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Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke

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Um Pacto Audaz
Laura Lee Guhrke
(Série Uma Herdeira Americana em Londres 02)

RoHeSa, Katia, Stella Maris, Sarah Cortez e Val Nascimento

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke

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Sinopse

Edie Ann Jewell era uma insignificante pessoa de qualquer lugar relevante. Seu
pai ganhou dinheiro como comerciante, vendendo farinha, feijão e bacon para
homens famintos das minas de ouro da Costa da Barbary, na Califórnia, embora seu
pai tivesse quadruplicado sua fortuna investindo astutamente em Wall Street, esse
fato causou pouca impressão na alta sociedade de Nova York.

Após um escândalo que lhe causou um trauma, comprometeu-lhe a reputação,


e tirou-lhe a chance de ser aceita na sociedade londrina. Mas, uma viagem a Londres
e uma temporada sob a tutela de Lady Featherstone foram suficientes para que uma
“zé ninguém” caçasse o solteiro mais cobiçado e mais endividado da cidade, o
Duque de Margrave.

A imprensa de ambos os lados da lagoa publicaram como sendo um casamento


amoroso e parecia ter sido, mas, em menos de um mês, tinha se dissolvido, tão
rapidamente como começou.

Uma vez que as numerosas dívidas da família Margrave foram resolvidas com
o dote de sua esposa, o Duque de Margrave partiu para a África selvagem e lá
continuou sem a aparente intenção de voltar para casa. Até que uma fatalidade
mudou o rumo dessa história e fez com que o Duque, que até então demonstrava
cumprir à risca o acordo firmado entre ele e sua esposa, decide agora voltar e
conquistar aquela a quem ele jurou amor até que a morte os separe.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke

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Em memória do meu querido Michel Loosli

15 de março de 1949 - 10 de março de 2013

Descanse em paz, meu amigo.

Prólogo

África Oriental

O canto o acordou. Era uma melodia repetitiva e primitiva

que lentamente o arrastou para a consciência. Quando ele acordou, a

primeira sensação era de dor, tentou voltar a dormir, para retornar ao

esquecimento, mas era tarde demais para isso.

O canto era o motivo. Ele continuou e continuou, e quanto mais

tentava ignorá-lo, mais intensamente parecia perfurar seu cérebro.

Queria tapar seus ouvidos para alcançar o bendito silêncio que lhe

permitiria dormir, mas não conseguiu levantar as mãos. Que

estranho.

Sua cabeça estava prestes a explodir. Sua pele picava como se

estivesse cravada com milhares de agulhas, mas por dentro sentia um

frio penetrante e agressivo, como se o esqueleto fosse feito de

icebergs. E a perna... Tinha um problema com a perna. A dor parecia

concentrar-se na coxa direita e irradiar para todas as partes do corpo.

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Queria abrir os olhos e olhar, ver o que estava acontecendo com

a perna, mas, mais uma vez, ele não conseguia fazer com que seus

músculos obedecessem. Sua cabeça estava entorpecida, sua mente

distorcida. O que estava errado com ele?

Ele tentou pensar, mas isso exigiu muito esforço, e quando o

canto acalmou até converter-se em um murmúrio, ele desabou

novamente em seu sonho.

Dançaram através de sua mente imagens e sons a uma

velocidade tão grande que não sabia se eram sonhos ou uma

explicação sobre o que havia acontecido com ele. Um ponto borrado e

escuro, uma dor ardente e o som penetrante de tiros de rifle

ricocheteando nas montanhas de Ngong.

Mudou a imagem em sua mente e viu uma mulher com um

vestido de seda azul, uma jovem fina com rosto sardento, olhos

verdes e cabelos cor de cobre. Ela estava olhando para ele, mas não

havia flerte em seus olhos, sem sombra de sedução em seus lábios

rosados. Ela permaneceu tão quieta que poderia muito bem ser uma

estátua, e no entanto ela era a criatura mais intensa e vivaz que Stuart

já havia visto. Ele prendeu a respiração. Ele não poderia estar lá, na

África do leste selvagem. Estava na Inglaterra. Sua imagem

desapareceu no nevoeiro, e, embora ele tentasse recuperá-la, não

podia. Tinha o cérebro tão grosso quanto o alcatrão.

Algo frio e molhado tocou seu rosto, uma compressa que

escovava sua testa e depois se acomodou na boca e no nariz. Sacudiu

a cabeça de um lado para o outro em um protesto violento. Odiava

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ter qualquer coisa em seu rosto, fazia com que ele se sentisse

sufocado. Jones sabia disso. O que esse homem estava fazendo?

O pano úmido cobriu o rosto novamente, mas ele conseguiu

empurrá-lo. Estava tremendo. Seu corpo estremeceu em violentos

choques. Estava muito frio.

Aquilo o desconcertou. Estava na África. Nunca tinha passado

frio alí. Na Inglaterra, sim. A Inglaterra era um país frio, com sua

umidade constante, seu chuvisco, sua reserva fria, sua consciência de

classe esnobe e suas tradições perpétuas.

Mas, à medida que esses pensamentos desdenhosos

atravessavam sua mente, um novo apareceu atrás deles.

"É hora de ir para casa".

Ele tentou descartar essa idéia. Na África ainda havia trabalho

a ser feito. Porque ele estava na África, certo? Um pingo de

insegurança o fez abrir os olhos e erguer a cabeça. Assim que ele fez,

tudo começou a girar violentamente e pensou que iria vomitar. Ele

estreitou os olhos até que a náusea diminuiu, e quando ele os abriu

de novo, viu coisas que lhe eram tranquilizadoras: o teto e as paredes

de lona, a mesa de ébano maltratada, as peles empilhadas, os mapas

enrolados e colocados em um cesto, tronco de couro preto... Os

objetos que tinham sido sua casa por uma década. Ele respirou

profundamente e inalou o cheiro de suor e de savana, e ele sentiu um

aumento de alívio quando percebeu que sua sanidade não o

abandonara completamente.

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Dois homens com uma pele de cor de café estavam à entrada

da tenda. Havia outros dois ajoelhados um de cada lado de seu leito,

repetindo incessantemente aquela música infernal, mas não havia

nenhum sinal de Jones em qualquer lugar.

“Onde demônio estava Jones?”

Um dos homens ajoelhados ao lado dele estendeu a mão para

pressionar o peito dele e exortá-lo a deitar-se. Muito fraco para

resistir, ele se deitou e fechou os olhos, mas assim que o fez, viu a

mulher de novo. Seus olhos verdes brilhavam como esmeraldas

quando ela o olhou e seus cabelos brilharam como fogo

incandescente sob as luzes do salão de baile.

Salão de baile? Devia estar sonhando, porque fazia anos que ele

estivera em um salão de baile. E ainda assim conhecia aquela mulher.

Seu rosto tornou a desaparecer, e em seu lugar havia um tabuleiro de

damas verdes e prados dourados, todos delimitados por sebe verde

escuro. Elas eram as terras de Margrave1, e se estendiam diante dele

até onde seus olhos pudessem alcançar. Ele tentou virar as costas

para eles, mas quando o fez, viu o estuário de Wash 2 e, atrás dele, o

mar. O cheiro da savana desapareceu para ser substituído pelo da

grama verde e pela rainha das planícies, o fogo da turfa e o ganso

assado.
1
Margrave era originalmente o título medieval para o comandante militar designado para manter a
defesa de uma das províncias da fronteira do Sacro Império Romano ou de um reino. Essa
posição tornou-se hereditária em certas famílias feudais no Império, e o título passou a ser
carregado por governantes de alguns principados imperiais até a abolição do Império em 1806.
2
O Wash Estuary aparece como um grande dreno no mapa da costa oriental da Inglaterra,
separando a costa curvada de East Anglia de Lincolnshire. É formado por uma grande baía, com
três de seus lados quase em linha que estão aproximadamente em ângulo reto, cada um com
cerca de 25 km de comprimento. A costa leste de The Wash pertence ao condado de Norfolk, e se
estende de Hunstanton, no norte, até a foz do rio Grande Ouse , em King's Lynn , no sul;

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"É hora de voltar para casa".

Esse pensamento o atingiu novamente, apresentando-se com

uma certeza inexorável que silenciou o canto repetitivo.

Os campos, as sebes verde escuro, o mar, os olhos da mulher,

todas as imagens derreteram-se em um tapete de tons verde que

desapareceram, não se derreteram na névoa, mas se abriram debaixo

dela como uma fenda na terra e depois viu... Nada. Em volta dele,

tudo era escuridão e vazio. Sentiu o tremor do medo, sentiu a mesma

sensação que o cabelo na nuca do pescoço fazia quando estava na

selva africana. O perigo estava muito perto, ele sabia.

De repente, a música cessou. As vozes derramaram-se sobre ele

em explosões rápidas, vozes ansiosas e cheias de inquietação falando

em Kikuyu3. Mas, embora ele falasse fluentemente a maioria dos

dialetos Bantu4, incluindo aquele, ele não entendia o que estavam

dizendo.

As vozes subiam a um passo quase frenético, e de repente ele

sentiu que estavam levantando seu corpo da cama. O movimento

causou uma nova onda de dor em seus já doloridos ossos. Ele gritou,

mas não havia som vindo de sua garganta dilacerada.

3
Os Kikuyu ou Quicuiu (ou Kĩkũyũ pronunciado Gĩkũyũ ou como se autonomeiam Agĩkũyũ) são o
grupo étnico mais populoso do Quênia. Com cerca de 5,347,00 pessoas só no Quênia (1994 I.
Larsen BTL) representam cerca de 22% da população total queniana.
4
Os bantus constituem um grupo etnolinguístico localizado principalmente na África subsariana e
que engloba cerca de 400 subgrupos étnicos diferentes. A unidade desse grupo, contudo, aparece
de maneira mais clara no âmbito linguístico, uma vez que essas centenas de grupos e subgrupos
têm, como língua materna, uma língua da família bantu.

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Eles estavam movendo-o, eles o estavam levando para algum

lugar. A dor era atroz, sobre tudo em sua coxa, e ele sentiu que seus

ossos iriam quebrar como palitos ao menor movimento. Parecia uma

eternidade o tempo que passou até que eles pararam.

Ele sentiu a crosta da grama seca debaixo de suas costas

quando ficou no chão e ouviu o som de metal cortando a grama e

cavando o chão.

Forçou para abrir os olhos novamente e descobriu uma lua

crescente de prata acima dele, mas as linhas da lua estavam borradas

contra o céu noturno. Piscou, balançou a cabeça e piscou de novo. De

repente, a silhueta da lua desapareceu.

Era a lua crescente da África, cercada de brilhantes diamantes e

do veludo escuro da noite, uma imagem familiar para ele. Todas as

noites, quando todos dormiam e o fogo estava fraco, ele se debruçava

atrás em sua cadeira de lona, esticava suas pernas e seus músculos

doloridos após um dia de safari, e olhava para aquelas constelações

enquando tomava o café. Na África Oriental, noites como aquela

eram comuns.

Era mais raro apreciar uma noite tão clara e linda na Inglaterra.

Lá, de noite ou de dia, o céu estava normalmente coberto, o ar estava

molhado e congelado. Mas no verão, em um dia claro, a Inglaterra

também tinha seus bons momentos. Futebol, croquet, piqueniques

nos gramados Highclyffe5. O champanhe. Os morangos.

5
O castelo de Highcliffe, situado nas falésias de Highcliffe, Dorset, foi construído entre 1831 e
1835 por Charles Stuart, 1º Barão Stuart de Rothesay, em um estilo gótico de renome , perto do
site de High Cliff House, uma mansão georgiana projetada para o 3º conde de Bute (um fundador

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Sua boca enchia de água somente pelo pensamento de

morangos. Ele não conseguia lembrar quando os tinha comido pela

última vez. Parecia uma eternidade.

"É hora de ir para casa".

O rosto da mulher reapareceu. Um rosto fino e determinado,

com um maxilar quadrado e um queixo afiado, um rosto pálido,

luminoso e translúcido em um pedaço de sardas. Com as

sombrancelhas castanhas e angulares e as maçãs do rosto altas e

pontudas, não era um rosto delicado ou uma beleza convencional. E,

no entanto, foi de tirar o fôlego, fascinante, o tipo de rosto que você

vê em um salão de baile e nunca esquece.

Mas não era o rosto de nenhuma mulher, ele percebeu com

súbita lucidez. Era o rosto da sua mulher, da sua esposa.

Edie, pensou, e algo duro e tenso pressionado em seu peito,

algo doloroso, como se eles estivessem apertando seu coração com as

mãos. Que estranho, pensou ele, tornar-se tão sentimental com uma

mulher que mal conhecia e pensava em um lugar que não havia

pisado há anos. Ainda mais estranho, eles pareciam reivindicá-lo a

milhares de quilômetros de distância, arrastando-o com forças muito

poderosas para negá-lo. Ele sabia que não poderia continuar na

África por um longo tempo. Era hora de voltar para casa.

As vozes soaram novamente, mas ainda eram muito baixas

para entender as palavras e esquecer as lembranças de casa. Ele virou

de Kew Gardens ) com os jardins definidos pela Capability Brown . [1] O design, por William
Donthorne , um membro fundador da RIBA( Royal Institute of British Architectes) , incorporou
grandes quantidades de pedras medievais esculpidas recuperadas da Abadia Beneditina
Normanda de São Pedro em Jumieges e da Grande Maison des Andelys.

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a cabeça e, entre os fios da grama da savana, ele podia ver os quatro

homens que ele vira na barraca, mas ainda não havia visto Jones em

nenhum lugar. Os homens estavam perto e, embora sua pele escura

os tornasse visíveis no escuro, conseguiu reconhecê-los. Eles eram

seus homens. Os conhecia. Ele os conhecia tão bem, de fato, que,

mesmo no escuro, a maneira de se moverem revelava suas

identidades.

Eles estavam cavando com pás inglesas, algo estranho, já que o

Kikuyu mal usava as ferramentas inglesas. E enquanto os observava,

ele lentamente percebeu, como se estivesse testemunhando um

amanhecer. Tudo que parecia ininteligível até então de repente fez

sentido, perfeito e terrível. Eram seus homens, os melhores, os mais

leais, e estavam lhe dando uma honra que geralmente apenas os

chefes da tribo mereciam, a maior honra que um Kikuyu poderia

conferir.

Estavam cavando seu túmulo.

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Capítulo 1

Tal e como o escritor William Congreve havia apontado com

tanta intensidade, o chá e os escândalos sempre tiveram uma

afinidade natural e, em todas as estações, as senhoras da sociedade

britânica desenvolveram suas preferências muito decididas sobre o

tipo de escândalo que seria servido junto com a chícara de Early

Grey6.

O Principe de Gales era um eterno favorito, por razões óbvias.

Um príncipe, consideravam as damas uma causa de escândalo,

particularmente um com os pais tão aborrecidos. Com Bertie ele

sempre poderia contar, como um bom fornecedor de deliciosas

fofocas.

O Marques de Trubridge também tinha sido uma fonte de

fofoca, até que ele assentou a cabeça e aquietou-se em uma vida

conjugal doméstica, tornando-se um homem decepcionantemente

chato, tanto quanto os escândalos. Sua esposa, no entanto, continuou

despertando algum interesse entre as damas da alta sociedade, pois,

embora o impacto inicial de seu casamento com Trubridge já tivesse

passado, havia ainda muitos que achavam fascinante que a outrora

6
Earl Grey é o nome dado a qualquer tipo de chá aromatizado com óleo essencial de bergamota.
O tipo mais frequente de Earl Grey é à base de chá preto, mas a designação também se aplica a
infusões aromatizadas de chá verde e chá branco. A mistura foi batizada em honra do 2° Conde
Grey (Earl Grey, em inglês), primeiro-ministro britânico na década de 1830, que introduziu este
tipo de chá aromatizado no Reino Unido. O Conde Grey recebeu a mistura como presente
diplomático e começou a servir o chá aromatizado aos seus convidados. O chá foi um grande
sucesso e os fabricantes de chá Twinings foram convidados para elaborar uma receita.

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dama Featherstone se casasse com outro libertino. Acaso não

aprendeu nada em seu primeiro casamento? Os comentários de que

ela ainda estava muito feliz com Trubridge um ano após o casamento

deles foram recebidos com insultos e advertências ocasionais sobre os

grandes caçadores de fortunas e as razões pelas quais qualquer jovem

sensata deveria manter uma boa distância deles.

E nesse momento em particular, as conversas giravam

invariavelmente para a duquesa de Margrave.

Todos sabiam que o duque se casara com ela pelo seu dinheiro.

Afinal, por qual outro motivo ele poderia ter feito isso?

Claro, não foi por causa de sua beleza, como se apressaram em

assinalar as damas mais atraentes. Com aquela figura alta e magra e

aqueles cabelos avermelhados e indisciplinados? E, meu Deus, com

essas sardas!

E, tão pouco por sua posição social que havia chamado a

atenção do duque. Antes de chegar na Inglaterra, Edie Ann Jewell era

uma zé ninguém de nenhum lugar relevante. Seu pai ganhara

dinheiro como comerciante, vendendo farinha, feijão e bacon para os

mineiros com fome das minas de ouro da costa Berberia7 da

Califórnia e, embora seu pai tivesse quadruplicado sua fortuna

investindo sabiamente em Wall Street, esse fato causara pouca

impressão na alta sociedade de Nova York, e quando um escândalo

tinha comprometido a reputação da jovem, ela perdeu a chance de

7
Berbéria, Berberia, Barbária, Costa berberisca, Costa berbere ou Costa barbaresca é o termo
que os europeus utilizaram desde o século XVI até ao século XIX para se referirem às regiões
costeiras de Marrocos, Argélia, Tunísia e Líbia, ou seja, o atual Magrebe, à exceção do Egito.

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ser aceita na sociedade. Mas uma viagem a Londres e uma

temporada sob a tutela de Lady Featherstone haviam sido suficiente,

para que aquela zé ninguém caçasse o solteirão mais cobiçado e mais

endividado da cidade com todos os seus milhões de dinheiro

americano.

A imprensa em ambos os lados do Atlântico havia anunciado

isso como um casamento sem amor, e certamente parecia ter sido,

mas menos de um mês depois do casamento foi demonstrado

publicamente que o amor, se existiu, tinha desaparecido

rapidamente. Uma vez saldado as numerosas dívidas da família com

o dote de sua esposa, o Duque de Margrave partiu para a África

selvagem e continuou depois disso, sem qualquer intenção aparente

de voltar para casa.

Sozinha e abandonada, a Duquesa concentrou toda a sua

atenção em dirigir ela mesma todas as propriedades de Margrave.

Claro, tinha gestores competentes e muito dinheiro, mas ainda

assim... muitas senhoras sacudiram a cabeça e suspiraram, pensando

em quão pesada era aquela carga para uma mulher.

E era verdadeiramente tal como deve ser para uma duquesa

administrar sua própria propriedade sozinha? As senhoras da alta

sociedade discutiram incansavelmente essa questão em frente a

fontes com sanduiches de pepino e biscoitos de sementes. As mais

jovens tendiam a defender a duquesa e a culpar Margrave,

ressaltando que era ele quem havia a deixado. Se o duque estivesse

em casa e não explorando os confins da África, sua esposa não teria

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sido forçada a agir em seu lugar. As senhoras pertencentes a gerações

mais antigas costumavam lembrar naquele momento o argumento

devastador da existência do irmão mais novo do duque, Cecil. Era ele

quem deveria assumir os assuntos do ducado na ausência do duque

e, de fato, não lhe estavam dando a oportunidade que merecia, o qual

mostrava a ignorância da duquesa em respeito de como deveriam ser

as coisas. Mas, por fim, o que se podia esperar de uma americana.

No final, eram as origens que comandavam, costumavam

argumentar algumas das damas. Para viajar sem parar de uma

propriedade para outra, cavando jardins, jogando ornamentos de

jardinagem, movendo fontes que estiveram em um lugar há mais de

um século... esta não era a maneira de proceder de uma duquesa. E as

mudanças que ela estava fazendo permanentemente dentro das

propriedades? Luz de gás, banheiros e apenas o céu sabia quantas

coisas mais. Essas invenções modernas só podiam servir para

estragar a beleza de uma casa, para perturbar sua harmonia e causar

estragos na rotina doméstica. "Pense nos pobres servos", diziam uns

aos outros. O que seria da empregada responsável pelos quartos o dia

todo se ela não tiver urinóis para limpar?

E o que a família estava fazendo sobre isso? A viúva duquesa

fez uma cara boa , é claro, embora fosse impossível para ela aprovar.

E, por outro lado, Lady Nadine estava dizendo a todos que gostava

das mudanças que estavam fazendo no palácio ducal, mas, claro, não

podia dizer o contrário. A irmã do duque era uma daquelas amáveis

cabecinhas ocas que nada que outra pessoa fizesse parecia lhe

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ofender. Mas com certeza, Cecil estava chateada com a situação. Não

é de admirar que passasse tanto tempo na Escócia.

Alguns disseram que a duquesa gostava de assumir poderes que

eram privilégios especiais do sexo forte. Outros não perceberam que

poderia ser assim porque, o que a mulher poderia desfrutar com as

duras e pesadas responsabilidades dos homens?

A única coisa que as mulheres concordaram foi que a duquesa

deveria ser digna de pena, não julgada. Pobrezinha! Eles diziam,

tentando ocultar seu inconfundível prazer atrás de uma preocupação

fingida. Preenchendo o vazio de seus dias com responsabilidades

masculinas, com um marido na África Oriental e sem o consolo de

um filho. Sim, pobrezinha.

A reação da duquesa a essas conversas, se alguma vez teve a

chance de ouvi-las, era risada. Se eles soubessem a verdade!

O seu não era o tipo de casamento que os britânicos

aprovavam porque ela não possuía nenhum título. Nem tão pouco

era o tipo de casamento que os americanos gostavam porque não era

baseado no amor. E, claro, não era o tipo de casamento que ela tinha

imaginado quando era jovem e romântica. Mas o que aconteceu em

Saratoga conseguiu arrancá-la de qualquer capricho romântico que já

teve.

Pensar naquele lugar e o que aconteceu lá era suficiente para

Edie sentir náuseas. Virou o rosto para que Joanna não visse sua

expressão enquanto lutava para esquecer aquele dia fatídico que

havia mudado sua vida para sempre.

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Se concentrou no calor do sol que a atravessava no Landau

aberto e respirou profundamente o ar puro da Inglaterra, tentando

esquecer o cheiro de mofo daquela casa de verão e o sopro quente e

ofegante de Frederick Van Hausen sobre o seu rosto. Ouviu

atentamente o chocalho das rodas, de modo a não ouvir o som de

seus próprios soluços ou os nervos furtivos da alta sociedade de

Nova York ao falar da libertina Edie Jewell.

Como a fênix que ressurgiu de suas cinzas, Edie conseguiu

criar uma nova vida a partir do naufrágio da anterior, uma vida que

se adequava às suas necessidades. Ela era uma duquesa sem um

duque, uma senhora sem um amo e, muito para sua consternação, ela

gostava de ser assim. Sua vida era confortável, segura e tão previsível

como uma máquina perfeitamente calibrada. Tinha todos os aspectos

de sua vida sob controle.

Bem, talvez não todos, ela corrigiu com arrependimento

enquanto olhava para a garota de quinze anos sentada em frente a

ela. Como Edie, sua irmã Joanna não era uma garota fácil de

controlar.

— Não entendo por que tenho que ir para a escola — reclamou

Joanna pela quinta vez desde que a carruagem deixou Hyghclyffe e

talvez a centésima vez desde que a decisão foi tomada. — Não

entendo por que não posso continuar vivendo com você e ter a Sra.

Simmons como governanta, como foi até agora.

Não havia nada que Edie quisesse mais do que aquilo fosse

possível. Na verdade, Joanna ainda não tinha entrado no trem, e já

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estava sentindo falta dela. Mesmo assim, ela sabia que não seria bom

para nenhuma delas mostrar seus sentimentos. Então Edie fingiu

uma firme indiferença nos argumentos de Joanna.

— Não posso forçar nossa querida Sra. Simmons a ficar mais

um ano com você — contestou com uma alegria que estava muito

distante de sentir.

— Essa não é a razão. Os olhos castanhos de Joanna olharam

para ela acusadoramente. — É por causa desse ridículo negócio dos

cigarros. Se eu soubesse que você iria me mandar de volta, nunca

teria feito isso.

— Oh! Portanto, não é sua consciência que te incomoda, mas o

que você considera uma punição.

Imediatamente, a expressão de Joanna ficou angustiada.

— Isso não é verdade — disse ela — realmente sinto muito,

Edie, de verdade.

— E você tem motivos para sentir isso, Joanna — disse a Sra.

Simmons, sentada ao lado da adolescente. — Os cigarros são

nojentos, além de um hábito inadequado em uma dama.

Joanna não prestou atenção no comentário porque sabia por

experiência própria que discutir com a implacável Sra. Simmons era

inútil. Então ela continuou a olhar para Edie. Sob o chapéu, seus

olhos gigantes de gazela se encheram de lágrimas.

— Não posso acreditar que você está me expulsando de casa.

O coração de Edie afundou ao ouví-la, embora soubesse

perfeitamente que Joanna estava tentando manipulá-la. Em todos os

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outros aspectos de sua vida, ela confiava em suas decisões, estava

perfeitamente certa do terreno que ela estava pisando e não se

deixava manipular. Mas Joanna era seu ponto fraco.

A senhora Simmons, graças a Deus, tinha a determinação que

ela não tinha sobre o que Joanna queria dizer. Mas, no ano anterior,

Joanna tornou-se muito ingovernável mesmo para aquela boa mulher

controlá-la. A Sra. Simmons, em muitas ocasiões, aconselhou-a a levá-

la a uma escola de elite e, após o incidente do cigarro, Edie rendeu-se

finalmente, para o grande desânimo de sua irmã. Durante as quatro

semanas desde então, Joanna a perseguiu constantemente, tentando

minar sua resolução. Felizmente, na Willowbank Ladies Elite School,

eles se mostraram dispostos a aceitar a irmã da Duquesa Margrave

durante o próximo trimestre. Se a chantagem de Joanna tivesse

durado muito mais tempo, Edie sabia que provavelmente teria

cedido.

Joanna precisava da escola. Estava numa idade em que

necessitava da disciplina e dos estímulos que pudesse receber. Ela

precisava polir-se e ter a oportunidade de fazer amigos. Edie sabia

disso, mas também sabia que sentiria sua falta terrivelmente. Na

verdade, ela já podia sentir a saudade se aproximando.

— Edie? A voz de sua irmã, hesitante e arrependida, explodiu

em seus pensamentos.

— Sim? — Ela virou a cabeça, aliviada pela distração, e olhou

para a adolescente sentada em frente a ela no Landau. — Sim, minha

querida?

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— Se eu prometer nunca mais fazer nada de mal, posso ficar?

— Joanna, isso tem que acabar de uma vez — a Sra. Simmons a

repreendeu antes que Edie pudesse responder. —Sua irmã já se

decidiu. Estou empregada em outro lugar e você foi aceita no

Willowbank. Algo que, por sinal, você deve aceitar como um grande

elogio, já que Willowbank é uma escola muito distinta. A Sra.

Calloway aceita muito poucos alunos entre todos aqueles que se

candidatam.

Edie se forçou a falar com uma leveza que ela não sentia.

— E em Willowbank você pode pintar e estudar arte, que é o

que mais gosta. Você fará amigos e aprenderá todos os tipos de coisas

novas. Esse cérebro inteligente estará ocupado de manhã à noite.

— Provavelmente nem saberei quando é dia ou noite —

grunhiu Joanna. — As janelas são tão estreitas que você mal consegue

ver o que está acontecendo lá fora. É um lugar escuro e deprimente e

com certeza, quando o inverno chegar, será assustadoramente frio.

Ugh!

— Bem, é um castelo, afinal — apontou Edie. — Mas você não

acha divertido viver em um castelo?

Joanna não ficou impressionada. Fez uma careta e recostou-se

no assento com um suspiro pesado.

— Será como viver na Torre de Londres! É uma prisão.

— Joanna! — A Sra. Simmons a repreendeu em voz alta, mas

Joanna, incorrigível, deslocou seus olhos enormes de Edie para a

indomável mulher que estava sentada ao lado dela.

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—O que é isso? Perguntou com inocência fingida e ofendida. —

A Torre é uma prisão, não é?

— Foi. A Sra. Simmons bufou. — E se você não parar de

incomodar sua irmã, ela enviará você para lá em vez de Willowbank.

— Se você me enviasse, você poderia entrar pela porta da

rainha Anne de barco? — Seu rosto se iluminou com esse

pensamento. —Seria divertido.

— Até que lhe cortassem a cabeça — disse Edie. — Se comporte

em Willowbank como está se comportando em casa e me atrevo a

dizer que a Sra. Calloway será tentada a fazê-lo.

A expressão de Joanna se tornou sombria, mas a menina não

foi capaz de pensar em uma resposta inteligente, então permaneceu

em silêncio, elaborando, Edie não tinha a menor dúvida, outro

argumento para explicar por que ir para um colégio interno não era

uma boa idéia .

Sua apreensão era compreensível. Sua mãe morreu quando

Joanna tinha apenas oito anos de idade. Seu pai, ocupado com

negócios em Nova York, chegou à conclusão de que deixar Joanna

aos cuidados de Edie depois que seu casamento era o mais

conveniente para todo, e as irmãs raramente haviam se separado.

Mas Edie sabia que não poderia manter Joanna amarrada ao seu lado

para sempre, não importava o quanto ela desejasse.

Estudou o rosto de sua amada irmã, analisando sua beleza

juvenil com uma mistura de sentimentos. Por um lado, ela agradeceu

que os defeitos físicos que a assombraram durante a juventude nunca

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a atormentassem. O nariz de Joanna era aquilino em vez de plano e

não tinha uma única marca. Seu cabelo era castanho sem tintura que

lembrava as cenouras. E sua silhueta, embora esbelta, já era muito

mais arredondada do que jamais seria a dela. Felizmente, ela não era

tão alta quanto sua irmã mais velha.

Mas, apesar de Edie ficar feliz de ver florescer a sua irmã e

tornar-se a beleza que ela nunca tinha sido, também tinha que ser

mais determinada do que nunca para cuidá-la e protegê-la, para

garantir que o que tinha acontecido com ela em Saratoga, com sua

irmã nunca iria acontecer.

Ela sabia que em Willowbank Joanna estaria segura, protegida

e constantemente assistida, mas ainda queria desesperadamente que

o carro voltasse. E quando o veículo desacelerou, era quase como se o

destino estivesse concedendo-lhe esse desejo.

— Ooo! Gritou o condutor de seu assento, puxando as rédeas e

colocando a carruagem a passo de tartaruga.

— O que foi, Roberts? Edie perguntou, levantando-se no

assento. — Por que você está tão lento?

— Há um rebanho de ovelhas à frente, Excelência. São muitas.

— Ovelha?

Agarrando com as mãos enluvidas a porta da carruagem, Edie

levantou-se e olhou para o rebanho de ovelhas à frente na estrada

com alívio e desolação ao mesmo tempo.

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22
Guiados por homens a cavalo e por vários cachorros, eles

seguiram na mesma direção que a carruagem, movendo-se a um

ritmo desesperadamente lento.

— Isso nos causará muito atraso? — Perguntou, afundando de

volta no assento.

O jovem virou a cabeça para olhar por cima do ombro.

— Temo que sim Excelência. Pelo menos vinte minutos, eu

diria. Ou talvez mais.

— Isso é bom! —Joanna saltou alegremente em seu assento. —

Perderemos o trem!

Edie olhou para o relógio que tinha na lapela de seu traje azul e

confirmou que definitivamente havia essa possibilidade. Olhou para

ambos os lados, esticando o pescoço para ver os cavalos e olhou de

novo para o motorista.

— Não poderia tentar avançar? — Ela perguntou

desesperadamente. —Certamente, as ovelhas prefiram deixar o

caminho para não serem feridas pelos cavalos.

Roberts deu-lhe um olhar irônico.

— Isso seria assumir que as ovelhas têm espaço para se

moverem, Excelência. O rebanho já está muito apertado e com a

colina que tem à direita e a inclinação da esquerda, elas não têm

escolha senão avançar em linha reta.

— Então, até chegarmos ao desvio de Clyffetton, teremos que

nos mover nesse ritmo?

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


23
Roberts assentiu com desculpa.

— Eu temo isso. Sinto muito.

— Ótimo! — Joanna exclamou triunfante. — E não há outro trem

até amanhã.

Outro dia mais suportando sua irmã? Edie recostou-se no banco

com um gemido. Estava perdida.

A carruagem continuou a avançar muito devagar, enquanto a

Sra. Simmons permanecia sentada no implacável silêncio de uma

senhora, Joanna sorriu sem reprimir uma expressão triunfante e Edie

tentou se preparar para aguentar durante vinte e quatro horas, sua

irmã tentando minar sua determinação.

Era meia hora antes de poderem sair dessa estrada e deixar as

ovelhas para trás. E embora Roberts conseguisse compensar algum

tempo perdido acelerando a carruagem, quando chegaram à estação,

o trem de Norwich já estava derramando nuvens de vapor enquanto

se preparava para sair da pequena estação de Clyffeton.

Roberts mal havia parado a carruagem e Edie estava fora do

veículo correndo em direção à estação.

— Traga a bagagem, Roberts, por favor! — Ela gritou por cima

do ombro enquanto subia os degraus da entrada abrindo a porta.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


24
Sem esperar uma resposta, ela entrou, atravessou o prédio da

estação, um prédio pequeno e vazio, e saiu do outro lado,

diretamente na plataforma. A plataforma também estava vazia,

exceto pela presença de um homem inclinado despreocupadamente

sobre a coluna atrás dele. Estava usando um chapéu que escondia seu

rosto. Rodeado de bagagem, ele parecia não ter intenção de entrar no

trem e Edie deduziu que acabava de descer do trem e esperava a

carruagem que iria buscá-lo.

Um estranho, ela pensou, mas quando o homem que reconheceu

sendo o chefe da estação saiu do trem, Edie passou ao lado do

estranho sem um segundo olhar e nem pensar mais nele.

— Sr. Wetherby?

— Excelência. — Ele se endireitou, oferecendo-lhe atenção

respeitosa. — O que posso fazer para ajudá-la?

— Minha irmã e sua preceptora têm que tomar esse trem, mas

chegamos terrivelmente tarde. O senhor poderia tentar persuadir o

maquinista a atrasar o início por um minuto ou dois para dar-lhes

tempo para subir?

— Vou tentar Excelência, mas pode ser perigoso adiar a partida

de um trem. Vou ver o que posso fazer.

O gerente da estação inclinou-se, segurou a gola e

imediatamente correu para o trem para alcançar o motorista. Edie

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


25
olhou por cima do ombro, mas nem sua irmã nem senhora Simmons

a tinham seguido até a plataforma e, não querendo pensar sobre os

problemas da partida de sua irmã, ela decidiu ocupar sua mente para

analisar mais profundamente o estranho a seu lado.

Definitivamente era de fora, embora não tivesse certeza de por

que lhe dava essa impressão. Ele estava vestido com uma roupa

própria do país, um traje de tweed muito bem cortado, e ainda havia

algo sobre ele que não era típico do inglês. Talvez fosse aquela

postura descuidada, ou o modo de usar o chapéu, escondendo a testa

e caindo sobre seus olhos. Ou talvez a bengala de mogno e marfim

que usava em sua mão, ou a velha mala de couro de crocodilo a seus

pés, ou os baús pretos tachonados com latão empilhados perto dele.

Ou talvez fosse apenas o vapor do trem que girou sobre ele como

neblina. Mas o que aconteceu foi que havia algo sobre o homem que

falava de lugares exóticos e distantes daquele pequeno e tranquilo

canto da Inglaterra.

Clyffeton era uma vila pitoresca na costa de Norfolk, localizada

no final do estuário de Wash. Tinha sido um lugar estratégico quando

os Vikings haviam saqueado a costa inglesa, mas naquele momento

era apenas uma tranquila localidade junto ao mar. Embora se

presumisse ser uma residência ducal, nada podia evitar que fosse

uma população isolada, pitoresca e irremediavelmente provinciana.

Em um lugar como aquele, um estrangeiro destacava-se como

calcinha vermelha no varal de um clérigo. Em menos de uma hora, o

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


26
povo encheria de comentários sobre a chegada de um forasteiro. Em

dois tempos, decidiriam se seria um homem digno de confiança, iam

desenterrar seu passado e conhecer suas intenções. Para então, a

própria donzela de Edie ser capaz de contar-lhe tudo sobre ele.

— Conseguiu impediu ele de sair?

A voz de Joanna, com um tom acusatório e consternado,

interrompeu suas especulações. Edie virou, esquecendo o estranho

novamente.

— Claro — ela disse, e sorriu para sua irmã. — Ser uma duquesa

é uma coisa maravilhosa. — Eles param até os trens para mim.

— Claro — murmurou Joanna com desgosto. — Eu deveria ter

imaginado.

A Sra. Simmons correu, gesticulando para os dois homens atrás

dela carregando sua bagagem.

— Eu consegui um carregador para ajudar Roberts com os baús.

— Ela segurava um par de bilhetes com sua mão enluvada de preto.

— É melhor irmos e não esperar pelo trem.

— De acordo então. —Joanna ergueu o queixo, tentando parecer

indiferente à situação. — Suponho que se as duas estão tão

determinadas, eu terei que partir.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


27
Havia medo sob aquela aparente despreocupação, Edie sentiu,

mas, mesmo que rasgasse seu coração, ela não cederia a ele.

Desesperada, ela se virou para a preceptora.

— Por favor, cuide da Joanna. Certifique-se de que tenha tudo o

que precisa e se instale antes... — Parou e respirou fundo. — Antes

de deixá-la.

A preceptora assentiu.

— Claro que o farei, Excelência. Vamos, Joanna.

O rosto de Joanna se torceu, se quebrou. A máscara desafiadora

veio abaixo.

— Edie, não me deixe ir!

A Sra. Simmons interveio então com uma voz forte.

— Está tudo bem, Joanna! Você é a irmã da duquesa e uma dama

da alta sociedade. Deve se comportar de acordo com sua condição.

Mas Joanna não parecia inclinada a comportar-se como uma

dama. Ela abraçou Edie e agarrou-se a ela como uma sanguessuga.

— Não me afaste de você!

— Calma, vamos. — Ela acariciou suas costas, lutando para

manter seus próprios sentimentos sob controle enquanto Joanna

soluçava em seu ombro. — Em Willowbank eles cuidarão de você.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


28
— Não tão bem como você.

Edie começou a afastá-la gentilmente, e embora essa fosse uma

das coisas mais difíceis que ela já fez, conseguiu sair do abraço de sua

irmã.

— Vamos, Joanna, seja corajosa, querida. Te vejo no Natal.

— Mas falta muito para o Natal! — Joanna enxugou as lágrimas

e se virou com raiva para seguir a preceptora até o trem.

Virou-se e caminhou sem olhar para trás, mas não demorou um

segundo antes de abrir a primeira janela que encontrou e enfiar a

cabeça.

— Você não pode ir me ver antes do Natal? — Ela perguntou,

cruzando os braços sobre a janela enquanto a Sra. Simmons

continuava a mover-se em direção a seu assento, que estava na parte

mais afastado do vagão.

— Veremos. Prefiro que fique lá e não tenha distrações, mas

vamos ver. Até lá, escreva-me e conte-me tudo. Conte-me sobre as

pessoas que você conhecer, fale-me sobre seus professores, as coisas

que você aprender...

— Merece que não te envie nem uma só carta. — Joanna fechou o

semblante, com o rosto todo molhado pelas lágrimas. — Não penso

em escrever uma só palavra. Ficará preocupada durante todo o ano,

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


29
perguntando-se como eu estou. — Não espere! — Corrigiu-se. —

Farei coisa pior. Me comportarei mal. — Voltarei a fumar e a causar

tanto estragos que me expulsarão e me mandarão de novo para casa.

— E eu pensei que você queria ser apresentada à sociedade em

Londres quando você tiver dezoito anos! — A voz de Edie tremia do

esforço que ela estava fazendo para conter as lágrimas. — Se você for

expulso de Willowbank, você terá que aproveitar sua primeira

temporada em um lugar ainda mais remoto que o Kent. Vou mandar

você para um convento na Irlanda.

— Uma ameaça absurda — murmurou Joanna, limpando as

lágrimas dela. — Não somos católicos. Além disso, conhecendo você,

não acho que eu possa desfrutar de uma temporada. Seus nervos não

conseguiriam suportá-lo.

—Claro que você vai desfrutar — ela assegurou, embora a idéia

de proteger sua irmã em um convento fosse muito mais atraente para

ela. — desde que você seja capaz de se comportar corretamente.

Joanna sugou o nariz.

— Eu sabia que você seria capaz de me chantagear.

O apito que sinalizava a partida iminente do trem soou. Joanna

estendeu a mão e Edie apertou-a rapidamente.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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— Seja boa querida, e por favor, somente por uma vez em sua

vida, faça tudo o que lhe disserem. Te vejo no Natal. Ou quem sabe

antes.

Ela sabia que deveria ficar até o trem se afastar, mas um segundo

e acabaria entrando em colapso. Então sorriu pela última vez, acenou

vigorosamente para dizer adeus a sua irmã e se virou para poder

começar a chorar como um bebê.

No entanto, sua fuga foi muito curta. Ela estava começando a

sair da plataforma quando a voz do estranho dirigindo-se a ela pelo

seu nome a deteve.

— Olá, Edie.

No instante em que Edie se virou, esqueceu-se de sua irmã. Os

estranhos não se dirigiam assim a uma duquesa, e Edie estava

carregando o título tempo suficiente para ser surpreendida pelo fato

de que aquele desconhecido estava se dirigindo a dela. E quando o

estranho tirou o chapéu para mostrar seus olhos, olhos preciosos,

cinza e brilhantes que pareciam ser capaz de ver diretamente dentro

dela, seu espanto tornou-se um verdadeiro impacto. Esse homem não

era um desconhecido.

Este homem era seu marido.

— Stuart?

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


31
Pronunciou seu nome como um grito surpreso e desgarrado,

nascido do fundo de sua garganta, mas Stuart não pareceu notar que

ela não transmitiu a alegria que deveria evocar o reencontro de um

marido com sua esposa. Ele tirou o chapéu e inclinou ligeiramente a

cabeça, como se estivesse se curvando, mas não se incomodou em se

afastar da coluna e esse gesto quase obsceno só confirmou a terrível

verdade: seu marido estava ali, a poucos metros de distância dela, e

não a milhares de quilômetros, onde era suposto que deveria estar.

As boas maneiras a obrigaram a uma recepção que estava além

de um grito de surpresa, mas, embora ela tenha aberto a boca, não

conseguiu pronunciar uma palavra. Incapaz de falar, ela

simplesmente olhou para o homem com quem havia casado cinco

anos atrás e que não tinha voltado a ver desde então.

África, instantaneamente apreciou, era uma terra difícil. Era

evidente em todos os vestígios do duque. Ele mostrava sua pele

bronzeada, nas pequenas rugas que cercavam seus olhos e boca, no

brilho dourado e âmbar de seus cabelos castanho escuro. Estava nos

finos traços de seu rosto e desenhado nas linhas fortes de seu corpo.

Naquela bengala exótica e em seu olhar perspicaz e vigilante.

Durante seus anos de ausência, Edie se perguntou como seria a

África. Naquele momento, ela soube, pois no homem diante dela

reconhecia muitos aspectos desse continente: a dureza do clima, sua

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


32
natureza nômade, seu espírito selvagem e aventureiro, e o duro preço

que fazia pagar aqueles que eram meramente humanos.

Havia desaparecido o homem indolente e atraente que se casou

despreocupadamente com uma mulher que nem se quer conhecia, ele

a deixou no comando de suas propriedades e foi a um lugar

desconhecido com um feliz esquecimento. Ele voltou para casa se

tornando um homem completamente diferente, tão diferente, de fato,

que ela havia passado por ele sem sequer reconhecê-lo. Nunca teria

pensado que cinco anos poderiam mudar tanto um homem.

Mas o que estava fazendo ali? Olhou para trás, olhou os baús, as

caixas e as malas, e o que implicava aquelas bagagens com toda sua

surpresa. Quando olhou para ele novamente e o viu apertar a boca,

esse minúsculo movimento confirmou a suspeita terrível que

começou a tomar forma em seu corpo e sua mente mais efetivamente

do que qualquer palavra.

"O caçador havia retornado”, pensou desesperada, e a desolação

deu lugar ao medo quando percebeu que sua vida perfeita poderia

desmoronar.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


33
Capítulo 2

Somente o tolo mais tolo poderia ter pensado que ela ficaria feliz

em vê-lo, e Stuart nunca fora um idiota. Mas ele também não estava

preparado para o olhar horrorizado de Edie.

Deveria ter escrito anteriormente, insinuando pelo menos que

estava vindo. Havia tentado, mas de alguma forma, relatar a situação

em uma carta tinha provado ser uma tarefa impossível. Toda

tentativa lhe parecia mais forçada e desajeitada do que a anterior, e

no final ele havia desistido e reservado uma passagem com o

argumento racional de que algo tão importante, como uma

transformação em sua vida, deveria ser comunicado pessoalmente.

No entanto, naquele momento, ao ver a expressão de Edie, desejava

ter encontrado uma maneira de colocá-la por escrito, porque a

situação estava demonstrando ser muito mais violenta do que

qualquer carta.

O fato de que, entre todas as versões desse encontro que ele

imaginara durante a longa jornada de Mombasa 8, não teria ajudado a

encontrá-la lá, na plataforma da estação de Clyffeton, apenas alguns

minutos depois de sua descida do trem.

8
Mombaça, chamada ainda Mombasa ou Mombassa (Mombasaem suaíle e inglês), é uma
cidade queniana e capital da província da Costa. Localizada na costa do oceano Índico é a
segunda maior cidade do país, com cerca de 1,2 milhão de habitantes. Fundada no século XI por
mercadores árabes, foi ocupada por forças do Reino de Portugal entre 1593 e 1698 e novamente
entre 1728 e 1729.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


34
Sua perna doía de forma infernal após da viagem de trem,

lembrando-o, como se precisasse lembrá-lo de que ele não era mais

um jovem galante de cinco anos atrás. De pé ali, em frente a ela,

sentia-se instável, imperfeito e terrivelmente vulnerável.

Edie não o reconheceu, ele sabia, e se não tivesse dito nada, ela

teria ido embora. Havia mudado muito? Ele se perguntou, ou essa

falta de reconhecimento mostrava apenas o quão pouco eles se

conheciam?

Ela também tinha mudado, mas ele a teria reconhecido em

qualquer lugar. Seu rosto conservava aquela sedutora qualidade que

cativou sua atenção no salão de baile há cinco anos, a mesma que

invadiu tão insistentemente seus ardentes sonhos aquela noite fatal

em que estava prestes a morrer na África Oriental. Era um rosto mais

suave do que ele se lembrava, não tão afilado nem tanto feroz, era o

rosto de uma mulher forte mais do que o de uma jovem desesperada.

Ele se forçou a falar.

— Já se passou muito tempo.

Edie não respondeu. Ela simplesmente olhou para ele sem dizer

nada, seus olhos arregalados pelo choque.

— Eu... — começou Stuart. Ele limpou a garganta e tentou

novamente. — Eu voltei para casa.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


35
Edie balançou a cabeça com um quase imperceptível movimento

de negação. Então, sem aviso, ela fugiu como uma gazela assustada,

baixando a cabeça e passando correndo por ele sem dizer uma única

palavra.

Stuart virou-se e a viu desaparecer pela porta do edifício da

estação. Ele não tentou segui-la. Mesmo que quisesse fazê-lo, teria

sido impossível alcançá-la se ela tivesse decidido continuar correndo.

Ele colocou a mão na perna, e mesmo através das camadas de tecido

conseguiu traçar a cicatriz que corria ao longo da coxa, onde os

músculos haviam sido rasgados por uma leoa furiosa. Ele ainda não

conseguia entender como havia sobrevivido, mas seus dias de

corredor haviam acabado. Mesmo andar estava custando-lhe, apesar

de que tinham se passado seis meses desde o ataque.

— Então você é Margrave.

Stuart virou-se e descobriu a irmã de Edie na plataforma, a

menos de dois metros de distância, envolvida em uma nuvem de

vapor enquanto o trem se afastava da estação com provavelmente

uma insidiosa instigadora a bordo.

Stuart arqueou uma sobrancelha.

— Você não deveria estar indo nesse trem?

Joanna olhou para o trem e voltou para ele com um sorriso

triunfante em seus lábios.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


36
— Sim.

Stuart não sorriu de volta. Ele admirou a audácia e o

atrevimento, mas não considerou apropriado incentivar essas

características na irmãzinha de Edie. Especialmente porque tinha a

sensação de que ela já estava cultivando-os sem a necessidade de

encorajamento.

— E a pobre Sra. Simmons?

O pequeno sorriso de Joanna se transformou em um sorriso

rebelde.

— Aparentemente ele vai chegar a Kent sem mim.

— E sua bagagem foi com ela?

Joanna estremeceu.

— Era apenas um baú cheio de uniformes horríveis. Não me

arrependo da perda. Além disso, — ela acrescentou alegremente — se

eu ficar aqui posso ajudá-lo.

— Ajudar-me?

Ele franziu a testa, perplexo com a oferta, porque não podia

imaginar como uma aluna de quinze anos poderia ajudá-lo.

— Ajudar-me em quê?

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


37
— Em conquistar Edie. — Ela riu do olhar de surpresa em seu

rosto. — Bem, afinal, você está de volta para isso, não é mesmo?

Não poderia ser ele. Sinceramente não podia.

Com seu coração batendo forte como o êmbolo de uma máquina

a vapor, Edie atravessou a estação, seu pensamento era apenas fugir

de Stuart. Ela parou na escada para localizar sua carruagem, quando

viu o veículo vazio, murmurou em frustração. Claro, Roberts os

seguiu até a plataforma com sua bagagem, então teria que esperá-lo,

a menos que quisesse dirigir o carro ela mesma.

Claro, isso teria dado muito para falar em Clyffeton,

especialmente à luz do retorno do Duque e considerando o fato dela

ter fugido da estação como um coelho assustado. Em qualquer caso,

era preferível ter que aguardar e suportar Stuart acompanhando-a

para Highclyff. Precisava de tempo para se recuperar, tempo para

assimilar o impossível.

Seu marido havia voltado para casa.

— Sua Excelência?

A voz de Roberts atrás dela era como a resposta a um pedido.

Virou-se.

— Leve-me para casa, por favor.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


38
Uma expressão de confusão cruzou o rosto do condutor. Ele

hesitou por um momento, olhou por cima do ombro e olhou para ela

de novo.

— Não devemos esperar para...?

— Não.

A última coisa que queria era esperar por Stuart. Edie começou a

caminhar em direção ao Landau sem dizer uma palavra, e depois de

alguns segundos, Roberts continuou depois dela. Quando chegaram

ao carro, Roberts desdobrou os degraus, entrou e, pouco depois, eles

estavam a caminho. Quando Roberts virou a carruagem para levá-la

de volta a Highclyffe, Edie olhou para a estação e, vendo que seu

marido não tentou segui-la, recostou-se no assento com um suspiro

de alívio.

Era ridículo fugir assim, mas... Deus santo! Ela não pensou em

nada melhor. Stuart estava em casa. Isso não podia ter acontecido

nunca. Eles concordaram há cinco anos com o compromisso que

tinham. Mas então, o que ele estava fazendo ali?

A imagem de Stuart na plataforma invadiu sua mente. O viu

cercado por caixas e malas e uma nova onda de terror a impulsionou

a fugir da estação de trem.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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Edie respirou fundo e soltou o ar lentamente, tentando pensar,

lembrando-se de que não sabia o que o trouxe para casa. Talvez ele

tenha vindo passar umas férias, ver amigos ou ver a família.

Não, não a família, ela se corrigiu instantaneamente. Sua família

mais próxima estava fora do país e, além disso, os laços familiares

significavam muito pouco para Stuart. Amigos, sim, era possível que

ele voltasse para ver seus amigos. A enorme quantidade de bagagem

poderia ser composta de presentes: marfim, peles ou qualquer outra

coisa que ele havia caçado na savana africana. Estava ciente de suas

expedições, é claro, mas, além disso, não sabia exatamente o que ele

fazia na África, já que nunca tinham escrito um para o outro. Isso

também era parte do acordo.

Edie virou a cabeça e olhou para as pradarias verdes e arbustos,

mas em sua mente um palco muito diferente se abriu: “um belo salão

de baile em Londres há cinco anos, e jovens movendo-se pela sala de estar

como Pétalas de rosa flutuando na brisa”.

Os anos voaram.

Com a idade de dezenove anos e prestes a terminar sua primeira

temporada em Londres, Edie observava as garotas no quarto com

admiração e uma pitada de inveja. Ela gostava de valsa, como

qualquer jovem, mas nunca tinha sido boa nisso. Não era fácil flutuar

como uma pétala de rosa sendo mais alta do que seu parceiro e

atingindo um metro e oitenta aos catorze anos. Edie sempre foi mais

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


40
alta do que seus parceiros de dança. E também tinha a mania de

conduzir em vez de ser conduzida, o que geralmente terminava com

pés pisados, colisões embaraçosas e casais frustrados. Mas, mesmo

que ela dominasse a valsa, teria sido de pouco proveito, já que, desde

Saratoga, dificilmente poderia dançar. Em qualquer caso, também

não importava, já que nenhum homem lhe tirou para dançar. Para

todos os homens em Londres e Nova York, ela sabia que era uma

girafa, e durante os bailes passava a maior parte do tempo num canto

da sala, juntamente com o resto das feias da reunião.

Seu pai a levou para Londres com a esperança de que as coisas

fossem diferentes por lá. As jovens americanas ricas não aceitas entre

a elite de Nova York frequentemente encontravam, compravam seu

lugar na alta sociedade de Londres. Seu pai contratou os serviços de

Lady Featherstone, a parceira mais bem sucedida da Inglaterra, para

ajudá-lo em seu esforço de ganhar a aceitação social de Edie. Mas,

para a desolação de Arthur Jewell, nem um grande dote e nem as

habilidades de Lady Featherstone foram suficientes para persuadir

algum nobre, arruinado ou desesperado, para se casar com sua infeliz

filha mais velha.

Claro, Edie sabia que seus cabelos encaracolados, de cenoura, as

sardas que salpicavam seu rosto, a altura e o baú discreto não

ajudaram a adicionar possibilidades. E, embora a franqueza e o

espírito independente das meninas americanas fossem características

que os ingleses costumavam achar encantadoras, no caso de Edie,

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


41
ambos os traços tinham se mostrado ineficazes. Em suma, seu

fracasso entre a alta sociedade de Londres tinha sido quase tão

surpreendente quanto o de Nova York antes de começar a chegar os

rumores sobre sua reputação vinda do outro lado do Atlântico.

O tempo estava acabando. Dalí há três dias, seria 12 de agosto,

data que marcava oficialmente o final da temporada e o retorno de

Edie para Nova York. Embora Lady Featherstone tivesse sugerido

que ficassem um pouco mais, o negócio de seu pai obrigava-os a

retornar e, considerando o pequeno sucesso de Edie até agora, Arthur

não via nenhum motivo em prolongar a estadia.

Para Edie, voltar para casa seria um desastre. Isso significava

retornar à atmosfera tensa da Madison Avenue e a terrível rejeição de

Newport, um retorno à vergonha e os sussurros desagradáveis por

trás dela. E, o que era muito pior, o regresso significava ver

novamente o homem que havia provocado tudo aquilo.

Frederick Van Hausen fazia parte da alta sociedade de Nova

York, foi inquestionavelmente aceito no Baile dos Patriarcas,

organizado pela Sra. Astor. A família de Edie nunca fazia parte dos

círculos sociais em que os Van Hausens frequentavam, mas mesmo

assim eram vistos com alguma frequência. Frederick vivia apenas a

alguns edifícios de sua casa na Madison Avenue. E a casa de sua

família em Newport estava a menos de um quilômetro da deles. Os

pais de ambos eram membros do New York Yacht Club e ambos

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


42
possuíam cavalos de corrida que competiam em Saratoga. Era

suficiente para Edie pensar sobre a possibilidade de vê-lo novamente

para que ficasse doente. Encontrá-lo, mesmo que fosse entre uma

carruagem ou na frente de uma livraria, voltar a ver aquela

desprezível satisfação em seus olhos e contemplar seu desagradável

sorriso de triunfo seria insuportável. Olhar nos olhos dele e saber que

estava lembrando o que tinha feito com ela, que estava revivendo o

prazer conquistado ao custo de sua dor, seria o inferno.

Casar com um inglês era a única maneira de evitar retornar a

Nova York. Além disso, o casamento lhe permitiria exercer algum

controle sobre sua própria vida e, depois do que aconteceu em

Saratoga, precisava recuperar esse controle desesperadamente.

Mesmo assim, a idéia do casamento era tão insuportável quanto à

idéia de voltar para casa, porque o casamento concedia a seu marido

direito sobre seu corpo sempre que quisesse.

Edie apertou os punhos de suas luvas. A música feliz da valsa e

o murmúrio das conversas do salão de baile desapareceram quando

ela virou-se tentando encontrar uma saída. Mas temia que não

houvesse maneira de escapar do inferno.

— Oh, olha! — Exclamou Leonie Atherton com tanta emoção que

conseguiu penetrar os pensamentos deprimentes de Edie. — O duque

de Margrave acabou de chegar.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


43
Alegrou-se com aquela distração, Edie respirou fundo e seguiu o

caminho do olhar de sua amiga até a entrada mais próxima da sala.

Quando viu o homem que estava parado lá, experimentou uma

surpresa ao descobrir que, pelo menos, havia um homem nesses

círculos que era mais alto do que ela. Calculava que era pelo menos

dez centímetro mais alto.

Com a lembrança de Frederick ainda pairando em sua mente,

estudou o homem na porta, descobrindo, chocada, que ele parecia tão

pouco com Frederick como o dia e a noite. Este homem não era loiro

como um Apolo com o rosto de uma criança, a roupa de um dândi e

o ar dos privilegiados. Não, o homem tinha um rosto bronzeado e

angular, uma pose despreocupada e usava roupas impecáveis com

uma elegância descuidada. Sua gravata branca sem amarrar, seus

cabelos desgrenhados e, embora ele realmente fosse um duque, Edie

se perguntou se ele realmente se importava com seu título. Tendo

sido cercada por pessoas com grandes aspirações sociais ao longo de

sua vida, encontrou nele a aparência de um homem que parecia se

importar muito pouco com suas origens.

— Supõe-se que deve ser um dos homens mais charmosos de

Londres — explicou Leonie. — E também um dos mais atraentes.

Mesmo uma pessoa exigente como você tem que admitir que ele é um

homem muito atraente.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


44
Edie podia desconfiar dos homens por causa de Frederick, mas

isso não havia afetado sua visão.

— Suponho que sim — admitiu. — Se você gosta de homens que

são misteriosos e imprudentes.

— E quem não gosta? — Leonie riu. — Mas você acertou em

cheio. Ele viveu na África por dois anos — continuou com o ar do

conhecimento de uma pessoa que lê os jornais dedicados aos

escândalos todos os dias. — Ele caçou elefantes, leões, leopardos esse

tipo de coisas. Ele salvou o cabeça de uma tribo. Ou era um

diplomata britânico? Eu não tenho certeza. De qualquer forma, ele

explorou a selva, navegou rios africanos e executou todos os tipos de

aventuras. Eles dizem que é muito selvagem.

— E ele parece.

— Sim, verdade? Eles também dizem que metade das mulheres

em Londres apaixonou-se por ele e ele deixou uma trilha de corações

partidos quando se foi. Ele teve que retornar pela morte de seu pai,

mas ele está desesperado para voltar. Ele sempre quis morar lá. Você

pode imaginar isso? Mas eu não acho que posso fazê-lo.

— Porque não?

— Ele é um duque e eu não acho que um duque possa viver na

África, você não acha? Eles têm que administrar suas propriedades

e... Todas essas coisas. — Ela interrompeu-se. Parecia ter esgotado

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


45
todo o seu conhecimento das obrigações de um duque. — Mas, a

verdade é que isso não ajuda muito um duque. Agora ele está em

uma situação difícil. Ele tem muitas dívidas. Tudo o que ele tem está

hipotecado e os jornais anunciaram na semana passada que seus

credores estão cobrando seus empréstimos. Provavelmente ficará

com as propriedades que não estão diretamente ligadas ao título.

— Entendo. Não só é atraente, mas também uma pessoa sem

escrúpulos.

— A culpa não é dele! Foi o avô dele que jogou a maior parte do

dinheiro da família, e o que o avô não perdeu jogando, o pai acabou

por perder com investimentos muito ruins.

— Gostaria que me pedisse uma dança! Dizem que ele dança

divinamente. Mas, claro, não será possível, porque nunca nos

apresentaram. Não seria maravilhoso se ele olhasse na minha direção

e ficasse tão fascinado que iria diretamente até Lady Featherstone

para pedir-lhe que nos apresentasse? Ela poderia dizer o quão rica

sou, — ela acrescentou, rindo — e eu poderia me casar com ele e

resolver todos os seus problemas!

Edie congelou as palavras de sua amiga e fixou seu olhar no

homem alto e alegre que estava a poucos metros de distância. Leonie

podia estar brincando, mas, no caso dela, não precisava ser uma

brincadeira. Não era precisamente isso que havia esperado?

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


46
Pela primeira vez desde os eventos em Saratoga, sentiu a

esperança reaparecer. Era possível que esse homem fosse sua

salvação? Pensou. “Poderia ser o duque de Margrave sua saída do

inferno”?

Como se tivesse ouvido seu pensamento, o duque olhou em sua

direção. Quando seus olhos se encontraram, Edie ofegou. O duque

tinha olhos bonitos, penetrantes e cinza claro que pareciam estar

olhando diretamente nas profundezas de sua alma. Ela se perguntou

se também não estava vendo a dele.

Ela estava olhando para ele, sabia, mas mesmo assim, ela não

podia desviar o olhar. "A saída do inferno" pensou, e o ar que os

separava parecia se mover, acariciando sua pele como uma brisa

fresca. Ela estremeceu e virou a cabeça, forçando-se a olhar para o

chão, mas depois de um segundo, ela não conseguiu resistir à

tentação de olhar para ele de novo. E, para seu espanto, descobriu

que ele continuava a olhar para ela.

Ele sorriu ligeiramente, sua cabeça inclinada e uma carranca de

especulação entre suas sobrancelhas escuras. Edie se perguntou o que

ele estaria pensando.

"Uma saída para do inferno".

Estava louca, não poderia ser de outra forma. Louca de

desespero e pânico. Desviou o olhar novamente e tentou descartar a

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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idéia que começou a perseguir sua mente. Por mais atraente que fosse

o duque de Margrave, aquelas maçãs do rosto angulares, a linha

marcada de seu maxilar e a sagacidade de seus olhos escuros falavam

claramente de um homem que não seria fácil de lidar. Mesmo assim,

se ele pretendia voltar para a África, não tinha a menor importância.

Quando ele começou a caminhar em direção a Edie, ela não

olhou em sua direção, mas o estudou com olhos estreitados ao passar

por ela, notando a elegância atlética de seus movimentos, uma

elegância que, com certeza, ele não havia conquistado movendo-se

pelos salões de baile. Assim que ele se perdeu na multidão, Edie

sussurrou algo a sua amiga sobre a necessidade de beber um copo de

água e seguiu-o.

Ela abriu caminho até a mesa dos refrescos e o viu parar para

conversar com um grupo de conhecidos. Quase ofegou desolada

quando viu a bonita e rica Susan Buckingham da Filadélfia na pista

de dança. Embora Edie tivesse quintuplicado seu dinheiro, ela não

podia competir com essa herdeira Americana em aparência e temia

que sua louca idéia estivesse condenada ao fracasso antes mesmo de

ter tentado executá-la.

Mas não precisava se preocupar com Susan. Embora eles

dançassem de uma maneira requintada, embora ela dissesse coisas

que faziam o duque sorrir e rir, quando a dança terminou, ele não

continuou com ela. Em vez disso, ele a acompanhou de volta ao seu

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


48
lugar, disse adeus a ela com um aceno de cabeça e continuou seu

caminho. Então as esperanças de Edie renovaram-se.

Sabia que tinha que estar sozinha com ele, mas não sabia

como. E então, a providência, que ultimamente não a favoreceu

particularmente, veio em sua ajuda. O duque parou do outro lado da

mesa de comida e ficou ao lado das garrafas de champanhe que

estavam esfriando em gelo dentro de um balde de prata. Edie

continuou a vê-lo retirar, rejeitar e devolver várias garrafas. No final,

o duque escolheu uma, não pediu para nenhum mordomo abri-la.

Em vez disso, com a garrafa em uma mão, o copo na outra, virou-se e

dirigiu-se para as portas que levaram ao terraço.

Ele não parecia estar ansioso para conhecer alguém. Um olhar

para a pista de dança e Edie viu que Susan havia sido reivindicada

por um novo parceiro de dança. Claro, o duque poderia ter

organizado uma reunião com qualquer outra jovem, mas nesse caso,

ele provavelmente teria pegado mais de um copo. Se ela tivesse a

coragem de aproveitar isso, essa era sua chance. Na verdade, poderia

ser a única oportunidade que teria.

Com esse pensamento em mente, chegou ao final da mesa,

exatamente onde ele tinha estado um minuto atrás, tomou uma

bebida e, depois de um rápido olhar para se certificar de que Lady

Featherstone não estava à vista e ninguém a estava observando,

seguiu o duque.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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Não estava mais no terraço, mas nos jardins iluminados pela

lua. Edie o observou se afastar pelo gramado. Ele parecia estar indo

para os arbustos de buxus que formaram um labirinto no final do

jardim.

Movendo-se o mais rápido que pôde, ela o seguiu, mas, quando

chegou ao labirinto, ele já havia entrado em seu interior.

Ela o seguiu depois de alguns minutos, encontrou-se em um

beco sem saída e sem ver Margrave em nenhum lugar. Ficou na

ponta dos pés, tentando levantar-se tudo o que podia, mas, inclusive

com sua altura, os galhos eram demasiadamente altos para que

pudesse ver por cima deles, então baixou dando um suspiro de

desespero.

Certamente, o Duque estava no centro do labirinto, mas, apesar

de ter feito várias tentativas de segui-lo, todas provaram ser inúteis e

não demorou muito para se descobrir irremediavelmente perdida. E

o pior de tudo foi que ela também o perdeu.

— E agora? — Murmurou, olhando para outra parede verde

escura enquanto se encontrava de volta em um beco sem saída.

— Está me seguindo? — Perguntou uma voz lenta e profunda

por trás dela.

Com uma olhada de alívio, Edie girou e descobriu-o a menos de

três metros de distância. Mas quando olhou para aqueles olhos

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


50
cinzentos extraordinários, seu alívio se dissolveu para se tornar algo

mais parecido com o medo, porque ainda não tinha resposta para a

pergunta que ela se perguntava: “E agora?”

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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Capítulo 3

— Normalmente, não gosto muito de ser seguido, mas neste

caso, estou disposto a fazer uma exceção. — Margrave sorriu.

Seus dentes eram brancos e perfeitamente regulares, mesmo à

luz da lua, Edie entendeu, com uma clareza repentina, que ela tinha

feito algo completamente estúpido.

Ao se deixar levar pela única idéia em sua cabeça, ela não tinha

percebido que se colocou numa situação em que a história poderia

ser repetida. Mesmo assim, era tarde demais para pensar sobre o

perigo ou se arrepender. O que precisava era pensar sobre o que ia

fazer a seguir.

— O que faz você pensar que eu estava seguindo você?

Perguntou para ganhar tempo e controlar seus nervos.

— O desejo de pensar isso?

— Ou arrogância.

Margrave riu então, e quando o fez, Edie entendeu que os

rumores de que Leonie tinha ouvido eram verdadeiros. Esse homem

tinha charme. Mesmo ela, tão imune ao encanto quanto à atratividade

física, podia sentir a potência de ambos naquele homem.

— Pode ser, suponhamos. Tenho boa opinião de mim mesmo.

Mas, agora que você me colocou no meu lugar, você me permitirá

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


52
oferecer-lhe alguns conselhos? Se no futuro você quiser seguir um

homem, sugiro que você faça menos barulho, ou ele notará sua

presença.

A audácia, concluiu Edie, era a melhor aposta naquele momento.

Deu um passo em direção a ele.

— E o que faz você pensar que eu não queria que você me

ouvisse?

Margrave levantou levemente as sobrancelhas.

— E pensei que esse baile ia ser chato! —Ele sussurrou. —Então

admite que estava me seguindo?

— Sim. Eu o vi, recebi algumas informações sobre você e decidi

que deveríamos conversar.

Margrave começou a se mover para ela.

— Dado a esse comportamento desavergonhado da sua parte,

devo me atrever a ter algo deliciosamente picante em perspectiva?

Edie ficou tensa e forçou-se a não entrar em pânico, esperando

que ela não estivesse errada uma segunda vez ao julgar um homem.

— Eu disse que queria que conversássemos — ela o lembrou.

— E isso é tudo? Que decepção!

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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— Depende da conversa.

Margrave riu.

— Você está certa nisso, —reconheceu quando parou em frente a

ela. — Falaremos então, mas será melhor que a conversa seja

brilhante, ou, caso contrário, vou ter que abandoná-la.

Ele mudou o copo para a mesma mão em que segurava a garrafa

de champanhe, virou-se e ofereceu-lhe o braço.

— Vamos começar?

Edie hesitou um momento, mas um olhar ao redor lhe lembrou

de que não tinha outra maneira de escapar somente passando na

frente dele. E, em qualquer caso, duvidava que pudesse encontrar o

caminho para fora desse labirinto sem sua ajuda. “Perdida por um,

perdida por mil” pensou. Ela colocou a mão em seu braço, apenas o

tocou, e permitiu que ele a guiasse fora desse beco sem saída e levá-la

a um caminho diferente.

Eles deram várias voltas antes de finalmente emergir em uma

clareira que parecia ser o centro do labirinto. Nele, eles ergueram um

tijolo. De estilo romano, as colunas de pedra calcária estavam

cobertas por uma cúpula branca que brilhava a luz da lua. Os

degraus ao redor da estrutura circular levavam a um par de bancos

de pedra curvas.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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— Estamos aqui — ele disse enquanto a conduzia para os

degraus. — Aqui podemos ter uma conversa privada. Ninguém pode

encontrar o centro do labirinto.

— Você encontrou.

— E espero ter obtido sua mais sincera admiração por isso. Mas,

neste caso, seria imerecido. Quando criança, eu estava

frequentemente na casa de Hanford, então encontrei o centro do

labirinto há muito tempo. Mesmo assim, tenho que admitir ter um

bom senso de direção.

— Sim. Ouvi sobre suas façanhas na África. As pessoas dizem

que você quer ir viver lá de novo.

— Eu quero mais do que qualquer outra coisa no mundo. — Ele

colocou o copo e começou a abrir a garrafa de champanhe. — Mas

não será possível.

— Porque não?

— Digamos que eu tenho responsabilidades em minha própria

casa.

— Você está se referindo as dívidas?

— Muitas perguntas. — O duque abriu a garrafa e deixou cair à

rolha no chão. — Estou começando a temer que essa seja a razão pela

qual me seguiu. —Você é jornalista e quer me perguntar sobre

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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minhas façanhas? Como aquela mulher, qual era o nome dela? Nellie

Bly?

— Não sou jornalista.

— Hum, se você diz isso. Mas, posso acreditar?

— Você terá que confiar em mim. — Mostrou seu copo e

apontou para a garrafa com a cabeça, sentindo uma necessidade

urgente de beber. — Sirva-me

— Autoritária, bem como atrevida. Uma combinação

embriagadora. Sim você é uma jornalista. — Ele acrescentou quando

começou a servir o champanhe. — Devo avisar que precisarei de uma

grande persuasão de sua parte para confessar alguns dos meus

escandalosos segredos.

Edie não lhe disse que seus meios de persuasão não eram o que

ele tinha em mente naquele momento.

— Há rumores de que necessita desesperadamente de dinheiro

— disse ela em contrapartida.

— Oh, rumores! — Ele a contradisse com uma voz leve. —

Qualquer pessoa sensata sabe que o que importa são os fatos, não os

rumores. Mesmo assim, — ele acrescentou ao preencher o próprio

copo,— nunca falo sobre assuntos tão comuns como o dinheiro

enquanto bebo um bom champanhe. Isso não me parece justo.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


56
Edie tomou um gole de sua bebida.

— Será necessário falar sobre o dinheiro.

— Por quê? — Ele perguntou com certa indiferença. — Você

quer propor tornar-se minha amante?

Ao ouvir essa pergunta, o coração de Edie afundou provocado

pelo pânico.

— Na realidade, vou propor o contrário.

No instante em que essas palavras saíram de sua boca, ela

desejou ter mordido a língua.

Mesmo um homem tão mundano como ele não poderia ouvir

uma declaração com calma. O duque piscou várias vezes e olhou

para ela estranhamente, como se temesse não ter entendido o que ela

estava tentando dizer e, quando falou, falou com um tom tão frívolo

que Edie percebeu que não a tinha levado a sério.

— Minhas esperanças crescem a cada segundo que passamos

juntos — ele murmurou. — Nunca fui um gigolô. Quanto se paga?

Edie não sabia o que era um gigolô, mas sabia o que o duque

quis dizer, e embora não pensasse em pagá-lo para ser seu amante,

não o disse.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


57
— Ouvi dizer que estão reivindicando empréstimos que lhe

foram concedidos. — Ela disse, em vez disso, recusando-se a deixá-lo

distraí-la do assunto que realmente importava. — Se você não obtém

fundos para pagar suas dívidas, o que acontecerá com suas

propriedades?

— Será horrível, suponho —ele disse alegremente, mas em seu

rosto fascinante e misterioso, Edie reconheceu uma sombra de

desespero. —Todas as propriedades não vinculadas ao ducado

seriam leiloadas. Eu tenho muitos parentes, e tenho certeza de que

todos vão chorar e se lamentar quando o dinheiro desaparecer. Eles

não têm outra maneira de se sustentar, você vê, sou a única fonte de

renda. Estou lhe dizendo tudo isso porque... Ahm! ... as taxas para

meus serviços serão bastante altas. Não tenho certeza que pode

pagar.

— Surpreenderia saber o que posso chegar a me permitir. Mas...

—Eddie interrompeu, respirou fundo e lançou sua proposta. — Mas

não preciso de um amante. Eu preciso de um marido.

— Oh! — Ele tomou um gole de champanhe. — Eu esperava que

fosse ao contrário porque seria bastante divertido. Não posso dizer

que a idéia de se tornar um marido seja emocionante para mim.

— Se você casar comigo, eu pagarei suas dívidas. —Ela insistiu.

O duque inclinou a cabeça, estudando-a cuidadosamente.

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— Realmente, você é uma mulher extraordinária. Você tem o

hábito de propor casamento ao primeiro estranho que encontra?

Edie corou.

— Claro que não! Nunca fiz isso na minha vida.

— Bem, eu nunca recebi uma proposta como essa também, de

modo que, pelo menos nisso, somos iguais. E, diga-me, todas as

americanas são tão diretas como você neste tipo de problemas?

— Não sei. Tudo o que sei é que não tenho tempo para andar

com rodeios.

— Por quê? — Ele baixou os olhos e a garganta de Edie ficou

seca quando o viu dirigir um longo e analítico olhar sobre seu corpo.

— Você está grávida?

Edie corou intensamente com essa pergunta, mas sabia que este

não era o momento de inibições femininas. E, dadas às circunstâncias,

a questão era pertinente.

— Não — ela disse, tentando deixar de lado sua ansiedade. —

Não estou grávida.

— Nesse caso, não posso deixar de questionar sua sanidade, pois

quer se casar.

— Você quer parar de fazer piadas?

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—Você não pode sinceramente me culpar por brincar, certo? Esta

não é o tipo de situação que um homem espera encontrar quando

frequenta um baile. Não é que eu esteja reclamando. — Acrescentou

— Já que a noite se transformou em algo muito mais interessante

desde que você apareceu em cena. Mas, em qualquer caso, me deixou

completamente confuso.

Ela ficou em silêncio enquanto ele dizia:

— Supondo que você disse o que realmente quis dizer, você

poderia listar os benefícios?

Edie franziu o cenho.

— O que quer dizer?

— Quanto é a sua fortuna? Porque teria que ser obscenamente

rica para poder resolver meus problemas, querida. Claro, você é

americana, eu posso adivinhar por seu sotaque. E agora parece que

todos os americanos são ricos, certo? Eu também posso ver que veste

um fantástico vestido de seda que provavelmente custa mais do que

eu gasto em um mês e está carregada de joias suficientes para

afundar um navio. Mas, mesmo assim, não acho que tenha o

suficiente para pagar as dívidas deixadas pelos meus ancestrais

dissolutos, me assumir e manter a mim e a minha lista interminável

de parentes parasitas pelo resto de nossas vidas.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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— Isso depende da quantidade de dinheiro de que estamos

falando — disse Edie, observando seu rosto enquanto levantava o

copo para os lábios. — E, levando em consideração a taxa de câmbio,

o valor de meu dote equivale a um milhão de libras.

Margrave engasgou.

— Meu Deus! — Ele sussurrou depois de um momento, e olhou

para ela com absoluta descrença. — Não tenho certeza de que a

Rainha da Inglaterra tenha tanto dinheiro.

— Receberei também uma renda de cem mil libras por ano

quando eu me casar. Posso confiar que basta para resolver as

dificuldades financeiras de sua família?

— Claro — ele riu um pouco, claramente confuso. — Mas,

querida, você está louca. Deve estar, para propor algo assim a um

completo estranho. O casamento é algo permanente, até que a morte

nos separe você sabe. Se mais tarde se arrepender...

— Eu não vou me arrepender. — Ela viu a firme determinação

de sua voz. — Enquanto concordar em fazer o que diz e ir para a

África.

Uma sombra de surpresa apareceu no rosto do duque indicando

que ele não estava acostumado com uma mulher que não mostrava

interesse nele. Mas essa expressão desapareceu quase que

instantaneamente e ele deu um sorriso largo.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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— Claro, você não parece se importar muito com os sentimentos

de um homem. Mas o que acontecerá com minhas propriedades?

— Eu as administrarei em seu lugar.

Felizmente, Margrave não respondeu expressando dúvidas sobre

a capacidade de uma mulher realizar a tarefa.

— E em nome do que você gostaria de assumir um trabalho tão

ingrato? Ou fazer tamanho investimento. Agora mesmo, as terras não

dão dinheiro. Eu estaria desperdiçando sua fortuna e seu dinheiro

com o que eu posso garantir é um poço sem fundo. Você está

realmente disposta a fazer algo assim?

Disposta? Seria capaz de arrasar-se perante o próprio diabo e

oferecer sua alma, desde que não tenha que voltar para Nova York.

Enquanto o diabo em questão estava disposto a chegar a um acordo

sobre os termos que ela estabeleceu. Ela levantou o copo e, ao longo

da borda, encarou seu olhar incrédulo com outro carregado de

resolução.

— Sim.

— Por quê?

Edie tomou um gole de seu champanhe.

— Isso não é assunto seu. Estou lhe oferecendo uma enorme

quantidade de dinheiro. Deveria conformar-se com isso.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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— O dinheiro está bem, mas... — Ele interrompeu.

Edie ficou tensa enquanto ele a observava. Era uma análise

minuciosa, e ela temia que ele a pressionasse para confessar seus

motivos, mas a próxima pergunta acabou com seus medos.

— É uma mulher inteligente? — Pergunto-lhe. — Você acha que

poderia gerenciar minhas propriedades de forma eficiente? Tenho

cinco fazendas para manter no campo, além de uma casa em Londres

e um alojamento de caça na Escócia. Será que poderá trabalhar com

os camareiros e gerentes de propriedade? Poderá dar ordens aos

trabalhadores, supervisionar os criados e visitar as fazendas? Será

capaz de se encarregar de tudo no meu lugar e fazê-lo como eu

gostaria?

— É claro que sim —respondeu Edie com absoluta certeza, que

era uma verdadeira loucura, já que ela nunca esteve encarregada de

nada em sua vida.

Mas ela realmente queria fazê-lo. Estava tão ansiosa, de fato, que

ficou tonta quando pensou nisso. Ser duquesa envolvia um certo grau

de liberdade. Isso significava segurança. Se o duque estivesse

ausente, poderia ser um verdadeiro paraíso.

— Poderei fazer tudo o que for necessário.

— Você sabe? — Ele sussurrou, estudando-a ainda com atenção.

— Acredito que sim.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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— Se casar comigo, usarei o dote para pagar suas dívidas e as de

sua família. Com o dinheiro restante e minha renda anual, repararei

as propriedades e cuidarei dos seus parentes, como você disse. Eu

também fornecerei a você uma receita generosa. Você pode ir à África

sem preocupações e com a consciência limpa e viver a vida que você

realmente quer. Eu apenas vou colocar uma condição.

— Qual é?

— Que não volte jamais.

A frieza de sua voz o arquear uma sobrancelha.

— Jamais é muito tempo.

— Não quero um marido em nenhum sentido que não seja o

legal.

— Bem, para poder ser legalmente seu marido, o matrimônio

teria que ser consumado. E presumo que sabe o que isso significa.

Ela sabia. Edie abriu a boca para responder, mas, embora ela

tentasse falar, sua garganta estava fechada e não conseguiu articular

uma palavra. Diabos! Este não era o momento de se deixar levar

pelos nervos. Tomou um gole de champanhe e as bolhas desse vinho

espumante pareciam queimar em sua garganta enquanto engolia.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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— Eu sei o que isso significa — ela disse finalmente, forçando as

palavras. Sua voz soou como o grito de uma serra no silencioso

silêncio da noite. — Mas não entendo por que tem que ser necessário.

Margrave estudou silenciosamente seu rosto à luz da lua por

alguns segundos.

— Se dormir comigo parece tão nojento quanto a sua expressão

sugere, — ele finalmente disse — renunciarei agora porque, embora

não me agrade ser um marido infiel, eu não quero me tornar um

marido celibatário. Boa noite!

Ele se levantou e passou por ela, pronto para voltar para o salão

de baile, mas Edie virou-se e agarrou sua manga.

— Não, espere!

Margrave parou e Edie se forçou a afrouxar seu aperto.

— Não é desgosto — ela explicou, deixando cair à mão. — Não

tem nada a ver com você. É só... — Olhou para ele, sem saber como se

explicar.

Margrave a olhou com uma expressão que aceleraria o coração

de qualquer mulher, de qualquer mulher que não fosse destruída por

dentro, é claro.

Edie sentiu uma dor aguda no peito e, por um momento fugaz,

perguntou-se como seria a vida dela naquele momento se o homem

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


65
que conheceu em uma casa de verão abandonada em Saratoga fosse

aquele em vez de Frederick Van Hausen. Mas isso era como pedir a

lua.

Edie colocou de lado essas especulações sobre o que sua vida

poderia ter sido.

— Este é um assunto de negócios — ele esclareceu. — Não quero

que você conceba ideias românticas sobre mim.

Margrave pareceu diverti-la.

— Quanta arrogância!

— E se a nossa primeira noite juntos for tão transcendente que se

apaixone loucamente por mim? O que aconteceria então?

— Lamento ferir sua vaidade, mas isso não acontecerá. Olhe, —

ela continuou antes que ele pudesse responder — estou oferecendo

tudo o que você mais quer nesta vida. Não deixe seu orgulho entrar

no caminho. E, se o casamento consumado for realmente necessário,

eu... Estou disposta a fazê-lo.

— Não tem problema que fale que não será uma tortura, minha

querida. A maioria das pessoas considera as artes de fazer amor uma

delícia.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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— Não espero que seja uma tortura. Mas não é uma delícia

também. Eu não... — Se interrompeu. Lutava contra o medo que lhe

fechava a garganta e torcia o estômago. — Não espero nada.

— Eu entendo. Para você, eu sou apenas um meio para um

determinado fim.

Parecia terrivelmente frio assim, e, sim, Edie era uma mulher

fria. Os desejos que outras mulheres sentiram haviam sido mortos há

um ano.

— Se nos casarmos, eu... — Ela parou para beber outro gole de

champanhe para ajudá-la a acalmar seus nervos. — Eu vou para a

cama com você uma vez, então o casamento será legal, mas nada

mais. E uma vez que tenhamos satisfeito a definição legal do

casamento, você estará livre para dormir com quem desejar. Não me

importo.

— É possível que esta não seja a primeira vez na história da

humanidade que alguém fez essa afirmação — disse com ironia. —

Mas poderia ser a primeira que se falou de forma sincera.

— Eu digo sinceramente. — Ela se sentiu obrigada a explicar seu

ponto de vista com a maior honestidade possível. — Se você

concorda em aceitar minha proposta, não quero que você faça isso

pensando erroneamente que eu gosto de você. Porque não é isso.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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— Entendo. — E posso me atrever a perguntar por quê? — Ele

tomou um gole de champanhe. — Você é lésbica?

Quando Edie apenas olhou para ele com uma expressão

perplexa, ele riu.

— O que eu pergunto é se as mulheres gostam de você mais do

que os homens. — Ele esclareceu delicadamente.

— Deus, não! — Exclamou com surpresa. Mais uma vez, ela

podia sentir o sangue fluindo em seu rosto e, pela primeira vez,

amaldiçoou aquela pele tão pálida que permitia que alguém soubesse

em que ponto sentia vergonha. — Por que me pergunta tal coisa?

— Meu orgulho viril exige isso de mim. De certa forma, é uma

explicação mais aceitável do que a que eles dizem: Sinto muito,

amigo, mas não o acho atrativo. Infelizmente, agora que eu sei que

você não é esse tipo de mulher, eu me sinto mais magoado. E... — Ele

parou e girou o champanhe em seu copo enquanto a olhava também

mais intrigado.

Edie franziu o cenho.

— Não tem por quê. — Não acho que eu possa ser motivo de

interesse.

— Eu discordo completamente. — Tomou o último gole de

champanhe e pegou a garrafa para encher o copo. — Você é, e eu

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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digo com toda a certeza, a mulher mais fascinante que já conheci. E

tem esse ar frio e distante que leva qualquer homem a tentar seduzi-

la.

Uma onda de medo a inundou, mas, com um esforço, conseguiu

disfarçá-la sob um ar divertido.

— E o que você espera que o resultado seja? Que eu me jogue em

seus braços?

—Devo presumir que não vai? Porque é uma vergonha. —Ele

interrompeu, encheu o copo, olhou-o por um momento e levantou-o

novamente. Porque eu suspeito que, sob essa fria, distante e

pragmática fachada, se esconde uma fogueira.

— Não, não é verdade. — Ela inclinou a cabeça para trás,

encontrando seu olhar incrédulo com um olhar firme. — Se durante

nosso casamento você sentir à tentação de demonstrar o contrário,

vou cortar sua mesada antes que você perceba.

— Você é uma mulher muito suscetível, certo? — Ele sussurrou

enquanto soltava a garrafa. — O que aconteceu para deixá-la assim?

Alguém quebrou seu coração e você prometeu nunca mais amar

ninguém?

— Algo assim — ela disse, e desviou o olhar.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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Mas sentiu seu olhar inquisitivo sobre ela e, no final, suspirou,

consciente de que era preferível dar a sua versão a ser ouvida pela

boca de outros.

— Se chama Frederick Van Hausen. Conhecemos-nos desde

criança, mas sua família e a minha não frequentavam os mesmos

círculos. Fui tão estúpida... — Ela fez uma pausa e engoliu em seco

enquanto tentava elaborar uma versão compreensível dos fatos. Eu

fui tão ingênua que cheguei a pensar... — Ela interrompeu

novamente. Mesmo com uma versão suavizada, era insuportável

explicar isso. — Estivemos... estivemos juntos e ficaram sabendo, —

ela finalmente conseguiu dizer. — E agora minha reputação está

arruinada em Nova York.

— Eu entendo. E ele não quis se casar com você? Que canalha!

— Isso mesmo, — ela confirmou com sentimento. — A história

também está sendo conhecida aqui. Eles me desgraçaram para

sempre e acho que é justo que você saiba.

— Então me viu entrar aqui, fez algumas perguntas e então me

seguiu até aqui para convidar-me a dar o passo que ele não teve

coragem de dar e salvar sua reputação. Se eu recusar tenho que temer

que apareça uma mãe indignada e me obrigue a fazer as coisas

honrosamente?

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


70
— Não. Minha mãe morreu há dois anos e estou fazendo a oferta

por minha própria conta. Se recusar, recusa, e não há mais nada para

falar.

—Tornar-se uma duquesa seria uma maneira muito doce de

resolver as contas com esse Van Hausen por ter te abandonado,

suponho. Mesmo assim, ser duquesa é um trabalho terrivelmente

difícil. Não tem o glamour que os americanos acreditam.

— Não estou fazendo isso por glamour. Nem mesmo para salvar

minha reputação. Tudo o que quero é poder controlar minha própria

vida. Quero independência e autonomia. Eu não quero ter que

prestar conta a ninguém.

— Mas, sendo minha esposa, você terá que me responder.

— Não, não vou, porque eu serei aquela que terá controle sobre

o dinheiro. E você terá que assinar um acordo pré-nupcial para tal

efeito.

— Uma mulher inteligente. Por que a autonomia e a

independência são tão importantes para você?

— Esse não é o seu negócio e, se você continuar fazendo

perguntas, nós esqueceremos o acordo.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


71
— Muito bem. Se eu quiser evitar que minha família tente

saquear seus amigos pelo resto de suas vidas patéticas, acho que vou

deixar minha curiosidade de lado.

— Então aceita minha oferta?

— Seria absurdo não fazê-lo. E, apesar da sua vontade heroica de

dormir comigo a favor da legalidade, não será necessário. Eu prefiro

que as mulheres que dormirem comigo tenham prazer em fazê-lo.

Ele não ignorou o sincero suspiro de alívio de Edie e deu-lhe um

olhar irônico em resposta.

— Vejo que sua habilidade para ferir minha vaidade é infinita.

Apesar de tudo, a honra exige que eu esclareça que a não

consumação do casamento não é uma condição suficiente para anular

um casamento de acordo com a lei britânica.

— Mas se um momento atrás você me disse de outra forma!

— Não exatamente. — Ele deu de ombros. — Mas eu estava

curioso para saber até onde estava disposta a ir para obter o que

queria. Agora sei.

Apesar de seu alívio, Edie não pôde evitar um arrepio.

— Não gosto que mintam para mim.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


72
— Bem, é melhor você se acostumar com isso se quiser ser parte

da aristocracia. Nós mentimos continuamente. Para a honra, para a

educação ou, às vezes, nos enganar deliberadamente. Mas, acima de

tudo, nós mentimos para nós mesmos. Eu duvido, — Ele acrescentou

amargamente — que saibamos fazer as coisas de forma diferente.

Edie tinha estado na Inglaterra o suficiente para saber que havia

alguma verdade no que ele dizia, mas a amargura em sua voz

despertou sua curiosidade. Mesmo assim, não era assunto seu.

— Espero que seja verdade o que diz — disse ela em vez disso.

— Porque teremos de mostrar um carinho convincente enquanto

durar o nosso compromisso. Se meu pai suspeitar que as coisas são

de outra forma, ele nunca me concederá o dote.

— Nesse caso, vamos convencer seu pai da profundidade de

nossos sentimentos.

Edie ignorou a zombaria em sua voz.

— Não teremos de convencer apenas meu pai.

— Quem mais então?

— A senhora Featherstone.

Margrave assentiu mostrando sua compreensão.

— A condessa casamenteira.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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— Sim, ela é uma casamenteira, mas não arranja casamentos de

conveniência. Espera que seus clientes tenham afeto um pelo outro.

Se ela perceber que vamos nos casar por apenas razões materiais, irá

dizer ao meu pai que não concorda com este casamento e ele aceitará

seu conselho. E não acho fácil enganá-la. Eu acho que vai ser mais

difícil do que enganar meu pai, e meu pai não é tonto. Além disso, ela

conhece todos na alta sociedade. Se você começar a falar sobre nossos

sentimentos não serem sinceros, Não haverá nada a fazer.

— Eu posso ser muito carinhoso — disse Margrave, mas quando

ele começou a se aproximar dela, Edie colocou a mão em seu peito.

— Eu acredito — Ela assegurou. — Eu não preciso de

demonstração enquanto estamos sozinhos.

— Me desculpe — ele pediu desculpas, mas não recuou até que

ela o empurrou. — Eu apenas estava praticando minha parte, você

sabe.

— Bem, não é necessário exagerar também. Se parecermos

excessivamente apaixonados, Lady Featherstone será capaz de notar.

Ou ela vai acreditar que estamos sendo levados por uma paixão

passageira e insistirá em um compromisso mais estável. Terá que

desempenhar o papel de noivo devotado e fiel, de um futuro marido

responsável e de um amigo amoroso. Você acha que consegue?

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


74
— Porque não? — Desviou o olhar da casa à distância. —Atuar

não é nada novo para mim. Tenho estado atuando a maior parte da

minha vida.

Edie sugou forte. O impacto de suas palavras foi tão violento

quanto um soco no estômago.

— Eu entendo perfeitamente o que você quer dizer — ela

sussurrou.

Margrave a olhou novamente.

— Vamos ter um compromisso suficientemente longo para

convencer todos que realmente queremos nos casar. Seis semanas

devem ser suficientes. Após o casamento, vamos passar alguns meses

no Highclyffe, minha estância ducal em Norfolk. Dessa forma eu

posso mostrar como gerenciar as propriedades e ajudá-la a garantir

sua posição.

— E então irá para a África para não voltar?

Margrave não respondeu imediatamente. Em vez disso, ele a

olhou pensativo.

— Se eu deixá-la para sempre, parecerei um vilão.

— E isso o perturba?

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


75
— Curiosamente, sim. — Disse ele secamente. — Mesmo assim,

não acho que tenha muitas opções. Para salvar minhas propriedades

do colapso, retornar a um lugar que eu adoro terá que ser minha

recompensa.

— Então chegamos a um acordo? — Ela ergueu o copo.

Margrave levantou o seu.

— Sim, chegamos a um acordo.

Com essa troca de aparência e o tilintar dos copos, o acordo foi

selado. Enquanto Edie baixava o copo, o alívio fluía dentro dela,

deixando seus joelhos fracos. Nunca mais teria que ver o rosto

insuportável e estupidamente sorridente de Frederick em sua vida.

Não poderia apagar aquele dia terrível como se nunca tivesse

acontecido, mas pelo menos poderia deixá-lo para trás e começar

uma nova vida.

Margrave tossiu suavemente, interrompendo o curso de seus

pensamentos.

— Agora que vamos nos casar, há algo que eu preciso perguntar.

Edie sentiu uma pontada de alarme.

— Eu não acho que este arranjo permita que você invada minha

privacidade fazendo perguntas íntimas.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


76
Margrave olhou para ela com uma expressão de desculpas.

— A questão é bastante importante. Simplesmente, não podemos

continuar a menos que você responda.

— Oh, muito bem! E o que você quer saber?

Margrave inclinou-se para ela com um sorriso dançando nos

lábios.

— Como demônio você se chama?

Capítulo 4

A carruagem parou abruptamente e Edie abandonou as

lembranças do passado com a mesma brusquidão, percebendo

imediatamente que tinha chegado a Highclyffe. Margrave, ela

suspeitava, não poderia estar muito atrás.

"Eu voltei para casa".

— Mas não por muito tempo. — Murmurou.


Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke
77
— Com licença, Sua Excelência? — Roberts, que estava em pé

junto à carruagem, olhou-a com perplexidade enquanto abria a porta.

Edie balançou a mão e balançou a cabeça.

— Não importa. — Disse ela, e saiu da carruagem.

Roberts fechou a porta atrás dela e montou novamente na

carruagem. Edie começou a caminhar em direção a casa, mas quando

ela ouviu a carruagem voltar para a estrada em vez de ir para o

estábulo, ela se virou e começou a gesticular com os braços para

chamar a atenção de Roberts.

Isso parou o veículo ao seu lado.

— Sua Excelência?

— Roberts, eu posso saber para onde está indo?

— Buscar a Sua Excelência na estação.

— Não permitirei tal coisa! — As palavras saíram mais dura do

que ela pretendia e Roberts a olhou embaraçado e perplexo. —

Desculpe-me. — Edie pediu desculpas rapidamente. — Não queria

ser tão contundente, mas — ela inventou algo rapidamente. — Sem

dúvida, o duque contratará uma carruagem para trazê-lo da estação,

então seria uma perda de tempo para você retornar. Será melhor

levar a carruagem para os estábulos.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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Robert olhou-a duvidosamente por um momento.

—Tem certeza, Excelência?

Quando ela assentiu, ele encolheu os ombros em obediência e

voltou a andar.

— Será bom ter o amo em Highclyffe, certo, Excelência? — Ele

gritou quando passou por ela.

— Nesta casa não tem nenhum amo. — Murmurou Edie

enquanto observava o veículo se afastar em direção aos estábulos. —

Apenas uma ama.

Margrave regressaria para casa, sim, mas Edie prometeu a si

mesma que não ficaria muito tempo. Eles fizeram um acordo, ela

estava fazendo sua parte, e queria ter certeza de que ele também

faria.

“Bem, afinal, é por isso que você está de volta, não é?"

A pergunta da irmã descarada de Edie continuava a flutuar no ar

sem resposta, mesmo depois de um dos moços da estação ter

fornecido uma carruagem de aluguel em que ele estava dirigindo

com Joanna a caminho de Highclyffe. E não porque sua cunhada lhe

permitiu esquecer o assunto. Não, eles acabaram de começar a

caminhar quando voltou a abordar.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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— O que você pretende fazer? — Ela perguntou quando a

carruagem pegou a estrada que os conduziu a sua casa. — Para

recuperar Edie, eu quero dizer.

— Honestamente, eu não sei. — Para começar, como iria

recuperar algo que nunca tinha sido dele? Cinco anos atrás, vencer

Edie não era parte do plano. Sim, ele teve algum pensamento fugaz

sobre o que poderia ter sido: houve noites durante as quais ele

encarou o céu estrelado da África e reviveu o momento em que

entrou no salão de baile da casa de Hanford e, ao vê-la, ele parou.

Mas então, ele se lembrou das palavras de Edie daquela noite e se

esforçou para esquecer essa tortura sem sentido. Um homem na selva

poderia enlouquecer pensando em uma mulher.

Tudo mudou, é claro, mas apenas para ele. Para Edie, ficou claro

que nada mudou. Um único olhar para a esposa na estação de trem

indicou claramente isso. Na verdade, assim como a situação estava,

ele poderia ter tido mais probabilidade de chegar as quartas de final

de Wimbledon do que ganhar o coração de Edie. Verdade seja dita,

nem tinha certeza de que Edie tivesse um coração a conquistar.

Mesmo assim, ele não podia dizer isso à irmã mais nova dela,

que parecia ter uma visão bastante romântica do assunto.

— Você parece ter certeza de que é por isso que voltei. — Disse

ele.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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— E não foi por isso? — Ela ficou um pouco decepcionada. —

Mas que outro motivo poderia haver?

Stuart desviou o olhar, olhando para aqueles acres de terra que

havia nas mãos dos Margraves há quase duzentos anos. Ao casar com

Edie, ele conseguiu manter essas terras intactas para a próxima

geração, mas, até então, ele não pensou muito no fato de que a

próxima geração não seria a sua prole. E de repente, isso assumiu

uma importância que ele não tinha dado antes. As crianças faziam

parte da vida de um homem enquanto vivia, e também depois da

morte dele.

Não havia nada como estar à beira da morte, o pensou, para

fazer que um homem desejasse a imortalidade.

Ele voltou sua atenção para a jovem.

— Oh! Claro que pretendo reconquistá-la, confie em mim. O que

eu quis dizer é que vai ser mais complicado do que você pensa.

Joanna assentiu como se entendesse.

— Bem, você esteve fora por um longo tempo. Você terá que

fazer um esforço, com certeza. Então... — Ela parou para se recostar

em seu assento — qual vai ser sua estratégia?

Stuart não podia deixar de rir da franqueza dessa pergunta.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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— Sabe? — Disse ele, olhando para ela pensativamente. — Você

lembra muito sua irmã.

— Edie? — Joanna parecia hesitar. — A maioria das pessoas diz

que não nos parecemos nada.

—Talvez não fisicamente. — Ele murmurou, sem prestar atenção

na perfeição do rosto oval por baixo do chapéu de palha do uniforme.

Joanna poderia ter apenas quinze anos de idade, mas ela já era

uma verdadeira beleza e Stuart suspeitava que, quando chegasse a

hora de ser apresentada à sociedade, ela iria quebrar alguns corações

em Londres. Ainda assim, mesmo que Edie não possuísse as

características perfeitas de sua irmã, ela tinha um atrativo que era

único e que, segundo Stuart, ela nunca tinha sido capaz de apreciar.

— Não estava me referindo à aparência, mas à sua insolência.

— Você quer dizer meu atrevimento? — Joanna suspirou

pesadamente. — Você está certo, e não é justo. Eu digo

impertinências e procuro problemas. Por outro lado, Edie, sendo

duquesa, pode dizer o que quiser e ninguém achará que ela está

sendo inconveniente.

— Isso pareceu quando a conheci. Claro, naquela época ela não

era duquesa, mas achei que ela era uma mulher muito insolente.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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— De verdade? — Joanna inclinou-se para frente, pronta para

ouvir. — Por quê? Quem te disse?

Stuart lembrou-se daquela noite no labirinto de Hanford House

antes de responder. Ele não tinha certeza de que essa conversa fosse

apropriada para os ouvidos de uma jovem.

— Ela me disse que eu não tinha nada de atraente —lembrou-se

ele. — E não teve dúvidas em me contar.

—Mas ela se casou com você. O que a fez mudar de idéia?

Talvez o que você tem a fazer agora é o que você fez antes.

— Duvido.

— Então, qual é o plano?

Ela parecia irritada com ele porque ele não tinha tudo planejado.

— Supondo que você tenha um plano. Como você diz.

— O que faz você acreditar que eu o compartilharia com você?

Joanna balançou a cabeça e olhou para ele como se achasse que

ele tinha algodão em vez de cérebro.

— Porque eu posso dizer-lhe se vai funcionar ou não, é claro.

Edie não vai cair instantaneamente em seus braços.

Isso, Stuart reconheceu com uma careta, era brutalmente

verdade. Porque era algo que não aconteceu nem uma vez.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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A imagem do rosto de Edie sob a luz da lua, luminosa e suave

como o alabastro, atravessou sua cabeça, tão viva como naquela noite

memorável em Hanford. Tão viva, de fato, que, apesar de quão difícil

ele tentou durante esses anos não pensar nela, falhou muitas vezes

mais do que ela. Tinha sido a imagem de Edie que invadia seus

sonhos insistentemente durante os delírios causados pela febre e não

pelos perigosos eventos que quase o mataram. Mesmo naquele

momento, ele podia ouvir claramente sua voz resoluta e inflexível.

"Nunca volte"

Bem, como ele havia dito então, nunca era muito tempo. As

circunstâncias mudaram e os planos falharam. Claro, eles tinham o

deles.

Ele virou-se no assento da carruagem e fez uma careta enquanto

movia o peso para o quadril. Esticou a perna. A viagem marítima de

Mombasa à Constantinopla não tinha sido muito ruim, apesar da

ausência de Jones. Ele sentiu outra pontada de dor que não tinha

nada a ver com sua perna e tirou seu criado de sua mente. Jones

estava morto e não havia nada que pudesse fazer sobre isso.

Concentrou-se na dor na perna. Era mais fácil de suportar.

No navio, conseguia se mover livremente, mas trens e

carruagens eram diferentes. Os músculos da coxa o haviam apanhado

antes de chegar a Roma e, naquele momento, ele estava tão contraído

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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que, Certamente, sua perna direita media pelo menos três

centímetros a menos do que a esquerda.

— O que aconteceu com sua perna?

Stuart olhou para a garota sentada na frente dele.

— Você sempre faz perguntas tão impertinentes?

Essa pergunta a fez sorrir.

— Sempre. A Sra. Simmons fica furiosa com isso.

—Não duvido. Mas, para responder a sua pergunta, uma leoa

me atacou.

Joanna abriu os olhos.

— Verdade? Que emocionante!

Stuart recostou-se em um canto do assento e olhou-a cansado.

Ele desabotoou a gravata e o colarinho, algo que ele estava disposto a

fazer desde que colocou. Não havia nada melhor do que um

colarinho alto e duro para lembrar um homem de todos os erros da

civilização.

— Não foi excitante, minha querida filha — ele assegurou a

Joanna enquanto deixava cair o botão do colarinho no bolso depois

que o tirou. — Eu estava prestes a morrer.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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—E agora você tem que usar uma bengala — disse Joanna.

Franziu a testa, parecendo pensativa. — Suponho que isso poderá

ajudá-lo de alguma forma, Edie tem um coração terrivelmente

compassivo.

Stuart olhou para ela hesitante.

— Estamos falando sobre a mesma mulher?

— Se derramará como manteiga se você conseguir fazer as coisas

adequadamente.

Por mais agradável que soasse, a mente de Stuart não era capaz

de moldar essa imagem. Claro, ele não sabia nada sobre sua esposa,

mas Edie se derretendo como manteiga por alguma coisa, e,

particularmente, por ele, parecia pouco provável.

— Sim, eu sei que ela tenta parecer dura e implacável. — Joanna

continuou dizendo enquanto o observava com desconfiança. — Mas

tudo é um teatro. Ela está sempre à procura de casas para gatos e

cachorros abandonados, e quando um pássaro se choca contra uma

janela, fica muito triste. Ela se compadece de qualquer animal ferido.

— Eu acho que entro nessa essa classificação. — Stuart

murmurou. — Acredita que devo tentar despertar sua compaixão?

— Bom não faria nada de errado, você não acha? Eu posso

ensinar a você outras maneiras de colocá-la do seu lado. Você sabe...

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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— Ela parou e deu-lhe um sorriso confiante. — Eu posso fazê-la

comer em minha mão se eu quiser.

Provavelmente era verdade, porque, embora houvesse algumas

semelhanças no caráter das duas irmãs Jewell, havia uma diferença

significativa e evidente: Joanna era irremediavelmente mimada.

— É muito gentil de sua parte — Stuart disse, devolvendo o

sorriso. — E suponho que você fará tudo isso porque tem um coração

grande?

Joanna olhou para ele com uma expressão de ferida inocência.

— Quero que minha irmã seja feliz.

— Estou certo disso — respondeu muito sério. — Vamos,

Joanna, agora me diga a verdade.

Joanna sorriu sem o menor remorso.

— Não me importaria não ter que ir para uma escola de elite.

—Ah! E o que faz você pensar que eu vou ser capaz de mudar a

opinião de sua irmã?

A resposta de Joanna foi simples, direta e muito inteligente para

uma colegial.

— Diga a ela que você quer que eu vá para que vocês possam

ficar juntos. Dessa forma, tenho certeza que ela vai me manter aqui.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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Stuart começou a ter pena de Edie.

— Estou feliz por tê-la do meu lado.

— E então? — Joanna o pressionou quando viu que não estava

dizendo mais nada. — Chegamos a um acordo?

Stuart riu quando lembrou as mesmas palavras nos lábios de

Edie há cinco anos.

— Definitivamente, você me lembra muito sua irmã.

Joanna inclinou-se para frente e estendeu a mão.

— Isso é um sim?

Stuart não viu nenhum inconveniente para esse acordo. Aquela

garota parecia conhecer Edie bem, é claro, muito melhor do que ele.

— E porque não? — Ele respondeu, inclinando-se também para

frente. — Como você disse, vou precisar de toda a ajuda que possa

obter.

Enquanto eles cruzavam as mãos para selar seu acordo, Stuart

pensou que chegar a acordos com americanas impertinentes parecia

ter tornado seu destino.

Até então, ele não podia queixar-se sobre sua sorte a esse

respeito, mas, depois de seu retorno, ele e Edie teriam que negociar

um acordo de casamento completamente novo e diferente do que no

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


88
passado. Quando Stuart pensou na expressão horrorizada de Edie na

estação, ele sabia que para alcançá-lo desta vez não seria tão fácil.

Era possível que Stuart não soubesse muito da mulher com

quem se casara, mas havia uma coisa que sabia: a paciência não era

uma de suas virtudes. Ele e Joanna tinham começado a sair da

carruagem, que havia estacionado no caminho para a entrada,

quando as pesadas portas de carvalho da mansão se abriram e Edie

saiu para cumprimentá-los, acompanhada pelo mordomo e a

governanta.

Embora, se a sua expressão fosse levada em consideração, não se

podia dizer que ela havia saído para recebê-los. Franziu a testa como

se estivesse prestes a explodir.

— Se pode saber o que está fazendo aqui? — Exigiu,

atravessando o cascalho até a carruagem.

Stuart abriu a boca, pronto para responder o óbvio, mas fechou

assim que percebeu que ela não estava falando com ele. As próximas

palavras de Edie confirmaram isso.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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— Por que você não está a caminho de Kent, jovenzinha?

— Edie perguntou enquanto passava por Stuart para deter-se diante

de sua irmã.

Joanna encolheu os ombros.

— Perdi o trem.

— Você perdeu o trem? — Edie repetiu. — Em nome de Deus,

como você pôde ter perdido o trem? Você subiu naquele trem! E

também a Sra. Simmons. A propósito onde está ela?

— Ainda no trem, no caminho para Kent. — Joanna relatou com

óbvio prazer. — Eu não podia esperar por ela. — Ela acrescentou

quando Edie fez um som de desânimo. — Na verdade, mal tive

tempo de saltar do trem, porque já estava se movendo.

— Oh, meu Deus! Você saltou de um trem em movimento?

Joanna Arlene Jewell, em que estava pensando? Você poderia ter

quebrado alguma coisa. — Ela correu os olhou nela. A raiva fundia-se

com a preocupação. — Está tudo bem?

— Edie, não se preocupe tanto. Estou bem. Eu não caí ou torci o

tornozelo ou qualquer outra coisa ao saltar.

— Mas poderia ter quebrado alguma coisa! — A preocupação

desapareceu tão rapidamente como chegou. — E eu posso saber por

que você fez isso?

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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— Porque Margrave voltou para casa, é claro! — Ela apontou

para Stuart.

— Eu sabia que era ele assim que o ouvi chamá-lo pelo seu nome

e entendi que a situação em casa seria muito interessante. Eu não

queria perder isso por nada!

—Você não vai perder nada. — Assegurou Edie. — Porque

Margrave não vai ficar por muito tempo. — E, acrescentou antes que

sua irmã pudesse argumentar — Você também não, irmãzinha.

Amanhã, terá outro trem partindo e você irá nele.

— Mas ele é meu cunhado e eu quero conhecê-lo! Só o vi uma

vez, você sabe, e quase não me lembro dele. E, por sinal, por que você

não me disse que ele havia se ferido na África?

—Ferido? — Edie virou-se surpresa para ele.

Stuart se apressou em falar, porque, embora Joanna assegurasse

que apoiaria sua causa, ele não pretendia se aproveitar da compaixão

de Edie.

— Não foi nada! — Ele assegurou, esperando evitar qualquer

conversa sobre o assunto. — Nada — ele acrescentou, tentando

silenciar Joanna com o olhar.

Mas deveria ter imaginado que não funcionaria.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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— Isso não é nada! — Joanna exclamou e se virou para a irmã. —

Ele foi devorado por uma leoa.

— Pelo amor de Deus! — Edie exclamou. — Stuart!

— Não me devorou, só me mordeu um pouco. Então ela decidiu

que não gostava do meu gosto.

Edie colocou a mão na boca e lentamente olhou para a perna.

— Então, é por isso que você está usando uma bengala? — ela

sussurrou atrás de sua mão. — Eu não tinha percebido isso...

Ela interrompeu, largou a mão e olhou de volta para os olhos

dele.

— Ah, Stuart! — Exclamou, e Stuart viu em seus olhos a

compaixão que ele desprezava e temia. — Sinto muito. É terrível.

—Não, não é tão terrível — ele a contradisse, mantendo um leve

tom de voz e ignorando o impulso indescritível de Joanna. — Minhas

partidas de tênis terminaram, é claro, e demoro um pouco mais para

subir as escadas do que o habitual. Mas, além disso, — ele se

interrompeu e encolheu os ombros com o que ele esperava fosse um

gesto de indiferença. — estou bem.

— Não, não está certo, respondeu Joanna. — Ele é coxo, então...

— Não sou coxo!

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


92
Desesperado por encontrar algo para desviar a conversa, Stuart

olhou ao redor e, quando viu o homem alto e corpulento em pé pelos

degraus da frente, ele caminhou em volta de sua esposa e caminhou

em sua direção, exibindo uma grande amostra de vigor.

— Wellsley, quão feliz estou em vê-lo. — Saudou-o com uma voz

gentil.

— Sua Excelência. — O mordomo curvou-se e endireitou-se. Sua

expressão impassível fez com que Stuart apreciasse o costume

britânico de contratar servos obedientes e imperturbáveis. — É um

grande prazer ter você de volta em Highclyffe.

— Obrigado. — Ele olhou para trás e percebeu que a fachada já

não estava mais quebrada e em má condição. Certamente trocaram.

— Eu confio que tudo vai bem aqui.

—Sim, muito bem, na verdade. — Wellesley fixou sua atenção no

colarinho desabotoado e com um ligeiro gesto de desaprovação olhou

por cima dele. — O Sr. Jones está em outra carruagem? Porque se

sim...

—Jones não vem, — ele interrompeu. — Mas logo uma

carruagem chegará com o resto das minhas coisas.

Ele se virou para cumprimentar a governanta recatada e idosa

que estava ao lado do mordomo.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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—Senhora Gates fico feliz em ver que continua aqui.

—Oh! Eu sempre estarei aqui, Excelência — respondeu, com

largo sorriso em seu rosto enrugado. — Enquanto o senhor me

permitir.

—Fico feliz em ouvir isso. A senhora tem donzelas suficientes

sob seu controle para conseguir que prepararem meu quarto, embora

eu tenha sido tão rude não escrevendo para avisar da minha

chegada?

—Claro que sim, Excelência. — Vou preparar seu quarto

imediatamente. — E, se o Sr. Jones não veio com você, — ele

interrompeu o gesto para o jovem lânguido de pé à esquerda na libré

— tenho certeza que Edward pode assumir a tarefa. Como primeiro

lacaio, ele está preparado para atuar como um ajudante se a ocasião o

exigir.

—Sua Excelência não precisará de lacaios para isso — disse

Wellesley. —Eu me encarregarei pessoalmente até Jones retornar.

— Jones não voltará. — Stuart suspirou e esfregou o rosto

quando se lembrou de que eles tinham o direito de saber. — O Sr.

Jones está morto.

— Que?

O choro sufocado de Edie não o fez virar.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


94
— Não será necessário que você atue como um ajudante,

Wellesley. Obrigado pela sua disposição, mas eu vou cuidar de tudo.

—Você sozinho?

A resposta surpreendida de ambos os criados ecoou atrás dele.

Ele virou quando Edie chegou ao seu lado.

— Mas tenho certeza que você precisará de ajuda — ela disse

com uma careta que parecia preocupada. — Como você vai se

arranjar sem a ajuda?

—Eu me acostumei a fazer as coisas sozinho e, pelo menos por

enquanto, eu prefiro assim. Wellesley, você...? — Sua voz quebrou e

ele parou. Ele tossiu e tentou novamente. — Você quer contar ao

resto dos criados sobre Jones? Eu sei que alguns deles o apreciavam

muito.

—Claro que sim Excelência.

—Obrigado — ele respondeu com alívio e gratidão. — Sra.

Gates, se puder pedir para preparar meu quarto e um banho, eu

agradeceria. Estarei esperando na biblioteca.

Agradecendo que a biblioteca estava no piso de baixo, inclinou a

cabeça para cumprimentar o resto dos criados, subiu as escadas

mancando e entrou lá, esperando que todos deixassem de lado o

assunto de seus ferimentos e a morte de seu ajudante.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


95
O comportamento de Edie indicou que ela realmente poderia ter

o coração de cuja existência ele duvidava, mas, embora a compaixão

por sua condição pudesse ser louvável, Stuart não tinha intenção de

utilizar disso para persuadi-la de que seu casamento era de verdade.

No dia em que ele precisasse de compaixão para conquistar uma

mulher, ele se atiraria, junto com sua perna destroçada de um

precipício.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


96
Capítulo 5

A biblioteca estava tão diferente da sala que ele lembrava, que

Stuart se deteve na porta, duvidando por um momento que estava no

lugar certo.

As prateleiras de livros alinhavam-se em três das paredes

daquela longa sala retangular, a quarta parede, que corria ao longo

de um terraço virado para o sul, tinha sido despojada de prateleiras.

Em vez disso, havia portas francesas altas que se abriam para o

terraço, emolduradas por cortinas de seda de uma cor verde pálido.

Eles removeram painéis de nogueiras das paredes e pintaram-nas

com uma cor amarelo muito claro. As molduras, antes douradas,

agora foram pintadas de branco e haviam mudado o estofado de

veludo desgastado dos móveis para um delicado design de flores

verdes e brancas. A biblioteca tornou-se um quarto espaçoso cheio de

luz, uma melhoria impressionante em relação ao ambiente opressivo

da decoração anterior.

A biblioteca não era a única que Edie transformara na casa.

Stuart já havia notado que a fachada norte havia sido alterada, mas

quando saiu, descobriu que o sul recebeu o mesmo tratamento. O

jardim clássico tinha deixado de ser uma confusão de sebes, roseira

sem podas e gramados com ervas daninhas. Os jardins italianos

introduzidos pelo terceiro duque durante o reinado da rainha Anne

recuperaram seu estado original e seu esplendor intrincado, as rosas

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floresceram com abandono controlado e os arbustos foram

cuidadosamente cortados. A antiga mesa de ferro forjado enferrujada

com as cadeiras do terraço foram pintadas de branco. Ao longo da

balaustrada, jarros de gerânios estavam alinhados e os azulejos

quebrados haviam sido removidos. À distância, a fazenda parecia

bem conservada e os campos bem cuidados. Stuart nunca duvidou da

habilidade de Edie para gerenciar Highclyffe e o resto das

propriedades, não só porque ele confiava em sua própria intuição,

mas porque os relatórios enviados pelos gerentes da propriedade e

das terras por ano confirmavam isso.

Apesar de tudo, era reconfortante ver com seus próprios olhos

que tudo estava em ordem. E, no entanto, enquanto contemplava os

campos imaculadamente conservados que estavam diante dele, ele de

repente se perguntou qual seria o seu papel. Se Edie tinha dirigido

tudo tão bem, de que maneira ele poderia contribuir?

"É hora de ir para casa".

Aquela necessidade instintiva que passou pela sua cabeça

durante aquela noite fatídica há seis meses, voltou novamente,

lembrando-lhe que ele poderia ter escolhido morrer. Mas, em vez

disso, ele decidiu viver, retornar à sua casa e aceitar o papel para o

qual ele nasceu. No fundo, ele sempre sabia que um dia iria retornar,

apenas não esperava que fosse daquela maneira. Ele preferiria ter

voltado ao seu país com toda a festa e celebrações merecidas por um

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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viajante e famoso explorador. Nunca se imaginou vindo mancando

como um animal ferido.

Mesmo assim, lá estava ele, e tinha responsabilidades para

assumir. Reparar a situação com Edie era a primeira delas, seu

primeiro objetivo, sem isso, nada mais importava. Na verdade, não se

podia dizer que havia algo a consertar. Nunca tinham sido um casal

casado e feliz que haviam se separado e tinham que se reconciliar.

Não, eles eram dois estranhos que se uniram por necessidades

mútuas e que nunca estiveram apaixonados.

Ao menos, ele se corrigiu, ela nunca havia estado apaixonada.

Pensou na primeira vez que a viu no salão de baile e no que sentira.

Tinha sido como se a mão do destino o obrigasse a parar e olhar com

atenção porque tinha algo na frente dele que valia a pena reparar.

Stuart poderia ter se apaixonado e se apaixonado de verdade, se ela

não tivesse parado com tanta dureza mesmo antes de saber seu

nome. Enfim...

Esse seria um novo começo, uma nova oportunidade. Ele sabia

que a tarefa à frente não era fácil. Sabia disso então voltou para

conhecê-la cinco anos depois: Edie tinha erguido uma barreira à sua

volta que não seria fácil ultrapassar.

— Você mudou.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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O som de sua voz o fez virar. Descobriu que ela o observava

pelas portas francesas.

— Suponho que seja normal que um homem mude em cinco

anos – falou, avançando na direção da biblioteca, mas logo que deu

alguns passos, desejou de ter ficado onde estava.

Edie estava olhando para ele, sentiu-se profundamente

envergonhado, especialmente quando parou no meio da sala e

percebeu que ela não havia avançado para encontrá-lo. Esperava que

isso não fosse uma metáfora para o seu futuro.

— Stuart? — Eddie hesitou um momento e depois disse

simplesmente:

— Sinto muito por Jones. Ele também foi por um leão?

— Sim. Em que você acha que eu mudei? — Ele perguntou

apressadamente, desesperado por parar de falar sobre seu criado. —

Além do óbvio, é claro. — Ele acrescentou com uma risada forçada,

deslocando o peso para a perna boa e apoiando-se na bengala.

Edie pensou por um momento.

— Você está muito mais sério do que eu lembrava. Não parece

tão superficial, tão intencionalmente encantador como antes.

— Sim, eu ouso dizer que minha juventude despreocupada já

passou.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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Edie curvou os lábios em um leve sorriso.

— Mas vejo que você continua removendo sua gravata na

primeira oportunidade.

— Não é a gravata, Edie, — ele respondeu com um sorriso,

esperando que este fosse o início de uma reconciliação. — É o

colarinho. Uma das coisas que a África me ensinou é o quão

desconfortável são esses malditos pescoços rígidos. Você também

mudou, por sinal.

— Sim — Ela pareceu surpresa com esse comentário. — Em que

sentido?

Stuart olhou para ela por um longo tempo, considerando a

resposta. Era o mesmo rosto que ele lembrava com aquelas angulares

sobrancelhas castanhas, olhos verde primavera e a tez sardenta.

Tinha o mesmo maxilar quadrado teimoso, o queixo pontiagudo, os

lábios rosa pálido e ele presumiu que seus dentes brancos

continuavam sobressaindo ligeiramente quando sorria, no entanto,

na medida em que ele lembrava, ela nunca sorriu muito. O rosto de

Edie nunca tinha sido um rosto bonito, supôs, de acordo com os

critérios da alta sociedade, mas estava tão vibrantemente vivo que a

falta de beleza equilibrada não parecia importar. Mas era o que a

fazia parecer diferente.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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— Você não está tão magra quanto antes. Você não parece tão

irritada, nem tão determinada. Parece... Não sei como dizer, Edie. É

como se, de alguma forma, você tivesse suavizado.

Edie mudou de posição e desviou o olhar como se estivesse

desconfortável com a descrição.

— Sim, bem. — tossiu. — Isso é bom.

Havia silêncio entre eles. Um silêncio que varreu qualquer

esperança de reconciliação imediata e ressaltou o fato brutal de que,

apesar de serem casados, eram dois estranhos na mesma sala,

quebrando a cabeça tentando encontrar algo para dizer. Não era que

eles não tinham nada o que falar, pelo contrário. O futuro como

marido e mulher estendia-se diante deles, e se Stuart sobreviveu a

tudo o que tinha passado, foi por causa da esperança de ter outra

chance com ela, de tornar seu casamento real. Mas ele não conseguia

abordar o problema diretamente, então buscou algo mais neutro para

dizer.

— Gostei do que você fez com este quarto — ele finalmente

comentou. — A porta do terraço me pareceu uma ideia esplêndida.

— Eu fiz o mesmo na sala de música, na piscina e no salão de

baile.

— Como todos esses cômodos estavam ladeados ao terraço, o

trabalho foi simples.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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— Bem, certamente, o salão de baile se beneficiará de ter um

pouco de ar fresco. Esse quarto era incrivelmente quente quando

ficava lotado, mesmo com as janelas abertas. E aqui, na biblioteca, as

portas francesas permitem que entre mais luz. O suficiente para

poder ler. Antes, lembro que sempre precisava acender uma

lâmpada, mesmo durante o dia. Eu sempre pensei que era absurdo

que não houvesse luz adequada na biblioteca.

Mas, agora, você só tem que acender as lâmpadas quando escurece.

— Na verdade, nem mesmo assim — disse ela, e apontou para

um dos lustres que adornavam as paredes. Eu instalei a luz a gás em

todos os quartos.

Stuart sorriu.

— Você é toda americana. E acho que foi uma decisão muito

sensata.

Edie fez uma careta.

— Sua mãe não concordaria. Ela os odeia. Ela mostra sua

desaprovação cada vez que vem nos visitar.

Stuart olhou para ela com compaixão.

— Ela tem sido muito insuportável?

Edie acenou com a mão.

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— Não o suficiente para eu não ser capaz de lidar com isso. Sua

mãe é como um gato doméstico. Ela gosta de ser cuidada e mimada, e

tende a mostrar as unhas quando não consegue o que quer.

— Penso que é uma descrição adequada para toda a minha

família.

— E é, — concordou Edie. — Sabem que você está aqui?

— Minha mãe e Nadine estão cientes. Passei por Roma no

caminho de volta e fui vê-las. Você sabia que estavam em Roma,

certo? — Claro que você sabia, continuou antes de poder responder.

— Minha mãe nunca iria a lugar nenhum, sem dizer-lhe para onde

mandar seu subsídio trimestral.

Edie não discutiu esse comentário cínico.

— E você acha que eles vão vir vê-lo? Devemos preparar mais

quartos?

Stuart balançou a cabeça.

— Pensam em continuar em Roma todo o outono, como

planejaram — sentiu uma tristeza estupidamente infantil, mas

descartou-a rapidamente. Ele há muito tempo havia aceitado a

indiferença e a falta de amor próprio de sua família. — Nadine —

continuou ele — tem um príncipe italiano no anzol, e se elas vierem

agora, ele poderia escapar. As prioridades são as prioridades, Edie.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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Edie assentiu, entendendo o que ele queria dizer. Ela sabia como

eram sua irmã e sua mãe.

—Entendo. E Cecil?

—Tenho mais do que tempo suficiente para informá-lo da minha

chegada. Agora, a pesca com mosca está num bom momento na

Escócia, e a temporada de caça começa na próxima semana. Embora

eu escrevesse para ele hoje mesmo, duvido que meu irmão possa se

afastar do pavilhão de caça para vir me dar boas vindas.

— Se você realmente quer vê-lo enquanto estiver aqui, eu

sempre posso interromper sua tarefa. — Edie sugeriu com um toque

de humor.

Stuart deu uma exclamação de diversão e surpresa. Esses tipos

de piadas não eram típicos da Edie que ele lembrasse.

— Ele se apresentaria aqui em um piscar de olhos, você não

acha? Mesmo assim, acho que ainda não é necessário fazê-lo sofrer

esse tipo de trauma.

Edie arrumou o nariz de sardas com um gesto de

arrependimento.

— A primeira vez que você me contou quais eram os

aproveitadores, eu não acreditei em você.

— Eu fiz todo o possível para avisá-la.

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— É verdade, mas até que eu os conheci, eu realmente não

acreditei.

— E mesmo assim, depois de conhecê-los, você se casou comigo

— murmurou Stuart. — Eu me perguntei muitas vezes por quê.

— Ambos sabemos por que nos casamos.

— Sim, claro que sim. Você se aproximou de mim, você propôs

um acordo muito sensato e eu... — Ele interrompeu-se o suficiente

para respirar — aceitei imediatamente. Mas o que eu quero dizer é

que me perguntei muitas vezes por que você me escolheu.

— Oh! Duvido que tenha pensado em mim o suficiente para

fazer uma coisa assim, — disse ela, rindo e encolhendo de ombros

com um gesto de desdém.

—Se realmente é isso que você pensa, você está completamente

equivocada, Edie.

O humor de Edie desapareceu instantaneamente. Ela lambeu os

lábios como se estivessem secos de repente, como se estivesse

repentinamente nervosa.

— Stuart, por que você está de volta? — Ela perguntou

calmamente.

— Acho que você já conhece a resposta para essa pergunta.

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Edie entrou na biblioteca para se aproximar dele.

—Suponho que... — parou um momento e se deteve na frente

dele. — Suponho que foram os seus ferimentos que o fizeram voltar

para casa.

— Em parte. Pelo menos, — ele se corrigiu — eles me deram a

desculpa perfeita. De certo modo.

Sua resposta enigmática causou certo desconforto que enrugou a

testa de Edie.

— Então você voltou para casa para ver um médico?

— Dois médicos já me viram, um em Nairobi e outro em

Mombasa.

— Eu estava me referindo a um médico inglês.

— Os dois eram ingleses.

Edie balançou a cabeça.

— Não, eu estava me referindo a um especialista, alguém com

mais experiência em tratar feridas como a sua do que um médico

colonial.

— Não acho que isso faça alguma diferença.

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— Vamos supor. Há médicos muito inteligentes na Harley

Street, — ela acrescentou, e ela mesma podia ouvir um traço de

desespero penetrando em sua voz. — Talvez um deles possa

oferecer-lhe algum tipo de tratamento que lhe permita curar você

completamente. — E então... — Ela interrompeu-se novamente e

nessa ocasião, foi uma pausa tão palpável e embaraçosa que Stuart

fez uma careta.

— Continue — ele pediu, — então, o que?

— Então você poderia voltar para a África.

Stuart decidiu que não havia nenhum motivo para continuar a

adoçar a verdade.

— Não vou voltar Edie. Voltei para casa definitivamente...

Edie não mostrou surpresa. Ela assentiu, mas, se Stuart estava

pensando que o gesto era de concentimento, ele estava muito

enganado.

— Você prometeu que nunca mais voltaria, lembra-se?

Stuart não lhe disse que esta era uma promessa que ele sempre

soube que poderia quebrar.

— Minhas circunstâncias mudaram como sem dúvida alguma

você pode ver. A caça e os safáris acabaram para mim. — Ele

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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interrompeu porque, embora fosse verdade, não era a verdadeira

razão pela qual ele havia retornado. — Edie, estive prestes a morrer.

Edie mordeu o lábio e desviou o olhar.

— Sinto muito, Stuart. De verdade.

— Mas?

Edie olhou para ele novamente e Stuart voltou a ver a Edie que

conhecia, a jovem que queria estar legalmente casada.

— Você pretende quebrar o nosso acordo?

Se seu casamento tinha alguma esperança de sucesso, Stuart teria

que fazê-la entender o que aconteceu com ele e por que era tão

importante.

— Vi alguns homens cavando meu túmulo, Edie. Eu estava

assistindo-os enquanto eles faziam isso. Eu sabia que estava

morrendo nem posso começar a descrever o que senti o único que

posso dizer é que essa experiência muda qualquer homem. Isso faz

você imediatamente e intensamente ter consciência de que tudo o que

você considerava importante não é importante. Isso obriga você a

contemplar sua vida sob uma nova luz, a reconsiderar suas decisões,

talvez a tomar decisões novas.

— E quais as decisões que você reconsiderou exatamente? — Ela

o interrompeu.

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— Percebi que era hora de vir para casa e assumir o controle da

minha propriedade e de você.

— Não preciso de ninguém para cuidar de mim.

Stuart viu como sua expressão se endureceu quando ela falou,

mas ele insistiu, porque tinha que confessar tudo.

— Eu quero cumprir minhas obrigações com minha

propriedade, minha família e meu casamento. — Ele parou por um

momento e acrescentou: — Eu quero ser um verdadeiro marido e ter

uma esposa de verdade.

As palavras tinham acabado de sair da boca quando Edie já

estava balançando a cabeça.

— Não, nós concordamos...

— Eu sei o que concordamos. Mas isso foi há cinco anos. Agora,

as coisas mudaram.

— Não para mim.

Stuart escolheu ignorar essa verdade dolorosa, porque qualquer

esperança de desfrutar de um futuro ao lado de Edie residia em

encontrar uma maneira de superá-la.

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— Mas eles são diferentes para mim, Edie. Eu não estou mais

interessado no que está além da próxima colina ou o que eu posso

encontrar ao cruzar um rio. Eu quero fazer parte de algo que dure.

Edie abriu os lábios, mas não disse nada. Olhou para ele

fixamente em silêncio, então ele aproveitou esse momento para

terminar de dizer o que precisava.

— A próxima vez que me encontrar cara a cara com a morte,

quero saber que deixo para trás mais do que minhas cinzas e meus

ossos. Edie... — Ele parou por um momento e respirou fundo. — Eu

quero ter filhos.

Edie deu um passo para trás, quase como se ele a tivesse dado

uma bofetada.

— Você me deu sua palavra. — ela o lembrou com uma voz

sufocada. — Maldito seja. Você me deu sua palavra!

Ela se virou e, pela segunda vez em apenas duas horas, começou

a se afastar dele a uma velocidade que não permitia que ele a

seguisse.

— Não podemos nos evitar para sempre, — disse Stuart depois

dela.

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— Não sei por que não. — Edie respondeu, olhando para trás

por cima do ombro. — Nos últimos cinco anos, temos feito isso muito

bem.

E, sem mais delongas, desapareceu pelo corredor.

Stuart soltou um suspiro lento. Isso, ele avaliou enquanto olhava

para a porta vazia, seria ainda mais difícil do que tinha imaginado.

— Você não poderia ter feito nada mais estúpido!

Uma desgostosa voz feminina interrompeu seus pensamentos e,

virando-se, descobriu Joanna nas portas francesas olhando para ele

com uma careta.

— Realmente, Margrave, se você não seguir o meu conselho,

como acha que eu vou poder ajudá-lo?

— Vejo que, além de ser impertinente e desobedecer a sua irmã,

você não tem escrúpulos em ouvir atrás das portas.

— Bem, não é minha culpa que vocês estivessem tendo uma

discussão num lugar com as portas abertas. E, em qualquer caso, eu

tenho muito em jogo.

— Se eu descobrir novamente, que está ouvindo minhas

conversas privadas com sua irmã, ou com qualquer outra pessoa, eu

mesmo vou levá-la para Willowbank, obrigada e amordaçada, se

necessário, entendido?

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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A expressão de Joanna tornou-se sombria, mas a adolescente se

forçou a se recuperar.

— Oh! Tudo bem — murmurou. — Nunca mais vou ouvir atrás

das portas. Mas agora o dano está feito, —acrescentou, incapaz de

conter-se. — E não tenho escolha senão perguntar o que você estava

pensando. A parte das crianças foi bem, suponho. Edie gosta de

crianças. — Mas o cumprimento de suas obrigações matrimoniais? E

sobre esse discurso sensível sobre a necessidade de fazer parte de

algo que dure? — Ela fez um som de desprezo. — Você realmente

acha que assim você a vai ganhar?

Visto em perspectiva, Stuart supôs que tudo tinha soado como

um monte de bobagens, mas mesmo assim, irritou-o de que uma

colegial estivesse lhe dando conselhos amorosos.

— E você acha que aproveitar sua compaixão teria sido melhor?

— Bem, pelo menos não teria sido pior.

E uma vez que essa declaração irrefutável foi feita, Joanna virou-

se com um resmungo de agravamento e desapareceu de sua visão,

mas as últimas palavras que ela falou flutuaram para Stuart do

terraço.

— Considerando o quão ruim você está fazendo as coisas, não

vou me livrar do internato.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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Naquele momento, Stuart não estava em posição de negar essa

previsão. E, embora ele não se sentisse mais inclinado do que antes a

aproveitar a compaixão de Edie, ele sabia que Joanna estava certa.

Tudo o que ele havia dito a Edie era verdade, mas não era o que ele

tinha que dizer se quisesse conquistá-la. Infelizmente, não tinha ideia

do que deveria dizer para obtê-lo. Ele sempre soube como seduzir o

sexo oposto com seus encantos, mas era perfeitamente ciente de que

Edie nunca tinha ficado impressionada com eles.

Ele também sabia que um caso de amor quebrou seu coração e

arruinou sua reputação. E que ele não ofereceu casamento porque ele

a queria, mesmo que em algum momento tivesse sido um golpe para

sua vaidade.

“Estou oferecendo tudo o que você quer nesta vida. Não deixe seu

orgulho entrar no caminho”.

Pois bem, não tinha feito isso e o resultado tinha sido digno de

um conto de “As mil e uma noites”. Como um gênio saindo de uma

garrafa, Edie tinha aparecido e havia resolvido todos os seus

problemas, e o tinha liberado de todas as suas irritantes obrigações

oferecendo tudo que pediu a vida. Tudo, exceto ela mesma.

Na noite do labirinto, Stuart não tinha considerado o efeito que o

envolvimento teria sobre ele e durante os dias frenéticos que

precederam o casamento, cercados por parentes, acompanhantes e

uma comitiva de jornalistas lisonjeiros prontos para relatar todos os

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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detalhes do último casamento entre um membro da aristocracia

inglesa e uma americana, ele teve pouco tempo para pensar no

assunto. Além do orgulho doloroso compreensível, a falta de atração

de Edie e sua aversão em dormir com ele tinha tomado um segundo

plano para outras considerações, como garantir suas propriedades.

Mas depois, quando se mudaram para Highclyffe, começaram a

assumir grande importância e por razões que não tinham nada a ver

com seu orgulho ferido.

Ele sentou-se na frente dela. — Existe um problema com a

inclinação do terreno.

— E não pode fazer nada para resolvê-lo?

— Fizemos o que pudemos.

Ela explicou como eles tinham nivelado a terra, contou sobre o

sistema de drenagem francês que haviam cavado, e outras tentativas

para resolver o problema enquanto ela mesma estava servindo o chá.

— E ainda, o chão está encharcado. — Edie apontou enquanto

segurava a xícara.

— Exatamente, — confirmou Stuart. — Qualquer outra medida,

Lord Seaforth teria que tomar e ele não está disposto a fazer qualquer

melhoria em suas terras que possam beneficiar a minha. Ele me odeia

você vê.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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— Ele odeia você? Porque?

Stuart encolheu os ombros, tomou um gole de chá e recostou-se

na cadeira.

— Odiar os Margraves é uma tradição da família Seaforth. Em

1788, o duque de Margrave, desesperado por ganhar dinheiro, fugiu

com uma das filhas de Seaforth para Gretna Green. A versão de

Seaforth é que ela foi sequestrada. O caso provocou um terrível

escândalo. Desde então, a relação entre as duas famílias tem sido

hostil.

— Mas isso é bobagem!

— Possivelmente, mas é assim que as coisas são. Quando o

Seaforth e eu estávamos em Cambridge, tentei resolver o conflito

várias vezes, mas Seaforth não tinha nenhuma intenção. Então, a

hostilidade e a água empossada permanecem.

— Mas essa água estagnada é uma fonte de mosquitos, para não

mencionar doenças. E ele tem um prado cheio de ovelhas lá! Está

arriscando a ter um surto de tifo, ou cólera, ou qualquer outra doença

infecciosa!

— Concordo, mas o que pode ser feito? Como eu acabei de lhe

dizer, é assim que as coisas são.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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Edie soltou uma exclamação de impaciência ao ouvi-lo repetir

aquela frase.

— E se tentarmos comprar a terra que ele tem sem usar o outro

lado? Dessa forma, poderíamos nivelar o solo corretamente, certo?

Stuart riu, o que a fez parar e olhar para ele pela beirada da

xícara, franzindo a testa com uma expressão perplexa.

— E se a comprarmos? — Disse com toda a confiança de uma

americana rica.

Edie franziu seu cenho.

— Você está rindo de mim?

— Um pouco. — Ele sorriu, afastou sua xícara e continuou: —

Muitos Margraves tentaram comprar essas terras, pelo menos,

quando a família tinha dinheiro. Mas nenhum Seaforth nunca nos

quis vender.

— Você poderia tentar.

— Já fiz isso. — Uma semana antes de nos casarmos. — Mas o

Seaforth recusou.

— Oh, pelo amor de Deus, isso é absurdo! — Ela ficou em

silêncio e Stuart quase podia ver os mecanismos de sua mente

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117
pragmática girando, tentando encontrar uma solução. — E se for

outro quem comprar essas terras? — perguntou depois de um tempo.

— Seaforth poderia ser persuadido a vendê-la para outra pessoa,

sim, mas quem compraria? As terras são um investimento ruim

ultimamente, e especialmente uma terra tão estreita como essa. Entre

duas propriedades, não pode ser útil a ninguém.

— Humm... Acho que poderia convencer Madison e Moore a

comprá-la. — Seus lábios se curvaram em um pequeno sorriso no

olhar desconcertado de Stuart. — Seaforth nunca precisa saber que a

Madison & Moore Incorporated é uma das muitas empresas de meu

pai.

— Deus, isso poderia funcionar! — Ele soltou uma risada. —

Você me disse que tinha cérebro, Edie, mas não falou que ele fosse

tão brilhante.

Edie também riu desse estranho elogio. Ela lhe deu um sorriso

enorme e radiante e, de repente, Stuart não conseguiu se mover. Ele

foi preso por um sentimento tão cativante quanto o que

experimentou a primeira vez que a viu, mas por uma razão diferente.

Na primeira noite, ele paralisou diante da sensação de ver algo fora

do comum. Mas, nessa segunda ocasião, era outra coisa que o

impediu. Quando Edie sorriu e riu, tudo acendeu, as faíscas douradas

apareceram em seus olhos verdes e quebraram o escudo protetor que

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


118
normalmente a envolvia. Como uma luz que ilumina a escuridão,

uma mulher comum se transformou em uma beleza.

Sua garganta ficou seca, seu pulso acelerou e o desejo fluiu

desenfreado através dele. Até aquele momento, ele havia conseguido

reprimi-lo, ignorá-lo, mantê-lo a distância, mas, desta vez, foi tão

repentino e esmagador que se recusou a recolhê-lo. Stuart não podia

respirar, não podia pensar, não podia fazer nada além de olhar

impotente para a mulher na frente dele, enquanto o desejo se

espalhava incontrolavelmente em todos os cantos do corpo.

“Esta é a minha esposa”, ele pensou e, naquele momento, ele

teria dado qualquer coisa para vê-la rindo assim, nua, no meio de

uma pilha de lençóis brancos.

— Que lindo sorriso você tem. Eu não me importaria se fosse a

primeira imagem que eu visse todas as manhãs quando acordasse.

O sorriso de Edie desapareceu devagar e, ao vê-lo desaparecer,

Stuart se perguntou se o coração de Edie naquele momento estaria

batendo com tanta força como seu pulso, se seu corpo ardia com o

desejo similar e se sua mente tinha os mesmos pensamentos ardentes.

Seus olhos, de uma cor verde muito clara, estavam abertos de

surpresa, mas não havia dureza de pedra em suas profundezas.

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Edie ergueu a mão direita, e tocou seu pescoço e um leve rubor

cobriu suas bochechas pálidas. Stuart sabia então que, pelo menos,

sentia algo do que ele estava sentindo.

— Podemos fazê-lo, Edie? — Ele perguntou suavemente,

tentando a sorte. — Afinal, somos casados.

Edie respirou fundo, seu corpo ficou tenso e Stuart viu uma

barreira quase física entre eles.

— Você me deu sua palavra, — ela o lembrou com uma voz fria

e baixa.

E toda esperança de acabar rompendo com ela entre os lençóis

desapareceu.

No dia seguinte, Stuart saiu e não viu seu sorriso novamente. Às

vezes, à noite, sentado fora da tenda quando estava na África, ele

pensou no rosto de Edie suavizado pelo desejo durante um

momento fugaz e se perguntou como seria sua vida, se ele tivesse

negociado outro tipo de acordo, se ele não tivesse tão desesperado

para aceitar o que Edie lhe ofereceu.

Cinco anos depois, enquanto olhava para a mesa de ferro forjado

e revivera aquele dia, lembrou-se de que ele tinha a oportunidade de

conseguir aproveitar então. Isso mudou ao longo dos anos, ela

também mudou. Tão devastada como teria estado aos dezoito anos,

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


120
com certeza seis anos eram tempo suficiente para curar um coração

partido.

Havia paixão dentro de sua esposa. Ele a sentira na noite em que

se encontraram e a tinha visto naquele dia no terraço. Breves

insinuações, talvez, mas ele conhecia as mulheres o suficiente para

saber que ele não tinha imaginado isso. Tudo o que ele tinha a fazer

era descobrir como inflamar essa paixão para queimar por ele.

O tempo era seu aliado. Apesar de sua declaração desafiadora,

Edie não iria poder evitá-lo cada hora do dia durante o resto de suas

vidas. Estariam vivendo na mesma casa, comendo na mesma mesa,

lendo na mesma biblioteca, tomando o chá na mesma mesa de ferro

forjado. Pouco a pouco, se tivesse paciência, poderia romper sua

resistência e acender o fogo.

Era somente, dizia a si mesmo, uma questão de tempo.

— O que ela fez?

Stuart ergueu os olhos do prato de rins e bacon que Wellesley

acabara de servi-lo. A resposta do mordomo para a questão de onde

Edie se encontrava havia deixado atônito o suficiente para esquecer o

café da manhã.

— Ela foi a Londres?

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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— Sim, Excelência, no primeiro trem, às oito e meia da manhã.

Stuart olhou o relógio, verificando que o trem tinha saído há

uma hora.

— E disse alguma coisa? Explicou o motivo da sua partida?

Deixou alguma instrução sobre o que fazer com Joanna? Onde está a

Joanna, a propósito? E o que aconteceu com a governanta?

— A duquesa recebeu um telegrama da Sra. Simmons ontem à

noite, pouco antes do jantar. Aparentemente, a governanta saiu no

King's Lynn, mas enviou a bagagem da senhorita Jewell para o

Willowbank e vai voltar amanhã de trem. A Duquesa, no entanto,

decidiu levar Miss Jewell como companhia à Londres e deixou uma

carta para a Sra. Simmons com as instruções relevantes.

— Entendo.

Se a estratégia de Edie fosse evitá-lo, ela havia feito um excelente

trabalho até agora. Ela jantou em seu quarto e ficou lá toda a noite, e

pela manhã foi para Londres. Se quisesse tornar o hábito de lidar com

seu relacionamento, fugindo constantemente dele, o processo de

conseguir um casamento verdadeiro seria um assunto muito tedioso.

— E sua Excelência explicou se teve algum motivo para ir ou

disse quanto tempo estará fora? — Não, Sua Excelência. Ela limitou-

se a dizer que queria ir para a cidade. No entanto, isso poderia ajudar

a esclarecer o assunto. — Wellesley tirou uma folha de papel dobrada

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


122
do bolso dianteiro de sua jaqueta e entregou a Stuart. — É da

senhorita Jewell. Antes de partir, ela me pediu que a entregasse.

A carta não estava selada. Estava dobrada apenas em três partes.

Stuart concluiu que tinha sido escrita com pressa. Ele o desdobrou,

leu as primeiras linhas e confirmou suas suspeitas.

Vamos para Londres. Minha irmã quer ver o Sr. Keating por uma

questão de negócios, algo que geralmente não leva muito tempo, mas ela

trouxe Snuffles, então, desta vez pode demorar um pouco mais. A Sra.

Simmons nos seguirá em um dia ou dois e me levará de Londres a Kent. Você

deve vir me resgatar. Quando eu souber, eu vou escrever para o seu clube

para dizer onde vamos ficar. Não tenho tempo para mais.

Joanna

— E desde quando tem um cachorro?

— Oh! Por cerca de quatro anos, Sua Excelência. — Se a memória

não me falhar, ela o encontrou ao lado da estrada. Eles o

machucaram. Era um cachorrinho, um cão pequeno.

— Ah!

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


123
Joanna assegurou-lhe que Edie tinha uma fraqueza para as

criaturas feridas e lá tinha provas disso.

— Suponho que seja um mestiço.

— Oh, não, senhor! Era um terrier de fazenda, mas o Sr.

Mulvaney queria afogá-lo porque estava ferido e achou que nunca

seria usado para caçar ratos. Sua Excelência não prestou atenção nele

e levou-o para cuidar dele.

Stuart sorriu.

— Foi-me dito que a duquesa tem um grande coração.

— O tem senhor. Embora, às vezes, ninguém diga isso. Ela deu a

Travis uma boa repreensão há um mês e depois o expulsou sem

sequer dar uma carta de referência.

— Travis? — Ele franziu a testa, — não me lembro desse nome.

Quem é Travis?

— O segundo assistente do jardineiro. Ele era novo, eles o

contrataram pouco depois do senhor ir.

Stuart advertiu com alguma diversão que, para Wellesley, e para

a maioria das mentes inglesas, uma pessoa que permaneceu por cinco

anos em um emprego era considerada nova.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


124
— E o que Travis fez para que a Duquesa o jogasse fora? — Ele

perguntou com curiosidade.

— Era a coisa da segunda empregada, — ele explicou com uma

voz baixa e significativa. — Houve uma briga. A duquesa viúva, que

estava aqui naquele momento, estava inclinada a livra-se dela. Ela

disse que deveria sair, mas a duquesa descobriu e não permitiu. —

Wellesley inclinou-se para ele e murmurou confidencialmente. — Ela

contradisse a ordem da duquesa da viúva.

— Eu teria gostado de ver a reação da minha mãe, — disse

Stuart, sorrindo ao redor do garfo carregado de ovos. — Continue.

— A duquesa manteve Ellen, mas jogou Travis para longe. A

duquesa — acrescentou ele com desculpa — nem sempre entende

como as coisas devem ser feitas.

— Eu imagino. — Stuart teve que fazer um grande esforço para

suprimir um sorriso. — Suponho que na América as coisas são muito

diferentes.

— Sim, eu ouso assegurar isso — essas palavras foram

suficientes para resumir o que pensava sobre como eram as coisas na

América. A duquesa viúva tentou explicar para a duquesa que deixar

um servente masculino e conservar a donzela não era o correto a

fazer em uma casa inglesa.

— E o que disse Sua Excelência a respeito?

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


125
Wellesley, circunspecto, sugou o ar fortemente pelo nariz.

— Disse: "é possível que esta seja uma casa inglesa, mas é gerida por

uma americana".

Stuart teve que reprimir um sorriso novamente.

— Pobre mamãe. Tenho certeza de que ela não se sentiu bem.

— Não me corresponde dizer isso, senhor. Mas a Condessa não

permanece por muito tempo quando visita Highclyffe. Sua

Excelência, como tenho certeza que você sabe, tem uma maneira

muito particular de fazer as coisas. Mas, — ele acrescentou, e seu

rosto se iluminou um pouco, — agora que você está em casa, tenho

certeza que as coisas funcionarão novamente como devem.

— Eu duvido, — Stuart respondeu alegremente. — Nunca fui

um daqueles que fazem as coisas corretamente, Wellesley. Até agora,

você deveria saber. — Ele terminou o café da manhã e colocou o

garfo e a faca no prato. — Quando sai o próximo trem para Londres?

— Onze e meia, senhor, — o mordomo respondeu

imediatamente. — Mas eu tenho medo que não seja um trem direto.

Você terá que trocar de trem em Cambridge.

— Sua eficiência nunca deixa de me surpreender, Wellesley. —

Ele tirou o relógio do bolso e verificou que ainda tinha tempo de

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


126
sobra. — Peça a Edward para me arrumar uma mala. Vou pegar esse

trem.

— Uma mala? Então você não pretende ficar em Londres por um

longo tempo?

— Não, e também não Sua Excelência. — Ele colocou o relógio

no bolso, colocou o guardanapo de lado e levantou-se. — Pelo menos,

se isso depender de mim.

Capítulo 6

Edie fixou seu olhar desconsolado no homem curto e pesado

com cabelos grisalhos sentado do outro lado da enorme mesa de

carvalho.

— Então não posso fazer nenhuma alegação? Nenhuma em

absoluto? Nem mesmo o fato de que o casamento não foi

consumado?

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


127
— Temo que não. Não conheço nenhum caso em que um

casamento tenha sido anulado por esse motivo. Pelo menos durante

os últimos séculos.

Edie lembrou-se de que não deveria se surpreender com essa

informação. O próprio Stuart havia dito o mesmo antes de se

casarem. Mas, de alguma forma, tinha ido lá esperando que Stuart

estivesse errado.

— Disse que não conhece nenhum caso em que foi alcançado.

Mas é possível que algum tenha passado despercebido?

— Algumas das decisões dos tribunais estão efetivamente fora

do meu controle — admitiu o advogado. — Se desejar, ficaria feliz em

investigar o assunto ainda mais, embora eu não seja otimista sobre as

chances de encontrar um caso em que a lei tenha apoiado a anulação.

— Entendo. Em qualquer caso, faça isso. E talvez... — Ela

interrompeu e engoliu. — Um divórcio?

O Sr. Keating esfregou o nariz e recostou-se na cadeira com um

suspiro.

— Tenho medo de que ainda seja menos provável. No que diz

respeito às alegações, você poderia tentar justificar o caso alegando

adultério, desde que seja verdade, é claro, e se você puder fornecer

nomes, datas e assim por diante. Mas, embora o adultério seja uma

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


128
justificativa suficiente para conceder um divórcio masculino, não é no

caso de uma mulher. Eu precisaria de mais do que adultério.

O desânimo de Edie virou-se para o decepção.

— E o abandono? O abandono pode ser considerado uma causa

secundária de divórcio?

— Mas o duque retornou, então não houve abandono. Nos olhos

da lei, ele simplesmente retornou depois de uma longa viagem ao

exterior. E como ele quer reconciliação... — O Sr. Keating sacudiu a

cabeça. — Receio que nesse caso isso também não tenha hipóteses.

— E podemos persuadi-lo a se divorciar de mim?

— Sua Excelência... — o advogado interrompeu-se e suspirou.

Ele esperou um momento, mas, enquanto Edie continuava a olhar

para ele com firmeza, continuou. — Se ele decidir pedir, sim,

eles poderiam autorizar o divórcio, mas nesse caso, teria que haver

alguma justificativa. Adultério, por exemplo.

— E eu não posso fazer nada? — Sua voz parecia terrivelmente

fraca para seus próprios ouvidos, mesmo dentro dos limites

silenciosos do escritório com painéis de madeira do Sr. Keating. —

Absolutamente nada?

O advogado olhou-a tristemente do outro lado da mesa.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


129
— Estou ciente de que o reaparecimento do duque depois de

tanto tempo deve ter causado um grande impacto, mas o impacto

inicial irá passar. E, como ele quer reconciliação, sugiro que aceite.

— Não entende. — disse Edie, forçando-se a superar o medo que

se instalou como uma laje no peito para pronunciar essas palavras.

— Há muitos casamentos difíceis e, muitas vezes, infelizes. Mas

o divórcio nunca foi uma solução satisfatória. É um processo

complicado, longo e escandaloso. Mesmo que tivesse justificativas

suficientes, levaria anos para quebrar os laços do casamento e os

nomes de ambos seriam arrastados pela lama. E, depois, sua posição

social seria muito danificada, a despojariam do título e arruinariam

sua reputação.

— Então, minha reputação acabaria arruinada por um homem,

não uma vez na minha vida, mas duas vezes — ela murmurou

amargamente.

— Disso tenho medo.

— Excelência! — O Sr. Keating levanto-se rapidamente. — Está

bem? — Ele contornou a mesa para ajudá-la, mas quando a agarrou

no cotovelo, ela se afastou.

— Estou! — Edie mentiu, afastando-se do espaço confinado entre

a cadeira e a mesa do advogado. — Eu apenas fiquei um pouco tonta,

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


130
— disse enquanto se aproximava da janela. — Estou bem, mas

preciso andar um pouco. Isso me ajuda a pensar. Por favor, sente-se.

O Sr. Keating juntou a bolsa, colocou-a na mesa e voltou a sentar

enquanto Edie ficou em pé junto à janela. Era um dia quente de

agosto em Londres, o ar estava cheiroso, mas Edie não se importava,

porque os cheiros da cidade mantinham a lembrança do Bourbon e

da colônia. Ela permaneceu ali por alguns segundos, respirando

lentamente.

— Eu não posso viver com meu marido, — ela disse finalmente e

virou da janela. — Como posso evitá-lo?

— A única maneira é uma separação. No seu caso, a liberdade

econômica não representa nenhum problema, é claro, mas uma

separação legal permitiria que vivesse separadamente sem qualquer

censura social.

Uma vez que recuperou o controle, mas ainda inquieta, Edie foi

até a parede no final do escritório, onde havia uma série de

prateleiras alinhadas e cheias de volumes legais e cofres com

documentação.

— Precisaríamos validar a separação em um tribunal?

— Não necessariamente, os acordos de separação são bastante

comuns.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


131
— Quanto tempo demoraria a preparar um, Sr. Keating?

— Seria uma questão de dias. Mas há certas coisas que deve ter

em mente, Sua Excelência. Primeiro, uma separação legal

provavelmente será válida desde que leve uma vida celibatária. No

caso de haver um amante, o duque poderia denunciá-la por adultério

e invalidar o acordo.

— Isso não tem nenhum problema.

— Eu sei, eu sei, — disse o advogado rapidamente. — Mas,

Excelência não tenho certeza que aprecie a solidão em que vivem as

mulheres separadas.

— Meu marido esteve ausente por cinco anos, — ela

interrompeu. — Posso assegurar-lhe que eu sei o que implica uma

separação.

O Sr. Keating abriu a boca como se estivesse prestes a dizer algo

mais sobre isso, mas algo na expressão de Edie deve ter avisado que

era preferível sair.

— Muito bem, mas, ainda continuamos a ter outro problema.

— Que problema?

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


132
— O duque teria que concordar. Sem o seu consentimento, uma

separação legal sem julgamento não é possível. E, como já disse antes,

não é provável que um tribunal se pronuncie a seu favor se não

tivermos justificativas suficientes.

Edie suspirou.

— E como vou persuadi-lo a consentir?

Mesmo quando perguntou, Edie pensou na seriedade decidida

do rosto de Stuart e temia que não houvesse resposta. Mesmo assim,

teria que tentar, porque Stuart queria algo que ela não poderia lhe

dar.

— Elabore o acordo de separação, Sr. Keating — falou quando

caminhou até a mesa para pegar sua bolsa. — Vou convencê-lo a

assinar, —ela acrescentou quando se virou para sair. — Não sei

como, mas vou encontrar uma maneira de fazê-lo.

Edie não sabia como que era capaz de falar com tanta confiança,

mas, felizmente não correspondia ao Sr. Keating apontar futilidades.

O advogado assentiu com a cabeça e, sem mais demora, Edie

começou a se dirigir para a porta. Caminhou com grandes passos

porque precisava se mover, andar, escapar das correntes que sentia

tensas ao seu redor. A voz do Sr. Keating a deteve antes que ela

pudesse partir.

— Sua Excelência?

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


133
Edie parou e olhou por cima do ombro para o advogado que

assumiu seus assuntos legais desde que ela havia se comprometido.

— Sim?

— Você tem certeza de que isso é realmente o que quer?

— O que quero é ser livre, Sr. Keating. Livre para controlar

minha própria vida. É o que eu sempre quis. E parece que isso é o

mais próximo que eu vou chegar.

Depois de dizer essas palavras, saiu, fechando a porta atrás dela.

Depois de deixar o escritório do Sr. Keating, Edie não parou

nenhuma carruagem para retornar ao hotel. Joanna e ela se

comprometeram a encontrar Lady Trubridge para o chá, mas ainda

faltavam uma hora, e Edie estava agitada.

Naquele momento, sentiu-se como um pássaro vibrando em

uma sala fechada, batendo contra as janelas, incapaz de encontrar

uma saída, não importa o quanto tentasse. Precisava de tempo para

dominar o pânico. Precisava de tempo para pensar.

Ela atravessou Trafalgar Square, caminhou até Northumberland

Avenue e passou pelo dique construído ao longo do rio. Era uma

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


134
tarde quente, estava andando a um ritmo acelerado, mal ciente do

calor, do cheiro úmido do rio e da falta de ar.

A única coisa que notava era o desespero que cravava em suas

entranhas. Milhares de quilômetros de distância e seis anos os

separaram, mas a sombra de Frederick Van Hausen continuava a

pairar sobre ela. Ela acelerou o ritmo de seus passos ao longo da

margem, ia cada vez mais rápido e mais rápido, quase correndo,

mesmo sabendo que não podia fugir das lembranças. Nem do medo.

Pelo menos, ela não conseguia fazê-lo.

Parou ao lado da Agulhas de Cleópatra9 ofegando e suando. Os

lados lhe doíam tanto nos limites do espartilho que, simplesmente,

não conseguiria continuar andando sem descansar. Ela olhou em sua

volta e, quando viu um banco com vista para o rio, afundou-se nele,

perguntando-se desesperadamente sobre o que ia fazer.

Eu não poderia viver com Stuart ou com qualquer homem.

Dificilmente suportaria pensar nessa possibilidade. Outras mulheres

ficariam excitadas, adorariam fazer amor, queriam ter filhos. Mas, em

Edie, esses desejos estavam mortos, eles foram aniquilados pela

brutalidade de um homem selvagem. Embora tivesse esfregado a

pele até ficar em carne viva depois daquele horrível acontecido, ela

9
As agulhas de Cleópatra ( agulha de Cleópatra ) é nome anglo-saxão do par
de obeliscos ordenados esculpidos pelo faraó Tutmosis III no século XV aC. C. Inicialmente,
foram erguidos na antiga cidade de Iunu , a " Heliópolis " do Egito . Mais tarde, foram transferidos
para Alexandria , por desejo de César Augusto . No século XIX foram transportados
para Londres e Nova York, respectivamente. Apesar do nome não tem relação nenhuma com
Cleópatra a rainha do Egito.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


135
nunca conseguiu eliminar sua marca. Não tinha contado a ninguém, e

ainda assim não conseguiu evitar os rumores do que lhe acontecera. E

nem sabia como começaram. Certamente eles os viram entrar e sair.

Ou talvez Frederick tenha se vangloriado de sua façanha ou... Oh,

inferno! O que importava naquele momento? O dano estava feito, não

podia voltar no tempo.

Acreditou que Frederick queria estar sozinho com ela, porque

realmente gostava daquela garota alta e magrinha com o cabelo

vermelho e com sardas que morava na baixa Madison Avenue.

Estúpida! Estúpida! Estúpida!

Olhou para o Tamisa. O sol que brilhava na água devia estar

terrivelmente brilhante, porque seus olhos estavam lagrimejantes.

Piscou e viu tudo embaçado. Então percebeu que não era o reflexo do

sol que fazia seus olhos pestanejar, mas as lágrimas. Furiosa, ela

piscou novamente, forçando-se a reprimi-las.

Balançou a cabeça, tentando eliminar qualquer pensamento

inútil de desespero, compaixão ou derrota. Não podia pensar sobre o

passado, tinha que enfrentar o presente e desenhar um plano para o

futuro.

A razão lhe dizia que Stuart não era Frederick. Ele era um

homem muito diferente, mas sabia que não importava. Ele ainda era

um homem, ele era seu marido e ele queria algo que ela não poderia

dar-lhe livremente. Ele tinha direito ao seu corpo e chegaria um

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


136
momento em que, em algum lugar e de alguma forma, ele

reivindicaria. Ela não poderia permitir que isso acontecesse.

Se a separação legal fosse a única maneira de evitar isso, ela teria

que encontrar uma maneira de fazê-lo assinar. A questão era como.

A primeira possibilidade, e a mais fácil, era ameaçar reduzir seus

rendimentos. Era ela que tinha o controle do dinheiro e, se ela

decidisse não dar a ele, seria forçado a fazer o que ela queria. Se essa

estratégia falhasse, experimentaria o contrário. Poderia lhe oferecer

mais dinheiro, centenas de milhares de libras, tudo o que tinha se

pudesse persuadi-lo dessa maneira.

Se essas duas opções falhassem, teria que ir para o exterior. Seu

coração afundou no pensamento de deixar Highclyffe, e Almsley, e

Dunlop, e todas as propriedades do duque. Mudou o mobiliário

dessas casas, havia desenhado seus jardins, melhorou a terra e

melhorou as aldeias. A idéia de deixar tudo atrás dela apertou seu

coração, mas se Stuart não aceitasse a separação, ela teria que sair.

Se viajar para o exterior fosse a única opção, informaria Stuart

que tinha a intenção de voltar para Nova York e lutar para obter um

divórcio de lá, embora isso fosse apenas para tirá-lo do caminho, não

tinha intenção de viver perto de Frederick Van. Hausen que há cinco

anos....

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


137
Não, diria a Stuart que voltaria para Nova York. Compraria uma

passagem para tornar a mentira convincente. Mas então ela iria com

Joanna para qualquer outro lugar: para a França, para a América do

Sul, para o Egito, até para Xangai, não importa onde. Seu pai não

gostaria, mas sabia que se ele perguntasse, não contaria a Stuart onde

ela estava.

Ele não conseguiria se esconder de seu marido para sempre,

sabia. Mas, talvez, uma vez que entendesse que sua recusa em viver

com ele era sincera, ele renunciaria a suas ideias absurdas e lhe

permitiria partir. Além disso, se ela lhe deixasse sem dinheiro, por

quanto tempo poderia persegui-la por todo o mundo?

Seu espírito aumentou ligeiramente ao pensar nesses planos.

Sentiu que estava começando a controlar sua vida novamente e se

levantou, banindo qualquer inclinação para a autopiedade. Ela

poderia continuar sendo a proprietária de sua própria vida. Não seria

uma vítima das circunstâncias, ou do destino ou, de fato, de qualquer

homem. Nunca seria.

Quando Edie chegou ao hotel, ela não entrou diretamente. Em

vez disso, passou pelos blocos perto do escritório de Cook. Lá, depois

de perguntar sobre as linhas de transporte para Nova York, descobriu

que o próximo transatlântico partiria daqui a onze dias de Liverpool.

Reservou uma cabine de luxo, pagou o depósito e pediu que os

bilhetes fossem enviados para o Savoy.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


138
De volta ao hotel, parou no luxuoso salão de chá da Savoy e

perguntou por Lady Trubridge, já que eram quase quatro e meia.

Uma vez que soube que a marquesa ainda não havia chegado, subiu

as escadas para se refrescar e procurar Joanna.

Quando entrou na suíte, encontrou sua irmã esperando por ela e

vestida para o chá.

— Finalmente! — Joanna reclamou. Ela levantou jogando o livro

que estava lendo. — Onde estava?

— Eu disse que eu tinha uma reunião com o Sr. Keating.

— Três horas? Os assuntos das propriedades nunca levam tanto

tempo.

Edie desviou o olhar. Ela tinha sido muito vaga sobre os motivos

dessa viagem a Londres e seu encontro com Keating. Sabia que devia

explicar a Joanna qual era a situação e dizer logo a ela que partiriam,

mesmo que ainda não soubesse para onde. Mesmo assim, não fazia

sentido trazer o assunto naquele momento, quando elas estavam

prestes a ir para o chá. E ainda não tinha perdido a esperança de

convencer Stuart a abandonar suas intenções.

— Fui dar um passeio. Está uma tarde muito agradável.

Joanna, é claro, olhou para ela como se estivesse mal da cabeça.

— Estamos em Londres em pleno verão, é fedido.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


139
Não havia nada para discutir sobre isso.

— Não use a palavra “fedido”, querida. —Edie corrigiu-a em

vez disso. Se você tiver que se referir ao cheiro, você pode dizer

"cheirosa", é mais adequado para uma senhora. Eu vou me trocar e

então iremos para o chá.

Saiu da sala, mas descobriu que a empregada não estava no

quarto, nem no vestiário nem no banheiro. Virou a cabeça para a sala

de estar.

— Onde está Reeves?

Joanna levantou a cabeça do livro, do qual retomou a leitura.

— Ela levou Snuffles para uma caminhada. Não teve escolha,

porque ele estava girando desesperadamente. Daqui a pouco ela

retornará.

— Bem, nesse caso, você terá que me ajudar. Não temos tempo

para esperar por ela, ou vamos chegar atrasadas para o chá.

Joanna a seguiu até o quarto e a ajudou a tirar o vestido verde e

preto amassado e suas delicadas roupas íntimas. O Savoy, que tinha

aberto apenas algumas semanas atrás, estava no auge da

modernidade. O banheiro em sua suíte tinha água corrente, quente e

fria, o que lhe permitiu eliminar facilmente o suor causado por essa

corrida histérica ao longo da represa Victoria. Em menos de dez

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


140
minutos, ela colocou roupa intimas e o vestido de seda. Joanna estava

prestes a abotoar o último botão nas costas quando bateram na porta

da suíte.

— Certamente será Reeves, — disse Joanna. — Aposto qualquer

coisa que esqueceu a chave. Isso sempre acontece quando se fica em

hotéis.

A ajudante foi abrir a porta, mas alguns minutos depois não foi

Reeves quem entrou. Joanna voltou.

Edie olhou para Joanna no espelho e, surpresa, parou de ajeitar

as mangas bufantes de seu vestido.

— Onde estão Reeves e Snuffles?

Mas, quando perguntou, notou a estranha expressão de sua irmã

e notou os papéis em sua mão. Ela sabia então que não tinha sido a

empregada que tinha batido na porta e amaldiçoou os funcionários

de Cook por serem tão eficientes.

— Por que vamos à Nova York? — Joanna perguntou, segurando

as passagens. — São para um barco a vapor.

Edie respirou fundo.

— Podemos ir ou talvez não. Isso depende.

— Depende de que?

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


141
— É uma questão complicada, querida.

— Você vai deixá-lo, certo? — A consternação na voz de sua

irmã era inconfundível e, considerando que ela não queria ir ao

internato, era um sentimento bastante surpreendente. — Você vai

fugir.

— É possível que não tenhamos que ir, — ela lembrou. — E,

mesmo que nós partíssemos, eu não diria que é uma fuga.

— E do que chamaria?

Uma batida na porta salvou a resposta.

— Agora tem que ser Reeves, — ela disse e rapidamente passou

na frente de sua irmã para se dirigir para a porta.

Joanna, é claro, não estava disposta a deixar o assunto.

— Está fugindo, — disse, seguindo sua irmã pela sala.

— E não vai resolver nada.

— E isso é o que diz uma pessoa que saltou de um trem em

movimento para evitar não ir à escola, — replicou Edie, pegando a

maçaneta da porta. —Você deveria concordar comigo, — acrescentou

por cima do ombro quando abriu a porta. — Às vezes, fugir é uma

estratégia perfeitamente aceitável.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


142
Ela se virou, esperando encontrar Reeves e pronta para provocar

a empregada por esquecer a chave, mas as palavras morreram em

seus lábios porque a pessoa no corredor não era Reeves, mas o

homem que ele estava tentando evitar. O homem que já havia sido

sua salvação, mas estava se tornando rapidamente seu pior inimigo.

— Você! — Ela gritou. — O que você está fazendo aqui?

— É de mim que você está fugindo, Edie? — O que? — ela

acrescentou ao seu gemido de exasperação. — Você realmente

pensou que seria suficiente vir para Londres para se livrar de mim?

— Obviamente, não, — reconheceu com um suspiro. — Eu

deveria ter comprado passagens para a África.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


143
Capítulo 7

Stuart não se surpreendeu com a recepção entusiasta de sua

esposa e decidiu deixar sua desolação deslizar como água nas penas

de um pato. Ele tinha a sensação de que se envolver em armadura

seria muito útil para os próximos dias.

— Boa tarde, querida, — ele a cumprimentou com um sorriso.

Embora não tivesse a menor esperança de que ela pudesse

devolvê-la, observando o cenho franzido na testa de esposa em

resposta a sua saudação, ele não pôde deixar de pensar

nostalgicamente naquele dia no terraço.

— Você é um homem muito insistente, — acusou-o. — Como

você sabia por onde me encontrar?

— Graças a Wellesley, suponho. Uma das muitas tarefas de um

mordomo inglês é informar seu senhor sobre assuntos domésticos.

Como minha esposa, você também é uma questão doméstica.

— Mas ele não podia saber que eu ficaria no Savoy!

— Não, isso é verdade, mas mesmo nesta época do ano, Londres

está cheia de pessoas que amam fofocas. Digamos que um pequeno

passarinho me contou.

— Sim, é claro, um passarinho, — ela murmurou, e se virou para

Joanna, que estava na porta do quarto, e rapidamente adotou uma

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


144
expressão de inocência com a qual, Stuart suspeitou, Edie estava

bastante familiarizada. — Parece-me que ela foi uma irmãzinha

metida.

Percebendo que ela estava exposta, Joanna abandonou qualquer

pose de inocência.

— Eu pensei que Stuart deveria saber onde estávamos no caso

de... — Caso de alguma coisa acontecer. — E se um ônibus a tivesse

pego? — Poderia ter acontecido, — ela acrescentou quando Edie fez

um som de desdém.

— De todas as irmãs intrometidas, impossíveis e exasperantes do

mundo, o bom Deus tinha que prender-me com esta, — ela

murmurou.

— E papai está em Nova York, — continuou Joanna, colocando

na mesa a pilha de papéis que segurava na mão. Alguns papéis que

lembraram Stuart com desconfiança e algumas umas passagens

transoceânicas. — Se algo acontecesse com você, eu ficaria sozinho

em Londres com ninguém a quem recorrer.

— Sua preocupação com minha possível morte é assustadora. —

Edie respondeu secamente. — Eu deveria te dar uma palmada na

bunda.

— Calma, Edie, — Stuart interveio então, sentindo-se obrigado a

sair em defesa de sua aliada. — Não seja tão dura com Joanna. Ela

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


145
está apenas tentando desempenhar um papel inofensivo como

casamenteira.

Edie olhou para ele por cima do ombro, mas antes que ela

pudesse responder, um som chamou a atenção de Stuart. Ele virou-se

e encontrou a empregada de Edie no corredor. Ela tinha uma coleira

de cachorro em uma mão e, no final, uma pequena bola de pelos

pretos que começava a cheirar seu sapato.

— Reeves, — ele cumprimentou a empregada pálida e séria

vestida de preto com um aceno de cabeça. Então ele olhou para baixo.

— E este deve ser Snuffles.

Ao ouvir seu nome, o terrier norueguês levantou os olhos,

plantou o traseiro no tapete no corredor e soltou um latido de acorde

estrondoso.

— Olá, amigo — Stuart se abaixou e estendeu o braço para

sujeitar-se à inspeção canina.

Snuffles o cheirou e bateu o rabo contra o tapete em aprovação.

Edie, no entanto, não parecia inclinada a deixá-los continuar a

conhecer-se.

— Reeves, você finalmente chegou. — Ela disse, e se inclinou

pela porta para pegar o braço da moça.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


146
Mas Stuart falou antes que ela pudesse ter colocado a empregada

na sala de estar da suíte.

— Reeves, você acompanharia a senhorita Jewell para a sala de

chá? —Acho que Lady Trubridge a está esperando — acrescentou,

ignorando os protestos de Edie. — E levar Snuffles para uma

caminhada.

— Ela acaba de voltar de um passeio, — disse Edie. — Ele não

precisa de outro.

Stuart virou-se e, através da porta, respondeu à exasperada

expressão de sua esposa com um olhar de determinação firme.

— Reeves, pode ir, ele disse sem tirar os olhos de Edie. —

Gostaria de falar a sós com a duquesa.

A donzela hesitou, mas apenas por um momento. A ordem de

um duque tinha mais poder do que a de uma duquesa e sabia disso.

— Sim, Excelência.

Joanna a seguiu e, enquanto passava por Stuart para sair, parou

para dar-lhe um olhar cheio de ansiedade. Ele piscou de volta para

ela e deve ter parecido tranquilizador, porque a preocupação em seu

rosto desapareceu e seguiu a empregada pelo corredor sem mais

hesitação.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


147
Stuart esperou até que Joanna e a empregada tivessem virado o

corredor, seguido por Snuffles, para voltar a chamar a atenção da

mulher na entrada, olhando-o com os braços cruzados,

aparentemente sem a menor intenção de permitir que ele entrasse.

— Então Joanna tornou-se sua espiã? — Edie perguntou. — Isso

explica como me encontrou. E como você conseguiu ganhá-la?

— Acredite ou não, eu gosto dela.

Edie inalou fortemente pelo nariz, sem se impressionar.

— Suponho que você lhe disse que se o ajudasse, não teria que

voltar para o internato.

Stuart não tinha intenção de trair sua aliada.

— Eu não contei nenhuma história, — disse ele, e mudou

rapidamente o assunto. Ele olhou o ombro de Edie e soltou um

assovio. — Sim, este lugar faz jus à sua reputação. Mesmo em Nairobi

foi dito que era o mais luxuoso que poderia ser encontrado. Tapetes

de Aubusson, lareira de mármore rosa, candelabros de cristal... E,

provavelmente, esses vasos na prateleira são autêntico Ming, então

aconselho você não jogá-los na minha cabeça. Embora eu me atreva a

dizer que você pode pagar. Este lugar é bastante esnobe, certo?

Ele esperou, mas, como Edie não disse nada, apontou para o

quarto atrás dela.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


148
— Talvez você me convide para entrar. Eu não acho que você

queira falar comigo no lobby do hotel.

— Não quero falar com você em nenhum lugar.

— Edie, temos coisas para falar. Embora fugir de mim pareça ter

se tornado sua estratégia, não servirá para sempre. E, se isso não

parecer motivo suficiente, lembre-se de que quanto maior for sua

resistência às minhas tentativas de reconciliação, menos chances você

terá de ganhar qualquer batalha legal mais tarde. Os tribunais

odeiam esposas intransigentes.

Edie fez uma careta.

— Espero que minha intransigência, como você o chama, o leve a

perceber a inutilidade de seus esforços.

Stuart inclinou o ombro contra a armação da porta.

— E qual será o seu grau de sucesso com esta tática?

Edie suspirou. Depois de um momento, abriu a porta para

permitir que ele passasse.

— Você tem cinco minutos, — disse ela, e se virou. — Depois,

tenho que reunir-me com Lady Trubridge para o chá. Não pretendo

deixá-la esperando mais de cinco minutos por você.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


149
— Cinco minutos? Excelente, — disse ele com bom humor

enquanto a seguia até a suíte. — Tempo suficiente para tomar uma

bebida.

—Talvez. — Ela se virou para ele. — Mas não acho importante,

já que não vou oferecê-la a você.

— É uma pena, — Stuart respondeu com tristeza. — Se a sua

tarde em Londres foi tão agradável como a que eu passei em um trem

lotado e sufocante, a nós dois seria bom um uísque neste momento.

— Não gosto de uísque. Eu prefiro chá. — Ela olhou

exageradamente para o relógio que descansava na lareira. — Você

tem quatro minutos e meio restantes.

— Não se preocupe Edie. Você tem mais tempo do que imagina.

Como eu disse antes, já vi Lady Trubridge na sala de chá. Eu

expliquei que precisava falar com você e que por isso, você chegaria

mais tarde. Ela se mostrou bastante compreensiva.

— O que você fez? O que lhe dá o direito de ser tão dominante?

— Bem... — Ele interrompeu e lhe deu um olhar de desculpas. —

Estamos casados. Sendo seu marido, tenho o direito de ser. Falando

de Joanna — acrescentou, interrompendo a resposta indignada de

Edie. — Não deveria levá-la a um internato?

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


150
— Suponho que agora você vai tentar me persuadir contra essa

possibilidade com alguma bobagem britânica sobre as meninas

inglesas que não vão à escola ou sobre não ser sensato que recebam

muita educação? —Ergueu a mão, de palma para cima. — Se é isso

que você pensa para me dizer, guarde-o. — Eu já recebi uma

repreensão de sua mãe sobre isso.

Aquela era, Stuart decidiu, a oportunidade perfeita para cumprir

a promessa que fez com sua jovem cunhada.

— Qualquer que seja a opinião de minha mãe, acho que manter

Joanna em um internato é uma excelente idéia. Penso que é altamente

recomendável que as mulheres recebam uma boa educação. Além

disso,

— ele acrescentou, — com Joanna no internato, você e eu teremos

muitas oportunidades de estar sozinhos.

Edie respondeu com uma risada.

— Você e eu não vamos passar nenhum tempo sozinhos.

— Claro que sim! Estamos casados.

— Pare de dizer isso!

— Não faz sentido ignorar a verdade. Já lhe falei a cinco anos

que o casamento é algo que não pode ser dissolvido. Tenho certeza

de que Keating reiterou isso para você hoje.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


151
— Como você sabe que me encontrei com Keating? Mais uma

vez, era a coisa de Joanna, suponho. Foi por isso que você veio? Para

descobrir o que meu advogado me instruiu e o que pretendo fazer?

Tenho certeza de que Keating não lhe dirá nada, e tampouco eu.

— Não preciso que você me diga, eu posso imaginar. Keating irá

explicar-lhe que não há motivo para anular o nosso casamento e que

os fundamentos de um divórcio são insuficientes. Arriscar-me-ei e

vou acrescentar que, provavelmente, ele recomendou fortemente que

você não tome qualquer passo em qualquer direção, levando em

consideração suas poucas chances de sucesso e seguramente o

escândalo.

Edie moveu-se nervosa. Parecia desconfortável, o que confirmou

que as especulações de Stuart sobre o conselho do advogado eram

precisas.

—Tentou obter separação legal. Agora eu preciso de uma bebida.

Ele passou por ela até o armário de bebidas, colocou a bengala

de lado, derramou uma quantidade generosa de uísque da garrafa,

virou com o copo na mão e retomou a conversa sobre o assunto.

— Está falando serio? Você pretende tomar medidas legais?

— Não, se você cumprir com o que acordamos.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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— Como já lhe disse, a vida na África acabou para mim. Não vou

novamente, não quero fazer isso mais.

— Você não precisa voltar para a África se não quiser. Você pode

viver em qualquer lugar que quiser desde que não seja comigo. Eu

continuarei a lhe fornecer uma renda. Na verdade, estou disposta a

duplicá-las. Vou triplicar, mesmo! — Ela acrescentou, esfregando a

testa. — Mas sempre com a condição de que fique bem longe de mim.

— Não me importo com o dinheiro.

— Em outra época você já se importou. — olhou-o

desafiadoramente. — E poderia voltar a ser importante novamente se

você parar de recebê-lo.

— Não, Edie. Eu não me importaria, porque, para mim, o

dinheiro não é importante. E, além disso, investi a renda que você

me mandou até agora e fiz um excelente trabalho, se é que posso

dizer isso. Consegui comprar algumas minas de ouro muito rentáveis

na África Oriental, bem como várias minas de diamantes, campos de

xisto e companhias ferroviárias. Todos esses investimentos estão me

dando dividendos saudáveis. Eu não preciso do seu dinheiro.

Os ombros de Edie afundaram ligeiramente, deixando claro que

ela esperava que a ameaça financeira fosse suficiente para persuadi-

lo. Mas se recuperou instantaneamente.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


153
— Esses dividendos são suficientes para sustentar sua família? E

quanto a Highclyffe e as outras propriedades? Também deixaria de

mantê-los, Stuart. A todos.

— Você tem certeza? Você realmente vai deixar tudo? Você vai

virar as costas para tudo o que você construiu? Você parará de dar

renda às pessoas e emprego para as pessoas que vivem nelas? Você

realmente poderia destruir suas vidas?

Isso tocou sua fibra sensível. Stuart sabia pelo gesto em que ela

contorceu seu rosto.

— Não sou eu que estou destruindo tudo! — Ela gritou. — É

você.

— Não. — Tudo o que quero é garantir que seus esforços não

sejam uma perda de tempo. Não o entende?

Edie cruzou os braços, apertou os dentes e ficou em silêncio,

deixando claro que ela não entendia nada. Sua resistência mostrou

em cada linha de seu corpo: em sua postura, na rigidez tensa de seus

músculos, na distância entre eles. Estavam a apenas quatro metros de

distância e, no entanto, a diferença entre eles parecia mais larga que

as milhas que separavam a Inglaterra da África.

Stuart bebeu o resto do uísque de um só gole, colocou o copo de

lado, agarrou a bengala e começou a caminhar em direção a Edie.

Depois de ter passado horas trancado em um trem, sua perna doía,

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


154
mas sabia que, se tivessem que encontrar uma solução, qualquer uma

teria que dar o primeiro passo. Por acaso não sabia todo esse tempo

que o passo teria que ser dado por ele?

—Eddie, — ele disse enquanto se aproximava — o que você fez

com as propriedades é admirável, mas para que todo esse esforço? O

que estou lhe oferecendo, o que estou oferecendo a nós dois, é a

possibilidade de construir algo ainda melhor que o que você

conseguiu.

— E isso o que é?

Stuart parou na frente dela.

— Uma família que pode herdar tudo. De que serviria

Highclyffe, ou qualquer uma das propriedades que possuímos se não

pudermos deixá-las aos nossos filhos?

— Não posso te dar o que quer! — Sua voz quebrou quando

falou a última palavra e desviou o olhar. — Não posso.

— Você não pode ou não quer?

— Isso importa? — Ela caminhou ao redor dele e começou a

caminhar em direção ao armário de bebidas, evidentemente, também

ciente de que essa conversa exigia uma bebida. — O Sr. Keating me

disse que uma separação legal é possível, — ela disse enquanto se

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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servia de uísque, tomou de um só gole, abaixou o copo bruscamente e

virou-se para encará-lo. — E eu pretendo lutar para obtê-la.

— Não há hipóteses de obtê-la sem o meu consentimento.

— Não preciso de dinheiro se eu posso encontrar alguma

justificativa.

— Você não tem nenhuma.

— Oh, não? E quanto ao adultério? — Ou você pretende me

dizer que você foi celibatário durante esses cinco anos?

—Isso não importa, — respondeu Stuart, desejando deixar de

lado um assunto tão complicado. — Uma separação legal é

semelhante a um divórcio e uma mulher precisa pelo menos duas

razões para ter alguma oportunidade de se separar sem o

consentimento do marido. Qual outra razão que você tem?

— O que você acha do abandono?

Stuart sentiu-se obrigado a salientar algo óbvio.

— Mas agora estou aqui, pronto para reconciliar e ser um

verdadeiro marido para você.

— Sem considerar o que eu quero!

— Isso não é verdade e, mesmo que fosse não é significativo.

Nenhum tribunal aceitará o abandono como motivo de separação, a

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


156
menos que você deixe o país, implore-me para retornar e eu recuse. E

isso não acontecerá. — Ele começou a caminhar em direção a ela

novamente. — E, mesmo que você possa obter uma separação sem

meu consentimento, pense no preço que você teria que pagar. Você

manteria o título, mas você perderia todo o resto. Claro você perderia

o acesso a Highclyffe e ao resto das propriedades. E também a sua

posição social. Uma batalha legal contra mim a levaria ao desprezo

de todos os meus conhecidos. E quanto a Joanna? — Parou na frente

dela. — Você está disposta a cortar suas chances por causa de uma

separação?

Os lábios de Edie tremiam, dizendo a Stuart que ele havia tocado

um ponto sensível novamente. Seus olhos brilhavam, mas não com a

dureza da resistência, mas por causa de uma súbita onda de lágrimas

contidas.

— Deus, estou presa! — Ela sussurrou, olhando para ele. —

Presa em uma rede que eu mesma teci.

— E quão terrível é essa rede, Edie? — Stuart perguntou

delicadamente, e estendeu a mão para acariciar seu rosto. — É tão

horrível estar casada comigo?

— Você não entende. — Ela virou o rosto, rejeitando seu toque.

— Você não entende nada.

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— Não, eu não entendo. É... — Ele interrompeu, mas tinha que

dizer isso. — É por isto? — Ele perguntou e apontou para a coxa

esquerda com a bengala. — Eu não sou o mesmo homem que quando

nos conhecemos, eu sei, mas...

— Não é por causa da perna! — Ela respondeu. — Não seja

tonto. O que acontece comigo não tem nada a ver com você!

Stuart já suspeitava disso, mas mesmo assim, sentiu uma onda

de alívio.

— Então, é por quê?

As lágrimas desapareceram. Edie apertou o queixo.

— Deixe-me, Stuart.

— Eu não quero deixá-la. — Ele colocou a bengala de lado. —

Qual é a verdadeira razão pela qual você se opõe a desfrutar de um

verdadeiro casamento?

Edie desviou o olhar. Seu queixo tremia e seus lábios se

separaram, mas ela não respondeu.

—Não sou um homem ruim, você sabe? — Ele inclinou a cabeça

para olhá-la nos olhos e sorriu ligeiramente. — Eu sou um homem

inteligente, educado e bom de conversa. É fácil viver comigo.

Algumas mulheres consideram-me encantador, e até um pouco

atraente.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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— Ah é?

— E eu devo ter parecido para você também. Afinal, foi o

suficiente para você me ver apenas uma vez e me seguir no labirinto

e me propor casamento.

— Mas não para desfrutar de seus encantos, o que, com certeza,

é considerável. Eu escolhi você porque achei conveniente para meus

propósitos, foi isso.

— Você não me achou atraente? — Ele se inclinou um pouco

mais perto dela. — Nem sequer um pouco?

— Você poderia ter medido um metro e cinquenta, ter barriga e

dentes ruins, também teria feito.

— Então, por que você não fez isso antes?

Edie franziu a testa, surpresa com essa pergunta.

— Que quer dizer?

— Você esteve em Londres toda a temporada, Lady Featherstone

a apresentou a todos os solteiros da cidade, e muitos deles em

situações tão desesperadoras quanto a minha.

— Mas eles não tinham intenção de sair para outro continente.

— Não, mas eu aposto que muitos deles teriam sido persuadidos

a fazê-lo em troca do dinheiro que você me ofereceu. E, no entanto, e

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você mesma admitiu isso, você nunca fez nenhuma proposta dessas

para outro homem.

— Eu teria feito isso se essa ideia me tivesse ocorrido antes! Mas

até que eu vi você, a idéia não me ocorreu.

— Exatamente.

Edie deu um gemido de exasperação.

— E você acha que a idéia me ocorreu porque você é tão

condenadamente atraente?

Evidentemente, Stuart tinha desfrutado muito pouco da

companhia feminina durante esses cinco anos, mas não tão pouco

para esquecer tudo o que ele aprendeu ao longo de sua vida sobre as

mulheres. Edie talvez não o desejasse, mas, tampouco, o achava

repulsivo.

— Se tivesse sido como você está dizendo? Barrigudo, um metro

e meio de altura com dentes ruins não acho que teria acontecido para

mim nenhuma proposição — cruzou mentalmente os dedos, contou

com o seu conhecimento sobre as mulheres e continuou. — Eu acho

que no momento em que você me viu você se sentiu pelo menos um

pouco atraída por mim. Eu asseguro-lhe que me senti atraído por

você.

— Claro que não!

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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— Claro, que sim. Desde o momento em que nos encontramos,

pensei que você era a mulher mais fascinante que eu já tinha visto.

Acho que lhe disse se não me falha a memória.

— Sim, mas não é verdade.

— Claro que é verdade! — riu quando viu sua expressão de

espanto. —Pelo amor de Deus, você acha que eu teria me casado com

você se não tivesse sido assim?

— Nós dois sabemos que você se casou comigo por meu

dinheiro!

— Seu dinheiro, por mais adorável e oportuno, minha querida,

não me teria convencido a ir ao altar. Eu sabia qual caótica era a

situação financeira da minha família aos 15 anos e, se o dinheiro

tivesse sido o motivo para tentar me levar ao altar, eu teria me casado

antes de nos conhecermos. Não, eu não casei com você porque,

apesar de conhecer muitas mulheres, nunca conheci nem uma como

você. Nunca conheci uma mulher que pudesse me querer mesmo

quando estava tão dolorosamente claro que não queria. Isso me

intrigou e atraiu. Em parte, e me perdoe se eu pareço arrogante,

porque era uma novidade. Eu não estava acostumado com isso. Mas,

embora a novidade tenha passado o fascínio não passou.

Uma sombra de algo que poderia ter sido pânico espreitou o

rosto de Edie.

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— Mas, apesar de todo esse fascínio, você se foi depois de um

mês, quando concordamos em viver juntos pelo menos dois.

— Você não parou de perguntar quando eu pretendia ir. No final

do mês, praticamente você estava me empurrando para fora.

Ninguém pode suportar tal situação por muito tempo. Desejando-lhe

como eu desejava você, eu teria acabado perdendo a cabeça se tivesse

ficado por mais tempo. Naquela época, minha vida não estava

preparada para eu desistir da África e permanecer na Inglaterra. Mas

os últimos dias em Highclyffe foram muito difíceis para mim.

— Eu... — Interrompeu-se e umedeceu os lábios como se os

tivessem secos. — Eu não sabia.

— Sim, bem, não é algo que um homem gosta de admitir. Todos

nós gostamos de pensar que somos irresistíveis. O que me traz de

volta à questão que realmente interessa. Nós somos casados, agora

estou em casa e você ainda não me disse por que você é tão

fortemente avessa a um casamento real entre nós. E não me diga que

é por causa desse garoto de anos atrás, porque eu me recuso a

acreditar que você ainda está apaixonada por ele.

— Apaixonada? — Edie repetiu e por um momento, ela olhou

para ele sem entender. Mas então balançou a cabeça como se acabasse

de entender e disse: — Ah! Bem, você está equivocado, porém estou

apaixonada por ele.

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Disse com tão pouca convicção que nem uma criança teria

acreditado. Stuart sorriu, aliviado ao saber que pelo menos não tinha

que competir com o fantasma de outro homem.

— Então você continua com o coração partido, certo?

— Destroçado — retrocedeu um passo atrás e fez uma careta

quando colidiu com o armário atrás dela, sacudindo o vaso e as

garrafas de bebidas,

— Desolada. Eu nunca... Eu nunca poderei amar outro homem.

— Nunca? — Stuart novamente reduziu a distância entre eles. —

Como já falei antes, nunca é muito tempo.

Edie ergueu o queixo.

— Não é o suficiente para me fazer desejar você.

— Não?

Ele interrompeu, estudou o rosto e, curiosamente, o que ele viu o

fez ficar mais otimista sobre suas chances do que ele tinha até então.

Havia ressentimento na expressão de Edie, e também pânico, mas

havia outra coisa: o desafio de demonstrar até que ponto ela estava

errada e talvez, talvez, talvez, uma esperança remota de êxito.

— Oh, oh, — ele sussurrou. — Agora você fez isso. Você jogou a

toalha.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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— Que queres dizer?

— Nenhum homem que merece esse nome desejaria receber uma

declaração desse tipo... — Ele a olhou com uma expressão tão

desafiadora quanto a sua. — Eu acho que sou capaz de fazer você

desejar-me.

Edie estreitou os olhos.

— Há muitos homens que pensam que podem fazer com que

uma mulher os deseje. E alguns usam métodos muito pouco honestos

para obtê-lo.

— E você acha que eu sou dessa classe de homens?

— Não sei.

— Você sabe muito bem! Edie estivemos vivendo juntos por um

mês depois do casamento e alguma vez não me comportei com

honra? Muitos homens teriam escolhido exercer seus direitos

conjugais após o casamento e teriam enviado todas as promessas

para inferno. Mas eu não fiz isso, certo?

Edie não respondeu, mas Stuart não tinha intenção de

conformar-se com o silêncio dela.

— Eu fiz?

— Não, — ele disse finalmente.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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— Não, eu me comportei como um verdadeiro cavalheiro. E

como eu disse, não foi fácil. Especialmente, à tarde em que estivemos

no terraço. Eu queria forçá-la da pior maneira sobre todos aqueles

sanduiches de pepino.

Edie olhou para ele fixamente. Stuart pensou que talvez ela

tivesse esquecido aquele dia, mas de repente viu a cor que coloria

suas pálidas bochechas e percebeu que sabia exatamente sobre o que

ele estava falando. Suas esperanças cresceram um pouco mais.

— Você se lembra, não é verdade? — Ele sussurrou, inclinando-

se para ela. — Eu fiz você sorrir, eu disse que não me importaria de

ver aquele sorriso quando despertasse e...

— Eu não sei do que você está falando, — ela interrompeu-o

bruscamente.

Era mentira, Stuart sabia, e não pôde evitar o sorriso que se

espalhava pelo rosto.

— Você sabe exatamente do que estou falando. E acho que você

também gostou da idéia de despertar comigo.

— De verdade? — Ela o contradisse. — Tanto quanto consigo me

lembrar, o obriguei a calar a boca rapidamente.

— Então você se lembra?

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— O suficiente para saber que não teve a menor graça tua

sugestão.

Mas, quando ele falou, a cor de sua bochecha se intensificou e ela

não foi capaz de segurar seu olhar.

— Bobagem! Você também queria, mas não estava pronta para

admitir isso. Talvez você nem estivesse pronta para admitir isso para

si mesma.

— Você tem uma grande imaginação, — disse Edie, fixando o

olhar em seu pescoço. — Você nunca pensou em ser escritor? Porque

você escreve ficção lindamente.

—É realmente ficção? — Ou, simplesmente, uma memória

desconfortável da realidade?

— A única realidade desconfortável nessa situação é aquela que

você não pode aceitar. — Ele ergueu o olhar para encontrar seus

olhos. — Eu não desejo você. Eu não desejava você antes, eu não

desejo você agora, nem vou desejar-lhe no futuro.

Stuart encolheu os ombros.

— Se o que diz é verdade, então acho que você não se importará

em colocar isso à prova. Eu acho que, apesar do que você diz você se

sente atraída por mim. E, além disso, posso provar isso.

— E como você pretende fazer isso?

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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Stuart pensou naquilo e olhou para sua boca rosada por um

momento.

— Eu acho que com um beijo, eu mostraria, você não acha?

Edie estreitou os olhos.

— Tente me beijar, Margrave, e vou limpar o sorriso arrogante

do seu rosto com uma bofetada.

— Não, Edie, não, você não me entendeu. O que eu acredito é

que posso convencê-la a me beijar.

Isso a fez rir. Foi uma risada autêntica e feliz que pareceu,

infelizmente, bastante sincera.

— E quanto tempo você acha que vai levar para alcançar esse

milagre? — Perguntou.

Stuart pensou. Ele sabia que Edie nunca aceitaria dar-lhe um ano

de prazo, nem mesmo meio ano.

— Um mês?

— Dez dias, — disse Edie bruscamente. — Você tem dez dias.

— Dez dias? — Apesar da rendição inesperada, Stuart foi

forçado a protestar por tão pouco tempo. — Na verdade, Edie, não

acho que seja justo.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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— Dez dias a partir de amanhã. É o tempo que falta para o

próximo transatlântico de Liverpool para Nova York, e eu pretendo

partir nele. Já comprei as passagens.

— Para Nova York?

Ele olhou para os papéis que Joanna tinha deixado cair na mesa,

observando com um pouco de desconforto que eram passagens de

navio. Apesar dos muitos cenários possíveis que ele conjurava para a

reconciliação, ele não contou com a possibilidade de que ela

retornasse aos Estados Unidos e tentasse começar uma vida sem ele.

— E Joanna? Ou você já mudou sua opinião sobre a necessidade

de as meninas receberem uma boa educação?

— Eu sei que os britânicos consideram os americanos

terrivelmente incivilizados, mas também temos escolas do outro lado

do Atlântico.

— Então a solução é fugir. É assim que você enfrenta todas as

crises que encontra na vida?

Edie ficou tensa, mostrando que o tiro tinha sido exato, mas

recusando responder alguma coisa sobre isso.

— Dez dias. É pegar ou largar.

— Vou pegar isso porque tenho certeza de que tenho razão.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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— Ah sim? — Ela interrompeu e o estudou com uma expressão

alerta e pensativa. — O suficiente para fazer uma aposta?

— Uma aposta? Você está se referindo a dinheiro?

— Não, eu não quero apostar dinheiro.

— Então, o que você quer apostar?

Edie nem hesitou.

— Se eu ganhar, você aceitará uma separação permanente e

legal.

Stuart se endireitou e olhou para ela consternado.

— Mas uma separação legal significa que jamais poderíamos ter

herdeiros legítimos.

— O que não piora sua situação, já que não tenho a intenção de

lhe dar herdeiros legítimos. E irei para a América. A menos que... —

Ela parou e apertou os olhos. — A menos que, apesar do que você diz

sobre seu honrado caráter, você pretenda me impedir pela força.

— Trato feito, — ele respondeu. Ele lhe deu um olhar irônico. —

Você também joga xadrez?

— Pois na verdade sim, e bastante bem.

— Acredito em você.

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— Para salvar minha irmã de qualquer tipo de escândalo e fazer

as coisas da maneira mais simples possível, a melhor solução será que

você concorde com uma separação legal discreta e privada.

— É a coisa mais deprimente que já ouvi na minha vida.

Ele quis dizer isso, porque não poderia viver com ela e, sem essa

intimidade que poderia aproximá-los, suas chances de conquistá-la

foram reduzidas praticamente a nada. Ele sabia que, sem sua

colaboração, Edie jamais conseguiria legalmente uma separação, e

abriu a boca para rejeitar abertamente a proposta, mas parou para

considerá-la mais devagar.

Se ele se recusasse a aceitar essa aposta, ele não tinha dúvidas de

que Edie iria para a América. E, uma vez que ela fosse, seria

impossível fazê-la retornar, mesmo que a lei estivesse do seu lado. E,

mesmo que pudesse forçá-la a voltar, de que serviria isso exceto para

ganhar sua inimizade?

No entanto, essa aposta poderia lhe dar exatamente o que

precisava se pudesse transformá-la a seu favor. Ele sabia que estava

em grande risco de aceitar esse acordo, mas, diabos, ele nunca tinha

sido um homem de apostar com certeza. E, provavelmente, ele

poderia ganhar um beijo em dez dias.

— Muito bem, — disse ele, — se você quiser uma aposta, estou

disposto a jogar, mas com certas condições.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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Edie olhou para ele com desconfiança, sentindo a armadilha.

— Que condições?

— Você terá que voltar para Highclyffe comigo e passar dez dias

comigo lá. E, — ele acrescentou, antes que ela pudesse protestar, —

durante esse tempo, você terá que jantar comigo todas as noites e

passar pelo menos quatro horas por dia em minha companhia. Por

duas horas, faremos o que você quiser e durante as outras duas... —

Ele interrompeu um momento e olhou para ela com esperança —

faremos o que eu quiser.

— Mas nada que inclua qualquer abordagem física ou entrar na

minha cama.

— Eu me recuso a prometer a primeira coisa. Rejeite minha

abordagem se quiser, mas eu vou tentar. — Ele olhou para o rosto

dela. — E, quanto ao segundo, não vou entrar na sua cama a menos

que me convide Edie.

Edie ergueu o queixo.

— Isso nunca acontecerá.

— É verdade que não existam muitas chances a meu favor, mas

ainda não perdi a esperança.

Edie pensou nisso por alguns segundos e finalmente assentiu.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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— De acordo. Afinal, serão apenas dez dias. — começou a passar

na frente dele, como se a conversa tivesse terminado, mas Stuart

bloqueou seu caminho.

—Você não está esquecendo-se de algo? — perguntou. — Temos

de combinar sobre o que acontecerá se eu ganhar a aposta.

— Não será necessário, já que você vai perder, — ela respondeu.

— Uma aposta exige o combinado de ambas às partes. Se eu

ganhar, o que vou receber?

— Que...? — Ela parou e engoliu em seco. — O que é o que você

quer?

Stuart então jogou sua última carta.

— Se eu ganhar, você terá que aceitar viver permanentemente

comigo. Você não irá embora, você não vai para Nova York ou

qualquer outro lugar, não haverá anulação, nenhuma tentativa de

divórcio nem separação.

— Eu vou ter que viver com você para o resto de nossas vidas?

Não posso prometer uma coisa dessas.

O tom aterrorizado de sua voz lembrou a Stuart que se ele a

pressionasse demais, Edie poderia retirar tudo o que foi dito e fugir

para Nova York na primeira oportunidade que tivesse, mas ele não se

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


172
importava. Se eles iriam jogar aquele jogo, ele pretendia jogar para

vencer.

— Não é negociável, Edie.

— Mas é impossível!

— Você foi quem aumentou a aposta. O que há de novo? — Ele

acrescentou enquanto continuava a balançar a cabeça. — Tem medo

que eu seja irresistível?

Com um som de desprezo, Edie mostrou o ridículo que essa

declaração lhe parecia.

— Dificilmente.

Stuart estendeu os braços.

— Então o que?

Edie mordeu o lábio e inclinou a cabeça, pensando.

— Oh! Muito bem, — disse finalmente. — Receio que esta seja a

única maneira de me livrar de você sem ter que travar uma exaustiva

batalha legal. Começaremos amanhã de manhã. Às onze horas.

— É tarde demais para o café da manhã e muito cedo para o

almoço, assim eu suponho que você tenha algo em mente.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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— Ficamos na estação Victoria, na plataforma nove, e leve tua

bagagem. O trem de volta a Clyffeton será nossa primeira partida em

comum.

— O trem? — lamentou. — Edie, você é tão romântica...

— Foi você quem insistiu em passar esses dez dias na Highclyffe,

— ela o lembrou. — Então, em algum momento, teremos que andar

de trem. E você disse que eu poderia escolher minhas atividades.

— Mas no trem não podemos estar sozinhos.

— Exatamente

— É assim que você pretende jogar? Mantendo-me à distância a

cada segundo, que estivermos juntos? E suponho que você arrastará

Joanna de carabina para onde quer que nós formos.

Edie não respondeu a essa pergunta, mas não era necessário que

ela fizesse isso. O leve sorriso nos lábios confirmou.

— Bem, continue fazendo as coisas do seu jeito e mantendo seus

segredos, — disse Stuart. Mas ele sabia que, se Edie insistisse em usar

Joanna como um baluarte, ela teria que encontrar uma maneira de

superar esse obstáculo. — Vou comprar as passagens e irei te

encontrar na plataforma amanhã às onze. Mas os planos que estou

organizando para nós serão mais divertidos que uma viagem de trem

quente e sufocante, isso eu te prometo.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


174
Algo se passou nos olhos de Edie, preocupação, talvez, ou

mesmo medo, mas desapareceu antes que Stuart pudesse ter certeza.

— Desfrute deste jogo como quiser, Stuart, mas já pedi ao Sr.

Keating que elabore um acordo de separação e, dentro de dez dias,

você o assinará.

— Só no caso de você ainda não me ter beijado, — ele respondeu

alegremente. — E desde que estamos compartilhando previsões,

deixe-me também compartilhar a minha. No momento em que o

acordo de separação chegar, você terá muita diversão em minha

companhia que você não vai querer me deixar. Na verdade... — Ele

se interrompeu e tentou a sorte, aproximando-se um pouco mais

dela. — Eu pretendo ter você implorando muito mais do que um

beijo no final desses dez dias.

— Suplicando? — Ela repetiu com incredulidade. — Você acha

que vou te implorar?

Stuart respondeu com toda sinceridade.

— Espero que sim, Edie, porque se eu não conseguir fazer você

me querer, é porque eu não mereço você. — Se interrompeu e sorriu

ligeiramente. — Claro que, você pode desistir e me beijar já para que

possamos começar a fazer coisas muito mais agradáveis. Eu vou

garantir que isso valha a pena.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


175
— E privá-lo do glorioso prazer de ver-me implorar? Eu nunca

pensaria nisso.

Ela colocou a mão entre eles, apoiando-a contra o peito e

empurrando-o com um sorriso que apagou com um golpe de mão,

qualquer esperança de que Stuart tivesse que estar preocupado com o

resultado dessa aposta.

Ela tinha motivos para se sentir segura, supôs quando se virou

para vê-la caminhar até a porta. Porque, naquele momento, a simples

idéia de Edie querendo beijá-lo parecia tão improvável como uma

tempestade de neve no Saara.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


176
Capítulo 8

Edie não poderia ter imaginado um acordo melhor do que

aquele que tinham feito. Como resultado, a nuvem escura do medo

que a perseguia desde que seu marido havia retornado, começou a se

dissipar e o alívio ocupou seu lugar. Para recuperar a liberdade, tudo

o que tinha que fazer era evitar beijá-lo por dez dias. E, como não

desejava beijá-lo, que dificuldade poderia encontrar nisso?

Apenas passou essa pergunta por sua mente quando ela se

lembrou das palavras de Stuart dizendo que esperava fazer com que

ela o desejasse.

E o alívio foi substituído por um súbito sentimento de

desconforto. Tentou desprezá-lo. Stuart nunca usaria força com ela.

Como ele mesmo a lembrou, ele nunca tinha feito isso antes. E

assegurou-lhe que nunca o faria. Claro, com os homens, nunca se

poderia estar completamente segura, mas essa não era a fonte de sua

preocupação.

— Por duas horas, faremos o que quiser, e durante as outras

duas... faremos o que eu quiser.

Era óbvio que ele planejava seduzi-la, mas que importância

tinha? Não sabia como pretendia tentar, mas a sedução só era bem

sucedida se a mulher quisesse ser seduzida e, definitivamente, ela

não queria. Ela era imune a tudo isso.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


177
Aquele lembrete deveria ter a tranquilizado, mas, por outro lado,

a inquietação se aprofundou. Se ela realmente fosse imune, por que

precisava se lembrar disso?

O relógio na lareira tocou e Edie decidiu deixar de lado essa

pergunta incomoda. São cinco horas e eu deveria estar tomando chá.

Os cinco minutos de Stuart foram transformados em meia hora e

ainda continuava lá, sem decidir descer.

Ela pegou sua bolsa e saiu da suíte para encontrar Lady

Trubridge e Joanna. Quando entrou no salão, já havia conseguido

esquecer suas preocupações. Stuart poderia tentar seduzi-la tanto

quanto quisesse, mas seria como tentar convencer um peixe a voar.

Ela parou na porta e olhou ao redor, procurando entre as colunas

de mármore e as palmeiras dos vasos, mas a sala era enorme, todas as

mesas estavam cheias de gente e ela não conseguia localizar nem a

amiga nem a irmã no meio dessa multidão.

— Sua Excelência?

Edie virou-se e descobriu o maitre ao lado dela.

— Eu vou ficar com Lady Trubridge e minha irmã.

— Está bem. — O maitre fez uma leve reverência. — Lady

Trubridge a está esperando e acho que a senhorita Jewell está com

ela, quer fazer o favor de me seguir?

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


178
Ele a levou pela sala de chá lotada e para um belo terraço com

vista para os jardins junto ao rio. Sua irmã e sua amiga estavam

sentadas em uma mesa pela balaustrada. Belinda a viu entrar,

sussurrou algo a Joanna e ambas se levantaram para recebê-la

enquanto o maitre do hotel estava parado para anunciá-la.

— Sua Excelência, a Duquesa de Margrave.

— Ei, querida. — Belinda saiu de trás da mesa para agarrar suas

mãos. — Quanto tempo. É maravilhoso ver você de novo.

— Digo o mesmo, — disse Edie, apertando-lhe as mãos e um

beijo amoroso na face. — Desculpe o atraso.

— Você não precisa, — respondeu Belinda, e apontou para a

companheira. — Tive Joanna para me fazer companhia.

— Sim, — disse Edie, dando a sua irmã um sorriso irônico. — E,

sem dúvida, falou sobre a minha visita inesperada.

— Contou-me alguma coisa, — admitiu Belinda. — Mas eu o

tinha visto antes que Joanna descesse. Estava tomando chá e

aproximou-se de minha mesa antes de sair. Quando ele descobriu

que eu estava esperando por você, ele foi gentil o suficiente para me

informar que você se atrasaria.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


179
— É mesmo? — Disse Edie com um suspiro, perguntando-se

quantas daquelas intromissões em sua agenda social ela teria que

suportar nos próximos dez dias. — Ele me disse.

— Devo admitir que fiquei um pouco surpresa ao vê-lo

novamente — acrescentou Belinda. — Eu sabia que ele tinha sofrido

uma lesão, é claro, mas...

— Sabia? — Edie olhou para sua amiga. Ela não deixou seu

espanto. — Belinda, por que você não me disse?

— Ele escreveu a Nicholas, e também a alguns de seus amigos

mais próximos, mas ele não queria que tornasse assunto de fofoca e

pediu que eles ficassem calados. Nicholas me disse, mas ele me fez

prometer não contar a ninguém. E eu tomei como certo que o próprio

Margrave teria escrito a você para lhe contar.

— Bem, eu não sabia. Quando o vi, foi... — Ela se interrompeu e

passou a mão por sua testa, — bastante chocante.

— Eu posso imaginar.

— Mas o que aconteceu no quarto? — perguntou Joanna,

interrompendo a conversa e indo direto ao ponto, com sua habitual

impaciência. — Vocês fizeram as pazes?

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


180
— Joanna, por favor! — Belinda a repreendeu. — Você me

prometeu a cinco minutos que reprimiria e evitaria fazer a sua irmã

qualquer pergunta que não fosse delicada?

— Você também pode pedir que o sol viesse do leste, — disse

Edie a sua amiga.

Quando Belinda riu, Edie ficou surpresa ao ver o brilho que

irradiava. Com cabelo preto e olhos azuis, Belinda sempre foi uma

mulher de beleza espetacular, mas nesse dia estava particularmente

adorável.

— Deus, que linda você está! — Apontou encantada por poder

mudar o assunto. — Qual é o segredo? Algum creme novo?

Belinda começou a rir.

— Não, não é um creme novo, é algo completamente diferente,

mas isso pode esperar. Vamos sentar

Joanna e Belinda sentaram-se em seus lugares e Edie deu a volta

para que pudesse sentar de frente para sua amiga.

— E bem? — Ela insistiu, estudando-a cuidadosamente enquanto

tirava as luvas. — Diga-me de uma vez por todas porque você está

tão resplandecente.

Belinda corou delicadamente.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


181
— Estou esperando um filho.

— Um filho? Joanna e Edie disseram em uníssono, fazendo com

que Belinda risse.

— Vocês parecem surpresas, mas, afinal, eu me casei há um ano.

— Eu acho que é maravilhoso, — disse Joanna. — É quase como

se eu fosse tia. — Eu adoraria, — ela acrescentou com um suspiro de

nostalgia, — eu adoraria ser tia.

Edie a chutou debaixo da mesa.

— Você vai ter um filho, Belinda? Isso é verdade?

— Você disse que eu estava radiante, — sua amiga respondeu

enquanto lhe servia uma xícara de chá. — Pensei que tivesse

imaginado o motivo antes de se sentar.

— Não. Uau... — Ela interrompeu confusa. — Um filho.

Parabéns! Trubridge já sabe?

— Sim, e ele está encantado, é claro. Todos estão.

Belinda entregou a Edie o copo e, quando o pegou, inclinou-se

com uma expressão maliciosa dançando em seus olhos

— Acho que foi um prazer para Landsdowne — disse, referindo-

se a seu sogro odioso, o Duque de Landsdowne, que era

violentamente contra o casamento de seu filho.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


182
Belinda, apesar de ter sido casada com o conde de Featherstone e

levar uma vida decente, como uma viúva antes de se casar com o

Conde Trubridge, era americana e Landsdowne odiava os

americanos. Seu único consolo era que, como Edie havia apontado

maliciosamente, havia muitos americanos, incluindo ela mesma, que

o desprezavam.

—De verdade? — deu a ela um olhar cético por cima da xícara.

— E você acha que ele ficará feliz se for uma menina?

— Provavelmente não, — respondeu Belinda, — mas tanto

quanto eu detesto aquele homem, não posso culpá-lo por querer um

menino. Todo mundo quer um herdeiro.

— Sim. — Edie tomou um gole do seu chá e a xícara girou

quando ela colocou de volta no prato. — Todo mundo quer um

herdeiro.

Belinda, que sempre gostou de apreciar as nuances, olhou para

ela com preocupação, mas tinha tanta preocupação para fazer

perguntas quando Joanna estava presente. Edie ficou feliz porque a

última coisa que queria naquele momento era falar sobre seu próprio

casamento, e ainda muito menos com Belinda. Foi uma verdadeira

casamenteira e, embora soubesse que o casamento de Edie com

Margrave não fora um casamento por amor e como havia lembrado

o pai de Edie, ela era romântica o suficiente para aceitar uma

possível separação.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


183
—vNão posso acreditar que estamos ambas em Londres juntas,

disse Belinda, mudando delicadamente de assunto.

Edie rapidamente aproveitou essa oportunidade.

— Eu imagino. Quando liguei para Berkeley Street no início da

manhã, esperava que seu mordomo me dissesse que você já tivesse

ido para o Kent.

— Desculpe não ter atendido quando me ligou. Na verdade, eu

estava aqui, almoçando com um cliente. Está aberto a menos de

quinze dias e o Savoy já se tornou o hotel favorito de nossos

compatriotas. Mesmo assim, você recebeu a tempo meu convite para

o chá e conseguiu aceitá-lo, de modo que tudo saiu bem.

— Você ainda tem clientes? — Edie perguntou bastante

surpreendida com a notícia. — Trubridge permite que você continue

trabalhando como casamenteira?

Foi então Belinda quem ficou surpresa.

— Por que ele não deixaria?

Edie encolheu os ombros.

—Oh! Não sei. Os homens geralmente não gostam que suas

esposas se envolvam em negócios.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


184
— Ele sabe que é preferível que nem pense em me parar — disse

Belinda, rindo, — e eu não acho que poderia desaprovar isso. Seria

bastante hipócrita, considerando que ele também está envolvido nos

negócios.

Muitos maridos se importariam serem hipócritas, Edie evitou

apontar para fora. Em vez disso, ela sorriu educadamente, bebeu

outro gole de chá e pegou um pãozinho da bandeja.

— Então, — continuou Belinda, — apesar de casada, — continuo

vindo a Londres muitas vezes, mesmo em agosto. Mas sua presença

na cidade foi totalmente inesperada.

Não era, de fato, considerando as circunstâncias, mas, claro, não

podia explicar os motivos que a trouxeram para lá.

— De verdade? — perguntou e mordeu um pedaço de pão.

— Claro que sim! Querida, fugir de Highclyffe no verão é mais

difícil do que arrancar um marisco de uma rocha.

O pão em sua boca de repente virou serragem. Edie tomou outro

gole de chá, mas não ajudou muito. Nada poderia evitar a triste

realidade de que, o que quer que acontecesse com Stuart, seus dias

em Highclyffe estavam contados. Em breve deixaria de ser sua casa.

Sabia disso desde o momento em que viu seu marido na plataforma,

mas, até aquele momento, não conhecia a dor que isso causaria. Não

considerou o quão difícil seria dizer adeus

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


185
O único lugar que para ela tinha sido uma verdadeira casa.

“ Você realmente vai deixar tudo? Você vai virar as costas para

tudo o que você construiu? “

Lembrou-se das palavras de Stuart e sua alma caiu a seus pés.

Teria que desistir de Highclyffe, porque Stuart nunca permitiria que

continuasse a cargo da propriedade, uma vez que ela havia voltado

para casa. E por que faria isso? Highclyffe era sua casa. E nunca mais

será a sua.

Não haveria mais piqueniques no campo, nem buscas de

moluscos na areia ao lado de Joanna, sem banhos junto às rochas,

sem explorar as poças deixadas pelas marés. Adeus para a coleção de

castanhas no outono, e para os projetos de novos jardins na

primavera durante o inverno chuvoso. Abandonaria seu trabalho

com as instituições de caridade da cidade, um trabalho que sempre

lhe foi gratificante. Sua vida deixaria de ter sentido.

— Deus, Edie! O que aconteceu? Você está muito pálida.

A voz de Belinda a tirou de seu desconsolado devaneio, com um

sobressalto ela descobriu que sua irmã e sua amiga a observavam

preocupadas.

— Edie? — Joanna colocou a mão em seu braço. — O que

aconteceu?

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


186
— Nada, querida, — mentiu, forçando um sorriso. — Suponho

que é porque hoje eu mal comi e o açúcar do chá e do pão me deixou

um pouco tonta.

Joanna parecia satisfeita com essa explicação, porque a

preocupação desapareceu de seu rosto e ela retirou a mão.

— É verdade, você não comeu muito.

— Pegue um sanduíche, — sugeriu Belinda.

Mas quando Edie agarrou-o, lembrou-se das palavras do marido.

— Eu queria forçá-la da pior maneira sobre todos esses

sanduíches.

Maldição! Edie pensou enquanto mordia um pedaço de

sanduíche. Ela não queria que a forçasse. E, se deixar Highclyffe era o

preço que tinha que pagar para evitar isso, ela pagaria.

Havia outros lugares para viver, outras casas que poderiam ser

convertidas em um lar. Iria a qualquer parte do mundo que lhe

agradasse. Mas quando se perguntou aonde poderia ir quando esses

dez dias terminassem, temeu que não houvesse um único lugar na

terra que pudesse ser considerado seu lugar.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


187
Em relação às mulheres, Stuart nunca foi um homem que

precisou fazer planos antecipadamente. As cartas românticas escritas

com cuidado não eram para ele, nem os buquês de flores escolhidos

para expressar certo sentimento. Ele não era um homem de longos

namoros, cruzamentos de olhares, caminhadas com uma

acompanhante, fugaz e furtivo toque de mãos. Para ele, conquistar

uma mulher nunca foi uma campanha cuidadosamente planejada ou

um jogo de xadrez.

Mas durante o trajeto de carruagem do Savoy para seu clube, ele

começou a se perguntar se um pequeno planejamento em relação à

Edie não poderia ser bom.

Por enquanto, ele improvisou a proposta de passar os próximos

dez dias em Highclyffe, que sempre era preferível a ter que persegui-

la de um lugar para outro. Em Highclyffe, eles poderiam desfrutar de

privacidade e lembranças compartilhadas, pelo menos algumas. Mas

ele só tinha dez dias e sabia que precisaria usar cada minuto para seu

proveito. Enquanto observava a rua pela janela da carruagem e

ponderava qual seriam suas estratégias durante esses preciosos dias,

ele se viu completamente perdido.

Olhando para o passado, admitiu com certa tristeza que sua

sorte com o sexo oposto o transformou em um jovem bastante

arrogante. Pelo menos até que uma mulher com olhos verdes frios e

um coração ainda mais frio tivesse quebrado sua opinião alta opinião

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


188
sobre si mesmo. Não, sua experiência com outras mulheres nunca o

ajudou a lidar com Edie e ele duvidou que fosse suficiente para

conquistá-la naquele momento. Se ele a seduziria, precisaria muito

mais do que as táticas superficiais que ele usara com outras mulheres

durante seus anos de juventude.

A carruagem parou abruptamente e Stuart deixou suas

especulações e se descobriu em frente do White’s. Saiu do táxi

esboçando uma careta porque, devido ao tempo que passara entre as

carruagens e os trens, sua perna doía de maneira infernal. Ele desejou

ter andado do Savoy para o White's. Mesmo assim, nada que um

segundo uísque com refrigerante não pudesse aliviar.

Ele pagou o motorista e entrou no bar do clube, onde ordenou

uma bebida, pendurou a bengala no braço de uma confortável

poltrona de couro e sentou-se. Descansou a perna direita em um

estrado, começou a beber o uísque e refletiu sobre o próximo passo.

Ele olhou em volta, perguntando o que seus colegas pensariam

sobre seu dilema. Pouco, ele suspeitava, eles entenderiam. Alguns lhe

perguntariam por que ele não entrou diretamente no quarto da

esposa, lembrou suas obrigações e fez o que ele precisava para ter um

herdeiro. Outros sugeririam vistas mais severas sobre o assunto e

recomendariam que procurasse uma amante e deixasse o ducado cair

nas mãos de seu irmão. Para Stuart, a primeira nunca tinha sido uma

opção, e a segunda tinha deixado de ser.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


189
Claro, as coisas não estavam indo como ele imaginou durante a

viagem de volta à Inglaterra. Suas imagens do que um verdadeiro

casamento com Edie seria se tivesse sido baseado na idéia de que,

agora, ela teria esquecido seu antigo amor. Mas, embora isso tenha

provado ser uma suposição bem sucedida de sua parte, também não

fez diferença. Ele não tinha quebrado o gelo com Edie e nunca o

quebraria.

Mas, assim que essa idéia passou pela cabeça, ele a descartou.

Era um absurdo pensar em falhas e ele se recusava em pensar.

Concentrou-se na tarefa, a única que tinha que se preocupar naquele

momento. Teria dez dias para persuadir Edie a beijá-lo. Se

conseguisse, teria todo o tempo que necessitasse para conquistá-la de

maneira adequada.

Dez dias para um beijo. Quão fácil essa aposta teria parecido

antes de conhecê-la! Mas com Edie, parecia tão difícil como escalar

Kilimanjaro em seu estado. Edie não era uma mulher a quem pudesse

dizer alguns elogios, encher de champanhe e subir com ela até o

andar de cima. Algo que deveria agradecer, pois seus dias de subir

com mulheres nos braços haviam acabado. Claro, um pouco de

champanhe não faria nenhum mal, e talvez pudesse até ajudá-la a

baixar a guarda, mas precisava de algo mais. Ele precisava inflamar

seu desejo. Mas como?

— Stuart?

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


190
Stuart virou-se e descobriu o marquês de Trubridge ao seu lado,

junto com outro cavalheiro que ele nunca tinha visto em sua vida.

Stuart colocou o copo de lado e agarrou a bengala.

— Não se levante, — Nicholas disse quando Stuart começou a

sentar-se. — Não se incomode.

Mas Stuart o ignorou.

— Nick, — disse enquanto retirava a perna do estrado, agarrou a

bengala e levantou-se para cumprimentá-los. — Meu Deus, há

quanto tempo não vemos um ao outro?

— Dois anos pelo menos, — respondeu Nicholas, — balançando

a mão e apontando com o copo de uísque para o homem magro e

castanho que o acompanhava. — Você conhece o Dr. Edmund Cahill?

— Não tive o prazer.

— Nesse caso, devo apresentá-los. Doutor, este é Stuart James

Kendrick, o duque de Margrave. Ele é um antigo amigo meu, um

companheiro dos tempos de Eton.

— E também das bebedeiras em Paris, pelo que eu ouvi, —

acrescentou o médico, sorrindo.

— Minha reputação me precede? — Stuart perguntou. — Ou é a

tua?

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


191
— A sua, — respondeu seu amigo rapidamente. — Meus dias de

folia acabaram.

Stuart levantou a bengala.

— E também os meus, temo. Por favor, sente-se comigo, —

acrescentou imediatamente, antes do embaraçoso silêncio provocado

pela menção indireta de sua lesão.

Os recém-chegados sentaram-se em dois lugares mais próximos.

Stuart afastou o estrado, ignorando os protestos e insistiu em colocar

uma mesa no centro do grupo.

— Eu li sobre suas aventuras na África nos jornais, Excelência, —

comentou Cahill, uma vez que eles estavam confortavelmente

instalados e se serviam de suas bebidas. — Uma proeza navegar pelo

curso do rio Congo.

— Para não mencionar a descoberta de novas espécies de

borboletas, — acrescentou Nicholas. — Meu Deus, eu sempre invejei

a pesquisas científicas que você realizava.

— Muitas pessoas só se preocupam com minhas caças, — Stuart

disse com ironia. — Eles queriam ouvir sobre elefantes e leões, mas

não sobre borboletas.

— Bem, para os homens das ciências você é um homem

importante neste momento, — disse Cahill. — Entendemos a

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


192
importância da vida dos insetos na ordem natural. Por outro lado, —

acrescentou, sorrindo debaixo do grosso bigode, — os leões são

muito mais excitantes.

— E perigosos, pelo que eu entendi, — murmurou Nicholas. —

Desculpe-me pela perna, meu amigo, — acrescentou, tomando um

gole de seu uísque.

Stuart franziu a testa quando o ouviu. Não era próprio de Nick

abordar um assunto tão desconfortável.

— Como eu lhe disse quando escrevi para você, não foi

nenhuma surpresa. Os safáris e as explorações são perigosos e, de

alguma forma, cada vez que entrava na selva africana, meio que

esperava que algo desse tipo acontecesse. Na verdade, tive sorte, —

pensou em Jones e bebeu outro gole de uísque, queimou-lhe a

garganta. — Pelo menos não perdi a vida.

— Claro, claro, disse Nick, — levantando o copo para confirmar

esse sentimento antes de tomar um gole. — Mas e a perna? Ainda

dói?

— Está um pouco dolorida, mas posso aguentar.

— É uma lesão muscular? — Cahill perguntou com tal

desinteresse que Stuart imediatamente suspeitou.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


193
— Desculpe sua curiosidade, — pediu desculpas Nicholas. — É

puramente profissional. Dr. Cahill tem uma clínica na Harley Street e

é especialista em lesões musculares.

— Verdade? — Stuart sussurrou, olhando para o amigo. — Que

coincidência que vocês dois apareceram esta tarde ao mesmo tempo

em que eu!

— Na verdade, não é uma coincidência, — Nick contradisse,

sorrindo e inconsciente do olhar acusatório de Stuart. — Descobri que

você estava na cidade e imediatamente enviei uma nota para Cahill

para vir, supliquei-lhe que deixasse o resto de seus pacientes e me

encontrasse aqui para o resto da tarde. Estávamos à meia hora no

clube, esperando que você aparecesse.

— Você sentiu minha falta, não Nick? Gostaria de poder dizer o

mesmo, mas nunca sinto falta dos amigos grosseiros e de todos

aqueles que acham que sabem o que é melhor para mim.

— Cahill fez maravilhas com o meu ombro depois que Pongo

disparou contra mim, — Nicholas continuou, sem se perturbar com

os insultos. — Esse homem é uma maravilha.

— Estou lisonjeado, meu senhor, — disse Cahill, — movendo-se

desconfortavelmente na cadeira.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


194
Ele parecia um pouco desconfortável com os elogios do marquês

e sua intromissão claramente indesejada na condição de médico de

seu amigo.

No entanto, Nicholas ignorou o desconforto do médico tão

facilmente quanto a irritação de seu amigo.

— O argumento é que Margrave sofre dor, Cahill. Isso não o

negará — acrescentou, ignorando a recusa atordoada de Stuart. —

Você pode fazer algo por ele?

— Não, ele não pode, — disse Stuart antes do médico. — Já

consultei dois médicos. A cicatriz é muito profunda, tenho que

aprender a viver com a dor e não há mais nada sobre o que falar.

Cahill tossiu.

— Isso não é necessariamente verdadeiro. Existem técnicas

terapêuticas que podem ser utilizadas para aliviar a dor e aumentar a

mobilidade.

— Quais técnicas? Banhar-me em água mineral? Um dos

médicos me recomendou e, embora tentasse ir aos banheiros da

Evian10 de volta à Inglaterra, não consegui nada, exceto para aliviar a

10
Evian ( / eɪ v i ɒ n / AY -vee-on ; Pronúncia francesa: [ evjɑ] ) é uma marca de água
mineral proveniente de várias fontes perto de Évian-les-Bains , na margem sul do Lago de
Genebra .Hoje, a Evian é propriedade da Danone, uma corporação multinacional francesa. Além
da água mineral, o Grupo Danone usa o nome de Evian para uma linha de produtos de cuidados
da pele orgânicos, bem como um resort de luxo na França.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


195
dor por algumas horas. — Ele levantou o copo. — Se for a única coisa

que eu possa conseguir depois de passar por tanta dificuldade,

prefiro me afogar em uísque.

— A bebida nunca foi o remédio adequado, — protestou

Nicholas.

— Bem, eu também pensei em cocaína e láudano. — Stuart

bebeu outro gole e saboreou o calor gratificante do álcool, — mas o

uísque sabe melhor.

— Pelo amor de Deus, se dói, tornar-se um viciado não é a

solução. Terás que fazer qualquer coisa.

— Eu não sou viciado. — tomou outro gole de uísque e fez uma

careta. — Pelo menos, ainda. E, se fosse, não seria o seu negócio.

— Você pode ter certeza de que vou fazê-lo assunto meu.

— Cavalheiros, por favor, — Cahill interrompeu. — Você

poderia dizer algumas palavras a um verdadeiro médico? As águas

minerais podem ajudar, mas, como Vossa Excelência já concluiu, elas

são um remédio inadequado. Quanto à cocaína e ao láudano, sei que

muitos médicos dispensam-na sem pensar, mas, em minha opinião,

têm propriedades viciantes que as tornam opções indesejáveis. Não

tenho nada contra um bom uísque, mas posso sugerir um tratamento

muito mais eficaz.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


196
— Como qual? — Nicholas perguntou, ignorando o gemido de

exasperação de seu amigo.

— Isso depende. — Ele olhou para Stuart. — Você encontra

alívio na caminhada?

— A verdade é que sim — ele foi forçado a admitir, — andar me

ajuda.

— O exercício para esticar e alongar a musculação pode

proporcionar algum alívio, especialmente se combinado com

massagens e banhos em águas minerais. Mas devo examiná-lo

completamente antes de recomendar um tratamento específico.

Ele finalmente conseguiu prender a atenção de Stuart.

— Afinal, acho que poderia ajudar-me, doutor, — disse ele

endireitando-se na poltrona. — Gostaria de poder atender a sua

consulta, mas não tenho muito tempo. Amanhã parto para Norfolk,

então nossa consulta teria que ser esta tarde, está bem?

— Claro. Podemos começar minha consulta quando

terminarmos aqui.

— Excelente. — Stuart recostou-se em sua cadeira e, embora

sentisse seu otimismo reativado, estava ciente de que os possíveis

tratamentos para a perna não tinham nada a ver com aquela

empolgação.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


197
Capítulo 9

À noite, depois de feito o jantar, Edie sentou-se com Joanna e

tentou enfatizar a importância da discrição. Pelo menos, ela tentou.

Sua irmã, no entanto, não conseguia entender por que dizer a Stuart

onde ficariam em Londres havia sido uma falta de discrição.

— É o seu marido, não é? — Joanna respondeu, parecendo

compreensivelmente espantada. — Os esposos e as esposas não

precisam saber aonde o outro vai? E se algo acontecer com você?

— Stuart e eu não somos... Não somos como outros maridos e

mulheres. Vivemos separadamente, como você sabe muito bem.

— Mas agora ele está em casa. — Joanna olhou para a colcha na

cama de Edie, onde elas estavam sentadas. — E é terrivelmente bom.

E muito bonito. Não gostas?

— Querida, não é tão fácil, — disse Edie com um suspiro.

— É óbvio que ele gosta de você. E também deve gostar dele já

que se casou com ele. Você não pode tentar novamente?

— Não do jeito que você quer dizer, — disse ela.

Essa admissão deixou um sabor amargo na boca. Lembrou-se da

jovem romântica com quem ela tinha estado antes do incidente de

Saratoga e, assim como fez aquela noite no labirinto, ela se perguntou

como seria sua relação.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


198
— Quando eu era mais jovem, talvez, antes... — Interrompeu

quando ela lembrou que estava falando com sua irmãzinha.

— Antes de que? Antes de Frederick Van Hausen aparecer?

— Você está ciente disso? Mas você tinha apenas oito anos de

idade!

Joanna parecia surpresa.

— Sim. Lembro-me de papai gritando pela casa, dizendo que

Van Hausen teria que se casar com você porque ele havia arruinado

sua reputação.

Gostaria que arruinasse apenas sua reputação! Edie olhou para

frente, em direção à penteadeira, e fixou seu olhar no reflexo que

retornou o espelho. De repente, ela sentiu uma nostalgia que ela não

sentiu por anos, a nostalgia de todas aquelas coisas que Frederick lhe

tinha roubado.

— Você quer dizer isso, Edie? — A voz de Joanna explodiu em

seus pensamentos. — Lembro-me de papai dizendo que teria que ir a

Inglaterra para encontrar-lhe um marido porque sua reputação

estava arruinada. Ah!

A exclamação foi repentina e Edie ficou tensa para perceber pelo

olhar de Joanna que isso finalmente entendeu o que aconteceu.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


199
— É por isso que você se casou com Stuart? Para salvar sua

reputação?

Edie relaxou.

— Sim, em parte, — disse. — Não foi um casamento por amor,

— acrescentou.

E, embora pensasse ter visto uma sombra de desapontamento

nos olhos de Joanna, ficou feliz por ela ser a única que sofreu a

vergonha de sua desgraça. Pelo menos, ela tinha esse consolo.

— Nem todos os casamentos são por amor, — explicou

delicadamente.

— Eu sei.

— E, em todo caso, o amor não é garantia de que um

casamento tenha sucesso. Alguns casamentos funcionam e outros

não. Nós... Não funcionou.

— Mas você pelo menos poderia tentar certo?

Poderia? Edie tentou deixar de lado a sensação de pânico que

vinha sempre que contemplava essa possibilidade e pensava no

problema com toda a objetividade de que era capaz, mas quando ela

considerou o que isso significaria, balançou a cabeça.

— Não, creio que não, é tarde demais para isso.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


200
— Mas eu não entendo nada! — Joanna explodiu. — Tarde

demais? Você fala como se estivesse velha e você não está. Você tem

apenas vinte e quatro anos de idade.

— Não é uma questão de idade — era uma questão de medo, dor

e vergonha.

Ela sabia disso e, embora odiasse que esses sentimentos

estivessem pairando sobre ela como uma sombra, ela os havia

aceitado há muito tempo. Pelo menos, tal e como era a sua vida

naquela época, eles permaneceram escondidos. Eles estavam sempre

à procura, sim, mas era um sentimento suportável enquanto eles

estavam na sombra. Se ela e Stuart decidissem ter um casamento real,

ele iria querer, esperava e talvez até exigisse, acessar seu corpo

sempre que quisesse e não poderia suportá-lo.

— Estou satisfeita com a minha vida como está neste momento e

não quero mudar isso. Estou feliz e espero... —Parou para pegar a

mão de sua irmã. — Eu preciso saber que, o que quer que aconteça,

você apoiará minhas decisões e as respeitará. Por favor, diga-me, seja

lá o que for que acontecer, você estará do meu lado.

— Você é minha irmã! — Joanna respondeu com veemência. —

Claro que estou do seu lado!

No entanto, na manhã seguinte, mesmo aquela declaração foi

posta em evidência.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


201
Quando chegou a estação Victoria, Stuart já estava na

plataforma, esperando por elas. Ao ver esse homem tão alto no vapor

do trem, Edie recordou vividamente o que sentiu ao vê-lo na estação

de Clyffeton dois dias atrás, e como este homem colocou sua vida de

cabeça para baixo. Com a pele bronzeada e a bengala esculpida, ele

ainda tinha o ar exótico de um homem de um lugar remoto, mas

naquela ocasião, ele não estava cercado por pilhas de baús com

rebites metálicos e malas de pele de crocodilo. A única coisa aos seus

pés era uma enorme cesta de piquenique. As escritas carimbadas no

vime proclamaram que a cesta era tão britânica quanto o pudim de

ameixa da rainha Victoria.

— Fortnum e Mason? — Joanna gritou com entusiasmo

enquanto olhava para o monogramo F & M impresso no lado da

cesta. —Oh, Edie, olha, Fortnum e Mason!

— Sim, Joanna, eu vejo isso, — disse Edie, olhando para o

marido. — É um suborno, Stuart?

— Você pode chamá-lo de suborno. Eu prefiro dizer que é um

almoço. — Ele tirou o chapéu e curvou-se. — Bom dia, queridas

senhoras. — Ele saudou e se inclinou para acariciar o cachorro. — Olá

rapaz!

Snuffles, no entanto, fiel ao seu nome dedicou-se a inspecionar a

cesta com avidez e sua única saudação foi um movimento de cauda

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


202
relutante. Quando o cão encontrou a tampa e começou a tentar

levantar, Stuart inclinou-se, agarrou-a e pegou.

— Não! — Ele disse com firmeza. — Isso não é para você

— Vou levá-lo, — Excelência. — Reeves deu um passo à frente e

agiu com autoridade. — De qualquer forma, seria melhor se você já

subisse no trem e deixasse-o na sua caixa.

— Precisará da passagem.

Stuart colocou a bengala debaixo do braço e alcançou o bolso do

peito de sua jaqueta de tweed com colarinho cinza. Ele tirou as

quatro passagens e entregou uma da segunda classe para Reeves.

— O almoço está pago. Eu me encarreguei disso.

— Obrigado, Sua Excelência. — Reeves, a defensora fiel e

eficiente de sua senhora, enrolou seus lábios no que parecia com um

sorriso. Edie não podia acreditar no que seus olhos estavam vendo.

— O que você fez com a minha donzela? — Exigiu com um

sussurro feroz assim que Reeves estava longe o suficiente para não

escutá-la.

— Edie, realmente. — Ele lhe deu um olhar de reprovação. —

Como cavalheiro, não consigo responder a essa pergunta

inadequada.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


203
E, sem mais delongas, colocou o chapéu, escovou um fio de sua

jaqueta e tirou a bengala de baixo do braço. Depois, prestou atenção à

jovem Joanna que, seguindo o exemplo de Snuffles, estava tentando

ver o conteúdo da cesta.

— Joanna, não olhe.

Joanna endireitou-se imediatamente.

— Eu amo Fortnum e Mason! É a minha loja favorita em

Londres. E também de Edie.

— Ah sim? — Ele olhou para Edie com um sorriso dançando na

comissura de seus lábios. — Que curioso!

Foi um sorriso excessivo para a paz de espírito de Edie.

— Você parece satisfeito consigo mesmo esta manhã, —

ressaltou.

— E isso a incomoda? — Ele sorriu. — Você já está começando a

se preocupar, certo?

— Não estou preocupada, estou divertida, de fato, — respondeu

com dignidade e apontou para a cesta a seus pés. — Você realmente

acha que pode ganhar meu carinho com uma cesta de piquenique?

— Não, — ele respondeu imediatamente. — E, precisamente por

essa razão, — esta cesta não é para você. É para Joanna.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


204
Joanna gritou com entusiasmo.

— Para mim? Ooh, que maravilha!

Edie enfrentou o olhar divertido de Stuart com um olhar irônico.

— Eu não posso acreditar que você está subornando minha irmã

para ser cúmplice no crime.

Stuart deu-lhe um olhar de desculpas zombador.

— Aparentemente, não tenho princípios.

— Você deve estar muito desesperado para recorrer a táticas, —

disse Edie, talvez com mais segurança na voz do que realmente

sentia. — Mas Joanna ainda é minha irmã. Você não pode comprar

sua lealdade.

— Há chocolates na cesta? — Joanna perguntou.

Ela abaixou novamente, mas Stuart usou a ponta da bengala

para fechar a tampa novamente antes que ela pudesse encontrar a

resposta para sua pergunta.

— Eu disse para você parar de bisbilhotar. Você terá que esperar

até a hora do almoço para descobrir o que está dentro dessa cesta.

Seja boazinha, — ele acrescentou, silenciando seus protestos na

espera enquanto ele entregava as contas restantes. — Cuide disso no

meu lugar.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


205
Quando Joanna obedeceu, Stuart abaixou-se para pegar a cesta

pelo punho e pegou.

— Vamos?

Sem esperar por uma resposta, se virou e começou a andar em

direção ao trem com Joanna ao lado dele. Edie foi atrás deles e viu-o

atravessar a plataforma. Achou que parecia estar carregando essa

cesta pesada muito bem. Não podia deixar de notar a rigidez em sua

perna direita enquanto se movia e se perguntou se ele deveria

chamar um rapaz para ajudá-lo. Quando Stuart estava à porta do

vagão de primeira classe para que Joanna e ela pudessem subir, Edie

não seguiu imediatamente a irmã quando começou a subir os

degraus que levavam ao trem, mas parou ao lado de Stuart e apontou

para a cesta.

— Talvez eu devesse levá-la...

— Não, obrigado, posso levá-la.

— Se você não quer que eu o pegue você deve ligar para um

rapaz para ajudá-lo.

— Nunca fui bom em fazer o que supostamente deveria.

Ele falou em um tom de suave, mas havia uma indicação

inconfundível de dureza sob a superfície de sua voz que contou a

Edie que argumentar era inútil. Então ela entrou no trem, mas,

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


206
enquanto seguia sua irmã pelo corredor que separava as duas filas de

assentos largos alinhados em cada lado do carro olhou por cima do

ombro para vê-lo. Stuart entrou no trem com a cesta em uma mão

e a bengala na outra, mas Edie sabia que a perna doía. Ela notou a

careta de dor que atravessava seu rosto e, embora provavelmente não

fosse útil, ela desejou ter sido mais beligerante quando se tratava de

defender a necessidade de um ajudante.

— Edie? — A voz de Joanna veio do final do carro, mas Edie não

se virou.

Ela manteve o olhar fixo no homem que avançava em sua

direção ao longo do corredor.

— Você é sempre tão estúpido? — Perguntou quando ele parou

na frente dela.

— Eu receio que sim, — ele sorriu. — Tem certeza de que não

quer desistir agora? Vou garantir que valha a pena, eu prometo.

— Edie! — Ela era novamente Joanna, impaciente e

entusiasmada. —Pare de perder tempo e olhe!

Edie respirou fundo, agradecendo de todo o coração essa

distração. Ela virou-se, afastando-se desses olhos cinzentos e

encontrou a irmã a poucos metros de distância dela, com um enorme

sorriso no rosto.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


207
— Deus, Joanna! Que sorriso! De onde que vem de repente tanta

alegria?

— Olhe o que está em seu lugar.

Ela apontou para a direita com um arco dramático e Edie deu

um passo à frente para ver o que estava em seu assento. Ali, em toda

a sua esplêndida glória inglesa, descansava outra cesta de piquenique

de Fortnum & Mason.

— Essa é sua, — Stuart sussurrou depois dela.

Da garganta de Edie escapou um grito de alegria sem poder

fazer nada sobre isso, mas pressionou seus lábios imediatamente,

esperando que Stuart não tivesse ouvido. Ele poderia estar jogando

para vencer, mas ela também, e ela não queria lhe dar o menor

suspiro. Mas quando se virou e olhou nos olhos dele, percebeu que

era tarde demais.

— Estou feliz que você gostou do meu presente, — disse ele, com

seu sorriso aprofundando as rugas nos cantos dos seus olhos. —

Também comprei todos os seus produtos favoritos: pão fresco,

manteiga irlandesa, azeitonas, patê, salmão defumado, cerejas... Eu

até comprei uma lata desses feijões americanos, embora meu paladar

britânico continue desconcertando você.

— Como você descobriu quais eram meus produtos favoritos da

Fortnum e Mason? — Mas quando fez à pergunta, ela soube a

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


208
própria resposta. —Joanna! — disse, sentindo desesperadamente em

desvantagem naquele momento. — Não falamos sobre a importância

da discrição ontem à noite?

— Eu não disse nada! — Joanna defende-se, rindo enquanto

sentava de frente a Edie, em outra fila e em um assento

diagonalmente oposto a ela, de costas para a máquina. — Desta vez

não fui eu, eu juro. Embora eu tivesse dito a ele se ele tivesse me

perguntado, — acrescentou e se inclinou para olhar Stuart, que estava

atrás de sua irmã. — Também gosta de champanhe!

Stuart também se inclinou para responder.

— Obrigado, querida, mas eu sempre soube disso. E essa é a

razão pela qual, — acrescentou quando se endireitou e voltou sua

atenção para Edie, — o motorista tem uma excelente garrafa de

Laurent-Perrier esfriando no gelo neste momento.

— Você também trouxe champanhe?

— Claro. O que mais poderia se beber com uma cesta da

Fortnum e Mason? A verdadeira questão é, — interrompeu-se por

um momento de segundo, e quando falou novamente, sua voz era

apenas um sussurro que só Edie pôde ouvir. — Como você vai me

agradecer?

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


209
Edie sentiu o estômago revirar. Era uma estranha sensação de

leveza, como quando o elevador elétrico do Savoy subia. Ela tentou

ignorá-la.

— Que tal um simples obrigado?

— Que simples.

Edie entendeu imediatamente onde ele queria chegar.

— Eu suponho, — murmurou em resposta, — que você

preferiria um beijo.

Stuart inclinou-se para ela e, quando Edie olhou nos olhos dele,

viu suas profundidades cinzentas escurecerem. E, sem nenhuma

razão em particular, corou mesmo antes de Stuart responder:

— Sim por Deus!

Edie encolheu os dedos dos pés dentro de seus sapatos e sentiu

um formigamento nas pontas de suas mãos.

—Você poderia fazê-lo aqui, — continuou Stuart, sua voz baixa o

suficiente para que ela pudesse ouvi-lo. — Pense em quão divertido

seria.

— Você tem umas ideias muito estranhas sobre o que é

divertido, — zombou, lutando para responder com tanto desdém

quanto possível.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


210
Mas, para sua mortificação, sua voz saiu em um sussurro

estrangulado porque não era capaz de respirar corretamente.

— Você diz isso porque você não me beijou. — baixou os olhos e

fixou-os em seus lábios. — Ainda assim.

O calor que Edie começara a sentir nas pontas de seus dedos

imediatamente fluía pelo resto do corpo. Ela corou, sua garganta

ficou seca e seus braços e pernas estavam inexplicavelmente

lânguidos. Era uma sensação tão estranha, tão diferente de tudo o

que sentira até então, que não sabia o que fazer.

Ela queria mudar, mas não conseguiu encontrar a força de

vontade para fazê-lo. Queria desviar os olhos daqueles olhos

cinzentos e a promessa trancada em suas profundezas, mas também

não podia.

Tinham sido apenas uma cesta de piquenique, champanhe e um

ligeiro flerte, o tipo de ferramentas que qualquer homem usaria para

seduzir. E, apenas no dia anterior, Edie disse a si mesma que essas

táticas não funcionariam com ela. A possibilidade de ele estar

empenhado para abrandá-la a forçou a sair do atordoado assombro.

— Devemos nos sentar, — ela disse muito digna. — As pessoas

estão começando a nos olhar e, apesar de suas tentativas abertas de

flertar comigo, eu não pretendo dar a ninguém razão para esse

escrutínio.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


211
— Realmente Edie, cadê o seu senso de aventura? — Stuart

suspirou e balançou a cabeça. — Como você diz, mas, se você quer

que nos sentemos primeiro você terá que se pôr um pouco para você.

Quando Stuart ergueu o cesto nas mãos, Edie percebeu o que ele

estava tentando dizer e recuou vários passos para sair do caminho.

Stuart moveu-se para deixar a cesta de Joanna na pequena mesa ao

lado da janela da adolescente. Então ele pegou a de Edie e a deixou

em sua mesa para que ela pudesse sentar-se. Sentou-se em frente

dela, apenas a tempo, porque mal tinha acabado de colocar o chapéu

e a bengala debaixo do assento quando o assobio de partida do trem

soou e ele começou a sair da estação.

— Onde está sua cesta? — perguntou Edie, levantando a voz

ligeiramente para que ele pudesse ouvi-la sobre o barulho da

máquina quando o trem começou a acelerar.

Stuart sorriu.

— Mesmo eu, com a apreciação que tenho por Fortnum e Mason,

pensei que três cestas eram um exagero. Espero compartilhá-la com

você.

— Ainda não olhei minha cesta. — Respirou profundamente. —

Não sei se vou querer compartilhar.

— Você será capaz de me deixar passar fome?

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


212
— Você não precisa passar fome. Existe um vagão restaurante.

Ou talvez Joanna esteja disposta a compartilhar a cesta com você.

Parece que recentemente vocês se tornaram melhores amigo.

Stuart inclinou-se para aproximar-se dela.

— Está com ciúme? — Ele sussurrou. —Tem medo de se sentir

deslocada?

— Não! — Ela negou.

Mas sua resposta foi muito veemente. Sim, estava um pouco

enciumada. Que horror!

— Não se preocupe, — Stuart tranquilizou-a como se tivesse lido

seus pensamentos. — Você continua sendo sua favorita. Eu ocupo

um segundo distanciado lugar.

— O terceiro — ela teve o prazer de informá-lo. — Meu pai está

muito à sua frente.

— Eu reconheço meu erro. Mas então, você não vai compartilhar

sua cesta comigo? Vamos, Edie. — Ele tentou convencê-la. — Se eu

até lhe comprei champanhe.

— Você é o homem mais ridículo que eu conheço! — Mas sua

voz não soava remotamente tão firme quanto ela gostaria. — E, ao

contrário da minha irmã, não é fácil subornar-me.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


213
— Mas o champanhe é uma excelente marca. A mesma que

tomamos aquela noite no jardim.

Edie olhou para Joanna e inclinou-se para ele.

— Abaixe sua voz, — ela repreendeu. — Você lembra-se da

marca de champanhe que bebemos?

— Lembro-me de tudo o que aconteceu na noite em que nos

conhecemos, Edie, — disse ele, baixando a voz em resposta a seu

pedido. — Como não me lembrar? Aquela noite mudou minha vida.

A última vez que tomamos champanhe juntos, coisas maravilhosas

aconteceram. Estou ansioso para a história se repetir.

— Você quer dizer que se eu beber com você, você irá? — Ele

sorriu docemente. — Vá buscar a garrafa.

— Você está muito decidida a me manter à distância, certo? —

Stuart inclinou a cabeça e a estudou com atenção. — Eu adoraria

saber por quê.

— Não, — ela respondeu com veemência, — você não adoraria.

Apesar do champanhe, — continuou antes que Stuart decidisse

aprofundar essa pergunta, — não tenho certeza que você está

jogando de forma justa. Você está se aliando com minha irmã e isso

significa que vocês são dois contra um. — Onde está o seu senso

esportivo britânico?

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


214
— Tento usar todas as armas que tenho em meu arsenal. E, em

sua defesa, devo dizer que não foi Joanna quem me contou sobre sua

paixão pelo Fortnum e pelo Mason. — Então, como você descobriu?

— Graças a Reeves, é claro. Eu também lhe comprei uma cesta.

Você pode vê-lo? — Acrescentou quando ela gemeu. — Não somos

dois contra um, mas três. E, quando chegarmos a casa, vamos ser

ainda mais em número. Os outros servos também estarão do meu

lado. Muito em breve, todos estarão em conspiração em uma grande

conspiração que a forçará a beijar-me.

Edie ficou horrorizada em seu assento.

— Você não pode fazer isso! Não pode!

— O que ele não pode fazer? — Joanna perguntou do outro lado

do corredor, invadindo a conversa e fazendo com que Edie

percebesse o quanto alto ela estava falando.

— Não é nada, querida, — disse ele, e recostou-se em direção a

Stuart. — Você não pretende informar os servos da nossa aposta,

certo? — Ela sussurrou.

— Eu já avisei você. Vou usar todas as armas que tenho

disponíveis.

— Os criados estão me servindo por cinco anos, ela respondeu.

— Você acha que ganhará sua lealdade em apenas alguns dias?

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


215
— Não tenho que ganhar a sua lealdade. Eu nasci com ela. Eu

sou o duque. — Além disso, — ele acrescentou, recostando-se em seu

assento com um sorriso, — Cecil é um idiota inútil que não pode ser

retirado da Escócia e todos os criados sabem disso. Portanto, a

esperança de ter um herdeiro estimula todos os habitantes de

Highclyffe a planejar os atos mais sem vergonha para conciliar-nos.

Você não tem esperança de ganhar.

Edie recuou contra o encosto. Estava horrorizada demais para

responder. Os dez dias de repente pareciam uma eternidade.

Chegaram a Highclyffe logo antes do tom e Edie foi diretamente

para o quarto, temendo que, em breve, esse fosse seu único refúgio.

Mas nem mesmo recebeu o privilégio de privacidade que

normalmente era concedido a qualquer mulher casada nos seus

quartos.

Depois de vestir um vestido de seda rosa, pediu a Reeves que

partisse, mas não antes de lembrá-la mais uma vez da necessidade de

ser mais discreta no que diz respeito a seu marido, e acabou de se

jogar na cama quando bateram na porta.

— Posso entrar? — A voz de Stuart, embora abafada pela grossa

porta de madeira, era inconfundível. E, antes que Edie pudesse

responder com a recusa mais enfática, ele abriu. — Você está vestida?

— Ele perguntou através da abertura.

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Edie levantou-se imediatamente.

— Não, eu não estou vestido! — Ela mentiu, na esperança de

impedi-lo de entrar. — E você não tem direito de entrar em meu

quarto.

— Não estou no seu quarto, estou no corredor e, uma vez que

você não está vestida, não vou olhar. Eu exercito meu verdadeiro

cavalheirismo e vou olhar o tapete.

Ele puxou a cabeça para fora. Parecia estar realmente olhando

para o chão. Edie suspirou.

— Pelo amor de Deus, você não precisa olhar para o tapete! Eu

não estou nua, então pare de imaginar essa possibilidade.

— Eu sempre estou imaginando essa possibilidade em

particular, — disse ele. — Ele abriu a porta completamente e

endireitou-se para olhar para Edie. — Na África, quando eu estava

sentado fora da tenda à noite, imaginei essa possibilidade muitas

vezes.

— Não. Claro que não.

Pensou nela quando estava na África? Ele a imaginou nua? Edie

corou violentamente, mas, ao mesmo tempo, seu coração pulou uma

batida que não tinha nada a ver com constrangimento.

— Sim, Edie, sim.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


217
Ele entrou, mas quando começou a fechar a porta, Edie entendeu

que era uma invasão de sua privacidade que ela não poderia

suportar.

— Deixe-a aberta.

Stuart ergueu as sobrancelhas ligeiramente na ponta firme de

sua voz, mas não se opôs.

— Se você quiser, — ele disse, e abriu a porta novamente. —

Simplesmente, pensei que o corredor não era o lugar mais apropriado

para falar sobre minhas fantasias carnais sobre você quando estava

na África. E, a propósito, — continuou ele, olhando nos seus olhos do

outro lado da sala, — não tenho intenção de parar essa atividade

particular agora que estou em casa.

A cor das bochechas de Edie se intensificou. Ela se sentiu

vulnerável, exposta, como se estivesse realmente nua. Ela se envolveu

firmemente nas dobras de seda rosa e se virou, de repente sentindo a

necessidade desesperada de fazer algo. Foi até a penteadeira, sentou-

se e começou a mexer com os frascos, como se escolher um creme

para mãos de repente era a coisa mais importante do mundo.

— Eu me pergunto o que você pensou de mim enquanto eu

estava ausente, — Stuart continuou enquanto abriu um frasco, —

mas tenho certeza de que você não pensou.

— Isso não é verdade.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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As palavras saíram da boca e não havia nada que pudesse fazer

para detê-las, e desejava que as tivesse reprimido, porque a faziam

sentir-se ainda mais vulnerável do que antes.

— Teria sido impossível, — ela improvisou enquanto olhava

para Stuart através do espelho. — Todos estavam constantemente

falando sobre você. Sua jornada pelo Congo saiu em todos os jornais.

E a borboleta que você descobriu apareceu em todas as publicações

científicas.

Stuart inclinou o ombro contra o batente da porta e olhou para o

rosto no espelho, sorrindo de uma maneira que a fazia querer ainda

mais ter mordido a língua.

— Você também lê revistas científicas?

Edie abriu o pote, pegou um pouquinho de creme e começou a

esfregar as mãos com vigor desnecessário.

— Você queria alguma coisa? — Ela perguntou a Stuart,

desesperada por mudar o assunto.

— Na verdade, sim. Eu vim perguntar se você gostaria de tomar

chá no terraço ao lado da biblioteca.

Edie parou o movimento de suas mãos quando lembrou a última

vez que tomaram chá no terraço.

— Nós podemos faz isso, Edie? Afinal, somos casados.

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—Quer que tomemos chá juntos? — perguntou, lutando para

ficar frio e indiferente enquanto olhava para o reflexo de Stuart no

espelho. — É essa parte das suas duas horas hoje?

— Não pretendo exigir isso, se é o que você quer dizer.

Simplesmente, pensei que, tomando chá juntos, teremos a

oportunidade de nos conhecermos melhor. E, — ele acrescentou

suavemente, — eu tenho boas lembranças desse terraço.

Havia uma ternura no rosto dele. E Edie sofreu vendo isso,

porque isso fez com que ela pensasse sobre o que sua vida poderia ter

sido como se a coisa de Saratoga não tivesse acontecido.

— Eu não acho que seja uma boa idéia tomar chá com você no

terraço, — disse ela depois de um momento.

— É apenas um chá, Edie. Joanna e sua governanta também

estarão conosco. — Ele sorriu um pouco. — Você pode ver? Estou

impedindo meus próprios desejos de forçá-la a fazer sanduíches de

pepino.

Deus bom, se ela não conseguisse se sentar com ele para um chá

inofensivo, os dez dias que estavam chegando seriam insuportáveis.

— Você está certo, é claro, — disse. — Dê-me alguns minutos e

vou encontrá-lo no terraço.

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220
Stuart assentiu com a cabeça e saiu e Edie fixou sua atenção no

espelho, reparando o rubor com um pouco de desconforto. A idéia de

que Stuart imaginara seu corpo nu a atordoava, desconcertava-a e

causava medo, mas um medo de um tipo diferente do que costumava

fazer. Isso fez com que ela se perguntasse o que Stuart pensaria se a

visse nua e temia que provavelmente se decepcionaria.

O que foi um medo totalmente ridículo. Não só porque ele nunca

teria a chance de vê-la nua, mas porque não se importava pelo menos

com o que ele pudesse pensar. Edie pegou o pente para tentar

controlar alguns cachos rebeldes em sua testa, mas assim que ela

percebeu o que estava fazendo, ela parou. Se ela não se importava

com o que ele pensava, por que se arrumar tanto?

Ela bruscamente deixou o pente, levantou-se e puxou o cordão

para chamar Reeves e pediu-lhe para ajudá-la a vestir-se

adequadamente para o chá. Quanto a empurrá-la sobre sanduiches,

Stuart poderia pensar o que quisesse, mas mesmo na ausência de

Joanna e a Sra. Simmons, não teria chance.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


221
Capítulo 10

Quando Stuart saiu para o terraço, Joanna já estava lá. E com ela

estava à mesma mulher curta, de cabelos grisalhos e inflexíveis que

reconhecera na plataforma de Clyffeton como a governanta de

Joanna. A apresentação de Joanna confirmou que era ela.

— É um prazer conhecê-la finalmente, Sra. Simmons. Eu vejo

que já retornou de sua viagem a Kent. Eu ofereço minhas desculpas,

porque temo ter sido eu a causa de ter embarcado na viagem sem sua

protegida.

Os olhos azuis claros da governanta brilhavam ligeiramente,

indicando que, apesar do gesto constante de sua boca e daquela aura

de correção inexpugnável, ela tinha um senso de humor e conhecia a

teimosia de Joanna.

— Também é um prazer conhecê-lo, Excelência, e não me deve

desculpas, asseguro-lhe.

Ele apontou para a mesa, onde o chá tinha sido servido com uma

toalha branca e intocada.

— Posso servir-lhe uma xícara de chá? — perguntou.

— Sim, obrigada, eu adoraria.

— Já viu Edie? — Joanna perguntou. — Virá ao chá com a gente?

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


222
— Entrará em um momento. Sem açúcar, Sra. Simmons, — ele

disse enquanto observava a governanta agarrar os torrões de açúcar.

E sem limão ou leite. Eu gosto de chá sozinho.

— Nem mesmo açúcar? — Joanna perguntou, parecendo

atordoada.

— Eu me acostumei a tomá-lo sozinho quando eu estava na

África, —explicou. — Não estávamos muito bem abastecidos com

leite, açúcar e limões quando estávamos no meio da floresta. Mas,

além de tudo, bebia café, porque era a coisa mais fácil de conseguir.

— Joanna e eu lemos alguns artigos sobre sua expedição do

Congo — falou a governanta enquanto colocava a xícara cheia no

prato e segurou-o sobre a mesa. — Certo Joanna?

— Nós lemos tudo o que saiu nos jornais, — ela disse enquanto

derramava creme em um bolo esponja. — Parecia incrivelmente

excitante.

— Tenho medo de ser mais desastroso do que emocionante, —

disse Stuart, pegando um sanduíche da bandeja. — Foi incrível que

pudéssemos terminar a expedição, porque tudo o que poderia ter

dado errado, deu errado. —Perdemos uma grande quantidade de

suprimentos, incluindo remédios, pólvora e balas. Todos os meus

homens sofreram um ataque de febre por três semanas e fomos

atacados duas vezes por saqueadores. E, se isso não fosse

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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suficientemente ruim, nós tínhamos cartógrafos ingleses e franceses.

Tinha que ser uma expedição colaborativa, mas havia pouca

cooperação entre eles. A rivalidade era feroz e, desde que eu era o

guia, eles esperavam que eu fosse o único a manter a paz.

— A mesma rivalidade que existe em matéria de religião, parece,

—disse a Sra. Simmons. — O Sr. Ponsonby, nosso pastor, está muito

comprometido com o trabalho das missões, como tenho certeza de

que você sabe. Em uma ocasião, ele comentou sobre o quão terrível é

para os missionários ingleses trabalharem em território francês

porque autoridades e guias católicos se recusam a ajudá-los.

Stuart mudou-se desconfortavelmente na cadeira e não pôde

deixar de levantar os olhos para o céu com a menção do vigário.

Ponsonby era um charlatão justificado que não sabia nada sobre a

África e seus habitantes. Felizmente, a Sra. Simmons estava ocupada

derramando uma segunda xícara de chá, e quando olhou para cima,

Stuart já conseguiu disfarçar seu desprezo pelo homem.

— Sim, o Sr. Ponsonby está muito comprometido com as

missões, —disse ele, mostrando grande gentileza para evitar que a

opinião negativa que ele tinha sobre esse religioso se refletisse em sua

voz. —/Mas o Congo é um lugar selvagem, mesmo para os homens...

— Ele interrompeu e tossiu, — mesmo para o clero.

— O que, do seu ponto de vista, dá muito mais valor às suas

proezas. Ele diz que esta expedição cartográfica fornece mapas e

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informações que se revelam inestimável para o trabalho dos

missionários.

— Estou encantado de ouvi-la, — respondeu Stuart, mas temia

que ele não tivesse insuflado uma quantidade suficiente de

entusiasmo na voz. —Mesmo assim, depois dessa viagem, decidi

realizar minhas próximas expedições exclusivamente em território

com influência britânica. Eles são muito mais fáceis de organizar e a

África Oriental foi muito mais agradável que o Congo.

—Nós vimos à borboleta que você descobriu, — Joanna disse. —

está exposta no Museu Britânico. Nós estávamos lá no ano passado.

— Não sabia que a tinham exposto. A última coisa que eu sabia

era que eles estavam considerando essa possibilidade. — Ele olhou

para a Sra. Simmons. Estou feliz que você esteve em viagem ao

Museu Britânico com sua aluna. A governanta da minha irmã pensou

que, com a aprendizagem do francês e algumas regras de cortesia,

seriam mais do que suficientes para uma dama.

— Eu não concordo com um modelo tão limitado de educação, é

verdade, — disse a Sra. Simmons — mas não posso atribuir o mérito

dessa visita. Foi a Sua Excelência quem levou Joanna para ver a

borboleta.

Um flash branco chamou a atenção de Stuart e, quando ele

levantou, viu Edie nas portas do terraço da biblioteca.

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— Verdade? — Ele sussurrou. — Que honra.

Edie vestia um vestido branco com renda de Battenberg. A

luminosidade do branco a fez parecer radiante quando se expôs à luz

solar. A imagem de Edie nua no meio das folhas brancas surgiu na

mente de Stuart, assim como aconteceu à última vez que tomaram

chá juntos. Sua garganta ficou seca.

— Na verdade, não foi assim, — Edie esclareceu quando chegou

ao terraço. — A levei para ver as fotos. Houve uma exposição de

Monet e Joanna adora arte. Mas aconteceu que a borboleta estava

exposta lá no mesmo tempo.

— Mas você também queria vê-la, — Joanna lembrou-lhe com

inconfundível alegria maliciosa. — Você me disse.

— Ah sim? — Seu rosto era duro e frio como o mármore. Não

havia nem um leve rubor para indicar o que estava pensando. — Não

me lembro.

Stuart levantou-se e, enquanto a via atravessar o terraço pensou

que poderia distinguir sua silhueta ágil e fina sob as camadas de

roupa branca. O desejo começou a fluir através de seu corpo. Ele

tentou detê-lo, para dizer a si mesmo que o que viu sob o pano era

apenas o produto de sua imaginação, mas não parecia lhe servir

muito. Sentiu um profundo alívio quando Edie sentou-se, porque ele

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podia sentar-se também e deixar a mesa esconder, pelo menos em

parte, do que sentia.

Mas, aparentemente, ele não conseguiu esconder sua expressão,

porque Edie parou quando estava pegando o bule e olhou para ele

em frente à mesa.

— Aconteceu algo?

Stuart empurrou a imagem de Edie nua no meio dos lençóis e

inventou apressadamente uma desculpa.

— Estou emocionado, Edie. Você realmente viu minha

borboleta?

Edie não respondeu. Em vez disso, se inclinou para servir-se de

chá e quando terminou, o chapéu de palha de largas abas com fitas

brancas escondeu sua expressão.

— Tanto Joanna quanto eu queríamos vê-la, — explicou. —

Todos falavam sobre ela na época.

— Era lindo, — disse Joanna. — Azul profundo com manchas

amarelas. Pintei uma aquarela da borboleta.

— Realmente, querida? Eu adoraria ver isso.

Joanna parou quando ela estava colocando um pedaço de bolo

na boca.

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— Está falando serio? — Ela jogou o guardanapo de lado,

colocou o bolo no prato e levantou-se. — Edie enquadrou-a e

pendurou-a na sala de estar. Venha, eu vou te mostrar.

— Por favor, Joanna, — Edie começou, sem olhar para cima e

aparentemente fascinada com a variedade de produtos de pastelaria

na bandeja, — deixe-me terminar o chá primeiro.

— Eu vou vê-la depois do jantar, — ele prometeu, e recostou-se

na cadeira para apreciar a vista em frente a ele.

Que pena esse chapéu, pensou ele, estudando o rosto de sua

esposa sobre a mesa. Ele entendia que a brancura de sua pele exigia a

proteção de um chapéu, mas mesmo assim, queria que tirasse ele

porque gostaria de ver seus cabelos brilhando ao sol, como aquela

tarde de cinco anos atrás. De qualquer forma, talvez fosse melhor

mantê-la escondida, uma vez que outra distração como essa

dificilmente poderia ajudar a manter o desejo sob controle.

E era importante que fizesse isso. O que contava era que Edie o

beijasse e não, infelizmente, o contrário. Graças à sua consulta com o

Dr. Cahill, ele tinha, finalmente, uma estratégia que lhe permitiria

alcançá-la, mas a sua implementação, o controle e a autodisciplina

eram necessários. Não seria fácil se ele se excitasse com o simples fato

de vê-la atravessar o terraço.

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Em qualquer caso, antes de se preocupar com esse problema

particular, ele tinha outro para resolver. Ele poderia ter duas horas

por dia em sua companhia, mas não poderia forçá-la a colaborar com

o que ele tinha em mente. Ganhar a vontade de cooperar seria difícil,

porque Edie costumava adivinhar quais eram suas verdadeiras

intenções.

Quando terminou a segunda xícara de chá, Stuart já tinha

conseguido banir o desejo, pelo menos o suficiente para que não fosse

dolorosamente óbvio no momento em que ele se levantasse. Quando

Edie colocou a xícara no prato e jogou o guardanapo, Stuart interviu

antes que ele pudesse se levantar.

— Você não acha que vai querer mais chá, Edie?

— Não quero, por que pergunta?

— Porque, se você terminou, acho que deveríamos levar o

cachorro para passear. Seria bom para você depois de passar tantas

horas imobilizada no trem, você não acha?

— Tenho certeza de que o Snuffles adorará dar uma volta.

Talvez Joanna e você...

— Joanna ainda não terminou o chá, — interrompeu Stuart antes

que Joanna pudesse falar. — Não, Edie, receio que seja nossa vez.

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Ele comeu o último pedaço de sanduíche, pegou a bengala e

levantou-se.

— Vamos amigo. Você pode passar as próximas duas horas

ensinando-me o que você fazia nos jardins enquanto eu estava fora.

Assim que ele mencionou esse período, Edie entendeu. Ela

assentiu silenciosamente e levantou-se, embora com relutância.

Enquanto isso, ele andou pela mesa e retirou a alça de couro da parte

de trás da cadeira.

— Venha, meu amigo, — ele disse ao cachorro quando eles

andaram pelo terraço em direção aos degraus que levavam a

escadaria do sul. — Eu me recuso a chamar-lhe Snuffles. — Não

entendo por que sua dona deu a um terrier tão magnífico como você,

um nome tão ridículo.

— Não me culpe, — Edie se defendeu quando se viraram para a

estrada de cascalho que atravessava o gramado em direção aos

jardins. — O nome foi dado por Joanna.

— E você permitiu que ela desse esse nome para um terrier

norueguês com mais de cem anos de pedigree impecável? Realmente,

Edie?

— Bem, naquela época ela tinha apenas onze anos e tinha

acabado de perder o gatinho. Nessas circunstâncias, não consegui

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dizer-lhe que não. A mimei em demasia, eu sei, — ela acrescentou

com um suspiro.

— Criar uma garota não é fácil, suponho. Especialmente quando

você tem que fazer isso sozinha. O que seu pai pensa?

— Prefiro ter Joanna comigo, e meu pai concorda em ceder aos

meus desejos. É normal que um viúvo se sinta assim. Criar sozinho

uma filha o impediria de levar a vida que ele leva, acho que você

entende.

Claro que ele entendeu. E ele entendeu ainda mais do que ela,

provavelmente. A impressão que Stuart sempre teve do pai de Edie

era a de um homem que gostava de fazer as coisas à sua

conveniência. As próximas palavras de Edie confirmaram isso.

— Meu pai vem nos ver todos os anos, garante que estamos bem

e depois volta para casa com sua amante para continuar atendendo

seus negócios. Ele ama sua vida, toma drinques no Oak Room, joga

cartas em Casas como a House With, anda em um iate em Newport...

Esse tipo de coisa.

— Ele também tem cavalos de corrida, certo?

— Sim

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Havia algo nessa resposta afiada e tensa que surpreendeu Stuart.

Ele olhou para ela pelo canto do olho, mas não conseguiu distinguir

nada especial em seu perfil. Ela parecia tão fria e inalcançável como

sempre, então ele concluiu que imaginara aquela dureza.

— E você não se importa? — Ele perguntou com curiosidade. —

É uma grande responsabilidade ter que cuidar de Joanna, e não é

você quem deveria ter assumido.

— Eu não gostaria que fosse de outra forma. Eu amo Joanna e

gosto de tê-la comigo, não só porque ela é minha irmãzinha, mas

porque ela é uma ótima companhia. E... — Ela interrompeu-se e

abrandou o ritmo. Então, ela parou.

— E? — Stuart se apressou, parando ao lado dela, no caminho.

— Eu odeio a idéia de alguém se encarregar dela, — disse

devagar. — Quero poder controlá-la a cada minuto. Eu quero ter

certeza de que ela está feliz, ter a certeza de que ela está segura.

— Claro, eu sentiria o mesmo em seu lugar. Embora eu não

tenha certeza de que teria desistido tão facilmente de enviá-la para a

escola, — ele corrigiu-se com uma risada. — Mas, é claro, estamos

falando de Joanna, afinal.

—Tinha medo de ter que mandá-la para ser educada fora muito

antes de completar quinze anos eu teria acabado ficando louca.

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Minha irmã é absolutamente adorável, uma encantadora cabeça de

vento, como você, sem dúvida, conseguiu observar por si mesmo.

Edie começou a rir.

— Uma irmãzinha inteligente não é necessariamente uma coisa

boa. Joanna é extremamente inteligente.

— Sim, eu notei, — disse ele. — E essa é a razão pela qual você

não deve retardar o momento de enviá-la a escola.

Edie olhou para ele com desconfiança.

— Porque diz isso? Por que você acha que eu poderia ter

decidido usá-la como uma acompanhante?

— Não, Edie. Estou dizendo isso porque sinceramente acho que

a escola seria boa para ela. A Willowbank é uma excelente instituição,

tanto na arte como nas disciplinas acadêmicas, e seria um desafio

suficiente para mantê-la ocupada. Também a prepararia para fazer

parte da alta sociedade. Afinal, por algum motivo é uma escola de

elite.

— Eu sei, e não estou atrasando o momento, — ela repetiu em

resposta ao seu olhar céptico. E começou a andar de novo. — É só

isso, agora que vamos para Nova York, não tem sentido pensar em

Willowbank.

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Stuart não discutiu. Ele puxou a coleira, e o cão, que estava

cavando no meio de um montinho de pé de leão que alinhava a

estrada, começou a andar enquanto Stuart retomava a caminhada ao

lado de Edie.

— Vamos ao templo romano, — disse Stuart, balançando a

cabeça em uma passarela de azulejos que estava praticamente

enterrada sob o tomilho, a erva-doce e as agulhas. Eu acho mais fácil

andar sobre ladrilhos do que em cascalho.

— Claro. Você deveria ter me dito antes, — Edie repreendeu-o

quando se viraram para a estrada. — Tem certeza de que deseja

passar duas horas caminhando?

— Pelo menos parte delas. A menos que...

Parou e admirou seu perfil, entregando-se às sardas douradas

que pontilhavam o nariz e as bochechas e reparando, com apreciação

masculina, a qualidade luminosa de sua pele e a delicada forma do

lóbulo da orelha sob seu chapéu de abas largas.

— Caminhar me parecia ser a melhor opção, mas se você tiver

uma oferta mais sugestiva, estou disposto a escutá-la.

Um leve rubor acendeu a face de Edie e Stuart também gostou.

Essa tendência a corar foi uma das poucas coisas que lhe permitiram

avaliar o que Edie estava pensando e, naquele momento, ele

precisava de todos os indicadores que pudesse encontrar.

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— A única coisa que pretendia dizer é que não quero que você

sofra, — ela disse com certo orgulho. — E me dá a impressão de que

te dói a perna ao andar.

— E é verdade, mas a perna sempre melhora depois de caminhar

um tempo. E, por sinal, eu gosto de caminhar ao teu lado, —

acrescentou. —Não me pressiona para ir mais rápido e eu aprecio

isso. Obrigado.

— De nada, mas não acho que seja algo para o qual você deva

me agradecer. Qualquer um faria o mesmo.

— Não, temo que você esteja errada sobre isso. A maioria das

pessoas tende a ir mais rápido e então parar e me esperar. Isso me

deixa tão terrivelmente consciente da minha lesão que prefiro andar

sozinho. Mas você não me pressiona ou mostra alguma impaciência,

e eu gosto disso.

Eles terminaram no Jardim Romano. Desenhado como os jardins

de Pompéia, tinha uma fonte central cercada por três lados por uma

linha de grama e uma parede densa de árvores e arbustos. Ao longo

do quarto lado, havia um templo de mármore construído pelo bisavô

de Stuart. Era uma enorme estrutura de pedra calcária com uma

frente de colunas de mármore e coberta por um telhado de telha. Sob

o frontão, havia um banco de ferro forjado a partir do qual a fonte

podia ser vista.

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Stuart decidiu que era um bom momento para abordar o assunto

o qual ele havia decidido levá-la ali para falar.

— Em qualquer caso, não me importaria sentar um pouco, —

disse ele, apontando para o banco. — Sempre gostei desse canto do

jardim. É um dos meus lugares favoritos. Eu costumava vir aqui para

ler.

— Ah é?

— Você parece surpresa.

— E eu estou, porque também gosto de ler e vir ler aqui. Eu sei

que é chamado de Jardim Romano, mas gosto de chamá-lo do Jardim

Secreto porque está escondido neste canto isolado. É um lugar muito

calmo, muito silencioso. E acho o som da fonte muito relaxante.

— O mesmo acontece comigo, então temos algo em comum, —

ele sorriu. — Isso é bom em um casamento, você não acha?

Edie não respondeu, mas, sendo um homem otimista, Stuart

decidiu que seu silêncio era um bom sinal. Eles subiram os degraus e,

uma vez lá em cima, Stuart amarrou a coleira do terrier em uma das

pernas do banco. Snuffles começou a correr imediatamente no meio

das flores pé de leão e as orelha de lebre que cresciam ao longo dos

degraus, enquanto Stuart estendia seu lenço para Edie sentar.

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— Ambos se sentaram e Stuart imediatamente fez uma careta

enquanto se apoiava no banco.

— Se ambos queremos vir aqui para ler, acho que deveríamos

investir em um banco mais confortável. Este é muito duro de sentar.

— É verdade. Nunca pensei nisso, porque sempre me deito na

grama para ler. — Ela apontou para um pedaço de grama na sombra

de um carvalho nodoso. —Bem ali.

— Eu costumava fazer isso também.

Stuart colocou a bengala de lado e esticou a perna para frente,

aliviado que os músculos rígidos haviam relaxado com a caminhada.

— Agora, deitar no chão é um pouco difícil para mim.

— Mas parece que tua perna está melhor agora do que quando

começamos a andar, não é?

— Sim, você está certa — interrompeu um momento antes de

explicar — Por sinal, ontem em Londres eu estive vendo um médico.

—V erdade? Quando eu sugeri para você, você parecia estar

completamente contra.

Stuart respondeu a sua surpresa com arrependimento.

—Foi coisa de Lord Trubridge. Enquanto você estava tomando

chá com sua esposa, ele estava me arrastando para Harley Street.

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— E o médico prescreveu algum tratamento?

— Sim. — Ele virou-se para ela no banco, — mas para segui-lo,

eu preciso da tua ajuda.

— Minha ajuda?

— Sim. O médico recomendou caminhadas diárias seguidas de

exercícios para esticar os músculos da perna lesada e, no final, uma

massagem com um unguento especial. É por isso que vou precisar da

sua ajuda.

Edie abriu os olhos, percebendo o que ela estava perguntando.

— Você quer que eu... Massageie sua perna?

Ela disse como se ele tivesse acabado de pedir-lhe para se jogar

de um penhasco.

— Sim. O alongamento é mais eficaz com a ajuda de outra

pessoa, então eu também precisarei de sua ajuda para fazê-lo.

Stuart não tinha terminado a frase quando ela já estava

balançando a cabeça.

— Não, não posso. Não o farei. Você não pode esperar que eu...

— Eu posso e eu farei, — ele interrompeu, silenciando a cadeia

de negações. — Sinto muita dor, Edie. Eu pensei que não poderia

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fazer nada sobre isso, mas o Dr. Cahill me convenceu do contrário.

Mas, para continuar o tratamento, preciso da sua ajuda.

— Não sei por que tem que ser eu. Certamente, um criado...

— Não quero um novo criado.

— Isso é o que eu notei, — disse Edie, suavizando ligeiramente a

voz dela. — Mas, Stuart, em algum momento você terá que substituir

Jones.

— Eu sei, e eu vou, mas não estou pronto, Edie. Ainda não. E,

mesmo que fosse também não importaria muito. Para isso, eu quero

sua ajuda, apenas a sua.

Edie desviou o olhar. Entrelaçou as mãos e separou-os com um

gesto de nervosismo.

— Se o objetivo é aliviar a dor na perna, não entendo por que

você precisa da minha ajuda.

— É importante para mim.

Ele estendeu a mão para torcer um cacho do cabelo de Edie entre

os dedos. Parecia fogo contra sua pele escura e tinha a sensação de

seda. Ele empurrou o cacho para trás e ouvi a inspiração tensa de

Edie quando passou os dedos pelo lóbulo da orelha.

— Assustada como uma gazela, — ele murmurou.

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Ele encaixou a bochecha com a palma de sua mão e virou o rosto

dela para ele.

Edie ficou rígida com o toque.

— Eu não... — Ela parou e franziu a testa enquanto olhava para o

peito de Stuart. — Por favor, não me toque.

Mas, apesar de suas palavras, ela não se afastou ou virou a

cabeça Stuart aproveitou a oportunidade para deslizar o polegar

sobre a boca e saborear sua aveludada suavidade. Os lábios de Edie

tremiam, mas permaneceu imóvel sob aquela delicada carícia.

— Porque não? É tão desagradável que eu a toque?

No momento em que ele fez a pergunta, ele queria bater a

cabeça, porque, se a resposta de Edie fosse sim, o que ele iria fazer?

— Não é... — interrompeu a fala, mas não se afastou, — eu não

acho apropriado.

Não era a resposta que ele temia e Stuart sentiu um grande

alívio.

—Não é apropriado? Eu sei que somos praticamente estranhos,

mas somos casados. Por que você é tão reticente?

Mas, mesmo quando ele falou, uma explicação lhe ocorreu e ele

baixou a mão.

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— Edie, você é virgem?

A cor fluía para o rosto de Edie.

— Que pergunta imprópria! — Ela gritou levantando-se. — Você

não tem o direito de me perguntar tal coisa.

— Sendo seu marido, é claro que eu tenho, — disse ele. — Em

circunstâncias normais, é claro, um marido nunca teria que perguntar

a sua esposa essa pergunta particular. Pelo menos, não depois da

noite de casamento. Mas nossas circunstâncias não são as mais

comuns e para mim é importante saber. Você nunca fez amor?

Edie desviou o olhar, colocou a mão em sua testa e deu uma

pequena risada, como se parecesse incrível estar tendo essa conversa.

— Não, — ela disse, sua voz sufocada e seu rosto escarlate. —

Nunca fiz o amor. É isso, — ela acrescentou, abaixando a mão e

olhando para ele de forma defensiva, com o rosto corado e

ressentido, — sua curiosidade está satisfeita?

Stuart respirou soltou o ar lentamente tentando pensar. Isso

colocava o que ele estava perguntando numa perspectiva diferente.

Sempre pensou que Edie e Van Hausen haviam sido amantes, mas

claramente isso tinha sido uma suposição errônea de sua parte. E ele

sabia que, diante de certas circunstâncias, qualquer incidente, por

mais inocente e trivial que fosse, poderia manchar o bom nome de

uma jovem mulher.

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Isso explicou sua relutância. Muitas mulheres jovens eram

modestas até o limite da prudência. Eram inculcadas como uma

virtude desde o momento do nascimento. Esse medo virginal era algo

muito comum, particularmente se a jovem em questão não tivesse

tido muitos pretendentes e não tivesse contado com a ajuda de uma

mãe para explicar os mistérios da vida.

— Obrigado, Edie, — disse ele depois de um momento, —

obrigado por me dizer a verdade.

Edie mudou de um pé para o outro. Sentia-se insuportavelmente

desconfortável.

— Sim, bem, agora que você sabe disso, tenho certeza que pode

entender por que não posso fazer o que você espera de mim.

— Não vejo assim. Em minha opinião, isso torna muito mais

necessário.

— Você não pode estar falando sério! Não tenho a intenção de...

Dar-lhe massagens, alongamento ou qualquer outra coisa que tenha

em mente. Eu não pretendo fazê-lo!

— Então, você está me dizendo que deseja cancelar a aposta? Em

caso afirmativo, é melhor quebrar o acordo de separação, porque

você não terá chance de obter minha assinatura no prazo de nove

dias, a menos que você aceite os termos que concordamos.

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— Não permitirei qualquer tipo de contato físico!

— Eu já avisei que eu planejava fazê-lo, mas isso não

representaria nenhuma aproximação da minha parte, porque não

pretendo tocar em você. Será você que me tocará.

— Não consigo ver a diferença.

— A diferença é que você terá controle absoluto da situação.

Como você é tão mandona, eu pensei que você gostaria disso, — ele

insistiu quando ela balançou a cabeça, expressando sua recusa.

Edie estava brava. Estava totalmente em desacordo com aquela

descrição.

— Uma acusação curiosa vindo de você, que parece ser o único

que dá as ordens.

— Somente duas horas por dia.

— Está me pedindo por que pensa que vou desejar você.

— Aparentemente, sou transparente como o vidro.

— Bem, eu não vou. — Havia um ponto de desespero em sua

voz que, segundo Stuart, parecia negar suas palavras. Baixou a

cabeça e olhou para o chão. — Não vou te desejar.

Stuart se recusava a contemplar aquela possibilidade.

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— Eu sofro muitas dores, Edie. Estou cansado de tanta dor e não

quero beber excessivamente ou me apaixonar pelo láudano, eu

gostaria de poder caminhar sem arrastar a perna como se fosse de

madeira. Eu estava bastante cético sobre as possibilidades de fazer

qualquer outra coisa, mas o Dr. Cahill me assegurou que, se seguir

seu tratamento, se fizer os exercícios diariamente, a dor será

significativamente reduzida e a mobilidade aumentará. E já que eu

posso ter duas horas por dia do seu tempo, é assim que quero gastá-

las.

— Pelo amor de Deus! — Ela explodiu. — Isso é o mais ridículo,

o absurdo, inútil! — Ela calou-se. Era evidente que tinha ficado sem

adjetivos. No final, respirou exalando um suspiro de queixa. — Oh,

muito bem! — Ela murmurou e se virou para desatar a coleira de

Snuffles. — Como você quiser.

— Você vai? — Stuart perguntou tão surpreendido por esta

capitulação inesperada que esqueceu que Edie não tinha escolha. —

Obrigado.

Edie se endireitou e, quando se virou para olhar para ele, seus

olhos verdes estavam iluminados por incríveis faíscas douradas.

— É ridículo enfrentar você. Nós dois sabemos que, se recusar,

vou perder por não cumprir a minha parte do pacto, e não vou deixar

isso acontecer. Além disso, se você finalmente conseguir curar a

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perna, você pode decidir voltar para a África e posso continuar a

viver em Highclyffe sem você, como antes de você chegar.

Ele levantou a cabeça com um gesto firme.

— Vamos, Snuffles! — Ela chamou o cachorro e começou a

caminhar em direção a casa.

— Nós nos veremos no horário do chá amanhã, — Stuart a

lembrou enquanto Edie se afastava. — E não se esqueça de me dizer o

que você gostaria de fazer durante suas duas horas.

— Oh! Tenho várias coisas em mente, ela respondeu sobre o

ombro enquanto ele se afastava, — acredite em mim.

Apesar de sua promessa veemente, Stuart não pôde evitar se

sentir aliviado. Pelo menos ela aceitou seu plano. Se ela continuasse a

recusar, não saberia o que diabos fazer depois. Quanto aos planos

que tinha para ele, só podia esperar que ela não lhe atirasse com uma

arma. Afinal, Edie era uma ruiva.

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Capítulo 11

Disparar nele com uma arma não era, como Stuart descobriu na

tarde seguinte, o que Edie tinha em mente. Mesmo assim, o plano que

preparou para o tempo que tivessem juntos provou ser igualmente

terrível.

— Não sabe o quanto apreciamos seus esforços na Igreja,

Excelência, — agradeceu o Sr. Ponsonby, talvez pela quinta vez desde

que Edie e Stuart chegaram a Casa Paroquial para o chá. Sorriu para

Stuart com prazer beatífico. — Você estabeleceu as bases para o nosso

trabalho de uma forma esplêndida.

Se ele soubesse como ele iria vangloriar-se, Stuart teria evitado a

expedição, mas, é claro, ele não disse. Ele tinha a sabedoria para

evitar a resposta, preenchendo a boca com um pedaço de bolo

esponja.

— Seus mapas nos permitiram levar a palavra de Deus às

profundezas das selvas africanas, — o vigário relatou. — As almas de

muitas crianças carentes estão sendo salvas pelo batismo desde que

nossos missionários entraram no interior da África, e tudo isso foi

possível graças ao seu esforço.

Stuart sorriu educadamente.

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— Estou encantado de ouvi-lo, — disse ele, e conseguiu suprimir

o desejo de dizer que os remédios e a comida eram muito mais úteis

para os nativos que os mergulhos batismais no rio Congo.

— Estão fazendo coisas de grande valor. Permita-me contar-lhe

algumas delas.

— Não, não precisa, — Edie correu para cortá-lo, — não é

necessário que faça um relato.

— Oh, mas eu insisto! Ele precisa estar ciente do que sua

exploração corajosa e intrépida fez para o trabalho missionário. Até

mesmo Sua Majestade a Rainha ficou impressionada. Ela é minha

prima, você sabe, e tem nosso trabalho, e o seu, é claro, em grande

estima.

Stuart pensou ter ouvido um som sufocante vindo de Edie, que

estava sentada a seu lado no sofá, quando o vigário começou uma

palestra longa, pedante e absolutamente insuportável sobre as igrejas

que haviam construído, a quantidade de roupas, sem dúvida

espartilhos e batinas, que eles enviaram por navio às muitas almas

perdidas e salvas. Stuart mordeu vários pedaços de bolo e dirigiu

muitos olhares furtivos e ansiosos ao relógio, depois de uma hora de

monólogo sem fim, não pôde deixar de intervir.

— E eu confio que eles terão enviado comida para um desses

lugares em tempos de fome.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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— Alimentos? — O vigário piscou.

— Bem, sim — Stuart deu-lhe um sorriso de desculpas por

interromper a narrativa das realizações das missões. — A

alimentação é uma questão muito importante. O senhor sabia? Eles

não podem comer igrejas e nem roupas, —acrescentou com

hilaridade forçada.

— A nutrição do corpo é importante, é claro, mas é o alimento do

espírito, Sua Excelência, que é da maior importância, — argumentou

Ponsonby enquanto se sentava e colocava as mãos sobre a enorme

barriga.

— Certamente.

Stuart passou o dedo no pescoço e olhou desesperadamente para

o relógio novamente, mas, como ainda havia trinta minutos para ás

duas horas de Edie, ele se sentiu obrigado a desviar a conversa para

um assunto menos nauseante.

— Espero que reconheça que também cumprimos com o que nos

corresponde fazer pela paróquia mesmo eu estando fora.

— Sim, claro. Claro que sim. — O vigário fez uma pausa para

olhar para Edie e acenou com a cabeça. — Sua Excelência foi

extraordinariamente generosa no que diz respeito à paróquia. Muitas

vendas de caridade generosas, festas, doações e assinaturas. Se me

permite dizer, Sua Excelência tende a colocar uma ênfase excessiva

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


248
nos assuntos do povo. Não é que eu a critique, Sua Excelência —

acrescentou, olhando para Edie e gesticulando com a mão gorda em

sua direção, — mas eu gostaria — continuou, voltando a atenção em

Stuart, — que a duquesa possuísse um ponto de vista mais

transcendental, de mais amplo alcance. Como o seu e o meu, Sua

Excelência.

Stuart imediatamente se aproveitou dessa afirmação, encantado

em poder se vingar de Edie.

— Tenho medo que a duquesa tenha um ponto de vista muito

feminino sobre esse tipo de coisa, querido vigário, — ele respondeu

muito seriamente. — De alguma forma, um tanto estreito e limitado.

Edie engasgou-se com o chá, algo que, dado as circunstâncias,

Stuart achou bastante gratificante.

— Sim, sim, — respondeu o padre. — Nós, homens, temos um

talento maior para apreciar o mundo amplo. As mulheres tendem a

valorizar os detalhes menores da vida.

— Certamente, — Stuart estava feliz em mostrar seu acordo, —

mas devemos permitir ao sexo frágil pequenos caprichos, não é

verdade?

Aquele comentário lhe valeu uma cotovelada nas costelas e, para

seu alívio, encorajou Edie a encerrar o chá com o vigário antes do

planejado.

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249
— Perdoe-nos, mas temos que ir, — disse enquanto afastava a

xícara. — O duque esta em casa somente um dia, como o senhor

sabe, — ela acrescentou antes de levantar, — e temos muitas visitas

para fazer.

Stuart alcançou a bengala que ele deixara a seus pés antes que o

sacerdote tivesse a chance de protestar, demasiadamente aliviado por

sua partida iminente da casa paroquial como para se preocupar com

o motivo de outras desagradáveis visitas que Edie tinha reservadas.

— É verdade, — disse ele com firmeza, — muitas visitas.

— Claro, é claro.

O vigário, que obviamente gastou muito tempo comendo

sanduíches enquanto dissertava sobre o estado espiritual do mundo,

teve que esforçar-se para se levantar da cadeira, mas não demoraram

a abandonar a sala.

— Vejo-os na primeira missa de domingo de manhã ou na

segunda? —Ele perguntou, parando com eles no corredor enquanto a

empregada abriu a porta.

“Em nenhuma” Stuart desejou responder, mas Edie falou antes

que ele pudesse dizer isso em voz alta.

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250
— Na primeira, é claro. Depois de passar tanto tempo em lugares

pagãos, o duque está ansioso para assistir reuniões espirituais, —

disse ela.

— Naturalmente, é claro. Nesse caso, nos veremos na primeira

missa. E espero poder conversar mais sobre o trabalho das missões e

por muito tempo e muitas vezes no futuro, Excelência.

Stuart só conseguiu disfarçar sua falta de entusiasmo diante

daquela perspectiva até cruzarem a porta.

— Ele pode sentar-se e esperar que eu vá falar com ele, —

assegurou a Edie quando começaram a atravessar o campo que os

levava de volta a casa. — Prefiro me submeter às torturas da

Inquisição do que falar sobre a África com esse homem.

— Que? — Eddie olhou para ele com os olhos arregalados com

espanto fingido e um sorriso dançando no canto da boca. — Mas,

Stuart, você não quer continuar ouvindo falar sobre as almas das

pobres crianças africanas?

— Crianças que, aparentemente, não precisam de comida, —

murmurou Stuart, puxando sua gravata. — Eu tinha esquecido quão

pomposamente estúpido é aquele homem.

— Sim é verdade? — Edie riu. — Ah! Você deveria ter visto o seu

rosto quando ele expressou sua gratidão pelas explorações porque

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


251
graças a isso eles conseguiram continuar suas missões. Foi

indescritível!

— Estou feliz que você se divertiu às minhas custas, — ele

respondeu.

Ele se perguntou com algum arrependimento se ela pretendia

fazê-lo tomar chá com o vigário todos os dias. Mas, naquele

momento, virou a cabeça e todo arrependimento desapareceu

instantaneamente. Edie estava olhando para ele, seu rosto iluminado

pela risada. Seu sorriso largo e adorável, o fez prender a respiração.

— Por outro lado, se você pensa em sorrir dessa maneira toda

vez que se divertir às minhas custas, acho que vou poder acompanhá-

la com bastante alegria.

O sorriso de Edie desapareceu. Ela rapidamente desviou o olhar,

mas quando Stuart estendeu a mão para acariciar seu pescoço, o

gesto autoconsciente de Edie indicou que estava mais afetada pelo

elogio do que queria deixá-lo saber.

— Nesse caso, você não se importará que façamos outra visita a

caminho de casa. Você ainda não conhece o novo assistente do

vigário, o Sr. Smithers.

Stuart gemeu.

— Edie, não! Primeiro o vigário e agora seu assistente?

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Edie apontou para um caminho estreito que saia daquele que

eles estavam caminhando.

— A sua cabana está ali.

— Mas essa era a cabana do guarda florestal!

— Não, há anos construí uma nova cabine para o guarda-

florestal, mais perto da floresta. Esta, sendo tão próxima a casa

paroquial e ao vigário, é muito mais adequada para o assistente dele,

— interrompeu-se e acrescentou em um tom sombrio: — Talvez você

não concorde...

— Não, a verdade é que eu acho que foi uma ótima idéia. Fizeste

bem.

Ele a observou enquanto falava, e pensou que suas palavras lhe

agradavam. Mas, quando Edie começou a andar em direção à cabana,

ele parou. Ele não estava disposto a ir tão longe para agradá-la.

Edie parou depois de alguns passos e olhou para ele por cima do

ombro.

— Não vem?

— Não vou. Já tive o suficiente por hoje com o vigário. Além

disso, — ele acrescentou quando ela abriu a boca para questioná-lo,

— nós não temos mais tempo.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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Edie olhou para o relógio que levava preso na lapela de seu traje

de passeio verde

— Mas ainda tenho ainda vinte minutos.

— Não pode ser suficiente tempo para uma visita. Você pode

diminuir vinte minutos do meu tempo, — lhe ofereceu, desesperado

para evitar outra conversa com um membro da comunidade

religiosa.

— Oh, muito bem! — Ela respondeu, desistindo e sorrindo como

um gato diante do leite. — Se você insiste em ser tão rigoroso com o

tempo.

— Eu serei se você insistir em me levar a ver pessoas tão

desagradáveis como Ponsonby.

— De qualquer forma, acho que não importa. Você terá a

oportunidade de conhecê-lo quando formos à celebração das

Vésperas.

— As vésperas? — Ele olhou para ela, determinado a ser firme

nesse assunto. — É possível que eu vá à reunião de domingo, mas

não irei às vésperas, especialmente com um idiota como Ponsonby.

Não, Edie, isso está indo longe demais!

— Mas eu sempre participei das Vésperas. Em seguida, iremos

ao comitê para vendas de caridade. Também deve ir, porque é a

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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maneira ideal de voltar a se encontrar com parte da nobreza da área.

Meu Deus, quão inflexível! — Acrescentou enquanto continuava a

balançar a cabeça de forma negativa. — Então, você prefere renunciar

agora e assinar o acordo de separação?

Stuart olhou para ela cautelosamente.

— Está falando serio?

— É claro, — disse Edie, retornando a caminhada. — O Sr.

Ponsonby poderá contar-lhe sobre os muitos esforços dos

missionários na África depois — ela mal disse aquelas palavras

quando começou a rir novamente. — Afinal, os homens são capazes

de apreciar os assuntos do mundo em geral muito melhor do que as

mulheres.

— O mundo amplo, meu Deus! — Sussurrou quando ele

começou a andar ao lado dela. — Esse sujeito não foi mais longe das

falésias de Dover em sua vida. Eu tinha esquecido o quão estúpido

ele era. E chato. Como posso ter esquecido aqueles terríveis sermões

que suportei quando vinha em férias para casa?

— Sim, são muito horríveis para descrever em palavras, —

concordou Edie. — Metade da congregação adormece.

— Mas não precisa ser assim. Afinal, eu sou o Duque. Posso tirá-

lo daqui e encontrar um novo vigário.

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— Acho que não. Ele é o primo da rainha, você sabe , —

acrescentou, adotando o tom arrogante de Ponsonby.

Stuart fez um som de desprezo.

— É um parentesco tão distante que não dou muito crédito.

Tenho um parentesco mais próximo de Sua Majestade do que ele.

— Mesmo assim, há coisas que, simplesmente, não devem ser

feitas, e descartar o vigário é uma delas. Você terá que suportar isso.

É assim que as coisas são.

Stuart sorriu quando ouviu isso.

— Então você já aprendeu que existem algumas batalhas contra a

tradição que não vale a pena lutar, certo?

— Sim, suponho que sim. — A luta constante contra séculos de

tradição é cansativa.

Stuart riu suavemente.

— Pelo que Wellesley me disse, parece que ele teve que lutar

algumas batalhas com você.

— Sim, tivemos nossas lutas, — disse Edie com um suspiro. —

Eu acho que ele contou tudo a você.

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— Não, ele é um mordomo muito bem treinado para ser

indiscreto. Mas ele mencionou que você tem; como exatamente ele

disse? Ah sim, uma maneira muito americana de fazer as coisas.

— O pior dos insultos! — Edie respondeu, e parecia divertida. —

Mesmo assim, agora as coisas estão indo bem entre nós. Chegamos a

uma espécie de acordo sobre como devemos funcionar. Eu digo-lhe o

que pretendo fazer, ele me explica como as coisas eram feitas no

passado e agradeço-o e faço as coisas da minha maneira.

Stuart deu uma grande risada.

— Isso é o que você entende por um acordo?

— Bem, sim, — admitiu Edie, rindo com ele, — afinal, sou a

duquesa. Embora não seja fácil. Administrar uma propriedade como

esta é cansativo.

— Sim, é muito cansativo. — Ele olhou para ela de rabo de olho.

— É por isso que é preferível ter o apoio de um par.

— Nesse caso, receio que você ficará eternamente exausto no

futuro.

Stuart riu dessa resposta seca.

— Você é muito teimosa, Edie. Mas, de qualquer forma, eu

sempre soube. Então, me diga, quais são seus planos para amanhã?

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— Eu pensei que poderíamos verificar os livros contábeis com o

Sr. Robson. É necessário? — acrescentou, e Stuart gemeu.

— Vamos encontrá-lo se quiser, mas não acho necessário.

— Você precisa estar preparado para lidar com esse tipo de coisa

quando... quando eu me for.

Stuart se perguntou se não havia rastro de nostalgia nessas

palavras. Ele esperava assim.

— Eu me recuso a contemplar a possibilidade de você me deixar.

Prefiro imaginar nós dois gerenciando a propriedade como marido e

mulher.

— E você diz que eu sou teimosa?

Stuart fez uma careta.

— Tenho medo de que nossa situação seja daquelas "caçarola"

disse à panela. Mesmo assim, Edie, realmente uma reunião com o

administrador é o que você tem agendado para amanhã?

— Você disse que eu poderia escolher.

— Pelo menos você poderia escolher uma atividade divertida.

— Você não se divertiu hoje? Que pena! — Ela virou o rosto, mas

não antes que Stuart pudesse ver o sorriso malicioso que curvava os

cantos de seus lábios. — Eu sim.

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No entanto, a diversão de Edie foi de curta duração. Desde o dia

anterior, evitou pensar na conversa que teve com Stuart no jardim e o

que ele esperava que ela fizesse, mas quando a casa apareceu antes

deles, não podia mais evitá-lo. E com cada passo que a aproximava

da casa, a apreensão crescia.

Ela tentou dizer a si mesma que seu pedido era algo que

dificilmente poderia impedir que ela alcançasse seu objetivo. Stuart

parecia acreditar que sua participação nesses exercícios, de alguma

forma, despertaria seu desejo por ele. Edie supôs que isso funcionaria

se ela fosse uma mulher normal com desejos normais. Mas não era, e

alguns exercícios e alguns minutos de massagem não mudariam essa

realidade.

Massagens. Eu teria que massageá-lo. Tocá-lo. A agitação de

Edie cresceu e, embora ela tentasse lutar, lembrando-se de que Stuart

lhe assegurara que ela estaria no controle total da situação, não a

ajudava, porque sabia o quão fácil e rápido eles podiam assumir o

controle de uma mulher.

Stuart não era Frederick, lembrou isso a si mesma. Ele não se

parecia com ele, e ainda assim esse argumento perfeitamente

razoável não a tranquilizou. Mas, obviamente, se o medo pudesse ser

combatido com a razão, teria sido liberado dela há muito tempo.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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Quando chegou a casa, o medo era como uma pedra no

estômago e, quando entraram na biblioteca, não podia mais suportar

a tensão.

— Tudo bem, — ela disse, e parou na frente dele. —Vamos

terminar com isso de uma vez por todas. Me diga o que você quer

que eu faça.

Sua indelicadeza, Edie notou, pegou Stuart de surpresa.

— Bem, eu não acho que possa te mostrar aqui. — Ele fez um

gesto para as portas francesas no terraço. Elas estavam abertas para

permitir a entrada do máximo de ar possível na quente tarde de

verão. — Na biblioteca não temos privacidade.

Oh Deus santo! Queria privacidade! Edie abriu a boca, mas não

pôde falar porque a garganta estava tão seca quanto à poeira. Ela

tossiu levemente.

— Não consigo entender por que precisamos de privacidade, —

disse ela finalmente.

— Porque eu prefiro não revelar minhas fraquezas em um lugar

onde qualquer um poderia entrar e me ver, principalmente os

criados.

Edie mordeu o lábio. Não podia culpá-lo por isso. Ela sabia tudo

sobre a necessidade de esconder a dor e a fraqueza.

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— Entendo.

— Fico feliz que você entenda. E o que você prefere, vamos ao

seu quarto ou ao meu?

Horrorizada, Edie descartou qualquer inclinação para a empatia.

— Não vou para o seu quarto!

— Muito bem, nesse caso, iremos para o seu. Nos encontraremos

em quinze minutos. — Se virou, ignorando seus protestos ultrajados

e começou a se dirigir para a porta do corredor. — Coloque roupas

confortáveis! — Ele acrescentou sobre o ombro.

Edie não se moveu para segui-lo, mas olhou para ele quando ele

se retirava.

— Quanto mais cedo estes dez dias acabarem, melhor, —

murmurou.

— Estou de acordo. — Stuart parou no batente da porta e virou

para lhe dar um sorriso provocador. — Quanto antes me beijar antes

nós podemos passar a fazer coisas mais divertidas.

“Divertidas" não era a palavra que ela teria usado. Naquele

momento, o "sofrimento" parecia uma palavra mais adequada para

descrevê-lo. Ela esperou alguns minutos para ter certeza de que não

iria encontrá-lo na escada e depois subiu ao quarto para vestir um

vestido de seda azul de gola alta com renda crua. Ela poderia ter que

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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ajudá-lo a se esticar e a fazer os exercícios, mas o conforto de sua

roupa não iria além de um vestido de tarde e um espartilho solto.

A donzela acabava de amarrar os botões das costas quando

bateram na porta do quarto. Edie respirou fundo e fez um gesto para

Reeves com a cabeça. No entanto, quando a empregada abriu a porta

e ela viu Stuart, estava prestes a pedir a Reeves para fechá-la

novamente.

Stuart tinha mudado de roupa, estava usando calças de flanela

cinza, uma camisa branca e um roupão. A camisa não tinha colarinho

nem zíper, nem faixa, e ele nem sequer amarrou o roupão. A visão de

Stuart nesse estado de nudez parcial a deixou mais nervosa do que

antes.

Não sabia se poderia seguir em frente. Stuart tinha prometido

não fazer qualquer tipo de abordagem, mas mesmo que ele

continuasse com sua palavra, a simples idéia de estar em

circunstâncias tão íntimas com ele, de tocá-lo, de fazer nele uma

massagem, lhe parecia impossível.

Sua apreensão aumentou quando Stuart entrou, abriu a porta e

disse à empregada:

— Você pode ir tomar chá, Reeves. Não precisaremos de você

por pelo menos uma hora.

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Edie viu a empregada sair e fechar a porta. O leve som da

fechadura parecia tão forte como um tiro. No silêncio que se seguiu,

ouviu a própria respiração e, quando Stuart deslizou seu olhar sobre

ela, teve que lutar contra o desejo de se esconder no vestiário e fechar

com ferrolho.

Embora as janelas estivessem abertas, a atmosfera na sala parecia

opressiva, e a primeira pergunta de Stuart não ajudou a aliviar a

tensão.

— Está usando um espartilho?

Edie corou imediatamente e Stuart suspirou.

— Edie, eu disse para você ficar confortável.

— E eu fiz isso! — Ela pegou um pedaço da seda azul e renda. —

Este é um vestido de tarde!

— Eu não acho que um espartilho pode ser confortável, mesmo

com um vestido de tarde, mas acho que isso é coisa sua.

Ele tirou os chinelos cruzou a sala para aproximar-se de Edie,

que estava em pé ao lado da cama. Uma vez lá, colocou a mão no

bolso de seu roupão.

— Aqui, — ele disse, segurando um relógio de bolso e uma

pequena garrafa verde. — Guarde isso,

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— Eu entendo o propósito do unguento, é claro, — disse Edie

enquanto tirava os objetos das suas mãos, — mas o que você quer

com um relógio?

— Eu vou lhe explicar isso em um momento, — Stuart disse

enquanto desamarrava o cinto e começava remover o roupão.

— O que está fazendo? — Edie gritou. Uma pergunta absurda,

uma vez que a resposta era clara como a água. — Você não pode se

despir no meu quarto!

Stuart parou com a roupa no nível do pulso.

— Eu só vou tirar meu roupão ,— ele disse, franzindo o cenho

contra a força de sua reação. — Não consigo me mexer com o roupão.

Na verdade, eu não deveria ter trazido isso, — acrescentou enquanto

colocava-o ao pé da cama, — mas eu não queria assustar os criados.

Se Wellesley me visse caminhando pelos corredores com nada mais

que calça e camisa, desmaiaria. Para não mencionar as criadas.

Edie conseguiu conter-se, lembrando de que este não era o

momento de ser exagerada.

— Bem, não tire mais nada disso — murmurou, e virou-se para

deixar o unguento sobre o tocador — Que tenho que fazer?

— Eu vou te mostrar. — Stuart agarrou sua perna direita. —

Quando a leoa me atacou, ela me mordeu aqui e aqui, — ele mostrou,

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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apontando para os lugares nas costas e na frente da coxa onde o leão

tinha cravado os dentes. — A ferida rasgou meus quadríceps e o

tendão.

— Uf! — Eddie fez uma careta. — A dor deve ter sido horrível.

—A dor não durou muito, pelo menos. A ferida sangrou um

pouco e, em questão de minutos, desmaiei por causa da perda de

sangue. Felizmente...

Ele interrompeu abruptamente e fechou a mão num punho.

Edie olhou para cima e o olhar franzido de Stuart a assustou.

— Stuart? Está tudo bem?

— Me desculpe, — Stuart disse, apertando o punho na boca para

tossir. — É que falar sobre isso é mais difícil do que eu pensava. —

Ele franziu a testa e abaixou a mão. — Felizmente, então,

afugentamos os leões e meus homens conseguiram conter o

sangramento. Mas, à noite, começou a infecção e a febre.

— Você me disse que estava prestes a morrer. Foi à infecção,

mais do que a própria ferida, que estava prestes a matá-lo, certo?

— Sim, durante três dias eu estava debatendo-me entre a vida e a

morte. Na terceira noite, estava tão ruim que meus homens

começaram a organizar os preparativos para o meu enterro. Senti

minha vida acabar, eu sabia que estava morrendo, e não posso

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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explicar por que não morri. Eu só sei... Eu me recusei a fazê-lo. Eu

acho que foi uma questão de pura teimosia da minha parte. — No

final, a febre diminuiu e, assim que fui forte o bastante para me

mudar, dois de meus homens me levaram de volta a Nairobi. Eu

pensei que estava bem, mas no hospital tive outra infecção. — É

estranho pensar sobre isso, mesmo porque, até então, eu não havia

sofrido de nenhuma doença. Eu nem peguei malária. E na África, isso

conta muito.

— Bem, obviamente, quando você decidiu ficar doente, você

estava consciente.

— Sim, eu suponho que sim, — Stuart respondeu, meio rindo.

Embora o riso lhe parecesse um pouco forçado, Edie se alegrou em

ouvir. — Mas a febre voltou a baixar novamente, e eu me recuperei.

— Foi uma sorte que a perna não tenha gangrenado. Ou que

você não contraiu a raiva. Ou... — Ela parou e colocou a mão no peito

ao pensar em todas as terríveis possibilidades. — Meu Deus, Stuart!

—bOs médicos estavam preocupados com ambas as

possibilidades, mas, felizmente, nenhuma delas aconteceu. No

entanto, o dano ao músculo foi grave. Eu estava na cama por três

semanas e então, quando me levantei, passaram-se dois meses antes

que eu pudesse usar minha perna. Até então, eu estava atrofiado e

cambaleei como um potro recém-nascido. Eu estava melhorando

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lentamente, mas os médicos me disseram que provavelmente nunca

mais caminharia novamente.

Edie concordou com a cabeça, lutando para evitar que sua

expressão mostrasse a menor compaixão, porque sabia que Stuart a

odiaria.

— E o Dr. Cahill concorda com esse diagnóstico?

— Não totalmente. Ele não tem certeza de que a perna pode

funcionar completamente bem, mas ele acredita que uma sequência

de alongamentos dos músculos e caminhada aumentará a

mobilidade, distenderá o tecido da cicatriz e ajudará a aliviar a dor.

Mas eu vou ter que fazer esse tipo de exercício diariamente pelo resto

de minha vida.

— Entendo.

Edie ficou em silêncio, estudando seu rosto por um momento.

Era o mesmo rosto misterioso e atraente que tinha visto no baile em

Hanford House, e sem dúvida muito diferente. Não era mais, ela

percebeu, o rosto de um homem imprudente.

— Stuart, o que aconteceu com Jones?

Stuart engoliu em seco e desviou o olhar.

— Edie, se você não se importar, eu prefiro não falar sobre isso.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


267
Edie assentiu, porque se alguém sabia o que significava não

querer falar sobre uma questão dolorosa, esse alguém era ela.

— Muito bem, — ela disse, forçando um tom alegre na voz.

— Que quer que eu faça?

— Por enquanto, fique ali.

— Usando o pé da cama, foi até o ao chão, até que ele estava aos

pés de Edie. Estava doendo, Edie podia ver por sua expressão, e não

podia deixar de pensar no homem que conhecera, um homem que

cruzava um salão de baile lotado de pessoas com a elegância de um

leopardo.

“Deve odiar esta situação após a vida que ele liderou”, pensou.

— Passe-me o relógio.

Esse pedido interrompeu seus pensamentos. Edie obedeceu,

banindo quaisquer sentimentos melancólicos sobre Stuart. Pelo

menos ele estava vivo.

— O Dr. Cahill me explicou dois exercícios para começar, —

continuou ele. — Eu tenho que fazer três de cada um.

— E para que o relógio?

— Tenho que segurar os exercícios por trinta segundos e

gradualmente aumentar o tempo para atingir um minuto inteiro,

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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levante a perna ferida para colocá-la perpendicular ao chão. Fique

perto, Edie, e pegue minha perna.

—Mais perto? — ela perguntou, e deu um passo à frente.

— Seu corpo deve descansar na parte de trás da minha perna.

Edie obedeceu, sentindo-se terrivelmente violenta. Ela nunca

tinha sido enfermeira em sua vida e tudo o que sabia sobre essa

habilidade em particular caberia em um dedal. Além disso, estava

plenamente consciente da pressão da perna de Stuart contra seu

torso.

— Isso. Agora vamos esticar a tíbia. Coloque sua mão livre na

sola do meu pé e pressione lentamente os dedos dos pés até meu

peito. Eu direi quando você tem que parar.

Edie começou a fazer o que ele pedia, mas assim que ela fez,

Stuart inalou com força e ela soltou assustada.

— Estou machucando?

— Não, — disse ele, — estica, mas não dói. Faça-o de novo, mas

desta vez, não pare até que eu lhe diga. Assim, — ele disse quando

ela obedeceu. — Agora, não me solte por trinta segundos e mantenha

seu braço tenso em torno do joelho para evitar que se dobre.

Edie nunca teria pensado que trinta segundos poderiam ser tão

longos. Estava quente na sala, não havia uma gota de ar se movendo,

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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e aquela situação era escandalosamente íntima. Ela podia sentir o

calor do corpo de Stuart ao longo do seu, o calcanhar de seu pé contra

seu peito, a coxa apertada contra o abdômen e o quadril contra o pé.

Aquilo era muito além de qualquer de suas experiências. Com

exceção de Frederick, ela nunca esteve com nenhum homem, nunca

compartilhou essa intimidade.

— Muito bem, — disse Stuart finalmente.

E, felizmente, o som de sua voz tirou Frederick de sua mente.

Edie soltou o ar que estava segurando com um suspiro de alívio e

baixou as mãos em ambos os lados do corpo.

Stuart sacudiu um pouco a perna e assentiu com a cabeça.

— Vamos fazer isso de novo. Agora, vamos tentar segurar um

pouco mais.

A segunda vez foi mais fácil para Edie. A intimidade da posição

não produziu tanto impacto e a apreensão cessou. No entanto, para

Stuart foi mais difícil. Edie sabia disso porque sua respiração era mais

profunda, mais forçada do que na outra seção.

— Você quer que eu te solte? — perguntou.

Stuart sacudiu a cabeça e no terceiro estiramento, pediu-lhe que

aguentasse mais, inclusive.

— Tem certeza? Não quero te machucar.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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— Você não fará isso comigo. Estou ciente de quão longe eu

posso forçar meu corpo, acredite em mim. Além disso, mesmo que

doa não me importaria. — Ele correu o rosto dela com os olhos,

pareciam escurecer até que se tornaram cor da fumaça. — Não, desde

que eu possa desfrutar desta vista.

Edie sentiu o calor de seu olhar como se estivesse de pé diante de

uma fogueira. Ela se moveu desconfortavelmente, mas esse

movimento só serviu para torná-la mais consciente da perna de

Stuart pressionada contra seu corpo, então ficou imóvel e desviou o

olhar. Ela ficou assustada de repente, mas era um medo

completamente diferente do que estava costumava.

— Vejo que você não é suscetível às minhas tentativas óbvias de

flertar.

— Como ela não respondeu, ele se moveu contra ela e Edie soltou sua

perna. — Oh, bem! Se você não quiser que flertemos, acho que seria

melhor ensinar-lhe o seguinte exercício.

— Sim, seria preferível. Eu não flerto.

Não acrescentou que não tinha talento para isso. Provavelmente,

Stuart já sabia.

Stuart enrolou e ficou de barriga para baixo.

— Fique atrás de mim, — disse, virando a cabeça em direção à

perna ferida. — Você vai esticar meu músculo da coxa para frente, —

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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explicou enquanto ele colocava o relógio ao lado dele para controlar a

hora. — Então você tem que pegar meu tornozelo com a mão direita e

pressionar o calcanhar para o meu traseiro.

Tinha a sorte de não poder ver o rosto dele, pensou Edie

enquanto ela obedecia às instruções dadas, porque sabia que estava

intensamente corada.

— Então?

— Assim, mas com um pouco mais de força. Use seu peso. Apoie

o antebraço esquerdo em minhas costas e o ombro contra a sola do

meu pé. Bom. Agora incline. Mais. Um pouco mais. Shh! — Ele

sibilou quando alcançou o ponto máximo de tensão. — Aquenta ai.

Esse exercício foi mais íntimo do que o anterior. Mesmo com o

espartilho e mais três camadas de tecido, Edie estava profundamente

consciente do contato de seu mamilo contra sua nádega e do contato

do lado do outro peito contra seus botões. Nunca na sua vida tinham

parecido tão longos trinta segundos.

Quando Stuart os considerou terminados, o alívio de Edie era tal

que ela não pôde evitar um suspiro pesado.

Stuart ouviu isso.

— Está tudo bem?

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


272
— Sim, — assegurou-lhe imediatamente, embora tivesse medo

de que a qualidade ofegante de sua voz possa não ter sido muito

convincente.

Mas, se Stuart percebeu, ele não comentou nada sobre isso.

— Muito bem. Vamos repetir.

Assim fez Edie, e como naquela ocasião ela teve que pressionar

mais, os trinta segundos pareceram cem. Onde ela entrou em contato

com Stuart, ela sentiu seu corpo queimando. Lentamente, à medida

que os segundos passavam, ela tomou consciência de outras coisas: a

respiração lenta e trabalhada de Stuart, a dureza do músculo dos

glúteos que tinha sob seus dedos, o cheiro de sândalo... Seria seu

sabonete? Inexplicavelmente, ela começou a sentir um agradável

formigamento em seu corpo.

Na terceira vez, estava ciente de algo mais. Sentiu uma tensão

rara crescendo dentro de seu próprio corpo. Era uma tensão densa e

estranha, algo que nunca sentira em sua vida. Estava se desdobrando

dentro dela, quente, lenta, e fortaleceu-se e intensificou-se a cada

segundo até que fosse quase... agradável.

“Nós podemos fazemos isso, Edie?”

Edie fechou os olhos. Sentiu o corpo de Stuart subir e descer com

cada respiração. E todo o resto do mundo parecia diminuir e

desaparecer.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


273
— Os trinta segundos se passaram.

A voz de Stuart a tirou da estranha atmosfera em que ela tinha

entrado. Sentou-se sobre os joelhos, quando Stuart se virou e se

sentou, percebeu que sua respiração era tão forte e trabalhosa quanto

à dele.

Estava quente na sala, continuava pouco ar em movimento, e seu

coração estava batendo violentamente contra o peito.

Stuart sorriu, e esse sorriso doeu, penetrou-a como uma flecha.

— Eu acho que gosto disso, — ele disse suavemente.

Edie lutou para recuperar o fôlego, mas ela nem sabia por que

estava respirando tão forte.

— Por que você está fazendo isso comigo? — sussurrou.

Stuart inclinou a cabeça e olhou-a atentamente.

— Por que tenho a sensação de que não estamos falando da

minha perna?

— Compreendo por que você quer... O que você quer —

continuou falando sem saber muito bem o que a impelia de abordar

aquele tema. — Mas por que comigo?

Stuart sentou-se e puxou-a para ele.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


274
— Já conversamos sobre isso. Somos casados, Edie.

Edie sentiu uma estranha decepção com aquela resposta, mas

nem sequer entendeu o porquê. Mas o que mais esperava que ele

dissesse?

— Provavelmente concederiam o cancelamento se você o

solicitasse. Afinal, eu estou negando você... Seu... — Sua garganta de

repente ficou seca, mas ela se forçou para continuar. — Seus direitos

conjugais. No seu caso, eles poderiam garantir uma anulação do

casamento.

— Eu não me importo. — Ele olhou para o rosto dela. — Não

quero a anulação.

— E se eles a concederem, — Edie prosseguiu, como se ele não

tivesse dito nada, — você poderia se casar de novo.

— Eu gosto da esposa que eu tenho, obrigado. — Ele passou as

pontas dos dedos pela sua face tão gentilmente que Edie não teve a

força de vontade para se afastar.

“Você não gostaria,” — pensou, apertando os olhos com força,

“você não gostaria se soubesse a verdade”.

— Você poderia encontrar uma mulher que melhor lhe

convenha, mais do que eu, — ela disse, e ela mesma percebeu uma

nota de desespero em sua voz. — Uma mulher muito mais bonita...

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


275
— Mais bonita? — Stuart interrompeu-a com um resmungo

zombador. — Você acha que não é bonita?

Edie engoliu em seco e abriu os olhos.

— Ambos sabemos que não sou bonita.

Stuart percorreu seu rosto com um olhar que pareceu uma

eternidade para Edie.

— Eu não sei nada disso, — ele disse finalmente.

Edie odiava aquela situação, odiava aquela admiração aberta,

odiava a fragilidade e a vulnerabilidade que ele a faziam sentir.

— E agora quem está mentindo? — sussurrou e desviou o olhar.

— Nós dois recordamos o que aconteceu naquela tarde no

terraço.

— Ele colocou a mão em seu rosto para convidá-la a olhar para ele. —

E, embora eu não possa estar completamente seguro do que

permanece em sua memória, posso dizer-lhe por que isso permanece

na minha. Naquela tarde, eu disse algo que a fez sorrir. Foi a primeira

vez que você sorriu para mim.

— E?

Essa pergunta era um suspiro duro e tenso, tenso e apertado,

como o nó de medo que tinha em suas entranhas. Ela mal conseguia

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


276
suportar aquela terrível e delicada carícia, mas ainda sabia que ele

poderia se afastar se ela assim preferisse.

“Levante-se”, pensou, "vá embora". Mas não se moveu. Fechou os

punhos em ambos os lados do corpo.

— Que queres dizer? — Ela perguntou.

— O que quero dizer, é que você está certa.

— Sobre que?

Edie baixou o olhar, cravou-o em seu queixo, tentando olhar

para trás de Stuart ao mesmo tempo, intentando não sentir nada.

— Sobre você não ser bonita, — repetiu Stuart, desenhou sua

face, as têmporas e a mandíbula com as pontas dos dedos — porque

quando você sorriu naquele dia, não pensei que fosse bonita — se

interrompeu e parou suas carícias também — pensei que era muito

bonita.

Ao ouvir essas palavras, algo quebrou dentro de Edie. Ela

sufocou um soluço.

— Não posso te dar o que você quer Stuart. Você deve procurar

uma mulher que possa dar a você.

— Mas, e você, Edie? Que é que você quer?

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


277
Ele escovou os lábios com o polegar e Edie precisou de toda sua

força de vontade para responder.

— O que eu quero não importa.

— Mas é claro que importa! — As carícias de Stuart eram quase

insuportáveis. — Você não quer ter filhos?

O medo pressionou um pouco mais, ela sentiu isso contra seu

coração e doeu. Era como se estivessem espremendo uma ferida.

— Não, — ela mentiu.

— Porque não?

Stuart deixou de acariciar seus lábios. Ele se inclinou para ela e

Edie tentou se virar, mas ele mergulhou a mão em seus cabelos para

detê-la.

— Não! — Eddie virou-se abruptamente e o forro do vestido de

seda se enganchou com o botão da camisa de Stuart, rasgando o laço.

Esse som teve o efeito de uma partida próxima à pólvora.

Colocando Edie imediatamente em ação.

-— Não posso continuar com isso.

Ela rastejou para trás enquanto tentava se levantar e fugir, mas a

saia do vestido havia ficado presa embaixo do quadril de Stuart.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


278
— Solte-me! — Ela gritou. Qualquer vestígio de sanidade parecia

se dissolver em puro pânico. Puxou desesperadamente a saia. —

Deixe-me ir! Deixe-me ir! Deixe-me ir!

Stuart ergueu os quadris, quando Edie conseguiu libertar as

camadas de renda, musselina e seda e levantou-se, Stuart já havia se

levantado se apoiando no pé da cama.

— Edie, espere!

Ele a agarrou pelo pulso no momento em que ela começou a

girar e, quando a puxou, não a deixou ir. Aumentou a força de sua

mão e ela ficou paralisada, presa por medo, vergonha e uma súbita e

terrível sensação de impotência. — Por que correr? Qual foi o

motivo?

Ela olhou para o punho rasgado. Era um rasgo pequeno de três

centímetros, mas mesmo assim, sentia como se o vestido inteiro

estivesse em pedaços, exposta, como se estivesse vestindo um “A”

escarlate preso ao peito. Ergueu a mão livre e viu como tremia

enquanto tentava juntar as bordas do encaixe.

— Meu Deus!

A voz de Stuart parecia vir de longe, mas, embora ela mal

conseguisse distinguir seu sussurro rouco do rugido que tocava seus

ouvidos, bastava indicar que finalmente tinha compreendido a

verdade.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


279
Stuart soltou o pulso como se de repente o queimasse.

— Deus, é claro! Quão estúpido eu tenho sido.

Ele colocou a mão no rosto dela. Edie se encolheu e, embora ele a

afastou, o medo começou a abrir caminho para a superfície. Lutou

muito para suprimi-lo, como fez muitas outras vezes para não

desmoronar.

Seu peito começou a doer pelo esforço que estava fazendo para

respirar. O cheiro de água de colônia parecia invadir seu nariz e

enrolar seu estômago. A vergonha a envolveu, queimando em sua

pele como o sabonete desinfetante que ela usara seis anos antes para

apagar os traços do que havia acontecido.

— Edie, olhe para mim.

Ela balançou a cabeça, recusando-se, mas, mesmo assim, sabia

que era inútil querer esconder-se no meio da noite e fugir. Em algum

momento teria que olhar para ele. E sabia que poderia fugir até o fim

do mundo sem conseguir nada, porque nada mudaria o que tinha

acontecido no passado.

Tentando endurecer-se, se forçou a olhar para cima, mas no

momento em que viu o rosto de Stuart, quebrou sua compostura. Ela

virou-se e correu para a porta. Mas não corria de medo, mas porque

não conseguia suportar o olhar horrorizado de Stuart.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


280
Capítulo 12

Stuart experimentou todos os tipos de sentimentos intensos ao

longo de sua vida. Ele experimentou o estúpido delírio do primeiro

amor e as sombrias profundidades da tristeza. Ele tinha sido

dominado pela beleza deslumbrante de um pôr do sol na África e

tinha sido paralisado pelo rosto vivaz de uma jovem com sardas. Ele

conhecia prazer, desejo, alegria e desespero.

E pensava ter conhecido raiva. Até esse momento.

Stuart levantou-se no quarto de Edie e sabia que toda a raiva que

experimentara até agora não era mais do que uma ligeira irritação. A

raiva era diferente. A fúria era a seguinte: o sangue atravessava o

fluxo de suas veias como um rio de lava, a cabeça a ponto de

explodir, uma escuridão que atravessava seus olhos e bloqueava tudo

o que não fosse à mão tremendo de Edie tentando fechar o punho.

Nesse gesto insignificante, a verdade tinha sido revelada como

um flash súbito, deixando-o completamente paralisado enquanto

Edie escapava. Não podia segui-la mesmo naquele momento. Ele não

podia se mover, não podia pensar com a raiva explodindo dentro

dele. Ele só podia sentir.

De pé, em um quarto inglês bem decorado com seda de alfazema

e veludo, sentiu-se mais selvagem, mais primitivo do que qualquer

animal que encontrou na África.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


281
Ele queria matar o filho da puta que tinha feito isso com Edie.

Ele queria persegui-lo, rastreá-lo, derrubá-lo e rasgá-lo em tiras até o

último pedaço de carne. Ele queria enfrentar o pai de Edie e

repreendê-lo por não fazer nada para vingar ela. Ele queria chicotear-

se por não poder reconhecer a verdade até então. Ele queria ficar

bêbado, começar uma briga, abrir a parede com um soco. Fazer

qualquer coisa, exceto o que sabia que tinha que fazer.

Stuart respirou fundo e passou as mãos pelo rosto, tentando

controlar a violência que havia se apoderado dele. A raiva não

ajudaria em nada naquele momento.

Ele pegou a bengala, colocou os chinelos e dirigiu-se para o

quarto. Ele vestiu-se para o jantar, e de alguma forma, colocando uma

camisa, um colete branco, uma calça preta e uma jaqueta da mesma

cor o ajudaram a moderar a raiva. Enquanto ele amarrava a gravata

com um laço branco, ele fechou o pescoço, apertou as abotoaduras e

colocou um lenço branco no bolso da jaqueta, conseguiu remover a

parte de sua alma que se tornou uma besta raivosa e recuperar a

homem civilizado que era.

Só então ele foi procurar sua esposa.

Ele a encontrou no Jardim Romano ou, como ela o chamava,

Jardim Secreto. Ela estava sentada no banco onde eles estiveram

sentados no dia anterior, mas quando o viu sair das plantas de erva-

doce e verbasco, ela pulou.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


282
— O que quer?

Stuart parou e a estudou através do jardim, perguntando-se

sobre como proceder para não causar mais dor ou piorar as coisas.

Ele tinha ido lá para confortá-la, mas quando ele olhou para ela,

suspeitou que ela receberia seu consolo com a mesma ilusão com a

qual ela enfrentaria a remoção de um dente.

Ele respirou fundo.

— Não teve somente um coração partido, estou certo?

O rosto de Edie torceu de dor e Stuart sentiu como se tivesse

acabado de ser esfaqueado no peito.

— Ele... — Stuart interrompeu-se antes de se forçar a dizer — ele

a estuprou.

Edie não fez nenhum som, não soltou uma única lágrima. Ela

não se moveu, ela não falou. Apenas olhou para ele, e nenhuma outra

resposta foi necessária. Seu sofrimento pairava naquela tarde de

verão sufocante e a raiva de Stuart se aprofundou, mais extensa.

Ele sentiu a dor de Edie desde o primeiro momento,

simplesmente, não tinha sido capaz de reconhecer o verdadeiro

motivo. Ou talvez não quisesse vê-la? A atitude de Edie não era a de

uma mulher cujo coração havia sido quebrado, nem a de uma virgem

temerária. Não era algo tão simples. Mas finalmente descobriu a

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


283
verdade e, como era ruim, não havia volta, então, o que ele deveria

fazer uma vez que estava ciente? Bom Deus, o que um homem

deveria fazer nessa situação?

— Eu quero matá-lo, Edie, — ele disse, expressando seu primeiro

impulso. — Eu quero pegar o próximo navio para Nova York,

encontrar esse canalha e matá-lo.

— Você não pode, — disse Edie, sua voz abafada. — Agradeço o

gesto, mas você não pode. Aqui, é possível que um duque se livre de

uma acusação de homicídio, mas em Nova York, as coisas são

diferentes. Eles iriam enforcá-lo. Além disso, você não acha que eu

não pensei em matá-lo? Você sabe quantas vezes eu planejei isso? Por

um tempo, não vivi para mais nada. Mas no final... Consegui

superar. Eu tinha que pensar em Joanna, entende. E em seu futuro.

— Eu sei que não posso matá-lo, mas há outras possibilidades.

— Como quais? Um duelo pela minha honra? — Ela riu

amargamente e Stuart se encolheu de dor. — Concordei em conhecê-

lo, mas nunca imaginei... — parou e balançou a cabeça. — Não

importa. Eles nos viram após essa reunião, mas recusou-se a se casar

comigo, então fui socialmente repudiada. Eu era considerada uma

mulher qualquer, uma harpia comum e repugnante que tentara

enganar um verdadeiro cavalheiro para casar com ela e havia

falhado. Não há honra para defender, e ainda mais seis anos depois.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


284
— Um duelo é bastante tentador, confesso, mas não é isso que

penso.

Edie balançou a cabeça.

— Ele é um homem rico e poderoso, não é fácil. É praticamente

intocável.

Nenhum homem era intocável, mas Stuart não disse isso. Em vez

disso, ele respirou fundo, lembrando-se do que era realmente

importante no momento e colocando sua raiva novamente em espera.

Ele teria tempo para pensar em vingança.

— Posso começar a imaginar o que teve que suportar e não

pretendo que me fale sobre isso, mas...

— Melhor. — Pronunciou aquela palavra como um tiro de rifle.

-— Mas se você quiser...

— Não vou querer. Agora, por favor, vá.

Era como um animal ferido, pensou Stuart enquanto a olhava. O

medo e a dor se refletiam em cada linha de seu corpo, na quietude

tensa de sua silhueta e em seu olhar atento e suspeito. Ela queria estar

sozinha, lamber suas feridas. E, embora continuasse assim por muito

tempo, Stuart não podia permitir que continuasse a fazê-lo.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


285
Lembrava mais do que nunca uma gazela e ele decidiu que essa

seria a única maneira de chegar perto. Lentamente, movendo-se com

um cuidado infinito, deu um passo à frente e parou quando Edie

pegou as dobras da saia. Ele deu outro passo e Edie olhou em volta

como se estivesse tentando decidir a rota de sua fuga. Mas estava

rodeada por arbustos exuberantes e, quando Stuart deu outro passo,

ela percebeu e decidiu não escapar por ali. Em vez disso, ergueu o

queixo e olhou para ele.

— Se você não se importa, eu gostaria de ficar sozinha.

— Eu me importo, — ele disse, e continuou a circular a fonte

com passos curtos e comedidos. — De acordo com os meus cálculos,

ainda tenho direito a trinta minutos do seu tempo.

— Você não pode estar falando sério. — Eddie o encarou

claramente horrorizada. — Você não pode esperar que eu continue

com isso agora!

— Eu posso e farei. — Ele viu seu rosto empalidecer mais ainda,

mas não se afastou. Ele não podia deixá-la sozinha. Era sua esposa. —

Para mim, nada mudou. E ainda tenho oito dias restantes. A menos

que tenhas a intenção de renunciar.

Edie mudou o peso de um pé para o outro e deu-lhe outro olhar

furtivo ao redor dele.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


286
— Você poderia, é claro, — Stuart continuou enquanto subia os

degraus, — mas isso significaria que você teria que escapar de mim.

Parou na frente dela. Estava se aproximando o anoitecer, a hora

do dia em que as cores pareciam mais vivas e os aromas mais

intensos. Podia ver as manchas de ouro em seus olhos verdes e o

brilho acobreado de seus cabelos. Ele podia sentir a fragrância do

jardim e também de seu medo.

— E fugir seria bastante inútil, você não acha?

— Você não entende nada — disse Edie entre os dentes. — Nada

— Mas eu sei muito sobre o medo. Eu o enfrentei mais de uma

vez. E isso é o que tem a ver com o medo, a propósito. Enfrente e

vença, porque você nunca pode correr o suficiente para escapar.

Um soluço arrancado saiu da garganta de Edie, mas foi capaz de

reprimir isso, mordendo os lábios.

— Eu também sei muito sobre a dor, — continuou Stuart. — Eu

sei o que é estar ferido. Mas, Edie, as feridas se curam. Elas podem

deixar uma cicatriz, mas não se pode jogar a toalha, mesmo as mais

profundas se curam.

Edie olhou para cima. As manchas de ouro em seus olhos

brilhavam como faíscas.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


287
— Você acredita? — Havia uma nota zombadora em sua voz. —

Você realmente acha que pode me curar?

— Prefiro esperar que nós curemos um ao outro.

— Você não precisa de mim para curar suas feridas. Nós dois

sabemos que você pode contratar um criado para ajudá-lo, ou você

pode até ter um médico para tratá-lo. A verdade é que você não

precisa de mim.

— Oh, não?

Então, foi sua vez de desviar o olhar e, quando o fixou sobre o

ombro de Edie, no intrincado design da placa de ferro forjado que

pendia atrás dela na parede de pedra calcária, ele se lembrou da noite

em que ele estava prestes a morrer.

— Aí é onde você se engana, Edie. Preciso de você mais do que

você pode chegar imaginar.

— Não entendo por que.

— Agora, isso não importa. — Ele se forçou a olhar para ela de

novo. — Eu vim aqui para confortá-la, não para você me consolar.

Edie olhou para trás, olhando para a fonte.

— Um gesto muito gentil da sua parte, mas não há nada que

possa me consolar.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


288
— Você tem certeza? — Ele viu sua expressão imperturbável de

seu rosto. — Você está completamente certa?

Edie se moveu desconfortavelmente.

— Deveríamos ir embora. Já está na hora do jantar.

— Ainda não, — ele disse quando Edie começou a cercá-lo. —

Há outra coisa que eu quero lhe dizer. — Ele ergueu a mão esquerda

para encaixar em seu rosto, mas ela se afastou, evitando seu toque e

lembrando-o com veemência de tudo o que estava em jogo.

Então Stuart estendeu-lhe a mão diante dela, oferecendo-a.

Edie olhou para a mão dele, mas não fez nenhuma menção de

aceitá-la.

— Você não precisa pegar minha mão, — disse Stuart. — Você

não precisa me beijar nem dormir comigo ou fazer o que não queira

Edie. Eu só quero lhe perguntar uma coisa.

Edie manteve o olhar fixo na palma da mão.

— O que? — sussurrou.

— Me dá uma chance. — Ele interrompeu e baixou a cabeça

ligeiramente para que Edie pudesse olhar em seus olhos. — Dê-nos

uma oportunidade eu preciso disso, e acho que você também.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


289
Ele esperou, e teve a sensação de que fora uma eternidade antes

de Edie responder.

— Amanhã de manhã, nos encontraremos com o Sr. Robson para

revisar os livros de contabilidade. Às dez horas. — Passou por ele,

mas parou antes de começar a descer as escadas. — Quanto ao outro

— disse por cima do ombro, sem olhar para ele. — Vou tentar Stuart.

Nos próximos oito dias, vou tentar. Mas é a única coisa que posso lhe

prometer.

Stuart a observou ir, esperando que oito dias fossem suficientes

para conquistar toda uma vida. Naquele momento lhe parecia muito

improvável.

De todas as coisas que Edie poderia ter esperado sentir se Stuart

descobrisse a verdade, o alívio era a última delas. Se alguma vez

tivesse parado para contemplar a terrível possibilidade de Stuart

descobrir seu segredo, ela teria previsto que o resultado seria que os

sentimentos que a perseguiam se tornariam mais intensos. Mas

sentir alívio? Não, Edie nunca teria imaginado.

E, no entanto, à luz dessa revelação, ela se sentia mais leve, como

se um peso tivesse sido tirado de seus ombros, foi então que apreciou

o que podia acarretar a carga de um segredo quando era suportado

de solidão.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


290
Mas isso não facilitou as coisas. Apesar da sensação de alívio,

Edie sentiu-se mais vulnerável e exposta do que antes e, para ela, o

jantar foi um episódio incomum e violento.

Joanna, no entanto, salvou a situação perguntando sobre a

África, de modo que durante a noite puderam apreciar descrições

daquela paisagem deslumbrante e seus animais exóticos e ouvir

histórias sobre a vida na selva africana. Joanna e a Sra. Simmons

ouviram com atenção e, embora em qualquer outro momento, Edie

teria ficado igualmente fascinada, naquela noite estava muito

preocupada como poderiam lhe importar as anedotas sobre elefantes

e rinocerontes.

O fato de Stuart querer continuar com ela a surpreendeu. Stuart

já sabia a verdade. Não percebia que o que ele queria era impossível?

E, no entanto, mesmo quando se fez essa pergunta, sentiu-se

insegura, duvidava. Realmente não haveria nenhuma esperança?

Ela olhou por cima da sobremesa e estudou o rosto de Stuart na

mesa do jantar. Esta era a única sala na casa ainda iluminada por

velas e, com seu brilho fraco, se viam os reflexos do sol africano nos

cabelos escuros de Stuart e na sua pele bronzeada. As rugas em torno

de seus olhos e a boca se fez mais profundas quando riu da anedota

que Joanna contou sobre um suposto conde italiano em um safári.

Estava maravilhosamente bonito com sua jaqueta. Embora, de fato,

ele sempre havia sido um homem atraente. E ela sempre soube disso.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


291
"Se fosse barrigudo, um metro e meio de altura e com dentes ruins,

acho que não pensaria em me fazer qualquer proposta. Acho que no momento

em que me viu, sentiu-se pelo menos um pouco atraída. E asseguro-lhe que

eu fiquei atraído por você”.

As palavras que Stuart havia lhe dito no quarto do Savoy

ecoavam em sua mente e, pela primeira vez, ela se perguntou se

havia alguma verdade nelas. Pensaria em se casar com ele se ela não

o tivesse achado tão atraente?

Como se ele tivesse notado que ela estava olhando para ele,

Stuart olhou para ela e, quando Edie viu seus belos olhos cinza,

experimentou a mesma sensação estranha e tremenda que sentiu pela

primeira vez que Stuart a encarou.

Naquela época, estava desesperada por encontrar um jeito de

não ter que ir para casa, mas até ter cruzado com Stuart, não havia

encontrado. E quando ele a olhou com aquele olhar de perplexidade e

um leve sorriso em seus lábios, Edie sentiu a atração puxá-la como

um ímã. Naquela noite, estava tão preocupada com todos os

sentimentos que estavam borbulhando dentro dela que não tinha

admitido, nem sequer tinha consciência de que estava lá e sempre

atribuiu o que aconteceu ao acaso e nada mais. Naquele momento,

olhando para o homem na frente da mesa, percebeu que Stuart estava

certo. Em meio ao medo, ao pânico, havia surgido uma atração, uma

atração latente, mas que havia sido reprimida e ignorada.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


292
E, assim como a jovem tinha feito na Hanford House, ela olhou

para ele e se perguntou como seria sua vida se o tivesse conhecido

antes do episódio de Saratoga, quando ainda era uma mulher

inocente, virtuosa e íntegra.

A sala de jantar de repente começou a sufocá-la. Edie desviou o

olhar e apoiou o garfo no prato.

— Com licença, — ela disse, e se levantou, interrompendo a

conversa e fazendo Stuart se levantar. — Se não se importam, vou me

retirar para meu quarto. Minha cabeça está doendo um pouco.

— Você quer que eu lhe mande um dos pós do Dr. Beechum?

Tenho alguns.

— Não, obrigada, não é necessário. Eu só preciso me deitar. Boa

noite para todos.

Ela saiu da sala e subiu as escadas, mas nem mesmo o quarto

serviu de refúgio. Parou de ser desde que Stuart esteve lá. Edie

recostou-se contra a cabeceira e olhou para o chão, onde Stuart lhe

disse que ela era linda quando sorriu. No lugar onde ele havia

descoberto seu segredo, sua vergonha.

“Nada mudou, Edie, não para mim”.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


293
Como poderia ser verdade? Como ele poderia querer ela depois

de tudo? Mas era isso. Stuart a queria porque achava que ela poderia

ser uma mulher normal, uma mulher com desejos normais.

Estendeu a mão para tocar seu rosto onde Stuart a tinha tocado e

se perguntou, por um momento, se era possível. Mas então ela

pensou sobre o que poderia acontecer depois que ele a acariciara e a

chamara de bela, pensou sobre a invasão de seu corpo e a esperança

desapareceu como a chama de uma vela ao ser apagada.

Saratoga tinha sido uma realidade. Não havia volta.

Na manhã seguinte, eles se encontraram com o Sr. Robson,

exatamente como planejaram. Do ponto de vista de Stuart, era uma

reunião completamente desnecessária, porque na sua ausência, o

administrador estava enviando relatórios trimestrais a Nairobi sobre

todas as propriedades ducais. Mas não contou a Edie, porque depois

do dia anterior, ela provavelmente precisava de alguém para mediar

seu relacionamento, e um homem tão seco e profissional quanto

Robson poderia ser tão bom quanto qualquer outra pessoa.

Quando Edie pediu a Robson para informar Stuart sobre o status

das diferentes propriedades, Stuart ignorou o olhar ligeiramente

desconcertado do administrador e assentiu silenciosamente,

encorajando-o a fazê-lo. Enquanto Robson enumerava as diferentes

renovações realizadas nas propriedades, ele escutou com atenção

absoluta a alguns dados que, de fato, ele já sabia.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


294
Edie não encerrou a reunião até duas horas depois. Ela

murmurou algo sobre uma refeição com membros do comitê de

vendas de caridade e a necessidade urgente de visitar outras

senhoras do condado e saiu.

Stuart entendeu que ela precisava colocar certa distância entre

eles e, verdade seja dita, ele também precisava disso.

Desde o primeiro momento, ele soube que Edie não era como

qualquer outra mulher que já conhecesse. Quando ele voltou para

casa, ele estava ciente de que Edie não receberia a idéia de um

verdadeiro casamento entre eles. E quando propôs a aposta, tinha

feito isso sabendo que não seria fácil ganhar um beijo. Ele também

pensou que sabia os motivos por trás de tudo isso, mas dias depois,

ele entendeu que não tinha idéia.

Na verdade, quando descobriu, despertou espanto e raiva. O

impacto inicial já havia passado e a fúria tinha sido reduzida a um

sentimento que estava a fogo baixo no seu interior. Mas, nesse

momento, ele teve que enfrentar algo muito mais difícil, algo que sua

vasta, mas superficial, experiência com as mulheres nunca lhe

ensinara.

Ele precisava despertar o prazer em uma mulher cuja única

experiência com o amor havia sido brutal. Ele precisava ressuscitar o

desejo que outro homem tentara anular. E quando considerou a

questão de como fazê-lo, sentiu-se desesperadamente perdido.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


295
Provavelmente, esta era a primeira vez em sua vida adulta que estava

com uma mulher que ele não tinha idéia de como seduzir. Ele estava

aterrorizado. O que aconteceria se ele falhasse? Sim, o que quer que

ele fizesse, não seria suficiente. Toda mulher merecia apreciar os

prazeres das relações sexuais, não apenas áquelas ligadas ao físico,

mas também da ternura, da intimidade e diversão que a envolviam, e

era responsabilidade de um homem se certificar de que ela os

receberia. Se ele falhasse, Edie nunca conheceria todas essas coisas.

Tudo dentro se rebelou contra essa possibilidade. Edie era sua

esposa, ela merecia desfrutar desses prazeres e, Deus santo, dependia

dele para tê-los, mas como?

Tudo o que tinha que fazer era ganhar um beijo, mas se

pressionasse demais ou tentasse ir muito rápido, Edie fugiria e sua

aposta fracassaria. Mesmo que ganhasse a aposta, não tinha garantia

de que faria o que foi acordado. E como culpá-la se não fizesse?

Mesmo que ficasse ao lado dele, ele poderia fazê-la feliz? O

infortúnio que lhe havia acontecido foi como uma parede entre eles. E

se ele não pudesse derrubar? E se Edie decidisse um belo dia que não

conseguia suportá-lo e o abandonasse?

Stuart se esforçou para se afastar desses cenários hipotéticos e de

voltar para a realidade. Tinha que ganhar um beijo. Aquele era seu

único objetivo. Quanto ao resto, teria tempo para lidar com isso

quando chegasse o momento.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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Capítulo 13

Se Edie pensava que fugindo de Highclyffe na parte da tarde, ela

poderia escapar de Stuart, ela estava tristemente enganada.

As senhoras do município expressaram sua enorme alegria ao

retorno do duque, comentaram sobre o quão feliz deveria estar e

asseguraram que, não teria que se preocupar com o cumprimento

satisfatório de suas responsabilidades, já que, estando o duque de

volta a casa, logo não tardaria em haver um herdeiro nos quartos das

crianças.

Edie, sentindo-se encurralada por todos os lados, finalmente

desistiu por fim das visitas e voltou para a casa, onde achou que era

vital vistoriar o chá e verificar as salas de armazenamento do sótão ao

lado da Sra. Gates.

Mas ela não poderia evitar estar sozinha com ele para sempre.

Às cinco horas, uma das donzelas apareceu e informou-a que Sua

Excelência terminara o chá e estava esperando por ela no terraço,

para juntos fazerem o passeio da tarde.

Edie desceu para se juntar a ele com uma sensação de medo, mas

para seu enorme alívio, Stuart não fez referência aos eventos

mortificantes do dia anterior. Enquanto ele pegava Snuffles para

caminhar nos jardins, Edie manteve a conversa em um terreno seguro

e neutro. Falaram sobre o tempo, o calor, os novos habitantes da

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cidade e o estado da grama que alinhava as estradas, Stuart parecia

satisfeito com esses assuntos banais.

Depois, Edie voltou para o quarto e colocou o mesmo tipo de

vestido solto da tarde anterior. Como tinha feito manteve o

espartilho. Stuart estava certo em dizer que seria muito mais fácil se

ela o tirasse, mas, para Edie, quanto mais barreiras entre eles, melhor.

Embora, de fato, não parecia haver muita diferença, porque

quando Stuart bateu em sua porta, minutos depois, ela ficou tão tensa

como um gato caminhando em tijolos encarnados.

Ao abrir, a visão de Stuart com o roupão foi uma forte lembrança

da intimidade que tinham compartilhado no dia anterior e das

revelações dolorosas que haviam sido feitas. No momento em que

Stuart fechou a porta atrás dele, o som da chave na fechadura a levou

a ir para o outro lado da sala. Quando tirou os chinelos e o roupão,

Edie concentrou-se na classificação das garrafas do banheiro, mas

isso só piorou as coisas, porque a pequena garrafa de unguento verde

estava entre eles e ela era absolutamente incapaz de imaginar que

ficaria relaxada a suficiente na companhia de Stuart para aplicá-lo.

Quando Stuart perguntou se ela estava pronta para começar,

Edie levantou-se da penteadeira e caminhou até onde ele estava, mas

não podia olhá-lo nos olhos.

Stuart percebeu imediatamente.

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— Edie, você não precisa ficar nervosa.

— Eu não estou nervosa, — ela negou, mas assim que falou, fez

uma careta quando percebeu o quão convincente soara. — Ok, sim,

eu estou nervosa.

— Eu, também, digo isso no caso de fazer você se sentir melhor.

— Ele deitou de costas e levantou a perna. — Afinal, — ele

acrescentou enquanto ela pegava sua coxa, — aqui você é a única que

tem todo o poder.

Porque Edie nunca teria escolhido estar naquela posição, com a

perna de Stuart pressionada contra seu corpo e sentindo como o calor

se estendia através de seu corpo, ela não se sentia precisamente em

posição de poder.

— Em que sentido?

Stuart abriu os braços.

— Estou à sua mercê. Se eu me comportar mal, você pode me

fazer pagar por isso.

Edie não entendeu, já que ambos sabiam que ele poderia

subjugar ela no momento que quisesse, mas não aprofundou o

assunto e completou todos os alongamentos sem qualquer conversa.

No entanto, a intimidade do ato de ajudá-lo tornou-se mais forte do

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que no dia anterior e, quando terminaram, sentiu-se

consideravelmente aliviada.

— Está funcionando? — Perguntou a Stuart enquanto levantava

e se afastava dele. — Estão sendo úteis as caminhadas e os

alongamentos?

— Eu acho que sim. — Torceu a perna para tentar, levantou-se e

pôs todo seu peso sobre ela. — Sim, na verdade sim, — disse ele

depois de um momento. — Ela ainda está um pouco dolorida, mas

espero que o unguento de Cahill me ajude. Onde você o deixou?

Edie estava paralisada. Toda a vergonha do dia anterior voltou

com uma intensidade dez vezes maior.

— Não posso Stuart, — ela explodiu, esfregando as mãos no

vestido.

— Essa parte eu não conseguirei fazer.

Stuart não pareceu surpreso. Ele assentiu.

— Você não precisa fazer isso se você não quiser Edie.

Essa aceitação de sua recusa a incentivou a reiterar seus motivos.

— Eu quero ajudá-lo, — ela disse, foi até a penteadeira para

pegar a garrafa, — de verdade. Mas... depois... depois de ontem, acho

que você está ciente de que há algumas coisas que... Eu não poderei

suportar. Pegue.

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Stuart pegou a garrafa de suas mãos que estavam estendidas.

— Edie...

— Eu sei o que você quer que eu faça, — disse Edie, sua face

ficando cada vez mais quentes, — e entendo o porquê. Quero dizer,

não sou uma jovem ingênua.

Por algum motivo estranho, isso fez com que Edie sorrisse.

— Mas é um passo muito grande, Stuart. É também... também...

— Ela desviou o olhar e se forçou a dizer a última palavra, — intimo.

— Edie, é o suficiente. — Stuart colocou a garrafa no bolso, deu

um passo em direção a ela e colocou as mãos em seus braços. — Você

não precisa se justificar para mim. — Ele inclinou a cabeça para poder

olhar para o rosto que Edie tentava desviar e disse: — Você sabe? Eu

acho que isso me dá finalmente a oportunidade que eu estava

esperando.

— A oportunidade? — Edie repetiu com uma voz que parecia

muito frágil até para si mesma.

— Sim. Há algo que eu sinto que preciso dizer, mas, até agora,

não sabia como trazer a tona o assunto e isso só indica que é um

problema que eu tenho que abordar. Antes que você vá se preparar

para o jantar, podemos sentar e conversar por um momento?

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Edie preferiria acabar com esse intervalo, mas assentiu

relutantemente. Ele apontou para os dois assentos cobertos de veludo

roxo que cercavam a lareira, mas, embora estivesse sentada em um

deles, Stuart não sentou no outro. Em vez disso, foi até a penteadeira

e puxou o banquinho acolchoado. Agarrando-o por uma das pernas

de madeira, pegou a cadeira onde Edie estava sentada e o colocou

diretamente em frente dela.

Seu joelho roçou o de Edie quando se sentou, mas Edie sabia que

teria sido um absurdo protestar, já que, alguns minutos antes, eles

estavam em uma intimidade muito maior.

Enquanto pensava nisso, parecia aumentar o calor da sala e

desejava que alguma brisa entrasse pelas janelas abertas. Moveu-se

ligeiramente e cruzou as mãos delicadamente em seu colo.

— O que quer falar?

— Quando confidências são trocadas, é sempre embaraçoso

conversar mais tarde. — Stuart esticou a perna direita em frente à

cadeira, abaixou a bengala e cruzou os braços sobre a perna esquerda.

— Por favor, preciso que você acredite que não quero tornar as coisas

mais difíceis para você ou causar qualquer constrangimento ou dor,

mas há algo sobre o que me revelou ontem que preciso esclarecer.

Edie olhou para trás em direção à porta, sentindo-se um pouco

desesperada.

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— Preferiria que não o fizesse.

— Estou certo disso. E eu não faria isso se eu não tivesse a

sensação de que é absolutamente necessário. Mas também é muito

difícil. — Ele ficou em silêncio, levou o punho na boca e desviou o

olhar por longos segundos.

Edie esperou com os punhos apertados cada vez mais apertados

em seu colo, desejando que ele dissesse, seja lá o que fosse.

No final, Stuart se moveu no assento, abaixou a mão e olhou

para ela.

— Edie, tenho a sensação de que era completamente inocente

quando aquilo aconteceu, que você não tinha nenhuma experiência.

Tenho razão?

— Oh, meu Deus! — Edie abriu as mãos para agarrar-se aos

braços da cadeira.

— Porque me pergunta isso? — Ela sussurrou com dureza,

virando o rosto para o lado.

— Porque, se for assim, então há algo que você pode não saber,

algo que você precisa saber. Entre todos os animais, incluindo os

humanos, existem certas regras. Se é uma alcateia de leões, uma

colônia de macacos ou um homem e uma mulher, uma das regras

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básicas de qualquer sociedade é que a mulher sempre tem o direito

de rejeitar as aproximações masculinas.

Edie se contorceu na cadeira. Estava tão desconfortável que mal

conseguia respirar.

— Eu não quero continuar falando sobre isso, de verdade.

— Eu sei que você não quer, e sinto muito por causar-lhe essa

angústia, mas é importante que deixemos isso muito claro. Edie, por

favor, olhe para mim.

Stuart parou, sabia que estava esperando ela tomar uma decisão.

Edie não se moveu.

— E eu poderia... — Stuart se interrompeu, envolveu a mão em

torno de Edie e a ergueu. Olhou nos olhos dela apertou sua mão em

sua face — eu poderia beijá-la.

Stuart virou a cabeça, ainda segurando seu olhar e beijou a

palma de sua mão.

Edie sentiu o beijo por todo o corpo, e o sentimento não estava

relacionado ao medo. Ela deu uma exclamação de surpresa e retirou a

mão, mas mesmo depois de ter feito isso, ainda sentia o calor dos

lábios de Stuart em sua pele.

Resistindo ao desejo de esconder sua mão nas costas, se forçou a

falar.

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— Eu suponho, — se interrompeu, esforçando-se para

demonstrar um toque de dureza em sua voz. — Eu acho que você

não pode resistir à tentação de fazer esses avanços.

Mas a pergunta, proveniente de seus lábios, era pouco mais do

que um sussurro precipitado, não tão mordaz quanto ela desejava.

— Acho que não, — disse Stuart, e embora o tom fosse grave, um

sorriso dançou na esquina de seus lábios.

— Eu sabia que diria isso, — disse Edie.

— As apostas são altas, Edie, eu jogo para vencer. — Seu sorriso

desapareceu. — Mas, se eu fizer ou tentar fazer qualquer coisa que

não goste, ou que não quer que eu faça, você não precisa justificar sua

objeção. Tudo o que você precisa fazer é dizer não.

Edie não podia mais suportar aquilo.

— Eu disse não! — Ela gritou, punhos cerrados e prontos para

perder o controle. — Eu disse a ele, eu disse a ele uma e outra vez!

Stuart apertou os lábios e, por um momento, Edie reconheceu a

dor em seu rosto. Dor e raiva, uma raiva que, Edie entendeu, Stuart

sentiu em seu nome.

— Eu tenho certeza que você disse a ele, mas eu não sou ele. —

Ele estendeu a mão e escovou sua face com os dedos enquanto

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retirava uma mecha de cabelo. — Edie, eu quero que você sempre

lembre, eu não sou ele.

E, depois de dizer essas palavras, olhou o relógio na lareira.

— Vejo que usei um quarto de hora mais do que eu tinha direito,

— disse ele. Ele empurrou o banco para trás e pegou a bengala. —

Você pode descontá-lo amanhã se quiser, — ele acrescentou

alegremente. —Embora eu preferisse que não o fizesse, porque tenho

certeza que tem preparado alguns planos fascinantes para amanhã.

Edie respirou fundo e se levantou grata por essa piada que a

ajudou a recuperar a compostura.

— Sim tenho um plano muito emocionante.

— Alguns jogos de cartas com algumas das velhas irmãs no

condado? —Ele arriscou enquanto se levantava. — Ou talvez um

bingo?

— Não para as duas coisas, pelo menos amanhã. — Vamos fazer

compras na cidade. Joanna e eu temos que ir à Miss May's.

— A chapelaria? — Ele gemeu. — Diga-me que você está

brincando.

— É a minha vez e eu decido. Você definiu as regras, lembra-se?

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— Mas há certos limites, — grunhiu Stuart. — O vigário, o Sr.

Robson e agora a Miss May?

— Também podemos passar pela mercearia.

— Cada vez que fica pior! Mesmo assim, suas óbvias tentativas

de aborrecer-me mortalmente não estão sendo bem-sucedidas,

porque, seja lá o que faça, não acho você chata. Eu gosto da sua

companhia, mesmo que visite uma loja de chapéus ou uma

mercearia. Mas, — ele acrescentou quando se virou e começou a

caminhar em direção à porta, — apenas para que você saiba, eu

poderia tentar roubar um beijo para animar um pouco o passeio.

O coração de Edie bateu forte em seu peito com o alarme

despertado por essa possibilidade, mas ela percebeu com horror que,

juntamente com esse sentimento, ela também experimentou uma

pequena, mas inconfundível sensação de antecipação. Desejar a

possibilidade de que Stuart a beijasse foi tão surpreendente e

desconcertante que ele estava quase na porta quando lhe ocorreu

uma resposta.

— Mesmo que me beije, — ela respondeu, reunindo toda a

dignidade que podia, — não contaria.

— É verdade. — Stuart fez uma pausa na entrada e sorriu para

ela por cima do ombro, — a menos que você me beijasse de volta.

— Mesmo assim, não contaria!

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Stuart apenas riu, saiu e fechou a porta atrás dele.

Na tarde seguinte, eles foram para a Miss May, mas Edie apenas

forçou Stuart a ficar de pé durante os vinte minutos que demorou em

comprar o pacote de canetas que precisava antes de sair da loja.

Joanna pediu para ter permissão para ir ver os materiais de pintura e

desenho de Fraser’s, Edie concordou, mas com a companhia da Sra.

Simmons.

— Vejo que Joanna gosta de pintar, estou certo? — Stuart

comentou quando Joanna e a governanta desapareceram dentro da

loja.

— Ela adora, — disse Edie. — E é muito boa, inclusive com

pintura a óleo. Toda vez que vamos a Londres, quer visitar museus e

galerias de arte. A Exposição Real sempre está exposta perto da data

de seu aniversário, então eu sempre a levo. Ela ama quadros.

— Ah é? — Stuart franziu a testa pensativamente enquanto

olhava através da janela de Fraser’s. — Esses dados poderiam ser

úteis para mim, — murmurou.

— Em que sentido?

Stuart olhou para ela de novo.

— Oh, você sabe! No Natal, ou para o aniversário dela. — Ele

apontou para a porta. — Você não quer entrar?

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— Não, não, ainda tenho que ir a outra loja. Nós vamos buscá-la

quando retornarmos.

— Vamos para a Whitcomb’s? — Aventurou Stuart enquanto

caminhavam pela High Street. — Acho que é para onde estamos

indo, certo?

Edie riu.

— A mercearia? Não, não. Eu não vou fazer você sofrer mais

depois de quão bem você ficou na Miss May's.

— Nesse caso, ambos somos sortudos. — Uma vez que você não

aguenta ter que contemplar botões e alfinetes de segurança, deixarei

de elaborar meus planos de vingança.

— Você já fez plano?

— Sim, mas não espere que eu diga quais são. Pretendo mantê-

los na reserva se você decidir me arrastar para um de seus comitês de

caridade.

— Eu nunca faria tal coisa com você. — Ela fez uma careta,

pensando em todas as visitas que fizeram no dia anterior e o prazer

que seu retorno despertou entre as damas do condado. — Se você

comparecer a uma de nossas reuniões, não trabalharemos nada.

Todas as mulheres ficariam muito ocupadas girando ao seu redor

para se concentrar no trabalho.

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— E você ficaria com ciúmes?

— Não, — respondeu de imediato. — Eu sou a única mulher na

organização com menos de sessenta anos de idade.

— Ah! Mas e se não fosse assim? — Ele lhe deu um olhar

malicioso. — Se todas as mulheres fossem jovens e lindas, então, o

que?

O impacto do ciúme era tão violento e inesperado e foi pega tão

completamente despreparada que quase tropeçou na calçada. De

repente, era imperativo que fingisse um grande interesse em

Haversham, a padaria, e parou virando-se para a janela. Inclinou-se

contra o copo, enquadrou o rosto com as duas mãos, como se

quisesse evitar o reflexo. Mas, na realidade, o que ela estava fazendo

era esconder sua expressão porque temia que o que ela sentia fosse

refletido em todo o seu rosto.

Stuart aproximou-se dela e inclinou a cabeça para que pudesse

vê-la sob a aba do chapéu.

— Você não vai dizer nada sobre isso?

— Não há necessidade, — murmurou Edie, lutando para parecer

tão distante e indiferente quanto possível. — Eu já lhe disse quando

nos casamos. — Ela interrompeu, engoliu e terminou a frase. — Você

pode dormir com qualquer mulher que você queira, eu não ligo.

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— Eddie, — disse Stuart, repreendendo-a gentilmente. —

Vamos, dê-me pelo menos um pouco de encorajamento, você vai? —

Ele acariciou sua orelha, ali mesmo na High Street. — Só um

pouquinho. Diga-me que a possibilidade de eu estar com outras

mulheres faz você um pouco ciumenta.

O rosto de Edie estava queimando, corado, e ela estava disposta

a descansar a bochecha contra o copo.

— Talvez, — ela sussurrou, admitindo a triste verdade. — Só um

pouquinho.

Stuart riu. Foi uma risada suave contra sua orelha. Ele se afastou

aparentemente satisfeito.

— Você quer comprar algo da Haversham's? — Perguntou.

— Uh... eu não tenho certeza, — ela mentiu, tentando se

concentrar nas fileiras de bolos e biscoitos exibidos nas vitrines e não

no fato de que, embora Stuart já estivesse a quase um metro de

distância, ela ainda sentia o toque dos lábios dele em sua orelha —

estou decidindo.

— Você gosta de doces, certo?

Ele perguntou como se fosse uma briga.

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— Alguns, sim, — disse ela, afastando-se da janela. — Eu acho

que vou entrar. Normalmente, eles têm alguns chocolates que Joanna

ama.

— Então vou deixar você sozinha por um momento. Eu tenho

que ir ao escritório de telégrafo. Não demorarei.

— Você quer enviar um telegrama?

— Vários, na verdade. — Ele não explicou para onde. — Com

sua licença.

Edie o viu atravessar a rua e balançou a cabeça. Stuart não lhe

devia nenhuma explicação sobre suas correspondências.

— Claro, — ela disse.

Edie ficou feliz com essa separação. No momento em que Stuart

voltou, o tempo havia passado o suficiente para que sua face esfriasse

e ela recuperasse a compostura.

— Não tinha chocolates? — Stuart perguntou quando percebeu

que ela estava saindo sem nenhum pacote.

— Não, não tinha hoje. — Ela se virou e continuou caminhando

pela High Street. — Pedi que fossem enviados para mim.

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— E o que vamos fazer depois? — Stuart perguntou,

caminhando ao lado dela. — Ou você pretende me manter em

suspenso?

— Chegamos, — disse Edie, fazendo uma pausa em duas lojas

adiante e apontando para uma brilhante porta azul ao lado dela. —

Quero ver a loja de antiguidades da Bell’s.

— Antiguidades, meu Deus! — Stuart fez um som de desespero

e correu para abrir a porta. — Na Bell’s não há nada mais antigo que

da época de Jorge Segundo.

Edie não podia deixar de rir ao ouviu o que fez Stuart parar

quando levava a mão na maçaneta da porta.

— O que você achou de tão engraçado? — Ele perguntou.

— Stuart, qualquer objeto dessa época é mais antigo que o meu

país.

Stuart sorriu em resposta.

— É verdade, — admitiu, e abriu a porta.

Uma vez dentro da loja, Edie foi até onde estavam as jóias,

esperando encontrar um broche ou uma fivela para o chapéu que ela

estava fazendo, mas mal acabou de se debruçar sobre um dos

aparadores de vidro quando Stuart a chamou para se aproximar de

outra sala.

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— Edie, venha ver isso!

Edie olhou em sua direção, mas o que Stuart estava vendo estava

escondido por um armário oriental de laca vermelho. Edie cercou-o e,

quando estava ao lado de Stuart, viu que o que chamou sua atenção

era uma enorme caixa de música feita de madeira de nogueira

envernizada, manivela de cobre e uma madrepérola embutida no

topo. Estava exposta em uma mesa que fazia jogo com a enorme

caixa, era uma peça de grande beleza.

O Sr. Bell, que sempre adivinhou rapidamente o interesse de um

cliente, aproximou-se da peça.

— É uma caixa de música Paillard, Sua Excelência. O mecanismo

é suíço, é claro, e tem um teclado com vinte e três chaves e três

cilindros.

— Tendo em conta o nível de sofisticação, deve ser de fabricação

recente.

— Oh, sim, é muito nova! Pertenceu a Sra. Mullins, de Prior's

Lodge. Ela recebeu a encomenda de Zurique no ano passado, mas

morreu logo em seguida. Sua filha vive no exterior e não a quer,

então seus advogados me pediram para vendê-la em seu nome.

— A Sra. Mullins morreu? — Stuart ergueu os olhos,

momentaneamente distraído. — Que pena!

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— Sim, sim, ela tinha noventa anos, sabia?

— Claro. — Ele deslizou a mão pela tampa da caixa. — Posso

abri-la?

— Naturalmente.

Stuart abriu a tampa e, quando o fez, o Sr. Bell apontou para um

pequeno botão no lado.

— É necessário girá-lo para que a música comece. Deixe-me

mostrar — imediatamente a melodia de uma valsa começou a tocar.

Edie estava observando Stuart e vendo o sorriso que curvava

seus lábios.

— Strauss, — murmurou Stuart. — É uma pena que seja Sangue

Vienense. Eu gosto mais de Vozes da Primavera.

Ele olhou para ela e a mente de Edie voltou para a porta do salão

de baile de Hanford House, os belos olhos de Stuart observando-a, a

melodia de Vozes da Primavera e o destino arrastando-a para Stuart

como se fosse um imã.

— Você se lembra, — sussurrou.

O Sr. Bell tossiu suavemente.

— Há um disco de Vozes da Primavera, — ele explicou, e abriu a

gaveta da mesa em que a caixa descansava. — Aqui está.

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Stuart não se incomodou em olhar. Ele fez um gesto com a mão

no sentido do Sr. Bell para se retirar, seus olhos ainda estavam em

Edie enquanto o vendedor desaparecia discretamente.

— Lembro-me de cada detalhe daquela noite, Edie.

— Eu também. — Edie corou imediatamente, mas não desviou o

olhar até sorriu um pouco. — Estava com a gravata desabotoada.

Stuart sorriu.

— Verdade? Não me surpreende, embora eu me atreva a dizer

que eu surpreendi a todos na sala, aparecendo com esse disfarce —

seu sorriso desapareceu. — Sabia? Quando te vi naquela noite, pensei

em pedir que você dançasse comigo, mas eu não conhecia você, nem

conhecia quem estava perto de você, pensei que não fazia muito

sentido pedir uma apresentação, pois eu ia partir depois de alguns

dias. Mas, agora, eu queria ter feito Edie. Meu Deus! Eu queria ter

pegado você em meus braços e levado você para a pista de dança, e

mandar passear todas as formalidades. — Ele olhou para a bengala.

— Gostaria de ter sabido antes que nunca mais voltaria a dançar.

Gostaria de ter desfrutado com você meu ultimo baile.

O coração de Edie estava quebrado. Ela sentiu sua dor, e também

sofreu. Olhou para sua cabeça inclinada por alguns segundos e disse:

— Aprecio o sentimento romântico, mas você teria se

arrependido muito antes. Não sei dançar.

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— O que? — Stuart levantou a cabeça e soltou um som de

incredulidade. sem sentido, — todas as mulheres sabem como se

dança.

— Eu não. Eu sou terrível. Como sou muito alta, para os meus

parceiros é um tanto embaraçoso. E — acrescentou com um gesto de

desculpas — sempre tento conduzir a dança.

Stuart riu e, para alívio de Edie, aquilo pareceu acabar com sua

súbita melancolia.

— Sim, eu acredito.

— Toda vez que dancei as consequências foram sempre

dolorosas. Patética para o pobre homem em questão: pés pisados,

tornozelos torcidos e orgulho ferido.

— Se esse foi o resultado, ele mereceu. Nenhum homem que

sabe dançar permite que sua parceira o conduza. — Ele interrompeu

e apertou os olhos. — Pelo menos, na pista de dança.

Ele correu os olhos por ela, aquecendo cada centímetro que com

eles acariciou. Quando ele voltou aos olhos dela, Edie sentiu como se

fosse derreter e se tornar uma poça na frente dele.

Se Stuart sentiu seus sentimentos, ele não demonstrou isso. Em

vez disso, virou e fechou a caixa de música delicadamente.

Esse gesto a surpreendeu.

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— Você não quer comprar? — ela perguntou.

— Não, — ele não olhou para ela, mas sua voz chegou flutuando

para ela enquanto se afastava. — Há oportunidades que não se

repetem.

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Capítulo 14

— Você é muito inteligente para mim. Muito bem, admito a

verdade. Tive uma longa conversa com Blake depois da reunião com

Robson ontem.

— Ah sim?

— Sim, disse-lhe que logo terei os criados do meu lado, —

acrescentou, e alargou o sorriso. — desculpe-me lhe dizer que Blake

me contou sobre sua paixão pelo cultivo de rosas e está mais do que

disposto a mostrar suas últimas criações. Você me mostraria seus

outros enxertos outro dia?

Edie respirou fundo e desviou o olhar.

— Como se importasse alguma coisa minhas rosas.

— Claro, que me importam. Elas me interessam porque é algo

que você ama e quero saber mais sobre as coisas que você ama.

— Eu suspeito que a maioria delas te pareçam chatas.

— Você acha? O que faz você achar isso?

— Enxertar rosas? Alguma vez achou isso interessante?

— Não sei, é possível.

Edie sacudiu a cabeça, incapaz de acreditar.

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— Você viajou para a África, você viu elefantes, rinocerontes,

leões... — interrompeu o pensamento ao lembrar-se de sua ferida. —

A questão é que, depois de tudo isso, a jardinagem deve parecer

insignificante para um homem como você.

— Um homem como eu. — Stuart ficou em silêncio, observando

Snuffles, que estava cavando entre duas coberturas de arbustos que

alinhavam a estrada. — Acho que você quer dizer o homem que eu

era, — disse ele depois de um momento.

— Desculpe, — Edie se desculpou desesperada, lembrando-se da

conversa que tiveram na loja do Sr. Bell. — Não queria lembrá-lo de

algo tão doloroso.

— Por que não podemos falar sobre isso? — Ele encolheu os

ombros, como se não fosse importante. — Eu não sou o mesmo

homem que eu era e não vou negar isso. E não estou apenas falando

sobre isso, — continuou, apontando para a perna. — Eu era um

homem imprudente, é verdade, e nos safáris eu me sentia como um

peixe na água. Adorava saber o que ia encontrar ao lado da próxima

colina e adorava descobri-la. Mas o que eu não entendia até que isso

aconteceu comigo foi que, se você está constantemente descobrindo

novos lugares, você nunca para o suficiente para reconhecer a beleza

daqueles que você já conhece. — Ele olhou ao redor. — Highclyffe,

por exemplo. É um lugar onde eu passei muito tempo da minha vida,

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mas nunca tinha sido consciente do quanto o amava. Agora eu posso

apreciá-lo muito melhor do que quando eu parti.

Edie pensou sobre isso.

— Eu suponho, — ela refletiu depois de um momento, — que se

você enfrentar a morte, uma das consequências é que você mude a

perspectiva que você tem de todo o resto.

— Sim, também. Mas há algo ainda mais simples. A ferida me

obrigou a levar as coisas lentamente. Eu não poderia mais fugir na

menor oportunidade. Eu me senti compelido a enfrentar a vida a um

ritmo muito mais lento.

— Suponho que você acha isso terrível.

— No começo, sim. Era o inferno. Mas, depois de algum tempo,

comecei a estar ciente de coisas que eu não tinha notado até então. Eu

costumava ser o tipo de homem que precisa de algo para impactar

intensamente para perceber isso, — interrompeu-se. — Por isso que

notei você.

— Bem, não é difícil notar uma mulher de quase um metro e

oitenta de altura, — disse Edie, rindo e tentando levar esse defeito

com humor. — E é impossível não notar ela quando ela persegue

você através de um jardim e propõe a você casamento.

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— Não, não! — Stuart respondeu, balançando a cabeça. — Eu

não quis dizer isso. — Ele se aproximou dela o suficiente para os

babados do vestido de tarde lhe roçassem o peito. — Para começar,

você não é mais alta do que eu, — ele sussurrou, ele colocou o dedo

sob seu queixo para levantar o rosto. — Você pode ver?

Edie estava paralisada sob aquele ligeiro contato, não conseguiu

recuar. Não conseguiu afastar os olhos cinzentos escurecidos cor de

fumaça.

— Quanto aos outros, você quer que eu diga por que eu

realmente olhei para você? — Ele não esperou ela responder. — Você

estava olhando para mim, com um olhar determinado e intenso, e eu

não podia imaginar o porquê.

Edie obrigou-se a dizer alguma coisa.

-— Quão horrivelmente rude de minha parte.

— Foi fascinante. Senti como se tivessem acabado de enfiar uma

flecha em mim, — disse ele com leveza. — Possivelmente, a flecha do

Cupido.

Edie franziu o cenho, de repente se sentindo insegura.

— Você está flertando comigo?

Stuart varreu-lhe o rosto com um olhar aberto e inquietante, Edie

queria desviar o olhar. Mas não o fez.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


322
— Não, Edie. Sou um homem adepto do flerte, eu sei. Eu sempre

fui. Mas, neste caso, estou falando completamente a sério. A primeira

vez que vi você, senti como se tivesse acabado de encontrar-me com

algo completamente diferente em minha experiência. Você não se

pareceu com nenhuma das mulheres que conheci antes. Sua maneira

de me olhar não envolveu qualquer vaidade, nem mesmo uma dica.

Mas também não me olhou com desinteresse. Eu não sabia o que era.

Mesmo assim, não tenho certeza de como descrevê-lo.

Edie não tinha intenção de ajudá-lo a esse respeito. Sob nenhuma

circunstância admitiria que sua primeira impressão de Stuart tivesse

sido igualmente devastadora. Talvez não houvesse flechas de

Cupido, mas o fascínio tinha sido idêntico.

— Em qualquer caso, — continuou Stuart, — amei a África

porque era um lugar atraente para o homem que eu era até então. É

um continente de enorme magnitude: elefantes, planícies que se

estendem para além de onde o olho humano atinge e impondo pores

do sol em que parece que o céu está queimando. Mas não sou mais

esse homem. Agora, aprecio coisas muito mais simples, como uma

caminhada no jardim ou a beleza de uma rosa.

Ele deixou a bengala no chão e arrancou uma rosa do roseiral.

Então, ignorando os protestos de Edie, desatou seu chapéu e tirou-o.

— Diga-me, — ele ordenou, entregando a Edie o chapéu.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


323
Ele deslizou a mão pelo talo curto para se certificar de que estava

livre de espinhos e se inclinou para o lado, colocou a rosa em seus

cabelos, segurou-o atrás da orelha e endireitou-se para admirar o

efeito.

— É isso, — ele sussurrou. — Essa é uma imagem que qualquer

homem admiraria.

— Você diria o mesmo para qualquer mulher que pretendesse

seduzir.

— Isso é mais do que uma tentativa de sedução. É um namoro.

— Eu não entendo a diferença, — disse Edie, rindo ligeiramente

e olhando para o chapéu. — Eu também nunca conheci nenhuma

dessas coisas.

Stuart não respondeu e quando Edie olhou de novo, o encontrou

olhando para ela de uma maneira que a deixou sem fôlego.

— Você merece ambos, Edie, — disse ele. — E pretendo me

certificar de que você os desfrute.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


324
Foi bom falar sobre o namoro, mas depois, no quarto de Edie e

tendo ela segurando sua perna, Stuart não pôde deixar de pensar que

a sedução era muito mais atraente para ele.

A primeira vez que Edie esticou a perna, a dor tinha sido severa

o suficiente para suprimir o desejo e o controle, e a posterior

revelação de Edie o havia impactado o suficiente para mantê-lo à

distância.

Mas, naquele momento, nem mesmo conhecendo a experiência

assustadora do que lhe aconteceu foi suficiente para evitar que ele se

acendesse toda vez que ela o tocava. Ele continuou lembrando-se do

que Edie tinha sido forçada a suportar nas mãos de outro homem,

mas sua imaginação masculina resistiu obstinadamente a

considerações tão cavalheirescas.

No dia anterior, quando ele a beijara na mão, uma pequena

esperança havia nascido, e a esperança também havia crescido na

mesma manhã, quando Edie admitiu que a idéia de estar com outra

mulher despertou seu ciúme. Duas indicações de que ela não era

indiferente a ele e que talvez o achasse atraente. Mas, infelizmente, na

realidade, ele teve que prosseguir muito mais devagar do que em sua

imaginação, e tentou lembrar a si mesmo que, especulando sobre a

possibilidade de tirar suas roupas ou beijar aquela linda pele, tudo o

que ele fez foi tortura-se, porque, provavelmente ambas a coisas

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


325
estavam muito longe. Mas isso também não ajudou, a única coisa que

ele conseguiu concluir foi que ele adorava se flagelar.

Mas, no meio do segundo exercício, quando ele tinha Edie atrás,

pressionando-o com todo o seu peso, ele se achou pensando sobre o

quão delicioso seria trocar posições e entendeu que ele tinha que

parar isso se ele não quisesse ficar louco.

Obviamente, Edie não estava fantasiando sobre a possibilidade

de se despir ou beijá-lo, e essa era a chave do problema. Não sabia o

que fazer sobre isso. Como um homem pode seduzir uma mulher

nessas circunstâncias? Como ele poderia fazer com que ela desejasse

algo que só lhe causava dor?

— Você está muito quieto, — comentou Edie enquanto se

afastava.

— Ah sim?

Ele esticou a perna, moveu um pouco para liberar a tensão

muscular, inclinou-a novamente para que Edie pudesse começar com

a terceira sequencia de alongamentos e pegou o relógio.

— Sim

Edie inclinou-se para ele com uma mão pressionada contra suas

costas, outra ao redor de seus músculos e seu peito contra o seu... —

Deus santo! — Tinha que parar de pensar sobre essas coisas.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


326
— Alguma coisa aconteceu com você? — Edie perguntou. —

Está doendo muito hoje?

— Não exatamente. — Stuart piscou e tentou fixar sua atenção

no relógio em sua mão, mas todo segundo que passava parecia uma

hora. — Eu realmente não quero falar.

E, depois de pronunciar essas palavras dolorosas, ele se

perguntou se já havia encontrado o caminho certo para prosseguir.

Ela sabia que, quando a beijara ou a tomara a mão, achou prazer

em ambos os gestos. Mas ela havia retirado sua mão imediatamente,

também mediada por suas apreensões para se permitir desfrutar

desse prazer. As palavras eram muito menos ameaçadoras e

poderiam ser igualmente sedutoras. E ele não estava se referindo a

elogios ou ótimos elogios, mas a algo completamente diferente.

— Trinta segundos, — ele disse, e quando Edie se afastou, ele

deixou o relógio e virou-se. — Eu não estou falando muito porque as

coisas que estou pensando agora são coisas de que não tenho certeza

que possa falar com você.

Interrompeu-se, olhou para ela e a viu tensa, colocou as mãos no

chão, como se quisesse se levantar. A gazela estava prestes a fugir.

— Por exemplo, estou pensando o quanto eu gosto de vê-la usar

branco.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


327
— Ah!

Foi um som de surpresa, misturado talvez com uma nota de

alívio. Colocou a mão no alto e ondulante decote do vestido, o

mesmo vestido que vestia no terraço.

— A costureira me disse que essa cor é boa para mim. Isso realça

minha pele e meu cabelo.

— E eu diria que é verdade, mas essa não é a única razão pela

qual eu gosto disso.

Stuart sentou-se e ela ficou tensa. Ele levantou os joelhos como se

estivesse se levantando, mas recostou-se para apoiar o peso em seus

braços e relaxou novamente, sentando-se em seus calcanhares. Stuart

esperou e, depois de alguns segundos, Edie estava curiosa.

— Então o branco é a sua cor favorita?

— Na verdade, não. Minha cor favorita sempre foi azul. — Mas

agora também gosto de branco. Eu gosto dela há cinco anos, desde

que estivemos sentados juntos no terraço.

Edie se remexeu inquieta, alimentando as esperanças de Stuart

enquanto ele fazia isso.

— Você gosta de lembrar-se daquele dia.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


328
-— É o dia que eu mais gosto de lembrar. Você usava um vestido

branco e gostei do vestido, porque criou imagens deliciosas na minha

mente. Imagens do seu corpo nu na minha cama. Como você sabe, os

lençóis são brancos.

A cor acendeu a face de Edie. Ela apertou as mãos ao redor do

decote de seu vestido e esfregou com o polegar o camafeu azul que

prendia em volta do pescoço.

— Você não deve dizer essas coisas, — Edie sussurrou. — É

indecoroso.

— É honesto.

— Soa muito violento.

— Sim, eu sei. — Ele se sentou, mas não a tocou. — No entanto,

tenho medo de que não seja o suficiente para me dissuadir, Edie.

Porque, quando digo coisas assim, espero que você se excite, e eu

quero que você fique excitada.

A cor-de-rosa que tinha na face de Edie tornou-se mais intensa,

fazendo Stuart pensar que poderia estar funcionando. Edie abriu os

lábios, mas não disse nada, e Stuart decidiu tirar proveito de seu

silêncio.

— Eu imaginei você no meio dos lençóis, com seus cabelos de

cobre ao redor dos ombros e aquele sorriso maravilhoso, e que me

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


329
deixa sem fôlego. Então eu olhei para aquelas lindas sardas

douradas... — Ele parou para tocá-la com apenas as pontas de seus

dedos, seu nariz e seu pescoço.

— Não se divirta com minhas sardas, — Edie pediu-lhe com

uma voz sufocada e afastando a mão dele.

— Não estou me divertindo. Olho para elas e me pergunto se

elas cobrem todo o seu corpo, e eu comecei há calcular quanto tempo

demoraria a beijá-las todas elas. É um assunto que pensei muitas

vezes quando estava distante.

Edie permaneceu completamente silenciosa, mas sua respiração

acelerou e Stuart deduziu que, pelo menos, havia encontrado algo

que poderia aproximar a gazela o suficiente para pegá-la.

— Outro dia, quando você apareceu no terraço com este vestido

— ele indicou as dobras da saia de Edie espalhadas pelo tapete —

você tinha o sol por trás de você, e eu gostei de ver a silhueta do seu

corpo por baixo do tecido. Era uma linha quase imperceptível, podia

se adivinhar a curva de seus quadris e de suas pernas muito longas,

mas era mais do que suficiente para colocar a minha imaginação para

funcionar, — se interrompeu. A respiração também não parecia tão

firme quando olhou nos olhos dela. — Vê? É por isso que eu gosto de

vê-la vestida de branco.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


330
— Meu Deus! — Eddie desviou o olhar e colocou a mão na

garganta. — Se eu tinha vestido três combinações!

Stuart percebeu que ela estava entusiasmada com as coisas que

ele havia dito, mas também intensamente envergonhada e decidiu

que era preferível recuar. Sempre houve avanços e contratempos na

dança do namoro.

— Sim, bem, nós homens temos muita imaginação, — Stuart

respondeu brincando. — Por que você acha que gostamos de ver

mulheres jogar tênis?

Edie soltou um som sufocado, uma risada.

— Oh, meu Deus! Se as senhoras descobrissem esse segredo,

receio que nenhuma de nós se atreva a vestir branco fora de casa.

— Espero que você não me traia, Edie, ou serei objeto de

ressentimento de todo o gênero masculino. Isso não me afetaria, é

claro, porque, no meu caso, o dano já está feito. Essas imagens de

suas longas e adoráveis pernas estão gravadas no meu cérebro e não

consigo me livrar delas — e sem mais olhou para o relógio. — Ah!

Vejo que minhas duas horas já se passaram. Melhor mudarmos ou

chegaremos atrasados para o jantar e Wellesley vai cacarejar como

uma galinha.

Stuart agarrou-se ao pé da cama, levantou-se e estendeu a mão

para ajudá-la. Quando Edie se levantou, Stuart segurou sua mão

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


331
tempo suficiente para dar-lhe um beijo rápido, mas a soltou

rapidamente, decidindo que era melhor não provocar o destino. A

antecipação era parte desse jogo e, como ele havia dito a Edie no dia

anterior, ele estava jogando para vencer.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


332
Capítulo 15

Quando Edie, Joanna e a Sra. Simmons estavam sozinhas na

residência, o jantar no Highclyffe geralmente consistia em cerca de

cinco pratos simples, a menos que Edie tivesse convidados para o

jantar. No entanto, desde que Stuart voltou, a Sra. Bigelow e

Wellesley pressionaram-na para a preparação de menus mais

elaborados. Uma vez que ela estava preocupada com outros assuntos

desde a chegada do marido, Edie não tinha tempo para resolver essa

questão. Mas naquela noite, aparentemente, o cozinheiro e o

mordomo decidiram tomar a frente das coisas.

Canapés, sopa, peixe, costela de cordeiro e pratos de cogumelos

chegaram e foram e, quando o mordomo chegou com uma rodada de

vitela e um prato de batatas gratinadas, Edie foi obrigada a perguntar

sobre essa mudança.

— Meu Deus, a Sra. Bigelow está bastante ambiciosa hoje à noite,

Wellesley. Quantos pratos você preparou?

— Dez, Sua Excelência.

— Dez pratos para quatro pessoas?

— A Sra. Bigelow considera, e eu concordo com ela, Excelência,

que o retorno de Sua Excelência o Duque exige pelo menos uma

rodada de carne bovina, alguma caça, um segundo prato de verduras,

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


333
uma sobremesa mais elaborada e um queijo forte, além dos pratos

habituais.

— Eu vejo. — Edie olhou para o marido por cima da mesa e ele

apenas sorriu para ela. — Está longe de minha intenção questionar o

que o duque precisa para o seu sustento. — Murmurou, mas, no

momento em que Wellesley chegou com outra garrafa de vinho,

olhou para Stuart. — Você pediu toda essa comida?

— E usurpar suas obrigações no momento da escolha do

cardápio, duquesa? Nunca, mas não estou reclamando. Depois de ter

passado anos alimentando-me principalmente com latas de comida,

vale a pena desfrutar uma refeição de dez pratos.

— Bem, espero que a Sra. Bigelow ache um bom uso para os

restos. Apenas dez pratos.

— Eu não acho que nós já tivemos uma refeição de dez pratos, —

disse Joanna com admiração. — Pelo menos para nós sozinhos. É

maravilhoso!

Apesar de seu entusiasmo, quando a sobremesa chegou, Joanna

já estava bocejando, como resultado dessa refeição copiosa e

saborosa, e Edie decidiu que era suficiente. Eles acabaram de remover

a louça quando se levantou.

— Acho que vamos nos retirar e deixar Stuart aproveitando o

porto e o charuto.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


334
Stuart se recusou seguir esse hábito varonil de beber um licor na

sala de jantar com uma risada.

— Não Edie, voltar para a civilização está muito bem, mas vou

me recolher com você e tomar o porto na sala de estar. Eu não fumo e

não quero ficar aqui, bebendo sozinho em meu esplendor ducal.

Wellesley se importaria de pedir à Sra. Bigelow que enviasse as frutas

para a sala junto com o porto?

Se Edie tivesse dado a Wellesley uma ordem tão pouco ortodoxa,

o mínimo que ele teria feito teria levantado uma sobrancelha em

desaprovação. Mas, no caso de Stuart, ele apenas curvou a cabeça e

murmurou:

— Claro, Excelência, — e deixou a sala de jantar para seguir suas

instruções, seguido pelo lacaio.

Edie soltou um som de exasperação.

— Realmente, esse homem é incrível, — ela comentou com

Stuart enquanto eles se dirigiam para a sala de estar. — Nunca

questiona nada do que você diz, — ela acrescentou acusadoramente.

— Com certeza não, Edie, sou o duque.

Ocorreu a Edie pensar que, se ela alguma vez perdesse a cabeça e

decidisse viver com o marido para sempre, a questão de Wellesley

poderia se tornar uma situação exasperante.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


335
— E eu sou a duquesa. Mas, no caso de Wellesley, isso não

parece ter o menor efeito.

Stuart apenas riu.

— No final, você sempre faz as coisas que deseja.

— Mas sempre está lutando contra mim numa batalha.

— É só porque você é americana. Infelizmente, Wellesley é um

esnobe do mais alto grau.

— Se estivéssemos nos Estados Unidos, eu o teria despedido há

anos.

— Mas você não está nos Estados Unidos, então você não pode.

Wellesley é uma parte de Highclyffe como essas paredes.

— Um fato que parece lhe produzir um enorme deleite, —

observou Edie quando viu sua expressão de exaltação.

— Ele parece um pouco como o do vigário, querida, — Stuart a

contradisse com uma expressão maliciosa e um sorriso. — É assim

que as coisas devem ser.

Ele parou do lado de fora da sala e virou-se para Joanna e a Sra.

Simmons.

— Jogamos uma partida de cartas, senhoras? Estamos em quatro.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


336
Joanna balançou a cabeça com um enorme bocejo.

— Estou muito cansada. Eu acho que vou para a cama. Boa noite

para todos.

— E eu acho que vou acompanhá-la, Joanna, — acrescentou a

Sra. Simmons. Virou-se para Stuart e inclinou a cabeça. — Boa noite,

Excelência.

Edie sentiu uma pontada de desespero.

— A senhora sabe que não precisa sair apenas porque Joanna se

foi. — Ela assegurou para a governanta. — Pode ficar se desejar.

Tenho certeza de que Sua Excelência não se importará. Se tivermos

em três, podemos jogar Piquet.

A Sra. Simmons não mostrou vontade nenhuma de colaborar

com esse plano.

— Obrigada, mas acho que este seria um excelente momento

para eu escrever algumas cartas. Estou atrasada com minhas

correspondências ultimamente e tenho medo de que, por isso, minha

família esteja começando a se sentir abandonada, então se não

importarem...

Edie colocou um sorriso no rosto e suprimiu o desejo

desesperado de dizer que tinha caneta e papel ali na sala de estar.

— Certamente, boa noite!

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


337
— Boa noite, Sua Excelência.

Com a partida de sua irmã e a governanta, Edie de repente

sentiu-se insegura, em partes, por causa das confissões ardentes que

Stuart lhe dera horas antes no quarto. Mesmo naquele momento,

pensando nisso, sentiu o rubor cobrir seu rosto.

— Acho que vou para a cama também. São onze horas.

— Por que não fica comigo por um tempo? Podemos conversar

ou ler. — Ele apontou para a mesa do jogo ao lado dele. — Ou

poderíamos jogar algo.

— Isso depende, — disse Edie com ironia, — depende do tipo de

jogo que você tem em mente. Você organizou tudo isso de propósito?

Joanna e a Sra. Simmons se foram para nos deixarem em paz?

— Dou-lhe a minha palavra de que não foi assim. — Se você

preferir ir para a cama também, não vou pressionar você. Mas, eu

gostaria que você ficasse.

Edie respirou fundo.

— Você pretende fazer alguma abordagem íntima?

— Bem, eu gostaria, — admitiu, dando-lhe um sorriso

provocador. — Mas só se você me der uma oportunidade.

— Não darei.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


338
— Então você não tem nada com que se preocupar, certo? — Ele

foi até a mesa de jogo e abriu uma gaveta. — Você quer jogar cartas?

— Ele perguntou, levantando o convés. — Gamão? Ou xadrez?

Edie pensou no jogo que provavelmente ganharia.

— Xadrez.

O rosto de Stuart parecia reconfortante.

— Tudo bem, — Stuart disse enquanto colocava o pacote na

gaveta e o fechava. — Mas, você me disse que joga muito bem, então

talvez não represente um desafio suficiente para você. Eu não jogo

xadrez com muita frequência.

— Nesse caso, melhor para mim, — disse Edie, sentando-se na

cadeira que Stuart tinha puxado para ela.

Stuart sentou-se diante dela naquela pequena mesa e abriu as

gavetas para tirar as peças de xadrez e colocá-las no tabuleiro. Mas

quando Edie começou a colocar as peças brancas em frente dela,

Stuart a deteve.

— Não, não antes de escolhermos a cor, pegou um peão de cada

cor e escondeu-os nas mãos atrás das costas.

— Um cavalheiro geralmente deixa à senhora começar, —

lembrou-lhe Edie.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


339
— Normalmente, — Stuart disse, mantendo os dois punhos

cerrados. — Mas eu acho que você não precisa desse tipo de

vantagem.

— Eu não preciso disso, — ela assegurou, apontou para uma de

suas mãos. Mas, quando Stuart abriu a mão e mostrou-lhe um peão

branco, não pôde evitar sorrir. — Mesmo assim, estou feliz por poder

começar de qualquer maneira.

— Humm! Joanna disse-me que você é implacável no jogo, —

disse enquanto colocavam as peças em uma das mãos. — Ela também

me disse que você nunca a deixou vencer, nem quando era pequena.

— E eu não vou deixar você ganhar só porque você é um

homem, — advertiu ela, e fez o primeiro movimento, deslizando o

peão em direção à rainha.

— Eu espero que não. — Stuart puxou outro dos peões, —

porque, se eu ganhar, eu vou pedir-lhe um beijo, sendo um homem

de honra, não posso reivindicá-lo se não ganhar com honestidade.

Suas palavras e a grave intensidade de sua voz a fizeram olhar

para cima. E, ao fazê-lo, viu que Stuart estava falando sério. Stuart

olhou para a boca de Edie e sentiu que seus lábios começavam a

formigar. Estremeceu por dentro. Tentou pensar em uma resposta

inteligente, mas não pôde pensar em nada.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


340
Graças a Deus, Wellesley escolheu esse momento para entrar na

sala, salvando-lhe da necessidade de responder.

— Seu porto, Sua Excelência, — ele anunciou quando entrou no

recinto com a bandeja, e as frutas.

— Excelente. — Stuart assentiu com a cabeça para uma mesa

próxima. — Deixe-o ali, mas depois traga a mesa para mais perto. E

sirva-nos uma taça, a menos que a duquesa prefira outra coisa.

— Não, não, um porto está ótimo. Obrigada, Wellesley.

O mordomo serviu duas taças, embora Edie suspeitasse que

estivesse morrendo de vontade de mencionar que esta bebida estava

reservada para cavalheiros e as mulheres deveriam beber xerez ou

vinho da Madeira.

— Você não precisa de mais nada, Sua Excelência?

— Não obrigado Wellesley, — disse ele, voltando sua atenção

para o tabuleiro. — Você pode sair. Se precisamos de algo, o

chamaremos.

— Sim, Vossa Excelência. — Ele inclinou a cabeça e começou a se

afastar.

— E feche a porta, — Stuart pediu exatamente quando ele estava

alcançando-a.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


341
— É necessário? — Edie perguntou no instante em que o

mordomo saia e fechava a porta atrás dele.

— Acho preferível ter alguma privacidade.

Edie moveu o cavalo.

— Você quer dizer que espera que precisemos de alguma

privacidade.

Stuart sorriu sem arrependimento.

— Sim, sim, também. Mas você poderia ter protestado.

Aquela, Edie entendeu com certo desagrado, era uma verdade

irrefutável. Inventou precipitadamente uma razão para seu

concentimento.

— Não sei o que você pretende dizer ou fazer. Talvez você tenha

a intenção de pegar minha mão novamente ou... ou qualquer outra

coisa. Então, é preferível que os criados não caminhem por aqui.

Poderia ser embaraçoso esse tipo de intervenção.

— Ah, eu entendo! Você está preocupada com os criados. —

Outro peão foi movido. — Estou feliz por saber que posso desfrutar

de você em privado, sem medo de que seja embaraçoso.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


342
— Não, Não pode! — Ela gritou, quando já era demasiado tarde

e o sorriso dançava no canto de seus lábios. — Não é isso que quis

dizer e você sabe bem disso. Pare de divertir-se comigo.

— Mas, Edie, isso é importante. Eu não sei que tipo de avanços

será bem-vindo e quais serão rejeitados, então eu tento testar minhas

possibilidades sempre que tiver uma oportunidade.

— Não sei por que, quando sabe que pretendo rejeitar todos eles.

— Ah! Mas você vai rejeitá-los? Eu sei que não sou indiferente a

você, ou então você teria pedido a Wellesley que deixasse a porta

aberta. E esta manhã você reconheceu que a idéia que eu esteja com

outra mulher faz com que você fique com ciúmes.

— Oh, Deus! Tinha que voltar nesse assunto. — Edie olhou para

o tabuleiro, sentindo-se muito envergonhada. Era tarde demais para

retirar aquela admissão humilhante, mas não pôde evitar corrigir-se.

— Eu disse que ficaria um pouco ciumenta

— Está certa.

— E, em qualquer caso, isso me parece uma prova muito fraca.

— Possivelmente, mas sei o que aconteceu entre nós nesse

terraço há cinco anos, e eu sei o que você sentiu naquela época

porque eu vi isso em seu rosto.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


343
— Você tem uma imaginação vívida.

— Sim, bem. — Stuart sorriu de orelha a orelha. — Acho que

admiti esta tarde.

Edie se moveu desconfortavelmente. Sentiu um calor intenso

mesmo ante a menção da conversa que tiveram.

— Mas, — Stuart acrescentou: — Eu não preciso da minha

imaginação para saber quando uma mulher é verdadeiramente

indiferente a mim e quando não.

Edie queria mostrar a Stuart uma fachada de indiferença para

que ele deixasse de conquistá-la, mas não podia. Stuart continuava a

derrubar suas defesas porque não soube como fazer isso há cinco

anos e Edie não compreendia por que. Ela queria mostrar-se fria

porque assim ambos poderiam concordar que a separação era melhor

para ambos, mas era difícil mostrar qualquer frieza quando Stuart

falava sobre o que imaginou quando ela vestiu o vestido branco.

— Se quer que eu lhe diga o que eu penso, você sabe muito sobre

mulheres, — ela murmurou.

— Eu tenho algum conhecimento, — ele admitiu. — Fui um

homem adepto das damas nos meus anos de juventude.

Edie não disse que sua amiga Leonie havia mencionado todos os

corações quebrados que ele tinha deixado quando partiu para a

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


344
África pela primeira vez, nem lhe disse que ela não tinha tido

nenhum problema para acreditar. Aqueles olhos cinza brilhantes de

bom humor, a simetria perfeita de seu rosto, seu sorriso radiante, a

força de seu corpo, sua inteligência rápida e, acima de tudo, aquela

compreensão instintiva do que as mulheres sentiam deveria ter

encantado muitas damas no que ele chamava de anos de juventude.

Edie voltou a prestar atenção no tabuleiro e tentou concentrar-se na

partida.

— Infelizmente, isso não me ajuda em nada, já que você corta

minhas asas cruelmente na menor oportunidade, — lamentou-se

Stuart.

Edie não respondeu. Moveu o cavalo e capturou o bispo dele.

— Isso prova o que estou dizendo — sussurrou Stuart. — Mas eu

também posso ser implacável, — acrescentou ele, agarrando a torre e

tirando o bispo de Edie do tabuleiro. — Xeque.

Edie resmungou com raiva.

— Você me disse que não jogava bem!

— Eu disse que não jogava com muita frequência, não que não

jogava bem.

Edie fez uma careta.

— Se você é tão bom no xadrez, por que tentou me distrair?

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


345
— Porque é uma estratégia fundamental no xadrez? — Stuart

inclinou o cotovelo na mesa e o queixo em sua mão. — Sério, não

tentei distraí-la porque queria ganhar o jogo. Queria saber mais sobre

você.

Edie não respondeu e seu silêncio fez Stuart suspirar tristemente.

— Realmente, Edie, você é exasperantemente cautelosa. Eu não

quero apenas sentar aqui para jogar xadrez com você. Quero

conhecer as coisas que lhe interessam as coisas que você gosta e fazer

você rir. Eu quero... — Ele interrompeu e esperou até que a

curiosidade pudesse fazê-la olhar para cima. — Edie, eu quero saber

que coisas te causam prazer.

Ouvindo aquelas palavras e olhando nos seus olhos, Edie sentiu

uma leve emoção.

— Como você pensa em fazer isso? — Stuart inclinou-se para

frente e pegou sua mão.

— Você me conta o que você gosta e eu digo o que eu gosto.

Edie sentiu o calor da mão de Stuart na dela. Pensou no dia

anterior, quando Stuart tinha beijado a palma de sua mão e naquela

tarde, quando falou sobre o quanto ele gostava de vê-la de branco e a

sensação de derretimento que se tornara familiar durante os dias

anteriores começou apoderar-se dela novamente. Mas ela lembrou-se

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


346
de seus desejos mais profundos e o que estava em jogo, e sufocava

aquela emoção.

— Eu acho que já tenho uma idéia bastante precisa do que você

gosta, — ela disse com dureza, e afastou a mão dele.

— E o que é exatamente?

Stuart esperou, observando-a enquanto ele arqueava as

sobrancelhas com uma expressão questionadora como se não

soubesse exatamente o que ela queria dizer quando ambos sabiam

disso. Como se ele realmente esperasse que ela respondesse. Como se

pudesse oferecer-lhe descrições precisas sobre o desejo masculino.

Edie corou e desviou o olhar.

— Não devemos falar sobre essas coisas.

— Porque não? Qualquer casamento que mereça esse nome deve

ser honesto, então não façamos rodeios sobre onde queremos chegar.

Diga-o abertamente. O que você acha que eu gostaria?

Um vislumbre do que aconteceu em Saratoga atravessou a mente

de Edie, mas, em vez de empurrá-la como costumava fazer, ela usou

isso como escudo.

— Você gostaria — ela disse com uma voz dura, — de fornicar

comigo.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


347
Houve um momento de silêncio antes de Stuart responder.

— Quando estiver falando sobre isso, — Stuart respondeu com

dureza igual, — olhe para mim. Me olhe nos olhos. Dessa forma, você

começará a reconhecer a diferença.

Edie se ergueu na cadeira e virou a cabeça para olhar para ele

abertamente. E viu a raiva cintilando na profundidade prateada de

seus olhos.

— Eu estou errada então?

— Sim, você está enganada. Na verdade, você está

completamente errada. Eu não quero fornicar com você. Quero fazer

amor com você.

Ele parou. A raiva que habitava seus olhos desapareceu e deu

lugar a algo diferente, algo mais quente.

— Há um mundo inteiro de diferenças entre as duas coisas, Edie,

e esse é o dilema que enfrento. Como fazer você entender a

diferença?

Edie olhou-o impotente, o escudo começou a quebrar.

— Não sei Stuart.

— Eu sei que você tem medo. Eu sei o que você sofreu. — Ele

interrompeu-se, apertou o punho e levou-o à boca, como se estivesse

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


348
tentando se controlar. — Gostaria de apagá-lo se pudesse, — disse ele

depois de um momento, — mas não posso. Então, tudo o que posso

fazer é encontrar maneiras de fazer você sentir o outro lado dos

relacionamentos, um lado que é bom, gentil e bonito. Isso é o que eu

quero.

Edie sentiu sua esperança reinar, uma pequena faísca no meio de

uma longa e fria treva. Ela pegou o porto e tomou um bom gole.

— Quer algo que não posso lhe dar.

— Não acredito, mas entendo que você veja isso de forma

diferente. Eu admito — ele acrescentou quando ela não respondeu —

eu quero beijar você, tocar em você e fazer amor com você. Claro,

sim. Quero agradar você. Eu sei que você não acha que se pode ter

prazer num ato de amor, mas pode Edie. Um prazer muito, muito

doce. Quero que você goste junto comigo. Quero isso mais do que

qualquer coisa no mundo.

Sua voz baixa e vibrante despertou sentimentos em Edie que ela

nem sabia que existiam. Línguas de calor giraram em sua barriga,

fechou os dedos ao redor do peão enquanto tentava extingui-las.

— Você está se mostrando muito apaixonado hoje. Primeiro você

fala comigo sobre como se sente com a cor branca e agora isso. Você

pretende me amar com palavras?

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


349
— Até que eu possa fazê-lo com meu corpo, sim. Qual outra

opção me resta?

Stuart parecia ter um talento especial para fazer perguntas para

as quais Edie não tinha resposta.

— O que nos traz de volta a conversa de antes, — Stuart

continuou levemente, — no mesmo ponto em que estávamos para

falar sobre o que você gosta e sobre o que gosto e tentar encontrar um

algo em comum. — Ele pegou um pêssego da tigela da mesa de chá e

pegou a faca de frutas. — Por exemplo, eu gosto de pêssego e você?

Era uma questão completamente inocente e, mesmo assim, Edie

sentiu uma estranha reticência a responder, por que tinha a sensação

de que Stuart estava propondo um jogo cujas regras ela não conhecia.

— Eu acho que você já sabe que eu gosto de pêssego, — ela disse

finalmente, olhando para ele com desconfiança. — Você

provavelmente conversou com a Sra. Bigelow na cozinha, ou você

perguntou a Reeves ou a Joanna. E é por isso que Wellesley trouxe

pêssegos esta noite em vez de amoras ou framboesas.

Stuart sorriu.

— Eu já avisei que iria envolver você em meus planos nefastos.

Mas isso não muda o fato de que também adoro pêssegos. — Ele

apoiou os cotovelos na mesa de jogo, espetou a faca na fruta e cortou

um pedaço. — Quer um pouco?

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


350
Em qualquer outro contexto, Edie teria tomado essas palavras

literalmente, mas a expressão maliciosa de Stuart a deixava cautelosa.

Mesmo assim, estava curiosa.

— Tudo bem, — disse, e estendeu a mão. — Sim.

Stuart não lhe deu o pêssego. Em vez disso, mudou a faca de

mão para deixá-la à esquerda, ao lado do pêssego, levantou a porção

de fruta com a mão direita e segurou-a nos lábios.

Edie olhou para o pedaço de pêssego diante dela e depois voltou

o olhar para Stuart.

— Eu não sou uma menina. Eu não preciso que você me

alimente. — Ela tentou pegar o pedaço, mas ele afastou sua mão.

— Mas eu gostaria de te alimentar, — respondeu Stuart. — O

que você acha?

— Uma besteira.

— Não gostaria?

— Por que eu iria gostar?

Stuart riu e Edie não tinha idéia do que ele estava rindo.

— Há muitas coisas que você desconhece Edie. Estou desejando

dispor de toda uma vida para ensinar-lhe todos os tipos de jogos

eróticos.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


351
Edie não se incomodou em dizer que não tinha a intenção de

permanecer uma vida inteira ao seu lado, ou de aprender seus jogos

eróticos ou qualquer outra coisa. Ela sabia que discutir com ele sobre

o assunto era uma perda de tempo, então apenas respondeu com um

suspiro indiferente.

— É um pedaço de fruta. Não sei o que pode ter erótico nele.

— Só há uma maneira de descobrir. — Mais uma vez, ele lhe

entregou o fruto e, desta vez, Edie abriu a boca.

A fruta deslizou entre seus lábios, escorregadia, úmida e doce.

Ela mastigou e engoliu em seco enquanto Stuart baixava a mão para

espetar a faca no pêssego. Desta vez, Stuart não lhe ofereceu o

pedaço, mas lhe entregou o pêssego para que ela o pegasse.

— Cuidado, — lhe advertiu enquanto Edie esticava a mão para

retirar o pedaço de pêssego da faca.

Edie ouviu seu conselho ao desprender o fruto, mas quando

estava prestes a comê-lo, Stuart a deteve:

— Você não pensa em compartilhá-lo?

Edie parou com o pedaço de pêssego na metade da boca e,

quando seus olhos se encontraram, ela entendeu o que Stuart estava

tentando dizer a ela. Ficou tão nervosa que o estômago virou-se.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


352
Lentamente, sentindo-se terrivelmente constrangida, trouxe-o até a

boca de Stuart.

Ele a comeu de seus dedos e então preparou outro pedaço para

ela. Mas naquela ocasião, ele permitiu que seus dedos se

acomodassem por um momento em seus lábios. O coração de Edie

parou de bater por alguns segundos, mas voltou a bater assim que

Stuart afastou a mão.

Stuart a observou com um leve sorriso e Edie sentiu-se obrigada

a dizer alguma coisa.

— Isso me lembra de quando eu era criança e estava aprendendo

a patinar no gelo, — disse ela.

Stuart franziu a testa com a divertida expressão de perplexidade

que Edie se lembrava do baile em Hanford.

— Eu não sei se consigo encontrar alguma semelhança, — ele

disse enquanto espetava a faca na fruta e depois a entregava.

Edie pegou o pedaço de pêssego.

— Isso me faz sentir exatamente o mesmo.

— Ah sim? E como isso faz você se sentir?

— Nervosa, — admitiu. — Excitada — interrompeu-se para

procurar adjetivos mais precisos — e feliz — sussurrou ela.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


353
Isso lhe agradou. Ele sorriu um leve sorriso que acentuou as

rugas ao redor de seus olhos.

— Bom.

— E, — Edie acrescentou enquanto trouxe a fruta para os lábios

de Stuart: — Eu também tenho certeza de que vou cair e me

machucar.

— Eu não vou deixar você cair. — Ele tomou a fruta com os

lábios e suavemente sugou em seus dedos.

O prazer fluía através de Edie como uma onda quente e escura.

Foi um sentimento tão intenso que a fez soltar uma exclamação,

chocada. Empurrou a cadeira para trás e se levantou.

Stuart levantou-se imediatamente e colocou de lado a faca e a

fruta.

— Edie...

— Está tarde, — ela o interrompeu desesperada por terminar o

jogo que Stuart tinha começado e se amaldiçoando a si mesma por

querer aprender o que poderia haver de erótico em uma fruta.

— Minha gazela foge novamente, — murmurou Stuart. Ele

começou a rodear a mesa. — Edie, me conte o que há de errado com

você.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


354
— Nada, — Edie mentiu, desejando achar calma no meio desse

tumulto de sentimentos.

-— Suas mãos tremem.

— Verdade? — Ela se abalou com vergonha e pegou um

guardanapo. — Meu Deus.

— Eu não queria assustá-la, não queria ofendê-la.

— Você não fez isso.

Estava aterrorizada, mas não por Stuart, mas pelo que ele a fazia

sentir. Era algo selvagem, assustador, insano, e não entendia. Ela

nunca sentiu nada parecido em sua vida.

— Desculpe por me comportar como um coelho assustado. É só

que não estou... Não estou acostumada a ser tocada... ou a ter beijada

minha mão — embora o que Stuart tivesse feito não foi exatamente

beijar-lhe a mão. — Eu não gosto de ser tocada.

— Eu toquei você ontem, — Stuart lembrou-a suavemente. — E

eu beijei sua mão, lembra?

Como poderia esquecer? Aquele beijo continuava a pressionar a

palma da mão como se estivesse sido marcada a ferro. Sem olhar para

Stuart, colocou o canto de seu guardanapo na tigela de água e limpou

os restos pegajosos de suco de pêssego que permaneceram em seu

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


355
queixo e em seus dedos, mas temia que não fosse tão fácil eliminar da

memória suas carícias.

— Me surpreendeu só isso. Não esperava...

— Que? — Stuart instou quando ela ficou calada. — Você não

esperava que eu excitasse você?

Edie mudou o peso de seu corpo de um pé para o outro. Ela

estava sufocada, desconfortável e enfiava os dedos com força no

guardanapo.

— Não, mas eu aposto que você sabia o que ia acontecer, — ela

murmurou.

— Sentir desejo, não há nada de ruim, Edie.

Era desejo o que sentira? Edie colocou o guardanapo e optou por

não fazer a pergunta.

— Me desculpe, — disse ela, — mas temo ter que terminar o jogo

em outro momento. Vou para a cama.

— Claro. — Ele pegou sua bengala. — Te acompanho.

— Não, por favor, não se preocupe.

— Não é um incômodo, — disse ele, aproximando-se da porta.

— Afinal, nossos quartos não estão nas extremidades opostas da casa.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


356
Eles estão lado a lado. E você está certa, é tarde. É melhor irmos para

a cama.

Eles pararam ao lado da porta fechada e Edie estendeu a mão

para abri-lo, mas Stuart a deteve quando ela já estava segurando a

maçaneta da porta.

— Falando de quão tarde é, — ele sussurrou. — Quais são as

chances do porteiro guardião ter adormecido? Quer ir verificar?

Ele abriu a porta furtivamente e espiou pela fresta. Então olhou

para Edie e assentiu.

— Na verdade, Duquesa, isso surpreende tamanha clemência

entre os membros da criadagem, — ele sussurrou

desaprovadoramente. — Wellesley ficaria horrorizado se soubesse.

Edie estava começando a entender à faceta mais provocadora de

Stuart. Quando se sentia desconfortável ou envergonhada, ele muitas

vezes provocava ou se divertia com ela sem intenção maliciosa. Era

uma técnica eficaz, não tinha escolha senão admitir isso, porque ela

podia sentir como estavam cedendo suas dúvidas.

— Bom, não conte a Wellesley, — ela sussurrou em resposta. —

Provavelmente, o pobre menino está exausto. São mais de meia noite.

— Delatar-te na frente de Wellesley? Eu nunca pensaria nisso.

Ele tem uma visão muito alta de si mesmo para fazer algo assim.

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357
Mesmo assim, não podemos passar nas pontas dos pés na frente dele

e deixar as criadas encontrá-lo nesse estado pela manhã.

E, sem mais qualquer dúvida, abriu a porta e fechou novamente,

fazendo um enorme ruído.

O mordomo saltou da cadeira, piscou com sono e tentou

dissimular.

— Sua Excelência...

Edie apertou os lábios com força. Se sorrisse em um momento

como esse, poderia envergonhar o menino e trair-se. Abaixou a

cabeça e cruzou a porta sem olhar para ele.

— Nós vamos dormir Jimmy, — Stuart disse enquanto a seguia

até as escadas. — Desligue as luzes da sala de estar, está bem?

— Sim, Sua Excelência.

— Vejo que você conhece os nomes dos criados, — comentou

Edie enquanto começavam a subir ao segundo andar. — Suponho

que você já os tenha ao seu lado, mesmo os porteiros e as empregadas

da cozinha.

— Sally, a faxineira, sugeriu que eu visitasse a Sra.

McGillicuddy.

— A bruxa da aldeia? E para quê?

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


358
— Para me dar uma poção de amor, é claro. Isso tornaria você

mais receptiva a mim.

— Encantador, — gemeu Eddie. — Então, todos os criados

acham que você é um pobre marido rejeitado e eu uma esposa

implacável?

— Não, eles acham que estou demorando em conquistá-la

porque eu estive longe há muito tempo.

Edie pensou que ele provavelmente estava adoçando um pouco,

mas não insistiu sobre isso quando se dirigiram para seus quartos.

Uma vez na porta do quarto, ela se virou para desejar a Stuart uma

boa noite, mas ele falou antes dela.

-— Que planos emocionantes você preparou para amanhã?

— Fico feliz que você tenha mencionado. Gostaria de levar

Joanna para um piquenique no estuário. Ela gosta de pintar lá e,

provavelmente, não terá muitas outras oportunidades para fazê-lo

antes... — Edie interrompeu-se, tentando ignorar uma ligeira pontada

de tristeza em seu coração, — antes de partirmos.

— Edie, mesmo se você partir, algo que eu ainda não estou

disposto a aceitar, você e Joanna sempre serão bem-vindas nesta casa.

É possível que Joanna acabe indo para Willowbank. É uma boa

escola. E você poderia viver... — ele interrompeu para respirar. Você

poderia morar em Londres e trazê-la aqui para passar as ferias.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


359
A dor que Edie sentiu em seu peito se aprofundou.

— Não acho uma boa idéia, Stuart. Seria muito difícil para ela e

doloroso para mim.

— Será doloroso? Então, por quê?

— Você não acha que o que aconteceu hoje a noite não explica o

por quê?

— Não. O que eu acredito é que o que aconteceu hoje a noite

mostra que você é uma mulher vibrante e capaz de sentir paixões

profundas, apesar do que aconteceu com você. Você também é minha

esposa, e sempre será. Isso é o que mesmo uma separação legal não

pode mudar. Seja o que for que acontecer entre nós, você pode entrar

em Highclyffe sempre que quiser. Esta é a sua casa e, no que me diz

respeito, sempre será.

Edie escolheu não dizer que seria impossível para ela ir e vir de

um lugar que tanto amava quando não fizesse mais parte disso.

— Sim, bem, — disse ela, desesperada para mudar de assunto. —

Amanhã vamos passar o dia inteiro em Wash, então eu acho que não

poderemos caminhar pelo jardim. Quando terminar o jantar será

noite e, sendo lua nova, haverá pouca luz e não poderemos passear.

Mas, mesmo assim, podemos fazer os exercícios após o jantar. Você

concorda?

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


360
— Isso depende. Estou convidado para o piquenique?

— Claro. Achei que minhas duas horas pudessem fazer parte

disso.

— Sim, mas essas duas horas são obrigatórias. O que eu quero

saber é se realmente queres que eu vá. Você gostaria que eu as

acompanhasse?

Edie encolheu os ombros, tentando mostrar indiferença.

— Pode ser bom. Joanna gosta muito de você, e você tem

excelente gosto para cestas de piquenique.

— Nesse caso, aceito o convite. E como você tem tanta fé no meu

talento, vou organizar o cardápio com a Sra. Bigelow.

Ele sorriu e passou os olhos pelo rosto de Edie. Então levantou a

mão como se quisesse acariciá-la, mas deixou-a cair.

Edie respirou fundo.

— Então, então, te vejo amanhã. Sairemos às nove horas.

— Não vá embora ainda. Fique um pouco mais. — Quando Edie

hesitou, ele falou novamente. — Esconderei minhas mãos nas costas,

eu prometo.

Ele largou a bengala e colocou as mãos atrás de suas costas, mas,

fazendo esse movimento, se aproximou ainda mais de Edie.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


361
— Como hoje à noite estamos falando sobre o que gostamos e o

que não gostamos, há mais uma coisa que eu gostaria de dizer antes

de nos separarmos.

O coração de Edie bateu violentamente contra suas costelas. Ela

fechou a mão ao redor da maçaneta com tanta força que doeu, mas

não a abriu para entrar e fugir.

— E que é?

— Eu gostaria de te dar um beijo de boa noite.

Seu coração começou a bater ainda mais rápido, e com mais dor,

a expectativa aumentou o medo, a sensação de alerta e todas as

emoções que experimentou naquele dia.

— Não terminamos de jogar de xadrez. Você não pode

reivindicar um beijo.

Stuart riu.

— Talvez não. Mas eu gostaria de te beijar de qualquer jeito. —

Ele interrompeu e disse suavemente. — Você gostaria?

— Não... — Ela parou quando estava prestes a rejeitá-lo

automaticamente, mas percebeu depois que não tinha motivos para

fazê-lo e corrigiu sua resposta. — Não sei.

— Quer que descubramos?

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


362
Ele inclinou a cabeça, aproximando-se milímetro por milímetro,

dando-lhe tempo para virar o rosto e rejeitá-lo. Mas Edie não se

moveu. E ele também não recuou.

— Mesmo se você me beijar, — ela sussurrou, — esse beijo não

conta.

— Eu sei, — Stuart respondeu, e pressionou seus lábios.

Edie ficou paralisada por esse contato, de costas contra a porta.

O nó de medo que pressionava contra seu peito estava ficando mais

tenso. Queimou. Com os olhos bem abertos, ela o viu se aproximar

viu-o abaixar as pálpebras, ao mesmo tempo em que baixava os cílios

escuros contra sua pele bronzeada. E quando ele descansou os lábios

sobre os dela, ela inalou e sentiu a fragrância do sabão de sândalo.

“Stuart”, ela pensou, e o nó apertado e rígido em seu peito se

afrouxou ligeiramente, como se fosse uma abertura de punho.

Também soltou a mão com a qual agarrava a porta e deixou cair para

o lado do corpo. O pânico deu caminho o suficiente para uma nova

consciência tomar seu lugar.

O beijo foi surpreendentemente leve. Não havia força nele,

nenhuma pressão de qualquer tipo, nenhuma demanda. Era uma

calorosa carícia contra seus lábios. Ela fechou os olhos e todos os seus

sentidos pareciam ativar. Eles apenas encostaram os lábios, mas

podia sentir o calor de seu corpo como uma impressão digital, como

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


363
se ele estivesse pressionando contra ela. Sob o cheiro de sândalo,

também detectou outras essências, essências mais terrestres e

profundas, exclusivas de Stuart. Ela ouviu a crosta da seda de seu

vestido e o duro batimento de seu próprio coração e se moveu contra

a porta.

Stuart passou a língua no canto fechado de seus lábios.

Imediatamente, Edie ergueu as mãos entre eles em um ato de reflexo.

Colocou as palmas das mãos contra o peito dele e o empurrou. Stuart

parou e recuou ligeiramente. Edie sentiu a suavidade do cetim grosso

de seu colete contra suas mãos. Sob ele, também podia sentir o peito

de Stuart subindo e caindo ao ritmo de sua respiração, e também a

força de seus músculos.

— Eu gostaria de te beijar novamente, Edie, — ele disse,

escovando os lábios dela enquanto falava. — Você gostaria que eu

fizesse isso de novo?

Edie permaneceu em silêncio, presa entre forças incompatíveis

entre si, mas igualmente poderosas. Permaneceu lá para o que

parecia ser uma eternidade enquanto ele esperava sem se mexer e

sentiu o calor de sua respiração em seu rosto. Na verdade, não sabia

se ele gostaria que lhe desse outro beijo, mas sabia que não queria ter

medo deles. Ela assentiu com um aceno tímido e abrupto.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


364
Stuart sorriu contra seus lábios, inclinou a cabeça e a beijou

novamente. O prazer vibrou através dos braços de Edie, inundando-a

com o calor.

Stuart tocou seus lábios novamente com a língua e Edie sabia o

que ele queria. Ela abriu a boca. Stuart provou deliciosamente,

pêssego e porto e, quando ele acariciou sua língua, Edie ouviu um

gemido escapar de sua própria garganta. Um gemido que não era um

protesto de nenhum tipo e não se parecia com nenhum som que já

havia pronunciado.

Stuart torceu ligeiramente em resposta e, por um breve

momento, pressionou-a. Mas assim que Edie se endireitou, deu um

passo atrás e pegou o lábio inferior de Edie entre os seus. Ele o sugou

delicadamente, como se o lábio de Edie fosse um fruto. Ao fazê-lo, ele

evocou nela a mesma sensação que experimentou quando tinha

sugado os dedos dela: ele parecia estar puxando cada parte de seu

corpo, pernas, costas e barriga. Ela gemeu de novo e, subjugada por

essas sensações, se arqueou contra ele. Mas então, ele escovou a

dureza de sua excitação com seus quadris e ela retornou

abruptamente à realidade. Ela puxou a boca de seus lábios e sacudiu

a cabeça violentamente, enquanto pressionava contra a porta e o

empurrava.

—Por...! — Ela gemeu. — Pare!

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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Stuart recuou de frente e afastou-se dela. Sua respiração,

acelerada e ardente, derreteu-se no silêncio do corredor. Os olhos de

Stuart tomaram a cor do fumo na luz fraca, e quando ela os

confrontou, Edie reconheceu o desejo em suas profundezas.

Ela voltou o olhar sem dizer uma palavra, com todos os sentidos

fugidos. Seus lábios tingidos. Sentiu alegria, medo, felicidade e

tristeza ao mesmo tempo. E não conseguiu recuperar o ritmo normal

da respiração.

— Boa noite, Edie. — Stuart inclinou-se para ela, beijou sua testa

e virou-se.

Ele pegou a bengala e começou a dirigir-se para o quarto.

Edie não se virou para vê-lo sair. Ela colocou a mão na boca e

fechou os olhos ao ouvir seus passos e o bater da bengala contra o

chão. Ela o ouviu abrir a porta, mas, quando se virou para olhar, ele

já havia desaparecido, fechando suavemente atrás dele.

Edie não entrou no quarto. Ela permaneceu na porta por um

tempo, a mão contra a boca, imaginando se todos os beijos seriam

assim.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


366
Capítulo 16

Se alguém tivesse perguntado a Stuart quantas mulheres ele

beijara ao longo de sua vida, ele poderia ter tentado fazer uma

estimativa, mas a verdade era que ele havia beijado muitas, então a

precisão de tal lista teria sido duvidosa. E, se ele tivesse sido

solicitado a fornecer detalhes sobre qualquer um desses beijos, ele

teria descrito todos eles da mesma maneira: como um prelúdio para

coisas melhores.

No entanto, beijar Edie tinha sido algo que ele lembraria para o

resto de sua vida. O primeiro toque de seus lábios, aparentemente tão

casto, fazia vibrar a emoção em todo o corpo instantaneamente. O

fato de ter as mãos nas costas tinha sido tão malditamente frustrante,

e ao mesmo tempo tão erótico, que o atordoou. O gosto de Edie, tão

doce, fazia pensar que, sem o acompanhamento de seus beijos, o

gosto do porto e dos pêssegos nunca mais seria o mesmo.

Ele estava ciente de que não estava beijando uma virgem em um

sentido literal, mas sabia que fora seu beijo que despertou a

carnalidade de Edie pela primeira vez em sua vida. Ela, que só

experimentou a face mais sórdida, estava começando a conhecer o

lado mais prazeroso do sexo graças a ele. Esse era o alvo de Stuart

todo esse tempo, e tornou-se uma obsessão desde que estava ciente

da brutalidade que haviam cometido contra ela. Mas, naquele

momento, uma vez que o objetivo foi alcançado, ficou atordoado com

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


367
as consequências. Na verdade, ele ficou tão espantado quanto à

primeira vez que viu um pôr do sol na África ou observou uma

gazela atravessando a planície.

Enquanto ele estava deitado na cama com os olhos fixos no teto

depois desse interlúdio, ele recordou da fragrância de seus cabelos e

da pele com cada respiração. Toda vez que ele molhava seus lábios,

ele saboreava o pêssego e o porto. Toda vez que ele fechava os olhos,

via seu rosto, seus lábios inchados dos beijos e seus olhos arregalados

de espanto. E toda vez que ele evocava essa imagem, sentia-se preso

nela. E então ele sabia. Era o que o destino tinha tentado mostrar-lhe

cinco anos atrás.

Ele não esperava nada parecido. Voltou para casa, pensando

apenas em iniciar uma vida junto com a mulher com quem se casou

e, durante a viagem para casa, esperava que tivesse um casamento

feliz, com muitas sessões de amor e os filhos que geralmente viriam.

Mas isso transcendeu todas as suas expectativas. Obviamente, ele

sentiu-se extremamente atraído por ela desde o primeiro momento,

não havia dúvidas sobre isso, mas ela não permiti4 que ele adentrasse

nessa atração e fazia quase meia década sem realmente saber o que

lhe faltava. Depois desse beijo ele sabia disso e era tão devastador

que ele não conseguiu dormir naquela noite.

Na manhã seguinte, sua mente registrou todos os detalhes

requintados do que aconteceu em sua memória, seu corpo

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


368
queimando com desejos insatisfeitos, estava começando a temer que

até o coração dele estivesse em perigo.

Ele não tinha certeza se os seis dias restantes o levariam para o

inferno ou para o paraíso, mas tinha a sensação de que poderia

alcançar os dois antes de tudo acabar.

Quando Edie deixou o estabelecimento, no dia seguinte eles

foram ao estuário, Stuart ficou feliz por estar acompanhado por

Joanna e a Sra. Simmons, porque precisava desesperadamente das

suas presenças para recuperar o equilíbrio.

Quanta ironia. Tanto Edie quanto ele assumiram que Joanna

serviria pela primeira vez para ser uma proteção contra ele e não o

contrário. Mas Stuart sabia que um beijo não era suficiente para Edie

cair em seus braços, longe disso. E, mesmo que esse feliz evento

acontecesse no decorrer dos cinco dias restantes, seu desejo por Edie

permaneceria insatisfeito por muito mais tempo. Stuart estava ciente

de que ele precisava de todo o controle que pudesse reunir. E nada

como a presença de uma menina de quinze anos e sua governanta

para fazer um homem lembrar-se de como se comportar.

Eles colocaram os cobertores e um toldo em um agradável prado

ao longo do penhasco, na costa, e Stuart também agradeceu. Sendo ao

ar livre, havia pouca margem para beijos roubados. Embora ninguém

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


369
pudesse vê-los a partir da praia, os montes de capim que os cercavam

apenas os protegiam dos olhares de alguém que descesse à costa dos

campos ou da cidade. Essas terras pertenciam aos Margraves, mas os

habitantes da cidade podiam se aproximar livremente para pescar,

banhar-se ou andar de barco e, embora Stuart não quisesse ser visto

beijando sua esposa em sua própria terra, ele suspeitava que Edie

nunca se sentiria suficientemente relaxada em uma situação como

essa para dar a chance de tentar.

Mesmo assim, se ele acreditava que poderia passar um dia com

ela sem que sua resolução fosse comprometida, estava errado.

Acabavam de almoçar e Joanna, que passou a maior parte da manhã

pintando, decidiu que queria passar a tarde fazendo algo diferente.

— Quero ir até a margem para procurar conchas, — ela

anunciou. — Vamos?

— Podemos ir, por favor? — A Sra. Simmons e Edie a corrigiram

em uníssono, fazendo com que Joanna soltasse um longo suspiro.

— Nesse caso, podemos ir, por favor? — Ela perguntou, e

quando Edie assentiu com a cabeça, Joanna levantou-se e virou-se

para Stuart. — Stuart, você também virá, não é?

Mas Stuart balançou a cabeça.

— Não querida. Eu acho muito difícil andar na areia.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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— Oh sinto muito! — Ela deu um sorriso apologético. — Tinha

me esquecido dele. Bem, se você não pode ir, Edie terá que ficar para

fazer-lhe companhia.

Stuart estava prestes a sorrir quando Joanna piscou para ele com

um gesto de conspiração, mas não estava certo de que apreciasse sua

ajuda naquele momento. Afinal, ele estava tentando resistir à

tentação. Mesmo assim, certamente Edie decidiria acompanhar sua

irmã, então ele supôs que não teria que lutar contra ela.

No entanto, sua esposa o surpreendeu ao responder:

— Você está certa, Joanna, acho que vou ficar com Stuart. A Sra.

Simmons, você pode acompanhá-la? Leve Snuffles junto, —

acrescentou.

— É claro, — respondeu a governanta, e começou a se mover

com a intenção de se levantar.

Stuart colocou o copo de vinho na bandeja ao lado e levantou-se

para ajudar a governanta. Ele esperou até que a Sra. Simmons, Joanna

e o cachorro desaparecessem atrás de um dos montes de grama que

alinhavam a costa para se sentar de novo na frente de sua esposa.

— Bem, aqui estamos nós. — Ele recostou-se, descansando o

peso em seus braços e olhou ao redor exageradamente, —

completamente sozinhos.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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Edie tomou um gole de vinho. Abaixo da borda de seu chapéu

de palha, olhou para Edward, que estava perto deles com as mãos

vestindo luvas brancas pronto para servir, e depois olhou mais

adiante, onde Roberts descansava no Landau.

— Mas não estamos sozinhos.

Naquele momento, Stuart demonstrou sua completa falta de

vontade em relação a sua esposa.

— Edward? — Ele chamou, sem desviar o olhar de Edie.

O lacaio imediatamente se aproximou dele.

— Sua Excelência?

— Por que você não vai andar com Roberts? — Ele sugeriu,

sorrindo ao ver a face de Edie ficar cor-de-rosa. — Levem uma hora,

não, melhor duas, e desfrutem um pouco do lugar. Está um ótimo dia

e há poucas oportunidades para desfrutarmos de uma tarde de folga.

— Sim, Sua Excelência. Obrigado, Excelência.

Edie se moveu inquieta enquanto observava o lacaio e o

motorista descerem até a praia e desaparecerem de vista.

— Você não precisava pedir-lhes para sair. Eu não quis dizer isso

para poder ficar aqui com você. Simplesmente, eu pensei que

poderíamos conversar um pouco, só isso.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


372
— Sim, bem, você sabe que sou um homem muito otimista.

Ele moveu alguns centímetros para mais perto dela, encostando-

se à perna esquerda de Edie. Ao fazer esse movimento, levantou a

saia salgueiro verde e embora nada revelasse ao seu olhar, a não ser

alguns centímetros dos despojos, que não deixaram de combinar em

sua mente à imagem dos belos tornozelos que estavam escondidos

debaixo do couro bege.

— Eu esperava mais do que conversa.

Edie olhou para o copo de vinho na mão.

— Espera demais.

— Eu disse que esperava algo mais, Edie, — ele respondeu

delicadamente, — eu não presumo que o consiga.

— Mesmo assim, você tem muita certeza de si mesmo quando se

trata de mulheres.

Stuart não podia deixar de rir.

— O que você achou tão engraçado?

— Eu nunca tenho certeza de nada com você, — ele confessou.

— Ah! Eu ousaria dizer que eu disfarço bem. Afinal, todo homem

tem seu orgulho. Mas nunca me senti seguro com você,

especialmente depois que você me esmagou no baile de Hanford e

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


373
me disse que não me achava atraente. Eu não tenho, — acrescentou

com uma expressão irônica enquanto pegava o copo e tomava um

gole de vinho. — Isso faz você se sentir melhor?

— Bom, a verdade é que não. Porque, mesmo que eu acreditasse

em você, o que eu não acredito, você ainda estaria muito à minha

frente. Não tenho experiência com homens. Pelo menos, — fez uma

careta e continuou, — não tenho boas experiências.

Stuart engoliu a lembrança, mas Edie falou novamente antes dele

poder responder.

— Eu não pretendia falar sobre isso, — disse dando um suspiro.

— O que eu quero dizer é que não sinto que estamos no mesmo nível.

— Porque nós não estamos. — Stuart sentou-se, colocou o copo

de lado e estendeu os braços. — Estou completamente à sua mercê.

— Veja? É exatamente isso que eu quero dizer, — ela murmurou.

— Você sempre será capaz de dizer coisas adoráveis.

— Só digo se elas forem verdadeiras, Edie.

Edie desviou o olhar e sacudiu a cabeça.

— O que você acabou de dizer é um absurdo. Eu não entendo de

que maneira você pode estar à minha mercê.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


374
Stuart teria ficado feliz em explicá-lo com grande detalhe, mas

Edie olhou para ele e falou novamente antes de ter uma chance de

fazê-lo.

— Stuart, posso te fazer uma pergunta?

A súbita intensidade de sua voz o surpreendeu.

— Claro, — ele respondeu, incapaz de imaginar o que ela iria

perguntar.

No caso de Edie, poderia esperar qualquer coisa.

—Você esteve...? — Ela parou e bebeu um gole de vinho, como

se precisasse disso para continuar. — Você esteve com muitas

mulheres quando estava na África?

Essa nova aparência de ciúmes o fez sorrir. Como Stuart lhe

havia dito ontem à noite, se ela estivesse com ciúmes, era porque não

era indiferente a ele e isso fazia uma grande diferença.

Ela entendeu o motivo de seu sorriso instantaneamente, levantou

o queixo e desviou o olhar novamente.

— Não importa, — ela respondeu a si mesma. — Não é assunto

meu.

— Claro que é. Você é minha esposa

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


375
— Mesmo assim, chegamos a um acordo sobre o seu possível

relacionamento com outras mulheres. — Ela tomou outro gole de

vinho, colocou o copo de lado e começou a sacudir a areia da saia, —

então, na realidade, não tenho direito a lhe fazer essa pergunta.

Stuart a viu inclinar cabeça e a diversão desapareceu quando

pensou o que deveria responder.

— Você tem o direito de me perguntar o que desejar, no

momento que desejar e sobre qualquer assunto. E te responderei.

Você nem sempre vai gostar da resposta, mas sempre vou lhe dizer a

verdade. Se você realmente quiser que eu responda essa pergunta, eu

farei.

Stuart esperou e, depois de alguns segundos, a curiosidade a

levou a fazer a perguntar em um sussurro:

— Você esteve com outras mulheres?

— Não, Edie. Eu não estava com outras mulheres na África. Isso

não significa que fui celibatário, — ele acrescentou imediatamente

para deixar as coisas claras. — Eu não fui. Estive com outras

mulheres, sim, mas não na África. E a razão é que... — Ele parou de

repente, sentindo-se terrivelmente envergonhado, mas prometeu

dizer a verdade, — a sífilis é uma doença muito comum. Eu não

queria ficar infectado.

O rubor cobriu as bochechas de Edie.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


376
— Ah!

— Normalmente, era fácil para eu evitar companhia feminina,

mas quando a situação começava a ficar desesperadora, viajava à

Paris.

— Então você tinha uma amante em Paris? — Ela encolheu os

ombros com timidez, como se não se importasse, mas Stuart sabia

que isso era importante para ela.

— Não, Edie, eu não tinha amantes ou nada parecidos. Era

apenas com cortesãs e nenhuma significou nada para mim. Era

apenas uma necessidade básica, uma liberação física...

Ele parou de falar e deu um sorriso. Essa conversa estava se

tornando cada vez mais violenta.

Edie mordeu o lábio e ficou em silêncio por alguns segundos.

Stuart não tinha idéia do que ela estava pensando.

— Penso que é uma longa viagem para estar com uma cortesã.

Stuart respirou fundo e explicou o motivo.

— Se um homem procura esse tipo de coisa, Paris é o lugar ideal.

É fácil encontrar preservativos e mulheres que são... — Ele parou

novamente e, nesse momento, foi ele quem teve que desviar o olhar.

— Meu Deus! — Ele sussurrou. — Esfregou o rosto e forçou uma

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


377
risada. — Esta não é o tipo de conversa que se mantém normalmente

com uma esposa.

— Não, acho que não.

Stuart decidiu desviar à conversa para aspectos de Paris que ele

achava mais fácil falar.

— Mas não fui a Paris apenas por causa das mulheres. Eu

também tenho amigos lá. Trubridge morava lá na época,

compartilhava uma casa com Jack Featherstone. Ambos são bons

amigos meus desde o tempo de Eton. Nós saiamos para a farra,

bebíamos e, também, nos divertimos com as mulheres. — Ele

interrompeu-se e acrescentou: — Você pode não acreditar no que eu

vou lhe dizer, mas todas as vezes que fui a Paris, pensei em voltar

para casa. Mas, estando às coisas como estavam não via o sentido.

— Não, — concordou Edie, — não faria nenhum sentido. E

obrigado por ser sincero comigo sobre as outras mulheres. Estou

ciente de que é uma questão difícil.

Stuart sentiu-se obrigado a aliviar a seriedade da conversa.

— Sim, bem, a essa altura, você acabará se perguntando o que é

um preservativo e me colocará em apuro.

— Deus, não! — Ela acenou com a mão, negando essa

possibilidade. — Eu já sei o que é um preservativo.

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— Verdade? — Isso o surpreendeu. — Caramba, Edie, você nem

sabia o que era uma lésbica até eu te contar, como diabos você

conhece o que é um preservativo?

— Sou uma mulher casada, Stuart. Mulheres casadas falam sobre

essas coisas.

— Entendo.

— Minhas amigas me explicaram tudo sobre preservativos há

séculos. Algumas até sugeriram que eu poderia precisar deles e se

ofereceram para conseguirem para mim. Quando você estava fora e

todas essas coisas, elas pensaram que eu poderia precisar de uma

companhia masculina.

— Verdade? — Stuart começou a sentir-se um pouco irritado. —

E quem eram essas amigas? Não sei se você deveria se relacionar

com elas, Edie. E algum homem em particular tinha planos de tê-la

como companhia?

Stuart sentiu o mal-estar de sua própria voz. Edie também

percebeu isso e correu para apontá-lo.

— Agora é você aquele que está com ciúmes.

— Não é verdade, — Stuart negou imediatamente.

— Claro que sim! — Edie riu maravilhada. — Está com ciúmes.

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— Tudo bem, um pouco. É isso mesmo, — acrescentou quando

Edie riu de novo. — Satisfeita? Você sente que me fez beber do meu

próprio remédio? Que já estamos empatados?

— Sim, — Edie confessou com um sorriso radiante que Stuart

adorava. — Desde já.

— Bem, agora que eu respondi suas perguntas, há algo que eu

quero que você saiba. — Ele se aproximou dela no cobertor e o

sorriso de Edie desapareceu, mas Stuart decidiu que o sacrifício valia

a pena quando ele se aproximou o suficiente para esfregar o joelho

contra seu quadril então seu corpo começou a queimar. — Quero

saber se essas amigas lhe falaram sobre as coisas realmente

importantes. Como quão agradável pode ser fazer amor se for feito

corretamente.

O rubor de Edie se intensificou. Ela olhou para baixo,

aparentemente, muito envergonhada para sustentá-la. No entanto,

para a surpresa de Stuart, ela respondeu a pergunta.

— Pela maneira de falar, entendi que era algo agradável.

— Bom? — Stuart repetiu com incredulidade. — Isso é tudo o

que disseram?

— A maioria parecia pensar que era algo muito agradável.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


380
— Mais ou menos como uma bolsa de água quente em seus pés,

— disse Stuart.

Edie não pareceu notar seu sarcasmo.

— Algumas disseram que era muito engraçado. Não entendi

como era possível, mas nunca disse nada.

— E agora? Depois da noite passada, você acha que poderia

entender seus pontos de vista?

— Ontem à noite? — Ela sussurrou, tentando fingir que não

sabia o que ele queria dizer. Mas ela não se atrevia a olhar para ele, e

mostrou um interesse incomum em remover as gramas da saia. —

Algo especial aconteceu ontem à noite?

— E você diz que não sabe como flertar? Edie, você está fazendo

isso agora. — Ele inclinou o joelho, esfregando deliberadamente seu

quadril, saboreando o despertar de seu próprio desejo e sabendo que

estava brincando com fogo. — Continue falando comigo sobre o que

suas amigas lhe disseram sobre fazer amor, porque eu me recuso a

acreditar que elas simplesmente descreveram isso como algo

agradável e prazeroso. — Ele se inclinou para tocar a aba do chapéu

dela com a testa. — Elas disseram o quão maravilhoso é ser beijada e

acariciada?

Apenas a parte inferior do rosto de Edie era visível, então ele não

podia ver seus olhos, mas pôde ver seus lábios se separarem e

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


381
tremerem um pouco, ela não precisava de mais respiração. Ele

continuou pressionando, brincando com ela e torturando-se.

— Disseram que tem a capacidade de levar um homem ao

êxtase ou mergulhá-lo no desespero? Ou que você pode transformá-

lo em um mendigo ou fazer ele se sentir um rei? — Ele abaixou a

cabeça sob o chapéu de Edie para que pudesse olhar em seus olhos.

— Edie, se você quisesse poderia fazer isso comigo. É por isso que

estou à sua mercê.

Ele pôde ver que ela prendia a respiração. Seu rosto mostrava a

suspeita que Stuart estava acostumado, mas havia algo além, algo

que ele nunca tinha visto antes. Uma consciência elementar, talvez,

de seu próprio poder.

— Bem, agora sabe. — Ele relaxou contra ela e tocou seu quadril

com o pulso enquanto cravava os dedos na grama na borda do

cobertor. — Tenho medo de que, de agora em diante, eu seja como

uma massa entre seus dedos.

O desejo que ele tentou manter sob controle ao longo do dia

estava começando a superá-lo, era um desejo forte e ardente, mas não

fez nada para detê-lo. Ele sabia que tinha que beijá-la novamente. Aí,

nesse momento preciso. Ele se inclinou para ela.

— Edie!

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


382
O grito fez com que ambos virassem a cabeça para ver Joanna

subir em direção a um monte de grama e areia com um pedaço de

madeira torcida deixada na praia pela maré.

— Olhe o que encontrei! Você não acha que seria ótimo para

uma natureza morta?

Stuart gemeu e caiu de costas.

— Para a escola, Edie, — murmurou. — Essa garota precisa ir à

escola.

Quando terminaram de pegar as coisas e voltaram para

Highclyffe, já estava escurecendo. Joanna não parou de falar durante

a viagem, algo que Edie apreciou, porque não estava em condições de

conversar de forma normal. Dentro dela, todos os tipos de

sentimentos confusos e contraditórios estavam se reunindo.

Sentia medo, é claro. O medo sempre a acompanhava. Era algo

que aceitou e com o que aprendeu a viver por um longo tempo. Mas,

juntamente com ele, outras emoções começaram a surgir, emoções

que se esforçaram para vir à tona. Sentimentos como excitação,

desejo, saudade e esperança. A dor e a insegurança. Sentimentos que

a fizeram perceber o medo como algo confortável, como um par de

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


383
sapatos de couro velhos ou luvas perfeitamente adaptadas. Pelo

menos, o medo era familiar.

Podia sentir Stuart observando-a, olhando-a de lado, mas,

felizmente, ele não fez nenhuma pergunta sobre seu silêncio

pensativo. Não falou com ela, de fato, exceto para educadamente

perguntar se ela estava confortável ou não e se preferia ir à parte

superior do Landau. Exceto por isso, ele estava falando

principalmente com Joanna, brincando à custa do enorme pedaço de

madeira que ocupava a maior parte do chão do Landau e elogiava as

duas aquarelas que ela havia pintado naquela manhã.

Quando chegaram a casa, era quase noite. Eles mandaram

Snuffles para o andar de baixo tomar um banho e todos foram para

seus quartos para mudar de roupa para o jantar. Mas, se Edie pensou

em algum momento que o quarto lhe proporcionaria refúgio, estava

enganada. Enquanto estava na frente do espelho de corpo inteiro e

Reeves amarrando seu espartilho, as palavras que Stuart falou

algumas horas atrás voltaram para ela.

“Você pode transformá-lo em um mendigo ou fazê-lo sentir-se como um

rei”.

Não entendeu. Ela tentou enquanto estudava seu reflexo no

espelho, mas sabia que não tinha um rosto que provocaria uma

guerra ou derrubaria um reino. Edie só conseguiu concluir que ele

estava apenas tentando lisonjeá-la, ou Stuart estava cego. Porque a

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


384
única coisa que ela via quando olhava no espelho era uma mulher

pouco atraente com um cabelo encaracolado e cor de cobre, um

maxilar forte e uma pele pálida com sardas.

"Eu olhei para elas, e me perguntei se elas cobririam todo o seu corpo, e

eu comecei a calcular quanto tempo demoraria para beijá-las todas elas".

Edie colocou a mão no esterno e acariciou as delicadas pontas

douradas.

“Você precisaria de muito tempo, Stuart”, pensou, “e seriam muitos

beijos”. E foi suficiente pensar para que o calor começasse a se

espalhar por todo o corpo.

Seu corpo. Bem, isso era um assunto completamente diferente,

certo? Edie suspirou, e o flash de desejo morreu ao despertar para a

dura realidade. Da mulher que refletia no espelho, viu a jovem que

superou seus parceiros de dança, a jovem que sofreu a mais cruel

ironia por causa das sardas e dos dentes e que tinha um dos traseiros

menos impressionantes de Nova York.

"Poderia adivinhar a curva de seus quadris e suas pernas muito

longas".

Talvez, pensou Edie com tristeza, tivesse pernas lindas. Mas isso

não era suficiente para levar um homem ao êxtase ou mergulhá-lo no

desespero. O que Stuart viu nela que não era capaz de ver?

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Não tinha certeza de que queria saber.

Era uma pergunta, pensou com dor, um pouco como o que havia

sido feito após os eventos em Saratoga. O que ela tinha para que

Frederick Van Hausen se transformasse de cavaleiro a um animal? O

que o levou a empurrá-la para uma prancha de madeira quebrada,

rasgar a calcinha e cobrir seu corpo com o dele, apoiando-se tão forte

que ela nem conseguia respirar e...?

Sua brusca aspiração levou Reeves a parar e deixar de amarrar

seu espartilho.

— Está tensa, Sua Excelência?

Edie fingiu um sorriso.

— Talvez um pouco, — ela mentiu.

— Desculpe Excelência. — É para o vestido de noite que eu

preciso apertar um pouco mais.

Ela terminou de amarrar o espartilho ao redor do cóccix de Edie

e colocando os laços, depois a ajudou a entrar nas anáguas e depois

se virou para a cama, onde tinha deixado o vestido rosa pálido que

Edie tinha usado durante o dia.

— Vou procurar um vestido de noite. Mas tem certeza? — Ela

acrescentou, e parou com o vestido de seda rosa pálido em seu braço.

— A senhora geralmente não usa vestidos de noite em casa.

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386
— Esta noite, eu prefiro. — E não deu explicação.

As duquesas nunca tiveram que dar. Exceto, talvez, ao duque.

Reeves assentiu, ela parecia satisfeita.

— E que vestido eu trago? O de seda azul real é sempre lindo.

Ou talvez o verde Nilo? — Ou o roxo?

— Não. — Edie balançou a cabeça, rejeitando essas opções. —

Traga o marrom.

— Oh, não, Sua Excelência! — Reeves gemeu. — O marrom, não.

Edie ficou surpresa porque a empregada sempre foi muito

correta e nunca cometeu a impertinência de contradizê-la.

— Reeves, qual é o problema contigo?

A donzela corou imediatamente e olhou para ela contrariada.

— Perdão, Excelência, é só que o marrom... — Ela interrompeu,

suspirou e engoliu em seco, — é um pouco sério. Muito sóbrio.

— Sim, exatamente — Edie assentiu, porque com um estilo

sóbrio e severo sentia-se muito mais segura. — Talvez alguns o

descrevam como sem graça.

— Não prefere algo mais bonito? O azul real fica perfeito com o

seu cabelo. E o decote é mais pronunciado.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


387
Edie estremeceu ao observar seu reflexo.

— Como se isso pudesse ter alguma importância no meu caso.

— Nós podemos adicionar um pouco de enchimento — Reeves

olhou o relógio. — Temos muito tempo.

Edie virou o olhar de seu próprio reflexo para o da donzela.

— E por que eu gostaria de fazer algo assim? — Ela perguntou

em um tom que parecia de repente tenso para si mesmo.

— Muito... — Reeves parou. — É só que o duque está de volta a

casa, — disse ela depois de um momento. — Tenho certeza de que

gostaria de desfrutar de uma visão atrativa no outro lado da mesa

depois de ter estado em um mundo selvagem há tanto tempo e... e...

— Ela estudou o rosto de Edie, suspirou e renunciou. — Eu vou

procurar o vestido marrom.

Reeves desapareceu no vestiário e Edie olhou para o reflexo no

espelho.

— Enchimento, nada menos, — ela murmurou para si mesmo.

alisou o corpete sobre seu peito raso. — Não tenho usado desde os

dezoito anos.

A jovem que estava diante do infeliz incidente de Saratoga ficou

encantada de ser recheada ou qualquer outra coisa que pudesse

melhorar sua imagem sob suas roupas. Ela refrescou a boca com suco

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


388
de cereja e ousou sonhar que certo cavalheiro na outra extremidade

da Madison Avenue poderia se apaixonar por ela. Mas aquele

sucesso havia quebrado todos aqueles sonhos românticos, sufocou a

paixão antes mesmo de ter a chance de descobrir o que era.

Era tarde demais, não era?

Edie mordeu o lábio e fixou seu olhar em seu reflexo quando ela

se lembrou do rosto de Stuart, seus olhos desafiando-a a descobrir o

prazer de ser beijada e acariciada.

O que ela queria, exatamente?

Essa teria sido uma pergunta fácil de responder a uma semana

atrás. Então teria respondido que queria o que ela tinha, que sua vida

era perfeita. Nunca teria ousado perguntar a si mesma se estava

perdendo alguma coisa.

Ela podia ouvir a voz de Stuart assegurando-lhe que ela era uma

mulher apaixonada. E era mesmo?

Claro, sentiu-se agitada por dentro desde que Stuart voltou. Se a

paixão fosse estar em um estado permanente de insegurança

agonizante, se fosse apanhada entre emoção e medo, então Stuart

estava certo. Se a paixão fosse alegria e puro terror, e presa a

pensamentos confusos, assumiria que ela era uma mulher

apaixonada. Se Stuart tivesse sido capaz de causar tanto estrago nela

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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em apenas uma semana, o que aconteceria se ela lhe concedesse uma

vida?

Pensou no rosto de Stuart, mais grave no momento em que o viu

no salão de baile, um pouco mais maduro, ligeiramente carregado

por preocupações, mas ainda assim tão devastadoramente atraente,

com aqueles olhos como a prata esfumaçada. Era um homem que,

como ele próprio havia admitido, conhecia muitas mulheres, sabia

por que os pêssegos podiam ser um fruto erótico e que palavras dizer

para que o coração de uma jovem inexperiente se contorcesse no

peito. Quantos corações teriam torcido como o seu? Provavelmente

muitos para acompanhar.

Claro, eles eram casados, mas o que isso significava? Um homem

como Stuart poderia ser amarrado a uma mulher como ela? Ele

poderia realmente amá-la, amá-la e ser fiel?

Meu Deus, ela ficou impressionada. Estava acumulando

expectativas românticas mais rapidamente do que uma garota de

dezoito anos.

Era o que queria? Sentindo-se como havia se sentido então?

Voltar para o que era antes de Saratoga? Eliminar esse evento como

se nunca tivesse acontecido? Seria possível?

Desolada, Edie colocou as mãos na face corada. Onde estava

àquela duquesa autoconfiante que possuía cinco propriedades por

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


390
conta própria, criou uma pequena irmã, dirigiu doze grandes

instituições de caridade e organizou algumas das tardes mais

populares em sua casa durante a temporada de Londres? Acreditava

ter se tornado uma mulher confiante e independente, mas de repente

percebeu que tudo o que tinha feito era se refugiar em uma esquina

segura, onde ninguém poderia questionar sua segurança, para testar

sua confiança. Ou desafiar a sua independência.

Não havia nenhum homem para subjugar, degradar ou forçá-la.

Isso era verdade.

Mas também ninguém para beijá-la com uma ternura que fazia

seu coração voar.

Edie colocou a mão em seus lábios e fixou o olhar em seu reflexo.

Ela ainda precisava tomar uma decisão sobre o que iria fazer pelo

resto de sua vida. Enquanto não o beijasse, tinha cinco dias antes que

ele a pegasse. E, enquanto isso, talvez a única coisa que tivesse que

fazer era... Desfrutar de ser uma mulher. E desejar que fosse ele a

beijá-la.

Naquele momento, a empregada chegou e Edie virou-se.

— Eu mudei de idéia, traga o azul.

Reeves, aquela mulher madura e séria, a donzela perfeita para

uma senhora, pulou de alegria e sorriu como uma criança.

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— Posso arrumar os cabelos com grampos? Isso poderia eliminar

o embaraço deixado pela brisa.

— Oh muito bem! — Edie respondeu quando a empregada

desapareceu no vestiário. — Mas não pretendo encher-me!

Edie olhou para o espelho e retirou alguns cachos de sua testa.

— Não é necessário levar as coisas tão longe.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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Capítulo 17

Quando Edie desceu, Stuart era o único na sala. Estava tomando

um copo de xerez e analisando as aquarelas que Joanna havia

pintado durante a manhã, dispostas sobre a mesa ao lado do piano.

Ele olhou para cima quando a ouviu entrar e sorriu

imediatamente.

— Que linda você está!

Edie parou na porta e abaixou a cabeça, sentindo-se de repente

consciente de si mesma.

— Foi Reeves, — disse ela, e se moveu nervosamente com a saia

brilhante do seu vestido azul. — Aparentemente, ela acha que um

duque que retorna para casa das entranhas da África selvagem

merece apreciar a visão de uma mulher atraente do outro lado da

mesa.

Stuart sorriu.

— E compartilho disso com todo meu coração. Devemos

aumentar o salário dessa mulher.

Edie então pensou em algo e olhou com desconfiança.

— Você não teria sugerido isso, teria?

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— O que? Que você colocasse um vestido bonito com um decote

deliciosamente baixo? — Ele sorriu. — Não, mas que diabo, eu queria

ter feito isso. Embora, segundo o pensamento, — ele acrescentou,

inclinando a cabeça para estudá-la enquanto Edie cruzava a sala para

se aproximar dele, — talvez não. — Tenho medo de que o decote seja

muito provocador para a minha paz mental.

— Se Reeves tivesse falhado com isso, você está certo. — Olhou

para ele com ironia quando parou ao lado dele. — Sugeriria que

deveria colocar o recheio.

— Ah sim? — Stuart bebeu um gole de xerez e se virou para ela.

— Para quê?

— Para excitá-lo, é claro.

Stuart a olhou de cima embaixo com os olhos.

— Não precisa de enchimento para isso, Edie.

— Bem, em qualquer caso, eu disse que não, então é isso. — Ela

apontou para a mesa, determinada a desviar a conversa para um

tópico mais seguro que o seu peito. —Vejo que você estava olhando

as aquarelas de Joanna.

— Se você quiser me excitar, Edie, — sussurrou Stuart, —eu

posso ensinar-lhe maneiras mais eficazes de fazer isso do que colocar

recheio em seus peitos.

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Um formigamento de excitação correu pelo corpo de Edie

subindo pelas pernas, continuou ao longo da coluna vertebral e

terminou na nuca. Foi um sentimento intenso. Edie estremeceu, mas

não por medo. Pelo contrário, ela sentiu como se centenas de

borboletas estivessem voando em seu estômago. Desesperada, ela

forçou-se a dizer alguma coisa.

— Não gosto de parecer provocativa. Nem de encorajá-lo.

Stuart sorriu.

— Esse é o meu problema, não o seu.

Edie pensou sobre isso com uma expressão duvidosa.

— Alguns homens não estariam de acordo com isso.

O sorriso de Edie desapareceu.

— Então são cães desprezíveis, não são homens.

Edie olhou em seus olhos, viu a ternura neles e um súbito soluço

de emoção subiu em seu peito. Ela o reprimiu. “Que absurdo”, ela

pensou desesperadamente, “querer chorar em um momento como este”.

— Sim, — conseguiu dizer, — eles são.

Stuart respirou fundo e apontou para o copo na mão.

— Estou tomando um xerez, você quer um?

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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Edie agarrou-se a essa mudança de assunto e a oferta do copo ao

mesmo tempo, sentindo a necessidade de ambos.

— Sim, obrigada.

Stuart voltou sua atenção para as pinturas enquanto servia o

xerez.

— Sua irmã é muito talentosa, — ele comentou enquanto os

mostrava para ela.

— Sim. — Eddie pegou o copo que ele lhe ofereceu e apontou

para a parede. — Você já viu a pintura da sua borboleta.

— Sim claro. Eu acho que até agora ela já me mostrou todas as

suas pinturas. Seria interessante ver como ela vai pintar o resto de

madeira que trouxe para casa hoje.

— Tenho certeza vai fazer algo brilhante. Embora, é claro, tenho

que dizer que sou uma irmã orgulhosa.

— Não, acho que você fala como um crítico de arte perspicaz.

Ambos riram enquanto estudavam os quadros.

— Willowbank é uma escola de arte muito boa, Edie, — disse ele

depois de um momento. — Sem dúvida, essa é a razão pela qual você

a escolheu. E eu acho que Joanna deveria ir para lá.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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Edie olhou para as pinturas, olhando para as linhas requintadas

de areia e grama e uma perspectiva do céu que parecia suportar a

assinatura de Joanna.

— Ela não quer ir.

— Ela tem que ir. Você sabe tão bem quanto eu. Você estava

disposta a enviá-la e estou ciente de que sou a razão pela qual você

não fez isso.

— Não, você era apenas a desculpa. — Ela suspirou. — A

verdade é que, na realidade, Eu nunca quis mandá-la. Eu protelei

por muito tempo, eu sei, mas nunca nos separamos, exceto durante o

mês após o casamento, quando meu pai a levou para Paris. Odeio a

idéia de não poder vê-la. Se algo acontecer com ela...

— Estará sendo cuidada a cada minuto, Edie.

— Eu sei, eu sei. E você está certo. No dia da sua chegada da

África, finalmente consegui reunir a coragem que precisava para

enviá-la. Quando ela pulou do trem e chegou em casa, senti um

grande alívio para poder esquecer isso e mantê-la comigo por mais

algum tempo.

— Você vai perder muito, sem dúvida, mas é para isso que as

férias escolares são feitas.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


397
Enquanto falava, Edie percebeu que o que estava sob sua

relutância em mandá-la para um internato não era apenas o medo de

perder Joanna e a necessidade de vigiá-la. Era também a idéia de ficar

sozinha em Highclyffe que sempre tornava isso tão difícil. A ausência

de Joanna trouxe solidão para sua vida. A solidão de uma mulher

independente que dirigia instituições de caridade e construiu jardins

para que se mantivesse ocupada, que sabia que, a menos que ela

tivesse convidados, ela teria que desfrutar de refeições solitárias na

sala de jantar e em almoços campestres sem companhia.

Tudo havia mudado, é claro. Com o que tinha acontecido nos

últimos cinco dias nunca mais poderia viver sozinha em Highclyffe.

Poderia viver sozinha em outro lugar, mas não lá.

— Não sei se quero que Joanna vá para Willowbank. Não... Não

sei onde vou morar e quero estar perto dela. Até que as coisas sejam

esclarecidas entre nós, acho que não deveríamos inscrevê-la em

nenhuma escola em particular.

Stuart ficou em silêncio por um momento, depois assentiu e

tossiu suavemente.

— Sim claro. Mesmo assim, Willowbank fica em Kent, então... é

fácil chegar lá... de Londres. E também da Europa, se por fim... você

decidir viver lá.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


398
Falou lentamente, suas pausas frequentes pareciam indicar que

tinha dificuldade em se expressar com as palavras. Desviou o olhar.

— Se você decidir voltar para Nova York, — ele continuou, sua

voz um sussurro tenso, — seria diferente. Fica muito longe.

Sentiria falta dela, pensou Edie. Ele queria uma verdadeira

esposa e filhos, é claro. Também precisava dela, ela sabia disso. Mas a

idéia de que ele realmente poderia querer sua companhia, que ele

poderia sentir falta dela se ela fosse embora, era uma revelação súbita

e surpreendente.

— Nunca voltarei para Nova York, — ele disse de repente. —

Isso foi apenas uma mentira para enganá-lo se eu decidisse fugir.

— Que? — Stuart virou a cabeça e olhou para ela, claramente

surpreso. — Uma mentira muito convincente, — ele sussurrou depois

de um momento, estudando seu rosto. — Você comprou os bilhetes,

se bem me lembro.

Edie encolheu os ombros.

— Sim, bem, tinha que ser uma mentira convincente. E eu podia

pagar.

— Você é a mulher mais incrível que conheci, Edie. Toda vez que

eu penso que a conheço, você me surpreende novamente com algo

novo.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


399
— Eu estava aterrorizada. Não sabia o que pretendia fazer. Eu

não sabia se você estava indo... me forçar, me arrastar para casa ou...

— Naquele momento, era ela que tinha dificuldade em expressar-se.

Ele respirou profundamente. — Más nunca mais irei para Nova York.

Não poderia. Teria que ver... ver aquele sorriso nojento no rosto...

Ela se interrompeu abruptamente quando viu a boca de Stuart

apertar em uma linha dura e sombria.

— Pagará pelo que ele fez com você, Edie. Eu prometo que ele

pagará por isso.

Edie sorriu ligeiramente.

— Mais uma vez, é muito gentil da sua parte querer se vingar em

meu nome. Mas não importa mais. O dano está feito. Tudo está

terminado.

— De verdade? Poderia ser... — Ele parou de repente e balançou

a cabeça. — Como acabamos falando sobre um assunto tão

desagradável?

— Estávamos falando sobre Joanna e sua arte — ela respirou

fundo. — Como eu dizia, Willowbank está localizada em um lugar

muito conveniente e a escola é indicada para o talento de sua irmã. Se

você não pretende voltar para Nova York, é a melhor escola para ela,

pelo menos na Inglaterra. E o que quer que aconteça entre nós, não há

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


400
razão para que você não possa ficar na Inglaterra. Você não precisa

fugir para a França ou a Itália para escapar de mim.

— Eu sei. E eu preferiria ficar na Inglaterra. Agora é a minha

casa. Quanto a Joanna... — Ela parou e respirou fundo. — Você está

certo, é claro. Eu... vou falar com ela depois do jantar.

Ela começou a se virar, mas Stuart a deteve.

— Não fale com ela ainda. Em vez de ordená-la para ir, seria

melhor se ela fosse a única que quisesse ir, não acha? — Ele sorriu. —

Dessa forma, evitaremos que salte do trem no último momento,

recuse-se a escrever a você ou se dedique a fumar cigarros ou causar

problemas e seja expulsa da escola.

Edie riu.

— Tem razão. Você ouviu toda a conversa que tivemos na

plataforma, eu tinha esquecido disso.

— Está de acordo?

— Sim, ela está completamente disposta a não ir. Como você vai

persuadi-la?

— Deixe isso comigo. Vou começar minha campanha durante o

jantar.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


401
Se Edie tinha dúvidas sobre a habilidade de Stuart para mudar a

mente de Joanna sobre a escola, no final do jantar, as dúvidas

desapareceram completamente. As mulheres, a essa altura deveria

saber, eram como cera em suas mãos.

Stuart começou a falar com a Sra. Simmons sobre a viagem que

ele fez para Itália, quando tinha vinte e um anos de idade. A Sra.

Simmons, uma grande amante da arte, também havia estado na Itália

e, durante os primeiros seis pratos da refeição, os dois estavam

falando sobre as pinturas requintadas da Capela Sistina no Vaticano,

os canais de Veneza, a Ponte Vecchio em Florença, o Palácio Pitti e a

beleza deslumbrante dos campos na Toscana. Joanna os ouvia com

ansioso interesse e fazia dúzias de perguntas, mas, como Willowbank

estava em Kent e não na Itália, Edie não entendeu bem qual era o

propósito de falar daquela viagem.

Até que chegou a hora da sobremesa.

— Eu adoraria ir para a Itália! — Joanna recostou-se na cadeira e

suspirou com uma expressão sonhadora.

— Verdade? — Stuart virou-se para ela com aparente surpresa.

— Eu nunca teria imaginado que gostaria de ir para lá, Joanna.

— Você está brincando? — A jovem olhou para ele como se ele

fosse a pessoa mais estúpida do mundo. — Seria como um sonho

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


402
tornado realidade. Imagine as paisagens que eu poderia pintar lá!

Como pode pensar que eu não gostaria de ir para a Itália?

— Porque você não quer ir ao Willowbank, é claro, — Stuart

interrompeu e franziu a testa, como se não entendesse. — Entendi

que você não gostaria de ir para a Itália também.

Joanna não era a única que parecia desconcertada. A Sra.

Simmons parecia igualmente confusa e, mesmo Edie, que estava

ciente de suas intenções, ficou perplexa.

— Que Willowbank tem a ver com a Itália? — Joanna perguntou.

— Não importa, já que você não pretende ir. — Stuart fez uma

pausa para um gole de vinho. — Mas a Sra. Calloway está tentando

formar um grupo com os estudantes mais talentosos no segundo ano

para organizar uma viagem à Itália no próximo outono.

— O que? — Joanna ficou escandalizada.

E não era a única.

— Eu não sabia sobre essa viagem, — disse Edie, e olhou para a

Sra. Simmons. — E a senhora?

— Claro que não, — disse a governanta. — A Sra. Calloway é

uma grande admiradora dos grandes mestres, é claro, e todas as

meninas que estudam no Willowbank aprendem suas técnicas, mas

não sabia nada sobre essa viagem.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


403
— Aparentemente, ela está tentando organizá-lo há anos, —

explicou Stuart, — mas precisavam de um patrocinador. Descobriu

que eu havia voltado para casa e me escreveu perguntando se estaria

disposto a ser um patrocinador. Aparentemente, ela acha que um

duque pode dar algum prestígio a toda a questão e, como Joanna ia

para o internato, ela pensou que seria possível realizá-lo. Fiquei feliz

em patrocinar a viagem, é claro.

— Mas você não pode! — Joanna gritou, sacudindo o garfo no

prato. —Você não pode patrocinar a viagem de outras garotas à

Itália e não a minha.

— Joanna! — Edie a repreendeu. — Não é necessário fazer tanto

barulho com o garfo e tampouco ser impertinente.

— Não se preocupe, Edie, — disse Stuart. — Suponho que seja

doloroso saber que as outras garotas ocuparão lugar nessa viagem. —

Virou-se para Joanna. — Querida, desculpe, você não vai, mas não

vejo motivo para privar outras jovens talentosas da oportunidade de

pintar a paisagem da Toscana e estudar as obras de Michelangelo

somente porque você não quer fazê-lo.

Tomou um gole de vinho e pegou um pedaço de torta de amoras

com nata.

— Mas... mas... mas... — Joanna foi perdendo a voz até emudecer

e Edie quase sentiu pena.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


404
Não tinha visto Joanna tão ansiosa para chorar desde que era

criança.

Edie continuou a comer a sobremesa, mas ela olhou para Joanna

e quando a viu mordendo o lábio como sempre fazia quando estava

angustiosamente indecisa, ela sabia que estava cedendo e não se

surpreendeu quando Joanna se virou para ela.

— Edie, é tarde demais para eu ir para Willowbank?

—Não. — Edie olhou para Stuart, que, sentado na frente dela,

recostou-se na cadeira e virou o rosto por cima do copo. — Claro que

não é tarde demais.

Os lírios de agosto estavam florescendo. Edie sabia disso porque

o cheiro perfumado das flores penetrou pelas portas francesas no

corredor enquanto ela caminhava com os outros para a sala de

música depois do jantar e quase se arrependeu de que o dia em que

passaram no estuário a tivesse privado da sua habitual caminhada da

tarde com Stuart. Os jardins sorriam lindamente.

Stuart parecia ler seus pensamentos.

— Uma noite adorável, — ele observou. — Perfeito para andar.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


405
— Sim, — Edie concordou. Ele sorriu por cima do ombro

enquanto passavam pela porta da sala de música. — É uma pena que

não haja lua cheia.

Mas no momento em que entraram no salão de baile, Edie

entendeu que, se quisessem dar um passeio, o luar não seria

necessário. Através das portas francesas, ela podia ver as lanternas,

dezenas de lanternas tilintando alinhadas ao longo do terraço e

formando uma serpentina que se estendia para os jardins de baixo.

Parou na porta e exclamou com admiração:

— Stuart!

Stuart parou atrás dela.

— Quem precisa de uma lua cheia? — Ele sussurrou. — Esta

manhã, antes de sair, instruí Wellesley para prepará-lo. Você gosta?

— E se eu gostei? — Edie riu com alegria e voltou a olhar por

cima do ombro. — É maravilhoso!

Stuart não sorriu, mas ele não precisava fazer isso para que Edie

soubesse que o agradou. Podia ver isso em seus olhos.

— Quem você acha que é maravilhoso? — Joanna perguntou. —

E por que você está bloqueando a porta?

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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Edie entrou na sala, permitindo que Joanna e a Sra. Simmons

vissem o que Stuart tinha feito. Depois, começou a sair para o terraço

com Stuart ao lado dela.

— Oohh! — Joanna exclamou, seguindo-os. — Parece um cenário

mágico, não é? Como saído de um conto de fadas.

— Sim, é verdade. — Eddie riu de novo e olhou para Stuart. —

No final, poderemos sair e caminhar.

Stuart apontou para os degraus de pedra que desciam para o

terraço.

— Vamos, Edie? — Ele perguntou.

E a delicadeza da questão e a expressão em seus olhos, quando

ele formulou a pergunta, fez Edie prender a respiração.

— Sim, — disse, e se aproximou dele. — Vamos,

— Eu também posso ir? — Joanna perguntou.

— Não, — Stuart e Edie responderam em uníssono.

Edie sabia que os dois tinham o mesmo motivo para recusar.

Deixando Joanna olhando para eles com arrependimento, começaram

a descer para aquela estrada iluminada por lanternas.

— Nós esquecemos Snuffles, — disse Stuart enquanto entravam

no jardim de rosas. — Ainda está lá embaixo.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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— Por uma vez, pode ficar sem passeio. — Olhou em volta —

Joanna está certa. As luzes fazem com que pareça um lugar mágico.

— Pobrezinha, — Stuart compadeceu-se rindo. — Você já viu o

olhar no rosto dela quando lhe dissemos que não poderia vir

conosco? Ela parecia um filhote ferido.

— Mas a outra coisa foi pior, — lembrou Edie, — quando

descobriu que não poderia ir para a Itália porque não estava em

Willowbank. Sério, Stuart, ela acrescentou, tentando parecer severa,

mas falhando miseravelmente. — Disse a ela que a Sra. Calloway está

pensando em levar seus alunos para a Itália! E não me diga que

escreveu porque não acredito.

— Não, ela não me escreveu. — Ele sorriu um sorriso tímido. —

Mas não se atreva a me trair.

— Não vou fazer isso, o que você pretende fazer sobre a Itália?

— Obviamente, não é?Terão que ir.

— E tudo isso para convencer minha irmã de que ela tem que ir à

escola! Você é realmente original.

— Mas você gosta, Edie. Admita que você gosta.

— Eu acho que sim. Talvez, já que nunca fiz nada de excêntrico,

eu gosto de você fazer isso.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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Eles entraram no Jardim Secreto e Edie descobriu que sua

descrição de Stuart como uma pessoa excêntrica voltou a ser verdade.

Eles colocaram lanternas ao redor da fonte, dando a estátua de

mármore branco das Três Graças e a água que brotava dela, um

brilho mágico.

— Você vê? — Ela disse rindo. — Isso é exatamente o que eu

estava me referindo. Suponho que você pediu a Wellesley que

enviasse o lacaio para colocar as luzes para que iluminassem a fonte

perfeitamente.

— Sim, sim. — Ele parou ao lado da fonte.

Quando Edie estava ao lado dele, Stuart virou-se para ela e

estendeu a mão para tocar a ponta da saia, deslizando o azul

brilhante de seda entre os dedos.

— Eu gosto desse vestido. Ou melhor eu gosto de você com esse

vestido.

— De verdade?

— Sim de verdade. Você colocou o vestido azul porque é minha

cor favorita? Diga-me, — ele implorou com um leve sorriso quando a

viu hesitar. —Conceda-me pelo menos isso.

Edie sorriu.

— Tudo bem, sim. Foi por isso.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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O sorriso de Stuart desapareceu e ele soltou o tecido. Ele ergueu

a mão para a pele que estava exposta na borda do decote, mas não

tocou Edie. Ele parou com as pontas de seus dedos apenas um

milímetro de sua pele e olhou nos olhos dela.

— Agora estou pensando o quanto eu quero acariciá-la, — ele

interrompeu-se. — Se eu fizesse, você gostaria?

Edie pensou nisso silenciosamente e assentiu.

— Sim.

Stuart colocou o dedo indicador ao lado do pescoço. Edie

respirou profundamente e soltou a respiração lentamente enquanto

ele passava o dedo pela espinha. Ela estava completamente imóvel,

mas seu coração começou a bater a toda velocidade antes de Stuart

ter atingido sequer a clavícula.

Stuart colocou a ponta do dedo ali, na fenda no centro de sua

clavícula, e começou a movê-lo em pequenos círculos em torno da

base do pescoço.

— Eu...

Edie interrompeu-se. De repente, esqueceu completamente o que

queria dizer, porque a delicada e lenta carícia de seu dedo estava

ampliando o calor em todo o corpo e agarrando sua inteligência. Ela

sentiu os joelhos enfraquecendo e, quando Stuart envolveu seu braço

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


410
livre ao redor da cintura, estava agradecida, porque dessa forma ele a

ajudava a suportar.

— Eu vou te beijar.

Ele não perguntou se ela gostaria. Ele não esperou pela resposta.

Ele simplesmente fez isso, capturou seus lábios com os dele em um

delicioso beijo com lábios separados. Era um beijo terno, sim, mas

também mais profundo, mais completo, havia algo novo nele... Uma

urgência que a surpreendeu.

Mas mesmo assim, não o impediu e, quando ele enfiou o braço

para aproximá-lo, caiu sem resistência. Stuart sentiu sua rendição e

Edie sabia que isso o estava excitando, porque ele se contorceu

suavemente contra ela.

Edie ergueu a mão, envolveu seus braços ao redor de seu

pescoço e passou os dedos nos cabelos. Stuart acariciou sua língua

com a dele, disposta e quente, e por um momento brilhante, aquilo

foi glorioso.

Stuart fez um som abafado e, sem aviso, agarrou-a pelos braços e

a afastou dele. Então ele deixou cair às mãos ao lado do corpo.

Eles se encararam, respirando os dois com dificuldade.

— Eu não parei você, — disse Edie, ofegando enquanto tentava

limpar seus sentimentos atordoados. — Por que você o fez?

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— Eu fiz isso para me proteger, — Stuart respondeu com uma

respiração esfarrapada esfregando o rosto com as mãos. — Se eu

tivesse continuado por mais tempo, parar teria sido uma tortura. —

Ele parou e olhou nos olhos dela. — Mas mesmo assim, eu teria

parado, Edie. Eu teria parado.

Edie assentiu.

— Acredito em você.

— É melhor voltarmos, — disse Stuart, e se inclinou para pegar a

bengala.

Edie se deu conta então que nem sequer tinha percebido quando

o deixara ir.

Nenhum deles falou no caminho de volta para a casa. Edie não

podia, porque estava muito atordoada, muito sobrecarregada com

sua própria resposta para poder conversar. E não podia deixar de

pensar que Stuart sentia o mesmo.

Ela também sabia que ele estava excitado, sentiu isso quando

pressionou seu corpo contra o dela. Não era exatamente medo que

sentiu diante de sua excitação. Mas não podia imaginar o que

aconteceria quando estivessem em seu quarto e o ajudasse a fazer os

exercícios. Será que ele a beijaria de novo? Perguntou-se,

aterrorizada. Como não poderia fazê-lo? Tentaria fazer amor com

ela? E o que aconteceria se ele fizesse isso?

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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Chegaram ao quarto e abriram a porta, mas quando ela

atravessou o limiar, Stuart não a seguiu. Perdida, Edie parou e se

virou para encará-lo.

— Stuart?

— Penso que seria melhor se esquecermos os exercícios esta

noite.

Edie sentiu um ligeiro alívio e, mesmo assim, ao mesmo tempo,

sentiu uma pontada de decepção com a brusquidão com a qual eles

iriam terminar a noite. Mas fez um esforço para que seu rosto não

expressasse isso.

— Claro. Tem certeza?

— Tenho certeza. É tarde e amanhã viajo nas primeiras horas da

manhã.

— Você vai embora? — Edie repetiu, perplexa.

— Sim, acho que vou no trem leiteiro. Ele sai bem cedo.

Edie negou com a cabeça, ficou intrigada.

— Mas para onde está indo?

Stuart parecia surpreso com a pergunta.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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— A Kent, é claro. Agora que conseguimos convencer Joanna

para ir a Willowbank, eu tenho que ir na frente dela e ver Mrs.

Calloway. Eu vou ter que encontrar uma maneira de convencer essa

boa senhora, que não vi na minha vida, levar um grupo de estudantes

as nossas custas e fazer as meninas acreditarem que a idéia é dela.

Edie colocou a mão no pescoço, no lugar onde Stuart a tinha

tocado, ela tinha certeza de que Stuart não teria problema em

convencer a Sra. Calloway. Nem mesmo uma diretora imponente e

racional de uma escola feminina seria imune a seus encantos. Ela não

era.

— Tenho certeza de que você encontrará uma maneira de

convencê-la.

— Espero que sim, ou eu terei sérios problemas com Joanna.

— Quando vai voltar?

— Depois de amanhã à tarde, suponho. Vou à Londres e no

caminho para Kent quero ver o Dr. Cahill, conhecer sua avaliação

sobre a evolução da perna. E eu tenho outros problemas para me

ocupar. Vou ficar no clube essa noite e ir para Kent cedo para ver a

Sra. Calloway. Acho que vou estar aqui para a hora do chá.

— Então, você quer que eu aguarde seu retorno antes de enviar

Joanna para a escola?

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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— Sim, eu gostaria de dizer adeus a ela antes de partir, se isso

estiver bem para você.

— Claro, — Eddie interrompeu-se e limpou a garganta. — Bem,

boa noite, então.

Stuart sorriu ligeiramente e aproximou-se dela, abaixando as

pálpebras. Edie sabia o que ele pretendia e, nesse momento, foi ao

encontro dele.

No momento em que Stuart tocou seus lábios, as emoções

intensas que Stuart havia despertado no jardim voltaram correndo,

mas Edie mal teve tempo de prová-las antes que Stuart a afastasse.

— Boa noite, Edie.

Levou a Edie alguns segundos para abrir os olhos e, quando o

fez, Stuart já havia partido.

Ela estava prestes a tocá-lo com a esperança de que ele pudesse

ficar um pouco mais. E, embora conseguisse controlar o impulso, ela

permaneceu na entrada de seu quarto, com um espanto atordoado.

Enquanto o observava sumir pelo corredor para seu próprio quarto,

se perguntou de repente se podia correr o risco de perder a aposta

que tinham feito.

Afinal, se alguém lhe dissesse uma semana atrás que ela seria

pega na porta do quarto dela, excitada e desanimada porque seu

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


415
marido não havia entrado com ela no quarto, frustrada porque seu

beijo de boa noite tinha sido demasiadamente curto e profundamente

deprimido porque ele a deixaria por dois dias inteiros, a acusariam

de estar completamente louca.

Stuart sabia que, às vezes, no jogo do amor, eram necessárias

retiradas estratégicas. Normalmente, elas foram traduzidas em um

ato deliberadamente projetado para fazer com que a outra pessoa

fosse mais receptiva. Em seu caso, no entanto, era mais uma questão

de ganhar uma distância que lhe permitiria recuperar o equilíbrio.

Isso significava desistir de seus preciosos dez dias, mas ele não

tinha escolha. Precisava de distância e tempo porque tinha que

recuperar o controle. Ele quase perdeu a cabeça no jardim, para não

mencionar na porta do quarto de Edie enquanto ela a abria. E não

queria arriscar mais tentações desse tipo. Não podia. Ele tinha que

manter a cabeça fria.

Estar com Edie no jardim, com a boca embaixo dele, aberta e

pronta, tinha sido maravilhoso, e ela se jogou em seus braços sem

resistência, mas a intuição disse a Stuart que ela ainda não estava

pronta. Pelo menos, não para que queria.

Ele a queria tanto que doía. Queimando com desejo. Na noite

passada, ele queria levantar a saia do vestido azul brilhante e

derrubá-la ali mesmo no jardim. Quando ele a afastou dela, ele sentiu

como se estivessem quebrando em dois.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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E então, de pé na porta do quarto com o convite para vir

flutuando no ar, ele sentiu como se estivesse sendo convidado a

afundar no inferno. Sentir as mãos de Edie nele naquele momento

teria sido tortura e, possivelmente, também uma condenação, porque

mesmo ele estava completamente inseguro com o que teria feito em

seguida.

Não, era preferível que ele conseguisse resistir, mesmo que fosse

a coisa mais difícil que já havia feito. Depois, ele se apegou à

desculpa de ir a Londres e Kent como um salva-vidas.

Como ele havia dito a Edie, ele tinha problemas para atender,

questões que o ajudariam a lembrar de suas prioridades. Suas

necessidades não eram uma prioridade. E enquanto seu corpo estava

tão desesperado, ele precisava ocupar sua mente com algo útil.

Tendo viajado no comboio de lácteos, chegou a Londres no meio

da manhã. Parou no clube e, como ele esperava, encontrou cartas

esperando por ele lá de Trubridge, Featherstone e outros dois amigos

próximos, o visconde Somerton e o conde de Hayward. Todos

receberam os telegramas que enviou no dia em que ele fez compras

com Edie na High Street, e todos estavam dispostos a organizar uma

reunião em Londres para celebrar o seu regresso. Tudo o que ele

tinha que fazer era decidir o dia e os quatro prometiam estar lá. Ele

tinha uma quinta carta à espera, era a resposta para outro dos

telegramas, uma carta que ele realmente não esperava e isso o fez

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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pensar que talvez Pinkerton mereça sua reputação como a melhor

agência de detetive do mundo. Eles eram realmente eficientes.

Em resposta, ele rapidamente enviou um garçom ao outro lado

da cidade, solicitando um compromisso imediato. Então, ele subiu as

escadas para tomar um banho, se barbeou e pediu o traje da manhã

que estava na lavanderia do clube. Convenientemente organizado

para se deslocar em Londres, ele foi até a sala de jantar para almoçar

enquanto esperava uma resposta para o pedido.

Chegou às duas e meia, e às três da tarde, um cabriolé o deixava

fora dos escritórios de Pinkerton. Eles imediatamente o guiaram para

o luxuoso escritório do Sr. Duncan Ashe, diretor da agência de

detetive.

— Sua Excelência. — Ashe, um homem alto de sua idade, com

cabelos castanhos, um rosto agradável e um barbear muito limpo,

apontou para a cadeira de couro em frente a sua mesa. — Sente-se,

por favor.

— Obrigado, — ele aceitou o convite. — E também obrigado por

me dar o seu tempo. Tenho certeza de que você é um homem

ocupado.

— Em absoluto. Temos a honra de ter Sua Excelência como

cliente e estamos muito satisfeitos em poder ajudá-lo a qualquer

momento.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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Stuart sorriu. A classificação tinha seus privilégios.

— Na sua carta, você indicou que faz parte das informações que

solicitei.

— Sim, faz parte. Nós só tivemos dois dias, então toda a

informação que recebemos de Nova York teve que ser transmitida

através de telegramas, — ele interrompeu. — A despesa para o envio

de telegramas de Nova York para Londres é bastante alta, temo.

Stuart acenou com a mão, descartando a insignificância.

— Não importa. O dinheiro não é um problema.

— Eu tomei a liberdade de assumi-lo por causa da urgência que

surgiu do seu telegrama. Complementei a informação do nosso

agente de Nova York com a que consegui reunir dos jornais que

temos aqui, arquivados em Londres. A maioria dedicou-se a

escândalos americanos e britânicos. Não é muito, como eu disse, mas

espero ter um relatório completo para a semana que vem. Até então,

pensei que gostaria de conhecer os dados que coletamos.

— Sou todo ouvidos.

Ashe então abriu o arquivo em sua mesa na frente dele.

— Frederick Van Hausen. Nascido na cidade de Nova York,

trinta e um anos, filho único, de Albert e Lydia Van Hausen. Educado

em Harvard. Lá estava envolvido em vários escândalos, alguns

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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ilegais, mas ele não foi processado por isso. Aparentemente, seu pai

conseguiu silenciá-los. Eu não tenho mais detalhes, mas

provavelmente posso obtê-los se desejar.

— Sim eu gostaria. Descubra tudo o que puder, continue.

— Não está casado. No ano passado, foi comprometido por um

curto período de tempo com a senhorita Susan Avermore, que

também pertencia a uma família importante em Nova York, mas o

casamento não foi celebrado. — Alguns dizem que é porque ele

esperava que a Miss Avermore tivesse uma renda fixa fornecida por

seu pai quando eles se casassem e o pai de sua noiva recusou-se a

dar. Mas não tivemos tempo para verificar essa informação. Os pais

de Van Hausen têm uma casa na Madison Avenue, mas ele não mora

mais com eles. Ele possui uma casa de tijolos ao lado do Central Park.

Ele também tem uma casa de verão em Newport. Van Hausen é um

homem muito atlético, joga tênis, golfe, navega em iates e possui

vários cavalos de corrida.

— Cavalos de corrida? — Stuart franziu a testa, pensando na

resposta seca e tensa de Edie quando perguntou se o pai dela tinha

cavalos de corrida.

— Sua Excelência?

Stuart balançou a cabeça.

— Desculpe, fiquei distraído.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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— A família Van Hausen é uma das famílias mais ricas e antigas

dos Estados Unidos. "Knickerbockers", Excelência, não sei se está

familiarizado com o termo.

— Sim, eu estou, — ele sussurrou. — O próprio Van Hausen se

considera um aristocrata, não é?

— Sim, toda a família. E é assim que seus compatriotas os veem.

Mais ou menos, da mesma forma que os homens da minha classe na

Inglaterra contemplam um homem como o senhor. Embora, claro,

não tenha nada a ver com um duque. — Ele correu para adicionar,

parecendo um pouco envergonhado.

Stuart tranquilizou-o com um sorriso.

— Não me ofende, Ashe, continue.

O detetive passou a página.

— O pai possui uma companhia de transporte muito bem

sucedida e é muito rico. Van Hausen recebeu uma quantidade

considerável de dinheiro de seu pai quando ele atingiu a maioridade,

mas espera-se que os homens americanos possam criar uma profissão

que lhes permita ganhar a vida. Na verdade, a pressão para fazê-lo é

enorme.

— Ah! Então teve que começar seu próprio negócio, certo? —

Stuart sussurrou. — E como está sendo?

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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— Não muito bem. Ele tentou sua sorte com um bar, mas falhou.

Mais tarde, ele decidiu dedicar-se ao negócio de investimentos e se

dedicou a especular com seu dinheiro, mas ele perdeu uma grande

quantidade. A corrida de cavalos, por exemplo, custou-lhe uma

fortuna. Ele gosta de investimentos de risco que prometem grandes

benefícios.

— Então ele é um jogador, — disse Stuart. — Um temerário. Um

homem disposto a fazer sua marca no mundo e a fazê-lo

rapidamente. Um homem que se preocupa com o que os outros

pensam dele.

— Certamente, é isso que parece.

A coisa estava indo bem. Stuart recostou-se na cadeira, colocou a

mão nos lábios e olhou para a pintura do Tamisa pendurada na

parede do detetive atrás dele, tentando se mudar mentalmente para

Nova York e entrar na cabeça do homem que ele pretendia destruir.

— Ele é o tipo de homem que quer ser capaz, — ele arriscou. —

Ele não tem, mas acredita que ele tem direito a ter em virtude de seu

nascimento. — Ele é incapaz de ganhar o que ele quer, então ele quer

o que ele não é capaz de conquistar. O tipo de homem que, se ele

quer alguma coisa, acha que tem o direito de ter.

— Possivelmente, mas ainda não posso dizer com certeza, —

respondeu o detetive.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


422
— Eu posso te garantir. — Stuart olhou nos seus olhos. — Claro

que posso lhe assegurar.

Ele continuou pensando em silêncio por alguns segundos.

— Algum outro escândalo, Ashe? Algum escândalo relacionado

a mulheres?

O detetive hesitou um momento enquanto ele brincava com o

lápis na mão.

— Além da noiva dele, isso significa?

— Você pode incluir minha esposa, e você não precisa se

preocupar em me esconder informações desagradáveis sobre isso.

— Se o senhor está solicitando esta informação sobre o antigo

amante da sua esposa, porque acredita que eles ainda possam ter

algum tipo de relacionamento e precisa de motivos para justificar um

divórcio, não posso ajudá-lo. Na Pinkerton, não fazemos esse tipo de

coisa. Temos certos limites éticos que não estamos dispostos a

transferir.

— Posso garantir que nunca tive a intenção de me divorciar da

minha esposa. E eu sei toda a verdade sobre... sobre o incidente que

arruinou sua reputação, mas eu quero ouvir os rumores que correm

sobre isso por razões que só me preocupam. Não violarei seus

códigos de ética.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


423
Ashe assentiu satisfeito.

— Exceto pelo que aconteceu com a Duquesa, não temos outras

informações sobre as mulheres. O incidente em que a Srta. Edith Ann

Jewell estava envolvida, que era seu nome então, ocorreu em

Saratoga.

— Em Saratoga Springs, em Nova York?

Sim, há encontros equestres lá. Foi há seis anos, durante o

Travers Stakes. Os Travers Stakes são semelhantes ao Epsom Derby.

— Sim, eu sei o que são. Pode continuar.

Tanto seu sogro quanto Van Hausen tinham cavalos que

correram nas corridas naquele ano. O que é dito é que a senhorita

Jewell encurralou Van Hausen em uma residência de verão perto da

pista. Os dois foram vistos indo para lá, primeiro ele e depois ela.

Van Hausen deixou quinze minutos depois de ter chegado.

Quinze minutos? Apenas quinze minutos? Deus, aquele

cachorro deve ter se atirado nela assim que ela atravessou a porta.

Stuart esfregou o rosto. ele destruiria esse homem. O reduziria em

pedaços.

— Prossiga.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


424
— Ela deixou um pouco mais tarde. Seu... — Parou.

— Continue, — Stuart repetiu com uma voz dura.

— Suas roupas estavam bastante enrugadas, seu chapéu torcido,

fazendo parecer... — Ele interrompeu e tossiu suavemente. — Claro,

a palavra rapidamente se espalhou e se tornou um grande escândalo.

O pai da Srta. Jewell exigiu que a honra de sua filha fosse reparada,

mas Van Hausen recusou-se a casar com ela. Ele a considerava uma

recém-chegada ao mundo do dinheiro, não pertencia a sua classe, se

justificou argumentando que era inocente e que ela pretendia

comprometer-se e promover a classe, forçando-o a se casar com ela.

Foi em sua história que eles acabaram acreditando. Embora, é claro,

isso não importa agora.

— Só porque ela está casada comigo. — Stuart endireitou a

cadeira. —Então, o que temos até agora? Um homem avaro, mimado

e ansioso para ser capaz, desconsiderado, sem escrúpulos, amante do

jogo e, claramente, um canalha.

— Sim, com base no que sabemos até agora, esse seria um

resumo muito preciso.

Stuart sorriu, satisfeito pelas muitas possibilidades que esse

perfil lhe ofereceria. Embora, na verdade, ele sempre soubesse que ele

teria uma boa chance de se vingar. Foi fácil para um homem que

estuprou uma mulher contra sua vontade de dar a seus inimigos a

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


425
munição suficiente contra ele, mesmo que o próprio Van Hausen não

o conhecesse. E, definitivamente, Stuart era seu inimigo.

— Excelente trabalho, Ashe. Estou impressionado.

— Muito obrigado, Excelência.

— Preciso de mais. Mais, muito mais. Nós nos encontraremos

novamente quando você tiver esse relatório em que está trabalhando,

mas estou certo de que mesmo isso não será suficiente. Quero saber

tudo o que é necessário sobre esse homem, sobre seus pais, seus

amigos, seus parceiros nos negócios, suas amantes, tudo. Continue a

investigar até descobrir todos os segredos de sua vida, desde o

nascimento até agora. — Ele se levantou, fazendo com que seu

interlocutor se levantasse também. — Use tantos homens que

precisar. Não economize em despesas. Quero todos os detalhes que

eu possa descobrir, do tecido que prefere para fazer sua cueca até o

que come.

— Sim, Sua Excelência.

E, sem mais qualquer dúvida, Stuart deixou-se voltar ao clube,

parando apenas o tempo suficiente para enviar outro telegrama,

naquele momento, ao pai de Edie. Quando voltou para White's, ele

foi direto ao bar e pediu uma bebida.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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Capítulo 18

Stuart estava a dois dias longe. Chegou em casa à hora do chá,

assim como prometeu. Embora Edie estivesse envolvida em um jogo

de críquete com Joanna, ela estava sempre procurando por ele,

esperando que ele viesse para cumprimentá-las.

Stuart também, quando Edie o viu atravessando o gramado para

se dirigir para ela, a alegria aumentou em seu peito como um pássaro

voando em direção ao céu.

Snuffles o viu ao mesmo tempo que ela e correu para ele. Edie

precisava de todo sua força de vontade para caminhar calmamente, e

quando eles estavam a meio caminho, ela agarrou as cartas com

força, lutando contra o desejo de jogá-las, colocou seus braços ao

redor do pescoço de Stuart e beijou-o nos lábios.

— Você está de volta, — ela disse.

Stuart, que estava acariciando o terrier, endireitou-se e sorriu

para ela.

— Você sentiu minha falta?

“Com loucura”.

Ela não disse isso. Ela simplesmente encolheu os ombros.

— Um pouco.
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427
— Só um pouco? — Stuart balançou a cabeça e suspirou. — Você

não tem coração, Edie. Mesmo assim, você está vestida de branco,

então eu não posso reclamar.

Edie estendeu a mão, apontando para o pescoço do vestido.

— Apenas a blusa. — Ela se sentiu obrigada a apontar. — A saia

não é branca.

Stuart olhou para baixo e falou.

— É uma pena.

Como sempre, quando Stuart dizia coisas assim, o coração de

Edie afundava. Ela tentou se apegar a uma questão mais neutra.

— Faz muito calor.

— Sim, — concordou Stuart. — Faz calor.

Um comentário absolutamente normal, e mesmo assim, ele disse

isso de tal maneira que ao longo do corpo de Edie começaram a

espalhar um calor que não tinha nada a ver com o tempo.

— Stuart!

A recepção alegre de Joanna impediu Edie de pensar numa

resposta. Sua irmã parou ao lado dele, respirando forte depois de

atravessar o gramado. E não mostrou a dolorosa timidez de Edie com

Stuart.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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— Você voltou!

— Olá, querida! — Ele sorriu para ela e olhou para Edie. —

Espero que você tenha sentido minha falta.

Joanna sorriu de volta.

— Isso depende de você. Você sabe como jogar críquete?

— Sim.

— Mas você joga bem?

— Eu o fazia, mas eu não jogo há anos.

— Em qualquer caso, tenho certeza que você é melhor do que eu,

então você tem que me ajudar. Edie já me ganhou três vezes e estou

prestes a perder novamente porque eu tenho um tiro muito difícil e

não acho que eu sei como obtê-lo. Você pode disparar para mim.

— Não, não pode! — Edie protestou com indignação. — Isso é

trapaça.

— Eddie, Edie, — Stuart repreendeu, rindo. — Você é implacável

nos jogos.

— É verdade, — disse Joanna antes de poder responder. — Eu

nem sei por que eu jogo com ela. E é muito boa. Por favor, me ajude,

Stuart

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— Vou ajudá-la, mas terá que ser em outro momento. Agora vou

mudar de roupa e então eu quero tomar chá no terraço. Passei toda à

tarde num trem sufocante cheio de gente.

— E então você vai jogar?

— Não, hoje não. Depois do chá, eu quero sair com sua irmã. —

Ele olhou para Edie. — Sozinho.

— Oh muito bem! — Joanna rosnou. — Para variar, tive uma

oportunidade perfeita para vencer, — acrescentou a si mesma e se

virou. — Eu nunca ganharei.

— Realmente, Edie, —Stuart sussurrou quando Joanna saiu

ofendida para fazer seu disparo. — Quatro jogos em uma única

rodada? Tenha espírito esportivo e deixe ela ganhar uma.

Edie olhou para ele, viu seu sorriso persuasivo e cedeu.

— Oh, tudo bem! Devo ser suave, — acrescentou, fazendo

parecer uma acusação.

— Meu Deus, espero que sim. — Stuart abaixou-se debaixo do

chapéu de palha e beijou seus lábios. — Certamente, espero que sim.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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Depois do chá, eles tomaram a caminhada habitual. No entanto,

em vez de se dirigir para os jardins, Stuart expressou seu desejo de

caminhar pela área da fazenda. Então eles se dirigiram para lá,

atravessando o prado e se movendo pela estrada.

Enquanto caminhavam, Edie não pôde deixar de notar que ele

estava caminhando lentamente.

— A sua perna está doendo? — perguntou.

— Um pouco, — admitiu Stuart. — O trem estava lotado, então a

viagem foi difícil. E não consegui contar com a sua ajuda para fazer

os exercícios estes dois dias.

— Podemos fazê-los antes do jantar.

— Eu adoraria, — Stuart disse imediatamente, e mais uma vez,

Edie sentiu uma alegria absurda.

— Como foi tudo em Londres? Você foi ao médico?

— Sim. Ele ficou feliz ao ver que estou melhorando e ele explicou

alguns exercícios adicionais para adicionar aos que estamos fazendo

até agora. Eu também estive com a Sra. Calloway e ela ficou

encantada com a idéia da viagem à Itália no próximo ano.

A alegria de Edie diminuiu um pouco quando ela se lembrou

que a partida de Joanna estava próxima.

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— Também sentirei sua falta, Edie, — disse Stuart, interpretando

corretamente o súbito silêncio.

Isso não a fez se sentir melhor, mas ela assentiu.

— Eu sei, Stuart.

De repente, Stuart parou.

— Olhe onde estamos.

Edie também parou e olhou em volta.

— Estamos ao lado dos galinheiros.

— Sim, exatamente. — Stuart olhou ao redor e agarrou sua mão.

— Venha!

Edie riu e deixou-o puxá-la e Snuffles.

— Você quer ver as galinhas? Snuffles vai adorar.

Stuart olhou para ela como se estivesse desesperadamente

obtusa.

— As galinhas, não, querida. Penas.

— As penas? E para que?

Stuart não explicou-lhe isso. Enquanto ele conduzia Edie e

Snuffles passando pelo galinheiro, o cachorro latiu e grunhiu,

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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fazendo com que as galinhas atrás da cerca começassem a vibrar de

susto e desaparecessem.

— Nós estamos assustando as galinhas, — alertou Edie. — Se

amanhã ficarmos sem ovos, digo à Sra. Bigelow de que é culpa sua.

Mas isso não dissuadiu Stuart. Ele levou Edie ao redor do

galinheiro e dirigiu-se para o armazém de pena a vários metros de

distância. Uma vez lá, ele pegou de Edie a coleira Snuffles e o

amarrou ao poste mais próximo. Então abriu a porta do armazém,

colocou Edie dentro e fechou a porta atrás. Edie piscou, porque,

embora o prédio tivesse janelas, o interior parecia sombrio contra o

sol brilhante lá fora e levou vários minutos para se acostumar com a

escuridão.

— Por que viemos aqui? — perguntou.

Ela olhou em volta para as estantes com prateleiras de madeira

onde as penas foram armazenadas depois de serem lavadas e secas.

Stuart não respondeu. Ele jogou a bengala dentro de uma das

cabines de madeira, onde as penas eram guardadas, virou e encostou-

se nas ripas de madeira atrás dele. Ele apoiou as mãos no alto e

levantou-se para sentar-se na borda.

Ele sorriu para Edie.

— Você me olha como se eu tivesse perdido a juízo.

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— Bem... — ela começou a dizer.

Stuart alargou o sorriso.

— Oh, vamos, não me diga que você nunca quis fazer isso.

Edie franziu o cenho.

— Eu nunca quis fazer o quê?

Em vez de responder, Stuart recostou-se e caiu diretamente

sobre as penas. Edie riu quando as minúsculas penas e as pelúcias

flutuaram em direção ao teto. Em seguida se inclinou para frente para

olhar o rosto sorridente de Stuart.

— Para isso você queria que viéssemos aqui?

— Sim. Eu e meus amigos costumávamos brincar aqui. O bom e

velho Treves ficava irritado porque espalhávamos as penas, mas ele

nunca nos contou. Nem uma só vez.

Ele riu e olhou para Edie, que estava olhando para ele com uma

expressão cética.

—Obviamente, você não cresceu no campo, — disse Stuart.

— Não, eu cresci em uma casa enorme no meio de Manhattan,

com todo o conforto da vida moderna. As penas das nossas camas e

de nossos travesseiros vieram de uma loja.

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— Então você nunca brincou com penas? Eles privaram você de

uma das maiores alegrias da infância.

Edie olhou para ambos os lados do cercado de um metro de

altura.

— Você acha que vai poder sair?

— Deus, nem pensei nisso! — se pôs a rir. — Bem, vou me

preocupar com isso mais tarde. — Ele deslizou para trás, todo o seu

corpo estava dentro do compartimento. — Bem, vamos lá, o que está

esperando?

Edie tirou o chapéu, jogou-o de lado, virou-se, sentou-se na

borda e, depois de olhar para trás para se certificar de que não iria

bater em Stuart, se atirou para trás. Estava rindo antes mesmo de

pousar ao lado dele envolta numa nuvem branca.

— É divertido, certo? — Stuart perguntou.

Edie assentiu enquanto olhava para o teto de madeira, que era o

chão do armazém superior.

— Então eles não deixavam você brincar aqui.

— Deus, não! Estas penas são para travesseiros e colchões da

casa, não para brincar. Meu pai teria me dado uma boa surra se ele

tivesse descoberto.

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— Uma surra? — Eddie virou a cabeça e olhou para ele. — Que

horror! Seu pai devia ser um tirano.

— Sim, foi. Mas... — Stuart interrompeu-se e encolheu os

ombros. — Mas ele se importava tão pouco conosco que não

importava. — Nós quase nunca nos víamos.

A atitude desdenhosa com que ele falou de seu pai a

surpreendeu. Ela pensou na mãe de Stuart, com sua fria altivez, e não

soube o que dizer.

— É uma pena, — disse ela finalmente. — Meus pais sempre

foram conscientes de minha irmã e de mim. Pelo menos até minha

mãe morrer. Eu acho que foi isso que mudou meu pai. Sem minha

mãe, ele não sabia o que fazer com duas filhas. Ficou um pouco

perdido.

Stuart virou-se para ela enquanto esfregava a cabeça para

sacudir as penas e as penugens, então, apoiou-se no cotovelo, apoiou

a cabeça na mão e olhou para ela.

— Então você teve que ser mãe e irmã para Joanna.

— Sim exatamente. Eu tinha dezessete anos quando minha mãe

morreu. Joanna tinha apenas oito anos de idade. Entendi que tinha

que cuidar dela.

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— Entendo. Nadine e eu temos exatamente os mesmos anos. No

entanto, quando meu pai morreu, minha irmã já tinha dezesseis anos.

Mas, se fosse mais nova, eu também teria sido como um pai e um

irmão para ela. Eu quase senti como se fosse assim. Eu poderia ter

impedido que ela fosse tão amalucada.

— Duvido. Não gosto de falar mal de sua família, Stuart, mas

você não pode dizer que sua irmã é particularmente brilhante.

— Verdade. — Stuart concordou.

— Então você e seus amigos brincavam aqui? — Ela se

aconchegava mais nas penas, gostava de senti-las debaixo dela. — O

que você faziam aqui?

— Guerra de penas, é claro. Seus amigos e você não faziam

guerras de travesseiros?

— Sim, mas nunca tivemos tantas penas soltas como aqui.

— Então eles não contam.

— Que? Porque não? — Ela perguntou, sentindo um pouco de

indignação.

— Realmente, Edie. Se você não atingir seu oponente com força

suficiente para abrir o travesseiro e fazer voar as penas por todos os

lugares, então não é uma verdadeira luta de travesseiros.

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Edie observou Stuart enquanto ele tomava um punhado de

penas.

— Stuart, — ela o advertiu.

Mas Stuart não as jogou sobre ela. Em vez disso, ele selecionou

uma, jogou as outras fora e acariciou seu queixo com a pena

selecionada.

Edie balançou a cabeça, rindo.

— Você tem cócegas! — Stuart observou, e parecia

perigosamente encantado ao descobrir.

— Não, eu não tenho cócegas. — Mas quando ela negou, riu

cada vez mais, apertando os olhos e se torcendo enquanto continuava

acariciando seu maxilar.

— Eddie, eu não sabia isso sobre você. Eu acho que cada vez

mais começamos a estar no mesmo nível.

Edie sentiu a mão de Stuart ao redor de seu quadril.

— Não, não é verdade, — ela gritou, ainda rindo. — Não me faça

cócegas!

Ele parou de fazer. Por nenhuma razão em particular, parou e,

quando Edie abriu os olhos, descobriu-o olhando para ela, seu rosto

serio e seus olhos escuros, cor da fumaça.

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Edie engoliu em seco.

— Em que está pensando? — Ela sussurrou, mas sabia a resposta

mesmo antes de fazer a pergunta.

— Estou pensando que isso não estava planejado, — murmurou

enquanto tirava um pedaço de penugem de seus cabelos. — Mas vou

fazer.

Stuart inclinou a cabeça e a beijou. Era um beijo mais parecido

com aquele que lhe dera na noite no jardim do que os ternos beijos

com os quais ele a tinha despedido na porta do quarto. Familiarizado

com essas carícias, o corpo de Edie respondeu quase ao mesmo

tempo, relaxando, suavizando, abrindo-se para ele.

Stuart explorou sua boca, acariciou sua língua com a dele e

depois recuou, convidando-a para devolvê-lo. Depois de alguns

segundos, Stuart interrompeu o beijo, mas Edie mal teve tempo de

respirar antes que ele a beijasse novamente. Foi um beijo mais intenso

e o calor em Edie também se intensificou, ficando mais quente e

concentrando-se em seus seios, na barriga e entre suas pernas. Edie

gemeu contra a boca de Stuart.

Stuart parou de novo e Edie sentiu que ele se inclinava para trás,

como se estivesse se retirando. Nesse momento, em vez de deixá-lo ir,

ela o agarrou pela gola de seu colete para detê-lo. Não queria que os

beijos terminassem, ainda não.

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— Edie?

Edie sabia o que ele estava lhe perguntando e abriu os olhos.

— Você me disse que ser beijada e acariciada era um prazer,

certo? Pois bem, agora você tem a oportunidade de provar isso.

Stuart sorriu ligeiramente. Baixou os olhos e colocou a mão em

sua cintura. Lentamente começou a acariciar suas costelas e os seios.

Edie aspirou com força e Stuart parou para olhar em seus olhos.

Havia uma pergunta em seu olhar.

Edie assentiu

A palma da mão de Stuart queimava através das quatro camadas

de tecido que cobriam o corpo de Edie, queimava sua pele nua e

mesmo assim estremeceu. Stuart olhou fixo para Edie, tomou seu seio

em uma das mãos, balançou-o segurando-o firme, ele apertou-o

modelando o pequeno montículo dentro dos limites do espartilho.

Edie respondeu, movendo seus quadris contra penas, dobrou as

pernas e ficou tensa novamente enquanto arqueava as costas para

aumentar a pressão das mãos de Stuart em seu peito. Sentia-se

estranha, inquieta, como se todas as partes de seu corpo precisassem

se mexer.

Mas Stuart não prolongou as carícias. Ele continuou movendo as

mãos, desta vez, através do decote de sua blusa. Ele procurou os

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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babados com os dedos e encontrou um botão. Edie percebeu como

desabotoava.

Stuart continuou desabotoando os botões lentamente. Quando

chegou à cintura, Edie já estava tremendo por dentro. Ela observou a

mão de Stuart enquanto tirava o cinto, sua mão na pele escura e

bronzeada contra o branco da blusa e o rosa pálido do espartilho.

Uma mão tão aparentemente masculina ao lado da seda e da renda.

Stuart tirou a mão dele e Edie o observou inclinando a cabeça para

beijar seus seios, logo acima do espartilho.

Edie ofegou com o corpo novamente ansioso. Ela afastou as

mãos das penas para pegar a cabeça de Stuart e acariciar seu cabelo

enquanto ele beijava seus peitos, clavícula e seu ombro nu.

A respiração de Edie, cada vez mais rápida, exalava a fragrância

do sândalo enquanto Stuart acariciava-a com a língua e a saboreava.

Mais uma vez, ele novamente pegou seu peito e Edie não pôde evitar

arquear-se contra ele, saindo para encontrar aquelas carícias. Queria

muito mais.

Stuart deslizou o dedo ao longo da borda do espartilho, tentando

empurrar a roupa intima. A parte de trás de sua mão queimava a pele

nua de Edie. Stuart continuou a descer por dentro dos confins da

peça que cobria os seios, o suficiente para poder tocar o mamilo com

as pontas dos dedos.

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Foi uma sensação elétrica e intensa que se espalhou por todo o

corpo de Edie. Era quase insuportável e ela gritou enquanto

levantava os quadris.

Stuart recuou e afastou a mão. Ele a beijou nos lábios, faces,

mandíbulas e orelhas. Ele abaixou a mão para o quadril dela e

começou a levantar sua saia.

Edie sentiu um começo causado pelo pânico.

— Stuart?

Stuart parou.

— Você quer que eu pare? — perguntou.

Respirando com força, ofegante, ele beijou o lóbulo de sua orelha

com extrema delicadeza.

Edie engoliu em seco, tentando sufocar o pânico. Era Stuart,

lembrou-se. Stuart sempre e, quando podia ver que era ele, nada

aconteceria. Olhando nos olhos dele, ela podia lembrar a diferença.

— Não, não pare, — conseguiu dizer. — olhe para mim. Olhe

para mim enquanto... enquanto você me acaricia.

Stuart levantou a cabeça enquanto sua mão trabalhava sob a saia

dela para procurar a calcinha. Mesmo que Edie pudesse ver seu rosto,

mesmo que estivesse olhando seus belos olhos, quando Stuart

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deslizou a mão entre suas coxas, ela paralisou. Sentiu o nó de medo

no peito novamente. Ela ficou rígida e apertou as pernas com força.

Stuart esperou.

Edie mais uma vez sentiu-se dividida entre o medo e o desejo, no

meio dessa contradição impossível. Começou a perder a importância.

— Diga meu nome, — perguntou Stuart.

— Stuart.

Ela abriu as pernas ligeiramente enquanto dizia e Stuart passou a

mão entre elas.

— Stuart, — ela disse seu nome desta vez num suave gemido,

fazendo-o sorrir e relaxou as pernas um pouco mais.

Stuart acariciou o interior de suas coxas. Os calos da palma da

mão rossaram o delicado tecido de sua calcinha enquanto ia subindo

a mão. Ele alcançou o ápice de suas pernas e encontrou a abertura da

calcinha de Edie. Então virou a mão e acariciou o ponto mais íntimo

de Edie com a ponta de seus dedos e ela gritou.

— Stuart!

O medo transformou-se em outra coisa, algo que a fazia gritar,

algo que não era medo, mas era prazer. Stuart moveu o dedo,

deslizando-se sobre ela, acariciando-a em círculos minúsculos com

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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uma provocação requintada que a fez estremecer, gemer e fechar os

olhos. Era o que Stuart estava se referindo quando falou do prazer.

Era isso.

Stuart aprofundou a carícia, colocou um dedo nas dobras de sua

abertura feminina e deslizou dentro dela. Edie gritou de novo,

relembrando uma invasão desagradável. Ergueu os cotovelos e abriu

os olhos, temendo dor e se preparando para lutar. Mas não houve

dor.

Olhou para o rosto de Stuart, que estava muito próximo. Seus

olhos estavam fechados naquele momento, mas ela podia continuar a

ver seu rosto enquanto a acariciava.

Com cada investida de seu dedo, seu corpo ficava tenso em

resposta. Cada uma de sua respiração era um suspiro. O prazer

tornou-se mais voraz e acabou transformando-se em um desejo

grosseiro. Desejo que cresceu dentro dela, percorreu seu corpo cada

vez mais profundo, mais forte, mais intenso até que, sem aviso, abriu-

se dentro dela. Foi um sentimento tão maravilhoso que a fez soluçar

seu nome. Stuart a beijou com força, silenciando seu choro com a

boca. Ele continuou a acariciá-la com os dedos e cada uma dessas

carícias rápidas e deliciosas, o desejo era renovado, até que Edie

sentiu novamente aquela deliciosa explosão por dentro. Edie

percebeu que estava completamente errada enquanto se deixava cair

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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ofegante sobre as penas. Sim, isso era uma benção. Fechou os olhos

novamente.

— Stuart.

Foi um suspiro. E o único que conseguiu dizer. Não havia mais

palavras.

Stuart quase não a ouviu sussurrar seu nome sobre o forte

batimento de seu coração, mas ele sabia que esse sussurro seria

repetido em seus sonhos para o resto de sua vida. Nada seria o

mesmo desde então.

— Eu sei, minha querida, — ele disse, beijando-a novamente. —

Eu sei.

Desejou que pudesse fazê-lo de novo, ser capaz de empurrá-la

para o limite, contemplá-la no clímax, ouvir esse suspiro suave e

sussurrante, mas também sabia que não tinha mais tempo. Ele estava

perdendo o controle irremediavelmente, seu corpo queimava e

desejava agarrar-se a suas entranhas.

Stuart a queria tão intensamente que sua mão tremia quando

desabotoou suas calças. Ele chamou o nome de Edie e a beijou

enquanto abaixava suas calças. E quando as colocou para abaixo,

estava tão excitado e desesperado quanto um garoto de catorze anos.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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Mas sabia que não poderia levá-la desse jeito, então a aproximou

e viu seus olhos abertos. Olhando para ela pressionou seus lábios

contra os lábios de Edie, e quando encostou com a ponta de seu pênis

em sua abertura, Edie respirou fundo.

— Nada vai acontecer, — prometeu Stuart. — Eu não vou te

machucar.

Ele deslizou o pau entre as coxas, abriu o caminho e viu que seus

olhos se abriram em sinal de alarme.

As narinas de Edie incharam de medo. Abriu os lábios,

tremendo.

— Diga meu nome, — pediu Stuart.

— Stuart.

Ele então empurrou ansiosamente, entrando nela.

— Oh, meu Deus! — Stuart gemeu fechando os olhos

O prazer pulsou por todo o seu corpo. Stuart sabia que deveria

perguntar-lhe se ela queria que ele parasse, mas não o fez. Os desejos

mais primitivos que tinha conseguido tão dificilmente conter até

então, afloraram. Ele deslizou a mão por baixo dela para segurá-la

contra ele e afundou-se um pouco mais dentro dela.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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Edie prendeu a respiração com um suspiro e estremeceu, Stuart

rezou com fervor que ela não parasse. Ele esperou rígido, mas Edie

não disse nada. Em vez disso, girou os quadris como se estivesse

tentando arrastá-lo para dentro dela.

Stuart prendeu a respiração.

— Oh, meu Deus, Edie! Oh, meu Deus!

Essa foi à única coisa que ele poderia dizer e então,

simplesmente, não podia esperar mais. Colocou Edie de costas,

movendo-se sobre ela e pressionando-a contra ele enquanto cobria

seu rosto, seus cabelos, sua face com beijos, tudo o que podia.

Embora o sangue pulsasse em seus ouvidos, ele a ouviu dizer seu

nome. Não pediu que parasse. Não disse não.

Afundou-se nela com uma investida, penetrando-a

completamente. Ela gritou, e ele também. Foi uma troca de nomes.

Voltou a penetrá-la. Estava absolutamente dentro dela, estavam tão

perto quanto duas pessoas podiam estar, e ainda queria que ela se

aproximasse mais. Ele a abraçou forte, enterrou o rosto em seu

pescoço e se moveu dentro dela. Cada impulso era mais forte, mais

rápido do que o anterior estava aumentando até chegar ao limite do

prazer. Ele se liberou em ondas de sensações puras, num orgasmo tão

forte que o prazer fluiu através de cada célula de seu corpo. Foi tão

delicioso e tão doce que tentou agarrar-se a ele, mas por fim, entrou

em colapso sobre ela, ofegante contra seu pescoço.

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— Eddie. — Seu nome veio como um eco entre os sussurros da

tarde.

E de repente, Stuart franziu a testa com uma consciência súbita e

frenética de que algo terrível havia acontecido.

Algo que ele não sentira há seis meses vibrou dentro dele,

fazendo com que o cabelo de trás do pescoço estivesse erguido. Com

o terror em suas entranhas, levantou a cabeça e olhou no rosto de

Edie, e o que viu confirmou seus piores medos. Ele fechou os olhos

com força e seu rosto estava molhado de lágrimas. Ele viu outra

lágrima escorrer de seus olhos fechados e rolar pela face queimando,

depois em seu próprio peito, como se fosse um ácido jogado sobre o

coração dele.

— Acabou? — Edie sussurrou sem abrir os olhos.

Essa pergunta o rasgou por dentro ele se sentiu como um

verdadeiro cão.

— Edie, — ele disse, e beijou suas lágrimas.

Edie se encolheu, não muito, mas o suficiente para fazê-lo se

encolher também. Colocou as mãos nos ombros e empurrou-o para

longe.

Stuart não se moveu.

— Edie, abra seus olhos, olhe para mim.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


448
Edie obedeceu, mas havia um vazio naquele rosto devastado

pela dor que era ainda mais devastador do que as lágrimas. Estava

olhando diretamente para ele, mas não o via.

— Por favor, saia de perto mim, — Edie sussurrou, empurrando-

o novamente. — Por favor por favor. Não posso respirar.

Havia pânico em sua voz, Stuart pôde ouvir desamparado e

desconsolado, ele se afastou dela e deitou-se de costas, olhando para

o teto de madeira do armazém de pena. Poucos minutos antes, eles

estavam rindo juntos, e naquele momento... Oh, Deus! Stuart

esfregou o rosto, sentindo-se péssimo.

Ele se perguntou se Edie tinha dito não e ele não teria ouvido.

Ele se perguntou se ela implorou para ele parar e ele, por outro lado,

imaginou que ela dizia seu nome.

Stuart abotoou as calças. O sentimento de culpa o pressionou

sobre as penas e ele desejou que continuasse a esmagá-lo e arrastá-lo

para o abismo. Ele a fez chorar. Ele queria arrancar seu coração.

Angustiado, ele fechou os olhos, ouvindo no meio dessa agonia o

sussurro do tecido, enquanto Edie colocava sua roupa intima e sua

saia. Depois, ele a ouviu rastejando, movendo-se para o lado do

cubículo e sabia que não podiam deixar assim o que aconteceu.

— Edie, espere, — ele pediu a ela e sentou-se. — Não vá.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


449
A angústia que sentiu devia ter sido refletida em sua voz, porque

parou ao lado do reservado.

— Não é sua culpa, Stuart, — Edie assegurou-lhe por cima do

ombro, mas ele não olhou para ela. — Não foi sua culpa. — Ela se

interrompeu respirou fundo tremendo.

— Não pedi para você parar.

Isso não lhe deu nenhum consolo, nem quando ele ainda podia

ver o rastro de lágrimas em sua face. Edie se virou e se afastou

desajeitadamente, afastando as saias enquanto deslizava para o outro

lado. Ela agarrou o chapéu, mas Stuart falou novamente antes dela

partir.

— Edie, espere. Por favor, olhe para mim.

Edie acariciou os ombros como se fosse difícil para ela fazer isso.

Levantou o rosto e se virou para olhar nos olhos dele.

— Estou bem, Stuart, — ela assegurou. — Eu vou ficar bem.

Foi essa nuance, essa sutil mudança de tempo na segunda frase

que mais o prejudicou, penetrando-o diretamente como uma flecha e

ele não conseguiu fazer nada além de assistir impotente enquanto a

mulher que amava mais do que a vida se virou e se afastou.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


450
Capítulo 19

Stuart continuou no armazém de pena até muito depois que Edie

partiu, desejando que pudesse voltar no tempo para fazer tudo de

forma diferente, mas não podia. No final, ele saiu, sacudiu as roupas

e deixou o armazém.

Edie tinha ido e levou Snuffles com ela, então caminhou sozinho

para a casa. Caminhou num ritmo lento, não por causa da perna, mas

por causa do medo que aninhava em seu interior, a dor no coração e

a culpa que se instalara nas profundezas de sua alma.

Ele entrou na casa, mas parou na escada, olhou para os degraus

de mármore e trilhos de ferro forjado, sabendo que tinha que subir

ver Edie e falar com ela. Tinha que enfrentar o que aconteceu, falar

sobre isso, enfrentá-la, mesmo que não soubesse exatamente o que

isso significava. Ele precisava mantê-la, embora duvidasse que

pudesse fazê-lo. A consolaria, embora não soubesse como. Na época,

navegar pelo rio Congo ou enfrentar uma leoa irritada parecia menos

perigoso para ele. Isso quebraria sua alma se fizesse-a chorar de

novo.

— Sua Excelência?

Stuart virou-se, aliviado por poder adiar, mesmo que por alguns

minutos, a subida ao andar de acima. Ele virou-se e descobriu o

primeiro lacaio logo atrás dele.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


451
— Sim, Edward? Que aconteceu?

— Isto é para sua Excelência — O lacaio lhe deu uma bandeja

sobre a qual um papel dobrado descansava. — Um telegrama

Stuart pegou o telegrama e desdobrou-o enquanto Edward

recuou e esperou no caso do duque precisar de algo. “É um bom

homem, este Edward", pensou Stuart distraído, e voltou a prestar

atenção à mensagem que tinha entre as mãos.

“DISPOSTO A AJUDAR STOP EU TENHO ALGUMAS IDEAS

STOP IRÁ CHEGAR UMA CARTA COM MAIS DETALHES STOP

ENVIAREI OUTRA CORRESPONDÊNCIA PARA O WHITE’S COMO

SOLICITOU STOP ME ALEGRA QUE TENHA RECUPERADO O

JUÍZIO E VOLTADO A CASA COM MINHA FILHA STOP ARTHUR

JEWELL”

Stuart olhou para o telegrama, sentindo-se um pouco aliviado

por ter um aliado adicional, mas não o suficiente para esquecer o

medo de ir até Edie. Ele voltou para casa, ao lado da filha de Arthur,

era verdade, mas ele não parecia poder fazê-la feliz. Ele colocou o

telegrama no bolso e se virou para o lacaio.

— Edward?

O servo deu um passo à frente novamente.

— Sim, Excelência?

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


452
Stuart inclinou a cabeça e olhou de perto para o servo. Edward

era um pouco mais novo que ele, mas muito mais puro. Usava cada

linha do libré no lugar, os sapatos tão escovados que brilhavam os

cabelos cuidadosamente penteados e a gravata amarrada em um nó

perfeito.

— Edward... Brown, certo?

— Brownley, Sua Excelência.

— Claro. Brownley, me desculpe. — Ele parou, pensou nisso

durante alguns segundos, então tomou uma decisão. — Gostaria de

tornar-se meu criado, Sr. Brownley? — Ele perguntou, tratando-o a

partir desse momento de você.

O lacaio olhou-o com estupefação.

— Sim Excelência?

— Eu presumo que você é aquele que tem organizado minhas

camisas e engomado meus ternos desde que voltei para casa. —

Quando o lacaio assentiu, ele continuou. — E acho que, quando a

ocasião assim o exigiu, fez outras vezes essa função.

—Sim, Sua Excelência. — Quando tivemos hóspedes em

Highclyffe que vieram sem a ajuda de um criado, tive a honra de

atendê-los.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


453
— Excelente. Eu aviso que não será fácil controlar-me. Odeio

colarinhos rígidos. Sempre uso a gravata sem nó, perdi os broches do

colarinho e a perna não para de me incomodar. Além disso, só tive

um criado em toda a minha vida. Mas morreu.

— Sr. Jones, ouvi dizer que ele era um bom homem, Sua

Excelência.

— Sim, era, — falou Stuart. — Você também estará ao meu

serviço quando eu viajar, — continuou ele depois de um momento.

— Durante a temporada em Londres. Em viagens à Itália ou à França

que minha esposa e eu faremos durante as férias... esse tipo de

viagens. Mas você nunca terá que estar fora da Inglaterra por muito

tempo.

— Sim, Excelência, obrigado.

— Bem, então, tudo já foi dito. Você pode começar por decidir

quais roupas eu usarei hoje, porque estou convencido de que meu

guarda-roupas está terrivelmente desatualizado. E diga a Wellesley

que teremos que encontrar um novo lacaio. Agora pode ir.

O novo ajudante inclinou a cabeça em uma revência e saiu para o

corredor dos empregados, Stuart sabia que não poderia ficar ali,

adiando o inevitável por nem mais um segundo. Virou-se e começou

a subir as escadas.

Quando chegou ao quarto da esposa, bateu na porta.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


454
— Edie? Posso entrar?

Não houve resposta. Stuart esperou um momento. Então ergueu

a mão para bater de novo, mas logo a porta se abriu e viu Reeves na

frente dele. Ela não abriu completamente para permitir que ele

passasse. Em vez disso, olhou rapidamente por cima do ombro, saiu

para o corredor e fechou a porta atrás dela.

— Ela...? — Stuart parou e respirou fundo. — Como esta?

— Está bem. — olhou para ele, deve ter entendido o que ele

estava sentindo, porque suavizou sua habitual atitude rígida e

distante. — Está tudo bem, Sua Excelência. Ela está um pouco

nervosa, só isso.

— Posso vê-la?

A empregada hesitou.

— Perdoe-me, senhor, mas não acho que deva. Ela está tomando

banho neste momento.

O que alguém tinha feito depois de manter um bom

relacionamento. No caso de qualquer outra mulher, não significaria

nada. Mas com Edie, tinha a sensação de que ela estava tentando

apagar as marcas que deixara em seu corpo. Tinha que apagar as

lembranças. A lembrança dele e de outro homem?

Stuart afastou da porta e encostou-se na parede do corredor.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


455
— Não deve se culpar, — disse a criada com uma voz simpática

e delicada. — Não é culpado pelo o que aconteceu no passado.

Stuart olhou atordoado para a donzela.

— Você sabe.

Reeves não precisava perguntar sobre o que ele estava se

referindo.

— Sim

— Foi... Foi ela quem disse?

Reeves olhou para ele com uma expressão compassiva.

— Fui sua donzela desde a primeira vez que escovei seus

cabelos. Eu sempre soube disso, — ela interrompeu. — Disse a ela,

Sua Excelência?

Houve uma nota de surpresa na voz dela quando perguntou.

Stuart balançou a cabeça.

— Eu imaginei, — ela confirmou. Stuart ergueu a mão em um

gesto de desamparo. — Que posso fazer? — Ele perguntou, e o

desespero o atingiu diretamente no peito. — Reeves, o que posso

fazer?

— Dê-lhe tempo, senhor. Agora ela está devastada, mas ficará

bem. Ela só precisa passar algum tempo sozinha. Vai passar.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


456
— Tem certeza? Parece muito improvável. — Ele balançou a

cabeça. — Vai ficar bem?

— Está em casa um pouco mais de uma semana. Ela só precisa

de um pequeno espaço, por assim dizer.

— Claro. — Ele considerou isso em silêncio. — Eu irei para

Londres por alguns dias, — disse ele depois de um momento. —

Tenho outros assuntos para me ocupar que me tomará uma semana

inteira. Será suficiente?

— Eu acho que sim. — Reeves sorriu um pouco. — Será

suficiente que desta vez não fique longe por cinco anos.

Stuart tentou sorrir de volta.

— Tenho sorte se eu aguentar ficar cinco dias longe dela.

A Donzela assentiu, ela parecia satisfeita.

— Ótimo, porque ela precisará de sua presença. — Reeves

permaneceu hesitantemente e em silêncio, como se quisesse dizer

outra coisa. Por fim, foi decisiva. — Ela sempre precisou.

Curiosamente, Stuart não ficou surpreso ao ouvir isso. Uma

imagem da jovem que tinha sido Edie no salão de baile de Hanford

House veio à sua mente.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


457
— Eu sempre tive esse sentimento, — disse devagar. — Eu

sempre soube. Mas acho que não estava preparado para saber que

alguém precisava de mim. Até agora.

Stuart respirou fundo e afastou-se da parede.

— Estarei no meu clube. Cuide dela até eu voltar, Reeves.

— Eu vou, Sua Excelência. Sempre o faço.

Stuart virou-se para o quarto, mas parou novamente antes de dar

um único passo.

— E, Reeves.

A donzela parou com a mão já na maçaneta da porta.

— Sim, Excelência?

Stuart inclinou a cabeça e olhou para o chão. Desde que

retornou, haviam se passado dez dias. Edie não o tinha beijado ainda.

Tinha sido ele o único que a tinha beijado e, como ela havia apontado

corretamente, isso não contava. Ele estendeu a mão direita ao redor

da bengala e trouxe o punho esquerdo até a boca enquanto lutava

para dizer outra coisa. No final, baixou a mão, olhou para a donzela e

disse:

— Não deixe ela me deixar. Eu não me importo com o que você

tenha que fazer, mas não deixe ela ir e me deixar. É uma ordem.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


458
Era uma ordem impossível de cumprir. Ele sabia. Se Edie

quisesse deixá-lo, a donzela dificilmente poderia fazer algo sobre

isso, mas estava desesperado.

—Eu farei todo o possível para convencê-la a não fazê-lo,

Excelência, no caso dela querer ir. Mas... — Parou por um momento

— não acho que ela vá querer ir.

— Espero que não, Reeves. Eu também preciso dela, você sabe.

—Stuart se afastou, ciente de que ele não poderia fazer mais nada,

pelo menos por enquanto.

Às dez horas da mesma noite, Stuart e Edward, seu novo

ajudante, chegaram à cidade e se estabeleceram no clube. Na manhã

seguinte, Stuart enviou novas cartas a seus amigos, propondo uma

noite no White's dalí a cinco dias, calculando que até lá Pinkerton’s

teria terminado seu relatório sobre Van Hausen.

Enquanto isso, ele sabia que tinha que se manter ocupado.

Levando Edward com ele, visitaram diferentes alfaiates, sapateiros e

renovou suas camisas. Como Edward tinha ficado responsável pela

lavanderia do duque desde que ele voltou, tinha adquirido um

conhecimento suficiente de seu guarda-roupa para saber o que ele

precisava. Ele também tinha um excelente gosto e critérios para

escolher os tecidos. Não era Jones, mas Stuart sabia que ele fazia

muito bem seu trabalho.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


459
Stuart também foi a Park Lane para inspecionar as condições da

casa Margrave, uma visita que se revelou completamente

desnecessária. Embora naquele momento a casa estivesse fechada,

com tudo coberto por lençóis e capas, pôde se certificar que sua

residência estava limpa e arrumada. Não pela primeira vez, apreciou

o fato de que Edie tinha feito um bom trabalho enquanto ele estava

fora. Mas, ao atravessar o quarto, rezou para que nunca mais tivesse

que viver sozinho naquele lugar.

Ele participou de uma reunião da Sociedade Geográfica de

Londres em que os membros participantes dispensaram uma ovação

em pé para felicitá-lo por suas explorações no Congo, um momento

que Stuart se encontrou bastante embaraçado.

Ele visitou o British Museum e viu sua borboleta. Enquanto

estava lá, ele se apresentou à pessoa encarregada das exposições

científicas e ficou emocionado que o bom homem parecia pensar que

ele havia feito algo importante. De alguma forma, comparado com as

coisas que Edie fazia, descobrir uma nova espécie de borboleta

parecia ser algo insignificante.

O décimo dia de sua aposta veio e se foi, e Stuart estava

pensando no que Edie gostaria de fazer. Ele se perguntou se talvez

não tivesse cometido um erro quando partiu e não aproveitou cada

minuto do precioso tempo que eles tiveram. Ele tentou dizer a si

mesmo que dois dias não eram nada e que, em qualquer caso, era

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


460
uma aposta muito estúpida. Ele tentou convencer-se de que, mesmo

que Edie não o tivesse beijado, mesmo que ele a tivesse pressionado

demais no final, ela ficaria. E tentou acreditar.

Ele lutou para não pensar muito nela, mas isso provou ser um

esforço inútil. Beber chá no Savoy lembrou-lhe dela. Uma jovem de

cabelos curtos em Hyde Park também lhe lembrou de Edie. E

qualquer coisa branca, em qualquer lugar... Bem, também despertou

suas lembranças. Quando estava deitado na cama, era a parte pior,

envolto em lençóis brancos e travesseiros de penas, as lembranças da

primeira vez que a beijou repetidas vezes, manteve-o acordado a

noite toda.

Queria escrever para ela, perguntar-lhe se ela precisava de

alguma coisa, mas, claro, ele não o fez. Se Edie precisava de espaço

para respirar, se o tempo e a distância pudessem ajudá-la a mantê-la,

ele tinha que oferecer isso à ela. Ele esperava que ela escrevesse para

ele, para pedir-lhe para voltar para casa, mas, embora ele verificou

sua correspondência repetidas vezes, uma carta com a coroa da

duquesa de Margrave nunca chegou.

As cartas que ele recebeu conseguiram levantar seu espírito um

pouco. Seus amigos confirmaram o compromisso de sexta-feira à

noite no clube. Recebeu notícias de Pinkerton informando-lhe que

possuía o arquivo. E Arthur Jewell enviou-lhe um resumo das

diferentes maneiras pelas quais Frederick Van Hausen poderia ser

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


461
vulnerável. Seu sogro sugeriu que decidissem um plano para quando

viajasse para a Inglaterra durante sua habitual visita Natalina. Stuart

respondeu-lhe concordando e esperando que Edie continuasse com

ele.

Stuart reservou uma sala de jantar privada em White's para a

noite de sexta-feira, quando seus amigos começaram a chegar, havia

uma garrafa de bom uísque de malte na mesa, ele já havia

encomendado o jantar e guardava toda a informação obtida sobre

Van Hausen em uma pasta ao lado de sua cadeira.

O Marquês de Trubridge foi o primeiro a chegar.

— Como está a perna? — Perguntou enquanto aceitava uma

bebida das mãos de seu amigo e sentava-se em frente a Stuart na

mesa redonda onde eles estavam indo jantar.

— Você estava certo, — admitiu Stuart. — O Dr. Cahill é uma

maravilha.

Nick sorriu.

— Eu te disse. Denys veio logo atrás de mim. Chegamos juntos

de Kent. Ele está fora, pagando o cabriolé.

Denys, o visconde Somerton, chegou naquele momento,

confirmando as palavras de Nick, mas ele mal teve tempo de apertar

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


462
sua mão, dar um tapa nas costas e aceitar uma bebida antes que a

porta se abrisse novamente e o conde de Hayward entrasse.

— Pongo! — Exclamaram todos ao mesmo tempo.

O Conde fez uma careta na recepção. Lord Hayward, filho do

Marquês de Wetherford, tinha sido batizado de James, mas seus

melhores amigos o chamavam de Pongo por causa de algo que

aconteceu durante a infância que nenhum deles conseguia lembrar,

era um apelido que ele odiava.

— Chamem-me pelo meu nome, canalhas, se vocês não querem

que eu mande todos para o inferno e também esta condenada

reunião. — Ele olhou para Stuart enquanto aceitava o copo. — Como

está a perna, meu amigo?

— Ah claro! — Nick rosnou. — Você pergunta a ele sobre sua

perna e não me pergunta nada sobre meu ombro.

James gesticulou com a mão, descartando a dor em seu ombro

quando ele se sentou ao lado dela.

— Sim, eu atirei em você!

— Enquanto eu estava salvando sua vida! — Disse Nick,

apontando para Denys com o copo de whisky na mão. — Você estava

tentando disparar e eu consegui entrar no meio e acabei recebendo

aquele tiro maldito. Foi a maior estupidez que já fiz na minha vida.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


463
— Não tenho tanta certeza, — disse Stuart. — Você já fez muitas

coisas estúpidas.

— Além disso, mereceu isso, — acrescentou Denys enquanto

sentava na cadeira do outro lado de Nick, ao lado de Stuart. — Não

se sinta culpado, Pongo.

James sorriu.

— Não me sinto culpado, mas lembro perfeitamente que tentei

atirar em você, Somerton, porque estava tentando escapar com minha

garota.

— Ela se jogou em meus braços da maneira mais sem vergonha,

— Denys advertiu a si mesmo. — Eu não pude evitar.

— Eu estava lá, — disse Stuart, — e não foi assim. Na verdade,

ela estava atrás de mim.

Essa declaração foi imediatamente sufocada por uma série de

provocações e um debate sobre o assunto em questão, um debate que

foi interrompido antes de chegarem a uma conclusão pela chegada

do último membro da reunião, Lord Featherstone. — Desculpe, meu

atraso, senhores, — Jack pediu desculpas quando entrou e fechou a

porta atrás dele.

— Desculpe, não estamos surpresos, — disse Denys, olhando por

cima do ombro. — Você está sempre atrasado.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


464
— Me deem uma trégua, certo? Afinal, eu venho de Paris. Acabei

de sair do trem de Dover há vinte minutos atrás.

Jack caminhou ao redor da mesa enquanto Stuart se levantava

para cumprimentá-lo.

— Atacado por um leão, hein? — Ele perguntou e estendeu-lhe a

mão. — Você faria qualquer coisa para justificar uma farra.

— É verdade, quer uma bebida?

— Aceito. Você não acredita que eu vim aqui para ver você,

acredita?

Stuart serviu uísque da garrafa que estava no meio da mesa. Jack

aceitou, arrastou a cadeira vazia que estava no lado direito de Stuart

e sentou-se.

— Muito bem, senhores, — disse Jack enquanto sentava. —

Agora que demos as boas vindas ao assassino de leão, o que vamos

fazer hoje a noite? Primeiro jantar, suponho. Em seguida, vamos jogar

cartas. Possivelmente uma caminhada pela noite para visitar os pubs

do East End, e talvez conhecer umas dançarinas atraentes no Music

Hall de Londres e incentivá-las a sair do palco?

— Não contem comigo, — disse Nicholas, e ergueu as mãos. —

Sou um homem casado e felizmente. — Ele baixou as mãos, pegou

seu uísque e levantou-o. — E com um filho a caminho.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


465
Essa notícia foi recebida com sinceros parabéns e um brinde.

— Nick não virá, — Jack disse enquanto enchia o copo e passou

a garrafa, — mas o que você está dizendo?

Quando sentiu o olhar de Jack nele, Stuart balançou a cabeça.

— Minha esposa e eu nos reconciliamos — esperava com todas

as forças que fosse verdade.

Houve um momento de silêncio enquanto todos os seus amigos

o olhavam duvidosamente. Foi Jack quem ousou fazer a pergunta

que todos tinham em mente.

— E você está feliz com essa situação?

— Sim, a verdade é que estou sim — se seria ou não seria capaz

de fazer Edie feliz era uma outra questão. — E estou feliz por estar

em casa.

— Muito bem. — Jack levantou o copo. — Aqui está o caçador,

finalmente voltando da montanha.

Eles juntaram seus copos e esvaziaram em um só gole, eles

passaram a garrafa de novo para que todos pudessem preenchê-los.

— Mesmo assim, — continuou Jack, — o que nós vamos fazer?

Os amigos casados e felizes são uma companhia muito tediosa. — Ele

olhou para James e Denys. — Vocês também foram amarrados?

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


466
— Não eu. — Denys ergueu o copo. — Ainda sou uma pessoa

sem obrigações.

— Eu também, — acrescentou James.

— Bem, é um alívio. Mais tarde, vamos deixar esses dois... — Ele

parou, apontando para Stuart e Nicholas, — e vamos sair e nos

divertir, tudo bem?

— Vocês três podem invadir todos os bordéis, tabernas e clubes

de apostas em Londres quantas vezes quiserem em qualquer outro

momento, — disse Stuart. — Mas, não esta noite. Eu não trouxe vocês

aqui para você irmos em festas. Além disso, Londres em agosto é

uma cidade muito chata, então não acho que vocês irão perder

grande coisa.

— Então, por que estamos aqui? — Jack deu um sorriso atrevido.

— Além de ver suas cicatrizes, ouvir tudo sobre suas feridas e deixar-

nos impressionados com sua luta heroica contra os leões, claro.

Stuart tomou uma bebida.

— Não quero falar sobre isso.

— Idiotices. — Disse Jack, incrédulo. — Você tem a

oportunidade perfeita para se gabar um pouco e não quer falar sobre

isso? Porque não? — perguntou, olhando debaixo da mesa. — Os

leões não comeram nada de importante, certo?

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


467
Stuart tomou um gole de whisky e deu a notícia.

— Jones está morto.

— O que? — A pergunta de Jack foi um suspiro precipitado

diante o silêncio ensurdecedor dos outros. Endireitou-se lentamente

na cadeira. — Seu ajudante morreu? O que aconteceu? Também

foram os leões?

— Sim

Jack suspirou e passou a mão pelos cabelos pretos.

— Inferno, — sussurrou. — E eu aqui eu dizendo bobagem. Me

desculpe, Stuart.

Os outros expressaram um sentimento semelhante, mas Stuart

rejeitou esses sinais de compaixão com um gesto. Achou impossível

suportá-lo.

— Vamos falar sobre outra coisa, ok?

Antes que algum de seus amigos pudesse escolher um outro

assunto, desviou a conversa para o qual queria falar.

— Amigos, como é maravilhoso ter todos vocês aqui, a razão

pela qual eu pedi que viesse não foi somente para nos reunirmos, —

parou de falar para ter certeza de que estavam lhe dando toda a

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


468
atenção. — Eu tenho algo para falar com vocês e eu direi antes de

passar a garrafa novamente porque é um assunto muito sério.

Baixaram os copos e retiraram a garrafa imediatamente. Stuart

abriu sua pasta e puxou o relatório de Van Hausen. Levantou-se,

depositou os documentos no centro da mesa e olhou para os rostos

de seus amigos, um a um.

— Eu quero arruinar esse homem, — disse finalmente. — Quero

humilhá-lo, destruí-lo. Feri-lo com crueldade, completamente e sem

piedade.

O silêncio voltou e, mais uma vez, foi James quem o quebrou.

— Ótimo, — ele disse, arrastando as palavras quando inclinou a

cadeira em duas pernas e sorriu para Stuart, — essa é exatamente o

tipo de festa que eu gosto.

Denys limpou a garganta com um leve ruído.

— Não tenho dúvidas de que o homem em questão merece, mas

posso perguntar por quê?

— Posso dar uma explicação geral, mas não entrar em detalhes.

E asseguro-lhe que é uma questão de honra e justiça

James recostou-se na cadeira e olhou para ele.

— Eu suponho que os tribunais não podem tocá-lo.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


469
— Não. É americano, de família aristocrata, ele tem um pai

muito rico e muito poderoso.

— Ora! — James desprezou com um som zombador às possíveis

dificuldades.

— Cavalheiros, — disse Stuart, colocando as mãos sobre a mesa

e fixando os olhos nos documentos. — Eu faria isso sozinho, mas não

posso. Eu preciso da ajuda de todos. — Olhou para cima e conferiu

os rostos de cada um de seus amigos mais próximos, amigos que

conhecia desde a infância. — Somos todos homens Eton.

Os outros quatro participaram, compreendendo plenamente o

significado de suas palavras e, nessa ocasião, Nicholas foi o primeiro

a falar.

— Não há mais nada a dizer. O que quer que façamos?

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


470
Capítulo 20

— Você tem certeza?

Joanna virou-se da porta de trem e olhou para Edie. Sob o

chapéu, seu belo rosto mostrou uma incerteza. Olhou com seus olhos

castanhos para ambos os lados da plataforma, como um animal

encurralado buscando uma saída.

— Eu acho que deveria esperar até que Stuart voltasse.

— Não, — disse Edie pela décima vez. — O primeiro dia do

trimestre em Willowbank começa segunda-feira. Desta forma, você

terá dois dias para instalar-se. Eu não sei exatamente quando Stuart

planeja voltar para casa.

— Você me disse que Reeves tinha dito que ele estaria fora por

uma semana. Já se passaram dez dias desde que ele foi. Tenho certeza

que ele estará de volta em breve. Talvez mesmo hoje. Devo esperá-lo.

Eu nem tive a chance de dizer adeus a ele quando ele se saiu.

O trem apitou, sinalizando sua partida iminente e Edie agarrou

os ombros de sua irmã.

— Tenho certeza de que Stuart entenderá por que você não disse

adeus à ele. Agora, suba no trem, querida. Nos veremos em três

semanas.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


471
— E como posso ter certeza? Talvez você o deixe. Quando Stuart

voltou para casa, você disse que era possível que o deixasse.

Edie pensou sobre como se sentiu quando disse e não pôde

deixar de se surpreender ao perceber como, em quinze dias, uma

pessoa podia mudar completamente todas as perspectivas de sua

vida.

— Eu não vou.

— Você promete?

— Eu prometo. — Deu-lhe um beijo na face e tentou fazer com

que virasse, mas Joanna começou a resistir, então ela suspirou, largou

as mãos dos ombros de Joanna e colocou as mãos nos quadris. —

Joanna Arlene Jewell, já quebrei as promessas que fiz a você?

Joanna encolheu os ombros, olhou em volta da plataforma e

moveu o peso de um pé para o outro.

— Não.

— Bem, você já possui. Seu primeiro dia livre será em três

semanas, Stuart e eu estaremos lá visitando você.

— E você também levará Snuffles?

— Sim, ele também vai, eu prometeu.

Joanna continuou sem parecer muito convencida.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


472
— Estará bem? Você não terá nenhuma companhia até Stuart

retornar.

— Eu vou me arrumar. — Eddie viu a nuvem de vapor vindo da

máquina e, felizmente, quando abraçou novamente a irmã pelos

ombros, ela permitiu que a virasse.

Mas antes de embarcar no trem, Joanna acrescentou, olhando por

cima do ombro:

— Você tem certeza? É uma casa terrivelmente grande.

— Tenho certeza, querida. Agora vá, a Sra Simmons está

esperando por você.

Joanna finalmente entrou no trem. Mas, assim como fez na outra

ocasião, abriu a primeira janela que conseguiu e continuou falando:

— Eu vou para a escola se eu tiver que ir, mas, se você pretende

deixar Stuart e fugir, direi a ele onde você está. Normalmente, eu

não sou de acusar e sei que disse que estava do seu lado, eu

realmente estou! Mas antes de partir para Londres, prometi-lhe que

se você fosse embora, eu lhe diria onde você estaria.

— O que? E quando aconteceu isso?

— Durante o jantar, quando você estava jantando em seu quarto.

Ele me disse que ia viajar por alguns dias.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


473
Edie deu um salto rapidamente.

— Então você teve a chance de se despedir dele?

— Isso não importa agora, — respondeu Joanna com

impaciência, gesticulando no ar as mão com luva branca. — Ele me

disse que estava indo para Londres e, quando perguntei por quê, ele

me disse que tinha que lidar com um problema. Mas ele também me

disse que vocês tinham discutido e que talvez você estivesse triste.

Ele insistiu que eu não deveria falar com você ou pedir nada, que o

que eu tinha que fazer era tentar incentivá-la e cuidar de você. E ele

me disse também que queria voltar antes da minha partida à escola,

mas não tinha certeza de poderia. Foi quando ele me fez prometer

dizer-lhe onde você estava se você finalmente decidisse ir. Ele me

disse que não iria permitir que você fosse porque ele iria fazer uma

estupidez.

— Ele disse isso? — Edie gemeu, porque isso confirmava

exatamente o que ela temia desde a partida de Stuart.

— Sim, então...

O trem apitou novamente e Joanna agarrou-se à janela para ficar

em pé. Ela levantou-se e colocou a cabeça para fora.

— Então não fuja, Edie, ou eu vou dizer onde você está. — Ela

começou a chorar. — Eu juro que vou dizer!

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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Edie também estava à beira das lágrimas, mas ela se reprimiu

para não fazer Joanna sofrer ainda mais.

— Eu não vou a lugar algum, — ela gritou, esperando que sua

irmã pudesse ouvi-la sobre o resfriamento de vapor do trem. — Te

prometo.

Esperou até que sua irmã tivesse desaparecido de sua visão antes

de começar a chorar, mas não partiu como fez na última vez. Ficou na

plataforma até perder o trem de vista completamente. Afinal, com

Joanna, você nunca poderia ter certeza.

— Não, eu quero o retrato de Stuart à minha direita, Henry, —

disse ao criado do topo da escada na galeria dos retratos. — À direita.

Wellesley, que estava ao seu lado, tossiu suavemente.

— A viúva do duque sempre teve o retrato do duque pendurado

à esquerda dele, Sua Excelência.

“E vamos nós novamente”, pensou Edie. Por que mudar um retrato

de um lugar para outro na galeria dos retratos, tinha que ser uma

batalha?

— Estou certa de que o oitavo duque ficou esplêndido à

esquerda da viúva do duque, — respondeu. — Mas quero o retrato

do nono Duque à minha direita.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


475
Wellesley suspirou. Foi o suspiro de um mordomo britânico

sofredor obrigado a lidar com uma duquesa americana que não sabia

como as coisas tinham que ser feitas.

— Sim, Sua Excelência. É só que, aqui em Highclyffe, não

estamos acostumados a colocar o retrato à direita.

— Exatamente, — Edie respondeu, como sempre fazia, com

firmeza. — Mas...

— Excelência!

Essa interrupção fez Edie se virar. Ela viu Reeves andando

rapidamente através das portas da longa galeria e parando diante

deles.

— Ele está de volta, — ela disse, ofegante pelo esforço da rápida

caminhada. — O duque retornou. Ele foi diretamente para o quarto.

Eu sugeri que esperasse lá por isso vim buscá-la.

Edie começou a atravessar calmamente a galeria, mas, quando

chegou ao lado da empregada, já estava correndo.

— Para o meu quarto?

Reeves assentiu e Edie começou a correr, mas parou de repente.

— Wellesley, o presente de Sua Excelência?

O mordomo a olhou impassivelmente.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


476
— Segui exatamente suas instruções, Excelência.

Edie assentiu e virou-se para a porta.

— Só acreditarei quando ver isso — murmurou.

Ela deixou a galeria, parou e se apoiou contra o umbral da porta.

— À direita, Wellesley, — lembrou-o e saiu enquanto o suspiro

pesado do mordomo ressoava ao longo da galeria.

Edie correu pelo corredor até as escadas, subiu os degraus de

dois em dois, e virou para o corredor que abrigava os quartos da

família, antes de se dirigir para ele, percebeu que tinha que parar e

demorar alguns segundos para se preparar.

Isso era importante. Tinha que fazer as coisas logo, após o

terrível mal-entendido da última vez que eles estiveram juntos. Edie

sentiu uma pontada de ansiedade. Mas era um sentimento que não

tinha nada a ver com o que sentira no passado. Essa ansiedade não

era o produto do medo, mas um nervosismo selvagem.

Edie permaneceu no corredor por alguns minutos, respirando

profundamente, lutando para recuperar a compostura. Tinha que

manter a calma, se explicar completamente e, acima de tudo, tinha

que ser capaz de conter suas lágrimas ou, caso contrário não seria

capaz de pronunciar uma única palavra. Depois de alguns minutos,

percorreu os últimos metros e entrou.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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Stuart estava na frente da escrivaninha, olhando pela janela.

— Você está de volta. Reeves disse que você ficaria fora por uma

semana, mas você ficou duas...

Ela parou. Stuart ainda não havia se virado e havia algo na

rígida imobilidade de seu corpo que despertou sua preocupação.

— Stuart?

Stuart tamborilava os dedos na mesa.

— Vejo que Keating já lhe enviou o acordo de separação.

Edie desviou o olhar para a mesa, onde o documento estava em

plena vista de Stuart. — Deus santo! Eu tinha esquecido disso

completamente.

— Sim, chegou pelo correio enquanto você estava fora, mas...

Stuart virou a cabeça, permitindo que ela visse seu perfil, mas

não se virou.

— Perdoe-me por invadir sua privacidade. Cheguei e ia

diretamente ao seu quarto, mas, Reeves sugeriu que eu esperasse por

você aqui enquanto procurava por você. Eu não queria mexer em

suas coisas. Simplesmente quando fui até a janela eu o vi. Não tinha a

intenção de ler sua correspondência.

— Claro que não. eu nem sequer...

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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— Quer que eu assine, Edie? — Ele se virou para ela, mas, ainda

de costas para a janela, a luz externa tornou difícil ler sua expressão.

— Porque, se é isso que você quer, estou disposto a fazê-lo.

Passaram-se dez dias desde que acordamos, — acrescentou antes de

poder responder. — Eu sei que tentar segurar você pela força só

causaria mais dor e eu preferiria morrer do que fazer você sofrer.

— Mas, Stuart, eu não quero...

— Você se lembra quando me perguntou sobre o que aconteceu

com Jones e eu não respondi? Pensei que talvez devesse contar-lhe.

Edie franziu a testa de surpresa, não só por causa da mudança de

assunto, mas também pelo tom reflexivo de sua voz e seu semblante

sombrio. Estremeceu ligeiramente.

— Certo, conte-me.

— Estávamos transferindo gado da estação de classificação de

Nairóbi para uma fazenda ao sul das montanhas de Ngong, — disse

ele depois de um momento. — Em termos de distância, não está

longe, mas é uma viagem de três dias. Quinhentas cabeças de gado

não são fáceis de mover, pelo menos em um país infestado de leões.

Era nossa segunda noite ao ar livre. Os homens acenderam o fogo,

como sempre, e eu pessoalmente verifiquei todos, como costumava

fazer. Mas pelo menos um deles deve ter se apagado. Quem sabe por

quê? Esta é a África, tudo flui calmamente e de repente... — Ele se

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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calou, inclinou a cabeça. — De repente, seu ajudante está morto e

você vê homens cavando seu túmulo.

— O que aconteceu?

— Os leões atacaram o rebanho. Uma fêmea atacou Jones e o

matou. Ele olhou para cima, mas não a viu. Eu a vi. Eu vi sua

corrida, e vi ele cair. Tentei afastá-la com o chicote, mas... — Sua voz

quebrou e ele interrompeu.

Edie não suportava ser capaz de olhá-lo nos olhos. Ela começou

a atravessar a sala.

— Mas? — Ela insistiu enquanto se aproximava.

— Mas, era muito tarde. Estava morto. Jones tinha sido meu

criado desde os dezesseis anos, Edie. Ele me seguia por todos os

lugares que eu ia. Ele...

Sua voz quebrou novamente e, mais uma vez, ele parou.

Edie parou na frente dele. Seu coração sofria com ele, porque ela

sabia tudo sobre sentimentos de culpa.

— Não foi culpa sua. Certamente, isso poderia ter acontecido

com alguém, na África.

— Em uma ocasião, você me disse que ele era encantador, —

disse ela, mudando de assunto. — Você quer que eu diga por que eu

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


480
sou assim? Antes de completar dez anos, descobri que minha família

nunca iria me amar, então tomei uma decisão firme para que todos

os outros me amassem. No ano que completei vinte anos, não havia

uma única mulher que não consegui conquistar, nem um único

homem com o qual não consegui fazer amizade ou um jogo que não

consegui ganhar. Não houve um problema que não fui capaz de

resolver, eu sempre tive uma sorte diabólica e isso me fez um canalha

arrogante. Inferno, olhe para nós. Quando eu conheci você, minha

família estava quebrada, os credores estavam prestes a tirar tudo de

nós e, naquele momento, você apareceu e largou muito dinheiro em

minhas mãos. Por sorte. — Ele fez uma expressão de ironia. — Não é

de admirar que Cecil me odeie.

— Cecil é um idiota.

Isso fez Stuart rir levemente.

— Sim, bastante.

O sorriso de Stuart desapareceu.

— Convenci Jones de ir comigo para a África. Ele não queria,

mas eu o convenci. Tudo fazia parte do meu encantamento. É que eu

sou o tipo de cara que não aceita um não como resposta. E eu

consegui.

— Você não deve se culpar, Stuart. Não tem porque. Jones

adorou a África. Ele escreveu aos outros criados e, em algumas

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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ocasiões, Reeves me contou o que ele contou. É possível que, no

início, ele não quisesse ir, mas desfrutou do melhor momento da

vida, a seu serviço.

— Eu sei, mas eu só... — Seus olhos brilharam e ele os esfregou

bruscamente com os dedos. — Eu sinto falta dele.

Edie estendeu a mão para acariciar seu cabelo e sua face.

— Claro que você sente falta dele.

Stuart recostou-se na mesa e apoiou as mãos na borda.

— Você conhece a razão pela qual eu queria ir para a África?

Como eu lhe disse, eu era um maldito homem arrogante. Nem

mesmo um continente era grande o suficiente para me derrotar, pelo

amor de Deus. — Ele esticou a perna para um lado, junto aos pés de

Edie, e olhou para ela. — Nunca contrai malária, nem cólera, nem

desinteria, nem febre amarela. Eu nem sofri uma mordida de

serpente, mas, por fim, a África conseguiu me colocar no meu lugar.

Edie não sabia o que dizer.

— Desculpe, Stuart. Sinto muito. Sinto por Jones e por sua perna.

— Eu sinto por Jones, Edie, mas não sinto pela perna. Eu posso

coxear o resto da minha vida, mas não me arrependo nem um pouco,

e vou te dizer o porquê. — Ele afastou-se da mesa e ficou em pé

diante dela. — Se isso não acontecesse, nunca teria voltado para casa,

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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exceto em um caixão, e nunca teria ficado sabendo que a melhor coisa

que eu tinha estava exatamente aqui. É verdade que nunca encontrei

uma mulher que não consegui conquistar, mas também nenhuma

delas realmente importou para mim. Até que conheci você.

Edie soltou um som abafado e teve um medo terrível de chorar, e

essa compostura que tanto esforço fez para ganhar, foi quebrada.

— Na noite em que nos encontramos, quando a vi pela primeira

vez, senti que era o destino que me obrigava prestar atenção. — Eu

tinha a sensação de que ele estava me dizendo: Olhe, olhe essa garota

com atenção porque é importante. Ela vai mudar sua vida. Mais

tarde, quando você me seguiu pelo labirinto, tive a impressão de que

esse sentimento era devido à possibilidade de ter seu dinheiro, mas

estava errado. Em uma ocasião, você me perguntou o que eu poderia

querer de você. O que eu quero Edie é saber que minha vida não foi

um desperdício. Saber que tudo o que eu tinha dado por certo e para

o qual eu não tinha dado qualquer importância significa alguma

coisa, mesmo que eu estivesse prestes a jogar fora. Que eu posso fazer

algo de bom para o mundo e não apenas me dedicar a me divertir.

Mas, acima de tudo, eu preciso saber que há uma pessoa no mundo

que precisa de mim, cuja vida é melhor porque eu sou parte dela. Eu

quero ser essa pessoa para você, Edie. Te quero.

A alegria entrou em erupção dentro dela. A alegria, o alívio e

uma ternura tremenda e doce.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


483
— Stuart...

— Vou assinar o acordo de separação se você quiser. Mas eu

estou pedindo que você não desista de nós, Edie. E, se você precisar

de mais dez dias, ou dez anos, ou o resto de minha vida, eu não me

importo, mas eu prometo a você, antes de eu morrer, eu vou provar

que você sempre estará segura comigo. Embora eu lhe deseje tanto

que à noite eu não consigo dormir, espero até você querer estar

comigo, eu prometo.

Ele parou e Edie esperou, mas, como ele não disse mais nada, ela

finalmente falou.

— Isso é tudo?

Um brilho desafiador apareceu nos belos olhos cinzentos de

Stuart.

— Sim

— Bom. — Edie enquadrou seu rosto entre as mãos, ficou na

ponta dos pés e beijou-o nos lábios. — Esta é a minha resposta.

Stuart franziu a testa e balançou a cabeça, dizendo naquele gesto

que conseguiu confundi-lo mais uma vez. Ele abriu a boca, mas Edie

ficou à frente dele, porque ela não podia deixar que ele carregasse

todo o peso da conversa.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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— Eu vou ficar, — disse ela. — Eu não vou embora, nem agora

nem nunca. E, se você não tivesse me interrompido, eu teria contado

no momento em que eu cruzei aquela porta.

— Mas e quanto a isso? — Ele virou-se e pegou o acordo de

separação.

Edie pegou o contrato.

— Keating enviou-me porque eu perguntei-lhe quando o vi em

Londres, mas eu não o li e nem o assinei.

E, sem mais delongas, ela rasgou o documento pela metade e

jogou os pedaços no ar.

Stuart engoliu em seco e olhou atentamente para os olhos dela

enquanto os pedaços do contrato voavam ao redor deles.

— Você tem certeza de que quer ficar? Mesmo depois do que

aconteceu no armazém das penas?

— Não foi culpa sua. Tive um ataque de pânico. Aconteceu e

provavelmente, isso acontecerá de novo.

Sabia que tinha que falar sobre isso, que, dessa forma, Stuart

entenderia o que aconteceu e não se culparia. Estava se preparando

para esse momento desde que Stuart tinha ido.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


485
Edie respirou fundo, apertou as mãos e as levou aos lábios,

pronta para dizer as palavras que estava procurando há dias, as

palavras que poderiam explicar o que aconteceu naquele dia no

armazém das plumas.

— Você se lembra quando jogamos xadrez e você me disse que

se eu falasse sobre ele, eu deveria olhar você nos olhos para que eu

pudesse reconhecer a diferença?

— Sim, me lembro. Quando penso nisso, estou ciente de que não

podia esperar que me visse de forma diferente, mas, naquele

momento, fiquei muito bravo com você por acreditar que ele e eu

éramos iguais.

— Eu sei que você estava com raiva. Mas fiquei feliz que tenha

dito isso porque, toda vez que estávamos juntos e eu olhava em seus

olhos, lembrei-me do que você me disse e isso me ajudou a não ter

medo. Naquela tarde, no armazém das penas, tudo foi... — Sua voz

quebrou e ela teve que parar por um segundo antes de continuar. —

Quando você... quando você estava em cima de mim, isso... isso me

lembrou o que aconteceu. Porque eu não podia ver seu rosto.

A dor atravessou o rosto de Stuart. O coração de Edie estava

dilacerado, odiava fazê-lo sofrer, mas não podia parar naquele

momento, ou não teria coragem de dizer tudo. Sabia que Stuart

entenderia, e então eles não teriam que falar novamente sobre isso.

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— Ele me empurrou sobre a mesa, puxou minha saia e puxou

minhas calças para baixo em mim. — Falou rapidamente, forçando as

palavras. — Pedi-lhe que parasse, não o fez. Ele colocou-se em cima

de mim e... fez isso. Tudo aconteceu muito rapidamente e fiquei

aterrorizada. Continuei pedindo que parasse, mas... — Balançou a

cabeça colocou a mão no rosto. — Ele enterrou o rosto contra meu

pescoço, então não pude vê-lo, ele não me olhou em nenhum

momento. Ele não olhou para mim até que se levantou. E quando ele

finalmente fez, ele apenas sorriu. Ele me desonrou, abotoou as calças

e sorriu. Ele me disse que teríamos que voltar a fazê-lo outro dia.

Nem se quer baixou meu vestido antes de sair.

Viu Stuart colocar o punho na boca dele. Sabia que ele fazia esse

gesto quando estava dominado pela emoção e estava tentando contê-

la. Sabia que ele sofria, que ele sofria por ela, e se apressou a dizer:

— Mas nada disso importa mais. É só...

— Importa, Edie, — ele disse, abaixando o punho. — Por Deus, é

claro que importa! E ele pagará pelo o que fez com você.

— O que eu queria explicar é que, quando estávamos no

armazém de plumas, quando... quando você ficou encima de mim,

comecei a entrar em pânico, mas eu ainda podia olhar você no rosto,

então... então tudo estava bem. Mas, de repente, você enterrou o rosto

em meu pescoço. — Parou piscou, fazendo um esforço para conter as

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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lágrimas. — Eu não podia olhar para você. Eu não podia te olhar nos

olhos. Eu não podia... distinguir a diferença.

— Eu entendo. — Ele respirou fundo e assentiu. — Sim, entendo.

— Eu queria te dizer naquele momento, eu queria te dizer o que

aconteceu, mas eu estava chorando. Eu queria explicar isso para você,

mas não pude Stuart. Eu não pude te dizer.

Um soluço veio do fundo do peito, com aquele soluço, a

compostura que tinha sido tão difícil de manter desabou. O nó tenso

e apertado do medo, vergonha e raiva desfez-se completamente e

Edie começou a chorar.

— Eu nunca disse a ninguém.

Stuart imediatamente abraçou-a e segurou-a firmemente contra

ele enquanto as lágrimas se derrubaram, lágrimas que Edie tentou

suprimir por seis anos, lágrimas que começaram a brotar desde a

tarde do armazém de penas, lágrimas que também o haviam feito

sofrer. Mas não podia contê-las. Elas saíram de seus olhos e

encharcaram o tecido branco da camisa de Stuart e o colete de pique

enquanto ele acariciava seus cabelos e pronunciava seu nome uma e

outra vez, e os pedaços desse nó rígido e tenso que se aninhava

dentro dela se afastaram até desaparecer.

Finalmente, conseguiu levantar a cabeça e dar um passo para

trás. Ela fungou e aceitou o lenço que Stuart lhe ofereceu.

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488
— Eu jurei que não ia chorar, — ela disse enquanto enxugava o

rosto. — Eu sei que você partiu para Londres flagelado pelo o que

aconteceu entre nós, mas eu precisava de tempo para... me recuperar.

Eu sabia que tinha que lhe explicar isso, mas não queria chorar ao

fazê-lo porque isso tornaria ainda mais difícil para você e não queria

que se sentisse pior...

Stuart pegou o rosto dela entre as mãos.

— Nunca se preocupe comigo, — lhe pediu com firmeza. —

Nunca precisará me dizer o que aconteceu, ou me falar sobre isso. Eu

vou suportar. Se você precisar ficar sozinha, fale-me. Chore até que

você não tenha mais lágrimas, quando você tiver vontade, me acerte

com os punhos e maldiga meu nome, jogue pratos contra a parede

ou... Inferno! Atire na minha cabeça. Mas, seja lá o que fizer, não se

preocupe em qualquer momento se você vai me fazer sofrer ou não,

entendeu? E se acontecer novamente, o que aconteceu no armazém

das penas, se você sentir pânico novamente quando estivermos

fazendo amor, me agarre pelos cabelos, arranque fora da minha

cabeça e grite: Stuart, olhe para mim! Stuart,maldito seja!

Da garganta de Edie veio um som no meio entre uma risada e

um soluço. Esse discurso era tão absurdo e sua firmeza tão

comovente que não pôde evitar.

— Vou tentar, eu prometo.

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— E se alguma coisa a fizer ter medo ou fazer você se lembrar

dele, toda vez que você pensar sobre algo relacionado a isso, tem que

me dizer.

Edie pensou nisso um momento.

— Nunca, nunca, use água de colônia.

— Certo! — Ele fez uma careta. — Não usarei. E por isso não

precisa se preocupar.

— Graças a Deus. — Eddie pegou o lenço novamente para

limpar o rosto. — Meu Deus, dez dias inteiros para recuperar a calma

e, no final, não ajudou, certo?

— Mas o que você está sentindo agora, querida? — Ele estendeu

a mão para deslizar pela face dela, acariciando suas sardas. — O que

está sentindo?

Edie considerou a resposta.

— Alívio, — ela finalmente disse, colocando a mão no peito dele.

— Meu Deus! Que alivio!

Isso agradou Stuart, porque as rugas que rodeavam seus olhos

estavam insinuando um sorriso.

— Bom.

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— Devo estar com um rosto horrível, é uma pena, porque tenho

uma surpresa pronta para o seu retorno.

— Uma surpresa?

— Sim. E eu venho preparando isso por dias, então agora você

terá que ir e me deixar retoucar meu rosto. — Dobrou o lenço e

colocou-o na mesa. — É melhor nos trocarmos para o jantar, de

acordo? Então eu quero que nos encontremos no pé da escada.

— Que tipo de surpresa é?

— Eu não vou te contar. — Ela o virou e começou a empurrá-lo

para a porta. — Você terá que esperar.

Uma hora depois, depois de algumas compressas embebidas em

chá frio preparado por Reeves, o rosto de Edie praticamente

recuperou sua aparência normal. O inchaço desapareceu, seus olhos

não estavam mais irritados, e o pó escondeu os vestígios deixados

pelo choro. Usando um vestido de seda azul, com os cabelos

encaracolados e elegantemente reunidos no topo da cabeça, com

alguns cachos ao redor de seu rosto, mesmo Edie sentiu que podia ser

atraente.

— Reeves, você é incrível. — Surpreendida, ela fixou seu olhar

no espelho. — Obrigada!

A donzela sorriu e olhou nos olhos de Edie através do espelho.

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— O incrível é que no final me tenha colocado pó no rosto e um

pouco de cor nos lábios.

— Mas não concordo em colocar enchimento no meu peito. Eu

não preciso disso. — Parou e acariciou a seda. — Pelo menos, foi o

que me disseram.

Edie riu e a donzela riu com ela. Ambas riram como duas jovens

antes do baile.

Reeves ajustou a manga de renda bufante na altura dos ombros.

— Eu gosto de vê-la feliz, Sua Excelência.

— Estou feliz, — confirmou Edie, percebendo o quão verdadeiro

era. —Embora uma hora atrás, ninguém teria imaginado. — Ela

sorriu. — Confesso, Reeves, gosto de ser a mulher fascinante que o

duque olha do outro lado da mesa.

A donzela sorriu, lembrando a conversa que tiveram sobre isso.

— É um bom homem, Excelência.

— Sim, — respondeu com entusiasmo. — Um homem muito

bom. Falando sobre ele, é melhor eu sair ou não terei tempo para lhe

dar o presente antes do jantar.

Afastou-se do espelho e começou a sair da sala, mas parou na

porta.

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492
— Reeves?

— Sim, Excelência?

— Tire a noite de folga. Não vou precisar de você até amanhã de

manhã. E fique com Snuffles no seu quarto esta noite.

E, sem mais, saiu da sala desceu para encontrar Stuart. Quando o

viu esperando no pé da escada, da qual ele se virou e a viu naquele

vestido azul, sua expressão a fez se alegrar imensamente com a

direção que sua vida havia tomado.

— Eu comprei algo enquanto você estava fora, — disse enquanto

se juntava a ele. — Estava morrendo de vontade de mostrar a você. —

Ela agarrou sua mão. — Vem comigo.

Ela o conduziu pelo corredor, após a biblioteca. Stuart não disse

nada, mas quando passaram pela sala de música e a sala de bilhar,

sabia que só havia um destino possível.

— O salão de baile? Edie, por que viemos aqui?

— Você já vai ver, — disse Edie enquanto abria as portas. —

Vamos lá.

Stuart a seguiu até o resplandecente salão ducal, decorado em

branco e dourado, mas após pôr o pé no salão parou assombrado,

vendo o presente que Edie tinha comprado para ele.

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— A caixa de música da Senhora Mullins?

— Sim, comprei. Agora, fique onde você está. — Ela se

aproximou do instrumento, que descansava na mesa correspondente

contra a parede e pressionou o botão. Um segundo depois, os acordes

de Vozes da Primavera começaram a ressonar na sala.

Edie virou, aproximou-se dele e parou, era a mesma distância

entre eles como na primeira vez em que eles se viram em Hanford

House e, quando Stuart sorriu e inclinou ligeiramente a cabeça,

lançou aquele olhar interrogativo para Edie. Sua respiração parou na

garganta.

— Há uma segunda chances, Stuart, — disse ela. — E esta é uma

delas. — Ela interrompeu-se com expectativa. — Estou aqui, a

orquestra está tocando uma peça de Strauss. Venha dançar comigo.

— O que? Aqui? Agora? — Uma sombra do que poderia ser

pânico atravessou seu rosto. — Edie, eu disse, não posso dançar.

— Agora você não pode dançar a valsa, eu sei. Mas desde que

eu não seria capaz de dançar, mesmo que não tivesse esse fato em

minha vida, não importa. Você não precisa dar a volta comigo ao

redor da sala. Mas você pode se mexer com a música e me segurar

em seus braços, certo?

Stuart abriu a boca e fechou-a novamente. Seus olhos cintilaram,

ele piscou algumas vezes e demorou alguns segundos para falar.

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494
— Sim, acho que posso, — disse ele finalmente.

Stuart se aproximou dela, não com o porte atlético e a elegância

de um leopardo, como no salão de baile de Hanford House, mas

como um dos animais feridos de Edie. Seu marido. Seu amante Seu

melhor amigo.

Stuart parou na frente dela e estendeu a mão.

— Você me concede essa dança?

— É claro, — disse Edie com igual gravidade, e eles caminharam

juntos para o centro da sala.

Quando Stuart pegou a mão direita e colocou a esquerda em sua

cintura. Edie colocou a mão livre em seu ombro, como ela se lembrou

de fazer em experiências de dança anteriores.

Mas todas as semelhanças terminaram. Seu parceiro era mais

alto do que ela, não a empurrou, nem a impeliu, nem tentou controlar

seus movimentos. Era ela, não ele, que se movia lentamente,

desajeitadamente, evitando pisar nele. Era difícil para ele e doloroso,

tanto fisicamente como, provavelmente, em um nível emocional, Edie

parou depois de alguns passos, porque era suficiente para o que

queria mostrar.

— Eu acho que vamos precisar de mais prática, — disse ela.

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— Sim, — ele murmurou, ainda encarando seus pés e olhando

terrivelmente consciente.

— Não importa, Stuart. Nós temos uma vida inteira para

aprender como fazer isso certo, não é?

Stuart olhou para cima. Aqueles belos olhos cinzentos

penetraram no coração de Edie, parecia estar vendo o fundo de sua

alma.

— Se for verdade.

— Eu amo você, — disse Edie, e beijou-o na boca. — Eu acho que

te amei desde a primeira vez que te vi. Mas eu estava com muito

medo de me permitir sentir isso.

— Eu acho que eu senti o mesmo. — Ele ergueu a mão de sua

cintura até a nuca e puxou-a para perto dele.

Edie manteve os olhos abertos, apenas o suficiente para poder

vê-lo de perto para que pudesse ver como aqueles cílios grossos e

escuros fecharem. Depois, fechou os olhos, inalando a essência de

sândalo do salão. Stuart roçou os lábios nos dela e ela provou o sabor

de sua boca.

”Stuart”, pensou, “meu amor”.

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496
Ela se agarrou a ele e, quando ele se sentiu duro e excitado

contra ela, se encantou com aquela sensação. Amava Stuart, amava o

homem que era e tudo o que significava.

Depois de alguns segundos, recuou.

— Stuart?

Stuart estendeu a mão para acariciar seu cabelo.

— Sim?

— Naquela coisa fazendo amor...

Stuart parou a mão em seu cabelo.

— Sim?

Edie mordeu o lábio quando pensou na melhor maneira de dizer

o que queria.

— Quando estamos falando de praticar, eu só quero avisá-lo de

que, no que diz respeito à arte amorosa, temo que seja algo como

dançar comigo ou... aprender a patinar no gelo.

Stuart riu, acariciando seu rosto com a respiração.

— Vou precisar de prática, Stuart. Muita prática

— É isso que você quer? — Stuart perguntou, com aquele olhar

terno e escuro que Edie adorava.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


497
— Sim, — ficou em silêncio por alguns segundos. — Stuart?

— Sim, Edie?

— Eu gostaria de praticar agora.

O rosto de Stuart, atraente o suficiente para quebrar o coração de

qualquer mulher, retorceu ligeiramente para brilhar depois de

alegria. Parecia feliz, tão feliz, de fato, que o coração de Edie cantou

de alegria.

— Se tem certeza...

— Tenho certeza. — Com os dedos ainda entrelaçados, Edie

virou-se com ele em direção à porta.

— Você pretende continuar segurando as rédeas? — Stuart

perguntou enquanto Edie o puxava para o outro lado da sala.

— Sempre que possível, — disse ela, fazendo-o rir.

Pararam na porta para que Stuart pudesse recuperar a bengala e

depois subiram ao quarto de Edie juntos. Uma vez dentro, Edie virou

a chave trancando a porta.

— Eu dei a Reeves a noite de folga, — ela anunciou, sua voz

tremendo um pouco, ma mantendo o olhar firmemente sobre ele. —

Contando com o fato de que você tem prática suficiente para me

despir.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


498
Stuart balançou a cabeça, rindo um pouco quando Edie

caminhou em sua direção.

— E aqui você me vê, desejando quase ter chegado virgem a este

momento.

Isso surpreendeu a Edie.

— Por que você desejava algo assim?

— Em outro momento da minha vida, fiquei muito orgulhoso

por ter estado com tantas mulheres, orgulhoso em vão. E, no entanto,

agora me surpreendo, porque nenhuma dessas mulheres jamais

significou para mim o que você significa. — Ele olhou para cima. —

Eu amo você com cada parte da minha alma.

O júbilo penetrou o coração de Edie. Foi uma pontada de alegria

tão doce que ela levou alguns segundos para responder.

— Mas, se você fosse virgem, — ela disse finalmente — Tenho

medo de que nunca chegássemos tão longe. Preciso que você seja

exatamente o homem que você é. Preciso que você me lembre todos

os dias de que sou uma mulher atraente e apaixonada, com sardas

douradas e pernas maravilhosas. Preciso que você me toque, me

acaricie e me converta em uma benção. Preciso que você faça amor

comigo e me proporcione esse doce prazer.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


499
Stuart riu novamente, com tanta alegria que Edie se sentiu um

pouco incomodada.

— Do que está rindo?

— E agora quem está mostrando-se ardente? — mas ele ficou

sério quase que imediatamente. — Posso fazer tudo o que você

precisa, — prometeu, e colocou as mãos nos ombros dela. — Vire-se

Quando Edie virou, começou a desabotoar os botões da parte de

trás do vestido. Foi um processo lento, porque os botões estavam

forrados de tecido, e Stuart sentiu que demorou em alcançar a

cintura. Mas, no final, conseguiu tirar-lhe o vestido de noite,

deslizando-o sobre seus ombros e deslizando-o pelo quadril. O

vestido caiu no chão, se transformando em uma poça de seda azul, e

quando Edie saiu da poça, deixando o vestido no chão, Stuart usou o

pé para tirá-lo do caminho.

Então ele lhe tirou o corpete, colocou-o de lado e começou a

trabalhar nos laços do espartilho. Não hesitou nem uma vez durante

este intrincado processo, o que fez Edie pensar no número de

mulheres que ele teria despido. Mas, como acabara de dizer a Stuart,

não se lamentava dessas experiências dele no passado. Embora nas

semanas anteriores houvesse descoberto uma veia de inveja que ela

nem sabia que possuía, enquanto Stuart a despia, só sentia desejo.

Um desejo que se aprofundava com cada peça de roupas que Stuart

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


500
tão habilmente retirava e descartava, quando chegou à última peça,

ela estava tão excitada que mal podia respirar.

Stuart virou-a e se abaixou em frente a ela. Tirou-lhe até os

sapatos de noite. Depois, as palmas quentes de suas mãos subiram

através dos tornozelos até os joelhos de Edie. Quando deslizou as

mãos dentro da calçinha para remover as ligas que seguravam as

meias, roçou a ponta do dedo na abertura dela, fazendo-a se

contorcer.

Edie riu calmamente enquanto ele desamarrava os laços das ligas

e puxava as meias para baixo.

— Você tem cócegas, querida. Estou feliz por ter um elemento

útil para negociar com você.

— Mas... — Edie interrompeu-se, tentando não gritar enquanto

Stuart deslizava os dedos sob a bainha da calcinha para acariciar a

parte traseira das coxas. — Mas com o que pretende negociar?

— Um... há várias possibilidades. — Stuart fez uma pausa para

pensar sobre isso enquanto continuava deslizando os dedos para

cima e para baixo na pele nua de Edie, logo abaixo da bunda.

A sensação era tão requintada que os joelhos de Edie

enfraqueceram, ela ofegou e teve que descansar as mãos nos ombros

de Stuart para não cair no chão.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


501
Stuart parou.

— Você gosta?

— Sim, — foi uma admissão quase sussurrada.

Stuart puxou as mãos e as levou até a cintura da anágua. Soltou

os colchetes e a roupa caiu no quadril de Edie.

— E isto? — Ele perguntou, afundando a cabeça sob a bainha de

sua camisa interior para beijar a pele nua de seu estômago.

Edie gritou e estendeu as mãos nos ombros.

— Stuart, — ela gemeu suavemente, contorcendo-se contra


Stuart enquanto ele lambia-lhe ligeiramente o umbigo. — Oh oh! —
Edie ofegou. — Não estou aguentando mais.

Stuart surgiu debaixo da camisa e levantou-se.

— Algum dia, — respondeu Stuart, inclinando a cabeça para

aproximar-se dela, — eu vou ter que mostrar-lhe o quão agradável

podem ser as cócegas.

Stuart a beijou antes que ela pudesse dizer que não havia prazer

em fazer cócegas. O beijo foi um desses beijos apaixonados,

profundos e cheios de vontade que Edie estava começando a adorar,

mas quando Stuart pegou a bainha de sua camisa e começou a

levantá-la para retirá-la, ela ficou com um súbito ataque de timidez.

A idéia de revelar a Stuart um dos traços mais decepcionantes de seu

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


502
corpo fez com que seu desejo inibisse e afastou sua boca da boca de

Stuart.

— Espere.

Stuart parou.

— Que foi?

Edie não quis explicar isso a ele. Ela queria recuperar o desejo

que a impulsionara até então. Estendeu a mão para deslizar sobre a

jaqueta preta de Stuart e sobre seus ombros.

— Acho que agora tenho que te despir.

Isso o fez sorrir.

— Vejo que você quer pegar as rédeas novamente.

— Sim, — disse Edie, e tirou-lhe a jaqueta. — Eu gosto de

dominar a situação.

— Sim, eu também gosto que seja você quem tome as rédeas. —

Ele alargou o sorriso. — Sempre e quando você não me faça ir ao chá

com o vigário.

Edie riu quando se lembrou daquele dia.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


503
— Não vou fazer isso novamente, — prometeu enquanto puxava

o nó da gravata de seda. — Te aprecio muito para submeter-lhe a esse

tipo de tortura.

— Bem, eu aprecio isso, — murmurou Stuart quando Edie tirou

o broche do pescoço.

Como não era fácil para ela, Stuart mostrou-lhe como removê-lo,

e também para desatar os fechos da camisa e as abotoaduras. Então

ela tirou-lhe os sapatos e, enquanto Edie se virou para deixar broches

e abotoaduras em um pequeno prato na cômoda, ele tirou a camisa e

atirou-a. Edie voltou-se para ele quando Stuart tirava a camisa de

baixo. A visão de seu corpo nu a fez conter a respiração.

A pele de Stuart, bronzeada pelo sol africano, brilhava como

bronze. Seu tórax era uma parede de fibras e músculos esculpidos e

sua força era evidente. O coração de Edie começou a bater forte

contra suas costelas. Mas não houve pancadas causadas pelo pânico.

Ela sentiu apenas desejo enquanto passava o olhar sobre os bicos

escuros de seus mamilos, na rigidez de seu estômago e no formato de

seu umbigo.

Colocou as mãos em seu peito e as deslizou enquanto apreciava

o poder e a força daquele corpo. Quando alcançou o cinto de suas

calças, sentiu a dureza de sua excitação e não evocou qualquer

sentimento de medo, mas sim um desejo mais profundo e uma

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


504
necessidade de satisfação. Mas, antes que ela pudesse começar a

baixar-lhe as calças pelos quadris, Stuart a deteve.

— Agora é a minha vez. Ele colocou as mãos de volta na bainha

de sua camisa, mas Edie resistiu mais uma vez.

— O que há de errado com você, Edie?

— Nada. É só que... — Ela parou e desviou o olhar com a face

violentamente corada, embora soubesse que não havia nenhum

motivo para ficar envergonhada naquele momento. — Acho que

estou um pouco inibida.

— Ainda assim? Mas porque? — Como não respondeu, ele a

beijou. — Diga-me.

Edie virou o rosto antes de falar.

— Meus peitos são muito pequenos.

— Você acha? — Stuart fez um som de descrença. — Não

acredito. Mostre--os, deixe-me vê-los.

— Eles são muito pequenos para poder vê-los, — murmurou

quando Stuart começou a puxar a camisa. — Mesmo eu não consigo

vê-los.

Stuart riu o que fez Edie se sentir ainda pior. Mas estendeu os

braços para cima e permitiu que ele puxasse sua camisa sobre sua

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


505
cabeça. Stuart jogou a roupa no chão, agarrou Edie pelos pulsos e

abriu os braços antes que ela pudesse se cobrir com eles. Edie apertou

os olhos com força. O desejo foi ameaçado pelo despertar de uma

terrível sensação de insuficiência.

Tinha a sensação de que se passou uma eternidade até que Stuart

falasse.

— Edie, tenho medo que tenha um problema de vista, — ele

disse finalmente, fazendo com que ela abrisse os olhos e olhasse para

ele. — Eu vejo seus seios perfeitamente. — Ele soltou seus pulsos. —

E você quer que eu diga o que penso?

Sorriu tão ternamente que Edie temia que voltasse a chorar.

— Como você aparentemente não pode vê-los, — Stuart

continuou, — eu acho que deveria descrevê-los para você.

Ergueu as mãos para acariciá-la.

— Eles são pequenos, sim e redondos, e perfeitamente

moldados. — quase não tocou os mamilos com a ponta dos dedos e

continuou descendo. —Eles também são muito bonitos, brancos

cremosos, polvilhados com sardas douradas em todos os lugares e

com mamilos rosados maravilhosos.

Edie observou seu rosto enquanto ele acariciava seus seios e os

descrevia e experimentava uma sensação de espanto absoluto. Nunca

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


506
na sua vida se sentira realmente bonita, mas, naquele momento,

sentiu-se assim. A alegria aumentou dentro dela, uma alegria tão

poderosa e tão brilhante que explodiu em seu peito como se estivesse

engolido uma caixa de fogos de artifício.

— Seus peitos são perfeitos, Edie. — Ele acariciou os bicos

delicadamente com as pontas dos dedos, espalhando o calor por todo

o corpo. — Delicados e perfeitos, e estou ansioso para beijar, chupar e

brincar com eles por horas. — Enquanto falava, um certo tremor em

sua voz começou a filtrar. — Mas tenho medo de não dar tempo. Não

tenho certeza do quanto eu aguento antes de perder o controle.

Ele tirou as mãos dos seios, agarrou Edie pela mão e levou-a

para a cama, onde a convidou para deitar-se.

Ele começou a desabotoar a calça, mas Edie o deteve.

— Espere, — ela disse, e se levantou. — Eu deveria fazer isso.

— Ah sim? — Ele começou a desfazer os botões mais uma vez,

mas Edie agarrou-o pelos pulsos.

— Sim, — advertiu a sua surpreendente resistência. — Penso que

agora é minha vez de lhe perguntar o que há de errado com você, —

sussurrou. — Você não quer que eu te dispa?

— Eu adoraria, mas... — Ele parou e moveu o peso em um pé à

outro. — Mas primeiro devo avisá-la... — Parou novamente e, nessa

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


507
ocasião, limpou a garganta antes de tentar novamente. — É só que a

perna não está no seu melhor estado, você sabe? Não tenha medo

quando você a ver.

Então, Edie sabia que se, a qualquer momento, sentisse vergonha

no futuro, tudo o que tinha que fazer era lembrar aquele momento,

porque nunca amou Stuart mais do que o amou naquele momento.

— Eu deixei você olhar, — sussurrou. — Você se lembra?

— Muito bem, — disse Stuart, deixando deslizar sua calça pelo

quadril. — Depois não diga que não avisei.

Edie olhou para baixo. Stuart estava completamente excitado,

mas, enquanto olhava o membro, Edie sentiu apenas uma ternura

profunda e apaixonada. Continuou a olhar para a cicatriz que

cruzava a coxa direita e olhou aquelas linhas brancas quando pensou

sobre a dor que Stuart devia suportar. Uma dor que, naquele

momento, ela também sentia.

Estendeu a mão para acariciar sua perna, deslizando levemente

os dedos pela cicatriz e sentindo um estremecimento atravessar o

corpo de Stuart.

— Eu amo você, — disse ela, e ouviu que ele soltava a respiração

com um suspiro de alívio. Ela colocou os lábios em uma das serradas

cicatrizes brancas dentadas. — Eu amo você, — repetiu.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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Stuart gemeu em resposta, mergulhou a mão em seus cabelos e

inclinou a cabeça para trás.

— Bom Deus, Edie, não continue! Não sei por quanto tempo eu

poderei suportar isso.

— E por que você vai ter que aguentar? — Ela perguntou,

deitando na cama e empurrando ele junto com ela.

Stuart deitou-se ao lado dela, apoiado em um dos cotovelos.

— Porque eu tenho coisas importantes para fazer antes, — disse

ele, estendendo a mão livre para tocá-la.

Ele roçou seus seios com a ponta dos dedos, desceu até as

costelas, a barriga e continuou.

Quando ele alcançou os cachos que cobriam o núcleo em que se

uniam as coxas, ele parou e olhou para cima para que pudesse olhar

nos olhos de Edie enquanto enfiava o dedo em suas dobras. Seus

olhos se fundiram enquanto a acariciava repetidas vezes, com ternura

e firmeza, até que a respiração de Edie se tornou uma sucessão de

suspiros então começou a se mover freneticamente contra ele

enquanto murmurava seu nome. E então, Edie chegou ao clímax.

Jogou a cabeça para trás e gritou o nome de Stuart quando o calor

fluiu em seu interior, onda após onda, até que ela acabou caída e

ofegante contra os travesseiros.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


509
Stuart inclinou-se para beijá-la.

— Eu quero estar dentro de você, — ele disse, acariciando-a. —

Você também deseja? Meu Deus, me diga sim.

— Sim. — Edie assentiu para dar mais ênfase à sua resposta. —

Sim

— Então, coloque-se encima de mim. — Mostrou-lhe como fazer

enquanto ela sentava-se sobre ele e deslizava o membro duro de

Stuart para dentro de seu corpo.

Stuart sentiu-se inchado e cheio dentro dela, e abrasadoramente

excitado.

Para Edie, a sensação de estar por cima dele era gloriosa, gemeu

com prazer enquanto flexionava seus quadris.

Stuart também gemeu, levantando os quadris em resposta e

exortando-a a continuar. Compreendendo o que Stuart queria, Edie

começou a se mover, subindo e descendo sobre seu corpo,

tencionando os músculos internos uma e outra vez, usando seu corpo

para acariciá-lo.

— Sim, Edie, — Stuart gemeu, movendo-se contra ela uma e


outra vez. — Oh meu Deus, sim! Sim! Sim!

Edie movia-se a seu ritmo, deleitando-se com o poder de agradá-

lo e observando seu rosto em todo o momento. Quando chegou ao

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


510
orgasmo, ela se alegrou com esse clímax e, quando Stuart empurrou

duramente pela última vez, ela o seguiu até o topo e jogou-se no

precipício do prazer. Então deitou-se ao lado dele, envolveu-o na

brancura dos lençóis e sussurrou o nome de Stuart em um suspiro

fraco que continha tudo o que sentia, todo seu amor por ele. —

Agora nós fizemos isso, — Stuart anunciou enquanto ficavam lado a

lado na cama, com as mãos cruzadas e os olhos fixados no teto. — Eu

não vou mais precisar pegar as rédeas.

— Sim, é claro que você vai. — Colocou-se de lado para que

pudesse olhar nos olhos dele e sorriu, — mas apenas algumas vezes.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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Epílogo

Highclyffe, onze meses depois ...

— Por que você sempre tem que roubar do meu prato? — Edie

rosnou quando Stuart pegou outra fatia de bacon da bandeja do café

da manhã.

— Porque eu estou sempre na sua cama quando Reeves traz-lhe

café da manhã, essa é a razão — sorriu sem o menor sinal de

arrependimento e colocou a fatia na boca.

Edie bufou.

— Você poderia pedir uma bandeja para você. — Apontou para

o exemplar do Daily Sketch, que, como de costume, tinha sido levado

junto com a bandeja.

— Eu poderia, mas assim é muito mais divertido.

Stuart inclinou-se e começou a beijá-la, mas Edie não se deixou

enganar e, embora permitisse que ele a beijasse, deu-lhe um tapinha

na mão para evitar que roubasse o bacon.

— Suponho que vou ter que pedir mais uma bandeja, já que você

é uma, mesquinha, — lamentou-se quando Edie abriu o jornal.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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Ele virou-se e estendeu a mão com a intenção de tocar o sino

para chamar Reeves, mas a voz de Edie o parou antes que ele

pudesse puxar a corda.

— Oh, meu Deus!

Stuart deixou cair à mão diante da surpreendente brusquidão de

sua voz e virou-se para olhar para ela.

— O que há de errado?

Edie desviou o olhar do jornal e virou a cabeça para olhar para

ele com seus lindos olhos verde arregalado pelo impacto.

— Frederick Van Hausen está morto.

Stuart levantou uma sobrancelha. Não era uma notícia

inesperada.

— Verdade?

Edie assentiu e voltou a olhar para o jornal.

— Há quatro dias atrás ele se matou com um tiro.

— Um suicídio? — Stuart pensou sobre isso.

Deveria ter imaginado que algo estava prestes a acontecer. O

último telegrama que Jack lhe enviou de Nova York havia deixado

claro.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


513
”PEIXE NA REDE STOP EXPOSIÇÃO IMINENTENTE STOP”

Mas um suicídio? Não esperava. Humilhação, sim. A ruína,

provavelmente. Mas suicídio? Não, não esperava.

— Eles o encontraram em algum tipo de esquema, — explicou

Edie depois de um momento.

— Verdade? — Stuart tentou impressionar a voz com uma

quantidade convincente de surpresa na informação adicional. — É

espantoso.

— Sim, ele convenceu seus amigos, seus sócios e alguns

investidores britânicos a investir dinheiro em uma empresa que ele

estava montando, —continuou ela, os olhos fixos nas páginas de

escândalos enquanto falava, — mas acabou que era uma farsa. Ele

estava prestes a desencadear um escândalo que tornaria sua ruína.

Teria acabado indo para a prisão.

— E decidiu atirar-se antes de enfrentar eles. — Stuart sorriu.

Essa era a cereja perfeita pro bolo.

— Obviamente. Ele tinha ouvido falar de minas de ouro e

formou uma equipe de pesquisa para explorá-las, mas no final

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


514
descobriu-se que não havia ouro nas minas. Acho que ele sabia disso

desde o início, mas... — Ela parou e olhou para cima, o rosto adorável

de sardas mostrava o que ela tinha acabado de perceber. — As minas

ficavam na África Oriental. Stuart, você teve alguma coisa a ver com

isso?

— Bem... — ele interrompeu-se, pensando em como responder.

— Digamos que coloquei as pessoas certas no lugar certo para serem

levadas exatamente onde elas queriam ir, você entende?

Edie balançou a cabeça com evidente perplexidade.

— O que você quer dizer? Que pessoas você colocou?

— Uns amigos. Lord Trubridge, Lord Featherstone, Lord

Somerton e Lord Hayward foram os investidores britânicos que ele

enganou. A ajuda que seu pai nos deu em Nova York foi inestimável.

— Meu pai? Você colocou meu pai nisso?

— Claro. Ele não sabe o que Van Hausen fez com você, —

esclareceu Stuart imediatamente. — Mas quando, há onze meses,

perguntei se ele queria se vingar daquele canalha por arruinar sua

reputação, ele concordou feliz.

— Você começou a organizar tudo isso há 11 meses atrás?

— Sim, comecei. E demorou todo esse tempo para que as peças

se encaixassem em seus lugares. — Ele segurou seu olhar por cima do

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


515
jornal. — Eu lhe disse, Edie, eu disse-lhe que faria ele pagar pelo que

ele tinha feito com você. E agora ele pagou, e um preço mais alto do

que eu teria ousado sonhar.

Edie baixou o jornal e olhou para ele, como se não fosse capaz de

entendê-lo.

— Me pergunto se meu pai sabe que Frederick morreu.

— Considerando que agora está navegando com sua amante

pelas Ilhas Gregas, eu duvido seriamente.

— Mas meu pai ajudou você com tudo isso?

— Ele se juntou assim que ele teve uma chance. Sempre quis

fazer algo assim. De fato, toda a estratégia de investimento foi ideia

sua porque sabia que Van Hausen era um homem desonesto, mas

não conseguiu cumprir seu plano porque, apesar de ter uma filha

Duquesa, nunca poderia ter o nível de influência exigido pela

aristocracia americana para realizá-la. Foi aí que vieram os títulos dos

meus amigos britânicos. Lady Astor e seu grupo praticamente

salivaram quando meus amigos foram para Nova York. Entendi que

Jack lisonjeou-a descaradamente.

— Algo que, sem dúvida, — Lady Astor apreciou, disse Edie. —

Não há nada que goste mais do que ser adulada.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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— Foi ela quem apresentou Van Hausen aos meus amigos, além

de outros de seus conhecidos. O resto é história.

— Mas Frederick deveria ter investigado seus amigos. Quando

ele descobriu que eles o conheciam, por que ele não suspeitou que

eles estavam tramando alguma coisa?

— Acho que foi insinuado que nos distanciamos. Como se o fato

de eu ter casado com uma mulher de uma posição inferior à minha

por dinheiro não fosse suficiente, eu tinha retornado da África e

queria ter descendentes com ela. Van Hausen acreditou em tudo que

era lixo sem sequer suspeitar e não se preocupou em perguntar mais

nada. E quando descobriu que meus supostamente velhos amigos

souberam que descobri minas de ouro na África e que eles queriam se

livrar de mim, ele praticamente se apressou, por assim dizer, a

formar uma empresa. — Stuart fez uma pausa por um momento e

continuou. — Eu acho que a ideia de me marcar um pouco somou ao

apelo de todo o assunto.

— Por que? Porque isso lhe permitiria reviver o prazer de

pisotear e esmagar um miserável como eu novamente?

— Algo assim, suponho, — respondeu Stuart delicadamente.

— Então você decidiu arruiná-lo.

— Nós lhe demos a oportunidade de evitar a armadilha. Um

relatório de um engenheiro demonstrou que não havia ouro

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


517
naquelas minas, então, se ele tivesse tido um mínimo de decência, ele

teria se retirado, devolvido o dinheiro aos investidores e teria

esquecido o assunto. Mas ele continuou, manteve o dinheiro e

investiu em outros negócios, com delicadas insinuações de meus

amigos para os seus, é claro, perdeu todo o dinheiro. Ele cometeu

uma fraude e foi quando descobrimos que o tínhamos pego.

Edie pensou nisso em silêncio.

— Mas você não sabia que ele iria se suicidar para não ir para a

prisão.

Stuart balançou a cabeça.

— Não, embora eu ache que também não foi nenhuma surpresa.

Esse homem era um covarde. Ele também era uma pessoa gananciosa

e egoísta que queria apenas ser importante. Ele sentiu que tinha

direito a coisas que não lhe pertenciam: dinheiro, sucesso — ele

olhou sua esposa nos olhos — e as mulheres.

Edie assentiu, mostrando seu acordo com uma expressão

pensativa.

— E seus amigos fizeram tudo isso por você?

— Sim. Eu não contei o que aconteceu com você — nem contou

a Edie que seus amigos provavelmente imaginavam isso, mas

continuou: — Eles não precisavam saber os detalhes para me prestar

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


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ajuda. Eles sabiam que este homem tinha arruinado sua reputação e

manchou sua honra e eles não precisavam ouvir nada mais. Eles são

homens educados em Eton. Honra significa muito para eles.

— A coisa de Saratoga aconteceu um ano antes de me casar com

você e, no entanto, eles ajudaram você a se vingar?

Stuart sorriu.

— Eles são muito bons amigos.

— Você acha que Frederick chegou a descobrir em algum

momento que você estava por trás de tudo isso?

— Eu duvido disso, mas isso não importa.

Edie pareceu surpresa com essa resposta.

— No final, você não gostaria que ele soubesse que era você?

Stuart encolheu os ombros.

— Por que? Eu não preciso de um inseto olhando para mim

antes de esmagá-lo com minhas botas.

Edie soltou um som sufocado, entre uma risada e um soluço.

— Você fez tudo isso por mim. Ah, Stuart!

— Querida.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


519
Tirou a bandeja do colo, colocou-a ao lado e abriu os braços.

Edie imediatamente se atirou neles, jogou o jornal e enterrou o

rosto em seu peito. Stuart sentiu seu tremor.

— Não posso acreditar nisso, — murmurou Edie. — Está morto.

Está morto!

— Sim. — Stuart acariciou suas costas e beijou seu cabelo. —

Nada está errado, Edie, acabou. — Não pode mais machucar você, e

tampouco pode machucar outras mulheres. Já não mais.

Edie ergueu o rosto com admiração.

— Há outras mulheres? Diga-me, — perguntou quando viu que

ele não estava dizendo nada.

— Havia outras duas mulheres, tenho certeza de que estuprou.

As duas antes de você. As circunstâncias eram semelhantes, mas seu

pai conseguiu silenciá-lo porque eram ambos criados. Seu pai deu-

lhes dinheiro e enviou-as para longe Mas... — Stuart hesitou um

momento. Ele não queria dizer a ela a verdade, mas havia prometido

que sempre lhe falaria a verdade quando perguntasse. — Mas um

homem assim não é susceptível de parar por nada, — disse com toda

a delicadeza de que era capaz.

— Nunca pensei que poderia haver outras. Eu sempre pensei

que eu tinha sido a única. Que ele tinha feito algo, ou havia algo em

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


520
mim que o tinha excitado. Que o que causou isso, foi concordar em

encontrá-lo sozinho, o fez criar expectativas ou encorajá-lo, ou...

— Não, querida, — ele interrompeu-a. — O que ele fez não teve

nada a ver com você. Você não teve culpa por nada.

— Mas você disse que provavelmente havia outras mulheres que

ele também atacou depois do que ele me fez? Oh, não, não! — Ela

gemeu. Ela parecia muito afetada. — Eu deveria ter sabido. Eu

deveria ter feito algo.

— Não, Edie, não. — Stuart enquadrou seu rosto com as mãos e

limpou com os polegares as lágrimas que começaram a rolar por sua

face. — Você não poderia fazer nada.

Ela poderia ter dito ao mundo o que ele tinha feito para que

outras mulheres fossem avisadas.

— E o que faz você pensar que teriam acreditado em você?

Considerando sua posição e a dele, quem teria acreditado em você?

Não, você não poderia apresentar nenhuma evidência. Se você tivesse

dado um passo adiante, declarando que ele a forçou, teria sofrido

mais humilhação e teria sido culpada mais do que ele. A sociedade

sempre considera as mulheres culpadas desse tipo de coisa,

especialmente porque conseguiu ir a essa casa abandonada depois

dele. E não tenho dúvidas de que foi ele quem organizou o encontro

deliberadamente.

Um Pacto Audaz – Laura Lee Guhrke


521
— Sim, foi ele, — ela concordou. — Foi sua ideia. Então disse

que eu tinha tentado pegá-lo.

— Veja? Já o tens. E, se você tivesse tentado dizer ao mundo o

que realmente aconteceu, eles teriam condenado você por sua falta de

discrição ao invés de pelo que ele havia feito. Quanto ao meu plano

de vingança, você não teria conseguido reunir um grupo de

investidores para afundar Van Hausen. Nem mesmo seu pai teve a

influência necessária para fazer algo assim por conta própria.

— Mas...

Stuart colocou o polegar nos lábios.

— Edie, ouça-me. Você não precisa se culpar. Você mesma

julgou, e corretamente, que a única coisa que você poderia fazer era

matá-lo e que se eles o pegassem, eles o pendurariam ou o

mandariam para a prisão e, como sempre, você deveria pensar em

Joanna. — E, mesmo que eles não tivessem descoberto você, você

poderia ter levado a culpa de um assassinato sobre sua alma? Não, —

ele balançou a cabeça. — Van Hausen era minha responsabilidade. O

único que eu gostaria era de tê-lo apagado, isso nunca teria

acontecido, mas isso era impossível.

— Mas você não pode desejar isso, — interrompeu Edie, sentada

na cama.

Stuart franziu a testa.

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— Claro que posso.

— Não, Stuart. — Ela balançou a cabeça. — Não me arrependo

do que aconteceu. — Na verdade, — acrescentou lentamente, como

se pensasse sobre isso, — se eu pudesse voltar o tempo e mudá-lo, eu

não faria.

— Que? — Stuart olhou para ela com espanto. Eles estavam

juntos há quase um ano e ainda havia muitas coisas sobre Edie que o

deixava completamente confuso. — Você não pode estar falando

sério.

— Claro que estou falando sério. Apesar de quão terrível era, se

não tivesse acontecido, nunca teria vindo para a Inglaterra e eu não

teria conhecido você.

Stuart balançou a cabeça.

— Talvez, mas ainda...

— Você se lembra que, nesse mesmo quarto, você disse que não

se importava de coxear o resto da vida porque, se essa leoa não o

tivesse atacado, você não voltaria para casa? — Ele sorriu e acariciou

seu rosto. — Bem, eu sinto o mesmo. Mesmo com as coisas ruins, algo

bom pode acontecer. Mesmo o mais sórdido e doloroso pode levar a

algo de bom.

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Stuart sentiu uma pressão no peito. Ele se viu de repente

paralisado, como se o destino o abraçasse para fazê-lo ver a beleza

que estava diante de seus olhos.

— Deus, como eu amo você!

— Eu também te amo. — Edie beijou-o e recostou-se contra os

travesseiros. — No entanto, apesar de tudo o que eu disse, não posso

deixar de estar feliz que Frederick Van Hausen esteja morto.

— No que nós concordamos.

Stuart inclinou-se para o lado e fechou os olhos. Imediatamente,

a imagem de Van Hausen veio a sua mente afundando o cano de uma

pistola na boca e dedicou um momento para saborear a doce

satisfação dessa imagem. Mas apenas um momento. Depois, ele

colocou essa questão de lado. Estava concluído, terminado e,

finalizado. Por fim tudo terminou bem. Era hora de esquecer.

— Stuart? — Eddie colocou a mão em seu peito, fazendo com

que ele abrisse os olhos. — Em que está pensando?

Stuart virou-se e olhou para a esposa, em sua camisola branca,

cercada de travesseiros de penas e seus cabelos brilhando como fogo

na luz da manhã.

— Estou pensando o quanto estou feliz por ter ido ao baile em

Hanford. Fiquei feliz que você tenha ido atrás de mim e me propôs

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casamento. Não estou tão feliz que você machucou meu orgulho,

mas...

— Oh, você precisava disso! — Edie interrompeu-o. — Você era

terrivelmente presunçoso.

Stuart pegou sua mão.

— Fico feliz que você goste que eu beije sua mão. — Fez uma

pausa para beijar a palma de sua mão e sentiu-a estremecer em

resposta, — e fico feliz por ter feito essa ridícula aposta dos dez dias

que me deu a oportunidade de conquistá-la

— Já passaram mais de dez dias, — respondeu Edie.

Puxou para trás o lençol que cobria o corpo de Stuart. Ergueu a

camisola e o empurrou.

— Trezentos e trinta e tantos dias se passaram, terminou.

— Sim, e vejo que você ainda está tentando pegar as rédeas. —

Ele se inclinou para a beijar, mas Edie o deteve.

— Você gostaria que fizesse isso com você? — Perguntou, com a

mão no peito. — Pegar as rédeas, quero dizer.

— Isso depende. — Ele tocou com um dos botões perolados na

camisola. — Eu acho que sim.

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Stuart sorriu e começou a desfazer os botões enquanto ele a

erguia e a colocava de costas. Uma vez desabotoada, puxou a

camisola e colocou-se suavemente sobre ela.

— Enquanto você lembrar a diferença em todos os momentos.

— Eu não preciso lembrar dela, Stuart, porque eu a conheço. —

Ele sorriu quando fechou os olhos e virou a cabeça para poder beijar

seu pescoço. — Eu reconheço isso nas profundezas da minha alma.

FIM

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