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Aula sobre os Guarani do Jaraguá com alunos indígenas do primeiro ano do curso de

Arquitetura e Urbanismo da Escola da Cidade.

Thiago - liderança indígena terra indígena Ivy Porã do Jaraguá.

Felipe - indígena responsável pela construção da casa de cultura Guarani em conjunto com
Escola da Cidade.

“Participei de uma discussão sobre Plano Diretor e não entendi nada. Depois disso fui procurar
os cursos de urbanismo e a Escola da Cidade me convidou, mas é muito difícil fazer o curso
sozinho porque tenho muitas experiências de perseguição, então o Felipe também veio
comigo.”

“Vim pra uma escola particular que não estão acostumados a discutir falta de água e casas que
pegam fogo do nada.”

“Eu não vim para mudar essas pessoas, vim buscar informação para mudar minha realidade e
do meu povo com proteção para nosso território.”

“É muito desgaste. Conversei com meus anciãos e recebi a orientação de não desistir e ser
exemplo, se os jovens de nossa aldeia forem para a faculdade e quiserem desistir eu não posso
orientar eles a desistir, disseram para eu usar essas aversões para me fortalecer.”

“Não quero mais só ter informações. Quero trocar, mostrar que arquitetura não é só prédio,
que é floresta, construção dos pássaros, é criação do nosso Deus. Mostrar que não existe só
um modo de vida. A cidade pode continuar crescendo e se desenvolvendo, mas temos que ter
consciência, saber sobre vazios urbanos, uso social da propriedade, agrofloresta.”

“Quem ta sendo formado? Qual o objetivo dessas formações? O que arquitetura significa para
os não indígenas? O que realmente significa? Eu sei, mas penso sobre isso vendo as pessoas
em situação de rua na porta da Escola da Cidade por exemplo.”

“O problema é que as matérias ainda são para formação dos europeus e não dos brasileiros.
Ou os brasileiros que ainda são muito europeus.”

“Eu estar aqui não é só importante para minha formação, mas porque é um local de discussão
que eu preciso estar para mostrar o lado indígena.”

“A cidade tem muita dor, tem um rio enterrado, um ar diferente. Pra mim é preferível usar
máscara mesmo que incomode do que respirar esse ar, e nem é pelo coronavírus.”

“Não existe parentesco igual o de vocês, uma criança da aldeia não é filho de ninguém, é
cuidada por todos, todos idosos são avós de todas as crianças.”

“A gente nunca trocou a terra por objetos porque a terra nunca foi e nem é nossa.”

“Quanto mais simples as construções menos impacto traz para a natureza e menos os espíritos
da natureza vão ficar bravos com a gente.”

“Nossa história é passada dentro da casa de reza com histórias, diálogos e discussão, por isso
não nos preocupávamos com a escrita e registros.”
“Não nos esquecemos de onde viemos, do porque da gente não querer construir prédios,
aterrar rios, a gente sabe porque resistimos até hoje, nossa ligação é espiritual.”

“Não caçamos mais, os poucos animais que restam a gente protege, mas a carne que
compramos no mercado sabemos que não tem energia boa, que veio do processo violento e
com muitos venenos.”

“Guaranis não podem casar com não indígenas dentro da aldeia pois estes impõem sua
cultura.”

“Papel dos mais jovens é fazer os mais velhos entenderem o não indígena para que possam se
proteger e resistir por isso aprendemos ler, escrever e falar português.”

“Eu venho com meu cajado pra cá e não solto nunca porque ele é para proteção, eu não posso
levar o que tem de ruim na cidade espiritualmente para minha aldeia.”

“A terra é como um corpo que tem espírito. E nós sabemos como curar o espírito com a
medicina da mata. Nós não nos curvamos diante de um Deus cristão. Deus pode ser qualquer
coisa, só nos preocupamos com que sele seja algo bom pra gente.”

“A demarcação do território indígena é direito constitucional, Bolsonaro não podia decidir que
não iria demarcar nenhuma terra indígena ou quilombola.”

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