma palavra
melhor. Ela apertou os lábios e novamente olhou em volta e até
olhou para o ar como se um drone pudesse estar pairando.
Stella endireitou o corpo, todos os pensamentos de alguém

descobrindo sobre seu passado se foram. Se Raine estava tão
nervosa, deveria haver uma razão. Raine não ficava nervosa, a
menos que estivesse escalando em certas alturas e tivesse um ataque
de pânico ou xingasse como um marinheiro.
— Homens nessa linha de trabalho geralmente não vivem

muito não porque não sejam bons no que fazem, mas porque são.
Eles fazem inimigos. Eles são enviados por todo o mundo para
derrubar grandes alvos e, como tal, têm informações que nunca
podem ser reveladas ao público. Eles são treinados em métodos de
interrogatório e assassinato e são realmente como os fantasmas que
Denver os chamava. Se eles forem enviados atrás de você, eles não
param.
Stella ficou muito quieta. — Não deveria Sam estar me

dizendo essas coisas? Não foi isso que você disse?
— Sim, se ele é uma dessas pessoas, e eu não sei se ele é. Mas

alguém tentou matá-lo esta manhã de uma forma muito estranha.
Ele estava pescando, Stella, e eles colocaram o equipamento de
mergulho e nadaram em água muito fria, o que faria com que
parecesse um acidente. Um homem que fez o tipo de coisa que fez
por seu país fez inimigos, Stella. Esses inimigos não paravam de
134
Livro Único
procurá-lo. Eles podem encontrar maneiras de colocar alertas em

seus arquivos para que se alguém como eu fizesse uma verificação
de antecedentes sobre ele, isso poderia denunciá-lo. Se o
encontrassem, enviariam um assassino para matá-lo. Se ele for o que
Denver pensa, ele pode ter um alvo nas costas, e se você estiver em
um relacionamento com ele, isso a torna potencialmente vulnerável
também.
Raine colocou as mãos na frente dela, espalhando bem os

dedos. — Não estou tentando assustar você para longe dele, porque
realmente não sei nada sobre ele, mas talvez você devesse perguntar
imediatamente, Stella. Ele poderia ser apenas um veterano que
passou por momentos difíceis e quer ficar sozinho.
— Esse assassino mataria outros, fazendo com que as mortes

parecessem acidentes, a fim de encobrir o que eles fizeram? Sam não
indicou de forma alguma a Stella que achava que o assassino o
visava especificamente. E como ele poderia ter? Sam não deveria
estar lá. Mas Raine continuou olhando para o céu. Isso significava
que alguma agência tinha a capacidade de vigiá-los? Eles poderiam
encontrar Sam dessa maneira? Stella prendeu a respiração.
Raine franziu a testa. — Não, por que deveriam? Eles

mandariam um profissional. Ele acertaria seu alvo e sairia. Ninguém
seria mais sábio. Se houvesse uma testemunha, ele poderia ter que
matar a testemunha também, mas não, ele não mataria
indiscriminadamente um monte de outras pessoas. Fantasmas não
são assassinos em massa. Eles eliminam alvos específicos que são
ameaças à segurança nacional. Chefes de cartéis de drogas ou
células terroristas. Eles não matam simplesmente ninguém, Stella.
Alguém enviado atrás deles em retaliação não gostaria que a
atenção fosse atraída por eles.
Um assassino enviado para matar Sam não saberia antes do

tempo que ele estaria no acampamento que ela escolheu para
135
Livro Único
prevenir um assassinato. Sam não mencionou a possibilidade

porque não era uma possibilidade.
— Não havia nenhuma maneira de um assassino saber que

Sam estaria aqui, Raine, ela apontou logicamente. — Não é como se
ele pescasse regularmente.
— A menos que eles já o estivessem seguindo ou olhando para

ele, o que é uma possibilidade, Raine persistiu. — Só estou dizendo
que você pode precisar de uma conversa, Stella.
Stella acenou com a cabeça e tomou outro gole de chocolate

quente. — Obrigado, Raine. Agradeço por falar comigo sobre Sam.
Você sabe que sou cautelosa com relação aos relacionamentos. Há
dois anos que dançamos em torno um do outro. Sempre fui atraída
por ele.
— Qualquer um poderia ver que a química estava lá, Raine

admitiu com um pequeno sorriso. — O resto de nós estava
apostando se você estava dormindo secretamente com ele ou não e
simplesmente não admitia isso.
A sobrancelha de Stella se ergueu. — Mesmo? Não, fui

cuidadosa. Eu não queria estragar o que tínhamos. Além disso, ele
teve que dar o primeiro passo.
Raine balançou a cabeça com aquele pequeno sorriso ainda em

seu rosto. — Como ele deveria fazer isso quando você estava tão
fechada?
Stella não podia negar que sim. Ela era bastante fechada para
todos.
— Mas ele se mexeu? Raine perguntou.
Stella acenou com a cabeça. — Ele indicou que gostaria de algo

mais.
136
Livro Único
Depois do que Raine e Denver disseram sobre Sam

possivelmente ser um desses fantasmas e fugir, como eles poderiam
ter um relacionamento real? Isso deixou de fora a possibilidade de
um futuro real. Ele teria que ser capaz de pegar e ir ao primeiro sinal
de que alguém o havia encontrado. Ela amava seu resort.
Ela construiu uma casa aqui e trabalhou duro para isso. Ela
amava as serras orientais. Nunca haveria filhos se eles os quisessem,
porque não podiam correr com crianças. Sam não havia indicado
nenhuma vez que haveria um problema. Ela definitivamente
precisava falar com ele.
— Eu estou indo para a cama, Raine disse. — Obrigado por me

deixar dizer minha opinião sem ficar chateada, Stella.
— Obrigado por se importar o suficiente para dizer isso. Stella

sabia que Raine estava preocupada em arriscar sua amizade, mas ela
ainda tinha ido em frente, declarando suas preocupações.
Stella ficou sentada por um longo tempo sozinha enquanto as

chamas da fogueira se transformavam em cinzas vermelhas. Nuvens
flutuavam acima, ocasionalmente bloqueando a lua e depois
avançando. Ela continuou coçando as orelhas e a cabeça de Bailey, e
então o acariciando até que ela finalmente ficou com tanto sono que
teve que se retirar para sua tenda.
Viena recebeu uma ligação logo de manhã. James Marley,

um morador local, não voltou para casa nem atendeu ao celular. Ele
tinha setenta anos e quatro filhos, três filhos e uma filha. Ele tinha
sete netos. Ele ligava para os netos todos os dias, mesmo que fosse
apenas por alguns minutos. Ele frequentemente os levava para
pescar - seu passatempo favorito.
137
Livro Único
James foi pescar na manhã do ataque a Sam e não teve notícias

dele desde então. Sua filha, Sadie, tinha ido procurá-lo quando ele
não tinha ligado como sempre. Ela foi a vários de seus locais de
pesca favoritos e finalmente encontrou sua caminhonete, mas ela
não o encontrou. Ela chamou seus irmãos e eles largaram tudo e
vieram de uma vez, procurando a área e o lago perto de onde seu
caminhão estava, mas não conseguiram encontrá-lo. Eles alertaram
o xerife, que ligou para a Busca e Resgate.
Stella dispensou Raine e Vienna, dizendo-lhes que

desmontaria as tendas e as levaria de volta para o resort. Ela teve
uma sensação ruim na boca do estômago. O assassino nadou direto
de Sam para James e o matou? A que distância James estava da
localização de Sam? Ela não tinha ideia.
Ela se sentiu culpada. Não havia ocorrido a ela que o assassino

poderia simplesmente abandonar uma vítima por outra. Ela
esperava que ela estivesse errada e James estivesse apenas em
algum lugar, mas ela sabia melhor. Aquela sensação terrível em seu
intestino disse a ela que ele foi à primeira vítima do assassino em
série ali em sua amada comunidade.
Capítulo 07
Stella estava sentada em sua poltrona favorita, pendurada

no teto de sua varanda com vista para o lago. A essa hora da noite,
todos os barcos estavam chegando e a marina estava silenciosa. A
maioria das pessoas passou a noite nas cabines. Alguns festeiros
pesados estavam indo bem, o que sempre a preocupava. Álcool e
água não se misturavam, especialmente à noite. Se um dos festeiros
decidisse nadar sozinho ou simplesmente entrasse no lago, ela
notificaria o xerife pela manhã sobre outro afogamento.
138
Livro Único
Já era ruim o suficiente que James Marley ainda estivesse

desaparecido. Vienna e sua equipe de resgate, incluindo Sam,
saíram dois dias seguidos procurando por ele no lago. Stella não
queria que outras mortes acontecessem especialmente se fossem
evitáveis. As temperaturas do lago eram inesperadamente baixas,
mesmo para a época do ano. Ela alertou aqueles que saíam em
barcos e aqueles que pescavam, mas os festeiros às vezes insistiam
que eram “como ursos polares” e podiam correr nus para o lago. As
duas cabines fazendo tanto barulho vinham dando-lhe dores de
cabeça por várias noites. Ela ficou feliz em saber que eles partiriam
para suas casas na cidade em dois dias. Depois que eles foram
embora, eles estavam fechando e dando um suspiro de alívio
porque a temporada havia acabado. Eles teriam um descanso por
um tempo.
— Ficarei feliz em ver o último deles irem embora, ela

murmurou, balançando sua cadeira suavemente.
Sam virou a cabeça ligeiramente para seguir sua linha de

visão. — Eu pedi para Patrick e Sonny ficarem de olho neles à noite
e fiz questão de fazer rondas extras eu mesmo. Vamos tirá-los daqui
inteiros. Os dois seguranças ainda estavam trabalhando juntos no
turno da noite, mas assim que o último de seus convidados fosse
embora, os guardas temporários iriam para casa e Sonny ficaria no
turno da noite e Patrick no turno do dia.
Sam usava jeans puídos com um suéter escuro de malha larga.

Ela podia ver o topo de sua camiseta escura sob o suéter. Sua jaqueta
estava aberta, mostrando o grosso forro sherpa. Seu cabelo caiu em
sua testa, apenas um pouco rebelde, e seus olhos brilharam para ela
na escuridão. Ele parecia como sempre, mas diferente porque agora
ela estava ainda mais ciente dele.
— Você nunca dorme muito. Você não é um segurança, Sam.
139
Livro Único
— Eu não preciso dormir muito. Eu nunca preciso. É apenas

uma coisa comigo desde que eu era criança. Deixava minha mãe
maluca.
Ele nunca mencionou sua mãe, mas então, até outro dia, ela
nunca havia mencionado a dela. Ela percebeu que agora era um
momento tão bom quanto qualquer outro para revelar as coisas.
— Sam, não gosto de me intrometer no seu passado, isso

pertence a você. É que algumas pessoas mencionaram algo para
mim que é um pouco preocupante em seguir em frente... Ela
cochilou.
Ela detestava esse tipo de conversa. Ela preferia que ele

oferecesse seu passado da maneira que ela tinha não que ele fosse
forçado a contar. Ainda assim, ela não queria entregar seu coração a
ele e então ter seu mundo de cabeça para baixo. Talvez já fosse tarde
demais. Ela se abriu para ele de uma forma que ela não tinha feito
nem para seus amigos, e isso a apavorou.
Seus olhos escuros percorreram o rosto dela com aquela

gentileza surpreendente que ele parecia reservar apenas para ela. —
Mulher.
— Homem. Foi uma resposta automática.
— Mulher. Não me irrite.
Ela se pegou rindo, apesar da seriedade do que sentia.
— Alguém sugeriu que você poderia ser algo chamado de

'fantasma' e que estava fugindo do governo. Você me pediu para
pagar por baixo da mesa e me disse que tinha certas habilidades.
Certo, não perguntei se você estava pensando em apenas fazer sexo
ou se estávamos considerando mais um relacionamento exclusivo e
permanente, mas acho que estava pensando nesse sentido. Eu não
deixo as pessoas entrarem no meu mundo e não o faria apenas por
140
Livro Único
sexo. Quer dizer, eu posso fazer sexo com você, sem toda a conversa
franca.
Ela não era boa nisso, não quando ela não queria questioná-lo
em primeiro lugar. Ela não tinha problemas para abordar qualquer
assunto quando ela sentiu que era necessário, mas isso parecia
errado - como se ela ouvisse fofocas e exigisse respostas dele.
— É só que, se fosse verdade, e essas pessoas estão caçando

você, Sam...
Ele balançou sua cabeça. — Eu não sei como esses boatos de

merda começam querida. As pessoas gostam de estar por dentro e
inventam merda apenas para serem importantes. Havia um mero
toque de escárnio em sua voz. — Se as agências governamentais
querem rastrear uma pessoa hoje em dia, elas podem fazer isso.
Mesmo alguém com minhas habilidades acabariam sendo pego.
Sim, trabalhei para o governo, mas estou de acordo com eles. Nem
sempre muito comigo. Às vezes é difícil dormir à noite. Quanto à
agência para a qual trabalhei, eles sabem onde me encontrar.
Ocasionalmente, eles ainda perguntam se vou ajudá-los. Eu sempre
digo não e eles respeitam isso. Eu cumpri meu tempo. Eles não vão
enviar algum jovem assassino atrás de mim. É um bom filme, mas
não é a realidade.
Stella abraçou os joelhos contra ela enquanto a cadeira de

ovo20 balançava levemente. O luar se espalhou sobre o lago,
destacando a superfície de forma que parecia brilhar como vidro. A
noite poderia ter sido tranquila se a música das duas cabines não
estivesse muito alta. A conversa aumentaria, gargalhadas
estrondosas ecoariam pela água até a varanda e então o som seria
abafado, como se os festeiros tivessem entrado ou fechado às portas
por um momento.
20
Cadeira de balanço personalizada.
141
Livro Único
Sam se apoiou na grade, os braços cruzados sobre o peito, as

pernas esticadas, parecendo relaxado quando ela sabia que ele
estava ciente de tudo ao seu redor. Talvez tenha sido isso que a fez
se sentir segura. Bailey se apertou contra ele. Desde o início, Bailey o
aceitou, e seu cachorro aceitava poucas pessoas como família.
— Quanto a nós dois e o que estamos construindo juntos,

espero que estejamos na mesma página. Eu quero um futuro com
você em qualquer capacidade que eu puder.
O estômago de Stella se acomodou bem. Denver estava

bebendo quando deu sua teoria sobre fantasmas e Sam. Ele
normalmente não bebia muito, e isso não o impediu de ser amigável
com Sam no momento em que os dois tiveram que enfrentar Sean e
Bale quando eles estavam lançando insultos contra Shabina na pista
de dança. Denver pareceu esquecer tudo sobre seus terríveis avisos
depois disso.
Por outro lado, o que Raine disse? Raine não era dada a
fantasias, mas ela não tinha realmente dito que Sam era uma dessas
pessoas ou que o governo estava procurando por ele. Ela havia dito
que era mais provável que ele tivesse inimigos procurando por ele,
inimigos feitos enquanto trabalhava para o governo. Isso fez
sentido.
— Você não se importa em estar com uma mulher que

ocasionalmente pode ter pesadelos e dizer que há um serial killer à
solta? Ela tentou amenizar o assunto, mas de repente sentiu um nó
na garganta e seu estômago doeu como o inferno. Raine pensou que
Sam poderia ter inimigos, mas ela não era um prêmio. Ela sempre
teria a maldição de saber se um assassino estava muito perto.
Sam se moveu então, daquele jeito lento e fluido que ele tinha
feito, endireitando-se da grade, cobrindo os poucos metros que os
separavam para ficar com as pernas bem apoiadas na cadeira de ovo
de modo que todo movimento cessasse. Ele se abaixou,
142
Livro Único
emoldurando o rosto dela com as mãos grandes, olhando-a bem nos

olhos. — Eu disse a você, Stella, e falei sério. Vou levá-la de
qualquer maneira que eu puder. Você me aceita do jeito que sou.
Não te incomoda que eu mesma esteja um pouco quebrado. Você
não precisa que eu fale o tempo todo. Você apenas me deixa em paz.
É um presente raro. Você é um presente raro.
Seu polegar deslizou sobre seu lábio inferior, uma carícia

quase imperceptível, mas foi intensa e íntima, assim como cada
toque com Sam. Talvez ela tenha se apaixonado tanto por ele porque
Sam sabia quem ela realmente era não a máscara atrás da qual ela se
escondeu aquela pessoa que ela criou. Ele a conhecia totalmente, até
mesmo as partes feias e apavorantes, e parecia aceitá-las nela.
Ela não sabia quem se inclinou primeiro. Pode ter sido ela. Ele
era tão atraente. A próxima coisa que ela soube, ela estava de pé, seu
corpo apertado contra o dele, sua boca colada à dele, sua mão na
parte de trás de sua cabeça, segurando-a enquanto o fogo queimava
brilhante e quente e fora de controle.
Ninguém nunca a beijou como Sam. O mundo desapareceu e a

única âncora que ela tinha eram os punhos agarrados à camisa dele.
Havia algo lindo e surreal que veio com aquela onda de fogo, cada
terminação nervosa em seu corpo respondendo a ele, ganhando vida
para ele. Ela estava viva. A verdadeira Stella. Pequenas faíscas de
eletricidade pareceram saltar por toda a pele dela para formar um
arco sobre a dele e saltar de volta para ela. Ela sentiu a atração dele.
A maneira como seu corpo ficou sem ossos e ela parecia derreter
nele porque o fogo tinha ficado muito quente.
Sam levantou a cabeça primeiro, seus braços a firmando. —

Vamos levar isso para dentro antes que não possamos parar Stella.
Ela não estava totalmente certa de que poderia andar com as

pernas bambas, mas não precisava. Ele apenas a ergueu facilmente,
embalou-a contra seu peito e carregou-a para dentro. Stella não
143
Livro Único
tinha certeza se ela realmente flutuou para o quarto ou se ele

realmente a carregou, mas ela sabia que havia um fogo rugindo na
boca do estômago e lava derretida correndo em suas veias no
momento em que ele a colocou no chão. Suas mãos estavam
tentando desesperadamente encontrar a bainha de sua camiseta
para tirá-la dele. Ela precisava de contato pele a pele. Ele sempre foi
tão caloroso. Quente. Um fogo violento para combinar com o de
dentro dela.
Então ela teve o que ela queria - o que ela precisava. Apenas os
dois. Finalmente. Ela deveria saber que ele era apenas o jeito que ele
era fora do quarto. No comando. Paciente. Especializado. Generoso.
Exigente. Ele acreditava em queimar lentamente e em um calor
intenso de fogo. Ele era intenso, meticuloso e muito Sam. Ele não
falava muito verbalmente, era tudo com o corpo, e ele falava muito
bem. E ele disse tudo que ela precisava e queria que ele dissesse e
muito mais.
Stella se apoiou no parapeito e olhou para o lago. Bailey, o

cão traiçoeiro, estava com Sam, o que realmente não a surpreendeu.
Ela deveria estar feliz que Sam caminhou tanto pela propriedade,
fazendo com que certos foliões bêbados não caíssem no lago e se
afogassem. Ele não os deixou sacar armas e atirar no céu em alguma
celebração bizarra.
Sam não gostava de lidar com os convidados, mas podia

consertar qualquer coisa. Ele nunca cuidaria dos impostos ou do
lado comercial do resort, mas garantiria que a segurança fosse
rigorosa e que tudo estivesse funcionando nas melhores condições.
Se as estradas precisassem ser aradas, Sam faria isso. Ela passou a
confiar nele em pouco tempo, mesmo sem perceber.
144
Livro Único
Ela sempre amou a noite e nunca se sentiu nem um pouco

nervosa ou ansiosa quando estava sozinha até que seu pesadelo a
acordou. Sam ajudou a aliviar isso, mas por alguma razão, ela sentiu
um arrepio repentino descer por sua espinha e arrepios. A sensação
era a mesma que no local de pesca, quando ela pensou que alguém
estava olhando.
Endireitando-se lentamente, Stella caminhou até a escada e

assobiou para Bailey. Ele viria até ela no momento em que ouvisse
aquele apito, não importava o que acontecesse. Ela se sentiria mais
segura sabendo que ele estava perto. Ela avançou seu caminho para
as sombras, desejando ter trazido seus binóculos noturnos. Ela não
estava com a luz da varanda acesa, mas isso não significava que se
alguém estivesse lá fora, não a veria mesmo no escuro. Eles
poderiam ter binóculos de visão noturna tão facilmente quanto ela.
Ela esperou, ficando cada vez mais inquieta. Os minutos

pareceram passar lentamente. Se realmente houvesse alguém lá fora,
Sam saberia. Ele tinha algum tipo de sexto sentido sobre esse tipo de
coisa. Ele não estava no acampamento quando ela sentiu olhos
neles. E se alguém o tivesse machucado? E se ele estivesse deitado
em algum lugar machucado agora? Ou no lago? A água fria? Sua
imaginação estava levando o melhor e ela teve que parar. Bailey
soaria o alarme.
Ela respirou fundo várias vezes. Ela havia treinado para isso.
Ela sabia como usar uma arma. Ela foi treinada em autodefesa. Ela
poderia usar uma faca se necessário, ou pelo menos fazer o seu
melhor para se defender contra um ataque de faca, sabendo que
seria cortada. A preparação para essas situações nem sempre se
transfere para a realidade das circunstâncias. Ela esperava que sim.
Ela fazia trilha e escalava e ela treinou para esses esportes. Ela
particularmente amava o boulder. Ela teve o cuidado de manter o
corpo em boa forma e fazer o possível para saber o que estava
fazendo ao escalar. Ela não decidiu apenas escalar uma montanha,
145
Livro Único
ela treinou para isso. Stella esperava que o mesmo cuidado que
aplicou à trilha e à escalada também fosse aplicado em seu
treinamento para qualquer situação em que pudesse se deparar no
que se referia à autopreservação. Ela foi ao alcance de armas duas
vezes por semana. Ela tinha um instrutor de luta corpo a corpo, bem
como um instrutor de armas com quem ela treinava três vezes por
semana. Com sorte, a corrida que ela odiava e todo o trabalho de
preparação física que fazia de manhã e à noite a colocariam em boa
posição contra um atacante.
Bailey repentinamente saiu da escuridão, correndo escada

acima para pressionar o nariz contra ela. O alívio que ela sentiu foi
tremendo. Ela colocou as duas mãos em seu pelo e se agachou ao
lado dele. — Baby, você voltou para mim. Onde está o Sam? Ele está
bem?
— Bem aqui, querida. A voz de Sam era suave, vindo para ela
no meio da noite. Ele não estava na varanda, e sim embaixo dela,
apenas olhando para ela através dos trilhos. Ele não parecia sem
fôlego, mas estava claro que ele havia corrido ou andando rápido
para voltar para ela.
— Alguém está lá fora me observando. Posso senti-lo - avisou

Stella, certa disso, mantendo Bailey entre ela e a porta para o caso de
o observador estar com binóculos.
— Eu acredito que você está certa, disse Sam. — Não consigo

localizá-lo e nem Bailey.
Ela estava grata por ele não ter tentado mimá-la. Ela teria
odiado isso. — Será que ele está na água? Em um barco?
— É possível. Ele poderia estar em qualquer uma das

pequenas enseadas rochosas que olham diretamente para esta casa
se ele tiver binóculos. Ou ele pode estar em uma das cabines. Bailey
foi comigo várias vezes ao redor das cabines vazias, verificando-as,
mas não encontramos nada.
146
Livro Único
— Quando você acordou, sabia que alguém estava vigiando,

por isso chamou Bailey, adivinhou Stella.
— Sim. Dormi cerca de duas horas e quando me levantei para

fazer minha ronda, levei-o comigo. Eu não achei que você se
importaria. Eu tranquei você, não que você tenha ficado. Ele
balançou levemente a cabeça. — Deveria ter deixado um bilhete
para você.
— Você acha que é o assassino?
— Por que ele estaria te observando? Ele não pode saber sobre
seus pesadelos, Stella.
— Porque eu estava lá no lago e o impedi de matar você.
O punho de Sam cerrou-se em torno dos grossos fusos que

formavam o corrimão sofisticado da varanda. — Pode ser isso. Você
chamou a atenção para si mesmo ao mergulhar em um lago gelado
para me salvar.
— Eu não poderia saber que você não tinha sido nocauteado,

Sam, e que você tinha uma faca e estava prestes a matá-lo.
Ele estendeu a mão e segurou o lado de seu rosto. — Eu soei

chateado com você em vez de grato? Porque acredite em mim, Stella
estou muito grato por você se importar o suficiente para colocar sua
vida em risco por mim.
— Acho que me sinto culpada por atrapalhar. Ela gesticulou

em direção ao lago nas costas de Bailey. — Ele ainda está lá fora. Se
ele realmente matou James Marley e fizer o que os outros dois
assassinos que encontrei fizeram, ele matará novamente em breve.
Se eu não tivesse atrapalhado seu caminho, talvez você pudesse tê-
lo impedido.
— Você não pode pensar assim, Stella, e você sabe disso. Sam
suspirou. — Está muito frio aqui. Vá com Bailey. Vou dar a volta
147
Livro Único
por trás e entrar por ali. Não vamos encontrá-lo esta noite, seja ele
quem for, e não adianta perder mais o sono por causa dele.
— Você não precisa dormir na minha casa se ficar mais
confortável em sua cabana, Sam - Stella se forçou a dizer. Ela se
sentia muito mais segura com ele ali, mas só porque ele tinha feito
amor com ela uma vez, ela não queria que ele pensasse que ela
estava presumindo que ele gostaria de ficar com ela.
— Estou com meu equipamento aqui e há quartos muito

confortáveis, Stella, se você não me quiser em seu quarto. Não se
preocupe comigo. Prefiro que estejamos juntos enquanto tudo isso
está acontecendo.
Ela assentiu, sem saber se gostou de sua resposta. O que isso

significa? Que ele iria embora quando tudo acabasse? Que ele não
queria mais ficar na casa principal? Quando ela se tornou alguém
que não apenas apareceu e perguntou? Por que ela estava tão
relutante? Porque ela não era boa em relacionamentos. Por que ela
simplesmente não disse a ele que queria que ele dormisse em seu
quarto?
Ela tinha sido amiga de cinco mulheres por vários anos e

nenhuma delas sabia quem ela realmente era. Isso deve dizer a ela
algo bem ali. Raine não contava porque ela não sabia que Raine
estava ciente de sua verdadeira identidade. Mesmo Zahra, sua
melhor amiga, não sabia quem ela era. Ela não revelou nada de seu
verdadeiro eu. Ela era cautelosa e cuidadosa o tempo todo.
Ela se levantou, murmurando para Bailey ficar ao seu lado,

não querendo que o cachorro denunciasse a presença de Sam. Uma
vez lá dentro, ela se encostou na porta pesada e esperou, sem armar
o sistema de alarme, sabendo que Sam faria isso quando entrasse
pelos fundos. Ela não acendeu as luzes porque essa foi à primeira
coisa que lhe ensinaram. Se as janelas estivessem acesas, quem quer
que esteja do lado de fora poderia ver o interior, e ela não poderia
ver o exterior.
148
Livro Único
— O que você está fazendo, Stella?
Ela quase pulou fora de sua pele, embora ela estivesse

esperando por ele. Ela colocou a mão sobre o coração que batia
descontroladamente, pressionando com força. A casa estava muito
mais quente do que do lado de fora, e seu suéter estava quase
quente demais. Pode ter sido que Sam tivesse chegado muito perto
dela, elevando-se sobre ela.
— Estou apenas pensando. Ela olhou para ele. — Eu realmente

confio em você por aqui. Eu não percebi o quanto.
Seus olhos escuros percorreram o rosto dela. — Como isso é

um problema? Ele estendeu a mão para ela. — Sou um tipo de
homem confiável.
Ela se viu olhando para a palma da mão dele. Havia uma

cicatriz estranha nele. Ela colocou a mão na dele e o deixou fechar os
dedos nos dela. Sua mão era grande e envolveu completamente a
dela. Ele a puxou para o quarto e indicou a cama.
— Você se troque e eu farei um chocolate quente para você.

Isso sempre faz com que você volte a dormir.
Stella o observou sair e, em seguida, tirou o moletom e vestiu

o pijama fino. Ela não gostava de roupas pesadas à noite. Era
estranho o quanto Sam sabia sobre ela. Quando ele descobriu que o
chocolate quente a ajudava a dormir, especialmente se ela estava
inquieta? Ele sempre sabia quando ela estava tendo um dia ruim,
mesmo que eles não tivessem se visto. Era estranho como ele estava
tão sintonizado com ela. A única outra pessoa que chegou perto de
conhecê-la tão bem foi Zahra.
Ela se sentou no meio da cama, perto da cabeceira da cama, e

pensou no que faria se Sam fosse embora. Ela fizera isso algumas
vezes ao se preocupar com a possibilidade de Zahra decidir se
mudar para algum lugar. Ela sabia que às vezes Zahra se
149
Livro Único
preocupava por não ser tão livre do passado quanto pensava e

sentiria o desejo repentino de correr. Stella sabia apenas parte de sua
história, que os pais de Zahra haviam arranjado um casamento para
ela - uma prática comum em sua pequena aldeia - e ela havia fugido.
Stella sabia que as consequências eram terríveis e Zahra nunca
poderia voltar, nunca poderia ver sua família. Eles a rejeitaram.
Sempre que pensava em perder Zahra, entrava em pânico, da
mesma forma que sentia pânico ao pensar em perder Sam.
— O que está acontecendo, Satine? Sam perguntou,

entregando-lhe uma caneca de chocolate. — Fale comigo.
Ela fez uma careta para ele. — Relacionamentos são difíceis

quando você nunca os teve.
Ele pegou a cadeira do outro lado da sala dela, espalhando

suas longas pernas na frente dele. Ela tinha certeza de que ele não
estava bebendo chocolate quente em sua caneca.
Ela encolheu os ombros, tentando ser casual. — Eu confio em

você de várias maneiras. A ideia de você ir embora me assusta um
pouco.
Ele tomou um gole de sua caneca e a olhou através do vapor.

— Por que você acha que eu iria embora?
— Não sei. Todo mundo vai embora, não é? Isso soou coxo e
nada parecido com ela. Ela era honesta e queria honestidade entre
eles. — Eu não entendi quando você disse que preferia que
ficássemos juntos enquanto isso está acontecendo. Isso implica que,
quando isso acabar, você pretende seguir em frente.
Seus olhos escuros mantiveram os dela cativos. — Querida,

tente acompanhar. Estou nisso por um longo tempo. Eu deixei isso
muito claro com você. Mudei-me para sua casa a fim de mantê-la
segura e estar aqui se esses pesadelos persistissem, para não
incomodá-la. Não quero que pense que espero nada de você. Eu
150
Livro Único
prefiro ficar? Sim. Espero que eu consiga seduzi-la para me deixar

ficar em sua cama com você antes de me expulsar. Se isso não
acontecer, vou precisar trabalhar um pouco mais.
Tudo bem então, chega de inseguranças.
— Viena encontrou o corpo, disse Denver. Ele colocou a

mão no ombro de Vienna em simpatia enquanto explicava a Stella o
que acontecera no terceiro dia da busca.
Vienna manteve a cabeça baixa, olhando para sua bebida, seus

belos traços uma máscara ilegível. Ninguém jamais suspeitaria que
por trás daquele rosto lindo com sua estrutura óssea clássica e seu
corpo de passarela, ela poderia facilmente ser um membro da
Mensa21 e tinha várias patentes que ela vendeu, transformando suas
ideias em minas de ouro. Ela ganhava dinheiro jogando cartas em
Vegas e era apaixonada por jogar pôquer.
Ela se destacou por ser uma enfermeira de emergência e

trauma. Seu amor pelas Sierras a manteve em sua pequena cidade.
Ela era chefe de Busca e Resgate há alguns anos. Devido às suas
habilidades organizacionais, ela conseguiu obter os equipamentos e
fundos necessários para eles, bem como para novos recrutas. Esses
recrutas, como Sam e alguns outros, eram muito habilidosos em
vários terrenos.
— Temos que prestar juramento como Delegado do xerife

quando trabalhamos na equipe, ressaltou Bruce. — Eu sempre me
pergunto se Sean e Bale não serão atingidos por um raio quando
fizerem o juramento. Os dois estavam pescando no lago na manhã
do ataque a Sam. Eles retiraram o barco de Bale. O pessoal de
21
Mensa - Sociedade de alto QI criada para fomentar estudos sobre inteligência.
151
Livro Único
Griffen revistou seu barco e caminhão em busca de equipamento de

mergulho. Nenhum dos dois estava molhado, disse ele, mas quando
alguém os alcançou, o sol estava alto. Ele parecia desapontado por
Bale ou Sean não terem sido os culpados por tentar matar Sam.
— Eu sempre esqueço que eles fazem parte da Busca e

Resgate, disse Stella.
Vienna ergueu os olhos. — Bale e Edward são meninos locais e

ambos são bons na neve. Eles caçam e pescam. Eles cresceram aqui e
conhecem a área. Jason e Sean são amigos desde a faculdade e fazem
parte da comunidade há alguns anos. Eles são todos muito
próximos. Eles são sólidos quando se trata de resgatar,
especialmente Bale e Edward. Eles são todos negócios.
Denver concordou. — Isso é verdade. Por mais que me irritem

às vezes, nunca durante uma missão real de busca e resgate. Todos
eles conheciam James Marley. Todos nós fizemos.
— Ele era um bom homem, Raine disse. — Amava sua família.

Não tem como ter sido um acidente, não sendo da mesma forma que
Sam foi atacado. Eu olhei para as rochas onde ele estava pescando.
Griffen tirou várias fotos. Havia uma espécie de marca de
derrapagem onde parecia que uma de suas pernas deslizou ao longo
das algas na rocha.
— Eu vi isso, disse Sonny Leven, o mais jovem dos dois

seguranças do resort. Ele também havia nascido e crescido na
pequena cidade. Ele nunca saiu, nem mesmo para ir para a
faculdade. Stella sabia que ele apoiava seu pai e era por isso que ele
não tinha ido para a escola. Ele nunca teve essa oportunidade. Como
muitos, ele trabalhou em vários empregos antes de se tornar um
segurança em tempo integral em seu resort. — Havia sangue em
outra pedra onde Marley bateu com a cabeça.
Stella olhou para ele bruscamente. Ele parecia um pouco

estranho. Ela havia esquecido que ele vivia perto de James Marley,
152
Livro Único
na mesma rua dele. Ela vagamente se lembrou de que havia algum

tipo de rixa entre Marley e o pai de Leven, mas ela não sabia do que
se tratava ou quando aconteceu. Não enquanto ela estava morando
lá.
Isso foi o que eles fizeram depois que um dos resgates se

transformou em uma recuperação. Os membros se reuniram no Grill
e falaram sobre a missão em voz baixa, especialmente se conheciam
o falecido. Stella sabia que isso os ajudava a se livrar de algumas
consequências de sua dor.
— Tivemos que caminhar naqueles juncos pelo que pareceu

uma eternidade, disse Carl Montgomery. — Todos nós sabíamos
que ele estava lá e não queríamos enfrentar sua família sem trazê-lo
para casa, mas aqueles juncos estavam tão próximos, sufocando a
água e impedindo qualquer visão.
— Eu pisei nele, disse Vienna em voz baixa. — Eu me senti tão

mal pisando nele, mas foi assim que o encontrei.
Stella sentiu o pequeno estremecimento delicado que

percorreu seu corpo. Isso a chocou. Considerando todas as coisas
que Vienna enfrentou todas as cirurgias e vítimas de traumas, todos
os resgates e pessoas mortas que ela trouxe para suas famílias, ela
não esperava que sua amiga estivesse tão abalada. Ainda assim,
James Marley não era qualquer um. Ele era querido e respeitado. Ele
tinha sido um amigo.
— Um acidente é uma coisa, continuou Vienna, — mas pensar

que alguém teria como alvo um homem como James é tão feio.
— O pior de tudo é que realmente parece um acidente, disse

Harlow. Ele escorregou e bateu com a cabeça. Ele tem aquele
ferimento na parte de trás do crânio, que facilmente poderia tê-lo
deixado desorientado ou até mesmo inconsciente. Ele não tinha
sinais de luta, nada que indicasse que alguém o afogou. Ele tinha
153
Livro Único
um dedo quebrado em dois lugares, mas havia uma linha de pesca

enrolada nele. A causa da morte foi o afogamento.
— Essa linha de pesca estava em toda parte, disse Denver. —

Foi em torno dos juncos e parcialmente em torno de sua wader,
ancorando-o debaixo d'água. Parecia que ele rolou algumas vezes
com as ondas e foi isso que o envolveu.
Bale entrou e pediu uma cerveja, sentando-se a algumas

banquetas de Denver, que imediatamente o cumprimentou. — Vim
prestar homenagem ao velho, ele murmurou. — Ajudou-me
algumas vezes quando era criança.
— Sim, disse Carl, — eu tenho que admitir, ele me ajudou

também. Amava a família e ficava um pouco irritadiço à medida
que envelhecia, mas sempre fazia a coisa certa no final.
— Amava aqueles netos dele, Raine disse. — Ouvi dizer que

ele ligou para eles todos os dias. Mesmo os mais jovens. Gostava de
levá-los para pescar com ele. Ele tinha paciência com eles.
— Eu faço negócios com os filhos dele. Eles são homens bons e

honestos. Não conheço a filha dele... Carl parou de falar, como se
tivesse ouvido coisas que não queria repetir.
— Ela mente, disse Bale. — Sempre gostei, mesmo na escola.
Stella se perguntou se isso era verdade. Ela olhou para Carl.

Ela tendia a acreditar nele. Ele não respondeu, mas também não
negou.
— Por que demorou tanto para encontrá-lo? Perguntou Sonny

Leven. — Quer dizer, a família dele olhou na água em volta daquela
área porque o caminhão dele estava lá, certo? Eles procuraram antes
de nós. Por que você acha que eles não o encontraram?
154
Livro Único
— Os juncos são realmente grossos lá, Sonny, disse Vienna. —

Na verdade, não vimos o corpo e estava perto da superfície. Os
juncos o esconderam.
— Há pedras por lá também, disse Bruce. — Os juncos

sufocam tudo, então você não consegue ver as pedras. As rochas são
verdes sob a água.
— Mas a linha de pesca não estaria no topo da água onde eles

pudessem ver? Sonny persistiu.
— Você não acha que sua própria família o matou, acha? Carl
perguntou.
Sonny balançou a cabeça. — Não, é estranho que ninguém

pudesse vê-lo quando ele estava em águas rasas, mesmo com os
juncos. Ele era o mais novo membro da Busca e Resgate e estava
tentando aprender.
Stella sabia que esse era o processo deles, mas ainda assim,
isso a enjoou. Ela não sabia por que se sentia tão culpada, mas ela
sentia. Todos os resgatadores estavam sofrendo. Ela se levantou e se
afastou deles, precisando de ar fresco. Embora intelectualmente ela
soubesse que não era sua culpa, a culpa ainda pesava sobre ela. Ela
disse a si mesma que não havia como ela ter previsto que o
assassino teria corrido de tentar matar Sam direto para outro
pescador. James estava a quilômetros de distância, então havia um
barco envolvido. Barcos significavam lançamento no lago. Puxando
atrás de um veículo. Alguém deve ter visto algo - alguém. Havia
tantas pessoas naquela manhã.
Ela saiu do bar para o ar da noite. As temperaturas já estavam

caindo, principalmente à noite. Cruzando os braços sobre o peito,
ela caminhou rapidamente pela rua um pouco longe da entrada do
bar para tentar se manter aquecida. Ela não planejava ir longe.
155
Livro Único
Esta era uma cidade onde a maioria dos habitantes locais

caçava e pescava. Eles possuíam armas. Agora que um dos seus
moradores provavelmente havia sido assassinado e que o
departamento do xerife havia corrido a notícia de que ele estava
procurando alguém com equipamento de mergulho, isso não
impediu ninguém de pescar. Em vez disso, estavam pescando em
pares e todos empacotando armas e procurando pelo assassino.
Ela não tinha descido na metade do quarteirão quando Jason

Briggs, amigo de Bale, apareceu atrás dela. — Você não deveria estar
aqui sozinha, Stella. Não é seguro.
Ela se virou ao som de sua voz. De todos os amigos de Bale,

ela conhecia Jason menos. Ele raramente falava muito,
principalmente quando estava com os amigos. Ele ficou em segundo
plano. Ele tinha feito faculdade com os outros, era engenheiro e
gostava das Sierras o suficiente para querer ficar. Ele era um grande
escalador, uma das principais razões para se mudar para a área.
— Pode ficar abafado no bar. Esta noite, a equipe de resgate

está falando sobre como encontraram James Marley. Isso me deixa
muito triste por ele e sua família.
Nuvens cinzentas ameaçadoras elevaram-se em direção à lua,

empilhando-se em formações bloqueando as estrelas. O tempo
estava definitivamente mudando. O inverno estava chegando com
força total.
— Eu não o conhecia. Bale e Edward sim. Eles disseram que

ele era um cara muito legal na maior parte do tempo. Edward e ele
trocaram algumas palavras alguns meses atrás, mas isso foi dito por
sua filha. Aparentemente, ela não gostou de algo que Edward e Sean
estavam conversando no estacionamento da loja de ferragens. Ela os
ouviu e disse para ficarem quietos. Algo nesse sentido. Disseram
para ela ir se foder, que ela não tinha o direito de dizer a eles o que
podiam ou não podiam dizer em um lugar público. A troca
156
Livro Único
esquentou e eles foram embora. Eles pensaram que estava tudo

acabado, mas ela correu para o pai e ele ficou muito chateado.
Stella não sabia se ele estava contando o incidente da maneira

como realmente aconteceu ou da maneira como soube que
aconteceu. Ela não gostava de Sean ou Bale, então, em sua mente,
eles sempre eram os culpados. Só porque ela não gostava deles, não
significava que eram sempre os errados. Se eles estivessem tendo
uma conversa particular do lado de fora e a filha de James Marley a
ouvisse, ela realmente não tinha o direito de pedir que parassem de
falar.
— É uma pena que eles teriam uma experiência ruim com ele
quando James era um homem tão bom como regra. Ele era
ferozmente protetor com sua família, e eles eram o mesmo com ele.
Eu simplesmente não consigo entender nada disso. Isso era verdade.
Ela não conseguiu.
— As pessoas nem sempre fazem sentido, disse Jason. —

Espero que tenha sido realmente um acidente e ninguém o tenha
assassinado.
A música de repente ficou mais alta quando alguém abriu a

porta do Grill e permitiu que o som escapasse. Sam se moveu em
direção a eles daquele jeito fácil que o fazia parecer um gato
selvagem ameaçador.
Jason olhou para o bar e então se inclinou para ela, mas

manteve os olhos em Sam e sua voz um sussurro. — Diga a Shabina
para parar de sair para a floresta sozinha em busca de pássaros. Não
é uma boa ideia agora. Ele se afastou rapidamente, continuando a
descer o quarteirão como se tivesse caminhado o tempo todo e
nunca tivesse parado.
Stella ficou olhando para ele, o coração batendo forte, a boca

seca de repente.
157
Livro Único
Shabina era uma ávida observadora de pássaros e ela foi para

a floresta, caminhando pelas trilhas, em busca de vários pássaros
raros e seus ninhos. Não era como se ela tivesse anunciado que era
uma entusiasta de pássaros. Ela ficou muito quieta sobre isso.
Alguém estava observando os movimentos de Shabina de perto.
Sean? Provavelmente. Jason saberia. Sean parecia obcecado e não de
um jeito bom, se é que isso existia. As coisas estavam ficando cada
vez mais complicadas. O que aconteceu com sua pacífica cidade?
— Você esqueceu sua jaqueta, Stella - disse Sam enquanto

estendia o casaco dela, esperando que ela enfiasse os braços nele.
Sam nunca pareceu o tipo cavalheiresco, então os gestos

inesperados sempre a comoveram. Ela o deixou envolvê-la, sem
perceber o quão fria ela estava até que ela colocou o zíper em sua
jaqueta. Ele entregou a ela as luvas que estavam nos bolsos de seu
casaco. Novamente, ele esperou que ela falasse, deixando-a decidir o
que queria dizer a ele, mas seu olhar seguiu Jason enquanto ele
descia a rua.
Sam não era o único observando Jason. Ela percebeu que

Denver tinha saído do bar também, provavelmente para ver como
ela estava. Ele ficou encostado na esquina do prédio, a cabeça virada
na direção de Jason. Ela se aproximou de Sam, virando o rosto na
direção dele para contar o que Jason havia dito, quando um arrepio
repentino percorreu sua espinha.
— Sam? Seu nome saiu vacilante. Ela olhou para cima, em

direção ao telhado do bar. Houve movimento. Alguém os estava
observando. Eles tinham visto Jason e Denver também.
— Continue olhando para mim, querida. Ninguém mais está

aqui além de nós. Eu os medi no minuto em que saí.
— O que está acontecendo? Por que todo mundo que

conhecemos está agindo de forma tão estranha? Você sabe quem
está no telhado?
158
Livro Único
— Bale e Sean estão no telhado. Edward está do outro lado da

rua, a um quarteirão de um carro estacionado. Não sei por que eles
estavam vigiando o bar. Eles sabem que a Busca e Resgate sempre
vem ao Grill para conversar sobre o assunto e processar. Às vezes,
eles chegam e ouvem, mesmo que não participem. Bale ficou dentro
do bar até você sair. Ele saiu pelos fundos e Denver o seguiu. Ele
deve ter escalado a escada de incêndio para subir no telhado e se
juntar a Sean.
— Como você vê tudo isso? Eu vim aqui e não vi nada. Jason

me assustou quando ele veio por trás de mim. Ele me disse para
alertar Shabina para não sair sozinha para observar pássaros. Ela vai
para a floresta o tempo todo. Alguém deve estar seguindo ela, Sam.
Ele disse que não era seguro. Ele sussurrou para mim, como se
soubesse que estávamos sendo vigiados.
— Ele provavelmente sabia que seus amigos estavam

assistindo. Ele se arriscou avisando você. Não acho que Sean ficaria
muito feliz com ele. Shabina deve ter cuidado. Acho que Sean está
obcecado por ela.
Stella suspirou. — Todo esse tempo eu pensei que meu

pequeno pedaço do paraíso era o mais perfeito que poderia ser, mas
há todas essas coisas horríveis acontecendo que eu não sabia.
Ele colocou o braço em volta dela e a virou de costas para o

bar. — Você quer ir para casa?
Ela queria. Falar com os outros sobre James Marley só a fez se

sentir mais culpada por não ter considerado que o assassino mataria
outra vítima sabendo que o xerife perceberia que a morte não foi um
acidente.
Sam a acompanhou até o 4Runner e abriu a porta para ela.

Stella entrou e colocou o cinto de segurança automaticamente, uma
carranca no rosto enquanto tentava decifrar. — Sam, por que o
assassino não se importaria que o xerife soubesse que ele matou
159
Livro Único
Marley? Acho que presumi, já que ele se deu ao trabalho de fazer

parecer um acidente, que não gostaria que ninguém soubesse que
era assassinato, mas talvez eu esteja errada.
Sam olhou para ela enquanto os iniciava no caminho de volta

para o resort. — Não necessariamente. Ele é esperto. Que diferença
faz se Griffen sabe ou alguém sabe, mas não pode provar? Se ele
matar várias outras pessoas, mas não houver evidências, se todos os
outros assassinatos parecerem um acidente e ninguém souber, ele
ainda está livre. Ele ainda pode desdenhar de todo mundo.
— Você acha que ele é local? Stella perguntou em voz baixa.

Ela prendeu a respiração, com medo da resposta. — Quero dizer, ele
pode ser alguém que vem aqui regularmente, certo?
— Eu pensei que isso seria provável. Alguém que veio pescar

ou caçar ou ambos. Talvez faça escalada e pesca. As serras oferecem
todos os tipos de atividades. Ele pode ter vindo aqui há algum
tempo, Sam disse.
— Algo o fez matar e ele começou aqui, ou talvez ele já

estivesse fazendo isso em outro lugar e agora está trazendo para cá.
Stella queria que fosse assim, mas não parecia certo para ela.
— Você acha que ele matou antes disso?
Sam dirigiu em silêncio por quase um quilômetro. — Ele

traçou seu plano meticulosamente, Stella. Não consigo imaginar que
foi a primeira vez dele.
— Você não acha que ele entrou em pânico quando me viu

debaixo d'água tentando te salvar? Um assassino experiente entraria
em pânico?
— Ele estava em pânico ou só queria você longe dele porque

você não era a vítima escolhida? Sam perguntou. — Ainda não
sabemos se ele escolhe vítimas. Talvez ele não mate mulheres. Ou
160
Livro Único
mulheres bonitas. Ou aqueles com curvas. Ou cabelos loiros e olhos

azuis. Não temos ideia.
Isso tudo era verdade. Eles não tinham como saber. Stella
suspirou. Eles apenas tiveram que esperar. Ela sabia que não
haveria uma maneira de o promotor apresentar um caso por
assassinato, não importando o quão diligentemente o xerife
investigasse. O que eles tinham para provar que James Marley havia
sido assassinado? Realmente parecia que ele escorregou em uma
pedra, bateu com a cabeça e se afogou. Eles tinham o ataque anterior
do assassino a Sam, mas isso poderia não ter nenhuma relação. Não
é provável, mas pode-se argumentar. Não havia nenhuma evidência
deixada para trás para apontar para qualquer pessoa.
Como sempre, eles teriam que esperar até que o assassino

decidisse atacar novamente.
Capítulo 08

Estava muito escuro e de repente o som de uma risada
irrompeu e uma luz se acendeu, iluminando um acampamento. O
jovem verificou a mochila da mulher para garantir que estava
perfeitamente onde deveria estar, de modo que, quando fizessem
as milhas de caminhada que haviam planejado nesta etapa da
trilha, ela estaria o mais confortável possível. Ela não parecia estar
tão acostumada a fazer caminhadas quanto ele. Claramente, ele
queria que ela realmente gostasse.
161
Livro Único
Ele tinha cabelo castanho claro, bem aparado, como se

tivesse saído do serviço militar recentemente, ou talvez fosse um
policial. Ele se manteve muito ereto, os ombros perfeitamente
alinhados. Ele tinha um corpo esguio com muitos músculos magros.
Ele se moveu facilmente ao redor da mulher, certificando-se de que
sua garrafa de água estava cheia.
Ela tinha o cabelo loiro em um rabo de cavalo, a massa

saindo da parte de trás do chapéu em sua cabeça. Ele entregou-lhe
as luvas e ela as calçou. As luvas eram da mesma cor do debrum
rosa neon em sua jaqueta, botas, chapéu e óculos escuros. Ambos
usavam faróis para iluminar a trilha quando começaram a
caminhada.
As lâmpadas mostravam as cores do outono explodindo no

alto enquanto folhas douradas, vermelhas, laranjas e verdes caíam
em cascata, chorando cachoeiras em todas as direções. As folhas
caíram no chão para cobrir o chão do acampamento. Parecia haver
o brilho escuro da água à distância, mas o homem desligou a
lanterna, mergulhando o acampamento na escuridão novamente.
De repente, quando os dois mochileiros começaram por uma trilha
invisível apenas com os faróis acesos, o homem liderando o
caminho, as lentes da câmera desligaram.
162
Livro Único
Stella engasgando, sufocando, se contorcendo, arranhando

os lençóis, lutando para respirar. De novo não. Ela se sentou e
colocou a cabeça entre os joelhos, tentando combater a náusea. Ela
colocou os braços em volta da cintura e começou a se balançar,
tentando acalmar a criança dentro dela, aquela garotinha que viu
aqueles assassinatos horríveis. Aquele que contou à mãe, mas
ninguém acreditaria.
Ela estava sozinha. Ela tinha que ficar sozinha. Ninguém

poderia saber. Ela nunca poderia contar a ninguém. Não diga uma
palavra, Stella. A voz de sua mãe soou aguda em seus ouvidos. Se
você contar a alguém, eles irão levá-la embora e jogá-la em um
buraco escuro e profundo e alimentá-la para os leões. Você quer
isso? Eu não vou conseguir te encontrar. Eles vão cortar seu cabelo
e cortar você em pequenos pedaços para que os leões possam
comê-la. Eu te levei ao lugar onde estão os leões. Você os viu. A
maneira como eles olharam para você. Isso é o que vai acontecer
se você contar a alguém.
Ela se lembrou daquele lugar para onde sua mãe a arrastou,

até a gaiola onde os leões rugiam de fome e raiva. O homem pegou
o dinheiro da mãe dela, muito dinheiro, e a colocou na soleira da
porta da jaula com a carne crua nas mãos, toda ensanguentada. Sua
mãe disse que era outra menina que não sabia como manter a boca
fechada. O leão saltou na porta e o homem enfiou a carne dentro
com um longo instrumento, rindo enquanto ela gritava e gritava.
Ela enfiou o punho na boca e tentou não engasgar com os

soluços. Ela nunca tinha ido a um zoológico novamente. Nunca.
Não como uma criança. Não como um adolescente. Nunca como um
adulto.
163
Livro Único
Ela nunca disse a ninguém o que sua mãe tinha feito. Agora
ela tinha que lutar com outro assassino. Ele iria matar novamente.
Um casal? O homem? A mulher? Onde eles estavam? Mochileiros.
Eles pareciam tão felizes juntos. Como ela poderia impedi-lo?
— Estou bem aqui, querida. A voz de Sam saiu da escuridão.

Estável. Calmo. Tranquilizador.
Ela sentiu o peso do corpo dele sobre o colchão ao lado dela e

então ele a puxou para seus braços. Em seu colo. Balançando-a
suavemente, o queixo no topo de sua cabeça. Bailey empurrou a
cabeça dele em sua coxa.
— Outro pesadelo?
Ela acenou com a cabeça, segurando sua perna com força. Ela
precisava sentir o aço de seu corpo. Essa infraestrutura difícil que
era Sam.
— Ela me disse para não contar a ninguém. Tentei esquecer

isso. Nunca me permiti lembrar se poderia evitar. Ela virou a cabeça
para olhar para ele por cima do ombro.
Ele apertou os braços em volta dela e continuou a balançá-la

suavemente. Seus lábios mal estavam lá em sua têmpora, um toque
suave de encorajamento.
— Quando eu era pequena e tentava contar para ela, ela dizia

que não era real, o papai nunca faria uma coisa dessas, era tudo da
minha cabeça. Mais tarde, ela ficaria com raiva de mim e diria que
eu nunca deveria falar sobre isso e arruinaria nossa família. Às
vezes, ela agarrava minha cabeça e me mantinha imóvel. Ela olhava
nos meus olhos e me fazia repetir continuamente que eu nunca
contaria a ninguém que papai estava fazendo a coisa errada.
— Quantos anos você tinha?
164
Livro Único
— Quatro quando os pesadelos começaram. Cinco quando ela

me disse para não contar. Lembro que ela queria que eu tivesse
tutores. E ela me disse para nunca, nunca contar ao papai que eu
conhecia. Porque estava tão fresco em sua mente e seu coração
estava acelerado, sua boca seca, ela se forçou a contar a visita ao
zoológico e o terror que ela suportou. Ela acreditava que segurava o
corpo de outra menina nas mãos para alimentar o leão.
Sam ficou em silêncio por tanto tempo que ela achou que ele
não iria falar. Ele simplesmente a segurou, embalando-a nos braços,
o rosto em seu pescoço. Ela podia sentir seu hálito quente em seu
ombro. Quando ele ergueu a cabeça, ele gentilmente deu um beijo
ao longo de seu pulso e depois em sua orelha e têmpora.
— Você deve ter sido uma criança muito corajosa, Stella. Você
estava sozinha e apavorada. Você ainda queria fazer a coisa certa.
Ao longo dos anos, as coisas que vi minha bússola moral nem
sempre foram as melhores, embora eu possa dizer honestamente
que sempre tentei ter justiça em minha mente, não vingança.
Suas palavras há aqueceram um pouco quando ela estava tão

fria por dentro. Havia verdadeira admiração em sua voz. Ainda
assim, ela não conseguia se livrar do pesadelo e das consequências
que sempre vinham com ele.
Sam respirou fundo novamente como se estivesse lutando

contra demônios e pegou a garrafa de água em sua mesa de
cabeceira, destampou-a e entregou a ela. — Você já disse alguma
coisa para o seu pai?
Ela tentou controlar os tremores que devastaram seu corpo. —

Não. As imagens que vi em meus pesadelos foram horríveis. Ele
torturou suas vítimas. Eu era uma criança e essas imagens ficaram
gravadas em meu cérebro. Fiquei apavorada com ele e a última coisa
que faria seria falar com ele sobre o que vi. Minha mãe teve que
descobrir maneiras de explicar por que eu estava com medo dele
165
Livro Único
quando ele voltava de suas viagens de negócios. Felizmente, ele não

estava muito interessado em crianças.
Sam não tentou fazer com que ela contasse mais nada. Ela não
sabia se ela poderia conseguir. Ela não tinha contado a ninguém
sobre sua mãe lhe dizendo para não falar sobre seus pesadelos ou
que ela entrava em seu quarto à noite e a ensinava repetidamente a
não falar. Ela se forçou a esquecer.
— Eu não queria lembrar, ela murmurou. — As coisas que

meu pai fez já foi ruim o suficiente, mas agora, como adulta, posso
ver que pelo silêncio da minha mãe, ao me forçar a ficar em silêncio,
ela foi cúmplice. Ela não queria desistir de seu status. Ela sabia,
melhor do que eu, o que aconteceria com a família de um assassino
em série, e porque ela não queria a mancha disso, ela deixou as
pessoas morrerem.
Ela encostou a cabeça no peito dele. — Isso é o que estou

fazendo agora. Ficar em silêncio para manter meu resort e meu
lugar feliz. Meu porto seguro. Estou fazendo exatamente o que ela
estava fazendo. Eu me odeio agora. Se eu não for até Griffen e
contar a ele quem eu sou e que estou tendo pesadelos, que há um
assassino aqui, não vamos pegá-lo, Sam, e mais gente vai morrer.
Ele está fazendo suas mortes parecerem acidentes. Se ele não tivesse
ficado tão chateado por perder sua primeira tentativa de
assassinato, ele não teria usado o mesmo método para matar James
Marley.
— Na melhor das hipóteses, eles podem dizer que sua morte é

suspeita neste momento por causa do ataque a mim, disse Sam. —
Mas parece um acidente. Este assassino é bom. Se ele não tivesse
errado, ninguém saberia. Nosso ás na manga é você. Ele não tem
ideia de que você está atrás dele. Se for divulgado que você é quem
você é isso vai embora. Se você contar a Griffen, não podemos
deixar isso chegar à mídia ou a qualquer outra pessoa, e você sabe
que acontecerá. Eles já sabem que o assassinato é uma possibilidade
166
Livro Único
por causa do ataque a mim. Eles simplesmente não podem provar

nada. Esta situação não é a mesma, Stella. Precisamos ficar em
silêncio para ter uma vantagem ou não temos a chance de pegá-lo.
Isso estava bom para ela. Ela não queria que isso vazasse.
Quanto mais gente soubesse, mais sua vida viraria de cabeça para
baixo. Griffen Cauldrey era um amigo, pelo menos ela o conhecia
muito bem nos últimos anos e achava que ele era um homem justo,
mas ele teria que informar o xerife, e o xerife teria que chamar o FBI.
Ela respirou fundo. — Sam preciso contar a Zahra. Ela é minha

melhor amiga e ficaria muito magoada se eu não contasse a ela
quem eu realmente sou. Já pensei em compartilhar um milhão de
vezes, mas não fiz por que... Ela parou, lembrando-se da sensação
dos dedos de sua mãe mordendo suas bochechas. Ela não tinha
percebido até agora que aquelas memórias de infância tinham
desempenhado um papel em dissuadi-la. — Eu tenho que dizer a
Zahra.
Ele ficou em silêncio por um longo tempo. Demasiado longo.

Tempo suficiente para que ela soubesse que ele não aprovava. Ela
sabia por quê. Zahra tendia a deixar escapar as coisas. Ela podia
compartilhar demais às vezes, mas também podia manter
confidências quando importava. Se Stella pedisse a ela para não
dizer uma palavra a ninguém, ela iria para o túmulo sem dizer uma
palavra. Essa era Zahra. Em qualquer caso, ela não precisava da
aprovação de Sam. Ela não era aquela mulher.
— Alguma das suas outras amigas sabe quem você é? Antes

que ela pudesse responder, ele suspirou seus longos dedos
movendo-se para a nuca dela para começar uma lenta massagem. —
Raine. Ela fez uma verificação de antecedentes sobre você e seria
minuciosa sobre isso.
Ela tentou virar a cabeça, mas os dedos dele pareciam muito

bem e impediam qualquer movimento, então ela apenas ficou
167
Livro Único
parada e o deixou aliviar a tensão dela. — Como você sabe disso?

Raine sabia sobre Sam. Sam sabia sobre Raine. Ela só queria voltar a
programar seus eventos no resort. Ela achou isso complicado. Agora
ela tinha assassinos com que se preocupar.
— Ela não fala nada.
— Ao contrário de Zahra, quem poderia? Desta vez, ela não se

importou com a massagem relaxante, ou o fato de que ele era a
única pessoa que a ajudava no meio da noite, quando o mundo
desabava. Zahra era sua melhor amiga, completamente leal a ela, e
ela não permitiria que ele agisse como se Zahra não fosse confiável.
— Mulher. Seus olhos escuros encontraram a lua através da

janela, brilhando para ela com diversão.
Seu estômago deu uma reviravolta inesperada. Ele não parecia

assim nunca. Suas feições duras se suavizaram, os olhos vagando
pelo rosto dela como se ele quisesse devorá-la.
—Homem, ela sussurrou de volta.
— Você acha que eu não posso ver dentro dela? Passei a maior
parte da minha vida lendo pessoas para me manter vivo. Ela não
apenas ama você, mas é tão leal quanto parece. Acho que ela
mastigaria o próprio braço antes de contar a alguém quem você é.
Seus dentes brancos e retos brilharam no mais breve dos

sorrisos e ela quase caiu de seu colo. Ele não fez isso. Os sorrisos
eram tão raros que pareciam um presente.
Ela tocou os dedos em sua boca. — Para o que foi aquilo?

Porque ela faria de novo. Muitas vezes. Ela gostava que ele “lesse”
Zahra e reconhecesse que ela era leal.
— Você tem um temperamento tão desagradável. Às vezes me

deixa louco.
168
Livro Único
— Meu temperamento te deixa louco? Suas sobrancelhas se

juntaram na carranca mais escura que ela poderia convocar. — Eu
não tenho um temperamento. Se eu fizer isso, é muito pequeno.
— Vire-se e deixe-me massagear seus ombros. Você fica muito

chateada quando alguém está ameaçando seus amigos. Mesmo uma
ameaça percebida.
— Houve um ‘mas’ lá quando você estava dando um elogio a

Zahra. Eu podia ouvir em sua voz. O que é que foi isso? Ela se virou
porque queria a massagem. Quem recusaria isso?
Ele pegou a garrafa de água de suas mãos e colocou-a na mesa

de cabeceira antes de colocar as duas mãos em seus ombros. Ele
tinha mãos grandes e dedos fortes. — Quando ela bebe, ela é
totalmente desinibida. Ela não tem ideia do que está saindo de sua
boca.
— Você pode dizer isso de qualquer pessoa, Sam.
Ele se inclinou para perto, sua boca perto de sua orelha de

modo que seus lábios roçaram seu lóbulo. — Não é assim. Você
pode deixar escapar o quão quente você acha que eu sou, mas você
nunca falaria sobre sua verdadeira identidade.
Seu corpo inteiro ficou vermelho, ela tinha certeza disso. Ela
tentou não engasgar. Ela havia dito isso para os outros bem onde ele
podia ouvir. Ela sabia que sim.
— Ela não teria nenhum motivo para contar a ninguém.
— Nem mesmo Bruce?
— Ela não contaria a Bruce, Stella disse a ele com absoluta

confiança.
Ele ficou em silêncio, continuando a massagear a tensão dela

enquanto ela se sentava em seu colo, Bailey descansando sua grande
169
Livro Único
e pesada cabeça em sua perna. Ela acariciou o Airedale, seus dedos

no pelo encaracolado, ouvindo os sons da noite, percebendo que
Sam tinha conseguido distanciar o pesadelo dela com sua presença,
deixando-a falar e então a distraindo com a discussão.
— Não, ela não diria a Bruce, ele concordou finalmente, e

facilmente a ergueu colocando as mãos em volta da cintura dela,
para colocá-la no colchão. — Vou fazer chocolate quente para você.
Você pode esboçar o que viu e escrever os detalhes no diário que
mantém. Quando eu voltar, se você estiver pronta, pode me contar
sobre isso.
Ele nem mesmo pediu a ela para lhe contar sobre o pesadelo.
Ela esperou até que ele saísse de seu quarto antes de acender a
pequena lâmpada ao lado da cama e destrancar e, em seguida,
alcançar a gaveta onde mantinha seu diário e bloco de desenho. Ela
visualizou tudo o que viu em seu pesadelo. Não havia rostos, mas
ela viu o cabelo loiro da mulher e as roupas esportivas. Ela era
estilosa, como se tivesse escolhido suas roupas mais pela aparência
do que por serem as melhores para caminhadas nas trilhas. Uma
novata? Ela não era sua parceira normal então, era por isso que ele
se preocupava com ela, certificando-se de que sua mochila ficasse no
lugar certo. Ele parecia confortável; ela não estava, mas estava
disposta. Isso era algo que ela queria fazer com ele.
Havia tão pouco que ela pudesse obter desde o primeiro

vislumbre. Ela se esforçou para ver o máximo que pudesse.
Concentre-se, Stella. A mochila da mulher. A dele. Seus sapatos de
caminhada. Ele tinha um relógio no pulso - ela não. Os dois usavam
jaquetas fofas. O dele era caro, uma boa marca para exteriores. Sua
jaqueta não era uma marca que ela reconhecesse. Talvez uma de
suas amigas saiba. Alguém pode reconhecê-la, ou a ele.
Ela desenhou as duas pessoas em relação à altura e ao peso,

tentando adivinhar com a maior precisão possível dada as roupas
170
Livro Único
volumosas e os arredores. Em seguida, ela esboçou o muito pouco

que podia fazer do acampamento, sua impressão da água ao longe
atrás deles, as árvores e cores, as folhas no solo irregular. Não foi
muito. Quando ela finalmente levantou a cabeça, percebeu que Sam
estava de volta ao quarto com ela, olhando para o desenho por cima
do ombro, e o chocolate quente estava em sua caneca favorita para
viagem em sua mesa de cabeceira.
Ele estudou os esboços em silêncio por um tempo. — Não

reconheço esse acampamento, mas não sou mochileiro. Você e Raine
costumam fazer mais caminhadas do que qualquer outra pessoa do
nosso grupo.
Ela nunca o tinha ouvido se incluir em seu grupo. Era

verdade. Raine tendia a ser a única a fazer trilha com ela,
especialmente se a caminhada fosse longa. As duas gostavam de
fazer caminhadas de uma ou duas semanas nas montanhas, na
floresta e no acampamento. Às vezes, se elas pudessem sair do
trabalho, elas iriam para trilhas mais longas.
— Eu olhei várias vezes, especialmente a grande impressão de

água no fundo, mas não consegui nada. Achei que poderia mostrar
para Raine, ver se ela reconhece. Ela empurrou o cabelo para trás e
pegou o chocolate. — É incrivelmente frustrante ver tão pouco, Sam.
É quase impossível identificar um lugar sem marcadores de
identificação reais. Ela esfregou a testa. — Isso não é nada. Estas são
as serras, com milhares de quilômetros de trilhas e tantos
acampamentos.
— Pelo menos você tem uma espécie de aviso. Isso é algo. Se

não fosse por você, provavelmente nunca saberíamos que esse
assassino estava trabalhando aqui. Quem sabe de quantos
assassinatos ele escaparia? Sam soou como sempre. Calmo. Estável.
Uma pedra.
171
Livro Único
Ela respirou fundo. — Você está certo, eu tenho que olhar as

coisas de uma perspectiva diferente se quisermos pegar esse
homem.
Sam caminhava inquieto pelo chão, quando ele não era um

homem inquieto. Ela o observou cuidadosamente por cima de sua
caneca. — O que foi?
— Eu entendo que você tem que falar com Zahra, mas,

querida, você não pode esquecer por um minuto que este homem é
um assassino. Se ele sabe que você é uma ameaça para ele, ele vai
colocar seus olhos em você. Essa é a última coisa que queremos.
Você não vai ser útil para ninguém se estiver morta.
— Não é provável que eu esqueça com o que estou lidando,

ela assegurou. — Já negociei com assassinos em série duas vezes e
isso já me bastava. Eu não quero chegar perto de um. Zahra não dirá
nada, Sam. Estou mais preocupada em contar a Griffen do que a
Zahra. Ele não terá escolha a não ser contar a seu chefe, que ligará
para o FBI. Então será um circo.
— Não temos exatamente nada para compartilhar com Griffen

neste momento. Ele hesitou. — É possível que eu possa usar alguns
de meus contatos para nos ajudar.
Ela ergueu os olhos rapidamente. Seu pesadelo a acordou no

meio da noite, e se não fosse pelo luar que entrava pela janela, ela
não teria sido capaz de ver seu rosto de onde estava sentada. Do
jeito que estava a maioria de seus traços estava nas sombras, dando
a ele uma aparência predatória. Ela quase desejou que Denver e
Raine nunca tivessem falado nada para ela. Já, com seus pesadelos e
as memórias de seu passado tão próximo, ela estava nervosa e não
queria ver Sam como o “fantasma” que um o chamava e o outro
sugeria.
172
Livro Único
Se o que as amigas dela diziam sobre a carreira dele fosse

verdade, Sam teria inimigos implacáveis o rastreando. Harlow havia
contado a ela que os homens da DEA que haviam se infiltrado e
fechado círculos eram caçados, assim como suas famílias. Se fosse
esse o caso, ela poderia imaginar que alguém como Denver e Raine
descreveram seria perseguido até os confins da terra. Ele fechou
células terroristas. Cartéis de drogas. Entrar em contato com seus
amigos para ajudá-la seria um grande risco para ele - um sacrifício
que faria por ela. Ele não colocou as coisas dessa forma, é claro,
porque minimizou seu passado, mas ela tinha quase certeza de que
não estava muito longe.
— Eu não acho que isso seja necessário ainda, Sam. O que

podemos dizer a eles que não podemos contar a Griffen? Helen
McKay é uma corredora de trilha local e empacotadora de pico. Ela
registra centenas de quilômetros e está familiarizada com muitas
das trilhas por aqui e por todo o Yosemite.
Sam se aproximou dela, balançando a cabeça. — Stella. Desta

vez, o nome dela foi um aviso claro.
— Achei que poderia mostrar a ela um esboço e dizer que

estou desenhando e tenho uma vaga lembrança desse lugar legal
que quero pintar em detalhes, mas não consigo lembrar onde é. Ela
pode saber.
Sam pensou sobre isso e então acenou com a cabeça. — Essa é

uma boa ideia, querida. Se ela tiver amigos que façam uma trilha de
corrida, ela pode perguntar a eles também, mas talvez espere até
que você tenha um pouco mais de detalhes.
Não havia muito mais que ela pudesse fazer. Este sempre foi
um jogo de esperar para ver com um assassino. Essa foi a pior parte.
— Vou dar uma volta pela propriedade. Você quer vir

comigo?
173
Livro Único
Ele fazia isso todas as noites. Sam não parecia precisar dormir
como os outros. Ela balançou a cabeça e pulou para vestir uma calça
de moletom quente e uma calça por cima das roupas mínimas com
as quais ela estava dormindo. Ela não precisava parecer glamorosa
para Sam. Ele não parecia se importar de uma forma ou de outra. Se
ela se vestisse bem, ela poderia dizer que ele gostou. Do contrário,
ele ainda parecia considerá-la bonita - pelo menos ele sempre a fazia
se sentir assim.
Bailey os seguiu para fora, embora pudesse dizer que seu

cachorro achava que eles eram um pouco malucos por interromper
o sono a ponto de vagar por toda a propriedade e caminhar até o
cais quando eles podiam estar em uma cama confortável. Ocorreu a
Stella que foi a primeira vez em sua vida que ela teve um de seus
terríveis pesadelos e acabou se sentindo feliz e até em paz depois.
Zahra sentou-se do outro lado da mesa, mergulhando a

abobrinha frita no molho incrível e secreto de Shabina que fez com
que todos voltassem ao seu café. Stella a observou atentamente.
Normalmente, Zahra era um livro aberto. Ela tinha um rosto de
duende, com seus olhos escuros expressivos e uma boca bonita e
muito carnuda. Nesse momento, ela manteve o olhar no molho e na
abobrinha, como se isso lhe desse todas as respostas de que ela
poderia precisar.
Stella recostou-se na cadeira e olhou ao redor do café. Eles se

encontraram deliberadamente tarde para o almoço, quase na hora
de fechar, Stella queria que a multidão fosse embora para que não
fossem ouvidos no fundo do café quando se sentassem em seu lugar
favorito. Ninguém estava perto delas porque a seção era isolada. Ela
perguntou a Shabina com antecedência se elas poderiam sentar lá.
174
Livro Único
Shabina não fez perguntas, apenas deu permissão e disse que

limparia depois, sem envolver sua equipe.
O silêncio pareceu se estender para sempre, junto com a

tensão. Finalmente, Zahra desviou o olhar para o de Stella. — Você
achou que essa revelação sobre seu pai mudaria o que eu sinto por
você? Sua voz era muito baixa, seu sotaque pronunciado.
Stella começou a pressionar as pontas dos dedos contra a boca

e então percebeu que estava fazendo isso. — Não, eu não disse nada
porque estava tentando me afastar daquela menininha e de sua
família. As coisas que minha mãe me treinou para não dizer a
ninguém. Construí a vida que queria para mim e fui feliz nela.
O olhar de Zahra voltou para a abobrinha. Ela mergulhou

outro pedaço em mais molho e sacudiu ao redor. — Por que você
decidiu me contar agora?
Stella respirou fundo. — Saber sobre meu pai começou com

pesadelos. Eu era criança, mas teria esses sonhos. Eu tinha cinco
anos e cada um me daria uma visão mais ampla do que estava
acontecendo. Os sonhos iriam parar e, dois dias depois, alguém
morreria exatamente assim. Eu era apenas uma criança e contava
para minha mãe.
Ela se viu balançando para frente e para trás e

deliberadamente se forçou a parar. Ela não era uma criança. Ela
tinha aliados agora. Ela tinha Zahra, que se sentou à sua frente sem
julgamento, pronta para ajudar sem saber o que estava errado. Lá
estava Sam. Raine. Ela poderia fazer isso.
— Basicamente, você vê os assassinatos antes de eles

acontecerem.
Stella acenou com a cabeça. — Quando eu era criança, isso

durava anos. Os pesadelos começaram quando eu tinha quatro anos,
e meu pai só foi preso quando eu tinha oito, quase nove. Minha mãe
175
Livro Único
era uma terrível alcoólatra naquela época e se matou quando ele se

declarou culpado para evitar a pena de morte. O circo da mídia era
demais para ela. Ela tinha certeza de que ele não seria considerado
culpado e ela poderia continuar sua vida em sociedade. Quando ela
foi condenada ao ostracismo por seus amigos, ela ficou amarga e
com raiva, principalmente de mim porque eu denunciei meu pai e
ela disse para não contar.
— Quando eu era adolescente em um lar adotivo, de repente

comecei a ter pesadelos semelhantes. Eu não queria acreditar, mas
percebi que havia um serial killer trabalhando bem perto de mim
novamente. O padrão era o mesmo. Cinco noites de sonhos e depois
um ou dois dias de silêncio e depois a matança. Eu tentei ficar fora
dos holofotes, mas a mídia tomou conta disso como quando eu era
criança. Foi um inferno. Jurei nunca mais passar por isso. Mudei
meu nome e encontrei um lugar de paz onde poderia simplesmente
viver minha vida.
Stella pegou um pedaço de abobrinha, mas seu apetite se foi.

Ela o largou no prato e olhou para Zahra com olhos aflitos, incapaz
de continuar.
Zahra suspirou. — O desejo repentino de acampar quando já

tínhamos planos de ir para o Grill. Isso não fazia sentido. Bruce me
disse que era seu local de pesca favorito. Ele e Denver vão lá o
tempo todo. Você teve um sonho e os estava impedindo de pescar
lá, não é?
Stella acenou com a cabeça. — Mas eu bebi muito. Achei que

Sam nos levaria para casa e apenas ficaria no resort, mas não, ele
tinha que ser muito legal e cuidar de nossas coisas. Ele não tem
chance de pescar porque está sempre trabalhando, então ele pensou
em dedicar um pouco de tempo nas primeiras horas da manhã antes
de chegarmos lá. Berenice me disse que ele estava lá e eu pulei no
meu carro e corri para o local, com medo de chegar tarde demais.
176
Livro Único
— Ele teria assassinado Bruce ou Denver se não tivéssemos

armado as tendas e expulsado seus pesqueiros favoritos, disse
Zahra. — Eles nem sempre pescam juntos porque Denver tem que
trabalhar muito no hospital e não pode fugir. Bruce só pode sair de
manhã cedo. Provavelmente, ele teria sido a vítima. Você
provavelmente salvou a vida dele.
— Eu não salvei a vida de James Marley. Eu nem mesmo vi

isso chegando. O que ele fez? Foi direto de tentar matar Sam para
mirar em James e então fugir tão rápido? Como? Sam chamou o
xerife após o ataque. Eles procuraram barcos e caminhões em busca
de equipamento de mergulho.
— O assassino teria jogado o equipamento no fundo do lago,

Stella. É um grande lago, e quando o xerife chegar lá e a notícia se
espalhar, vamos lá, realisticamente, se ele já esteve por aqui, ele
saberá que não seria fácil reunir uma equipe de busca decente. Ele
tinha horas para fugir.
Stella sabia que Zahra estava certa. Infelizmente, tinha sido

um bom dia para pescar, e havia barcos na água e muitos pescando
na costa ao redor do lago. Não era como se o xerife tivesse centenas
de homens que ele pudesse enviar para fazer buscas. Ela não
esperava que o assassino fosse direto da tentativa de matar Sam
para matar outro pescador usando exatamente o mesmo método.
— O que você vai fazer? Zahra perguntou.
Stella encolheu os ombros. — Não sei. Não há muito que eu

possa fazer sem evidências. De acordo com tudo que estou ouvindo,
não há evidências suficientes para construir um caso por homicídio.
Da forma como está, a única razão pela qual eles estão considerando
que não foi um acidente é porque houve um atentado contra Sam e
vimos o agressor na água, mas é claro, não podemos identificá-lo.
— Você tem certeza de que era um homem?
177
Livro Único
Stella acenou com a cabeça. — Absolutamente.
Zahra suspirou. — Se Bruce era a vítima pretendida, pelo

menos não é uma mulher que quer matá-lo porque ele não está
prestando atenção nela. Ela deu a Stella um meio sorriso travesso. —
Você realmente não pode contar nada à polícia, pode, e não deveria
nesta fase, Stella. Se descobrisse quem você é, isso apenas alertaria o
assassino e perderíamos qualquer vantagem que tivermos em tentar
capturá-lo.
— Isso é o que eu penso também. Sam sabe. Eu tive que dizer

a ele quando o assassino quase o pegou e de repente apareci do
nada e mergulhei no lago para salvá-lo. O lago gelado. Eu realmente
acho que ele deveria se lembrar disso.
— Tenho certeza de que ele está apropriadamente agradecido.

Afinal, ele beijou você.
Stella não estava tocando nisso. — Raine tem que fazer

verificações de antecedentes em qualquer pessoa ao seu redor por
causa do tipo de trabalho que ela faz. Ela sabe sobre mim e sabe há
anos. Ela nunca disse nada. Ela mantém tudo confidencial.
A cabeça de Zahra se ergueu, seus olhos escurecendo quase

até a meia-noite negra. Suas sobrancelhas se juntaram. — O que
você quer dizer com verificação de antecedentes?
— É um requisito para o trabalho dela. Qualquer pessoa de

quem ela está perto. Seríamos nós. Ela não fala fora de hora, Zahra,
Stella acalmou, vendo o quase pânico no rosto de Zahra.
— Quanto ela pode saber? Os olhos escuros de Zahra estavam

saltando por todo o lugar, como se ela pudesse se levantar de
repente e sair correndo. Ela parecia realmente alarmada.
Stella percebeu que Zahra tinha seus próprios segredos, talvez

tão devastadores quanto os dela. — Eu não faço ideia. Meu passado
foi muito bem documentado. Não sei o quão bem documentado o
178
Livro Único
seu é. O que quer que você esteja preocupada, se ninguém souber,

ou escrever, ou tiver fotos, ela não seria capaz de encontrar.
Zahra respirou fundo e soltou o ar. — Isso é péssimo para ela.

Ela deve se sentir como um espião Thomas.
— Tom, corrigiu Stella automaticamente. — É difícil para ela.

Tenho certeza de que é parte do motivo pelo qual ela se mantém um
pouco separada de todos. Mas, em qualquer caso, o que eu estava
tentando dizer em relação ao serial killer... Stella franziu a testa
enquanto mergulhava a abobrinha no molho e dava uma mordida.
— Não é como se tivéssemos um grande círculo para desenhar e não
possamos falar com ninguém sobre isso. Ninguém, Zahra, nem
Bruce, nem ninguém.
Zahra acenou com a cabeça. — Entendo. Eu venho de um

lugar onde a palavra errada pode fazer alguém morrer. Não estou
prestes a bagunçar quando se trata da sua vida. Esta é uma daquelas
situações em que não podemos confiar em ninguém até sabermos
com certeza que estão claros, e como sabemos disso?
— Eu tive outro pesadelo esta manhã. Desta vez eram dois

mochileiros. Era um pedaço tão pequeno de um acampamento que
era impossível eu reconhecê-lo. Eu sei que já estive lá antes, mas há
milhares de quilômetros de trilha nas serras e o acampamento que
eu sei que vi, mas estava muito escuro. Acredito que o assassino
ficará perto de casa, em nosso condado, então as chances são de que
eu possa identificar onde ele vai atacar.
Zahra não era uma mochileira dedicada. Ela acampava

ocasionalmente e saía em viagens de mochila às costas nos fins de
semana, ou viagens de um dia, mas não em viagens de uma semana
ou um mês. Ela não queria fazer a trilha John Muir. Isso não era
coisa dela. Ela generosamente reabastecia seus amigos se eles
estivessem fazendo uma caminhada no JMT, mas essa era a extensão
de sua experiência em “caminhadas”.
179
Livro Único
— Você tem mais quatro chances de encontrar o lugar certo

em que ele vai atacar certo? Zahra perguntou.
Chances. Stella nunca havia considerado cada pesadelo uma

“chance”, mas era isso. Outra pista. Outra revelação da imagem
maior. — Se for assim, sempre foi no passado, então sim, eu deveria
ter um pesadelo todas as noites pelas próximas quatro noites e ver
mais do que o assassino vê.
— Espere. Zahra endireitou o corpo. — Você realmente vê

através dos olhos do assassino?
Stella balançou a cabeça. — Não exatamente. É como se eu

fosse um espectador, uma testemunha, observando de algum lugar
separado de todos eles. Nesse caso, estou atrás do casal. Não
consigo ver seus rostos. É frustrante. Não consigo mudar de posição
para ver mais a trilha. Não há como mover a lente da câmera.
— É uma lente de câmera real que você está olhando? Zahra

perguntou.
Stella nunca tinha pensado nisso. Ela era uma criança e depois
adolescente. Ninguém jamais havia feito essa pergunta. Ela não era
fotógrafa. Ela não sabia nada sobre câmeras. Ela mal conseguia tirar
uma selfie com o telefone. O resto de suas amigas riram de seus
esforços quando ela tentou. Ela tinha centenas de fotos de Bailey em
seu telefone. E o lago. Ela amava o lago, especialmente ao
amanhecer.
— Não sei. É um sonho, Zahra, como eu saberia e que

diferença isso faz? Stella perguntou, olhando em volta, de repente
precisando de café.
Shabina estava ocupada limpando suas máquinas, mas ela

olhou para cima como se tivesse um sexto sentido quando se tratava
de seus clientes. Ela se moveu rapidamente para pegar sua cafeteira
180
Livro Único
e levá-la até o fundo da loja para derramar o líquido aromático na

caneca de Stella.
— Obrigado, Shabina. Você é uma deusa.
Shabina riu. — É um novo pote, só para você. É por isso que é

um mini-pote. Ela se virou e as deixou em paz, nem mesmo
perguntando por que elas precisavam se encontrar sozinhas, onde
ninguém poderia ouvi-las. Ela não parecia nem um pouco chateada
por não ter sido incluída na conversa.
Stella deu um gole no café. Estava muito quente. Muito

quente, do jeito que ela gostava. — Por que isso faria diferença?
Sempre me concentrei no que vi através das lentes, não nas lentes.
Zahra se inclinou mais perto. — E se você pudesse fazer as

lentes mais largas, Stella? Se houvesse detalhes nas lentes pelas
quais você está olhando, na própria câmera, você poderia ajustá-la,
mudando a visão um pouco a cada vez. Eu não sei, é apenas um
pensamento. Quando sonho, às vezes posso mudar meu sonho um
pouco. Ela encolheu os ombros e untou o palito de abobrinha com
mais molho.
Stella recostou-se, olhando para Zahra em estado de choque.

Em cem anos, ela nunca teria pensado em tentar mudar seus sonhos.
Não esses sonhos. Ela estava muito chocada com eles. Muito
apavorada. — Isso é brilhante, não que eu saiba nada sobre câmeras
ou lentes.
— Mas você sabe desenhar o que vê, e Harlow sabe muito

sobre fotografia. Ela é boa, Stella, muito boa. Se você puder obter
quaisquer detalhes, ela pode ser capaz de dizer o que você está
olhando e como ampliar sua visão ou movê-la um pouco.
Stella mordeu o lábio inferior, tentando se lembrar de todas as

vezes que viu pelas lentes. Ela sempre se concentrou no que via, nos
detalhes vívidos, treinando-se para ver tudo o que pudesse não o
181
Livro Único
que estava vendo. Agora ela tentava estreitar sua visão, bloquear
tudo menos aquela lente.
— Honestamente, estou muito dispersa para me lembrar de

qualquer coisa sobre as lentes, Zahra, mas você pode estar no
caminho certo. A questão é, se você estiver, e eu puder encontrar
algo nas lentes para ajudar a identificá-lo, então eu teria que ir para
Harlow. Como você bem sabe, Harlow, como todos em nosso
círculo de amigas, é extremamente inteligente e rápida na
compreensão. Ela vai saber que algo está acontecendo,
especialmente depois do ataque a Sam. Todos agora suspeitam que
James Marley foi assassinado, mas ninguém pode provar isso.
Zahra encolheu os ombros. — Talvez, mas como você

perguntar sobre um certo tipo de lente fará com que ela conecte
esses pontos?
— Nunca perguntei sobre uma câmera na minha vida, Zahra.

Não tenho interesse nelas. Fui ver o trabalho dela e é isso. Todos
vocês riem de mim e estou bem com isso. Não faço nenhum esforço
para melhorar. Ela sabe disso, ressaltou Stella.
Zahra deu a ela aquele sorrisinho misterioso e intrigante que

afetava todos os homens em um raio de quilômetros se eles o
vissem. Stella sempre a achou bonita quando exibiu aquele sorriso
secreto em particular que não dizia nada a ninguém que o visse, mas
que eles gostariam de saber mais.
— Você não pode provocar Harlow de propósito, Zahra, disse

Stella. — Você é uma atrevida às vezes. O que Harlow fez para
você?
— Harlow foi muito boa para mim, disse Zahra com firmeza.
— Se não fosse por ela, eu não teria chegado a este país. Eu não teria
obtido minha cidadania ou entrado na faculdade. Eu devo muito a
ela. Ela tem sido uma boa amiga para mim.
182
Livro Único
— Mas? Stella perguntou.
Zahra balançou a cabeça. — Eu nunca mudei o que eu sentia

por ela. É apenas complicado entre nós. Eu a provoco
ocasionalmente e ela aceita com graça.
— Ela nunca vai para casa. Nunca. A mãe dela vem aqui para
vê-la, mas ela nunca vai para casa. Stella não fez nenhuma pergunta,
porque se Zahra sabia por que a mãe de Harlow a visitava, mas seu
pai senador muito popular não, ela não queria colocá-la na berlinda.
Harlow era uma enfermeira cirúrgica talentosa, mas seu

primeiro amor era à fotografia. Ela foi para a escola para isso e não
só teve aulas na faculdade, mas também estagiou com alguns dos
mestres, tanto digitais quanto tradicionais. Ela estava fazendo um
nome para si mesma quando de repente ela foi para a escola de
enfermagem e aparentemente se apaixonou por essa carreira. Então
ela foi para as High Sierras e ficou. Ela era necessária lá e poderia
tirar as fotos que amava e fazer o trabalho que considerava
importante.
— Esta noite verei se consigo mais detalhes sobre as lentes,

Zahra, prometeu Stella. — Se eu puder, vou anotar esboçar e ver se
Harlow pode me ajudar. Obrigado pela compreensão, mas
principalmente, obrigado por ser minha amiga. Eu realmente
precisava de você. Como sua amiga, devo lhe dizer, é o mesmo
palito de abobrinha que você comeu na última meia hora e que está
mergulhando no molho. Você também pode pegar o recipiente do
molho e beber.
Zahra fez uma careta para ela e colocou a abobrinha no prato.

— O molho é excelente.
— Eu estava entendendo isso.
Capítulo 09
183
Livro Único
O homem manteve um ritmo constante nas primeiras

horas da manhã, a jovem bem atrás dele. Ainda estava escuro e os
dois usavam faróis presos à cabeça22. Ele lançou alguns olhares
por cima do ombro, como se ansioso por ela estar bem. Ela olhou
em volta mais do que prestou atenção para onde estava colocando
os pés. A luz girava e balançava enquanto ela tentava ver os
arredores, mesmo no escuro.
O vento soprava violentamente, cortando os dois, puxando

suas roupas, chicoteando suas jaquetas e seus cabelos, apesar do
boné de beisebol. Folhas rodaram ao redor do casal enquanto
avançavam ao longo da trilha. O homem tinha um bom andar, fácil e
natural ao longo da subida. A mulher parecia lutar.
Havia pedras sob o tapete de folhas e ela as rolou sob as

solas de suas botas de caminhada, principalmente porque não
estava prestando atenção para onde estava indo ou o que estava
fazendo. A luz oscilante da mulher brilhou nas árvores que a
cercavam e então, quando cederam, nas paredes de granito que se
erguiam acima dela e nas pedras no chão, com folhas de todas as
22
Lanterna de cabeça.
184
Livro Único
cores agarradas a elas. Ela se virou para um lado e para o outro,

em um ponto girando tão rápido que tropeçou e caiu sobre um
joelho. Instantaneamente, o homem se virou e correu para ela. Ele
a ajudou a se levantar e eles trocaram ideias por alguns minutos.
Ele insistiu para que ela bebesse água, o que ela fez, enquanto ele
estava perto dela. Ele gesticulou de volta para o caminho que eles
vieram, mas ela balançou a cabeça e gesticulou para onde eles
estavam indo. Ele acenou com a cabeça e retomou a caminhada,
embora com relutância.
A subida parecia estar subindo continuamente. Duas vezes,

ele se virou, dizendo algo, e ela acenou com a cabeça e tomou
alguns goles de água. Ele a estava mantendo hidratada. Isso
significava que a caminhada era longa. Ela foi um pouco mais
cautelosa, mantendo a luz no chão, um pouco à frente de onde ela
estava pisando, embora depois de alguns minutos, ela não se
conteve e começou a olhar em volta novamente, mostrando várias
vistas das formações rochosas. Apenas flashes enquanto sua luz
balançava e serpenteava através da seção que eles caminharam.
De repente, a lente começou a fechar. Não tinha nem

começado a luz. Stella queria gritar que não era justo, mas se
obrigou a ter consciência no sonho. Não ser um observador passivo
ou apavorado. Pela primeira vez, ela tentou mudar o sonho,
mantendo-o por mais tempo olhando apenas para as lentes,
185
Livro Único
tentando ver se ela estava segurando uma câmera e olhando

através dela, silenciosamente se xingando por não se importar com
a fotografia. O que havia de errado com ela quando todas as outras
pessoas no mundo pareciam obcecadas por selfies?
Ela tentou estudar as lentes de todos os ângulos, para ver se

conseguia ver pelo menos uma parte da própria câmera. Isso era
um dial nele? Algum tipo de botão? Parecia um botão? Ela tentou
estudá-lo para poder esboçá-lo com precisão. A lente fechou
abruptamente.
Apesar de como ela estava composta, ela ouviu a voz

daquela criança reverberando distintamente em sua mente. Ela
começou a lutar para chegar à superfície, para sair do pesadelo.
Seu coração batia muito rápido. O sangue trovejou em seus

ouvidos. Sua respiração engatou os pulmões queimando em carne
viva, desesperada por ar. Ela acordou lutando contra os lençóis,
chutando freneticamente para tirá-los de suas pernas. Ela se sentou
abruptamente e respirou fundo.
Stella olhou ao redor de seu quarto, seus olhos um pouco

selvagens, tentando assimilar tudo que era familiar para se ancorar.
Bailey estava lá, enrolado em sua cama do outro lado do quarto.
Sam estava sentado em uma cadeira em frente a ela, uma sentinela
silenciosa, parecendo forte e invencível. Ele tinha aquela máscara
inexpressiva, aquela que era intimidante como o inferno. Ela nunca
o tinha visto assim, e ela sabia que aquele olhar estava ali para
impedir que alguém pensasse que poderia machucá-la.
186
Livro Único
— Stella? A voz de Sam era gentil, movendo-se sobre ela como

uma carícia.
Esta foi a primeira vez que ela não estava soluçando

histericamente ou balançando para frente e para trás. Ela segurou o
sonho por mais tempo, apenas mudando-o ligeiramente com sua
vontade. Ela se recusou a ver isso como um pesadelo, mas mais
como uma chance para sua equipe identificar e pegar o assassino.
Para impedi-lo de matar mais vítimas.
— Acho que estou bem, Sam, disse ela. Sua voz tremia e ela
não tinha certeza se estava dizendo a verdade, mas queria que fosse
verdade. Ela empurrou para trás o cabelo úmido caindo em volta do
rosto. Suas mãos tremiam.
Pequenas gotas de suor se formaram em sua pele, escorrendo

de forma pouco atraente pela testa e entre os seios. Ela lutou contra
os lençóis, mas não foi dormir com uma série de cobertores, sabendo
por experiência própria o que estava por vir. Ela não estava
gritando. Ela não estava catatônica. Ela estava pensando, seu
cérebro processando.
— Você é a mulher mais forte que eu conheço Stella, disse

Sam. Respeito estava em sua voz. Admiração. — Claro que você está
bem. Você consegue querida.
Apenas saber que ele acreditava nela já era metade da batalha.

Ela não estava sozinha nesta luta. Ela tinha Sam e Zahra e até Raine
se ela precisasse visitá-la. Raine acreditaria nela e ajudaria de
qualquer maneira que pudesse.
— Diga-me o que você viu enquanto está fresco em sua mente,

Sam encorajou.
Ela gostava que ele não a mimasse. Não escute isso, não pense
nisso. Ele era tudo sobre, coloque para fora. Repasse uma dúzia de vezes,
se necessário. Anote. Desenhe isso. Esse era Sam.
187
Livro Único
— Estava escuro. Não pude ver muito. Ambos usavam

lanternas. Ela continuou movendo o dela, então eu tive alguns
vislumbres do terreno, mas não muito. No final, quando as lentes
estavam fechando, fiz o possível para forçar o sonho a continuar e
estudei as lentes. Acho que posso desenhar alguns recursos que vi
em torno dele. Não sei se isso vai ajudar ou não.
Essa máscara inexpressiva suavizou e seus olhos brilharam.

Sua boca se curvou. — Você estava certa sobre Zahra. Ela realmente
se manifestou, não foi? Quer dê certo ou não, ela teve algumas
ideias realmente boas.
— Ela ressaltou que Harlow conhece câmeras e fotografia

melhor do que qualquer pessoa no condado. Ela é muito boa, Sam,
mas se eu fosse até ela, isso traria outra pessoa para nosso círculo,
Stella disse um pouco relutantemente.
Sam tinha sido tão inflexível em manter o número de pessoas

que sabiam sobre seu passado muito baixo, então não havia como o
assassino descobrir a verdadeira identidade de Stella. Ela não queria
que outros soubessem sobre ela, mas por outro lado, ela não queria
ser como sua mãe, indo para qualquer extensão para proteger o que
ela tinha e deixando outros morrerem quando ela poderia tê-los
salvado. Ela sabia que ir à polícia não adiantaria de nada neste
momento, mas talvez trazer Harlow pudesse ajudar se ela realmente
fosse capaz de encontrar algo sobre a câmera para ampliar sua
visão.
Sam bateu um ritmo em sua coxa, seus olhos escuros vagando

melancolicamente sobre seu rosto e, em seguida, observando sua
fina camiseta de corrida que ela usara para dormir. Era velho e
surrado, mas macio e reconfortante, e ela precisava dele quando
sabia que teria um pesadelo. O algodão estava úmido de seu suor e
grudou em sua pele, revelando mais do que cobria.
188
Livro Único
— Não gosto que você tenha que passar por isso, Stella, mas
seus amigos são mulheres e sabemos que o assassino é um homem.
Essas mulheres são suas amigas há mais de cinco anos, algumas um
pouco mais, e todas são leais a você. Não consigo imaginar
nenhuma delas vendendo você para a mídia, especialmente Harlow.
Se a trouxermos, quero ficar com você. Elas são suas amigas, então é
sua decisão, mas eu quero estar lá.
Ela ergueu uma sobrancelha. Seus nervos estavam começando

a se acalmar. Só falar com Sam já fazia isso por ela. — Por quê?
— Eu assusto as pessoas, querida. Você não percebeu? Não

preciso dizer nada, posso apenas sentar ao seu lado, em vez de
alguns assentos para baixo, e elas entenderão a mensagem.
Stella franziu a testa, tentando analisar seu tom. Sua voz tinha
uma qualidade aveludada, quase como se roçasse sua pele. Ao
mesmo tempo, havia uma nota de ameaça, algo muito sinistro e
assustador, quando ele nunca ergueu a voz. Ele falou baixo, mas
suas instruções sempre foram cumpridas. Ela notou que se ele falava
com um bêbado causando um problema, o bêbado ouvia
imediatamente, não importa o quão longe parecessem estar.
— Que mensagem, Sam? Ela olhou diretamente em seus olhos,

desafiando-o. Desafiando-o a contar a ela. Ela não tinha medo dele.
Ela nunca teria medo dele.
— Para não foder com você. Elas fazem e terão que responder
a mim. Isso é algo que elas nunca vão querer fazer.
Sua honestidade enviou um pequeno arrepio de calor por sua

espinha. Ela ergueu o queixo para ele. — Você sabia que Raine é
obrigada a fazer uma verificação de antecedentes em qualquer
pessoa com quem ela anda?
Ele cruzou os braços sobre o peito, parecendo mais relaxado

do que nunca.
189
Livro Único
— Não me surpreende.
— Ela fez um em todos, exceto em você. Disse que não queria

levantar nenhuma bandeira caso você tivesse inimigos que
pudessem ter alertas em seu arquivo. Ela também disse que não
queria que você a visitasse no meio da noite. Existe a possibilidade
disso se ela tivesse alertado um inimigo? Ou se alguma das pessoas
que descobrem sobre mim me delata?
— Sim. Não houve hesitação.
Os dedos inquietos de Stella agarraram o lençol. — Eu não

quero isso para você, Sam. Você mesmo disse você dedicou seu
tempo. Se algo der errado, sou uma garota crescida, posso lidar com
isso. Podemos lidar com isso sem que você volte para aquele lugar,
seja o que for, ou seja. Nós dois viemos aqui porque as Sierras
Orientais oferecem algo lindo e único, algo que não poderíamos
encontrar em nenhum outro lugar. É o meu lugar de paz, de
felicidade. Eu acho que é seu também. Começamos aqui e temos
algo bom. Nada pode tirar isso, nem mesmo esse serial killer. Ela
sorriu para ele. — Você me entendeu?
Seu sorriso de resposta demorou a aparecer. — Mulher, você é

tão boa quanto possível. Um presente. Escreva seu relatório e faça
seus esboços. Vou fazer o seu chocolate quente para você. Ele se
levantou, deu um passo e parou, voltando-se para ela. Por um
momento, ele apenas olhou para ela com aqueles olhos escuros e
insondáveis.
— O que?
Sam balançou a cabeça. — Não quero perder você, mulher. Por

nenhum motivo. Se eu enlouquecer e foder tudo, você fica comigo e
me diz o que eu fiz e como consertar. Ele ficou parado por mais um
momento, deu as costas para ela e saiu da sala como só Sam poderia
fazer.
190
Livro Único
Stella deixou escapar o fôlego. No que se refere às declarações,

era uma boa, uma de Sam, e ela aceitaria porque ele sempre quis
dizer cada palavra que dizia. Ele podia derreter seu coração quando
fazia coisas inesperadas como salmão grelhado para ela no final de
um longo dia, quando ela estava tão cansada que só queria se
enrolar em sua cadeira de ovos e esquecer tudo. Quando ele trazia
uma cerveja gelada para ela, ou assistia seu filme favorito pela
décima vez sem reclamar, eram coisas de Sam. Ele comprou livros
de que ela gostou guloseimas para Bailey, lembrou-se de obter o
tipo específico de chocolate que ela amava. Ele ficou quieto sobre
isso. Os livros apareciam ocasionalmente, o chocolate ficava na
cozinha e Bailey sempre tinha guloseimas. Sam estava pensativo e
os mantinha em primeiro lugar em sua mente.
Stella acendeu o abajur e puxou o bloco de desenho e o diário

da gaveta da mesinha de cabeceira. No momento em que iluminou o
quarto, ela teve aquele sentimento estranho que ela não gostou
aquele que lhe disse que alguém podia ver dentro. Ela desejou que
ela tivesse escurecido telas para as janelas em vez das cortinas que
lhe permitiam ver através deles para o lago. Ela amava seus pontos
de vista e não queria comprometê-los.
Ela olhou para a janela. Ela estava sendo boba, não estava
deixando sua imaginação levar o melhor dela? Os efeitos posteriores
do pesadelo. Ela ergueu uma das mãos e ainda tremia. Não era
como se ela pudesse dizer que ainda não estava assustada com seus
sonhos só porque estava sendo proativa e Sam e Zahra a estavam
ajudando.
Ela forçou sua mente a ser meticulosa ao lembrar cada

componente que pudesse, anotando tudo, e então ela começou a
esboçar. Ela era melhor desenhando. Os detalhes surgiram quando
ela concretizou sua ilustração. Ela se perdeu na foto, não pensando
mais em termos de ser a visão de um assassino em série, ou a visão
de uma testemunha, mas simplesmente uma representação artística
191
Livro Único
de dois mochileiros em uma trilha nas primeiras horas da manhã

quando eles começaram sua jornada.
Estava escuro e ela preencheu essa escuridão com carvão,

adicionando o breve foco da mulher no chão da trilha, várias pedras
e as paredes, colocando cada imagem separada em seu próprio
quadrado, bem como um romancista gráfico faria. Ao tratar cada
uma das imagens como um desenho individual, em vez de um
como um todo, ela poderia se concentrar nos detalhes do que a luz
lhe revelava. Veias na rocha. Fendas na parede. Folhas dos tipos de
árvores ou arbustos. Stella sempre descobriu que, quando
desenhava o que vira em seus pesadelos, lembrava muito mais
detalhes. Sua mente subconsciente captou muito mais do que ela
percebeu.
Ela abriu uma nova página em branco e começou a esboçar as

lentes pelas quais havia olhado, acrescentando os recursos que havia
notado nas laterais. O que poderia ter sido um botão redondo
parcial que não significava nada para ela, mas esperava que
significasse algo para outra pessoa. Este não era um telefone celular
pelo qual ela estava olhando. Ela colocou tantos detalhes naquela
visão fracionária do botão quanto tinha nas outras fotos, até a
estranha pequena marca em forma de V em ouro que corria através
da coisa preta de aparência arredondada que ela pensou que
poderia ser um botão que alguém pudesse girar.
Quando ela olhou para cima, Sam estava bem no fundo do

quarto, longe da luz que se derramava do abajur ao lado de sua
cama. Só o fato de que ele não tinha chegado perto para colocar seu
chocolate na mesa de cabeceira ou ver o que ela desenhou enviou
mais calafrios andando como dedos da desgraça por sua espinha.
Ela olhou para a fileira de janelas que davam para o lago. Com
um pequeno suspiro, ela apagou a luz, mais uma vez mergulhando
o quarto na semi-escuridão. Mesmo com as nuvens passando pela
192
Livro Único
lua, o lago refletia luz suficiente para permitir que ela enxergasse
bem o quarto.
— Você também sente, não é, Sam? Alguém esta observando

novamente.
Em vez de responder, ele colocou a caneca na mesa entre as

duas poltronas. — Venha pegar o chocolate. Mantenha Bailey com
você. Vou armar o sistema de segurança quando sair. Você tem uma
arma no quarto com você, não é? Eu sei que você mantém um no
carro.
Ela acenou com a cabeça, mantendo o rosto afastado da janela.

— Eu tenho um pequeno compartimento embutido na parede à
direita da cama. É difícil para qualquer pessoa perceber. Eu
mantenho várias armas lá, então eu as tenho por perto.
— Pegue sua arma. Carregue-o, um na câmara, mas não atire

em mim quando eu voltar para dentro. Havia um traço de diversão
em sua voz. — Bailey fica nervoso você sabe que não sou eu.
— Tenha cuidado, Sam. O que mais ela poderia dizer? Foi o

assassino lá fora? Ele sabia quem ela era?
Ela se inclinou e empurrou o diário e o bloco de desenho na

gaveta ao lado da cama e fechou e trancou antes de escorregar para
fora da cama e ir para o lado oposto do quarto. Quando ela se
aproximou da esquina onde Sam estava, ele de repente estendeu a
mão e agarrou a frente de sua camiseta, seu punho fechando sobre o
tecido fino. Ela podia sentir o toque de seus dedos contra a
protuberância de seus seios. Seu coração acelerou e seu olhar saltou
para o dele. Ele a puxou lentamente, inexoravelmente, para ele.
Sua respiração ficou presa na garganta quando ele se inclinou

em direção a ela, sua cabeça descendo, aqueles olhos escuros
queimando de desejo. Com algo próximo a uma emoção que ela
tinha medo de nomear, não quando ele estava saindo sozinho e o
193
Livro Único
serial killer poderia estar esperando por ele. Ela não poderia
envolvê-lo em uma armadura, em uma rede de invisibilidade como
ela queria. Em vez disso, ela se entregou a ele. Rendeu-se
completamente, beijando-o com a mesma emoção sem nome que ela
viu em seus olhos quando ele olhou para ela.
— Ele poderia estar aqui por você? Ela sussurrou a pergunta,

as palmas das mãos espalmadas contra o peito dele. — Porque ele
sentiu sua falta? Será uma questão de orgulho?
— Eu não sou fácil de matar, Stella, Sam assegurou. Seus

lábios roçaram os dela mais uma vez. — A arma. Eu quero bem
perto de você. Mantenha Bailey na mesma sala com você.
Ela preferia que ele levasse Bailey com ele. Eles teriam que
conseguir outro cachorro. Ela o observou partir, o chocolate quente
na mão, o coração na boca. Ela percebeu que ele não tinha realmente
respondido a ela. Não havia nenhuma maneira real de saber quem
estava lá fora assistindo, mas alguém estava e era uma coincidência
grande demais pensar que o serial killer havia entrado em cena e
outra pessoa - um espião Tom - estava perseguindo o resort.
Ela voltou para a cama e colocou o chocolate quente na mesa

de cabeceira antes de se inclinar para fora da vista da janela para
pressionar a ponta do polegar sobre o botão que liberaria a porta
habilmente escondida na parede. Sua impressão digital abriria o
cofre rapidamente. Ela praticou repetidamente até que ela pudesse
encontrar o botão em seu sono. Durante o dia, embora soubesse que
estava ali junto com a porta do cofre, ela teve que procurá-la porque
estava muito bem escondida nas paredes de madeira.
Ela tirou a arma, carregou-a rapidamente e colocou-a bem ao

lado dela, mantendo-a fora da vista da janela, para o caso de o
observador poder ver dentro de seu quarto. Ela pegou o chocolate
quente e deu um gole lentamente. Bailey empurrou sua grande
cabeça para a cama, sentindo que ela estava inquieta.
194
Livro Único
— Você também não gosta quando ele está lá fora sozinho, não
é, garotão? Ela sussurrou, coçando o cachorro atrás das orelhas. Ela
suspirou, bebericando o chocolate, recostando-se na cabeceira da
cama e tentando não pensar em Sam estar sozinho do lado de fora.
Ela deveria ter insistido em sair com ele.
— Desde quando eu fico dentro de casa, Bailey?
Ela não era o tipo de mulher que apenas ficava sentada em seu
quarto enquanto outras pessoas corriam os riscos, então ela saltou,
ignorando o gemido assustado de Bailey, e tirou o binóculo de visão
noturna que estava pendurado na maior janela de frente para o lago.
Ela gostou da vista. A casa ficava em um terreno mais alto,
permitindo a ela uma boa visão não só do lago e da marina, mas de
uma boa parte da metade da frente de sua propriedade - a metade
bonita. Ela não estava olhando para as cabanas, o estacionamento de
trailers, os acampamentos ou os acampamentos de pesca. Tudo isso
era uma linda terra ao redor do lago.
Ela encostou-se à janela e colocou o binóculo nos olhos para

fazer uma varredura lenta no lago para ver se algo parecia suspeito.
Em seguida, vieram à marina e as docas. Ela continuou a leitura
lenta de sua terra, movendo os binóculos centímetro a centímetro ao
longo da costa. Algo se moveu embaixo das árvores perto do prédio
de aluguel de barcos.
Enquanto ela ajustava sua visão, o corpo de Sam saltou sobre

ela. Havia outro homem, mais magro e um pouco mais baixo,
apontando uma arma para ele. Dois outros homens emergiram de
trás das árvores no momento em que Sam se movia com velocidade
confusa, tirando as pernas de baixo daquele que segurava a arma.
Enquanto ele caia, Sam o despojou da arma. Ele derrubou os outros
dois homens usando um golpe violento do cano para o lado da
cabeça de um, fazendo-o cair de joelhos e puxando o outro com um
braço em volta de sua garganta e a arma apertada contra seu crânio.
195
Livro Único
Stella os observou, a tensão enrolada em seu intestino. Os dois

no chão permaneceram ali, sem tentar se levantar ou se mover.
Depois de alguns minutos, ela teve a sensação de que Sam conhecia
os três homens, ou pelo menos aquele contra o qual ele pressionava
a arma. De repente, Sam deixou cair o braço e deu um passo para
trás, libertando seu prisioneiro.
O homem que ele acertou com a arma permaneceu sentado no

chão, a cabeça entre as mãos. O mais jovem, que Sam originalmente
havia tirado os pés de baixo, saltou e colocou distância entre eles.
Vestido com jeans e um suéter, toda a postura de seu corpo gritava
beligerância. O terceiro homem, o de terno impecável que tinha a
arma na nuca, parecia imperturbável com tudo. Ele fez toda a
conversa.
Ficou muito claro que ele estava no comando. Ele parecia ter
muito a dizer, gesticulando em direção ao lago e depois para o céu,
balançando a cabeça uma vez. Ele esperou como se por uma
resposta de Sam e então continuou, movendo a mão como se fosse
incluir todo o resort, a marina e a cabana de Sam. Então ele
gesticulou em direção a sua casa.
Sam permaneceu muito quieto, sem mover um músculo. Ela o

tinha visto assim centenas de vezes. Ela poderia ter previsto a
expressão em seu rosto. Sem expressão. Esses olhos, planos e frios.
Sem vida. Ele ouviu, mas não ia revelar nada.
Stella o observava por mais de dois anos, estudando

secretamente cada movimento de Sam. Ela sabia pela maneira solta
que ele se segurava que ele poderia explodir em ação, assim como
ele tinha feito quando ele pegou a arma do homem mais jovem dele.
Não houve nenhuma reação dele a qualquer coisa que o homem
mais velho estava dizendo até que ele gesticulou em direção à casa
dela. Sam não olhou para a casa, não seguiu o gesto de forma
alguma, mas havia uma ligeira diferença na maneira como ele se
portava. Ela tinha a sensação de que ele havia passado de neutro a
196
Livro Único
uma ameaça, mas a mudança em seu comportamento era tão sutil

que ela não conseguia dizer por que pensava assim.
O homem sentado no chão deve ter sentido a ameaça também,

porque de repente ele olhou para cima e ficou de pé, afastando-se de
Sam e voltando para o homem mais velho de maneira quase
protetora. O jovem circulou atrás de Sam com cautela. Sam não se
dignou a olhar para ele. Ele manteve sua atenção fixa no homem
mais velho. O homem mais jovem deu a Sam um amplo espaço
enquanto ele caminhava para o lado do homem mais velho.
Stella tentou decifrar o que tudo isso significava. Ela forçou o

ar em seus pulmões. Sam sabia que aqueles homens estavam lá fora.
Ele não tinha pensado que um assassino em série estava lá fora
vigiando a casa. Ele a fez pegar a arma porque ele sabia quem estava
lá fora e ele não queria que eles entrassem em sua casa e
conversassem com ela.
Esta não era a primeira vez que ele saía sozinho noite adentro
quando ela tinha certeza de que alguém os estava observando. Esses
mesmos homens tinham estado lá então? Eles estavam observando
ela e seus amigos acampando no lago? De repente, ela queria trancar
Sam fora de sua casa e apenas sentar-se sozinha com Bailey e seu
coração batendo descontroladamente. Infelizmente, Sam tinha o
código para entrar. Ela estava com medo dele?
A cabeça de Sam de repente surgiu em alerta e todos os três

homens se viraram em direção ao caminho que levava à casa de
barcos. Stella balançou o binóculo nessa direção. Sonny Leven
passeou ao longo da trilha em suas rondas, patrulhando o complexo
à noite. Ele geralmente ficava longe da casa principal, mas passava
ao longo da marina várias vezes por noite. Ele ainda estava a uma
distância, mas estava vindo com rapidez. Quando ela olhou para
Sam e os outros, eles haviam desaparecido completamente.
197
Livro Único
Stella procurou por toda parte, movendo os binóculos de visão

noturna com cuidado ao longo das árvores e arbustos, mas nada
parecia fora do lugar. Não havia nenhuma evidência de que os
homens alguma vez estiveram em sua propriedade ou de que se
encontraram com Sam. Tanto para seus dois guardas de segurança.
Eles não faziam ideia de encontros clandestinos secretos no meio da
noite.
— O que você acha Bailey? Devo atirar em Sam quando ele

entrar e dizer ao xerife que pensei que ele era um intruso?
Ela pendurou os binóculos de volta onde sempre os mantinha

e se retirou para a cama, sua mão encontrando o aperto
reconfortante com o qual sua palma estava familiarizada.
— Esta é a razão pela qual não deixo as pessoas se

aproximarem, disse ela ao cachorro. — Agora estamos nessa grande
confusão. Estou culpando você. Você gostou dele desde o início. Se
você tivesse rosnado e ficado totalmente protetor, eu teria deixado
de contratá-lo.
Pelo menos ela sabia que o assassino não estava olhando para
ela. Isso foi um alívio. E Sam teve a chance de dizer a ela a verdade.
Ele pode entrar e dizer a ela que se encontrou com três homens que
obviamente conhecia e teve uma conversinha com eles. Quais foram
as chances?
Minutos se passaram, mas pareceram horas. Stella imaginou

todo tipo de coisa, incluindo os três homens que assassinaram Sam e
arrastaram seu corpo com eles. Ela não tinha ideia de como eles
entraram em sua propriedade ou de como iriam embora sem que
Sonny ou Patrick Sorsey, o outro segurança soubesse. Ainda assim,
ela estava grata que nenhum dos guardas confrontou aqueles três
homens. Ela tinha a sensação de que eram letais.
A cabeça de Bailey se ergueu em alerta. O cachorro foi até a

porta de seu quarto e parou bem na entrada, olhando para o
198
Livro Único
corredor. Ela olhou para o dispositivo e viu que o teclado traseiro

havia sido desbloqueado. Seus dedos se apertaram ao redor do
punho de sua arma. Ninguém havia assassinado Sam - ainda.
Ele entrou em seu espaço parecendo friamente confiante e,

como sempre, composto, calmo e completamente relaxado, como se
ele tivesse feito um passeio noturno. Seus olhos escuros moveram-se
sobre seu rosto, desceram mais, observando seu corpo e então sua
mão em sua arma antes de voltar para encontrar seus olhos. Bailey o
cutucou e ele automaticamente coçou as orelhas do cachorro, nunca
tirando o olhar dela.
Stella esperou que ele dissesse algo, mas ele não disse. Ela
deveria saber que ele não faria. Sam era tudo sobre silêncio. Ele
nunca gostou de falar. Ele não se entregou. Normalmente, o silêncio
era amigável entre eles. Não dessa vez. A tensão aumentou até que
poderia ter sido cortada com uma faca.
Sam balançou a cabeça e depois afundou na cadeira em frente

à cama, pegando a água que havia deixado na mesinha ali. — Você
vai guardar a arma ou usá-la, Stella?
A pequena nota de diversão masculina a incomodou o

suficiente para que ela refletisse sobre os benefícios de colocar uma
bala na parede bem ao lado de sua orelha, mas ela sabia que ele nem
mesmo recuaria.
— Ainda estou pensando.
Ele engoliu água, seu olhar nunca deixando o dela. Ele não
parecia nem um pouco preocupado, mas nunca pareceu. Ele
permaneceu em silêncio, sem lhe oferecer nada, nem mesmo uma
explicação.
Stella repassou todas as suas ações - ou melhor, inação -

enquanto ele estava sob as árvores com os três intrusos. Ele não
parecia incomodado com eles até que o homem mais velho fez um
199
Livro Único
gesto em direção à casa dela. Foi então que a mudança sutil ocorreu
nele. Não era apenas ela que sabia; os outros também.
Ela estudou Sam. Havia tanta coisa lá que ela não sabia. Ela
nunca perguntou. Ela ficou abalada esta noite porque teve um
pesadelo e eles estavam resolvendo isso quando os dois souberam
que alguém tinha entrado na propriedade - alguém estava
observando. Sam ainda não a havia decepcionado. Ele não fez nada
para mudar a opinião dela sobre ele.
Ela não perguntou a ele o que tinha acontecido lá porque

temia que ele mentisse para ela. Ele não era sua mãe. Ele não era seu
pai. Ele não era o amigo da escola que a abandonou no momento em
que descobriram quem ela era. Ele era Sam.
Stella descarregou a arma e a trancou no cofre. — Eu

realmente senti vontade de cortar você por aquele senso de humor
masculino fedorento e superior que você tem.
— Estou bem ciente de que você tem um certo temperamento,

Stella.
Os olhos escuros brilharam com humor, captando a luz do

lago. Ela não conseguia ver isso com muita frequência e a visão lhe
deu uma sensação ridícula de derretimento na boca do estômago.
Ela revirou os olhos.
Novamente, houve um silêncio. Seu silêncio. Ele a faria

perguntar. Ela não sabia se tinha coragem. Ela não suportaria se ele
mentisse para ela. Se ele a decepcionasse. Seu silêncio era normal.
Ele não disse a ninguém - incluindo ela - o negócio dele. Ele
consideraria aqueles homens seu negócio.
Ela juntou o lençol entre os dedos, olhando para ele, torcendo-

o para frente e para trás, dizendo a si mesma que precisava saber
agora, antes que fosse tarde demais. Outra parte dela sussurrou que
ela estava sendo boba, Sam não contava mentiras. Mais do que
200
Livro Único
provavelmente, ele não responderia se não quisesse que ela

soubesse de algo, mas ele não mentiria.
— Mulher. Ele parecia exasperado.
— Homem.
— Cuspa pra fora.
Ela ergueu os cílios e o olhou diretamente nos olhos

novamente. — Quem estava lá? Ela podia sentir seu coração
batendo muito forte. Muito rápido.
— Tenho pensado se é uma boa ideia você saber ou não.
Ela piscou. Ela não esperava essa resposta. Ele já estava

pensando em contar a ela. Isso foi alguma coisa. E não, ele não iria
mentir para ela. O alívio a invadiu. Ela tinha problemas de
confiança, grandes problemas. Ele. Amigos dela. Ela precisava
passar por eles.
— Eles já estiveram aqui, Sam?
— Não. Esta é a primeira vez. Porque eles estavam lá fora, eu

não podia ter certeza se outra pessoa não estava cuidando da casa
também. Parecia quando eu saí pela primeira vez.
Esse frisson de medo percorreu sua espinha. — Você acha que

aqueles homens eram os que eu sentia espionando meus amigos e
eu quando estávamos acampando? Porque alguém estava.
— Não sei. Havia um tom distinto em sua voz. — Eu disse a

eles para não virem aqui de novo e definitivamente não chegarem
perto de você ou de seus amigos.
Seu estômago de repente deu nós. — Eles não ameaçaram

nenhum dos meus amigos, não é? Ela estava mais preocupada com
seu pequeno círculo de amigos do que consigo mesma.
201
Livro Único
— Um deles mencionou ter conhecido Raine. Ele foi

improvisado sobre isso, mas eu não gostei e o deixei saber.
Sam só tinha falado com o homem mais velho, mas ele varreu
as pernas debaixo do homem mais jovem quando ele estava falando.
Deve ter sido ele, o homem mais jovem, e Sam retaliou, derrubando-
o e depois pegando sua arma. Stella pensou que era porque o
homem mais jovem apontou uma arma para ele.
Protetora, ela colocou a mão na garganta. — Por que ele diria

qualquer coisa sobre Raine?
Sam encolheu os ombros. — Ele estava me testando. Não

funcionou a seu favor.
Um pensamento repentino ocorreu a ela. — Eles sabem quem

eu realmente sou como Raine?
Ele suspirou. — Não, Stella, eles não têm como saber. Mesmo
que o fizessem, não diriam nada, a menos que pensassem que isso
me levaria a fazer algo que eles queriam que eu fizesse.
Ela apertou os lábios. — Eles queriam que você fosse embora,

não é? Aquele homem, o mais velho, não estava tentando fazer com
que você aceitasse outro emprego em algum lugar. Ele queria que
você fosse embora.
Em um daqueles raros momentos de Sam, seus lábios se

curvaram em um sorriso verdadeiro. Foi de tirar o fôlego. Pelo
menos para ela. Ele simplesmente não sorria com tanta frequência.
Isso mudou todo o seu comportamento.
— Você estava assistindo.
— Alguém teve que apoiá-lo apenas no caso de você se

complicar.
Ele riu. Isso foi ainda mais emocionante. O som era lindo.
202
Livro Único
— Sim, querida, tivemos uma pequena discussão sobre isso.
— Não me pareceu tão pequeno. Sam, quem eram essas

pessoas?
— Eu te dou isso, Stella, você me dá sua palavra primeiro que

você vai ficar comigo. Todo o humor havia desaparecido de seu
rosto, deixando-o completamente sem expressão novamente.
— Meu pai é um assassino em série, Sam. Tive que confessar

isso para você e ainda estou tendo aceitar contar aos meus amigos.
Ela já sabia que ele havia trabalhado para o governo de alguma
forma. Não era como se ela fosse ficar chocada.
— É melhor você manter sua palavra, porque estou exigindo

de você.
Ela nunca tinha visto Sam ficar tenso. Nunca. Ela quase não
queria que ele contasse a ela. Ela sabia o que era proteger segredos e
mantê-los escondidos por boas razões. Alguns segredos não
precisam vir à tona. Sam viajou, procurando uma nova vida, um
novo começo. Ele só queria ser deixado sozinho.
— Eles eram agentes do governo, Sam? Ela suavizou a voz,

tentando transmitir a ele que não importava o que acontecesse,
mesmo se eles estivessem tentando convencê-lo de que queriam que
ele voltasse e trabalhasse para eles, ela entenderia.
Sam balançou a cabeça. — Não, nem perto, Stella. O homem

mais velho que você viu lá fora era meu pai, Don Marco Rossi. O
que eu coloquei no chão era seu subchefe, e o tagarela era um
guarda-costas. Ele ficou em silêncio, seus olhos escuros em seu rosto
enquanto ela absorvia sua declaração.
Stella franziu a testa. — Sam. Não vou fingir que não ouvi
falar dele, mas por que você ficaria tão chateado por me dizer quem
é seu pai, quando meu pai está sentado na prisão agora pelo que
fez?
203
Livro Único
— Seu pai matou quantas vítimas em quatro anos? Cinco?

Quem você acha que me ensinou mais do que eu sei, Stella? Você
acha que aprendi a ser o que sou com o treinamento que recebi
quando entrei para o exército? Esse foi o treinamento do meu pai.
Isso foi o que me ensinaram desde o momento em que estava no
berço.
Sam tomou outro longo gole de água e esfregou o pelo de

Bailey enquanto Stella pensava na maneira tensa como todos agiram
quando seu pai fez um gesto em direção à casa. Ele a ameaçou? O
que Sam esteve perto de fazer? Certamente ele não teria atacado seu
próprio pai.
— O que deu errado entre você e seu pai, Sam? Ela perguntou.
Sam enroscou a tampa da garrafa e a pressionou contra a testa.

— Minha família é dona de alguns clubes de strip, e meu pai não via
razão para não participar das alegrias dos fundos de lá. Ele fez isso
com frequência. Minha mãe era doce, Stella. A melhor. Amamos
grandes encontros com muitos amigos e comida. Ela mesma
preparava as refeições. Obviamente tínhamos dinheiro, mas ela
fazia tudo sozinha. Ela derramou amor em tudo o que fez. E ela o
amava. Ela fez tudo naquela casa perfeito para ele.
Stella não pôde deixar de notar que ele falava de sua mãe no
passado. Seu coração doeu por ele. Ele parecia sozinho e muito
longe dela. Ela suspeitou que, como ela, ele passou a maior parte de
sua vida sozinho.
— Ela pediu a ele para parar tantas vezes ou deixá-la se

divorciar dele. Ele disse a ela que não era da conta dela, que não
havia divórcio, que ele deu a ela uma bela casa e ele voltava para
casa à noite. Isso deve ser o suficiente. Tentei falar com ele quando
estava realmente preocupada com ela, mas ele mandou alguns de
seus homens me espancarem até o inferno por interferir no que não
era da minha conta. Ele disse que eu não tinha o direito de
204
Livro Único
frequentar clubes com frequência, e isso era verdade. Eu estava

fazendo muitos negócios para ele naquela época. Muito. Fazendo
coisas que olho para trás agora e percebo como foi fácil me tornar o
que ele me transformou, porque quando criança eu o admirava e
queria ser como ele.
Stella sabia o que era querer que um dos pais amasse você e
buscasse a aprovação deles. Ela tinha feito isso uma e outra vez. Foi
natural.
Sam balançou a cabeça. — Eles tiveram uma briga terrível uma

noite. Ele estava indo para o clube depois que ela fez um jantar
especial. Acontece que era o aniversário dela. Ela queria que ele
ficasse em casa com ela, mas ele disse não. Havia uma garota nova
no clube que ele queria experimentar. Ele não disse isso a ela, mas se
recusou a ficar e mamãe ficou muito chateada. A luta se tornou
física, pelo menos ela deu um tapa nele e ele deu um tapa nas costas
dela. Eu interferi e ele saiu.
Stella apertou os lábios para não demonstrar simpatia por ele.

Ele precisava que ela ouvisse, não falasse.
— Eu a segurei enquanto ela chorava e então ela ficou muito

quieta. Ela me disse que estava cansada. Tão cansada. Ela me disse
para, por favor, nunca tratar uma mulher como ele a tratou - que se
eu encontrasse uma garota, para ter certeza de que realmente a
amava o suficiente para ficar com ela e só ela ou não me incomodar.
Eu fiz essa promessa a ela. Ela me disse que me amava e depois
subiu as escadas.
Stella sentiu seu coração começar a acelerar. Ela tinha um

pressentimento muito, muito ruim.
— Meu pai não voltou para casa pela primeira vez que eu me
lembrava até a manhã seguinte. Eu tinha acabado de subir para ligar
para a mamãe quando o ouvi entrar. Bati na porta e ela não atendeu.
Empurrei a porta e pude vê-la sentada em seu lugar favorito perto
205
Livro Único
da janela. Era um assento na janela com vista para o jardim. Ela

estava curvada e ainda com as roupas que usava na noite anterior.
Havia sangue no banco e nas almofadas, bem como acumulado no
chão. Parecia que estava em toda parte.
— Corri até ela, mesmo sabendo que era tarde demais. Ela
sentou-se lá e sangrou silenciosamente depois de cortar os pulsos.
Eu a peguei e segurei contra mim, balançando-a, e quando ele
entrou e tentou levá-la, eu queria matá-lo. Eu disse a ele que era
culpa dele. Ele tinha feito isso com ela tão certo como se ele mesmo
tivesse feito aqueles cortes. Saí logo após seu funeral, juntei-me ao
serviço e cheguei aos Rangers23. Depois disso, me ofereceram um
emprego de alto risco, lucrativo, mas muito mais satisfatório se você
estivesse procurando redenção, o que eu estava procurando.
Também me manteve impossível de encontrar, mesmo com os
recursos de meu pai. Assim que saí, fiquei à deriva, principalmente
precisando descobrir o quanto de mim era ele. Eu fiz tantas coisas,
Stella, coisas que nunca poderei voltar atrás. Eu não quero ser como
ele.
— Venha deitar na cama comigo, Sam. Podemos não dormir,

mas pelo menos estaremos perto. Esta noite, pelo resto da noite,
precisamos fechar. Pelo menos eu preciso disso.
— Eu disse a ele para ficar bem longe de você. Ele se abaixou

para tirar os sapatos.
Stella se escondeu sob as cobertas, mas deixou o edredom para

ele. Quando ele se deitou ao lado dela, um braço ao redor dela, ela
colocou a cabeça em seu ombro. — Por que ele estava tão chateado?
23
Os United States Army Rangers, ou Rangers somente, são membros de
elite do Exército dos Estados Unidos. Os Rangers têm servido em unidades Ranger reconhecidas do
Exército, ou se formaram na United States Army Ranger School.
206
Livro Único
— Ele descobriu sobre o assassino tentando me arrastar para

debaixo d'água. Ele queria que eu voltasse para casa.
Ela ficou em silêncio, pensando sobre isso. — Ele deve cuidar

de você, Sam, ou não teria vindo pessoalmente para tentar persuadi-
lo.
— Não tenho dúvidas de que ele se importa comigo. Ele

cuidou de minha mãe. Ele pode se sentar para uma refeição com
você e seus amigos, Stella, e depois ir para casa e ordenar que um ou
todos vocês sejam torturados para demonstrar que não é uma boa
ideia foder com nossa família. A pior parte é que sou totalmente
capaz de fazer a mesma coisa.
Seu braço se apertou ao redor dela. — Vim aqui para

encontrar um estilo de vida diferente, para ser uma pessoa diferente.
Não do jeito que cresci e não da pessoa que fui para o nosso
governo. Eu encontrei este lugar e você.
— Ninguém vai tirar isso de você, Sam. Stella disse isso com
veemência, determinada a falar a verdade.
Capítulo 10
Harlow Frye tinha cabelos ruivos flamejantes e olhos

verdes jade. As sardas cobriam o nariz e as maçãs do rosto salientes,
espalhadas pelos ombros e braços generosamente, aumentando sua
beleza. Ela era alta, com pernas longas e curvas generosas. Por
turnos, ela poderia parecer elegante, uma sedutora ou garota da
casa ao lado, dependendo do que ela usasse e como ela fizesse seu
cabelo e maquiagem. Mesmo com todos os olhares variados que ela
tinha, ela sempre parecia ser uma chama de fogo. Não havia como
contornar isso, não com seu cabelo.
207
Livro Único
Hoje ela usava sua espessa cabeleira ruiva presa em um rabo

de cavalo simples. Ela estava com pouca maquiagem, jeans
enrolados e um suéter dourado abotoado com pequenos botões de
pérola. Suas botas iam até as panturrilhas, um couro macio e
dourado que combinava com seu suéter. Stella nunca conseguiu
descobrir onde encontrou suas roupas ou botas.
Harlow estudou o esboço que realmente não mostrava muito

de nada enquanto ela digeria o que Stella havia revelado a ela sobre
sua verdadeira identidade. Debaixo da mesa do artista no estúdio de
Harlow, Stella pressionou as unhas profundamente em sua própria
coxa através da calça jeans. Ela disse a Sam que queria falar com
Harlow a sós, então, após um breve aceno de cabeça que claramente
expressou seu descontentamento com sua decisão, ele ficou no
resort para garantir que o último dos hóspedes que alugaram as
cabines partisse sem acidentes. Eles foram oficialmente fechados
para a temporada, um verdadeiro alívio. Esta noite haveria uma
festa para seus funcionários de longa data. Eles certamente
mereciam a folga, e então ela e Sam também teriam folga. Com
sorte, eles teriam tempo para desenvolver seu relacionamento e
pegar um assassino em série.
— Quando você tem esses pesadelos, Stella, você percebe que

está sonhando? Você é um participante ativo do sonho? Harlow
perguntou, ainda estudando o esboço. Ela estava franzindo a testa
em concentração.
— Eu nunca estive antes, ela admitiu. — Sempre fiquei

apavorada, mas era criança na primeira vez e adolescente na
segunda. A primeira série de pesadelos foi tão inesperada, sobre o
pescador, que eu estava apenas me concentrando em tentar
encontrar o lugar ao redor do lago onde poderia estar. Zahra
sugeriu que eu poderia ampliar as lentes. Eu nunca pensei nisso.
Nunca pensei em olhar para as lentes em si.
— Você já mudou um sonho?
208
Livro Único
— Acordei dizendo a mim mesma que estava sonhando, mas

nunca mudei nada significativo. Quando gostei de um sonho, antes
de ir para a cama, disse a mim mesma que queria sonhar aquele
sonho novamente e o fiz, admitiu.
— Sinto muito pelo seu pai, Stella. Harlow ergueu os olhos

pela primeira vez, encontrando seus olhos, parecendo sincero. —
Não podemos escolher nossos pais, podemos? Felizmente, eles não
precisam necessariamente refletir quem somos. Ela olhou
novamente para o esboço. — Isso realmente não me dá muito com o
que trabalhar, mas você pode tentar experimentar. Eu sei que você
não gosta de câmeras. Ela olhou de volta para Stella, que estremeceu
e fez uma careta. Harlow desatou a rir, apesar da seriedade da
conversa.
Stella cobriu o rosto com as mãos e espiou por entre os dedos.

— Você vai me fazer tocar em uma câmera, não é?
Harlow a estudou. — Por que você tem tanta aversão a eles?

Você acha que foi porque você cresceu cercado pela mídia depois
que eles descobriram sobre seu pai?
Stella baixou as mãos, considerando a pergunta de Harlow. —

Não, sempre havia repórteres por perto. Minha mãe estava
envolvida em várias instituições de caridade e sentou-se em vários
conselhos de ópera, balé e teatro. Ela era grande nas artes. Isso se
traduziu em vários artigos em jornais e revistas. Na época, meu pai
era considerado um filantropo muito bonito. Eles eram um casal e
faziam barulho em todos os lugares que iam sempre prontos para a
câmera. Eu também tinha que ficar se saísse de casa.
Harlow acenou com a cabeça em compreensão. — Eu sei o que

é quando criança. Meu pai sempre esteve na política, desde que me
lembro. Ela fez uma careta. — Deus me livre de sujar os sapatos ou
arrastá-los no jardim para o caso de alguém precisar de uma foto de
família. Essa é uma das razões pelas quais não faço retratos.
209
Livro Único
Stella sabia que Harlow raramente tirava fotos de pessoas.

Quando o fez, as fotos eram privadas, apenas de seus amigos e suas
atividades. Foram suas paisagens que foram consideradas de tirar o
fôlego e chamaram muita atenção.
— Essa foi definitivamente a minha infância e muito mais.

Minha mãe tinha regras muito rígidas sobre o que eu podia vestir e
o que não podia. Provavelmente é por isso que uso jeans o tempo
todo e pouca maquiagem agora. Ela tinha uma câmera que meu pai
lhe dera no Natal um ano. Era a última novidade e todos os seus
amigos tinham câmeras. Ela não usava, ela gostava de acompanhar
tudo o que eles tinham.
Stella não podia simplesmente sentar na longa mesa de

trabalho. Ela teve que se levantar e andar. Havia tantas coisas
bonitas para ver no estúdio de Harlow. Harlow era uma mulher
extremamente criativa. Stella sempre ficou pasma como ela
conseguia fazer uma cerâmica tão bonita e tirar fotos requintadas
que pareciam tão reais que você também estava ali. Stella mandou
emoldurar uma linda foto tirada de cima do lago, bem cedo pela
manhã, quando o sol estava nascendo e as cores se estendendo sobre
a água. Era lindo. Stella não desistiria por nenhuma quantia em
dinheiro. Ela nunca conseguia igualar o lado criativo de Harlow
com o lado puro e prático, a enfermeira que trabalhava no hospital e
não piscava ao costurar feridas.
Harlow era uma grande escaladora. Como Stella, ela preferia o

boulder, mas negociava escalada com as amigas, o que Stella podia
fazer, mas não gostava muito. O cachorro de Harlow, Misha, um
beagle, estava aninhado em uma cama de cachorro ao lado da porta
que dava para o quintal que dava para o canal, onde Harlow a
levava a cada duas horas. Misha parecia saber a programação e não
deixava Harlow esquecê-la. Agora, ela assistia Stella vagando pelo
estúdio.
210
Livro Único
— Misha e Bailey são bons amigos, Harlow, mas ela está

olhando para mim com muita desconfiança, como se eu pudesse
tentar fugir com uma de suas peças de arte a qualquer minuto, Stella
não pôde deixar de apontar. — Nada de mimos para você, Misha,
pensando que posso ser um ladrão de arte.
Misha abanou o rabo, batendo-o na cama do cão ao som do

seu nome e da palavra guloseimas.
— Misha olha todos com desconfiança aqui, Harlow

concordou. — A ideia dela é nos levar para fora para que ela possa
fazer sua coisa favorita, que, como você sabe, faça chuva ou faça sol,
é dar um PASSEIO no caso dela, CORRER.
Stella riu. — Aquele cachorro é muito esperto. Ela vai

aprender a soletrar.
— Ela só é inteligente quando quer. Pare de enrolar e me fale

sobre a câmera que sua mãe tinha. Ela não o usou, mas algo
aconteceu com ele.
O sorriso sumiu da boca de Stella. Reviver velhas memórias

não era divertido. Como esse serial killer trouxe tantas coisas de
volta? Ela nem tinha pensado neles nos meses de terapia que ela fez
quando era adolescente. Nem quando foi para a terapia enquanto
estava na faculdade. De repente, agora ela estava se lembrando de
sua infância, coisas que ela havia deliberadamente colocado em um
quarto e trancado a porta. Algumas coisas deveriam continuar
assim, atrás de portas fechadas por barricadas.
— Estou me lembrando de tantas coisas que bloqueei

deliberadamente, Harlow. Não quero me lembrar dessas coisas
sobre minha mãe, muito menos meu pai. Ela começou a beber muito
como uma forma de compensar quando comecei a contar a ela meus
pesadelos. No início, ela estava apenas tentando lidar com uma
criança tendo pesadelos terríveis, mas então ela percebeu o que eles
eram. Talvez ela tenha suspeitado o tempo todo, não sei.
211
Livro Único
Harlow também se levantou e foi até a janela. — Nós

pensamos em termos de nossas vidas, do jeito que somos agora, mas
as mulheres não eram tão independentes. Minha mãe me lembrou
que era uma época diferente quando nossos pais eram jovens.
Nossas mães foram criadas de maneira diferente e não havia tanta
ajuda para as mulheres como agora. Alguns de seus pais
acreditavam que, se você trouxesse filhos ao mundo, teria o direito
de fazer tudo o que quisesse com eles.
Stella teve que concordar. — A câmera sempre ficava na

cômoda. Foi lindo para mim e um dia não pude resistir. Sempre
ficava sentado no quarto dela quando ela se preparava para sair. Eu
gostava de vê-la colocar maquiagem e joias. Eu perguntei se eu
poderia tirar uma foto dela.
Harlow se virou muito rápido para encará-la. — Isso foi antes

ou depois de seus pesadelos, Stella?
— Eu era tão jovem. Stella franziu a testa, esfregando a testa,

tentando pensar no passado. Ela olhou pela janela em direção ao
canal, desejando estar lá fora. Ela se sentia fechada. Sentia como se
alguém a estivesse observando novamente. Ela estava ficando louca.
— Não sei. Lembro-me de ficar feliz com minha mãe em seu quarto
quando ela se preparava para sair com meu pai, pelo menos parte
do tempo. E então não era melhor.
— Você começou a ter pesadelos quando tinha quatro anos? E

então eles realmente começaram quando você tinha cinco anos. Isso
é um fato. Quando ele foi pego, isso saiu na história. Ele não foi
pego até que você fosse mais velha, mas os pesadelos começaram
quando você era tão jovem. Harlow atravessou a sala até uma das
prateleiras e começou a olhar para as câmeras que ela tinha em
exibição lá.
212
Livro Único
O coração de Stella parou. Ela deliberadamente ficou onde

estava perto da janela do lado oposto da sala. — Sim, eu tinha cinco
anos.
— Então, você podia ter apenas quatro anos quando quis tirar
uma foto da sua mãe. Você pode até ter lembranças desde os três
anos de ir ao teatro com sua mãe. Do balé. Sua mãe teria levado
você. Você teria ouvido falar, fofocar, o tempo todo para reforçar as
lembranças de sua mãe participando de várias artes. Percebi que
você retém quase tudo. Parece ser um dom que você tem.
— É uma maldição, murmurou Stella. — Isso tudo é uma

maldição.
— Não se você puder pegá-lo e salvar vidas.
— Eu não peguei meu pai, ou Miller quando eu era

adolescente.
— Você pegou eventualmente, Harlow apontou. — Você não

poderia esperar imediatamente. E você não pode agora. Você vai ter
que entender que nenhuma dessas mortes é sua culpa. Ele está lá
fora, e se você não soubesse sobre ele, ele estaria matando sem
ninguém para detê-lo. Como enfermeira, sei que não vou salvar a
todos. Eu não vou. Nem mesmo meus pacientes favoritos, não
importa o quanto eu tente. Não importa o esforço que eu coloquei
nisso. Todo policial precisa chegar a um acordo com a mesma coisa
em algum momento. Todo homem ou mulher nas forças armadas.
— A morte parece... Inaceitável para mim. Quase sinto que

estou sendo insultada e falha com essas pessoas, essas pessoas
muito humanas com famílias que as amam.
— Eu me sinto da mesma forma. Tenho certeza de que a

maioria dos médicos pensa da mesma maneira. Esses pesadelos que
você tem são simplesmente pistas, uma maneira de pegá-lo. Ele não
sabe quem você é e que você já está procurando por ele. Espero que
213
Livro Único
ele não descubra até que o tenhamos. Essa é a grande coisa, Stella.
Tenha cuidado com quem você traz para o círculo. Eu sei que você
vai ficar tentado a trazer a polícia, mas se você fizer isso muito cedo,
ele vai desaparecer. Apenas desapareça. Este lugar é feito para isso.
Você tem que saber quem ele é antes de informá-los.
— Eu não quero ser minha mãe, Harlow. Não quero trocar

minha paz de espírito por vidas.
— Contar para a polícia muito cedo seria exatamente isso,

Stella. Pense nisso. Se você contar a eles, o FBI aparecerá, o serial
killer desaparecerá e você terá seu mundo de volta. Ele vai para
outro lugar e mata. Ninguém é mais sábio porque ele tem um novo
playground, fazendo com que cada morte pareça um acidente, e
você não está lá para dizer a eles nada diferente. Ele nunca ficaria
aqui. Por que ele deveria? Especialmente se ele for um visitante
temporário.
Stella cruzou os braços sobre o peito e encostou-se à longa

fileira de janelas curvas do chão ao teto. De todos os argumentos
para não contar a Griffen, esse era o melhor porque Harlow estava
certo. Stella sentiu isso.
— Você está fazendo sentido, Harlow, mas geralmente faz.

Sam não acha que eu deveria dizer nada ainda. Zahra se sente da
mesma maneira. Não falei com ninguém sobre isso. Estou pensando
no que dizer quando o fizer. Vou falar com Raine sobre as trilhas de
mochila e acampamentos. Ela vai o tempo todo comigo. Ela conhece
as trilhas ainda melhor do que eu.
— Eu tenho algumas câmeras que eram populares quando sua

mãe era jovem, Stella. Vou dar uma olhada em um catálogo e ver se
há algum botão neles que se pareça com o que você desenhou.
Naturalmente, Harlow faria isso por ela. Ela era observadora e

sabia exatamente o quanto Stella não gostava de tirar fotos, muito
menos de tocar em uma câmera de verdade. — Minha mãe me deu
214
Livro Único
permissão para tirar uma foto dela. Claro, eu não tinha ideia de
como e ela não me mostrou. Eu provavelmente brinquei com ele,
olhando para ela e dizendo o quão bonita ela era. Ela sorriu para
mim várias vezes e estendeu a mão para a câmera. Eu dei a ela. Mais
tarde, quando ela me colocou na cama, ela me beijou várias vezes e
disse que não estava com raiva de mim por quebrar sua câmera. Eu
disse a ela que não o quebrei. Ela disse: Lembra você deixou
cair? E então ela me beijou de novo e me disse que acidentes
acontecem. Meu pai estava parado na porta e tinha uma carranca no
rosto. Ela disse a ele para não ficar tão zangado, que eu era apenas
uma garotinha. Ela até jogou os braços em volta do pescoço dele e o
beijou.
Stella ainda se lembrava da maneira assustadora como seu pai

a olhava. Ela teve medo dele pela primeira vez. Ela sabia que não
tinha quebrado a câmera. Foi a primeira vez que ela percebeu que
sua mãe mentia. Isso a assustou e ela se sentiu muito sozinha. Ela
não se lembrava de quantos anos ela tinha.
— Nunca é uma boa hora quando descobrimos que nossos

pais podem ser monstros, como seu pai, ou ter pés de barro, como
sua mãe, disse Harlow, com o olhar grudado no catálogo que estava
examinando. Ela ergueu os olhos por um momento. — Você acha
que algum de nós vem do normal? Quer dizer, alguém vivo? Nós ao
menos sabemos o que é normal, ou apenas inventamos isso em
nossas cabeças porque os filmes e a televisão nos convenceram de
que existe um normal?
Stella ergueu uma sobrancelha. — Essa é uma boa pergunta,

para a qual não tenho uma resposta, mas não acho que a maioria das
pessoas tenha assassinos em série como pais.
— Acho que a coisa da câmera com sua mãe aconteceu antes

dos pesadelos, Stella, então de certa forma, você pode agradecer a
sua mãe por ajudá-la a parar os assassinos em série. Eu sei que é
215
Livro Único
uma droga ser você quando isso acontece, mas pelo menos você os
impede de matar. Existe um botão de aparência semelhante. Em seu
próximo sonho, tente girá-lo um pouco para a direita e veja se ele
amplia seu campo de visão. Se não, não se preocupe, continuaremos
trabalhando nisso. Você está usando sua mente, não dedos de
verdade, então você realmente não pode machucar nada. Não entre
em pânico em seu sonho pensando que você vai prejudicar alguma
coisa. Se precisar, finja que estou com você, tirando as fotos para
você. Imagine que estou girando a maçaneta para a direita.
— Você é tão brilhante, Harlow. Stella também quis dizer isso.

— Misha está fora da cama e andando de um lado para o outro.
Acho que ela está tentando te dizer algo. Vou chamar Bailey se você
estiver pronta. Ela estava mais do que pronta para esticar as pernas.
No lago, ela passou horas e horas recolhendo o lixo depois que

todos foram embora. Ela teve sorte porque, quando teve um dia de
limpeza, voluntários apareceram com seus próprios suprimentos
para ajudar - esse era o tipo de comunidade em que ela vivia - mas
sempre havia lixo. Ela passeava com Bailey todas as manhãs e
levava um saco de lixo. À noite, ela fez o mesmo depois que o
último dos campistas saiu e eles fecharam tudo.
Ela estava acostumada a ser extremamente ativa. Ficar

sentada, mesmo que por um curto período de tempo, a deixou
impaciente - especialmente agora. Durante a temporada, não havia
tempo para fazer nada além de trabalhar. Se ela tirou um dia de
folga, ela escalou ou caminhou.
Ela precisava de um tempo longe para limpar sua mente. Ela

estava ocupada cada minuto do dia, desde o nascer do sol até bem
depois da meia-noite. Sam tirou uma grande pressão dela, e ela
reuniu a melhor equipe e a melhor equipe ao longo dos anos. Isso
ajudou tremendamente. Eles trabalharam duro e ela apreciou cada
um deles.
216
Livro Único
Misha saltou pela porta dos fundos enquanto Stella saía pela
porta da frente para tirar Bailey de seu 4Runner. Ele já estava
esperando por ela, ansioso para caminhar. Ele esperou por seu
comando de liberação antes de pular e então correu ao redor do
estúdio para a parte de trás para se encontrar com Misha, que já
estava latindo ansiosamente sua saudação alegre.
Stella se pegou sorrindo. Feliz. Essa era uma das coisas que ela
amava nos cães. Eles viveram o momento. Eles ficavam felizes com
o que quer que estivessem fazendo. Tanto Misha quanto Bailey
adoravam correr ao longo do canal e conheciam a maneira como
Harlow e Stella corriam ou caminhavam. Nenhum dos dois
precisava de coleira. Todos os conheciam e a quem pertenciam. Eles
poderiam brincar de pega-pega e encontrar todas as criaturas
rastejantes e roedores interessantes disponíveis.
Era muito mais quente na elevação inferior e Stella usava um

suéter leve por cima da camiseta. Ela sempre poderia amarrá-lo na
cintura se ela ficasse muito quente. O clima de outubro diminuiu os
mosquitos, o que foi útil, mas ela sempre foi cuidadosa de qualquer
maneira, levando repelente com ela. O mesmo com repelente de
carrapatos, embora, verdade seja dita, ela fosse mais vigilante com
Bailey do que com ela mesma. Seu cachorro estava sempre
protegido.
— Onde está Vienna hoje? Achei que ela tivesse vários dias de
folga seguidos. Ela não ia tentar treinar o gato para passear com
Misha?
— Vienna foi chamada para trabalhar pouco antes de eu

receber sua ligação, uma emergência. Denver também teve que
entrar. Grande acidente, dois caminhões, de frente. Parecia ruim.
— Isso é horrível.
217
Livro Único
— Quanto ao gato e à caminhada pelo canal, sim, isso não foi

muito bom. Sua princesinha presunçosa queria montar nas costas de
Misha, as garras cravadas profundamente, não andar no chão.
As duas mulheres se entreolharam e desataram a rir. O gato

era o amor da vida de Viena e estragava tudo. O animal governava,
embora ela nunca o admitisse. Ela sempre indicou que estava
determinada a deixar o gato acompanhá-la em suas aventuras com
os cães. O gato nunca fez isso. Ela morava em um “palácio” e era
esnobe, torcia o nariz para a maioria das comidas e exigia ser
escovada e acariciada quando Vienna estava perto. Ela ficaria
irritada se Vienna demorasse muito e viraria as costas para sua dona
por longos períodos de tempo com um pouco de desprezo. Todos
achavam que o nome da “princesa” era apropriado e adoravam
ouvir histórias sobre ela.
Caminhar ao longo do canal foi tranquilo, mesmo no ritmo

acelerado que Harlow definiu com suas pernas longas. Stella não se
importava de andar rápido, embora não fosse uma corredora. Se ela
tivesse que correr pelo bem do cachorro, ela o faria, e ela corria sob
protesto para se manter em forma, mas ela não era uma daquelas
pessoas que amava isso. Ela nunca seria uma escaladora de pico -
subindo uma trilha e depois uma montanha para ‘alcançar’ o
pico. Ela poderia caminhar uma trilha continuamente por horas,
dias, semanas, meses, mas correr, isso era um grande ugh.
As árvores balançavam suavemente com a brisa, algumas

folhas lentamente se soltando e girando preguiçosamente em
direção à trilha larga ou à água abaixo. Em todos os lugares havia
uma explosão de cores. Vermelhos e laranjas com vários tons de
verdes e marrons. Os campos ao redor deles pareciam dourados. A
grama era tão alta que tombou. Alguns caules ainda tinham uma
tonalidade azulada ou esverdeada, mas a maioria era marrom ou
aquele tom maravilhoso de ouro.
218
Livro Único
Uma garça azul solitária caminhava pelo canal com pernas

altas e finas, em busca de algo para comer. — Você está perdida? Ela
chamou. — Você já deveria ter saído. É melhor você se mexer, meu
amigo, antes que o tempo mude.
Harlow sorriu para ela. — Você sempre fala com a vida

selvagem?
— Praticamente, admitiu Stella. — Eles não podem me

responder.
Ambas as mulheres riram enquanto continuavam ao longo do

canal com seus cães.
Três noites e depois quatro Stella fez o possível para

fazer o que Harlow havia dito e girou o botão da lente para ampliar
sua visão do que estava vendo.
A terceira noite foi um fracasso total. Ela não conseguia fazer a

maçaneta fazer nada, e ela estava tão ansiosa que mal conseguiu
novos detalhes. Ela acabou ficando mais frustrada do que nunca. A
iluminação estava melhor do que na noite anterior, então prometia
ser melhor na noite seguinte.

O casal parecia estar avançando na trilha, não ficando no
mesmo lugar. Mesmo com a luz fraca da lanterna frontal da mulher,
Stella sentiu como se tivesse percorrido a mesma trilha mais de
uma vez. Ela até sentiu o peso familiar de uma mochila sobre ela.
Desta vez, no terceiro dia, ela sentiu olhos no casal. Enquanto ela
219
Livro Único
era uma observadora externa observando-os subir uma trilha

íngreme, outra pessoa também estava observando. Ela só podia
observar.
Um estremecimento de consciência percorreu o corpo de

Stella. Ele estava lá. Perseguindo-os. Eles não podiam senti-lo?
Como eles poderiam não senti-lo? Sua presença era ameaçadora.
Sua energia poderosa. Ele estava se aproximando deles? Ela
tentou gritar um aviso para eles. Dedos gelados desceram por sua
espinha. Ela iria vê-lo matá-los agora? Tão cedo? Era muito cedo
Ele não poderia fazer isso ainda. Ele tinha um cronograma e era
muito cedo.
Ela tentou desesperadamente ampliar as lentes, na esperança

de prender o assassino, para vê-lo. A escuridão o envolveu,
escondendo-o. Quanto mais ela tremia, mais a lente tremia. Ela
estava com medo de que ele percebesse que ela estava ali olhando
para ele. Vendo ele. Ele saberia que não estava sozinho. Se ela
pudesse vê-lo, ele poderia vê-la? A ideia era assustadora.
Tão abruptamente quanto seu pesadelo começou, acabou, as

lentes fechando, apagando a cena, deixando o casal sozinho nas
primeiras horas da manhã com um serial killer os perseguindo,
determinado a acabar com suas vidas e fazer com que parecesse
um acidente.
220
Livro Único
— NÃO. NÃO. NÃO pare. Maldito seja não pare.

Ela acordou lutando, com lágrimas escorrendo pelo rosto,
horrorizada por não ter conseguido nada que pudesse ajudar.
Zangada consigo mesma por não poder avisar o casal. Ela sentou-se
rapidamente, tentando respirar quando nenhum ar conseguiu entrar
em seus pulmões em chamas. Seu coração batia tão forte que seu
peito doía.
— Stella, você está aqui. Abra seus olhos. Respire fundo.
Ela balançou a cabeça. Ele não sabia. Ele não sabia como era.
Ele podia se sentar do outro lado da sala em sua cadeira idiota,
sentindo-se calmo e superior com todo o seu treinamento e fazer o
que quer que fosse para se desassociar, mas ela não podia. Ela
simplesmente não conseguia. Ela estava se balançando de novo, os
braços em volta de sua cintura, indiferente por estar tendo um
colapso completo.
Então Sam estava lá, levantando-a e colocando-a em seu colo,

seus braços ao redor dela, segurando-a com força, empurrando sua
cabeça contra seu peito enquanto ele a embalava. Ele não fez
nenhuma pergunta a ela, ele apenas a deixou chorar enquanto a
segurava. Isso era tão Sam, indiferente por ela ser uma bagunça
quente. Ele segurou a nuca dela com a palma da mão e esfregou
mechas de seu cabelo entre os dedos.
Finalmente, ela foi capaz de se aquietar e dar algumas

fungadas altas. Ele entregou-lhe um lenço de papel para que ela
assuasse o nariz. — Eu não sinto ninguém vigiando esta noite, não
é? Foi à única coisa que ela conseguiu pensar em perguntar quando
seu rosto estava vermelho e manchado e ela parecia horrível. Ela
molhou a camisa dele.
221
Livro Único
— Você tem razão. Está quieto lá fora e sem intrusos.
Ela deu um suspiro de alívio. Era bom estar cercado por Sam.
Para respirar ele em seus pulmões. Ela se sentiu como se tivesse
respirado o assassino em série e não conseguisse tirar o calafrio de
seus ossos quando acordou, mas Sam o afastou.
— Esta é a primeira vez desde o atentado contra sua vida,

Sam, que não sinto ninguém me observando. Você acha que foi seu
pai ou alguém que ele enviou? É por isso que eles se foram? Ela
esfregou sua bochecha ao longo de seu peito e então colocou sua
orelha sobre seu coração.
Ele hesitou. — Eu gostaria de poder dizer a você que penso

assim, mas não. Ontem à noite foi à primeira noite em que eles
estiveram aqui, e acredito que ele também. Ou pelo menos, alguém
estava assistindo. Isso não significa que foi o assassino em série. Ele
não tem nenhuma razão para estar olhando para você ou para mim.
Talvez eu porque fugi. Eu nunca fiquei em um lugar por tanto
tempo. Eu sabia que eventualmente meu pai me encontraria se eu
ficasse, mas você está aqui, então eu estou aqui.
Seu coração deu um salto. Ele afirmou isso com tanta

naturalidade. — Eu sinto muito por sua mãe, Sam. Eu realmente
sinto. Eu vi seu pai gesticular em direção à casa e você ficou muito
chateado. Você acha que ele quer que você volte e trabalhe para ele?
Ela umedeceu os lábios repentinamente secos, mas tinha muito mais
confiança em seu relacionamento com Sam. — Ele me ameaçou para
tentar fazer você voltar?
Sam ficou quieto por um momento, seus dedos esfregando as

mechas de seu cabelo. — Stella, sempre quero que você me olhe
como me olha, como se eu fosse um bom homem. Eu vim aqui com
essa intenção. Sempre quero ser um bom homem. Se meu pai ou
aqueles homens com ele tivessem ameaçado você, você pode
acreditar que os três estariam mortos. Certo então. Todos eles.
222
Livro Único
Ele ficou em silêncio, obviamente esperando pela reação dela.

Stella não sabia ao certo como reagir. Ela sabia de onde ele veio. Ela
sabia, ou pensava que sabia o que ele tinha sido nos últimos dez
anos. Ele tinha instintos e habilidades que outros não tinham. Ele
definitivamente a protegeria se alguém a ameaçasse.
Ela acenou com a cabeça para mostrar sua compreensão. — O

que ele queria então, vindo aqui?
— Ele queria que eu voltasse, Sam admitiu. — E para dar a ele

uma chance de consertar o relacionamento.
Ela não pôde evitar a forma como seu corpo reagiu,

congelando no lugar apenas um pouco.
Ela queria que ele tivesse um relacionamento com seu pai, se

isso fosse o que ele queria, mas ela não queria que ele fosse embora.
Nunca. — Eu vejo. E quando ele gesticulou em direção à casa?
— Eu disse que nunca mais trabalharia para ele. Que minha

mulher estava aqui e minha casa estava com ela. Eu encontrei paz e
precisava dela. Você é essa paz, Stella. Você e este lugar. Ele queria
conhecer você. Eu disse outra vez. Ele tentou insistir e eu não fui
educado. Você já tem problemas suficientes com este assassino em
série. Eles vieram no meio da noite. Eu disse isso a ele. Ele admitiu
que achava que eu não gostaria de vê-lo e estava com medo de que
eu decolasse novamente e eles não fossem capazes de me encontrar.
Seus dedos continuaram a esfregar as mechas de seu cabelo.
Era muito para absorver. Stella esfregou a bochecha contra o

peito dele novamente. — O que você está fazendo?
— Seu cabelo é como seda. Realmente amo seu cabelo, Stella.

Ele deu um beijo no topo de sua cabeça. — Pensei em deixar você
saber, estou pensando em dormir com você esta noite, em vez de no
chão em frente à sua porta.
223
Livro Único
Seu coração deu um salto. Corrido. — É onde você tem

dormido? Pensei no quarto de hóspedes. Eu tenho quartos de
hóspedes.
— Eu queria ter certeza de que soubesse quando você teve um

pesadelo. A mão dele continuou a acariciar o cabelo dela, os dedos
esfregando as mechas juntas.
Ela acariciou seu peito, com medo de olhar para ele. — Você
teria ouvido. Ele tinha instintos como ninguém, especialmente
quando se tratava dela.
— Pode ser. Havia um sorriso em sua voz. — Você vai me

deixar?
— Deixar o quê? Seu coração poderia bater mais forte?
— Me mover para o seu quarto. Ele fez uma pausa. Beijou o

topo de sua cabeça. — Permanentemente. Não faço as coisas pela
metade, Stella. Eu sou seu, então você é minha. Você não está pronta
para isso, está tudo bem. Eu posso esperar. Sua voz normalmente
baixa tinha um tom agudo. Seu corpo tinha mais do que uma
vantagem.
Ela deslizou os braços por seu peito e entrelaçou os dedos

atrás da nuca dele, levantando a cabeça para encontrar seus olhos.
Sua respiração ficou presa na garganta com o que viu lá. Seus olhos
estavam cheios de emoção. Muito. Todo dela.
— Diga Stella, então não há como voltar atrás. Ele roçou os

lábios nos dela e olhou para ela novamente, aqueles olhos escuros
vivos com a mesma emoção intensa que ela não tinha certeza se iria
se acostumar a ver, aquela que a virou do avesso.
— Com certeza, quero você aqui comigo no meu quarto.
— E... Ele incitou, sua mão em punhos em seu cabelo,

inclinando sua cabeça para trás, seus olhos escurecendo ainda mais.
224
Livro Único
Ela sorriu para ele. — Sou sua. Você é meu. Estamos juntos.
Morando na mesma casa. Em um relacionamento, como você quiser.
Apenas me beije e vá em frente.
Ele ergueu uma sobrancelha. — Continuar com isso?
— Estou esperando há muito tempo.
— Você não deu nenhum sinal depois de uma vez. E isso

demorou uma eternidade antes de você me dar luz verde. Não
quero deixar esse tempo passar de novo.
— Eu não queria arruinar nosso relacionamento.
— Você não teria me deixado ficar perto de você se tivéssemos

feito sexo, ele corrigiu. — Eu não teria metido o pé na porta.
Isso era verdade. Tão verdade. Ele a conhecia tão bem. Mas
então ela não conseguia pensar, porque ele a estava beijando sem
sentido daquela forma que ele tinha. Não demorou muito para ela
perceber por que seu corpo estava sempre tão quente. Ele queimou a
noite com a mesma energia inquieta que costumava perambular
pelo resort, apenas voltando suas consideráveis habilidades em seu
corpo até que ela estava com falta de ar, muito cansada para se
mover, saciada e esparramada em cima dele como um cobertor,
apenas para tê-lo acordado duas horas depois para começar tudo de
novo.
A Noite quatro foi diferente porque agora Stella tinha Sam

para falar com ela quando ela enlouqueceu tentando se preparar
para seu pesadelo. Ela foi para a cama pensando nisso. Planejando
isso. Ela o visualizou com antecedência. Ela estava tão ansiosa que
vomitou antes de ir para a cama.
225
Livro Único
Sam estava calmo, falando com naturalidade com ela. — Não

importa se funciona ou não, Stella. Faça o que você sempre fez.
Preste atenção a cada detalhe e registre-o. É isso que você faz. Ao
acordar, escreva e esboce. Você vai mostrar para Raine. Ela não
pôde vir ontem, ela estava fora da cidade, mas ela estará aqui
amanhã e ela se encontrará com você para ver os esboços. Se vocês
duas não conseguem descobrir, então mostre para a mulher que
você disse ser uma empacotadora do pico. Diga a ela que você está
pintando, como você disse. Se você e Raine souberem onde está, nós
chegaremos lá.
Era tão reconfortante apenas tê-lo ali. Ela não queria perder
um detalhe porque estava tentando mudar algo em seu pesadelo,
mas ela realmente achou que era uma ideia tão boa tentar alargar a
lente, então ela ficou lá por um longo tempo, pensando em como
apenas girar a maçaneta suavemente para a direita enquanto ela
tentava adormecer.
Ela olhou para o teto, com medo de uma repetição da noite

anterior. Aquilo foi um desastre. Bem, até depois. Mas isso foi
porque Sam salvou o dia. Ela podia ouvir o tique-taque de um
relógio. Sam respirou? Ele estava vivo? Ele não estava roncando. Ela
roncou? Bailey fez. Ela se virou de lado. Encarou aquela parede.
Começou a se virar para o lado de Sam.
O braço dele cruzou a barriga dela, evitando um giro

completo, mantendo-a de costas. — Mulher. Havia um aviso em sua
voz.
— Homem, você ficou do meu lado da cama. Ela fez uma

acusação, como se fosse culpa dele ela não conseguir dormir.
Ele se moveu rápido, tirando-a das cobertas que a mantinham

aquecida quando ele insistiu que ela dormisse sem roupas.
Ninguém dormia sem roupa - exceto talvez ele. Ele era mandão na
cama, ela descobriu, mas havia benefícios, e ela colheu todos eles.
226
Livro Único
— Você dorme no meio da cama, Stella. Você não tem um

lado. Eu durmo perto da porta para te proteger. É assim que é.
Antes que ela pudesse pensar em protestar, ele separou suas

coxas, colocou seus ombros largos entre elas e então sua boca estava
lá e ela estava em outra galáxia. Sam não acreditava em fazer nada
pela metade. Muito mais tarde, ela estava exausta, saciada e incapaz
de se mover, nem mesmo de puxar as cobertas. Sam era o único com
a toalha e a toalha quentes. Ele se envolveu em torno dela,
colocando-a tão perto de seu corpo quente que ela não achou que
eles realmente precisassem das camadas de cobertores que ele
puxou sobre eles.
— Vá dormir agora, querida, ele murmurou, e beijou sua testa.
O calor do corpo de Sam, os sons naturais da noite, o zumbido

dos insetos e o bater das ondas contra a costa a embalaram para
dormir.

Stella estava preparada desta vez para o casal na trilha.
Estava claro. De manhã cedo, luz acinzentada. Quase nebuloso. O
casal se movia na mesma velocidade constante, ditado pela mulher.
Havia neve ou apenas a promessa de neve?
Não há mais árvores. Apenas rocha. A rocha se erguia acima

do casal enquanto eles caminhavam ao longo da trilha estreita que
se alargaria em alguns pontos e, de repente, estreitaria novamente.
Que tipo de rocha? Granito. Definitivamente granito. A névoa
parecia envolver o casal como vapor - ou respiração. Para Stella,
parecia vivo.
227
Livro Único
A névoa deu a ela uma sensação assustadora, mas então ela

percebeu que era porque ela estava sentindo ele - o assassino.
Eles não estavam sozinhos na trilha. O assassino estava bem ali.
Ela quase podia sentir o cheiro dele. Ele definitivamente os estava
perseguindo. Ela tentou descobrir onde ele estava apenas
mantendo-se bem quieta e virando a cabeça de um lado para outro
como uma vara de adivinhação para ver se alguma direção
produzia um frio mais forte.
Stella havia caminhado pela trilha John Muir sozinha, passara

quase um mês no deserto. Ela não era alguém que se assustava
tão facilmente, mas tudo sobre esta manhã na trilha parecia
ameaçador para ela. Ela ouviu passos abafados. Vozes abafadas.
Espere. Que? Haviam outros próximos? Ela podia ouvir as
pessoas? O murmúrio de outras vozes? Alguém estava descendo a
trilha em direção ao casal? Outros subindo? Havia outros na
trilha. Talvez Stella pudesse ver e desenhar as outras pessoas e
identificá-las. Certamente o assassino não poderia matar duas
pessoas com testemunhas tão próximas, não é? Ele era uma
dessas pessoas?
Com o coração aos pulos, Stella tentou alargar um pouco as

lentes. Coopere, sua câmera de lixo. Por que ela era tão
inepta que não conseguia fazer isso se mover? Ela poderia
alegremente caminhar pela trilha e enfrentar o assassino, mas não
228
Livro Único
conseguia mover uma maçaneta? Ela continuou observando cada

novo detalhe que qualquer luz revelada, gravando em sua mente
para esboçar mais tarde, mas era do assassino que ela estava
tentando obter impressões, bem como a trilha.
O que Harlow disse? Em seu sonho, talvez Harlow estivesse

fotografando a trilha e Stella apenas observando. Se Harlow
estivesse atrás da câmera, ela poderia ampliar a lente? Stella
colocou Harlow atrás da lente em seu sonho. Isso foi bastante fácil
de fazer. Se Harlow estava por perto, ela sempre tirava fotos de
alguma coisa. Seria estranho ver Harlow sem ela tirar fotos,
principalmente com o celular quando ela estava com eles em suas
viagens de acampamento.
Para sua surpresa, Stella começou a ver uma imagem um

pouco mais ampla. Certo, não era muito, mas o triunfo a invadiu. Foi
uma pequena vitória. Ela podia registrar muito mais da trilha e era
definitivamente reconhecível para ela. Ela iria esboçá-lo e mostrá-lo
a Raine a primeira coisa. Agora, se ela pudesse obter uma imagem
de qualquer outra pessoa também. Até mesmo uma sombra. Na
névoa da manhã, ela duvidou que isso acontecesse. De repente, a
lente se fechou e seu sonho terminou.
229
Livro Único
Os olhos de Stella se abriram e sua mente ficou

instantaneamente clara. — Sam. Sam, você está acordado? Ela se
virou, percebendo que ele não estava lá. Não estava na cama com
ela. Ela deveria saber. Sam não dormiu muito.
— Esperando por você, Satine. Eu posso ver que você tem

algo.
— Eles estão na trilha principal de Mount Whitney. Já fiz isso

duas vezes com Raine. Ela está nisso mais do que eu. Tem noventa e
nove ziguezagues e eles estão em ziguezague rumo ao cume. As
pessoas se perdem lá com frequência, mais do que você pensa. Raine
pode ser capaz de localizar com mais precisão onde o assassino
planeja atingi-los.
— Eu faço parte da Busca e Resgate em Mono County,

querida. Estou bem ciente. A maioria deles está realmente apenas
perdida e felizmente não está morta.
Cada vez mais caminhantes inexperientes tentavam escalar

sem saber o que faziam e caminhavam sem o equipamento
adequado. O número de mortos estava aumentando.
— Apenas algumas licenças são emitidas, disse Stella. — É

possível que possamos encontrá-los dessa forma e pará-los antes
mesmo de começarem a escalada, embora eles pensem que estamos
loucos dizendo a eles que um serial killer pretende matá-los.
— Poderíamos oferecer a eles uma quantia absurda de

dinheiro pela licença, Sam sugeriu, — e eu poderia ficar no lugar
dele.
— Você quer dizer que poderíamos tomar seus lugares.
Ele já estava balançando a cabeça. — Não vai acontecer, Stella.

Você não está se colocando em perigo.
230
Livro Único
— Ele está perseguindo eles. Ele saberia no momento em que

você mudasse de lugar, ela apontou. — Não funcionaria. Precisamos
encontrá-los e fazer com que eles saiam.
— Ele escolheria outra pessoa. Temos que oferecer alguém em

seu lugar.
Ela odiava que ele estivesse certo. — Vamos encontrá-los, Sam.

Enquanto procuramos, podemos decidir o que vamos fazer.
Capítulo 11
Raine O'Mallory balançou a cabeça, franzindo a testa

para a série de fotos que Stella havia esboçado. — Querida, não acho
que essa seja a trilha principal. Acho que eles acamparam em Upper
Guitar Lake e partiram de lá. É difícil dizer por que você só está
vendo pequenos vislumbres, mas acho que eles estão subindo o
Monte Whitney pelo outro lado. Se você estiver certa e ela não tiver
tanta experiência, é muito mais curto para ela. Eles caminharão até
Trail Crest e deixarão suas mochilas com suas latas de urso24 e
apenas levarão uma mochila de um dia para o cume.
Stella franziu a testa. — Eles ainda estão com as mochilas

normais.
— Você tem esta noite. Se eles estão com elas esta noite, estou
errada, mas alguns desses terrenos iniciais parecem muito mais com
eles começaram perto de Guitar Lake superior para mim. Ele é um
caminhante experiente, Stella. Ele levaria um mochileiro
24
Latas de ursos são potes fechados hermeticamente. Acredita-se que os ursos tenham o olfato mais
forte de qualquer animal, tornando quase impossível conter completamente o cheiro da comida,
embora alguns recipientes sejam “resistentes ao cheiro”. É por isso que é importante cozinhar e
armazenar sua vasilha de urso longe (e a favor do vento) de sua barraca, para que você não dê aos ursos
um motivo para um ataque.
231
Livro Único
inexperiente até Whitney e depois faria uma caminhada no JMT

nesta época do ano? Ele não iria. A resposta é não.
Foi isso. Stella sabia que Raine estava certo. Não estava
nevando - ainda. Mas acabaria, e uma vez que acontecesse, a mulher
não estava vestida apropriadamente.
— Ele sabe que o tempo pode melhorar lá rápido. O vento

pode ser uma verdadeira vadia. Você sabe como é nas tempestades
com raios. Ele começou super cedo pela manhã. Não foi até a quarta
noite que você ouviu outras pessoas ao seu redor. Ele já fez essa
caminhada antes, provavelmente mais de uma vez, e quer ter
certeza de que ela o fará sem problemas. Você disse que eles estão
caminhando no ritmo dela. Ele não está tentando fazê-la ir muito
rápido. Só estou supondo que ele escolheu o caminho mais fácil para
mostrar a ela as serras que ele ama, sem que ela assumisse muito.
— Estou tão feliz por ter mostrado isso a você. Eu realmente

pensei nos ziguezagues. O granito.
Raine transformou o último esboço em vários ângulos

diferentes. — Eu acredito que você está certa, eles estão tentando
chegar ao cume do Monte Whitney. Você disse que ouviu outros.
— Não consegui ver ninguém, apenas ouvi.
— Se eles deixarem as mochilas no Trail Crest e continuarem

com as mochilas até o cume, você sabe que há um lugar muito
perigoso, estreito, com declives dos dois lados. Eles podem ser
empurrados para lá. Há mais um retorno. Não seria difícil, mesmo
com outras pessoas por perto. Fingindo um acidente. Tentando
ajudar se ela tivesse enjoo de altitude. Tantas coisas podem dar
errado lá em cima.
Stella baixou a cabeça entre as mãos. — Sam está tentando

descobrir quem pode ajudar a descobrir quem tem uma licença, mas
eu disse a ele que o casal tem uma para a trilha principal. Ela
232
Livro Único
mandou uma mensagem para ele. — Eu não sei se é mesmo possível

para ele fazer isso.
— Eu posso ser capaz, Raine disse. — Eu posso hackear quase

tudo. Vou fazer o meu melhor para localizá-los. Ela colocou os
desenhos na mesa e se recostou na cadeira. — Então... Como você
está? Isso é difícil. Realmente difícil.
— Digamos que não estou dormindo muito. Eu não quero

perdê-los. Eu posso senti-lo. Ele está bem ali e não posso chamá-los
e avisá-los, mas há um sentimento. Ela estremeceu um pouco. —
Nas primeiras noites ele não estava lá, mas na noite passada ele
estava perto deles.
Raine deu um pulo. Ela não era muito alta, mas tinha uma
energia poderosa e forte que podia assumir o comando de uma sala
- ou de uma conversa - quando ela quisesse. Stella a vira passar de
uma quase sombra silenciosa em um canto de uma sala para uma
formidável explosão de energia, sua mente brilhante de repente em
exibição, afiada, desafiando alguém, na maioria das vezes um
homem, que derrotou outra pessoa com uma demonstração
pomposa de superioridade em algum assunto que ele achava estar
familiarizado. Ela começaria suavemente, mas poderia aniquilar seu
oponente no momento em que eles a subestimassem - e sempre o
faziam.
Raine parecia jovem, com seu cabelo loiro avermelhado que

caía reto como uma tábua quase até a cintura. Ela sempre foi
descuidada com ele, puxando-o para trás em um rabo de cavalo ou
trançando para tirar a massa sedosa de seu rosto. Com seus olhos
azul-ardósia, cílios dourados, manchas de sardas no nariz e lábios
definidos e curvados para cima, muitas pessoas, ao conhecê-la,
cometeram o erro de pensar que ela parecia uma fada ou uma fada
fofa, devido ao seu tamanho. Qualquer um que a conhecesse riu
dessa descrição. Ela era uma lutadora, uma amazona.
233
Livro Único
Stella olhou ao redor da casa térrea de Raine nos arredores da

cidade. Ela tinha um acre de terra ao redor da casa, com pequenos
jardins bem cuidados e uma estufa, porque ela gostava de cultivar
sua própria comida o ano todo. Ela também gostava de colocar as
mãos na terra.
Sua propriedade refletia quem ela era. A casa de três quartos

estava sempre arrumada, mas cheia de equipamentos de ginástica.
Ela tinha algum tipo de equipamento em cada cômodo, incluindo
seu escritório. O escritório era enorme, com computadores de última
geração e fileiras de telas, mas também uma esteira com TrekDesk.
Raine realmente andava em sua esteira enquanto trabalhava. Stella
havia tentado e não era brincadeira, mesmo andando na posição
mais baixa possível.
Raine gostava de mountain bike tanto quanto de caminhada.

Como Stella, ela não gostava de correr e não fazia o pico de
escalada, mas ela fazia bouldered quando era empurrada. Ela era
uma solucionadora de problemas, então o bouldering proporcionou
a ela, como Stella, aquela ocupação contínua da mente de que ela
precisava.
O que Raine realmente amava em sua casa, além da área que

permitia seus jardins, era sua piscina interna secreta. Ela adorava
nadar. Ela brincou que, quando era mais jovem, ela tinha cabelos
permanentemente verdes por nadar constantemente em piscinas
cloradas até que ela pudesse descobrir como cuidar de seu cabelo e
nadar sem danos. A piscina também era aquecida, então no inverno
a casa de Raine era o lugar para ir quando os amigos queriam ficar
juntos. Stella tinha que admitir que ela gostava daquela piscina.
234
Livro Único
A melhor amiga de Bailey em todo o mundo era Daisy, Jack

Russell25 de Raine. A pequena fêmea ia a todos os lugares com Raine
como regra, mesmo quando os helicópteros chegavam e a pegavam
e a levavam para o trabalho, ou ela caminhava centenas de
quilômetros. Às vezes, era verdade, Daisy andava na mochila de
Raine, mas o cão enérgico geralmente corria em círculos ao redor de
todos quando iam fazer caminhadas ou acampar juntos. Quando
Daisy não podia ir com Raine, ela geralmente ficava com Stella e
Bailey no resort. Agora mesmo, Daisy estava correndo pelo quintal
com Bailey, ocasionalmente dando um latido de pura alegria
enquanto os dois animais corriam juntos em uma direção e depois
na outra, descobrindo cada pequeno inseto e lagarto que ousasse
fixar residência no território de Daisy.
Stella não pôde deixar de sorrir. — Aqueles dois lá fora, eles

são tão fofos juntos. Eu amo a amizade deles. Eles vivem a vida sem
todas as complicações. Sam parece fazer isso também. Ele não se
preocupa com coisas que ainda não aconteceram. Isso que está
acontecendo, Raine, está realmente me abalando. Eu construí uma
boa vida aqui. Não é só que pela primeira vez eu realmente
encontrei amigos que amo, e isso é verdade. Eu nunca tive isso
antes. É que encontrei paz nas Sierras. Há algo nesse lugar que me
atrai.
Raine acenou com a cabeça lentamente. — Eu entendo porque

eu também sinto. É por isso que me estabeleci aqui. Eu poderia
trabalhar de qualquer lugar, mas este é o meu lugar feliz. Há uma
razão para eu caminhar tanto. Estar na floresta e caminhar pelas
trilhas a dez mil pés, contemplando a natureza em constante
mudança, são uma experiência incrível. Eu me sinto mais viva do
que em qualquer outro lugar, mas como você, essa mesma paz. Isso
25
Jack russell terrier é uma raça canina oriunda da Inglaterra. Foi desenvolvida na metade
do século XIX pelo Reverendo John Russel, que buscava um animal imbatível na caça à raposa.
235
Livro Único
é uma falha, Stella. As serras estão aqui há milhares de anos. Somos

como formiguinhas rastejando nele. Este assassino não é nada. Ele
veio e você eventualmente o pegará. As serras permanecerão, assim
como sua beleza. Você pode contar com isso e com a paz que eles
trazem para você, porque isso nunca vai mudar. Ele não pode
mudar isso. Nada pode.
Stella manteve o olhar nos dois cachorros agora rolando na

grama dourada, as pernas para cima, chutando descontroladamente.
Bailey parecia um urso ao lado do pequeno Jack Russell, e um tanto
bobo também, com suas pernas gigantes para cima. Ela riu dos dois
cachorros. Eles certamente não estavam preocupados com um
assassino em série.
— Você estudou na UC Berkeley, certo? Depois de terminar o

ensino médio, você foi aceita direto na universidade.
Stella se virou para Raine, ouvindo a especulação em sua voz.

— Sim por quê?
— Você percebeu que havia um serial killer trabalhando na

área perto da universidade na época em que você estudou lá?
Stella balançou a cabeça lentamente, envolvendo os braços em

volta da cintura, seu estômago embrulhando. De repente, ela
desejou que Sam estivesse ali. Sua mente se esquivou de onde ela
sabia que Raine estava indo. Sam a deixou escapar impune; Raine
não iria.
— Sim, claro, estava em todos os noticiários. Ele tinha um tipo

particular. Ele foi atrás de mães de crianças praticando esportes. As
mães que ficam em casa, cuidam dos filhos, os levavam aos treinos e
a todas as suas brincadeiras. Ele as seguiu para casa, amarrou a
criança ou crianças nas cadeiras e os fez assistir enquanto ele
torturava e matava a mãe. Ele deixou as crianças vivas, mas muito
traumatizadas. Como alguém poderia esquecer isso?
236
Livro Único
— Mas você não tinha pesadelos. Você não estava de forma

alguma envolvida, mas estava perto de você, na mesma cidade.
— É uma grande cidade.
— Stella. A voz de Raine era gentil. Baixa. Ela balançou a

cabeça, aqueles olhos azul-acinzentados compassivos, mas firmes.
— Não tão grande. Ele bateu perto várias vezes. O assassino era um
dos seguranças bem ali no campus.
Agora o coração de Stella batia muito rápido. Galopando

descontroladamente como um cavalo em fuga. Não diga isso.
Não pense nisso. Não diga isso. Se Raine dissesse em voz
alta o que Stella estava empurrando para fora de sua mente para
que nunca pudesse ser verdade, então Raine poderia tornar isso
verdade. Ela abriu a boca para dizer a Raine que era um grande
campus, mas sua garganta fechou, ameaçando sufocá-la.
— Por que você teria pesadelos quando era uma garotinha de

cinco, seis e sete anos de idade? Então, novamente quando você era
um adolescente? Você era adolescente quando começou a ter os
mesmos pesadelos novamente, Stella. Você estava em um lar
adotivo, no colégio, tirando boas notas, trabalhando na escola, e de
repente tudo estava acontecendo de novo. Você sabia que havia um
serial killer antes de qualquer outra pessoa. Os pesadelos
começaram quando você tinha quinze anos, mas ninguém acreditou
em você, exceto sua mãe adotiva. Ela a levou direto para a polícia.
— Ela foi muito legal. Não sei o que teria feito sem ela. Meu
mundo ficou completamente fora de controle quando minha mãe
biológica cometeu suicídio e eu fui colocada em um orfanato. Ela era
a casa de emergência, mas acabou me mantendo permanentemente.
Eu não sei por que eu estava uma bagunça.
Stella nunca pensara naqueles primeiros dias. Ela nunca se

permitiu voltar ao tempo em que, aos nove anos, encontrou a mãe
237
Livro Único
morta por causa de uma mistura de álcool e pílulas. Anne

Fernandez estava com seu melhor vestido, com maquiagem e cabelo
perfeitos. Ela até usava seu par favorito de saltos prateados e as joias
que mais amava.
— Minha mãe adotiva, Elizabeth Donaldson, tinha um

cachorro, um grande cachorro parecendo um urso, e ela o deixava
dormir no meu quarto todas as noites. Ela era a mulher mais
incrível. Naquela época, eu não confiava em ninguém,
especialmente em adultos, mas ela não parecia se importar quando
eu me recusei a falar ou dar algo de mim a ela. Quando comecei a
me abrir, aos poucos, ela sempre ouvia. Ela parava tudo o que
estava fazendo e agiu como se fosse à coisa mais importante do
mundo me ouvir. Ela nunca descartou uma única coisa que eu disse.
Eventualmente, tivemos discussões. Eu não sabia o que era uma
discussão até que ela me ensinou com muita paciência. Então, para
responder sua pergunta, quando eu contei a ela sobre os pesadelos,
ela acreditou em mim e me levou à polícia. Eles não acreditaram em
mim.
— Mesmo sabendo quem era você?
— Especialmente por causa de quem eu era. Eu era uma

garota no colégio que queria atenção. Que maneira perfeita de
conseguir isso, certo? Porque que uma garota queria chamar esse
tipo de atenção para si mesma? Stella apertou os braços em volta de
si mesma. — Eu detesto olhar para o meu passado. Outros podem
ter memórias brilhantes e felizes, mas a minha é uma merda.
— Nem todos eles, Raine apontou. — Você teve Elizabeth

Donaldson como mãe adotiva. Ela parece uma mulher adorável.
Stella teve que admitir esse ponto. Ela era culpada de tentar
bloquear essas memórias para fechar a porta de sua vida anterior, a
vida de Stella Fernandez. Ela começou sua vida na faculdade como
Stella Harrison e apenas seguiu em frente a partir daí. Ela não
238
Livro Único
pretendia deixar Elizabeth para trás. Ela só mudou de nome e usou

seu fundo fiduciário depois que Elizabeth morreu de câncer de
mama. Ela ficou com ela até o fim. Foi Elizabeth quem discutiu a
possibilidade de mudar legalmente seu nome. Ela devia tudo à sua
mãe adotiva e ainda assim ela a deixou para trás.
— Eu tive Elizabeth e tenho tantas memórias dela. Mesmo

quando ela estava tão doente, ela estava doente com tanta dignidade
e graça. Eu estava com medo de perdê-la. Stella piscou para conter
as lágrimas repentinas. — Obrigado por me lembrar, Raine. Não
quero perder nenhuma das lembranças que tenho dela. Ela me
ensinou muito.
Raine acenou com a cabeça. — Estou feliz que você a teve,

Stella. Ela respirou fundo. — Ela enfrentou a vida de frente e eu vejo
isso em você. Ela deu essa força para você, não foi? Sua voz era
muito gentil, até compassiva, mas não havia como esconder suas
observações.
— Eu vejo aonde você quer chegar com isso. Stella esfregou os

calafrios que subiram em seus braços. — Eu pensei sobre o porquê
dos meus pesadelos um milhão de vezes. Por que um serial killer e
não outro. Se fosse apenas à proximidade, então sim, eu deveria ter
sonhado com aquele enquanto estava na faculdade, mas não sonhei.
Aquele pequeno calafrio familiar desceu por sua espinha, o

que ela sentiu quando soube que estava no caminho certo - e ela não
queria estar. Ela mordeu o lábio e evitou os olhos de Raine, seu
estômago revirando novamente.
— Obviamente, eu tinha uma ligação física com José

Fernandez, meu pai. Eu morava na mesma casa com ele e ele me
buscou. Éramos uma família, ela disse.
— Não havia nenhuma conexão óbvia com o segundo serial

killer, quando você era adolescente, Stella, Raine disse. — Eu
pesquisei. Entrei nos arquivos do FBI e não consegui encontrar
239
Livro Único
nada. Até voltei aos arquivos originais da polícia quando sua mãe
adotiva a levou até eles para relatar seu pesadelo. Não havia nada
que indicasse que você teve algum contato físico com o assassino.
Stella pressionou o punho contra o peito. Admitir em voz alta

significava que ela conhecia esse assassino em série. Que ela o tocou.
Ela sabia disso, é claro, em algum lugar lá no fundo, mas ela não
queria admitir para si mesma ainda.
— Elizabeth amava seu café e ela sempre me levava a esta loja.

Era para onde íamos para nossas discussões, como ela sempre os
chamava. Acho que ela queria torná-los divertidos, então era sempre
um passeio. Ele era um cliente lá. Ele esteve lá algumas vezes
quando nós estávamos lá. Só o notei porque ele largou a carteira e
voltou para a mesa. Eu estava na fila atrás dele. Eu peguei e trouxe
para ele. Quando o coloquei na mesa, ele me agradeceu e, quando
me afastei, ele segurou meu braço e perguntou se poderia comprar
nosso café. Achei fofo, mas disse que não e agradeci a oferta. Então,
ele havia me tocado. Não foi muito uma conexão, mas houve
contato físico.
— Você disse que o viu mais de uma vez no café. Você já teve
contato físico de novo? Raine perguntou.
Stella acenou com a cabeça. — Ele não estava sempre lá

quando estávamos. Talvez quatro ou cinco vezes. Elizabeth nunca
falou com ele. Acho que ela nem o notou. Mas escorreguei no café
derramado quando subi para pegar nossas bebidas e ele me
segurou, evitando que eu caísse. Lembro-me de rir e dizer que
estávamos até pela carteira.
— Isso foi antes de ele começar a matar?
— Até onde sei. Foi antes dos pesadelos começarem, pelo

menos um ano antes. Elizabeth foi diagnosticada e nosso mundo
estava virando de cabeça para baixo.
240
Livro Único
Ela engoliu em seco. — Nós pensamos que ela tinha vencido.

Ela fez uma mastectomia dupla, fez quimioterapia e nos disseram
que ela estava pronta para recomeçar. Ela acompanhou, mas tudo
parecia bem.
— Eu sinto muito, Stella. Eu posso ver por que você não teria
sequer pensado em colocar os olhos no assassino.
— Ele parecia diferente na época, mas eu o reconheci depois

que o prenderam. Eu nunca o vi em um dos meus pesadelos. Só não
achei pertinente contar ao FBI que o tinha visto em uma cafeteria
depois que ele foi preso. Eu simplesmente não me importava, não
com Elizabeth tão doente. Tudo o que importava para mim era
deixá-la melhor.
Raine suspirou. — O serial killer aqui tem que ser alguém com
quem você entrou fisicamente em contato.
Stella acenou com a cabeça. — Infelizmente, é mais provável

que seja o caso, mas eu entro em contato com muitas pessoas
durante a temporada, Raine. Ela acrescentou o último porque este
assassino não era um de seus amigos. Absolutamente não era. Ela
tinha que acreditar nisso.
— Você tem certeza de que é um homem.
— Sim.
— E ele não é Sam. Raine não tirou o olhar de Stella, olhando-a

firmemente nos olhos. — Você está absolutamente certa de que o
assassino desse sonho não é Sam.
Stella não hesitou. — Estou absolutamente certa. Sam me

protegeria com sua vida.
Raine relaxou visivelmente, acreditando em sua palavra. —

Você tem bons instintos. Estou grata por você tê-lo, porque ele é um
grande trunfo para você. Até agora, a quem você contou sobre isso?
241
Livro Único
— Eu ainda tenho que dizer para Shabina e Vienna. Estou

tentando ir devagar e contar apenas para aqueles que precisam
saber para que não haja chance de avisar o assassino. Não tenho
ideia de quem seja, mas mesmo que não viva e trabalhe aqui, se for
temporário, ainda está aqui. É difícil evitar que as expressões faciais
de alguém mostrem alguma coisa se você sabe de antemão que é um
assassinato e não um acidente.
Seu maior medo era que o assassino fosse um local, alguém

que todos conheciam.
— Você tem que trazer Viena para o circuito. Ela é a chefe de

Busca e Resgate, Stella. Ela tem que saber se for chamada, o que está
enfrentando.
Stella esfregou as têmporas latejantes de repente. — E depois?

Ela trata isso como uma cena de crime em vez de um acidente? E se
o assassino estiver assistindo? E se ele estiver perto o suficiente e
isso a tornar um alvo? Eu não quero que ele de repente coloque seus
olhos nela.
— Viena sempre trata cada acidente como uma cena de crime,

você sabe disso. Ela é cuidadosa. Todo mundo sabe disso sobre ela.
Ela será a primeira a chegar se não pudermos salvar essas pessoas.
Ela saberá o que procurar. Ela será capaz de preservar as evidências.
Temos que confiar nela.
— Eu confio em Viena implicitamente, garantiu Stella. — Ela

está sempre se colocando em risco, Raine. De qualquer um, sua vida
está em jogo nesses resgates. Ela fica pendurada em um penhasco
quando algum idiota sobe muito além de seu nível. Ela sai em uma
tempestade de neve, arriscando sua vida, para encontrar uma
família que nunca deveria ter saído para dar um passeio na neve. Eu
sei o que Viena está disposta a fazer para manter os outros seguros.
Ela não se mantém tão segura. No minuto em que eu contar a ela o
242
Livro Único
que está acontecendo, ela encontrará uma maneira de estar em

Whitney.
— Eu acho que todos nós vamos encontrar uma maneira de

estar em Whitney, Raine concordou. — Diga a ela amanhã depois do
seu sonho. Assim, você saberá se o casal deixou seus equipamentos
no Trail Crest e está com suas mochilas. Tentarei encontrar
autorizações e examiná-las para casais que possam estar planejando
encontrar Whitney depois de amanhã para ver se podemos nos
antecipar a ele. É tudo o que podemos fazer Stella. Ela olhou pela
janela. — Os cães têm sido pacientes conosco. Podemos levá-los
para passear e tirar tudo isso da nossa cabeça por um tempo.
Stella ficou mais do que feliz em fazer exatamente isso.
Não havia engano sobre isso, os dois mochileiros

estavam subindo até o topo de Whitney, mochilas nas costas. Stella
conseguiu distingui-los na luz do amanhecer. Listras cinzentas
brilhavam através do que parecia uma escuridão implacável e
ambos desligaram as lanternas enquanto continuavam em um ritmo
constante.
Ocasionalmente, a mulher parecia gritar para ele parar e os

dois olhavam para as vistas amplas e arrebatadoras. Stella estivera
lá mais de uma vez e sabia o que eles estavam experimentando. A
subida valeu a pena cada momento extenuante. Não havia nada
como a beleza das Sierras, e do topo de Whitney, além da
243
Livro Único
conquista, as vistas deslumbrantes pareciam estar no topo do

mundo. A trilha ficava a apenas três quilômetros de Trail Crest até o
cume. Só restava um ziguezague que poderia causar problemas
aos dois escaladores e, até agora, Stella não sentia a presença do
assassino. Ele não os tinha seguido desde Trail Crest. Talvez ele
estivesse esperando por sua descida?
Seu coração começou a acelerar e ela imediatamente se

acalmou. Esta pode ser a última noite para suas pistas, mas ela não
entraria em pânico. Esse era o objetivo de tudo isso, reunir todas as
informações que pudesse obter para salvar esses dois indivíduos.
Ela se forçou a ser aquela expectadora, observando cada detalhe,
procurando a forma mais ínfima de uma rocha ou um afloramento
que ela pudesse distinguir na luz fraca para que pudesse esboçá-lo
e, com sorte, encontrar o local exato, caso eles os perdessem em
Trail Crest.
A fêmea não tinha mostrado nenhum sinal de mal-estar da

altitude. Ela pode ser uma mochileira relativamente nova, mas ela
treinou para esta caminhada. Seu parceiro deve ter enfatizado a
importância disso, ou ela era natural neste tipo de altitude.
O enjoo da altitude não era problema, e muitos caminhantes

experientes foram vítimas disso. Era preciso reconhecer os
primeiros sinais disso. Dor de cabeça, náusea, falta de ar. Pernas
se recusando a cooperar, não importa o quão forte você ordenasse
244
Livro Único
que se movessem. Stella sabia, ela tinha feito isso acontecer. Ela
tinha sido cuidadosa, indo devagar, comendo os alimentos certos,
mas ainda assim, qualquer coisa acima de 2.500 metros era sempre
um risco, uma chance de cinquenta por cento para ela. Ela tentaria
acampar a cada mil pés ou assim se pudesse quando estava se
preparando para uma montanha como Whitney, mas nem sempre
garantia que ela iria se esquivar do enjoo de altitude que às vezes
prevalecia, mesmo que fosse brando.
A mulher disse algo novamente para o homem e ele parou,

voltou para ela, e eles olharam para o nascer do sol da manhã.
Ainda era muito cedo para o sol subir alto o suficiente para iluminar
o granito. Ele indicou o cume, dizendo claramente a ela que se eles
pudessem chegar ao topo para ver o nascer do sol, valeria a pena.
Ela acenou com a cabeça e eles começaram mais uma vez.
Stella o sentiu então. Apenas uma ameaça tênue e sinistra

carregada pelo vento que soprava pela trilha aberta. Ele era como
um filme escuro se infiltrando na beleza da manhã. Astuto. Ardiloso.
Uma presença sinistra rastejando no cenário pitoresco. Ela não
sabia onde ele estava. Atrás deles? Na frente deles? Ela deve ser
capaz de vê-lo. Por que ela não poderia?
Ela respirou fundo várias vezes em um esforço para

permanecer calma. Não era como se houvesse lugares para se
esconder. A luz da manhã estava começando a se revelar mais e
245
Livro Único
mais, e o assassino não poderia se esconder nas sombras por

muito mais tempo. Ela se viu esforçando-se para ver através do
cinza, procurando por ele.
O casal continuou subindo em direção ao cume e, ao

contornar o último zigue-zague, havia uma pessoa encolhida bem
na beirada, balançando para frente e para trás, cabeça nas mãos,
mochila ao lado dele, claramente sofrendo do mal da altitude. Não
era incomum chegar tão perto e não ser capaz de fazer nem os
últimos 150 metros, ou pensar que não conseguiria. Ela tinha
passado por isso onde suas pernas simplesmente se recusavam a
funcionar.
Stella observou o indivíduo enquanto o casal se aproximava

dele. Claramente era um homem, embora fosse impossível dizer
seu tamanho ou mesmo sua constituição. Ele usava um moletom de
chuva escuro sobre a jaqueta, o capuz cobrindo seu cabelo e
protegendo seu rosto. Quanto mais perto o casal ficava dele, mais
aquele sentimento sinistro e penetrante de ameaça crescia.
Ela tentou gritar para o casal ficar para trás, mas o homem já
havia hesitado em seu progresso. Ele obviamente falou com o
assassino, que balançou a cabeça e indicou que se sentia mal.
O homem pegou sua água e caminhou até o assassino, a

fêmea o seguindo. Stella gritou um aviso, mas nada pôde ser
246
Livro Único
ouvido. Ela só pôde assistir impotente, enquanto o assassino, que

fingia estar doente pela altitude, se levantava de repente. Em um
borrão de movimento, ele agarrou o homem com as duas mãos e se
virou de forma que o alpinista homem cambaleasse na beira do
penhasco. Estranhamente, parecia que ele estendeu a mão e
agarrou o dedo anelar esquerdo do caminhante enquanto o
empurrava.
A mulher ficou congelada, claro choque. O assassino levou

dois segundos ou menos para jogar o homem para o lado. Ela
provavelmente não tinha ideia do que realmente aconteceu. O
assassino se virou para encará-la e ela abriu a boca para gritar.
Antes que um som pudesse escapar, ele estava sobre ela, uma
mão batendo em sua boca enquanto a empurrava direto para a
borda. Ele a segurou ali por um momento.
Stella não conseguia imaginar como a pobre garota se sentia,

olhando para baixo, sabendo que ia morrer. Ela não entendia o que
o assassino estava fazendo, mas ele parecia segurar seu dedo, do
jeito que tinha feito com o homem, lentamente, cruelmente,
jogando-a no limite. Então a mulher sumiu da vista de Stella, e
apenas o assassino permaneceu agachado, olhando em volta para
se certificar de que não havia sinais de que ele estava ali.
Ele não subiu ao cume, mas, de cabeça baixa, o corpo

afundado, começou a descer como se já tivesse feito à escalada e
247
Livro Único
estivesse descendo para Trail Crest. A lente se fechou e ela não
conseguiu evitar, embora tenha tentado.
Ela nunca teve uma visão clara dele. Nem seu rosto, nem
seu tamanho. Nenhuma marca de identificação. Ele poderia ter sido
qualquer um. Ele estava sem rosto, envolto em seu capuz, curvado
e, sem dúvida, se encontrasse alguém na trilha, ele fingiria enjoo de
altitude. Se ele os ouvisse chegando, ele se deitava, se enrolava e
acenava para eles, garantindo que ele ficaria bem, ele estava se
hidratando. Eles nunca veriam seu rosto ou constituição real.
Ela acordou, querendo gritar de frustração, mas pelo menos

ela sabia que o casal deixou suas bagagens em Trail Crest. Haveria
uma janela de dois dias para o assassino entre este pesadelo e
quando ele atacasse. Eles teriam que monitorar Trail Crest para
casais naqueles dois dias, mas certamente eles poderiam impedir o
casal de escalar.
Ela tentou não pensar em James Marley e como o assassino o

assassinou quando ele não foi capaz de matar sua primeira vítima.
Se eles salvassem o primeiro casal, ele simplesmente escolheria
outra pessoa para matar e levá-los em seu lugar?
— Stella, você já sabe que tem que resolver isso, veio à voz
calma de Sam. Sempre reconfortante. — Você escreve e faz um
esboço. Você vai falar com Viena hoje. Raine disse que procuraria
licenças. Vienna e eu iremos até Whitney. Faz sentido para nós
irmos. Somos nós que eles chamam de Busca e Resgate e podemos
facilmente argumentar que precisamos descobrir métodos melhores
e mais rápidos para chegar até pessoas com problemas. Viena será
capaz de nos colocar na trilha em ambos os dias.
248
Livro Único
Stella sabia que ele não a queria ali, mas ela também sabia que
fazia todo o sentido também. — Você está certo, é difícil vê-lo
assassinar duas pessoas inocentes. Ele fingiu estar com problemas
de altitude e eles iam ajudá-lo. Eu odeio que fazer algo bom para
alguém os tenha matado.
— Eu sei querida, ele disse suavemente. — Nós vamos pará-lo.
Stella esperava que ele estivesse certo. Era só que observando

o assassino, ele parecia tão invencível de alguma forma. Tão
completamente ousado, escondido à vista de todos. Normalmente,
havia várias pessoas na trilha no início da manhã, mas de alguma
forma sua sorte se manteve.
Vienna Mortenson era alta, loira e linda, com a

aparência de uma supermodelo. Sua ascendência escandinava era
muito evidente em seus cabelos claros e grandes olhos verdes. Ela
não tinha vindo com dinheiro, mas fez isso jogando cartas e se
arriscou na escola de enfermagem com o que ganhava. Ela era uma
jogadora de cartas séria, eventualmente jogando pôquer de apostas
altas em Las Vegas, embora mantivesse um perfil bastante discreto
quando possível. Ela disse que nunca era bom fazer com que as
pessoas erradas se interessassem por você. Alguns eram perdedores
muito ruins.
Stella sabia muito pouco sobre a vida de Vienna, exceto que

ela tinha uma mãe para a qual mandava dinheiro, pagando o
aluguel e as despesas em Las Vegas. Ela sabia que sua mãe morava
com alguém, mas Stella não tinha ideia de quem era essa pessoa se
era parentes ou algo sobre eles, e Vienna nunca disse.
A casa de Viena era pequena, mas muito arrumada, tudo em

seu lugar. Cada peça de mobiliário foi escolhida com cuidado. Ela
249
Livro Único
demorou para decidir o que queria em cadeiras para sua sala de

estar ou para a mesa da cozinha. Ela não era uma pessoa para ser
apressada em decisões pessoais, mas conseguia pensar rápido em
uma crise, tomando decisões que salvavam vidas quando outros
dependiam dela.
Sua gata governava a casa. Princesa, a persa branca26, tinha

uma cama em cada quarto. Ela tinha um castelo de escalada e
paredes arranhadas por toda parte, em todas as formas possíveis
que poderiam agradar ao animal enjoado. O pequeno felino
presunçoso desfilou para mostrar a Stella que ela era a chefe,
especialmente porque Stella “fedia” a Bailey.
Stella não se atreveu a trazer Bailey para a casa de Vienna.

Bailey tinha boas maneiras e teria se encolhido em um canto e
esperado calmamente que Stella e Vienna terminassem sua visita.
Ela sabia por que elas tentaram. A princesa não aceitaria nenhum
invasor em sua casa. Ela o atacou, mordendo sua pata gigante,
correndo por sua extremidade traseira, arranhando seu caminho até
suas costas para tentar montá-lo até a porta da frente.
Bailey deixou bem claro que, a menos que ele retaliar de uma
grande maneira, ele ficaria no 4Runner e Stella poderia visitar Viena
e seu gato feroz sozinha. Ele não a estava protegendo.
— Bailey parece miserável lá fora, disse Vienna, afastando-se

da janela para dar a seu gato o melhor olhar que ela poderia reunir.
Não foi muito de um.
Stella temia por quaisquer filhos que Viena pudesse ter, se

algum dia se aventurasse por esse caminho. — Ele está bem. Ele está
26
Persa é uma raça de gato doméstico originária do Irã, antiga Pérsia. É conhecido por
sua aparência chamativa, de muita pelagem e focinho achatado.
250
Livro Único
de mau humor. Princesa é a única gata que nunca se apaixonou por

ele. Ele não consegue entender por que ela pensa que ele é um
bárbaro.
— Sinto muito pelo seu pai, Stella, disse Vienna de repente.

Ela cruzou a sala novamente para olhar os desenhos que Stella
fizera. — Ele está na prisão?
— Sim. Não tenho nenhum contato com ele, mas me certifico

de saber o que está acontecendo com ele para não ser pega de
surpresa se de repente, por algum milagre, ele sair.
Vienna afundou em uma de suas belas e muito confortáveis

cadeiras. Sem couro para Viena. Ela gostava de material com
acolchoamento extra em suas cadeiras, uma parede grossa de
enchimento sobre uma estrutura robusta que prometia durar anos;
suas cadeiras deslizavam ou levantadas para dar um bom descanso
para os pés. Onde ela conseguiu encontrar sua mobília, Stella não
sabia, mas veio de tomar seu tempo e não se acomodar.
— Eu acho que Sam está certo, nós dois deveríamos subir lá.
Seria natural irmos lá juntos. Ninguém questionaria isso, Stella.
— Você tem folga?
— Eu tenho folga amanhã e posso negociar. Isso é feito o

tempo todo. Posso dizer que tenho uma chance de fazer isso e o
tempo está bom. As férias estão chegando, então alguém vai querer
negociar comigo.
— É assustador pensar que ele vai apenas trocar de vítima

como fez com Marley, disse Stella. — Esse é outro grande medo.
Que eu salvo duas vítimas e condeno outra pessoa à morte.
— Você não fez isso, repreendeu Vienna. — Você não pode se

permitir pensar assim ou ficará louca. Esta é uma oportunidade de
salvar vidas. Talvez não desta vez ou da próxima, mas se não o
pegarmos, pense em quantas pessoas ele vai matar.
251
Livro Único
— Isso é o que Sam e Raine dizem.
— Eles estão certos. De qualquer forma, se não conseguirmos

deter o casal, Sam e eu vamos partir de Trail Crest. Graças ao seu
sonho, sabemos o que procurar. É possível que possamos evitar que
qualquer outro caminhante tente ajudar um homem solitário
fingindo estar doente da altitude. Vamos sentar a uma distância dele
e apenas conversar com ele. Isso deve frustrá-lo infinitamente.
— Ele é letal.
— Estou contando com o seu Sam ser letal. É ele?
Stella pensou sobre isso. Ela assentiu lentamente. — Eu

acredito que ele poderia ser, dadas as circunstâncias certas. Se
alguém tentasse fazer mal a você, Viena, então sim, ele tentaria.
— Bom saber.
— Quer dizer, se você for lá com ele, não se deixe separar dele.
Você tem que ficar bem com ele, não importa quem mais esteja com
você. Não importa quem mais você conhece e o quão bem você os
conhece.
As sobrancelhas cor de trigo de Vienna se juntaram. — O que

isso significa? Você suspeita de nossos amigos? Ou alguém que
conhecemos?
Stella suspirou e esfregou os arrepios repentinos que cobriam

seus antebraços. — Fico enjoada de admitir isso, mas acho que a
única maneira de conseguir esses pesadelos é entrar em contato
físico com o assassino em série. Eu estive perto de um serial killer
antes e não tive pesadelos, mas cada um dos assassinos que eu tive
pesadelos eu realmente toquei fisicamente.
Vienna olhou os esboços e cruzou uma perna elegante sobre a

outra. Ela estava vestida com calças de ioga de perna reta na cor
vinho. As calças tinham pequenas torções na parte inferior que as
252
Livro Único
faziam parecer elegantes. Na parte de trás havia uma faixa de

gravatas cruzadas em um tom mais escuro de vinho. Seu suéter
tricotado era creme com pontos de vários tamanhos e tons de vinho.
Tudo em Viena parecia elegante, sofisticado e estiloso, mas ela era
uma mulher super qualificada ao ar livre.
— Isso é péssimo, Stella.
— Eu sei disso.
— Pode ser qualquer um, certo? Você verifica todos os homens

e mulheres que competem no grande torneio de pesca todos os anos
no acampamento de pesca. E você faz o check-in das pessoas que
alugam as cabines do seu resort. Quando você está aqui na cidade,
você está no comércio o tempo todo, conversando com todo mundo
e pegando brochuras, refinando-as. Não precisa ser alguém de nosso
grupo imediato de amigos.
— Não. Stella continuou esfregando os braços.
— Por que alguém que conhecemos de repente começaria a

matar?
— Eu não sei Viena. Por que alguém faz alguma coisa? Não
acho que meu pai matou aqueles primeiros anos da minha vida, mas
ele certamente matou depois que eu tinha cinco anos. Por que ele
iria começar então? Ele nunca disse.
— Você já se sentiu tentado a perguntar a ele?
Stella balançou a cabeça. — Eu não suportava olhar para ele.

Fechei a porta da minha infância e tenho medo de abri-la. Isso já foi
difícil o suficiente. Tenho me lembrado de coisas sobre minha mãe
que não queria examinar muito de perto. A última coisa que quero
fazer é confrontá-lo.
— Posso me identificar com isso, disse Vienna. — Eu sou

totalmente a favor de seguir em frente e deixar o passado ficar onde
253
Livro Único
ele pertence. Sam e eu deveríamos estar lá esta noite. Se aquele casal

chegar a Trail Crest por volta das duas da manhã, precisamos estar
lá. Não consigo dizer pelos esboços que horas são. Raine deu a você
uma lista de licenças?
— Sim. Todos os que têm licença para os dois dias. Vou pedir
para ela enviá-los para o seu telefone. Ela já estava enviando
mensagens de texto. Ela suspirou quando recebeu uma resposta de
volta. — Pobre Raine. Eles enviaram um helicóptero para ela
novamente. Ela vai tentar voltar para minha casa antes da manhã
para esperar comigo, mas aparentemente ela tem que trabalhar. Ela
lhe enviará a lista de autorizações, Viena.
— Algo grande deve estar acontecendo.
— Sempre que há algum tipo de coisa terrorista acontecendo

em algum lugar que estou lendo, Raine de repente não está em lugar
nenhum, Stella disse, baixando a voz, embora ela não soubesse o
porquê. Não era como se alguém estivesse por perto. — Por favor,
tenha cuidado lá em cima, Viena, e não saia do lado de Sam.
Promete-me.
— Eu prometo. Esse cara me assusta pra caralho.
Capítulo 12
— Stella, há alguns homens no portão dizendo que

querem ver você. Um homem chamado Marco Rossi? Patrick Sorsey
disse sua voz soando metálica quando ele ligou dos portões de
segurança. — Ele perguntou por Sam primeiro, mas Sam não está
em lugar nenhum e é muito cedo para visitantes.
254
Livro Único
Stella olhou para Raine. Pelo menos ela não estava sozinha.
Raine tinha acabado de chegar lá, antes do sol nascer. Ela tinha a
sensação de que Sam não iria gostar disso, mas ela não podia
recusar o pai de Sam. Além disso, era uma distração bem-vinda
enquanto esperavam por notícias sobre se tinham ou não sucesso
em contatar o casal antes que o assassino o fizesse.
Havia tantos nomes na lista de licenças para a janela de dois

dias em que o assassino poderia trabalhar. Tantos pontos de
interrogação. Vienna e Sam foram até Trail Crest para ver o que eles
poderiam fazer para encontrar o casal e esperançosamente impedi-
los de serem mortos.
— Por favor, acompanhe-o até a casa. Isso lhe daria tempo

suficiente para trocar o pijama por jeans e acender o fogo na sala de
estar. Estava muito frio para fazê-lo ficar do lado de fora na
varanda, embora Sam provavelmente insistisse que era o que ela
deveria ter feito - ou apenas esperou que ele voltasse antes de
permitir que seu pai a visitasse.
— O pai de Sam está aqui, ela sussurrou, puxando para baixo

o pijama, jogando-o na cama e puxando para cima seu jeans
favorito. Ela encontrou um suéter tricotado para cobrir a camiseta e
depois correu para a sala de estar para acender o fogo.
— Sam tem um pai? Raine perguntou.
— Muito engraçado. Stella aproveitou para olhar para ela por

cima do ombro. — Ele não vai ficar feliz comigo por deixá-lo entrar.
Eles meio que tiveram um desentendimento. Eu nunca o conheci de
verdade. Você tem uma arma com você?
Raine ergueu uma sobrancelha. — Claro.
— Apenas checando. Stella fez uma careta. — Isso é loucura. Já

estou louca esperando notícias de Vienna e Sam.
— Então esta é uma boa distração. Raine era prático.
255
Livro Único
— Ele é mafioso, Raine. Você pode querer sair pelos fundos.

Ele terá um guarda-costas com ele e eu não quero que você tenha
problemas com seu trabalho.
Raine ergueu a sobrancelha. — Você sabe que minha família é

originalmente de Nova York, certo? Não é como se eu não soubesse
o que está acontecendo. Acabamos nos mudando para a Califórnia,
mas eu já era adulta naquela época. Raine raramente dava
informações sobre sua família, exceto que ela teve uma infância
feliz. Stella sabia que seu pai estava morto, mas sua mãe ainda
estava viva. Raine nunca ia para casa nas férias. Ela os passou com
Stella, Shabina, Denver, Viena e Zahra e, recentemente, Sam nas
Sierras. Stella sempre gostou de ter os outros ali para comemorar.
Nenhum deles estava sozinho. Eles formaram sua própria família.
— Não é como se eu o achasse perigoso ou algo assim, é só

que ele veio no meio da noite e Sam estava muito chateado com ele
por fazer isso.
— Posso imaginar especialmente com o que está acontecendo.

Raine permaneceu estritamente neutra. Ela olhou pela janela. Bailey
havia alertado e Daisy estava pulando para cima e para baixo,
dando-lhe as boas-vindas alegres. O pequeno Jack Russell amava a
todos até perceber que eram estranhos, e então ela rosnava e olhava
para eles com desconfiança.
Stella sinalizou para Bailey ir ao seu canto para permanecer

em alerta, deixando-o saber que ele estava em guarda. Ele iria
ignorar as palhaçadas de Daisy e manter os olhos em seus
convidados, esperando por um sinal dela para atacar, ou qualquer
indicação deles de que iriam machucar qualquer um de seus
pupilos. Raine colocou Daisy no quarto e fechou a porta com uma
ordem afiada para ficar quieta.
— Você quer que eu faça café?
256
Livro Único
— Vamos ver como isso vai primeiro, disse Stella, e foi até a
porta. Respirando fundo, ela abriu na primeira batida.
— Stella, este é o Sr. Rossi. Ele estava aqui para ver Sam, mas
pediu para vê-la quando eu disse a ele que Sam não estava aqui,
Patrick informou a ela, repetindo o que ele disse a ela antes. Ele
estava obviamente curioso e muito desaprovador.
— Obrigado, Patrick. Eu aguento daqui. Ela esperou que

Patrick saísse com relutância antes de voltar toda sua atenção para o
pai de Sam. Ele a estava estudando atentamente com olhos escuros.
Os olhos de Sam, embora ele não tivesse a mesma intensidade que
Sam. — Eu sou Stella Harrison. Você gostaria de entrar?
— Marco Rossi. Este é Lucio Vitale. O homem mais velho

apresentou seu guarda-costas. — Obrigado, gostaria de alguns
minutos do seu tempo.
Stella recuou para permitir que os dois homens entrassem em

sua casa. Marco era um homem bonito, seu cabelo escuro com
mechas prateadas. Ela podia ver que seu filho o perseguia, embora
Sam tivesse arestas muito mais duras. Marco parecia poderoso
enquanto Sam era... Perturbador. Seu guarda-costas, Lucio, era mais
parecido com Sam no sentido de que tinha a mesma energia negra
fluindo dele, embora parecesse relaxado.
Os olhos de Lucio percorreram tudo na sala, passando de

Stella a Bailey. Ele notou janelas, portas e saídas. Ela estava certa de
que ele sabia que ela estava armada, e então Raine entrou em sua
linha de visão e um lampejo de calor e reconhecimento deslizou
para aqueles olhos escuros e impiedosos quando se fixaram nela.
Lúcio passou à frente de Marco, o terno que ele usava tão caro
quanto o que seu chefe usava, mas de alguma forma, embora Marco
exalasse poder naquele terno, Lúcio era o mais perigoso. Até os
olhos de Bailey o seguiram.
257
Livro Único
Stella deu as boas-vindas ao pai de Sam. — Sam estava

esperando por você?
Marco balançou a cabeça. — Eu estava na cidade a cerca de

uma hora daqui e decidi antes de voltar para casa, gostaria de falar
com ele mais uma vez. Já se passaram anos desde que tivemos a
chance de conversar.
Stella acenou para os dois homens em direção às cadeiras em

frente ao sofá. — Esta é minha amiga Raine O'Mallory. Raine, Marco
Rossi, pai de Sam e Lucio Vitale.
— É um prazer conhecê-lo, Sr. Rossi. Já conheci Vitale antes,

disse Raine. — Sou originalmente de Nova York. Ela se acomodou
no sofá com um sorriso enigmático em seu rostinho de duende para
Marco, mal lançando um olhar para Lúcio.
— Você não é filha de Sean O'Mallory, é? Marco perguntou

enquanto sentava na cadeira em frente à Stella, dando a seu guarda-
costas a cadeira em frente a Raine.
— Sim, Sean era meu pai.
— Vergonha pela morte dele, disse Marco. — Ele era um bom

homem. Sempre cumpria sua palavra quando fazia negócios.
Quando ele se mudou para a Califórnia, pensei que ele estava
aposentado.
— Ele estava. Alguém não estava disposto a deixar as coisas

passarem.
— Como está sua mãe? Ela é uma mulher adorável.
— Eu não vejo minha mãe há anos, Raine disse, sem mudança

em sua expressão ou tom.
Stella tinha seu olhar em Lucio, que tinha a máscara de Sam e

olhos frios e planos, mas com a declaração de Raine, algo rastejou
em seus olhos e então se foi. Ela tinha pensado que os olhos dele
258
Livro Único
eram pretos, mas percebeu que eram na verdade azuis marinho, um

azul profundo, escuro. Agora eles estavam fixos no rosto de Raine.
Stella queria que Raine parasse de falar.
— Há um castigo, o máximo que pode ser dado quando

alguém trai a família. Pode ser pior do que a morte. Você é expulso
da família, declarado morto. Seu nome nunca mais é falado por
nenhum membro da família. Você não é visto por eles, mesmo se
estiver na frente deles, implorando por perdão. Não há perdão para
a traição.
Marco ergueu a sobrancelha. — Não consigo imaginar como

você pode ter traído sua família.
Ela deu a ele o mesmo sorriso enigmático. — Naquela época,

eu não sabia o que significava o negócio de meu pai. Eu era muito
jovem e mulher e considerada, eu acho, sem cérebro.
— Não, não, Raine, protegida. Ele protegeu você. Todos os

pais querem proteger suas filhas.
— Dos tubarões? De homens que os usariam para obter

informações para arruinar suas famílias? Para destruir seu pai? Eu
ingenuamente me apaixonei pelo homem errado. Achei que fosse
amor. Você tem ideia de como isso soa realmente bobo quando meu
pai está morto e minha família perdida para mim? A questão é que
eu tenho um cérebro. Muito bom. Se meu pai tivesse me contado, eu
teria cuidado de tubarões. Agora que aprendi essa lição, sei que os
homens mentem o tempo todo para as mulheres. Além disso, fiz
questão de obter o máximo de conhecimento e compreensão
possível sobre as circunstâncias de sua morte.
Stella esperava que Raine não estivesse desafiando Marco de

alguma forma. Certamente, ela não achava que o pai de Sam tinha
algo a ver com a morte de seu pai. Ela se sentia completamente
perdida com a conversa e ainda não conseguia tirar os olhos de
Lucio por algum motivo, e sua reação. Ele não disse uma palavra,
259
Livro Único
mas não estava mais feliz com a direção que a conversa estava
tomando do que Stella.
— Não, não, Raine. Marco se inclinou para frente. — Isso é

muito arriscado. Você não deveria estar investigando essas coisas.
A sobrancelha de Raine se ergueu. — Isso é realmente

fascinante. Está me dizendo, Sr. Rossi, que se alguém assassinasse
seu pai, você não caçaria aquele que ordenou sua morte? Porque
ambos sabemos que quem o matou foi obrigado a fazê-lo. O
verdadeiro assassino não vem ao caso, apenas a arma. Quem quer
que esteja por trás do assassinato é o verdadeiro assassino.
Certamente você caçaria por essa pessoa.
— Isso é diferente. Marco acenou com a mão no ar

expansivamente.
Stella gemeu e cobriu os olhos por um momento, sabendo que

era como acenar uma bandeira vermelha para Raine.
— Porque eu sou uma mulher e você é um homem? Porque eu

não deveria amar meu pai da mesma forma que você ama o seu? Eu
não deveria sentir a mesma lealdade por ele? Diga-me por que, Sr.
Rossi, Raine persistiu. — Eu não entendo muito bem.
— Simplificando, Raine, ele disse gentilmente, — até mesmo

olhar para isso pode te matar. Você precisa dos recursos certos. Você
precisa saber o que está fazendo. E se você fosse encontrar suas
respostas, você teria que ser capaz de seguir em frente.
Ela sorriu para ele, aquele mesmo doce sorriso Raine que não
significava nada e ainda assim tudo. — E quem pode dizer que não
tenho esses recursos e que, quando encontro às respostas, também
não tenho recursos para seguir adiante? Nunca subestime as
mulheres, Sr. Rossi. Isso é o que acaba colocando os homens em
apuros no final.
260
Livro Único
Marco olhou para ela por trinta segundos e depois caiu na

gargalhada. — Você certamente é filha de seu pai. Afiada como uma
tacha. Não acho que gostaria de discutir com você com muita
frequência.
— Ninguém gostaria, concordou Stella. — Algum de vocês

gostaria de um café?
Ambos os homens concordaram. Raine imediatamente se

ofereceu para fazer isso. Lúcio fez um movimento como se fosse se
levantar.
Raine ergueu o queixo. — Eu não preciso de nenhuma ajuda.

Isso levará apenas um minuto. Alguém quer creme ou açúcar?
Stella teve a sensação de que Lúcio e Raine definitivamente

não eram amigos. Ela não tinha percebido que Raine estava
“morta” para sua família. Quando ela falava deles, ela sempre
falava deles com tanto amor. Ela descreveu sua infância como feliz.
Stella queria chorar por ela. Como ela poderia ser culpada por se
apaixonar por alguém e falar sobre sua família quando ela não tinha
ideia do que seu pai fazia? Ela não podia saber que estava dando
informações que não deveria contar a ninguém. Renegá-la
permanentemente parecia terrivelmente duro. Como sua mãe e seus
irmãos puderam fazer isso? Stella não entendeu, mas sua própria
mãe a deixou para enfrentar a vida sozinha depois que ficou claro
que seu pai estava matando pessoas.
— Sua amiga é uma mulher interessante, disse Marco.
— Ela é brilhante, disse Stella. — IQ fora das tabelas.
— O que as pessoas fazem aqui? Marco olhou ao redor de sua

sala de estar.
Todas as janelas tinham pontos de vista. — Eu vi por mim

mesma como é lindo, mas vocês são todos jovens. Existe realmente
261
Livro Único
trabalho aqui para apoiar a todos? Todos vocês ganham dinheiro

suficiente para viver?
Ela se recostou e enrolou as pernas sob o corpo. — Não vou

fingir que não sei quem você é. Você não teria vindo aqui para ver
Sam sem primeiro me investigar. Você sabe que eu sou a dona deste
resort, dos acampamentos de pesca e da propriedade ao redor do
lago. Sam trabalha para mim o ano todo. Eu emprego outro casal,
além de guardas de segurança, em tempo integral. Todo mundo é
temporário.
— Só descobri que meu filho esteve aqui há pouco tempo. Vim

rapidamente, com medo de que ele seguisse em frente. Não estamos
nos dando bem há anos e esta é a primeira oportunidade que tenho
de realmente falar com ele. Não foi inteligente da minha parte vir à
noite.
— Por que você fez isso?
— Achei que ele ficaria envergonhado se você soubesse quem

é o pai dele. Marco encolheu os ombros. — Não estou
envergonhado, mas nos separamos em condições muito ruins.
Stella acenou com a cabeça. — Eu posso ver por que você faria
isso. Você disse a ele o seu motivo?
Ele suspirou. — Não. Começamos com o pé errado

imediatamente.
— Eu assisti da janela. Ele definitivamente não estava feliz

com nenhum de vocês. Ela olhou para Lúcio. Ela iria se certificar de
que Raine soubesse tudo sobre sua queda e como Sam pegou sua
arma.
O monitor de Busca e Resgate disparou e a respiração de Stella

congelou nos pulmões. — Sam. Ela sussurrou o nome dele e deu um
pulo, sentindo a cor sumir de seu rosto. — Raine, ela chamou,
dando dois passos em direção à cozinha. A porta estava escancarada
262
Livro Único
e Raine apareceu, sua expressão compassiva. Stella não conseguia se

mexer.
— Sinto muito, querida, a Busca e Resgate foi chamada para

Mount Whitney.
Stella mordeu com força a ponta do polegar. — Sam? Viena?

Algum deles entrou em contato com você? Ela mal conseguia
respirar.
Raine balançou a cabeça. — Ainda não. Você conhece Sam.

Nada vai acontecer com ele e ele não vai deixar nada acontecer a
Viena.
— O que diabos está acontecendo com meu filho? Marco

exigiu.
Stella se virou. Marco estava de pé. Ela quase se esqueceu do

pai de Sam. Bailey rosnou baixo em sua garganta com o tom,
avisando o homem para ficar parado. Lúcio estava com o olhar no
cachorro, uma das mãos dentro do paletó. Stella sinalizou para
Bailey se retirar.
— Sam está em Whitney hoje com nossa amiga Viena, Raine

disse suavemente, encobrindo Stella, que não conseguia olhar para
nenhum dos dois. — Vienna é o chefe da Busca e Resgate e Sam faz
parte dessa organização. Acredito que eles estavam lá para tentar
melhorar a capacidade de resgate na montanha. Acabou de sair uma
chamada para a equipe de resgate. Ambos são bons escaladores e
caminhantes. Eles sabem o que estão fazendo. Mais e mais alpinistas
estão tentando chegar ao cume e não sabem o que estão fazendo,
então alpinistas experientes como Vienna e Sam precisam ajudá-los
Raine estava apenas falando, dizendo o que veio à mente para

dar a Stella tempo para se recompor. Seu celular vibrou e ela quase o
arrancou do bolso de trás para olhar para a única palavra que
significava tudo naquele momento. Seguro.
263
Livro Único
Suas pernas ameaçaram cair. Ela olhou para o pai dele,

piscando para conter as lágrimas. — Ele está seguro. Não foi ele.
Raine saiu da cozinha, seus olhos azuis simpáticos. — Dois

caminhantes caíram. Viena chamou o xerife.
Stella balançou a cabeça. — Isso não pode ser. Eles iriam detê-
los em Trail Crest.
— Stella... Raine começou suavemente.
— Eu sei. Eu sei. Estou grato por não ter sido Sam ou Vienna.
Só preciso de um minuto. Eu sinto que não consigo respirar. Ela não
podia ficar lá, enfiada em sua sala de estar, com medo de chorar
muito ou dizer algo que não deveria na frente de estranhos. — Se
você me der licença.
A adrenalina correu por seu corpo, até que ela quis correr para
se livrar da energia que a fazia tremer. Ela se virou para a porta da
frente. — Bailey, comigo. Ela só podia esperar que Raine a
perdoasse por deixá-la com dois estranhos quando ela saiu pela
porta com seu cachorro ao lado dela. Ela foi até a varanda. Estava
muito frio e, embora usasse jeans e um suéter, não estava vestida
para o ar livre.
Apoiando-se na grade, ela cobriu o rosto com as mãos. Afinal,

o serial killer havia vencido. Depois de todo o planejamento
cuidadoso, ele ainda conseguiu matar duas pessoas inocentes que só
queriam chegar ao cume do Monte Whitney e apreciar o nascer do
sol. Como eles poderiam não tê-los visto? Vienna e Sam estiveram
em Trail Crest. Ali. Esperando o casal. O que poderia ter dado
errado?
Bailey empurrou sua grande cabeça contra seu quadril e ela

automaticamente baixou uma mão para esfregar suas orelhas.
— Stella?
264
Livro Único
Ela quase saltou de sua pele. Ela deveria saber que o cachorro
estava avisando que ela não estava mais sozinha. Ela se virou para
encarar o pai de Sam. Ele olhou para ela com preocupação.
— Não vou fingir que entendo o que está acontecendo, mas

está claro que algo terrível aconteceu. Posso fazer algo para ajudar?
Ele entregou a ela uma de suas jaquetas. Ela os mantinha em
ganchos ao lado das portas de sua casa para que pudesse pegá-los a
qualquer hora do dia ou da noite em caso de emergência na
propriedade.
— Obrigada, ela murmurou automaticamente. — Não, não há

realmente nada que você possa fazer. Sinto muito por agir tão boba.
Sam está bem. Alguns dos caminhantes que vêm da cidade não
sabem o que significa chegar ao cume do Whitney. Vienna e Sam
estavam tentando descobrir como proteger... Ela acenou com a mão,
incapaz de mentir. Ela não sabia o que dizer. — Ele só vai voltar
tarde.
— Fui diagnosticado com um problema cardíaco, Marco

deixou escapar. Ele olhou para a porta fechada como se não quisesse
ser ouvido nem mesmo por seu guarda-costas. — Decidi me
aposentar, o que na minha linha de negócios pode ser arriscado.
Não tenho outro herdeiro além de Sam.
Stella se virou completamente, de costas para o lago e o sol

nascente com todos os seus tons de ouro. Ela esperava que ele não
achasse que Sam se colocaria em seu lugar.
Ele balançou sua cabeça. — Eu sei o que você está pensando.

Sam não quer ter nada a ver com meus negócios. Ele saiu há muito
tempo. Não, vou nomear outra pessoa para seguir meus passos. Eu
quero me aposentar perto de meu filho, porém, e ter a chance de
restaurar nosso relacionamento.
— Por que você não foi até ele antes disso?
265
Livro Único
— Eu gostaria de dizer que foi porque nós dois somos

teimosos, mas a verdade é que, mesmo com todos os meus recursos,
não consegui encontrá-lo. Ele parecia tão orgulhoso de Sam quanto
frustrado. — Eu não sabia se meu único filho estava vivo.
Stella podia entender por que ele abordaria Sam no meio da

noite quando ele descobrisse onde estava. Marco provavelmente
estava com medo de que seu filho decolasse ao primeiro sinal de
que fora encontrado.
— Eu sei que sou um estranho para você, Sr. Rossi, mas tenho
que lhe perguntar o quão doente você está? Porque ela pode
advogar por ele, se necessário. Foram anos de separação. Se Marco
estivesse morrendo, Sam poderia nunca se perdoar se pelo menos
não se sentasse com seu pai e falasse com ele.
— Eu não estou morrendo ainda. Tive um ataque cardíaco e os

médicos disseram-me que os meus hábitos alimentares e a falta de
ar fresco e de exercício físico contribuíram para o meu coração
doentio. Decidi que, se encontrasse meu filho, me aposentaria e
tentaria convencê-lo a pelo menos morar perto de mim. Saber que
ele tem uma lady torna tudo mais fácil. É lindo o país aqui em cima,
embora eu nunca tenha vivido no campo, nem nunca tenha visto o
apelo.
Ela se pegou sorrindo, apesar das circunstâncias. Ele era a

cidade por completo. Ela não conseguia imaginá-lo pensando em se
estabelecer nas Sierras. — Não é como se houvesse toneladas de
empresa aqui, Sr. Rossi. Se você decidiu fazer desta sua casa, ou pelo
menos na cidade, não é como uma cidade. Ela tentou fazer disso um
aviso.
Marco acenou com a cabeça. — Estou bem ciente. Ele hesitou.

— Eu conheci alguém há dois anos. Não moramos juntos, mas acho
que se eu me aposentasse e me mudasse da cidade, ela poderia
pensar em se mudar comigo.
266
Livro Único
Significando fora de perigo, interpretou Stella. Quem quer que

fosse a mulher, ela não fazia parte do que ele tinha feito durante
toda a sua vida. Stella honestamente não sabia muito sobre o que ele
fazia, mas ela conhecia Sam. Ele não ficaria muito feliz com seu pai
vindo aqui e falando com ela sem ele estar presente.
— Você sabe que Sam vai querer falar com você sobre tudo
isso sozinho.
Marco suspirou. — Sim, mas ele não será muito receptivo. Eu

esperava que você me defendesse se meu filho se recusasse a
cooperar, Stella. Acho que ele vai ouvir você.
Ela podia ver seu charme, seu apelo às mulheres, um homem

poderoso e bonito, pedindo ajuda. Ele sabia o que estava fazendo,
como parecia e como soava. Ela tinha a sensação de que ele havia
praticado aquele encanto muitas e muitas vezes ao longo dos anos.
— Quando ele vier me ver, insista em ir com ele. Ele será

muito mais cauteloso na maneira como me trata, no que diz.
Teremos uma chance melhor de fazer as pazes um com o outro com
você presente. Ele parecia perfeitamente sincero e atraente.
Stella balançou a cabeça com um leve sorriso. — É o seguinte,

Sr. Rossi. Eu nunca, sob nenhuma circunstância, iria pelas costas de
Sam. Eu não o enganaria ou tentaria persuadi-lo de uma forma ou
de outra. Sam é um homem adulto. Ele é inteligente e eu não
acredito que ele seja cabeça quente ou faça qualquer coisa sem
pensar bem. Se ele era teimoso quando era mais jovem, ele não é
mais assim. Ele é atencioso e calmo. Eu acredito que ele vai ouvir
você e tudo o que está entre vocês e vai honestamente tentar
resolver isso. Você não vai precisar de mim lá para isso. Se Sam me
quiser lá, é claro, irei com ele.
Marco Rossi não era um homem a quem se recusasse com

frequência. Isso estava claro em seu rosto, mas ele conseguiu
disfarçar seu aborrecimento com um pequeno sorriso falso. —
267
Livro Único
Espero que você não seja uma daquelas mulheres que acredita que
seu homem lhe conta tudo.
— Eu não tenho certeza do que isso significa. Não peço a Sam

para me contar tudo. Esse não é o nosso relacionamento. Ela indicou
a porta com um pequeno estremecimento. — Está muito frio aqui.
Talvez devêssemos voltar para dentro. Ela não esperou que ele fosse
na frente dela. Em vez disso, ela liderou o caminho, abrindo a porta
e enviando Bailey primeiro e depois recuando para que Marco
pudesse entrar.
Raine parecia à mesma de sempre, doce e inocente, como se

ela fosse aquela pequena duende, sentada com os pés enrolados sob
ela e a queda do cabelo ruivo dourado puxado para trás, fazendo-a
parecer mais jovem do que nunca. Stella nunca teve certeza se Raine
cultivou propositalmente aquele visual ou se ela simplesmente
nasceu assim, mas funcionou. A maioria das pessoas aceitou. Eles
nunca viram Raine como uma ameaça. O olhar de Stella saltou para
Lúcio. Ela não tinha tanta certeza de que ele estava acreditando
nisso, mas talvez fosse simplesmente a tensão na sala.
— Você está bem? Raine perguntou.
— Sim, você ouviu mais alguma notícia?
— Não, eu não esperava querida. Eles vão tentar recuperar os

corpos. Vai levar algum tempo.
Stella suspirou. — Sinto muito, Sr. Rossi. Sam provavelmente

estará em Whitney pelo resto do dia. Não sei quando você pretende
voltar para Nova York, mas ele estará exausto quando voltar. Eles
terão que descer a encosta da montanha para recuperar os corpos.
Até mesmo dizer isso a deixava doente. Ela ainda não

entendia como isso poderia ter acontecido. Como o casal poderia ter
passado despercebido em Trail Crest?
268
Livro Único
— Podemos ficar mais algumas noites. Vou deixar as

informações de onde estamos hospedados com você, disse Marco.
O celular de Raine disparou e ela atendeu, pulando do sofá e

andando em direção à cozinha. Ela podia ser ouvida mesmo com
seu quase sussurro suave.
— Estou no meio de algo. Eu acabei de sair de lá. Trabalhei a

noite toda, General. Não dormi e o que estou fazendo é
extremamente importante. Um pequeno silêncio. — Dê o trabalho
para Jack. Ele é bom. Ele consegue.
Raine ouviu por um momento, encostado no balcão da

cozinha. Stella podia vê-la pela porta aberta. Ela parecia
exasperada. — Esta não é uma linha segura. Você me ligou no meu
celular. Sim, porque não estou em casa. Não, eu te disse... Ela
suspirou pesadamente. — É sempre uma questão de segurança
nacional. Melhor. Eu levaria uma hora para dirigir para casa. Mande
o helicóptero me buscar em uma hora para que eu tenha tempo de
terminar aqui. Diga a Dante que ele terá que me levar para casa.
Vou juntar algumas coisas e ele pode me levar daí para você. Isso é
o melhor que você vai conseguir. Eu tenho uma vida, caso você
esteja se perguntando, e nem sempre gira em torno de você. Ela fez
uma careta. — Muito engraçado. Ela enfiou o celular no bolso de
trás e juntou-se a eles novamente.
— Desculpe Stella. Tenho cerca de uma hora e depois ligações

de trabalho novamente.
— Você não dorme há dias protestou Stella. — Eles precisam

te dar um tempo.
Raine encolheu os ombros. — Muitos pontos quentes agora.
Marco franziu a testa para ela. — Alguém mandou um

helicóptero para você? Você está falando assim com um general?
269
Livro Único
Como nas forças armadas? Linhas seguras? Segurança nacional? O

que diabos você faz?
Raine riu suavemente e acenou com a mão no ar, parecendo

inocente e jovem como só ela poderia. — Parece muito dramático,
agora que você juntou tudo isso. Eu sou um trabalhador contratado
do governo, então sim, às vezes quando eles precisam que eu
trabalhe em algo que eles precisam fazer rápido, eles mandam um
helicóptero porque eu moro muito longe de tudo. O resto, porém, é
apenas besteira.
Ela fez uma careta. — Não tenho certeza da melhor forma de

descrever Peter. Ele gosta de ser chamado de general. Eu não seria
capaz de falar com um general de verdade dessa maneira, certo?
Não sem se meter em problemas. Peter é muito, muito dramático.
Ele joga muitos videogames, então dá ordens em termos de
videogames ridículos. O pagamento é ótimo e, no final, estamos
ambos felizes.
Stella não achou que nenhum dos dois parecesse totalmente

convencido, mas Raine revirou os olhos como se Peter fosse o
homem mais idiota do planeta.
— O que os trabalhadores contratados fazem? Marco persistiu.
Raine encolheu os ombros. — Não sei o que os outros fazem,

mas, no meu caso, sou muito boa em um determinado código de
computador. Quando os programas caem e eles querem que eles
funcionem rapidamente, é sempre uma emergência, embora
realmente não seja. Eu entro e soluciono o problema. Na maioria das
vezes, posso fazer isso remotamente, mas ultimamente tenho que ir
ao escritório principal e consertar o programa lá.
— Algum tipo de vírus? Marco perguntou, parecendo

conhecedor. — Você pensaria que os computadores do governo
teriam as melhores proteções contra algo intrusivo como esse.
270
Livro Único
Stella prendeu a respiração, esperando que Raine não o

comesse e o cuspisse. Ela não disse. Ela sorriu serenamente,
arregalando os olhos como se Marco estivesse lhe dando o melhor
conselho possível. — Por que não pensei nisso? Vou ter que falar
com Peter sobre isso.
Marco ficou em silêncio por um momento e então começou a

rir. — Você é uma verdadeira O'Mallory. Claro, você pensou nisso.
Portanto, não é um vírus.
Raine sorriu para ele. — Não, não é um vírus. Às vezes, em

um programa, alguém adiciona um aprimoramento e não pensa em
todas as combinações que podem causar o travamento do programa.
Às vezes, pode ocorrer uma falha devido à perda de conexão
durante a transmissão de dados e os dados ficam ilegíveis. Ela
encolheu os ombros. — Não é exatamente a coisa mais emocionante
do mundo, mas é um bom trabalho e um bom trabalho estável.
Marco acenou com a cabeça. — Eu não sei muito sobre como

os programas de computador funcionam, apenas que eles fazem e
nós contamos com eles agora.
Raine teve que concordar. — Provavelmente demais. Ela

tomou um gole de café. — Lúcio, você não disse o que anda fazendo
ultimamente. A julgar pelo terno, parece que suas habilidades
impressionantes valeram a pena.
Marco ergueu uma sobrancelha. — A qual das suas muitas

habilidades impressionantes ela está se referindo, Lucio?
— Eu não faço ideia. Lúcio parecia entediado.
Stella estudou sua máscara inexpressiva. Seus olhos não

estavam sem vida. Havia algo quente e letal latente sob todo aquele
azul escuro, uma promessa de retaliação que fez Stella se preocupar
com Raine. Claramente, os dois eram inimigos - inimigos ferrenhos.
271
Livro Único
Marco parecia alheio ao fato e Lúcio não parecia disposto a

esclarecê-lo.
— Quando eu estava em Nova York, ele era um grande

homem das mulheres, Marco, disse Raine. — Ele poderia mentir
com o melhor deles. Tinha mulheres comendo em sua mão. Foi uma
maneira fácil de subir a escada, acho que você disse Lúcio. Já faz
muito tempo, então não tenho certeza, mas achei que era esse o seu
sentimento. Mulheres são tão fáceis.
Stella ergueu a sobrancelha. — Suponho que quando somos

jovens somos bastante crédulos. Acreditamos em toda essa porcaria
de conto de fadas.
— Vem de ser protegido por nossos pais, Marco, Raine

apontou, ignorando o fato de Lucio não ter respondido. — É melhor
saber que os homens mentem do que aprender a lição da maneira
mais difícil, você não acha?
— Garota, você está se deixando ser muito cínica, Marco

objetou.
— Acho que não. Eu acredito em ser realista, não é, Stella?

Prefiro ver a verdade a ser enganada por mentiras. Sério, Marco, se
você tivesse uma filha, não gostaria que ela soubesse a verdade
sobre o que ela estava se metendo quando estava se casando com
um homem que a trairia? Ou se ela namorou alguém que ela
acreditava que a amava quando ele realmente queria te
impressionar? Você gostaria que ela ficasse tão desiludida que seu
mundo iria desabar em algum momento? Melhor entrar com os
olhos bem abertos, certo?
Marco franziu a testa. — Vocês, moças, são tão independentes.

O que você acha Lucio? Você acredita que as mulheres devem ser
protegidas? Você protegeria sua filha?
272
Livro Único
Os dentes brancos de Lúcio brilharam em um breve sorriso

que não iluminou aqueles olhos azuis escuros. — Não tenho filhos,
Marco, nem tenho mulher. Como eu poderia pesar nesta decisão
com alguma sabedoria real?
— Suponho que seja a resposta do sábio quando está com duas

belas mulheres. Nós devemos ir. Obrigado por nos ver tão cedo de
manhã, Stella. Marco se levantou e Lúcio também. — Foi
maravilhoso conhecer vocês duas.
— Gostei de conhecê-lo também, disse Stella, acompanhando

os dois homens até a porta. O alívio a invadiu quando eles saíram
da varanda e começaram a caminhar em direção ao carro. Ela não
tinha percebido o quão tensa ela estava com os dois homens em sua
casa.
Uma vez que eles estavam fora de sua vista, ela fechou a porta
da frente, encostou-se nela e enfrentou Raine. — Obrigado por ficar.
Eu teria passado momentos muito difíceis sem você aqui. Eu sei que
isso o colocou em uma posição estranha. Obviamente, você e Lucio
têm algum tipo de história.
— Eu o conheci em Nova York quando era criança. Eu era

irlandês. Ele era italiano. Éramos ambos católicos. Basta dizer que os
dois não se misturavam. Raine recolheu as canecas de café e as
levou para a cozinha. — Ele estava muito ciente de quão bonito ele é
e ele é tão arrogante agora. Ele realmente teve a coragem de tentar
me dizer o que posso e não posso fazer no minuto em que vocês
dois saíram pela porta. Como se ainda fôssemos crianças e ele
pensasse que eu iria entrar na linha e fazer tudo o que ele dissesse.
— Você já teve uma 'coisa'? Stella perguntou, seguindo

Raine até a cozinha e encostando-se no balcão.
273
Livro Único
— Não se tem 'coisa' com o Lúcio. Ele não é esse tipo de

homem. Ele deixa isso muito claro para qualquer mulher de quem
ele se aproxime.
— Você tem muita animosidade por ele, Raine, e isso é

incomum para você. Você pode ficar cheia de desprezo quando os
homens ficam arrogantes e tentam agir como se soubessem do que
estão falando, mas nunca é totalmente hostil em relação a eles como
fazia com ele. Não que eu ache que o Sr. Rossi estava ciente disso.
— Ele estava ciente. Não ganha muito por ele. Não se deixe
enganar, Stella, ele não é um homem bom. Ele pode ter vindo aqui
para ver seu filho, mas ele é o chefe de uma família do crime há
anos. Ele cometeu todos os tipos de crimes, desde coisas muito
pequenas até assassinato. Não sei se homens como ele matam de
verdade, mas eles certamente ordenam. Hoje em dia, eles tentam
passar despercebidos pelas autoridades policiais, então não fazem o
tipo de coisa que faziam no passado, mas isso não significa que não
estejam cometendo crimes.
— Sinto muito pelo seu pai, Raine. Eu não fazia ideia. E sua
família. Você fala deles com tanto amor. Deve ser muito difícil não
vê-los, especialmente sua mãe.
— Eu cheguei a um acordo com isso na maior parte. Há

momentos em que dói como o inferno e eu choro até dormir. É sua
escolha. Ela fez essa escolha de nunca me ver, sabendo que eu não
sabia as circunstâncias dos negócios do meu pai. Raine ergueu o
queixo e encolheu os ombros. — Por mais que eu queira desfazer as
coisas que levaram à morte do meu pai, não posso desfazê-las. Eles
aconteceram. Eu conheci alguém, me apaixonei por ele e disse a ele
que poderia vê-lo esta noite porque meu pai tinha saído para
verificar as coisas no armazém. Eu não tinha ideia de que era uma
informação que ele estava esperando ouvir. Fui ver meu suposto
noivo e ele estava batendo em meu pai no armazém e matando seus
274
Livro Único
homens. Eles levaram sua remessa. Partimos para a Califórnia.

Alguém o acertou de qualquer maneira.
— Você acredita que foi o Sr. Rossi?
— Neste ponto, eu não tenho ideia de quem fez isso. Pelo que
sei, era um dos parceiros de negócios de meu pai. Eles perderam
homens, filhos. Irmãos. Primos. E muito dinheiro. Eles deveriam ter
atirado em mim. Faria mais sentido. Raine suspirou. — É por isso
que vivo nas Sierras, Stella. Eu encontro minha paz aqui. Formamos
nossa própria família. Podemos ser estranhos e um pouco
disfuncionais com todos os nossos segredos, mas trabalhamos e
somos leais uns aos outros.
Elas podiam ouvir o som do helicóptero à distância. Ele se

estabeleceria na campina longe o suficiente da casa. Raine olhou
para o relógio. — É melhor eu libertar o cão. Daisy vai ter que cuidar
de seus negócios e correr como uma maníaca antes de pegarmos
aquele pássaro.
— Esteja segura, Raine.
— Você também. Espero que Sam não fique muito chateado

com o fato de seu pai estar aqui sem ele.
Stella esperava exatamente isso também.
Capítulo 13
— Estavam todos da Busca e Resgate nas proximidades?

Stella sussurrou para Sam. — Isso parece um pouco incomum. Ela
tentou não olhar desconfiada para Sean, Bale, Edward e Jason.
275
Livro Único
Sean tinha todos os motivos para estar no parque. Afinal, seu

trabalho o levou até lá. Ela supôs que Bale, Edward e Jason
poderiam ir vê-lo enquanto ele trabalhava. Não havia nada que
dissesse que eles não podiam. Yosemite era lindo e os vários
acampamentos seriam fechados em breve. Ela apenas os imaginou
olhando maliciosamente para todas as campistas.
Denver frequentemente guiava os caminhantes pelo parque

para algumas das trilhas menos conhecidas e, aparentemente, ele
havia levado um pequeno grupo para o parque, então ele estava
perto quando o chamado foi feito para busca e resgate também.
O segurança noturno de Stella, Sonny Leven, havia levado seu

irmão ao parque para uma caminhada. Eles tinham uma licença
para caminhar pela parte de trás de Whitney. Quais eram as
chances?
— Nem todos, mas foi bom eles estarem perto para ajudar,
disse Sam. — A recuperação não foi fácil. Ele parecia cansado e
Stella se apoiou nele. Ela sabia que ele estava tão chateado com o
fato de que eles não tiveram sucesso em salvar os dois caminhantes -
talvez até mais.
— Vienna examinou os dois corpos enquanto esperávamos o

xerife chegar lá. Vários ossos quebrados, é claro, você esperaria isso.
O estranho é que, como você disse que sobre o assassino agarrando
seus dedos, ela realmente prestou atenção e os dois corpos tiveram
duas rupturas exatamente no mesmo lugar no dedo anular da mão
esquerda.
Stella franziu a testa e colocou a cabeça em seu ombro. Sam

passou o braço em volta dela. Imediatamente houve um pequeno
silêncio. Vários outros no bar pararam de conversar e estavam
olhando para os dois com espanto. Ela percebeu que era a primeira
vez que Sam realmente mostrava qualquer tipo de demonstração
pública de afeto por ela. Ela não se moveu e simplesmente esperou
276
Livro Único
que a equipe de Busca e Resgate começasse a dissecação normal de

sua operação da maneira que fizeram.
— James Marley também não teve duas rupturas no dedo por

causa da linha de pesca ou algo parecido? Ela perguntou.
— Eu não acho que foi da linha de pesca, Stella. Acho que o

assassino tem uma assinatura, mas não podemos correr o risco de
sermos ouvidos aqui.
Ela virou o rosto para o pescoço dele, mantendo a voz muito

baixa. — Você está certo, mas eu só preciso saber como eles foram
perdidos em Trail Crest. Não faz sentido, Sam. Você e Vienna
estavam lá.
Ele esfregou o nariz em sua têmpora e depois em sua orelha.

— Eles tinham autorização para três pessoas. Seu irmão deveria
estar com eles e não pôde vir no último minuto. Estávamos apenas
procurando no banco de dados casais com autorização.
Ela fechou os olhos. Um erro tão simples. A autorização era

para três pessoas, não duas, e Vienna e Sam estavam concentrados
em procurar autorizações apenas para casais.
— Precisamos conversar sobre o aparecimento do meu pai e

você o deixou entrar.
— Acho que entendi que não era uma ideia tão boa, Sam. Ela
se endireitou e tomou um gole de seu mojito. De repente, o gosto
não estava tão bom e ela o afastou.
O Grill estava cheio de membros do Busca e Resgate, sentados

no bar ou na grande mesa redonda, comendo nas travessas dos
vários aperitivos que Alek Donovan, o proprietário, havia criado em
sua cozinha para servir antes de suas comidas simplistas de bar. O
refeitório estava quase cheio, mas Vienna ligou com antecedência e
Alek guardou a vaga, embora ele não aceitasse reservas no bar.
277
Livro Único
— Eu não sou boa em rejeitar ninguém, ela admitiu. — E o Sr.

Rossi ser um parente seu tornou tudo ainda mais difícil. Ele foi
muito educado. Raine estava comigo e eu mantive Bailey na sala o
tempo todo. Não mandei uma mensagem dizendo que ele estava lá
porque eu sabia que o que você estava fazendo era perigoso, ou
teria. Eu não estava tentando esconder nada de você.
— Estou ciente disso, Stella. Ele esperou seus olhos nela,

confiando nela para deixá-lo saber o que seu pai havia dito a ela.
— Ele me disse que está se aposentando e que gostaria de

morar perto de você. Ele disse que queria que eu fosse com você
quando fosse falar com ele, a fim de mantê-lo calmo.
A expressão de Sam não mudou. Ele manteve o olhar fixo em

seu rosto. — O que você acha?
— Eu não acho, eu sei que você não precisa de mim para

mantê-lo calmo, Sam, e eu disse isso a ele. Eu não vou pelas suas
costas. Ele pode realmente estar doente. Ele disse que teve um
ataque cardíaco. Eu não o conheço bem o suficiente para saber o que
é verdade e o que não é você terá que determinar isso por si mesmo.
— Ele assustou você?
— De jeito nenhum. Ele foi muito educado. Muito encantador.

Ele tinha outro homem com ele. Lucio Vitale. Você conhece ele?
— Eu o conheci quando éramos duas crianças. Ele era de uma

família muito pobre. Teve que trabalhar seu caminho para cima. Seu
pai e dois irmãos foram assassinados. Ele foi responsável por sua
mãe e uma irmã, eu acho, desde muito jovem. Ele lutou para subir a
escada, e quero dizer isso literalmente. Não foi fácil para ele. Não
fiquei tão surpresa ao ver que ele tinha feito todo o caminho. Meu
278
Livro Único
palpite, ele é um subchefe ou capo27, não o guarda-costas de Marco,

embora eles o apresentem dessa forma.
— Você tomou sua arma.
— Marco prejudicou-o, dizendo-lhe que não queria que eu

fosse baleado ou morto. Aí está isso. Há também o fato de que
passei a maior parte dos anos lutando por minha vida. Lúcio não.
Ele pode treinar, mas quando sua vida está em jogo todos os dias,
você mantém suas habilidades aprimoradas. Não o subestime nem
por um momento.
— Eu não estava subestimando ninguém. Eles ajudaram há

passar o tempo. E Raine estava comigo. Ela tinha conhecido Lucio
em Nova York, aparentemente. Seu pai fazia parte da máfia
irlandesa. Ele supostamente se aposentou e se mudou para a
Califórnia, mas alguém o atingiu de qualquer maneira e ele foi
morto. Sua família a culpa e ela está morta para eles. Literalmente.
Seu pai conhecia o pai dela.
Sam balançou a cabeça. — Isso está ficando complicado, Stella.

Vou falar com ele, mas prefiro que você mantenha distância até que
eu descubra o que ele realmente está fazendo aqui.
— Eu não tenho problema com isso. Ter um serial killer por

perto era o suficiente para ela lutar.
Zahra se enfiou entre o balcão e a banqueta de Stella. — Sobre

o que vocês dois estão cochichando? Sam está parecendo muito sério
e autoritário.
Stella estudou sua expressão cuidadosamente. — Você pode

estar certa, Zahra.
A sobrancelha de Sam se ergueu. — Eu pareço autoritário? O

que você quer dizer com isso, Zahra?
27
Capo - líderes das famílias, ligados ao um chefe da máfia.
279
Livro Único
— Quero dizer exatamente o que parece, Sam, que você parece

ter uma tendência a dizer às pessoas o que fazer de uma forma
tirânica. Zahra deu a ele seu sorriso travesso. — Felizmente, você
nunca fala então você não pode realmente mandar em Stella. Você
apenas parece que está.
— Isso é uma sorte, Sam murmurou.
Harlow se pendurou no ombro de Stella. — Vocês três estão

parecendo confortáveis aqui. Stella, você não está bebendo seu
mojito.
— É todo seu. Stella indicou a bebida. — Acho que meu

amado café serve hoje. É sempre estranho beber álcool no almoço.
Harlow pegou a bebida e deu um gole saudável. Zahra a

observou, com uma pequena carranca no rosto. De repente, ela
estendeu a mão e pegou o copo de Harlow.
— Babe o que há de errado? Você também não bebe à tarde.

Assim não. Você quer ir para uma mesa?
Harlow parecia chocada. — Só estou chateada por você.

Preocupada. Não sei o que pensar. Você tem acompanhado as
notícias? A guerra recomeçou entre o Azerbaijão e a Armênia por
aquela faixa de terra.
— O presidente assinou um acordo para parar os combates,

disse Zahra.
Harlow acenou com a cabeça. — Isso é exatamente correto. Ele

fez. E pedi a algumas de minhas fontes que cavassem um pouco
mais fundo apenas para ter certeza de que tudo estava calmo. Já se
passaram anos, mas tirar você do país foi difícil, Zahra. Aquele
homem estava tão determinado que nunca iria deixá-la ir e ele está
tão destacado nas forças armadas agora. Ele tem seus próprios
recursos. Se esse conflito estiver acabando e ele pedir aos
280
Livro Único
comandantes ou ao presidente ou a quem quer que o ajude, eles o

fariam, não é?
Stella ficou muito quieta, observando a cor sumir do rosto de

Zahra. Ela sentiu os dedos de Sam apertarem sua nuca. De repente,
parecia que seu mundo inteiro estava desmoronando. No espaço de
algumas semanas, o serial killer havia virado não apenas o mundo
dela, mas também o mundo de suas amigas - ou pelo menos era o
que parecia.
— Quem é este homem, Zahra? Sam perguntou.
Zahra balançou a cabeça. — Não é inteiramente culpa dele. Ela

ergueu os longos cílios e olhou para Harlow. — Não é. Em nossa
aldeia, que é muito pequena Ruslan era filho do mais velho da
aldeia. Sua mãe era de uma família na Turquia. Ele foi educado na
Rússia. Sua vida não foi fácil. Ele tinha um nome que, embora
considerado perfeitamente parte da cultura azerbaijana, era mais
cultura russa. E porque ele foi educado na Rússia, alguns dos mais
velhos olharam para ele como se ele pudesse não ser completamente
leal a nós. Para piorar as coisas, ele era difícil de ler. Ele esteve em
uma escola difícil e aprendeu a não demonstrar emoção.
— Zahra, você não precisa defendê-lo, disse Harlow.
— Não estou só quero que todos entendam, a vida é muito

diferente onde eu cresci. Mulheres não têm passaportes. Não
entramos e saímos quando queremos. Usamos as roupas que nossos
pais e depois nosso marido consideram respeitáveis. Os casamentos
são arranjados. É muito raro um casal se apaixonar primeiro, pelo
menos na aldeia onde cresci.
— É mais fácil para os homens? Eles têm uma palavra a dizer

sobre com quem querem se casar ou os anciãos organizam o
casamento? Sam perguntou.
281
Livro Único
— Às vezes, eles têm permissão para opinar, disse Zahra. —

Nem sempre. Nesse caso, acredito que Ruslan foi até seu pai e
perguntou por mim. Seu pai como chefe da aldeia, poderia exigir
qualquer mulher solteira para seu filho. Seria idiotice recusá-lo.
— Mas você não sabe ao certo se este Ruslan foi até seu pai ou
se seu pai insistiu Sam persistiu.
Zahra balançou a cabeça. — Eu não tenho nenhuma maneira

real de saber. Acordei uma manhã durante um intervalo das minhas
aulas na faculdade com meu pai de repente me dizendo que eu não
estava mais indo para a escola e que eu deveria estar coberto da
cabeça aos pés sempre que saísse de casa. Quando protestei, ele se
tornou bastante violento. Foi chocante e inesperado, para dizer o
mínimo.
Por um momento, ela pareceu que ia chorar, mas empurrou o

cabelo para trás e ergueu o queixo. — Foi quando ele me disse que
eu deveria me casar com Ruslan Islamov e ele queria que eu
estivesse protegida o tempo todo, para aprender meu lugar como
sua esposa. Meu pai disse que Ruslan disse a ele que era seu dever
me ensinar meu lugar, que eu estava andando por aí com roupas
inadequadas, falando o que pensava e agindo como uma prostituta.
Ruslan disse a meu pai que eu estava envergonhando minha família.
Ela olhou para suas mãos.
Harlow colocou o braço em volta do ombro de Zahra. — Você

não estava envergonhando ninguém, muito menos sua família. Você
não fez nada de errado. Você nem estava namorando ninguém.
— Então o que aconteceu? Por que esse homem ainda seria um

problema para você, Zahra? Sam persistiu.
Stella achou interessante que a voz baixa de Sam tivesse tanta

persuasão. Ele falou daquele jeito calmo dele, mas definitivamente
tinha o que Zahra havia descrito de brincadeira como um tom
282
Livro Único
autoritário. Sua voz era tão baixa e gentil, mas tão perfeitamente no
comando, que foi difícil resistir a responder.
— Foi como estar na prisão depois de tanta liberdade. Tentei

fazer o que meu pai pediu, mas foi muito difícil. Sempre pensei por
mim mesma e não lido bem com a censura. Eu sabia que se não
aceitasse o casamento seria difícil para minha família, então estava
determinada a ir em frente, mas senti que precisava pelo menos
conversar com Ruslan. Eu não o conhecia e pensei que se apenas me
sentasse com ele e perguntasse o que ele esperava do nosso
casamento, eu poderia ser capaz de chegar a um acordo com ele.
Ela olhou para Harlow quase desamparada.
— Foi uma sorte eu ter vindo visitá-la. Eu já tinha agendado a

visita e era considerada uma honra ter a filha de um senador em sua
casa, então o pai dela não iria dizer de repente que eu não poderia
ir.
Zahra acenou com a cabeça. — Eu fui para a casa de Ruslan

tarde da noite coberta completamente da cabeça aos pés, apenas
meus olhos aparecendo. Ele abriu a porta e acreditou que eu era
outra pessoa, alguém que ele esperava que o tivesse traído. Antes
que eu pudesse falar... Ela engoliu em seco, balançou a cabeça e
tentou novamente. — As coisas não correram bem e quase fui
morta. Acabei de sair de sua casa e corri, mandando uma mensagem
para Harlow. Ela me disse onde encontrá-la e ela teria um carro
esperando. Ela tinha uso de um carro e motorista. Foi a primeira vez
que fiquei grata por estar completamente coberta da cabeça aos pés
e ninguém saber quem eu era. Harlow, com a ajuda de sua família,
conseguiu me tirar do país e me levar para os Estados Unidos. Tive
muita sorte e estarei em dívida para sempre.
Isso não estava contando a Sam ou Stella o que Ruslan fizera

com ela, mas havia um medo absoluto no rosto de Zahra e sua voz
tremeu quando contou o que aconteceu. Para a surpresa de Stella,
283
Livro Único
Harlow se aproximou ainda mais e apertou ainda mais seu braço em

volta de Zahra de maneira protetora. Como parecia haver algum
tipo de rixa entre as duas, Stella ficou feliz ao ver Zahra responder,
aconchegando-se perto, embora isso significasse que sua amiga
estava muito chateada apenas com a lembrança.
— Quero ter certeza de que entendi perfeitamente, Zahra, Sam

persistiu. — Ruslan Islamov tem laços com a Rússia e a Turquia,
bem como com sua aldeia natal e o Azerbaijão. Isso importante.
Mais uma vez, Stella percebeu que seu tom era baixo, mas
bastante convincente e firme. Zahra reagiu ao domínio gentil em sua
voz, seus dentinhos mordendo o lábio inferior enquanto ela
assentia.
— Sim, e ele subiu ao poder rapidamente nas forças armadas.

Ele teve um treinamento especializado porque foi para a escola
militar quase desde criança.
— Ele já treinou na Turquia? Ele é mais velho que você?
— Sim, ele é cerca de dez anos mais velho. Ela sussurrou a

afirmação. — Eu sempre percebia quando ele voltava para casa com
o pai. Foi difícil não notá-lo. Os homens eram cuidadosos perto dele.
Era a maneira como ele se portava. Algumas das mulheres eram
paqueradoras e queriam estar com ele. Elas pediram aos pais que
fossem até o pai dele, mas ele sempre recusou. Corri para ele na rua,
literalmente. Eu estava correndo, desviei o olhar da trilha e colidi
direto com ele. Ele me pegou antes que eu caísse. A maneira como
ele me olhou, como se eu fosse inferior a ele, vestida do jeito que
estava, foi humilhante. Ele não disse nada, mas depois disso,
quando ele voltou, ele iria... Me observar às vezes e isso me deixou
inquieta. Zahra sempre falava rápido e demais quando estava
nervosa.
Sam acariciou a nuca de Stella com uma das mãos. — Zahra,

você se lembra se alguém já mencionou que Ruslan foi à Turquia
284
Livro Único
para treinar com os militares de lá? Ele repetiu a pergunta com a

mesma voz gentil e calma.
As sobrancelhas escuras de Zahra se juntaram. — Ele foi à

Turquia várias vezes. A família de sua mãe estava lá. Ele ficava por
longos períodos de tempo, mas eu não prestei atenção.
— Raine deve ser capaz de rastreá-lo para você, Stella não

pôde evitar interromper.
Harlow acenou com a cabeça imediatamente. — Isso mesmo.

Raine pode encontrar qualquer um.
O queixo de Zahra se ergueu. — Não sei por que deixei apenas

a menção do nome dele me abalar. É meio bobo pensar que depois
de todo esse tempo ele estaria procurando por mim. Ele
provavelmente encontrou outra esposa e tem três ou quatro filhos
agora.
— Raine poderia descobrir isso para você também, Harlow

disse.
— O que está acontecendo neste cantinho? Bruce exigiu

enquanto se arrastava, aglomerando Harlow para ficar mais perto
de Zahra. — Está tudo bem, Zahra?
Denver veio ao lado dele, sorrindo, balançando a cabeça,

dando a Stella e Sam um olhar que dizia que não havia como
impedir Bruce de verificar sua garota favorita.
— Perfeito, disse Zahra, abrindo um sorriso. — Como você

esta? O trabalho ainda está indo bem?
Bruce acenou com a cabeça. — A produção está em alta.

Continuamos recebendo novos pedidos, o que é bom, mas também
significa que preciso de alguém com quem posso contar para me
ajudar. Denver só se interessa por seres humanos, vivos ou mortos.
Eu até ofereci a ele uma parceria.
285
Livro Único
Stella ergueu a sobrancelha e cutucou Denver com o pé. —

Morto ou vivo? Certamente Bruce não está se referindo ao seu
trabalho de resgate. Isso seria tão inapropriado agora.
— Eu não sou tão insensível, Bruce objetou, dirigindo uma

carranca sombria para Denver, como se a mudança na conversa
fosse tudo culpa dele.
Denver encolheu os ombros, um giro de ombros, mas parecia

um pouco perdido. — Estou passando por minha crise de meia-
idade. Gosto do que faço no hospital, mas às vezes, todos esses
resgates, parece que não dá, sabe? Tentei andar com Griffen para ver
se gostaria de mudar de carreira para a polícia. Saí com Sean por um
tempo para ver como me sentiria trabalhando para a Peixes e Vida
Selvagem. Conversei com Vienna sobre isso e ela sugeriu que eu
pedisse a Martha para trabalhar com ela de vez em quando, fazendo
autópsias. Eu ainda não sei. Talvez eu devesse voltar para a escola e
me tornar um cirurgião.
— Você está ferrado, disse Bruce. — Largue todas as coisas

assustadoras e seja meu parceiro na cervejaria. Se você desistir da
Busca e Resgate, vai parar de pensar em todas aquelas pessoas que
se colocam em perigo. Você sabe que a maioria deles traz essa
merda para si mesmos de qualquer maneira. Então você tem que ir
lá e colocar sua vida em risco e tentar salvá-los ou recuperar seus
corpos para suas famílias.
Bale, Edward e Sean se juntaram ao círculo, Bale pulando na

conversa. — Essa é uma discussão contínua que sempre temos.
Onde você traça o limite, sabendo que está arriscando a vida de
muitas pessoas para salvar alguém que deveria ter conhecido
melhor?
Vienna abriu caminho entre os homens para se aproximar de

Stella. — Isso é algo que todo resgatador deve perguntar antes de
arriscar sua vida para ajudar outra pessoa. Todos vocês sabem disso.
286
Livro Único
— Viena, Bruce persistiu. — Olhe para a quantidade de

pessoas que estão vindo das cidades para escalar Whitney sem
absolutamente e nenhuma experiência. Eles não têm nada que fazer.
Nenhum. Eles leram sobre como é legal escalar a montanha, olham
algumas fotos e acham que podem fazer isso. Eles não trazem o
equipamento necessário ou até mesmo se vestem com as roupas
certas.
— Ele está certo, disse Bale. — Infelizmente, essa é a verdade.

Cada vez que viramos, há algum idiota pendurado na encosta da
montanha e um de nós, geralmente Sam ou Denver, tem que descer
até eles, arriscando suas vidas, para chegar até eles. Eles estão
mesmo gratos? Não. Eles querem saber se têm fotos.
— Quantos desses idiotas vaidosos caem porque estão tirando

selfies? Perguntou Sean. — Vienna, você teve que impedir aquelas
duas garotas de soltarem o cabo do Half Dome no ano passado para
que pudessem tirar selfies. Foi pura sorte você estar escalando
naquela manhã.
Vienna não podia negar que ela teve que impedir as duas
garotas de soltarem o cabo enquanto estavam escalando. Eles
pegaram seus telefones para tirar fotos uma da outra. Elas até
discutiram com ela até que ela ficou dura com elas e quase ordenou
que continuassem escalando. Uma garota vacilou por um momento
enquanto tentava substituir o telefone, e isso acalmou as duas
instantaneamente.
— Está se tornando um pesadelo, disse ela. — Mas não

podemos abandonar as pessoas, Bruce.
— Não quero perder nenhum dos meus amigos, disse Bruce.
— Eu nunca vi esse lado seu. Os grandes olhos castanhos de

Zahra olharam para Bruce.
287
Livro Único
— Vou entrar na Busca e Resgate agora mesmo, se você quiser

Zahra, disse Bruce apressadamente. — Se você acha que os homens
e mulheres que vêm aqui e destroem as trilhas e alegremente sobem
a montanha sem se preparar adequadamente para que nossos
amigos arrisquem suas vidas deveriam ser salvos, eu estou nisso.
— Você não escala Bruce, Denver apontou. — Teríamos que

resgatá-lo.
Todos riram, incluindo Bruce. Ele encolheu os ombros. — Não

importa, eu tentaria. Ele olhou para Zahra, claramente sincero.
— É um bom ponto de vista de Bruce, no entanto, Bale

persistiu. — Tripulações de helicópteros precisam fazer essa ligação
o tempo todo.
— É verdade, concordou Vienna. — Cada vez mais essa é uma

questão a ser considerada, mesmo que não gostemos. O risco para
quantos outros quando uma pessoa foi tão descuidada.
— Eu vou admitir que já fui um idiota, Edward murmurou. —

Decidi enfrentar um furacão. Cara, isso foi uma má ideia. Como faço
buscas e resgates, percebi o risco que seria para qualquer pessoa que
viesse me resgatar e me meti em um grande problema. Felizmente,
consegui escapar, mas foi difícil por um tempo.
— Você já foi um idiota uma vez? Bruce provocou, cutucando-

o. — Se isso é tudo que você tem você não viveu muito. Já consegui
muitas vezes.
— Bruce, voltando ao seu problema de o negócio ficar muito

grande, Stella disse: — O que você vai fazer? Você tem um bom
gerente. Ele será capaz de ajudá-lo a acompanhar?
Bruce balançou a cabeça. — Eu preciso de um parceiro.

Genesis não tem esse tipo de know-how e ele não quer tanto. Eu
preciso de alguém com habilidades.
288
Livro Único
— Um anestesiologista se encaixa nesse perfil? Harlow

provocou.
Bruce sorriu para ela. — Denver pode fazer praticamente

qualquer coisa, se quiser.
— Eu te disse amigo, não estou interessado, Denver recusou.

— Por mais que eu queira te ajudar, eu ficaria louco em uma
semana.
Bruce acenou com a cabeça na direção de Bale e Sean. — Jason

Briggs é um engenheiro muito bom. Ele tem cabeça para isso e seu
tipo de trabalho pode ser escasso aqui, especialmente durante os
meses de inverno. Você o conhece. Ele é um trabalhador esforçado.
Tenho olhado muito em sua direção.
Stella ficou chocada, para dizer o mínimo. Jason era a última

pessoa que ela esperava que Bruce nomeasse. Ele aceitaria um dos
meninos malvados como sócio em sua cervejaria? Ela olhou para
Denver, com a sobrancelha levantada, na esperança de transmitir a
ele que talvez ele precisasse falar com o amigo. Denver enviou a ela
um olhar que dizia que ele já tinha feito isso em vão. Ele se sentia
culpado, mas não iria piorar as coisas aceitando uma parceria que
sabia que acabaria estragando.
Sean e Bale sorriram. — Jason é um dos homens que mais

trabalham duro que você já encontrou Bruce, disse Bale. — Pergunte
a qualquer pessoa para quem ele já trabalhou.
— Sim, disse Bruce. — Eu tenho feito um trabalho de fundo

sobre ele. Ele sabe isso. Eu não disse a ele que estava perguntando
por que estava procurando um parceiro. Ele acha que preciso
trabalhar.
— Não, sério, Bruce, disse Sean. — Você nunca se

arrependeria de ter Jason trabalhando com você. Ele é esperto. Ele
289
Livro Único
adora ficar aqui e quer ficar e se estabelecer. Ele está de olho em

alguma propriedade para comprar.
Se ela não soubesse que Jason estava firmemente

entrincheirado com Bale, Sean e Edward, Stella quase teria se
convencido de que Bruce lhe desse uma chance, mas os quatro
homens eram realmente horríveis quando se tratava da maneira
como tratavam as mulheres. Ela não queria que Bruce ficasse perto
deles, especialmente porque Zahra era de outro país e, por algum
motivo, isso foi o gatilho para os quatro homens. Ela não podia
imaginar que eles influenciassem Bruce, mas seria uma tragédia se o
fizessem.
Denver parecia saber o que ela estava pensando, mas eles

eram amigos há vários anos. Ele balançou a cabeça levemente, como
se dissesse que era impossível.
Ele cutucou Zahra com o pé. — O que está acontecendo,

camarão? Você está sóbria esta tarde.
— Alguns de nós trabalhamos, disse Zahra. — Você apenas

finge. Estou voltando para o hospital. Vá em frente e mexa no seu
cérebro.
— Você está com ciúmes, querida.
Ela deu a ele seu sorriso assassino. — Você sabe que eu estou.
Ela olhou para Harlow. — Obrigado por tudo. Eu realmente gostei
disso.
— Estou mandando uma mensagem para Raine.
— Faça isso, Zahra aprovou e acenou para os outros enquanto

saía do círculo.
Bruce foi atrás dela. — Vou acompanhá-la ao hospital, Zahra.

Ele caminhou ao lado dela antes que ela pudesse protestar.
290
Livro Único
— Você está realmente procurando mudar de emprego,

Denver? Stella perguntou. — Não é como se tivéssemos muitos
anestesiologistas por aqui. Você é um grande negócio.
— Não é como se eu tivesse largado meu trabalho diurno,

respondeu ele. — Mas o trabalho de Martha é fascinante.
Stella estremeceu delicadamente. — Você soa como o técnico

veterinário, Vincent, quando ele fala sobre fazer uma cirurgia com o
veterinário. Ele fica todo entusiasmado. Poupe-me dos detalhes.
— Eu sempre me esqueço de como você é um bebê em relação

a certas coisas, ele brincou.
Stella não era um bebê na maioria das coisas. Ela teve que
lidar com cadáveres inchados em seu lago quando os festeiros
insistiam em beber demais e cair na água quando não havia
ninguém por perto. Ainda assim, ela não era a pessoa que os
dissecava. Ela não tinha sido ótima em dissecar sapos. Ela tinha feito
isso, mas ela não gostou. Ela certamente não iria dissecar corpos
humanos.
— É isso que você realmente quer fazer?
Denver encolheu os ombros. — Não. Depois de estar lá

algumas vezes, percebi que também não gostaria de fazer isso dia
após dia. Acho que estou apenas inquieto. Talvez eu precise de
longas férias.
Stella riu. — Todo mundo vem aqui de férias, Denver.
Suas sobrancelhas se juntaram. — Isso mesmo, eles fazem.
Stella raramente ficara nervosa sozinha em sua

propriedade. Muito antes de contratar Sam, ela lidou com muitas
291
Livro Único
das festas bêbadas difíceis no meio da noite sozinha ou com um de

seus seguranças. Ela simplesmente não era uma pessoa que entrava
em pânico. Mas agora ela se sentia inquieta, andando pela casa
olhando para fora, sentindo como se talvez tivesse sido seguida de
volta ao resort.
Sam tinha ficado na cidade para conversar com seu pai. Ela
executou algumas tarefas, pegou mantimentos e fez a viagem de
uma hora de volta de Knightly sem incidentes. Seu resort ficava no
alto das montanhas, então era decididamente mais fresco. A
elevação garantiu que ela recebesse neve e gelo quando a cidade era
frequentemente poupada.
Não era tão tarde quando ela voltou para casa, mas o sol tinha
se posto e já estava escurecendo. Ela tinha verificado, mas ninguém
parecia estar na estrada atrás dela. Mesmo assim, a sensação de mal-
estar começou a crescer nela, e agora que estava em casa e guardou
as compras, essa sensação persistia.
— O que você acha Bailey? Devemos ficar presos aqui ou dar

uma volta pela propriedade? Ela colocou a mão na cabeça do
cachorro.
Ele parecia tão inquieto quanto ela, mas apenas a maneira

como ela estava agindo poderia transmitir ansiedade ao animal e
colocá-lo em alerta. Ele caminhou até a janela e olhou para fora
como se fosse respondê-la. Stella suspirou. Esta não era à noite para
Sam partir, mas ele tinha problemas familiares que eram
importantes para ele lidar. Ela tinha certeza de que o observador
estava lá fora. Ela ajustou o alarme, mas isso não significa nada. Um
bom atirador poderia atirar direto pelas muitas janelas que ela tinha
e matá-la se fosse isso que suas intenções fossem. Ela odiava a
sensação de estar presa em sua casa.
Finalmente, ela decidiu que iria sair com seu segurança e

apenas caminhar ao redor da propriedade, algo que ela fazia com
292
Livro Único
frequência. Se o observador a conhecesse, ele não pensaria que ela

estava fazendo algo diferente do normal. Sonny estava de plantão e
ela mandou uma mensagem para ele. Ele já estaria lá, fazendo suas
rondas. Ele sempre respondia imediatamente e vinha até a casa para
encontrá-la.
Ela esperou, coçando as orelhas de Bailey, grata por ter seu

cachorro. Sonny não respondeu. O tempo pareceu diminuir. Ela o
chamou, seu coração batendo forte. Sonny sempre atendia. Ele era
confiável. Ele gostava de seu trabalho. Ele era meticuloso. Ele pode
até ser considerado ansioso demais. Ao contrário de Patrick, ele não
perdeu uma única área ao verificar o resort à noite. Ele conhecia
cada centímetro da propriedade, o que o tornava valioso quando
procuravam festeiros desaparecidos ou uma criança que se perdia.
Sonny não atendeu o telefone. Agora ela estava mais do que

preocupada. Isso era totalmente diferente dele. Ela verificou o login
que ela podia acessar de seu telefone. Ele tinha chegado ao resort
antes dela e dispensado Patrick a tempo. Amaldiçoando baixinho,
ela fez a única coisa que podia fazer nas circunstâncias. Ela enviou
uma mensagem para Sam.
Sonny não respondeu. Com medo de que ele esteja machucado.

Vou procurá-lo. Ligando para Griffen.
Espere por Griffen.
Sonny pode estar machucado.
Ela não podia correr o risco e Sam sabia disso. Eles tiveram
que confiar um no outro. Ela ligou para o escritório do xerife e
torceu para que houvesse alguém disponível. Na maioria das vezes,
eles conseguem alguém em dez minutos.
Stella se armou com duas armas por precaução, enfiou uma

faca na bota e saiu pela porta da frente. — Bailey, encontre Sonny.
Ela deu a ordem e o soltou.
293
Livro Único
Bailey decolou rápido, correndo para a escuridão crescente.

Stella correu atrás dele, enviando uma prece ao universo para que
Sonny estivesse vivo e bem, que ele estivesse fora de alcance,
embora a mensagem dela tivesse sido marcada como entregue. O
cachorro contornou o lago e então correu em direção às árvores mais
pesadas, onde desapareceu completamente de sua vista. Não havia
caminho ou trilha para correr para segui-lo. O terreno era irregular
e, embora não estivesse completamente escuro, correr podia ser
perigoso. Ela não queria tropeçar e cair ou torcer o tornozelo. Ela
continuou correndo, mas diminuiu o ritmo o suficiente para prestar
atenção onde estava colocando os pés.
Bailey rugiu em desafio, o som chocante na noite, aumentando

para um crescendo horrível, e então, de repente, ele gritou de dor,
repetidamente. A respiração deixou os pulmões de Stella, mas ela
aumentou sua velocidade, jogando a cautela ao vento. Bailey nunca
tinha soado assim, nenhuma vez em todos os anos que ela o teve.
Não aquele grito de agonia que foi arrancado dele. Foi pior quando
ele ficou em silêncio.
Assim que atingiu o arvoredo, ela diminuiu a velocidade,

puxou a arma e também o telefone, iluminando o chão com a luz. —
Sonny? Bailey? Ela chamou os dois, indiferente se o agressor a
ouviu. Ele veria a luz. Ela segurou sua arma perto de seu corpo. Se
ele a visse, com sorte não veria que ela estava armada.
Ela viu um respingo de sangue nas folhas primeiro e seu

coração quase parou. Ainda assim, ela resistiu ao impulso de entrar
correndo sem primeiro dar uma olhada cautelosa ao redor com sua
lanterna. Ela o iluminou completamente ao seu redor e então subiu
para as árvores antes de dar alguns passos mais para dentro do
bosque. Bailey estava deitado de lado, ofegando de dor, o sangue
acumulando-se no chão sob ele, seu pelo emaranhado com ele. Ao
lado dele, Sonny se mexeu, tentou se sentar, gemeu alto e colocou a
cabeça nas mãos.
294
Livro Único
Stella correu até eles, mas novamente iluminou um círculo

para ter certeza de que o atacante havia partido. Ele não poderia
estar muito longe. Bailey tinha quatro facadas que ela podia ver
visivelmente. Amaldiçoando, ela tirou a jaqueta e depois a camisa
para amarrá-lo com força.
— Sonny, você está muito ferido? Um xerife chegará a

qualquer minuto. Tenho que levar Bailey ao veterinário ou ele não
sobreviverá. Vou levá-lo comigo para encontrar a polícia ou você
pode esperar aqui pelo xerife.
Sonny olhou para fora, mas ela não conseguiu ver nenhuma
punhalada nele. Não havia como ela deixá-lo sozinho, não se o
agressor estivesse por perto. Por que o observador esfaqueou Bailey
e não Sonny? Sonny parecia ter levado uma pancada na cabeça.
Sonny pôs a mão na nuca e ergueu os olhos para ela, gemendo

de novo. — O que aconteceu?
— Alguém bateu em você, eu acho. Tenho que levar Bailey ao

veterinário. Ela já havia mandado uma mensagem ao veterinário
para encontrá-la na clínica, que era uma emergência.
Ela esperava que Bailey sobrevivesse à viagem de uma hora.

Ele havia perdido muito sangue.
Uma luz poderosa explodiu sobre eles. — Stella? A voz de

Griffen Cauldrey berrou alto. — Onde você está?
— No bosque, ela gritou de volta. — Precisamos de ajuda,

Griffen.
Ela ouviu dois pares de botas correndo, então Griffen estava

ajoelhada ao lado dela e outra policial, Mary Shelton, estava ao lado
de Sonny. Stella ficou grata por entregar os cuidados de Sonny a
Mary para que ela pudesse se concentrar inteiramente em Bailey.
295
Livro Único
— Pegue uma lona. Vamos colocá-lo sob ele e carregá-lo para

o meu carro. Avise o veterinário que ele vai precisar de sangue,
disse Griffen. — Eu posso descer a montanha mais rápido do que
você. Mary? Você pode lidar com Sonny?
— Sim, vá, respondeu Mary. — Eu cuido disso.
— O atacante pode estar perto, advertiu Stella.
— Terei cuidado, disse Mary.
Stella era rápida quando precisava, mas não tinha dúvidas de

que Griffen sabia do que estava falando. Ela correu para o galpão e
pegou uma lona e correu de volta, sentindo como se muito tempo
estivesse passando. Ela só queria pegar o cachorro e correr, mas ele
era muito grande e, quando um cachorro estava com tanta dor, ele
podia ser perigoso.
Ela falou baixinho com ele enquanto eles manobravam a lona

embaixo dele. Não foi fácil, e até mesmo Sonny e Mary tiveram que
ajudar. Ele mostrou os dentes, mas não rosnou. Stella achava que ele
não tinha energia porque havia perdido muito sangue, e isso a
apavorava.
— Coloque sua jaqueta, Griffen lembrou antes de começarem a

colocar Bailey na lona.
Ela tinha esquecido que tinha tirado. Ela tinha esquecido sua
arma, que estava em sua jaqueta. Ela guardou a arma no coldre e
vestiu a jaqueta, sem saber que estivera com frio até aquele
momento. Eles carregaram Bailey para a cabine do xerife. Ela
mandou uma mensagem para Sam para encontrá-la na clínica e, em
seguida, mandou uma mensagem para Zahra, pedindo-lhe que
contasse a seus amigos. Se Bailey não sobrevivesse, ela não sabia o
que iria fazer. Bailey tinha sido seu companheiro constante durante
anos. Família dela.
— Ele é forte, Stella, disse Griffen.
296
Livro Único
— Ele perdeu muito sangue, ela sussurrou.
— O que diabos aconteceu?
— Eu realmente não sei. Tive a sensação realmente estranha de

que alguém estava lá fora me vijiando. Não foi a primeira vez. Sam
também sentiu isso. Mandei uma mensagem para Sonny e ele não
respondeu. Ele sempre atende. Então eu liguei para ele. Ele não
atendeu o telefone. Liguei imediatamente para o seu escritório, mas
mal podia esperar sua chegada, caso Sonny estivesse ferido e
precisasse de atenção. Dei a Bailey o comando para encontrá-lo. Eu
ouvi Bailey rugir como se ele tivesse entrado em modo de ataque,
então ele estava gritando. Quando cheguei lá, encontrei Bailey
sangrando no chão e Sonny estava acordando. Ele estava tentando
se sentar. Não havia ninguém por perto que eu pudesse ver.
— Droga, Stella, o atacante tinha que estar por perto. Ele

poderia ter ido atrás de você.
— Eu sei Griffen. Eu tinha armas comigo. Tive medo que ele

pudesse matar Sonny. Eu tive que ir. Acredite em mim, eu me
certifiquei de que você estava a caminho.
Ele não respondeu, mas dirigiu rápido e os levou à clínica em

tempo recorde.
A Dra. Amelia Sanderson comprou a clínica do velho

Fiddleson, que se aposentou quase dois anos antes. A cidade tentou
atrair vários veterinários para vir, mas eles eram remotos, e aqueles
com família haviam decidido contra isso e aqueles que não sentiam
que não tinham muita chance de encontrar um parceiro.
Amelia queria a prática, mas sendo relativamente nova fora da

escola e de seus estágios, ela estava sem os fundos necessários, então
alguns moradores locais colocaram o dinheiro, Stella sendo um
deles. Ninguém estava preocupado em perder seu dinheiro. Quase
todos na cidade tinham animais de estimação, e os fazendeiros e
297
Livro Único
rancheiros tinham gado. Os caçadores tinham cachorros. Eles

precisavam desesperadamente de um veterinário, e Amelia
trabalhava duro. Vincent Martinez, seu técnico, estava grato por ter
seu emprego de volta, e ela empregava dois outros trabalhadores
em tempo integral e um em meio período. Isso foi bom para a
cidade.
Amelia nunca rejeitou ninguém, não importa a hora da

emergência. Ela deu uma olhada em Bailey e ela, Vincent e um
funcionário que ela chamou John McAllister, levaram o cachorro
para a sala de cirurgia.
Para Stella, foi à noite mais longa de sua vida. Ela ficou
sentada esperando, sentindo-se oca e vazia. Sam já estava lá,
esperando por ela. Ele parecia sério quando viu Bailey, trocando
olhares com Griffen e depois com Amelia. Stella percebeu que eles
não tinham muita esperança. Sam colocou o braço em volta dela e a
levou para o sofá confortável que o escritório tinha.
— Ele era tão pequeno quando o resgatei, ela sussurrou.
— Ele é forte, disse Sam.
Zahra chegou cerca de uma hora depois, trazendo café e

cobertores. Ela colocou um cobertor em volta de Stella e entregou
café a Sam e Stella antes de se sentar na cadeira ao lado do sofá. Ela
não fez perguntas, mas ficou sentada em silêncio, lendo seu tablet.
Harlow e Shabina vieram em seguida, trazendo sobremesas do

café de Shabina. Elas os colocaram em uma travessa que colocaram
na mesinha de centro onde estavam as revistas, junto com uma
grande garrafa de café. Ambos se sentaram perto das janelas,
mantendo vigília com Stella e Sam.
Vienna e Raine chegaram quinze minutos depois de Harlow e

Shabina, ocupando as duas últimas cadeiras ao lado das portas,
murmurando seu amor a Stella e olhando para Sam em busca de
298
Livro Único
algum tipo de encorajamento. Ele não podia dar nada a elas, então
elas seguiram o exemplo de Zahra e ficaram em silêncio, lendo e
esperando.
Denver e Bruce vieram por último, duas horas depois, lotando

a sala de espera. Eles tiveram que trazer cadeiras de seus veículos,
usando a própria parte do “escritório”, onde a recepcionista se
reunia com os clientes. Era a única parte da sala de espera aberta
para eles.
Ninguém saiu, apesar do fato de que a operação de Bailey

durou quase toda a noite. Amelia saiu para falar com Stella por
volta das quatro da manhã, parecendo exausta. Ela olhou ao redor
da sala de espera e balançou a cabeça.
— Bailey está vivo, Stella. Ele é muito forte e lutador. É isso

que temos a nosso favor. Isso e, surpreendentemente, a faca não
acertou a maioria dos órgãos vitais. Ele perdeu muito sangue, no
entanto. Se você não o trouxesse aqui tão rápido quanto você, ele
não teria feito isso. Foi bom pensar em amarrar sua camisa com
tanta força ao redor dele. Isso salvou sua vida. Ele precisa ficar. Há
uma ferida da qual não gosto da aparência. Ele não está totalmente
fora de perigo ainda. Vou ficar com ele esta noite o tempo todo. Se
eu precisar de um descanso, farei com que Vincent fique. Ele é
voluntário, de qualquer maneira.
— Eu posso ficar se você me disser o que observar, Stella se

ofereceu.
— Não, querida, você vai para casa. Deixe-me fazer isso. Vou
manter contato e você pode me ligar a qualquer hora para fazer
perguntas, Amelia assegurou. — Você sabe quem fez isso ou por
quê?
Stella balançou a cabeça. — Eu não faço ideia. Nenhum. Isso

não faz sentido.
299
Livro Único
— Ele é um lindo animal. Eu vou cuidar dele para você. Todos

vocês precisam ir para casa.
Stella e Sam se levantaram, sabendo que, se não o fizessem,

todos ficariam.
Quase toda a comida e bebida tinham acabado, mas indicaram

ao veterinário que ela poderia comer alguma coisa, se quisesse.
Stella estava grata por Bailey ainda estar vivao. Ela olhou ao redor
da sala para todos os seus amigos, amigos que eram como uma
família para ela. Quando ela tentou agradecê-los, ela engasgou.
Denver deu um beijo no topo de sua cabeça, segurou a porta

aberta para os outros saírem e disse simplesmente: — É Bailey,
Stella.
Capítulo 14
Roy e Bernice Fulton, o único casal que morava e trabalhava

na propriedade em tempo integral, deixaram um bilhete para eles na
porta da frente. Stella estava cansada demais para perguntar a Sam
do que se tratava, embora devesse, porque o pobre Sonny poderia
ter se machucado de verdade. Embora ele parecesse estar falando
com a policial, Mary Shelton, bastante quando Griffen a estava
ajudando a preparar Bailey para sua descida da montanha. Sonny
até tinha um tom de flerte em sua voz.
Stella desabou na cama e chorou até dormir, vagamente ciente

de Sam deslizando ao lado dela, envolvendo seu corpo
protetoramente ao redor dela. Ela adormeceu envolta em seu calor.
Como sempre com Sam, ela acordou exatamente com o que
precisava. Ele tomou seu café e as últimas notícias sobre Bailey. Seu
cachorro sobreviveu à noite, recebeu outra transfusão de sangue e
300
Livro Único
parecia mais forte. Ele foi esfaqueado quatro vezes e cada ferimento
teve que ser costurado por dentro e por fora. Felizmente, nenhum
tinha estado em sua cavidade torácica ou ele nunca teria
sobrevivido. A ideia de que alguém o atacou de maneira tão cruel a
enojou.
Sonny estava bem. Mary o levou ao hospital apenas para ter

certeza de que ele estava bem. Ele tinha um pequeno galo na cabeça
e alguns hematomas ao redor, mas não havia laceração. Disseram-
lhe para ir para casa e descansar. Foi um alívio ele não ter se
machucado de verdade. Bailey deve ter interrompido o que quer
que o observador planejasse fazer com Sonny.
Ela tomou banho e se vestiu enquanto Sam preparava o café

da manhã. — Me assustou ontem à noite, mulher - disse Sam
enquanto colocava o prato com a mistura de ovo na frente dela. —
Eu detestava o fato de que não estava em casa com você e não podia
chegar até você e Bailey quando vocês mais precisavam de mim.
Ela embrulhou a mistura na tortilha quente como um burrito.

— Você poderia ter sido esfaqueado em vez de Bailey, Sam. Você
acha que essa pessoa que está nos observando é o assassino?
— Eu já me perguntei isso um milhão de vezes. Parece

coincidência demais para não ser. O momento é muito próximo.
— Mas isso significaria que ele saberia quem sou eu. Ela
tentou não parecer ou soar alarmada.
— Não necessariamente. Ele pode ter outra motivação para

perseguir você. Os Fultons nos deixaram um bilhete ontem à noite.
Estava preso à porta da frente. O alarme disparou enquanto
estávamos fora. Logo depois que o policial saiu com Sonny, o que
significa que o vigia estava esperando que eles saíssem. Ele veio até
a casa e tentou entrar. O alarme estava ligado.
301
Livro Único
Ela assentiu com a boca cheia de comida. Ele era realmente um

bom cozinheiro. Não parecia importar que refeição fosse - de
manhã, ao meio-dia ou à noite - ele poderia fazer algo grande juntos.
— Ele queria na casa. Ele tentou as portas e depois as janelas,

mas foi bom o suficiente para não ser pego completamente pelas
câmeras de segurança. Quando não conseguiu entrar, ele tentou
quebrar uma janela nos fundos da casa. Uma das janelas do hall de
entrada.
Stella largou o burrito do café da manhã e olhou para ele com

olhos chocados. — Ele entrou? Isso parecia uma violação. Ela olhou
ao redor de sua cozinha. — Você acha que ele estava no quarto?
— Não. No minuto em que a janela quebrou, o alarme

disparou. O escritório do xerife foi alertado e os Fultons também.
Roy e Bernice foram imediatamente até a casa para ver o que estava
acontecendo.
— Eles poderiam ter morrido. Nem pensei em mandar uma

mensagem para eles sobre Bailey e Sonny, disse Stella. Ela cobriu o
rosto. — O que há de errado comigo, Sam?
— Aconteceu muita coisa ontem à noite, Stella. Você teve suas

mãos ocupadas tentando salvar Bailey. Eu me certifiquei de que eles
estavam cientes. Eu disse a Roy que não era uma ideia inteligente
confrontar quem estava tentando entrar, mas você conhece Roy. Ele
não ia deixar ninguém entrar em sua casa. Não sei se o alarme
disparando o assustou ou se ouviu o barulho da caminhonete de
Roy, mas ele já tinha ido embora quando Roy chegou com sua
espingarda de cano duplo. Berenice também estava armada com o
dela. Depois de ouvir o que aconteceu com Sonny e Bailey, se é que
ainda não foram, acho que agora eles estão loucos para usar aquelas
espingardas.
Stella pegou seu burrito. — Eu me pergunto o que ele estava

procurando?
302
Livro Único
— Não tenho ideia, mas agora sabemos que ele quer entrar na
casa. Eu verifiquei a janela. O vidro é teia de aranha, mas aguentou.
Liguei para consertá-lo. Não queremos assim durante o inverno.
Nem queremos que ele saiba que há alguma parte desta casa que é
vulnerável.
— Ele devia saber que você não estava aqui, Sam.
Sam acenou com a cabeça. — Isso não seria difícil. Eu

estaciono no mesmo lugar o tempo todo. Se ele estivesse olhando
antes de você voltar para casa, ele teria visto você dirigir sozinha.
Até que isso acabe, é melhor ficarmos juntos. Especialmente porque
não temos Bailey agora.
O estômago de Stella embrulhou. Ela largou o burrito e tomou

um gole de café. — Havia muito sangue, Sam. Não achei que fosse
possível salvá-lo.
— Mas ele está vivo. Amelia é uma veterinária muito boa. A

cidade teve sorte por ela ter decidido que queria morar aqui.
Stella acenou com a cabeça. — Estávamos procurando

ativamente por um veterinário depois que Fiddleson se aposentou e
ele não conseguiu que ninguém tomasse seu lugar. É tão lindo aqui
e a clínica fez tanto sucesso que pensamos que seria moleza, mas,
evidentemente, existem razões pelas quais as pessoas não querem
constituir família aqui. E longas horas não agradam a todos. Além
disso, parece haver essa ideia de que nem todos podem encontrar
um parceiro aqui.
Sam deu um pequeno sorriso para ela. — Você tem algumas

amigas, todas muito bonitas, com ótimos empregos, que não têm
parceiros, Stella.
— Por escolha, Sam. Nem todo mundo quer se estabelecer com

um homem.
303
Livro Único
— Você certamente não fez. Tive que ir com muito cuidado,

nunca deixei você ver que eu estava de olho em você. Você teria
corrido como um coelhinho.
— Você não estava de olho em mim.
— Desde a primeira vez que te vi. Você estava usando seu

jeans favorito, que, a propósito, você ainda usa. Você estava com um
pequeno suéter preto e branco com quadrados por toda parte. Seu
cabelo estava preso em algum tipo de nó bagunçado que não parava
de cair e você o prendia de vez em quando. Você usava botas pretas
e Bailey estava com você. Você estava em frente ao canteiro de obras
onde eu estava trabalhando e conversando com Zahra e Shabina.
Você continuou rindo. Você tem a risada mais linda.
Stella ficou chocada por ele se lembrar do que ela estava

vestindo e que estivera com duas de suas lindas amigas e ele olhou
para ela em vez de para elas.
— Eu fiz questão de descobrir tudo sobre você. Não foi tão

difícil. Todo mundo na cidade sabe sobre você. Você é da realeza.
Você ajudou muitas empresas. Eu só precisava ouvir. Ficou claro
que você não namorava ninguém e não tinha um parceiro. Eu
apenas me mantive em segundo plano e observei você, tentando
descobrir por que e o que você precisava.
— Você descobriu?
— Você precisa de um homem paciente.
Stella deu por si a rir e isso a surpreendeu. Bem no meio do

pior momento, com Bailey no hospital, ela poderia se sentar à mesa
do café da manhã e rir. — Suponho que seja verdade. Não acredito
que você se lembra do que eu estava vestindo. Ela tomou outro gole
de café. — Como foram as coisas com seu pai?
— Melhor do que eu esperava. Marco é complicado. Ele está

acostumado a ser a autoridade completa. Todo mundo deve entrar
304
Livro Único
na linha no momento em que decreta algo. Ele tem na cabeça que

vamos ter um relacionamento, o que é bom, mas ele quer em seus
termos. Ele teve tempo para pensar sobre como tudo vai se
desenrolar. Ele não me conhece de jeito nenhum. A última vez que
ele me viu, eu era jovem e impulsivo. Ele ainda pensa em mim
assim.
— Certamente, depois de conhecê-lo novamente, ele deve

saber que você não é nada assim, Sam.
— Marco não abre mão de sua autoridade facilmente. Eu o

deixei falar. Quanto mais alguém fala, mais fácil é entendê-lo e ouvir
mentiras. Ele é bom em misturar a verdade com mentiras.
— Ele está fazendo isso?
— Ele sempre faz isso. Ele teve que fazer isso para permanecer
vivo. Em seu negócio, você não pode confiar em muitas pessoas. Os
negócios modernos estão muito mais fora do radar do que antes,
mas sempre há alguém que quer tirar o que ele tem. Ele me contou
sobre seu coração. Eu poderia dizer que ele não estava mentindo
sobre isso. Ele parece realmente querer se aposentar. Essa é sempre
uma proposta assustadora. Às vezes você pode nesse negócio,
outras vezes você não consegue. Ele sabe disso.
— Por quê?
— Ele conhece os negócios de todos. Segredos. Coisas que

podem colocar outras pessoas atrás das grades. Ele sempre foi
famoso por ser calado.
— E o Lucio Vitale? Ele é realmente seu guarda-costas?
— Acho que não, embora ele o protegesse. Acho que ele é

muito mais importante do que um mero guarda-costas. Ainda
assim, Vitale poderia muito bem sacar uma arma e colocar uma bala
na cabeça de Marco. Todo esse negócio é distorcido quando se trata
de lealdade, embora eu acredite que Vitale seja leal a Marco por
305
Livro Único
qualquer motivo. E se ele não estivesse, tendo me conhecido, ele

pensaria duas vezes antes de matar meu pai.
— Você acha que Marco vai realmente se aposentar e se

estabelecer aqui?
— Ele sabe que, se o fizer, terá uma chance melhor de

permanecer vivo, disse Sam. — Ele é pragmático sobre esse tipo de
coisa. Ele afirma que conheceu alguém que acredita que se mudaria
para cá com ele e seria feliz.
— Como você se sente sobre ele vir para aqui, Sam?
— Eu realmente não tenho uma opinião de uma forma ou de

outra. Meu pai vai fazer tudo o que decidir fazer, Stella. Não há
como pará-lo. Vou viver minha vida da maneira que escolher.
Esperançosamente com você. Você é minha escolha. Se ele se
encaixa de vez em quando, isso é bom, mas se ele não se encaixa, ele
não se encaixa. Eu não o conheço mais, e ele não me conhece. Vamos
ver como funciona.
Stella assentiu, mordendo o lábio inferior por um momento.

Sam conhecia seu pai melhor do que ninguém, e ela tinha a sensação
de que seu pai estava acostumado a manipular as pessoas. Sam não
era homem para ser manipulado por ninguém. Ela sempre quis ser a
escolha de Sam. Sempre.
— Isso é bom, Sam. Vamos contornar isso. Ela esfregou as

mãos nas coxas, detestando estar mostrando sua angústia. — Eu
odeio que Bailey não esteja aqui e eu não possa estar lá com ele. Ele
está comigo praticamente todos os minutos do dia desde que o
ganhei quando era um cachorrinho. Parece estranho sem ele. Eu sei
que ele deve sentir como se eu o tivesse abandonado.
— Você sabe melhor do que isso, Stella. A voz de Sam era tão
gentil que girou seu coração. — Falei com o consultório do
veterinário para ter certeza de que Bailey passou a noite bem.
306
Livro Único
— Você sabe que vou querer falar com Amelia eu mesmo.
Ele sorriu para ela. — Claro, eu sei disso. Eu ficaria chocado se

você não o fizesse. Ela estava realmente dormindo quando liguei.
Vincent respondeu. Ele disse que ela acordaria às dez.
— Não sei o que faria sem Bailey. Ela engoliu o nó repentino

em sua garganta e pegou sua xícara de café.
— Ele é um cachorro durão, Stella. Amelia é uma boa

veterinária. Ela aguentou firme ontem à noite e lutou por ele.
— Eu sabia que ela era boa. Sentei em um comitê e lemos tudo

sobre ela. Ela foi à primeira da classe na escola, depois fez residência
em alguns dos melhores veterinários para gado e pequenos animais.
Em todos os lugares em que trabalhava, ela recebia recomendações
entusiasmadas. Ela vinha às Sierras com frequência para escalar e
fazer as caminhada, então, quando a clínica foi posta à venda, ela
ficou interessada, mas não conseguiu fazer o empréstimo sozinha.
Sabíamos que ela teria esse dinheiro devolvido imediatamente. Sua
ética de trabalho era boa demais. Estou tão feliz por termos ido atrás
dela de forma tão agressiva. Se não tivéssemos... Ela parou.
— Bailey vai sobreviver, Stella - disse Sam.
A confiança em sua voz a estabilizou. Ela acenou com a

cabeça. — Você já falou com o xerife? Ou Sonny?
— Sonny. Ele diz que se sente bem. Uma pequena dor de

cabeça, nada mais. Desci ao local para procurar pegadas. Quem quer
que seja esse observador sabe o que está fazendo. Acho que ele mora
aqui há muito tempo, Stella, talvez tenha nascido aqui. Ele sabe
como se mover em terrenos acidentados sem deixar pegadas.
Encontrei algumas coisas, galhos quebrados e machucados no mato,
folhas retorcidas, mas pouco mais. Nada que eu pudesse seguir.
— Eu ainda tenho que me perguntar o que ele iria querer na

casa, disse Stella.
307
Livro Único
— Talvez todo esse tempo ele estivesse vigiando a casa na

esperança de que nós fôssemos embora.
Sam juntou os pratos vazios e os levou para a pia. — Eu

gostaria de pensar isso, mas frequentemente estamos no Grill. Ele
teria tido muitas oportunidades. Só recentemente você está
trancando a casa. Acho que seria uma boa ideia colocar seu diário e
desenhos no cofre com sua arma. Se ele entrar, você não quer que
ele acesse facilmente.
Ela se levantou também, limpando o resto da mesa. — Você

acha que ele deve ser o assassino.
Sam encolheu os ombros. — Eu não sei, mas o momento é

muito coincidente. Acho que é muito melhor estar seguro.
Uma confusão de sons atingiu primeiro, pássaros

cantando para frente e para trás. Tantos tipos diferentes, Stella
sabia que eram várias espécies. Insetos zumbiam e inevitavelmente
rãs coaxavam. O amanhecer trouxe consigo a cacofonia contínua
da natureza. Em algum lugar, uma coruja gritou ao perder a presa
antes de se retirar. Ela ouviu o contínuo bater de asas e o
movimento de roedores e lagartos entre as folhas no chão da
floresta.
O terreno parecia íngreme, grama alta espessa, colorida

principalmente de ouro e marrom com um pouco de verde ainda em
308
Livro Único
evidência, apesar do frio. Árvores se erguiam em direção ao céu,

uma floresta delas, alguns troncos grossos, outros meros rebentos,
muitos com as folhas já caindo ao chão. Feixes de cores explodiram
por todos os galhos para atingir a vegetação podre no chão. Os
arbustos eram grossos, emaranhados, enquanto samambaias e
arbustos adicionavam à paisagem selvagem.
A lente focalizou uma árvore, o tronco robusto. A câmera

parecia subir cada vez mais até que ela pudesse ver a parte inferior
do que parecia ser uma moldura de aço ou alumínio projetando-se
da árvore com um par de botas enlameadas no chão das grades.
Uma bota foi plantada plana enquanto a outra tinha o dedo do pé
pressionado firmemente nas barras. Ela podia ver apenas a ponta
da pesada calça de caça descendo sobre as botas quando a lente
da câmera começou a se fechar daquela maneira abrupta que
costumava acontecer muito antes de ela estar pronta.
Stella sentou-se rapidamente e tirou as cobertas. A sala

estava surpreendentemente quente, um fogo aceso na lareira que ela
raramente usava. Sam se sentou na cadeira em frente à cama, seus
olhos escuros nela, esperando para dar a ela tudo o que ela
precisasse. Essa máscara inexpressiva estava se tornando um pouco
mais legível para ela e ele parecia - cauteloso.
Ela respirou fundo várias vezes e colocou as duas mãos nos

cabelos. Ela o trançou para mantê-lo longe de seu rosto, mas ela se
309
Livro Único
sentiu como se tivesse suado e estivesse em todo o lugar. — Ele está

acelerando, não demorando muito entre suas mortes.
— Ele tem um gosto por isso agora, ou o que quer que o tenha
acionado o deixou tão instável que ele está ficando fora de controle.
Se for esse o caso, ele cometerá erros.
O assassino não parecia estar cometendo muitos erros, pelo

que ela podia ver. Havia outros mochileiros em Mount Whitney,
mas ele calmamente fingiu estar doente da altitude e matou duas
pessoas.
Stella passou os braços em volta da cintura e balançou para

frente e para trás. — Obrigado pela lareira. Eu nem sei quando estou
mais com frio.
— Está ficando frio aqui em cima. Vai começar a nevar em

breve, disse Sam.
Ela estava grata por ele ter ficado na cadeira em frente a ela,
onde ela podia ver sua presença reconfortante, mas não a tocou. Ele
sempre parecia saber do que ela precisava. Quando ela acordou pela
primeira vez depois de um de seus pesadelos, embora estivesse
lidando com eles melhor, ela estava perto de entrar em pânico -
perto demais. Ela precisava se permitir um tempo para respirar.
Para admitir que ela estava com medo. Que ela detestava ser capaz
de se conectar com um assassino em série, mesmo que isso
significasse capturá-lo e impedi-lo de matar mais pessoas.
Sam a deixou ser quem ela era. Ele não a “apresou”. Ele não
perguntou se ela estava bem. Ele sabia que ela não estava. Ele
simplesmente a deixou trabalhar o pesadelo do jeito que ela tinha
que fazer, e ele estava lá para ela, permanecendo em silêncio até que
ela precisasse trocar suas ideias com ele. Se ela queria falar sobre
isso, ele falaria sobre isso. Se ela quisesse desviar a atenção para
outra coisa, ele concordaria. Isso era Sam, exatamente o que ela
310
Livro Único
precisava. Ela estava começando a ver, mais e mais, por que eles se
encaixavam.
Ela sentia falta de Bailey empurrando sua cabeça em seu colo.

Ela sentia falta de ser capaz de coçar as orelhas dele, dando a ela
outra coisa para se concentrar enquanto ela processava. Ele a fez se
sentir segura. Ele sempre lhe deu companhia quando ela viveu
sozinha por aqueles anos.
— Quando aceitei o resort como gerente, ele estava realmente

decadente. Eu morava na cabana grande, que estava um desastre,
aliás. Peguei Bailey de um local de resgate. Ele é uma mistura,
principalmente Airedale, mas os criadores ficaram chateados porque
outro macho tinha entrado que não era só Airedale, então eles
deram os filhotes para o local de resgate. Ele era o cachorrinho mais
doce. Eu não fui a lugar nenhum sem ele. Este pequeno pacote de
pelo encaracolado.
Ela esfregou a coxa onde Bailey normalmente posicionava a

cabeça quando ele estava tentando confortá-la. — Liguei para
Amelia uma dúzia de vezes hoje e ela me garantiu que ele estava
muito melhor. Ela não queria que eu o visitasse porque disse que eu
o deixaria muito animado e ela nunca o faria se acalmar novamente.
Eu só queria trazê-lo para casa. Ele tem que estar lá vários dias e
precisa ficar muito quieto.
Ela sabia que Sam estava bem ciente de que ela discutiu com
Amelia sobre a visita de Bailey, mas no final concordou com os
desejos do veterinário. Ela estava balbuciando e Sam apenas a
deixou, como sempre fazia. Ela suspirou e se forçou a ir ao assunto
principal.
— Eu não recebi muito. Vou esboçar o que fiz, mas não tinha
ideia do que estava olhando. Você deve saber. Quanto à parte da
floresta, não havia nenhum caminho ou trilha de identificação que
eu pudesse ver. Eu podia ouvir todos os tipos de pássaros. Shabina
311
Livro Único
sabe muito sobre pássaros, principalmente em nossa região. Se ela

tem gravações de pássaros, se eu as ouvir, posso dizer a ela com
quais são. Ela poderia talvez identificá-los e também a área para nós.
— Essa é uma boa ideia.
Ela esfregou a palma da mão no rosto como se pudesse apagar

a sensação sinistra que sempre vinha quando ela tinha o pesadelo.
Um pequeno arrepio desceu por sua espinha. Ela se viu olhando ao
redor, querendo pegar sua arma do cofre onde a guardava e apenas
colocá-la na cama ao lado dela. Ela deu outra olhada cautelosa pela
fileira de janelas.
— Você acha que ele está aí de novo, Sam?
— Sim. Ele está mantendo distância. Enquanto você dormia,

dei uma volta pela propriedade, dentro dos portões e ao redor das
cabines.
— Sam, ela protestou. — Depois do que ele fez com Sonny e

Bailey, você não pode se arriscar assim. Eu não me importo com o
que você fez no exército. Essa pessoa é realmente assustadora. Há
algo errado com ele. Pessoas assim são... Ela se impediu de dizer
invencível.
O olhar escuro de Sam estava fixo em seu rosto. — Amada.
A maneira como ele disse aquele único carinho virou seu

coração, mas não mudou a verdade. Quem quer que estivesse lá
estava jogando para valer. Ele tinha uma faca e mergulhou a lâmina
quatro vezes em Bailey. Ele poderia ter feito isso com Sonny se
Bailey não o tivesse atacado. Stella tinha certeza de que ele queria
Sam morto. Ela não sabia por que estava absolutamente convencida
disso, mas estava. Isso a interrompeu.
— Sam, se esse homem é o assassino em série e está atrás de

você ou até de mim, por que ele não alvejou nenhum de nós
recentemente? Você acabou de dizer isso sozinho. Você saiu
312
Livro Único
andando sozinho à noite na propriedade. Ele poderia armar para

você, tirá-lo de lá. Ele não fez isso. Ele pode fazer a sua morte
parecer um acidente, se isso for dele. Você sai todas as noites, às
vezes várias vezes por noite.
Sam hesitou.
— Basta dizer.
— Ultimamente, eu tenho Bailey comigo. Agora, Bailey está

incapacitado. Podemos ver essa mudança. O assassino pode me
mirar agora.
Ela baixou o rosto nas mãos. — Isso fica cada vez pior.
— Não, realmente não importa Stella. Ainda temos apenas

algumas coisas com as quais estamos lidando e fazemos uma coisa
de cada vez. Você faz seu esboço e diário normalmente. Veja se
Shabina tem alguma gravação de pássaros e pode ajudar a
identificar onde o próximo assassinato está ocorrendo. Quanto a este
observador que temos, ele já está por aí há algum tempo. Ambos
estamos sentindo por ele.
Stella teve que admitir que Sam estava certo sobre isso. Às
vezes, mesmo quando ela ia para a cidade, os cabelos de sua nuca se
arrepiam como se ela sentisse o observador perto.
Sam continuou. — Ele tem algum ponto de vista. De manhã,

vou fazer uma patrulha e ver se consigo encontrar seus rastros. Ele
tem que estar bem na nossa frente. Existem poucos lugares que lhe
dariam uma boa visão da casa. Ele é bom em esconder seus rastros
quando quer, mas pode não pensar nisso quando achar que está
seguro.
— Será que ele está em um barco?
— Eu pensei nisso, mas ele estaria muito baixo para ver muito
se ele estivesse na água. Eu imagino que seja muito frustrante.
313
Livro Único
— Nós veríamos o barco, mesmo que ele não tivesse luzes

ativas, provavelmente, ela concordou.
— Eu acho que ele está a uma boa distância. Ele pode não
pensar que vou olhar para a parte estreita do lago na encosta. É
onde eu acho que ele se estabeleceu. Se eu tiver sorte, ele é
desleixado lá. Tem uma bela cortina montada para si, onde se sente
seguro. Traz comida e água. Se ele deixou alguma coisa para trás,
posso conseguir algo com impressões digitais.
Ela ergueu os olhos rapidamente, a esperança desabrochando.

— Você acha que isso é possível?
— Tudo é possível, Stella. Ninguém é perfeito. Todo mundo

comete erros. Ele esfaqueou Bailey quatro vezes, e as feridas de faca
eram profundas. Quando você usa uma faca como essa, muitas
vezes você pode se cortar. Ele pode estar sangrando. Ele pode ter
recuado para seu lugar "seguro" para ver quando todos saíram,
para que ele tivesse acesso a casa. Se ele se cortar, pode haver
sangue e qualquer coisa com que ele costumava se limpar.
— Eu nunca pensei nisso. Mas é claro, Sam fez. Ele era assim.
Ele parecia pensar naqueles pequenos detalhes que nunca
ocorreriam a ela. — É difícil acreditar que ele teria coragem de
voltar depois do que fez na noite passada, acrescentou ela, tentando
não voltar a se balançar para frente e para trás. Era um péssimo
hábito. — Você pensaria que ele gostaria de pelo menos tirar uma
noite de folga.
— Aparentemente, assassinos em série e idiotas nunca se

cansam, disse Sam.
Para seu espanto absoluto, Stella desatou a rir. —

Aparentemente não. Eu pego chocolate quente enquanto estou
desenhando e escrevendo no diário?
314
Livro Único
— Suponho que você merece. Ele se levantou, veio para o lado

da cama, se inclinou e deu um beijo em sua têmpora enquanto
arrastava um dedo pela lateral de sua bochecha até o queixo.
O toque dele mal estava lá, como um sussurro, mas ela o

sentiu por todo o corpo, do jeito que sempre fazia quando Sam a
tocava. De repente, ele se virou e saiu, movendo-se com sua graça
silenciosa, lembrando-a de uma pantera. Ela o observou ir, quase
hipnotizada, até que ele estava fora de vista. Mesmo antes de eles
estarem em um relacionamento, ele sempre conseguia chamar a
atenção dela quando se movia assim. Ele deixaria de estar
totalmente imóvel para parecer como se estivesse fluindo pelo chão.
Ele realmente desapareceu nas sombras.
Stella se abaixou e abriu a gaveta da mesinha de cabeceira que

continha seu bloco de desenho e o diário. Ela acendeu a lâmpada de
cabeceira na penumbra e começou a lembrar meticulosamente o
máximo de detalhes possível do sonho. Como sempre, quando ela
começou, nunca pareceu que ela poderia obter o suficiente da
pequena parte que a lente da câmera mostrava, mas quando ela
realmente começou a desenhar e a imagem tomou forma, havia mais
do que ela pensava.
A grama era longa e texturizada, em tons de azul, verde,

amarelo e vermelho. Era grosso, pois subia uma encosta e entrava
nas árvores. Os troncos das árvores eram redondos e pesados, com
mudas lutando para crescer entre as maiores, a maioria vacilante,
sufocada pelos arbustos pesados e pelas árvores altas ao seu redor.
Ela só tinha a impressão de árvores altas; ela não conseguia
realmente ver o topo deles. Folhas e agulhas estavam no chão, e
alguns dos galhos que ela podia ver estavam claramente perdendo a
luta com o vento.
Foi a estranha armação de metal com a qual ela não estava

familiarizada, projetando-se da árvore com a grade, as duas botas
apoiadas nela, com apenas a ponta da calça camuflada aparecendo,
315
Livro Único
que a deixou perplexa. Ela teria que procurar isso na internet se Sam
não soubesse o que ela estava olhando.
Assim que ela terminou de desenhar, ela mudou para o diário

e escreveu todos os detalhes que conseguiu se lembrar,
especificamente os pássaros e insetos que ouviu. Cada som contava.
Ela realmente esperava que Shabina pudesse identificar isso para
ela.
Sam colocou o chocolate quente em sua mesa de cabeceira. —

Dei chantilly para você esta noite.
Ela pegou a caneca. — E granulado de chocolate. Ela sorriu

para ele. Ele estava olhando para o desenho. — Você tem alguma
ideia do que é isso?
— Sure28. Os caçadores os usam. Eles se sentam em uma

árvore e esperam que veados cheguem até eles. Cervo. Alce. O que
quer que eles estejam procurando. É chamado de suporte de árvore.
Ela franziu o cenho. — Como é que eu não ouvi falar deles?
— Você não é um caçador.
— Mas quase todo mundo por aqui caça sua comida, Sam. Eles
não falam sobre suporte de árvores. A que altura eles são colocados
na árvore?
— Qualquer lugar de 3 a 10 metros, talvez. Depende da

quantidade de cobertura que existe. Esta época do ano pode ser
mais difícil de encontrar uma boa cobertura porque os galhos estão
perdendo folhas.
— Como alguém sobe com uma cadeira da árvore?
28
Suporte para árvore para caçador.
316
Livro Único
— Os caçadores usam todos os métodos diferentes. Bastões de

escalada são muito populares.
Ela ergueu uma sobrancelha.
— Eu vou te mostrar na internet. Isso seria o mais fácil, mas

apenas pelo pouco que você pegou, parece que ele definitivamente
está indo atrás de um caçador.
— Sam, praticamente todo mundo que conhecemos é um

caçador. É assim que a maioria das pessoas passa o inverno. Você
caça. Denver caça. Ela baixou a caneca e pressionou as mãos nas
têmporas, querendo gritar de frustração. — Sonny caça. Até Griffen.
Mary, sim. Sem caça, eles não podem alimentar suas famílias.
— Essas botas parecem grandes demais para serem botas de

mulher, respondeu ele, calmo como sempre. — Podemos descartar
as mulheres que conhecemos e que caçam. Podemos descartar todos
os caçadores que não estão sentados em uma arvore.
— Como sabemos quem caça em árvores? Stella passou os

braços em volta da cintura novamente, balançando-se para frente e
para trás.
— Querida, não há razão para ficar chateada tão cedo. Temos

que superá-lo. Temos que pensar nisso como um quebra-cabeça que
estamos resolvendo e você já tem peças que ele não sabe que temos.
Ele acredita que é inteligente e ninguém poderia estar atrás dele.
Sam pegou a caneca de chocolate e a estendeu para ela. — Beba seu
chocolate. Sempre ajuda você a pensar.
Stella pegou a caneca dele. — Se a pessoa que está nos

observando é a mesma que está matando, você não acha que ele está
assistindo porque já sabe quem eu sou? Ela olhou para Sam, os nós
em seu estômago apertando. — É possível que eu tenha sido o seu
gatilho. Ele descobriu quem eu era e queria se colocar contra mim.
317
Livro Único
Sam se sentou na beira da cama. Stella tentou não pensar que

Bailey geralmente ficava daquele lado da cama, empurrando sua
grande cabeça contra ela. Para não agir como um bebê, ela tomou
um gole no chocolate e se obrigou a manter o olhar fixo no de Sam.
Ele era um homem que dizia a verdade, não importando as
consequências. Ela pode nem sempre ser capaz de ler sua expressão,
mas ela poderia contar com a certeza de que ele responderia quando
ela perguntasse sua verdadeira opinião.
Os olhos de Sam escureceram até quase parecerem veludo

preto. Ele estendeu a mão e desligou a lâmpada. — Não há
necessidade de ajudá-lo a ver nada. Vamos guardar seus desenhos e
o diário no cofre. Quando você se inclinar, vou protegê-la com meu
corpo, então é impossível para ele ver o que você está fazendo,
mesmo que tenha visão noturna.
Stella se inclinou para colocar sua caneca de chocolate na mesa

de cabeceira. Ao mesmo tempo, ela recolheu seus esboços e diário.
Sam mudou para bloquear seu corpo da visão de qualquer pessoa
olhando da janela enquanto ela pressionava sua impressão digital
para abrir a porta embutida na parede.
— Essa é uma teoria interessante, Stella, que descobrir sua

identidade pode ter sido o gatilho para um assassino em série. Seria
adequado se alguém estivesse te observando, tentando descobrir
qual seria seu próximo passo. Sam parecia pensativo, mas
pragmático, como sempre fazia, como se a ideia pudesse ter algum
mérito, mas não o incomodou de forma alguma.
Stella se perguntou o que seria necessário para deixá-lo

irritado. Não que ela quisesse vê-lo zangado ou chateado, mas a
ideia de que ela poderia ter levado um assassino em série a
assassinar pessoas aleatórias a deixou doente. Como Sam podia
estar tão calmo sobre isso a chocou. Ela enfiou o bloco de desenho e
o diário no cofre da prateleira abaixo de sua arma e fechou a porta
antes de se endireitar, tentando parecer composta.
318
Livro Único
— Alguma coisa atinge você? Ela tentou manter o desafio fora

de sua voz.
Sam gentilmente colocou mechas soltas de cabelo rebelde que

se soltaram de sua trança atrás da orelha. — Você me atinge.
Qualquer coisa que te perturbe me atinge. Um homem esfaqueando
Bailey me atinge. Eu aprendi há muito tempo que pensar bem
requer uma mente calma. A raiva atrapalha e obscurece o
julgamento. Para permanecer vivo, tive que aprender a manter
minha mente sempre limpa.
— Isso é muito mais fácil falar do que fazer, não é? Ela deu um
gole no chocolate. Essa sempre foi sua fórmula calmante. Isso,
Bailey, e agora este homem que ela estava aprendendo a amar.
— Meu corpo foi transformado em uma arma. Aprendi a usar

todos os tipos de armas, mas sabe qual é a maior arma que temos
Stella? Nosso cérebro. Todos nós temos um. O truque é realmente
usá-lo. Não podemos entrar em pânico. Não podemos congelar.
Precisamos ser capazes de usar nosso cérebro em uma crise. Na
maioria das vezes, é isso que mantém alguém vivo quando outros
morrem.
Stella sabia que isso era verdade. Ela teve aulas de autodefesa
o suficiente para ter instrutores a treiná-la continuamente. Seu
cérebro era sua maior arma. Use-o. Ela também foi ensinada a ser
observadora. Não fique olhando para baixo. Não olhe para o telefone
dela enquanto ela caminha ou corre. Olhar em volta. Preste atenção ao
seu redor. Ela sempre seguiu essas instruções.
— É difícil ficar calma quando sei que aquele assassino

horrível pode ter começado a matar pessoas por minha causa. Mas
você está certo, e eu sei que você está.
— Não acredito que ele saiba quem você é, Stella. Se este

observador for o serial killer, ele está aqui por outro motivo.
319
Livro Único
Havia algo em seu tom que Stella não entendeu muito bem.
Especulação? Uma escuridão subjacente? Uma sugestão de ameaça?
— O que seria Sam? Seria interessante ouvir o que ele tinha a dizer,
especialmente porque ela tinha a sensação de que ele não iria querer
dizer a ela. — Por que você acha que ele mudaria então, se ele não
sabe quem eu sou?
Ele suspirou e saiu da cama. Foi a primeira vez que ela viu
Sam agir de forma desconfortável. — Acho que precisamos
conseguir telas de privacidade para escurecer as janelas, pelo menos
no quarto, Stella. Ele caminhou pela sala. — Se ele tivesse um rifle
de precisão, seríamos alvos fáceis.
Ela se recostou na cabeceira da cama. A estranha sensação de

estar sendo observado lentamente começou a desaparecer. — Eu
acho que ele está indo embora. Ou ele foi embora.
— Ainda precisamos colocar as telas. Não gosto da ideia de ter

alguém nos observando se estou tocando em você, querida.
Um pequeno estremecimento a percorreu. Essa ideia não tinha

ocorrido a ela e deveria. Ela era uma pessoa muito reservada. — Eu
acho que você está certo. Vou encomendá-los amanhã de manhã.
Ela esperou. Ele continuou andando, lembrando-a de um tigre

preso em uma gaiola muito pequena. — Homem.
Seus olhos se fixaram nela. Como um alvo. Deveria ter sido

desconfortável, mas aquele olhar só continha uma emoção profunda
que fez seu coração disparar. Um sorriso apareceu no canto de sua
boca. — Mulher.
— Cuspa isso, ela ordenou.
— Você não vai gostar.
Ela ergueu uma sobrancelha.
— Eu não gosto disso.
320
Livro Único
— Você provavelmente está errado. Estamos apenas

adivinhando, ela o lembrou.
— Eu não acho que estou errado. Você já tem merda suficiente

para lidar. Eu deveria apenas manter essa especulação particular
para mim.
— Samuele Lorenzo Rossi. Ela o chamou pelo nome completo

que ele deu a ela em seu registro de emprego, aquele que ela não
conseguiu encontrar em nenhum lugar na internet.
Ele estremeceu visivelmente. — Só minha mãe me chamava

assim quando ela estava realmente chateada comigo e eu estava em
apuros. Principalmente entre as idades de dois a dezessete.
— Esse é o seu nome verdadeiro? E a grafia verdadeira?
— Sim. Por que eu mentiria para você? Eu sabia que ia ficar.

Eu te disse. No minuto em que coloquei os olhos em você, soube que
você era a única. Eu verifiquei para ter certeza de que você não era
casada e então me propus a conquistá-la. Preste atenção, Satine.
Ela revirou os olhos. — Por que não consegui encontrar você

na internet? Você deveria estar lá, pelo menos sua vida anterior com
seu pai.
— Tipo de trabalho que eu fazia, não queria nada que levasse

de volta à minha família.
Isso fazia sentido. — Eu não estou deixando você me distrair,

por mais charmoso que eu ache você, especialmente sabendo que
sua mãe usou seu nome completo para castigar você. Qual é a sua
teoria de por que o serial killer pode estar me perseguindo se ele não
sabe nada sobre meu passado?
Sam suspirou e mais uma vez veio para o lado da cama e

afundou seu peso deslocando o colchão de forma que ela quase caiu
321
Livro Único
sobre ele. Ele colocou o braço em volta dela para estabilizá-la, ou

oferecer conforto, ela não tinha certeza disso.
Agora, ela se preparou, perguntando-se se tinha sido uma

ideia tão boa insistir em conhecer sua teoria, especialmente porque
ele realmente não queria contar a ela, o que significava que ele
estava razoavelmente certo de que estava certo.
— Este homem conheceu você, Stella. Ele não precisa conhecê-

la muito bem. Ele poderia ter conhecido você de passagem. Você
não percebe, mas é considerada um membro da realeza na cidade.
Existem negócios prosperando por sua causa. Isso significa
empregos. Você não percebe, mas entra em um restaurante e se
senta imediatamente. Outros têm que esperar. Você não precisa
pagar. O proprietário dispensa seu dinheiro porque você salvou o
traseiro dele quando ele estava afundando. Agora ele está
sobrevivendo ao inverno com dinheiro de sobra.
Sua avaliação dela a envergonhou. Ela salvou um

acampamento de pesca em dificuldades. Quando ela assumiu a
administração, o local estava afundando, e cada cabine, trailer e
acampamento de pesca, doca e equipamento precisavam
desesperadamente de conserto. O dono tinha dinheiro, mas estava
cansado e não tinha pessoal nem energia para manter seu amado
negócio funcionando. Ele a contratou como um último esforço para
manter seu acampamento de pesca aberto. Foi Stella quem teve a
ideia de um resort sofisticado e um torneio de pesca de primeira
classe, duas coisas que não pareciam se encaixar. Ela envolveu os
moradores locais e mudou seus negócios junto com o que ela estava
administrando.
— Ele pode ser um trabalhador temporário aqui ou na cidade.

Ele pode ter sido um dos campistas ou um alpinista com quem você
conversou quando estava praticando boulder. Você é amigável,
Stella. Você fala com as pessoas. Você os faz sentir que são
importantes. Você toma café quando está na cidade e fica na fila e
322
Livro Único
ele poderia ter ficado na fila ao seu lado e falado com você. A
obsessão começa assim. Alguns perseguidores fantasiam que estão
em um relacionamento com aquele por quem estão obcecados.
Stella pressionou a mão contra o estômago revolto. —

Excelente. Um serial killer pode estar fantasiando que tem um
relacionamento comigo? Isto é o que você pensa?
Ele balançou a cabeça lentamente. — É por isso que você o

sentiu no acampamento e na cidade. É por isso que ele fica aqui
algumas noites. Ele poderia estar tentando entrar em casa para
pegar algumas de suas coisas para levar para casa e alimentar sua
ilusão.
A essa altura, ela podia dizer, quem quer que estivesse do lado
de fora tinha ido embora. Não importa. A ideia de que Sam pudesse
estar certo era repulsiva. — Eu não quero mais pensar sobre isso,
Sam. Ela colocou os braços em volta do pescoço dele e puxou sua
cabeça para a dela. — Apenas me beije.
Beijar Sam nunca foi suficiente. Ele a deslizou sob ele e então o
mundo desapareceu até que houvesse apenas os dois e ela não
pudesse pensar, apenas sentir, porque Sam tinha um jeito de colocar
fogo em seu mundo.
Capítulo 15
A sala de jantar formal na casa de Shabina Foster era

grande, o teto alto e as paredes feitas do que parecia ser mármore
branco com finas veias de ouro correndo por elas. Se alguém olhar
de perto, é exatamente disso que eles são feitos. O teto acima tinha
pesadas vigas de sequoia cobrindo as profundas inserções de ouro
sutil. Os pisos combinavam com o ouro sutil do teto e puxavam as
323
Livro Único
veias finas e denteadas de ouro das paredes. O quarto desafiava a

descrição, mas a casa inteira de Shabina era sim.
Ela era dona do café local e trabalhava desde o início da

manhã até o final da tarde atendendo clientes, alguns muito rudes.
Até o carro que ela dirigia um RAV4, era modesto para a área,
quando se podia pagar o melhor, e mesmo assim, quando ela foi
para casa, poucos sabiam que a casa para onde ela foi ficava atrás de
portões ornamentados fechados. O caminho levou a uma garagem
para três carros com aquecimento por piso radiante. A garagem era
anexada a uma casa de quatro quartos e quatro banheiros com
biblioteca, sala de jogos, cozinha dos sonhos do chef e sala de jantar
formal, bem como uma sala de jantar menor e mais íntima e muitos
outros cômodos, incluindo uma piscina coberta e Sala de exercícios.
Principalmente, Stella sabia, era a cozinha e o terreno pelos quais
Shabina havia se apaixonado.
Do lado de fora da mansão de dois andares, um caminho de

pedra cinza e branco serpenteava por jardins bonitos e bem
cuidados com várias fontes de água antes de subir três longas
escadas redondas que se curvavam em torno da frente da varanda
profunda. A varanda era longa e protegida por um telhado para
proteger o sol implacável de quem apreciava a brisa da tarde. Telas
se encaixam nas grades para impedir a entrada de insetos,
protegendo os ocupantes de picadas desagradáveis.
Stella amava a casa de Shabina. À primeira vista, pode parecer

pretensioso, mas era caloroso, caseiro e sempre acolhedor. Se ela
tivesse Bailey com ela, ele estaria certo naquela sala de jantar formal,
cara a cara com os meninos bonitos de Shabina, três grandes
pinschers doberman29: Morza, Sharif e Malik. Seus cães a
29
Dobermann é uma raça de cães do grupo pinscher, oriunda da Alemanha. A raça foi
desenvolvida inicialmente por Karl Friedrich Louis Dobermann em Apolda na Alemanha por volta de
1860. Foi a primeira raça criada especialmente para proteção.
324
Livro Único
acompanhavam por toda parte. Stella ficou chocada quando Jason

deu seu aviso sobre Shabina não ir para a floresta sozinha. Ela
sempre teve seus cães muito bem treinados com ela. Todos não
sabiam disso? Alguém atiraria em seus cachorros como esfaquearam
Bailey?
— No que você está pensando, Stella? Você está olhando para

os meus meninos como se eles pudessem de repente sair de suas
camas de cachorro e atacar, disse Shabina, colocando um dos
desenhos de volta em sua mesa de jantar formal de cerejeira
reluzente.
A mesa era enorme e ficava embaixo de um lustre em camadas

que parecia pingar uma infinidade de correntes de gotas de chuva.
Stella nunca havia considerado estranho que Shabina tivesse camas
de cachorro em todos os quartos para os três dobermans. Ela
gostava de cães. Bailey geralmente ia com ela, e se ele não entrasse
em uma casa, ele estaria em seu carro. A maioria de suas amigas
queria que ela o trouxesse para dentro. A gata de Vienna era a única
exceção, e Vienna ficou mortificada por sua princesa estar agindo de
forma tão esnobe. Ela estava determinada que algum dia o gato
bobo viria e apreciaria os cães. Todos os seus amigos sabiam que
isso nunca estava acontecendo.
— Lembra que eu disse a você que Jason sussurrou aquele

aviso para mim sobre você ir para a floresta sozinha? Você sempre
tem os cachorros com você. Alguém esfaqueou Bailey. Você acha
que ele quis dizer que eles machucariam seus meninos? Todos os
três? Eles teriam que fazer isso para prejudicá-la, Shabina. Eu não
acho que eles fugiriam se alguém ameaçasse você.
Os olhos de Shabina, aqueles olhos azuis royal intensos e de

cores estranhas, olhavam diretamente para os dela. — Não, eles
nunca fugiriam. Além de serem meus companheiros, eles são cães
de proteção pessoal treinados. Eu os amo profundamente e
325
Livro Único
raramente ficam longe de mim. No café, eles estão em uma sala com
a porta aberta para que possam me ver o tempo todo.
— Como eu não sabia disso todo esse tempo? Bailey conhece

alguns comandos, mas não foi treinado por um profissional. Foram
eles? Stella olhou para os três dobermans.
— Sim. E então fui treinado para lidar com eles também. Eu os

tenho desde quando eram filhotes, mas recebemos instruções
estritas sobre como interagir à medida que envelhecem.
— Por que você precisa deles, Shabina?
Shabina encolheu os ombros. — Meu pai trabalha em todo o

mundo. Ele costumava levar minha mãe e eu com ele. Passávamos
meses em um só lugar. Às vezes, havia facções que não gostavam de
americanos. Quando eu tinha quinze anos, fui sequestrada no
caminho da escola para casa. Meus guarda-costas foram mortos e eu
fui levada por alguns homens muito ruins.
Por um momento, seus lábios tremeram e ela se afastou de

Stella. Stella mal podia acreditar no que estava ouvindo. Em todos
os anos que ela conheceu Shabina, ela parecia composta e confiante.
Por apenas aquele breve instante houve uma rachadura naquela
serenidade perfeita, mas ela se recuperou rapidamente.
— Que coisa horrível, Shabina. Eu não fazia ideia.
— Meu pai e sua empresa não deixaram a notícia vazar. Eles

achavam que se dessem publicidade aos sequestradores, isso só
pioraria a situação.
A mão esquerda de Shabina acariciou sua garganta com dedos

trêmulos. Todos os três cães levantaram suas cabeças. O maior,
Morza, caminhou até ela e pressionou suas pernas, claramente em
sintonia com ela. Stella sabia que os cães eram sensíveis aos donos, e
a lembrança de Shabina dessas memórias não poderia ser agradável.
326
Livro Único
— Eles estavam procurando por dinheiro?
— Eles exigiram um resgate, é claro. Meu pai pagou. Eles não

me devolveram. Eles tiveram todos os tipos de demandas depois
disso. Estava claro para todos, inclusive para mim, que eu nunca iria
fugir deles a menos que fosse resgatada. As chances de isso
acontecer eram muito pequenas. Eles me moviam o tempo todo.
Seus dedos continuaram a acariciar sua garganta como se doesse. —
Uma vez consegui escapar sozinha, mas eles me encontraram. Eu
estava no meio do nada. Sem sapatos. Meus tornozelos estavam
machucados. Eu mal conseguia andar. Eles estavam seriamente
chateados comigo quando me encontraram. Achei que eles iriam me
matar. Eu gostaria que eles tivessem feito.
Isso não soou bem. Stella franziu a testa, quase hipnotizada

por aqueles dedos acariciando sua garganta. — Quanto tempo eles
tiveram você, Shabina?
— Eu tinha quinze anos quando me levaram e dezesseis e

meio antes de ser resgatada. Quase um ano e meio. Agora todos os
três cães a cercaram.
Shabina de repente parecia ciente deles. Ela olhou para eles e

sorriu. — Estou bem, rapazes. Apenas fazendo uma viagem pela
estrada da memória. Desculpe Stella. Eu geralmente não vou lá. Na
verdade, tento manter essa porta em particular fechada e trancada o
melhor que posso.
— E eu pensei que tive uma infância péssima. Eu realmente

sinto muito, Shabina.
— Foi difícil para os meus pais. Eles não me queriam fora de

suas vistas assim que me recuperassem. Eu não queria ficar longe
deles. Dormi no quarto deles até os dezenove anos. Meu pai teve um
contingente de guarda-costas ao redor de minha mãe e de mim o
tempo todo depois que eu voltei para casa. Eu ainda não me sentia
seguro.
327
Livro Único
Ela olhou para os cachorros e sorriu. — Mas então eu vi uma

mulher treinando vários cães de proteção pessoal quando fui com
meu pai à empresa de segurança onde ele contratou os guarda-
costas. Ela estava naquele longo campo que os escritórios
negligenciavam. Fiquei tão fascinada. Foi a primeira vez que senti
que podia respirar. Eu não queria ir embora e tive muita sorte que o
dono da empresa me permitiu descer para conhecê-la.
Stella sabia o que ela queria dizer. Ela se sentiu assim quando
sua mãe adotiva permitiu que ela tivesse um cachorro pela primeira
vez.
— Conhecer Lisa Fenton e aprender sobre cães de proteção

pessoal mudou minha vida. Lisa trabalhou comigo e me deu uma
compreensão de como os cães funcionavam e como eu precisava
interagir com eles enquanto estavam trabalhando e quando não
estavam. Eu poderia dizer que seus cães eram totalmente ligados a
ela, mas quando ela os estava treinando, eles eram como máquinas
de precisão. Ela gostou dos Dobies para mim porque eles eram
muito sensíveis e ela sentiu que eu precisava disso.
— Eu não fazia ideia. Eles são tão fofos, disse Stella. — Eles
caminham com você, vão para as pedras conosco e acampam. Eu
nunca os vi serem agressivos. Eles alertaram, mas todos os cães o
fazem de vez em quando.
— Os cães de proteção pessoal não devem agir agressivamente

até que seja necessário, Stella, disse Shabina. Ela sinalizou para os
cães e eles saíram do seu lado. — Eu faço o meu melhor para ser o
mais independente possível. Meus pais me visitam com frequência e
conversamos online, mas eu precisava estabelecer meu próprio
espaço e sentir que poderia fazer isso sozinha. Ela sorriu para Stella.
— Eu vim para o Sierras mochilando. Eu queria caminhar no JMT
sozinho para ver se conseguia fazer isso sem entrar em pânico.
Então eu conheci você, Stella. Você foi uma inspiração, assim como
Lisa.
328
Livro Único
Stella não fazia ideia.
— Achei que se você pudesse ser tão corajosa a ponto de

assumir um trabalho como o de administrar uma empresa falida, eu
deveria pelo menos tentar o meu sonho de abrir um café. Eu tinha
dinheiro. Não havia nada me parando além do medo. Eu tinha as
habilidades necessárias e o histórico de negócios. Meu pai se
certificou disso, mesmo quando eu não podia assistir às aulas. Ele
me fez levá-los em casa. Não consegui sair pela porta da frente por
um longo tempo e, quando tentei, muitas vezes falhei.
— Mas você continuou tentando, ressaltou Stella.
Shabina acenou com a cabeça. — Eu fiz. Meus pais me

encorajaram, embora, como eu disse, meu pai me cercou por muito
tempo com um muro de segurança. Eu precisava primeiro. Assim
que cheguei aqui, me senti em paz. Há algo real aqui. Eu me sinto
conectada com a natureza. Minha mente está tranquila e calma.
Adoro ouvir o canto dos pássaros e o vento passar pelas folhas das
árvores. Conhecer você e depois Zahra, Vienna, Harlow e Raine
resolveram para mim. Eu sabia que pertencia aqui.
— É como eu me sinto. Todos nós temos essas origens

estranhas. Achei que todos vocês me olhariam de maneira diferente
sabendo que tenho um assassino em série como pai, mas, em vez
disso, todos vocês me mostraram por que são meus amigos. Estou
meio envergonhada de pensar que você me desprezaria.
— Faria sentido querer se afastar do seu passado, Stella

Shabina disse. — Eu nunca falo sobre o que aconteceu comigo.
Todos nós viemos aqui por vários motivos e, felizmente, formamos
nossa própria família. Tem sido bom para mim e eu agradeço. Eu
estou bem com o que qualquer um de vocês deseja compartilhar ou
não. Estou muito grata por ter descoberto que as Sierras eram certas
para mim e que todos vocês me aceitaram em seu círculo. Shabina
pegou um dos esboços. — O que o veterinário disse sobre Bailey?
329
Livro Único
Stella sorriu instantaneamente. — Ele está mais forte hoje. Eu

posso ir vê-lo. Ela quer ficar com ele mais alguns dias para que ele
fique quieto. Ele está tomando antibióticos e analgésicos. Depois de
trazê-lo para casa, ele não terá permissão para se mover a não ser
para fazer seus negócios. Ele vai precisar ficar com seus remédios e
usar o cone da vergonha30.
— Foi uma noite assustadora, disse Shabina. — Fiquei

pensando que poderia ser um dos meus meninos. Todos nós
amamos Bailey. Ele é um menino tão doce e estava protegendo
Sonny.
— Sonny estava em suas rondas. Ele é muito meticuloso. Ele

nunca viu seu agressor. Griffen Cauldrey, o vice-xerife - você o
conhece, certo? Ao aceno de Shabina, Stella continuou. — Griffen
acha que Sonny veio em cima dele, o agressor o ouviu chegando, se
escondeu e o nocauteou. Tinha acabado de enviar uma mensagem
de texto para Sonny naquele momento e ele não respondeu, então
Bailey e eu fomos procurá-lo. Bailey atacou e o homem o esfaqueou
com a faca.
— Bailey deve tê-lo mordido, disse Shabina. — Não tem como

aquele cachorro não cravar os dentes no agressor, não se ele foi
esfaqueado quatro vezes. Mesmo que ele não seja um cão de ataque
treinado, Stella, ele é grande e poderoso. Ele não tem medo. Ele
lutaria.
Stella não tinha pensado nisso. Ela deveria ter pensado. Bailey
foi treinado por um profissional, não da mesma forma que a matilha
de Shabina foi treinada, mas ele certamente teve aulas com um
treinador. Ele conhecia seus comandos e tinha bons instintos. Ela
30
O colar elizabetano, conhecido popularmente como “colar da vergonha”, é, sem dúvidas,
essencial para um animal que levou pontos ou precisa proteger uma área do corpo onde tem uma lesão
e não poder ser lambida.
330
Livro Único
tinha ouvido aquele rugido, aquele desafio. É claro que ele teria
conseguido cravar os dentes em seu oponente.
— Quem quer que tenha atacado Bailey e Sonny deve ter sido
mordido, e provavelmente com gravidade. De jeito nenhum eles
iriam para a clínica ou hospital local, mas eles poderiam entrar em
contato com uma das enfermeiras. Você pode falar com Viena e
fazer com que ela avise a todos no hospital - disse Shabina, batendo
com o dedo na mesa.
— Eu me perguntei por que ele não ficou por perto e

simplesmente me matou e depois matou Sonny. Não fazia nenhum
sentido para mim na época, mas se ele estava ferido... Ela se
interrompeu. — Ele não deve ter se machucado muito. Mais tarde,
ele tentou invadir minha casa.
— Quanto mais tarde? Você sabe que horas eram? Você teve
que fazer Bailey descer a montanha, certo? E quanto a Sonny? Quem
cuidou dele? Uma ambulância o levou ao hospital? Quanto tempo
demorou para ele sair de lá?
— Esta é uma boa pergunta. Não pensei em perguntar. Eu

estava tão envolvida com Bailey e depois voltei para casa. Foi
horrível. Eu deveria ter considerado quanto tempo se passou antes
do assalto e todos tinham ido embora. Ela franziu o cenho. — Sem
dúvida Sam fez. Ele está sempre um passo à minha frente nesse tipo
de coisa.
— Ele pensa de forma diferente, só isso, disse Shabina. — Isso

é bom. Quanto mais pessoas pensarem nisso e virem de direções
diferentes, melhor. Também acho que é bom que todos estejam
acostumados com a maneira como nós, mulheres nos encontramos
com frequência. Então, se estamos juntos para lançar ideias,
ninguém mais na cidade vai pensar em nada sobre isso.
— Sam realmente pensa de maneira diferente, admitiu Stella.

— E ele fica calmo. Depois desses pesadelos e Bailey e este homem
331
Livro Único
horrível me observando o tempo todo, eu preciso dessa calma. Você

me conhece, não fico assustada, mas essa pessoa conseguiu. Não
estou com medo apenas por mim, estou com medo por Sam e por
todos vocês.
— Eu pensei muito sobre Jason te dando aquele aviso. Eu faço

caminhadas todos os dias com os cães. Eles precisam disso e eu
também. Isso me deixou muito desconfiada. Sempre coloco os cães
em alerta agora, onde antes, era a hora de diversão. Agora eles estão
trabalhando. Eu odeio ter que fazer isso, mas sei que é necessário.
Também me fez considerar que Jason pode saber mais do que está
dizendo.
Shabina passou o dedo pelas árvores e grama no desenho.

Stella foi muito precisa ao retratar as cores. Ela demorou para
preenchê-los depois da segunda noite. A câmera foi ampliada para
mostrar a ela mais do terreno, mas pouco da vítima real. Ela podia
ver mais de suas pernas e as calças camufladas que ele usava, era
isso. Ela se concentrou em desenhar as árvores e arbustos que viu e
a grama que estava por toda parte.
— Duvido que ele me desse mais informações se eu falasse

com ele, especialmente se Sean, Bale ou Edward estivessem
envolvidos de alguma forma.
Shabina suspirou. — Eles são um grupo estranho. Sean é difícil

de entender. Ele não para de ir ao restaurante. Eu o deixei vir e disse
a mim mesma que não importava o que ele dissesse para mim ou o
quão maldoso ele fosse sobre a comida, eu seria legal e
eventualmente ele pararia, mas isso só parecia piorar as coisas. Não
tenho ideia do que ele ganha sendo tão abusivo.
— Sempre achei que Sean gostava de você, mas esse tipo de

comportamento não vai te dar nenhum ponto.
Shabina balançou a cabeça. — Acho que mencionei que ele me

convidou para sair uma vez, mas eu estava ocupada na noite em que
332
Livro Único
ele queria ir jantar. Hesitei porque estava tentado. Eu não tinha

saído com ninguém e disse a mim mesma que estava na hora. Eu
realmente ia pedir para chover, mas ele ficou com raiva de mim
quando eu disse que não poderia ir naquela noite. Não me saio
muito bem quando alguém grita comigo. Acho que congelei por um
minuto. Eu não podia acreditar que ele ficaria tão chateado quando
eu disse a ele que estava ocupada naquela noite.
— E foi aí que o assédio dele começou?
Shabina acenou com a cabeça. — Ele começou a entrar e a

mandar comida de volta e a fazer comentários em voz alta. No
começo eu fui legal, mas ele só piorou. Não sei qual é o problema
dele comigo, mas às vezes tenho medo dele. Não sei se é por causa
do meu passado ou se tenho um bom motivo para ser.
— Você falou com a polícia?
Shabina acenou com a cabeça. — Bale e Sean nasceram aqui.

Eles têm laços com pessoas do departamento. Isso torna as coisas
um pouco difíceis. Não estou dizendo que ninguém ouviu, porque
alguns policiais sim. Craig Hollister, um dos detetives, está muito
ciente da situação. Ele falou comigo sobre isso algumas vezes. Ela
olhou para Stella. — Não me olhe assim. Eu não tenho uma queda
por ele como todo mundo pensa.
— Então por que você está corando?
— Porque todos vocês me dão aqueles olhos sempre que o

nome dele surge e eu não posso evitar. Ele me disse para ter cuidado
e não ficar sozinha com Sean. Mas Sean trabalha para Peixes e Vida
Selvagem e eu estou muito na floresta. Desde que você me disse que
Jason lhe deu aquele aviso, estou um pouco destruída. Na verdade,
pensei em pedir a meu pai que enviasse uma equipe de segurança,
mas sabia que, se o fizesse, estaria regredindo. Eu não posso fazer
isso. Eu lutei muito para chegar a este ponto de independência. Eu
me recuso a deixar Sean me bagunçar.
333
Livro Único
— A temporada acabou e estou de folga por um tempo. Eu ficaria

feliz em ir com você, Shabina, Stella se ofereceu. — Entre os cães e
minhas armas, duvido que Sean possa nos fazer muito mal.
Shabina sorriu para ela. — Você é uma boa amiga, Stella.

Obrigada. Ela olhou novamente para os desenhos, montando-os em
ordem. — As árvores aqui são brancas como um fantasma. Há cerca
de cem hectares de árvores mortas ou morrendo ao redor da área
perto do Lago Horseshoe devido ao gás tóxico. As raízes são
incapazes de absorver oxigênio. Existem placas alertando as pessoas
para que tenham cuidado nessa área porque o gás é perigoso para
nós também, especialmente abaixo do solo, em fossas ou áreas mal
ventiladas.
Stella acenou com a cabeça. — Eu tinha quase certeza desde os

primeiros pesadelos de que a vítima estava caminhando na zona D7,
onde o gás do vazamento de magma ocorreu. D7 é muito popular
entre os caçadores por vários motivos, pelo menos é o que Sam me
diz Shabina colocou os dois primeiros esboços que representam os
dois primeiros pesadelos em uma linha.
Stella pressionou a mão na testa e esfregou as têmporas. Ela se

sentiu como se estivesse com dor de cabeça desde o primeiro
momento em que tentou descobrir isso. Ela já sabia que era uma
situação impossível. — Essa é uma área enorme.
— Depois de caminhar cerca de seis milhas, você entra na

floresta. O Lago Horseshoe está lá. É uma área enorme, e você tem
razão, Stella, eles poderiam estar em qualquer lugar, mas se o seu
caçador tiver uma dessas árvores e a estiver embalando, ele irá tão
longe? Não sei o quanto são pesados, mas não parece muito racional
pensar que são tão leves. Ele tem que ter algo para subir na árvore,
certo? Como paus ou uma escada? Ele tem que embalar isso
também. Seu rifle. Estamos falando de muito equipamento aqui.
334
Livro Único
— Ele não pode ser daqui, disse Stella. — Nenhum de nossos

caras faria isso.
— Não, eu não posso imaginar que eles fariam.
Shabina arranjou os próximos dois esboços com a parte

inferior do cavalete da árvore, botas e bainha parcial da calça
camuflada ao lado dos dois primeiros desenhos. Mesmo com as
fotos lado a lado, não havia nada de extraordinário para destacar a
área. E não haveria. O deserto ao redor do Lago Horseshoe era
enorme. Como eles iriam encontrar uma árvore? Um caçador?
Ambos olharam para os desenhos por um longo tempo,

sabendo que era realmente uma tarefa impossível encontrar um
único caçador na Floresta Nacional Inyo. Não importava quantas
árvores e variedades Stella desenhassem, não havia como identificar
uma única área olhando para elas.
— Eu toquei várias gravações de pássaros cantando para você,

e as que você ouviu eram da área na zona D7 mais próxima do Lago
Horseshoe. Essas são aves migratórias. Eu diria que este é
definitivamente o lugar, mas a área é enorme, Stella.
Stella mordeu o lábio. — Só não entendo por que ele escolheu

esse caçador em particular. Por que ele? O que há sobre esses
estranhos aleatórios que o desencadeia?
— Ele precisa ser detonado? Shabina balançou a cabeça. —

Estudei aqueles homens que me levaram. No começo, eu queria
pensar que eles tinham me sequestrado por alguma causa maior.
Pelo menos um ato de vingança. Depois o dinheiro. Mas eles eram
apenas homens vis e nojentos saindo em uma viagem de poder. Não
havia nenhum raciocínio real por trás de nada disso. Alguns eram
piores do que outros.
— Eles tinham outros prisioneiros?
335
Livro Único
Shabina acenou com a cabeça. — Ocasionalmente. Esses

prisioneiros nunca duraram muito. Com o tempo, aprendi que a
menor coisa pode levar alguém a uma violência terrível, enquanto
outro ainda pode ter um resquício de decência nele. Eu sabia que
não duraria muito estar perto dos outros, mas era interessante
observar o processo enquanto eles conduziam um novo recruta em
seu caminho de depravação completa e absoluta. Suponho que
alguém possa chamá-los de assassinos em série. Certamente, eles
eram assassinos e estupradores.
Stella balançou a cabeça e caminhou pela sala, repentinamente

inquieta. — Tenho um mau pressentimento sobre este. Desde o
início, eu senti que realmente não tinha muita chance de salvar essa
vítima. Não vejo como o assassino está atrás de mim, mas dado o
que aconteceu com Bailey, é possível. Desde a noite em que
acampamos juntos, sinto como se alguém estivesse me observando.
Se ele sabe quem eu sou, pode ser que esteja jogando algum jogo
cruel comigo.
Ela foi até a janela e olhou para os belos jardins de Shabina.

Mesmo em outubro, o terreno estava repleto de uma profusão de
cores. Na primavera, os vários tons de verde eram incríveis. Stella
não sabia que havia tantas cores de verde. Agora eram dourados e
vermelhos.
— Quando eu era criança, lembro-me de pensar que, se

pudesse ser boa o suficiente, meu pai pararia de fazer essas coisas
ruins. Se eu obedecesse às regras. Se eu não sujasse meus sapatos
novos. Se eu não derramasse nada no meu vestido. Se eu não
chorasse quando caí e doesse. Eu iria para a cama sem protestar. Fiz
todos os tipos de promessas a mim mesmo de ser melhor. Eu seria
tão boa para que papai não tivesse que fazer essas coisas ruins.
Bailey. Ela precisava daquele cachorro. Ela estendeu a mão e

não foi Bailey quem empurrou a cabeça sob a palma da mão, mas
um dos Dobies de Shabina. — Aí está meu garoto. Você sempre sabe
336
Livro Único
quando estou me sentindo triste, não é, Sharif? Ela coçou as orelhas

dele assim como fazia com as de Bailey, grata por Sharif sempre a
ter incluído em seu círculo. Todos os três cães de Shabina gostavam,
mas Sharif em particular gostava dela.
— É engraçado o que assumimos quando crianças, disse

Shabina, aproximando-se dela. — Depois que eu escapei e eles me
encontraram, eles ficaram muito bravos. Fui espancada severamente
e jogada neste buraco horrível. Todos os dias eles me batiam. As
noites eram piores e então seria aquele buraco. Havia ratos e insetos.
Mas eu acreditei que merecia. Eu não valia nada. Eu não era grata o
suficiente pelas coisas que eles forneceram para mim, pela maneira
como me trataram antes, que, aliás, não tinha sido muito melhor.
Acima de tudo, eu merecia, porque fui responsável por obrigar meu
pai a trabalhar da maneira que trabalhava naqueles países.
Stella deu meia-volta nos jardins. Isso parecia loucura, mas as

crianças pensavam as coisas mais estranhas. Ela ficou quieta,
deixando sua amiga lhe contar como seu eu adolescente chegou a
essas conclusões.
Os outros dois cães chegaram perto de Shabina, um de cada

lado dela. — Comecei a pensar que se não quisesse que meu pai me
comprasse sapatos novos para a escola, ou uma mochila nova, ele
não teria querido abrir uma empresa que ganhasse tanto dinheiro.
Foi minha culpa que ele precisasse ganhar tanto dinheiro. Cresci
muito rápido e eles tiveram que continuar comprando roupas novas
para mim o tempo todo. Se eu não estivesse crescendo, ele não teria
que trabalhar tanto. Não teríamos que viajar para tantos outros
países e nos colocar em risco.
Houve silêncio enquanto as duas mulheres olhavam para os

jardins. Stella amava sua própria casa, mas se tivesse que escolher
outra, apenas pelo terreno, ela gostaria de morar aqui. Depois que
os portões foram fechados, era como se estivessem em seu próprio
mundo. Ela se sentia assim no resort.
337
Livro Único
— Você teve tanta sorte de encontrar este lugar, Shabina. É

realmente extraordinário.
— Raine encontrou para mim.
— Eu não sabia disso.
Shabina acenou com a cabeça. — Naqueles primeiros dias, eu

ainda tinha muito medo. Eu estava determinada, mas com medo.
Você conhece Raine e suas habilidades com o computador. Ela sabia
tudo o que havia para saber sobre mim em provavelmente duas
vírgula, cinco segundos depois. Ela sabia que eu estava procurando
uma casa, um pedaço de propriedade, com alguns motivos para
isso. Eu disse ao corretor que queria jardins e terra suficiente para
passear e exercitar os cães, mas acho que Raine sabia do que eu
precisava. Esta foi uma venda privada. Ela me deu um tour. No
momento em que vi, soube que era isso que eu queria. A cozinha é o
sonho de um chef. Os motivos são inacreditáveis. E há suítes, então
quando meus pais vierem, mesmo que haja uma casa de hóspedes
em que eles não vão ficar eles podem usar uma das suítes.
— Eles não vão ficar na casa de hóspedes? Stella repetiu.
— Não. Sem chance. Minha mãe diz que se recusa a desistir

das conversas noturnas de garotas e, para ser sincera, gosto delas.
Eu também não quero desistir deles. Papai diz que não quer desistir
de invadir a geladeira, que morre de fome sem eu em casa para
cozinhar.
— Eu pensei que sua mãe cozinhava.
— Ele afirma que ela desistiu de cozinhar os bons pratos em

favor do tipo que deveria ser saudável. Shabina riu. —
Naturalmente, ele diz isso na audição dela, então ela o persegue
pela sala, apenas para que ele possa deixá-la pegá-lo.
— Seus pais parecem adoráveis, Shabina.
338
Livro Único
— Eles são adoráveis. Muitos casais não teriam sobrevivido ao

trauma de sua única filha ter sido levada e partida por tanto tempo,
mas isso os tornou mais fortes. Eles têm um vínculo que parece
inquebrável. Eu quero isso para mim, mas... Ela parou e balançou a
cabeça. — Acho que é preciso realmente sair ou ser amiga de um
homem antes que eles possam ter um vínculo inquebrável.
Stella riu. — Isso é verdade. Pobre Sam, ao ouvi-lo falar, ele

travou uma campanha secreta nos últimos dois anos porque eu
estava tão fechada para a ideia de um relacionamento.
— Sam é tão impossível de ler, disse Shabina. — Eu o

observava no Grill quando todos estávamos juntos. Ele sempre veio.
Ele e Denver parecem ser bons amigos. E é muito claro que Carl
Montgomery gosta dele. Carl não ficou muito feliz com você
roubando Sam debaixo dele. Ele me disse que é difícil encontrar
bons trabalhadores e Sam foi um dos melhores que ele já teve.
Qualificado e com boa ética de trabalho. Por aqui, com os sujos
chegando, você simplesmente não consegue essa combinação com
frequência.
— Éramos uns idiotas, Shabina, disse Stella. — Nós viemos

aqui e nem sabíamos que éramos considerados idiotas.
— Tomei banho diariamente. Shabina começou a rir. —

Aluguei uma casa por causa dos cães. Mas estávamos falando sobre
Sam. Ele sempre se sentava naquela banqueta um pouco afastado de
nós, uma banqueta acima ou apenas longe de nossa mesa. Seu rosto
estava nas sombras. Você notou isso?
— Eu percebi tudo sobre Sam, admitiu Stella. — Denver

geralmente se sentava ao lado dele. Às vezes, se Carl entrava, ele
entrava. E de vez em quando, Craig. Aposto que você percebeu
quando Craig entrou, embora ele não estivesse de uniforme.
Stella cutucou Shabina.
339
Livro Único
Shabina riu novamente. — Você é horrível. Vê por que sempre

acabo corando quando alguma de vocês menciona o pobre Craig? A
questão é que era impossível dizer o que Sam estava pensando ou
sentindo. Ele simplesmente estava lá, mas não dessa forma
assustadora, mais como uma forma protetora.
Isso surpreendeu Stella. — Você teve esse sentimento com ele?
— Na maioria das vezes, sim. A menos que Sean e sua equipe

estivessem me insultando na pista de dança, e então ele
simplesmente se aproximou e vibrações intensas e ameaçadoras
derramaram dele. Ele não precisava dizer nada. Ele apenas olhava
para eles e geralmente saíam ou voltavam para o bar. Ele pode ser
assustador. Devo saber, tive detalhes de proteção a maior parte da
minha vida.
— Eu apenas olhei para ele e esperava não deixar escapar algo

estúpido como se ele fosse totalmente lindo ou incrivelmente doce,
admitiu Stella. — Zahra gosta de me atormentar com Moscow
Mules quando vou ao Grill com ela, ou pior, mojitos, porque bebo
muitos deles sem perceber que estou fazendo isso, então digo coisas
que não deveria.
— Ele é fofo? Shabina perguntou.
Stella acenou com a cabeça. — Nos últimos dois anos,

enquanto ele trabalhava para mim, ele nunca me fez perguntas.
Nunca me coloque no local. Se eu tivesse o pior dia de todos, com
alguns dos convidados gritando até a morte comigo, eu iria para
casa e ele estaria no meu deck, grelhando o melhor jantar de todos.
Ele apontaria para um refrigerador e haveria cerveja gelada nele. Ele
não esperava que eu falasse. Ele não falava. Eu poderia entrar e me
trocar, colocar meus pés para cima e sentar na minha cadeira de
balanço enquanto ele fazia o jantar. Nós comíamos e ele ia embora.
Às vezes ele lavava a louça. Às vezes, se o dia estivesse muito ruim,
ele assistia meu filme favorito, Moulin Rouge! Comigo. Acho que ele
340
Livro Único
pensou que eu era uma idiota por chorar, mas ele apenas me
entregou a caixa de lenços.
— Uau, quem diria que eram os tipos silenciosos que podiam

ser tão fofos quando era necessário?
— E ele ama Bailey, o que era essencial, e Bailey o ama de

volta. Você sabe como Bailey é com todo mundo. Ele gosta de
pessoas, mas é totalmente dedicado a mim. Ele incluiu Sam comigo.
Mais ou menos como se fôssemos a mesma pessoa. Eu nem sei
quando isso começou a acontecer. Eu não percebi ou poderia ter
ficado com ciúmes.
— Como está Bailey?
Stella suspirou. — Pobre bebê quer voltar para casa e eu quero

ele em casa. Sam vive me dizendo que queremos que ele receba o
melhor atendimento possível. Eu sei que Amelia está dando isso a
ele, mas ele não gosta de ficar longe de nós.
— Enquanto você está trabalhando nisso, suponho que seja

uma coisa boa ser um pouco móvel e não estar amarrada a casa,
disse Shabina, olhando para os desenhos novamente. — Eu gostaria
de poder ser de mais ajuda. Este é definitivamente a Zona D7. Seu
caçador caminhou seis milhas. Eu não acho que ele foi muito longe,
porque ele está puxando muito equipamento. Duvido que ele seja
local. Talvez se você conseguir descobrir como o assassino vai
realmente conseguir matar sua vítima, isso ajude. Quer dizer, ele
está no alto de uma árvore. Ele não pode se esgueirar por trás dele e
subir sem ser visto. Ele não pode empurrá-lo para fora da árvore,
novamente porque ele está muito alto. Como ele realmente o mata?
Você tem alguma ideia?
Essa era uma boa pergunta e Stella também se perguntava

isso. Se ela estivesse sentada em uma árvore, a salvo de um serial
killer, como o assassino iria chegar até ela? Se ele tentasse subir na
mesma árvore, a vítima estava armada. Ele não atiraria? Ou ele se
341
Livro Único
sentiria ameaçado? Como o assassino faria parecer um acidente? Na

maioria das vezes, um caçador se atrelava ao suporte da árvore.
Stella sabia, porque ela tinha lido tudo sobre isso quando Sam disse
a ela o que era.
— Alguém tão no alto de uma árvore deve ser capaz de ver

alguém se aproximando, certo? Shabina perguntou. — Não sei
muito sobre talhões de árvores, mas para que tenham alguma
utilidade, precisam estar bem no alto da árvore.
— Sam disse de 3 a 10 metros.
— Então, como o assassino espera chegar até sua vítima sem

que ela o enfrente? Shabina perguntou.
— Ele não saberia que era um assassino em série, ressaltou

Stella. — Ele é apenas mais um caçador amigável de passagem.
— Os caçadores se visitam? Isso não anula o propósito? Se o

cara esperar em seu suporte de árvore por um veado passar e outro
caçador parar debaixo de sua árvore e começar a falar, ele não
assustaria todos os veados?
— Talvez tenhamos entendido tudo errado e o assassino em

série seja o que está na arvore, aventurou-se Stella de repente. — —
Poderia ser isso? Ele se senta lá esperando e vem um caçador
desavisado. Ele o atraiu com algum tipo de som de cervo e então o
matou e fez parecer que era sua arvore o tempo todo. Isso é
plausível?
Shabina franziu o nariz. — Eu não sei Stella. E a compra do

estande da árvore? Isso seria rastreável. Não é como se o assassino
pudesse descobrir uma maneira de colocá-lo no cartão de crédito da
vítima. Mesmo que ele pague em dinheiro, é um grande salto.
Stella deu um gritinho de aborrecimento absoluto. — Essa

coisa toda é tão frustrante. É um grande salto pensar que
poderíamos encontrar uma única árvore em uma floresta inteira. Se
342
Livro Único
este assassino em série está realmente brincando comigo, ele deve

estar rindo loucamente agora.
— Eu só não acho que ele está sabendo de você.
— Isso é o que Sam diz, mas por que não?
— Porque como ele poderia saber? Não é como se você fosse à

mesma pessoa.
— Talvez ele tenha ido para a escola comigo. Eu não posso ter
mudado tanto na aparência. Nunca encontrei ninguém com quem
fui à escola, mas é possível que me tenham visto e eu não os vi.
Shabina suspirou. — Honestamente? Eu não pensei nisso.
Stella mordeu o lábio inferior. — Você tem ideia de quantas

pessoas vêm aqui para escalar ou fazer caminhada? Há um milhão
de coisas para as pessoas fazerem e é tão lindo. Recebemos
visitantes o tempo todo. Estou sempre ocupada durante a
temporada. Eu não notaria ninguém daquela época, não quando
minha mãe adotiva tinha câncer e um serial killer estava à solta.
Meu mundo estava desmoronando novamente.
— Você me disse que o serial killer tem que ser alguém com
quem você entrou fisicamente em contato ou você não teria
pesadelos. Essa foi uma das razões pelas quais você não queria
contar a nenhum de nossos amigos do sexo masculino, ressaltou
Shabina.
— Eu posso ter entrado em contato com alguém com quem

estudei, Stella disse. Ela duvidou disso. Naquela época, ela ficava
sozinha. Ela não confiava em ninguém e não tinha amizades. Se ela
estivesse cara a cara com alguém de sua escola, perto o suficiente
para tocá-los fisicamente, ela se lembraria deles? Ela pensava assim.
Sua mente tendia a ser obsessiva com detalhes.
343
Livro Único
— Eu quero que seja alguém do meu passado, Shabina, ela

admitiu. — Mas eu não acho que seja. Acho que é alguém próximo a
mim aqui. Alguém da cidade. Um dos negócios.
— Como Sean.
Stella tentou imaginar Sean como um assassino em série. Ele

era incrivelmente forte. A maioria dos escaladores era, e Sean era
um guarda florestal. Ele conhecia os animais, mas, novamente, a
maioria daqueles na área eram caçadores. Eles conheciam a
anatomia dos animais.
— E quanto a Edward? O que sabemos sobre ele? Bale é o líder

do grupo, e Jason meio que fica no limite. Sean é um idiota, mas
Edward está bem no meio disso, mas ele é tão quieto que eu o
ignoro, Stella disse. — Ele sobe. Ele caça. Ele pratica muitos esportes
de inverno, certo? Esse é o tipo de coisa dele.
— Ele nasceu bem na cidade, disse Shabina. — Eu ouço tudo

no café. Ele foi criado por sua avó. Ainda mora na mesma casa, pelo
que entendi. Ele herdou depois que ela morreu. Uma das mulheres
da cidade estava conversando com sua amiga na hora do almoço um
dia - isso foi há alguns anos - e ela mencionou que ele a levou de
volta para casa depois de um jantar. Ela disse que a casa era super
assustadora. Havia guardanapos de renda por toda parte, que os
móveis e quadros e tudo mais pareciam fora do tempo, como se
nada tivesse sido tocado desde os dias de sua avó. Estava escuro,
com cortinas velhas e pesadas cobrindo as janelas. Ela não gostava
do cheiro da casa, como bolas de naftalina velhas ou algo assim. De
qualquer forma, ela não conseguiu relaxar e acabou indo para casa
antes que algo acontecesse. Ela nunca mais saiu com ele.
— Que estranho. Ele parece um homem moderno. Ele tem

todos os brinquedos e equipamentos mais recentes, disse Stella. —
Sua caminhonete, seu equipamento de escalada, snowmobile, tudo,
344
Livro Único
Shabina suspirou. — Vamos dar um passeio pelos jardins. Isso não

está nos levando a lugar nenhum. Lamento não poder ajudar mais.
— Foi um tiro no escuro. Eu sabia quando trouxe isso para

você, Stella admitiu. Ela seguiu Shabina para fora, os três
dobermans correndo com elas. Inalando o ar fresco de outubro, ela
tomou um momento para saborear o fato de que não sentia ninguém
olhando para ela. Ela poderia relaxar. Talvez ela só precisasse morar
com Shabina por alguns dias para um descanso.
Capítulo 16
O corpo do caçador, Victor Bane, foi encontrado quase

imediatamente por seu irmão, Lawrence, que foi procurá-lo pouco
antes do pôr do sol. Parecia que Victor havia caído de sua arvore e
quebrado o pescoço. Seu irmão ficou muito confuso com o
“acidente”, já que Victor sempre tomava precauções de segurança
e usava fielmente seu cinto.
Lawrence ele mesmo tinha embalado o equipamento de

Victor. Lawrence foi quem montou o suporte da árvore e fez com
que Victor se sentisse confortável e tivesse tudo de que precisava
antes de deixar o irmão com seu esporte favorito. Victor era bom em
caça. Era ele quem normalmente fornecia a carne para o inverno e
tinha orgulho de suas habilidades. Ele tinha esclerose múltipla e às
vezes tudo o que podia fazer era caminhar e fazer as mochilas nas
trilhas, mas ele conseguiu. Ele caçava em uma arvore agora, mas
ainda era preciso. Ele nunca atirou se suas mãos estivessem
trêmulas.
Nada sobre o “acidente” fazia sentido. Lawrence ficava

repetindo isso indefinidamente para quem quisesse ouvir. Victor
345
Livro Único
não teria tentado descer sem ele estar bem ali. Se ele atirava em um
cervo, eles usavam walkie-talkies para se comunicar. Lawrence teria
vindo. Se houvesse uma emergência, ele tinha um telefone via
satélite.
Vienna disse a todos que o legista achou suspeito que o dedo

anular esquerdo tivesse duas rupturas exatamente nos mesmos
lugares que os alpinistas e James Marley. Ela até fez o xerife entrar e
dar uma olhada. Ele não parecia pensar, mesmo com quatro pessoas
tendo exatamente as mesmas rupturas no mesmo dedo, que ele
poderia construir qualquer tipo de caso. Cair de árvores não era tão
incomum, e quando você adicionava esclerose múltipla à mistura,
era lógico que um acidente era um acidente. O legista tomou um
drinque com Viena e expressou suas preocupações. Ela disse que
quatro pessoas com exatamente as mesmas quebras exatamente no
mesmo dedo estavam empurrando os limites da coincidência para
ela. Quando Vienna a empurrou, perguntando o que ela estava
considerando, o legista recuou, dando de ombros, apenas
balançando a cabeça.
Stella não podia culpá-la. Quais eram as chances de um

acidente de escalada no Monte Whitney, um acidente de pesca no
Lago Sunrise e um acidente de caça na Floresta Nacional de Inyo
estarem de alguma forma interligados? Se o xerife não achava que
dedos quebrados eram suficientes para construir um caso - e ela
sabia que ele estava certo - então o que ela iria fazer? Stella também
não o culpou.
Mesmo que ele achasse que havia motivos para pensar que a
morte de Victor não foi um acidente, não havia testemunhas. Não
havia absolutamente nada, nenhuma evidência que sugerisse que
um serial killer o havia assassinado. Esse era o perigo deste
assassino. Além de sua “assinatura” do dedo quebrado, não
havia como identificar suas mortes.
346
Livro Único
Stella chorou pelo caçador, mas ela quase se resignou ao fato

de que não seria capaz de salvá-lo. Simplesmente não havia pistas
suficientes para encontrá-lo a tempo.
Shabina ligou e perguntou se Stella queria vir para uma noite

das meninas em sua casa. Sam insistiu que ela fosse que ela
precisava de pelo menos uma noite de folga antes que Bailey
voltasse e o assassino atacasse novamente, já que seu cronograma
parecia estar ficando cada vez mais curto. Sam estava com medo de
que isso significasse que ele estava se desenrolando.
Era bom apenas vestir seu par de leggings favoritos e uma

camisa longa, comer pizza e estar com suas amigas. Stella achou
estranho ficar sem Bailey, mas os dobermans de Shabina, Jack
Russell de Raine e o beagle de Harlow estavam todos lá. Zahra
havia perdido seu cachorro dois anos antes e continuava a vacilar
entre conseguir outro cachorro ou um gatinho preto. De onde ela
tirou essa ideia, ninguém sabia. Ela ficou com o coração partido
quando ela perdeu seu amado pastor de pelo áspero metade dos
Pirineus31 e metade algo que ninguém conhecia.
Seu enérgico Elara cinza, preto e branco tinha nove quilos de

pura diversão. Zahra continuou a dizer que se ela tivesse outro
cachorro, ela teria a mesma combinação, embora ela jurou que Elara
a desgastou, “forçando-a” a levá-la para correr cem vezes por dia.
Todos sabiam que Zahra não gostava de correr. Ela compartilhava
da visão de Stella sobre o passatempo. Correr era legal, mas correr
era a pior coisa possível no mundo. Por seu cachorro, ela se
sacrificou com muitas reclamações.
31
O Pastor-dos-pirenéus é uma raça de cão originário da França monitoramento pastor, é
composto de duas variedades diferentes: o pastor-dos-pirenéus-de-pelo-longo e o Pastor-dos-pirenéus-
de-pelo-curto. Esta raça do cão é muito antiga, o cão mais velho é pastores francês, mas na realidade,
suas origens são desconhecidas. Sua origem e sua história é suposto para ser o mesmo, do que os outros
cães de pastor Europeu descendentes de asiáticos cães.
347
Livro Único
Stella sentou-se como as pernas dobradas no chão da grande

sala de Shabina com seu tapete luxuoso onde se podia praticamente
nadar. A enorme lareira de pedra estava acesa, as chamas
queimando em laranja e vermelho, projetando imagens nas paredes.
Em vez de se sentar em sofás e cadeiras aconchegantes, todas as seis
mulheres se sentaram no chão, usando os móveis como apoio para
as costas. Nos últimos anos, elas se sentiram confortáveis sentados
dessa maneira. No centro do círculo havia tigelas de pipoca e
pequenas barras de chocolate que Shabina fizera para a noite.
— Vou ganhar muito peso esta noite, Zahra gemeu ao escolher

outra das barras. — Eu não comeria, mas só de olhar para ele
colocava peso nas minhas coxas, então eu poderia muito bem
apreciá-lo.
— Existe uma coisa chamada exercício, disse Stella. — Miguel,

nosso personal trainer, ainda está na discagem rápida.
— Não diga o nome dele para mim, Zahra fungou indignada.

— Ele não existe mais. Não depois de me dizer que tenho que passar
meu distintivo na mesa se quiser na aula dele.
As outras mulheres começaram a rir. — Você nunca passa seu

distintivo, Zahra, Harlow apontou. — Na verdade, você não traz seu
distintivo.
— Se ele não sabe quem eu sou agora, há algo muito errado

com ele. Os olhos escuros de Zahra estavam apaixonados como
normalmente ficavam quando ela falava muito sério sobre um
assunto. — Miguel Valdez pode pegar o seu crachá de que tanto
gosta e enfiá-lo onde não quer falar. Além disso, ele é tão mau
comigo quando nos faz treinar.
Stella revirou os olhos. — Nem mesmo vá lá. Você faz uma

pequena reclamação e para você ele muda o treino, mas ele me faz
fazer o mesmo programa horrível e extremamente difícil, não
importa o que aconteça. E é sempre fácil para você. Você nunca suou
348
Livro Único
e pareço ter mergulhado em uma piscina. Meu rosto está vermelho

como uma lagosta, até meus cílios estão suados, e Miguel está ali
ajudando você a se levantar e olhando em seus grandes olhos
castanhos.
As outras começaram a rir. Harlow jogou um pedaço de

pipoca em Zahra. — Stella tem razão. Eu malho o tempo todo e você
fica deitada reclamando sobre como é difícil correr e então você
simplesmente sai e corre, falando o tempo todo, nunca ficando sem
ar ou coisas para dizer enquanto estou desmaiado.
Zahra ergueu as sobrancelhas escuras e olhou para todos

sobriamente, parecendo séria e inocente. Nenhum delas estava
acreditando nisso.
— Você também é um flerte, acusou Vienna. — Não há um

homem na cidade, não importa a idade, que não esteja apaixonado
por você. Eu estava fazendo malabarismo com três sacolas de
mantimentos e você tinha uma. Uma. Dois adolescentes bobos se
aproximam e é, ‘Oh, Zahra, posso carregar isso para você?’ Ela usou
uma voz adolescente e revirou os olhos.
Zahra encolheu os ombros e examinou as unhas, com um

pequeno sorriso nos lábios. Até isso era atraente. — Não posso
evitar se esses meninos são educados, Viena. Você os encara quando
tentam ajudar. Você fala da independência das mulheres. Eu só
quero ser independente quando me for conveniente. Tirar o lixo não
combina comigo. Fazer os exercícios de tortura de Miguel e passar
meu crachá certamente não combina comigo. E detesto correr, a
menos que tenha meu cachorro comigo, o que não faço mais, então
correr é uma tarefa árdua. Eu até odiava então, mas eu fiz isso por
ela.
— Eu juro, vou comprar outro cachorro para você, Harlow

reclamou.
349
Livro Único
— Tenho pensado que deveria ser uma senhora dos gatos

como Vienna. Ela tem um gato branco e eu vou pegar um gato preto
e chamá-la de Matilda.
— Você precisa de um cachorro para correr com você, Raine

disse com firmeza. — Coma outra barra de chocolate.
Zahra obedientemente escolheu uma e deu uma mordida,

novamente gemendo como se estivesse em êxtase. — Quem precisa
de um homem quando temos as ‘barras’ de Shabina?
Houve outra rodada de risadas. Stella encostou a cabeça no

sofá, grata por ter tão boas amigas. Sam estava certo, ela precisava
delas - precisava da proximidade delas. A risada que elas
compartilharam. Ainda assim, elas se reuniram com um propósito.
Ela poderia dizer que havia uma tensão subjacente entre elas. Elas a
queriam confortável e suave, com um humor suave, confiante e
aberto.
Ela pegou uma das barras de chocolate e olhou para as amigas.

— Você pode muito bem ir ao assunto principal, porque eu sei que
você quer falar comigo sobre algo. Nenhuma de vocês tem cara de
pôquer, exceto Viena. Ela riu de sua própria piada. Foi um pouco
significativo que nenhum delas realmente riu com ela. Elas sorriram,
mas não riram. Na verdade, elas pareciam inquietas.
Stella se endireitou um pouco mais. Ela olhou ao redor da sala

de estar de Shabina para todas as suas amigas. Elas pareciam
preocupadas e ninguém parecia querer trazer à tona o que os estava
incomodando. Ela olhou para Zahra. Ela nunca entendeu o que era
sobre Zahra que ela gravitou desde o início. Elas tinham
personalidades muito diferentes, mas ela sabia, mesmo que soasse
estranho, elas eram almas gêmeas. Ela podia contar com Zahra.
— O que está acontecendo? Todos nós temos nossas bebidas.

Estamos confortáveis, ou deveríamos estar, mas parece que alguém
350
Livro Único
está prestes a fazer panqueca do seu melhor amigo. Eu tive muitos

golpes nas últimas semanas, então apenas acabe com isso. Diga-me.
As mulheres trocaram longos olhares entre eles. Stella tomou

um gole de sua margarita e desejou ter Bailey para confortá-la.
Não foi Zahra, mas Vienna, quem respondeu. — Falei com

Amelia Sanderson, a veterinária, sobre Bailey e seus ferimentos.
Imediatamente, Stella ficou tensa, temerosa de que Amelia

pudesse ter dado a Viena má notícias que ela não teria dado a Stella,
talvez efeitos de longo prazo que Bailey sofreria.
— Dado o número de facadas em seu corpo, seu tamanho e

poder, o fato de que ele foi esfaqueado enquanto atacava e ainda
assim nenhum dano maior foi feito em seus órgãos internos, quem
quer que tenha usado aquela faca nele tinha que saber o que eles
estavam fazendo. Eles sabiam anatomia.
Stella franziu a testa, os olhos fixos nos de Vienna, tentando

compreender o que sua amiga queria dizer. — Você está dizendo
que quem esfaqueou Bailey não queria matá-lo.
— Amelia disse que o atacante tinha uma faca grande e

poderia ter matado Bailey, mas não o fez. Ele socou cerca de cinco
centímetros e rasgou, abrindo lacerações, mas evitando quaisquer
órgãos internos. Bailey tinha atacado, provavelmente o mordeu.
Havia sangue em seus dentes. Ele talvez tivesse um braço na boca.
O homem tinha que ser forte e ele tinha que ficar calmo durante
todo o ataque. Isso requer alguém incrivelmente bem treinado.
Viena ficou em silêncio. As outras mulheres evitaram o olhar

de Stella. Ela tomou outro gole de sua margarita gelada. Morza, um
dos Dobermanns, levantou-se e caminhou até Stella para se abaixar
ao lado dela. Ele sempre foi seu favorito dos três.
351
Livro Único
— Olá bebê. Você também sente falta de Bailey? Stella

continuou a encontrar os olhos de Vienna. Ela estava indo a algum
lugar com isso. — Estou ouvindo.
— Estava escuro. Você estava correndo em direção a eles. O

atacante teve apenas alguns segundos e ainda assim ele recebeu
quatro punhaladas, Stella. Isso garantiria que você teria que levar
Bailey montanha abaixo ao veterinário o mais rápido possível para
evitar que ele sangrasse. Uma ambulância transportaria Sonny.
Stella franziu a testa. — Eu sei de tudo isso, eu estava lá,

lembra?
— Querida, disse Zahra, gentil com ela. — Pense em como

esse invasor deve estar calmo. Quão forte. Quantos homens você
conhece assim?
— Quantos homens sabem anatomia? Viena persistiu.
Stella encolheu os ombros. — A maioria dos homens nesta

área caça carne para levar suas famílias durante o inverno. Eles são
incrivelmente fortes porque escalam e empacotam suas matanças.
Eles conhecem anatomia porque cortam a carne e a embalam. Você
não está eliminando suspeitos.
— Quem você conhece que poderia manter a calma durante o

ataque de um cão feroz pesando 15 quilos? Bailey é todo músculo. O
atacante teria que enfiar deliberadamente o braço na boca de Bailey
e apunhalá-lo repetidamente, sabendo que você estava correndo na
direção deles. Ele colocou Bailey no chão e recuou calmamente,
provavelmente observando você cuidando de seu cachorro
enquanto o xerife vinha ajudar. Quem você conhece que é tão forte e
absolutamente frio sob o fogo?
Ela piscou. Seu estômago embrulhou. Sam. Elas estavam

falando sobre Sam. Ela olhou para cada uma de seus rostos. Viena.
Zahra. Shabina. Harlow. Raine. Raine era a única que não parecia
352
Livro Único
convencida. Na verdade, parecia que as outras estavam tão erradas

que ela pensava que eram malucas. Claramente, ela argumentou
contra o raciocínio delas.
Stella balançou a cabeça lentamente. Ela não entendia como

alguma delas poderia pensar que o assassino em série poderia ser
Sam. Ele não era assim. Ele poderia matar se precisasse, mas não
mataria indiscriminadamente. — O serial killer não é Sam. Você não
acha que eu saberia? Estou dormindo com ele, pelo amor de Deus.
Ninguém disse nada. Stella suspirou e tentou novamente. —

Por um lado, Vienna, ele estava com você em Whitney quando os
dois escaladores foram jogados sobre a borda.
— Mas ele não estava. Nós nos separamos.
Stella a fulminou com o olhar, não porque pensasse que Sam

era culpado, mas porque isso colocava Viena em perigo. — Você
prometeu que os dois iriam ficar juntos. Você tem ideia de quanto
perigo você correu? Você poderia ter morrido.
— Decidi que o assassino estava procurando um casal, não

uma mulher solteira ou um homem solteiro. Corríamos mais perigo
juntos, argumentou Vienna. — Tínhamos claramente perdido os
alvos pretendidos e não sabíamos por que, então nos dividimos para
cobrir mais terreno. No final, não importou. Chegamos tarde
demais. Então, não, eu não estava com ele.
— No entanto, Sam não é o assassino em série. Ele foi atacado

primeiro. Lembrar? Eu estava lá. Eu mergulhei na água. Eu vi
alguém em um traje de mergulho tentando afogá-lo. Aquele
mergulhador me bateu no rosto e depois me chutou no peito. Você
acha que estou inventando isso para protegê-lo?
Ela fez o possível para manter a beligerância fora de sua voz.

Ela teve que se lembrar de que essas eram suas amigas e elas tinham
preocupações reais. Elas queriam que ela ficasse segura. Do ponto
353
Livro Único
de vista delas, Sam pode ser uma escolha lógica. Elas não o
conheciam como ela. Ele podia ser intimidante às vezes, ela podia
reconhecer isso. Havia todos os tipos de rumores sobre ele. Até
Denver, seu amigo mais próximo, a advertiu sobre ele. Raine disse a
ela para ser cautelosa sobre o relacionamento.
— Ninguém acha que você mentiria para proteger Sam, Stella,

disse Vienna. — Mas o fato é que ele poderia ter tido ajuda. Ele
poderia ter armado aquele ataque a si mesmo facilmente. Ele mal
tinha um arranhão na cabeça. Certamente não o suficiente para
perder a consciência.
— Ele me disse que não tinha perdido a consciência, admitiu

Stella. — Não é ele. Por um lado, ele não teria que arrombar a casa,
ele conhece o código para entrar, e alguém tentou entrar depois do
ataque a Sonny. E eu veria marcas de mordidas em seu corpo por
causa de Bailey. Eu realmente o vejo nu. Mais do que tudo isso, eu o
conheço. Não é ele.
— É melhor você ter certeza, Stella, disse Harlow. — Pessoas

que você ama podem ser monstros.
— Meu pai é um assassino em série, Harlow, Stella apontou

em voz baixa. — Acho que sei muito bem como as pessoas que
amamos podem ser monstros. Também sei que os assassinos podem
ter episódios repentinos de enorme força. Eu sei que os caçadores
nesta área são fortes. Eles sabem anatomia. Os escaladores são fortes
e muito calmos em momentos de crise extrema. Temos muitos
alpinistas na área que também são caçadores. Posso dizer com
certeza, sem reservas, o assassino em série não é Sam.
— E você viu seus braços desde o ataque a Bailey? Viena

persistiu. — Sinto muito por pressionar tanto, Stella, acrescentou ela
quando Stella fez uma careta, — mas nós amamos você e temos que
ter certeza absoluta de que você está segura.
354
Livro Único
Stella tomou outro gole de sua margarita e, em seguida,

balançou a cabeça lentamente, dando-lhes deliberadamente os olhos
escurecidos com "memórias" sexuais. — Eu vi ambos os braços,
pernas, bem como todo o seu corpo lindo. Inúmeras vezes devo
acrescentar. Não havia uma única marca de mordida que eu mesmo
não tivesse colocado lá. Ele não gosta de usar roupas para dormir e
gosta de me acordar de maneiras muito interessantes. O que
acontece com Sam é que ele é muito bom em tudo o que faz. Você
percebeu isso? Ele está focado. Muito, muito focado.
— Pare, disse Harlow e pressionou as duas mãos sobre os

ouvidos.
— Não, você precisa saber o quão focado ele fica, então você
entende que eu aprendi esse mesmo foco com ele. Ele inspeciona
cada centímetro quadrado de mim com a língua. Eu não posso te
dizer como é isso. Como ele faz esse delicioso movimento de
borboleta que me dá vontade de gritar e ele ainda nem chegou às
partes boas...
— Stella, gemeu Shabina. — Dê-nos um tempo.
— Apenas me certificando de que eu o inspeciono

completamente e ele é super grande... Bem... Naquele departamento,
então eu passo um pouco de tempo lá. O cachorro não fez nenhum
dano lá e eu ficaria muito chateada se ele tivesse. Eu teria relatado
isso imediatamente.
— Isso vem sob o título de TMI32, Raine disse. — Até eu tenho

que me opor.
Zahra jogou o travesseiro, acertando Stella bem no rosto. — Eu

não quero olhar para aquele homem e me perguntar sobre seu
pacote. Não diga outra palavra.
32
TMI - sistema de referência de rumo Attitude foi projetado especificamente para inspeções
superficiais e profundas.
355
Livro Único
Stella estava se divertindo muito. Suas amigas estavam

horrorizadas ou rindo, ou fazendo as duas coisas ao mesmo tempo.
— Eu quero que você saiba como é totalmente impossível para

o assassino ser Sam quando eu examinei seu corpo com o mesmo
foco absoluto e atenção que ele coloca no meu. Nenhum arranhão
das garras de Bailey, mas existem alguns de mim no meio de...
Uma chuva de travesseiros veio em sua direção enquanto as

outras mulheres os jogavam, jogando-os rapidamente com todos os
travesseiros que Shabina tinha no quarto que pudessem colocar as
mãos. Stella quase deixou cair sua margarita no tapete. Ela mal
conseguiu colocá-la na mesinha de canto, ela estava rindo tanto e se
esquivando do ataque do travesseiro.
— Nunca vou tirar essas imagens da cabeça, disse Harlow. —

ECA. Muito obrigado.
— Eu poderia ter sido muito mais descritiva, mas Sam é muito

reservado, disse Stella. — E você sabe, ele provavelmente está com o
quarto grampeado ou algo assim, já que ele era um agente secreto.
Ela sussurrou as duas últimas palavras.
Instantaneamente, as mulheres ficaram sérias e se

entreolharam e, em seguida, ao redor da sala. Raine pegou um dos
travesseiros rebeldes e enterrou o rosto nele.
— Ele era um agente secreto? Zahra repetiu. — Como James

Bond?
— Ele realmente não conseguiria colocar escuta na minha casa.

Minha segurança é muito boa, disse Shabina. Suas sobrancelhas se
juntaram. — Raine? Alguém poderia realmente hackear minha
segurança?
Raine tentou parecer muito séria. — Suponho que James Bond

poderia. Ela começou a rir. — Vocês todas são tão fáceis.
356
Livro Único
Vienna fez uma careta para ela. — Estamos falando sobre

assassinos implacáveis, Raine. E somos mulheres indefesas sozinhas
em uma casa enorme em uma noite escura e tempestuosa. Todas
elas olharam para as janelas. O vento soprava, mas não havia chuva.
Na verdade, a lua e as estrelas estavam aparentes.
— Por curiosidade, quantas de vocês estão armadas? Shabina

perguntou.
Stella ergueu a mão. Shabina, Raine, Harlow e Vienna

levantaram as mãos.
Zahra ergueu as sobrancelhas. — Mesmo? Eu sou a única sem

arma?
— Você tem algum tipo de arma com você, disse Stella. — Eu

conheço você, Zahra.
— Nada tão bruto quanto uma arma.
— Então, não está tempestuoso e não estamos tão indefesas,

Raine concluiu.
Todas elas começaram a rir novamente. Vienna encolheu os

ombros e serviu-se de outra bebida da jarra na mesinha de centro. —
Eu entendi a parte sobre estar escuro, certo.
— Armas são rudes? Stella repetiu. — Desde quando?
— Elas são pesadas. Quando você está caminhando na trilha,

com aquelas mochilas horríveis que você insiste que eu carregue,
elas só acrescentam mais peso. Tornei-me minimalista, declarou
Zahra.
Outra rodada de risadas começou. Com grande dignidade,

Zahra se levantou, contornou Stella e os cachorros e encheu o copo
com o conteúdo da jarra.
357
Livro Único
— Eu não entendo porque vocês estão rindo. Você ao menos

sabe o que é minimalista? Zahra perguntou, com o nariz empinado.
Ela voltou para seu lugar, recolhendo travesseiros enquanto
caminhava. — Estes são realmente bons, Shabina, onde você os
conseguiu? Você sempre encontra as coisas mais legais para sua
casa.
— Babe, Harlow objetou. — Você não pode comprar

travesseiros para sua casa se for minimalista.
Zahra deu um gole em sua bebida e fez uma careta para

Harlow por cima. — Claro que eu posso. Sou minimalista quando se
trata de equipamentos. Cada um de vocês tem equipamento
suficiente para abrir uma loja de esportes. Stella, você já jogou fora
um pedaço de equipamento de escalada, não importa quantos anos
ele tenha?
Stella abriu a boca, fechou-a e balançou a cabeça. — Não ligue

os holofotes para mim. Não sou eu que estou dizendo que as armas
são rudes e pesadas. Que tipo de arma você trouxe?
Zahra deu um de seus sorrisos misteriosos. Ela poderia

facilmente ter posado para uma pintura artística com aquele lindo
sorriso que não revelava nada. — Uma arma antiga que requer
habilidades, mas pode ser mortal nas mãos certas.
— Você teve que praticar para poder usá-lo? Shabina

perguntou.
— Você realmente levantou uma de suas unhas bem cuidadas

para aprender? Viena parecia duvidosa.
— Ela não disse que realmente podia empunhar a dita arma,

Raine apontou. — Só que ela tinha isso com ela.
— Oh, vocês de pouca fé. Zahra deu uma fungadela altiva e

indignada. — Sou bastante precisa e gosto do desafio, muito melhor
do que se estivesse tentando atirar em alguém. Ela ergueu o braço e
358
Livro Único
atirou para trás o suéter enorme para mostrar as fileiras de

pequenas contas na pulseira em seu pulso. As contas eram pequenas
e muito polidas, pareciam ser ônix preto ou uma pedra assim.
— Você pode realmente usar isso como uma arma? Stella

perguntou.
Zahra tocou nas contas e puxou o suéter. — Sim. Estou

melhorando a cada dia. Demorou um pouco para me sentir
confortável com ele no pulso, mas eu o uso todos os dias e pratico
com ele. Tenho feito isso desde que perdi Elara. Isso me deu algo
para fazer enquanto eu debatia se deveria conseguir outro cachorro.
— Você vai comprar outro cachorro, disseram todos ao mesmo

tempo.
Zahra revirou os olhos novamente. — Suponho que sim. Só

não sei quando. Fico pensando que vou fazer perguntas, mas não
faço isso. Não quero colocar expectativas em um novo cachorrinho.
Isso não seria justo com a menina. Eu quero a mesma raça, então
logo de cara, acho que pode ser difícil para nós duas. Quero dizer,
como você consegue a mesma mistura?
— Os pastores dos Pireneus têm uma aparência diferente,

Zahra, disse Raine. — Eu os pesquisei exaustivamente. Cores e pelos
diferentes. E há resgates que possuem mixagens. Eles não serão
exatamente os mesmos, mas você realmente não quer que o
cachorro seja o mesmo. Todas as mulheres concordaram com a
cabeça.
— Vocês todos pesquisaram? Zahra perguntou.
— Claro. Íamos comprar um para você no seu aniversário.

Tentamos locais de resgate, mas eles não tinham nenhum
disponível.
— Você vai me fazer chorar. Isso é tão querido. Zahra parecia

que ia chorar. — Seria bom ter uma companheira, embora correr
359
Livro Único
fosse uma chatice. Eu teria que ensiná-la a querer andar em um

ritmo moderado.
A risada era genuína com o pensamento daquela raça muito

enérgica em particular andando quando podia correr. Zahra estava
bem ciente da necessidade de exercícios da raça e realmente não se
importava, por mais que gostasse de reclamar.
— Como no mundo você conseguiu jogar pôquer para ganhar

a vida, Viena? Zahra perguntou. — Eu tentei praticar não mostrar
nenhuma expressão no meu rosto quando estava vindo para cá e
sabia que conversaríamos com Stella sobre Sam, mas quanto mais
praticava, pior ficava. Se eu estivesse jogando um jogo de pôquer de
apostas altas com um bando de homens malvados que queriam me
ver falhar, estaria suando.
Vienna encolheu os ombros. — Eu precisava de dinheiro e era

bom com cartas. Eu realmente não sabia contar cartas tanto quanto
não me esqueço das cartas. Não esqueço muito de nada que vejo
então jogar cartas é fácil, desde que eu pegue as cartas certas. Às
vezes, nem sempre é uma questão de habilidade. Eu também estudo
pessoas. Isso também ajudou. E meus oponentes tendem a me
subestimar. A parte mais difícil foi começar. Conseguir dinheiro
suficiente para entrar no jogo. Ela deu a elas um meio sorriso. —
Então, quando você começa a ganhar, é tudo uma questão de
descobrir como manter seus ganhos. Todo mundo quer tirar isso de
você.
— Você gosta disso? Raine perguntou.
Vienna acenou com a cabeça. — Muito. Mas eu sou cuidadoso.

Já vi muitas pessoas ficarem viciadas em jogos de azar. Não é
ganhar dinheiro que é emocionante para mim, embora seja sempre
uma correria. Está acabando com os valentões. Eu acho que quando
você era aquele que era pressionado o tempo todo, você conseguia
360
Livro Único
identificar aqueles que gostavam de empurrar. Eu posso vê-los a

uma milha de distância.
— Como Bale, disse Shabina.
Vienna acenou com a cabeça. — Exatamente como Bale. Ele é

um valentão. Ele tem que comandar o show. É melhor seus amigos
entrarem na linha, assim como todos os outros. Do contrário, ele
zomba deles e zomba deles até que façam o que ele quer. Ele vai
continuar indo até eles até conseguir o que quer. Eu o observei fazer
isso, até mesmo com seus melhores amigos. Eles raramente o
enfrentam. Sean chega mais perto e, quando o faz, desaparece por
dias a fio na floresta, provavelmente esperando até achar que Bale
superou sua pequena irritação.
— Posso imaginar os de Las Vegas ainda piores do que Bale,

arriscou Stella.
— Eu não sei nada sobre pior, disse Vienna pensativa, — mas

certamente tem mais direito. Eles têm dinheiro, muito dinheiro, e
cada um pensa que é o melhor nas cartas. Eles não querem que uma
mulher apareça e tire sua reputação. É humilhante para eles. Quero
dizer, eles sorriem e jogam bem, mas você pode ver esses
temperamentos ardendo abaixo da superfície. Eu envio o dinheiro
para minhas contas antes de sair do hotel e, em seguida, o segurança
me leva até o carro. Mesmo assim, tive dois incidentes em que
alguém tentou me tirar da estrada no caminho para casa. Eles
também não estavam jogando.
— Viena. Harlow sussurrou seu nome. — Espero que você

tenha procurado a polícia. Você pelo menos teve dinheiro para
contratar guarda-costas depois disso? Você viveu em Vegas. É por
isso que você acabou aqui? Você está se escondendo?
Vienna riu. — Nada tão dramático, Harlow. Eu vim aqui

sempre que podia porque me trouxe paz quando eu nunca senti
como se tivesse alguma. Há algo sobre as Sierras que retarda tudo
361
Livro Único
para mim e coloca tudo em perspectiva. Posso ver o que é a

verdadeira beleza e o que realmente importa, e o dinheiro não é
importante. Desprezar os valentões não é importante. Respirar o ar
fresco e ver o sol nascer sobre o lago torna o mundo certo para mim.
Quando tive a chance, mudei para cá permanentemente.
— Você é próximo da sua mãe? Shabina perguntou.
— Houve um tempo em que eu era. Éramos melhores amigas.

Achei que sempre estaríamos perto. Ela conheceu alguém e está
muito feliz, ou pelo menos é o que ela diz. Eu espero que ela esteja.
Eu pago o aluguel dela e mando dinheiro extra para utilidades e
mantimentos. Ela escreve e envia cartões postais que ela desenha,
me convidando para ir vê-la e seu amante. Mas quando a visito, ela
fica tão nervosa que fico desconfortável e tenho a sensação de que
ela não me quer lá. Eu nunca fico mais do que alguns minutos e ela
não tenta me fazer ficar.
— O amante dela está lá quando você a visita?
— Nunca. Vienna baixou os olhos para sua bebida. — Isso é

realmente minha culpa, não da minha mãe. Ela nunca falou sobre
meu pai. Na verdade, quando perguntei sobre ele, ela se recusou a
falar sobre ele. Eu não tenho ideia de quem ele é. É estranho, como
se eu tivesse nascido nesse vazio. Sem avós ou irmãos. Não havia
fotos ou história familiar. Mamãe nunca falou sobre seu passado.
Éramos sempre só nós duas.
Vienna raramente falava sobre seu passado, então todos

ficaram em silêncio. Stella desejou que Bailey estivesse lá. Ele
gostava muito de Viena e teria percebido seu humor e ido até ela
para confortá-la. Ela tomou um gole de sua bebida e esperou.
Vienna ergueu os olhos para elas. Elas não tinham acendido as

luzes, então era apenas as chamas baixas da lareira jogando aquelas
cores dançantes nas paredes que iluminaram a sala o suficiente para
ver sua expressão de arrependimento.
362
Livro Único
— Fui tão infantil quando mamãe anunciou que tinha se

apaixonado. Eu quero que ela seja feliz. Pelo amor de Deus, sou uma
mulher adulta. Eu não a quero sozinha ou vivendo sua vida comigo
e meu gato. Acontece que eu lutei tanto para que ela continuasse
viva e de repente, do nada, ela me disse que se apaixonou. Ela
conheceu uma mulher chamada Ellen no centro de infusão. Ela era
uma voluntária lá. Elas tornaram-se amigas.
Zahra franziu a testa. — Você sabia que ela preferia mulheres?
Vienna balançou a cabeça. — Ela nunca namorou. Nem uma

vez. Nem homens nem mulheres. Não durante minha infância ou
quando eu era adulta. Ela nunca discutiu sua sexualidade comigo.
Achei que sabia tudo sobre ela. Eu não achava que tínhamos
segredos uma da outra, mas parece que minha vida inteira foi
construída em segredos.
Ela deu a elas um sorriso trêmulo e tomou outro gole de sua

margarita gelada.
— Graças a Deus pelas margaritas da meia-noite. Esta é uma

ótima maneira de passar a noite. Zahra ergueu o copo primeiro. As
outras seguiram o exemplo e beberam solenemente.
— Você nunca conheceu Ellen? Stella perguntou para fazer

Vienna continuar falando.
Vienna balançou a cabeça. — Não. Mamãe e eu tivemos uma

briga terrível quando ela me contou. Como eu disse, a culpa foi
minha. Reagi como uma adolescente ciumenta, não querendo que
minha mãe namorasse. Tenho vergonha de pensar no quão
verdadeiramente egoísta e infantil eu agi. Eu estava indo para a
escola de enfermagem em tempo integral e jogando alguns jogos de
apostas altas para manter o dinheiro entrando para pagar as contas.
Eu estava exausta e alguém tentou me tirar da estrada. Essa foi à
noite que ela escolheu para revelar o quão feliz ela estava. Eu estava
no meu ponto mais baixo. Assustada. Eu queria conforto e conversar
363
Livro Único
sobre as coisas com ela. Eu estava até pensando em adiar a

faculdade de enfermagem para pagar as contas médicas mais
rapidamente, para não acender a vela nas duas pontas.
— Ah, não, sussurrou Harlow.
Vienna acenou com a cabeça. — Isso ainda não justifica minha

reação. Eu me arrastei pela porta e ela estava em cima de mim,
abraçando e praticamente pulando para cima e para baixo de tão
animada. Ela não percebeu a bagunça que eu estava ou que estava
chorando. Ela apenas deixou escapar suas novidades. Lembro-me
de olhar para ela. Apenas parada na entrada do nosso apartamento,
olhando para ela ainda vestida com minha jaqueta. Eu não
conseguia falar. Eu não consegui dizer uma palavra. Eu realmente
gostaria que tivesse permanecido assim, porque quando eu falei, as
coisas que eu disse foram horríveis.
O silêncio caiu novamente, então apenas o crepitar do fogo

permaneceu. Um dos cães de Shabina, Sharif, caminhou até a fileira
de janelas e pressionou o nariz contra o vidro.
— Esse é sempre o meu sinal para fechar as cortinas, disse

Shabina. — Ele é mandão assim. Pelo menos ele me permite abri-los
se houver uma tempestade. Ele sabe que gosto de assistir
tempestades. Ela usou o controle remoto para baixar as telas de
privacidade, cobrindo todas as janelas simultaneamente.
— Seu nome não significa 'olho da tempestade'? Stella

perguntou.
— Sim, embora meu pai diga que eu sou a tempestade.

Shabina afundou-se novamente e apoiou as costas no sofá. Sharif se
aninhou ao lado dela.
Viena franziu a testa. — De todos nós, Shabina, você é

provavelmente a mais doce. Por que diabos seu pai pensaria isso?
364
Livro Único
— Com licença, disse Zahra, as sobrancelhas escuras se

unindo. — Eu acredito que sou a mais doce.
As risadas começaram imediatamente, e Zahra suportou-as

com grande dignidade. Ela se serviu do resto das margaritas da
jarra. — Todas vocês não são minhas amigas agora. E eu estou
comendo o resto das barras de chocolate, então não toque nelas.
Stella se levantou. — Vou fazer uma jarra fresca de margaritas.

Não vai demorar muito.
— Há muitos biscoitos diferentes na cozinha, Shabina gritou

atrás dela. — Jogue um pouco em outro prato, já que Zahra não está
compartilhando.
— Só porque muitas de vocês se recusam a reconhecer que sou

doce. Zahra sentou-se novamente e pegou outra barra. Ela esperou
até que Stella estivesse de volta e completou a todos com uma
bebida fresca. — Quão ruim ficou entre você e sua mãe, Viena?
Vienna franziu a testa ao ver a taça requintada. — Eu lancei

insultos a ela até que ela finalmente os atirou de volta. Mas então ela
disse algo no sentido de que ela desperdiçou sua vida inteira se
escondendo, uma espada pendurada sobre sua cabeça para quê? Eu
nem era o próprio sangue dela. Eu sei que ela disse isso. Eu sei isso.
Ela parou abruptamente, ficando branca. Ela até colocou a mão
sobre a boca. Eu perguntei o que ela queria dizer e ela disse que eu
estava enganada. Que ela não tinha dito isso. Talvez eu desejasse
que ela tivesse. Muito ruim para mim, eu simplesmente teria que
lidar. Foi ela quem ficou muito feia depois disso, dizendo coisas
realmente desagradáveis. Eu acredito que ela fez isso de propósito
para me impedir de voltar para aquele pequeno pedaço da luta que
realmente continha a verdade sobre o meu passado.
Stella ficou um pouco chocada com a história de Viena. Ela

parecia magoada e Stella podia entender por quê. Vienna cresceu
perto de Mitzi, sua mãe, apenas as duas. Ela trabalhou duro para
365
Livro Único
ajudar sua mãe a sobreviver e estava feliz em fazê-lo. Deve ter

parecido uma traição, mesmo que Viena fosse adulta. Sempre
tinham sido as duas, e de repente trazer um terceiro sem qualquer
aviso a teria surpreendido.
Elas deveriam ter resolvido isso agora. Por que não? Não fazia
sentido que elas não tivessem. Muitos anos se passaram. A mãe de
Vienna já teve câncer uma vez. Vienna era enfermeira. Ela sabia com
que rapidez se podia perder entes queridos em acidentes ou
doenças. Ela sabia com que frequência o câncer voltava.
— Você tentou falar com sua mãe desde aquela noite sobre o
que foi dito, Viena? Stella perguntou, sua voz tão gentil quanto ela
poderia fazer.
Vienna acenou com a cabeça. — Acho que é por isso que ela
fica desconfortável quando me vê. Ela está tão apavorada que vou
tocar no assunto. Ela não quer responder a nenhuma pergunta. Digo
a mim mesmo que não vou perguntar, mas então, eu quero me
arriscar a perdê-la e nunca saber de onde vim se ela realmente não é
minha mãe? Ela fez uma careta. — Mesmo dizer isso em voz alta na
frente das minhas amigas mais próximas parece ridículo. Claro, ela é
minha mãe. Somos muito parecidas. Talvez não na aparência, mas
em todos os outros aspectos. Não quero que mais ninguém seja
minha mãe.
— Ninguém mais quer, Raine disse. — Ela criou você. Ela

estava lá para você em cada passo do caminho. Isso a torna sua mãe,
independentemente de ela ter te dado à luz ou não. Estou com Stella
nisso, Viena, você precisa encontrar uma maneira de resolver isso.
Talvez convide as duas aqui para um jantar especial no Shabina's
com todas nós. Dessa forma, a conversa não se tornará tão pessoal.
Todas nós poderíamos ajudar com o jantar.
366
Livro Único
— Na verdade, não é uma má ideia, Viena, disse Stella. —

Você acha que elas viriam? Poderíamos presentear elas com um
quarto de hotel na cidade.
Vienna ficou em silêncio, lutando para não chorar. — Todas

vocês são absolutamente as melhores. Vou considerar isso, mas
posso querer esperar até depois de pegarmos esse assassino em
série. Não quero que Stella o veja de repente espreitando no
corredor do hotel enquanto minha mãe está lá.
Stella acenou com a cabeça. — Agora que você mencionou

isso, pode ser um plano melhor esperar.
Capítulo 17
O sol da manhã tentava brilhar por entre as nuvens que

vagavam. Sujeira, pedras e grama amarela e marrom coberta de
pequenos escombros que flutuaram com o vento estavam no chão.
Galhos. Folhas. Agulhas de pinheiro. A trilha não era bem usada ou
bem marcada, mas mesmo assim, conforme Stella a observava
pelas lentes estreitas, algo parecia familiar.
Duas pessoas caminharam por aquele caminho de terra

irregular e grama alta. Ela vislumbrou sombras no chão. Dois
homens, ambos altos com o que poderiam ser mochilas, fazendo-os
parecer deformados.
367
Livro Único
Ela sentiu o humor de cada um deles porque ambos estavam

transmitindo com muita intensidade. Ambos estavam
entusiasmados. Ambos antecipando. Eles estavam conversando,
rindo. Amigáveis. Se conheciam. Ela se esforçou para ouvir. Para
ouvir o que eles diziam. Pelo menos captar o som de suas vozes.
Ela sabia que eles estavam rindo e conversando, mas ela não
conseguia entender as palavras. Risada? Ela poderia identificá-los
através do riso? Houve um baque estranho em seus ouvidos,
interferindo em sua capacidade de ouvir. Seu próprio batimento
cardíaco bateu como um tambor tão alto que ela temeu que os dois
homens pudessem ouvi-la.
Enquanto ambos pareciam compartilhar as mesmas emoções

para a escalada do dia, um sentia mais. Sentia-se pura exaltação,
uma onda presunçosa de alegria astuta, de poder absoluto.
Instintivamente, ela sabia que o assassino estava antecipando
tomar seu tempo com isso "acidente." Ele não apenas conhecia sua
vítima, mas também era amigo dela. Isso era novo. Ela fez o
possível para manter a calma e tentou ajustar as lentes da câmera
em um esforço para abri-la ainda mais. Não funcionou, apenas a
frustrou por não poder descobrir pistas adicionais nas sombras dos
homens ou ver mais do que o chão que eles percorreram no ritmo
rápido que os dois definiram.
368
Livro Único
A lente começou a fechar, aquela abertura estreita se
fechando, deixando-a olhando para uma tela preta.
Stella sentou-se, o coração batendo forte, esfregando as

mãos pelo rosto repetidamente, tentando limpar o medo da criança
e enfrentar o pesadelo como uma adulta. — Eu os conheço, ela
sussurrou e olhou para cima, confiante de que Sam estaria lá.
Eles foram para a cama juntos, os braços dele ao redor dela,

mas quando ela tinha pesadelos, ele sempre fazia a mesma coisa -
ele dava espaço a ela. Instintivamente, ele parecia saber que ela
precisava disso. Ele se sentou do outro lado do quarto, diretamente
em sua linha de visão, então tudo que ela teve que fazer foi olhar
para cima e encontrá-lo. O simples fato de saber que ele estava ali
resolveu os terríveis nós de torção em seu estômago e permitiu-lhe
respirar quando seus pulmões pareciam em carne viva e
queimando.
Sam olhou para ela, seus olhos escuros sobre ela. Ela podia ver
o amor ali e isso a aqueceu. Às vezes, isso a chocava. Eles não
falavam palavras como amor entre eles. Eles eram novos. Dois anos
podem não ser novidade, e eles estão juntos há tanto tempo, mesmo
que nunca tenham reconhecido isso, mas seus sentimentos um pelo
outro definitivamente têm crescido durante esse tempo.
Ela tentou um sorriso. Estava trêmula, mas estava lá. — Ele

definitivamente escalou seu cronograma, não é? Ele não estava
muito satisfeito com sua última morte para agir tão rápido. Um dia?
Não sei se posso continuar fazendo isso. Talvez devêssemos falar
com o FBI.
369
Livro Único
— Você está exausta, Stella. A voz de Sam era gentil. — Você

não está dormindo muito, e depois do ataque a Bailey, você dorme
por uma ou duas horas e acorda. Você e eu sabemos que o FBI não
pode pegá-lo porque não há nenhuma evidência. Ele não está
deixando nada para trás. O máximo que temos sobre ele que até diz
que existe são os dedos quebrados. Até o legista diria que é fraco.
Há uma explicação para cada osso quebrado.
— Eu sei. Stella saiu da cama e foi até ele, quebrando o padrão.

Ela não pôde evitar. — Sam. Ela rastejou em seu colo, colocando os
braços em volta do pescoço, permitindo-lhe confortá-la. — Eu
conheço os dois. Eu sei que eu conheço. Havia algo sobre eles que
era tão familiar para mim, mas eu simplesmente não conseguia
definir.
Ela escondeu o rosto contra o peito dele. Ele se sentia

invencível. Seu batimento cardíaco forte. Seu peito como ferro. Seus
braços a rodeavam, uma fortaleza segura. Ela só queria ficar lá um
pouco e se esconder. Ficar a salvo. Não tendo que pensar em perder
essa rodada para o assassino em série. Não tem que pensar que ela
poderia descobrir um amigo e saber que o tempo todo ele foi um
assassino cruel, capaz de andar com alguém que ele conhecia,
sabendo que iria matá-lo.
A palma da mão de Sam moldou a parte de trás de sua cabeça

e, em seguida, acariciou seus cabelos. — Está tudo bem sofrer por
ele, querida. Pela perda de um amigo. Quem quer que seja ele se
perdeu para nós no momento em que seguiu por esse caminho. Ele
não é mais a mesma pessoa e não podemos pensar nele dessa forma.
Isso significa Stella, que já perdemos um amigo.
— Eu não quero perder dois deles. Ela ergueu a cabeça e olhou

nos olhos dele. — Já falhei tantas vezes. Não posso falhar desta vez.
Eu conheço a vítima. Havia algo sobre as vozes. A risada. Não posso
dizer o que foi. A lente não ficou aberta por tempo suficiente, mas
sei que devo ser capaz de identificar os dois. E o lugar que eles iriam
370
Livro Único
escalar. Ela franziu a testa, mordendo o lábio inferior, tentando se

lembrar.
— Você precisa fazer o que sempre faz querida. Desenhe isso.

Os detalhes vêm para você. Depois de desenhá-lo, você pode ver se
algo soa como um sino. Eu vou olhar para ele também e então você
o examina pelo seu pelotão. Todos eles sobem.
Stella escorregou com certa relutância de seu colo. Ele estava

sempre aquecido, e a perda de seu calor a fazia estremecer. Ou
talvez fosse apenas à ideia de saber que o assassino em série estava
saindo de controle. — Ele parecia tão alegre, Sam. Tão presunçoso.
Odiava saber que ele estava conversando e rindo com um amigo
dele e o tempo todo planejando matá-lo. Ele estava tendo prazer em
saber disso.
Ela deslizou de volta para a cama e recuperou seu bloco de

desenho, diário e lápis do cofre embutido na parede. — Ele não está
aqui esta noite. Ninguém está nos observando. Ou pelo menos não
consigo senti-lo.
— Eu também não posso senti-lo. Dei a cara um pouco ao

longo da lateral da crista acima da curva do lago, quase diretamente
em frente a nós. Achei que se alguém realmente quisesse um ponto
de vista e conhecesse a propriedade, esse seria o lugar mais
provável para construir um acampamento. Eles poderiam ficar lá
indefinidamente com os suprimentos certos, chuva, sol ou até neve,
e de alguma forma protegidos.
— Excelente. Achei que você já tivesse descoberto seu

esconderijo depois que Bailey foi atacado.
— Isso foi muito fácil. Eu considerei o quão inteligente esse

assassino é e considerei isso junto com a ideia de que ele estava
obcecado por você.
371
Livro Único
Stella estremeceu. — Prefiro não pensar que ele tem fixação

por mim, Sam.
— Eu sei que é uma merda, mas quando você considerou o

momento do seu primeiro pesadelo, realmente foi na época em que
começamos a consolidar nosso relacionamento. É possível que o
assassino nos tenha visto juntos e não tenha gostado da maneira
como nos olhávamos. Ou a maneira como eu estava olhando para
você, pelo menos. Às vezes, não escondo meus sentimentos por você
tão bem quanto deveria.
Ela puxou as cobertas sobre as pernas, mas em sua última

declaração, ela agarrou os cobertores e piscou para ele. — Homem.
Havia um nó na garganta que ela estava com medo de engasgar.
— Mulher. Sua voz era tão suave como aveludada que

acariciava sua pele.
— Você não olha para mim abertamente como se estivesse

louco por mim. Você esconde seus sentimentos muito bem. Sou eu
que fico um pouco louca quando estou bebendo. Eu… Digo coisas.
Seu sorriso começou lento e seu estômago deu uma

cambalhota. Então o sorriso realmente iluminou seus olhos e ela
derreteu por dentro. Ele fazia isso com ela tão facilmente agora.
— Lembro-me de uma noite em que coloquei você e suas

amigas no 4Runner e as levei para casa. Você disse que eu era lindo.
E quente é outra palavra que você usou, eu acredito.
— Eu disse isso no bar?
Ele assentiu. — Várias vezes. Sentado em meu colo. Você me

beijou duas vezes. Foi nessa hora que decidi que você já estava no
limite e estava te levando para casa. Eu não aguentava mais. Não me
entenda mal, querida, eu estava curtindo cada segundo, mas as
coisas estavam ficando fora de controle.
372
Livro Único
Ela fechou os olhos. — Eu estava realmente esperando que

todas as coisas que pensei em fazer com você, não tenha realmente
tentado fazer com você. Ela abriu os olhos. — Sim, não é?
— Eu apenas peguei você e arrastei sua bunda para a

plataforma. Acredite em mim, querida, o único que estava sofrendo
naquela noite fui eu.
— E então você quase foi morto na manhã seguinte. Ela

franziu a testa e acariciou o bloco de desenho com os dedos. — Você
se lembra do que aconteceu no fim de semana anterior? O que
estávamos fazendo? Os pesadelos começaram mais cedo. Se o
catalisador realmente foi ver você e eu ficando juntos, então
deveríamos ter mostrado sinais disso no início da semana, Sam.
Os músculos de seu estômago se contraíram. Ela não queria

que sua memória fosse à mesma que ele poderia nomear. Ela
manteve este momento sagrado perto dela, algo especial, quando ela
tinha tão poucos. Ela não queria pensar que um serial killer havia
começado a matar porque ele pode ter testemunhado aquela
intimidade "privada" entre eles.
Sua expressão se suavizou. Sam era duro. Ângulos e planos

rígidos. Quando ele olhou para ela com aquele olhar particular,
aquele que ele não dava a ninguém, ela sabia que ele era dela e ele a
fazia se sentir segura e desejada.
— Stella, estamos juntos há mais de dois anos. Vamos para a

cidade juntos o tempo todo. Compramos suprimentos para o resort.
Ficamos perto quando olhamos para sua lista, que está escrita em
algum tipo de jargão que ninguém pode entender, exceto você.
Estou com a mão no seu ombro ou na sua cintura. Você tem sua mão
no meu braço enquanto caminhamos. Estamos confortáveis um com
o outro. Comemos juntos todas as refeições na cidade, a menos que
você encontre alguém de sua turma, e na metade do tempo estou
373
Livro Único
sentado à mesa a um metro de você, cuidando de você. Todo mundo

sabe o que sinto por você. Todos. Eu deixo isso bem claro.
Ela assentiu porque tudo o que ele disse era verdade. Eles
foram para a cidade juntos. Em algum momento dos últimos dois
anos, isso tinha acabado de evoluir. Ainda não explicava o que teria
sido diferente o suficiente para levar alguém a se tornar um
assassino em série. Mas ela estava com medo de saber. Ela esperava
que não, mas temia que fosse o primeiro beijo - o beijo que ela havia
iniciado.
— Como você deixa claro que sente algo por mim? Ninguém
consegue ler sua expressão, Sam. Ela adiou mais uma vez, lutando
para fazer o assassino ter outros motivos para persegui-la.
— Os homens podem me ler em alto e bom som quando se

trata de você, Stella. Há uma grande placa de fique longe. Você
não notou a falta de homens convidando você para sair?
— Eu mandei vibrações que dizem que não estou interessado

em namorar.
— Isso os impediu há três anos?
Ela franziu o cenho. — Talvez não. Não sei. Mas se você estava
avisando aos homens para ficarem longe em algum código
misterioso de irmãos que eu perdi completamente por dois anos, por
que o assassino em série obcecado não começou sua onda de
assassinatos naquela época?
— Porque você ainda estava fechada, querida. Você estava

lentamente me deixando entrar, mas ninguém podia ver, exceto eu.
No início, ele pensou que trabalhávamos juntos e tínhamos que
passar muito tempo juntos. Então éramos amigos. Você tem muitos
amigos e alguns são homens. Você não parecia me tratar muito
diferente do que tratava os outros. Inicialmente. Suponho que nosso
374
Livro Único
relacionamento mudou com o tempo tão lentamente que ele se

acostumou, assim como você.
Sua carranca se aprofundou. — Não entendo.
— Um monte de planejamento cuidadoso foi para esses dois

anos. Olhando por cima do ombro para ler sua lista, por exemplo.
Estou mais alto, então tive que me abaixar. Isso exigiu colocar minha
mão em seu ombro para me equilibrar.
Ela estreitou os olhos para ele. — Você nunca perde o

equilíbrio. Em nenhuma situação.
Pela primeira vez, ele realmente sorriu para ela, e seu coração
reagiu quase perdendo uma batida.
— Não, normalmente não perco o equilíbrio, mas acho que

pode acontecer.
— Você estava me acostumando com você me tocando.
Ele ergueu uma sobrancelha sem nenhum sinal de remorso. —

Funcionou. O que eles dizem? Tudo é justo no amor e na guerra.
Cortejar você foi um pouco dos dois.
Ela se sentou no meio da cama, de costas para a cabeceira da

cama, e contemplou a diferença que Sam fizera em sua vida. Ela não
estava mais tremendo e chorando. Não está mais balançando para
frente e para trás. Ele era uma rocha na qual se apoiar, mas não
assumiu e consertou as coisas para ela. Ele esperou para conversar
sobre as coisas quando ela estivesse pronta. E ele tinha demorado,
teve paciência para “Cortejá-la” de maneira diferente, para se
inserir gentilmente em sua vida e fazer parte dela, indispensável.
Ela ficou lisonjeada e divertida.
— Você é um pouco assustador.
375
Livro Único
Ele assentiu. — O tipo de homem sobre o qual suas melhores

amigas avisam.
Ela riu. — Elas certamente fizeram. O sorriso desapareceu. —

Se você fosse consistente, Sam, e nós estivéssemos com a teoria de
que o assassino é obcecado por mim, então algo que eu fiz deve tê-lo
acionado, certo? Não deixe ser nosso primeiro beijo. Pelo menos me dê
isso.
— Pode ter sido uma combinação de coisas, Stella. Não

procure a culpa, é uma estrada escorregadia.
— Na verdade, não estou. Estou tentando lembrar o que eu

poderia ter feito de forma diferente, como poderia ter agido com
você pouco antes dos pesadelos começarem. Isso nos daria uma
ideia de quem estava por perto.
Ela já sabia, mas queria que fosse outra coisa, não aquele exato
momento em que estivera tão certa de que havia feito papel de boba
completa. Ela esperava que ninguém a visse e Sam não se lembrasse,
mas é claro que ele sim. Ela fizera o possível para não pensar nisso,
quando pensava nisso todas as noites até o início dos pesadelos.
— Você estava na Rua com Bailey e eu, tentando decidir se iria

fazer compras naquele momento ou almoçar com Raine. Não
tínhamos muito tempo porque tínhamos que voltar e nos encontrar
com o inspetor. Você não via Raine há mais de uma semana.
Ninguém tinha, e você estava preocupado com ela. Eu disse que
faria as tarefas e cuidaria de Bailey, para mandar uma mensagem de
texto para Raine para encontra-la no café de Shabina. Você fez e ela
imediatamente disse que poderia encontra-la. Você jogou seus
braços em volta de mim e me beijou. Bem ali na rua, na frente de
todos.
Ela sentiu um vermelho ardente subir por sua pele, do pescoço

ao rosto. — Eu não fiz. Mas ela tinha. Ela se lembrava daquele beijo
muito vividamente. Tudo começou muito casto. Um obrigado. Ela
376
Livro Único
pretendia apenas escovar seus lábios contra os dele. Mas então ela o
provou. Deveria ter parado bem aí. Ele deveria ter endurecido ou
empurrado ela.
Sam não era o tipo de homem que convidava mulheres a se

envolverem nele. Pelo menos se ele estava ela não sabia sobre isso.
Seu braço a envolveu como uma barra de ferro, prendendo-a a ele, e
uma mão agarrou seu cabelo e então... Bem... Ela simplesmente
estava perdida. Não havia nada além de sentimento e fogo, e ela se
esqueceu de onde estava. Ela se derreteu nele. Ele teve que firmá-la,
colocando as mãos em seus quadris, segurando-a longe dele
enquanto ela piscava para ele como uma completa idiota,
imaginando o que tinha acontecido. Então ela quase foi direto para a
calçada porque suas pernas se transformaram em geleia. Sério, tinha
sido ridiculamente ruim. Ela fechou a porta para seu
comportamento.
— Tenho quase certeza de que você me beijou, Sam.
— Qualquer um nos observando teria visto que você iniciou a

ação, Satine. Posso ter aproveitado a situação, mas você
definitivamente iniciou.
— Você acha que alguém realmente prestou atenção?
Sua sobrancelha se ergueu. — Amada. Sério? Estávamos bem

no meio da cidade, a céu aberto. Você é da realeza. Você está na rua,
todo mundo está olhando. Então você quase saiu no meio do tráfego
e eu tive que impedi-la. Você quase me fez rir. Isso provavelmente
provocou uma pequena reação de qualquer um que estivesse
assistindo. Eu te acompanhei até o café apenas para ter certeza de
que você fez isso porque você estava atordoada.
— Eu não estava. Ela tinha estado.
— Mulher.
— Ele me viu beijar você.
377
Livro Único
— Provavelmente.
— Você sabia o tempo todo.
— Eu considerei a possibilidade quando ele continuou te

observando. Ele sabia quem você era ou estava obcecado por você.
Se ele soubesse quem você é e que você saberia que ele é um
assassino, ele esperaria que você contatasse as autoridades. Você
não fez. Ele não tentou matar você. Eu não acredito que ele saiba
quem você realmente é, o que significa que ele não é o assassino e é
um perseguidor, ou ele é o mesmo homem.
Stella o observou atentamente. Ela amava sua mente, a

maneira como ele organizava as coisas, mas a deixava pensar nas
coisas por si mesma. Isso era importante para ela. Ela não queria que
ninguém resolvesse seus problemas, ela vinha fazendo isso por si
mesma há muito tempo. Mesmo assim, era bom poder me apoiar
nele de vez em quando, saber que ele estava ali e que seria uma
caixa de ressonância. Ela gostou que ele a usasse como uma
também.
— Eu simplesmente não acredito em coincidência, que havia

dois homens diferentes fazendo essas coisas, um serial killer e o
outro um stalker33, especialmente porque eles surgiram exatamente
ao mesmo tempo. Faz sentido que eles sejam a mesma pessoa, disse
Sam.
Ela tentou absorver isso sem vacilar ou assumir a culpa. O que

este homem fez foi sobre ele, não ela. Ela não era responsável pelo
que seu pai tinha feito. Sua mãe adotiva havia dado esse presente a
ela por meio de seu amor e aconselhamento, recusando-se a permitir
que Stella assumisse esse fardo. Ela não tinha permitido que ela
continuasse acreditando que havia separado sua família e levado
sua mãe ao suicídio. Ela não jogaria fora essa sabedoria, não agora
quando tinha que segurá-la com força para tentar salvar uma vida e
33
Termo usado nas mídias sociais para pessoas que perseguem outros.
378
Livro Único
evitar que um assassino voltasse a assassinar quando parecia

imparável. Mas era difícil não pensar que o assassino estava
arrancando os tipos de memórias que ela amava e queria manter
com ela.
— Eu também não acredito nesse tipo de coincidência, Sam.

Como eles poderiam ligá-lo aos “acidentes”?
Nas próximas noites, Stella registrou cuidadosamente

os detalhes de seus pesadelos. Ela esboçou a luz do sol matinal
espalhando-se pela grama esparsa que crescia em solo rochoso. A
grama estava quase toda amarela e marrom e havia caído em vez de
ter sido pisoteada. As pedras incrustadas na terra tornavam o
caminho irregular, a trilha tênue, como se poucas pessoas a
percorressem. Ainda assim, a trilha estava lá, não mais do que trinta
centímetros de largura. Agora que a lente estava um pouco aberta,
era mais fácil de ver. Folhas e detritos, como galhos e até mesmo
pequenos galhos, cobriam o solo, tornando as bordas do caminho
mais difíceis de ver, mas com a visão mais ampla, Stella foi capaz de
discernir as curvas e voltas, pois a trilha parecia levar infinitamente
a lugar nenhum.
Claramente, esta não era uma área de escalada favorita para

moradores ou turistas. Outubro estava ficando tarde na temporada
de escalada, especialmente boulder, mas belos dias não foram
perdidos. Frequentemente, como Stella ficava tão ocupada durante
as temporadas de pesca e turismo, depois que fechava o resort, ela
tentava entrar no máximo em escaladas antes que o tempo mudasse.
Não era surpresa que esses dois alpinistas estivessem aproveitando
o clima claro, embora fresco, de outubro.
Stella estudou os esboços da terceira noite, colocando-os sobre

a cama para Sam olhar com ela. Ele também gostava de escalar. Isso
379
Livro Único
foi o que o atraiu originalmente para a área, assim como tantos

outros. Escaladores vieram de todo o mundo para testar seus
conhecimentos nas várias rochas. Felizmente, havia todos os tipos
de escaladas, para todos, desde iniciantes até especialistas.
— Este é o melhor que eu consegui Sam, disse ela, preocupada

mordendo o lábio inferior. — Três noites e principalmente eu vi a
trilha entrando. Este é o fundo da rocha. Granito. Grande surpresa
aí. Esbocei o máximo de detalhes possível ao longo da parte inferior
da rocha. Há uma saliência nodosa aqui. Eu juro que já vi isso antes.
Vê como as cores vão do vermelho para um tom de roxo quase mais
profundo? Isso não é apenas uma sombra. Eu pensei que fosse no
começo, mas não acho que seja. As linhas do granito giram aqui.
Sam a cutucou com o quadril e se acomodou ao lado dela,

pegando o desenho para estudá-lo. — Este não é um lugar que eu
tenho escalado. Tem que ser remoto. Eu olhei para a trilha várias
vezes e ninguém esteve nela além de talvez uma, talvez duas
pessoas em meses. Você pode dizer pela grama e pelos destroços. Se
eu fosse adivinhar, teria que dizer que provavelmente era a mesma
pessoa que estava fazendo a caminhada de volta para lá. Talvez os
dois.
— Eu sei que já estive lá pelo menos uma vez, disse Stella. —

Raramente esqueço de alguma coisa, especialmente em algum lugar
onde tenha feito escaladas.
— É possível que você não estivesse escalando, Sam apontou.

— Se houver dois deles, eles podem estar escalando tradicional. Ou
escalada esportiva. Olhe para as sombras. Eles estão carregando
corda.
Stella não gostava de escalar com corda. Esse era um fato bem
conhecido entre seus amigos. Ela podia fazer isso, mas ela não
gostava. Ela preferia resolver os problemas apresentados pelo
escalada. Ela era uma alpinista solitária. Os riscos era dela mesma.
380
Livro Único
— Este lugar em particular é muito remoto, Sam. Se alguém está

trabalhando nisso, meu palpite é que é um projeto de longo prazo
de alguém. Ele está trabalhando nisso há semanas, talvez mais, mas
isso é apenas um palpite.
Ela pressionou a mão na testa. — Isso é tão frustrante.
Sam pegou seu pulso e puxou sua mão para baixo, mantendo-
a em sua posse.
— Você está enlouquecendo, Stella. Você tem que deixar isso

passar um pouco. Você fez tudo o que podia por agora. Amanhã à
noite, você terá um vislumbre maior da rocha e, com sorte,
refrescará sua memória. Do contrário, quando mostrarmos todos
esses desenhos aos outros, um deles reconhecerá o lugar. Sempre, na
quinta noite, você tem uma visão muito mais clara.
— Ele está matando no dia seguinte. Ele não espera uma ou

duas noites como os outros assassinos. Ele está muito ansioso.
O polegar de Sam deslizou para cima e para baixo nas costas

da mão dela em uma pequena carícia enquanto ele pressionava a
palma da mão sobre o coração. — Assim que soubermos a
localização, podemos dirigir até lá. O que é mais natural do que
praticar escalada na corda? Especialmente onde sabemos que não há
ninguém por perto? O assassino é interrompido e descobrimos
quem ele é.
Algo em sua voz fez seu coração disparar e depois acelerar.

Não houve inflexão real. O tom de Sam era suave, gentil mesmo. Ela
virou a cabeça, seus olhos encontrando os dele.
— Sam.
— O que foi querida?
381
Livro Único
Ele levou a mão dela à boca e raspou os dentes nas pontas dos
dedos dela, acendendo um milhão de terminações nervosas de fogo,
quase a distraindo. Ela respirou fundo.
— Assim que soubermos quem ele é, teremos que falar com

Griffen.
Seu olhar não mudou do dela. Ele olhou para ela com firmeza,
seus dentes mordendo. Seu estômago revirou e seu sexo apertou.
— O que exatamente vamos dizer a Griffen, Stella? Que

provas temos? Não há como condená-lo.
— Sam, você não pode ir atrás dele.
Ele não disse nada, apenas olhou para ela.
Ela balançou a cabeça. — Não. Absolutamente não. Você não

pode.
— Querida, que outra escolha existe? Não podemos deixá-lo

continuar matando pessoas. Uma vez que sabemos quem ele é,
qualquer um que ele matar depois disso fica por nossa conta. Os
policiais não podem prendê-lo sem provas. Você sabe disso. Eles
precisam o suficiente para uma condenação. Eles não têm nada
contra ele e não vão conseguir. Ele é muito inteligente. Eles teriam
que esperar que ele matasse. Então ele teria que cometer erros
durante suas mortes.
— Você não pode.
— É o que eu faço.
— Não mais. Você não está nessa vida. Você veio aqui para
encontrar uma vida diferente e você a encontrou, Sam. Seria
diferente se fosse legítima defesa, mas não é. E não se atreva a se
preparar para que ele venha atrás de você. Quero realmente dizer
isso.
382
Livro Único
— Ele não pode viver Stella. Mesmo tom firme. Gentil.

Paciente. Ele não desviou o olhar dela, nem mesmo por um
momento.
Ela emoldurou o rosto dele com as mãos. — Querido, você tem

que me ouvir. Não podemos ser juiz, júri e carrasco. Não temos esse
tipo de autoridade.
— Eu tenho.
— Não mais.
— Eu tenho. Eu escolhi não usá-lo. Não podemos deixá-lo

continuar.
— O que então? Você vai para a prisão?
— Por favor, Stella. Posso arranjar um 'acidente' tão bem

quanto esse cara.
— Eu não estou sacrificando você por ele ou por qualquer

outra pessoa. Temos que pensar em outra maneira, Stella insistiu, e
se inclinou para roçar beijos em sua boca para impedi-lo de discutir
com ela.
Ela não tinha ideia do que faria a ele ter que matar um amigo.
Ele saiu desse negócio. Talvez ele estivesse mais lento do que antes.
Ele pode hesitar. Mesmo se ele matasse o assassino em série e o
corpo desaparecesse, ou sua morte fosse considerada um acidente, o
que isso faria com Sam? Ele finalmente chegou a um acordo com seu
passado. Ele não precisava começar tudo de novo. E qualquer
agência para a qual ele trabalhou pode ver isso como um sinal de
que ele queria voltar. Ou eles poderiam chantageá-lo para voltar.
— Stella. Seu nome saiu uma mistura entre um grunhido e um

gemido.
383
Livro Único
— Querido, vamos nos vestir e dar um passeio. Esta é a

terceira noite consecutiva em que ele não fica do lado de fora
vigiando o lugar. Vamos aproveitar, a menos que esteja muito frio
para você.
Ela sabia que Sam ficava inquieto à noite e rondava pela

propriedade ainda mais do que os guardas de segurança faziam. —
Parece bom para mim.
Os dois vestiram roupas quentes, botas e luvas e saíram para o

frio. A temperatura caiu ainda mais baixo do que ela esperava. Ela
deu um pequeno suspiro e ele riu.
— Vou levar Bailey para sair quando voltarmos. Você tem

certeza de que estará aquecido o suficiente?
— Sim. O céu estava claro, sem nuvens, permitindo que as

estrelas e a meia lua brilhassem no céu. Ela o deixou segurar sua
mão. Ainda parecia um pouco estranho para ela estar de mãos
dadas com ele, mas ela não podia deixar de gostar. A mão dele era
um pouco maior do que a dela e seus dedos envolveram os dela.
— Você se sentiu melhor sobre seu relacionamento com seu

pai depois de falar com ele, Sam? Stella reteve a pergunta por algum
tempo e depois ficou chateada consigo mesma por ter deixado
escapar. — Não estou perguntando por mera curiosidade. Eu não
iria pressioná-lo por respostas. É que as férias estão chegando.
Apesar de ele ter me convidado e isso não tem nada a ver com isso,
como você sabe, Shabina e eu oferecemos jantares para os outros
que estão na cidade. Achei que você passaria as férias comigo...
Ele apertou os dedos ao redor dos dela. — Você presumiu

corretamente, disse ele decisivamente.
— Ele é sua única família. Se você quiser convidá-lo, ele é

bem-vindo. Eu apenas teria que saber com antecedência. Não o
convide se for desconfortável tê-lo ali. O objetivo de todos nós
384
Livro Único
ficarmos juntos é para nos divertirmos. Podemos beber muito, se

quisermos, ou saborear muitas tortas ou sobremesas incríveis de
Shabina. Você sabe como somos.
— Eu faço. Denver e eu levamos todos os cachorros para

passear, enquanto vocês, senhoras, ficam um pouco loucas conosco.
Ela riu. — Isso mesmo. Não consigo ver seu pai levando os
cachorros para passear. Ele disse que tem uma amiga. É possível que
ela faça refeições incríveis no feriado.
— Espero que ela planeje satisfazer todos os seus caprichos.

Ele estava acostumado com isso da minha mãe.
— Ele nunca se casou novamente?
— Não, disse Sam, e puxou-a para mais perto dele enquanto

caminhavam ao redor da margem do lago. A brisa estava leve,
provocando suas roupas. — Isso me surpreendeu. Sempre pensei
que ele pelo menos iria morar com uma mulher, mas ele não o fez.
— Você perguntou a ele por que ele não se divorciou de sua

mãe? Stella se atreveu a perguntar. — Essa teria sido a minha
primeira pergunta. Não entendo por que os homens que traem se
dão ao trabalho de se casar. E quando o fazem, por que
simplesmente não se levantam e vão embora. De certa forma, ela
estava tentando dizer a ele que era o que esperava dele.
Sam trouxe a mão dela perto de seu peito enquanto eles

caminhavam juntos. — Eu perguntei a ele por que ele simplesmente
não a deixou ir, a deixou seguir com sua vida.
— Ele te deu algum tipo de resposta?
Sam balançou a cabeça lentamente. — A princípio ele tentou

evitar responder, culpando a igreja e os votos sagrados por sua
decisão. Eu apontei que ele estava quebrando seus votos
constantemente, então eles realmente não significavam nada para
385
Livro Único
ele. No final, ele admitiu que mamãe dirigia sua casa do jeito que ele
queria. Ela o manteve confortável. Ela também evitou que qualquer
uma das mulheres com quem ele dormiu tivessem grandes ideias
sobre tentar se tornar a próxima Sra. Rossi.
Stella se absteve de chamar o pai de um nome muito feio, mas

era difícil. Ela ficou em silêncio, pensando que era a melhor maneira
de ficar longe de problemas. Para ela, Marco Rossi era um idiota de
primeira classe.
— Eu acho que ele pensou porque eu era mais velho agora, eu

entenderia. Eu não fiz. Eu não. Eu nunca vou. E não apenas porque
ela era minha mãe. Ele é um bastardo egoísta e nunca deveria ter se
casado em primeiro lugar. Ele se casou com ela porque sua família
era uma das famílias governantes e era como se casar com a realeza.
Eu pensei que ele a amava. Ele alegou que o fez à sua maneira. Ele
disse que a amava mais do que jamais amou qualquer mulher. Ele
também disse que esse era um dos motivos pelos quais ele não se
divorciava dela. Isso e sua família nunca entenderiam.
Sam esfregou a ponta do nariz com um dedo enluvado

enquanto continuavam a caminhar ao redor do lago. A água batia
suavemente na costa.
— Ele admitiu ter muitos arrependimentos. Ele disse que

gostaria de ter ficado em casa para o aniversário dela. Ele não fez
isso porque já concordou em encontrar vários de seus amigos no
clube de strip e não queria parecer fraco. Ele tinha esquecido a data.
Ele disse que deveria apenas ter ligado para eles e cancelado.
— Isso é tão triste, que seu ego não permitiu que ele recuasse,
mesmo que ele quisesse.
— Na verdade, eu disse a mesma coisa para ele e ele disse que

era uma época diferente. Homens e mulheres tinham papéis
diferentes. Até as crianças gostavam. Ele foi criado em um ambiente
mais hostil do que me criou. Suponho que ele esteja certo.
386
Livro Único
— Ainda assim, é óbvio que ele não tem muito respeito pelas
mulheres, não é? Stella perguntou.
— Estou grato por ele nunca ter tido uma filha. Se ele tivesse,
ele a teria tratado como uma mercadoria, disse Sam. — Eu poderia
ter tido que arranjar para fazê-lo em mim mesma. Eu nunca teria
tolerado que ele tratasse minha irmã assim.
— Aquele homem com ele, seu guarda-costas, ou seja, lá o que

for, Lucio Vitale, também não parece ter muito respeito pelas
mulheres. Ou ele não acha que elas têm cérebro.
— Sua família inteira foi exterminada. É uma longa história,

não agradável. Imagino que ele seja muito amargo e implacável em
sua necessidade de vingança. Ele é um homem de quem se deve
ficar longe. Não estou surpreso de vê-lo com meu pai, embora esteja
um pouco chocado que Marco confie nele.
Stella piscou para ele. — Você acha que ele machucaria seu
pai?
— Se algum dia se descobrisse que Marco teve uma

participação na morte de sua família, é claro que ele iria matá-lo sem
pestanejar. Ele faria isso lento e feio também, saboreando cada
momento de sua tortura. Sua família morreu muito feio. Primeiro
seu pai. Em seguida, seus irmãos mais velhos. Ele cuidou de sua
mãe e irmãs financeiramente lutando com os nós dos dedos nas
lutas mortais.
Stella franziu o cenho para ele. — O que é isso? Um pequeno

arrepio desceu por sua espinha porque ela teve uma sensação
terrível que conhecia. — Isso não é como aqueles filmes de
Hollywood em que eles lutam até a morte, não é? Ela tentou soar
sarcástica para não ser real.
— Isso é exatamente o que é.
387
Livro Único
— Eu não achei que aquilo fosse real. Ele ainda está vivo,
então ele deve ter vencido.
— Ele venceu, mas eles pegaram seu dinheiro para pagar a

dívida de seu pai a cada partida. Isso deixou sua mãe e irmãs sem
teto e sem comida. Ele tinha que fazer outras coisas para conseguir
dinheiro para essas coisas e, ainda assim, a vida não era boa para
nenhum delas.
Eles caminharam em silêncio, ouvindo os sons familiares das

criaturas noturnas e o sussurro do vento agitando a superfície da
água. Morcegos giravam e mergulhavam, pegando insetos enquanto
voavam nos raios de lua acima da beira da água.
— Você nunca sabe o quão complicado é a vida de uma

pessoa, não é, Sam? Stella perguntou. — Desde que os pesadelos
começaram, tenho descoberto todo tipo de coisa sobre meus amigos,
de Denver a Viena, coisas que eu não sabia antes. Ela ergueu o rosto
para ele. — Coisas sobre você. Eu acho que todo mundo tem coisas
em seu passado que preferem ficar lá. Sinto por ele agora, por
Vitale, e não quero. Acho que ele é muito parecido com seu pai. Eu
também acho que ele é o homem que partiu o coração de Raine. Eu
não sei disso, mas se ele fez, ele é indiretamente responsável pela
morte de seu pai e por ela ser expulsa de sua família.
— Espero que não, disse Sam. — Raine me parece o tipo

vingativo. Se ambos estiverem, isso pode ser uma combinação muito
ruim. Especialmente se os dois estiverem sentados à nossa mesa de
jantar de feriado.
— Já que a conversa não foi muito bem, acho que não terei que
me preocupar com isso, disse Stella, sentindo-se um tanto aliviada.
— Na verdade, foi melhor do que eu esperava. Eu tinha

verificado seu histórico médico antes de ir vê-lo. Ele tem um
problema cardíaco. Também coloquei alguns investigadores de
primeira linha sobre ele para desenterrar o máximo que pudessem
388
Livro Único
em uma tarde. Parece que ele está pensando em se aposentar. Ele

transferiu a maior parte de seu dinheiro, todo ele legitimamente,
para suas contas offshore. Parece que ele está se reunindo com o
homem que teria assumido por ele.
— Você acredita que ele está se aposentando?
— Ele está dando os passos em direção a isso. Bem cuidadoso.

Sam reconheceu, virando-os, levando-os de volta na direção da casa.
— Ele estava procurando por imóveis aqui e ele realmente conheceu
uma mulher de quem parece gostar. Ela é mais próxima da sua
idade e não parece estar interessada no dinheiro, embora seja cedo
para dizer. Parece que ele estava falando a verdade sobre essas
coisas.
— Você está fazendo uma política de esperar para ver com ele,
não é? Stella adivinhou.
— Eu o aconselhei a contratar uma empresa de segurança

muito boa e dei-lhe o nome de uma. Conheço amigos que são
excelentes guarda-costas. Depende dele ouvir ou não. O pai de
Raine deveria ter contratado guardas. Só porque você se aposentou
não significa que você está fora do jogo. Você ainda tem muito
conhecimento. Os federais ainda podem decidir vir atrás de você.
Não é como nos velhos tempos, onde havia tiroteios o tempo todo,
mas isso não significa que não haja atividade criminosa. É apenas
conduzido nos bastidores e as famílias parecem muito legítimas e
permanece o mais discreta possível. Ninguém quer chamar atenção
para si mesmo. Portanto, matar um velho que vive nas serras com
uma bala na cabeça seria estúpido. Arranjar um acidente seria fácil.
Ele abriu a porta para ela e permitiu que ela entrasse. Antes
que ela fosse muito longe, a palma da mão dele enrolou em volta da
nuca dela e ele a puxou para si, seus olhos escuros de calor. Seu
coração acelerou imediatamente. Sua boca desceu lentamente, de
389
Livro Único
uma forma que sempre dizia que ela tinha a escolha de detê-lo, mas
só a fez queimar mais quente por ele.
Então ele a beijou e tudo desapareceu, exceto Sam. Ele poderia

deixá-la desossada em segundos, seu corpo derretendo-se no dele,
sua mente desvanecendo-se então só havia sentimento, essa
sensação de queda livre, de fogo em suas veias e aquela bola de
necessidade crescendo em seu estômago e em seu sexo. Ele ergueu a
cabeça e beijou suavemente os dois olhos e, em seguida, os cantos da
boca e do queixo, dando-lhe tempo para encontrar a força para ficar
por conta própria novamente.
— Você deve estar superaquecido com todas essas roupas.

Tire-os e espere por mim na cama. Vou levar apenas um minuto
para levar Bailey para sair.
Aquela aspereza em sua voz normalmente gentil foi à única

coisa que disse a ela que ele estava tão afetado por seu beijo quanto
ela. Isso e seu corpo duro pressionado com tanta força contra o dela.
Um pouco atordoada, ela acenou para ele.
Capítulo 18
Stella podia ver os sapatos e equipamentos de escalada,

as cordas e até a borda de uma mochila encostada em uma rocha
menor. Os sapatos se moveram e a base da pedra ficou à vista.
Havia uma saliência bem no fundo do granito que parecia oca por
390
Livro Único
uma longa distância. Ela soube imediatamente que havia escalado -

ou tentado. O motivo de sua memória ser tão vaga era porque ela
só tinha ido lá uma vez. A pedra era muito difícil - e alta - para seu
conjunto de habilidades.
Ela tentou afastar suas memórias e se concentrar no que

estava vendo. Ela precisava catalogar todos os detalhes, para ter
certeza de que entendia direito. As cores varreram a rocha.
Vermelhos e cinzas escuros, amarelos claros e dourados, essa
rocha tinha todas as cores do granito com o sol da manhã batendo
nela. Ela até teve vislumbres de um roxo profundo nas fendas
enquanto os dois homens caminhavam pelo chão, olhando para
cima.
A pedra era muito alta. Quando um deles se virou ligeiramente

e a lente acompanhou aquela varredura, ela avistou uma segunda
pedra, quase tão alta com um topo dentado. Ambos eram largos e
longos. Pareciam ser o sonho de um alpinista - e o pesadelo.
Nenhuma das duas seria uma escalada fácil, mas poucos rochedos
perderiam a chance de resolver o problema de subir ao topo em
triunfo total. Aparentemente, era exatamente isso que a vítima vinha
fazendo - trabalhando em seu projeto há algum tempo.
Stella estudou o que podia ver da base da pedra. A saliência

foi extremamente severa. Um alpinista teria que ser uma aranha,
indo de cabeça para baixo e encontrando uma rota para levá-lo
391
Livro Único
para cima e por cima da saliência para chegar ao que parecia ser
uma superfície lisa. Havia rachaduras e afloramentos, se você
tivesse paciência para encontrá-los. O granito não era nem um
pouco liso, mas tinha pequenos apoios para os dedos e pequenos
lugares que as pontas dos sapatos de escalada podiam encontrar
para erguer o corpo.
As sombras lançadas pelas duas pedras nas primeiras horas

da manhã indicaram que essas duas pedras seriam consideradas
"bolas altas". Ela achava que eles podiam ter pelo menos dez ou
doze metros, senão mais alto. Ela não queria pensar que o alpinista
estava pensando em escalar sozinho sem corda. Foi feito. Havia
muitos escaladores que escalavam em liberdade. Ela não gostava
de alturas e apenas o pensamento a assustava. Agora, saber que o
assassino pretendia matar seu amigo tornava ainda pior subir as
alturas e depender de outra pessoa.
Ela podia ver apenas partes da rocha quando os dois homens

começaram a se preparar para a escalada. Um estava subindo, o
outro amarrando por baixo. Seu coração começou a bater forte.
Mais uma vez, havia aquela sensação de triunfo absoluto
emanando do assassino. O ar parecia pesado e opressor para ela,
uma mortalha sinistra e ameaçadora que o assassino criou com sua
alegria distorcida. Ele estava lá com um amigo. Seu amigo confiava
nele o suficiente para colocar sua vida em suas mãos, e o tempo
392
Livro Único
todo ele planejou matá-lo e fazer com que parecesse um acidente.
Stella não tinha certeza de como ele faria isso e não seria suspeito.
Ela observou cada detalhe que podia da pedra e do

equipamento antes que as lentes fechassem e ela se viu mais uma
vez olhando para uma tela preta.
Stella sentou-se lentamente, nem mesmo lutando para sair

do pesadelo. No momento em que ela ergueu os cílios, ela estava
olhando nos olhos de Sam. Ela sabia que ele estaria lá, sentado em
frente a ela na cadeira, o olhar fixo em seu rosto. Calmo. Sua âncora.
Ela definitivamente estava se apaixonando por ele. Só de vê-lo
endireitou seu mundo.
— Eu tenho mais detalhes. Eu estive lá. Eu sei que até tentei

escalar uma vez. Estava além da minha capacidade. Eu nunca teria
ido lá sozinha, então foi com um de meus amigos. Não entendo
como o assassino planeja fazer isso parecer um acidente sem que
todos saibam que ele estava envolvido.
Seu olhar se agarrou ao de Sam. Mesmo que ela estivesse

ficando muito melhor em lidar com os pesadelos, ela precisava
daquela primeira conexão com ele, e ele nunca falhou com ela. Ele
estava sempre ali. Ela olhou para a grande caixa onde Bailey estava
enrolado, seu olhar treinado para ela em alerta. Ele estava tão
dedicado como sempre. O terrível ataque não diminuiu de forma
alguma o relacionamento deles. Ela tinha muito a agradecer. Esses
dois e seus amigos.
— Nós vamos pegá-lo desta vez, Sam. Eu simplesmente sei

disso.
393
Livro Único
Ele assentiu. — Você tem mais uma noite. O que quer que ele
planeje fazer, você verá amanhã à noite. Você sempre faz. Nessa
altura, teremos a localização. Nós vamos sair e fazer algumas
escaladas nós mesmos. Será bastante natural que você queira
escalar. Os dias são lindos e você realmente não gosta de altura.
Parece a rocha perfeita para praticar.
Um pequeno estremecimento passou por ela quando ela se

abaixou para destrancar o cofre.
— Ele está aqui esta noite. Eu posso senti-lo.
— Ele está. O que quer que o tenha impedido de vir nas

últimas três noites, evidentemente acabou. Ou ele apenas fez uma
pausa.
Stella olhou para Bailey novamente. — Eu preferia que você

não saísse sem mim. Eu sei que você gosta de perambular à noite,
mas você sempre teve Bailey com você. Ele pode ter esfaqueado
Bailey de propósito para que você não o tivesse para alertar você.
Ela torceu os dedos com força no colo, esperando que ele não
notasse. Ela não tinha ideia de como ela pensava que iria se safar
com isso, porque Sam percebeu tudo. Seu olhar caiu para seus
dedos entrelaçados, e suas feições duras suavizaram imediatamente.
— Mulher.
— Homem. Ela sussurrou a resposta automaticamente, o nó

em sua garganta ameaçando sufocá-la. Seus olhos escureceram.
Aquecido.
— Você se lembra do que eu fazia para viver antes de vir para

cá?
Ela balançou a cabeça lentamente. — Eu não sou o tipo de

mulher que bisbilhota. Na verdade, eu nunca te perguntei. Eu sei
394
Livro Único
que você não é um 'fantasma'. Fora isso, só sei que você

trabalhava para o governo e era muito bom no que fazia.
Seus olhos ficaram ainda mais escuros e um sussurro de um

sorriso tornou-se sexy. — Você sabe o que eu fiz.
— Ok, talvez eu saiba. Tipo de serviço.
— Eu ainda estou vivo por uma razão, Stella. Saio sozinho

pela sua porta à noite, aquele homem que está olhando não será
capaz de me encontrar com ou sem seus óculos de visão noturna. Eu
posso me aproximar dele. Eu sei onde fica o acampamento dele. Eu
disse a você que fica bem do outro lado do lago, onde fica a curva.
Ele é astuto como um animal e correrá no minuto em que não puder
me encontrar, mas não será capaz de se aproximar furtivamente de
mim. Eu sou o curinga, Stella. Ele não me conhece. Ele não consegue
descobrir quem eu sou ou de onde vim. Ele pode fazer todas as
pesquisas do mundo e não encontrará registros meus em lugar
nenhum.
Ela suspirou. — Eu ainda não gosto disso, Sam.
As linhas ao redor de seus olhos enrugaram. — Isso é porque

você é doce, Stella. E feroz.
— Eu posso acertar o que estou mirando, ela apontou. —

Quando eu atiro Sam, eu sei o que estou fazendo e não hesitaria em
protegê-lo. Ela não iria.
— Estou bem ciente. E agradecido. Eu não gostaria que você

tivesse uma arma que não pudesse usar.
— O ponto é, eu deveria ser de igual ajuda para você. Não

deveria ser apenas você sempre cuidando de mim. Não sou o tipo
de mulher da donzela em apuros. Ela tentou não soar beligerante,
mas ela não era uma mulher que precisava ser cuidada. Ela era
autossuficiente. Ela mudou o negócio. Ela teve o bom senso de
395
Livro Único
contratar Sam e, nos últimos dois anos, talvez tivesse se apoiado

nele um pouco mais do que deveria, mas podia se manter por conta
própria e, se necessário, cuidar dele e Bailey.
A sombra de um sorriso se tornou um lampejo de seus dentes

brancos. — Acho que é seguro dizer que sempre fomos uma
parceria, Stella. Nós cuidamos um do outro. Esta é uma situação
estranha. Se você se lembra, no início disso, foi você quem
mergulhou em um lago gelado para me salvar.
Isso era verdade. Havia alguma satisfação em saber que ela

tinha feito isso... Exceto... — Você estava com sua faca e eu acho que
você poderia ter conseguido matá-lo naquele momento se eu não
tivesse interferido, ela concedeu.
— Pode ser. Talvez não. Eu realmente bati minha cabeça. Eu

não esperava que um serial killer me arrastasse para baixo da água.
Eu estava definitivamente desorientado. Diga-me o que mais você
descobriu esta noite.
— Eu poderia dizer que os dois se conhecem muito bem. Eles

são amigos há muito tempo. Isso só torna o crime mais horrível para
mim. Eu também não tive a sensação do assassino em série de que
ele tinha um rancor pessoal contra o amigo. Parece mais uma
viagem de poder. Uma espécie de pressa, como se ele estivesse
fazendo isso porque pode. Ele é mais esperto, muito mais
inteligente, e ninguém jamais descobrirá. Ele acredita que pode
parar sempre que quiser e, em seguida, começar de novo quando
decidir jogar seu jogo.
Sam fez um pequeno som que pode ter sido uma maldição sob
sua respiração. — É um jogo para ele? É assim para você, Stella? Eu
sei que você é capaz de obter emoções tanto da vítima quanto do
assassino.
— Este é o máximo que ele já transmitiu. Antes, ele era um

tanto reservado até quase o último momento. Ele quase se sentia
396
Livro Único
como um predador caçando e então havia uma onda de euforia.

Parece que ele está em um êxtase contínuo, aquela pressa constante.
Ele gosta de saber que vai passar horas com sua vítima e pode matá-
la a qualquer momento.
— Duas vezes fui enviado para caçar um predador dentro de

uma unidade, um nos fuzileiros navais e um no exército, com quatro
anos de intervalo. Os homens sairiam para treinar ou para um
pequeno confronto com o inimigo. Um não voltaria. Eles iriam
encontrar um soldado assassinado quando fosse procurá-lo. O
comandante começou a suspeitar que eles tinham um serial killer
dentro de suas fileiras, mas não importava as armadilhas que
preparassem, eles não conseguiam encontrá-lo. Eu fui chamado.
Claro, ninguém sabia quem eu era. Na maioria das vezes, eles nunca
me viam. Eu conduzi uma investigação nos bastidores, por assim
dizer.
Stella esperou, os olhos fixos nos dele. Sam raramente falava

sobre seu passado ou qualquer uma das atribuições que tivera. Ela
achou fascinante pensar que ele seria enviado para investigar dentro
das fileiras dos militares e ainda assim ninguém saberia que ele
estava lá.
— Acho que você encontrou os dois.
Ele assentiu. — Eu fiz. Eles não foram entregues para

julgamento. Seu olhar continuou a segurar o dela firmemente. —
Isso fazia parte do meu trabalho. Eu deveria removê-los
permanentemente.
— Você já teve que caçar muitos assassinos em série?
— Depende de você chamar ou não terroristas ou presidentes

de cartéis de drogas de assassinos em série. Todo mundo tem uma
razão para o que escolhe fazer, mas se eu fui enviado atrás deles,
você pode acreditar que eles mataram muitas pessoas inocentes.
397
Livro Único
Ela queria ir até ele e abraçá-lo. Assim como ela havia sido
puxada de volta ao passado com esse horror, ele também. Ele tinha
sido estoico sobre isso. Fato de fato. Mas havia uma razão para Sam
ter acabado nas Sierras, na pequena cidade de Knightly. Como todos
eles, ele estava procurando paz. Ele queria sair do trabalho e,
embora isso não transparecesse em seu rosto, porque nunca
apareceu, ela sentiu a tristeza subjacente nele por pensar que teria
de ser ele a caçar o assassino.
— Vamos descobrir quem é este homem, Sam, e vamos

conseguir as provas de que precisamos e entregá-lo a Griffen. Ela
derramou determinação em sua voz.
— Não é fácil obter provas contra esse tipo de assassino, Stella.

É por isso que existem homens com minhas habilidades. É por isso
que fui enviado.
— É por isso que você foi enviado. Agora, outra pessoa faz
esse trabalho. Você não. Você está fora disso. Você está aqui para
começar uma nova vida, assim como eu. Assim como Raine e
Vienna e todos os outros. Sam, você não consegue pensar como
antes.
Um lento sorriso aqueceu seus olhos, enviando

instantaneamente o estômago dela em uma série de voltas e
cambalhotas. Ele era seriamente sexy, mesmo sem tentar.
— Querida, eu não posso simplesmente parar com essa

maneira de pensar. É quem eu sou.
— Você vai ter que se esforçar mais. Ela deu a ele seu olhar
mais severo, o que ela dava a Bailey quando ela realmente quis dizer
o que disse.
— Comece a desenhar, Stella. Vou dar uma caminhada e

depois levo Bailey para sair. O look, aliás, é fofo. Bailey também
pensa assim. Sam se levantou, espreguiçando-se preguiçosamente.
398
Livro Único
Ela fez uma careta para ele, uma carranca feroz e negra com a
intenção de intimidar. — Meu olhar severo não é fofo. Bailey sempre
se importa comigo quando eu olho para ele. Eu sugiro que você faça
o mesmo se você sabe o que é bom para você.
Sua boca se contraiu. Os cantos de seus olhos enrugaram. Não

eram linhas de riso, mais como linhas de sol, mas ela pensou que
deveriam ter sido linhas de riso. Eles sempre seriam para ela. Ela
nunca se cansaria de olhar para ele.
— Estou tentado a ver o que aconteceria comigo se eu

desobedecesse. Acho que seu cabelo está estalando, Satine.
Seu sorriso chegou perto de derreter suas entranhas. Ela

pressionou a mão contra o estômago e deliberadamente estreitou o
olhar para ele, gostando da maneira fácil como eles podiam
provocar um ao outro mesmo sob as circunstâncias terríveis.
— Eu não acho que você quer arriscar, ela avisou.
Ele caminhou até o lado da cama daquele jeito fluido que ele
tinha e inclinou a cabeça para a dela. Lento. Tomando seu tempo.
Ela virou o rosto para ele, dando-lhe a boca. Uma grande mão
emoldurou o lado de seu rosto, seu polegar deslizando em uma
carícia sobre sua bochecha enquanto sua cabeça continuava a descer.
Seu coração gaguejou. Seu sexo se apertou. Os cílios caíram

para bloquear sua visão. No momento em que seus lábios
reivindicaram os dela, faíscas explodiram sobre sua pele. O arrepio
começou. Seus braços a envolveram e ele a moveu contra seu peito.
Ela deslizou os braços para cima para que pudesse entrelaçar os
dedos atrás do pescoço dele.
Quando Sam a beijou, não havia espaço para mais nada em

sua mente. Ninguém mais. Nada mais. Só ele. Apenas a sensação
que ele deu a ela. Ele podia ser terno ou selvagem, e não importava
como eles se uniram - eles detonaram, iluminaram o mundo ao seu
399
Livro Único
redor e o tempo todo ela se sentiu segura e em casa. Ela se sentia

como se pertencesse.
Sam ergueu a cabeça, seus lábios seguindo a estrutura óssea de

sua mandíbula e, em seguida, descendo pela coluna de sua
garganta. — Você é tão linda, Stella.
Ela balançou a cabeça. — Obrigado, Sam. Eu nunca pensei em

mim dessa forma até que você apareceu.
Ele colocou o cabelo atrás da orelha dela. — Confie em mim,

você é. Volto em breve. Não quero que você se preocupe comigo.
Estou prendendo você, mas você pode verificar os bloqueios no seu
telefone, ele lembrou.
— Eu preciso de um dispositivo de rastreamento em você, ela

apontou. — Então eu saberia com certeza que você estava bem lá
fora.
Ele riu suavemente. — Ele vai decolar no minuto em que não

puder me encontrar lá fora. Você espera para ver. Eu prevejo dentro
de cinco minutos. Ele vai entrar em pânico e vai fugir. A ponta do
polegar dele se moveu para frente e para trás sobre o queixo dela em
uma pequena carícia.
— Tudo bem, Sam. O que ela poderia fazer a não ser ceder e
deixá-lo ir sozinho?
— Não fique tão taciturno, querida. Ele irá embora e eu estarei

de volta inteiro. Amanhã, as meninas virão almoçar e você poderá
mostrar todos os seus esboços a elas. Um deles foi com você
escalando até este lugar. Eles sabiam o caminho, então elas devem se
lembrar dele. Enquanto elas estão com você, irei à cidade e
comprarei mantimentos e mais guloseimas para Bailey. Ficamos um
pouco loucos por mimá-lo.
Ela fez uma careta. — Você quer dizer que eu fiz. Eu odeio que
ele tenha que ficar tão quieto em sua caixa quando ele quer estar
400
Livro Único
conosco. Eu o esgueiro para se deitar comigo quando estou na outra

sala. Se ele tiver um osso grande para mastigar, ele não lamberá
suas suturas.
— Ele está usando o cone da vergonha.
— Ele detesta aquela coisa. Eu tiro dele quando ele não está
sozinho, ela admitiu, evitando os olhos de Sam. Ela não queria que
ele pensasse que ela era fraca. Aconteceu que Bailey deu a ela seus
grandes olhos suplicantes e ela não aguentou. Ela cedeu
imediatamente, mas apenas se ela estivesse ali, observando cada
movimento seu.
Sam balançou a cabeça. — Você é tão durona, Stella.
Ela inclinou o queixo para ele e estreitou os olhos quando ele

deu um passo para trás e se dirigiu para a porta do quarto. — Eu
sou. Você já me viu lidando com aqueles pescadores reclamantes?
— O tempo todo, Satine. É uma coisa para se ver. Havia

admiração em sua voz, assim como risos. Seus olhos escuros riram
dela - ou com ela.
Porque ela não pôde deixar de rir também. Ela podia ser
incrivelmente dura quando tinha que ser, mas não com Bailey. E ela
provavelmente nunca seria muito dura com Sam também.
Ela sacudiu seus lápis de cor e começou a esboçar todos os

detalhes que conseguia se lembrar antes de mudar para o diário. Seu
olhar saltou para o relógio. Sam estava certo. Em seis minutos, ela
não sentiu mais a presença do observador.
Stella poderia assar quando quisesse, mas honestamente

não tinha pensado em cozinhar ou assar ultimamente. Sua mente
estava consumida tentando descobrir quem era o assassino em série
401
Livro Único
e como capturá-lo e condená-lo. Ter seus amigos vindo para sua

casa significava alimentá-los. Ela tinha se esquecido disso. Antes
que ela pudesse entrar em pânico, Sam puxou vários blocos de
queijo da geladeira e desenterrou algumas caixas de biscoitos da
despensa.
Sam nunca se importou em ajudar na cozinha. Na verdade, ele

cozinhava mais do que ela, especialmente agora. Ele se certificou de
que ela comesse. Eles cortam queijo juntos e colocam biscoitos na
bandeja para as mulheres. Sam encontrou a fruta que comprou
recentemente, então pelo menos era fresca.
Quando as cinco mulheres chegaram, Stella não estava em

pânico. Ela e Sam já haviam levado Bailey e posto em sua caixa
quando as amigas dela saíram do carro e foram para a sala de estar.
Todas as mulheres estavam acostumadas a se sentir em casa nas
casas umas das outras.
Shabina e Harlow já haviam pegado a limonada na geladeira e

colocado à bandeja na mesinha de centro. Raine colocou a bandeja
de queijo e biscoitos no chão e se sentou ao lado dela, ao lado das
outras duas mulheres.
Vienna bocejou. — Sinto muito, ainda estou tão cansada.

Estive no hospital por duas noites seguidas em cirurgia devido a
esses terríveis acidentes de carro. As vítimas foram transportadas de
avião da montanha. Eu não pude acreditar. Ambos foram acidentes
de carro. Dr. Teller foi brilhante. Não sei como ele conseguiu salvar
o braço da criança, mas ele salvou, e depois a vida da mãe.
Perdemos o pai. Essa foi a primeira noite. Na segunda noite, era um
jovem casal. O Dr. Teller novamente realizou um milagre. Eu tinha
certeza que ele teria que amputar a perna da mulher, mas ele salvou,
assim como as vidas de ambos. Foi uma noite longa, mas boa. Eu
dormi a noite toda na noite seguinte e então tive que mudar de
turno na noite passada, embora tenha sido silencioso. Ainda sinto
que preciso dormir pela próxima década.
402
Livro Único
— Viena, você deveria ter optado por não vir, disse Stella. —
O resto de nós poderia ter feito isso. Vienna parecia cansada, algo
que era raro para ela.
— Por que você não vai se deitar em um dos quartos de

hóspedes?
— Estou bem aqui. Vou me esticar no sofá, e se começar a

roncar é só jogar água em mim, ok? Ronco é tão desagradável.
As mulheres riram, mas trocaram olhares preocupados

quando Vienna realmente se deitou no sofá, algo que ela
normalmente não faria. Ela frequentemente trabalhava no pronto-
socorro, mas era a enfermeira cirúrgica mais importante do hospital
e, quando era uma emergência, era Vienna quem era chamada. Não
importava o que acontecesse, ela sempre atendia à chamada.
— Vou deixar vocês com isso. Tenho trabalho a fazer. Sam se

inclinou e deu um beijo no topo da cabeça de Stella antes de sair
pela porta.
Zahra ficou na janela, observando-o se afastar de casa com seu

passo fácil e fluido. — Ele é realmente bonito, Stella, disse ela.
Stella começou a rir. — Afaste-se daí. Você não tem permissão

para flertar com ele ou babar por ele. Se você fizer isso, estou
colocando gelo na minha água e esmagando-o toda vez que estiver
perto de você.
Zahra saiu correndo da janela. — Foi apenas uma observação.

Ninguém deve beber água fria, muito menos colocar gelo nela. Ela
estremeceu um pouco. — Água quente apenas com limão. Ela pegou
o queijo, colocou em um biscoito e colocou na boca. — Triturar gelo
é pura tortura. Ela se jogou no chão ao lado das outras e sentou-se
como um alfaiate.
Stella espalhou os desenhos no chão da sala. — Já estive aqui

antes, o que significa que uma de vocês me levou até lá. A escalada
403
Livro Único
estava definitivamente acima da minha capacidade. Alguém

reconhece o caminho ou as pedras apenas pelo pouco que desenhei?
Ela fez o possível para impedir que seu coração acelerasse fora
de controle. Ela estava contando com elas para ajudá-la a encontrar
este conjunto indescritível de pedras. Ela viveu lá por muito tempo,
e ainda não sabia onde era esse lugar.
Zahra fez uma careta para os esboços. — Eu nunca vi aquele

lugar, Stella, e eu faço escalada com você o tempo todo.
Na verdade, isso não era bem a verdade. Zahra preferia

escalar tradicional. Dê a ela um arnês, alguns amigos, alguém para
liderar a escalada e outra pessoa para limpar, e ela ficará feliz.
Bouldering definitivamente não era sua escalada preferida, mas ela
o fazia quando Stella queria companhia, assim como ela caminhava
ou mochila quando Stella queria companhia.
Raine olhou os esboços cuidadosamente e balançou a cabeça.

— Desculpe querida, eu não os reconheço.
Shabina se inclinou sobre o ombro de Raine, examinando os

desenhos de perto. — Eu também. Não fui eu quem te levou lá.
Restavam apenas Harlow e Vienna. Harlow já estava

balançando a cabeça.
Vienna ficou no sofá, mas estendeu a mão para os esboços. Ela

percorreu os desenhos rapidamente e acenou com a cabeça,
esticando o braço novamente, os olhos fechados.
— Eu levei você lá três anos atrás. Muito poucos locais sabem

disso. As pedras são chamadas de Demônios Gêmeos. Quando você
está no topo de qualquer uma das pedras, pode ver para sempre.
Você tem que pegar a velha Hot Springs Road, aquela que ninguém
mais usa. Continue indo e cerca de 11 quilômetros depois das fontes
termais há um desvio. Não está marcado. Há apenas uma estrada de
terra, provavelmente quase toda crescida agora. Está do lado
404
Livro Único
esquerdo. Nada marca isso. Sem cercas, absolutamente nada. É por

isso que ninguém nunca vai lá. É quase sempre esquecido e quando
as pessoas tentam encontrá-lo, elas se perdem. A estrada é plana
bem ali, então parece que você está entrando em um prado. Você
tem que olhar com muito cuidado ou você vai se perder.
— Por que a estrada não está marcada? Raine perguntou.
Vienna pigarreou, um sorriso fraco surgindo e depois

desaparecendo. — Me falaram que a propriedade é privada, uma
área bem grande, mas os proprietários não moram aqui e não há
casa ou cabana. Eles nunca voltam. Eles herdaram de bisavós ou
algo parecido e está na família desde sempre. Já que ninguém vai lá,
a terra fica cada vez mais selvagem. Muitos animais selvagens.
Ursos. Leão da Montanha. Cascavéis.
— Por que eles não vendem? Harlow perguntou.
Vienna suspirou. — Algum tipo de feudo acontecendo, se é

que isso é para ser acreditado.
— Ninguém nunca vai lá? Zahra disse. — Existem inscrições

de Proibição de invasão?
— Costumava haver. Não existe há anos. Pelo menos a última

vez que fui lá não vi nenhum sinal.
— Viena. Você sabia que era propriedade privada e ainda

assim invadiu? Shabina disse. — Quem diria que você era uma
garota tão má?
— Todos vocês sabiam.
— E você me levou lá também, ressaltou Stella. — Se

tivéssemos sido pegos, eu teria que alegar inocência.
Vienna acenou com a mão no ar, os olhos fechados. — Eu teria

mentido pra caramba e dito que você sabia de tudo. Se estou
405
Livro Único
afundando, você também. Podemos muito bem nos divertir na

prisão juntos.
Stella começou a rir. — Eu suponho.
— Nós pagaríamos sua fiança, Zahra prometeu.
— Obrigado. Stella mandou um beijo para ela. — As pedras no

mapa estão em algum lugar?
— Se eles estão eu não sei sobre isso. Um amigo meu de

escalada me mostrou. Ele foi chefe de Busca e Resgate antes de mim,
mas ele deixou Knightly, dizendo que precisava ir para outro lugar,
onde pudesse ampliar seu campo de namoro.
— Sheesh, Viena. O que ele achou que havia de errado com

você? Harlow perguntou. — Você estava bem ali na frente dele.
— Eu disse não.
— Essa seria a razão pela qual ele saiu, então, Raine disse. —
Vou pesquisar as pedras no Google Earth e ver se consigo encontrá-
las, Stella. Quanto mais instruções recebermos para você, melhor.
Você tem um plano?
— Sim. É sólido. Não queremos que o assassino saiba que

estamos atrás dele. Sam e eu iremos para as pedras como se
fôssemos passar o dia escalando, e vamos sobreviver a ele.
— Sam pode conseguir, Raine disse. — Mas você não tem

exatamente uma cara de pôquer, Stella. O assassino saberá que algo
está errado, especialmente se for alguém que você conhece.
— Talvez devêssemos ir todos lá, sugeriu Zahra.
— Não em sua vida, Stella objetou instantaneamente. — Se

você acha que eu iria desistir quanto mais de nós lá, mais provável
que uma de nós tropece. Não, vamos seguir o plano. Sam e eu
iremos. Faz sentido que ele me leve para o meio do nada para
406
Livro Único
praticar escalada livre com ele quando eu não quero que ninguém
testemunhe meus surtos. Esta é a época do ano certa para eu escalar,
já que acabei de fechar o resort.
— Você conseguirá evitar de avisar a vítima, já que ele é um

amigo? Harlow perguntou.
Stella passou a mão pelo cabelo. — Eu não sei. Só espero que

possamos encontrar o lugar. Quero descobrir como o assassino
pretende se safar com o assassinato, fazendo com que pareça um
acidente. Essa peça deve vir para mim esta noite. Sam e eu vamos
nos levantar primeiro e sair para lá. Vou mandar uma mensagem
para todas vocês amanhã e informá-las sobre o que acontece e quem
acreditamos que seja.
Ela olhou ao redor da sala para suas amigas. — Vocês

realmente são as melhores. Eu não sei o que eu faria sem vocês.
Stella sentou-se no meio da noite, o coração batendo forte,

os olhos encontrando os de Sam. — Ele está amarrando ele. Todos
amigáveis. A vítima está trabalhando neste projeto há meses. O
assassino o deixa cair e remove todos os vestígios de sua presença.
Ele segura uma corda superior para que pareça que a vítima estava
trabalhando em seu projeto sozinha e caiu. Ele cantarolava enquanto
limpava as pegadas da sujeira e recolhia os equipamentos.
Seu estômago embrulhou enquanto ela contava a Sam. — Eu

não conseguia ouvir exatamente o zumbido, mais como se fosse um
som enterrado no vento e eu sabia o que ele estava fazendo. Ele era
meticuloso com todos os detalhes. Eu até o vi casualmente quebrar o
dedo da vítima. Apenas sua mão alcançou a lente da câmera e
agarrou o dedo da vítima. Foi revoltante ouvir o barulho.
— Você viu alguma parte do assassino?
407
Livro Único
— Eu só vi sua sombra na rocha. Ele passou muito tempo

trabalhando para encenar a cena, para ter certeza de que parecia que
sua vítima estava completamente sozinha. Ele sabia que ninguém
iria aparecer para perturbá-lo. Ela tentou esconder a amargura de
sua voz. — Ele se sentiu muito entusiasmado, Sam. Este triunfo.
Sentimentos de superioridade e até euforia. Ele não vai parar. Ele
gosta muito.
— Infelizmente, foi o tipo de coisa que testemunhei quando

investiguei as mortes dos soldados mortos. Uma vez que tive
certeza de que tinha o assassino em minha mira e comecei a segui-
lo, pude perceber essas pequenas nuances enquanto ele perseguia
sua vítima. O rosto corado. A respiração elevada. Às vezes, ele
perseguia a vítima repetidamente apenas para prolongar aquela
euforia, a sensação de poder, de ter a vida e a morte em suas mãos.
Ela nivelou seu olhar sobre ele. — Você teve que tirar vidas,
Sam. Você já teve essa sensação?
Ele franziu a testa. — No início, sempre me sentia um pouco

enjoada. Nunca hesitei, mas sempre havia repulsa na boca do
estômago. Eventualmente isso foi embora e eu fiquei entorpecido. À
noite, quando eu estava sozinho, não ficava entorpecido, mas isso
também foi embora. Ele ergueu os cílios e olhou nos olhos dela.
Constantemente. — Eu decidi que era hora de sair, Satine. Eu não
estava arriscando. Servi ao meu país e fiz o meu melhor para servir
com honra. Eu arrisquei que talvez não devesse, porque eu era uma
criança burra que sentia que tinha que pagar pelos pecados do meu
pai e pelo sangue correndo em minhas veias.
— Eu me senti assim por muito tempo. Acho que somos muito

parecidos.
— Acho que não, querida. Eu acho você alguém muito

especial.
408
Livro Único
— Sam. Para mim, você é um presente inesperado. Você nem

sabe. Eu me senti responsável por minha mãe e pela separação de
nossa família. Aprendi a nunca falar com ninguém sobre o que
estava acontecendo na minha vida. Tornou-se um hábito tão grande
que achei difícil deixar alguém entrar. Ela sorriu para ele. — Você
entrou sorrateiramente quando eu não estava olhando.
Ele deu a ela um sorriso de resposta. — Essa era a ideia. O

sorriso desapareceu.
— Talvez nós dois tivéssemos os mesmos códigos inseridos

em nós e é por isso que fomos capazes de entender a necessidade de
privacidade um do outro. Também fui criado em segredo. Minha
profissão só aumentou a necessidade de manter esse código.
— O mistério aumenta o seu fascínio. Minhas amigas

pervertidas estão fascinadas em você, ela disse a ele, para iluminar o
momento.
Uma sobrancelha erguida. — As mesmas amigas que tentou te

convencer de que eu era um assassino em série?
— Bem... Sim. Com exceção de Raine. Ela não acreditou por

um minuto. Estou convencida de que Raine pode ter informações
que ela não revelou a ninguém, ou ela apenas tem um sexto sentido
sobre as pessoas. Ela é diferente e sempre foi. Ela sabe o que é amar
e perder sua família. Ela sempre fala sobre eles, Sam. Sua mãe, pai e
irmãos. A infância dela. Ela teve uma infância feliz. Eu não tinha
ideia de que eles a consideravam morta para eles.
— Já ouvi falar dessa punição, disse Sam. — Parece extremo,

especialmente porque ela nunca soube que seu pai estava na máfia.
Acho estranho que sua mãe concordasse com o que obviamente é o
castigo de seus irmãos... A menos que... Ele parou abruptamente.
— O que?
409
Livro Único
Ele balançou sua cabeça. — Não conheço Raine muito bem. Ela
está sempre quieta. Quase sempre fica em segundo plano
observando a todos, mas ela é muito inteligente.
— Isso é um eufemismo, Sam. Ela é extraordinariamente

inteligente. Resfrie sob fogo. Ela pode cuidar de si mesma em
qualquer situação.
— Ela se colocaria como um alvo para tirar o assassino de seu

pai? Fazer sua família isolá-la para protegê-los?
— O que você quer dizer?
— Ela convenceria seus irmãos e sua mãe a rejeitá-la

publicamente Quem quer que tenha matado seu pai pensaria que
sua família a culpava e eles não olhariam duas vezes para uma
pequena garota que vivia sozinha nas Sierras. Ela não chega perto
de sua família. Se eles estão monitorando seus irmãos, seus irmãos
não estão fazendo investigações sobre a morte de seu pai. Eles
aceitaram isso como o preço que se paga por estar no negócio.
A respiração de Stella ficou presa nos pulmões. Isso era

exatamente algo que Raine poderia fazer. Ela estava muito
provavelmente desvendando pacientemente a trilha que levava a
quem estava por trás da morte de seu pai. — Se é isso que ela fez,
ela encontraria uma maneira de falar com sua mãe e irmãos sem
risco. Não pessoalmente, mas por meio de seu computador, admitiu
Stella.
— Acho que suas amigas se encaixam com você, querida,

porque elas sabem sobre como guardar segredos e sobre amor e
perda, assim como você.
— Nós somos ela corrigiu.
410
Livro Único
Stella olhou para a caminhonete familiar e então

lentamente voltou seu olhar para Sam. — Ele vai matar Denver.
Sam. Ele vai matar Denver. Nosso Denver. Ela mal conseguia
conceber alguém fazendo uma coisa dessas. — Ele é parte da nossa
família. Sua e minha. Temos que nos apressar. E se já chegarmos
tarde?
Ela abriu a porta de seu 4Runner e quase saiu correndo, seu

coração batendo forte, sua boca seca. Quem iria querer matar
Denver? De todos na comunidade, com exceção de Viena, ele foi o
mais prestativo. Ele era o mais doce. Ele era necessário como
anestesiologista residente. Ele estava na equipe de Busca e Resgate.
Ele ajudou os idosos a passarem o inverno, compartilhando a carne
que caçava e os peixes que pescava. Até mesmo os vegetais de sua
grande horta foram enlatados por muitos membros da comunidade.
Ele estava sempre disposto a ajudar com os reparos em suas casas,
acompanhando Sam quando soubessem da casa de uma pessoa
idosa com goteiras ou piso fracos. Os dois homens frequentemente
cortavam e rachavam lenha e traziam para aqueles que não podiam
mais obtê-la para si mesmos.
Sam a pegou pelo pulso e a puxou de volta para o assento. —

Pare Stella. Respire fundo. Você não vai ser bom para ele perder o
controle dessa maneira. Se você não pode fazer sua parte, terá que
ficar aqui e eu irei sozinho. O assassino não pode saber que estamos
atrás dele. Denver acredita que está aqui com um amigo para
trabalhar em um projeto. Eles precisam acreditar que trabalhamos
com seus medos. O assassino não tem razão para pensar que
estamos atrás dele. Nenhuma. A menos que você nos delate, ele vai
acreditar que é pura coincidência que escolhemos o dia de hoje. E
faz sentido. É um lindo dia.
Stella forçou o ar em seus pulmões. — É só que é Denver. Ele é

família. Ele é praticamente um ícone na comunidade. Ela olhou além
do caminhão de Denver para o SUV estacionado na frente dele. Sua
411
Livro Único
respiração sibilou. — Eu deveria saber. Deveria ter adivinhado.

Talvez uma pequena parte dela tivesse. — Jason Briggs. Foi ele
quem deu o aviso a Shabina para ficar fora da floresta. Ela olhou
para a máscara inexpressiva de Sam. — Por quê? Isso deveria lançar
suspeitas sobre seus amigos? Ou ele ficou tentado a ir atrás de
Shabina?
— Não sei, mas temos que nos mexer. Vamos pegar o

equipamento e começar a andar. Queremos ter certeza de que
estamos bem atrás deles.
— Você está certo - concordou Stella, respirando fundo

novamente para se acalmar.
— Não quero Denver naquela rocha antes de chegarmos lá.

Não pode haver acidentes, especialmente quando subimos. Ele pode
mudar seu plano no meio do caminho, como fez no lago porque o
interrompemos. Precisamos ter uma maneira natural de manter
Denver seguro.
Eles caminharam a distância rápido, o equipamento de

escalada em suas mochilas junto com garrafas de água e comida
como se planejassem passar o dia. Stella esperava que eles não
precisassem, mas apenas no caso, eles estavam preparados para
durar mais que o assassino.
Era um dia lindo, o sol brilhando, lançando raios sobre as

pedras conforme eles se aproximavam. Eles ouviram a risada baixa
dos dois homens carregada pela leve brisa. Sam se moveu um pouco
na frente dela, seu corpo maior bloqueando parcialmente a visão
dos dois alpinistas dela quando eles se viraram para encará-los.
O sorriso de Jason desapareceu, uma carranca estragando sua

boa aparência enquanto ele colocava as mãos nos quadris e se virava
totalmente para encará-los.
412
Livro Único
O sorriso de Denver se alargou em saudação. — Sam. Stella. O

que você está fazendo aqui? Não me diga que Stella vai escalar essa
coisa?
Stella não se conteve e se lançou nos braços de Denver. Ele a

pegou em um abraço. — Você vai enfrentar esta pedra?
— Não é uma pedra, ela objetou contra seu ombro, não

querendo levantar a cabeça e olhar para Jason, com medo de atirar
punhais nele.
— O que você está fazendo aqui? Jason exigiu.
— Stella não gosta de altura, Sam disse facilmente. — Vou

amarrá-la enquanto ela pratica ficar confortável aqui, onde não há
ninguém por perto. O que você está fazendo aqui?
Sam parecia alegre. Maleável. Como se nada estivesse errado e

ele conversasse com assassinos em série todos os dias.
— Estou trabalhando neste projeto há meses, admitiu Jason. —

Tenho falado a Denver sobre isso e como está lento há algum tempo.
Ele se ofereceu para vir comigo e me amarrar hoje. Será muito mais
fácil sem ter que usar uma corda superior.
Stella ouviu Jason como se estivesse de longe. Ela já havia

dado um passo para longe de Denver para que pudesse olhar para o
rosto de Jason. Ela queria ver sua expressão quando ele respondesse
a Sam. Ela fez o possível para processar a declaração de Jason. Para
fazer com que se encaixe nos fatos.
Este não poderia ser seu projeto. Tinha que ser o projeto de
Denver. Jason teve que ser o único a se oferecer para amarrar
Denver. Nada disso estava fazendo sentido. Ela olhou para a pedra
e novamente para o rosto de Jason. Em seguida, para Sam. Como
sempre, suas feições estavam definidas em uma máscara
inexpressiva. Nenhuma ajuda nisso.
413
Livro Único
Ela tinha ouvido direito? Mais uma vez, ela tentou torcer a
declaração de Jason para se encaixar com o que ela tinha certeza de
que eram os fatos, mas não importava quantas vezes ela
reproduzisse o áudio, saiu o mesmo. Este era o projeto de Jason e
Denver se ofereceu para amarrá-lo. O que significava...
Ela se voltou para seu amado amigo, com o coração apertado,

os cílios se erguendo e seus olhos encontraram os dele.
Capítulo 19
A lente da câmera focou em um quarto escuro. A sala

parecia ser retangular. Stella fez o melhor que pôde com a visão
estreita que tinha para captar o máximo de detalhes que pôde, mas
estava escuro. A única luz vinha do que parecia ser uma caneta-
lanterna que estava sendo projetada pela sala, e que estava até
mesmo blindada, como se a pessoa que a segurava temesse que
fosse vista.
Ela teve um rápido vislumbre da borda de uma almofada de

choque. Apenas a ponta, mas ela tinha certeza de que era uma
almofada de choque. A lente já estava fechando. Exatamente como
estava ela viu o flash de luz através do par de botas de caminhada
no canto.
A lente se fechou.
414
Livro Único
Stella sentou-se, lutando para sair de debaixo das cobertas,

chutando-as, as pernas em desespero para tirar cobertores e lençóis,
sua respiração saindo em suspiros dolorosos. Ela deu um pulo,
tentando sair de baixo dos resquícios do pesadelo, sem se importar
por ter ido para a cama praticamente sem nada e estar muito frio
nesta época do ano. Sam era uma fornalha à noite e ele tirava
qualquer roupa dela de qualquer maneira.
— Amada.
Sam estava na cadeira em frente à cama como sempre quando

ela tinha seus pesadelos, mas ela nem olhou para ele. Sinceramente,
ela nem mesmo o viu. Ela não percebeu o chão gelado sob as solas
dos pés descalços, ou que Bailey ficou de pé em sua caixa. Ela
apenas saiu correndo da sala, o coração batendo forte em seus
ouvidos. A parte de trás da casa estava escura e ela não tinha
pensado em trazer uma luz. Ela parou na frente da porta dos fundos
que levava ao seu hall de entrada - o mesmo quarto que alguém
tentou invadir na noite em que Bailey foi atacada.
— Stella. Fale comigo. Sam veio por trás dela.
Ela ficou parada na frente da porta tremendo, mas não por

causa do frio. Ela estava entorpecida - incapaz de sentir nada
naquele momento. Ela apenas olhou para a porta fechada. Ela não
queria acender as luzes do teto. Se ela o fizesse, e o assassino
estivesse observando, ele saberia que ela estava atrás dele. Ela
mordeu o lábio. Ela ainda não conseguia dizer o nome dele. Para se
permitir pensar que era ele. O amigo dela. Um dos seus melhores
amigos. Por quê? Por que ele iria começar a matar? Nem mesmo
fazia sentido.
Isso nem mesmo fazia sentido.
415
Livro Único
Ela colocou a mão na maçaneta e começou a abri-la. Sam

colocou a palma da mão sobre a cabeça dela e se inclinou, evitando
que a porta pesada se movesse.
— Fale comigo, Stella.
— Você sabia que era ele, não é? Ela estava com medo de que
saísse uma acusação.
— Eu não tinha como saber, mas fiquei desconfiado quando

Bailey foi esfaqueado quatro vezes tão violentamente e não morto.
Demorou muito para fazer o que o atacante fez. Nervos. Força.
Conhecimento de anatomia. E então, foi uma coisa pequena, mas de
repente Denver tinha feito um estágio com o ME. Ele alegou que
estava inquieto. E por causa de seus pesadelos, Vienna apontou a
estranha coincidência dos dedos quebrados para o xerife e o legista.
Denver perdeu o interesse depois disso. Acho que ele queria ser o
único a apontar isso e obter a glória. Isso me incomodava. Ele já
estava envolvido em tantas coisas, então por que ir lá? E então
simplesmente abandoná-lo.
— Você não disse nada, ela persistiu.
— Eu não tinha nenhuma prova real e não queria que o

assassino fosse Denver. Não tenho muitos amigos, Stella. Denver é
importante para mim. Então, não, eu não sabia, mas ele tinha todas
as habilidades certas e estava no lugar certo na hora certa.
Ele suspirou novamente. — E havia momentos em que o

observador não estava presente. Viena estava exausta outro dia. Ela
mencionou que houve um acidente duas noites seguidas e a terceira
noite ela apenas dormiu. Percebi que, se ela estivesse em cirurgia,
eles precisariam de um anestesista, e isso significava Denver. Se ele
estava no hospital, ele não poderia estar aqui. Eu chequei. Ele estava
lá. Eu verifiquei os outros dias na cidade quando você disse que
ninguém estava olhando, e novamente, aqui, e ele estava no hospital
todas às vezes.
416
Livro Único
— Ele foi ao veterinário na noite em que Bailey foi atacado.
— Ele chegou atrasado e nenhum de nós viu o estado de seu

braço, Sam apontou.
— Você nunca me disse nada. Ela se manteve longe dele,

sussurrando, e desta vez era uma acusação. — Por que não, Sam?
— Ontem, quando fomos ao Twin Devils e Jason e Denver

estavam escalando juntos, você pensou primeiro que Jason era o
assassino, não foi? Ele respondeu, se aproximando. Não
respondendo a ela. Sam. Seu coração doeu por ele. Por ambos.
Stella podia sentir que ele irradiava calor contra suas costas.
Ela assentiu, mas não olhou para ele. Ela manteve os olhos na porta
do hall de entrada. Ficou olhando para a mão de Sam, os dedos bem
abertos, segurando a porta fechada. Caixa de Pandora. Se ela
abrisse...
— Sim, ela sussurrou. — Então Jason começou a falar sobre

como ele estava trabalhando no projeto por meses e Denver se
ofereceu para amarrá-lo, e eu olhei para Denver. Em seus olhos. Eu
sabia. Ele foi lá para matar Jason. Ele iria matá-lo e fazer parecer que
Jason tinha saído para trabalhar em seu projeto sozinho com apenas
uma corda fixa. Chegamos lá e ele não teve chance.
Sam muito gentilmente envolveu a palma da mão em sua

nuca. — Você não queria falar comigo sobre isso na noite passada.
Ele havia saído no início da noite por várias horas e, quando

voltou, não disse uma palavra e ela não lhe fez nenhuma pergunta.
Ela estava apavorada com o que ele poderia ter feito, mas agora,
depois de seu pesadelo, ela sabia que Denver ainda estava vivo.
— Você ficou quieta todo o caminho para casa, e toda vez que
eu tentei você apenas balançou a cabeça. Eu tive que dar a você o
seu espaço para sofrer, Stella.
417
Livro Único
Sua voz era tão gentil. Muito gentil. Muito compassivo. Ela
não aguentaria naquele momento. Ela não poderia desmoronar mais
do que já estava. Sam era muito importante. Seu Sam. Ela tinha que
pensar com clareza, examinar cuidadosamente cada movimento que
fazia antes de fazê-lo. Ela respirou fundo e se virou para encará-lo,
deliberadamente dando as costas para a porta do hall de entrada e
pressionando seu peso contra ela.
Ela não podia correr para seu quarto do pânico e Sam não
podia entrar naquele quarto com ela ou ver seus esboços ou falar
sobre seu pesadelo. Esse não. Ele tomaria o assunto em suas
próprias mãos, ela sabia que faria. Ele sentiria que era sua
responsabilidade fazer justiça a Denver. Ele já havia indicado que
achava que deveria. Mas era Denver, e ele amava Denver, quer
pudesse dizer isso em voz alta ou não. Ela sabia que ele estava
sofrendo assim como ela.
— Isso é tão terrível para nós dois. Para todos nós. Teremos
que contar aos outros, Sam. Eu ainda não sei como vamos dizer a
eles, mas temos que fazer. Jason ainda pode estar em perigo.
— Eu o convidei a não ir lá de novo por um tempo, Sam

garantiu a ela.
— Mas isso não vai salvar outro alpinista da retaliação de

Denver. Precisamos conversar sobre isso, Stella, e não temos tempo
para esperar. Eu preciso saber o que te assustou esta noite.
— Foi um pesadelo.
— Estou bem ciente de que foi um pesadelo, querida. Vejo que

você os tem o tempo todo.
— Não. Ela desviou o olhar dele, incapaz de encontrar seus

olhos quando ela estava mentindo. — Foi apenas um pesadelo
comum, não um pesadelo de assassino em série.
418
Livro Único
Houve um longo silêncio. Ela podia sentir o olhar dele em seu

rosto e não pôde evitar se contorcer com a intensidade. Seus dedos
foram muito gentis quando ele segurou seu queixo e forçou sua
cabeça para cima até que ela se viu olhando para ele.
— Acho que nós dois teremos que confessar querida, porque

você é possivelmente a pior mentirosa da face do planeta e não
gosto de esconder nada de você, especialmente coisas que você não
vai gostar.
Ela soube instantaneamente o que ele tinha feito. — Você foi

ver Denver.
— Ele está no vento. Precisamos falar com Griffen, Stella.

Temos que colocar todos em alerta. Se não o fizermos, qualquer um
que ele machuque você sabe que é por nossa conta.
— Eu concordo. Ela não queria Sam caçando Denver. Ela

pegou a mão dele e puxou, tentando fazê-lo voltar para o quarto.
Sam não se mexeu. — O que você não quer que eu veja no hall
de entrada?
Ela suspirou. — Vamos conversar no quarto. Eu simplesmente

entrei em pânico.
— Amada. Não me faça recorrer a jogar a palavra com L e

assustá-lo. Apenas me diga.
— Ele sabia. Ontem nas pedras, quando percebi que não era o
projeto de Denver e olhei para ele, deve ter havido algo no modo
como olhei para ele que o fez perceber que eu sabia o que ele estava
planejando. O pesadelo mostrou um hall de entrada. Engrenagem.
Mas a última coisa era botas de caminhada. Juro, Sam, são minhas
velhas botas de caminhada. Eu os deixo no canto do hall de entrada.
Ele está vindo atrás de mim.
419
Livro Único
— Por que você não queria que eu soubesse? Ele acariciou seu
cabelo com a mão.
— Eu não quero que você o cace. Ele é seu amigo. Eu não

queria isso para você de qualquer maneira, mas parece muito pior
agora. Eu sabia que se você pensasse que ele estava vindo atrás de
mim, nada o impediria de caçá-lo.
Suas mãos emolduraram seu rosto, um polegar acariciando

sua pele.
— Nada jamais iria me impedir Stella. Ele tem que ser parado.
Mas você está certa. O fato de ele tentar matar você o torna ainda
mais prioritário. Temos que avisar todos os seus amigos e o xerife.
— Denver poderia viver da terra indefinidamente. Ele poderia

estar em qualquer lugar. Ele caça, pesca, conhece cada caverna e
cabana de caça em propriedades que a maioria das pessoas
esqueceu, disse Stella.
— Ele poderia muito bem estar nesta propriedade, no

acampamento de pesca, em algumas das cabanas mais antigas, Sam
arriscou. — Os que tínhamos designado para consertar. Denver
certamente sabe sobre eles. Ele foi comigo várias vezes quando eu
estava trabalhando no chão. Ele até me ajudou com as pias e a
eletricidade.
— Não quero Sonny ou Patrick perto dessas cabanas, disse

Stella apressadamente.
— Se Denver tivesse decolado, isso seria uma coisa, disse Sam,

— mas o fato de que você teve aquele pesadelo, e você sabe que ele
está vindo atrás de você, significa que ele vai ficar por aqui. Ele
realmente está obcecado por você, Stella. Havia uma nota de
preocupação em sua voz.
— Ele não sabe sobre mim, no entanto, ela sussurrou. — Ele

ainda não tem ideia de que eu fui aquela garotinha que viu
420
Livro Único
assassinos em série em meus sonhos. Se o alertarmos, corremos o

risco de ele fugir. Confiamos que Griffen e seu chefe, Paul Rafferty,
não irão imediatamente ao FBI com isso? Não podemos, mas temos
que dizer algo a eles para que avisem a todos.
Sam a seguiu pelo corredor até o quarto. — Tenho que colocar

aquelas telas de privacidade nas janelas. Fizemos pedidos especiais
e paguei uma fortuna para garantir que chegassem aqui rápido.
— Você fez?
— Eu penso em termos de atiradores, Satine.
Ela voltou para a cama e pegou o bloco de desenho e o diário.

Ela definitivamente não tinha a sensação de que Denver estava
assistindo. Se ele estava lá fora, ele não estava perto. Ele tinha um
respeito saudável por Sam e não queria correr nenhum risco.
— Já que Denver não conhece suas habilidades, podemos

armar uma armadilha para ele. Nesse ínterim, irei caçá-lo. Não vou
mentir para você sobre isso, querida. Eu quero que suas meninas
saibam. Shabina não pode ficar correndo na floresta por um tempo.
— Elas vão ficar muito chateadas.
— Eu sei que elas vão, Sam concordou. — Vou pedir uma

reunião com Griffen e Paul logo pela manhã. Não vou dizer nada
sobre seus pesadelos, mas vou dizer que estamos preocupados com
Denver e ele disse coisas que nos levaram a acreditar que ele é
instável e possivelmente cometeu esses crimes.
Stella suspirou. Ela sabia que não havia como falar com a
polícia. Tinha que ser feito. Eles não tinham provas, mas Griffen iria
atestá-los com seu chefe. O legista já havia expressado sua
preocupação ao xerife uma vez. Talvez Sam estivesse certo e falar
sobre seus pesadelos apenas turvaria as águas.
421
Livro Único
— O que é que eles podem fazer? Eles não podem acusar

Denver, não há prova de nenhum crime.
— O escritório do xerife pode publicar o relatório de uma

pessoa desaparecida e manipulá-lo da maneira que achar melhor,
que ele Denver, é mentalmente instável e não deve se aproximar
dele, mas avisar a polícia imediatamente. Algo nesse sentido.
Stella já estava esboçando os detalhes que a lente da câmera

havia mostrado a ela. O vislumbre do hall de entrada e o conteúdo
que ela podia ver. Ela desenhou cada item que viu com cuidado
meticuloso, incluindo os cantos do armário, o piso e suas botas de
caminhada.
— Eu odeio isso para você, Stella, Sam disse suavemente. Ele

se abaixou e enxugou bem embaixo do olho dela quando uma
lágrima caiu no bloco de desenho.
— É tão ruim para você, Sam, ela sussurrou dolorida por todos
eles.
Houve um silêncio atordoante. Stella era a única que

estava na bela sala grande de Shabina, com seu teto alto e uma linda
lareira de pedra.
A mão de Vienna foi para sua garganta de forma protetora. —

Isso não pode ser Stella. Deve haver um engano. Você cometeu um
erro terrível. Denver é...
— Família, Harlow terminou por ela. — Um de nós. Parte de

nós.
— Ele salva vidas, acrescentou Vienna. — Você sabe quantas

vidas ele salvou? Eu o vi lutar pelas pessoas. Arriscar a própria vida
422
Livro Único
repetidamente para salvar um completo estranho. Não, você está

errada, você tem que estar errada.
O silêncio caiu sobre a sala novamente. Uma espécie de

completo desesperado enquanto cada uma delas tentava processar o
que Stella lhes contara.
— Você tem certeza que ele vai tentar te matar a seguir? Raine
perguntou eventualmente.
— Não vi a vítima, admitiu Stella. — Mas é definitivamente

meu hall de entrada. Essas eram minhas botas de caminhada. Ele
poderia estar atrás de Sam. Talvez nós dois. Isso parece mais
provável. Eu vou saber mais esta noite. Sam foi se encontrar com
Griffen e Paul Rafferty.
— Você conversou com Jason para garantir que Denver não

circule e vá atrás dele de novo? Shabina perguntou. — Se Denver
está doente o suficiente para querer matar você e Sam, então ele não
terá nenhum problema em realizar seu plano original de matar
Jason.
— Sam o avisou. Não sei o que ele disse, mas sim, ele deve
saber para ser cauteloso, embora a maioria das pessoas em Knightly
terá dificuldade em acreditar que algo está errado com Denver,
disse Stella.
— Você está absolutamente certa, Stella? Zahra perguntou.
— Infelizmente, não há dúvida. Ele está se escondendo. Ele

não deixou a área e definitivamente está me caçando. Ou Sam e eu.
Ela olhou para suas mãos. — Não sei por quê. Passamos o dia nas
pedras com eles. Sam foi o que mais conversou com Denver. Eu
estava na rocha. Eu não conseguia falar.
— Como Denver sabia que você sabia que ele ia matar Jason?
Raine perguntou em seu jeito silencioso. Ela se sentou ao lado de
Vienna, mantendo uma mão no joelho da amiga em simpatia.
423
Livro Único
— Quando Jason disse que estava trabalhando no projeto há

meses e Denver se ofereceu para amarrá-lo, continuei tentando
reverter, mas não funcionou. Lembro-me de que um arrepio horrível
desceu pela minha espinha e olhei para Denver. Devo ter olhado
para ele com olhos acusadores. Com conhecimento. Ele olhou para
mim. Ele estava sorrindo. O sorriso desapareceu e eu o vi. O
assassino. Ele me viu. Foi só por um momento e então ele voltou a
ser Denver. Eu me virei para Sam e enterrei meu rosto em seu peito
e ele passou os braços em volta de mim, e eu apenas fiquei assim até
que pudesse obter o controle.
— Ele deve estar se perguntando como você sabia, Raine

meditou.
— Um tempo atrás, Denver me disse que Sam era um

fantasma. Estávamos no Grill antes de tudo isso acontecer e Denver
me contou que seu pai e seu tio haviam morrido e ele havia herdado
muito dinheiro. Ele também me disse que Sam era um fantasma e
não deveria se envolver com ele porque era muito perigoso. Ele acha
que Sam sabe tudo. Denver vinha à minha propriedade o tempo
todo e nos observava. Ou eu. Não tenho certeza de qual. Talvez
Sam. Ele disse que homens como Sam não são vistos. Ele ficou
muito intrigado com ele. Sam pensava que Denver tinha fixação por
mim, mas estou começando a temer que ele tivesse fixação por Sam.
Não de uma forma sexual, mas de forma a comparar suas
habilidades com as de Sam.
Ela se virou para enfrentar Raine. — Ele foi realmente o único

amigo que Sam deixou se aproximar dele, principalmente porque
Denver empurrava a amizade. Você sabe como é Denver. Ele apenas
se convidaria ou persistiria em convidá-lo. Ele fez isso com Sam.
Mostrei a ele os locais de pesca. As melhores áreas de caça. Iria
ajudar quando Sam tivesse muito trabalho. Denver falaria. Sam
raramente falava, mas era um bom ouvinte e gostava de Denver.
— Todo mundo gosta de Denver, disse Harlow.
424
Livro Único
— O que exatamente ele disse a você sobre Sam ser um

fantasma? Raine perguntou. — Você consegue se lembrar de suas
palavras? Você me perguntou sobre isso, mas não me lembro do que
você me disse que Denver disse.
— Ele estava bebendo muito. Ele nunca bebe muito. Eu

também bebi. Foi quando ele começou a me contar sobre seu pai e
tio e como eles estavam mortos. Ele teve uma infância muito feia.
Ele nunca falou sobre seu passado, então me senti realmente
privilegiada por ele ter aberto isso para mim. Eu também poderia
dizer que ele estava um pouco amargo. Então ele disse algo sobre
Sam e eu tendo um relacionamento. Que nunca dançamos mais de
uma dança e Sam estava com as mãos em cima de mim. Eu estava
meio chateada por ter bebido tanto que não tirei todo o benefício de
sentir as mãos de Sam em cima de mim, então mandei uma
mensagem para ele e perguntei.
— Você mandou uma mensagem para Sam e perguntou se ele

estava com as mãos em cima de você? Harlow repetiu a risada
borbulhando apesar da seriedade da conversa.
— Eu disse que bebi demais, defendeu Stella.
— Continue, Raine insistiu.
— Sim, mas comece com o que Sam disse, sugeriu Zahra.
Stella não estava compartilhando isso. — Isso não é pertinente.
— Aposto que não, murmurou Zahra.
— Eu lembrei Denver que ele era amigo de Sam e ele disse que
ninguém era amigo de um fantasma e era isso que Sam era.
As sobrancelhas de Raine se juntaram. — Ele realmente disse

que ninguém era amigo de um fantasma e era isso que Sam era?
Você tem certeza? Havia especulação em sua voz.
425
Livro Único
Stella acenou com a cabeça. — Sim, porque eu disse que Sam

era de carne e osso de verdade. Que ele trabalhou duro no resort e
no Busca e Resgate, que Denver foi quem me disse que sim. Então
ele começou a falar sobre os militares novamente.
— Espere. Raine a parou. — Novamente? Ele estava falando

sobre os militares?
— Antes, quando falava sobre sua vida, ele disse que, embora
sua família fosse rica, ele não tocava no dinheiro deles. Ele
conseguiu terminar a escola entrando no serviço militar. Foi assim
que ele se tornou anestesiologista. Ele era oficial do Exército e se
tornou médico. Ele disse que homens como Sam eram necessários e
eram chamados quando tudo o mais falhou.
Stella foi até a mesa lateral que Shabina preparara com

garrafas de água e a chaleira com água quente, principalmente para
Zahra, e os produtos assados. Ela pegou uma garrafa de água fria e
bebeu, precisando de uma pausa.
— Stella, eu sei que isso é difícil, Raine disse. — Eu não

continuaria insistindo nessa conversa se não achasse que era
importante. Você pode me dizer mais alguma coisa que ele disse
sobre Sam ser um fantasma?
Stella franziu a testa, tentando se lembrar. — Algo sobre às

vezes vê-los como sombras, caçando como lobos, mas sozinhos,
sempre em silêncio. Lembro-me disso porque ficou comigo. Sam
meio que fica nas sombras e fica muito quieto. Ele é difícil de
detectar, então isso ressoou em mim. Denver disse que você não via
fantasmas na maioria das vezes, apenas os sentia. Eles tiram você de
uma situação ruim. Achei que era uma coisa boa e disse isso.
Suas outras amigas estavam olhando para ela com os olhos

arregalados, como se o que Denver disse sobre Sam fosse evangelho.
Ela esperava que Raine tivesse um motivo, uma direção que ela
estava tomando.
426
Livro Único
— Eu preciso saber o que ele disse sobre sua família. Você

disse que ele estava chateado, Stella. Diga-me o que ele disse.
Stella detestava repassar o passado de Denver com todos em

detalhes. De certa forma, por mais bobo que parecesse, parecia uma
traição. Ele nunca havia compartilhado seus segredos antes e ela se
sentiu honrada por isso, embora os dois estivessem bebendo.
— Eu não perguntaria se isso não importasse, Raine disse. —

Não é mera curiosidade. Se eu entender o estado de espírito de
Denver, é possível descobrir qual é o seu objetivo.
Stella estava bem ciente de como a mente de Raine funcionava.

Ela encaixava peças de quebra-cabeças muito rápidas. As outras
estavam todas olhando para ela de perto. Até os cães pareciam estar
em alerta. Ela tomou outro gole d'água para se acalmar.
— Ele disse que os advogados ligaram para ele com notícias

uma semana ou mais antes de que seu pai e seu tio Vern haviam
atirado um no outro e sangrado antes que alguém pudesse chegar
até eles, e ele ainda estava processando. Denver disse que era tão
estúpido, mas inevitável. Ele tentou agir como se isso não
importasse ou o afetasse, mas suas mãos tremiam muito. Sua mãe
morreu enquanto ele estava no exército, então ele disse que herdou
toda a propriedade. A implicação era que sua herança era grande.
— Dê-me alguns minutos, Raine disse, e abriu seu

computador, digitando rápido.
Vienna se levantou, envolvendo os braços em volta de si

mesmos. — Eu nem sei o que pensar. Denver é o ser humano mais
legal da face da Terra. Não consigo imaginá-lo jogando estranhos
aleatoriamente de Mount Whitney ou afogando James Marley. Ela
esfregou as mãos para cima e para baixo nos braços. — Não importa
o quanto eu tente me fazer acreditar que ele poderia ter feito essas
coisas, eu simplesmente não consigo.
427
Livro Único
— Eu sou da mesma maneira, disse Stella. — Com exceção

daquele momento em que olhei em seus olhos. Eu vi outra pessoa.
Ele olhou para mim e não era o meu Denver. Nosso Denver. Era
outra pessoa completamente diferente. Não sei como explicar.
— Se Denver veio com todo esse dinheiro, por que ele

precisaria estar aqui? Zahra perguntou.
Harlow ergueu uma sobrancelha. — Só porque uma pessoa

vem de dinheiro não significa que coisas ruins não possam
acontecer em suas famílias, Zahra, você sabe disso. Você não ouviu
o que Stella disse? Ele não queria que eles pagassem por seu
treinamento médico. Ele se juntou ao exército para poder se tornar
um médico.
— Denver teve um histórico horrível, disse Raine. — Estou em

seus registros médicos. Seu pai e tio deveriam ter sido processados
um milhão de vezes. Outro fato interessante é que o tio era suspeito
de torturar e matar três mulheres em três ocasiões distintas, mas
acabou tendo um álibi de ferro em cada caso. A razão pela qual ele
foi suspeito foi porque seu sobrinho relatou que viu seu tio arrastar
uma das mulheres para dentro de seu veículo. Na segunda vez, seu
sobrinho relatou que viu seu tio com a mulher desaparecida em um
armazém e ela estava amarrada. Na terceira vez, ele alegou que o tio
tinha outra mulher desaparecida no porão de um prédio
abandonado.
— Os policiais começaram a pensar que Denver foi quem

matou as mulheres? Shabina perguntou.
— Na época ele era muito jovem. Mas eles pararam de

acreditar nele. Veja só, Denver teve seu dedo quebrado várias vezes
e reiniciado quando ele era apenas uma criança, correspondendo a
quando ele contou à polícia sobre as jovens que viu com seu tio,
relatou Raine.
— Quantas mulheres foram mortas? Stella perguntou.
428
Livro Único
— Estou fazendo uma busca, disse Raine. — Se eu chegasse a

uma conclusão, diria que o pai e o tio estavam matando,
negociando, para dar álibis um ao outro. Eles fizeram Denver
assistir, talvez o forçasse a participar, desde quando ele era criança.
Eles eram monstros.
Stella se afastou das outras e foi até a janela. Ela queria ir para
casa e apenas se fechar em sua casa com Bailey e Sam e fingir que
nada disso estava acontecendo. Ela pensou que sua infância tinha
sido monstruosa. Denver tinha realmente vivido uma infância
destrutiva e horrível, e agora não havia saída para ele.
— Ele veio aqui pela paz, então eles não puderam chegar até
ele, ela sussurrou.
— Ele nunca quis ser como eles.
— A polícia suspeitou de seu pai e tio muitas vezes em vários

desaparecimentos de mulheres ao longo dos anos, disse Raine, —
mas eles nunca conseguiram provas suficientes para construir um
caso. Ela fechou o computador.
— O que mais Denver disse sobre Sam ser um fantasma,

Stella?
Stella cerrou os dentes por um momento, reprimindo uma

réplica de que Sam não era um fantasma. Ele era um homem de
carne e osso com sentimentos. Denver também tinha sido seu amigo.
— Ele disse que fantasmas eram usados para outras tarefas

fora do exército e que geralmente não duravam muito, morriam
jovens. Ele disse que se eles se libertassem, eles seriam caçados
porque eram um grande risco para a segurança, eles sabiam muito e
o governo os queria mortos.
— O que implicaria que Sam, porque ele está vivo, é bom

demais para ser pego mesmo por qualquer outro fantasma que o
esteja caçando, Raine disse.
429
Livro Único
— Acho que sim, Stella concordou, sem saber como isso os

ajudava em nada.
— Você precisa repetir toda essa conversa para Sam.
O vidro se espatifou, estourando para dentro, e então,

quando uma mão enluvada apareceu, quebrando-se rápida e
eficientemente, os cacos caíram como chuva no chão do hall de
entrada. Ele sabia exatamente onde estava a fechadura da porta e
a abriu em segundos, sem se importar com o alarme estridente.
Alcançando o lado de fora, na varanda, Denver arrastou sua refém
para o hall de entrada e a empurrou com tanta força que ela caiu no
chão. Incapaz de se segurar com as mãos amarradas atrás das
costas, o rosto de Vienna bateu no canto do armário embutido e ela
deu um pequeno grito.
Denver se agachou ao lado dela, puxando seu cabelo para o

lado para examinar sua bochecha. Ele parecia gentil com ela, mas
não a levantou. Em vez disso, ele colocou o fio da faca em sua
garganta e esperou. Ela era a isca para atrair Stella para o hall de
entrada, caso contrário, Stella não iria entrar de jeito nenhum. Ele já
havia mandado uma mensagem para Stella e, com certeza, ela
abriu a porta bem devagar, parecendo assustada, colocando a
430
Livro Único
cabeça dentro para observar primeiro. Ele não disse nada, apenas
encostou a lâmina afiada na garganta de Vienna e deixou uma linha
de gotas de sangue vermelho-rubi aparecer. Stella entrou como ele
instruiu apesar dos gritos de advertência de Vienna.
— Denver, o que você está fazendo? Querido, você tem que
parar. Stella estendeu a mão para suplicar a ele.
Denver não olhou para o rosto dela. Ele não esperou. Ele
estava sobre ela em segundos, varrendo suas pernas debaixo dela,
levando-a para baixo ao lado de Vienna, sua faca já apunhalando.
Repetidamente, torcendo e varrendo. Vinte, trinta vezes. Nem uma
vez ele olhou para o rosto dela ou para os rastros de sangue. As
piscinas. Ele bloqueou o som de seus gritos. Ele não sentiu a
alegria familiar ou a onda de euforia. Ele apenas continuou batendo
no automático.
Um minuto. Dois. Três era tudo o que ele tinha. Então ele se
levantou. Ele ergueu a cabeça de Vienna pelos cabelos e cortou
sua garganta com a faca, cortando profundamente, deixando-a cair
casualmente enquanto saía, deixando as paredes do vestiário
salpicadas de vermelho e o chão coberto com ele. A lente da
câmera fechou abruptamente, tudo ficando preto.
Quatro pesadelos depois ficaram muito claro para Stella que
Denver a estava caçando, não Sam.
431
Livro Único
Stella recostou-se no peito de Sam, olhando para o lago,

vendo o sol nascer. Eles ficaram juntos no cais privado, os vários
tons de ouro e carmesim derramando-se sobre a superfície da água.
Havia pouco vento para agitar a água. Parecia vidro, com vários
tons de cores cintilando como pedras preciosas. Não importa a
época do ano, a vista do lago nunca deixava de movê-la.
Os braços de Sam pareciam seu próprio lugar de segurança,

mas ele não estava lá quando Denver conseguiu entrar no vestiário.
Eles podem saber o que Denver planejou e como ele planejou fazer
isso, graças aos pesadelos dela, mas eles não estavam mais perto de
encontrá-lo. O escritório do xerife divulgou um relatório de pessoas
desaparecidas sobre ele, afirmando que havia preocupação com sua
saúde mental e não para se aproximar, mas para ligar para o
escritório do xerife se ele fosse localizado. Ninguém o tinha visto.
Sam tinha ido a cada um dos acampamentos de caça e pesca

favoritos de Denver, cada caverna sobre a qual havia falado, mas
não encontrou os rastros. Denver estava muito familiarizada com a
floresta, as propriedades privadas onde a maioria dos proprietários
só aparecia em certas épocas do ano. Ele poderia estar em qualquer
lugar.
Havia tanta beleza e uma sensação de calma e paz apenas

olhando para o lago, vendo o sol nascer. Ficar de pé com os braços
de Sam ao redor dela permitiu que Stella respirasse quando se
sentiu como se não conseguisse respirar por horas.
Sam acariciou o topo de sua cabeça com o queixo. — Você está

se sentindo melhor, querida?
Ela chorou por horas - ou parecia que ela havia chorado. Até
que não houvesse mais lágrimas. Seus olhos e rosto estavam
432
Livro Único
inchados, mas o ar fresco da manhã estava ajudando a fazê-la se

sentir revigorada novamente. Sam havia sugerido que eles fossem
até o cais privado e assistissem ao nascer do sol. Ele não se esquivou
de seu rosto vermelho e manchado. Ele segurou a mão dela e
ajudou-a sobre as pedras enquanto eles faziam o seu caminho para o
cais privado e saíam para o final dele.
Ela esboçou cada detalhe do pesadelo, registrou-o em um

diário e então disse a ele tudo que podia pensar, o tempo todo
chorando por seu amigo perdido que queria matá-la e a Vienna.
Sam era Sam, e ele apenas a deixou sofrer.
Então ele a segurou enquanto estudava os esboços, lia seu

diário e ouvia seu relato, fazendo-lhe uma pergunta de vez em
quando entre a entrega de seus lenços de papel. Depois, ele mandou
que ela se vestisse com agasalhos, que eles assistiriam o nascer do
sol sobre o lago e tomariam café. Ela não iria recusar essa oferta.
— Vou levar você para a cidade, Stella. Você e Bailey. Eu

quero que você fique com Shabina até que eu vá buscá-la. Pedi a ela
que todas vocês ficassem lá, Raine, Harlow, Zahra e Vienna
também.
Ela virou a cabeça para olhar por cima do ombro para ele. Ele
estava de volta ao inescrutável. — Por que Shabina?
— Ela tem a melhor segurança. Eu sei que você estará segura

lá, Sam disse. — E apenas no caso, para errar do lado da cautela,
pedi a alguns de meus amigos para ajudar. Eles estarão do lado de
fora em seus terrenos, patrulhando. Ninguém vai entrar ou sair. Isso
significa que eles não serão subornados pelos produtos de padaria
de Shabina ou seduzidos por nenhum dos encantos de suas amigas.
Eles são profissionais.
— Oh meu Deus, Sam, você sabe onde ele está não é? Ela se
afastou dele, forçando-o a soltar os braços para que ela pudesse se
433
Livro Único
virar e encará-lo. — Você sabe. Você sabe onde ele está. Você planeja
matá-lo.
Sam não respondeu. Ele manteve seu olhar fixo no dela.
Stella balançou a cabeça. — Você não pode. Sam, você não

pode. Ligue para Griffen. Deixe Griffen prendê-lo.
— Para que? Você não está pensando direito. Griffen não pode
prendê-lo. Denver não fez nada que eles pudessem provar.
— Então devemos ir juntos. Conversar com ele para uma

confissão. Gravar em uma fita ou algo assim. Eu não me importo.
Você não pode matá-lo. Quero que fique comigo. Se você fizer isso,
como você pode ficar aqui? Você vai se arrepender e vai querer
seguir em frente.
— Por que eu iria me arrepender? Querida, me escute, Sam

disse suavemente. — Eu sei que você está pensando em me
proteger, mas pense em termos de Denver ser uma família. Sendo
nosso. O que você acha que Raine estava tentando te dizer? Denver
sabia que ele estava piorando. Ele não queria ser seu pai ou tio. Você
sempre foi o último recurso dele, Stella. Ele sabia, no final das
contas, se fosse atrás de você, eu iria caçá-lo e acabaria com ele.
Stella balançou a cabeça, incapaz de falar devido ao terrível nó

na garganta. — Sam, não.
— Você mesmo disse, não houve sentimento de triunfo, de

poder, quando ele estava apunhalando você em seu pesadelo. Foi
diferente de todas as outras vezes. Ele mal conseguia olhar para
você ou para Viena. Ele matou vocês duas porque, em sua mente
doentia, era a única maneira de fazer com que eu acabasse com isso
por ele.
— Você não sabe disso, ela sussurrou.
434
Livro Único
— Eu sei que ele não pode se matar, mas ele está disposto a
colocar suas habilidades contra as minhas. É o jogo dele e ele fez as
regras. Eu tenho que saber que todas vocês estão seguras. Ele
acredita que pode atrair Viena para ele, mas não pode. Eu tenho
certeza disso. No momento em que você me contou sobre o
pesadelo, mandei uma mensagem para um dos meus amigos e ele
foi buscar Viena e a levou para a casa de Shabina. Ele removeu o
celular dela antes de deixá-la lá. Ele sorriu para ela. —
Aparentemente, ela estava cuspindo loucura. Essa menina tem um
temperamento ruim.
— De onde vieram todos esses amigos de repente? Stella

perguntou desconfiada, mas era mais para ganhar tempo. Ele nunca
parecia se preocupar com amigos, exceto Denver.
— Quando comecei a suspeitar de Denver, liguei para alguns

de meus amigos que me deviam favores e pedi que viessem aqui
rápido, se pudessem. Tive a sorte de que eles estavam entre as
atribuições e vieram. Eles estão apenas esperando que eu lhes diga o
que precisam fazer. Impedir que Denver chegue a Viena ou a
qualquer uma de suas amigas é o número dois em minha lista de
prioridades. Impedir que ele chegue até você é o número um dessa
lista.
— Impedir que ele chegue até você é o número um da minha

lista, Sam - murmurou Stella. — Eu sei que você e Raine pensam que
este é um plano bem pensado de Denver para colocar você contra
ele, e isso só piora as coisas. Ele tem um lado que pensa que é
intelectualmente superior. Você sabe que ele faz. Todos nós sabemos
disso. Naquela noite no Grill quando ele bebeu muito, quando ele
estava me avisando sobre você ser um fantasma, ele tinha aquela
nota em sua voz.
— Significado?
435
Livro Único
— Ele era um oficial, Sam. Ele veio de uma família rica. Quer
ele tenha dado as costas ou não àquele dinheiro, ele ainda foi criado
com ele. Ele era um médico. Ele sempre esteve em uma posição de
autoridade. Todo mundo olhou para ele. Ele pode ser quieto e
parecer despretensioso, mas era respeitado. Ele estava acostumado a
uma certa dose de deferência, e ele a teria recebido no serviço, assim
como fez aqui.
Sam não a interrompeu. Ele nunca fez isso. Ele esperou para
ouvi-la. Ele sempre fez. Stella não conseguia esconder seus temores
por ele. — Denver não era um homem muito sexual, Sam. Ele não
namorava muitas mulheres. Ele convidava alguém para sair de vez
em quando, mas não realmente os perseguia. Mas ele gostava de ser
considerado muito bom em tudo. Ele foi falsamente modesto sobre
isso. O primeiro a se voluntariar para as escaladas mais perigosas
quando se tratava de resgates, porque ele poderia fazê-los. Ele
compartilhou a carne que podia com os idosos. O Peixe. Ele era bom
em tudo o que fazia. Todos na cidade gostavam dele e cantavam
seus elogios. Ele era um grande negócio em Knightly. E então você
apareceu.
O olhar de Stella percorreu o rosto amado de Sam. Ela não

sabia qual deles estava certo, mas não importava quem fosse Denver
não iria em paz. Ela sabia muito disso.
— Ele era um oficial e pensava que seus homens o admiravam,

mas não conseguia tirá-los de uma situação difícil. Chega um único
homem - alguém que eles chamavam de fantasma, alguém sem
posição ou educação real, aos olhos dele. Seus homens admiraram
aquele homem porque ele os salvou sozinho. Como você acha que
Denver realmente se sentiria, não importa o quanto ele pagasse?
Sam balançou a cabeça lentamente. — Essa é uma boa

pergunta, Stella.
436
Livro Único
— E aqui, quando ele é o centro das atenções, não importa o

quão discreto ele seja, como você acha que ele realmente se sente,
Sam, quando você é bom em tudo que faz e pode muito bem ser um
dos fantasmas quem roubou seu trovão naquela época? Você entrou
na cidade dele, um idiota, daqueles que só vem para escalar e
depois segue em frente, mas você não segue em frente. Você ficou e
é bom em tudo e, mesmo sendo discreto, todos notam. Até Bale e
sua equipe recuam ao seu redor.
Ele se inclinou e deu um beijo em seus lábios trêmulos. — Eu

vejo a onde você está indo, querida, e no final, não importa que tipo
de armadilha Denver está armando. Só importa que eu o encontre.
Meu amigo Rafe está esperando em seu equipamento para levar
você e Bailey à casa de Shabina. As outras mulheres estarão todas lá.
Vou acompanhá-la de volta para casa, você vai fazer as malas e vou
acompanhá-la até o 4Runner.
— Sam. Ela se perguntou se ele já havia pensado em cada um

de seus pontos. Provavelmente.
— Não estamos discutindo sobre isso. Você fez a sua parte,

você tem que me deixar fazer a minha.
Stella queria discutir, mas não via outra solução e não era o
tipo de mulher que argumentava só por discutir. Ela não podia
ajudar Sam, e o que ele estava fazendo era seu campo de
especialização. Ele obviamente tinha um plano e ela não. Ela só
podia esperar que ele fosse tão bom quanto parecia ser.
Capítulo 20
Denver levantou-se lentamente no meio de seu

acampamento. Era impossível encontrá-lo. Ele tinha evitado todos
437
Livro Único
os lugares que ele já tinha estado. Ele não chegou perto de uma
cabana vazia de caça ou pesca. Ele cobriu seu equipamento com
galhos. A tinta era especial, impossível de ver como se misturava
com as folhas e o pincel, mesmo do ar, especialmente quando
escondida do jeito que ele tinha feito. Ele não tinha usado uma
fogueira ou qualquer coisa que pudesse chamar a atenção para sua
posição. Suas roupas se misturaram com os arbustos ao seu redor.
Ainda assim... Seu instinto dizia que ele não estava sozinho.
Ele colocou a mão na faca de caça na bainha ao seu lado. Ele

era mais do que bom com uma faca. Com muito cuidado, e muito
devagar, para não chamar atenção para si mesmo quando estava
escondido no círculo de arbustos, ele olhou em volta. Ele tinha uma
visão excelente. Muito melhor do que a maioria das pessoas, e
também com boa audição. Os insetos ainda zumbiam sem parar.
Não houve interrupção em seu barulho incessante. Os esquilos
subiram em uma árvore, lutando uns com os outros, tentando obter
as últimas nozes para armazenamento no inverno. Os pássaros
voaram de árvore em árvore. A vida continuou na floresta mesmo
quando as agulhas e folhas caíram no chão em preparação para a
próxima estação.
Um frisson de consciência desceu por sua espinha. Um

calafrio. Ele nunca teve isso antes. Era realmente medo? Ele não
sentiu medo. Ele sentia... Excitação. Ele havia entrado em um jogo.
Este era o seu jogo. Ele não sentiu medo. Ainda assim, suas pernas
tremeram. Houve um tremor em suas mãos. Ele nem sabia por quê.
Se ao seu redor, os lagartos deslizavam pela vegetação apodrecida e
os insetos zumbiam sem parar nem por uma fração de segundo,
então nada o estava perseguindo. Por que ele se sentia como se
tivesse um alvo centralizado bem entre as omoplatas? Ou entre seus
olhos? Ou sobre seu coração? Cada ponto coçou por um momento e
então a coceira se moveu para sua garganta. Ele estava ficando
louco. Ele se recusou a aceitar esse diagnóstico.
438
Livro Único
Amaldiçoando sob sua respiração, ele pegou suas duas

grandes garrafas de água e se moveu para a pequena entrada de seu
acampamento. Ele só teve que esperar algumas horas antes de
colocar seu plano em ação. Agora, ele precisava conseguir água
fresca. Foi à única coisa que ele não conseguiu se fartar, mas ele
montou acampamento perto do topo da alta cachoeira que corria
sobre as rochas. A água caia a uns doze metros para uma piscina
agitada abaixo. Ele poderia pegar a água facilmente.
Denver saiu do círculo estreito de arbustos que ele criou

usando plantas reais e fez seu caminho ao longo da trilha de cervos
até a cachoeira. Não era muito longe e ele teve o cuidado de andar
com leveza, sem escovar as folhas ou estalar os galhos para mostrar
sua passagem pelo caminho. O som da água correndo sobre as
rochas era alto enquanto ele se aproximava da cachoeira, abafando
sua capacidade de ouvir alguém se aproximando dele. Ele teve que
confiar em seu sistema de alerta e em seu intestino.
Assim como o cervo que ele caçava, antes de sair do mato

pesado, ele parou novamente e cheirou o ar, cabeça erguida,
fazendo o possível para sentir o cheiro de qualquer inimigo que o
estivesse perseguindo. Os insetos e pássaros continuaram sua
tagarelice. O vento tocou seu rosto e não havia nada que indicasse
que um adversário estava por perto, mas suas mãos estavam frias.
Ainda úmidas. Seu coração acelerou até bater forte, deixando sua
boca seca.
Denver estava na entrada da trilha de cervos, olhando para

fora como um animal selvagem, congelado de medo genuíno pela
primeira vez em sua vida. Ele não sabia por quê. Não havia nada ali.
Era plena luz do dia. O sol brilhava na água. Os pássaros estavam
realmente cantando. Ele tentou respirar, mas seus pulmões estavam
presos, e o terror se apoderou de suas entranhas até que ele ficou
tonto e se sentindo tonto.
439
Livro Único
Ele ficou lá por vários minutos, lutando pelo controle.

Nenhum mito iria vencê-lo. Ele não permitiria que isso acontecesse.
Este era o seu jogo. Suas regras. Ele não perderia. Ele era superior.
Ele repetiu seu mantra, as palavras que o salvaram tantas vezes em
sua vida. Depois de mais alguns minutos, ele conseguiu respirar
fundo várias vezes, afastando o medo e o pavor e recuperando o
controle.
Estendendo a mão, ele esperou até que não estivesse tremendo

antes de sorrir, mostrando seus dentes brancos e perfeitos. — Se
você está aí, Sam, procurando por mim, você não me assusta. Você
não pode me encontrar. A floresta é muito grande e eu sou muito
bom no que faço. Vou tirar a única coisa neste mundo que importa
para você e veremos o quão bom você é quando é jogado fora.
Ele não sussurrou. Não havia necessidade. Nenhuma. Ele

estava sozinho e sabia que estava. Ele estava absolutamente certo
disso. Ele não deixou rastros. Ele foi mais esperto que qualquer um
que tentasse descobrir para onde iria. A Floresta Nacional Inyo era
grande demais para que alguém pudesse encontrá-lo. Ele tinha
habilidades além até mesmo dos guardas que trabalharam lá por
vários anos. Ele silenciosamente passou a estudar a área através da
caça, pesca e seus esforços de busca e resgate. Ele caminhou,
acampou e escalou. Ele estava familiarizado com a maioria das
trilhas. Ele esperou por este momento e se preparou para isso.
Como Stella percebeu sua intenção, ele nunca saberia. Aquele

foi o momento mais chocante, estimulante e deprimente de sua vida,
quando ele a olhou nos olhos e percebeu que ela sabia. Alguém o
viu. O verdadeiro homem. Tudo dele. Esse momento foi um que ele
tirou e examinou de todos os ângulos. Como ela soube? O que a
avisou? Ele saboreou esse reconhecimento, embora o desprezasse.
Foi Sam? Será que ele percebeu o que Denver era e contou a
Stella? Não, ela estava tão feliz em vê-lo. Essa saudação foi genuína.
Algo que ele disse ou que Jason disse foi o catalisador, mas isso
440
Livro Único
significaria que ela sabia sobre os outros, e isso simplesmente não

fazia sentido. Ela o estava caçando desde o fiasco no lago quando ele
quase matou Sam? Ele provavelmente nunca saberia.
Mais uma vez cheio de confiança, ele entrou na água que se

movia rapidamente. Ancorado nas rochas, ele deu uma olhada na
vista, do jeito que sempre fazia antes de encher suas duas garrafas.
Em pé bem no topo da poderosa cachoeira, bem acima das árvores e
das criaturas que ali viviam, ele sempre se sentiu invencível.
Ele foi atraído para este local por uma razão. Era seu lugar de
poder. Seu centro. Ele sentiu o vento em seu rosto, sentiu-o puxar de
brincadeira sua roupa enquanto girava em redemoinhos sobre a
água correndo em direção às rochas pouco antes de desaparecer
pela borda para fazer a longa queda.
Ele tinha as garrafas em volta do pescoço por uma corda. Ele

desatarraxou a tampa da primeira garrafa e se abaixou para
mergulhá-la na água que corria rapidamente do lado oposto da
rocha, onde normalmente cairia no espaço para descer. A garrafa se
encheu rapidamente e ele se endireitou para enroscar a tampa com
força e desatarraxar a outra tampa.
O vento parecia aumentar, soprando mais forte, empurrando

contra ele, puxando sua camisa e recuando apenas para voltar
correndo, provocando os cabelos de seu pescoço. Quando ele se
curvou mais uma vez para encher a garrafa d'água, o vento
sussurrou para ele, uma voz baixa e familiar. Aquele que sempre foi
gentil. Nunca foi criado. O fantasma encontrou você.
Então ele estava caindo. De cabeça. Caindo. Fora de controle.

Seu corpo batendo em algo duro uma e outra vez. A dor era
insuportável. Água gelada o encharcou enquanto ele batia em
pedras pontiagudas que se projetavam do penhasco em seu
caminho para baixo, suas costas, suas pernas, sua cabeça, seus
ombros. Ele sabia que ossos quebraram, esmagaram, quando ele
441
Livro Único
bateu naquelas pedras, e então ele caiu com força na massa irregular
de pedras que se projetam no rio. A corrente o puxou
imediatamente. Ele caiu de lado, atingindo o pulmão com as
costelas. Ele sentiu a explosão de seu pulmão entrando em colapso e
então era quase impossível respirar. Mas depois de bater de lado,
seu corpo foi lançado a uma segunda massa de pedras pela força da
água, e uma delas perfurou suas costas, com a mesma certeza que
uma adaga teria feito.
Denver estava ofegante no topo das rochas, tentando

desesperadamente ver sem virar a cabeça. Dessa forma havia ainda
mais dor. Se ele se movesse da rocha, a corrente certamente o
pegaria, mas ele não poderia ficar lá, ele morreria. Suas costas foram
quebradas em vários lugares. Ele teve um ferimento na cabeça. Seu
braço esquerdo estava quebrado. Ambas as pernas. Suas costelas
cederam e um pulmão colapsou. Isso não foi o pior. Ele tinha de
alguma forma, quando pousou, perfurado o rim. Ele estava
sangrando e era severo.
Ele precisava de atenção médica imediatamente. Ele era um

médico e sabia com certeza que não teria muito tempo, não com
seus ferimentos. Ele tinha que ficar bem ali, com a pedra em seu
corpo, porque se ele se levantasse dela, ele sangraria muito rápido.
A água corrente estava tentando forçá-lo a cair da rocha, e cada
empurrão em seu corpo era pura agonia.
Ele olhou para o céu. O sol estava forte e ele teve que apertar
os olhos. Uma sombra caiu sobre ele e seu coração deu um salto.
Alguém estava lá. Na margem, a menos de trinta centímetros de
distância. Eles poderiam ajudar. Ele forçou sua cabeça a girar um
centímetro, apesar da dor. Ele piscou para limpar sua visão
embaçada.
Sam estava agachado ali, olhando para ele

desapaixonadamente, como se Denver fosse nada, menos que um
inseto rastejando no chão. Não havia expressão em seu rosto. O
442
Livro Único
tempo todo, embora ele tivesse dito a Stella que Sam era um
fantasma, Denver não tinha acreditado.
— Fantasma, ele resmungou, ou tentou. Ele mal conseguia

respirar, quanto mais falar.
— Você errou algumas coisas, Denver, quando estava

avisando Stella para se afastar de mim. O governo não nos caça e
mata. Somos muito valiosos para eles. Eles gostam de nós, então
podemos fazer trabalhos para eles quando eles precisam. Você
realmente achou que eu não reconheceria um sociopata? Movimento
estúpido ao tomar a decisão de ir atrás da minha mulher.
Ele não poderia saber. Ninguém sabia. — Como? Ele tossiu

sangue. Isso não era um bom sinal, e cada movimento doía.
Sam se levantou. — Não importa.
— Ela saberá que você fez isso, ele engasgou.
— Eu não minto para ela. Em qualquer caso, o mundo vai

conhecer você pelo que você é. Você deixou para trás um relato
detalhado de sua superioridade - criptografado, é claro - em seu
computador. O mundo e todos os seus amigos precisam saber como
você planejou com tantos detalhes ser um assassino muito melhor
do que seu pai e tio, e você preparou o cenário com muito cuidado,
ao contrário deles.
Horrorizado, Denver tentou protestar. Ele nunca cometeria tal

erro. Apenas bolhas de sangue e saliva saíram de sua boca e
escorreram pelo queixo. As sombras deslizaram sobre ele e ele olhou
para o céu e só podia ver as imagens borradas de pássaros
circulando, bem no alto. Terror misturado com agonia.
Ele tossiu de novo e mais sangue jorrou. Ele piscou. Sam não
estava lá. Seu coração quase explodiu. Ele desprezava Sam, mas o
homem não podia deixá-lo ali para morrer sozinho. Ele tinha estado
lá? Sua mente havia pregado peças nele? Ninguém poderia saber o
443
Livro Único
que ele planejou. Ele tinha sido tão cuidadoso. Levou anos para
aperfeiçoar seus planos. Encontrar a cobertura perfeita. Tudo estava
escurecendo e a tosse piorou. Ele não conseguia respirar e estava
sufocando. Onde estava Sam?
Stella estava sentada no final do píer, olhando para a água

gelada cor de safira, esperando o sol nascer, como fazia todas as
manhãs na semana anterior. Sam tinha partido há sete dias, fazendo
só Deus sabe o que era como pagamento por favores devidos a
alguém em quem ela não queria pensar. A promessa de neve estava
no ar da manhã. Não estava tão longe agora. Ela lidou com a neve
sozinha muitas vezes ao longo dos anos e ela poderia fazer isso
novamente. Ela só precisava saber que Sam estava seguro.
Infelizmente, quando ele estava em campo em algum lugar, ele não
podia enviar mensagens de texto para ela e as mensagens dela não
iam para o telefone que ele carregava com ele - para a segurança
dela, não a dele. Pelo menos foi o que ele disse a ela antes de partir.
Os rios da montanha que alimentam o Lago Sunrise já estavam

despejando água no lago alimentado pelas tempestades nas
montanhas. O vento puxou as poucas folhas teimosas que restavam
nas árvores que davam para o cais, determinado a arrastá-las para
as pranchas com o resto da vegetação dourada e vermelha.
As ondas batiam na costa e nas rochas, assim como nos

suportes do píer, criando uma espécie de música. Ela sempre amou
ouvir os insetos matinais, pássaros e sapos enquanto chamavam uns
aos outros, junto com o som da água ao fundo. Isso sempre trouxe
paz para sua mente caótica.
Ela não tinha dormido muito bem na última semana sem Sam,
e sentar no píer, vendo o sol nascer, ajudou a diminuir a tensão de
temor por ele. Bailey se enrolou perto dela, como sempre fazia,
444
Livro Único
como se nada tivesse acontecido com ele e ele não tivesse sofrido
punhaladas e pontos apenas algumas semanas antes.
Uma mão agarrou seu ombro sem aviso e ela quase se jogou
do píer, mas o braço travado em volta de sua cintura a impediu de
sair da borda. Ela reconheceu o toque de Sam. Bailey não ergueu os
olhos, mas abanou o rabo curto.
Sem ousar respirar, ela virou a cabeça para olhar por cima do
ombro para o homem agachado atrás dela. Sam, ela tentou dizer,
mas nenhum som real saiu.
Ele tinha a aparência de sempre - duro, em ângulos e planos,

olhos frios como o ártico que a aqueciam e aquele queixo azulado
que ela achava terrivelmente atraente. Ela piscou rapidamente para
conter as lágrimas. Ela limpou a garganta várias vezes para remover
o grande caroço que ameaçava sufocá-la.
— Você voltou.
— Estou de volta, Satine.
— Foi uma longa semana.
— Foi.
Ele se sentou, deslizando suas longas pernas ao redor dela,

dando a ela seu peito para descansar. Deixando cair o queixo em seu
ombro, ele travou os braços em volta da cintura. — Não precisamos
de mais agitação por aqui por muito tempo, mulher.
Ela manteve o olhar no lago. O sol estava começando a nascer,

espalhando cores sobre a água. Hoje, devido à névoa do sopro da
neve, as cores eram tons de azul e lavanda e púrpura. Isso
raramente acontecia, mas quando acontecia, o fenômeno era além da
beleza. Stella havia capturado o nascer do sol enevoado na
fotografia, mas ela nunca foi capaz de pintá-lo do jeito que
realmente parecia porque a pintura não parecia real o suficiente.
445
Livro Único
— Acontece que, Homem, eu não era o motivo da empolgação.

Foi você. Em qualquer caso, a conversa morreu em Knightly. Parei
de ir à cidade porque não queria mais falar sobre assassinos em
série. Acho que todos que conheceram Denver se sentem assim. Ela
manteve o olhar no sol nascendo lentamente no céu. Quanto mais
alto subia, mais largos os azuis e roxos se espalhavam pela
superfície do lago. — Você vai ter que sair de novo?
Ele esfregou o cabelo em seu pescoço com o queixo e a beijou

bem sobre o pulso. — Não, foi uma vingança única. Pedi ao meu
antigo treinador um grande favor e em troca ele me pediu para
cuidar de um pequeno problema para ele. Demorou um pouco mais
do que eu esperava, mas acabou e não terei que voltar por nenhum
motivo.
Ela deixou cair uma de suas mãos sobre a dele. — Não era um
pequeno trabalho, ou um de seus outros homens já teria feito isso.
— Isso é verdade, Stella, mas acabou agora e eu não vou

voltar.
Ela ficou em silêncio, observando as cores se expandirem na

superfície do lago.
— Você não pode trocar sua vida pela minha, Sam.

Essencialmente, era isso que você estava fazendo. Ao negociar um
favor como esse você sabia o que eles iam pedir de você. Já era
perigoso o suficiente caçar Denver.
Sam esfregou o queixo no topo de sua cabeça, a seda de seu

cabelo pegando em seu crescimento de sete dias. — Querida, eu
trocaria minha vida pela sua todas às vezes. Todas às vezes, Stella
então vamos reduzir o drama por aqui ao mínimo.
Ela amava Sam. Ela tinha que tomá-lo do jeito que ele era. Ela
inclinou a cabeça para trás e deu a ele um meio sorriso. — Você é
quem está com o pai querendo vir jantar no feriado e trazer sua
446
Livro Único
nova namorada. O jantar é na casa de Shabina. Ela disse que eles

poderiam vir se você desse a permissão. Ele disse três, porque
precisa de seu próprio guarda-costas. A segurança de Shabina não
era suficiente para ele. Isso é considerado drama, não é?
Ele deu um suspiro exagerado. — Isso é considerado ser uma

diva masculina. Acredite em mim, Stella, se ele se mudar para cá,
você não viu nada.
— Talvez recebê-lo para jantar seja uma coisa boa, já que

Denver não estará conosco este ano. Ele pode nos ajudar neste
primeiro ano, ela arriscou.
— Oh, ele definitivamente fornecerá o entretenimento. Ele vai

mandar em todos e garantir que a atenção de todos esteja
inteiramente centrada nele. E sua nova dama? Assim que souber da
comida de Shabina, ele pode lançar sua nova mulher no local e
propor.
Stella riu feliz com o sol nascendo sobre seu lago e seus
amigos mais uma vez planejando um jantar com ou sem o pai de
Sam. Ela achou que jantar com o pai dele parecia muito divertido.
FIM.
447

Livro Único Murder at Sunrise Lake - TRD - LR

Enviado por

Dados do documento

Título original

Direitos autorais

Formatos disponíveis

Compartilhar este documento

Compartilhar ou incorporar documento

Opções de compartilhamento

Você considera este documento útil?

Este conteúdo é inapropriado?

Direitos autorais:

Formatos disponíveis

Livro Único Murder at Sunrise Lake - TRD - LR

Enviado por

Direitos autorais:

Formatos disponíveis

Murder At Sunrise Lake

Murder At Sunrise Lake

Stella Harrison achava que havia escapado dos traumas de

Stella não sabe nada sobre o passado de Sam, mas de

Mas um assassino está lá fora. E Stella sabe que desta vez

Mamãe, papai está fazendo a coisa errada de novo.

A voz da criança dizia muito claramente às palavras que

anos. Quando ela tinha sete anos.

Stella Harrison sabia que estava sonhando, mas ainda não

das pedras para sair da sombra de várias árvores.

Ela tentou avisá-lo. Gritando. Chamando. Não lance. Não faça

exatamente a mesma coisa, como um robô programado.

A câmera mudou então e ela pôde ver abaixo da água.

da ameaça que espreitava sob a água.

O peixe mítico parecia estar lutando. Ele parecia grande e

mais perto e percebia que estava perto de ganhar seu prêmio.

Sem aviso, o assassino, sob a água, levantou-se bem na

debatia e lutava, mas ele estava fraco com o golpe violento na

pedra em sua cabeça.

Stella só pôde assistir, horrorizada, enquanto o assassino

A lente da câmera se fechou e tudo ficou preto.

STELLA acordou lutando contra um emaranhado de

Agora o pesadelo estava de volta e se repetia. Esta foi à quinta

Ela não percebeu que estava se balançando para frente e para

Não havia como voltar a dormir, embora ainda estivesse

Quando o proprietário decidiu que era hora de se aposentar

A propriedade era linda, no alto das montanhas que cercavam

Stella tinha feito bons amigos lá. Ela gostava de viver no

Não era como se houvesse um corpo - ainda. Ela estremeceu.

A banheira autônoma era funda e o chuveiro maior. Ela

Ela projetou as reformas da casa principal para duas pessoas,

A água quente derramou sobre ela enquanto ela lavava seus

cristalinos. A espessura de seu cabelo e os cílios mais escuros foram

A água quente ajudou a dissipar o último pesadelo e a bile em

Vestindo sua calça jeans favorita e uma camiseta confortável,

— Bailey, não acredito que você ainda está dormindo.

Os olhos de Bailey se abriram e ele olhou para ela e depois ao

estômago começou tudo de novo. Bailey esperou pacientemente que

Stella sabia que era ridículo ficar parada na frente da porta

Trancando a porta, ela acionou o alarme, furiosa consigo

Não haveria fofoca, sem sussurros ou rumores. Antes, ela

Stella evitou deliberadamente a marina e caminhou no escuro

espelhadas no lago enquanto o sol nascia ou se punha. Ela nunca se

Ela estava tão familiarizada com o layout do terreno que mal

A trilha a levou para trás dos acampamentos e locais de RV

O outono havia chegado, e com ele as cores gloriosas com as

Em seguida, havia apenas a beleza absoluta dos blazing reds2

cores competindo por atenção mesmo entre os verdes variados, até

As montanhas3 se ergueram acima do lago; florestas de

Stella sentou-se na ponta das grossas tábuas que formavam o

Bailey se enrolou ao lado dela, perto, do jeito que ele sempre

Ele tinha um corpo sobre ele. Ombros largos. Peito grosso.

Ele tinha cicatrizes. Muitos deles. Ele tirou a camisa quando

— Pare de se aproximar de mim assim, ela retrucou irritada

Ele puxou a caneca para viagem e se sentou Bailey entre eles,

— Sam. Ela praticamente rosnou o nome dele. Ele não poderia

Ele ergueu uma sobrancelha para ela. Evidentemente, ele

— Você veio aqui só para me irritar? Stella exigiu.

Ele não respondeu. Ela sabia que ele poderia manter o

Ela não era do tipo de pessoa que ficava constrangida com

Stella nem sabia como aconteceu de Sam ter entrado enquanto

não disse nada, apenas balançou a cabeça como se ela fosse um

Ela sabia cada música de cor, e todas as manhãs, quando ela