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Arco-ı́ris: Uma abordagem gráfica

Diogo Pimenta, Joana Aragão e João Trigo

Departamento de Fı́sica e Astronomia

28 de dezembro de 2021

Resumo
Um arco-ı́ris é causado por luz cujas cores são dispersas através de
gotas de água. Esta dispersão ocorre devido ao ı́ndice de refração da água
que depende do comprimento de onda. Neste artigo, temos como propósito
elucidar o leitor sobre algumas questões acerca deste fenómeno, as quais
normalmente não são muito referidas. A aplicação de conceitos fı́sicos na
previsão do ângulo de refração e a aparência mais clara do arco-ı́ris em
relação ao meio externo são temas retratados neste artigo, em concı́lio
com o facto da cor ser vista apenas no arco-ı́ris e não no seu redor. Com
o auxı́lio de dados organizados em gráficos, poderemos responder a estas
questões de forma clara e pormenorizada.

1 Introdução
Os arco-ı́ris sempre foram vistos como algo surpreendente, misterioso e visu-
almente apelativo: sempre os vimos em livros, filmes ou revistas como algo
conotado à felicidade e paz. De facto, são algo fascinante e inspirador, uma
harmonia entre a beleza natural do mundo e a fı́sica.
Na ocorrência de um arco-ı́ris, os raios de luz são refratados para dentro da
gota de água, ocorrendo de imediato uma reflexão interna e uma refração para
o meio externo.

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Figura 1: Comportamento de um raio de luz ao entrar numa gota de água

De acordo com a Figura 1, o ângulo de incidência é θ e o ângulo de refração


é ϕ. O ponto A é o ponto de entrada do raio de luz na gota de água, neste
momento o raio é desviado segundo o ângulo θ − ϕ, no ponto B é desviado
segundo o ângulo 180 − 2ϕ, e no ponto C é desviado segundo o mesmo ângulo
que no ponto A. O desvio total é representado por Ψ.

Ψ = 180k + 2θ − 2(k + 1)ϕ (1)

Sendo k o número de reflexões internas.


A partir desta equação podemos calcular o ângulo de visualização (ω). Po-
demos pensar neste ângulo de um modo prático como o ângulo formado quando
desenhamos uma linha desde o nosso ponto de visão na direção oposta ao Sol,
e outra linha do ponto de visão em direção ao local que estamos a observar
no céu. Estas duas linhas imaginárias formam um ângulo ao qual vulgarmente
designamos de ângulo de visualização.
Para luz refletida internamente uma vez (k=1), o ângulo de visualização é
ω = 180 − Ψ. Para luz refletida internamente duas vezes (k=2), o ângulo é
ω = Ψ − 180.
Neste artigo, iremos discutir apenas os casos em que a luz é internamente refle-
tida uma vez, que contribui para o arco-ı́ris primário.

2 Método
O ı́ndice de refração da água, n, é calculado a partir do quociente entre os senos
dos ângulos de reflexão e refração:
sin θ
=n (2)
sin ϕ

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O ângulo de visualização pode ser também escrito, definindo sin θ = u, a partir
da formula de Snell como:

ω = 4 arcsin(u/n) − 2 arcsin u (3)

Para a análise gráfica, é preferı́vel usar como variável independente sin2 θ


em vez de sin θ, pois a intensidade da luz, assim, fica constante ao longo do
eixo x. A partir do estudo destes gráficos, percebemos que o ângulo máximo de
visualização das luzes vermelha e violeta são, respetivamente, 42.4º e 40.5º.

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Ângulo de visualização ω (deg)

40
35
30
25
20
15
10
5
0

0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1


sin θ(b/R)

Figura 2: Ângulo de visualização para em função do seno do ângulo de incidência


para as cores desde vermelho (n=1.331) até ao violeta (n= 1.344).

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45

Ângulo de visualização ω (deg)


40
35
30
25
20
15
10
5
0

0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1


sin2 θ(b/R)

Figura 3: Ângulo de visualização para em função do quadrado do seno do ângulo


de incidência para as cores desde vermelho (n=1.331) até ao violeta (n= 1.344).

Quando um raio de luz incide numa gota de água, apenas uma pequena
fração dessa luz emerge depois da sequência refração-reflexão-refração. Esta
fração de luz depende do parâmetro b, sendo por volta de 2% quando b/R é
pequeno e 13% quando b/R=0.99, tornando-se 0 quando b/R=1. Estas per-
centagens são calculadas usando coeficientes Fresnel, f , que dependem da pola-
rização da luz e do seu ângulo de incidência.

b/R f b/R f
0.05 0.0200 0.55 0.0213
0.10 0.0200 0.60 0.0221
0.15 0.0200 0.65 0.0233
0.20 0.0200 0.70 0.0253
0.25 0.0200 0.75 0.0284
0.30 0.0201 0.80 0.0337
0.35 0.0201 0.85 0.0432
0.40 0.0203 0.90 0.0612
0.45 0.0205 0.95 0.0990
0.50 0.0208 0.99 0.1323

Figura 4: Fatores de Fresnel, f , calculados com um ı́ndice de refração médio,


n = 1.3375.

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Queremos encontrar uma variável adequada para o eixo x que faça com que
a quantidade de luz a sair da gota seja proporcional a um intervalo de tempo,
tal como os intervalos na Fig.3 mostram a quantidade de luz a entrar na gota.
Para encontrar esta variável, a que vamos chamar fator de intensidade (I), pre-
cisamos do fator de Fresnel e de alguns cálculos. Os valores resultantes de I
estão representados nesta tabela:

b/R I b/R I
0.05 0.00005 0.55 0.00616
0.10 0.00020 0.60 0.00741
0.15 0.00045 0.65 0.00882
0.20 0.00080 0.70 0.01046
0.25 0.00125 0.75 0.01240
0.30 0.00180 0.80 0.01479
0.35 0.00245 0.85 0.01793
0.40 0.00321 0.90 0.02241
0.45 0.00408 0.95 0.02962
0.50 0.00506 0.999 0.04087

Figura 5: Fatores de intensidade, I, calculados com um ı́ndice de refração médio,


n = 1.3375.

Assim, podemos substituir o gráfico da Figura 3 por um em que ω continua


a ser a variável y, mas I(b) torna-se a variável independente. Agora, qualquer
intervalo no eixo x é proporcional à quantidade de luz que emerge da gota.

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45
40

Viewing angle ω (deg)


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30
25
20
15
10
5
0
0 0.6 1.2 1.8 2.4 3 3.6 4.2
I(b) ·10 −2

Figura 6: Ângulo de visualização em função do fator de intensidade para as


cores desde vermelho (n=1.331) até ao violeta (n= 1.344).

A análise deste gráfico permite-nos tirar três conclusões:

1. A luz concentra-se em ângulos de visualização mais elevados (por exemplo


entre 37º e 42º). Esta é uma das razões pelas quais o olho pensa que a
maior parte da luz vem do próprio arco-ı́ris.
2. Para ângulos de 42º a 43º, a luz predominante será luz vermelha. Porém,
entre 40º e 41º, é facto que todo o tipo de luz é intercetado, mas a pro-
pagação horizontal de luz violeta é muito maior que a propagação hori-
zontal de luz vermelha, sendo esta a razão de ser vista luz violeta nestas
condições. Já para ângulos abaixo de 40.5º, a cor vista no céu é branca.
3. O espectro angular é capturado a partir dos ângulos de visualização mai-
ores que 40.5º. Uma análise destes dados permite-nos descobrir que cerca
de um quarto da luz vai fazer parte do arco-ı́ris em si, e os restantes três
quartos vão para a região abaixo do mesmo.

3 Conclusão
Apesar de ser algo vulgar, um arco-ı́ris é sem dúvida uma excelente combinação
de fenómenos fı́sicos dos mais variados, um inerente material de estudo. O
seu visual apelativo floresce curiosidade a quem estiver disposto a descobrir os
mistérios e razões por trás deste acontecimento natural. Este é mais um exemplo
de que, com recurso ao estudo da fı́sica, podemos estudar e desmascarar toda
uma complexidade que nos permite relacionar e entender tudo ao nosso redor.

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4 Bibliografia
1. Ford, K. Rainbows: A Graphical Approach. The Physics Teacher, 58(3),
pp.152-155 (2020).
2. A focus on pedagogy: Robert J. Whitaker, “Physics of the rainbow,” Phys.
Teach. 12, 283–286 (May 1974)
3. Multiple rainbows: Jearl D. Walker, “Multiple rainbows from single drops
of water and other liquids,” Am. J. Phys. 44, 421– 433 (May 1976).
4. Popular treatment in depth, with history: H. Moysés Nussenzveig, “The
theory of the rainbow,” Sci. Am. 236, 116–127 (April 1977).
5. Textbook derivation of rainbow angle: Harris Benson, University Physics,
2nd. ed. (Wiley, New York, 1996), pp. 730–731.
6. Full treatment including wave aspects: Alexander Haussmann, “Rainbows
in nature; recent advances in observation and theory,” Eur. J. Phys. 37,
1–30 (2016).
7. “Fresnel’s Equations,” http://hyperphysics.phy-astr.gsu.edu/ hbase/phyopt/freseq.html;
see also “Augustin-Jean Fresnel,” Wikipedia, https://en.wikipedia.org/wiki/Augustin-
Jean_Fresnel.

5 Contribuições
Na realização deste trabalho, todos os autores contribuı́ram um pouco para
cada tópico. No entanto, Joana Aragão e João Trigo, focaram-se no conteúdo,
no resumo do artigo original, na introdução de novos conteúdos relacionados com
o tema em causa e com a construção de texto claro e cientificamente correto. Já
Diogo Pimenta focou-se na parte formal, nomeadamente, na escrita de equações,
na construção de gráficos, tabelas e figuras (com a ajuda de software como
Microsoft Excel e Inkscape) e na estrutura do artigo.

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