Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Ano: 2019
1
Eliana Nunes Maciel Bastos
Competências e profissionalismo no
ambiente infantil
1ª Edição
2019
Curitiba, PR
2
Editora São Braz
Rua Cláudio Chatagnier, 112
Curitiba – Paraná – 82520-590
Fone: (41) 3123-9000
Revisão de Conteúdos
Alexandre Kramer Morgenterm
Revisão Ortográfica
Juliano de Paula Neitzki
Desenvolvimento Iconográfico
Juliana Emy Akiyoshi Eleutério
FICHA CATALOGRÁFICA
3
PALAVRA DA INSTITUIÇÃO
Caro(a) aluno(a),
Seja bem-vindo(a) à Faculdade São Braz!
4
Sumário
Prefácio ..................................................................................................... 06
Aula 1 – O professor como mentor e guia ................................................ 07
Apresentação da Aula 1 ............................................................................ 07
1.1 – Educação Infantil no contexto contemporâneo .......................... 07
1.2 – O papel do professor mentor e guia .......................................... 10
Conclusão da Aula 1 ................................................................................ .. 18
Aula 2 – Pedagogia Relacional .................................................................. 18
Apresentação da Aula 2 ............................................................................ 18
2.1 Inferências acerca da Pedagogia Relacional ................................ 19
2.2 A Pedagogia Relacional na Educação Infantil .............................. 26
Conclusão da Aula 2 ................................................................................. 29
Aula 3 – Identidade e formação da autonomia da criança ......................... 30
Apresentação da Aula 3 ............................................................................ 30
3.1 Identidade e formação da autonomia da criança ........................ 31
Conclusão da Aula 3 ................................................................................ .. 41
Aula 4 – Valoração da criança e formação continuada específica para o
docente ...................................................................................................... 42
Apresentação da Aula 4 ........................................................................... .. 42
4.1 Valoração da criança ........................................................................... 42
4.2 Formação continuada específica para o docente ................................ 48
Conclusão da Aula 4 ................................................................................ .. 53
Conclusão da disciplina ............................................................................. 54
Índice Remissivo ...................................................................................... .. 55
Referências ............................................................................................... 56
5
Prefácio
Prezado (a) estudante. Na disciplina Competências e profissionalismo no
ambiente infantil serão abordadas discussões acerca da Educação Infantil no
contexto contemporâneo e sobre o docente como mentor e guia. A pedagogia
relacional será sublinhada como uma abordagem para uma prática docente mais
humanística, tendo em vista a identidade e a formação da autonomia da criança
no âmbito escolar e para além dele.
No primeiro momento serão discutidos aspectos gerais sobre a Educação
Infantil no contexto contemporâneo, enfatizando o que as legislações brasileiras
dizem sobre essa temática na atualidade, em seguida, o papel do professor
como mentor e guia será explicitado a partir dos ideários de autores, os quais
corroboram esta reflexão.
Na segunda aula, a pedagogia relacional será o tema de toda a discussão
proposta, sublinhando a ênfase nas relações entre os sujeitos no âmbito
educativo e a constituição de aprendizagens significativas por intermédio de uma
prática dialógica e libertadora.
Em seguida, a temática será a identidade e formação da autonomia da
criança, abordando acerca da constituição da identidade no âmbito da Educação
Infantil, a relevância da postura afetiva e comprometida dos profissionais da
educação, para que o desenvolvimento autônomo da criança aconteça com
maestria.
No último momento da disciplina, a discussão se dará sobre a valoração
da criança e formação continuada específica para o docente, destacando a
criança como sujeito de direitos, bem como a necessidade de qualidade do
atendimento na Educação Infantil. Para tanto, a formação docente deve ser
constante e reflexiva, com ênfase no fato de que é imprescindível valorizar a
criança, utilizando uma prática dialógica, propondo assim relações harmoniosas.
6
Aula 1 – O professor como mentor e guia
Apresentação da aula 1
7
progredirem para as etapas acadêmicas posteriores com autonomia,
convergindo assim com as diretrizes postas nos parâmetros legais vigentes.
O capítulo II da LDB, em sua seção II, traz as orientações gerais acerca
do funcionamento da Educação Infantil, sendo esta a primeira vez que uma
legislação nacional sublinha essa etapa da educação, trazendo assim
notoriedade para a formação infantil, enfatizando a relevância de que haja um
trabalho sério, organizado e respeitoso à criança, entendendo que ela deve ser
estimulada da melhor maneira possível para que então progrida para a fase da
alfabetização no Ensino Fundamental com maestria.
8
para crianças de até 5 (cinco) anos. Corroborando essa inferência, cita-se o
artigo 6º: “É dever dos pais ou responsáveis efetuar a matrícula das crianças na
educação básica a partir dos 4 (quatro) anos de idade.” (BRASIL, 2013).
Pesquise
Pesquise a respeito da Educação Infantil e suas características
legais e pedagógicas na contemporaneidade, aguce sua
curiosidade:
http://portal.mec.gov.br/ultimas-noticias/211-218175739/18563-
criancas-terao-de-ir-a-escola-a-partir-do-4-anos-de-idade
http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/_Ato2011-
2014/2013/Lei/L12796.htm
https://br.guiainfantil.com/materias/educacao/aprendizagem/o-
que-aprende-uma-crianca-de-4-anos/
Saiba Mais
Fragmento de artigo (BARROS, 2008), a respeito da
Educação Infantil nas legislações brasileiras:
“Quanto à obrigação dos pais ou responsável, o artigo 55
elenca, dentro dos mandamentos contidos no artigo 22, a
obrigação de matricular seus filhos ou pupilos na rede
regular de ensino. O descumprimento dessa regra implica
em aplicação da medida de proteção mencionada no
artigo 129, inciso V ("obrigação de matricular o filho ou
pupilo e acompanhar sua frequência e aproveitamento
escolar ") e o cometimento do delito capitulado no
artigo 246, do Código Penal Brasileiro ( Abandono
intelectual. "Art. 246. Deixar, sem justa causa, de prover à
instrução primária de filho em idade escolar: Pena -
detenção, de 15 (quinze) dias a 1 (um) mês, ou multa”),
somente em relação aos genitores.”
Continue a leitura desse artigo em: https://lfg.jusbrasil.com.b
r/noticias/168958/artigos-educacao-infantil-o-que-diz-a-legis
lacao
9
1.2 O papel do professor mentor e guia
Mentor e guia
Fonte: https://br.freepik.com/vetores-gratis/professora-do-jardim-de-infancia-montessor
i-ou-escola-pre-primaria-estudando-letras-do-alfabeto_4393943.htm
10
Acredita-se que a educação pode dar condições para que as pessoas
tenham uma melhor qualidade de vida e obter habilidades melhores diante dos
desafios do mundo contemporâneo por meio da criticidade que uma educação
libertadora, dialógica e emancipatória exerce sobre a vida do sujeito. As palavras
de Morin (2011) contribuem com esse pensar: “A educação pode ajudar a nos
tornarmos melhores, se não mais felizes, e nos ensinar a assumir a parte
prosaica e viver a parte poética de nossas vidas.” (MORIN, 2011, p. 11).
No sentido de que a educação possa melhorar a vida das pessoas, e de
igual modo dê sempre novas oportunidades aos estudantes para verem e
interagirem com a vida de maneira bonita, harmônica e mais feliz, é que se
sublinha a postura do professor como mentor e guia no processo educativo, pois
ele deve conduzir o processo de ensino e aprendizagem com autoridade ética e
técnica, olhando nos olhos dos seus educandos sempre e dando voz e vez a
todos os partícipes, a fim de que todos tenham condições de trilharem os
desafios de aprendizagem, assim, encontrando sentido e significado em suas
aprendizagens.
Freire (2003) exorta acerca da autoridade teórica do professor quando diz
que: “O professor tem que ensinar, mas para ensinar ele ou ela tem que saber o
que ensina.” (FREIRE, 2003, p. 81). Em qualquer que seja a etapa educacional,
o professor precisa estar revestido da competência teórica e técnica que a sua
prática exige, a fim de conduzir o trabalho educacional com eficácia,
proporcionando condições reais de aprendizado aos seus educandos, fazendo
com que estes, por meio da mediação docente, alcancem sempre patamares de
aprendizagens desejáveis de uma educação humana, ou seja, a educação que
se importa com o semelhante de maneira integral, acreditando que tal
semelhante é e será importante para o desenvolvimento de um mundo menos
desigual para todos os seus partícipes.
O autor Freire (2003) continua nos inspirando no estudo sobre o professor
mentor e guia, que deve cuidar, com entusiasmo, do desenvolvimento de seus
educandos, quando sublinha que: “Eu diria que um bom professor que, sendo ou
se tornando permanentemente competente, está permanentemente consciente
de uma sensação de surpresa e nunca deixa de se surpreender. (FREIRE, 2003,
p. 86). O ato de ensinar com competência implica estar totalmente voltado para
o desenvolvimento integral dos educandos, dando condições para que o
11
aprender seja entusiástico todos os dias, principalmente, frente ao interesse nato
das crianças pequenas, instigando nelas cada vez mais a curiosidade que lhes
é natural, proporcionando sempre condições para o pensamento criativo, a
dialogicidade, a valorização daquilo que as crianças sabem do seu convívio
social, entre outros aspectos que corroboram para que todos os sujeitos infantis
tenham voz e vez no âmbito educativo, fazendo deste um lugar de construção
de aprendizagens significativas ao desenvolvimento integral e humano dos
estudantes. Sendo assim, o papel do professor é primordial.
A dinamicidade dos fatos que compreendem o mundo atual requer que a
tarefa do professor seja feita com muita criatividade, ao mesmo tempo que este
tenha muita proximidade com os seus educandos, a fim de caminharem juntos,
indicando as novas e bonitas maneiras de aprender mediante a complexidade
da vida moderna. Assim, o docente guia os seus aprendizes pelos caminhos
desafiadores de aprendizagens revolucionárias, as quais podem e devem
interferir na constituição de vidas cada vez mais autônomas.
Para Refletir
Um dos saberes primeiros e indispensáveis a quem
chegando a favelas ou realidades marcadas pela traição a
nosso direito de ser, pretende que sua presença se vá
tornando convivência, que seu estar no contexto vá virando
estar com ele, é o saber do futuro como problema e não como
inexorabilidade. É o saber da história como possibilidade e
não como determinação. O mundo não é. O mundo está
sendo. Como subjetividade curiosa, inteligente, interferidora
na objetividade com que dialeticamente me relaciono, meu
papel no mundo não é só o de quem constata o que ocorre,
mas também o de quem intervém como sujeito de
ocorrências. Não sou apenas objeto da história, mas sujeito
igualmente. No mundo da história, da cultura, da política,
constado não para me adaptar mas para mudar.
(FREIRE, 1996, p. 76, 77).
12
aprendizagem com louvor, é um ato primordial na constituição de uma
aprendizagem que seja significativa para todos os educandos, para tanto, tal
compreensão especifica que a ação só pode acontecer permeada da
amorosidade, acima de tudo o amor pelo outro, pela vida, pelo mundo, por sua
profissão, fazendo com que o professor sempre encontre novas e bonitas
soluções para as adversidades do cotidiano escolar. E Freire continua: “Não há
educação imposta, como não há amor imposto. Quem não ama não compreende
o próximo, não o respeita.” (FREIRE, 1979, p. 29).
Saiba Mais
Leia a respeito do professor como mentor no processo
educativo, segundo as ideias do educador americano Marc
Prensky.
Disponível em: https://exame.abril.com.br/revista-exame/o-
professor-deve-ser-um-mentor/
13
Mentor /
Professor / Guia
Criatividade /
Processo de
Conhecimento
aprendizagem
significativa
Humildade
Humanização
14
estudantes chegam à escola muito influenciados pelo mundo e suas mídias, são
imersos em um mundo de informações e precisam, portanto, serem guiados a
um mundo novo de conhecimento crítico, que pode conceber condições para
que tais sujeitos façam a seleção das informações necessárias aos seus
desenvolvimentos como humanos em seus específicos espaços sociais e
políticos.
No âmbito da Educação Infantil, é primordial que os professores
(mentores) favoreçam uma convivência saudável entre os pares, a fim de que
todos os envolvidos nas relações de aprendizagens possam compreender o
quão importante e bonito é construir o aprendizado no coletivo, e que cada
sujeito acredite em seu papel na constituição de saberes, bem como valorize
desde a mais tenra infância o seu semelhante, como sujeito singular em todo e
qualquer contexto em que se deem as relações humanas.
Em um mundo tão envolto de comunicação virtual, onde as pessoas
primam pela velocidade das relações, entender e conceber um processo
educacional fundamentado nas interações entre os sujeitos é sem sombra de
dúvida um grande desafio.
16
e necessita da pesquisa, do estudo, da reflexão e ação diante dos desafios de
ensinar com qualidade.
O autor Assmann (1998) sublinha que: “Somente educadores/as
entusiasmados/as com seu papel na sociedade conseguem criar uma opinião
pública favorável a seus reclamos.” (ASMANN, 1998, p. 23). E o estar
entusiasmado está para além de uma condição física, implica todos os aspectos
de trabalhar e gostar de estar com outros seres humanos, pois a educação
envolve o trabalho intenso e árduo com pessoas, as quais precisam ser
compreendidas e respeitadas em suas singularidades. Independentemente da
etapa educacional em que o professor esteja lecionando, todos são sujeitos
humanos em desenvolvimento, “seres inacabados”, no sentido mais célebre
que a obra de Paulo Freire nos inspira dizendo que enquanto existir vida há
novas e bonitas possibilidades de mudança, de renovar os caminhos, de saber
mais, de interagir consigo mesmo, com o outro e com o mundo, percorrendo
assim, caminhos que possam dar condições para a construção de
conhecimentos revolucionários.
Importante
“Ajudar é possibilitar o fazer com: é dialogar, portanto. Se o
ajudante for o professor, a ajuda é planejada e sistemática, pois
seu impacto no aluno é esperado como realização. Logo, é
preciso conhecer o que já há; novamente, o diálogo. Conhecer
o que há para definir o que poderá ser. Nesse jogo assimétrico,
professor e aluno ferem-se, atingem-se mutuamente. O aluno
dirige o seu próprio processo de aprender, restringindo
ativamente, as possibilidades de ação do professor. O professor
é quem planeja e cria as condições de possibilidade de
emergência das potencialidades do aluno. ”
(TUNES; TACCA; BARTHOLO, 2005, p. 694).
17
docente precisa ter humildade e vontade de aprender sempre enquanto conduz
o trabalho educacional com maestria.
Conclusão da aula 1
Atividade de Aprendizagem
Após todas as inferências destacadas em nossa aula acerca
da prática docente na Educação Infantil, elabore um texto de
até 15 linhas explicando seu entendimento sobre o professor
como mentor e guia no processo educativo infantil.
Apresentação da aula 2
18
2.1 Inferências acerca da Pedagogia Relacional
19
Relação, crescimento e harmonia
Fonte: https://br.freepik.com/vetores-gratis/criancas-lendo-livros-e-trabalhando-no-com
putador_2862846.htm
Pesquise
Leia e reflita mais sobre o que é Construtivismo?
Acesse:
http://www.crmariocovas.sp.gov.br/pdf/ideias_20_p087-
093_c.pdf
https://www.infoescola.com/educacao/construtivismo/
20
Os sujeitos estudantis em suas relações com seus pares e com os seus
ambientes de vivência têm condições de aprender sempre com qualidade.
Toda a complexidade dos elementos que constituem o cotidiano da sala
de aula forma as condições relacionais dos processos de aprendizagem, nos
quais alunos e professores interagem e têm melhores e maiores condições para
aprender.
O espaço educativo da sala de aula é sublinhado como dialógico,
enfatizando aqui a contribuição da teoria de Freire (2003), que discorre acerca
da dialogicidade no espaço do ensinar e aprender como condição fundante da
prática pedagógica libertadora, a qual visa contribuir para a formação de pessoas
autônomas, as quais tenham condições de atuar na sociedade com maestria.
Tanto em Freire como em Piaget, a pedagogia relacional encontra
fundamentos teóricos para sua realização dentro do contexto escolar, pois na
premissa dos seus ideários está a relevância das relações entre os semelhantes,
sendo que tais ações dependem do diálogo, como também a relação do sujeito
com os objetos de estudo, sublinhando que o educando tem condições de
construir o seu aprendizado.
O professor na pedagogia relacional deve mediar a construção do
conhecimento com respeito e responsabilidade diante das relações
estabelecidas no âmbito da sala de aula, a partir de uma prática que possibilite
acolhimento aos estudantes e contribuindo para que estes tenham liberdade de
construírem suas caminhadas acadêmicas com louvor, interagindo com os seus
semelhantes e com os âmbitos educacionais, portanto, construindo relações ao
longo da convivência escolar, as quais são indícios de aprendizagens
significativas para o sujeito estudantil em quaisquer etapas desenvolvimento.
Vídeo
Aguce ainda mais sua curiosidade e aprendizagem a respeito
do Construtivismo.
Acesse: https://www.youtube.com/watch?v=zXLEF_WV0hA
21
Depreende-se que o papel docente na pedagogia relacional é o de
mediador, o qual precisa ter competência técnica e teórica para instigar a
formulação de conhecimentos significativos frente aos estudantes, primando
sempre pela valorização das relações humanas na ambiência escolar.
Importante
Construtivismo significa isto: a ideia de que nada, a rigor, está
pronto, acabado, e de que, especificamente, o conhecimento
não é dado, em nenhuma instância, como algo terminado. Ele
se constitui pela interação do indivíduo com o meio físico e
social, com o simbolismo humano, com o mundo das relações
sociais; e se forma por força de sua ação e não por qualquer
dotação prévia, na bagagem hereditária ou no meio, de tal modo
que podemos afirmar que antes da ação não há psiquismo nem
consciência e, muito menos, pensamento.
Construtivismo é, portanto, uma ideia; melhor, uma teoria, um
modo de ser do conhecimento ou um movimento do
pensamento que emerge do avanço das ciências e da Filosofia
dos últimos séculos. Uma teoria que nos permite interpretar o
mundo em que vivemos. No caso de PIAGET, o mundo do
conhecimento: sua gênese e seu desenvolvimento.
Construtivismo não é uma prática ou um método; não é uma
técnica de ensino nem uma forma de aprendizagem; não é um
projeto escolar; é, sim, uma teoria que permite (re) interpretar
todas essas coisas, jogando-nos para dentro do movimento da
História - da Humanidade e do Universo. Não se pode esquecer
que, em PIAGET, aprendizagem só tem sentido na medida em
que coincide com o processo de desenvolvimento do
conhecimento.
22
possibilidades reais de construir conhecimentos úteis para a vida do sujeito
aprendiz.
Sendo assim, a perspectiva da Pedagogia Relacional vai além dessa
interação entre sujeito e objetos de estudo, pois centra-se nas relações
relevantes dentro da sala de aula, acreditando que estas são a chave de todo o
desenrolar educativo, possibilitando que todos os indivíduos possam
desenvolver habilidades singulares em prol do crescimento cognitivo individual
e coletivo.
Nesse sentido, a reflexão é o ponto culminante do trabalho na Pedagogia
Relacional, pois todos os sujeitos estão envoltos na ambiência escolar e
precisam refletir a respeito da boniteza das relações entre os semelhantes,
entendendo que o aprendizado qualitativo só acontece se houver relações
saudáveis e/ou harmoniosas entre os semelhantes, os quais por sua vez estejam
conscientes de seus papeis no processo de ensino e aprendizagem com
criticidade.
Becker (2001) traz a reflexão acerca das inferências sobre o
construtivismo que dão sustentabilidade à prática da Pedagogia Relacional,
sublinhando que o professor adepto dessa vivência educativa não aceita
concepções como o empirismo, que defende que a aprendizagem está centrada
nos sentidos desenvolvidos pela experiência diante dos objetos de estudo. Da
mesma maneira que não aceita a ideia do apriorismo, a qual indica que o ser
humano nasce com o conhecimento já programado, mediante sua
hereditariedade, é nato.
É importante também salientar que Becker (2001) contribui para a reflexão
de que o educando visto pela Pedagogia Relacional não é uma folha em branco,
mas, sim um sujeito que traz consigo várias influências dos seus ambientes de
convivência, como a família, por exemplo, e tal sujeito precisa ser instigado a
desenvolver-se da melhor maneira possível no ambiente escolar, aprimorando
seus saberes a partir da mediação consciente e responsável do professor, o qual
respeita a fase de desenvolvimento dos seus aprendizes e os conduz para novos
patamares de saberes, dialogando e refletindo sobre as inovadoras
possibilidades de aprender, e aprender com qualidade durante todo o tempo no
processo de ensino e aprendizagem.
23
A ideia central de que o educando construa seu conhecimento a partir de
suas relações com os seus semelhantes e com o seu meio ambiente está
fundamentada na ótica epistemológica do construtivismo, ou seja, acredita-se no
processo educativo que traz toda uma consciência e respeito ao fato de que o
ser constrói seu caminho em prol do saber, por meio das experiências
construídas ao longo do processo escolar, problematizando sempre suas
intenções de aprendizagem, sabendo que o professor é o mediador de todo o
processo e fazendo o papel de estimular o pleno desenvolvimento dos seus
aprendizes, independentemente, das fases de vida que os estudantes estejam.
Em suma, a epistemologia da Pedagogia Relacional é e vem do
construtivismo. Em outras palavras, o conhecimento que rege a Pedagogia
Relacional é o construtivismo, ou seja, as ideias da epistemologia genética
desenvolvida pelo biólogo Jean Piaget são importantíssimas para defender a
relevância das relações para a constituição de saberes concisos e/ou úteis para
o desenvolvimento integral do sujeito.
Vocabulario
Epistemologia: ciência, conhecimento. É o estudo científico
que trata dos problemas relacionados com a crença e o
conhecimento, sua natureza e limitações. Conhecida
também como a teoria do conhecimento.
24
Para Refletir
Leia este trecho de texto e reflita sobre a importância da
intencionalidade em trabalhar com aprendizagem formal e
informal:
25
Pedagogia Diretiva Pedagogia Não Diretiva Pedagogia Relacional
26
relevantes para a constituição de saberes úteis e/ou relevantes para a vivência
em sociedade, pois é necessário cumprir o currículo e a rotina pré-estabelecida,
por exemplo.
Em outro aspecto, esta promoção de aprendizagem centrada nas
relações faz com que as crianças desde a mais tenra infância percebam a
necessidade do outro em sua existência, que para viver em sociedade
dependemos dos nossos pares, que é necessário valorizar a coletividade,
enaltecendo assim a feitura de um mundo mais igualitário.
De igual importância, para se pensar na pedagogia relacional, há o
trabalho coletivo dos professores, em muitos centros de Educação Infantil ou, na
grande maioria, a sala de aula é dirigida por duplas de trabalho. Em alguns
casos, encontramos casais mediando a construção do conhecimento. Essa
forma de desenvolver o trabalho é necessária devido ao número de crianças por
sala, muitas vezes e principalmente em instituições públicas, como também a
dependência que as crianças de Educação Infantil possuem em relação ao
cuidado que os adultos devem ter em relação a elas.
Porém, sobre a ótica da epistemologia do construtivismo que sublinha a
relevância de a criança ser autora do seu conhecimento, tendo o professor como
mediador do processo e para além dessa concepção, a pedagogia relacional traz
as relações como a ferramenta primordial de todo o trabalho educativo, as
crianças precisam de liberdade para aprender, e para gozar de tal liberdade no
contexto escolar necessitam de cuidado enquanto brincam, exploram,
relacionam-se com o ambiente e com os seus pares.
A observação dos professores atenta e amorosa à medida que as crianças
vão explorando os ambientes organizados dentro do contexto educativo é tão
importante quanto o diálogo direto com tais educandos.
O ambiente deve acolher as crianças em todos os sentidos, fazendo com
que sintam-se totalmente seguras para explorar suas relações com todos no
ambiente e com o ambiente físico. Para tanto, o docente precisa respeitar os
espaços dos sujeitos infantis, ou o tempo de aprendizagem de cada um,
mediando os processos de aprendizagem com afetividade, competência, técnica
e teoria para que as relações possam, veementemente, contribuir para a feitura
de um processo educacional louvável.
27
Saiba Mais
Quanto ao número de crianças em sala na educação infantil:
no caso de creches e pré-escolas, a decisão é das
secretarias municipais de ensino, que podem diminuir ou
aumentar esse número de acordo com as necessidades e
demandas. Apesar disso, há características desejáveis à
etapa no documento Parâmetros Nacionais de Qualidade da
Educação Infantil (também presentes no Parecer do
Conselho Nacional de Educação nº 28/1998), que
estabelece: "uma professora ou um professor para cada 6 a
8 crianças de 0 a 2 anos; uma professora ou um professor
para cada 15 crianças de 3 anos; uma professora ou um
professor para cada 20 crianças acima de 4 anos".
Além disso, o texto também afirma que "a quantidade
máxima de crianças por agrupamento ou turma é
proporcional ao tamanho das salas que ocupam". Esses
textos são, contudo, diretrizes e não leis; e não determinam
uma relação de crianças por sala.
Continue a leitura do artigo...
Acesse em: https://blogs.oglobo.globo.com/todos-pela-ed uc
acao/post/existe-limite-de-aluno-por-sala-de-aula-na-educa
cao-infantil.html
28
significância aos seus estudantes, pautado na aplicabilidade de relações
humanizadoras.
Importante
A atenção do professor quanto à dinâmica relacional da sala de
aula, percebendo-se, inclusive, como ator nesse cenário, pode
oferecer-lhe significativos indicadores quanto à compreensão
singular dos processos de aprendizagem de seus alunos, em
que a produção de significados e sentidos sobre o
conhecimento e a participação da subjetividade neste processo
podem ganhar uma atenção especial. Nessas informações, o
professor pode encontrar os elementos necessários à
elaboração de estratégias interventivas que alcancem as
necessidades individuais de cada aluno e favoreçam,
consequentemente, a aprendizagem desses estudantes.
(LIMA, 2008, p. 204)
Conclusão da aula 2
29
conhecimentos. Os professores devem ser mediadores do conhecimento, pois
as crianças se relacionam entre si (no caso das duplas de trabalho) e os
profissionais da educação mediam a construção de saberes significantes para a
vida de seus educandos.
A criança precisa ser valorizada como sujeito do seu processo de ensino
e aprendizagem, tendo o professor como mediador desse processo, o qual
amorosamente conduz os seus pequeninos com liberdade mediante uma prática
libertadora no cotidiano escolar, na qual a criança pode aprimorar sua
curiosidade mediante os objetos de conhecimento e se relacionar com o
ambiente e com os seus pares com maestria.
Atividade de Aprendizagem
Explique com suas palavras como deve acontecer o trabalho
fundamentado na Pedagogia Relacional no cotidiano escolar.
Dê exemplos de como esta prática pode acontecer da melhor
maneira possível nos espaços educativos contemporâneos.
Inspire-se nos exemplos e discussões compartilhadas no
decorrer da nossa aula.
Discorra em até 15 linhas.
Apresentação da aula 3
30
3.1 Identidade e formação da autonomia da criança
Vocabulario
Identidade: conjunto de características que distinguem uma
pessoa ou uma coisa e por meio das quais é possível
individualizá-la. É o conjunto de caracteres próprios e
exclusivos de uma pessoa.
Interações sociais
Fonte: https://br.freepik.com/fotos-gratis/feliz-criancas-em-escola-elementar_3274284.
htm
31
Em linhas gerais, pode-se inferir que a identidade é algo que vai sendo
desenvolvido nos sujeitos infantis à medida que estes vão interagindo em seus
ambientes sociais, constituindo, assim, suas histórias e corporificando seus
sujeitos históricos.
No grupo familiar, a criança vivencia suas primeiras interações sociais, ali
vai configurando sua identidade de maneira inconsciente, a partir de todas as
relações instauradas, conhecendo e reconhecendo o seu lugar dentro da família,
bem como lidando com as outras pessoas e seus respectivos papéis dentro do
contexto familiar.
Quando a criança chega à escola, já traz consigo características
intrínsecas em sua identidade, que já foram introduzidas pelas interações
familiares, assim sendo a criança não pode ser de forma alguma concebida como
uma folha em branco, por exemplo, pois as crianças trazem consigo já uma gama
de experiências vivenciadas em suas relações com os seus pares na família. E
tais saberes e/ou experiências devem ser valorizados e respeitados para se
concretizar um processo educativo louvável.
Em suas interações entre si e no âmbito escolar, as crianças vão se
descobrindo individualmente, e, progressivamente, compreendem o valor das
relações com o coletivo, aprendendo a conviver com os seus semelhantes, a
partir da vivência complexa e diversa que é estabelecida nos ambientes
escolares, os quais têm crianças bem diferentes umas das outras, e que já
constituem identidades difusas, pois já trazem toda a influência de seus primeiros
laboratórios de convivência humana, a família.
Isso posto, é interessante enfatizar que a identidade do ser humano vai
sendo constituída em seu discorrer histórico de vida, mediante todas as fases de
desenvolvimento do sujeito, pois sofre as interferências de suas interações com
seus ambientes de vivência e consequentemente com seus semelhantes, visto
que todos esses aspectos corroboram para a formulação da identidade do
indivíduo.
Assim, é notória a importância de a escola propor trabalhados
pedagógicos que estimulem o desenvolvimento das crianças de maneira
saudável e harmoniosa, fazendo com que estas desenvolvam suas identidades
com ótimas influências interativas, que possam aprender desde sempre sobre a
boniteza de viver em e com respeito mediante aos semelhantes, respeitando as
32
diferenças comuns dos ambientes habitados por humanos, aprendendo a
viverem com criticidade e humildade, colaborando para a feitura de um mundo
menos odiento, como tão bem enfatiza Freire (2012).
A fim de entendermos as condições de compreensão da criança frente ao
mundo que a rodeia, assim como sua maturação biológica como bem nos inspira
o biólogo suíço Jean Piaget, serão sublinhados os ideários de Wallon (2007)
quanto às etapas de desenvolvimento do humano desde o nascimento até a
idade adulta. Os estágios são:
33
construção da identidade se dá por toda a vida, pois a identidade
do humano é influenciada pelas suas interações no percorrer dos
seus caminhos de vida.
Pesquise
Leia um pouco mais acerca da Educação Infantil, segundo
os ideários de Henri Wallon.
Acesse:
https://novaescola.org.br/conteudo/114/henri-wallon-conceito-
emocao#
https://educere.bruc.com.br/arquivo/pdf2015/20861_8401.pdf
https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/educacao/a
s-contribuicoes-teoricas-de-wallon-para-a-aprendizagem/32656
34
criança vai construindo e reconstruindo sua identidade, à medida que explora o
ambiente com os seus movimentos corporais vai compreendendo seu papel no
mundo que a cerca, e assim por diante.
Todo esse desenrolar de interações entre a criança e o seu mundo
externo acontece mediado com a afetividade, ou seja, os sentimentos
direcionam os caminhos para a construção da identidade do ser pequenino, e,
consequentemente, formula sua autonomia no mundo de convivência,
paulatinamente, de acordo com a concretização da consciência de si e do outro.
Essas interações são permeadas de sentimentos bons e ruins, os quais
vão ajudando a constituir o sujeito, porém, quanto mais sentimentos bons forem
compartilhados e cultivados, e, de maneira, afetiva a criança for conduzida no
seu início de desenvolvimento como sujeito nos espaços de convivência, mais
e/ou melhor tal sujeito constituirá sua identidade e terá uma autonomia como
cidadão atuante em seu mundo presente e vindouro.
Entende-se que a afetividade sob a ótica de Wallon (2007) consiste em
toda a postura com que os adultos conduzem a interação com a criança, a
maneira com que tratam nos diversos momentos relacionais, nos quais indicam
como a criança deve agir em determinadas situações, por exemplo. Em todo
momento, a criança pode aprender, pois ela imita, observa e repete os atos do
adulto, para então, construir seus próprios gostos e maneiras de intervir em seus
mundos, muitas vezes assemelhando-se aos adultos que a educaram.
Vídeo
Assista ao vídeo sobre a identidade e autonomia na Educação
Infantil, a fim de aguçar mais sua curiosidade epistemológica
sobre o assunto.
Acesse em: https://www.youtube.com/watch?v=hDba0NLZuC4
Saiba Mais
A afetividade evolui conforme as condições maturacionais de
cada pessoa e com formas de expressões diferenciadas que
se configuram como um conjunto de significados que o
indivíduo adquire nas relações com o meio e com a cultura
ao longo da vida. Os significados representam para cada
pessoa as diferentes situações e experiências vivenciadas
num determinado momento e ambiente social. Por esse
motivo, afetividade não permanece imutável ao longo da
trajetória da pessoa.
(DOURADO, PRANDINI, 2008)
36
Portanto, o espaço de socialização na escola, o qual é organizado em
tantos momentos de brincadeiras, atividades pedagógicas dirigidas, ou mesmo
a convivência natural entre as crianças no decorrer de toda a rotina escolar, é
fator determinante para muitos comportamentos que o sujeito humano terá por
toda a sua vida.
Sendo assim, compreende-se que a afetividade deve estar em todos os
momentos de interações sociais dentro da escola, visando estimular nas
crianças as práticas harmoniosas para que a vida em sociedade seja menos
difícil, vislumbrando assim a feitura de cidadãos mais conscientes sobre a
boniteza de se viver em prol da propagação do bem comum.
O processo de socialização da criança na Educação Infantil deixa fatores
determinantes, benéficos ou maléficos, em sua estrutura social, afetiva e
cognitiva, a depender da postura afetiva dos adultos frente aos seus atos
educacionais, principalmente, perante o atendimento ou a condução da criança
nos seus espaços de convivência educativa, como também na convivência
familiar.
Importante
A maneira como cada um vê a si próprio depende também do
modo como é visto pelos outros. O modo como os traços
particulares de cada criança é recebido pelo professor e pelo
grupo em que se insere tem um grande impacto na formação de
sua personalidade e de sua autoestima, já que sua identidade
está em construção. Um exemplo particular é o caso das
crianças com necessidades especiais. Quando o grupo a aceita
em sua diferença, está aceitando-a também em sua
semelhança, pois, embora com recursos diferenciados, possui,
como qualquer criança, competências próprias para interagir
com o meio. Vale destacar que, nesse caso, a atitude de
aceitação é positiva para todas as crianças, pois muito estarão
aprendendo sobre a diferença e a diversidade que constituem o
ser humano e a sociedade. As crianças vão, gradualmente,
percebendo-se e percebendo os outros como diferentes,
permitindo que possam acionar seus próprios recursos, o que
representa uma condição essencial para o desenvolvimento da
autonomia.
(BRASIL, 1998, p. 13, 14)
37
Se a perspectiva educacional é a formulação de uma sociedade mais
solidária, na qual as pessoas sejam cooperativas e tenham consciência sobre a
relevância de respeitarem os seus pares de acordo com suas singularidades,
formulando assim relações que enalteçam o bem comum, é de suma importância
que haja estímulo à formulação da identidade e autonomia no âmbito da
Educação Infantil em todo o tempo, seja nas propostas de atividades
desenvolvidas no decorrer da rotina, seja na observação da convivência com os
professores e colegas educandos.
Faz-se coerente neste interim de reflexão e discussão sublinharmos a
postura afetiva do professor, o qual deve instigar em todo o tempo o
desenvolvimento de habilidades notáveis em seus educandos, demonstrando
exemplos para as suas crianças que possam ser seguidos por tais educandos,
no que diz respeito ao trato com o outro, por exemplo.
Pesquise
Leia, pesquise e reflita acerca da identidade e autonomia na
Educação Infantil.
Acesse:
http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/volume2.pdf
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=do
wnload&alias=16321-seb-traj-criativas-caderno2-trajetoria-
identidade&category_slug=setembro-2014-pdf&Itemid=30192
http://portal.mec.gov.br/docman/julho-2013-pdf/13677-diretrizes-
educacao-basica-2013-pdf/file
38
Para que haja mediação promissora por parte do professor diante da
convivência com os seus educandos, é necessário que este conheça as
especificidades de suas crianças, que haja diálogo, a princípio com a família ,
concomitantemente, e com a criança, a fim de que o planejamento do docente
esteja coerente com a realidade de seus estudantes.
Assim, o professor favorece a constituição da autonomia infantil,
promovendo trabalhos pedagógicos que enalteçam a participação das crianças
com entusiasmo, sabendo que, para haver participação entusiástica por parte
dos estudantes, faz-se necessário que estes vejam sentido e significado naquilo
que estão ou irão desenvolver em sala de aula, para tanto, a educação tem que
ser efetivada de maneira que atenda as especificidades dos educandos.
Em suma, o docente deve entender a maneira de agir das crianças, seus
costumes familiares, entre outros aspectos que sejam importantes para produzir
um planejamento didático coerente com a realidade escolar na qual está
inserido. Também é importante pensar em projetos didáticos que possam
contribuir para a vivência da criança em sociedade a curto, médio e longo prazo.
Wallon (2007) designa a criança como um ser completo, que deve ser
respeitado em sua totalidade, pois traz consigo já grandes características em
sua formação quando chega ao universo escolar infantil, oriundas de sua
primeira ambiência social, a família. Têm-se os três campos funcionais da
criança nomeados pelo autor: o motor, o afetivo e o cognitivo. Dessa maneira,
tais campos precisam ser levados em consideração durante a formulação do
trabalho docente com os pequeninos, pois as crianças precisam ser estimuladas
a se desenvolverem da melhor maneira possível para seguirem o seu processo
de crescimento integral com autonomia.
Uma das mais belas e significativas contribuições de Wallon para a
educação em geral, especialmente para a etapa da Educação Infantil, foi
demonstrar por meio de suas pesquisas e estudos as relações entre o
desenvolvimento cognitivo e a afetividade, ou seja, o autor mostra em seus
escritos o quanto o ato de aprender depende de um ambiente acolhedor, no qual
o professor esteja totalmente disposto a exercer sua afetividade com seus
alunos, mediando a construção de conhecimentos com amorosidade, indicando
os caminhos para suas crianças, enquanto estas constituem suas identidades
com autonomia no decorrer do cotidiano educacional.
39
Afetivo
Motor
Cognitivo
Criança
Fonte: elaborado pelo autor (2019).
Para Refletir
Definindo o homem como ser geneticamente social, a
concepção walloniana do desenvolvimento humano propõe a
existência de uma complexa imbricação entre os fatores
biológicos e sociais. Conforme as disponibilidades de
amadurecimento da idade, a criança interage de maneira
mais forte com um outro aspecto de seu ambiente, retirando
dele os recursos para o seu desenvolvimento e aplicando
sobre ele suas condutas; a cada idade estabelece-se um tipo
particular de interações entre o sujeito e seu ambiente, numa
dinâmica de determinação recíproca.
(GALVÃO, 1996, p. 38)
40
estabelecidas pelas crianças nesses momentos, a fim de que seja avaliado o
processo, e então, reformulado, se necessário, visando sempre um atendimento
integral e valoroso frente aos pequenos.
Sobretudo, a construção da identidade do ser humano dar-se-á por toda
a vida, à medida que este vai se influenciando nos meios sociais que esteja
convivendo em suas diferentes etapas de vida, pois têm-se o sujeito humano
como alguém permeado por mudanças em sua existência, afinal é um ser
histórico.
Conclusão da aula 3
Atividade de Aprendizagem
Discorra a respeito da construção da identidade na ambiência
da Educação Infantil, utilizando os referenciais teóricos
contidos em nosso livro, como também as discussões
propostas em nossa aula sobre esta temática.
Argumente em até 15 linhas.
41
Aula 4 – Valoração da criança e formação continuada específica para o
docente
Apresentação da aula 4
42
comprometidos com os espaços infantis de aprendizagem que poderão fazer a
diferença no mundo educacional infantil, por intermédio de seus conhecimentos
e ações coerentes à formulação de uma educação significativa e transformadora
de vidas para os educandos.
A valoração da criança perpassa pela preparação dos professores, pelas
condições físicas dos espaços escolares, pela qualidade da merenda, pelos
recursos repassados para a educação, entre outros. Dar valor ao atendimento
integral infantil é lutar para garantir uma educação de qualidade aos educandos
desde a sua mais tenra infância, de acordo com as legislações em vigor. Para
tanto, é mister que políticas públicas sejam efetivadas em virtude de proporcionar
condições reais para que a educação pública, principalmente, se propague com
justiça para todos os cidadãos brasileiros.
Vocabulario
Valoração: juízo de valor, opinião crítica acerca de alguma
coisa, o ato de valorar, ação de atribuir valor, de determinar
a importância e a qualidade de algo.
43
principalmente na concepção da identidade infantil, o fato de olhar nos olhos dos
pequeninos e lhes ensinar com tempo, amor, respeito e carinho.
É mister aprender mais e mais sobre a cultura das pessoas por intermédio
de ações práticas que indicam o convívio social com solidez para as crianças no
espaço escolar, possibilitando, assim, que a criança internalize as formas
cognitivas de pensar e agir propícias da sua comunidade construídas ao longo
da história, e a partir disso tenham condições criativas de constituírem seus
saberes com autonomia, por meio da mediação do professor.
Permeados por uma sociedade complexa e midiatizada, é muito relevante
pensar e organizar trabalhos nos espaços escolares infantis que possam
valorizar as relações humanas, comuns aos ambientes educativos, afinal é
sempre bom lembrar que a escola é um espaço de relações, e estas são
essenciais para a promoção de um desenvolvimento integral aos sujeitos
estudantis.
Portanto, acredita-se que é por meio das conversas ou da dialogicidade,
sendo assim entendidos como os momentos de escuta e observação do
professor na Educação Infantil, que é possível conceber a construção de
conhecimentos que sejam significativos na busca por uma sociedade mais
acolhedora para todos os seus partícipes.
Os momentos de resolução de conflitos no cotidiano escolar são outro
exemplo riquíssimo em que pode e deve acontecer a experiência de valorizar
cada vez mais a criança, pois esta será estimulada a vencer os obstáculos dos
relacionamentos entre os semelhantes, aprendendo a dialogar, a compreender
o lugar do outro e o seu lugar no mundo.
Valorar a criança no espaço educativo consiste em dar-lhe liberdade.
Vídeo
Inspire-se com as imagens do filme: “caramba, carambola: o
brincar tá na escola. ”
Reflita sobre os momentos da criança na escola, sendo
valorizada como sujeito no espaço educacional.
Acesse em:
https://www.youtube.com/watch?v=_lQWGDV81Vs&t=694s
44
Valorar a criança
Fonte: https://br.freepik.com/vetores-gratis/duas-criancas-observar-a-crescendo-planta
_4866991.htm
45
vigente é mais uma indicação de que a Educação Infantil deve caminhar dia após
dia para cada vez mais valorizar o papel da criança no processo de ensino e
aprendizagem, fazendo com que esta participe ativamente do ato de construir
saberes mediante as relações estabelecidas no contexto escolar.
A criança é um sujeito humano dotada de complexidade, pois chega à
escola influenciada pelos seus meios sociais de vivência, trazendo já muitos
costumes que estão para além dos muros escolares, por isso o professor precisa
olhar nos olhos dos seus educandos e observá-los com toda humildade
pedagógica possível, a fim de elaborar projetos pedagógicos que possam,
realmente, contribuir para formação integral dos seus sujeitos infantis.
As crianças são seres em formação, porém já trazem grandes influências
do seu mundo social familiar e/ou de grupos sociais para dentro da escola, e
precisam ser valorizadas e atendidas no âmbito educativo mediante suas
especificidades e sendo ouvidas pelos profissionais da educação, os quais,
eficazmente, possam mediar novas e bonitas maneiras de aprender aos seus
pequeninos educandos.
De acordo com os estudos realizados, as crianças são “seres
biologicamente sociais” (BRASIL, 2009, p. 23), inferência esta que corrobora
para que as práticas educativas na Educação Infantil estejam voltadas para a
interação das crianças com os seus ambientes, quer sejam nos aspectos físicos
e nos sociais, ou seja, dialogando com o espaço por meio dos brinquedos e da
imaginação, como também aprendendo a conversar com os seus pares por
intermédio dos gestos e, progressivamente, a utilização dos sons e das palavras.
Contudo, para existir uma valoração louvável da criança no âmbito
educativo, faz-se necessário que os aspectos sociais da aprendizagem sejam
respeitados, ou seja, a criança precisa aprender por intermédio das relações
existentes no cotidiano escolar e interagindo com os objetos e pessoas.
Nas últimas décadas, vem se consolidando, na Educação Infantil, a
concepção que vincula educar e cuidar, entendendo o cuidado como algo
indissociável do processo educativo (Brasil, 2018, p. 34), este trecho em
destaque é da BNCC (Base Nacional Comum Curricular), que traz também a
ênfase para os eixos de trabalho na Educação Infantil, que são as interações e
brincadeiras. Sendo assim, é imprescindível pensar na educação da criança a
partir de seu movimento, seu diálogo, sua musicalidade, suas vontades, enfim,
46
a criança precisa interagir com veracidade em todos os momentos do cotidiano
educativo.
Importante
A situação de compartilhar a educação das crianças traz a
necessidade social de um diálogo contínuo entre família,
sociedade e escola. Ambas necessitam determinar os papéis
de cada uma – o que compete à escola e o que compete às
famílias – considerando a impossibilidade de haver uma regra
única. As atribuições nascem das necessidades e das
possibilidades de ambas as instituições e do diálogo entre elas.
A isso denominamos colaboração entre as partes.
(BRASIL, 2009, p. 18)
47
A promoção dos direitos das crianças à educação e à infância
começa a ser efetivada desde a defesa de princípios como a
equidade e a qualidade no atendimento até a definição da
proposta pedagógica dos estabelecimentos de Educação Infantil
enquanto promotores dos direitos humanos, especialmente os
dos bebês e das crianças pequenas.
(BRASIL, 2009, p. 21)
Importante
A ação do professor de Educação Infantil, como mediador das
relações entre as crianças e os diversos universos sociais nos
quais elas interagem, possibilita a criação de condições para
que elas possam, gradativamente, desenvolver capacidades
ligadas à tomada de decisões, à construção de regras, à
cooperação, à solidariedade, ao diálogo, ao respeito a si
mesmas e ao outro, assim como desenvolver sentimentos de
justiça e ações de cuidado para consigo e para com os outros.
Em relação às regras, além de se manter a preocupação quanto
à clareza e transparência na sua apresentação e à coerência
das sanções, é preciso dar oportunidade para que as crianças
participem do estabelecimento de regras que irão afetar-lhes
diretamente. (BRASIL, 1998, p.43)
48
Há uma relação entre a alegria necessária à atividade educativa e a
esperança (FREIRE, 2016, p. 70). Com essa inspiração freiriana, é possível
conceber que o docente comprometido com o seu papel de mediador do
conhecimento diante das inquietudes das crianças necessita ter alegria, sendo
esta um combustível imprescindível para enfrentar todos os obstáculos do
cotidiano escolar. Integrando esta alegria às ações diárias, com certeza a vida
que acontece na ambiência educativa ficará mais leve e produtiva, fato esse que
corrobora a esperança em sempre acontecer resultados mais positivos e
humanísticos diante dos desafios para a formação plena do sujeito estudantil.
Para Refletir
Se o professor é sabedor de que no estágio do personalismo,
além da imitação, a criança se opõe ao adulto para afirmar
seu eu, também terá mais recursos para lidar com os
argumentos ou o acolhimento das opiniões infantis. Tomará
ainda consciência que a criança tem um raciocínio próprio e
diferente do adulto, e que muitas vezes sua lógica está
adequada para sua possibilidade do momento.
(GASPARIN, 2012, p.58)
49
em seus escritos acerca da postura docente necessária para uma prática
educacional libertadora, a qual deve acontecer mediada pela amorosidade,
criticidade, respeito às diferenças; estas e outras inspirações sua obra traz para
que a prática docente seja, quiçá, revolucionária.
Contudo, apesar de todas as reflexões dos autores supracitados e das
discussões provocadas no decorrer desta disciplina, a formação docente
acontece com veemência no chão da escola. É no trabalho que o professor vai
conseguir refletir sobre suas ações, conhecendo o seu público, compreendendo
o que realmente é relevante para o desenvolvimento eficaz de uma atividade
educacional que atenda aos seus educandos em suas singularidades.
É evidente a relevância da formação teórica, mas de nada adianta o
estudo realizado e as incansáveis leituras feitas se o docente não chegar à sua
realidade disposto a pensar sobre as angústias que permeiam sua prática
educativa, sobre as reais necessidades que possuem seus estudantes, entre
outras especificidades que estão presentes nos âmbitos escolares da
contemporaneidade.
Formar-se docente é um processo contínuo e inacabado, pois afinal o
professor é ser humano histórico.
Tendo em vista a agitação dos dias atuais mediante as tecnologias
exacerbadas que influenciam muito a formação das identidades nos sujeitos
infantis, devido a isso é imprescindível que o docente esteja se atualizando,
lendo muito, sempre em busca de fundamentos teóricos que o ajudem na
dinâmica com as famílias e no atendimento eficaz frente aos pequeninos.
É necessário entender mais do que nunca que o professor precisa ler e
muito, a fim de que esteja pronto para dialogar com os educandos, os quais estão
e são influenciados por muitas informações dissipadas no mundo virtual, e
precisam de orientação, na maioria das vezes, a respeito das inverdades
contidas na internet, por exemplo. Portanto, a postura do docente precisa ser,
entre várias outras, perspicaz, estando sempre atento às mudanças, mostrando
sempre o caminho e a importância do conhecimento significativo aos seus
educandos.
50
Vocabulario
Perspicaz: que enxerga bem, que vê ao longe, que possui
inteligência e sagacidade, qualidade de quem tem facilidade
para perceber algo, que possui excesso de percepção para
entender as coisas ou que as compreende com maior
facilidade.
51
aula é desenvolvido, na maioria dos centros de Educação Infantil, por uma dupla
de profissionais, os quais precisam interagir em todo o tempo diante do
atendimento das crianças, lembrando que estas aprendem muito observando os
adultos e é necessário ter um cuidado enorme nesta interação no decorrer dos
dias que compreendem o cotidiano com os sujeitos infantis.
Pensar na formação docente para a Educação Infantil nos remete ao
termo resiliência, este é definido pelo autor Haim Grunspun como: A capacidade
humana de lidar, superar, aprender ou mesmo ser transformado com a
adversidade inevitável da vida. (GRUNSPUN, 2005, p. 03). A postura do docente
em lidar com as adversidades diárias dos contextos educacionais tão diversos e
complexos no Brasil é sem sombra de dúvida um exemplo de resiliência. E no
âmbito da Educação Infantil não é diferente, pois os docentes precisam estar em
uma busca incessante de compreensão e ação diante das necessidades reais
dos seus pequeninos.
Portanto, para a formação docente, é mister desenvolver a capacidade de
resiliência.
Importante
Portanto, para além do importante lugar como primeira etapa da
Educação Básica, duas características definem a Educação
Infantil ao longo da sua história. Primeiramente, a necessidade
imprescindível de articular a educação e o cuidado das crianças
pequenas com diferentes setores como cultura, saúde, justiça e
assistência social, o que exige políticas públicas integradas com
propostas que reflitam essa integração nas concepções, nas
práticas e no atendimento em tempo integral. Em segundo
lugar, a multiplicidade de configurações institucionais que
oferecem alternativas educacionais adequadas às demandas
das crianças e das suas famílias. Essas características, na
última década, ultrapassaram sua especificidade na Educação
Infantil para também ingressarem na pauta de debate dos
demais níveis de ensino. (BRASIL, 2009, p. 21)
52
resultados de aprendizagens dos sujeitos infantis, destarte é, indubitavelmente,
encorajador ampliar a discussão acerca da postura necessária profissional para
que seja intensificada as condições de aprendizagens pelas crianças. Sendo
assim, o docente que reflete sobre sua ação está denotando novas
possibilidades de fazer a sua prática, está sendo resiliente quando discute,
avalia, ouve, reflete, dialoga e, se preciso for, muda a rota do processo de ensino
e aprendizagem.
Conclusão da aula 4
Atividade de Aprendizagem
Qual a importância da Formação Docente ser constante para
a prática do professor na ambiência da Educação Infantil?
Utilize as discussões propostas em nossa aula e os
referenciais teóricos destacados no material escrito.
Argumente em até 15 linhas.
53
Conclusão da disciplina
54
Índice Remissivo
A Pedagogia Relacional na Educação Infantil ............................................ 26
(Ambiências educacionais; atos pedagógicos; etapa educacional)
55
Referências
56
DOURADO, I. C. P., & PRANDINI, R. C. A. R. (2001). Henri Wallon: Psicologia
e Educação. Anais da XXIV Reunião Anual da ANPEd. Caxambu, MG, 2008.
Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_nlinks&ref=000140&pid=S1413-
8557201300010000700005&lng=en
MANTOAN, M. T. E.. Inclusão escolar: O que é? Por quê? Como fazer? São
Paulo: Moderna, 2003.
PIAGET, J.. Para onde vai a educação? Rio de Janeiro: Livraria José Olympo
Editora / Unesco, 1973.
57
WALLON, H.. A evolução psicológica da criança. Tradução de Claudia
Berliner. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
58