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Bom dia Marcelo, prazer estar aqui com você, conhecendo onde você mora, né?

É assim, nós somos alunas da IFPA, Instituto Federal do Pará, e a gente está nessa
missão de fazer um trabalho da desvião antropologia.
A gente teria que fazer uma pesquisa com um representante da comunidade, um líder
da comunidade,
no caso um líder católico, um evangélico, uma pessoa da agricultura, um idoso mais
antigo da comunidade,
e a gente selecionou vocês, tá? E a gente está aqui hoje pra realizar esse
trabalho.
É assim, a gente vai gravar o que você fala, e depois alguém vai transcrever a sua
forma, tá bom?
E você vai ficar conhecido lá no instituto. Então, dona Regina, eu vou fazer?
Bom dia Marcelo, a gente está aqui nesse trabalho e,
em primeiro lugar, gostaríamos que você se apresentasse, como você se chama, sua
idade,
se você é casado, se você é solteiro. Relate aí a sua identidade.
Meu nome é Marcelo Bentes de Oliveira, tenho 30 anos, casado, minha esposa Carolina
Albuquerque Melo de Oliveira,
muito pequeno, mais de 15 anos na vida religiosa e mais de 5 anos como líder
religioso da comunidade.
Muito bem, parabéns. A gente gostaria de saber, fale um pouquinho sobre o seu
trabalho, em que você trabalha?
Atualmente eu estou na função de conselheiro tutelado, no município de São Caetano
de Odivelas,
onde a gente zela pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente, ou de
violência, principalmente.
Muito bem, até que série você estudou?
Eu estudei até o ensino médio completo.
Como você chama a sua comunidade?
Kilômetro 8, Vila Paraíso.
Você sabe dizer por que essa vila recebeu esse nome, Vila Paraíso?
Até hoje eu não busquei informação para descobrir por que é o paraíso.
Há quanto tempo você mora nesse local, nessa comunidade?
Desde o meu nascimento, mais de 31 anos.
Nasceu, cresceu?
Nasci, cresci aqui.
Estudou aqui?
Estudei aqui na Dolphina Chalhas.
Muito bem.
Você se lembra como era antes a sua comunidade?
Ela era muito populosa, menos populosa?
O que nós tínhamos que hoje a gente não tem, ou que tem que antes não tinha?
Eu até perguntei para a mãe esses dias, antes disso, acho que no começo do mês,
perguntando quem eram os primeiros que eu queria fazer também esse documentário,
futuramente.
Então, as primeiras pessoas, ela me informou, uma das primeiras pessoas era ali na
fazenda do professor Matos.
E é onde a minha mãe e o meu pai moraram, onde o papai veio do Maranhão, residiu
lá, trabalhou lá.
E o que eu recordo daqui, as casas de barros, algumas pessoas idosas que já se
passaram, já foram embora.
E só isso que eu recordo, por enquanto.
Só isso que te recordo?
Tu não recorda como era essa escola?
Sim, eu lembro de uma escola ali próximo do Sérgio, que era, acredito que era de
madeira.
Nessa escola eu ainda me recordo, ainda pude presenciar essa escola.
Não sei se era o nome do Dolphina Chalhas, acredito que não.
E o que tu acha, no teu conhecimento, do antes e o depois, o que mudou?
Evoluiu muito a questão da eletricidade, que a gente não tinha, a questão do
asfalto também,
que a gente não tinha, algumas ruas aqui que também a gente não tinha e foram
criadas, as pessoas vieram,
residiram e acabaram criando essas, vamos dizer assim, essas extensão da nossa
comunidade onde era só APA mesmo, 140.
Hoje a gente tem casas para um lado e para o outro da nossa comunidade.
Hoje já existem ruas que antes não existiam?
Sim, tem essa da Pissarreira, tem a da Baculim aqui que é do Campo,
outro lado da Arena também, então evoluiu nesse sentido.
A questão da religiosidade aqui, tu acha, no teu ponto de vista, tem mais católico,
mais evangélico?
Eu acredito assim, existem mais católicos pela questão daqueles seguintes pessoas,
elas chegam e pegam até católico, mas não é católico praticante,
então a tendência é ser mais católicos, porque evangélicos, normalmente a pessoa
diz que é evangélica quando ela frequenta realmente a igreja evangélica no caso,
então existem mais católicos.
É o seu ponto de vista?
Isso.
Certo. E qual é a principal atividade desenvolvida aqui, atividade econômica?
Atualmente fica bem difícil da gente falar, porque antigamente a agricultura era
bem predominante,
mas por conta de surgir empresas próximas daqui da localidade,
as pessoas acabaram abandonando pouca agricultura, indo para essas outras áreas de
serviços,
então hoje eu nem sei dizer qual seria a atividade predominante,
porque hoje poucas pessoas que a gente conhece trabalham na agricultura,
mas eu posso afirmar aqui que a maioria que nós temos aqui são pescadores,
que trabalham aqui mesmo, não fazendo fronteira assim com as marés, com os mangos,
mas existem próximos aqui,
mangos, amareles, onde as pessoas vão fazer esse serviço de pesca.
Que trabalham na pesca e trabalham também no marisco, no caranguejo.
Justamente.
Extrativismo.
Aquela questão, quem não é funcionário público, quem não trabalha na terra como
agricultor,
quem não trabalha empregado naquela empresa é o que vai para os mariscos,
no caso do caranguejo, o turu, que sempre tiram.
Também tem o extrativismo do açaí, que as pessoas vão em busca,
então as famílias elas são bem misturadas.
Justamente, a questão do açaí é mais por época,
mais do conhecimento pela safra, então a maioria dessas pessoas que trabalham com
açaí,
elas são também pescadores, trabalham no marisco, essas coisas desse tipo.
Certo.
E para você, é importante que existam essas atividades de produção de alimento na
comunidade?
Você acha que é importante isso?
Com toda certeza, seria muito importante, acho que despertar novamente desse
sentido aí,
da agricultura, do cultivo mesmo, para que a gente pudesse nos influir desses
benefícios,
da própria comunidade, não recorrer para outras comunidades ou para o centro da
cidade.
Inclusive, minha irmã já tem um projeto, que está pequeno hoje, de hidroponia,
aqui no próximo de casa, e que futuramente eu quero entrar com ele nesse projeto
para a gente ampliar.
Muito bem, parabéns.
Hidroponia?
Isso.
É o quê?
São as oftas.
Hidropônicas.
Hidropônicas, que é através de água, que não é plantado diretamente no solo,
são hidropulações.
Para a gente ter hidropônia.
Não precisa da terra.
É isso?
Praticamente, é isso.
E agora você lembra de alguma lenda contada pelos antigos na comunidade?
Os antigos gostavam de lendas, né?
Você se lembra de alguma?
A gente se lembra e são umas que praticamente são lendas atuais, vamos dizer assim.
E as pessoas se reúnem.
Porque, na verdade, a gente ainda convive nesse meio.
Eu sempre acreditei no sentido que essas lendas vieram sendo não destruídas,
mas abafadas pelo tempo, por conta da nova geração,
onde a tendência da nova geração é buscar outros meios para até mesmo se divertir.
Antes a gente sentava na beira da estrada, sentava e ia visitar os mais idosos,
só para a gente ouvir as lendas.
Hoje há WhatsApp, Facebook, dentro de casa mesmo.
Então, eu lembro da lenda do Rastapalha,
o homem que passava da bicicleta, fazendo barulho na rua.
Bicicleta feia.
Hoje é até a questão da fiticeira mesmo, né?
Hoje ainda existe, porque eu já cheguei a ouvir recentemente esses barulhos, né?
Mas isso é a lenda que a gente vê aí nesse mundão.
Eu como sou jovem de 31 anos, a gente aprende algumas coisas,
a gente acaba perdendo também essa credibilidade por essas lendas, vamos dizer
assim.
Mas eu lembro muito dessa e também daquele que comia bananeira, né?
Que eu esqueci agora, o lobisomem.
Que vinha e acabava com todas as bananeiras do pessoal.
Então, essas são as mais conhecidas.
Que eu recordo, mas tem muitas outras.
Beleza.
Você acha que as pessoas que vivem aqui, elas têm cuidado de preservar a comunidade
limpa?
Olha, eu acredito que existem muitas pessoas que ainda precisam ser conscientizadas
a respeito dessa área.
Infelizmente, a nossa educação, assim, no sentido de ambiental, de limpeza,
a gente vê, assim, um pouco falha, no meu ponto de vista.
Eu acho que é preciso projetos para conscientizar as pessoas a respeito dessas
limpezas.
Onde a gente vai em muitas casas, a gente observa isso.
Às vezes nos terreiros, nos quintais das pessoas, na beira das nossas ruas aqui,
não na principal, mas nós indo para outras ruas aqui da nossa comunidade, a gente
observa isso.
Mesmo tendo a coleta de lixo.
Mas muitas pessoas ainda vão para essa área de descuido com o meio ambiente.
E o caso da preservação, assim, dos órgãos públicos, comunitários, como igreja,
praça, arenas, campo de futebol,
tipo de preservação, assim, que seja?
Atualmente, eu não vejo, assim, muitos projetos voltados para isso.
Poderíamos, como falei, poderemos, de alguma forma, estimular essas igrejas, esses
clubes,
para que viesse a haver essa junção, pelo menos, para aquele fim de preservação.
Eu não vejo, não conheço, não tenho conhecimento de projetos desse tipo.
Os projetos que eu tenho conhecimento é da Escola do Fino à Chagas, onde eu já vi
alguns em relação a isso.
Sim, sim.
E os moradores são unidos quando se trata de revendicar algum direito que está
faltando na comunidade?
Há três anos atrás, sim. Hoje, não. Hoje é praticamente cada um por si.
Hoje o que visa muitas vezes é o benefício próprio.
Mas há três anos atrás nós éramos uma comunidade bem unida, assim, nesse sentido.
E íamos mesmo para cima.
Mas, com a multiplicação de líderes dentro da comunidade, acaba afetando essa
situação dessa união.
Porque a família A, a família B, a família C, e aí não vê o coletivo.
Cada um vê a sua própria família.
É o progresso chegando, né?
Isso. Progresso chegando e prejudicando, de alguma forma.
Até hoje a gente não tem, vamos dizer, alguém que foi votado, é esse aqui que vai
representar, é esse que vai estar na frente.
A gente vê um líder religioso, evangélico que cuida da área evangélica e outras
áreas também, que a gente não pode negar isso.
Religiosos também, né? Religiosos também.
Então, mas, é assim, um projeto evangélico, um projeto católico, um projeto
escolar, mas muitas vezes não tem aquele projeto, vamos dizer assim, comunitário,
de forma a abranger os idosos, as crianças, os adolescentes, vamos todo mundo para
a luta.
Então, é isso que eu vejo.
Existe alguma festividade realizada neste local?
Sim. Existem quatro festividades que eu chamo assim de tradicional.
Uma é da igreja evangélica, que seria todo mês de dezembro, onde a igreja
evangélica completa seus aniversários.
A igreja católica também, que se não me foge da memória é em novembro.
Tem a do clube Guarani, que é em setembro, e tem a do clube Desportivo Máquina, que
é em dezembro.
Então, essas, acredito que essas são as festas, e as EBFs, que já são oficiais
também no mês de julho, né?
Júlio.
A do clube Desportivo Máquina, e a do Guarani.
E a nossa, da nossa igreja também que é a EBF, no mês de julho.
Quando vocês pedem ajuda de recurso para a prefeitura, vocês recebem? Recebem
apoio?
No geral.
De modo geral?
De modo geral, sim.
Quando eu estou falando, eu só posso dizer há três anos atrás, né?
Agora, três para cá, eu não tenho muito contato para obter essas informações
exatas.
Mas, pelo que eu vejo, muito e sim.
Como eu estou falando, repito o que eu falei agora há pouco, a questão da
liderança.
Família A, família B, família C.
Então, existe algumas famílias, algumas lideranças que elas conseguem.
Outras não conseguem.
Esse é o meu ponto de vista e o que eu observo aqui dentro da comunidade.
Não é assim, algo assim que vem a abranger, a beneficiar toda a comunidade, né?
Sempre é grupos, né?
Justamente, nada coletivo.
Sempre em grupos de pessoas dentro da comunidade.
E a última pergunta, o questionamento que a gente te faz.
Você é feliz morando neste local?
Ou você gostaria de morar em outro lugar, mais evoluído, ou menos evoluído?
O que você diz?
Boa pergunta, né?
Mas esse lugar é muito abençoado por Deus.
Não é ator que o nome é paraíso.
Eu não pretendo sair daqui tão cedo, porque eu acredito que aqui ainda tem muito a
evoluir.
E eu pretendo fazer parte dessa evolução.
Inclusive, muitas pessoas estão migrando para cá, moradores até de vigia mesmo.
Existe uma vila que praticamente é a Vila dos Vigentes, que é aqui na Pissarreira,
né?
Onde eles vêm morar para cá.
Então eu não pretendo.
E desde que eu tive conhecimento, ciência, consciência, era meu foco era ficar
aqui.
Futuramente a gente fazer algo para permanecer mais ainda aqui.
Porque é muito difícil a questão mesmo trabalhística, profissional.
Onde as pessoas muitas vezes saem daqui, por conta de buscar empregos em outros
lugares.
Mas com o aumento das indústrias, dos trabalhos, das empresas que têm vindo próximo
da nossa localidade,
as pessoas têm permanecido aqui.
Então minha resposta é continuar aqui até a noite.
E quanto a esses progressos, Marcelo, você acha que está vindo para cá e está
fazendo bem para a comunidade?
Sim, sim. Assim como eu repito, não é automaticamente vindo para cá, mas é próximo.
E acaba de uma forma ou outra, chegando até as pessoas que precisam do trabalho.
Nós agradecemos muito a sua contribuição com as suas respostas.
Nós estamos muito grátis.
Isso vai contribuir muito para o nosso trabalho, para o nosso conhecimento também.
Porque é só assim que a gente passa a conhecer melhor os lugares.
A formação dos lugares, a formação das pessoas, as ideias das pessoas.
O que as pessoas pensam quando elas estão inseridas num determinado local?
O que elas pensam a respeito disso?
É por essa razão que nós saímos em busca dessas respostas, desses conhecimentos.
E nós estamos agradecendo a sua participação.
Nós não temos como te recompensar, mas só essas informações aí.
Algum dia ela pode retornar para você.
Essas informações de como ela foi ouvida lá fora, lá adiante, lá no Instituto,
pelos profissionais.
E isso é muito bom para o nosso crescimento.
Muito obrigada.
Obrigada.

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