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VIII SIMPÓSIO DE CIÊNCIAS DA UNESP – DRACENA

VIV ENCONTRO DE ZOOTECNIA – UNESP DRACENA

DRACENA, 26 e 27 DE SETEMBRO DE 2012

Podogoniometria Equina – A Importância de Medir os Cascos


Surian, C. R. S.4; Krieck, A. M. T.2 Porto, L. P.2; Lamberti, M. S.1; Modesto, R. R.2; Silva,
E. S. M.³; Puoli Filho, J. N. P.5; Chiquitelli Neto, M.6
1
Acadêmicas do curso de Zootecnia, FMVZ/UNESP/Botucatu
2
Acadêmicos do curso de Medicina Veterinária, FMVZ/UNESP/Botucatu
³Departamento de Reprodução Animal, FMVZ/UNESP/Botucatu
4
Departamento de Produção Animal, FMVZ/UNESP/Botucatu
5
Professor Assistente Doutor do Departamento de Produção Animal, FMVZ/UNESP/Botucatu
6
Professor Assistente Doutor do Departamento de Biologia e Zootecnia, FE/UNESP/Ilha Solteira

Introdução
Os cavalos de competição, que desempenham suas atividades próximas ao
limite, podem ter a sua performance afetada negativamente devido a alterações no
aparelho locomotor tais como uma má conformação dos cascos. O desequilíbrio dos
cascos, ou seja, a presença de assimetrias nos cascos é um dos fatores mais importantes
na origem de claudicações em equinos e se não detectada a tempo, podem gerar
importantes perdas econômicas, considerando os gastos com treinamento, atendimento
veterinário, tempo de treinamento perdido, alimentação e investimentos na seleção dos
animais (CANTO et al., 2006)
Grande parte das claudicações tem sua origem no casqueamento e
ferrageamento inadequados que afetam o impacto do casco no solo, a distribuição do
peso e a duração da fase de apoio e elevação da passada (O’GRADY e POUPARD,
2003).
O equilíbrio podal é um termo restrito ao casco e constitui um subgrupo da
conformação. Este se refere além da aparência, ao modo como o casco interage com a
superfície (PARKS, 2003).
O desequilíbrio podal é causa significativa de claudicação nos equinos, porém
inadequadamente investigada. As causas mais comuns de claudicação relacionadas a
problemas podais devem-se tanto a defeitos de conformação quanto a defeitos de
equilíbrio, esses últimos resultantes, principalmente, de métodos de casqueamento e
ferrageamento inadequados (MELO et al., 2006).
As extremidades distais dos membros do cavalo funcionam como um distribuidor
de forças que resultam da interação entre o cavalo e a superfície por onde ele caminha.
No animal com conformação ideal, o centro de gravidade do casco é o mesmo do
membro (CANTO et al., 2006).
A forma ideal do casco e, consequentemente, seu equilíbrio tem sido objeto de
especulação nos últimos 2000 anos. A importância da manutenção de um casco
equilibrado na prevenção da claudicação é bem reconhecida (NOGUEIRA, 2002).

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Portanto, é fundamental que o casqueamento e ferrageamento estabeleçam este


equilíbrio, caso contrário, a distribuição do peso e das forças na parte distal do membro
será alterada.
O objetivo deste trabalho foi desenvolver uma revisão de literatura, abordando a
medição dos cascos em equinos como um importante método de avaliação do
casqueamento e ferrageamento que são aplicados aos cavalos durante sua vida
funcional.

Desenvolvimento
O estojo córneo é um elemento complexo e muito importante no mecanismo de
absorção da concussão. Alterações anatômicas como: “cascos muito pequenos para o
tamanho corporal do cavalo” e práticas inadequadas de ferrageamento que prejudicam a
capacidade de absorção podem aumentar a ocorrência de claudicação (NOGUEIRA,
2002).
O desenvolvimento do casco ocorre no sentido do talão (caudal) para a pinça
(cranial) com crescimento médio de seis a 12 mm por mês, levando de nove até 12 meses
para se renovar completamente. A média de crescimento do casco é de 6,3 mm e 7,2 mm
por mês, para os membros anteriores e posteriores, respectivamente (NOGUEIRA, 2002).
A parede do casco cresce mais lentamente em ambiente frio. O crescimento
também é mais lento, em climas secos e quando a umidade adequada não está presente
na parede do casco. Ela cresce uniformemente, no sentido distal à epiderme coronária. A
maior proporção de casco jovem está nos talões. Esta região também é a mais elástica,
ajudando na expansão durante a concussão. Outros fatores também influenciam
positivamente no crescimento do casco, como: menor ângulo da pinça, estação do ano
(quente), qualidade genética, nutrição adequada, menor utilização do membro, menor
idade e quantidade de umidade da parede do casco (STASHAK, 2006).
A avaliação do equilíbrio do casco é, na maioria das vezes, de natureza subjetiva,
e os profissionais envolvidos na prevenção e manutenção da saúde do casco utilizam
diferentes critérios de avaliação, que às vezes podem diferir na definição do que seja um
casco equilibrado (MELO et al., 2006).
O método de aferição biométrica das diversas estruturas dos cascos, bem como a
determinação da proporção entre elas constituem-se em processo diagnóstico eficiente e
objetivo na investigação dos desequilíbrios podais e indicação de práticas inadequadas de
manejo dos cascos (MARANHÃO et al., 2007).
Dentre as anormalidades de equilíbrio podal,destacam-se o desnivelamento
dorso-palmar e médio-lateral, contração dos talões e ranilha, diferença entre o ângulo da
pinça dos cascos contralaterais e tamanho do casco em relação ao peso do animal
(MARANHÃO, 2007; MELO et. al.,2006).
Alguns poucos estudos nacionais já relataram as medidas biométricas do casco
de equinos de diferentes raças, incluindo Mangalarga Marchador, Crioulo e animais de
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tração sem raça definida (MARANHÃO et al., 2007), bem como as principais alterações
do equilíbrio podal em cada uma dessas populações. Diferentemente das medidas
padronizadas pela literatura internacional os valores biométricos do casco variaram
consideravelmente entre os estudos, e com base nesses estudos, uma generalização
dessas medidas para todas as raças de equinos não pode ser feita (CANTO et al., 2006).
Em 1987, pesquisadores concluíram que o casqueamento e ferrageamento
corretos podem melhorar a performance e reduzir a incidência de lesões
musculoesqueléticas em cavalos Puro Sangue de Corrida (MELO et al., 2006).
O equilíbrio do casco por sua vez pode ser avaliado por meio de mensurações
como: ângulo do casco, comprimento de pinça, orientação médio lateral, contorno da
parede e superfície de apoio e simetria dos cascos contralaterais (MARANHÃO et al.,
2006; MELO et al., 2006). Turner (2003) sugere a mensuração dos seguintes parâmetros:
comprimento de talões medial e lateral, quartos medial e lateral, circunferência de coroa,
ângulo da pinça, comprimento e largura de ranilha. O desequilíbrio dorso palmar pode
contribuir para a síndrome da pinça longa e talões caído, também chamado de animais
achinelados, ou o contrário, os cascos encastelados. O desequilíbrio médio lateral pode
predispor às rachaduras, distorções da parede do casco e talões desnivelados. Talões
desnivelados diferem em 0,5 cm ou mais entre si (O’GRADY e POUPARD, 2003).
Segundo Turner (2003), o comprimento da pinça deve ser constante ao longo da parede
até a região dos quartos, que devem ser um a dois centímetros menores do que a pinça e
os talões devem possuir cerca de um terço do comprimento da pinça. As proporções da
ranilha e área do casco podem ser calculadas. O ângulo formado pela superfície dorsal da
pinça e superfície em contato com o solo da pinça deve ser o mesmo ângulo do eixo da
pata visto de perfil. O eixo normal para os membros anteriores pode variar entre 45 a 50º
e para os membros posteriores de 50 a 55º. Este ângulo pode ser medido com um
transferidor (STASHAK, 2006).
O eixo podofalângico deve ser inspecionado de perfil, com o animal em apoio
quadrupedal, de forma equilibrada. De forma geral, animais com menor ângulo da pinça
em relação à angulação da quartela são denominados como o eixo quebrado para trás,
enquanto o contrário é denominado eixo quebrado para frente. Em ambos os casos a
carga imposta sobre as articulações distais e o aparelho suspensório é anormal,
favorecendo o surgimento de alterações como doenças do navicular e doença
degenerativa da articulação inter-falângica distal (TURNER, 2003).
O equilíbrio crânio-caudal e médio-lateral são essenciais na prevenção de lesões,
especialmente nos membros anteriores dos cavalos Puro Sangue de Corrida. Lesões
como desmites, tendinites, alterações degenerativas das articulações interfalangeanas e
metacarpo-falangeanas, fraturas de primeira falange, sesamoidites, fraturas de sesamóide
e doença do navicular estão associadas com ângulos de casco incorretos. Embora o
desequilíbrio dos cascos esteja presente em muitos cavalos, alguns indivíduos são
capazes de tolerar estas alterações e os problemas aparecem com o avanço da idade do
animal. Na maioria dos casos, este desequilíbrio resulta em claudicação. Um casco
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desequilibrado pode ser a causa primária de dor através do comprometimento do


mecanismo de absorção da concussão ou ainda uma causa indireta de dor localizada em
uma região mais proximal do membro (O’GRADY e POUPARD, 2003).

Conclusão
As práticas de casqueamento e ferrageamento empregadas em conjunto com as
técnicas de medições dos cascos, atuam como uma ferramenta importante na prevenção
e correção de desequilíbrios podais, provendo melhoria no desempenho e redução das
lesões musculoesqueléticas em cavalos.

Referências
CANTO, L. S.; LA CORTE, F. D.; BRASS, K. E.; RIBEIRO, M. D. Frequência de
Problemas de equilíbrio nos cascos de cavalos crioulos em treinamento. Braz. J. Vet.
Res. Anim. Sci., São Paulo, v. 43,n. 4, p 489-496, 2006.

MARANHÃO, R.P.A.; PALHARES, M.S.; MELO, U.P. et al Avaliação biométrica do


equilíbrio podal de equídeos de tração no município de Belo Horizonte. Ciênc. An. Bras.,
v.8, n.2, p.297-305, abr/jun, 2007.

MELO, U. P.; FERREIRA, C.; SANTIAGO, R. M. F. W. et al. Equilíbrio do casco equino.


Ciên. An. Bras., out/dez, v.7, n.4, p.389-398, 2006.

NOGUEIRA, C. E. W. . Avaliação dos efeitos da aplicação de diferentes substâncias


tópicas na região do perióplo, sobre o crescimento do estojo córneo do casco em equinos.
Revista Científica Rural, Bagé - RS, v. 07, n. 1, p. Prelo, 2002

O'GRADY, S.E.; POUPARD, D.A. Proper physiologic horseshoeing. Vet. Clin. North Am.:
Equine Pract., v.19, p.333-351, 2003.

PARKS, A. Form and function of the equine digit. Vet. Clin. North Am.: Equine Pract., v.
19, n. 2, p. 285-307, 2003.

STASHAK, T. S.; Relação entre conformação e claudicação. Claudicação em Equinos


segundo Adams, Editora Roca ltda, 4ª edição, São Paulo, SP, p. 73 – 100, 2006.

TURNER, T. A. Examination of Equine Foot. Vet. Clin. North Am. Equine Pract., v.19,
p.309-332, 2003c.

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