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JESSÉ + SUZANNE

Não há dúvidas que o Jesse é um intelectual de marca maior’.


Isso me ficou claro quando eu li "A ralé brasileira" e trechos de "A
Construção social da subcidadania". Entretanto, de um tempo pra cá,
não aprecio certas ênfases que ele utiliza nem a generalização de
exemplos sociológicos a partir de um único e conveniente ponto de
vista.

Exemplo disso: Como ele mesmo disse, 60 mil pobres são


assassinatos ao ano no Brasil. Entretanto, a polícia não é sequer
responsável nem por 10% dessas mortes (e ainda quando ela mata, ela
mata em confronto). Claro que a polícia brasileira é corrupta e comete
injustiças. Ela é sanguinolenta (também por que a classe média
aplaude), e os seus procedimentos são controversos. Mas assim também é
o traficante que usa o outro negro favelado como 'escudo' para escapar
dos tiros da polícia ou mata qualquer um que sobe o morro sem se
identificar previamente ou se não paga a dívida de entorpecentes. As
duas faces da moeda devem ser mostradas. Não adianta esta dualidade
estar presente no livro e na palestra essa visão simplesmente
"desaparecer". As situações do cotidiano urbano brasileiro são muito
complexas para formulações tão categóricas e unidimensionais. Penso eu
que o fato de Jessé ter mobilizado ao longo do tempo suas faculdades
intelectuais para tornar mais 'palatável' a leitura para os grupos de
esquerda fez ele perder parte do brilho, ainda que ele possua muito e
seja um dos sociólogos brasileiros mais originais, críticos e
dedicados a entender de forma analítica os meandros da desigualdade
brasileira e da formação da pobreza que é legitimada e
inconscientemente aplaudida pela própria sociedade que a compõe.

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