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LITERATURA

16. MAIO. 2023

Arcadismo Mascarenhas, quesempre a acompanhava na sociedade.


Mas essa parentanão passava de mãe de encomenda,
para condescendercom os escrúpulos da sociedade
1. (Enem 2016) brasileira, que naqueletempo não tinha admitido ainda
certa emancipaçãofeminina. Guardando com a viúva as
Soneto VII deferências devidas à idade, a moça não declinava um
Onde estou? Este sítio desconheço: instante do firme propósito de governar sua casa e dirigir
suas ações comoentendesse. Constava também que
Quem fez tão diferente aquele prado?
Aurélia tinha umtutor; mas essa entidade era
Tudo outra natureza tem tomado; desconhecida, a julgar pelo caráter da pupila, não devia
E em contemplá-lo tímido esmoreço. exercer maior influência em sua vontade, do que a velha
Uma fonte aqui houve; eu não me esqueço parenta.
De estar a ela um dia reclinado: ALENCAR, J. Senhora. São Paulo: Ática, 2006.

Ali em vale um monte está mudado: O romance Senhora, de José de Alencar, foi publicado
Quanto pode dos anos o progresso! em1875. No fragmento transcrito, a presença de D.
Firmina Mascarenhas, como “parenta” de Aurélia
Árvores aqui vi tão florescentes, Camargo assimila práticas e convenções sociais
Que faziam perpétua a primavera: inseridas no contexto doRomantismo, pois
Nem troncos vejo agora decadentes.
A O trabalho ficcional do narrador desvaloriza a
Eu me engano: a região esta não era; mulher ao retratar a condição feminina na sociedade
Mas que venho a estranhar, se estão presentes brasileirada época.
Meus males, com que tudo degenera! B O trabalho ficcional do narrador mascara os hábitos
sociais no enredo de seu romance.7
COSTA, C. M. Poemas. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 7 jul.
2012. C as características da sociedade em que Auréliavivia
No soneto de Cláudio Manuel da Costa, a contemplação são remodeladas na imaginação do
da paisagem permite ao eu lírico uma reflexão em que narradorromântico.
transparece uma D o narrador evidencia o cerceamento sexista à
autoridade da mulher, financeiramente
A angústia provocada pela sensação de solidão. independente.
B resignação diante das mudanças do meio ambiente. E o narrador incorporou em sua ficção hábitos muito
C dúvida existencial em face do espaço desconhecido. avançados para a sociedade daquele
períodohistórico.
D intenção de recriar o passado por meio da
paisagem. 2. (Enem 2012)
E empatia entre os sofrimentos do eu e a agonia da
terra. “Ele era o inimigo do rei”, nas palavras de seu
biógrafo,Lira Neto. Ou, ainda, “um romancista que
colecionavadesafetos, azucrinava D. Pedro II e acabou
inventando oBrasil”. Assim era José de Alencar (1829-
Romantismo 1877), oconhecido autor de O guaranie Iracema, tido
como o paido romance no Brasil. Além de criar clássicos
da literaturabrasileira com temas nativistas, indianistas e
1. (Enem 2015) históricos,ele foi também folhetinista, diretor de jornal,
autor de peças de teatro, advogado, deputado federal e
Quem não se recorda de Aurélia Camargo, que até ministroda Justiça. Para ajudar na descoberta das
atravessou o firmamento da corte como brilhante múltiplas facetasdesse personagem do século XIX, parte
meteoro, e apagou-se de repente no meio do de seu acervoinédito será digitalizada.
deslumbramento queproduzira seu fulgor? Tinha ela
História Viva, n. 99, 2011.
dezoito anos quandoapareceu a primeira vez na
sociedade. Não a conheciam;e logo buscaram todos com Com base no texto, que trata do papel do escritor José
avidez informações acercada grande novidade do dia. deAlencar e da futura digitalização de sua obra,
Dizia-se muita coisa que nãorepetirei agora, pois a seu depreende-seque
tempo saberemos a verdade,sem os comentos malévolos
de que usam vesti-la osnoveleiros. Aurélia era órfã; tinha A a digitalização dos textos é importante para que os
em sua companhiauma velha parenta, viúva, D. Firmina leitores possam compreender seus romances.
B o conhecido autor de O guarani e Iracema foi A assemelham-se aos das demais escravas do país, o
importante porque deixou uma vasta obra literária que indica o estilo realista da abordagem do terra da
com temática atemporal. escravidão pelo autor do romance.
C a divulgação das obras de José de Alencar, por
B demonstram que, historicamente, os problemas
meio da digitalização, demonstra sua importância
vividos pelas escravas brasileiras, como Isaura,
para a história do Brasil Imperial.
eram mais de ordem sentimental do que física.
D a digitalização dos textos de José de Alencar terá
importante papel na preservação da memória C diferem dos que atormentavam as demais escravas
linguística e da identidade nacional. do Brasil do século XIX, o que revela o caráter
E o grande romancista José de Alencar é importante idealista da abordagem do terra pelo autor do
porque se destacou por sua temática indianista. romance.
D indicam que, quando o assunto era o amor, as
3. (Enem 2010) escravas brasileiras, de acordo com a abordagem
Soneto lírica do terra pelo autor, eram tratadas como as
demais mulheres da sociedade.
Já da morte o palor me cobre o rosto,
Nos lábios meus o alento desfalece, E revelam a condição degradante das mulheres
Surda agonia o coração fenece, escravas no Brasil, que, como Isaura, de acordo
E devora meu ser mortal desgosto! com a denúncia feita pelo autor, eram importunadas
e torturadas fisicamente pelos seus senhores.
Do leito embalde no macio encosto
Tento o sono reter!... já esmorece 5. (Enem2009 - cancelada)
O corpo exausto que o repouso esquece...
Eis o estado em que a mágoa me tem posto! O sertão e o sertanejo
O adeus, o teu adeus, minha saudade, Ali começa o sertão chamado bruto. Nesses campos,
Fazem que insano do viver me prive tão diversos pelo matiz das cores, o capim crescido e
E tenha os olhos meus na escuridade. ressecado pelo ardor do sol transforma-se em vicejante
tapete de relva, quando lavra o incêndio que algum
Dá-me a esperança com que o ser mantive! tropeiro, por acaso ou mero desenfado, ateia com uma
Volve ao amante os olhos por piedade, faúlha do seu isqueiro. Minando à surda na touceira,
Olhos por quem viveu quem já não vive! queda a vívida centelha. Corra daí a instantes qualquer
AZEVEDO, A. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000. aragem, por débil que seja, e levanta-se a língua de fogo
O núcleo temático do soneto citado é típico da esguia e trêmula, como que a contemplar medrosa e
segundageração romântica, porém configura um lirismo vacilante os espaços imensos que se alongam diante
que oprojeta para além desse momento especifico. O dela. O fogo, detido em pontos, aqui, ali, a consumir com
fundamento desse lirismo é mais lentidão algum estorvo, vai aos poucos morrendo
até se extinguir de todo, deixando como sinal da
A a angustia alimentada pela constatação da avassaladora passagem o alvacento lençol, que lhe foi
irreversibilidade da morte. seguindo os velozes passos. Por toda a parte melancolia;
B a melancolia que frustra a possibilidade de reação de todos os lados tétricas perspectivas. É cair, porém,
diante da perda. daí a dias copiosa chuva, e parece que uma varinha de
fada andou por aqueles sombrios recantos a traçar às
C o descontrole das emoções provocado pela
pressas jardins encantados e nunca vistos. Entra tudo
autopiedade.
num trabalho íntimo de espantosa atividade.
D o desejo de morrer como alívio para a desilusão
TAUNAY, Visconde de. Inocência. São Paulo,Ática, 1993 (fragmento).
amorosa.
E o gosto pela escuridão como solução para o O romance romântico teve fundamental importância na
sofrimento. formação da ideia de nação. Considerando o trecho
acima, é possível reconhecer que uma das principais e
4. (Enem 2009 - cancelada) permanentes contribuições do Romantismo para
construção da identidade da nação é a
Pobre Isaura! Sempre e em toda parte esta contínua
A possibilidade de apresentar uma dimensão
importunação de senhores e de escravos, que não a
desconhecida da natureza nacional, marcada pelo
deixam sossegar um só momento! Como não devia viver
subdesenvolvimento e pela falta de perspectiva de
aflito e atribulado aquele coração! Dentro de casa
renovação.  
contava ela quatro inimigos, cada qual mais porfiado em
roubar-Ihe a paz da alma, e torturar-Ihe o coração: três B consciência da exploração da terra pelos
amantes, Leôncio, Belchior, e André, e uma êmula colonizadores e pela classe dominante local, o que
terrível e desapiedada, Rosa. Fácillhe fora repelir as coibiu a exploração desenfreada das riquezas
importunações e insolências dos escravos e criados; mas naturais do país.  
que seria dela, quando viesse o senhor?!...
C construção, em linguagem simples, realista e
GUIMARAES, B. A escrava Isaura. São Paulo: Ática, 1995 (adaptado).
documental, sem fantasia ou exaltação, de uma
A personagem Isaura, como afirma o título do romance, imagem da terra que revelou o quanto é grandiosa a
era uma escrava. No trecho apresentado, os sofrimentos natureza brasileira.  
por que passa a protagonista
D expansão dos limites geográficos da terra, que -- Recusei a mão de minha filha, porque o senhor
promoveu o sentimento de unidade do território é... filho de uma escrava.
nacional e deu a conhecer os lugares mais distantes -- Eu?
do Brasil aos brasileiros.  
-- O senhor é um homem de cor!... Infelizmente esta
E valorização da vida urbana e do progresso, em é a verdade...
detrimento do interior do Brasil, formulando um Raimundo tornou-se lívido. Manoel prosseguiu, no
conceito de nação centrado nos modelos da fim
nascente burguesia brasileira. 
de um silêncio:
-- Jávê o amigo que não é por mim que lhe recusei
6. (Enem 2009)
Ana Rosa, mas é por tudo! A família de minha mulher
No decênio de 1870, Franklin Távora defendeu a sempre foi muito escrupulosa a esse respeito, e como ela
tese de que no Brasil havia duas literaturas é toda a sociedade do Maranhão! Concordo que seja
independentes dentro da mesma língua: uma do Norte e uma asneira; concordo que seja um prejuízo tolo! O
outra do Sul, regiões segundo ele muito diferentes por senhor porém não imagina o que é por cá a prevenção
formação histórica, composição étnica, costumes, contra os mulatos!... Nunca me perdoariam um tal
modismos linguísticos etc. Por isso, deu aos romances casamento; além do que, para realizá-lo, teria que
regionais que publicou o título geral de Literatura do quebrar a promessa que fiz a minha sogra, de não dar a
Norte. Em nossos dias, um escritor gaúcho, Viana Moog, neta senão a um branco de lei, português ou
procurou mostrar com bastante engenho que no Brasil descendente direto de portugueses!
há, em verdade, literaturas setoriais diversas, refletindo
AZEVEDO, A. O mulato. São Paulo: Escala, 2008
as características locais.
Influenciada pelo ideário cientificista do Naturalismo, a
CANDIDO, A. A nova narrativa. A educação pela noite e outros
ensaios. São Paulo: Ática, 2003. obra destaca o modo como o mulato era visto pela
sociedade de fins do século XIX. Nesse trecho, Manoel
Com relação à valorização, no romance regionalista
traduz uma concepção em que a
brasileiro, do homem e da paisagem de determinadas
regiões nacionais, sabe-se que A miscigenação racial desqualificava o indivíduo.
B condição econômica anulava os conflitos raciais.
A o romance do Sul do Brasil se caracteriza pela
C discriminação racial era condenada pela sociedade.
temática essencialmente urbana, colocando em
D escravidão negava o direito da negra à maternidade.
relevo a formação do homem por meio da mescla de
E união entre mestiços era um risco à hegemonia dos
características locais e dos aspectos culturais
brancos.
trazidos de fora pela imigraçãoeuropeia.
B José de Alencar, representante, sobretudo, do
2. (Enem 2017)
romance urbano, retrata a temática da urbanização
das cidades brasileiras e das relações conflituosas Garcia tinha-se chegado ao cadáver, levantara o
entre asraças. lenço e contemplara por alguns instantes as feições
C o romance do Nordeste caracteriza-se pelo defuntas. Depois, como se a morte espiritualizasse tudo,
acentuado realismo no uso do vocabulário, pelo inclinou-se e beijou-a na testa. Foi nesse momento que
temário local, expressando a vida do homem em Fortunato chegou à porta. Estacou assombrado; não
face da natureza agreste, e assume frequentemente podia ser o beijo da amizade, podia ser o epílogo de um
o ponto de vista dos menosfavorecidos. livro adúltero [...].
D a literatura urbana brasileira, da qual um dos Entretanto, Garcia inclinou-se ainda para beijar outra
expoentes é Machado de Assis, põe em relevo a vez o cadáver, mas então não pôde mais. O beijo
formação do homem brasileiro, o sincretismo rebentou em soluços, e os olhos não puderam conter as
religioso, as raízes africanas e indígenas que lágrimas, que vieram em borbotões, lágrimas de amor
caracterizam o nossopovo. calado, e irremediável desespero. Fortunado, á porta,
E Érico Veríssimo, Rachel de Queiroz, Simões Lopes onde ficara, saboreou tranquilo essa explosão de dor
Neto e Jorge Amado são romancistas das décadas moral que foi longa, muito longa, deliciosamente longa.
de 30 e 40 do século XX, cuja obra retrata a
ASSIS, M. A causa secreta. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 9
problemática do homem urbano em confronto com a out. 2015.
modernização do país promovida pelo EstadoNovo.
No fragmento, o narrador adota um ponto de vista que
acompanha a perspectiva de Fortunato. O que
singulariza esse procedimento narrativo é o registro do(a)
A indignação face à suspeita do adultério da esposa.
B
Realismo / Naturalismo C
tristeza compartilhada pela perda da mulher amada.
espanto diante da demonstração de afeto de Garcia.
D prazer da personagem em relação ao sofrimento
1. (Enem 2017)
alheio.
E superação do ciúme pela comoção decorrente da Um dia, meu pai tomou-me pela mão, minha mãe
morte. beijou-me a testa, molhando-me de lágrimas os cabelos
e eu parti.
3. (Enem 2016) Duas vezes fora visitar o Ateneu antes da minha
Esaú e Jacó instalação.
Ora, aí está justamente a epígrafe do livro, se eu Ateneu era o grande colégio da época. Afamado por
lhe quisesse pôr alguma, e não me ocorresse outra. um sistema de nutrido reclame, mantido por um diretor
Não é somente um meio de completar as pessoas da que de tempos a tempos reformava o estabelecimento,
narração com as ideias que deixarem, mas ainda um pintando-o jeitosamente de novidade, como os
par de lunetas para que o leitor do livro penetre o que negociantes que liquidam para recomeçar com artigos de
for menos claro ou totalmente escuro. última remessa; o Ateneu desde muito tinha consolidado
crédito na preferência dos pais, sem levar em conta a
Por outro lado, há proveito em irem as pessoas da
simpatia da meninada, a cercar de aclamações o bombo
minha história colaborando nela, ajudando o autor, por
vistoso dos anúncios.
uma lei de solidariedade, espécie de troca de serviços,
entre o enxadrista e os seus trebelhos. O Dr. Aristarco Argolo de Ramos, da conhecida
Se aceitas a comparação, distinguirás o rei e a família do Visconde de Ramos, do Norte, enchia o
dama, o bispo e o cavalo, sem que o cavalo possa fazer império com o seu renome de pedagogo. Eram boletins
de torre, nem a torre de peão. Há ainda a diferença da de propaganda pelas províncias, conferências em
cor, branca e preta, mas esta não tira o poder da marcha diversos pontos da cidade, a pedidos, à substância,
atochando a imprensa dos lugarejos, caixões, sobretudo,
de cada peça, e afinal umas e outras podem ganhar a
de livros elementares, fabricados às pressas com o
partida, e assim vai o mundo.
ofegante e esbaforido concurso de professores
ASSIS, M. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1964 (fragmento). prudentemente anônimos, caixões e mais caixões de
O fragmento do romance Esaú e Jacó mostra como o volumes cartonados em Leipzig, inundando as escolas
narrador concebe a leitura de um texto literário.Com públicas de toda a parte com a sua invasão de capas
base nesse trecho, tal leitura deve levar em conta azuis, róseas, amarelas, em que o nome de Aristarco,
inteiro e sonoro, oferecia-se ao pasmo venerador dos
A o leitor como peça fundamental na construção dos esfaimados de alfabeto dos confins da pátria. Os lugares
sentidos. que os não procuravam eram um belo dia surpreendidos
B a luneta como objeto que permite ler melhor. pela enchente, gratuita, espontânea, irresistível! E não
havia senão aceitar a farinha daquela marca para o pão
C o autor como único criador de significados.
do espírito.
D o caráter de entretenimento da literatura.
POMPÉIA, R. O Ateneu. São Paulo: Scipione, 2005.
E a solidariedade de outros autores.
Ao descrever o Ateneu e as atitudes de seu diretor, o
narrador revela um olhar sobre a inserção social do
4. (Enem 2016) colégio demarcado pela
BONS DIAS! A ideologia mercantil da educação, repercutida nas
14 de junho de 1889 vaidades pessoais.
Ó doce, ó longa, ó inexprimível melancolia dos B interferência afetiva das famílias, determinantes no
jornais velhos! Conhece-se um homem diante de um processo educacional.
deles. Pessoa que não sentir alguma coisa ao ler folhas C produção pioneira de material didático, responsável
de meio século, bem pode crer que não terá nunca uma pela facilitação do ensino.
das mais profundas sensações da vida, — igual ou quase D ampliação do acesso à educação, com a negociação
igual à que dá a vista das ruínas de uma civilização. Não dos custos escolares.
é a saudade piegas, mas a recomposição do extinto, a E cumplicidade entre educadores e famílias, unidos
revivescência do passado. pelo interesse comum do avanço social.
ASSIS, M. Bons dias! (Crônicas 1888-1889). Campinas: Editora da
Unicamp; São Paulo: Hucitec, 1990.
6. (Enem 2014)
O jornal impresso é parte integrante do que hoje se
Nunca tinha ido ao teatro, e mais de uma vez,
compreende por tecnologias de informação e ouvindo dizer ao Meneses que ia ao teatro, pedi-lhe que
comunicação. Nesse texto, o jornal é reconhecido como me levasse consigo. Nessas ocasiões, a sogra fazia
uma careta, e as escravas riam à socapa; ele não
A objeto de devoção pessoal.
respondia, vestia-se, saía e só tornava na manhã
B elemento de afirmação da cultura. seguinte. Mais tarde é que eu soube que o teatro era um
C instrumento de reconstrução da memória. eufemismo em ação. Meneses trazia amores com uma
D ferramenta de investigação do ser humano. senhora, separada do marido, e dormia fora de casa
uma vez por semana. Conceição padecera, a princípio,
E veículo de produção de fatos da realidade. com a existência da comborça; mas, afinal, resignara-se,
acostumara-se, e acabou achando que era muito direito.
5. (Enem 2015) ASSIS, M. et al. Missa do galo: variações sobre o mesmo tema. São Paulo: Summus,
1977 (fragmento).
No fragmento desse conto de Machado de Assis, “ir ao doFirmo, romperam vibrantemente com um chorado
teatro” significa “ir encontrar-se com a amante”. O uso baiano.Nada mais que os primeiros acordes da música
do eufemismo como estratégia argumentativa significa crioulapara que o sangue de toda aquela gente
despertasse logo,como se alguém lhe fustigasse o corpo
A exagerar quanto ao desejo em “ir ao teatro”. com urtigasbravas. E seguiram-se outras notas, e outras,
B personificar a prontidão em “ir ao teatro”. cada vezmais ardentes e mais delirantes. Já não eram
C esclarecer o valor denotativo de “ir ao teatro”. doisinstrumentos que soavam, eram lúbricos gemidos
esuspiros soltos em torrente, a correrem
D reforçar compromisso com o casamento. serpenteando,como cobras numa floresta incendiada;
E suavizar uma transgressão matrimonial. eram aisconvulsos, chorados em frenesi de amor: música
feita debeijos e soluços gostosos; carícia de fera, carícia
7. (Enem 2014) de doer,fazendo estalar de gozo.
AZEVEDO, A. O Cortiço. São Paulo: Ática, 1983 (fragmento).
Talvez pareça excessivo o escrúpulo do Cotrim, a
quem não souber que ele possuía um caráter ferozmente No romance O Cortiço (1890), de Aluízio Azevedo,
honrado. Eu mesmo fui injusto com ele durante os anos aspersonagens são observadas como elementos
que se seguiram ao inventário de meu pai. Reconheço coletivoscaracterizados por condicionantes de origem
que era um modelo. Arguíam-no de avareza, e cuido que social, sexoe etnia. Na passagem transcrita, o confronto
tinham razão; mas a avareza é apenas a exageração de entrebrasileiros e portugueses revela prevalência do
uma virtude, e as virtudes devem ser como os elementobrasileiro, pois
orçamentos: melhor é o saldo que o déficit. Como era A destaca o nome de personagens brasileiras e omite
muito seco de maneiras, tinha inimigos que chegavam a o de personagens portuguesas.
acusá-lo de bárbaro. O único fato alegado neste
particular era o de mandar com frequência escravos ao B exalta a força do cenário natural brasileiro e
calabouço, donde eles desciam a escorrer sangue; mas, considera o do português inexpressivo.
além de que ele só mandava os perversos e os fujões, C mostra o poder envolvente da música brasileira, que
ocorre que, tendo longamente contrabandeado em cala o fado português.
escravos, habituara-se de certo modo ao trato um pouco D destaca o sentimentalismo brasileiro, contrário à
mais duro que esse gênero tristeza dos portugueses.
de negócio requeria, e não se pode honestamente E atribui aos brasileiros uma habilidade maior com
atribuir à índole original de um homem o que é puro instrumentos musicais.
efeito de relações sociais. A prova de que o Cotrim tinha
sentimentos pios encontrava-se no seu amor aos filhos, e
9. (Enem 2010)
na dor que padeceu quando morreu Sara, dali a alguns
meses; prova irrefutável, acho eu, e não única. Era
tesoureiro de uma confraria, e irmão de várias
irmandades, e até irmão remido de uma destas, o que
não se coaduna muito com a reputação da avareza; Joaquim Maria Machado de Assis, cronista,
verdade é que o benefício não caíra no chão: a contista,dramaturgo, jornalista, poeta, novelista,
irmandade (de que ele fora juiz) mandara-lhe tirar o romancista, crítico e ensaísta, nasceu na cidade do Rio
retrato a óleo. de Janeiro em21 de junho de 1839. Filho de um operário
ASSIS, M. Memórias Póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992. mestiço denegro e português, Francisco Jose de Assis, e
de D. MariaLeopoldina Machado de Assis, aquele que
Obra que inaugura o Realismo na literatura brasileira,
viria a tornar-se o maior escritor do país e um mestre da
Memórias Póstumas de Brás Cubas condensa uma
língua, perdea mãe muito cedo e é criado pela madrasta,
expressividade que caracterizaria o estilo machadiano: a
Maria Inês,também mulata, que se dedica ao menino e o
ironia. Descrevendo a moral de seu cunhado, Cotrim, o
matricula na escola pública, única que frequentou o
narrador-personagem Brás Cubas refina a percepção
autodidataMachado de Assis.
irônica ao
Disponível em: http://www.passeiweb.com. Acesso em: 1 maio 2009.
A acusar o cunhado de ser avarento para confessar-
Considerando os seus conhecimentos sobre os
se injustiçado na divisão da herança paterna.
gênerostextuais, o texto citado constitui-se de
B atribuir a “efeito de relações sociais” a naturalidade
com que Cotrim prendia e torturava os escravos. A fatos ficcionais, relacionados a outros de caráter
C considerar os “sentimentos pios” demonstrados pelo realista, relativos à vida de um renomado
personagem quando da perda da filha Sara. escritor.
D menosprezar Cotrim por ser tesoureiro de uma B representações generalizadas acerca da vida de
confraria e membro remido de várias irmandades. membros da sociedade por seus trabalhos e vida
E insinuar que o cunhado era um homem vaidoso e cotidiana.
egocêntrico, contemplado com um retrato a óleo.
C explicações da vida de um renomado escritor, com
8. (Enem 2011) estrutura argumentativa, destacando como tema
seus principais feitos.
Abatidos pelo fadinho harmonioso e nostálgico
D questões controversas e fatos diversos da vida de
dosdesterrados, iam todos, até mesmo os brasileiros,
personalidade histórica, ressaltando sua intimidade
seconcentrando e caindo em tristeza; mas, de repente,
familiar em detrimento de seus feitos públicos.
ocavaquinho de Porfiro, acompanhado pelo violão
E apresentação da vida de uma personalidade,
organizada sobretudo pela ordem tipológica da
narração, com um estilo marcado por linguagem
objetiva.

10. (Enem 2010)


Capítulo III
Um criado trouxe o café. Rubião pegou na xícara
e,enquanto lhe deitava açúcar, ia disfarçadamente
mirandoa bandeja, que era de prata lavrada. Prata, ouro,
eram osmetais que amava de coração; não gostava de
bronze, maso amigo Palha disse-lhe que era matéria de
preço, e assimse explica este par de figuras que aqui
está na sala: umMefistófeles e um Fausto. Tivesse,
porém, de escolher,escolheria a bandeja, – primor de
argentaria, execuçãofina e acabada. O criado esperava
teso e sério. Eraespanhol; e não foi sem resistência que
Rubião o aceitoudas mãos de Cristiano; por mais que lhe
dissesse queestava acostumado aos seus crioulos de
Minas, e nãoqueria línguas estrangeiras em casa, o
amigo Palhainsistiu, demonstrando-lhe a necessidade de
ter criadosbrancos. Rubião cedeu com pena. O seu bom
pajem, queele queria pôr na sala, como um pedaço da
província, nemo pôde deixar na cozinha, onde reinava
um francês, Jean;foi degradado a outros serviços.
ASSIS, M. Quincas Borba. In: Obra completa. V.1. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1993
(fragmento).

Quincas Borba situa-se entre as obras-primas do autor


eda literatura brasileira. No fragmento apresentado,
apeculiaridade do texto que garante a universalização
desua abordagem reside
A no conflito entre o passado pobre e o presente rico,
que simboliza o triunfo da aparência sobre a
essência.
B no sentimento de nostalgia do passado devido à
substituição da mão de obra escrava pela dos
imigrantes.
C na referência a Fausto e Mefistófeles, que
representam o desejo de eternização de Rubião.
D na admiração dos metais por parte de Rubião, que
metaforicamente representam a durabilidade dos
bens produzidos pelo trabalho.
E na resistência de Rubião aos criados estrangeiros,
que reproduz o sentimento de xenofobia.

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