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Os Signos Crescem
em Malpertuis
“Não há nada mais terrível que um
labirinto sem centro”
Jorge Luís Borges
"Os signos estão crescendo", afirma Lúcia Santaella em um dos entretítulos de seu
livro A Assinatura das Coisas1. Após discorrer sobre a aplicabilidade da Semiótica aos diversos
campos do conhecimento, Santaella conclui que "essa tendência expansiva das investigações
semióticas só pode estar enraizada na tendência de crescimento que se manifesta no próprio
mundo dos signos. Não são apenas o olho e a mente semioticamente informados e treinados
que nos fazem enxergar redes semióticas tantos nos reinos microscópicos quanto mais ma-
croscópicos. Está também havendo uma tendência ininterrupta e cada vez mais acelerada de
crescimento dos próprios signos no universo. Pensemos no refinamento das técnicas copia-
doras e na grande quantidade de novos sistemas de signos criados a partir do advento da
revolução industrial. Pensemos nas possibilidades inimagináveis de se criar e romper códigos
que surgiram com o aparecimento dos computadores. Pensemos ainda no desenvolvimento
de linguagens, códigos e inteligências artificiais que as novas máquinas estão tornando
possível"2.
Santaella sintetiza a questão, citando a si mesma: "O aspecto que o mundo apresenta
sob uma inspeção semiótica parece estar caminhando numa direção que confirma a doutrina
peirceana do sinequismo. Essa doutrina propõe que "assim como os signos e as idéias
tendem a se espalhar continuamente(CP 6.104), a mente também se espalha continuamente,
e todas as mente se misturam umas às outras"(CP 1.170). Essa noção está baseada na hipó-
tese de que o universo da mente coincide com o universo da matéria, não no sentido da ima-
gem especular ou paralelismo cérebro-mente, mas no sentido da matéria existir como uma
forma mental de tipo especial.(Santaella 1991b: 153)" 3.
Com base nestes pressupostos, procuraremos demonstrar este movimento de
progressão e regressão dos signos no universo da mente, através de uma análise do filme
"Malpertuis", dirigido pelo belga Harry Kumel que é, em si, quase que um exemplo literal e
didático deste conceito.
Oscilando entre fábula e sonho, que ganham credibilidade pelo ritmo equilibrado
imposto pela direção e a convicção com que os atores encarnam seus personagens, "Malper-
tuis" é uma soma de signos que, desviados de seus locais de origem, assumem novos sig-
nificados. Mitologia grega, religiões, a pintura (especialmente a dos Países Baixos) e mesmo
um sistema de mitos mais recente, o do cinema, são mesclados de um modo tão arbitrário
quanto original.
Os letreiros de abertura da fita já antecipam o que virá em seguida: "La Memoire", tela 1 - SANTAELLA. Lúcia. A Assinatura das
do pintor surrealista belga René Magritte, é percorrida em detalhes pela câmera, e o próprio Coisas, Peirce e a Literatura. Rio de Janeiro,
título do filme aparece escrito em vermelho, escorrido como a mancha de sangue na fronte da Imago, 1992. Pág. 43.
2 - IDEM, Págs. 45-46.
cabeça de mulher pintada no quadro. Ao fundo, lateral a uma cortina vermelha, o mar e um 3 - IDEM. Pág. 46.
BIBLIOGRAFIA:
* Valdir Baptista é mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP e professor da universidade Anhembi
Morumbi