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Publicado em 14/08/2013 por TECPN
Tancredo da Silva Pinto, Tata Ti Inkice, é considerado o organizador do culto Omoloko no Brasil e o
responsável direto pela reunião dos adeptos dos cultos afro-brasileiros em Federações
Umbandistas para defender o seu direito de ter e cultuar uma religião afro-brasileira. Seu nome
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religioso (Sunna[1]) era Fọ̀lkétu Olóròfẹ̀. Foi chamado, muitas vezes, de o “Papa Negro da
Umbanda”.
Tancredo, apesar de ter ficado famoso pelo grau sacerdotal “Tata” (pai), utilizado nos Candomblés
Angola para designar o Sacerdote, Tancredo da Silva Pinto, na hierarquia da Umbanda Omolokô,
era tratado por Babalaô (do Yorùbá, Babaláwo).
Era filho de Belmiro da Silva Pinto e de Edwirges de Miranda Pinto, sendo seus avós maternos
Manoel Luis de Miranda e Henriqueta Miranda. Sua árvore genealógica remonta a grandes
estudiosos e praticantes de Religiões Tradicionais Africanas.
Seu avô foi fundador dos primeiros blocos carnavalescos, tendo fundado os blocos “Avança” e
“Treme-Terra”, bem como o “Cordão Místico”, uma mistura de samba de caboclo com o ritual
africano, em que sua tia Olga saía vestida de “Rainha Jinga”.
Seu pai, considerado o melhor tocador de violão de sua época, tinha em seu histórico o título de
excelente ferrador, bem como de exímio tratador de animais, sendo ainda criador de pássaros de
diversas qualidades.
Em 1950, devido a grandes perseguições aos umbandistas nos mais diversos Estados da União,
assim como no antigo Distrito Federal, fundou a Federação Espírita de Umbanda, com a qual
rompe em 1952. Viajou por quase todo o país, fundando filiais da Federação com o objetivo de
organizar e dar personalidade à Umbanda. Fundou as Federações dos seguintes Estados: Rio de
Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Pernambuco e outros. Criou, para melhor
mostrar seu culto de Umbanda ao povo em geral, as seguintes Festas Religiosas: Festa de Yemanjá,
no Rio de Janeiro; Yaloxá, na Pampulha – Belo Horizonte; Cruzambê, em Betim – BH, Minas Gerais;
Festa de Preto Velho, em Inhoaíba – Rio de Janeiro; Festa de Xangô, em Pernambuco; “Você sabe o
que é Umbanda” no Estádio do Maracanã, RJ, e finalmente a Festa da Fusão, realizada no centro da
Ponte Rio-Niterói.
Segundo Tancredo da Silva Pinto, a primeira sociedade umbandista criada para defender os
direitos dos umbandistas no Rio de Janeiro e no Brasil foi a “União”, fundada em 1941. Segundo
ele, naquela época, devido às perseguições policiais, os cultos eram acompanhados por bandolim,
cavaquinho e órgão, porque não era permitido tocar tambores (atabaques). No Rio de Janeiro, os
cultos afro-brasileiros foram professados dessa maneira até 1950.
O motivo que levou Tancredo a criar federações umbandistas para defender os direitos dos cultos
afro-brasileiros desenrolou-se na casa de santo de sua tia, Olga da Mata, a qual foi narrada por ele:
“esse episódio passou-se na casa da minha tia Olga da Mata. Lá arriou Xangô, no terreiro São
Manuel da Luz, na Avenida Nilo Peçanha, 2.153, em Duque de Caxias. Xangô falou: – Você deve
fundar uma sociedade para proteger os umbandistas, a exemplo da que você fundou para os
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sambistas, pois eu irei auxiliá-lo nesta tarefa. Imediatamente tomei a iniciativa de fazer a
Confederação Umbandista do Brasil, sem dinheiro e sem coisa alguma. Tive uma inspiração e
compus o samba General da banda, gravado por Blecaute, que me deu algum dinheiro para dar os
primeiros passos em favor da Confederação Umbandista do Brasil.”[2]
Depois desse fato, Tancredo fundou a Confederação Umbandista do Brasil, usando parte do
pagamento recebido pelo direito autoral do samba “General da Banda” (fazendo uma alusão ao
Orixá Ogun), gravado por Bleckaute, e ajudou a fundar em outros Estados novas federações
umbandistas, a fim de defender os direitos dos cultos afro-brasileiros. Ele afirmava que a
Confederação Umbandista do Brasil, fundada em 1952, foi criada “com a finalidade de restabelecer
a tradição antiga, em toda sua força e pureza primitiva”[3], ou seja, a origem africana da Umbanda.
Tata Tancredo sempre foi muito polêmico, como podemos ver nessa afirmação: “Hoje, uma vasta
onda de mistificação invadiu a Umbanda. Criaram, os intrusos, uma Umbanda branca, uma
Umbanda mista, modificaram o ritual sagrado, e, pior, sob o ponto de vista espiritual,
introduziram o comercialismo na seita. Escritores improvisados publicaram livros cheios de erros e
fantasias, servindo a Umbanda de capa a atividades inteiramente comerciais. Para completar a
mistificação, pessoas que nada conhecem dos mistérios de Umbanda, que nunca foram Sacerdotes,
que nunca fizeram ‘cabeça’, abriram centros e tendas, montaram consultórios luxuosos, onde os
clientes são atendidos mediante fichas numeradas”.[5]
Tancredo instituiu as festividades à Iemanjá no Rio de Janeiro – RJ, à exemplo das festividades que
aconteciam em Salvador – BA. As primeiras aconteceram na mesma data que na Bahia, 02 de
fevereiro, mas com o tempo elas passaram a ser feitas no dia 31 de dezembro.
Foi um dos fundadores da União de Escolas de Samba em 1935 que organizaria os desfiles sob o
patrocínio de Pedro Ernesto. Em 1936 se torna sócio-fundador da União Brasileira de
Compositores. Torna-se, também, sócio da Ordem dos Músicos do Brasil. Criou o samba de breque
com Moreira da Silva e ideou a lei que instituiu o enredo exclusivamente nacional. Ator de cinema
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na antiga Cinédia e jornalista, fundou a revista “Mironga”. Gravou muitos pontos cantados de
Umbanda, que ficaram famosos nacionalmente. Além do célebre samba “General da Banda”,
compôs vários outros, inclusive em parceria com Zé Kéti.
Tata Tancredo tinha uma coluna semanal no jornal “O Dia”, de maior circulação no Rio de Janeiro,
na qual desenvolvia um trabalho de divulgação da Umbanda, recomendando que sua prática
deveria sempre estar atrelada às origens africanas. Escreveu durante 25 anos essa coluna.
A pesquisadora Diana Brown, que pesquisou a Umbanda no Rio de Janeiro, surpreendeu-se com a
fama e popularidade que possuía Tancredo nas classes mais baixas das populações cariocas. Muitas
pessoas, segundo a autora, mencionavam o nome de Tata Tancredo e muitos Terreiros de Umbanda
que existiam nas periferias cariocas eram filiados à Confederação de Umbanda do Brasil. Segundo
a pesquisadora, ainda, Tancredo mantinha alianças com outros líderes umbandistas, com os quais
articulava uma posição africanista para a Umbanda, demonstrando forte antagonismo para com os
líderes da chamada Umbanda Branca.[6]
Sempre contou com o apoio e compreensão das autoridades civis, militares e eclesiásticas nos seus
empreendimentos. Dentre os seus contatos e estreitos relacionamentos políticos destacam-se o
Governador Chagas Freitas, Negrão de Lima, Deputado Átila Nunes, o Chefe da Casa Civil
Golbery do Couto e Silva, Deputado Marcelo Medeiros e Deputado Miro Teixeira, etc.
Mantinha proximidade muito grande com Mãe Senhora (Ọ̀ṣun Mìwà), terceira Ialorixá do Ilê Axé
Opô Afonjá (a segunda Casa de Candomblé Ketu do Brasil). O antropólogo Marco Aurélio Luz nos
conta que Tata Tancredo prestou homenagem a Mãe Senhora, em uma festividade no Maracanã,
em 1965, escolhendo-a como a “Mãe Preta do Brasil”, erigindo-lhe estátua numa Praça em Campo
Grande (Rio de Janeiro). Nessa praça, segundo o autor, Tata Tancredo “realizava o encontro de
centenas de terreiros em homenagem aos ancestrais, conhecidos na Umbanda como Preto Velho”.
[7]
Em vida ainda recebeu diversas comendas e homenagens pelos serviços prestados às religiões afro-
brasileiras. Foi um fiel defensor da prática africanista ao culto umbandista e ao Omolokô.
Recebeu em Sessão solene da Câmara Estadual do antigo Estado da Guanabara, o título de Cidadão
Carioca, pelos serviços prestados em favor do povo. Teve publicada mais de 30 obras literárias,
divulgando a Umbanda e o Omolocô. Foi fundador e colaborador de diversos jornais e revistas
destinadas a esclarecer e orientar os adeptos da religião afro-brasileira. O humilde e analfabeto
estafeta dos correios “escreveu” diversas obras de cunho umbandista e manteve colunas diárias.
Protagonizou uma série de debates com outro intelectual umbandista W.W. da Matta e Silva (o
fundador da Umbanda Esotérica). Para Tancredo a Umbanda tem raízes na África, que teria se
desenvolvido, à exemplo do Candomblé, nos quilombos e nas senzalas. Matta e Silva não concorda
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No dia 02 de setembro de 1979 foi sepultado às 15:00hs, na quadra 70, carneiro 3810 do Cemitério
de São Francisco Xavier, à Rua Pereira de Araújo, nº. 44, no Rio de Janeiro. As despedidas ao seu
corpo foram realizadas no Ilê de Umbanda Babá Oxalufan, situado a Avenida dos Italianos nº.1120,
em Coelho Neto, onde seu corpo foi velado. No livro de registro de filhos de santo estão
registrados mais de 3.566 filhos de santos que foram iniciados por Tata Tancredo.
O Sirum (Axexê), cerimônia de encomenda do corpo de pessoa falecida, foi realizado por José
Catarino da Costa, conhecido como Zé Crioulo, filho de Xapanam e confirmado como Ogã no
Terreiro de Tio Paulino da Mata e Tia Olga da Mata.
Uma das curiosidade de Tancredo, segundo o pesquisador, escritor, músico e compositor Nei
Lopes é que ele teria sido Pai de Santo do “bispo” Edir Macedo, da Igreja Universal do Reino de
Deus.[8]
Nei Lopes publica um artigo, que aborda a biografia de Tata Tancredo e seu envolvimento com o
samba, vejamos:
No carnaval de 1950, um samba diferente ganhava as ruas, na voz do saudoso cantor Blecaute.
Constava quase que só de um refrão (Chegou general da banda ê ê! Chegou general da banda ê á!)
tirado talvez de uma cantiga de umbanda ou do repertório das batucadas que animavam o antigo
jogo da pernada carioca, primo-irmão da capoeira. Levava as assinaturas de Sátiro de Melo,
Tancredo Silva e José Alcides. E fez tanto sucesso que seu intérprete passou, a partir daí, a
apresentar-se, nos shows carnavalescos, envergando uma vistosa fantasia de talhe militar. Mas
“general” mesmo foi o co-autor Tancredo. General do samba, da umbanda e das causas populares.
‘Arte e Música’
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Tancredo da Silva Pinto nasceu em Cantagalo, RJ, em 1904. “Tata de inquice”, ou seja, pai-de-santo,
da linha do Congo e do rito omolocô, em 1949 fundou a Confederação Umbandista do Brasil e
durante sua existência publicou vários livros sobre a doutrina umbandista. Em música, Tancredo é
também co-autor, com Davi Silva e Ribeiro Cunha, de outro clássico: o samba Jogo Proibido,
gravado em 1937 por Moreira da Silva e tido, quase unanimemente, como o primeiro samba de
breque. Dez anos depois, destacando-se como líder, ajudava a fundar a Federação Brasileira das
Escolas de Samba.
Em janeiro de 1950, o jornal Quilombo, dirigido por Abdias do Nascimento e voltado para a
comunidade negra, publicava matéria intitulada ‘Os compositores populares defendem os seus
interesses’. E nela dava conta da fundação da ‘Escola de Samba Arte e Música’, por iniciativa de
Tancredo e seu parceiro José Alcides.
A ‘Arte e Música’, segundo seus fundadores, era uma sociedade de âmbito nacional e suas
realizações deveriam repercutir até no estrangeiro. Seu objetivo era divulgar a música popular
tipicamente brasileira. E, para tanto, ela pretendia criar departamentos autônomos e especializados
para cada setor, nomeando representantes estaduais, e estabelecendo núcleos de ‘arte e música’
pelas principais cidades brasileiras, com vistas a intenso intercâmbio de experiências artísticas.
A escola de Tancredo pretendia também divulgar, a partir do Rio e através do rádio, do disco, do
teatro musicado e de partituras impressas, as criações de autores desconhecidos do interior do
Brasil. E se dispunha a, mediante contrato, colaborar com as firmas produtoras de ‘películas
cinematográficas, fornecendo-lhes artistas, extras e compondo música popular’ – conforme
declaração de Tancredo Silva.
Firme em seus objetivos, a instituição pretendia tão somente atuar no mercado de trabalho e não
fazer benemerência: ‘É preciso não esquecer que constituímos uma entidade de arte e cultura e não
de assistência social.’ – afirmava um de seus dirigentes ao jornal Quilombo. ‘Contudo não podemos
fechar os olhos aos problemas de caráter grave e urgente. Mantemos um socorro social com a
finalidade de atender às necessidades básicas e às situações aflitivas dos nossos associados’.
Tancredo Silva Pinto faleceu no Rio em 1979. Três anos antes recebia honrarias da câmara de
vereadores do município de Itaguaí. E, em 1974, realizava na ponte Rio-Niterói, na condição de
sacerdote da umbanda e com respaldo governamental, ritual propiciatório da fusão entre os
antigos estados da Guanabara e do Rio de Janeiro. E dois anos antes da passagem do líder para a
Outra Dimensão, era fundada, no bairro da Abolição, na antiga Avenida Suburbana, numa loja
onde antes funcionava uma funerária, a chamada ‘Igreja Universal do Reino de Deus’, criada,
segundo consta, por um dos filhos-de-santo do respeitado tata (e bamba).
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Líder do samba, dos cultos afro e de parte do segmento autoral musical, foi de fato um
comandante. Sobre sua inusitada escola de samba, pouco se sabe. Mas seu ideário, antecipando
muita coisa boa que efetivamente veio, anos depois – como o Projeto Pixinguinha, as gravadoras
independentes e até mesmo alguns princípios defendidos pela SOMBRÁS e pela nossa AMAR – fez
dele um legítimo estrategista.
– Guia e Ritual para Organização dos Terreiros de Umbanda – Editora Eco – Tancredo da Silva
Pinto e Byron Torres de Freitas
– Origens da Umbanda
– O Eró
– Cabala Umbandista
– Iaô
– Camba de Umbanda
– Fundamentos da Umbanda
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* Sacerdote afro-religioso. É dirigente do Templo Espiritual Pantera Negra e do Ilé Ifá Ajàgùnmàlè
Olóòtọ́ Aiyé. Bacharel, Mestre e Doutor em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública, pelo
Centro de Altos Estudos de Segurança; Especialista em Políticas Públicas de Gestão em Segurança
Pública, Especialista e Mestre em Ciência da Religião (todas pela PUC/SP), Especialista em História
da África e do Negro no Brasil pela UCAM/RJ. Professor do Programa de Pós Graduação
(Mestrado e Doutorado) do Centro de Altos Estudo em Segurança. Endereço
eletrônico: ezezide@gmail.com
[1] Termo que vem do árabe e quer dizer tradição. A utilização de termos árabes na Umbanda
Omolokô demonstra a influência que os costumes malês (negros muçulmanos) tiveram na
implementação dos cultos afro-brasileiros. Sunna é um étimo utilizado com a mesma significação
de Orúkọ (nome iniciático) para o Candomblé Ketu.
[3] KLOPPENBURG, Boaventura. Espiritismo: orientação para os católicos. São Paulo: Loyola, 2005,
p. 40.
[5] FREITAS, Byron Torres de & PINTO, Tancredo da Silva. Fundamentos da Umbanda. Rio de
Janeiro: Editora Souza, 1956, p. 19
[6] BROWN, Diana. Uma história da Umbanda no Rio. In: Umbanda e Política. Cadernos do ISER,
n. 18, Rio de Janeiro, Marco Zero-ISER, 1985, p. 9-42.
[7] LUZ, Marco Aurélio. Cultura negra em tempos pós-modernos. Salvador: EDUFBA, 2008, p. 126.
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