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FRATURA BIARTICULAR COMINUTIVA DE FALANGE MÉDIA E


SUBLUXAÇÃO DA ARTICULAÇÃO INTERFALANGEANA PROXIMAL EM
UM EQUINO – RELATO DE CASO1

Cominutive biarticular fracture of middle phalanx and subluxation of proximal


interphalangeal joint in an equine - case report

Natielle Fonseca Oliveira Neto2 Ana Luisa Soares de Miranda3 Rosiane Gomes Silva
Oliveira4 Maryelle Fernandes Duarte5

RESUMO

As fraturas de falange média ocorrem mais comumente nos membros posteriores de


cavalos jovens, praticantes de atividades esportivas, com maior incidência em animais
da raça quarto de milha. No entanto, também pode afetar os membros torácicos. O caso
relatado se trata de um cavalo atleta da raça quarto de milha praticante de team roping,
com histórico de fratura cominutiva de falange média após um treinamento,
apresentando dificuldade em se locomover e claudicação grau IV. O animal foi levado
ao hospital veterinário Horse Vet, Araxá - Minas Gerais onde diagnosticou-se através
do exame radiográfico a fratura de falange média. O tratamento de eleição nesses casos
pode ser realizado através de técnicas de osteossíntese ou tratamento conservativo, pela
imobilização do membro com gesso e analgésicos. Quando optado pela imobilização
com gesso a progressão da fratura e recuperação do animal dependerá da evolução de

____________________________________________
1
Trabalho de Conclusão de Curso II apresentado como pré-requisito para obtenção do título de
bacharel em Medicina Veterinária do Centro Universitário de Patos de Minas.
2
Estudante de Graduação 10º período do Curso de Medicina Veterinária do Centro
Universitário de Patos de Minas - UNIPAM, e-mail: natielleneto@unipam.edu.br
3
Professora Orientadora. Médica Veterinária D.Sc. Ana Luisa Soares de Miranda. Centro
Universitário de Patos de Minas - UNIPAM, e-mail: analuisasm@unipam.edu.br
4
Membro da banca. Bióloga D.Sc. Rosiane Gomes Silva Oliveira. Centro Universitário de Patos
de Minas - UNIPAM e-mail: rosianegso@unipam.edu.br
5
Membro da banca. Médica Veterinária Esp. Maryelle Fernandes Duarte. Centro Universitário
de Patos de Minas – UNIPAM. e-mail: maryelle_duarte@hotmail.com
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consolidação da fratura, da preservação da articulação interfalangeana distal (AID) e


proximal (AIP), podendo ser utilizados tratamentos infiltrativos com ácido hialurônico
para preservação das mesmas, podendo ser um processo demorado, com duração de
meses e até anos. O objetivo desse trabalho, foi relatar um caso de fratura de falange
média e subluxação da articulação interfalangeana proximal, avaliando e acompanhando
a consolidação da fratura, reação óssea, progressão de dor e avaliação das articulações
interfalangeanas proximal e distal até o processo de anquilose.

PALAVRAS-CHAVE: “cavalo”, “claudicação”, “tratamento”, “imobilização”,


“consolidação”.

ABSTRACT

The fractures of the middle phalanx occur most commonly in the hind limbs of young
horses, practicing sports activities, with a higher incidence in animals of the breed
quarter of a mile. However, it can also affect the thoracic limbs. The case reported is a
quarter-mile athlete with a history of comminutive fracture of the middle phalanx after
training, presenting difficulty in getting around and grade IV claudication. The animal
was taken to the veterinary hospital Horse Vet, Araxá - Minas Gerais where the middle
phalanx fracture was diagnosed through radiographic examination. The treatment of
choice in these cases can be performed through osteosynthesis techniques or
conservative treatment, by immobilization of the limb with plaster and analgesics.
When opting for immobilization with plaster, the progression of the fracture and
recovery of the animal will depend on the evolution of fracture consolidation, on the
preservation of the distal (AID) and proximal (AIP) interphalangeal joint, and
infiltrative treatments with hyaluronic acid can be used to preserve them, it can be a
lengthy process, lasting months or even years.The objective of this study was to report a
case of middle phalanx fracture and subluxation of the proximal interphalangeal joint,
evaluating and accompanying fracture consolidation, bone reaction, pain progression
and evaluation of proximal and distal interphalangeal joints, until the ankylosis process.

Keywords: "horse", "lame, "treatment", "immobilization", "consolidation".


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Introdução

Os cavalos são atletas natos, sendo assim, sua própria atividade esportiva pode
ser recompensadora para eles, podendo então estar motivados para trabalhar ou se
exercitar (QUEIROZ, 2020). Os equinos são considerados animais de alta performance.
Devido a sua força, resistência e grande potencial para desempenhar atividades
esportivas, muitos deles seguem sua carreira de atleta. A crescente demanda por
competição em provas equestres exigem que os cavalos atletas tenham um desempenho
de alto nível, passando por treinos rigorosos (geralmente treinamentos errados) e a
pressão que suportam nem sempre dá os resultados desejados, o que aumenta muito o
aparecimento de patologias e lesões relacionadas à atividade física. (ARAÚJO, 2014).
O aparelho locomotor dos equinos é considerado de grande importância por
constituir o sistema de sustentação e dinâmica da locomoção nesta espécie. Os membros
torácicos suportam 60% a 65% de seu peso corporal, portanto, a maioria das lesões
concentra-se nesses membros. Entre eles, cerca de 95% tiveram origem no osso do
carpo ou em nas extremidades distais (SALES, 2017).
O membro distal do equino é composto pela região distal ao carpo ou ao tarso e
está envolvido na maioria dos casos de claudicação nos equinos. A quartela e o casco
são constituídos por quatro ossos sendo eles, as falanges proximal, média e distal e o
osso navicular ou sesamóide distal. A primeira falange, ou falange proximal é um osso
longo localizado entre o terceiro metatarsiano ou metacarpiano e a falange. A segunda
falange ou falange média está localizado entre as falanges proximal e distal, e se
caracteriza por ser um osso curto e achatado (RIBEIRO, 2013).
As fraturas da falange média são mais comuns nos membros posteriores de
cavalos de meia-idade entre quatro a dez anos, praticantes de provas, como apartação,
provas de três tambores, rédeas, laço e baliza. Embora esse tipo de fratura possa ser
mais comum em adultos da raça Quartos de Milha, potros e equinos de outras raças
também são acometidas (TED, 2006). No entanto, também pode afetar os membros
torácicos. A doença geralmente envolve fise proximal, levando à subluxação da
articulação interfalangeana proximal (AIP). De acordo com estudos retrospectivos,
cavalos quarto de milha é responsável por cerca de 50% dos animais afetados por esta
condição. (RIBEIRO, 2013).
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Fraturas osteocondrais que envolvem a articulação interfalangeana proximal


(AIP) não são comuns, porém algumas raças como puro sangue Inglês e Standardbred
podem apresentar maiores riscos para esta condição. As fraturas da eminência plantar
ou palmar, envolvendo a articulação interfalangeana proximal (AIP), ocorrem com
frequência. A fratura pode acometer tanto uma eminência, denominada uniaxial quanto
acometer ambas as eminências, denominadas de abaxial, que apesar das fraturas
uniaxiais não resultarem em subluxação da articulação interfalangeana proximal (AIP),
as biaxiais podem causar uma subluxação dessa articulação (TED, 2006).
O presente estudo se justifica pelo crescente índice de acidentes por fraturas de
membros, em provas equestres, envolvendo animais de esporte. Visto que, muitos deles
não conseguem reincidir a carreira esportiva ou até mesmo precisam ser eutanasiados no
local. O mal condicionamento físico, despreparo, treinamentos errados, inutilização de
equipamentos de proteção e esforços excessivos exigidos do animal podem ser uma das
principais causas de acidentes como esse, podendo muita das vezes serem evitados.
Além disso o rápido atendimento veterinário poderá definir um prognóstico satisfatório
para o animal.
O objetivo do presente trabalho foi realizar um relato de caso acerca da
fratura de falange média, ocorrida durante treinamento, em um cavalo da raça quarto de
milha, de aproximadamente quatro anos de idade, atleta praticante da modalidade de
team roping, avaliando sua recuperação e prognóstico de retorno as atividades
esportivas, assim como a avaliação da consolidação da fratura, monitoramento do grau e
regressão de dor, avaliação da progressão do processo de osteoartrose das articulações
interfalangeanas distal e proximal até o processo de anquilose.

Material e método

O trabalho foi relatado, após aprovação pelo Comitê de Ética no Uso de


Animais (CEUA), do Centro Universitário de Patos de Minas (UNIPAM), sob número
de protocolo 82/21. O presente trabalho teve como objetivo relatar e acompanhar o caso
de uma fratura cominutiva de falange e subluxação da articulação interfalangeana
proximal, avaliando a consolidação da fratura, o grau e regressão de dor, progressão do
processo de osteoartrose das articulações interfalangeanas distal e proximal até o
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processo de anquilose, avaliação da recuperação e performance, bem como sua


qualidade de vida.
O caso se trata de um cavalo da raça quarto de milha, de aproximadamente 4
anos de idade, macho, castrado, competidor da modalidade team roping. Este estudo foi
realizado com base nos dados iniciais coletados do hospital veterinário de Araxá- MG e
aos dados obtidos na propriedade em que o animal esteve alojado posteriormente dando
seguimento ao tratamento, na cidade de Paracatu- MG.
Segundo responsável pelo animal, após manobra brusca durante treinamento de
team roping o animal apresentou claudicação de grau IV e relutância ao se locomover,
necessitando de uma intervenção veterinária onde foi optado inicialmente pela
imobilização provisória do membro e encaminhamento para o hospital veterinário na
cidade de Araxá – MG, constatando após exame radiográfico uma fratura cominutiva de
falange média. Foi proposto o tratamento cirúrgico pela técnica de artrodese, o que não
foi aceito pelo proprietário devido ao alto custo do procedimento. Sendo assim o animal
continuou com membro imobilizado com gesso sintético e sob efeito de analgésicos a
base de morfina nos primeiros dias e seguindo o tratamento com previcox oral.
Após 46 dias da fratura o animal foi adotado por mim sob o consentimento do
ex proprietário e transferido para a cidade de Paracatu – MG, sendo mantido em uma
baia com cama alta e dieta a base de volumoso do tipo feno tifton-85, concentrado 1kg
ao dia e repouso, realizando o acompanhamento radiográfico para avaliação da fratura
durante 180 dias.

Resultados e Discussão

Durante anamnese o treinador responsável pelo animal relatou que estava


em treinamento de team roping, onde após fazer uma manobra brusca sentiu que o
cavalo apresentou dificuldade em apoiar o membro torácico esquerdo ao solo, relutando
a continuar com o treino. Após perceber que havia algo errado observou que poderia se
tratar de uma fratura de membro distal, recorrendo a uma assistência veterinária.
A avaliação inicial de cavalos com fraturas ósseas nas extremidades pode
apresentar uma variedade de desafios que requerem a atenção do veterinário. Se houver
claudicação aguda, impotência funcional dos membros, ruídos altos ou mesmo luxação
ou instabilidade óbvia dos membros, deve-se suspeitar de uma fratura. Edema,
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crepitação e dor à palpação ou flexão passiva dos membros também indicam sua
ocorrência (ROSA; DEARO, 2013).
Neste contexto, após a avalição dos médicos veterinários e a suspeita de
uma fratura distal do membro torácico esquerdo, o animal foi encaminhado ao hospital
veterinário de Araxá-MG. Foi realizado exame radiográfico no qual foi comprovado a
suspeita de fratura, se tratando de uma fratura biarticular cominutiva de falange média,
além de uma subluxação da articulação interfalangeana proximal (figura 1,2 e 3).

Figura 1: Dia da fratura; Posição lateromedial (LM); Evidenciando fratura cominutiva de


falange média, linha de fratura na eminência proximal dorsal (seta branca), fratura por avulsão
da eminência palmar da falange média (círculo) e subluxação da interfalangeana proximal.
Fonte: Horse vet.
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Figura 2: Dia da fratura; Posição DorsoPalmar-LateroMedial Oblíqua (DLPMO); Evidenciando


fragmento da eminência palmar (círculo), linha de fratura biarticular da falange média (seta
branca) e subluxação da AIP. Fonte: Horse vet.

Figura 3: Dia da fratura; Posição anteropalmar (AP); Evidenciando preservação da AID,


diminuição do espaço articular da AIP (seta). Fonte: Horse vet.

A falange média ou segunda falange, está localizada entre a falange


proximal e a falange distal. É um osso curto e achatado, sendo sua largura maior que a
sua altura, medindo metade do comprimento da falange proximal, porém mais forte.
Articula-se proximalmente com a primeira falange e distalmente com a terceira falange.
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A superfície articular distal estende-se até o aspecto palmar, onde se articula com o osso
navicular ou sesamóide distal (RIBEIRO, 2013).
As fraturas osteocondrais resultam tanto do uso e do trauma direto no local
como feridas penetrantes assim como, ocasionalmente, de avulsão resultante de
rompimento das inserções dos tecidos moles (TED, 2006). As fraturas da eminência
palmar ou plantar que envolvem a articulação interfalangeana proximal (AIP), podem
resultar de compressão e entorse, que ocorre com paradas súbitas e curvas fechadas, ou
podem ocorrer durante a superextensão articular que resulta em tensão excessiva do
tendão flexor digital superficial e de ligamentos sesamóides distais causando uma
avulsão de uma ou ambas eminências (ROCHA et al, 2019).
Após a avaliação radiográfica, foi realizado a imobilização do membro com
a pinça levemente flexionada, com a suspensão do talão, onde segundo Rosa (2013)
essa flexão tende a reduzir a fratura, visto que a imobilização com membro relaxado
com talão em apoio, colocando em posição de extensão, pode ocorrer um desvio dos
fragmentos da eminência para longe da origem do osso. Para a imobilização do membro
foi utilizado gesso sintético, rolos de algodão, ataduras, e ligas compressivas. Como
protocolo de analgesia inicialmente foi utilizado morfina (1 ampola intramuscular) nos
três primeiros dias, seguindo o tratamento com ¼ de comprimido a base de firocoxibe
oral TID, por vinte e um dias.
As fraturas cominutivas podem ser tratadas somente com a imobilização
pelo gesso ou com a utilização de gesso e pinos de transfixação colocados através da
diáfise da metade ou do terço final distal do metacarpo ou metatarso, com parafusos de
fixação interna ou com duas placas ósseas dorsais à crista da AIP, com ou sem pinos de
transfixação (TED, 2006). Já nas fraturas cominutivas graves pinos de transfixação
rosqueados centralmente com padrão positivo são usados para reduzir a chance de
colapso da fratura. Uma broca de tamanho apropriado é acoplada à furadeira é usada
para fazer orifícios e roscas para a colocação de pinos, posteriormente um gesso é
colocado na porção distal do membro de forma e envolva o casco e os pinos
(WATANABE et al, 2015).
Sendo assim, o animal permaneceu com membro imobilizado por vinte dias,
após esse período o gesso foi removido e realizado novas imagens radiográficas afim de
avaliar alguma evolução. Foi realizado duas posições radiográficas sendo elas a
anteroproximal (AP) para observação dos espaços articulares, observando o início do
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processo de anquilose (figura 4), e posição lateromedial, para observação do


alinhamento das falanges, consolidação da fratura e reações ósseas, que comprometem a
articulação interfalangeana proximal (AIP), denominada de ring bone, nota-se também
maior deslocamento do fragmento fraturado (figura 5). Após avaliação o membro foi
novamente engessado com leve flexão das falanges.

Figura 4: 20 dias após fratura; Posição anteropalmar (AP); Áreas de radioluscência na falange
média, com linha de fratura e diminuição do espaço articular (seta) da AIP indicando início do
processo de anquilose. Fonte: Horse vet.
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Figura 5: 20 dias após fratura; Posição lateromedial (LM); proliferação periarticular da AIP
(seta), maior deslocamento do fragmento fraturado. Fonte: Horse vet.

As fases da consolidação de uma fratura distal ocorrem da mesma forma


que em outros ossos sendo observado após quatro semanas de estabilização externa a
formação de calo ósseo na região da fratura. Após 22 semanas, observa-se apenas a
presença de cicatriz óssea, mas consolidação total da ferida. No entanto alguns animais
podem apresentar artrite asséptica da articulação interfalangeana proximal e distal,
como consequência de uma fratura articular ou biarticular (PRADO, 2018).
Apesar do protocolo analgésico com firocoxibe o animal ainda se manteve
com fortes dores, permanecendo parte do dia em decúbito lateral, o que lhe causou
algumas escaras na região dos jarretes, na qual foram tratadas diariamente com
antissepsia e pomada a base de clorexidine. Devido ao peso em que se encontrava foi
instituído uma dieta reduzida e menos energética, sendo fornecido diariamente 500g de
concentrado na parte da manhã e 500g na parte da tarde, e volumoso de feno três vezes
ao dia.
Após vinte e oito dias após a fratura, foram realizadas novas imagens
radiográficas, observando um aumento da proliferação óssea na região dorsal da falange
média e estabilização do fragmento da eminência palmar, além da preservação da
articulação interfalangeana distal.
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Figura 6: 28 dias após fratura; Posição lateromedial (LM), proliferação óssea na região dorsal
da falange média e na porção distal da falange proximal (setas brancas). Fonte: Horse vet.

Figura 7: 28 dias após fratura; Posição DorsoLateral-PalmaroMedial Oblíqua (DLPMO);


Conservação da AID, áreas radioluscentes da falange média. Fonte: Horse vet.

O animal se manteve na clínica por um período de quarenta e seis dias


recebendo alta médica, sendo autorizado pelo ex proprietário a ser transferido para a
cidade de Paracatu-MG, onde se daria continuidade ao tratamento. Foi então realizado
uma nova imagem radiográfica da posição lateromedial (LM) (figura 8), para avaliação
da fratura e a troca do gesso, onde novamente foi feito a imobilização do membro com o
apoio da pinça elevando o talão.
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Figura 8: 46 dias após fratura; Posição lateromedial (LM); Aumento da proliferação óssea das
falanges proximal e média, consolidação do fragmento palmar. Fonte: Horse vet.

Após transferência para a cidade de Paracatu, o animal foi mantido em baia


com cama de serragem, sendo fornecido 500g de concentrado duas vezes ao dia,
adicionados 40g de New Algas, suplemento composto de algas marinhas calcárias,
suspendendo o uso de analgésico e fornecimento de volumoso a vontade. Após oitenta
dias desde o dia da fratura, foi feito a remoção do gesso e o ferrageamento ortopédico
utilizando a ferradura oval no membro afetado, sendo trocada após 40 dias.
As ferraduras ovais tem como objetivo estabilizar o casco no plano transversal
impedindo que o talão e o lado medial do casco afundem sobre o solo, apesar de não ter
efeito no momento da força nas articulações metacarpofalangeanas e interfalangeanas
distais e não possuem influência na força que exercem pelo tendão flexor digital
profundo e os sesamóides. Em comparação com as ferraduras comuns, as ferraduras
ovais reduzem a animação do trote, ou seja, o movimento dos membros distais na
direção vertical, mas não altera o comprimento e a duração da passada ou a
porcentagem da fase de apoio (GOMIDE, 2010).
Durante o todo o período repouso o animal foi acompanhado, para avaliação da
dor, sendo observado uma melhora da claudicação ao passo após o ferrageamento
ortopédico com a ferradura oval. Observou-se também um aumento de volume dorsal na
região da quartela que se estendia até a borda coronária do casco, devido a proliferação
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óssea denominada como ring bone, que comprometia a articulação interfalangeana


proximal evoluindo para uma anquilose.
Após cento e oitenta dias da fratura, foi realizado novas imagens radiográficas
para reavaliação das articulações e da região de fratura. Durante a inspeção estática foi
observado uma elevação de talão e excesso de pinça no membro torácico esquerdo
membro fraturado, confirmando pela imagem radiográfica conforme mostra na figura 9,
podendo levar ao comprometer as forças sobre a falange distal.
Sendo assim, a elevação excessiva de talão mudará a direção e a carga vertical
exercida nas falanges distal e média, criando uma força destrutiva potencial entre a
falange distal e a parede do casco (GOMIDE, 2010). Sendo assim, foi realizado o
casqueamento corretivo para redução de talão e pinça e posteriormente o ferrageamento
ortopédico com a ferradura oval.

Figura 9: 180 dias após fratura; Posição lateromedial (LM): Excesso de pinça e talão;
consolidação do fragmento, anquilose da AIP, preservação da AID, ring bone. Fonte: Vinícius
Botelho.

Observou-se também a prevalência da preservação da articulação


interfalangeana distal, o processo de anquilose da interfalangeana proximal, além de
maior proliferação óssea das falanges proximal e média e consolidação da linha de
fratura (figura 10). Para uma maior longevidade e maior preservação da articulação
interfalangeana distal (AID), foi sugerido a infiltração intra-articular com ácido
hialurônico.
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Figura 10: 180 dias após fratura; Posição AP: Anquilose da AIP, preservação da AID (seta).
Consolidação da linha de fratura. Fonte: Vinícius Botelho.

O animal permanece em repouso, tendo sua alimentação reajustada para 2kg de


concentrado por dia juntamente com suplemento New Algas e volumoso à vontade,
apresentando um score corporal adequado para seu tamanho, conseguindo o apoio do
membro fraturado ao solo normal quando em repouso e com uma evolução de
claudicação ao passo, passando do grau IV ao grau de II, observando uma melhora
gradual nesse período, com diagnóstico favorável, tendo chances de retorno às
atividades esportivas.

Conclusão

As fraturas de falange média que acometem as articulações interfalangeanas


proximal e distal quando não optado pela correção cirúrgica através da artrodese, podem
ser tratadas apenas pela imobilização com gesso e repouso. A progressão da fratura e
recuperação do animal dependerá da evolução de consolidação da fratura, da
preservação da articulação interfalangeana distal (AID) e proximal (AIP), podendo ser
utilizados tratamentos infiltrativos com ácido hialurônico para preservação das mesmas
quando preservadas, além do tempo de degeneração da articulação mais acometida até o
processo de anquilose e ausência de dor. Esse processo pode ser demorado, com
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duração de meses e até anos. Sendo assim, o animal relatado apresentou uma
recuperação satisfatória esperada, tendo um prognóstico favorável, com expectativa de
retorno às atividades esportivas futuramente.

Agradecimentos

À equipe veterinária Horse Vet Araxá -MG, por ter concedido o caso clínico e a
confiança em doação do animal para tratamento e relato e ao Médico veterinário
Vinícius pelo o acompanhamento radiográfico e disponibilização das imagens.
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