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Segundo a Lei nº 12.644, de 16 de Maio de 2012, o dia 15 de Novembro é o Dia Nacional da Umbanda.
Essa data se remete ao mito criacional, típico de todas as religiões, que narra os
eventos que dão o início a qualquer uma delas. O mito criacional da Umbanda dá conta
que em 15 de novembro de 1908, em Niterói/RJ, o rapaz de 17 anos chamado Zélio
Fernandino de Moraes teria “incorporado” o Caboclo das Sete Encruzilhadas e este
teria dito que no dia seguinte voltaria a “incorporar” em Zélio e criaria uma nova
religião, que se chamaria “Umbanda”.
Muitos autores, que se fiam nesse mito criacional, afirmam que o termo Umbanda
nunca havia sido utilizado, sendo que o Caboclo das Sete Encruzilhadas teria sido o
primeiro a fazê-lo. No entanto, em 1894, Heli de Chatelain, em seu livro “Folktales of
Angola”, registrava o termo Umbanda, mostrando seu significado, como é encontrado
em qualquer dicionário Quimbundo (uma das línguas faladas pelo povo Bantu), que
quer dizer “cura”.
Ora, sabe-se que no desenvolvimento do que hoje se chama Umbanda houve
dificuldade para se dar a ela um nome “adequado”. Primeiramente se pensou em
Embanda (uma corruptela da palavra bantu Imbanda, plural de Kimbanda, que quer
dizer “curadores”), porém, segundo o próprio Zélio, em gravação registrada, o nome
Embanda “não soava bem”. Houve, ainda, a proposta de se utilizar Alabanda, em
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homenagem ao Orixá Malê, que Zélio “incorporava” e que dizia ser um malaio
muçulmano. Assim, segundo o próprio Zélio, Alabanda significaria “a banda de Alá”,
referindo-se a Allah, nome de Deus para os muçulmanos. Ocorre que Orixá Malê só se
manifestou em 1923, portanto o termo Umbanda ainda não era o designativo adotado
para a “nova religião”. Lembro que Malê vem do idioma iorubá, Ìmàlè, que designa o
muçulmano naquela língua.
Gilberto Velho, Maria Villas-Boas Concone, Renato Ortiz, entre outros, afirmam que a
Umbanda se desenvolve a partir dos anos 1930, o que corrobora com que escrevi até
agora.
Ainda assim, com o tempo, essa Umbanda praticada por Zélio passou a ser chamada de
“Umbanda Branca e Demanda” (ou, também, “Umbanda Pura”).
O que pouco se aborda, no entanto, é que momentos antes da manifestação do Caboclo
das Sete Encruzilhadas houve a manifestação de uma outra “entidade”, chamada de Pai
Antônio Curador (BRITTO, 2009), que era o espírito de um escravizado. Em que pese
esse fato não ser desconhecido da maioria dos autores umbandistas, que o registraram,
dá-se pouca importância ao que ele representava, fruto do racismo estrutural de nossa
sociedade desde sempre. Pai Antônio é o símbolo do escravo humilde, conformado
com sua posição subalterna, que diz que não poderia se sentar em cadeira, “pois lugar
de preto é no toco e para ele bastaria um toco para se sentar”.
Por meio dessa configuração, formou-se “a tríade da simbologia umbandista que a
narrativa fundacional do Caboclo das Sete Encruzilhadas procurou consolidar: índio
valente [Caboclo das Sete Encruzilhadas], negro humilde [Pai Antônio Curador],
branco racional [Zélio Fernandino de Moraes, o espírita]. (BRITTO, 2009)
Podemos, dos parágrafos anteriores, fazer algumas conjecturas: 1) o termo “Umbanda
Pura” nos levar a crer que havia uma “Umbanda Impura”, ou seja, uma prática que não
atendia aos anseios da elite branca carioca do início do século XX, que abominava as
práticas “fetichistas” dos pretos e que deveria ser extirpada; 2) da mesma forma que a
anterior, “Umbanda Branca” denota que existiria uma “Umbanda Preta”, que deveria
ser desconsiderada; 3) somente a prática que tivesse a chancela dessa elite, ou seja,
que fosse baseada no catolicismo popular, com suas práticas devocionais aos Santos
católicos, unida ao pretenso cientificismo do espiritismo kardecista seria “aprovada” e
chamada de “verdadeira” Umbanda.
Como se vê, para que a Umbanda fosse legitimada era necessário que ela quebrasse sua
ligação com a África e, por consequência, com qualquer coisa que lembrasse os negros,
exceção feita à sua subalternidade, apontada especificamente no comportamento
tradicional dos Pretos-Velhos; ademais, era necessário que o mito criacional afirmasse,
sem dúvida, essa legitimação: por isso a escolha do 15 de novembro, dia da
proclamação da República, como data de sua “anunciação”, bem como a escolha de um
Caboclo como porta-voz do “mundo espiritual”, em um momento em que a literatura
romântica brasileira e o brasilianismo buscavam estabelecer, no Caboclo (indígena), o
símbolo da nação. Para temperar esse caldo, o Caboclo que teria se manifestado no dia
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