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A TRIBUTAÇÃO DAS INDENIZAÇÕES PAGAS PELO USO

INDEVIDO DA IMAGEM DE ESPORTISTAS


DR. RAFAEL MARCHETTI MARCONDES ------------- 100

AS ISENÇÕES DE IMPOSTO DE RENDA, CONTRIBUIÇÃO


SOCIAL SOBRE O LUCRO, PIS E COFINS DOS CLUBES
DE FUTEBOL E O VETO AO ARTIGO 48 DA LEI Nº
13.155/2.015 (PROFUT)
DR. ROGERIO MOLLICA ------------------------- 110

LEI DE INCENTIVO AO ESPORTE: IMPORTÂNCIA DE


ASSESSORAMENTO JURÍDICO TANTO PARA O PROPONENTE
QUANTO PARA O PATROCINADOR/DOADOR
DR. LEONARDO ESTEVAM MACIELCAMPOS MARINHO - 120

A CRESCENTE MUNDIAL DO ESPORTE ELETRÔNICO:


UMA NOVA MODALIDADE QUE MERECE MAIS ATENÇÃO
DR. VICTOR BIAZOTTI LAÓZ --------------------- 130

LEGADO OLÍMPICO: UMA BREVE ANÁLISE DOS RECURSOS


DESTINADOS AO ESPORTE NACIONAL À LUZ DA LEGIS-
LAÇÃO BRASILEIRA E DA INICIATIVA PRIVADA
DR. MARIANY MAYUMI NONAKA ------------------ 140

O DOPING NOS ESPORTES PARALÍMPICOS:


CONSCIENTIZAÇÃO SOBRE AS CONSEQUÊNCIAS E
EFEITOS NA INDÚSTRIA ESPORTIVA E NA CARREIRA
DOS PROFISSIONAIS DO ESPORTE
DR. VICTOR GOMES MARINHO ------------------- 150

COMPLIANCE E A FIFA
DR. EDMO COLNAGHI NEVES -------------------- 160

ESPORTE MUNDIAL, DOPING E OLIMPÍADAS:


A “GUERRA FRIA” DO SÉCULO XXI
DR. LUIZ FELIPE DE ALMEIDA PEREIRA-------------- 170

O ESPORTE PARALÍMPICO E OS CAMINHOS PARA


A INCLUSÃO SOCIAL
DR. CIRO WINCKLER
DR. MIZAEL CONRADO DE OLIVEIRA --------------- 176

POR QUE A COPA DA RÚSSIA DE 2018 É TÃO IMPORTANTE


NO CENÁRIO DO ESPORTE MUNDIAL?
DR. BENEDITO VILLELA ALVES COSTA JUNIOR ------- 187

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o esporte paralímpiCo e os
Caminhos para a inClusão soCial

CIRO WINCKLER

Doutor em Educação Física UNICAMP; Professor Asso-


ciado da Universidade Federal de São Paulo; Professor do
Programa de Pós Graduação Strictu Senso em Ciências do
Movimento Humano e Reabilitação UNIFESP; Coordenador
de Alta Performance do CPB; Participação em 5 edições de
Jogos Paralímpicos (Sidney, Atenas, Pequim, Londres e Rio
de Janeiro).

MIZAEL CONRADO DE OLIVEIRA

Presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro; Advogado; Mes-


trando em Administração Pública - FGV; Bicampeão paralím-
pico de Futebol de 5 (Atenas e Pequim); Tricampeão Mundial
de Futebol de 5; Melhor Jogador do Mundo de Futebol de
5 - 1998;

SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ---------------------------------- 177

I. A CONDIÇÃO ATUAL DOS JOGOS PARALÍMPICOS ---- 179

II. O ESPORTE PARALÍMPICO NO BRASIL ------------- 180

III. O PAPEL DO COMITÊ PARALÍMPICO BRASILEIRO ---- 182


PALAVRAS-CHAVE:
CONCLUSÃO ----------------------------------- 183
ESPORTE PARALÍMPICO, PESSOA
COM DEFICIÊNCIA
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS -------------------- 184

176
Introdução
O esporte é um fenômeno de definição polissêmico, não apenas
pelas suas manifestações, mas pelas possibilidades de desenvolvimento
humano que estão associados à sua prática (Bento, 2000)
As pessoas com deficiência têm seus primeiro relatos de prática esportiva
registrados no final do século XIX.

Embora a primeira competição esportiva sistematizada ocorra em


1924 com a criação dos jogos do Silêncio – Deaflympics, competição para
atletas com deficiência auditiva, o esporte paralímpico tem seu surgimento
posterior na década de 1940.

Durante a 2ª Guerra mundial os soldados ingleses que voltavam fe-


ridos de combate iam a óbito em taxas muito elevadas nos hospitais de re-
abilitação. O médico Ludwig Guttman, de origem germana e ascendência
judaica, estabeleceu-se em Aylesbury após fugir da perseguição em seu
país. Na unidade de Lesões Medulares do hospital de Stoke Mandeville
começou a utilizar o esporte como prática de reabilitação (Bailey, 2008).

Guttman aproveitou o dia 29 de julho de 1948, data da abertura dos


Jogos Olímpicos de 1948, para realizar os Jogos de Stokemandeville. As
edições posteriores desse evento foram marcadas por uma internaciona-
lização e em 1960 sua nona edição internacional foi realizada na cidade
de Roma, logo após os Jogos Olímpicos. Este evento ficou reconhecido
como os primeiros Jogos Paralímpicos.

Desse modo o movimento paralímpico teve seu conceito inicial ba-


seado num modelo centrado nas práticas de reabilitação e de lazer (Bailey,
2008). A transição desse modelo para o alto rendimento foi um processo
longo. O Comitê Olímpico Internacional limitava o uso do nome paralímpi-
co, as cidades sedes dos Jogos Olímpicos não aceitavam sediar a versão
das pessoas com deficiência, e a aceitação da potencialidade da pessoa
com deficiência foram algumas barreiras.

O nome paralímpico foi criado na segunda edição dos jogos, 1964,


e tinha como significado Olímpiadas dos paraplégicos, o prefixo “para” era
oriundo da palavra paraplégico. No entanto, até 1984 havia um movimento
do Comitê Olímpico Internacional - COI e do Comitê Olímpico Americano
para que esse nome não fosse adotado em virtude do impacto financeiro
que o crescimento do movimento das pessoas com deficiência poderia
acarretar (Bailey, 2008). Essa barreira foi vencida em 1988, e com a inser-
ção de outros tipos de deficiência na edição dos jogos de 1976 o prefixo
“para” passou a significar paralelo, e assim o termo paralímpico significa
evento paralelo ao olímpico.

177
No ano de 2011, no Brasil, passou-se a adotar o termo paralímpico
ao invés de paraolímpico. Isso ocorreu devido a necessidade de ajuste da
terminologia em virtude dos Jogos Rio 2016, e este alinhamento ajustou
o termo empregado no Brasil com o adotado pelo Comitê Paralímpico
Internacional- IPC e nos demais países de língua portuguesa (Parsons e
Winckler, 2012).

Entre 1972 e 1984 os jogos olímpicos e paralímpicos caminharam


por sedes diferentes. Vários motivos permearam este processo, desde a
inviabilidade financeira dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos nesse perío-
do, a falta de reconhecimento do esporte paralímpico e em 1980 a União
Soviética anunciou que não realizaria os Jogos, pois não tinha pessoas
com deficiência entre os seus cidadãos. Isso mudou em 1988 quando
os Sul-coreanos decidiram realizar os Jogos Paralímpicos em respeito à
crença do carma associado à prática do budismo (Bailey, 2008). Atual-
mente o país proponente dos Jogos Olímpicos deve realizar o evento pa-
ralímpico decorrente de um acordo entre o COI e IPC.

O entendimento social e cultural da pessoa com deficiência marcou


não apenas o conceito da potencialidade da pessoa com deficiência, mas
os dois tópicos anteriores. A pessoa com deficiência era vista como uma
pessoa com pouca produtividade e em sua grande maioria como elemento
excluído dos círculos sociais. Nesse sentido, apesar de serem heróis de
guerra, os soldados da segunda guerra precisavam de assistência, pois
não teriam condição de uma reabilitação plena. Desse modo pessoa nes-
sa condição não era percebido como um atleta vitorioso, suas marcas não
eram vistas, observava-se apenas sua superação frente ao seu estigma
social.

Essas barreiras foram rompidas em decorrência de movimentos


sociais e políticos ao longo das décadas, mas principalmente por resulta-
dos expressivos no campo esportivo dos atletas com deficiência. Permiti-
ram o entendimento do esporte paralímpico como um ambiente para o alto
rendimento

Basta percebermos que atletas com deficiência competem em Jo-


gos Olímpicos desde 1904, no entanto isso se torna evidente apenas com
participação de Oscar Pistorius, atleta biamputado e com próteses, nos
jogos Olímpicos de 2012. Essa situação colocou em pauta a participação
não apenas em decorrência da performance alcançada e mas principal-
mente pela tecnologia empregada pelo atleta estar influenciando nos re-
sultados.

Esse cenário, levou ao acesso da pessoa com deficiência pelo e


para o esporte no final do século XX.

178
I. A condição atual dos Jogos Para-
límpicos
Atualmente os Jogos Para- atletas com as mesmas funcio-
límpicos são o maior evento mul- nalidades de movimento em de-
tiesportivo para pessoas com de- terminadas classes. No entanto,
ficiência do mundo. O Jogos Rio isso também cria uma barreira,
2016 ultrapassaram os 4 bilhões pois nem todas as pessoas com
de audiência cumulativa global deficiência são elegíveis para o
(IPC, 2018). esporte, para serem aceitas elas
Essa condição midiática tem demandam apresentar uma de-
elevado no esporte o nível de ficiência mínima. Cada moda-
competitividade entre atletas, o lidade esportiva apresenta um
retorno financeiro e investimento sistema de classificação e suas
de patrocinadores. deficiências mínimas.
Esse cenário de disputa de- O quadro 1 apresenta as mo-
manda ajustes de modo a garan- dalidades paralímpicas, as defi-
tir a equidade da prática esporti- ciências que podem competir em
va, a principal diferença para isso cada esporte e o ano de inserção
em relação ao esporte olímpico nos Jogos Paralímpicos em sua
ocorre através da Classificação versão de Verão e de Inverno.
Esportiva. Esse sistema aloca

Quadro 1 – Modalidades Paralímpicas nos jogos de Verão e Inverno, as


deficiências elegíveis e o ano de Inclusão

179
Fonte: IPC 2018
Legenda: CR em cadeira de rodas, Física – deficiência física, Visual – de-
ficiência visual, intelectual – deficiência intelectual; As pessoas com de-
ficiência auditiva não estão inseridas no programa paralímpica por uma
questão ideológica, apesar de terem participado da fundação do IPC

Jogos do Rio 2016 colocam Baka, baixa visão, na prova dos


em destaque o atleta alemão 1500 metros rasos. Ambos com
Markus Rehm, protetizado abai- seus resultados no evento para-
xo do joelho, do salto em distân- límpico teriam sido medalhistas
cia e o atleta argelino Abdellatif de ouro no evento olímpico.

II. O esporte paralímpico no Brasil


O esporte paralímpico che- que garantiam o direito de aces-
ga ao Brasil em 1958. O carioca so as pessoas com deficiência e
Robson Sampaio de Almeida no confirmadas pela Constituição de
dia 1º de Abril de 1958, funda o 1988. O primeiro salto do espor-
Clube do Otimismo. Na cidade te paralímpico brasileiro ocorre
de São Paulo, no dia 28 de Ju- na década de 2000 com a imple-
lho do mesmo ano, Sérgio Se- mentação da Lei Agnelo/Piva (Lei
raphin Del Grande cria o Clube N° 10.264/2001) a qual permitiu
dos Paraplégicos de São Paulo. recursos perenes para o desen-
Ambos foram realizar sua reabili- volvimento do esporte. Esse ce-
tação fora do Brasil e voltam com nário legalista para o esporte pa-
a ideia do esporte na bagagem. ralímpico teve um grande reforço
O esporte começa a se organizar com a Lei Brasileira de Inclusão
dentro das instituições de atendi- da Pessoa com deficiência (Lei
mento para pessoas com defici- Nº 13.146/2015) que garantiu
ência e era dividido nas grandes que 2,7% da arrecadação bruta
áreas de deficiência (Deficiência dos concursos de prognósticos
Visual, Auditiva, Física e Intelec- e loterias federais seja destina-
tual). do ao esporte. Este montante é
O período de grande desen- dividido entre o Comitê Olímpico
volvimento do esporte paralímpi- do Brasil, que fica com 62,96%, e
co começa na década de 1980 ao Comitê Paralímpico Brasileiro
com a implementação de leis é destinado 37,04%.

180
O Comitê Paralímpico Bra- ramentas.
sileiro foi fundado em 1995. Seu Esse cenário permitiu ao
estabelecimento associado à esporte brasileiro evoluir no nú-
condição legalista e aos movi- mero de praticantes e nos resul-
mentos sociais permitiu a cria- tados internacionais. A primeira
ção de conexões que levaram participação brasileira em Jogos
o esporte para um modelo de Paralímpicos ocorreu em 1972,
clubes esportivos organizados no entanto podemos acompa-
pelo esporte e não apenas pela nhar na Figura 1 que a evolução
área de deficiência ou centrados dos resultados brasileiros são
na inclusão social e utilizando o acentuados a partir dos jogos de
esporte como uma de suas fer- Atlanta 1996.

DIRETORIA DE MARKETING_CPB_2016

Figura 1: Representação Brasileira em Jogos Paralímpicos


Fonte: Comitê Paralímpico Brasileiro

181
III. O Papel do Comitê Paralímpico Brasi-
leiro
O Comitê Paralímpico Brasi- tam impacto e desenvolvimento
leiro exerce a função similar ao sistêmico, quando se foca nos
do Comitê Olímpico do Brasil no objetivos de cada uma dessas
que tange a representação in- manifestações. Assim um atleta
ternacional e a organização de no alto rendimento tem em sua
delegações brasileiras em Jogos pratica um processo de aprendi-
Sulamericanos, Parapanameri- zado, inclusão ou participação,
canos e Paralímpicos. No entan- mesmo que essas sejam peque-
to, em virtude da estrutura inter- nas e ocorram de maneira inci-
nacional ainda exerce a função dental. Costa e Winckler (2012)
de confederação nacional para ainda apontam que a esfera do
atletismo, natação, halterofilis- esporte saúde não é contempla-
mo, tiro esportivo e esgrima. No da na legislação brasileira de ma-
âmbito de gestão de recursos, neira ampla, apenas como uma
gerencia em parceria com Con- prática dentro do esporte escolar.
federação Brasileira de Esporte Isso pode limitar o desenvolvi-
Escolar e Confederação Brasi- mento do esporte uma vez que o
leira de Esporte Universitário os movimento paralímpico é depen-
recursos oriundos da Lei Agnelo/ dente dos profissionais de saúde
Piva implementando ações de fo- uma vez que o primeiro contato
mento esportivo, capacitação de da pessoa com deficiência e sua
recursos humanos, bem como família com o esporte ocorre ou,
organizando as competições infelizmente, deixa de ocorrer em
para esses grupos. Essas ações virtude da falta de estrutura ou
mostram que o CPB transcen- conhecimento.
de seu papel de alto rendimento Essa condição leva o CPB a
permitindo e garantindo o acesso desenvolver programas e ações
ao esporte a pessoa com defici- que contemplem não apenas o
ência. alto-rendimento, mas permitam
A lei Pelé (Nº 9.615/1998) o acesso das pessoas com de-
aponta que o esporte deve ter ficiência em diferentes níveis de
suas manifestações educacio- prática, influenciando em políti-
nal, participação, rendimento e cas públicas de esporte e educa-
formação (Brasil, 1998). Costa e ção, além de integrar programas
Winckler (2012) entendem que de saúde e reabilitação civis e
essas manifestações, apesar de militares.
organizadas juridicamente em
estruturas segregadas, apresen-

182
Conclusão
Indicar o esporte paralímpico como um ambiente de inclusão é uma
linha de argumentação tênue uma vez que o esporte paralímpico segrega
as pessoas com menor habilidade e talento esportivo, limita o acesso de
quem não tem a deficiência mínima. No entanto, as conquistas dos atletas
paralímpicos modificam a percepção da população acerca da potenciali-
dade da pessoa com deficiência.

Os atletas paralímpicos passam a ter mais espaço para pleitear a


equidade de direitos, oportunidades sociais e equipamentos e instalações
com acessibilidade.

Os programas esportivos do CPB permitem não apenas o desen-


volvimento do atleta, mas permitem a garantia de acesso da pessoa com
deficiência a uma melhor condição para exercer sua cidadania.

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Referências Bibliográficas
BAILEY S. Athlete First: A History of the Paralympic Movement London:
Wiley and Sons, 2008.

BENTO J.O. Do futuro do desporto e do desporto do futuro. In: Júlio Gar-


ganta (Ed.): Horizontes e órbitas no treino dos jogos desportivos. FCDEF,
Universidade do Porto, 2000.

BRASIL, Lei no 9.615, de 24 de março de 1998., disponível em: http://


www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9615consol.htm. Acesso em 10 de fe-
vereiro de 2018.

COSTA, A. M. ; Winckler, C . A Educação Física e o esporte paralímpico.


In: De Mello, MT; Winckler, C. (Org.). Esporte Paralímpico. 1ed. São Pau-
lo: Editora Atheneu, 2012, v. 1, p. 15-20.

PARSONS, A.; WINCKLER, C. (2012). Esporte e a pessoa com deficiên-


cia. In: MELLO, M. T.; WINCKLER, C. Esporte Paralímpico. São Paulo:
Atheneu, 2012. p. 3-14.

IPC Record number of broadcasters for Rio 2016 . disponível em:


https://www.paralympic.org/news/record-number-broadcasters-rio-2016 .
Acesso em 10 de fevereiro de 2018.

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